Biologia: Doenças Causadas Por Ribovírus

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Biologia PROFESSOR FLÁVIO LANDIM

DOENÇAS CAUSADAS POR


RIBOVÍRUS

FEBRE AMARELA (FAMÍLIA DOS ARBOVÍRUS /


FLAVIVÍRUS)
Modo de transmissão: Picada da fêmea do mosquito Aedes
aegypti (forma urbana) ou Haemagogus ou Aedes leucocealanus
(forma silvestre). O termo Arbovírus vem do termo Arthropode Borne
(oriundos de artrópodes), uma vez que são vírus transmitidos por ar-
trópodes (no caso, os mosquitos Aedes citados).
Características: O vírus é introduzido juntamente com a saliva
do mosquito e se dissemina pelo corpo através do sangue, instalan-
do-se no fígado, baço, rins, medula óssea e gânglios linfáticos. Depois
ASSUNTOS DA AULA. surgem náuseas, vômitos, dores musculares, dor de cabeça, pros-
Clique no assunto desejado e seja direcionado para o tema. tração, febre alta, calafrios. Há icterícia (pele amarelada) pelo com-
• Febre amarela (família dos arbovírus/flavivírus prometimento hepático e renal.
• Dengue (vírus flavivírus, família dos arbovírus/flavivírus) Prevenção: Apesar de a transmissão ser semelhante à da den-
• Febre chikugunya ou chicungunha (chikv) gue, existe vacina contra a febre amarela, de modo que a vacinação
• Febre Zika (zikv)
é a principal forma de prevenção. A vacinação é obrigatória antes
• Gripe (v;irus influenza)
da viagem para regiões onde a doença é endêmica, como a região
• Gripe aviária
Norte do Brasil.

• Gripe suína
DENGUE (VÍRUS FLAVIVÍRUS, FAMÍLIA DOS
• Covid-19 (SARS-Cov-2 ou novo coronavírus)
ARBOVÍRUS / FLAVIVÍRUS)
• Raiva ou hidrofobia (rabdovírus)
Modo de transmissão: Picada da fêmea do mosquito Aedes ae-
• Leitura - Protocolo para tratamento de raiva humana no Brasil
gypti ou Aedes albopictus (mosquito tigre asiático). Apenas os mos-
• Ebola (Vírus Ebola)
quitos do sexo feminino atacam os humanos e transmitem a doença.
• Caxumba ou parotidite
Isto ocorre porque a fêmea grávida do mosquito precisa de ferro e
• Sarampo
proteínas do sangue para fabricar seus ovos. O macho do mosquito
• Rubéola
é herbívoro (fitófago), não atacando humanos e, consequentemente,
• Poliomelia ou paralisia infantil (poliovírus)
não transmitindo doenças. O mosquito contamina-se ao picar um
• Leitura - Vacina pentavalente e heptavalente
homem ou outro mamífero contaminado, mas há a possibilidade de
• Rotavirose (Rotavírus)
transmissão vertical, na qual a fêmea transfere o vírus diretamente
• Hepatite A (HAV ou Hepatite A Vírus)
para seus ovos, de modo que os novos mosquitos já nascem com o
• Hepatite C (HCV ou Hepatite C Vírus)
vírus em seu organismo.
• Hepatite D (HDV ou Hepatite D Vírus)
O Aedes vive em casas ou proximidades e pica durante o dia, sen-
• Hepatite E (HEV ou Hepatite E Vírus) do ele preto com o abdome listrado de branco. Sua larva é aquáti-
• Resumo ca de água doce, mas de respiração aérea, precisando ter acesso à
superfície do meio para respirar. A larva só se desenvolve em água
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doce, uma vez que a água salgada a desidrata por osmose (porque seu exoesqueleto quitinoso é muito delgado), limpa, uma vez
que água com detritos orgânicos apresenta muitas bactérias e pequenos teores de oxigênio, e parada, uma vez que água em
movimento pode deslocar a larva para o fundo, onde há pouco oxigênio e ela pode asfixiar.

