Manual de Bolso FMU V5.1s PDF
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manual de bolso
fundamentos em medicina de urgência
| 2018 |
manual de bolso | fundamentos em medicina de urgência . . . . . . . . . . . .
| Manual de bolso |
INDICE
LEITURA DE ECG
Catarina Gomes . . . . . . . . . . . . . 3 pag. PANCREATITE AGUDA
Filipe Nery . . . . . . . . . . . . . . . 78 pag.
DOR TORÁCICA
Alexandre Pinto . . . . . . . . . . . . . 9 pag. INFECÇÃO PELO VIH
Graziela Carvalheiras . . . . . . . . . . . 80 pag.
SÍNDROME CORONÁRIA AGUDA
Catarina Gomes . . . . . . . . . . . . . 13 pag. SÉPSIS, SÉPSIS GRAVE E CHOQUE SÉPTICO
Graziela Carvalheiras . . . . . . . . . . . 90 pag.
FIBRILHAÇÃO AURICULAR
Catarina Gomes . . . . . . . . . . . . . 18 pag. NEUTROPENIA
Graziela Carvalheiras . . . . . . . . . . . 95 pag.
EDEMA AGUDO DO PULMÃO
Alexandre Pinto . . . . . . . . . . . . . 21 pag. FEBRE NO VIAJANTE REGRESSADO
Sandra Xará . . . . . . . . . . . . . . 99 pag.
TROMBOEMBOLISMO PULMONAR
Alexandre Pinto . . . . . . . . . . . . . 23 pag. INFECÇÕES DA PELE E TECIDOS MOLES
Sandra Xará . . . . . . . . . . . . . . 104 pag.
HIPERGLICEMIA
Marta Almeida . . . . . . . . . . . . . 26 pag. CEFALEIAS AGUDAS
Rui Felgueiras . . . . . . . . . . . . . 107 pag.
HIPERCALCÉMIA
Marta Almeida . . . . . . . . . . . . . 35 pag. SINTOMAS E SINAIS NEUROLÓGICOS AGUDOS
Rui Felgueiras . . . . . . . . . . . . . 110 pag.
HIPOCALCÉMIA
Marta Almeida. . . . . . . . . . . . . 37 pag. COMA E ALTERAÇÕES DA CONSCIÊNCIA
Arlindo Guimas . . . . . . . . . . . . . 117 pag.
HIPONATREMIA
Arlindo Guimas . . . . . . . . . . . . . 40 pag. CRISE CONVULSIVA
Arlindo Guimas . . . . . . . . . . . . . 120 pag.
ANEMIA
Luísa Regadas | Renata Cabral . . . . . . 47 pag. LESÃO RENAL AGUDA
Joana Ramalho . . . . . . . . . . . . . 121
TROMBOCITOPENIA & DISF. PLAQUETÁRIA
pag.
LEITURA DE ECG
Catarina Gomes
O electrocardiograma (ECG), com mais de 100 anos de história, desafia o tempo e mantém-se um dos instrumentos
mais usados e importantes da cardiologia moderna, permitindo obter informações essenciais para o diagnóstico e
tratamento de múltiplas patologias. Contudo, obter essas informações num traçado de ECG pode não ser fácil mas,
em contexto de urgência, é necessário simplificar.
Por isso, é de considerar uma leitura sistemática e rápida dos seguintes aspectos: Ritmo à Frequência à
Condução auriculoventricular (AV) e intraventricular (IV) à Segmento ST e onda T.
Em primeiro lugar, é necessário não esquecer de confirmar o nome do doente e a data de realização do exame, as
condições técnicas (colocação correcta dos eléctrodos) e a calibração (25mm/seg; 10mm/mv).
1 - Ritmo:
O termo “arritmia” é muito abrangente e refere-se a todos os ritmos que não o sinusal.
Para considerar que o ritmo é sinusal, ou seja, que o estímulo parte do nó sinoauricular, é necessário que todos os
complexos QRS sejam precedidos de ondas P e que estas sejam positivas em DII, DIII e aVF e negativas em aVR.
Monomórfica – Regular; QRS ≥ 0,12s e todos com a mesma morfologia; Polimórfica – QRS ≥ 0,12s de morfologia
variável.
Figura 4 – TV monomórfica
Figura 5 – TV polimórfica
Figura 6 – FV
2 – Frequência
Ritmos Regulares
RÉGUA DE FREQUÊNCIAS:
§ nem sempre acessível;
§ incorrecta para ritmos irregulares.
Ritmos Irregulares
§ nº QRS em 6s x 10
3 - Condução AV e IV
Bloqueio AV 1º grau
- Intervalo PR progressivamente maior (por pequenos incrementos), até que uma onda P não é conduzida.
Bloqueio AV 3º grau
– Bloqueio completo da condução AV: as aurículas e os ventrículos são despolarizados independentemente,
sem relação entre as ondas P e os complexos QRS. A actividade auricular é mais rápida que a ventricular.
Figura 11 – BCRD
Figura 12 – BCRE
4 - Segmento ST e onda T
A análise do segmento ST e da onda T é primordial em contexto de urgência, dado fornecer informações valiosas
sobre isquemia miocárdica. Contudo, é necessário não esquecer que outras patologias podem provocar alterações
de ST-T, devendo ser consideradas no diagnóstico diferencial (exemplo: pericardite, miocardite, embolia pulmonar,
hemorragia intracraniana, distúrbios hidroelectroliticos, hipotermia).
Supradesnivelamento do segmento ST
Infradesnivelamento horizontal ou em rampa descendente, “de novo”, do segmento ST, ≥ 0,05 mV em ≥ 2 derivações contíguas
OU
Inversão da onda T ≥ 0,1 mV em ≥ 2 derivações contíguas, com onda R proeminente ou ratio R/S > 1
Na suspeita de enfarte agudo do miocárdio posterior (infradesnivelamento do segmento ST V1-V3 e R >> S nas
derivações precordiais direitas), devem ser efectuadas as derivações posteriores (5º espaço intercostal): V7 (linha
axilar posterior esquerda); V8 (linha médio-escapular esquerda) e V9 (bordo paravertebral esquerdo). O critério
diagnóstico é um supradesnivelamento do segmento ST ≥ 0,1mV.
Na suspeita de enfarte do ventrículo direito, as derivações precordiais direitas devem ser realizadas: V3R e V4R. O
critério diagnóstico é um supradesnivelamento do segmento ST ≥ 0,05mV.
DOR TORÁCICA
Alexandre Pinto
Introdução
A dor torácica (DT) é uma das queixas mais frequentes que motiva admissões nos Serviços de Urgência (SU). A
avaliação clínica é fundamental, devendo o clínico responder ás questões de elevada prioridade, mesmo na
ausência do diagnóstico definitivo. São elas: Existe compromisso circulatório e/ou respiratório? Em caso de
estabilidade clínica, qual o risco de presença de condição ameaçadora de vida, como síndrome coronário agudo,
embolia pulmonar e dissecção da aorta? Na presença de baixo risco para condição ameaçadora de vida, é seguro
alta hospitalar do SU e re-avaliação em ambulatório ou é preferível manutenção no SU para nova avaliação da
evolução e/ou realização de outros exames auxiliares de diagnóstico? Estima-se que 15 a 25% dos doentes com DT
têm síndrome coronário agudo ( SCA), e que o diagnóstico é perdido em cerca de 2% dos doentes com alta
hospitalar. É um dos sintomas mais frequentes no Tromboembolismo Pulmonar, que na ausência de tratamento
conduz a morbilidade e mortalidade elevadas, sendo responsável por 5 a 10% das mortes intra-hospitalares. É o
sintoma cardinal da Dissecção da Aorta Torácica (DAoT) cuja mortalidade esperada é de 75% em 2 semanas, caso
não seja atempadamente diagnosticada.
A DT encontra-se também presente em contextos de natureza cardiogénicca e não cardiogénica, com carácter não
dominante em termos de manifestação semiológica, que quando não são também diagnosticados de forma célere
originam potencial mortalidade. São exemplo: o pneumotórax hipertensivo, a ruptura esofágica e o tamponamento
cardíaco.
A natureza complexa da dor torácica exige uma abordagem organizada e estruturada de forma a que todas as
causas equacionadas sejam devidamente avaliadas (Tabela 1). A história clínica e o exame objectivo são
fundamentais para o diagnóstico. A informação necessária para o desenho dos diagnósticos diferenciais é obtida
após integração dos dados da anamnese, exame físico e elecrocardiograma em 80 a 90% dos doentes.
Tabela 1 – Adapatado de Dargin JM, Huang DT. Chest Pain. Textbook of Critical Care, 6th Edition
Idade Tabagismo
Obesidade
Sedentarismo
OUTROS FACTORES
Hiperhomocistinémia Hiperfibrinogenémia
HIV Stress
Dor Torácica
Sim
Elevação localizada seg ST (e baixa probabilidade para dissecção Ao) ou BCRE de novo
o SCA c/SST
Infra ST e/ou inv T
o SCA s/SST [ MNM+s e Hx concordante SCA ]
o Possível Angina Instável [ MNM-s e Hx concordante SCA ]
Elevação difusa seg ST ( concavidade superior )
o Pericardite
Padrão S1Q3T3 ( McGinn -White )
o TEP
Não Sim
SE:
Hx concordante com SCA e MNM+s Avaliar Risco para Embolismo Pulmonar
o SCA s/SST (tabela 4 – ver capitulo TEP)
Hx concordante com SCA e MNM-s
o Possível Angina Instável
Hx Não concordante com SCA e MNM+s
o SCA s/SST
o TEP
o Pericardite / Miocardite
o Trauma
o Insuficiência Renal
o Insuficiêcia Cardíaca Aguda / EAP Avaliar Risco para Dissecção ao Torácica
Hx Não concordante com SCA e MNM-s (tabela 5)
o Considerar Diagnóstico alternativo
Sindromes de Hiperviscosidade
Deficiência prot C, S e antitrombina III
[ MM \ Macroglobulinémia de Waldenstrom]
Neoplasia
CVC
Gravidez
Cirurgia
Trauma
HEREDITÁRIOS ADQUIRIDOS
Definição
A Síndrome Coronária Aguda (SCA) é um diagnóstico inicial e provisório, que engloba um espectro de quadros
clínicos, habitualmente resultantes de isquemia miocárdica aguda, tipicamente atribuível a ruptura de placa
aterosclerótica “instável” e formação de trombo suboclusivo / oclusivo numa artéria coronária.
Por outro lado, o diagnóstico de Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) implica a confirmação de necrose celular
(elevação e descida subsequente de marcadores de necrose miocárdica no sangue) num contexto clínico
consistente com isquemia aguda do miocárdio (sintomas de isquemia ou alterações “de novo” no ECG ou alterações
“de novo” em testes de imagem).
Classificação
Elevação do segmento ST no ponto J >1mm em ≥ 2 derivações contíguas (em V2-V3 tem de ser ≥ 2mm nos homens
e ≥ 1,5mm nas mulheres).
Reflecte geralmente uma oclusão coronária total aguda. Como ocorre necrose miocárdica na maior parte dos casos,
é habitualmente designado desde o início de enfarte agudo do miocárdio com elevação do segmento ST
(EAMcEST), mesmo sem confirmação analítica.
Pode ocorrer necrose miocárdica (EAM sem elevação do segmento ST - EAMsEST) ou não (angina instável).
O ECG pode ser normal ou pode apresentar infradesnivelamento do segmento ST ou inversão das ondas T.
SCA
Diagnóstico Inicial
(dor sugestiva; contexto clínico; exame objectivo)
SCAsEST SCAcEST
• EAM tipo 3 – morte com sintomas que sugerem isquemia miocárdica e alterações isquémicas no ECG,
mas em que a morte ocorre antes da obtenção de amostras de sangue para avaliação dos marcadores
de necrose miocárdica.
• EAM tipo 4a – necrose miocárdica relacionada com intervenção coronária percutânea.
• EAM tipo 4b – enfarte associado a trombose de stent intracoronário.
• EAM tipo 5 – necrose miocárdica associada a cirurgia coronária.
Apresentação Clínica
Contudo, apresentações atípicas não são incomuns, especialmente em mulheres, doentes idosos, diabéticos ou com
insuficiência renal crónica. Queixas atípicas incluem dor epigástrica, dor torácica de características pleuríticas,
dispneia ou síncope. A ausência de dor torácica leva à sub-identificação e ao sub-tratamento da doença.
ECG: O ECG de 12 derivações é a ferramenta de diagnóstico de primeira linha na suspeita de uma SCA e deve ser
realizado no prazo de 10 minutos após o primeiro contacto médico.
Permite fazer imediatamente a distinção mais importante para o início do tratamento: SCAsEST vs SCAcEST. É de
realçar que um ECG normal não exclui a possibilidade de uma SCA.
Contudo, é importante lembrar que uma elevação dos MNM, por si só, não faz diagnóstico de SCA, dado a
existência de múltiplas outras causas de elevação de MNM (por exemplo: insuficiência cardíaca; arritmias; embolia
pulmonar; doença neurológica aguda, incluindo o acidente vascular cerebral; hipoxemia grave ou quadros sépticos).
Tratamento
O tratamento de todo o espectro das SCA é baseado nos seguintes grupos: anti-isquémicos (nitratos, beta-
bloqueadores); antiplaquetários (aspirina, clopidogrel, ticagrelor, prasugrel e inibidores GPIIb/IIIa); anticoagulantes
(fondaparinux, heparinas, bivalirudina) e terapêutica de reperfusão (intervenção coronária percutânea - ICP,
fibrinólise, revascularização cirúrgica).
Aspirina 300mg PO
+
Ticagrelor 180mg PO ou clopidogrel 600mg PO ou prasugrel 60 mg PO
(O prasugrel está contraindicado em doentes com história prévia de AVC/AIT e não está recomendado em doentes >
75 anos ou peso < 60 Kg; o prasugrel e o ticagrelor não devem ser usados em doentes com AVC hemorrágico prévio )
+
O2 se saturações < 90%
2 – Dose de carga de clopidogrel em doentes < 75 anos é de 300mg e > 75 anos é de 75mg.
3 – Contraindicações absolutas:
Aspirina 300mg PO
+
Ticagrelor 180mg PO ou clopidogrel 300mg PO
Fondaparinux 2.5mg SC (contra indicado em clearance creatinina < 30ml/min) ou enoxaparina 1mg/Kg 12/12h
SC (se contra indicação para fondaparinux; ajustar dose de acordo com função renal)
+
O2 se saturações < 90%
Estratificação de risco
FIBRILHAÇÃO AURICULAR
Catarina Gomes
Introdução
A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia cardíaca mantida mais comum, ocorrendo em 1 a 2% da população geral.
Apresenta consequências frequentes e graves, encontrando-se associada a um aumento da mortalidade, do
acidente vascular cerebral (AVC) e a uma diminuição da qualidade de vida.
As seguintes condições podem provocar ou facilitar a progressão da FA e devem ser tratadas adequadamente,
quando possível (Quadro 1).
Hipertiroidismo
Tromboembolismo pulmonar
Drogas
Quadros infecciosos
Distúrbios metabólicos
Definição
Classificação
Primeiro episódio diagnosticado de FA – qualquer doente que apresente FA pela primeira vez, independentemente da
duração ou da presença de sintomas relacionados com a arritmia.
FA paroxística – autolimitada, terminando habitualmente até às 48h.
FA persistente – episódio com duração > 7 dias ou com necessidade de ser terminado com cardioversão eléctrica ou
química.
FA persistente de longa duração – persistência da FA>1ano, até se decidir adoptar estratégia de controle de ritmo.
FA permanente – quando o doente e o médico aceitam a presença da FA e é adoptada estratégia de controle de
frequência cardíaca.
Apresentação Clínica
Assim como todas as arritmias, a apresentação clínica da FA é muito variável e os doentes podem estar
assintomáticos, mesmo com frequências cardíacas elevadas. Os sintomas mais comuns incluem palpitações,
dispneia ou tonturas. Menos frequentemente os doentes podem apresentar-se com manifestações mais graves,
como dor precordial, edema agudo do pulmão (EAP) ou síncope. A FA é ainda diagnosticada muitas vezes em
doentes com AVC.
