Jean Ungricht - Escolha Da Profissão... Escolha Da Vida
Jean Ungricht - Escolha Da Profissão... Escolha Da Vida
Jean Ungricht - Escolha Da Profissão... Escolha Da Vida
ESCOLHA DA VIDA
ESCOLHA DA PROFISSÃO
ESCOLHA DA VIDA
UM LIVRO IMPRESCINDÍVEL PARA MESTRES, PAIS,
ORIENTADORES E PSICÓLOGOS — ONDE SE
ESTUDA A IMPORTÂNCIA DA ESCOLHA DA
PROFISSÃO E SEU IMPACTO NO
INDIVÍDUO E NA SOCIEDADE
Título original :
“Berufswahl — Lebensvvahl
Tradução de
JUAN ALFREDO CÉSAR MULLER
Psicólogo
Capa de:
WILSON TADEI
NOTAS PRELIMINARES
14 Engels, “Die Lage der arbeitenden Klassen in England" 2? edição, 44 pp. 121,
122, 179.
15 Os males psíquicos causados por trabalhos profissionais inadequados foram descri
tos, pela primeira vez, por Janet em "Les obsessions et la psychasténie” 72. Casos típi
cos (especialmente de neurose)'encontram-se na literatura psicanalítica. P. ex.: Boss,
"Kõrperliches Kranksein ais Folge seelischer Gleichgewichtsstõrungen” 30 pp. 46-49.
16 Krebs, "Mittel fiir eine rationelle Berufswahl im Mittelstand” 91 pp. 17-18.
Escolha da Profissão 23
. ... ..... JJ'"L—1-1 " "' " " . - - **“-■ ■■■»»
d’água sôbre uma pele oleosa; são cadeias de que, quase nun
ca, nos podemos mais livrar. Fazendo estas restrições, con
cordamos com o que diz Fischer17, — a atitude do homem
diante do trabalho está intimamente ligada à sua atitude
diante da vida. E para que a atitude do homem diante do
trabalho seja positiva, basta que êle encontre a “sua verda
deira vocação”.
2. A escolha da profissão e a saúde
Quem escolhe uma profissão, escolhe com ela a sua futu
ra doença. Decide muitas vêzes sôbre a duração da sua vida
e quase sempre sôbre a sua saúde, pois a profissão tem uma
profunda influência sôbre o desenvolvimento do corpo e so
bre o estado de saúde. Mas tudo isto é raramente conside
rado no momento da escolha. Há profissões que levam com
segurança à invalidez ou à morte prematura. Outras trazem,
fatalmente, a doença. Já outras influem patogênicamente
apenas em determinadas circunstâncias; finalmente outras
apresentam somente grandes probabilidades de acidentes e
doenças. Estas influências atuam, naturalmente, com maior
intensidade sôbre um organismo em desenvolvimento: aquilo
que fôr prejudicado nesse período, continua muitas vêzes as
sim, para o resto da vida. “A influência do trabalho profissio
nal sôbre o desenvolvimento corporal na puberdade é de uma
importância decisiva e sobrepuja tôdas as expectativas”
(Kaup)18. Quem conhece estas circunstâncias e as leva em
conta, no momento da escolha da profissão, estará resguar
dando a sua saúde. Resumindo: Os métodos que possibilitam
uma compreensão mais clara destas circunstâncias são os
que enumeramos a seguir.
“Querendo estudar as circunstâncias de uma profissão,
a situação económica dos profissionais, sua atividade no
exercício da profissão e as condições higiénicas sob as quais
a profissão é exercida, podemos seguir dois caminhos. O pri
meiro seria tomar por base observações individuais sôbre as
supracitadas circunstâncias, indagando, depois, se e como
a saúde do profissional é influenciada pela construção e dis
posição das salas de trabalho, pela atitude no trabalho, pelo
29 A tabela de Neumann mostra até onde, sob certas circunstâncias, pode estende r-
-se êste Impedimento. CBerufsberatung" 117 pp. 33-34). Dos 2 700 meninos que foram
orientados, de maio a dezembro de 1922, no Departamento Profissional de Viena,
mostravam:
5% falhas visuais
5% doenças pulmonares
2% afecções cardíacas
1% doenças nervosas
2% falhas da audição
3% moléstias internas
1% debilidade mental e imbecilidade.