Características: Existem quatro sorotipos virais: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Ao contrair um dos tipos, o indivíduo se torna
imune a este tipo, podendo, entretanto contrair um dos outros três restantes.
De modo geral, no primeiro contágio com o vírus, contrai-se a forma benigna (dengue clássica) da doença, na qual o vírus leva
a efeitos como forte cefaleia (dores de cabeça), artralgia (dores nas articulações), mialgia (dores nos músculos), astenia (fraqueza
generalizada), anorexia (falta de apetite), dor retro-orbital (atrás dos olhos) e pele com eritemas (manchas vermelhas) devido a mi-
crohemorragias. Os sintomas valeram à dengue o apelido de “febre quebra-ossos”.
A partir do segundo contágio, por um sorotipo diferente do da primeira vez (afinal, o indivíduo se torna imune ao tipo que ele já
contraiu), contrai-se a forma hemorrágica (dengue hemorrágico) da doença, mais grave, podendo haver hemorragias em vários
órgãos, como hemorragias internas causando dor abdominal, hemorragias nasais e hemorragias gengivais, com forte queda de
pressão arterial, caracterizando a síndrome do choque pelo dengue.
As hemorragias na dengue são de caráter autoimune: anticorpos produzidos contra o vírus da dengue levam à destruição de
células endoteliais e consequente ruptura de capilares, bem como de plaquetas e consequente deficiência de coagulação. No
primeiro contágio (dengue clássica), a resposta imune mais fraca leva a pequenas lesões capilares e suave queda na quantidade de
plaquetas (trombocitopenia leve), com hemorragias leves que se manifestam na forma de eritemas (manchas vermelhas, lembra?).
A partir do segundo contágio, a resposta imune mais intensa leva à extensa destruição de capilares e uma queda mais intensa na
quantidade de plaquetas (trombocitopenia severa), de modo que as hemorragias são mais intensas.

Prevenção: Combate ao mosquito, que precisa de água doce, limpa e parada para se reproduzir. Há três formas de controle da
doença:
- mecânico, que consiste em se eliminar frascos, garrafas e pneus que acumulem água; é o principal mecanismo de controle da
doença;
- químico, que consiste em se utilizar inseticidas, como o “fumacê” (UBV ou ultra-baixo-volume);
- biológico, que consiste em se utilizar peixes larvífugos, como os peixe-beta, para devorar as larvas nos reservatórios.
Mosquiteiros não adiantam contra a dengue porque o mosquito é de hábitos diurnos.
Em 2016, foi lançada a primeira vacina contra a dengue, denominada Dengvaxia, que age contra os 4 sorotipos do vírus da
dengue. A vacina tem pequena eficácia de proteção, e não deve ser usada por quem nunca contraiu dengue antes, mas somente
por pessoas que já contraíram dengue alguma vez, prevenindo contra formas graves da doença, ou seja, dengue hemorrágico e
síndrome do choque pela dengue.

Informações adicionais: Deve-se evitar o uso de medicamentos contendo ácido acetilsalicílico (AAS ou Aspirina) que diminui
a capacidade agregação plaquetária, dificultando a coagulação e predispondo a sangramentos, que já são comuns, em particular
na forma hemorrágica.

FEBRE CHIKUNGUNYA OU CHICUNGUNHA (CHIKV)


A Febre Chikungunya ou Chigungunha é uma doença de origem africana semelhante à dengue, sendo causada pelo vírus
CHIKV, da família Togaviridae. Seu modo de transmissão é pela picada do mosquito Aedes aegypti infectado e, menos comumente,
pelo mosquito Aedes albopictus. Os sintomas da doença incluem febre, mal-estar, dores pelo corpo, dor de cabeça, apatia e can-
saço, sendo bem semelhantes aos da dengue, porém, com a grande diferença de atacar as articulações e causar inflamações com
fortes dores acompanhadas de inchaço, vermelhidão e calor local. A doença não causa hemorragias. O termo “chikungunya” vem
do dialeto Makonde da Tanzânia, que significa “aqueles que se dobram”, devido às dores articulares que levam o indivíduo a andar
curvado. A partir de 2004, ocorreram surtos na África, e a doença se propagou para outros continentes, chegando ao Brasil em
2014.
Uma possível consequência da doença, no entanto, é a ocorrência de uma condição autoimune desmielinizante, a qual causa

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destruição da bainha de mielina nos neurônios, com sintomas como fraqueza, paralisia e dor muscular, conhecida como síndrome
de Guillain-Barré, a qual pode ser fatal.