Tratamento
O tratamento agudo da FA deve concentrar-se no alívio de sintomas (através do controle de ritmo ou da frequência
cardíaca), na avaliação imediata da necessidade de hipocoagulação e no tratamento da doença aguda subjacente
(se existir).
A escolha da estratégia controle de ritmo vs controle de frequência em contexto agudo, depende do tempo de início
da FA (cut off das 48 horas), dado que, quanto mais tempo o doente estiver em FA, maior a probabilidade da
formação de trombos intracardíacos (mais frequentemente no apêndice auricular esquerdo).
O tratamento a longo prazo exige que sejam equacionados quatro aspectos: controle de frequência cardíaca/
controle de ritmo, terapêutica antitrombótica para prevenção de eventos tromboembólicos (utilização dos scores de
risco, nomeadamente CHA2DS2-VASc), estudo/tratamento de doenças subjacentes que facilitem o
aparecimento/manutenção da FA e consequências da arritmia para o sistema cardiovascular.
Fibrilhação auricular:
Primeiro episódio ou frequência ventricular > 100bpm
Sim Não
Sim Não
(e doente não hipocoagulado)
Enoxaparina 1mg/Kg SC
Enoxaparina 1mg/Kg SC
(se doente não hipocoagulado ou sem níveis
Controle de Frequência Cardíaca:
terapêuticos INR)
Digoxina 0,5 a 1mg EV
Cardioversão química: (usar em doentes com insuficiência cardíaca descompensada)
- Amiodarona 300mg EV ou
(em 50 a 100cc de soro glicosado, a perfundir 1h)
Beta-bloqueadores
(1 - Propranolol 1mg EV durante 1m; até 3 doses com 2m de intervalo cada.
2 – Metoprolol 2,5 a 5mg EV durante 2m; até 3 doses.)
Mantém FA
(esperar 2 a 3h) ou
Introdução
A designação de Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA) tenta reflectir a instalação aguda, ou a mudança aguda de
sintomas e ou sinais de insuficiência cardíaca. É uma condição potencialmente ameaçadora de vida que exige
imediata atenção e necessidade de admissão em ambiente hospitalar.
O Edema Agudo do Pulmão (EAP) é um dos perfis clínicos da ICA, que tem como precipitante mais frequente a crise
hipertensiva em contexto de hipertensão arterial sistémica não controlada. Para além deste precipitante de
deterioração rápida, devemos considerar outros precipitantes como enfarte agudo do miocárdio, taquidisritmia,
infecção, incumprimento terapêutico, etc.
Hemograma
Bioquímica - perfil renal, hepático, Prot-C-reactiva, marcadores de necrose do miocárdio ( Trop T ou I, mioglobina,
CK total e CK-mB ), ProBNP
Estudo da coagulação
ECG
Rx de tórax
Ecocardiograma
Gasometria arterial
Questões que devem ser levantadas na abordagem inicial no doente com ICA / EAP
1. Estamos na presença de IC ou existirá outra etiologia alternativa [ DPOC, anemia, IRC, embolia pulmonar,
sépsis ] para os sintomas e sinais que o doente apresenta;
2. Caso o doente tenha insuficiência cardíaca aguda/EAP, temos precipitante identificado? Exige intervenção
urgente ? [ ex. SCA com elevação ST, dissecção Ao ]
3. É a condição do doente ameaçadora de vida em termos de hipoxemia e hipotensão com hipoperfusão de
órgãos vitais [coração, rim, cérebro]
EAP
O2 se Hipoxemia
Diurético de Ansa EV [ 2,5x dose PO ] + Algaliação
CPAP se IR tipo 1
Não
Sim Morfina EV 2-8mg EV
Agitação / Desconforto Metoclopramida 10mg
Não
TROMBOEMBOLISMO PULMONAR
Alexandre Pinto
Definição
O tromboembolismo pulmonar (TEP) define-se como uma condição que resulta da migração de coágulo(s)/trombo(s)
da circulação venosa sistémica, para a circulação pulmonar, com possível repercussão hemodinâmica e respiratória.
É um sindrome potencialmente fatal, com espectro espectro clínico que vai desde o choque obstrutivo com cor
pulmonale agudo e falência do ventrículo direito resultante da perda da propriedade contráctil via mecanismo de
Frank-Starling, face à dilatação aguda do VD perante o aumento abrupto da resistência vascular pulmonar, até à
eventual cronicidade por insuficiência respiratória crónica, à luz da hipertensão pulmonar tromboembólica crónica,
que se estima ter uma incidência cumulativa entre 0.1-9.1% nos primeiros dois anos após o evento sintomático de
TEP.
É a terceira doença cardiovascular mais comum, a seguir ao enfarte do miocárdio e ao enfarte cerebral. A taxa de
mortalidade do TEP é superior ao do enfarte do miocárdio.
Sintomas de TVP 1 pt
• Rx Tórax
Sinais sugestivos de embolia pulmonar
Bossa de Hampton ( infiltrado em forma de cunha )
Sinal de Westermark ( oligoemia focal )
Sinal de Palla ( proeminência do ramo direito artéria pulmonar )
• ECG
Sinais clássicos de sobrecarga do ventrículo direito
Onda S em DI, onda Q em D III, inversão da onda T em DIII ( McGinn-White )
Bloqueio ramo dto
Inversão da onda T nas précordiais e derivações inferiores
• Exames Laboratoriais
Marcadores de Disfunção do Ventrículo direito - ProBNP
Marcadores de Lesão do Miocárdio - Troponina T ou I
Doseamento de D-dímeros
[Valor de D-dímeros < 500ng/mL, combinado com baixa probabilidade clínica para tromboembolismo venoso
(Critérios de Wells modificados <2pts / Score de Geneva simplificado <3pts), tem um valor preditivo negativo
de 99%]
Gasometria arterial
Hemograma
Bioquimica com perfil renal e hepático
Estudo da coagulação
• Estratificação do Risco
Estratificação
Risco Baixo Intermédio-baixo Intermédio-alto Alto
HIPERGLICEMIA
Marta Almeida Ferreira
Definição
Glicemia venosa superior a 140 mg/dL (7,8 mmol/L). Pode ocorrer em doentes diabéticos e não diabéticos. Quando
ocorre em doentes internados, prolonga os internamentos e aumenta a morbi-mortalidade.
• Diagnóstico conhecido de DM
• Antecedentes de hiperglicemia
• Doentes com infecção, trauma ou submetidos a intervenção cirúrgica
• Doentes sob corticoterapia, anti-psicóticos, anti-retrovirais, imunossupressores, octreótido
• Doença pancreática diagnosticada ou suspeita
Manifestações clínicas - dependem da gravidade da hiperglicemia e do facto de existir défice total ou parcial de
insulina. Os doentes podem apresentar:
• Ausência de sintomas
• Polidipsia, poliúria, emagrecimento e eventualmente polifagia
• No caso de existir estado hiperosmolar hiperglicémico (EHH): polidipsia, poliúria, alteração do estado de
consciência que pode ir da confusão ao coma, fraqueza generalizada, sinais de desidratação/depleção de
volume. Podem existir sinais neurológicos focais.
Precipitantes comuns:
• Infecção (urinária/respiratória/outra)
• Insulinopenia (diabetes inaugural/de novo; erros na administração de insulina, incumprimento terapêutico
• Inflamação (pancreatite aguda, colecistite)
• Isquemia (coronária, cerebral, mesentérica)
• Iatrogenia (corticoterapia, antipsicóticos atípicos, diuréticos tiazídicos)
• Intoxicação (álcool, cocaína)
• Cirurgia major/trauma
• Gravidez
• Factores psicológicos ou sociais (considerar nos casos recorrentes)
Nota: Os doentes com glicemia >140 e <200 mg/dL normalmente são identificados apenas através do estudo
analítico efectuado no contexto da situação que os levou ao Serviço de Urgência
HbA1c Glicemia capilar durante 24 a 48h (antes Intervenção terapêutica, se necessário, nos
das principais refeições ou de 4/4-6/6h, se doentes em que estão sob vigilância de
o doente estiver em jejum) glicemias capilares, durante 24 a 48h
Se, durante as 24-48h, a glicemia pré-prandial for >140 Análogo rápido ou insulina humana de
mg/dL ou se a glicemia ocasional for >180 mg/dL
acção rápida antes das refeições ou de
4/4 (se uso de análogo)-6/6h (se uso de
Intervenção terapêutica com esquema de insulina
insulina humana) se o doente estiver em
basal-bólus (doente estável, a comer)* ou em
perfusão (doente instável, em jejum)** jejum ou se estiver com soro glicosado,
* Como no doente diabético sem complicação aguda ** Como no doente diabético com complicação aguda
Parar antidiabéticos orais, insulinas pré-misturadas ou bifásicas e medicamentos injectáveis não insulínicos
Pesquisa de glicemia capilar antes das principais refeições e ao deitar (ou a cada 4 a 6h se o doente
estiver em jejum) + pesquisa às 3h00, se receio de hipoglicemia
1º: Calcular a dose diária total de insulina – no doente previamente tratado com insulina considera-se a
dose que usa nas 24h; nos restantes, aplicam-se as seguintes regras:
§ Doente com baixo peso, sem uso prévio de insulina, idoso, com insuficiência renal grave ou
hemodiálise: 0,3U/kg/dia
§ Doente normoponderal: 0,4U/kg/dia
§ Doente com excesso de peso: 0,5U/kg/dia
§ Doente sob corticoterapia ou com insulinorresistência marcada (p.e. obesidade): 0,6U/kg/dia
2º: Dividir a DDT em 2 partes iguais: 50% administrada como insulina basal (insulina humana de acção
intermédia administrada 2 vezes por dia ou análogo lento, glargina ou detemir, uma vez por dia, sempre
à mesma hora); 50% administrada como insulina prandial, dividida em 3 partes iguais, administradas
antes do pequeno almoço, almoço e jantar (insulina humana de acção rápida ou análogo rápido)
3º: Adicionar dose extra de insulina rápida às administrações prandiais, para correcção de hiperglicemia –
1800:DDT=quantidade de glicemia que 1 unidade de insulina rápida faz descer;
No caso de ser difícil aplicar regra, poder-se-á usar o seguinte quadro:
Glicemia pré- Doente insulino-sensível Doente com sensibilidade Doente insulino-resistente
prandial (DDT <40 U insulina/24h) intermédia à insulina (40<DDT<40 U (DDT >80 U de
(mg/dl) de insulina/24h) insulina/24h)
150-199 1 1 2
200-249 2 3 4
250-299 3 4 6
300-349 4 6 8
350-399 5 8 10
>400 6 9 12
5º: Se o doente não estiver a comer ou estiver a ingerir poucos hidratos de carbono (<50% do habitual), não
administrar a insulina prandial, mas pode fazer-se a correcção da hiperglicemia (de acordo com o quadro
acima)
Corpos cetónicos (sangue ou urina) Positivos Positivos Positivos Negativos ou valores baixos
NOTA: no caso do EHH é necessário privilegiar a hidratação. Assim, a insulina só deverá ser introduzida desde o início do tratamento
se não houver redução da glicemia para o alvo pretendido com a fluidoterapia ou se existir cetonémia.
Fluidoterapia ev Insulinoterapia
Potássio
[K+] < 3,3 3,3 < [K+ ] < 5,3 [K+] > 5,3
Bicarbonato
100 mmol/L de NaHCO3 a 8,4% (2 ampolas) em 400 mL de SF com 20 mEq de KCl a perfundir
em 2h (200 mL/h) até pH>7
Fosfato
Magnésio
CAD SHH
Se possível determinar também a cetonémia Natrémia e osmolaridade sérica horária calculada (ou pelo
menos a cada 2h): [2xNa (mEq/L)] + [glicose (mg/dL)/18] +
[ureia (mg/dL)/6] OU 2xNa (mmol/L) + glicose (mmol/L) + ureia
(mmol/L)
OBJECTIVOS: redução da cetonémia ≥0,5 mmol/L/h, aumento
do HCO3- ≥3 mmol/h, redução da glicemia ≥50 mg/dL/h OBJECTIVOS: redução da natrémia ≥0,5 mmol/L/h (máximo de
(aumentar a perfusão de insulina em 1U/h até serem atingidos 10-12mmol/L por dia), repor 50% das perdas de fluidos nas
os objectivos de cetonémia) primeiras 12h; redução da glicemia em cerca de 90 mg/dL/h
Resolução da CAD:
Resolução do SHH:
a
Assumindo normal função ventilatória
b
Corpos cetónicos no soro (preferencialmente βOHB), considerado o principal marcador da gravidade da doença (CAD).
Adaptado de: Emergent Management of Glucose Disorders, 2014.
HIPERCALCÉMIA
Marta Almeida Ferreira
Definição
Distúrbio electrolítico frequente, que afecta cerca de 0,5% dos doentes internados. Define-se como um nível de
cálcio total* >2,6mmol/L (>10,5 mg/dL) ou um nível de cálcio ionizado >1,3mmol/L (>5,2 mg/dL), medido em duas
ocasiões. Surge mais frequentemente no contexto de disfunção da paratiróide e malignidade, sendo potencialmente
fatal quando grave – cálcio total >3,5mmol/L (>14mg/dL) ou cálcio ionizado >1,4mmol/L (>5,6mg/dL).
* Medir sempre o nível de albumina, para calcular o nível de cálcio corrigido: [0,8x(albuminémia do doente)]+calcemia medida
CAUSAS DE HIPERCALCÉMIA
Manifestações clínicas
Dependem da forma de instalação da hipercalcémia (aguda vs crónica)
§ Diabetes insípida nefrogénica (poliúria e polidipsia)
§ Disfunção neurológica: sonolência, confusão, agitação, estupor, coma
§ Fadiga, depressão
§ Fraqueza muscular proximal
§ HTA (rara nas formas de instalação súbita)
§ Bradiarritimas e bloqueios cardíacos, que podem precipitar insuficiência cardíaca
§ Sintomas gastro-intestinais: obstipação, náuseas, vómitos, anorexia, dor abdominal
§ Litíase renal (cólica renal)
§ Pancreatite aguda (raro)
É um diagnóstico a ter em conta nos doentes que se apresentam no Serviço de Urgência com deplecção do volume,
alteração do estado de consciência/coma, descompensação cardíaca e dor abdominal
DOENTES SINTOMÁTICOS ou
CÁLCIO TOTAL >3,5 mmol/L (>14 mg/dL) ou
CÁLCIO IONIZADO > 1,4mmol/L (>5,6mg/dL)
(ABCD + PVC em doentes com dificuldade de avaliar volémia)
1) Fluidoterapia: NaCl 0,9% 500-1000mL na 1ªh + 2 a 6L nas primeiras 24h => ajustar depois de
acordo com o estado de hidratação do doente/volémia
|
Furosemida nos doentes com risco de hipervolémia: após as primeiras 24h, administrar 20 mg a
cada 4h => induzir diurese forçada de 2,5L/24h (100-150mL/h) – monitorizar K+ e Mg2+
Bisfosfonato:
Tratamentos alternativos:
- Calcitonina im ou sc, 100-200UI, 6/6h (teste inicial com 10-50 UI) ou 10UI/kg a perfundir em 6h
em 500 mL de NaCl 0,9% (risco de taquifilaxia – pode associar-se corticóide)
- Corticóide: prednisolona 40 a 60 mg PO ou hidrocortisona 100-300 mg/dia, ev (nos casos de
hipercalcémia relacionados com vitamina D)
- Cinacalcet – iniciar com 30 mg/dia, PO, titulando até ao máximo de 90 mg 6/6h (máx de 180
mg em doentes dialisados) – aprovado em casos de carcinoma das paratiróides, insuficiência
renal crónica avançada e em casos de hiperparatiroidismo primário sem condições cirúrgicas
- Hemodiálise: considerar sessão com dialisado pobre em cálcio, em doentes já hemodialisados
HIPOCALCÉMIA
Marta Almeida Ferreira
Definição
Distúrbio electrolítico frequente, que afecta cerca de 26% dos doentes internados e 88% dos doentes admitidos em
unidades de cuidados intensivos. Define-se como um nível de cálcio total* <2,1mmol/L (<8,5 mg/dL) ou um nível de
cálcio ionizado <1mmol/L (<4 mg/dL). A hipocalcémia aguda é uma emergência e exige correcção imediata, pois
está associada a uma elevada morbilidade e mortalidade.