Após o exame médico, sòmente de todos os meninos foi declarado fisicamente
capaz; »/< apresentava falhas físicas com forte impedimento para o exercício da pro
fissão e, dêstes, 4% eram totalmente incapazes.
30 Jean Ungricht
rio um tempo de prática mais longo (diversas semanas ou até mesmo meses)
para adquirir a necessária habilidade.
2. Sem nenhum preparo. Presume-se não possuírem uma formação especial» nem
conhecimentos especiais, ou nenhuma prática <empacotadores, office-boys etc.)
ou sòmente alguns dias de prática (trabalhadores em máquinas).
34 Por exemplo» por O. Graf, adjunto de departamento da Junta do Cantão de
zuncne, de 1920-30.
35 Veja Hdhn, "Ratschlãge zur Berufswahl" 69. StocKer, “Die erzíehensche und
volkswirtschaítliche Bedeutung der Berufslehre” 145. Hauser, *Die Berufsausbildung
in den Anstalten ftir schwererziehbare Jugendliche in der Schweiz” 63 pp. 7-9.
36 Jean UngricHl
5 O trabalho sem aprendizagem nunca desaparecerá por completo, assim como nem
todos os jovens se submetem ao aprendizado.
ô Líeehti, •Probleme des Berufs...* 99 p. St.
42 Jean Ungricht
Observações complementares:
Todos os problemas que acabamos de mencionar, relacio
nados com a profissão, estão hoje agravados com a redução
da idade dos trabalhadores.
Atravessamos épocas pobres em nascimentos, o que acar
retou, mais tarde, um déficit de forças de trabalho. De 1935
a 1944 o total de estudantes que se diplomaram diminuiu de
1 000 por ano23, em média. Muitas profissões ficaram pre
judicadas desde então, pela falta de elementos jovens. O
completo aproveitamento das fôrças de trabalho existentes
passou a ter uma importância capital. Mais do que nunca
deve ser evitado o esbanjamento dessas fôrças, com a escolha
21 O grande público teve a sua atenção despertada pela primeira vez para êste fato,
pelo trabalho de O. Hõhn, “Die Berufswahl” 68.
22 Delaquis, em artigo publicado no dia 7 de maio de 1928, no "Bund”.
23 Segundo notas estatísticas, o total de jovens com 15 anos incompletos era:
27 O que não quer dizer que, mesmo assim, a escola não deva procurar novas
soluções.
28 Veja as observações sôbre o efeito educacional do ensino profissional, p. 33.
29 Rauecker, “Die Berufsfreude im moderrien Wirtschaftsleben” 127 p. 55.
30 Convocado e organizado em abril de 1942 por E. Buchmann, o idealizado r do
nôvo sistema escolar de orientação profissional.
31 Stettbacher, “Beruf ais Bestimmung und Schicksal* 142 p. 365.
Escolha da Profissão 53
48 Aristóteles, “Politik” 4 (Livro IV, Cap. IX> ns. 6, 8, 9), em traduãç loameã).
“6. Numa nação deve existir, tanto quanto possível, perfeita igualdade para todos,
e esta condição é melhor preenchida pela ciasse média. Ê, pois, necessário propor
cionar uma organização perfeita à classe que constitui a base natural da nação...
8. A sociedade burguesa constituída pela classe média é evidentemente a melhor,
e os países em que ela é mais numerosa e mais forte (possivelmente que ambas ou
que cada uma das duas outras classes) gozam de uma boa administração ...
9. Um país onde a classe média predomina está menos sujeito a revoltas, divisões
e lutas políticas.. .7
49 Marbach, “Theorie des Mittelstandes” 109 p. 62.
Escolha da Profissão 61
6 A respeito dessas influências externas, Lazarsfeld cita P. Haas, que inquiriu 117
aprendizes de DUsseldorf sôbre os seus planos relativos à profissão, recebendo respostas
diferentes numa porcentagem de 27%. - Depois de assentada a escolha definitiva veri
ficou-se uma alteração para 46%, 93 p. 14. A instabilidade na escolha não poderia
ser mais impressionante.