FEBRE ZIKA (ZIKV)


A Febre Zika é outra doença de origem africana semelhante à dengue, sendo causada pelo vírus ZIKV. Seu modo de transmissão
é pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, mesmos transmissores de dengue e febre chikungunya. Hoje, se
sabe que também pode ser transmitida pelo mosquito Culex sp, que é o pernilongo comum (também chamado de muriçoca). Pode
haver ainda transmissão sexual e congênita (da mulher grávida para o feto). Os sintomas são mais leves que os da dengue, incluindo
febre baixa, dor muscular, coceira e manchas avermelhadas na pele, não havendo hemorragias. Em mulheres grávidas, a Zika pode
levar à má-formação do sistema nervoso central do feto e microcefalia no mesmo. Também pode desencadear a síndrome de Guil-
lain-Barré. O Brasil notificou os primeiros casos de vírus Zika em 2015, no Rio Grande do Norte e na Bahia.

GRIPE (VÍRUS INFLUENZA)


O vírus da Influenza se apresenta em variedades denominadas pelas letras H e N, sendo elas representativas das duas principais
proteínas que caracterizam o vírus, Hemaglutinina (proteína relacionada à habilidade do vírus de infectar sua célula hospedeira)
e Neuraminidase (proteína relacionada à habilidade do vírus de abandonar a célula hospedeira para infectar uma outra célula
hospedeira). Assim, o H1N1 é o responsável pela pandemia de gripe espanhola de 1918 que vitimou algo em torno de 20 milhões de
pessoas, assim como o H5N1 é o responsável pela gripe aviária de 2004. Uma variedade do H1N1 está relacionada à gripe suína de
2009. Há muitas variedades de hemaglutininas e neuraminidases, além do que cada combinação (H1N1, por exemplo) apresenta
muitas variações, pois o vírus é muito mutagênico.
Modo de transmissão: Contágio direto, através de aerossóis de saliva, podendo o vírus penetrar também pela mucosa ocular.
Normalmente aparece em épocas de chuvas e/ou frio, quando a aglomeração de pessoas facilita a transmissão viral, além do que
as baixas temperaturas associadas a essas épocas levam à paralisação dos cílios das vias aéreas, o que dificulta a remoção de vírus
que entram no corpo junto ao ar.
Características: O vírus da gripe ataca os tecidos das porções superiores do aparelho respiratório; raramente atinge os pul-
mões. Há fraqueza, mialgia (dores musculares), febre, aumento na produção de muco, corrimento nasal (coriza) e obstrução nasal
(não devido ao muco, mas devido ao edema da mucosa pituitária; tanto é que, ao assoar o nariz, a obstrução permanece, mas ao se
usar descongestionantes a base de vasoconstrictores, o edema cede a você pode voltar a respirar).
Prevenção: Evitar contato com pessoas doentes. Em casos de epidemias, evitar lugares aglomerados, usar máscara de proteção
facial, lavar as mãos com frequência e evitar levá-las ao rosto são estratégias altamente recomendáveis para evitar contaminação.
O uso de antipiréticos e analgésicos combate os sintomas, bem como o uso de vasoconstritores diminui a obstrução nasal. Re-
pouso permite a ação do sistema imunológico.
Existe vacina, mas o vírus é extremamente mutagênico, não havendo uma vacina definitiva. Normalmente a vigilância sanitária
prevê as variedades mais comuns em determinado ano e elabora a vacina contra os mesmos, sendo a vacina aplicada normalmente
nos grupos de indivíduos mais susceptíveis, como crianças, idosos e mulheres grávidas. Se outra variedade aparecer, a vacina não
terá nenhuma utilidade. Assim, a vacina é feita anualmente contra os tipos de vírus mais comuns daquele ano, devendo uma nova
vacina ser elaborada a cada ano contra as novas variedades de vírus que surgem.

