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Memorial acadêmico de uma professora

universitária: sentido e significado1

Maria Augusta Bolsanello2

Introdução

A incumbência de escrever sobre minha trajetória como professora


universitária me exigiu uma ação complexa de rememorar e relembrar, cujos
movimentos discursivos me levaram a refletir sobre eu mesma e sobre minha
subjetividade, em um espaço potencialmente interpretativo.
Redigido em plena maturidade, o memorial busca identificar uma etapa
concreta de minha vida – o percurso profissional – e para tanto assinalo, no
transcurso da escrita, as situações que julguei as mais significativas.

Os anos iniciais

Nasci na gélida madrugada do dia 14 de junho de 1948, na cidade de


Curitiba, Paraná. Fui criada no seio de uma família amorosa, cujos valores mais
importantes eram o respeito ao próximo e a honestidade. Na Curitiba multi-
cultural de então, brincava e estudava com crianças de vizinhos de diferentes
classes sociais e etnias, e, assim, desde cedo aprendi a não julgar ninguém por

DOI: 10.1590/0104-4060.50179
1  O presente texto é uma versão condensada do Memorial Acadêmico apresentado por mim,
no dia 15 de maio de 2015, para a progressão à classe de Professor Titular, da área de Psicologia
da Educação, do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, da Universidade Federal
do Paraná (UFPR). A banca examinadora foi composta pelos professores titulares: Dr. Egídio José
Romanelli (UFPR/Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR); Dra Elcie Aparecida
Fortes Salzano Masini (Universidade Estadual de São Paulo – USP/Mackenzie); Dra Maria Lucia
Faria Moro (UFPR); e Dra Maria Regina Maluf (USP/Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo – PUC-SP).
2  Universidade Federal do Paraná. Setor de Educação. Curitiba, Paraná, Brasil. Rua General
Carneiro, nº 460. Centro. CEP: 80.060-150. E-mail: [email protected]

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sua condição social, religiosa ou étnica, mas pelo caráter e comportamento.


Neste clima passei minha infância, preservada das turbulências inevitáveis que
muito provavelmente ocorreram no seio familiar e social da época.

Os cursos Primário, Ginasial e Secundário3

Aos seis anos de idade ingressei no Grupo Escolar Conselheiro Zacarias,


escola pública, de ensino primário, considerada na época uma das melhores
escolas de Curitiba. Conclui o primeiro ano totalmente alfabetizada e encerrei
este período sem nenhuma reprovação. Foram meus primeiros passos para o
mundo misterioso do saber acadêmico. Destaco aqui a maravilhosa e inesquecí-
vel professora Izbel (sem o a), do meu segundo ano, um modelo de educadora,
tão bem sabia aliar o afeto com o ensinar. Tive a felicidade de reencontrá-la
recentemente, bela, lúcida, vivaz e alegre, nos seus 90 anos, 32 dos quais dedi-
cados ao ensino público. Passados 60 anos, recebeu-me em sua casa com todo
carinho como se ainda fosse aquela aluna pequenina.
Ao terminar o primário, aprovada em exame de admissão rigoroso, in-
gressei no Colégio Estadual do Paraná. Colégio público, recém-inaugurado, na
época considerado não só o maior colégio da América do Sul como também o
mais moderno, em função dos recursos educacionais e administrativos de que
era dotado. Possuía um complexo esportivo extraordinário e tínhamos acesso a
todas as atividades. Participávamos ativamente do grêmio estudantil e realizá-
vamos passeatas contestatórias memoráveis pelas ruas da cidade. Destaco que o
colégio tinha uma biblioteca muito bem suprida, e dela eu era uma frequentadora
assídua, pois desde muito pequena tinha grande gosto e prazer pela leitura.
Ao terminar o ginásio, optei pelo curso normal (magistério) no Instituto
de Educação do Paraná, hoje denominado Instituto de Educação do Paraná
Professor Erasmo Piloto, no centro da cidade, em edifício imponente, também
escola pública. Sempre gostei de crianças e ser professora me encantava, além
de preparar-me para uma profissão.
Ao longo de sua história, o Instituto de Educação do Paraná se consolidou
como a principal escola de formação de professores do Estado com discurso e
prática pedagógica inovadores, imprimindo sua marca em milhares de educa-

3  Os denominados cursos primário (4 anos) e ginasial (4 anos) da época correspondem ao


ensino fundamental da educação básica de hoje, que possui um ano a mais. O curso secundário
corresponde ao ensino médio.

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dores, sendo que importantes nomes do ensino paranaense passaram por esta
instituição.
Mais tarde, como professora de um curso de pedagogia, pude verificar o
quanto fui privilegiada em cursar essa escola normal de segundo grau, mas com
status de ensino universitário.
Para mim, e creio que para a maioria dos alunos daquela época, estudar no
Colégio Estadual do Paraná e no Instituto de Educação foi e é motivo de orgulho,
dada a excelência de seus professores, a integralidade de seus conteúdos e a
formação laica e humanista, em que o ensino não se limitava à transmissão de
conhecimentos e ao desenvolvimento de capacidades, mas buscava o compro-
misso de cultivar princípios éticos, como o respeito aos direitos humanos e o
compromisso social, o exercício do espírito criativo e crítico, que complementava
a formação familiar. Não recordo de um único professor que nos impusesse o
seu modo de pensar. Ao contrário, sempre fui estimulada a argumentar entre
pontos de vista divergentes, desenvolvendo uma “dúvida metódica”, não exata-
mente a cartesiana, que me acompanha e me acompanhou no exercício de minha
profissão. Acredito que a contraposição e a contradição de ideias que levam a
outras ideias contribuem para aniquilar preconceitos, ideologias e manipulações
muitas vezes realizadas dentro do próprio espaço educacional.
No ano de 2015, ao completar 50 anos de término do magistério, a maio-
ria da nossa turma daqueles tempos se reuniu para comemorar a data. Outros
encontros se seguiram e são sempre emocionantes e repletos de lembranças do
tempo tão significativo das nossas existências. Até parece que a longa distância
no tempo nem existiu entre nós.
A complementariedade entre família e escola é essencial, visto que a família
educa para a vida e a escola para a sociedade. Sem dúvida, foi neste tempo de
escolaridade, aliado à formação familiar, é que se estabeleceram os fundamentos
de meu caráter e meu modo de ser pessoal e profissional.
Ao concluir o curso normal, realizei um concurso público para professor
do Estado do Paraná. Fui aprovada, mas não pude assumir pelo fato de que casei
e me transferi para a cidade de Santos, São Paulo, onde meu marido, também
professor, exercia suas atividades profissionais no âmbito universitário.
Dentre suas atividades, ele também escrevia livros paradidáticos e eu
comecei a ajudá-lo na pesquisa para a elaboração desse material. Creio que
daí nasceu minha veia de pesquisadora. Em uma época em que a internet não
existia, passava horas em bibliotecas, coletando material e me deliciando com
as “descobertas” que fazia. Isto consumia boa parte de meu tempo. Após dois
anos em Santos, meu esposo, como um dos fundadores da recém-inaugurada
Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná, retornou à Curitiba, onde continuei
as minhas pesquisas bibliográficas. Pensei em fazer faculdade, mas de comum

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acordo com meu esposo, resolvi dar-me um tempo e assim construímos nossa
casa e tive meus dois filhos, um após outro. Porém, nunca deixei de estudar,
pois a elaboração dos livros continuava a me exigir. Foram aproximadamente
80 volumes, o que me mantinha bastante atualizada. Quando meu pequeno
completou quatro anos de idade, resolvi fazer um curso superior e nesta época
decidira: seria psicologia!