7 Friedrich e Voigt, “Berufswiinsche und Zukunftsplãne.53.
8 Lazarsfeld, "Jugend und Beruf” 93.
Escolha da Profissão 69
b) Motivos financeiros
Dissemos acima que obstáculos dificilmente superáveis e
circunstâncias materiais desfavoráveis opõem-se à livre esco
lha profissional. Querer ignorar que a subsistência de muitas
famílias depende do ordenado dos mais jovens, seria fechar
os olhos diante de fatos desagradáveis. A ajuda modesta ofe
recida pelas bolsas de estudos e outros auxílios oficiais não
é suficiente, e nem há grande interêsse por êles. Uma orienta
ção adequada abriria portas que de outro modo permanecem
fechadas. Ê, mais do que se pensa, simples questão de orga
nização. A necessidade de auxílio e a da instalação de locais
de orientação é visível.
Nestes casos, a escolha profissional sofre a influência de
uma falta de meios. Outras vêzes ela é determinada pelo de
sejo de aproveitar maiores meios 26. Os filhos querem continuar
o negócio do pai, enraizar-se nos empreendimentos de paren
tes e conhecidos numa posição estável; encontrar uma pro-
d) Sugestão e obrigação
Sugestões para a escolha de uma determinada profissão
não faltam. Em primeiro lugar está a sempre presente suges
tão do ambiente. O ambiente do campo cria a propensão para
o trabalho agrário; a região industrial, para a técnica; o co
mércio, para os negóciqs. Em grande parte, atrás disto está
uma sadia adaptação às circunstâncias. Ela vai longe demais,
porém, quando toma grande parte da população de regiões
inteiras dependente de uma única indústria28.
Sugestões poderosas vêm também das grandes firmas e
suas marcas famosas. O jovem não quer tornar-se mecânico,
mas sim trabalhar para Brown-Boveri, Sulzer, Búhler; já se
sente apoiado e honrado pela simples participação em um
grande empreendimento.
Sugestões idênticas podem vir do professor, do sacerdote,
do Chufe de Escoteiros, e de outros nobres exemplos. E.
Jucker29 cita diversas vêzes o mesmo fato: anualmente, numa
classe de escola secundária, grande parte dos alunos seguia a
carreira de gêometro, porque o professor, em sua juventude
desejara ser gêometro. B. Biegeleisen30 fala de sugestões em
massa das alunas da última série da Escola Primária de
Krakau, onde de 1413 meninas, 669 queriam ser profes
soras. Numa outra classe, 19 das 20 alunas desejavam tomar-
se contadoras.
Chegamos agora às "profissões em moda". Em ondas pe
riódicas e passageiras os jovens se inflamam como fogo de
palha por algumas profissões, sem motivo plausível. Na Suíça,
antes da 1 ,a Guerra Mundial eram disputadas as profissões de
2B Por exemplo: a catastrófica queda da indústria d® bordados de St. G&ller, entre
as duas guerras mundiais.
29 E. Jucker, 'Berufskundliche Vorleeungen* 1B.
M Biegeleisen, "Berufswílnsche der Jugeud ta Krrtífttl* 1B 93 p. 138.
78 Jean Ungbicht
4. Bues, "Die Stellung des Jugendlichen zum Beruf und zur Arbeit” 37,
86 Jean Ungricht
1. Desconhecimento de si mesmo
"Dos 14 aos 19 anos, mais ou menos, deve o jovem to
mar decisões da maior importância para toda a sua existência,
sem que tenha o imprescindível conhecimento de si mesmo
e do aspecto objetivo da vida” (Lazarsfeld1).
Em relação ao "amadurecimento”12 da vocação profissio
nal distinguem-se, em geral, três fases. Segundo Schãfer, são
elas: a profissão no sentido de brincadeira, na primeira infân
cia; a profissão como desejo de aventuras, da juventude; a
época da verdadeira escolha profissional. Segundo Spranger:
profissão — sonho infantil; profissão — plano juvenil; expe
riência concreta da profissão. Segundo Fischer: indiferença
pela profissão; experiência profissional; amadurecimento pro
fissional. Ponto de transição: dos 10 aos 16 anos3.