Tome nota:

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GRIPE AVIÁRIA
A gripe aviária foi identificada pela primeira vez na Itália, há cerca de 100 anos. Acreditava-se que a gripe só infectava
aves até que os primeiros casos humanos foram detectados em Hong Kong, em 1997. Na época, todas as aves , em torno de
1,5 milhão, foram mortas em três dias. Especialistas acreditam que a medida foi decisiva para conter a epidemia.
Todas as aves são suscetíveis à gripe, mas algumas espécies como patos, são mais resistentes. Aves como frangos e
perus são particularmente vulneráveis. Eventualmente, porcos também podem ser infectados.
Pessoas pegam a doença por meio de contato direto com aves vivas infectadas. O vírus está presente nas fezes das
aves, que secam e são pulverizadas, e depois podem ser inaladas. O vírus consegue sobreviver por um longo período nos
tecidos e nas fezes das aves mortas, particularmente sob baixas temperaturas. Na epidemia de 1997, todas as 18 pessoas
infectadas conviviam com os animais em mercados ou fazendas.
Os sintomas são similares aos de outros tipos de gripe: febre, mal-estar, tosse e dor de garganta. Também já foram regis-
trados casos de conjuntivite. Nos pacientes que morreram a doença caminhou para uma pneumonia viral.
Existem 15 diferentes variações do vírus. É o vírus H5N1 que infecta os humanos e pode causar a morte. Mesmo dentre
este tipo, variações foram encontradas nos países em que foi registrado. Os vírus analisados hoje também são diferentes
dos tipos vistos no passado.
A gripe do frango tem apontado uma taxa de mortalidade elevada em humanos. Em 97, seis das 18 pessoas infectadas
morreram. Nesta nova crise, sete mortes foram comprovadamente causadas pelo vírus. Um outro problema identificado: o
vírus pode sofrer mutações rápidas e infectar outros animais.
Não há evidências de que a gripe aviária possa ser transmitida por contágio direto entre humanos, mas há receios de
que o H5N1 possa se ligar a um vírus da gripe humana, criando, desse modo, um novo vírus que poderia ser passado de
uma pessoa para outra. Isso poderia ocorrer caso uma pessoa estivesse infectada com a gripe aviária e a humana, ao mes-
mo tempo. Quanto mais essa dupla infecção acontecer, maior a chance de que ocorra uma mutação.
Milhares de aves têm sido abatidas para conter a propagação do vírus entre os animais, o que também evitaria o con-
tágio humano.
Drogas como zanamivir (Relenza), que bloqueia a neuraminidase, e oseltamivir (Tamiflu), que bloqueia a hemaglutinina,
são as drogas usadas no tratamento da gripe aviária e demais formas de gripe.
Em 2013, foi resgistrado o surgimento de uma nova variedade de vírus relacionado à gripe aviária, sendo denominado
H7N9.

GRIPE SUÍNA
A Influenza A H1N1 (comumente conhecida como Gripe Suína) é uma gripe pandêmica que atualmente está
acometendo a população de inúmeros países. A doença é causada pelo vírus influenza A H1N1, o qual representa o rear-
ranjo quádruplo de cepas de influenza (2 suínas, 1 aviária e 1 humana).
A gripe foi inicialmente detectada no México no final de março de 2009 e desde então se alastrou por diversos países.
Desde junho de 2009 a OMS elevou o nível de alerta de pandemia para fase 6, indicando ampla transmissão em pelo
menos 2 continentes.
Os sinais e sintomas da gripe suína são semelhantes aos da gripe comum, tais como febre, tosse, dor de cabeça, dores
musculares, dor na garganta e fraqueza. Entretanto, diferentemente da gripe comum, ela costuma apresentar compli-
cações em pessoas jovens.

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COVID-19 (SARS-COV-2 OU NOVO CORONAVÍRUS)

As considerações sobre a COVID-19 foram feitas na aula de Introdução à Parasitologia, no capítulo sobre doenças emergentes.

RAIVA OU HIDROFOBIA (RABDOVÍRUS)