O curso de Psicologia

Em 1983 concluí o curso de Psicologia na Universidade Católica do Paraná,


ainda não Pontifícia. Este curso foi apaixonante e a ele me dediquei com muito
estudo e dedicação. Para enriquecer o conhecimento da Psicologia, na busca de
entender a subjetividade humana em suas diferentes perspectivas, tive acesso a
várias áreas da ciência, além de uma formação pluralista, envolvendo diversas
teorias embasadas filosoficamente e epistemologicamente. Foram cinco anos de
muito estudo, com maioria de professores competentes e exigentes, com provas
difíceis, que não poupavam reprovações. Arquivo até hoje os apontamentos
daquelas aulas. Naquela ocasião, dois professores excepcionais, um defensor do
behaviorismo radical, Max Zugman, e outro da psicanálise, o argentino Norberto
Irusta, ambos falecidos, promoviam debates produtivos e memoráveis, cada qual
defendendo sua posição, para o desfrute de nós alunos.
Embora não conseguisse privilegiar nenhuma vertente teórica da psico-
logia, pois todas me fascinavam, duas disciplinas em especial me motivaram:
a psicologia da educação e a psicologia do excepcional.
A psicologia da educação era ministrada pela Professora Maria Lucia
Faria Moro, que discutia os processos de desenvolvimento humano, com ênfase
em Jean Piaget. Essa professora coletava dados para sua tese de doutorado e
convidou-me para participar como auxiliar da pesquisa. Foram algumas boas
tardes, em escola pública, observando, anotando e transcrevendo os comporta-
mentos de crianças submetidas a provas piagetianas. Este trabalho minucioso e
rigoroso, sob a supervisão de Maria Lucia, me fez aprofundar na teoria piage-
tiana e despertou em mim o gosto pela pesquisa de campo e suas consequentes
descobertas, o que sem dúvida influenciou minha postura mais tarde enquanto
pesquisadora.
A outra disciplina foi a então denominada Psicologia do Excepcional, com
a Professora Marisa Schmidt Silva. Ali tive, pela primeira vez, conhecimento
científico sobre as pessoas com necessidades especiais e os programas de

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atendimento destinados às deficiências e demais transtornos. Nesta disciplina,


interessei-me, sobretudo, pela prevenção das deficiências, em seus três âmbi-
tos, primário, secundário e terciário, aliada à promoção do desenvolvimento
infantil, com destaque para o atendimento em intervenção precoce4, voltado às
crianças de zero a três anos de idade. Este interesse inicial acentuou-se e, por
fim, direcionou a minha futura vida profissional.
Ao concluir o curso, a Professora Mariléa Grein de Almeida, coordenadora
dos Cursos de Estudos Adicionais do Instituto de Educação do Paraná, convidou-
-me para ministrar disciplinas nas habilitações em Deficiência Mental, Defici-
ência Auditiva e Deficiência Visual. Assumi a disciplina Etiologia e Prevenção
da Excepcionalidade nas três habilitações. Estes cursos destinavam-se aos
professores detentores de diploma do magistério, a nível de segundo grau. Logo
Mariléa aposentou-se e assumiu o seu cargo o Prof. José Frederico de Mello,
mais tarde diretor da instituição. Prof. Frederico promoveu uma reestruturação
do currículo dos adicionais e eu lhe sugeri que incluísse nele a disciplina de
Estimulação Precoce, o que foi aprovado. Era uma disciplina pouco conhecida
e tornou-se pioneira no currículo desses cursos. Fui professora das duas disci-
plinas durante seis anos, até o meu ingresso na Universidade Federal do Paraná.
Elaborei para os alunos uma apostila com os princípios e atividades que regiam
a Estimulação Precoce na época. A apostila tornou-se material referencial para
os profissionais que ali se formaram e se dedicaram ao atendimento na educação
especial, inclusive o divulgando nos atendimentos existentes, dada a absoluta
falta desse tipo de material no âmbito educacional.

O curso de Mestrado

Percebendo a atração que tinha pelo magistério e a necessidade de mais


aprimoramento, ingressei no mestrado em educação, da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), na área de concentração Recursos Humanos e Educação
Permanente, com bolsa Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), em um tempo em que professores, tanto mestres quanto
doutores, compunham o quadro docente.
Naquela época, o curso tinha duração de quatro anos e contemplava um
excessivo número de créditos obrigatórios, com praticamente ausência de linhas

4  O termo estimulação precoce, no decorrer dos anos, foi superado pelos termos intervenção
precoce ou atenção precoce, mas permanece sendo usado nos documentos oficiais brasileiros. Assim
mantenho o seu uso porque é imediatamente reconhecido pelos profissionais da área.

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e núcleos temáticos de pesquisa. Havia uma profusão de disciplinas contemplan-


do vertentes teóricas variadas, provocando pulverização e falta de integração
entre produção docente e discente. Entretanto, posso dizer que as disciplinas
contribuíram deveras para a minha formação, ao aprofundar sobretudo autores
relacionados ao positivismo, marxismo e fenomenologia, ampliando de forma
significativa meu espírito crítico e meu entendimento da realidade.
Dois professores, não desconsiderando os demais, foram expressivos
para mim. O primeiro, a incrível Professora Gilda Moreira Weiss, uma das
precursoras da Educação Especial no Setor de Educação, com a qual partilhei
conhecimento e experiências e uma amizade que dura até hoje. O segundo, foi
o notável Professor Lauro da Silva Becker. Com doutorado na França, entendia
de metodologia da pesquisa como ninguém e grande parte deste conhecimento
a mim me repassou, quando aceitou ser o orientador de minha dissertação.
A minha dissertação, intitulada A Educação da Gestante como Medida
de Prevenção da Excepcionalidade Infantil, foi defendida em 1991 e aprovada
pela banca avaliadora constituída pelo professor orientador Dr. Lauro da Silva
Becker e pelos professores doutores Egídio José Romanelli e Flávio José Arns.

O curso de Doutorado

Em 1994, já professora da UFPR, obtive a liberação do meu departamento


para fazer o Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, na
Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Paschoal Ro-
dolpho Agatti, dono de uma erudição extraordinária. Obtive bolsa Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para tal finalidade.
Meu interesse na pesquisa continuava a ser o atendimento em programas
de intervenção precoce para bebês com deficiências, no sentido da promoção
do seu desenvolvimento, e com caráter eminentemente preventivo. Visitando
alguns programas, percebia que os atendimentos existentes não apresentavam
uma filosofia de trabalho sólida e os profissionais da equipe agiam de forma
individual, cada um exercendo atividades com a criança em seus gabinetes,
com pouca ou nenhuma participação familiar. Percebi que seria importante,
em um primeiro momento, levantar as concepções e o modo de atuação destes
profissionais para se ter uma ideia de que consistia este atendimento na realidade
brasileira e avaliar sua real eficácia. No entanto, a literatura existente sobre in-
tervenção precoce era muito precária, com quase nada publicado nacionalmente
e com dificuldades de acesso à literatura internacional, pois poucas bibliotecas

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importavam livros ou periódicos especializados em número suficiente. Assim


não encontrava argumentos teóricos que pudessem me auxiliar em uma investi-
gação de campo. Desta feita, a necessidade de cursar um doutorado foi urgente.
Viajando toda semana para São Paulo, enfrentei atrasos, correrias, tem-
porais paulistas com suas enchentes inigualáveis. Estudar na USP foi um sonho
concretizado e jamais esquecerei os bons momentos que ali vivi, o aprimoramen-
to acadêmico, as amizades que se consolidaram até os dias de hoje, a maneira
competente, educada e sensível demonstrada pelos seus professores.
Lembro que era uma época em que a internet estava disponível somente
por alguns órgãos do governo e instituições educacionais de pesquisa, entre elas
a USP. Entregava para a bibliotecária uma relação de palavras-chaves e após
alguns dias ela me devolvia um disquete com uma enorme listagem de publica-
ções, que quando impressas, ultrapassavam mil páginas. Depois, era garimpar na
extraordinária biblioteca de psicologia da USP, onde se podia encontrar quase
todos os periódicos e livros elencados. Consultava-se um a um, selecionava-se
e depois tirava-se xerox, num trabalho hercúleo de pesquisa.
Cursei cinco disciplinas neste Curso de Pós-Graduação e duas foram
decisivas para a elaboração da minha tese e para uma melhor compreensão do
sujeito com deficiências. A disciplina Diferença e Diferentes: o Si Mesmo, o
Outro, o Mundo, ministrada pela admirável Professora Doutora Lígia Assumpção
Amaral, veio esclarecer conceitos e sugerir diretrizes no que concerne à com-
preensão dos preconceitos que prejudicam os processos inclusivos da pessoa
com necessidades especiais.
A outra foi O Desenvolvimento e as Deficiências: as Vicissitudes e os
Procedimentos de Intervenção, ministrada pela Professora Doutora Maria Lucia
Toledo Moraes Amiralian. Por meio desta disciplina, conheci e me aprofundei
nos estudos de Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, que enfatizou a im-
portância do vínculo mãe e filho nos anos iniciais, na construção da identidade
pessoal. Nesse autor e seus contemporâneos encontrei o suporte teórico que me
faltava para o desenvolvimento da tese.
Tive também a oportunidade de cursar a disciplina Agnes Heller e a Escola
– Tentativas de Microanálise do Cotidiano Escolar, apontando possibilidades
de pesquisa na área educacional. Heller resgata a subjetividade do sujeito e a
coloca no centro do processo histórico, compreendido como a expressão do
homem em busca de sua humanização.
Em 1998, minha tese intitulada Interação Mãe-Bebê Portador de De-
ficiência: Concepções e Modo de Atuação dos Profissionais em Estimulação
Precoce, foi defendida e aprovada pela banca constituída pelo meu orientador
Antonio Paschoal Agatti (USP), e pelos professores doutores Elcie Aparecida
Fortes Salzano Masini (USP/MACKENZIE), Lauro da Silva Becker (UFPR),