* Medir sempre o nível de albumina, para calcular o nível de cálcio corrigido: [0,8x(albuminémia do
doente)]+calcemia medida]
CAUSAS DE HIPOCALCÉMIA
Hipocalcémia crónica:
- Manifestações extrapiramidais
- Demência
- Distrofia das unhas e queda de cabelo
- Pele seca
- Cataratas
- Papiledema
| DEPOIS
Associar cálcio PO: 1000 a 2000 mg de cálcio elementar por dia, dividido em 3 ou 4 tomas
(atenção:1250 mg de carbonato de cálcio contêm 500 mg de cálcio elementar; 1500 mg de carbonato de
cálcio contêm 600 mg de cálcio elementar)
Tratamento etiológico:
- Hipoparatiroidismo pós-operatório: alfacalcidol 0,25-4 μg/dia ou calcitriol 0,25-2 μg/dia em
1 ou 2 tomas diárias
- Défice de vitamina D: colecalciferol 6000 UI/dia ou 50 000 UI/semana durante 8 semanas,
seguido de tratamento de manutenção com 1500 a 2000 UI/dia
- Hipomagnesémia: sulfato de magnésio 2g EV (10mL) em 15 minutos, seguido de 6 g (30
mL) em 1L SF em 24h
- Doença renal crónica: cálcio e vitamina D activada
- Estados hipercatabólicos: corrigir primeiro a hiperfosfatémia e depois a hipocalcémia
(excepto de arritmia ou tetania)
NOTA: os doentes medicados com análogos de vitamina D activada necessitam também de 400 a 600UI
de vitamina D
HIPONATREMIA
Arlindo Guimas
Fluxograma de diagnóstico
Excluir pseudohiponatrémia
TRATAMENTO
Considerar osmolales efectivos:
Manitol IMEDIATO!
Glicina
Contraste hiperosmolal
OSMOLALIDADE URINÁRIA
Aumentado Diminuído
Se ≤30mmol/L à Volume
Líquido Insuficiência cardíaca Diarreia e vómitos
circulante efetivo reduzido Cirrose Terceiro espaço
extracelular
Sindroma Nefrótico Diuréticos
SÓDIO URINÁRIO
Diminuído
Normal
Se >30mmol/L à Diuréticos, Líquido Hipotiroidismo Vómitos
doença renal extracelular Insuficiência adrenal 2ª Insuficiência adrenal 1ª
Uso oculto de diuréticos Perda sal (renal, cerebral)
Diuréticos ocultos
Critérios:
1. Hiponatrémia hipoosmolar (<275mOsm/L)
2. Osmolalidade Urinária > 100mOsm/L
3. Sódio urinário > 30 mEq/L
4. Euvolémia
5. Sem insuficiência renal, tiroideia ou adrenal
6. Sem utilização recente de diuréticos
Critérios Suplementares
1. Hipouricemia (< 4mg/dL)
2. Ureia <22mg/dL
3. Não correção da hiponatrémia após administração de SF
4. Fração de excreção sódio> 0,5%
5. Fração excreção da ureia> 55%
6. Fração excreção de ácido úrico> 12%
7. Correção da hiponatrémia após restrição hídrica
Causas de SADI
1. Neoplasias
a) Carcinomas: pulmão, orofaringe, estômago, duodeno, pâncreas, ureter, bexiga, próstata, endométrio
b) Linfomas
c) Sarcomas: Ewing
d) Neuroblastomas olfativos
2. Doença pulmonar
a) Infecção: pneumonia bacteriana/vírica, abcesso, tuberculose, aspergilose
b) Asma
c) Fibrose quística
d) Falência respiratória
3. Doença do SNC
a) Infecção: meningite, abcesso, malaria, SIDA
b) Doença vascular: enfarte, hemorragia subaracnoideia, hematoma subdural, trombose venosa
c) Neoplasia
d) Outros: hidrocelo, esclerose múltipla, Guillan Barré, Shy Drager, Delirium tremens, porfiria intermitente
aguda
4. Drogas
a) Antidepressivos
b) Anticomiciais: carbamazepina, valproato, lamotrigina
c) Antipsicóticos: fenotiazinas, butirofenonas
d) Antineoplásicos
e) Análogos da vasopressina: oxitocina, terlipressina, desmopressina, oxitocina
f) Outros: opióides, AINE’s, clofibrato, amiodarona, IBP
5. Outras
a) Dor
b) Náusea
c) Stress
Tratamento
Sintomas Severos
(convulsões, estupor, coma) A subida de 4-6mmol/L resolve
*
1 amp (20ml) NaCl a 20% em 100cc de SF em 20 min (83,4mmol)
*Se desvios marcados do peso médio necessário ajustar ao peso: 2ml/Kg da mesma solução, em bólus
1ª HORA
Não resolução
Para obter 1L de uma solução hipertónica NaCl a 3% adicionar 5,5 ampolas (110ml) de NaCl 20% em 890cc de NaCl 0,9% (513mmol/L Na)
1 ampola de 20 ml de NaCl 20%, tem 4g de NaCl e 68,4mmol de Na
1) Avaliação diagnóstica
2) Tratamento específico
Trata-se de uma situação
3) Suspender fármacos ou medidas que possam agravar a hiponatrémia potencialmente perigosa
pelo risco de agravamento
analítico e clínico se não
tratada, contudo uma
Bólus único correcção rápida acarreta
graves riscos!
*
1 amp (20ml) NaCl a 20% em 100cc de SF em 20 min (83,4mmol)
*Se desvios marcados do peso médio necessário ajustar ao peso: 2ml/Kg da mesma solução, em bólus
Para obter 1L de uma solução hipertónica NaCl ~ 3% adicionar 5,5 ampolas (110ml) de NaCl 20% em 890ccde NaCl 0,9% (513mmol/L Na)
Hiponatrémia aguda
(instalação <48h) Sem sintomas severos
Confirmar Valor!
1) Avaliação diagnóstica
2) Tratamento específico
Monitorizar ao fim de 4h
1) Avaliação diagnóstica
2) Tratamento específico
3) Suspender fármacos ou medidas que possam agravar a hiponatrémia
Para obter 1L de uma solução hipertónica NaCl ~ 3% adicionar 5,5 ampolas (110ml) de NaCl 20% em 890ccde NaCl 0,9% (513mmol/L Na)
Fórmula de Adrogué-Madias:
ÁGUA TOTAL
(Na infundido + K infundido) − Na soro Homem= Pesox0,6
variação Na soro(mmol/L) =
1 + água total H idoso = Pesox0,5
Mulher = Pesox0,5
M idosa = Peso x0,45
Exemplo:
Se pretendermos subir a natremia 8 mmol em 24h e pretendemos utilizar uma solução de ~3% (1L de SF com 5,5
ampolas de NaCl a 20%), qual o volume que precisamos de utilizar?
x − 115
8= → x = 8 ∗ 30,25 + 115 = 357mol Na
1 + (65 ∗ 0,45)
Ou seja são necessárias 357 mmol de Na para elevar a natremia em 8mmol/L. Como temos uma solução cuja
concentração é de 513mmol/L, necessitamos de ~700cc desta solução a perfundir em 24h. Ou seja mandamos
preparar 1 L de SF com 5,5 ampolas de NaCl a 20% que vai perfundir a 29ml/h. (700cc/24h)
ANEMIA
Luísa Regadas | Renata Cabral
Introdução
A Organização Mundial de Saúde define anemia como um valor de hemoglobina (Hb) <12.0g/dL na mulher (não
grávida) e <13.0 g/dL no homem, embora com variações com a idade, raça, altitude, gravidez e outros. No entanto,
em rigor a anemia define um estado que a capacidade de transporte de oxigénio pelos glóbulos vermelhos é
insuficiente para suprir as necessidades fisiológicas do organismo.
A anemia é um diagnóstico muito comum, particularmente na mulher jovem e no idoso. Na maioria dos casos não é
uma doença em si mesma, mas antes a consequência de diferentes situações patológicas. A anemia ferripriva é a
etiologia mais comum (cerca de 30%), seguida da anemia da doença crónica (cerca de 28%), com as restantes
múltiplas etiologias representando <50% dos casos.
Classificação
As anemias podem ser organizadas recorrendo a diferentes critérios – critérios morfológicos, com base nos índices
eritrocitários (anemias microcíticas, normocíticas e macrocíticas) e critérios cinéticos, com base na contagem de
reticulócitos (anemias hipoproliferativas/arregenerativas e normo /regenerativas) e etiologia.
A subdivisão baseada na contagem de reticulócitos é a mais significativa do ponto de vista fisiopatológico – anemias
hipoproliferativas quando a medula óssea não consegue responder ao decréscimo do valor de Hb (com
reticulocitopenia) e anemias normo/hiperproliferativas quando a medula óssea mostra sinais de estimulação da
eritropoiese (com reticulocitose), devendo-se, sobretudo, a situações de hemorragia aguda ou hemólise.
A subdivisão baseada nos índices eritrocitários é possivelmente a mais útil em contexto do serviço de urgência.
Adicionalmente, importa distinguir entre as situações agudas e as situações crónicas, sendo as primeiras aquelas
que merecem destaque na urgência.
As anemias microcíticas (VGM <70-80fL) incluem a anemia ferripriva e, alguns casos de anemia da doença crónica. As
talassemias (e hemoglobinopatias talassémicas) e a anemia sideroblástica congénita também cursam com
microcitose, com ou sem anemia, mas constituem situações congénitas, raramente observadas em contexto de
urgência.
As anemias macrocíticas (VGM >100fL) podem derivar de défices isolados ou combinados de ácido fólico e vitamina
B12 (anemia megaloblástica), toxicidade pelo álcool (e alguns fármacos), doença hepática crónica, e alguns casos
de anemia hemolítica autoimune e doenças medulares primárias, com destaque para os síndromes mielodisplásicos
e os síndromes de insuficiência medular. Valores de VGM >120fL indicam, com alta probabilidade, um défice
vitamínico, sobretudo se associados a indicadores de hemólise (intramedular) extensa, como elevação da
desidrogenase do lactato (DHL) e hiperbilirrubinemia indirecta.
Entre as anemias normocíticas (VGM 80-100fL) contam-se a anemia da doença crónica (ex: estados inflamatórios;
infecção; malignidade), a anemia secundária a hemorragia aguda, a doença hepática crónica; doença renal crónica;
hipotiroidismo; défices vitamínicos mistos e alguns casos de hemólise (adquirida ou congénita), doença medular
primária e outras neoplasias hematológicas. As anemias hemolíticas congénitas tendem a ser diagnosticadas antes
da idade adulta e a sua abordagem é da responsabilidade do Hematologista.
A investigação da anemia normocítica é particularmente difícil quando esta é multifactorial, combinando causas de
micro e macrocitose que podem resultam num VGM normal.
Marcadores Analíticos
Investigação inicial
Em contexto de urgência, a integração dos dados clínicos e da informação básica do hemograma permite classificar
correctamente a anemia na maioria dos casos e prosseguir na investigação básica de urgência, consoante o tipo de
anemia.
O esfregaço de sangue periférico é muito útil em várias situações: suspeita de anemia megaloblástica, com pesquisa de
neutrófilos hipersegmentados (núcleo com ≥5 lobos); suspeita de anemia microangiopática, com pesquisa de
esquizócitos eritrócitos fragmentados; suspeita de doença medular primária, com pesquisa de células
imaturas/precursoras e alterações morfológicas das várias linhagens.
Na abordagem inicial de uma anemia microcítica a avaliação dos parâmetros do ferro (ferritina, saturação da
transferrina e transferrina) é básica na suspeição de uma anemia ferripriva e deve ser solicitada antes de qualquer
intervenção terapêutica. Neste contexto, importa não esquecer o significado da elevação do índice de distribuição
dos eritrócitos (RDW). No caso de não se verificar um défice de ferro, devem equacionar-se outras causas de
microcitose, implicando o Hematologista nessa abordagem.
Na abordagem inicial de uma anemia macrocítica, sobretudo havendo suspeita de défices nutricionais, será
necessário solicitar os doseamentos de ácido fólico e vitamina B12, exigindo uma colheita de sangue em tubo protegido
da luz. Os défices vitamínicos podem alterar toda a hematopoiese (hematopoiese megaloblástica), com a anemia
podendo associar-se a trombocitopenia e/ou neutropenia de gravidade ligeira a moderada.
Na avaliação de uma anemia normocítica de novo/aguda (considerando-se excluída a hemorragia aguda), a
hemólise é uma causa possível, e a sua suspeita implica a avaliação da contagem de reticulócitos, DHL e bilirrubina não
conjugada. A elevação destes parâmetros pode corresponder a várias formas de hemólise: hemólise intramedular
(eritropoiese ineficaz), como na anemia megaloblástica; hemólise predominantemente extravascular (destruição
eritrocitária sobretudo no baço/fígado), como na anemia hemolítica autoimune; hemólise predominantemente
intravascular (destruição de eritrócitos em circulação), como na hemoglobinúria paroxística nocturna.
A anemia da doença crónica é indiciada pelo contexto médico e elevação dos marcadores inflamatórios (VS, PCR,
ferritina), mas a sua avaliação completa é complexa e não tem lugar em contexto de urgência. Uma referência
particular à anemia associada à doença renal crónica, muito frequente no idoso.
A anemia em contexto de doença medular primária, em que é comum a presença de outras citopenias e de
alterações no esfregaço, implica avaliação por Hematologista.
Investigação dirigida
A decisão de prosseguir a investigação de uma anemia no serviço de urgência ou em ambulatório depende da
ponderação sensata da gravidade e urgência de cada caso particular. A abordagem de uma anemia no serviço de
urgência deve ser dirigida e sistemática.
A investigação da anemia ferripriva implica uma anamnese rigorosa dirigida à identificação da causa da ferropenia –
queixas gastrointestinais (sugestivas de perdas hemáticas), características dos cataménios e hemorragia
ginecológica patológica, aspectos relacionados com a dieta (défices alimentares), hábitos intestinais e antecedentes
cirúrgicos (doença celíaca, cirurgia gástrica). A anemia ferripriva grave sem causa esclarecida implica estudo
endoscópico do tubo digestivo (endoscopia digestiva alta primeiro, a progredir para colonoscopia se justificado). No
entanto, essa investigação poderá ser realizada em ambulatório, dependendo da gravidade da anemia e
estabilidade do doente.
A investigação da anemia megaloblástica em urgência depende de um exame clínico dirigido, do qual devem constar
a avaliação da dieta (dieta vegetariana), antecedentes cirúrgicos (cirurgia gástrica) e manifestações
neuropsiquiátricas. A investigação mais exaustiva de uma anemia megaloblástica deverá ser feita em ambulatório.
A hemólise (extra e/ou intravascular) pode ser causa de febrícula, icterícia e alteração da cor da urina (hemoglobinúria).
As anemias hemolíticas podem ser congénitas ou adquiridas, as primeiras diagnosticadas geralmente antes da
idade adulta e da responsabilidade do Hematologista e as últimas mais comuns e relevantes no serviço de urgência.
O estudo de uma anemia hemolítica adquirida implica desde logo a distinção entre hemólise de causa imune ou não
imune, através da prova de Coombs directa.
As formas imunes (Coombs directa positivas) são mais comuns e podem ser primárias (ou idiopáticas) ou secundárias
a infecção, fármacos, doença autoimune sistémica ou doença linfoproliferativa. Nestes casos a hemólise
extravascular predomina sobre a intravascular.
As formas não imunes (extrínsecas) geralmente decorrem de microangiopatia (púrpura trombocitopénica
trombótica/síndrome hemolítico urémico; CID, ou outras menos comuns); macroangiopatia (válvulas cardíacas
mecânicas, malformações vasculares e cardíacas ou outras menos comuns), ou hemoglobinúria paroxística
nocturna, Nestes casos pode haver hemólise intra ou extravascular em combinações diferentes, dependendo da
etiologia. Nas formas microangiopáticas, além de anemia surgem esquizócitos (e fragmentos eritrocitários) no
sangue periférico e trombocitopenia ligeira a moderada.