De acordo com a idade do indivíduo, a profissão é enca
rada de maneira bem diferente. M. Frank e H. Hetzer4, ten
do interrogado 480 crianças de 3 a 10 anos, informam que as
crianças, desde pequenas, pensam na profissão e — o que é
mais importante — externam a respeito dela desejos inspira
dos principalmente pelo trabalho manual. O prazer de traba
lhar parece ser aqui o motor. "O pequerrucho de 3 a 5 anos
7 Chajes, “Grundriss der Berufskunde und Berufshygiene" 40 pp. 341-342. Ver tam
bém a observação de Kaup p. 20,
8 Búcher, “Die Entstehung der Volkswirtschaít” 35 p. 146.
92 . . JEAN UNGBICtí'1
•—“* ■ . .............. .. , „
9 Vex *Die Methoden der Klassifikation der Erwerbszweige und Berufe" 157.
10 “Schweizerische Statlstische Mitteilungen" 164.
11 *Berufsverzeichnis fú die Arbettsnachweísstatistik" 159.
12 “Verzeichnis der mãnnlíchen Berufe" 160.
13 "Frauenberuíe" 161.
14 Jucker, “Die Erzlehung zum Beruf" in Juventus Helvetica 76 pp. 274-2W.
15 Departamento de Estatística da Suíça, "Schema der persónlichen Berufe" 1943, 153.
16 Conforme dados fornecidos pelo Escritório Suíço para organização do recensea
mento, Genebra.
Escolha da Profissão 93
I — NOÇÕES PRELIMINARES
Como mostramos no capítulo anterior, com o rápido de
senvolvimento da cultura, da ciência, da economia, da técni
ca, é impossível que o indivíduo tenha, quando mais não
seja, uma visão de conjunto das profissões. Não podendo,
também, fazer uma idéia clara de si mesmo, o jovem sente
crescer a sua insegurança ante a escolha profissional, passo
decisivo de sua existência. Não pode deixar de enfrentá-la,
e sendo a escolha profissional uma das funções primordiais
da família, é natural que os familiares, os conhecidos, pro
fessôres, conselheiros, companheiros de escola e todos os que
estão em contato com a juventude, dêem seus conselhos. A
tôdas estas tentativas de influência chamaremos — orienta
ção profissional — e neste sentido ela sempre existiu. Então:
orientação profissional, no sentido mais vasto, é to
da medida direta ou indireta, destinada a exercer
influência sôbre a escolha da profissão e a carreira
profissional1.
Aquêle que aconselha tem em vista, certamente, o bem do
orientado. Porém, hoje em dia, não dispõe de meios suficien
tes para suprir as lacunas já mencionadas. Mesmo que co
nheça bem as características pessoais daquele que procura sua
profissão (e, paradoxalmente, êste não é, em geral, o caso dos
pais12), não conhece suficientemente as profissões, requisito
6 Ainda não foi escrita uma verdadeira história da profissão, nem a história com
pleta das profissões. Podem ser encontrados dados históricos sôbre algumas profissões
e principalmente uma bibliografia muito rica sôbre as circunstâncias económicas e
sociais de algumas épocas e de alguns países. Infelizmente, em sua maior parte se
guem pontos de vista diversos e apresentam material pobre em relação à profissão
prôpriamente dita. O profissional vê-se obrigado a efetuar a busca por si mesmo,
valendo-se da volumosa literatura, histórica, económica e social, principalmente com
referência a épocas passadas:
BQchsenschtitz, "Besitz und Erwerb im griechlschen Altertum” 36.
Francotte, *L'industrie dans la grèce anclenne" 47.
Glotz, “Le travail dans la grèce ancienne* 56»
Frank and Others, *An Economic Survey of Ancient Rome” 48
Louis, *Le travail dans le monde Romain" 106.
Heichelheim, "Wirtschaftsgeschichte des Altertums” (mit reichhaltigem Komen-
tar) 64.
BlUmner, “Technologie und Terminologie der Gewerbe und Ktinste bei Griechen
und Rõmern* 22.