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Lígia Assumpção Amaral (USP) e Maria Lucia Toledo Moraes Amiralian (USP).
Infelizmente, os professores Lígia, Lauro e Agatti tiveram morte prematura,
ocasionando uma grande perda humana e científica de difícil reparação.
Minha tese constituiu-se em um marco na minha trajetória profissional
e, a partir dela, dei continuidade aos outros projetos de pesquisa por mim de-
senvolvidos.

O estágio Pós-Doutoral

Em 2006, concluí as quatro pesquisas que vinha desenvolvendo sobre


o atendimento de intervenção precoce, na educação especial (relatadas mais
adiante). Estas pesquisas envolveram concepções de profissionais, mães e pais de
bebês com deficiências. Os resultados apontaram a necessidade de uma mudança
premente do atendimento relativo ao enfrentamento de dois grandes desafios:
melhoria da qualidade e profissionalização, o que me estimulou a propor um
atendimento experimental, com destaque na participação familiar e formação
de profissionais. Entretanto, para a proposição de um atendimento diferenciado,
senti a necessidade de maior atualização, de conhecer e aprender com programas
já implementados que representassem um avanço no modelo tradicional e que
seguissem uma abordagem teórica consistente e pertinente. Dois centros de
excelência me ocorreram. Um deles, o Centro de Desenvolvimento Humano
e Deficiência, coordenado pelo Prof. Michael Guralnick, da Universidade de
Washington. Outro, o Centro de Desenvolvimento da Criança, dirigido pelo
Prof. Jack Shonkoff, da Universidade de Harvard. Estes pesquisadores escre-
veram obras referenciais sobre a eficácia da intervenção precoce, livros que se
constituem em “bíblias” para os investigadores da área. No entanto, ponderei
sobre a realidade americana tão distinta da realidade brasileira. Assim, descobri
que na Espanha, em um tempo não muito distante, a estimulação precoce era
desenvolvida de modo muito parecido que a do Brasil. Nos últimos anos, ocorreu
um avanço bastante substancial na maioria dos programas daquele país e assim
resolvi buscar lá o referencial que me estava faltando. Contatei com o Prof. Dr.
Julio Pérez-López, coordenador do Grupo de Investigação em Atenção Precoce
(GIAP), vinculado à Universidade de Múrcia, Espanha, que se constitui em
referencial no estudo da atenção precoce junto à comunidade europeia. O Prof.
Julio prontamente aceitou ser supervisor de meu estágio pós-doutoral. Obtive
afastamento do meu departamento pelo período de sete meses e também uma
bolsa concedida pela Capes.

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A experiência do estágio pós-doutoral foi significativa em minha vida


acadêmica e pessoal, me propiciando uma interação profunda entre a teoria e
a prática. Ampliou sobremaneira a minha visão profissional e cultural, na con-
quista de novos conhecimentos, trocas, discussões e ideias, o que certamente
beneficiou meus alunos da graduação e da pós-graduação e na coordenação
da linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano,
do Programa de Pós-Graduação em Educação, a qual eu coordenava na época.
Possibilitou-me, sobretudo, a aprendizagem de modalidades de avaliação
e intervenção junto a bebês de risco biológico e social, bem como àqueles que
já apresentavam alguma deficiência. Esta aprendizagem foi fundamental na
elaboração, no meu retorno, de um novo projeto de pesquisa.
No meu regresso, organizei o Laboratório de Estudos sobre Atenção e
Intervenção Precoce de Bebês (Labebê), na expectativa de torná-lo semelhante
ao que vivenciei na Universidade de Múrcia, a fim de subsidiar minha pesquisa
e, ao mesmo tempo, ofertar um atendimento valioso à comunidade.
O estágio pós-doutoral também me incitou a divulgar a minha experiên-
cia tanto junto à Secretaria Municipal de Educação Infantil de nossa cidade,
quanto às Secretarias Estadual e Municipal de Educação Especial, no sentido
de colaborar com mudanças que pudessem contribuir na prevenção e promo-
ção do desenvolvimento infantil. Por conta deste estágio pós-doutoral também
intermediei um convênio de cooperação entre as duas universidades.
Em suma, por meio deste estágio tive a grande oportunidade de viven-
ciar experiências acadêmicas e pessoais no contato com outro país, que só me
oportunizaram desenvolvimento e aprendizagens.
A Universidade de Múrcia foi fundada em 1915, sendo a décima universi-
dade mais antiga da Espanha. Hoje, une à sua tradição histórica as mais modernas
instalações, distribuídas a maior parte em dois campus, onde seus professores
possuem gabinetes individuais, plenamente equipados. Nas faculdades de
Educação e Psicologia não há cursos noturnos, os cursos são integrais. Nestas
faculdade, por mim frequentadas, impressionaram-me a limpeza, a organização,
a agilidade burocrática e as condições de trabalho de seus professores.
Em 2012, tive a oportunidade de realizar um novo pós-doutorado junto
ao GIAP, na Universidade de Múrcia. Com a viagem marcada, liberação do
departamento, bolsa Capes, por medida de prevenção me submeti a um checkup
médico. Para minha surpresa, fui diagnosticada como portadora de um linfoma
gástrico, tratamento que implicou quimioterapia e radioterapia. Esta situação me
forçou a apresentar a desistência da bolsa concedida e me dediquei intensamente
ao meu tratamento, que se revelou exitoso.

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A docência na Universidade Federal do Paraná

No dia 12 de setembro de 1991, por meio de concurso público, tomei


posse como professora na UFPR, no então Departamento de Métodos e Técni-
cas da Educação (hoje Departamento de Teoria e Prática de Ensino – DTPEN),
na disciplina Didática e Metodologia do Ensino da Psicologia, iniciando uma
carreira de 24 anos nesta universidade. Ministrei também as disciplinas Métodos
e Técnicas da Pesquisa Educacional (para o curso de Pedagogia) e Metodologia
da Pesquisa Científica (para o curso de mestrado em Direito). Neste Departa-
mento atuei por dois anos, quando fui transferida para o Departamento de Teoria
e Fundamentos da Educação (DTFE), do mesmo Setor, na área de Psicologia
da Educação. No DTFE assumi a disciplina de Psicologia da Educação, a qual
ministrei tanto para o Curso de Pedagogia quanto para os Cursos de Licenciatura.
Nesse tempo, a professora Gilda Moreira Weiss ministrava, de forma ino-
vadora, a disciplina optativa Fundamentos da Educação Especial, com grande
sucesso entre os alunos. Em 1996, já a Profª Gilda aposentada, ocorreu uma
reformulação curricular do Curso de Pedagogia. Com o apoio dos professores
da Psicologia da Educação e dos alunos da época, demonstrei a necessidade
da inclusão desta disciplina na grade obrigatória. Ela foi então aprovada pela
plenária setorial, com carga horária de 30 horas, ministrada no quarto ano e in-
serida na área de Psicologia da Educação. A partir daí, deixei de dar as aulas de
psicologia da educação e passei a ministrar Fundamentos da Educação Especial
para as cinco turmas de pedagogia do quarto ano.
Em 2008, ocorreu nova reformulação curricular da Pedagogia, e com o for-
te advento da proposta governamental de inclusão de pessoas com necessidades
educacionais especiais na rede de ensino, e também pela solicitação dos alunos
por uma carga maior, esta disciplina passou a ser ofertada com uma carga de
60 horas, já nos primeiros anos. Também foi assumida por professores da área
da psicologia da educação, particularmente pelos que tinham maior afinidade
com seus conteúdos.
Fui também responsável por esta disciplina na sua oferta para o Curso
de Pedagogia/ Educação a Distância da UFPR, para o qual elaborei uma obra
didática sobre os Fundamentos da Educação Especial, com os conteúdos
trabalhados em classe, cuja publicação foi repassada também aos alunos da
pedagogia presencial. O aprofundamento destes conteúdos me proporcionou
uma visão abrangente das características e necessidades da pessoa especial e