Modo de transmissão: Contato de saliva de animais contaminados com ferimentos (não precisa ser obrigatoriamente através
de mordeduras: o simples contato de saliva de animais contaminados com feridas prévias ou arranhões já é suficiente para o contá-
gio). Podem ser animais domésticos, como o cão (87% dos casos) e o gato, ou silvestres, como o morcego, o lobo e a raposa.
Características: O vírus penetra pelo ferimento e se dissemina pelo sistema nervoso periférico em direção ao sistema nervoso
central, onde chega em cerca de seis semanas (40 dias). Lá, ele leva a febre, mal-estar, dor de cabeça, náuseas.
A doença progride para um quadro de hipersensibilidade à luz, vento e água (que se tornam dolorosos ao contato com a pele),
febre alta, agressividade, agitação, hipersexualidade, taquicardia e hidrofobia.
A hidrofobia ocorre por contração muscular involuntária e dolorosa relacionada à deglutição durante a alimentação. A partir de
um determinado estágio, a simples visão de água ou alimento e a perspectiva de ingeri-los causam os dolorosos espasmos muscu-
lares na faringe. A dificuldade de deglutição, inclusive da própria saliva, faz com que o indivíduo acumule saliva na boca, que acaba
por extravasar. Daí a boca “espumando” em animais ou humanos raivosos.
A doença culmina com um quadro de depressão do sistema nervoso central, coma e morte.
Prevenção: Vacinação anti-rábica para cães e gatos.
Informações adicionais: Ao ser atacado, o indivíduo deve lavar o ferimento com água e sabão abundantes e procurar rapida-
mente um posto de saúde para receber as vacinas e soros apropriados, para evitar que a doença comece a se manifestar.
Em estado avançado, não há cura para a raiva. Ela é letal para 100% dos casos.
Deve-se capturar o animal (cuidado para não ser mordido de novo...) e mantê-lo em observação por cerca de 10 dias. Se ele
estiver manifestando sintomas da doença, deverá ser sacrificado.

LEITURA – PROTOCOLO PARA TRATAMENTO DE RAIVA HUMANA NO BRASIL


A raiva é uma encefalite viral aguda, transmitida por mamíferos com letalidade de aproximadamente 100%, considerada
um problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento. Em 2004, nos Estados Unidos, foi feito o
primeiro relato, na literatura internacional, de cura da raiva em paciente que não recebeu vacina. Nesse caso, foi realizado um
tratamento baseado na utilização de antivirais e sedação profunda, denominado de Protocolo de Milwaukee. Em 2008, no
Brasil, na Unidade de Terapia Intensiva do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Univer-
sidade de Pernambuco, em Recife-PE, um tratamento semelhante ao utilizado na paciente norte-americana foi aplicado em
um jovem de 15 anos de idade, mordido por um morcego hematófago, tendo como resultados a eliminação viral (clearance
viral) e a recuperação clínica. A primeira cura de raiva humana no Brasil, bem como o sucesso terapêutico da paciente dos
Estados Unidos, abriram novas perspectivas para o tratamento desta doença, considerada até então letal. Diante disso, o
Ministério da Saúde reuniu especialistas no assunto e elaborou o primeiro protocolo brasileiro de tratamento para raiva
humana baseado no protocolo americano de Milwaukee. Esse protocolo tem como objetivo orientar a condução clínica de
pacientes suspeitos de raiva, na tentativa de reduzir a mortalidade dessa doença. Devido o caso ter sido tratado na cidade
de Recife-PE e ter sido a primeira experiência bem sucedida no Brasil, esse protocolo foi denominado Protocolo de Recife.

EBOLA (VÍRUS EBOLA)


O Ebola é uma doença causada pelo vírus Ebola. O principal sintoma da doença é a ocorrência de febre hemorrágica grave, com
sangramento em órgãos internos, apresentando alta taxa de mortalidade, de até 90%. A transmissão da doença se dá pelo contato
direto com fluidos corporais como sangue, muco, suor, urina, sêmen, fluido vaginal, lágrimas, saliva e vômito, além de tecidos de
animais ou pessoas infectadas. O tratamento é sintomático, e os pacientes doentes requerem tratamento de suporte intensivo

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e isolamento. Em casos de surtos de Ebola, é alto o risco de transmissão para indivíduos que têm contato com os pacientes, de
modo que os profissionais de saúde envolvidos no tratamento dos indivíduos infectados devem usar equipamentos individuais de
proteção que cubram o corpo todo, incluindo macacões, máscaras e luvas, o que evita o contato com fluidos corporais do doente.
O vírus Ebola tem origem africana, tendo sido descoberto em 1976, e recebeu o nome do rio Ebola, no Zaire (atual República
Democrática do Congo), onde houve o primeiro surto conhecido. Os primeiros registros do vírus Ebola foram encontrados em ma-
cacos, chimpanzés e outros primatas não humanos que vivem na África. Uma cepa mais branda de Ebola (chamada de Reston) foi
descoberta em macacos e porcos nas Filipinas, não afetando humanos.
Acredita-se que o ciclo da doença na natureza envolva o morcego, o qual possui o vírus, mas não manifesta seus sintomas. O
morcego deve transmitir o vírus para outros animais, como macacos, provavelmente contaminando alimentos, como frutas, que são
parcialmente comidas pelo morcego e cujos restos ingeridos por outros animais levam ao contágio. O consumo de carne de ma-
caco contaminada com o vírus ou o consumo de alimentos parcialmente consumidos por morcegos, ou ainda a visita a ambientes
frequentados por morcegos, como minas e cavernas, pode levar à contaminação. Apesar de algumas evidências da transmissão do
vírus pelo ar, entre macacos, não há confirmação dessa possibilidade de transmissão.