Neurath, “Antike Wirtschaftsgeschichte” 118.
Reinhardt, "Helvetien unter den Rõmern” 128,
Schaube, "Handelsgeschichte der rõmischen Võlker des Mittelmeergebietes” 132.
Kõtzschke, “Allgemeine Wirtschaftsgeschichte des Mittelalters” 90.
Kulischer, “Allgemeine Wirtschaftsgeschichte des Mittelalters und der Neuzeit” 92.
Canevascini, “Die menschliche Arbeit durch die Jahrhunderte” 39.
104 JeanUngricht
13 Ver explanação sôbre “Urtrieb” em Pfãnder, “Die menschliche Seele” 121 pp.
214-279.
Escolha da Profissão 109
14 Mesmo assim sua tarefa é educativa. Estimula a autoformaçâo, por uma visão
objetiva de si mesmo e a acareação com a realidade. Para a maioria das pessoas
êste confronto é feito pela primeira e única vez na vida por ocasião da escolha
profissional,
110 Jean Ungricht
Meili, "Psychologie der Berufsberatung” 112 p. 15: "... isto significa que para a
determinação da capacidade é preciso retroceder à estrutura global psicofísica. A
personalidade decide”.
19 Ver Meier-Muller, médico chefe dos Aviadores Suíços, “Die psychophysischen
Anforderungen des Fliegerberufes” 110 pp. 299-323.
20 Hãberlin, “Motive der Berufswahl” 61.
120 JEAN U N-G R I C H T
22 Ver exemplos citados por Meili em “Psychologie der Berufsberatung” 112 pp. 14-15.
23 Lipmann, “Psychologische Berufsberatung” 100.
122 Jean Ungricht
2. Inclinações'
Para avaliar a capacidade, indagamos de que seria o in
divíduo capaz e para que seria útil; estudando as inclinações
precisamos saber o que êle desejaria e gostaria de fazer. No
primeiro caso, o critério de julgamento se baseia nas qualida
des do indivíduo e, no segundo, nos seus desejos.
A primeira pergunta a formular, aqui, é a mesma que es
pontaneamente fazem os pais, desejando ver seu filho feliz
na profissão e pela profissão. Procuram a ocupação que lhe
proporcione uma satisfação duradoura, aquela que escolheria
sem pensar em lucro, ou seja, antes um “hobby” que uma
profissão. Quando o talento se une ao dever e ao trabalho
cria-se um sentimento de "vocação". Só assim a palavra pro
fissão ganha sentido completo e elevado. O mundo ocidental
atribui ao trabalho e à capacidade para o trabalho um vlor
superior. E somente a cegueira materialista pode considerar
apenas o lucro e conceber a profissão como um meio de lucrar.
Podemos sentir, nos romances de Goethe e Stifter33, a diferença
em toda a sua plenitude. Aqui o homem é um mundo, que
busca e obtém, em muitos anos de esforço e amadurecimento,
a vitoriosa realização de uma determinação interior profun
damente sentida. Um mundo, no qual inclinações, aptidões e
circunstâncias exteriores se unem harmoniosamente.
Capacidade significa ser capaz de realizar; neste caso a
orientação deve basear-se em fatôres externos, como por exem
plo a prática. Inclinação quer dizer ter vontade de... e aqui
os meios de orientação pertencem ao mundo interior. Entre o
“campo das realizações" orientado pelo mundo exterior e o
"campo das necessidades”, que se guia por fatôres internos,
há um abismo. Entre êles existe a tensão própria da natureza
humana, idêntica ao princípio de atração e repulsa, que Freud34
descreveu tãò agudamente em sua forma psicológica. Sacri
ficar os desejos pela realidade é, talvez, o dever mais difícil
confiado ao homem — ao indivíduo como a tôda a espécie. O
problema capacidade-inclinações é apenas um aspecto parcial
dêste antagonismo básico da natureza humana. Desde o nas
cimento, pràticamente o homem tem de realizar o seu desen
volvimento, contra o princípio da realidade. Indicar o cami
nho, estimular êste desenvolvimento, eis o dever precípuo da
35 Pestalozzi, “Meine Nachíorschungen íiber den Gang der Natur in der Entwicklung
des Menschengeschlechts” 119.