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a complexidade de sua educação, sobretudo no enfrentamento do estigma, do


preconceito social, da precariedade da formação profissional.
Por outro lado, minhas reflexões nesses anos todos de professora me
fizeram identificar a precariedade da formação pedagógica das licenciaturas,
e embora muito se tenha discutido a respeito, as discussões infelizmente não
avançaram suficientemente no decorrer dos anos e tampouco avançam nos dias
atuais. Faço minhas as palavras de Bernadete Gatti: “[...] porque mudanças pro-
fundas não ocorrem nesses cursos uma vez que há muito, e por muitos estudos,
tem-se falado em crise das licenciaturas pelas suas fragilidades formativas?”.
Incomoda-me sobremaneira os alunos da licenciatura não terem nenhuma dis-
ciplina específica envolvendo a educação especial, conhecimento indispensável
ao futuro professor.
Em 2011, surgiu a oportunidade de se realizar, no departamento, um
concurso público para um professor específico na disciplina Fundamentos da
Educação Especial/área Psicologia da Educação. Com a aprovação da plenária
departamental, o concurso foi realizado, sendo aprovada a Professora Drª Maria
de Fátima Minetto, minha ex-aluna e orientanda, com 25 anos de experiência
na área da educação de bebês e pessoas com deficiências. Maria de Fátima já
participava como membro do Labebê e sua entrada na universidade tornou-a
uma preciosa parceira nas atividades de pesquisa e acadêmicas.
Na análise de meu papel de professora, sempre procurei colocar em prática
aquilo que acredito ser fundamental para um professor: conhecer bem a matéria
que ministra, ser capaz de selecionar e preparar os conteúdos que julga ser mais
pertinentes aos objetivos da disciplina, ser entusiasmado com o que ensina e saber
transmitir este entusiasmo e, acima de tudo, despertar a curiosidade e motivação,
para que o aluno adquira autonomia e responsabilidade pela sua aprendizagem.
Recebe-se uma educação, mas a outra, mais importante, é aquela que o próprio
indivíduo se concede. Digo sem nenhuma modéstia que sempre tive grande
prazer em dar aulas e creio que obtive êxito nesta empreitada, sobretudo quando
conseguia transformar entusiasmos em realizações, permeados pelo diálogo e por
interações respeitosas. Sempre recebi homenagens informais de meus alunos,
especialmente nos últimos dias de aula. São inúmeros os agradecimentos, pre-
sentes, cartões, lembranças que coleciono. Fui paraninfa e homenageada algumas
vezes por formandos do curso de Pedagogia. Estas manifestações carinhosas
sempre me motivaram a me aprimorar cada vez mais como professora. Também
fui exitosa nas avaliações institucionais, quando realizadas.

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A docência no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE)


e a Coordenação de Linha de Pesquisa

Logo que ingressei na UFPR, no segundo semestre de 1991, por conta das
anunciadas medidas do governo Collor de Mello, particularmente as relacionadas
às aposentadorias, esvaziou-se o corpo docente do Programa de Pós-Graduação
em Educação (PPGE). Aos três doutores remanescentes coube a responsabili-
dade por uma produção científica articulada à formação de quadros em torno
de três linhas de pesquisa: Educação e Trabalho (Acacia Kuenzer), Currículo e
Conhecimento (José Alberto Pedra), Cognição, Aprendizagem e Interação Social
(Maria Lucia Moro). O novo programa se iniciou em 1992.
A Professora Maria Lucia, contando com o apoio do Professor Doutor
Egídio José Romanelli, do Departamento de Psicologia, convidou-nos a nós,
professoras Gilda Moreira Weiss, Verônica Branco e eu, na qualidade de mestres,
para colaborar nos três seminários obrigatórios da linha, que visavam o preparo
teórico-metodológico das futuras dissertações. Estes seminários transcorriam
de forma colegiada em sistema de orientação constante dos projetos dos alunos.
Ao retornar do doutorado, em 1998, fui credenciada na linha cujo nome
havia sido modificado para Cognição e Aprendizagem. Em 2001, o PPGE passou
por nova reorganização, extinguindo algumas linhas de pesquisa. Como a Profª
Maria Lucia apresentou a proposta da criação de uma nova linha de pesquisa
voltada à educação matemática, o colegiado decidiu pela extinção da linha de
Cognição. Fiquei inconformada, pois representava ela uma referência fundamen-
tal para mim e para os professores da área de Psicologia da Educação do Setor
de Educação e por conta de que pelo menos três destes professores estavam em
vias de doutoramento e seria ali que teriam condições de desenvolver seus futuros
projetos. Compartilhei esta angústia com a diretora do Setor da época, a Profª
Drª Acácia Zeneida Kuenzer, que entendeu minhas preocupações e resolveu me
apoiar, sugerindo que eu tentasse compor pelo menos uma dupla de professores
que desse sustentação à linha. Assim, convidei o Prof. Dr. José Alberto Pedra,
com larga competência e experiência na graduação e na pós-graduação do Setor,
para compor conosco. E ele aceitou o convite, para minha maior alegria. Vieram
integrar-se a nós os professores Araci Asinelli da Luz e Paulo Ricardo Ross, o
primeiro professor cego brasileiro a integrar um programa de pós-graduação,
ambos recém-doutores. Contamos também com a colaboração dos Professores
Doutores Valdo José Cavallet, José Egídio Romanelli e de minha colega do
DTFE, Sandra Regina Kirchner Guimarães, na qualidade de doutoranda em

328 Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017


BOLSANELLO, M. A. Memorial acadêmico de uma professora universitária: sentido e significado

treinamento. Sandra, grande amiga, foi uma inestimável interlocutora e parceira


em toda a jornada universitária.
O Colegiado aprovou nossa proposta da manutenção da linha, cujo nome
foi reformulado para Cognição e Aprendizagem Escolar e o respectivo creden-
ciamento de seus quatro professores. Assumi a coordenação da linha de pesquisa
e já em 2001 selecionamos a primeira turma do mestrado, com sete alunos apro-
vados. Em 2002 foram credenciados mais 04 professores, sendo 02 da área da
Psicologia da Educação. A partir de então, os outros professores, conforme iam
se doutorando, eram convidados a participar da linha. Em 2005, foi aprovado o
Curso de Doutorado no programa, e nossa linha passou a se chamar Cognição,
Aprendizagem e Desenvolvimento Humano por conta da nova configuração e
interesses da maioria dos seus docentes. Também foram criadas, no interior da
linha, algumas sublinhas, com a finalidade de aproximação dos pesquisadores
afins. Minha participação efetivou-se na sublinha Desenvolvimento e aprendi-
zagem da criança pequena com ou sem necessidades especiais.
Coordenei a linha até o final de 2009, quando julguei ter cumprido minha
missão com sua consolidação. A partir desta data, a linha vem sendo coordenada
por outros professores, em um sistema de revezamento. Atualmente a linha é
composta por 17 professores e, até o momento, mais de 130 defesas de disser-
tações e mais de 50 defesas de teses foram realizadas.
No programa de pós-graduação, lecionei inicialmente as disciplinas5 obri-
gatórias Pesquisa em Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano I
(semestral) e Pesquisa em Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano
II (semestral), para o curso de mestrado.
Com a implementação do doutorado, em 2005, passei a lecionar neste
curso as disciplinas Pesquisa Avançada em Cognição, Aprendizagem e Desen-
volvimento Humano I e II, ambas também semestrais.
Estas disciplinas ocorrem no primeiro ano do curso e têm a finalidade de
orientar os alunos na elaboração teórico-metodológica de seus projetos de pes-
quisa. Os alunos, após a conclusão destas disciplinas participam obrigatoriamente
do Seminário de Dissertação em Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento
Humano, voltado para mestrandos e Seminário de Tese, voltado para doutoran-
dos. Nestes seminários participam os professores orientadores destes alunos, para
discussão e elaboração final dos projetos de pesquisa. Concomitantemente, de
2001 até 2005 e depois 2007, lecionei também a disciplina optativa Desenvolvi-
mento Psicológico e suas Implicações Educacionais. De forma esporádica ofertei

5  Estas disciplinas sofreram, no decorrer dos anos, pequenas modificações em seus nomes.
Neste memorial, as referencio com as denominações atuais.

Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017 329


BOLSANELLO, M. A. Memorial acadêmico de uma professora universitária: sentido e significado

a optativa Tópicos Especiais em Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento


Humano – “Estimulação e Atenção Precoce de Bebês”.
Tecendo uma reflexão sobre a atuação do professor e orientador de pós-
-graduação, posso afirmar que se trata de tarefa complexa, pois a sua atividade
é mensurada principalmente pelo índice de impacto de sua produção intelectual.
Hoje a pós-graduação, pressionada pelo sistema avaliativo da Capes,
privilegia essencialmente o número de publicações de seus docentes, em um
indicador quantitativo, no qual o que importa é publicar muito em pouco tem-
po (caráter produtivista), o que compromete fortemente a qualidade do que se
publica e não se dá ao pesquisador o tempo de amadurecimento necessário para
a sua produção. Por outro lado, tenho visto, nestes últimos anos, professores
competentes serem descredenciados pelo PPGE, devido a não contemplarem
a produção suficiente requerida, em detrimento da qualidade da formação dos
futuros mestres e doutores, que, a meu ver, deveria ser um indicador imprescin-
dível de avaliação em um programa de pós-graduação. Nos últimos anos não
visualizei um posicionamento mais crítico por parte dos programas em relação
às estas exigências de avaliação, ao contrário, a meta é a superação ou a ma-
nutenção da nota do programa, o que causa uma discrepância entre discursos e
práticas, permeados por estresses não produtivos.

A orientação de alunos Mestrandos e Doutorandos

No decorrer da carreira, foram 24 orientações entre teses e dissertações,


cinco de iniciação científica, três monitorias, um Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) e inúmeras monografias. Orientei também alguns alunos em
estágio não obrigatório fora da UFPR, cujas orientações não foram por mim
registradas. Dos alunos que orientei, somente um de doutorado foi jubilado,
devido a circunstâncias pessoais. Todos os demais concluíram suas atividades.
Minhas primeiras orientações ocorreram em Cursos de Especialização em
Educação Especial, ofertados pelo Setor de Educação, da UFPR, dos quais alguns
participei quando ainda não era docente efetiva da universidade. Infelizmente
não registrei a maioria delas. Foram quatro as orientações registradas, todas
relacionadas à prevenção de deficiências na criança pequena.
Em relação à Iniciação Científica, nas quatro vezes em que me submeti
aos editais, fui contemplada com bolsas CNPq. Foram cinco participações e,
para minha satisfação, obtive destaque pela orientação em todos os trabalhos
apresentados no EVINCI, sendo as alunas classificadas em primeiro lugar,

330 Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017


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quatro delas na área da Educação e uma no EVINCI geral. A grande maioria de


minhas orientações de mestrado e doutorado (num total de 24) está vinculada
aos projetos de pesquisa desenvolvidos por mim, ao longo da carreira. Foram
cinco teses e dez dissertações relacionadas à atenção e estimulação precoce,
tanto na educação especial quanto na educação infantil, totalizando 15 trabalhos.
Outros cinco trabalhos, uma tese e quatro dissertações se vincularam a outros
temas da área da educação especial, como surdez, deficiências física, intelectual
e múltiplas e altas habilidades/superdotação. Outros quatro trabalhos, uma tese
e três dissertações, a temas relacionados à formação do professor de ensino
superior (3) e à educação sexual na infância (1). O menor número de orientação
de teses em relação às dissertações explica-se pelo fato de o doutorado ter se
iniciado anos depois de adentrarmos no PPGE.
Posso dizer com segurança que praticamente todas as orientações de mes-
trado e doutorado resultaram em dissertações e teses que trouxeram contribuições
importantes para a área da educação infantil e da educação especial, gerando um
corpo novo de conhecimentos. Tive o prazer de orientar a primeira dissertação
do PPGE defendida por uma aluna surda, que apresentou um trabalho belíssimo,
contando a sua própria história de vida, enquanto psicóloga e professora surda.
No que diz respeito aos discentes de mestrado e doutorado orientados
por mim (24), a grande maioria hoje atua no ensino superior, sendo onze em
universidades particulares e outros nove em universidades públicas. Uma parte
dos trabalhos concluídos pelos alunos resultou em artigos, capítulos de livros
e trabalhos completos em congressos. Outra ainda está em fase de elaboração.

As atividades de pesquisa: o empenho na construção do novo

Em 2002, criamos, eu como líder e a Profª Dª Sandra Regina Kirchner


Guimarães como vice-líder, o Grupo de Pesquisa em Cognição, Aprendizagem
e Desenvolvimento Humano, certificado pelo CNPq e vinculado à nossa linha
de pesquisa na pós-graduação. Desde 2002, o Grupo vem crescendo gradativa-
mente e hoje conta com 10 sublinhas, 28 pesquisadores e aproximadamente 80
alunos de graduação e pós-graduação.
No decurso de minha carreira profissional coordenei sete projetos de
pesquisa, todos vinculados à busca de novas alternativas para a eficácia do
atendimento em atenção/intervenção precoce tanto na educação especial quanto
na educação infantil. Deles participaram alunos de doutorado, mestrado, ini-
ciação científica (IC) e outros pesquisadores, resultando em teses, dissertações,

Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017 331


BOLSANELLO, M. A. Memorial acadêmico de uma professora universitária: sentido e significado

projetos desenvolvidos na IC, relatórios científicos, apresentação em congressos


(com trabalhos completos ou resumos) e publicação de artigos em periódicos
científicos e capítulos de livros.
Minhas atividades como pesquisadora sempre estiveram ligadas à pre-
ocupação com o desenvolvimento e aprendizagem da criança pequena, entre
zero e três anos de idade, com ou sem deficiências. Uma vez que o corpo de
pesquisas internacionais, multidisciplinares, aponta, entre outros fatores, para a
evolução fantástica do desenvolvimento dos bebês nesta etapa da vida e como
experiências ricas e positivas têm um impacto decisivo neste desenvolvimento,
inicialmente me preocupei em investigar como se processava o atendimento de
bebês com deficiências, em programas de intervenção precoce. Mais tarde, esta
preocupação ampliou-se para o atendimento de crianças no ambiente das creches.
Assim, no decurso de minha carreira profissional coordenei os seguintes
projetos de pesquisa, sendo que um deles foi desmembrado em quatro subprojetos.
O projeto de pesquisa intitulado A Educação da Gestante como Medida
de Prevenção da Excepcionalidade Infantil buscou verificar se a gestante tinha
informações suficientes que lhe permitissem estabelecer uma associação entre
cuidados durante a gestação e a prevenção de deficiências no bebê e levantar
as expectativas e necessidades educacionais da mulher gestante referentes à
preparação para a gravidez e o parto e cuidados iniciais com o filho.
Em 1994, já professora da UFPR, obtive aprovação do projeto Desenvolvi-
mento e Aprendizagem da Criança Pequena com ou sem Deficiências. O projeto
buscava investigar processos de prevenção e promoção do desenvolvimento de
bebês de risco ou com deficiências, especialmente os inseridos em programas
de intervenção precoce e em creches públicas.
Por meio deste grande projeto, foram desenvolvidos quatro subprojetos,
descritos abaixo.
O primeiro deles, denominado Concepções e modo de Atuação dos Pro-
fissionais em Estimulação Precoce, na Educação Especial, resultou na minha
tese de doutorado.
Como não identifiquei na literatura nacional nenhuma publicação que
mencionasse o estado atual dos programas de estimulação precoce no Brasil,
resolvi verificar em campo como se dava esse atendimento, desenvolvido em
escolas de educação especial. Assim, a pesquisa visou investigar as concepções
e modo de atuação dos profissionais envolvidos no atendimento de estimulação
precoce, com bebês de zero a um ano de idade; e verificar se a facilitação da
interação mãe-filho era levada em consideração na atuação destes profissionais.
O segundo subprojeto, denominado Concepções de Mães e de Pais sobre
o Atendimento de Estimulação Precoce, na Educação Especial, teve o objetivo
de levantar tanto concepções de mães quanto de pais de bebês com deficiências,