A investigação aprofundada das anemias hemolíticas adquiridas com significado clínico depende do apoio do
Hematologista.
Tratamento
O tratamento é determinado pela gravidade, presença de sintomas associados e etiologia da anemia. Apenas nas
situações de anemia grave sintomática é necessário iniciar terapêutica em contexto de urgência. O fundamental no
tratamento de todas as formas de anemia adquirida é a resolução ou controlo da(s) causa(s).
A transfusão de concentrados eritrocitários desleucocitados (CED) é uma opção terapêutica a aplicar de forma criteriosa.
Genericamente, a transfusão está indicada se anemia sintomática ou risco de descompensação cardíaca, estando
estabelecido um limite orientador mas não rígido de concentração de Hb 7-8 g/dL. O médico deve ter em
consideração que cada unidade de CED representa um volume aproximado de 500mL, constituindo potencial risco
para sobrecarga de volume.
A base do tratamento da anemia ferripriva é a administração de ferro. O ferro endovenoso está indicado quando a
anemia e a depleção de reservas são importantes ou a absorção possa estar comprometida. O ferro oral é proposto
quando a anemia e a ferropenia são mais ligeiras. A suplementação com ferro é mais previsível e consistente com a
administração endovenosa do que com a administração oral.
A base do tratamento da anemia megaloblástica é a suplementação vitamínica – ácido fólico (formulação oral) e
cobalamina (formulação oral ou intramuscular), administrados empiricamente na suspeita ou sempre que haja um
défice confirmado. A suplementação vitamínica adequada garante uma resposta eficaz e a rápida recuperação do
valor de hemoglobina. A transfusão de CED na anemia megaloblástica deve ser minimizada, dado que o quadro
inclui frequentemente disfunção cardiovascular com risco de descompensação.
A abordagem da anemia secundária a hemorragia é dirigida pela causa.
O tratamento de outras formas de anemia, incluindo as anemias hemolíticas e as doenças medulares primárias,
exige a colaboração do Hematologista.
ALGORITMO
Anemia
Hb < 12.0g/dL (F) | Hb < 13.0g/dL (M)
sim não
Parâmetros do ferro
(ferro, saturação da transferrina, Esfregaço do Sangue Periférico Anemia Pós-Hemorragia
transferrina)
Anemia da
Anemia Megaloblástica Coombs dir. Neg, Coombs dir.Pos, Doença Crónica
hemólise variável hemólise presente
Doença Hepática
Crónica
Toxicidade do álcool
Anemia
Doença Hepática Crónica Hemolítica
Autoimune Doença Medular
Doença Medular Primária Primária
Esquizócitos
(e trombocitopenia) Sem esquizócitos
Introdução
A trombocitopenia é uma alteração quantitativa das plaquetas, genericamente classificada como ligeira (100-
150.000/μL), moderada (50-100.000/μL) ou grave (<50.000/μL). A disfunção plaquetária é uma alteração qualitativa
das plaquetas.
O risco hemorrágico só é significativo nas trombocitopenias graves, com risco de hemorragia espontânea se contagem
de plaquetas <10-20.000/μL. Outros determinantes importantes são a função plaquetária e a presença de factores de
hiperconsumo (ex. febre).
A trombocitopenia e as disfunções plaquetárias (isoladas ou associadas a outras alterações hematológicas) são
alterações comuns em contexto de urgência e, habitualmente, não são uma doença em si mesma mas estão integradas
num quadro patológico. Podem ser importantes quer pelo risco hemorrágico que representam, quer por condicionarem
a realização de cirurgias ou outros procedimentos invasivos.
Classificação
Embora não exista uma classificação clássica destas entidades, simplificadamente as trombocitopenias e as
disfunções plaquetárias podem ser entendidas com base no mecanismo desencadeante.
Trombocitopenias:
- por aumento da destruição periférica ou consumo – como na púrpura trombocitopénica imune ( idiopática ou
associada a doenças linfoproliferativas, doenças autoimunes ou infecção VHC ou VIH), nalgumas formas
induzidas por drogas (anti-inflamatórios não esteroides, cotrimoxazol, diuréticos tiazídicos, neurolépticos,
heparina), na microangiopatia, na coagulação intravascular disseminada ou nas complicações hipertensivas
da gravidez (pré-eclâmpsia/eclâmpsia, síndrome HELLP);
Lembrar que a trombocitopenia gestacional é também frequente (5% das gestações), e que uma
trombocitopenia ligeira (75-100.000/uL) na gravidez não requer investigação adicional.
- por diminuição da produção medular – como em diversas doenças medulares primárias, nalgumas formas
de toxicidade medular (ex. induzida por drogas ou infeção) ou défices vitamínicos;
- por sequestro esplénico – como em situações de esplenomegalia e/ou hiperesplenismo.
Disfunções Plaquetárias:
- por mecanismos intrínsecos – como nas várias disfunções plaquetárias congénitas (sendo a mais comum a
Doença de Von Willebrand);
- por mecanismos extrínsecos – como na uremia, no tratamento com antiagregantes plaquetários ou
antinflamatórios não esteróides (AINEs).
Investigação
As alterações plaquetárias ligeiras a moderadas sem clínica associada devem ser investigadas em ambulatório.
Na maioria dos casos, as trombocitopenias e as disfunções plaquetárias graves e com significado clínico têm uma
etiologia clara ou fortemente suspeita e não requerem investigação específica no serviço de urgência.
Tratamento
O tratamento é determinado pela gravidade, pela clínica hemorrágica e pela etiologia da trombocitopenia ou disfunção
plaquetária. Apenas nas situações de trombocitopenia grave sintomática é necessário iniciar tratamento em contexto
de urgência.
Algoritmo
Clínica hemorrágica
(ausente? hemorragia minor? hemorragia major?)
Esfregaço do SP
Se causa não
ESPLENOMEGALIA HIPERESPLENISMO esclarecida,
considerar...
PÚRPURA
TROMBOCITOPÉNICA IMUNE
COAGULOPATIA DE CONSUMO
DOENÇA MEDULAR
TROMBOCITOPENIA INDUZIDA POR PRIMÁRIA
DROGAS/INFECÇÃO
Disfunção Plaquetária
Plaq <150.000/ μL | PFA-100 prolongado
Clínica hemorrágica
(ausente? hemorragia minor? hemorragia major?)
História Farmacológica
Antiagregantes plaquetários? AINEs?
sim Não
Introdução
A hemostase está intimamente relacionada com a função hepática dado que a maioria dos fatores de coagulação são
sintetizadas pelas células hepáticas e o sistema retículo-endotelial do fígado representa um papel importante na
eliminação de produtos de ativação. A gravidade das alterações da coagulação depende do grau de insuficiência
hepática.
O doente com insuficiência hepática consegue manter um equilíbrio entre a atividade anticoagulante e pró-coagulante,
pelo que o risco hemorrágico pode não ser grave, mesmo em situações de insuficiência hepática grave.
Uma das maiores dificuldades na avaliação destes doentes é que não existem métodos laboratoriais que reflitam com
precisão o risco de hemorragia, podendo induzir o médico em erro, com uso de terapêuticas inapropriadas e sem
benefício para o doente. O INR é um exemplo disso. Apesar de estar indubitavelmente associado ao prognóstico e
gravidade da disfunção hepática, é um marcador insuficiente na avaliação do risco hemorrágico, e não deve ser usado
de forma isolada para esta finalidade.
§ Fator VII recombinante ativado (rFVIIa): Normaliza o INR entre 1 a 2 horas. Utiliza pouco volume e é relativamente
seguro. Risco de induzir estado de hipercoagulabilidade. Deve ser reservado como terapêutica de resgate em
caso de hemorragia ativa e como profilaxia de hemorragia no caso de colocação de cateter para avaliação
pressão intracraniana.
§ Anti-fibrinolíticos: ácidos aminocapróico e tranexâmico. Útil na hemorragia peritoneal e na extração dentária-
eventos com hiperfibrinólise.
§ Concentrado de complexo protrombínico: contém fatores dependentes da vitamina K- FII, IX e X, FVII, proteína C
e S. Pouco volume. O uso no doente cirrótico é pouco conhecido.
§ Desmopressina: aumenta os níveis de FVIII e FvW. Beneficio na extração dentária.
§ Outras medidas devem ser tidas em linha de consideração: manter hematócrito ≥25%, tratar a infeção e a uremia.
Trombose veia porta (TVP) - Tratar com HBPM. - Doentes com TVP crónica e transformação
- Devem-se tratar as varizes esofágicas cavernosa têm menos benefício com a
previamente a iniciar hipocoagulação. hipocoagulação.
Insuficiência hepática aguda - Apesar das alterações da coagulação - Não usar PFC ou plaquetas no doente com
frequentes, existe um “equilíbrio”. IHA e que não apresente hemorragia.
- Usar rFVIIa (40 μg/kg) em caso de - Não usar rFVIIa continuo, pelo risco
monitorização da pressão intracraniana. trombótico e custos elevados.
GV: glóbulos vermelhos; PFC: plasma fresco congelado ; DDAVP: desmopressina; rFVIIa: fator VII recombinante ativado;
HBPM: heparina de baixo peso molecular; TVP: trombose veia porta; IHA: insuficiência hepática aguda.
Northup PG and Caldwell SH. Clin Gastroenterol Hepatol 2013
Tabela 1 - Orientações de atuação em algumas situações clínicas associadas a alterações da coagulação no doente com insuficiência
hepática
HIPOCOAGULAÇÃO ORAL
Características e Gestão dos Anticoagulantes Orais no Serviço de Urgência
Luísa Regadas | Renata Cabral
Introdução
Os anticoagulantes orais (ACO) “clássicos”, dicumarínicos ou antagonistas da vitamina K (AVK) foram os primeiros e,
até há alguns anos, os únicos disponíveis para administração oral. As suas principais vantagens são a eficácia, a
tolerabilidade, a existência de antídoto eficaz e a experiência prolongada acumulada; entre as maiores
desvantagens contam-se a sua janela terapêutica estreita, a interferência da dieta e fármacos e a necessidade de
controlo terapêutico regular.
Na tentativa de melhorar o perfil dos ACO, nos últimos anos surgiram os ACO “directos”, que incluem os inibidores
directos do FXa e os inibidores directos da trombina. Com eficácia comprovada, não requerem controlo terapêutico
regular e a dieta não interfere na sua absorção, mas têm limitações decorrentes da interferência da função renal e da
função hepática e das múltiplas interacções farmacológicas, além de maioritariamente não terem antídotos específicos.
O acenocumarol e a varfarina actuam por inibição da reductase responsável pela gcarboxilação dos factores da
coagulação II, VII, IX e X (ditos dependentes da vitamina K) e das proteínas anticoagulantes C e S. Ambos são
excretados maioritariamente por via renal.
O dabigatran é um pró-fármaco convertido na forma activa após hidrólise no plasma e no fígado. Actua como um
potente inibidor directo da trombina, reversível e competitivo. É excretado fundamentalmente por via renal.
O rivaroxaban actua como um inibidor do FXa altamente selectivo. Cerca de 2/3 são metabolizados pelo citocromo
CYP3A4. É excretado maioritariamente por via renal.
O apixaban actua como um potente inibidor do FXa, reversível e altamente selectivo.
§ Antagonistas da Vitamina K
Início: Os AVK associam-se a um aumento do risco trombótico nos primeiros dias de tratamento resultante da
diminuição rápida dos níveis das proteínas C e S (anticoagulantes “naturais”). Como tal, está indicado um período
inicial de sobreposição com uma heparina em dose terapêutica até se atingir um INR terapêutico.
Dose: Em indivíduos com idade <70 anos (sem doença hepática), a hipocoagulação oral deve ser iniciada com 1
compr./dia de acenocumarol ou varfarina. Em doentes mais velhos são aconselhadas doses iniciais inferiores, de ½
compr./dia de acenocumarol ou varfarina se idade 70-80 anos ou ¼ compr./dia se idade >80 anos. Outros factores
que podem influenciar a dose inicial são a doença hepática e a ingestão alimentar irregular.
Monitorização: Os níveis terapêuticos são definidos pelo tempo de protrombina (PT), expresso na razão normalizada
internacional (RNI). A monitorização inicial deve ser feita 2-3 dias (se acenocumarol) ou 3-4 dias (se varfarina) após o
início do tratamento e, posteriormente, de forma regular em intervalos de até 8 semanas. A janela terapêutica
depende das indicações clínicas específicas para a hipocoagulação. Níveis supra ou infraterapêuticos exigem ajuste
da dose do ACO, o que implica a colaboração do Hematologista ou Imunohemoterapeuta.
§ Dabigatran
Indicações aprovadas (Europa): Prevenção primária do tromboembolismo venoso (TEV) em contexto das cirurgias
ortopédicas de artroplastia total da anca ou joelho, prevenção da embolia sistémica (ES) em contexto de fibrilação
auricular (FA) não valvular com factores de risco e tratamento e prevenção da recorrência da trombose venosa
profunda (TVP) e do tromboembolismo pulmonar (TEP).
Início: O dabigatran não necessita de um período inicial de sobreposição com uma heparina.
A dose deve ser reduzida sempre que existam factores de interferência adicionais – insuficiência renal com ClCr 30-
50mL/min., administração simultânea de inibidores da glicoproteína-P (amiodarona, quinidina, verapamil,
claritromicina) e doentes com idade ≥75 anos (experiência clínica mais reduzida e maior incidência de insuficiência
renal). O dabigatran está contraindicado – na insuficiência renal grave com ClCr <30mL/min. e quando haja elevação
das enzimas hepáticas ou insuficiência hepática clinicamente significativas.
Monitorização: O dabigatran dispensa monitorização regular. A monitorização está recomendada quando há factores
de risco adicionais concomitantes, para evitar uma exposição excessiva. Embora sejam testes não standardizados
para este efeito, estão definidos valores limite do teste de doseamento do dabigatran (HEMOCLOT) e tempo de
tromboplastina parcial activada (aPTT) associados a um aumento do risco hemorrágico no doente sob dabigatran.
O HEMOCLOT representa uma estimativa da concentração plasmática de dabigatran e o aPTT uma estimativa da
intensidade da hipocoagulação. O RNI não tem utilidade no doente sob dabigatran e não deve ser realizado (estão
descritos valores de RNI falsamente elevados).
§ Rivaroxaban
Indicações aprovadas (Europa): Prevenção primária do TEV em contexto das cirurgias ortopédicas de artroplastia
total da anca ou joelho, prevenção da ES em contexto de FA não valvular com factores de risco, tratamento e
prevenção da recorrência da TVP e do TEP e prevenção de eventos aterotrombóticos após síndrome coronário
agudo (SCA) (em associação com antiagregação plaquetária)
A dose deve ser ajustada sempre que existam factores de interferência adicionais – insuficiência renal com ClCr 15-
30mL/min. e administração simultânea de inibidores do CYP3A4 (azóis, inibidores das proteases do HIV) ou
indutores do CYP3A4 (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital). O rivaroxaban está contraindicado na insuficiência
renal muito grave com ClCr <15mL/min. e quando haja elevação das enzimas hepáticas ou insuficiência hepática
clinicamente significativas.
§ Apixaban
Indicações aprovadas (Europa): Prevenção primária do TEV em contexto das cirurgias ortopédicas de artroplastia
total da anca ou joelho, prevenção da embolia sistémica em contexto de FA não-valvular em doentes com factores
de risco e tratamento e prevenção da recorrência da TVP e do TEP.
A dose deve ser ajustada sempre que existam factores de interferência adicionais – creatinina sérica >1.5 mg/dL,
idade avançada ≥80 anos, peso ≤60 kg e administração simultânea de inibidores do CYP3A4 (azóis, inibidores das
proteases do HIV) ou indutores do CYP3A4 (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital). O apixaban está contraindicado
na insuficiência renal muito grave com ClCr <15mL/min. e quando haja elevação das enzimas hepáticas ou
insuficiência hepática clinicamente significativas.