Tome nota:

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CAXUMBA OU PAROTIDITE
Modo de transmissão: Contágio direto através de aerossóis de saliva.
Características: O vírus instala-se nas glândulas salivares, principalmente as parótidas. Estas incham, na região entre cabeça e
pescoço, principal característica da doença. Recomenda-se repouso, pois, caso contrário, o vírus pode se disseminar pelo organis-
mo e instalar em outros órgãos, como testículos, ovários, pâncreas e cérebro, tornando-se grave.
Prevenção: Vacinação pela vacina MMR ou tríplice viral. A vacina MMR ou tríplice viral é uma combinação das vacinas contra
sarampo, caxumba e rubéola.

SARAMPO
Modo de transmissão: Contágio direto através de aerossóis de saliva.
Características: O vírus penetra pelas vias aéreas e se espalha por vários órgãos. Provoca febre, conjuntivite, manchas brancas
por dentro da boca, erupções na pele, no início, na face, depois no tronco e depois nos membros e pode causar encefalite grave.
Prevenção: Vacinação pela vacina MMR ou tríplice viral.

RUBÉOLA
Modo de transmissão: Contágio direto através de aerossóis de saliva.
Características: Inicia-se com fracas dores de cabeça, febre baixa e inchaço dos gânglios do pescoço, ocorrendo, em seguida,
eritemas (manchas vermelhas) na pele. Não é grave. Se ocorrer em gestantes, especificamente nos primeiros meses de gravidez,
tem efeito teratogênico, podendo levar à má-formação do sistema nervoso do feto, caracterizada por cegueira, surdez e/ou retar-
damento mental.
Prevenção: Vacinação pela vacina MMR ou tríplice viral.
A rubéola congênita pode ser evitada com a vacinação de mulheres em idade fértil. A vacina, entretanto, é feita com o vírus vivo
atenuado, de modo que há um pequeno risco de se adquirir a doença com a vacinação. Daí, a mulher vacinada não deve engravidar
nos três meses seguintes, para evitar que desenvolva doença e transmita o vírus para a criança.

POLIOMIELITE OU PARALISIA INFANTIL (POLIOVÍRUS)


Modo de transmissão: Contágio direto através da penetração de aerossóis de saliva por via digestiva.
Características: Acredita-se que o vírus penetre pela boca e multiplique-se primeiro na garganta e nos intestinos. Daí,
dissemina-se pelo corpo, através do sangue. Na maioria dos indivíduos infectados, o vírus não se manifesta. Quando se mani-
festa, o vírus destrói a massa cinzenta dos ramos anteriores (motores) dos nervos da medula espinhal (raquidianos), o que causa
paralisia e atrofia da musculatura esquelética, geralmente nas pernas, com ação irreversível. Se ocorre nos nervos que inervam
o diafragma, pode levar à morte por asfixia.
Prevenção: Vacinação com vírus virulento inativo (vacina Salk ou VIP, vacina injetável contra poliomielite, de aplicação in-
jetável, sem possibilidade de levar à infecção, e por isso mais segura) ou com vírus vivo atenuado (vacina Sabin ou VOP, vacina
oral contra poliomielite, menos segura devido à possibilidade de infecção). No Brasil, tem ocorrido um sistema misto de vaci-
nação contra a poliomielite, sendo a vacina injetável (Salk ou VIP) aplicada em bebês de 2 e 4 meses de idade, e a vacina oral
(Sabin ou VOP) aplicada nos reforços aos 6 e 15 meses de idade.