332 Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017


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especialmente com síndrome de Down, sobre o atendimento de estimulação


precoce, bem como verificar como visualizavam o desenvolvimento dos filhos,
o modo como participavam do atendimento e as expectativas que tinham em
relação ao futuro da criança.
O terceiro subprojeto buscou levantar as Concepções de Profissionais sobre
os Procedimentos de intervenção e Avaliação no atendimento de Estimulação
Precoce. Essa pesquisa visou conhecer de que maneira e quais instrumentos
usavam os profissionais para avaliarem as crianças e programarem as suas
intervenções.
E o quarto e último subprojeto foi denominado A Conquista das Noções do
período Sensório-motor, na perspectiva Piagetiana, em Bebês com Deficiências.
Esta pesquisa buscou investigar a conquista das noções do período sensório-
-motor, na perspectiva piagetiana, em bebês com deficiências, frequentadores
e não frequentadores de atendimento de estimulação precoce.
De 2006 até o momento, coordeno o projeto de pesquisa denominado Novas
Alternativas para a Eficácia do Atendimento em Atenção/Intervenção Precoce,
também desmembrado em subprojetos e em fase de elaboração do relatório final.
Por meio das pesquisas anteriores, pude verificar que a situação do aten-
dimento em intervenção precoce estagnou-se no modelo preconizado na década
de 1970/80, sem maiores avanços, em enfoque centrado no modelo médico, de
caráter compensatório, com equipe multidisciplinar, com nenhuma ou pouca
participação familiar e sem procedimentos de avaliação e intervenção adequados.
Pude perceber também as angústias de pais e mães frente ao desenvolvimento
dos filhos e o potencial que possuem na promoção deste desenvolvimento. Por
outro lado, influenciada pelo modelo de atendimento preconizado no Grupo de
Investigação em Atenção Precoce (GIAT), da Universidade de Múrcia, Espa-
nha, onde realizei o pós-doutorado, busquei coordenar esta pesquisa, visando
contribuir para o desenvolvimento de um programa referencial de atenção e
estimulação precoce na realidade brasileira, para bebês com deficiências, na
busca de novas alternativas de avaliação e intervenção, na superação do modelo
tradicional e no enfrentamento dos desafios de qualidade e de profissionalidade,
visando à inclusão escolar e social. A pesquisa conta com a parceria do GIAT,
coordenado pelo Prof. Dr. Julio Pérez-López e com o apoio do CNPq e da Fun-
dação Araucária. A partir de 2008 até o momento procurei também investigar o
ambiente das creches, na educação infantil, com a finalidade de identificar pos-
síveis situações de risco para o desenvolvimento infantil, bem como preveni-las.
Assim, desde 2010 até o momento, coordeno o projeto Prevenção, Promoção do
Desenvolvimento Infantil e Atenção Precoce. O desenvolvimento deste projeto é
deveras ambicioso, pois visa contribuir para o desenvolvimento de um programa
de atenção precoce para a educação infantil, visando à prevenção e à promoção

Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 64, p. 317-342, abr./jun. 2017 333


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do desenvolvimento de bebês de zero a 42 meses. Além de avaliar a eficácia de


um programa de atenção precoce para bebês, com a participação da família e dos
profissionais da creche, busca também aplicar e validar instrumentos de avalia-
ção do desenvolvimento infantil já existentes, com a finalidade de adaptá-los à
realidade brasileira, na utilização qualitativa e contextual destes instrumentos.
A pesquisa conta também com a parceria do GIAT, da Universidade de Múrcia.
Saliento também que tive o prazer de participar da pesquisa nacional Ali-
cerces para a Inclusão: Análise de Depoimentos de Futuros Profissionais sobre
ser Surdo e ser Cego e a Importância desses Sentidos para Aprender, coordenada
pela Profª Drª Elcie Aparecida Fortes Salzano Masini, no período de 2008 a
2011, coletando dados na cidade de Curitiba.

O Labebê – Laboratório de Estudos sobre Atenção/Intervenção


Precoce de Bebês

Quando retornei do pós-doutorado na Universidade de Múrcia, estava


muito motivada em realizar um trabalho semelhante ao que tinha presenciado
junto ao GIAT, daquela universidade.
Além do grupo de estudos que se reunia regularmente, bebês de risco ou
com deficiências eram avaliados pela equipe, com a participação dos pais. Havia,
no laboratório, uma ilha de edição, onde tudo era filmado e gravado e depois
o material era visualizado pelos pais e analisado pelos professores e alunos.
Assim criei o Laboratório de Estudos sobre Atenção e Intervenção Preco-
ce de Bebês (Labebê). O grande complicador foi a escolha de um espaço que
pudesse acolhê-lo. Este espaço o encontrei junto à Casa Amarela, um imóvel
onde funcionava um serviço social destinado à crianças com Síndrome de Down,
vinculado à UFPR. Solicitei então apoio financeiro para a Fundação Araucária
e para o CNPq, por meio de seus editais de fomento. Contudo, a Casa Amarela
foi desativada poucos meses depois, e eu fiquei com os recursos na mão, sem
saber onde utilizá-los adequadamente. Infelizmente, apesar dos meus esforços,
o meu Setor, na época, priorizou espaços para outros projetos e assim tive que
estabelecer o Labebê em meu pequeno gabinete de trabalho, compartilhado
com mais dois professores. O recurso advindo da Fundação Araucária, para a
implementação de uma ilha de edição e outros materiais, teve que ser devolvido.
Creio ter sido essa situação a minha maior frustração durante a carreira. Com
os recursos advindos do CNPq, além de computadores, impressora, filmadora
e outros materiais, pude importar as Escalas Bayley III do Desenvolvimento

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Infantil, a qual se encontra em fase bastante adiantada de tradução para a língua


portuguesa. Em 2015, com o empenho e reconhecimento da atual direção do
Setor e sobretudo do vice-diretor Prof. Dr. Marcus Levy Bencostta, um espaço
adequado foi finalmente destinado ao Labebê.
O Labebê constitui-se em um espaço de pesquisa, divulgação e intercâmbio
de estudos relacionados com a prevenção e a promoção do desenvolvimento
infantil e articulação com a educação especial e a educação infantil. Muitas
ações foram e são promovidas pelo Labebê e ele já tem o reconhecimento da
comunidade, especialmente pelos profissionais que atuam na área. É composto
por professores e alunos da graduação e pós-graduação e conta com a parceria
internacional do GIAT da Universidade de Múrcia, com a colaboração da Profª
Drª Susana Gavidia-Payne, da RMIT University, de Melbourne, Austrália, e do
Prof. Dr. Vitor Franco, da Universidade de Évora, Portugal.

A Produção Científica

A produção na área da Educação sempre destacou-se pela apresentação de


trabalhos em eventos nacionais e internacionais. Com o advento das exigências
da Capes na avaliação dos programas de pós-graduação, priorizando a publica-
ção de livros, artigos e capítulos de livros por parte dos pesquisadores, a minha
produção científica evoluiu de acordo com estas exigências.
Uma grande parte das produções elencadas faz parte dos resultados de
pesquisa dos projetos por mim coordenados, na área da atenção e intervenção
precoce da criança de zero a três anos. Outra parte, não menos significativa,
refere-se a conteúdos da educação especial, resultantes de pesquisas de mestrado
e doutorado de não participantes dos projetos de pesquisa elencados anterior-
mente. Foram 19 artigos, 10 livros e 16 capítulos de livros.
Dentre minhas produções destaco uma das primeiras, o livro Conselhos:
Análise do Comportamento Humano em Psicologia, elaborado em coautoria
com Aurélio Bolsanello, que aborda as diferentes fases do desenvolvimento hu-
mano – a criança, o jovem, o adulto e o idoso –, destacando suas características
físicas, psicológicas e sociais. Esta publicação, em 4 volumes, ultrapassou 40
edições, sua última edição publicada em 2007.
Destaco também a organização de dois dossiês, publicados ambos pela
revista Educar em Revista do Setor de Educação da UFPR. O primeiro, publi-
cado em 2004, reuniu publicações nacionais e internacionais relacionadas à
Educação Especial. O segundo, publicado em 2012, denominado Educação