36 Scheler, "Die Stellung des Menschen im Kosmos" 135 p. 17.
37 Scheler, “Ordo amoris" 133 p. 229.
Escôlxa da Profissão 127
Resumindo:
De acordo com suas inclinações, o homem procura
uma profissão que, possivelmente, satisfaça as suas
tendências morais e físicas, inatas ou adquiridas.
O conjunto de valores formado pelos seus interês
ses e suas inclinações é a base dessa escolha. As
exigências da profissão escolhida devem harmonizar-
-se com as tendências do indivíduo, ou seja: aqui
lo que a profissão lhe dá a oportunidade de reali
zar é justamente o que êle desejava realizar. As
inclinações devem ligar-se adequadamente à capa
cidade e aos fatores externos para passar, por assim
dizer, do irreal para a realidade. Ambas — a incli
nação e a capacidade — têm importância básica na
r escolha profissional. Unidas, elas transformam a
profissão em “vocação” no verdadeiro sentido, fa
zendo do profissional um voluntário ativo e não
um homem condenado a trabalhos forçados. Só
quando a profissão corresponde às mais íntimas ten
dências é que o indivíduo sente estar sendo “cha
mado" e o trabalho tem sentido.
Conclusão:
Conclui-se que o homem quer trabalhar. Que êle, em ge
ral, procura uma profissão com as qualidades mencionadas,
mas não o faz naturalmente e sim por ter nascido num mun
do onde o trabalho impera — o mundo ocidental. E se êle
está convencido da necessidade ,de trabalhar — seja pela
pressão da miséria, pela sugestão de que o trabalho é o sen
tido da vida, ou por imposição social, parece acertado pro
curar a profissão que se coadune melhor com a sua perso
nalidade e contrarie o menos possível as suas exigências in
teriores. Dizemos o menos possível, porque tôda profissão
tem sempre o seu lado desagradável, que só aceitamos por
hábito, por dever e pela necessidade de lutar pela existência.
Que pelo menos aquêle campo limitado onde as inclinações e
as exigências pessoais podem encontrar satisfação e a pos
sibilidade de desenvolver-se livremente seja, tanto quanto pos
sível, ampliado.
3. Fatôres externos
Que a última palavra na orientação profissional caiba à
capacidade e à inclinação, unidas, é tão aconselhável quanto
impraticável. Capacidade e inclinações se sobrepõem por sua
própria essência ao indivíduo. Ambas manifestam-se e desen
volvem-se em relação ao seu objeto. Temos inclinação e ca
pacidade "para alguma coisa”. As inclinações pedem satis
fação e a capacidade é utilizada. Ambas pressupõem um ob
jetivo.
Isto vale também para as inclinações e a capacidade pro
fissional que têm por objetivo comum o mundo econômico-
-profissional, no qual se manifestam concretamenté. É pre
ciso que essa relação entre o indivíduo e o mundo profissio
nal se estabeleça de forma clara, duradoura e abandone a es
fera do irreal (simples desejos, esperanças, opiniões etc.). Pois
a escolha profissional é um ato baseado numa decisão que de
ve ser concretizada. Isto quer dizer que as inclinações e a capa
cidade podem ser consideradas somente dentro do molde real
das oportunidades existentes. Não faz sentido (para a orien
tação profissional) cultivar inclinações que não serão satis
feitas e valorizar habilidades que nunca terão aplicação. A
escolha profissional deve ser concreta, objetiva e sensata, ba
seando-se na realidade imediata.
134 JeanUngricht
21 Bircher R., “Hunsa, das Volk, das keine Krankheit kennt”, 1942, Hans Huber,
Berna.
21 BI eule r E.. “Das autistisch-undisziplinierte Denken in der Medizin und seine *
Ueberwlndung”, 1927, 2. Edição, Springer, Berlim.
22 Bltim ne r H., “Technologie und Terminologie der Gewerbe und Kúnste bei
Griechen und Rõmern”, volume 4, 1875—1887, Teuber, Leipzig.