§ Antagonistas da Vitamina K
§ Dabigatran
§ Rivaroxaban
Hemorragia minor, Preparação para Cirurgia/Procedimento invasivo urgente:
- na hemorragia minor, descontinuar o rivaroxaban pelo menos 12 horas, reavaliar a actividade anti-Xa e
decidir ajuste ou alteração da opção de hipocoagulação;
- na preparação para intervenção urgente, suspender o rivaroxaban pelo menos 18 horas antes da
intervenção invasiva, podendo ser necessária uma descontinuação mais precoce se houver insuficiência
renal grave e/ou se o procedimento tiver alto risco hemorrágico.
Hemorragia major, Preparação para Cirurgia/Procedimento invasivo emergente:
- Não há um antídoto específico para o rivaroxaban, cabendo ao médico assistente decidir como deve actuar
em cada caso particular. As medidas imediatas obrigatórias incluem a suspensão do fármaco, medidas
locais adequadas e hemostase cirúrgica adaptada ao risco. A utilização de OCTAPLEX, FEIBA ou FVIIa
recombinante pode ser considerada em casos particulares, mas a evidência clínica da sua actividade é
limitada. Dada a elevada ligação do rivaroxaban às proteínas plasmáticas, o fármaco não é dialisável.
§ Apixaban
Hemorragia minor, Preparação para Cirurgia/Procedimento invasivo urgente:
- na hemorragia minor, descontinuar o apixaban pelo menos 24 horas, reavaliar a actividade anti-Xa e decidir
ajuste ou alteração da opção de hipocoagulação;
- na preparação para intervenção urgente, suspender o apixaban pelo menos 48 horas antes da intervenção
invasiva, podendo ser necessária uma descontinuação mais precoce se houver insuficiência renal grave
e/ou se o procedimento tiver alto risco hemorrágico.
Hemorragia major, Preparação para Cirurgia/Procedimento invasivo emergente:
- Não há um antídoto específico para o apixaban, cabendo ao médico assistente decidir como deve actuar
em cada caso particular. As medidas imediatas obrigatórias incluem a suspensão do fármaco, medidas
locais adequadas e hemostase cirúrgica adaptada ao risco. A utilização de FVIIa recombinante pode ser
considerada em casos particulares, mas a evidência clínica da sua actividade é limitada. A hemodiálise
parece muito pouco eficaz.
Definição
Perda de sangue comprovada pelo tubo digestivo
Sintomatologia
Os doentes podem apresentar-se com hematemeses/melenas ou hematoquézias
Diagnóstico e Tratamento
Sinais Vitais:
Exame físico completo (estigmas de doença
TA, FC + hepática crónica) + TR
FR, SatO2
Tratamento Inicial
• Fluidoterapia*
• Transfusão de GR para Hb alvo: 7-8g/dl, se comorbilidades Hb-8-9g/dl*
• Transfusão de plaq ou complexo protrombínico, se hemorragia activa com plaq<30000
• Octreótido 100ug ev ou terlipressina 1 a 2mg ev (se hx conhecida de CH ou HTPortal)
• IBP (Esomeprazol 80mg ev, se ausência de hx/estigmas de CH)
• Eritromicina 250mg ev (30’ antes da EDA)
Perda sanguínea (ml) Até 750 750 – 1500 1500 – 2000 > 2000
Frequência cardíaca < 100 > 100 > 120 > 140
Pressão de pulso
Normal ou
Baixa Baixa Baixa
aumentada
Estado consciência
Ansiedade Muito ansioso,
Ansiedade ligeira Confuso, letárgico
moderada confuso
Reposição volémica Cristalóides e
Cristalóides Cristalóides * Cristalóides e sangue
(regra 3:1) sangue
Varizes Esofágicas
Gastropatia de Hipertensão Portal
GOV (varizes gástricas)
Tx Médico:
Octreótido bolus ev - Perfusão 25-50ug/h ou Terlipressina até 2mg 4/4h ev
Ciprofloxacina 200mg 12/12h
SF 63ml/h
Poli G 42ml/h
Esomeprazol 40mg 12/12h ev
Monitorização:
Clinica e sinais vitais
H nas 1ªs 4h após procedimento
Transfusão de GR para Hb alvo: 7-8g/dl, se comorbilidades Hb-8-9g/dl*
Transfusão de plaq ou complexo protrombínico, se hemorragia activa com plaq<30000
Vit K 10mg ev, se hemorragia activa e INR>1,5
Úlcera Gástrica
Úlcera Duodenal
1. Classificação de Forrester# (tx de re-sangramento)
2. Score de Rockall## (gravidade/risco)
Tx Médico:
Esomeprazol 80mg ev bolus
Perfusão 8mg/h durante 2-3 dias (se alto risco)
Esomeprazol 40mg 12/12 ev (se baixo risco)
SF 63ml/h
Poli G 42ml/h
Monitorização:
Clinica e sinais vitais
H nas 1ªs 4h após procedimento
Transfusão de GR para Hb alvo: 7,5g/dl, se comorbilidades Hb-8,5g/dl
Transfusão de plaq ou complexo protrombínico, se hemorragia activa com plaq<30000
Vit K 10mg ev, se hemorragia activa e INR>1,5
#CLASSIFICAÇÃO FORREST
## SCORE DE ROCKALL
Score Clínico (antes da EDA) = idade + hemodinâmica + comorbilidades
Score completo (após a EDA) = score clínico + diagnóstico endoscópico + estigmas de hemorragia
Estratificação final do risco:
Baixo: ≤ 2
Intermédio: 3-4
Alto: ≥ 5
Pontuação
Variável
0 1 2 3
Frequência cardíaca
Hemodinâmica TA sistólica < 100mmHg
> 100/minuto
3 3%
4 6%
5 12%
6 17%
7 27%
8 40%
Definição
Alterações neuropsiquiátricas causada por insuficiência hepática e/ou shunts portossistémicos com ou sem cirrose.
Sintomatologia e classificação
A EH pode manifestar-se desde alterações de consciência, comportamento, cognição/intelecto ou alterações
neuromotoras.
2. A gravidade da doença:
Desde o consenso de 1998, a escala mais aplicada é de West Haven (WH) como se descreve na tabela 1.
Estado de Comportamento
Consciência Função Intelectual Personalidade Alts neuromusculares
0 - - - -
Alteração do ritmo Dificuldades na
Grau 1
Euforia ou ansiedade
de sono subtracção e soma Irritabilidade Tremor
Insónia/hipersónia Défice de atenção
Desorientação no tempo Alterações de personalidade Flapping
Grau 2 Letargia ou apatia Amnésia para eventos Comportamentos Discurso lentificado
recentes inadequados Ataxia
Grau 3
Confusão Rigidez muscular, clonus,
Estupor Desorientação total Comportamentos bizarros hiperreflexia
Tabela 1- Escala de WH
O novo consenso da ISHEN (sociedade internacional para encefalopatia hepática e metabolismo do nitrogénio) de
2014 acrescenta a Encefalopatia mínima à classificação anterior. Clinicamente não detectável apenas em testes
psicométricos orientados para atenção, memória de trabalho, velocidade psicomotora, capacidade visual espacial.
Este grupo propõe também uma nova divisão no tipo de EH. A EH evidente ou notória (“overt”) que se aplica ao grau
2, 3 e 4 de WE e EH disfarçada (“covert”) à EH mínima ou grau 1 WH.
3. Evolução temporal
EH Episódica
EH Recorrente: que se repete em intervalos de tempo < 6 meses
EH Persistente
4. Factores precipitantes:
Espontânea
Precipitada por algum factor
EH episódica EH recorrente
+ frequente Infecções Alts electrolíticas
Hemorragia Digestiva Infecções
Excesso diurético Sem causa identificada
Alts electrolíticas Obstipação
Obstipação Excesso diurético
- frequente Sem causa identificada Hemorragia Digestiva
Diagnóstico
É essencialmente clínico, baseado na sintomatologia semiológica (história clínica) e exame físico descrita na escala
de WH.
TC e RMN nestes doentes não é essencial mas quando realizada para excluir outras causas pode documentar:
a) TAC:
§ Atrofia cortical, edema cerebral
b) RMN
§ Hiperssinal nos gânglios da base em T1 (pelos depósitos de manganês)
§ Atrofia cerebral e cerebelosa
§ Edema cerebral
A pesquisa de factores precipitantes incluirá a exclusão de infecção, hemorragia digestiva, obstipação, alterações
electrolíticas, insuficiência renal, hipovolémia com exames auxiliares específicos para cada situação.
Encefalopatia Hepática
Infecciosas
A, B ou C - Sépsis
- Meningite/meningoencefalite
- Abcesso cerebral
EH mínima, grau 1, 2, 3 ou 4 - WH
SNC
- Enfarte cerebral hemorragia intracraniana
- Estado pós ictal/convulsão
Espontânea ou Factores Precipitantes - Delirium tremens
- Neoplasia
Tóxicas
Episódica, Recorrente ou Permanente - Álcool
- Drogas depressoras do SNC
Metabólicas
- Hipoxia/hipercapnia
- HipoNa/HiperNa
- Hipoglicemia
- CAD/SHH
- Hiper/Hipotiroidismo
- Hipercalcemia
Exames auxiliares - Uremia
- Hemograma
- F. renal e ionograma (Na,K, Cl, Ca e P), glicose, PCR, TGO, TGP, BT e Bd
- GSA
- Sumário de urina + Tóxicos na urina; etanol
- Rx Torax
- Ecografia abdominal, se evidência de ascite -> Paracentese de LP
- (citoquímico, microbiológico)
- Outros exames, direccionado pela clínica do doente (febre sem foco)
Tratamento
Episódio Agudo
ABCDE
§ Se EH grau 3 - 4 > EOT e suporte das disfunções
§ Se EH grau 1 - 2 > vigilância do estado neurológico
o Tx empírico:
- Lactulose 25ml 12/12h e >> até as 1ªs 2 dejecções/dia e depois ajustável para 2/3 dejecções diárias.
- Lactulose 30ml 2/2h ou 4/4h por SNG ou enema 300ml em 700cc de H20 4/4h
o Tx do factor precipitante
o Alimentação:
- Energia: 35/40Kcal/Kg/dia
- Proteínas:1,2-1,5g/Kg/dia
Definição
Infecção do líquido ascítico em doente com cirrose hepática estabelecida
Sintomatologia
Os doentes podem apresentar-se com sinais/sintomas de peritonite (dor abdominal difusa com ou sem defesa,
vómitos, diarreia, íleo), sinais de inflamação sistémica (febre, leucocitose, taquicardia e taquipneia), agravamento da
função hepática basal, encefalopatia hepática, insuficiência renal, hemorragia digestiva e choque. Em alguns
doentes, do foro ambulatório, a PBE pode ser assintomática.
Marcadores bioquímicos
Punção do liquido ascítico com colheita para citoquímico e microbiológico
Paracentese diagnóstica:
Citoquímico + Microbiológico
PBE
TAC Cirurgia
Tratamento
1ª linha: Cefotaxime 2g 8/8h (5 ou 10 dias)
2ª linha: Amox/clav 1,2g 8/8h (7 dias) ou Ciprofloxacina 200mg 12/12 ev (não aconselhado se dts
estiverem a fazer profilaxia com quinolonas e em áreas com resistência elevada)
Redução ≥ 25% PMN LP do valor dx Redução < 25% PMN LP do valor dx ou agravamento clínico
TAC Cirurgia
Profilaxia
Secundária
Primária + LP proteínas baixas (15g/L) + Child C
1ªlinha: Norfloxacina 400mg/d
2ªlinha: Ciprofloxacina 750mg/semana ou
Norfloxacina 400mg/dia
Co-trimoxazol 960mg/dia
Definição
Emissão de 3 ou mais dejecções anormalmente moles ou líquidas em 24 horas, ou de uma ou mais dejecções
sanguinolentas, com um tempo de duração não superior a 14 dias. Necessário excluir outras causas que cursam
com ou sem peritonite (apendicite; diverticulite; perfuração intestinal; infecções sistémicas como malária, sarampo,
febre tifoide; doença inflamatória intestinal; enterocolite isquémica, isquemia venosa/ arterial mesentérica)
Sintomatologia
Como acima referido. Fundamental, na história clínica, obter informação relativa a: idade do doente, início e duração
da diarreia, características das fezes (líquidas, moles, sanguinolentas), frequência e volume das fezes, progressão
da gravidade da diarreia, presença e gravidade dos vómitos (maior relação com intoxicação alimentar e infecções
víricas), febre (gravidade e duração), dor abdominal, localização e características, tenesmo. Implicação nas
atividades diárias, debilidade, sede, tonturas e síncope. Relação com a ingestão de comida, relação com
conviventes doentes, condições de salubridade e origem da água consumida. Viagens recentes. Consumo de
drogas e antibióticos. Estado de imunossupressão. Pesquisar sinais de desidratação.
Vírus
Rotavírus + -
Calicivírus + -
Astrovírus + -
Citomegalovírus + +
Bactérias
V.cholerae O1 + -
Vibrio O139 + -
Víbrios não O1 + -
Vibrio parahemolyticus + +
Aeromonas + -
ETEC + -
EPEC + -
EaggEC + -
EIEC + +
EHEC (STEC) + +
Shigella spp. + +
Salmonella spp. + +
Campylobacter spp. + +
Yersinia enterocolitica + +
Clostridium difficile + +
Plesiomonas shigelloides + +
Protozoários
Giardia intestinalis + -
Cryptosporidium parvum + -
Microsporidia + -
Isospora belli + -
Cyclospora cayetanensis + -
Entamoeba histolytica + +
Balantidium coli + +
Helmintas
Strongyloides stercoralis - -
Schistosoma spp. - +
ETEC, E.coli enterotoxigénica; EPEC, E.coli enteropatogénica; EAggEC, E.coli enteroagregativa; EIEC, E.coli enteroinvasiva; EHEC, E.coli
enterohemorrágica
Diarreia Aguda
(< 14 dias)
Diarreia
& Zonas endémicas para cólera, fazer microscopia escura. Se positivo, ATB dirigido
# Loperamida (4-6mg/dia é o agente de escolha nos adultos): utilizar na diarreia do
viajante ligeira a moderada (sem sinais de diarreia invasiva); a evitar na diarreia
sanguinolenta ou inflamatória/ infecciosa suspeita (doentes febris); contraindicada
na dor abdominal
PANCREATITE AGUDA
Filipe Nery
Definição
Presença de pelo menos 2 de 3 dos seguintes critérios: clínicos (dor abdominal característica), laboratoriais
(elevação da amílase ou lípase >3x o LSN) e/ou imagiológicos (TAC, RMN, ecografia).
Sintomatologia
Dor abdominal epigástrica ou no quadrante supero-lateral esquerdo. Geralmente descrita como constante, mas pode
ser severa, irradiando para o dorso, tórax ou flancos, não sendo, contudo, específica. A intensidade e localização da
dor não se relacionam com a gravidade.
Marcadores bioquímicos
Lípase preferível à amílase como marcador (limitação da sensibilidade, especificidade, VPP e VPN da segunda face
à primeira). Elevação da amílase em poucas horas após início dos sintomas, com regresso à normalidade em 3-5
dias. Em 1/5 dos doentes permanece em valores normais. Regressa mais rapidamente à normalidade do que a
lípase. Lípase mais específica e permanece mais tempo elevada do que a amílase. Em doentes diabéticos, podem
ser necessárias elevações superiores a 3-5x o LSN. Os critérios analíticos de definição de PA incluem elevação da
amílase ou lípase superior a 3x o LSN.