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de Bebês e Desenvolvimento Infantil: Intervenção e Atenção Precoce, reuniu


artigos nacionais e internacionais, em uma publicação inovadora na realidade
brasileira sobre o tema.
Tive também a satisfação de publicar três capítulos de livro em coautoria
com o Prof. Dr. Julio Pérez-López. Foi também a convite dele que elaborei o
artigo Prevención desde la escuela infantil: desafíos en la realidad brasileña,
em 2009, e foi muito gratificante saber que ele vem sendo citado em publicações
espanholas.
Em relação aos trabalhos completos e resumos publicados em anais de
eventos, foram 56 os registrados.
Elaborei também quatro livros didáticos (três em coautoria), destinados
aos alunos de Pedagogia a Distância da UFPR. Dois relacionados à avaliação
da aprendizagem escolar e um deles relacionado à avaliação da aprendizagem
do aluno especial, na escola regular.
Por outro lado, penso que a produção científica exige tempo e, sobretudo,
amadurecimento. Talvez pela minha veia perfeccionista, ainda priorizo mais a
qualidade do que a quantidade. Embora entenda que a eficiência se mede pela
produtividade, acredito que cada pesquisador tem o seu ritmo próprio de pro-
dução, o que deve ser respeitado.
Atualmente estou produzindo um livro, no qual descrevo os resultados
das pesquisas e minhas experiências no campo da atenção e intervenção preco-
ce, pois pretendo apresentar uma proposta de um programa referencial para o
atendimento de bebês com deficiências. Acredito que neste momento tenho um
corpo significativo de conhecimentos que podem contribuir com efetividade para
esta proposta. Da mesma forma estou organizando, juntamente com três colegas,
uma obra sobre Desenvolvimento Infantil e Atenção Precoce e outras produções
oriundas das recentes defesas de dissertações e teses de meus orientandos.

Eventos Científicos
A fonte maior que um professor e pesquisador usam para se capacitar
constantemente é, sem dúvida, a leitura de livros e artigos científicos, ainda
mais hoje, com o acesso a portais e bases de dados nacionais e internacionais
de grande qualidade. Mas a participação em eventos técnico-científicos é, a
meu ver, essencial para conhecer pesquisas novas e, sobretudo, contatar pessoas
envolvidas na pesquisa em que se está trabalhando. É espaço também imprescin-
dível para se submeter os resultados de pesquisa à apreciação crítica de colegas.
Tive a oportunidade de frequentar inúmeros eventos nacionais e interna-
cionais, apresentando trabalhos, sendo muitas vezes financiada pelo CNPq, pela
Capes e Fundação Araucária. Em eventos oficiais registrei 40 apresentações.

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Eventos de suma importância para minha área de estudo no cenário nacio-


nal são o Congresso Brasileiro de Educação Especial e o Encontro Nacional de
Pesquisadores da Educação Especial, realizado pela Universidade Federal de
São Carlos, em colaboração com o Programa de Pós-Graduação em Educação
Especial (PPGEEs/UFSCar) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em
Educação Especial (ABPEE). Por meio deste Congresso tive a oportunidade
de conhecer pesquisadores experientes também envolvidos com a atenção e in-
tervenção precoce, entre eles as Professoras Doutoras Ana Lúcia Rossito Aiello
e Maria Amélia Almeida, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Associação em Sociedades Científicas


Atualmente sou sócia da Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y
Educativa de la Infancia, Adolescencia, Mayores y Discapacidad (INFAD) e da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial (ABPEE). Fui
por vários anos também associada à Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e
à Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP). Por algum tempo, me associei
à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP).

A Produção Técnica: consultorias e bancas

No decorrer da carreira, prestei e presto consultoria ad hoc para algumas


agências de fomento e diversas revistas. Dentre as agências figuram a Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Fundação
Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná e
a Fundação de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.
Entre outras atividades acadêmicas destaco a participação como membro
de bancas examinadoras de mestrado, doutorado e bancas de qualificação.
Participei como membro titular de 38 bancas de trabalhos de conclusão de
mestrado e de 12 bancas de doutorado, num total de 50 bancas. Das 50 bancas,
a maioria ocorreu na Universidade Federal do Paraná (38) e doze ocorreram em
outras universidades brasileiras. Foram oito participações em bancas de exame
de qualificação de doutorado, registradas, e inúmeras bancas de qualificação de
mestrado, não registradas. Participei também de muitas bancas de trabalhos de
conclusão de curso na graduação, tendo registrado apenas uma.
Integrei também diversas bancas de concursos públicos para professor
do magistério superior, nos quais registrei somente as participações a partir de

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1995, em um total de onze. Entretanto, lembro que entre 1992 e 1993 participei
de inúmeras bancas, no interior da UFPR. Neste tempo, como recém-ingressa na
universidade, sempre me cabia a incumbência de secretária relatora, que tinha
por função registrar, por meio da escrita manual, todas as atas do concurso, em
caderno próprio. Lembro-me que fui convidada a participar de quatro concursos
seguidos na área da enfermagem e assim me tornei “especialista” em redação
de atas, em um árduo trabalho, hoje totalmente ultrapassado pela tecnologia.
Também participei de algumas bancas de avaliação do programa de Iniciação
Científica da UFPR.
Desde 1997, participei anualmente como membro de banca de seleção de
candidatos ao mestrado e, a partir de 2005, também da seleção de candidatos
ao doutorado, no PPGE, da UFPR.

As atividades de Extensão

No decurso de minha carreira profissional, proferi inúmeras palestras e


minicursos tanto para pais quanto para professores e outros profissionais, na
maioria das vezes vinculados aos projetos de pesquisa. Foram também várias
palestras proferidas a convite de universidades locais, estaduais e internacio-
nais e outras instituições de ensino, como também em associações vinculadas
à educação especial.
Tive a oportunidade também de conceder algumas entrevistas/comentários
na televisão e em jornais, relacionados com meus projetos de pesquisa e também
outros temas da educação especial.
Dentre todos, destaco a participação, como entrevistada, em 2011, na TV
Educativa, na qual tive a oportunidade de discorrer sobre o desenvolvimento e
a aprendizagem na infância. Mais recentemente, o canal 12, no programa Jornal
Hoje, destacou a defesa da dissertação de Rita Maestri, orientada por mim e pela
Profª Drª Clara Brener Mindal, nos entrevistando e destacando a participação
de Rita como professora e mestra surda.
Por algum tempo colaborei semanalmente com o jornal paranaense Gazeta
do Povo, escrevendo artigos relacionados ao desenvolvimento infantil, atividade
que infelizmente tive que abdicar pelas tarefas prioritárias da universidade.
No que diz respeito a eventos, participei da organização de sete deles.
Em 2008, organizei o I Simpósio Nacional de Atenção e Estimulação Precoce,
que contou com a presença do Prof. Dr. Julio Pérez-López, da Universidade
de Múrcia. Pela sua receptividade, o temos organizado de dois em dois anos,

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já estando a caminho de sua quinta edição. Participei ainda da organização do


Seminário Educação, Cidadania e Infância (em 2006) e do I Seminário sobre
Temas em Educação Especial e Inclusiva (em 2011).
Em 2011, organizei, juntamente com a Profª Marisa Zanoni Fernandes (da
Univale), o I Colóquio sobre Educação Infantil e Atenção Precoce, em parceria
com o Labebê e a Secretaria Municipal de Educação. O Colóquio contou com
a presença do Prof. Dr. Aldo Fortunati, Presidente do Centro de Pesquisa e Do-
cumentação sobre Infância La Bottega di Geppeto, da cidade de San Miniato,
Itália. O evento teve receptividade bem acima do esperado e lotou o auditório
da Reitoria, com 780 participantes, 530 a mais do que o total inscrito.