23 Bogen H., “Psychologische Grundlegung der praktischen Berufsberatung’*, 1927,
Julius Beltz, Leipzig.
24 Bõhny F., “Vorlesungen iiber Berufsberatung”, substanciada ao Seminário do
Instituto para Psicologia Aplicada, 1938 até 1944, Zurique, (não impresso).
25 — “Die Bedeutung der Berufsneigungsforschung und eine Methode zur Erkennung
unoewusster Berufsneigung”, no “Berafsberatung und Berufsbildung” 11/12,. 1935,
Burgdorf, VBLF.
26 — “Die Zusammenarbeit vpn Berufsberatung und Berufsverbànden bei der Auslese
des beruflíchen Nachwuchses”, no “Berufsberatung und Berufsbildung”, 1940,
caderno 9, 1940, Burgdorg, VBLF.
27 — “Zur Reform des Berufslehrstipendienwessens”, no “Berufsberatung und Beruf-
sbílung”, caderno 22, 1924, Burgdorf, VBLF.
28 — “Berufsneigung im Rahmen der Berufsberatung”, 1944, em 166.
29 Bõschenstein K. und K au f m a n n M., “Bundesgesetz tiber die be-
rufliche Ausbildung”, Libreto 1935, 2. Edição, Polygraphischer Editôra AG.,
Zurique.
30 Boss M., “Kõrperliches Kranksein ais Folge seelischer Gleichgewichtsstõrungen ”,
1940, Huber, Berna.
31 Bramesfeld F., “Berufswahl, Berufsberatung und Beruf se rfolg ais tiefenpsy-
chologische Probleme”, 1927, no “Jugend und Beruf" 2/3/4, Quellen und Studien
zur Jugendkunde. Fischer, Jena.
32 Brunner E., “Gerechtigkeit", 1943, Zwingli-Editôra, Zurique.
33 Buchner P., “Der Nachwuchs an Gymnasiallehrem in der “Schweiz”, no
“Der Gymnasiallehrer, seine Person und seine Ausbildung”, 1942, conferência
de diretores-ginasiais suíços, Sauerlãnder, Aarau.
34 Biicher K., “Arbeit und Rhythmus”, 1919, Hirzel, Leipzig.
35 — “Die Sntstehung der Volkswirtschaft, 1919, 1919, Túbingen, 1. edição S. 355.
36 Bílchsenschutz, “Besitz und Erwerb im griechischen Altertume”, 1869, Hallc,
Waisenhaus-Editôra.
37 B u e s H., “Die Stellung des Jugendlichen zum Beruf und sur Arbeit”, no
“Arbeit und Beruf”, volume 2, 1936, Bemau, Berlim.
38 Bíl h l e r Oh., “Zwei Knabentagebdcher”, Einleitung iiber die Bedeutung des
Tagebuches fílr die Jugendpsychologie”, 1925, G. Fischer, Jena.
39 Canevascini G., “Die menschliche Arbeit”, 1943, Buchergilde Guttenberg
Zurique.
40 Chajes B., “Grundriss der Berufskunde und Berufshygiene”, 1929, 2. edição,
Springer, Berlim.
41 D õ n h o f f F., “Das Arbeitsmarkproblem”, 1921, Zilrcher Dissertação.
42 Dun Icmànn K., “Die Lèhre vóm Beruf”, 1922, Trowítzch e Filho, Berlim.
Escolha da Profissão 153
ÍNDICE
Primeira Parte
Segunda Parte
Terceira Parte
Federico Sciacca
HISTÓRIA DA FILOSOFIA — 2? ed.
Rodolfo Mondolfo
O PENSAMENTO ANTIGO
SÓCRATES
Robert Amadou
PARAPSICOLOGIA
(COLEÇÃO PSICANALÍTICA)
W. Stekel
CARTAS A UMA MAE — 2.' ed.
O MATRIMONIO MODERNO —
2.a ed.
A VONTADE DE VIVER
EDUCAÇÃO DOS PAIS
K. Koch
TESTE DA ARVORE
W. Bemard e J. Leopold
FAÇA SEU TESTE
E. Mira y López
COMO ESTUDAR E COMO
APRENDER