Pancreatite Aguda
(se pelo menos 2 critérios)
Etiologia Gravidade
Critérios de Atlanta 2013 Tratamento
- Litíase
- Álcool - PA Ligeira § Fluidoterapia agressiva (Lactato de
- Hipertrigliceridemia Æ falência de órgão Ringer preferencial 5-10mL/Kg/h)
- Fármacos/ drogas Æ complicações locais § Controlo da dor
- Agentes infecciosos
- PA moderadamente severa § Se colangite associada, CPRE em
- Trauma Complicações locais E/OU 24 horas
- Hipercalcémia Falência de órgão transitória § Sem indicação para antibioterapia
- Hiperparatiroidismo (< 48h) profilática
- Neoplasia - PA severa § Nutrição:
- Vascular Falência de órgão persistente - PA ligeira: iniciar dieta PO
- Outras > 48h precocemente
- PA severa: NE por SNG ou SNJ
NB: identificação do número e (iniciada preferencial/ nas 1ªs 48h)
tipo de falência de órgão de elementar ou polimérica
acordo com score de Marshall
Alocação
Doentes com SIRS, idosos, com co-morbilidades, obesos, a carecer de fluidoterapia agressiva e com PA
moderadamente severa deverão, pelo menos, ser admitidos em Unidade de Cuidados Intermédios. Doente
com PA severa deverão ser admitidos em Unidade de Cuidados Intermédios ou Intensivos, dependendo das
características e políticas locais.
Introdução
A infeção aguda por VIH é a fase mais precoce da infeção pelo VIH, que surge logo após a transmissão, onde se
verifica uma rápida replicação vírica, mas o organismo ainda não desenvolveu anticorpos para combater o vírus.
Em termos epidemiológicos, a fase aguda da infeção adquire grande importância, dado que cerca de 50% das
transmissões acontecem durante esta fase.
A identificação da infeção VIH nesta fase aguda surge como uma oportunidade de reduzir a transmissão da doença,
permite acompanhar o doente muito cedo na sua doença, evitando a sua progressão e incidência de infeções
oportunistas, e reduz a mortalidade relacionada.
Definições
1. Infeção aguda pelo VIH: fase da doença pelo VIH imediatamente após a infeção, durante o qual ocorre uma
replicação vírica intensa. Os anticorpos anti -VIH são indetetáveis, mas o RNA do VIH ou o antigénio p24 estão
presentes. Geralmente surge 10 dias após a aquisição da infeção. Esta fase termina com a seroconversão,
i.e., a identificação dos anticorpos anti- VIH, em geral até 4 semanas depois.
2. Fase eclipse: período que decorre entre a aquisição da infeção e o início da fase aguda. Nesta fase não é
possível identificar, por meios serológicos, a infeção pelo VIH.
3. Infeção recente pelo VIH: geralmente é considerada a fase até 6 meses após a infeção durante o qual os
anticorpos anti -VIH são detetáveis.
• Homens que descrevem ter práticas sexuais desprotegidas com outros homens;
• Toxicodependentes com partilha de seringas;
• Aqueles que se apresentam com uma infeção sexualmente transmissível recém diagnosticada;
• Aqueles que se apresentam com meningite asséptica;
• Todas as grávidas ou lactantes que não foram testadas.
Comportamento de risco
+/-
Reativo
Não reativo, mas persiste a suspeita
de infeção aguda (i.e. até 10 dias
após a infeção- fase eclipse)
Teste screening 3ª geração
RNA - VIH
Infeção VIH não
aguda
≥ 100.000 cópias/mL
As maiorias dos doentes com infeção VIH desconhecida que vão ao serviço de urgência encontram-se na “fase clínica
latente”, que habitualmente dura entre 8 a 10 anos, nos indivíduos não tratados.
Na fase assintomática a contagem CD4> 500 células/mm3. Durante esta fase o doente pode apresentar ao exame
físico, algumas manifestações suspeitas como adenopatias generalizadas, história de infeções respiratórias
recorrentes (p.ex. sinusite, faringite e otite média), aftas orais recorrentes, infeção por Herpes zooster, paralisia de Bell
e manifestações dermatológicas como rash papular pruriginoso, dermatite seborreica e infeções fúngicas.
Durante a fase sintomática da infeção VIH existe um declínio nas células CD4+, com manifestações clínicas, mas sem
ocorrerem as manifestações clássicas da fase da Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (SIDA). Durante
a fase sintomática, as queixas do doente podem não ser reconhecidas como manifestações da infeção VIH, por
também poderem surgir na população não infetada. Assim, os médicos no serviço de urgência devem considerar o
diagnóstico de infeção pelo VIH em qualquer uma das seguintes condições, sobretudo naqueles doentes que
apresentam comportamentos de risco:
• Pneumonia grave
• Tuberculose
• Gengivite grave
• Candidíase oral persistente
• Diarreia crónica inexplicável por outra causa (>1 mês)
• Febre persistente
• Perda de peso marcada inexplicável por outra causa.
• Alterações analíticas hematológicas como anemia, neutropenia e trombocitopenia, inexplicadas por outra
causa.
No doente com infeção VIH desconhecida que se apresenta no serviço de urgência com queixas relacionadas com
uma doença definidora de SIDA , é importante o diagnóstico atempado da infeção pelo VIH, pois uma investigação e
tratamento mal dirigidos aumentam a morbilidade e mortalidade relacionadas. Na fase de SIDA o sistema imunitário
encontra-se gravemente comprometido, com contagem CD4+ <200 células/mm3.
A tabela 1 mostra as doenças definidoras de SIDA mais comuns que se apresentam no serviço de urgência, bem
como quais os sinais e sintomas comuns associadas.
Manifestações pulmonares
Manifestações neurológicas
Manifestações gastrointestinais
Endoscopia é diagnóstica, mas a clínica
Candidíase oral e disfagia Candidíase esofágica
assume o diagnóstico de presunção.
Diarreia crónica, com perda de peso e
Cryptosporidiose; Isosporiase Estados muito imunodeprimidos
desidratação
Manifestações dermatológicas
Manifestações sistémicas
Manifestações oftalmológicas
Na abordagem do doente com infeção VIH conhecida importa documentar algumas condições:
§ Data de diagnóstico da infeção VIH;
§ Adesão às consultas e tratamento;
§ RNA- VIH e contagem CD4+ recentes;
§ Esquema anti-retroviral atual e prévio, e testes de resistência.
Abordagem
1. Medidas gerais
Limpeza imediata da ferida exposta com água e sabão (desaconselhado agentes cáusticos). No caso de
mucosas lavar apenas com água.
2. Aferição do risco
§ Caracterização do tipo de exposição
o Solução de continuidade da pele provocada por objeto cortante/perfurante (agulhas com
calibre, de sutura ou vidros partidos) que esteja contaminado com sangue, ou fluído com
sangue visível, ou outro fluído potencialmente infetante, ou que estiveram em vaso sanguíneo do
doente -fonte.
o Mordedura de um doente com infeção VIH, com sangue visível na boca do doente e que
causou sangramento no profissional de saúde.
o Projeção de sangue, fluído com sangue visível ou outro material potencialmente infetante numa
superfície mucosa (olhos, boca, nariz).
o Exposição de pele não-intacta (pele gretada, com dermatite, abrasão ou ferida aberta) a
sangue, fluido com sangue visível ou outro material potencialmente infetante.
o Contacto direto da vagina, ânus ou boca da vítima com sémen ou sangue do agressor, com ou
sem dano físico, lesão tecidular ou presença de sangue no local da violação.
§ Tipo de fluido
o Fluidos infetantes: sangue, ou fluidos com sangue visível, ou outros fluidos potencialmente
infetantes (sémen, secreções vaginais, LCR, sinovial, pleural, peritoneal, pericárdico e amniótico).
o Fluidos não infetantes: saliva, lágrimas, suor, urina não hemática, fezes. Em exposições a estes
fluidos não esta recomendada a PPE.
3. Avaliação da vítima
No serviço de urgência deverá ser pedido:
§ Teste rápido anti -VIH 1 e 2
§ Anticorpo anti -HBs (pois se negativo, deverá também ser feita profilaxia para VHB)
§ Anticorpo anti -VHC (este geralmente é feito apenas em ambulatório, dado que não implica nenhuma
atitude imediata).
§ Se a fonte for VIH conhecida com resistências aos antiretrovíricos, ou se a vítima está grávida ou tem
comorbilidades como IRC ou insuficiência hepática, poderá ser necessário o ajuste do esquema, pelo
que deve ser sempre contactado um especialista na área do VIH.
§ A primeira toma deve ser no SU, e devem ser asseguradas as tomas até ao dia de avaliação em consulta,
que deverá ser idealmente até 72h após.
§ Todas as mulheres em idade fértil devem fazer o teste de gravidez.
§ Alertar para os possíveis efeitos laterais da terapêutica: náuseas e vómitos, diarreia, fadiga e mialgias,
falta de apetite.
6. Profilaxia pós-violação sexual: adicionalmente à profilaxia pós- exposição ao VIH, a vítima deve ser sempre
orientada para as seguintes especialidades:
§ Avaliação por Ginecologia: contraceção de emergência, profilaxia das DST (Ceftriaxone 125 mg, im,
dose única + Azitromicina 1g, vo, dose única + Metronidazol 2g, vo, dose única)
§ Avaliação por Medicina Legal
§ Apoio psicológico
7. Se o estado emocional da vítima não a permite tomar uma decisão, deve ser dada a primeira toma do esquema
recomendado e reavaliar dentro de 24h.
Sim
Sim
Fonte com infecção VIH confirmada ou Não PPE não indicada excepto se suspeita
desconhecida clínica de sindrome retroviral agudo
(SRA)
Sim
Teste rápido
Iniciar PPE Fonte com teste rápido VIH
VIH negativo e há indeterminado
tenofovir 300mg + emtricitabina 200mg (Truvada®, 1
evidência de SRA e suspeita de
comprimido dia) + raltegravir 400 mg (Isentress®, 1 SRA
comprimido 12/12h.)
Exposição, percutânea ou outra, com risco Não Profilaxia não indicada; sem
significativo de transmissão de infecção VIH necessidade de acompanhamento
Sim
Sim
Não
Fonte é VIH + ou desconhecida
Profilaxia não indicada
Sim
Iniciar Profilaxia
tenofovir 300mg + emtricitabina 200mg (Truvada®, 1 comprimido dia) + raltegravir 400
mg (Isentress®, 1 comprimido 12/12h.)
Enviar à Consulta Externa de especialidade para reavaliação dentro de 72h
Sim
PPE não recomendada.
Seguimento não recomendado
Não
Sim
PPE não indicada
Não Efetuar seguimento e serologias
Ocorrência da exposição ≤ 72h? (Médico Assistente)
Sim
Iniciar Profilaxia
- Avaliação por Ginecologia: contracepção de
tenofovir 300mg + emtricitabina 200mg (Truvada®, 1 emergência, profilaxia das DST (Ceftriaxone 125
comprimido dia) + raltegravir 400mg (Isentress®, 1 mg, im, dose única + Azitromicina 1g, vo, dose
comprimido 12/12h.)
única + Metronidazol 2g, vo, dose única)
Enviar à Consulta Externa de especialidade para - Avaliação por Medicina Legal
reavaliação dentro de 72h - Apoio psicológico
Introdução
As definições de Sépsis e Choque Séptico foram redefinidas em 2016, dando origem ao novo consenso Sépsis-3. As
definições prévias de 1992 (Sépsis-1) e 2001 (Sépsis-2) pressupõem que Sépsis é uma síndrome de resposta
inflamatória sistémica [SIRS] a uma infeção. Os critérios de SIRS (temperatura >38ºc ou <36ºc), frequência cardíaca
>90/min, frequência respiratória >20/min ou PCO2 <32 mmHg, leucocitose >12000/mm3 ou <4000/mm3 ou >10%
células imaturas) são muito sensíveis, mas pouco específicos para infeção, pelo que alguns dos casos identificados
como Sépsis, na verdade não o são. Por outro lado, nem todas as infeções se associam ao fenótipo de Sépsis, não
sendo por isso graves.
O novo conceito de Sépsis considera que se trata de uma resposta inflamatória induzida por uma infeção, que
condiciona disfunção de órgão e risco de mortalidade. Assim, Sépsis e Sépsis grave têm o mesmo significado no
novo consenso de 2016 (Sepsis-3).
Na sépsis existem três intervenções que comprovadamente salvam vidas: reconhecimento precoce e estratificação
da gravidade, prevenção da disfunção de órgão e optimização do fornecimento de oxigénio e controlo do foco
infecioso.
No Curso de Fundamentos Básicos em Medicina de Urgência a abordagem da Sépsis, e choque séptico será uma
adaptação da Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Severe Sepsis and Septic
Shock: 2016, pelo facto de nos restringirmos apenas à abordagem inicial, que corresponde à abordagem do doente
na apresentação no Serviço de Urgência.
Definições
1. Sépsis: É definida como disfunção de órgão com risco de vida causada pela desregulação da resposta do
hospedeiro à infeção.
A abordagem do doente com infeção presumida ou suspeita deverá ser sempre sistematizada, procurando
sinais e sintomas de alerta, e consequente avaliação de parâmetros de gravidade que traduzam disfunção
de órgão (quadro 1).
2. qSOFA (quick Sequential Organ Failure Assessment): parâmetros utilizados na avaliação fora do ambiente de
cuidados intensivos, para identificação de doentes com infeção, suspeita ou presumida, e que têm risco de
pior prognóstico (morte ou internamento em cuidados intensivos ≥ 3 dias).
a. Alteração do estado mental, ou
b. Pressão arterial sistólica ≤100 mmHg, ou
c. Frequência respiratória ≥ 22/min.
A avaliação SOFA fora do ambiente de cuidados intensivos não é praticável na estratificação inicial rápida do
doente com sépsis, pois é demorada e requer alguns resultados analíticos. O qSOFA é menos robusto do
que o SOFA, mas pode ser feito rapidamente e não requer exames laboratoriais
O qSOFA não é parâmetro de diagnóstico da sépsis, mas sim uma ferramenta de estratificação do risco do
doente com sépsis. Um score ≥ 2 do qSOFA sugere um maior risco de evolução desfavorável.
3. Choque Séptico é um subgrupo da sépsis no qual profundas alterações circulatórias, celulares e metabólicas
aumentam substancialmente o risco de mortalidade. São doentes com sépsis que se encontram gravemente
doente.
Os doentes com choque séptico são identificados clinicamente se, apesar de uma ressuscitação fluida
adequada, necessitam de vasopressores para manter PAM ≥65 mmHg e lactato < 2 mmol/l.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS
• Leucocitose ( >12.000/uL), leucopenia (< 4000/uL) e/ou > 10% de formas imaturas com leucócitos normais
• Proteina C-reativa plasmática (PCR) superior a 2SD acima do valor normal
Variáveis hemodinâmicas
• Hipotensão arterial (PAS <90 mmHg, PAM<70 mmHg, ou PAS diminuída >40mmHg no adulto ou 2SD abaixo do
valor normal para a idade)
SÉPSIS E CHOQUE SÉPTICO SÃO EMERGENCIAS MEDICAS, PELO QUE UMA VEZ IDENTIFICADAS, O
TRATAMENTO E RESSUSCITAÇÃO DEVEM COMEÇAR RAPIDAMENTE, com controlo do foco infecioso, antibioterapia
e Fluidoterapia.
A reavaliação frequente da volemia do doente é crucial.
Nos doentes com hiperlactacidemia, como marcador de hipoperfusão tecidular, a ressuscitação deve ser orientada
até à normalização dos lactatos. No entanto, se o paciente tiver uma PA e um débito urinário adequado e a dose de
vasopressor em titulação descendente, mas tem um lactato elevado persistentemente, o fluido adicional comporta o
risco de ressuscitação excessiva e sobrecarga de volume.
A. RESSUSCITAÇÃO INICIAL
o Fluidos cristalóides no mínimo 30 mL/ kg ev, em bólus de 500 ml, a administrar nas primeiras 3h;
o Adicionar albumina a 4% nos doentes com hipotensão refractária.
o Não utilizar hidroxietilamido (Voluven®) nem colóides (gelatinas, dextrano ou amido)
o Após fluidoterapia, reavaliação do estado hemodinâmico. Variáveis fisiológicas: frequência cardíaca,
pressão arterial, saturação arterial oxigénio, frequência respiratória, temperatura, debito urinário (> 0,5
ml/kg/h). Variaveis invasivas: PVC (8-12 mmHg) e SvcO2 (>70%) e lactatos (<2). Avaliação
ecocardiografica.
o Objetivo: PAM >65 mmHg e normalização da lactacidemia.