LEITURA – VACINA PENTAVALENTE E HEPTAVALENTE


A aplicação do maior número possível de vacinas numa única dose traz muitos benefícios aos sistemas públicos de
saúde, desde custo de aplicação a maior cobertura vacinal na população. Assim, o Ministério da Saúde do Brasil trabalha
no desenvolvimento de vacinas como a vacina pentavalente, contra difteria, tétano, coqueluche (DTP ou tríplice bacteriana),
Haemophilus influenzae b (Hib) e hepatite B, e a vacina heptavalente, contra difteria, tétano, coqueluche (DTP ou tríplice bac-
teriana), Haemophilus influenzae b (Hib), hepatite B, poliomielite e meningite C.

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ROTAVIROSE (ROTAVÍRUS) imunitário não responde eficazmente ao vírus, e o resulta-


do é cronicidade em 80% dos casos. Destes, 40% progridem
Modo de transmissão: Oral-fecal, pela ingestão de água e/
rapidamente para cirrose e morte; 25% progridem lentamente
ou alimentos contaminados por fezes de indivíduos infectados.
com cirrose e morte ao fim de 10 anos; e outros 35% após 20
Moscas e baratas podem atuar como vetores mecânicos.
anos. O câncer do fígado surge em mais 5% após 30 anos. Os
Características: Causa gastroenterites limitadas com
restantes tornam-se portadores a longo prazo, infecciosos.
diarreia, vômitos, muita dor abdominal e náuseas. Como
A hepatite C é atualmente a principal causa de transplante
consequência das diarréias e vômitos, pode causar forte de-
hepático em países desenvolvidos e responsável por 60% das
sidratação. É a causa mais comum de diarréia infecciosa na
hepatopatias crônicas.
infância, e a principal causa de mortalidade infantil em países
Prevenção: Cuidados com transfusões sanguíneas, não
pobres.
utilização de drogas injetáveis (não compartilhamento de se-
Prevenção: Saneamento básico, educação sanitária e
ringas), utilização de preservativos e redução no número de
tratamento de água são as maneiras mais eficazes de controle
parceiros sexuais. Não há vacina disponível para a hepatite C.
da doença. A vacina existe e está entre as vacinas oferecidas
no calendário oficial de vacinação no Ministério da Saúde do HEPATITE D (HDV OU HEPATITE D VÍRUS)
Brasil.
O vírus da hepatite D ou delta (HDV) é um dos menores
HEPATITE A (HAV OU HEPATITE A VÍRUS) vírus RNA animais. Tão pequeno que é incapaz de produzir seu
próprio envelope proteico e de infectar uma pessoa. Para isso,
Modo de transmissão: Oral-fecal, pela ingestão de água ele precisa utilizar a cápsula do vírus B, devendo ser por isso
e/ou alimentos contaminados por fezes de indivíduos infecta- caracterizado como virusoide. Portanto, na grande maioria dos
dos. Moscas e baratas podem atuar como vetores mecânicos. casos a hepatite D ocorre junto à B, ambas com transmissão
O vírus pode ser absorvido de marisco proveniente de águas parenteral (através de sangue contaminado ou por via sexual).
contaminadas com esgotos. O vírus D normalmente inibe a replicação do B, que fica latente.
Características: Os sintomas são semelhantes aos da
hepatite B, sendo que menos graves e não progredindo para HEPATITE E (HEV OU HEPATITE E VÍRUS)
cirrose e câncer. Assim, o vírus promove destruição de células
A hepatite E (HEV) é uma doença infecciosa aguda, cau-
hepáticas, com consequências como fraqueza crônica, febre,
sada pelo vírus da hepatite E, que produz inflamação e necrose
perda de apetite, náuseas, dores musculares, abdominais e
do fígado. A transmissão do vírus é fecal-oral, e ocorre através
de cabeça e icterícia (pele e esclerótica amareladas pela de-
da ingestão de água (principalmente) e alimentos contami-
posição de bilirrubina).
nados. A transmissão direta de uma pessoa para outra é rara.
Prevenção: Saneamento básico, educação sanitária e
Uma pessoa infectada com o vírus pode ou não desenvolver
tratamento de água são as maneiras mais eficazes de con-
a doença. A infecção confere imunidade permanente contra a
trole da doença. Devido à possibilidade de contaminação por
doença. A hepatite E ocorre mais comumente em países onde
mariscos, a vigilância sanitária deve inspecionar regularmente
a infraestrutura de saneamento básico é deficiente e ainda não
estabelecimentos que comercializem este tipo de alimento.
existem vacinas disponíveis.
Outra maneira de prevenção é a vacinação.