A Gestão Acadêmica

Exercer atividades administrativas e cargos burocráticos nunca foi uma


prioridade em minhas atividades profissionais e embora, em algumas situações,
tenha sido convidada para exercê-los, sempre relutei em aceitá-los.
Em 2000, com a finalidade de não me furtar totalmente a uma contribuição
administrativa, aceitei compartilhar com o Prof. Dr. José Alberto Pedra, a re-
presentação do meu setor no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE),
órgão colegiado superior da Universidade Federal do Paraná, cargo eletivo,
com mandato de dois anos. Em 2008, candidatei-me à nova representação, em
parceria com a Profª Laura Ceretta Moreira, que mais tarde foi substituída pela
Profª Veronica Branco.
Esta foi uma experiência única para aquilatar o real entendimento do
funcionamento da universidade pública, em sua complexidade e contradições.
Entre discussões sobre temas relevantes, também ocorreram horas de debates
acalorados em torno de temas corriqueiros que poderiam ser resolvidos em outras
instâncias mais apropriadas com grande economia de tempo.
Apesar do meu crescimento pessoal, de me ter empenhado ao máximo
em bem representar o meu Setor, verifiquei que, algumas vezes, a universidade
reproduz modelos de gestão de outras representações da sociedade, em vez de
buscar avanços administrativos próprios que servissem de modelo. Verifiquei
também que em nome do processo democrático, retira-se de outras instâncias
da universidade o poder de decisão em questões que seriam de sua competência,
criando um percurso burocrático estressante e pouco produtivo. Ao CEPE e ao
Conselho Universitário (COUN) deveriam ser atribuídos, a meu ver, grandes de-
bates que permitissem avanços em políticas de ensino, sistemas organizacionais,

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estratégias de ação e flexibilidade curricular, na busca de maior desempenho e


qualidade. Não que isto não ocorresse no período de meus mandatos, mas de
forma insuficiente, pois algumas vezes os enfoques eram atropelos burocráti-
cos de menor valor. Outras vezes por interesses corporativos ou pessoais que
buscam confundir resoluções vigentes. É um registro pessoal, ao final de minha
passagem nesse Conselho, por um período de quatro anos.
Aliás, penso também que muitas das atividades administrativas da uni-
versidade deveriam e poderiam ser exercidas por funcionários de carreira.
Constato hoje que imersos na resolução de questões burocráticas, departamentos
e professores raramente se unem para discutir e aprofundar questões pedagó-
gicas decorrentes dos próprios cursos nos quais lecionam, incluindo questões
em torno de currículos e disciplinas, na busca de maior interdisciplinariedade
e razoabilidade.
Uma representação da qual me orgulho foi a de ter sido designada, em
portaria institucional, membro permanente do Grupo de Trabalho sobre a Pessoa
com Necessidades Especiais da UFPR (GTPNE), visando discutir, elaborar,
propor e assessorar a implementação de ações para a inclusão do alunado
especial. Estas ações foram muito importantes na criação do Núcleo de Apoio
às Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE) da UFPR, coordenado por
Laura Ceretta Moreira, professora parceira nas questões da educação especial.
Em 2008, passei a compor as bancas especiais relacionadas ao concurso
vestibular dos candidatos com necessidades educacionais especiais.
Por outro lado, fiz parte de um sem número de atividades e comissões
administrativas, as quais creio que carecem serem relatadas aqui, que vão desde
membro de colegiado do PPGE, por vários anos, vice-chefia, colegiados de
vários cursos da graduação, membro consultivo da revista Educar em Revista
por algumas gestões e até mesária em eleições.
Em 2009 fui convidada a integrar o Conselho Editorial da revista Anales
de Psicologia, vinculada à Universidade de Múrcia, Espanha. É uma revista que
contempla as diversas áreas temáticas da psicologia científica e possui o fator
de impacto 0,552 no Journal of Citation Reports, 2012. Em 2012 também fui
convidada a integrar o Conselho Editorial da Revista Portuguesa de Pedagogia,
uma publicação semestral da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação,
da Universidade de Coimbra, Portugal.
Em 2007, meu departamento aprovou a minha proposta de Acordo de
Cooperação Internacional, a ser celebrado entre a Universidade Federal do
Paraná e a Universidade de Múrcia (Espanha), aprovada pelo conselho setorial
e encaminhada à Assessoria de Relações Internacionais da UFPR. O termo de
cooperação foi assinado em 25 de junho de 2008, com vigência sempre renovada,

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estabelecendo uma cooperação ampla e mútua entre as duas universidades, com


vistas à promoção do ensino, pesquisa e extensão.
O acordo resultou na edição dos cinco simpósios relacionados à Atenção e
Intervenção Precoce, publicações conjuntas com pesquisadores espanhóis, dois
pós-doutoramentos, visitas acadêmicas, comunicações em Congressos, desen-
volvimento de pesquisas conjuntas entre o Labebê e o Grupo de Investigação
em Atenção Precoce (GIAT), da Universidade de Múrcia.

As considerações finais

Na finalização escrita deste memorial, creio que se destaca o compromisso


com a educação, nos meus longos 30 anos de magistério.
No decorrer de minha carreira profissional na Universidade Federal do
Paraná pude exercer praticamente todas as atividades que se espera de um pro-
fessor de nível superior – docência, pesquisa e extensão –, além de contribuir
para a gestão universitária.
Naquilo que considero minhas principais contribuições, destaco aquelas
que concorreram para:
• A formação de aproximadamente cinco mil alunos da graduação e
pós-graduação, muitos atuando hoje no ensino infantil, fundamental,
médio e superior;
• A formação de mestres e doutores, a maioria atuando no ensino superior;
• A qualificação de pais, alunos, profissionais e professores de escolas,
universidades e outras instituições, por meio de cursos, palestras, co-
municações, reuniões de trabalho, assessorias e outros;
• A criação e fortalecimento do Grupo de Pesquisa em Cognição, Aprendi-
zagem e Desenvolvimento Humano, certificado pelo CNPq desde 2002;
• A consolidação da linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem e De-
senvolvimento Humano, no Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFPR;
• A melhoria da administração da UFPR, representando meu Setor junto
ao CEPE e em outras atividades administrativas;
• O desenvolvimento de pesquisas relevantes para o desenvolvimento
científico, em temáticas ainda pouco exploradas nos estudos brasileiros,
sobretudo as relacionadas com a promoção do desenvolvimento de be-
bês de zero a três anos, tanto no ambiente da creche quanto no ambiente
de programas de atenção e intervenção precoce, na educação especial.

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Estas contribuições se pautaram no respeito e observância ao estatuto e ao


regimento da Universidade Federal do Paraná, bem como nas suas resoluções
pertinentes. Mas acima de tudo, no exercício da autonomia, da cooperação, da
compreensão de divergências, na liderança, na busca do consenso, no exercício
da tolerância e do compromisso social, comportamentos estes que dão sentido
a uma professora universitária.
Não posso deixar de considerar que fui afortunada em pertencer a um am-
biente de trabalho, meu Setor, e, sobretudo, meu departamento, e minha área da
psicologia da educação em especial, onde sempre as relações foram permeadas
pela colaboração, pela amizade e pelo respeito, malgrado as diferenças.
Por outro lado, a elaboração deste memorial me deu a oportunidade única
de voltar a olhar para trás no tempo e então lembrei-me dos versos do poeta
espanhol, Antonio Machado:
Caminhante, são teus passos o caminho e nada mais,
Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar.
Ao andar se faz o caminho...
Na minha trajetória, nos passos da minha caminhada, pode-se perceber
claramente quantos outros passos foram dados comigo, e a estes amigos cami-
nhantes, os alunos, os professores, os técnicos-administrativos, os funcioná-
rios, os profissionais, os familiares da longa jornada, só posso repetir: MUITO
OBRIGADA!
Ao mesmo tempo, se fui capaz de voar, de conquistar meus sonhos, colher
meus objetivos, é porque lá estava meu esposo, Aurélio Bolsanello, companheiro
de 50 anos, com sua presença, seu conhecimento, seu encorajamento, seu colo
e seu amor.
Quanto às minhas perspectivas profissionais futuras, mesmo aposentada,
pretendo continuar desenvolvendo projetos de pesquisa, colaborar com as
ações propostas pelo Labebê, me envolver em atividades junto à comunidade.
É minha intenção também redigir livros e artigos relatando os resultados de
minhas pesquisas.
E, no mais, só posso concordar com o escritor russo Nikolai Gogol: “A
única coisa que vale a pena é fixar o olhar com mais atenção no presente; o
futuro chegará sozinho, inesperadamente”.

(Janeiro de 2017)

Texto recebido em 13 de janeiro de 2017.


Texto aprovado em 16 de janeiro de 2017.

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