B. TERAPEUTICA VASOPRESSORA
Se após ressuscitação inicial o doente mantem PAM <65 mmHg; CHOQUE SÉPTICO
o Administração por acesso venoso central;
o Noradrenalina é o vasopressor inicial de eleição;
o Associar vasopressina (máximo 0.03 U/min) ou adrenalina, caso não se atinja o objetivo PAM > 65 mmHg;
o Associar vasopressina (máximo 0-03 U/min) se se pretende diminuir a dose de noradrenalina;
o Utilizar dopamina em situações excepcionais: doentes com baixo risco de taquiarritmias e com
bradicardia; NÃO deve ser utilizada dopamina em baixa para proteção renal.
o Associar dobutamina se persiste hipoperfusão;
o Se o choque não resolve, deve ser avaliada a função cardíaca.
C. CORTICOTERAPIA
o Hidrocortisona 200 mg/dia reservada para as situações de choque séptico refratário a Fluidoterapia de
ressuscitação e vasopressores, em doses adequadas.
Sépsis
Na próxima 1ª hora
Rastreio séptico
Antibioterapia empírica de largo espetro
(tabela 2)
Nas próximas 3h
§ Dosear lactatos
§ Colher hemoculturas antes de administrar antibiótico, bem como outros produtos (não atrasar ATB > 45min)
§ Administrar ATB de largo espetro (durante a primeira hora)
§ Se hipotensão ou lactatos ≥4 mmol/L: fluidoterapia ressuscitação: 30 ml/kg cristalóide, em bólus rápido de
500mL.
NEUTROPENIA FEBRIL
Graziela Carvalheiras e Álvaro Ferreira
Introdução
Apesar dos grandes avanços na prevenção e tratamento da neutropenia febril (NF), esta continua a ser uma das
principais preocupações em relação às complicações da quimioterapia nas doenças oncológicas. A neutropenia febril
(NF) é uma das principais causas de morbilidade, utilização de recursos de saúde e de perda de eficácia da
quimioterapia, quer pela influência que tem no atraso da mesma, bem como na redução de dose.
A mortalidade associada a NF tem vindo a diminuir, mas continua a ser significativa, sendo cerca de 5% nos tumores
sólidos e cerca de 11% nas doenças hematológicas oncológicas.
A NF deve ser encarada como uma emergência médica e o seu sucesso depende do reconhecimento imediato e,
rápida instituição de tratamento.
Definições
§ Neutropenia: contagem absoluta de neutrófilos <1500 cel./ μL.
Contudo, o risco de infeção grave aumenta para valores <500 cél./μL, sobretudo se tem uma duração> 7
dias.
§ Neutropenia febril: temperatura > 38,5ºc ou duas medições sucessivas> 38,0ºc com duração de 2h e, contagem
absoluta de neutrófilos <500 cél./μL.
§ Nos doentes sob corticoterapia, a febre pode estar “mascarada”. Assim, nestes doentes a presença de
síndrome de resposta inflamatória sistémica (SIRS)- deve levantar a suspeita clínica de NF.
§ Doentes de baixo-risco: doentes com neutropenia <500 cel/ μL com duração ≤7 dias, ausência de
comorbilidades ou ausência de insuficiência hepática ou renal graves.
§ Doentes de alto-risco: doentes com neutropenia <500 cel/ μL com duração> 7 dias, e presença de pelo
menos uma das seguintes condições:
- Comorbilidades com potencial de risco de complicações: instabilidade hemodinâmica, mucosite oral
que interfere com a deglutição ou mucosite gastrointestinal que causa diarreia grave, sintomas
gastrointestinais (dor abdominal, náuseas e vómitos, diarreia), alterações do estado neurológico na
apresentação, infeção de cateter vascular (sobretudo cateter tunelizado), infiltrados pulmonares de
novo ou hipoxemia, doença pulmonar crónica, infeção complexa na data do diagnóstico.
- Uso de alemtuzumab nos últimos 2 meses.
- Aparecimento da febre quando o doente neutropénico está hospitalizado.
- Neoplasia em progressão.
- Transaminases> 5x valor normal.
- Insuficiência renal com clearance creatinina <30 mL/min.
- MASCC risk (Multinational Association for Supportive Care in Cancer) <21.
Características Score
Neutropenia febril sem sintomas ou sintomas ligeiros 5
Ausência de hipotensão (TA sistólica > 90 mmHg) 5
Ausência de doença pulmonar obstrutiva crónica 4
Doença oncológica hematológica ou tumor sólido sem infeção fúngica prévia 4
Ausência de desidratação que exige fluidoterapia ev 4
Neutropenia febril com sintomas moderados 3
Doentes em ambulatório 3
Idade <60 anos 2
Score ≥ 21 significa baixo risco de complicações.
J Clin Onc (2000)18:3038-3051
Tabela 1 - MASCC risk score
§ História clínica completa e exaustiva, com revisão de todos os aparelhos e sistemas. Importa ainda saber:
esquemas e datas de quimioterapia, uso de antibioterapia profilática prévia, uso concomitante de
corticoides, infeções prévias e isolamento de agentes infeciosos com antibiograma, cirurgias recentes,
presença de cateteres centrais, presença de causas não-infeciosas para a febre.
§ Exame físico completo, com ênfase para a pele, cavidade oral, orofaringe, pulmões, abdómen e região
perianal. A ausência de pús é frequente. Sinais e sintomas de uma infeção podem apenas surgir pela
primeira vez, aquando da recuperação da neutropenia.
§ Hemograma completo: determina a amplitude da neutropenia. Deverá ser uma avaliação diária.
§ Função renal, função hepática: Para definir as comorbilidades
§ Hemoculturas: 2 colheitas de locais diferentes; se presença de um cateter venoso central: uma periférica e
outra colhida de um acesso venoso central. A febre pode ser a única manifestação de uma bacteriemia.
A colheita de hemoculturas devera preceder sempre o início de antibioterapia empírica.
§ Exames culturais de locais suspeitos: urina, secreções brônquicas, líquido cefalorraquidiano, liquido ascítico,
exsudado feridas partes moles, etc.
§ Marcadores fúngicos séricos: Para os doentes NF de alto risco de complicações, já internados. Por exemplo:
pesquisa de Aspergillus galactomanano.
§ Exames de imagem. Não devem atrasar o início da antibioterapia empírica. A tomografia computorizada é
mais útil no diagnóstico. O rx pulmonar pode não mostrar alterações durante o estado de neutropenia
grave, podendo surgir os infiltrados após a recuperação da neutropenia.
§ Investigação adicional: broncofibroscopia, biópsia.
Tratamento
§ Tratamento Empírico
Vários estudos documentam uma mortalidade elevada (até 70%) quando se verifica um atraso no início de
antibioterapia empírica. Todos os doentes oncológicos que se apresentam com NF devem iniciar
antibioterapia empírica de largo espectro após colheita de hemoculturas, e antes de prosseguirem com a
investigação etiológica.
O tempo de início da antibioterapia empírica não deverá exceder os 30 minutos.
Avaliação inicial
Temperatura, PA e pulso, FR e GSA
História clínica
Exame físico
30 min
Intervenção inicial
- Fluidoterapia
- Hemograma completo
- Hemoculturas: CVC + periférica, ou então 2 periféricas separadas
- Bioquímica: glucose, ureia e creatinina, Na+ e K+, enzimas hepáticas, PCR
60 min
Antibioterapia empírica
Definição
Qualquer estado febril com ou sem outra sintomatologia associada, com início durante ou após uma viagem a outra
área geográfica fora do nosso país.
A febre pode ser uma manifestação de um processo minor e auto-limitado ou pode ter subjacente uma doença
rapidamente progressiva e ameaçadora de vida. A avaliação deve focar três questões fundamentais:
• Quais as infecções possíveis de contrair tendo em conta o destino e quando é que a exposição pode ter
ocorrido?
• Qual dessas infecções é mais provável tendo em conta os achados clínicos, medidas pré-viagem e
potenciais exposições?
• Qual ou quais dessas doenças é tratável ou transmissível ou ambas?
Existem, assim, informações essenciais e ter em consideração na história clínica do viajante regressado:
Geografia
• Países visitados ou de passagem, zonas rurais ou urbanas
• Datas da viagem e duração de estadia em cada local (incluindo aeroportos)
• Meios de transporte
• Tipo de acomodação
Actividades e exposições
• Relações sexuais ou contactos íntimos (tipo, número de parceiros, uso de protecção)
• Contacto com animais ou produtos de origem animal
• Presença de artrópodes
• Contacto com agulhas ou exposição a sangue (agulhas partilhadas, injecções, acupunctura, tatuagens,
piercings, procedimentos dentários, transfusões…)
• Ingestão de água não tratada, alimentos crus, produtos não pasteurizados
• Contacto com água e solo (actividades recreativas como montanhismo, nadar em lagos, caçar...)
• Idade e género
• Co-morbilidades e antecedentes cirúrgicos
• Infecções passadas
• Imunizações
• Medicação crónica
• Consulta pré-viagem
• Uso de terapêutica profilática
• Gravidez
Febre + rash Dengue, chikungunya, ricketsiose, febre entérica, síndrome retroviral agudo, sarampo
O exame físico deve incluir a avaliação de existência de lesões cutâneas, linfadenopatias, alterações da retina ou
conjuntiva, visceromegalias como hepatomegalia ou esplenomegalia, lesões genitais e achados neurológicos.
A primeira avaliação de um doente que regressa dos trópicos com febre, deve incluir:
• Hemograma completo
• Bioquímica com enzimas hepáticas
• Sedimento urinário
• Hemoculturas
• Esfregaço sanguíneo para malária
• Radiografia do tórax
Qualquer estudo adicional estará dependente da avaliação da exposição e outros factores. Se há suspeita de
malária por Plasmodium falciparum, o teste deve ser feito com urgência e, caso seja negativo, deve ser repetido. Um
primeiro teste negativo não deve adiar o início de terapêutica anti-palúdica.
INICIAR DE IMEDIATO
TX EV COM QUININO
+ DOXI
ou Presença de: Orientação para reavaliação pela
(Artesunato EV) especialidade
- Anemia
- Hiperlactacidemia
- Hipoglicemia
- Hiperparasitemia
Não
Nota: ACT – Terapêutica baseada em combinações com artemisinina (artemeter + lumefantrine; artenimol + piperaquina)
Definição
As infecções da pele e tecidos sub-cutâneos classificam-se dependendo do tipo de lesão e dos agentes etiológicos
mais comuns. Estes podem ser bactérias, fungos ou vírus. São caracterizadas por inflamação aguda, difusa,
edematosa, supurativa e disseminada, que atinge a derme e o tecido subcutâneo e frequentemente estão
associadas a sintomas sistémicos como mal-estar e febre. Infecções necrotizantes dos tecidos moles atingem
profundamente o tecido subcutâneo resultando na destruição da fáscia e do tecido adiposo, podendo ser
potencialmente fatais e obrigando frequentemente desbridamento cirúrgico.
Erisipela - Caracteriza-se por envolvimento importante dos vasos linfáticos da derme. Habitualmente a área de
inflamação destaca-se com algum relevo, indicando distinta demarcação entre o tecido envolvido e o normal. É
causada por Streptococos β - hemolítico do grupo A, menos frequentemente do grupo C ou G e, mais raramente, por
Staphylococcus aureus. A erisipela por Streptococos β - hemolítico do grupo A é a causa mais comum de infecção
grave dos tecidos moles em indivíduos saudáveis.
Celulite - É um processo infeccioso que atinge a derme profunda e o tecido subcutâneo e nem sempre é clara a
distinção entre tecido infectado e não infectado. S. aureus e Streptococos do grupo A são os agentes etiológicos
mais comuns mas ocasionalmente outras bactérias podem ser implicadas, como o Haemophilus influenzae, bacilos
Gram-negativos e, ainda, fungos, como Cryptococcus neoformans.
Sintomatologia
Embora as duas condições, erisipela e celulite, quando típicas, possam ser distinguíveis, há uma variabilidade do
envolvimento tecidular, que torna a diferenciação nem sempre tão clara. Ambas as condições apresentam
manifestações de sinais locais de inflamação (eritema, edema, calor e dor) e, na maioria das vezes, febre, sendo a
linfangite e/ou a linfadenite também frequentes.
Marcadores bioquímicos
Não existe nenhum marcador específico. Em geral, são observadas alterações hematológicas, como a leucocitose e
elevação da velocidade de sedimentação. Os títulos de anti-estreptolisina O (ASO) poderão estar elevados após as
infecções estreptocócicas, mas, em geral, reflectem infecção prévia.
O estudo também deve ser dirigido à avaliação da etiologia, essencialmente quando se está perante um quadro
mais grave, com atingimento sistémico. Assim, devem ser colhidas hemoculturas e, na existência de exsudado, este
deverá ser colhido para estudo microbiológico. Pode ainda ser realizada cultura de um fragmento da borda da lesão
primária. As culturas para fungos e micobactérias estão indicadas para os casos atípicos.
Tabela 1
Tabela 2
sim
não
Iniciar tx empírico EV
para Streptococcus β Iniciar tx empírico VO
hemolítico: Ceftriaxone para Streptococcus β # Critérios para MRSA
Ou hemolítico: Amox/clav (tabela 1)
Amox/clav ou Colhe H+BQ+HC;
ou Flucloxacilin realização de imagem
Flucloxacilina (ver EAD)
CEFALEIAS AGUDAS
Rui Felgueiras
Primeiro passo na abordagem do doente com cefaleia: distinção entre cefaleias primarias/idiopáticas e secundarias.
Cefaleias Primárias
• Duração de 4-72h
• Unilateral
Enxaqueca • Pulsátil
• Moderada a severa
• Agravada pelo exercício
• Náuseas ou vómitos
• Foto e fonofobia
• Hemicrania paroxística
Outras cefaleias trigemino-autonómicas • Hemicrania continua
• SUNCT
• SUNA
Cefaleias Secundárias
Trauma
Infeção
Perturbações da homeostase
Outras
Arterite temporal VS
Cefaleia
Secundária
Primária
Definição
A Definição de sintoma neurológico focal: sintomatologia secundária a disfunção neurológica de um determinado
local (focal) do sistema nervoso central, podendo ter uma etiologia isquémica (quando respeita território vascular e
se presume essa etiologia) ou outra.
Sintomas focais
• Sintomas motores
- Fraqueza ou descoordenação de um lado do corpo, em todo o hemi-corpo ou apenas em parte
(hemiparésia, monoparésia ou apenas a mão)
- Fraqueza simultânea bilateral*
- Dificuldade na deglutição*
- Desequilíbrio*
§ Alterações da fala/linguagem
- Dificuldade em entender ou expressar-se
- Dificuldade na leitura (dislexia) ou na escrita
- Dificuldade no calculo
- Fala arrastada*
§ Sintomas sensitivos
- Alteração da sensibilidade de um lado do corpo (todo ou parte)
§ Sintomas visuais
- Perda de visão monocular (em todo ou parte)
- Perda de visão de metade ou um quarto do campo visual
- Cegueira bilateral
- Visão dupla*
§ Sintomas vestibulares
- Sensação de movimento do ambiente ou do próprio*
§ Sintomas cognitivos/comportamentais
- Dificuldade em se vestir (apraxia do vestir) ou de outras tarefas
- Esquecimento*
§ Sintomas assinalados com *
- não determinam necessariamente uma etiologia vascular exceto se documentado por imagem lesão
congruente com o défice ou se associa a outros défices neurológicos focais definitivos.
Definição de AIT
§ Síndrome clínico caracterizado por perda aguda de função cerebral ou monocular, cujos sintomas duram
menos de 24h e se julgam ser devidos a um inapropriado aporte de sangue cerebral ou ocular consequente
de baixo fluxo, trombose ou embolismo associado a doença das artérias, coração ou do sangue.