HEPATITE C (HCV OU HEPATITE C VÍRUS) Tome nota:


Modo de transmissão: Via parenteral (transfusões san-
guíneas ou objetos cortantes e perfurantes contaminados com
sangue) ou via sexual.
Características: Após infecção, o vírus praticamente só se
multiplica no fígado. Em cerca de 15% dos casos há hepatite
aguda, com icterícia (pele e olhos amarelos), febre, dores ab-
dominais, mal estar, diarréia e frqueza crônica.
Em 85% dos casos, incluindo quase todas as crianças, a
hepatite inicial pode ser assintomática ou leve. O sistema

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Doenças por ribovírus Transmissão Prevenção

Dengue Picada da fêmea dos mosquitos Aedes Controle dos mosquitos; vacina
(Flavivírus/Arbovírus) aegypti e Aedes albopictus Dengvaxia de efeito limitado

Picada da fêmea dos mosquitos urbanos Aedes


Febre Amarela Controle dos mosquitos urbanos;
aegypti e Aedes albopictus e dos mosquitos
(Flavivírus/Arbovírus) vacinação com vacina anti-amarílica
silvestres Haemagogus sp e Sabethes sp

Chikungunya Picada da fêmea dos mosquitos Aedes


aegypti e Aedes albopictus Controle dos mosquitos; não há vacina
(CHIKV)

Picada da fêmea dos mosquitos Aedes


Zika
aegypti e Aedes albopictus; via sexual; Controle dos mosquitos; não há vacina
(ZIKV)
via congênita

Evitar contato com doentes (isolamento social); usar máscaras;


Gripe Secreções buconasais de modo direto higienizar frequentemente mãos e objetos; evitar tocar o rosto;
(Influenza) ou indireto em mucosas vacinação.

Evitar contato com doentes (isolamento social); usar máscaras;


COVID-19 Secreções buconasais de modo direto higienizar frequentemente mãos e objetos; evitar tocar o rosto;
(Coronavírus SARS-CoV-2) ou indireto em mucosas não há vacina

Raiva ou Hidrofobia Saliva de mamíferos infectados em Vacinação de animais domésticos com vacina anti-rábica;
caso atacado: lavar o ferimento com água e sabão, tomar soros
(Rabdovírus) ferimentos e vacinas

Secreções contaminadas (sangue, sêmen, fluido vaginal, saliva,


Ebola muco, fezes, urina, etc) em mucosas ou ferimentos; ingestão de Evitar contato com doentes; usar equipamen-
(Ebolavírus) carne de morcegos/macacos contaminados; ingestão de alimen- tos de proteção individual; não há vacina
tos mordidos (com saliva) de morcegos/macacos

Aerossois de saliva de modo direto ou Evitar contato com doentes; vacinação com
Caxumba ou Parotidite
indireto em mucosas vacina MMR ou tríplice viral

Aerossois de saliva de modo direto ou Evitar contato com doentes; vacinação com
Sarampo vacina MMR ou tríplice viral
indireto em mucosas

Aerossois de saliva de modo direto ou Evitar contato com doentes; vacinação com
Rubéola
indireto em mucosas; via congênita vacina MMR ou tríplice viral

Saneamento básico; higiene pessoal; lavar


Poliomielite ou Paralisia
Via oral-fecal frutas e verduras; combater moscas e baratas;
Infantil (Poliovírus) vacinação com vacinas como Sabin e Salk

Via oral-fecal; aerossóis de saliva de Saneamento básico; higiene pessoal; lavar


Rotavirose (Rotavírus) frutas e verduras; combater moscas e baratas;
modo direto ou indireto em mucosas vacinação

Saneamento básico; higiene pessoal; lavar frutas e


Hepatite A (HAV) Via oral-fecal verduras; combater moscas e baratas; vacinação

Usar preservativo; reduzir o número de parceiros sexuais;


Hepatite C (HAV) Via sexual; via sanguínea cuidados com bancos de sangue; não compartilhar seringas e
agulhas; não há vacina

Junto com a hepatite B (trata-se de um


Hepatite D (HAV) Junto com a hepatite B
virusóide, não tendo capsídeo próprio)

Saneamento básico; higiene pessoal; lavar frutas e verduras;


Hepatite E (HEV) Via oral-fecal combater moscas e baratas; não há vacina

w w w. p ro f e s s o r f e rre t to . c o m . b r

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