AVC
≤ 6h > 6h de evolução
• Excluir hemorragia
Excluir alterações hematológicas que contra-
• Avaliar área enfartada/penumbra indiquem a trombólise
• Documentar o vaso ocluído
Tratamento
Via Verde AVC
Suspeita de AVC com
Suspeita de AVC com
>6h de sintomas na circulação anterior*
> 12h de sintomas na circulação posterior < 6h de sintomas na circulação anterior*
< 12h de sintomas na circulação posterior
* considerar seleção para tratamento de reperfusão cerebral
com estudo de perfusão por TC
TC s/ contraste
TC s/ contraste +/-
Angio-tc e perfusão
s / hemorragia * c / hemorragia
s / hemorragia
Tratamento médico
Circulação posterior com oclusão
Circulação anterior
da basilar
4,5h - 6h ou Considerar trombólise EV se
<4,5h sem CI para trombolítico <4,5h sem CI para trombolítico tratamento endovascular
indisponível; contactar
intervencionista de prevenção;
Preparar a transferência.
Iniciar trombólise EV; Verificação dos critérios para
Verificação dos critérios para tratamento endovascolar;
tratamento endovascular;
Contactar intervencionista de Contactar intervencionista de
prevenção;
Prepararprevenção: Preparar a transferência
a transferência.
Ausência de enfarte extenso estabelecido? Trombectomia
Oclusão de grande vaso?
Penumbra isquémica extensa?
sim
Trombectomia
não
Tratamento médico
Síndrome Vertiginoso
Doentes com FRV Doentes jovens sem FRV Início associado a triggers habituais
Início abrupto, espontâneo Início subagudo de enxaqueca
Outros sintomas associados de Duração de dias a semanas Duração de segundos a dias
défices do tronco/cerebelo Associado a outros sintomas Associado a cefaleia foto e fonofobia
Nistagmo central(vertical) neurológicos focais Exame normal ou com alterações
inespecíficas
História Clínica
EOT à Glasgow<8
- O máximo de informação deve ser obtida de terceiros!
- Evolução da alteração da consciência
- Sinais focais Glicose + tiamina
- Episódios convulsivos ou défice focal transitório
- Sintomas recentes
- História de trauma
- Patologia prévia: neuropsiquiátrica, cardíaca, pulmonar, hepática, Naloxona 0,4-2mg ev
renal ou oncológica Flumazenil 0,2-1mg ev
- Abuso de álcool ou drogas
- Medicação em curso
- Condição social Colocar sonda gástrica
Exame Neurológico
OLHOS
PADRÃO RESPIRATÓRIO
EXAME MOTOR
- Postura: descorticação à lesão cortical, capsula interna ou tálamo; descerebraçãoà lesão no tronco)
- Mioclonias, fasciculações, tremor
- Tónus muscular: assimetrias, rigidez
- Reflexos miotáticos e Babinski
SINAIS MENINGEOS
TEMPERATURA
SATURAÇÃO PERIFÉRICA
- ↓Sat. O2 à Hipóxia
FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA
PELE E MUCOSAS
- Mordedura língua à convulsões
- Lesões traumáticaà equimoses periorbitárias, sinal de Battle
- Petéquias, equimoses à PTT, meningococemia, ricketsiose, vasculites
- Hemorragia sub-ungueal à endocardite
- Icterícia à falência hepática
- Coloração rosada à intoxicação por CO
- Palidez à anemia, urémia, mixedema
- Sudorese à hipoglicemia, feocromocitoma, infecção
- Trajecto de agulhasà toxicodependências
- Odor à cetoacidose, fetor hepaticus, odor urémico, organofosforados, cianeto
Exames complementares
Glicose
Gasimetria (pH, pO2, pCO2, Na, Ca, MetHb, HbCO, lactatos) ECG
Hemograma, ponderar esfregaço/gota espessa TC cerebral/ RNM cerebral
Função renal e inograma (Na, K, Ca, Mg, Pi) EEGà Permite avaliar estado de mal
Albumina, proteínas totais epilético (não convulsivo); coma
Provas hepáticas hepático surge padrão característico
LDH, CK
(ondas trifásicas bilaterais, simétricas)
Estudo da coagulação
Amónia Punção lombar à risco de
Despiste de drogas na urina encravamento; despiste de infeção
Paracetolémia SNC, HSA
Função tiroideia e adrenal
Serologia VIH
CRISE CONVULSIVA
Arlindo Guimas
Crise Convulsiva
Diagnósticos Diferenciais
Crises o Sincope
o Acidente isquémico transitório
o Crises parciais simples o Drop attacks
o Crises parciais complexas o Amnésia global transitória
o Crises generalizadas o Enxaqueca
o Patologias paroxísticas do movimento
o Evento psicogénico
História Clínica
Circunstâncias do evento, pré ictus, ictus, pós ictus, crises, febre, trauma, doença neurológica (epilepsia),
co-morbilidades, fármacos, álcool, tóxicos, hist. familiar
Exames Complementares
Glicemia Capilar
Gasimetria (pH, pO2, pCO2, Na, Ca, HbCO, MetaHb, lactatos, glicemia)
Hemograma
Função renal
Ionograma (Na, Ca, Mg)
Provas hepáticas
Amónia
CK, LDH
PCR
Doseamento de anti-comiciais
TAC cerebral
TC cerebral contrastado (suspeita de lesão ocupante de espaço)
RM cerebral
EEG (se suspeita de estado de mal, estado de mal não convulsivo, coma induzido no estado de mal)
Etiologia
Crises mantidas
Não recupera da consciência
A introdução de terapêutica anti-comicial crónica deve ser ponderada no contexto global do doente e
no potencial risco de recidiva!
Definição
A definição de lesão renal aguda (LRA) tem sido motivo de debate intenso ao longo da última década. Atualmente, a
AKIN (Acute Kidney Injury Network) define a LRA como uma redução de débito urinário para <0,5 mL/Kg/h ao longo
de pelo menos seis horas e/ou aumento da creatinina sérica num intervalo de tempo bem estabelecido de 48 h.
Baseando-se na Classificação RIFLE, a AKIN propõe ainda uma classificação da LRA em estadios de acordo com o
incremento da PCr e da diminuição do débito urinário (ver tabela 1)
Creatinina aumento absoluto ≥0,3 mg/dl aumento ≥3x o basal ou PCr ≥ 4.0 mg/dl
Plasmática
aumento ≥2-3x o basal
ou ≥1.5-2x o basal com um aumento recente ≥0,5 mg/dl
Diurese
<0,5 ml/kg/h por mais de 6 <0,5 ml/kg/h por mais de 12 <0,3 ml/kg/h por 24 horas ou anuria por
horas horas 12h
Tabela 1.
Etiologia
A LRA é uma síndrome com várias etiologias possíveis. Uma vez que o tratamento consiste essencialmente na
reversão da causa, é essencial uma correta abordagem diagnóstica
A LRA pode classificar-se em 3 grandes grupos etiológicos:
Perda de volume intravascular/ volume Hemorragia, perdas gastrointestinais, perdas renais, perdas cutâneas,
Pré-Renal circulante efectivo. Alteração da auto- pancreatite
regulação da perfusão glomerular ICC, Doença hepática, síndrome de compartimento abdominal, drogas.
Investigação sumária
Com uma adequada história clinica, exame objectivo e alguns exames auxiliares podemos inferir o grupo etiológico
da LRA.
1. LRA pré-renal: história sugestiva de perdas volémicas, uso de fármacos que comprometam a capacidade de
auto-regulação da perfusão glomerular (IECA, ARA2...). Hipotensão, sinais de redução do liquido extracelular.
2. LRA pós-renal: História de patologia litiásica ou prostática, anúria súbita, incontinência ou sintomas de
prostatismo, clínica sugestiva de cólica renal.
EAD: Ecografia renal com hidronefrose ou evidencia de obstrução da via urinária
3. LRA intrínseca: história de uso de nefrotóxicos, introdução recente de fármacos associados a nefrite
intersticial aguda, história sugestiva de patologia inflamatória multissitémica (perda de peso, artralgias, rash
petequial, hemoptises...), traumatismo com necrose muscular, hemólise maciça.
EAD: Exame de urina com sedimento urinário e proteinúria permite-nos inferir qual o compartimento estrutural
renal atingido na LRA. Glomerulonefrite: microhematuria, eritrócitos dismórficos / cilindros eritrocitários,
proteinuria que pode ser nefrótica. Nefrite intersticial aguda: leucocituria e proteinuria não nefrótica. Necrose
tubular aguda: proteinúria ligeira a moderada, cilindros granulosos.
Os dados obtidos durante a investigação sumária poderão levar depois a realização de outros exames
auxiliares de diagnóstico com vista a afirmação/exclusão de etiologias especificas (rabdomiolise, vasculite
sistémica, lupus...)
Tratamento
O tratamento da LRA passa sempre pelo tratamento da causa subjacente. No entanto é importante assegurar um
tratamento de suporte eficaz até resolução da causa:
- evitar nefrotóxicos (fármacos nefrotóxicos, contraste endovenoso, atenção às doses de fármacos ajustados à TFG)
- optimizar a perfusão renal (melhoria do perfil hemodinâmico)
- corrigir alterações hidroelectrolíticas e ácido-base subjacentes (sobrecarga de volume, hipercaliémia, acidemia)
- Ter em mente as possíveis complicações após restabelecimento do fluxo urinário (cistite hemorrágica com
descompressão vesical demasiado rápida e a diurese hipotónica)
- avaliar as indicações para diálise urgente: acidemia e alterações electrolíticas graves sem resposta à
terapêutica médica, intoxicações (salicilados, metformina, lítio, metanol, etilenoglicol), sobrecarga de volume
sem resposta aos diuréticos, uremia.
Aumento da PCr ≥0,3 mg/dl ou >1,5x o basal e/ou debito urinário <0,5 ml/kg/h em 6 h
Investigação sumária
Pré-Renal
Sedimento urinário e
química normais,
ICC/ doença hepática descompensadas, Hipoperfusão renal por
Sépsis, Anafilaxia , Hipercalcemia, Hipertensão alterações
intrabdominal. hemodinâmicas
Drogas: AINEs, IECA/ARA, aminoglicosídeos,
contraste ev, vasopressores
Eritrocitúria
Infecções,
dismórfica, cilindros Glomerulonefrites
Sintomas e sinais de vasculite sistémica
eritrocitários.
Proteinúria,
Fármacos (antibióticos, AINEs, citotóxicos, IBP,
Leucocitúria,
alopurinol);
eritrocitúria, Nefrite intersticial
Pielonefrite;
eosinofilúria, aguda
Doenças linfoproliferativas; doenças auto-
Intrínseca
cilindros
imunes.
leucocitários
Ecografia com
Estados pró-trombóticos, Doença atero- trombose/dissecção Vascular
embólica, Pós-cirurgia renal da artéria e/ou veia
renal
Litíase renal;
ao fluxo urinário na
Traumatismo vertebromedular; Ureteral, Vesical,
ecografia;
Patologia vesical: neoplasia, bexiga Uretral
Hematúria (litíase,
neurogénica;
neoplasias)
Patologia prostática ou peniana
Tratamento
Da causa subjacente
De suporte:
- evitar nefrotóxicos
- optimizar a perfusão renal (melhoria do perfil hemodinâmico )
- corrigir alterações hidroelectrolíticas e ácido-base subjacentes )
- avaliar as indicações para diálise urgente
Definição
Doença renal crónica define-se como anormalidade funcional ou estrutura renal presente por mais de três meses,
com implicações para a saúde A classificação da DRC em estádios faz-se se acordo com a taxa de filtração
glomerular. Estádios crescentes implicam perda progressiva de capacidade funcional residual até á necessidade de
inicio de terapêutica de substituição da função renal. É uma doença com incidência e prevalência crescentes a nível
mundial . A população de DRC em Portugal é, maioritariamente, idosa e com elevada carga de comorbilidade.
Classificação da DRC
2
Classe TFG (mL/min/1,73 m ) Grau de função
G1 ≥ 90 Normal/Elevada
G2 60-89 Ligeiramente diminuída
G3a 45-59 Ligeira a moderadamente diminuída
G3b 30-44 Moderada a severamente diminuída
G4 15-29 Severamente diminuída
G5 <15 Falência renal
Hipercalémia
Hipermagensemia
Hiponatremia
Pericardite
Hemorragia por disfunção plaquetar
2. A exposição a um ambiente urémico confere ao doente renal perfil de risco CV aumentado. Além de uma maior
probabilidade de evento cardiovascular, estes doentes tem pior prognóstico vital após EAM, com maior risco
de IC e morte súbita. Todos os doentes com DRC devem ser considerados de elevado risco para eventos CV.
3. O compromisso imunológico associado à uremia justifica uma incidência de complicações infeciosas major 3 a
4 vezes superior à população geral
4. A perda de reserva funcional renal acarreta um elevado risco de LRA. Todos os doentes com DRC devem ser
considerados de elevado risco para LRA
5. Uma vez esgotada a reserva funcional renal que permita ao doente permanecer assintomático, é iniciada
terapêutica de substituição da função renal quer através de transplante renal ou de diálise. O inicio de uma
técnica dialítica associa-se a risco particulares.
A hemodiálise obedece a um esquema de três sessões semanais. A eliminação de solutos urémicos, potássio,
magnésio, fósforo e excesso de água é feito com passagem do sangue do doente através de um filtro com solução
de diálise, pobre nos elementos que se pretendem remover, em contracorrente. Os acessos vasculares para
hemodiálise são a fístula arteriovenosa (FAV) o cateter venoso central (CVC) e a prótese arteriovenosa (PAV).
A Diálise peritoneal faz uso do peritoneu como membrana onde é instilado um fluido dialisante através de um cateter
implantado na cavidade peritoneal. Esta técnica é continua e realizada diariamente, pelo doente.
O doente em diálise peritoneal com complicação associada á técnica (peritonite, hemoperitoneu, disfunção de
cateter) deve ser avaliado por equipa médica e de enfermagem com experiência em DP.
Hipercalémia grave (K> 7 mmol/L ou com repercussão ECG) resistente a medidas conservadoras
Definição
O transplante renal (TR) é a forma preferida de tratamento da doença renal crónica estadio 5 conferindo aos
portadores da doença aumento da sobrevivência e da qualidade de vida.
O enxerto renal é colocado na fossa ilíaca esquerda ou direita e é geralmente palpável. A artéria renal é
anastomosada á artéria ilíaca interna ou externa ipsilateral e a veia renal á veia ilíaca interna ou externa. O ureter é
anastomosado á bexiga. Em geral apenas é implantado um enxerto renal.
Complicações médicas
Infecciosas Hipertensão
Neoplásticas Cardiovasculares
relacionados com doença vascular ateroesclerótica são responsáveis por 30 a 50% da mortalidade após o
primeiro ano de transplante. Estes doentes devem ser sempre considerados de elevado risco vascular
aquando da avaliação no SU, independentemente da idade e da presença de outros factores de risco
vascular ditos clássicos (HTA, DM, obesidade, tabagismo)
2. A Lesão renal aguda é um evento frequente nos doentes com transplante renal e patologia aguda. A
abordagem inicial desta síndrome deve seguir os mesmos passos preconizado para a população geral com
exclusão de causas corrigíveis pré e pós-renais. O envolvimento precoce da Nefrologia, uma vez excluídas a
causas reversíveis atrás enunciadas, é essencial.
3. Os doentes com transplante renal apresentam muitas vezes doença renal crónica (DRC). Assim, as
complicações associadas a DRC, abordadas noutro capítulo, também podem justificar vinda ao SU.
< 1 mês
1-6 meses
> 6 meses
- Infecções oportunistas
- Incidência de infecções
incomuns;
oportunistas - Pneumonia adquirida na
- Agentes: bactérias, comunidade
- Infecções do doente pós-op:
micobactérias, fungos, vírus - ITU
- Aspiração
e parasitas. Variação - (Incidência menor de
- Infecção da ferida
geográfica de agentes infecções oportunistas)
operatória.
- Infecção associada a
- P. jiroveci
cateteres vasculares
- CMV - Tratamento em ambulatório
- ITU
possível na maioria dos
- Internamento muitas vezes casos
- Infecções por agentes MR
necessário
- MR
2. O conhecimento dos principais efeitos adversos dos imunossupressores é importante uma vez que pode
explicar o motivo de procura de cuidados médicos urgentes.
Tacrolimus Semelhantes ao da ciclosporina mas com maior risco de neurotoxicidade. Mais diabetogénico.
Tratamento
O cuidado dos doente com transplante renal no SU bem como bem como a orientação do seu ambiente de
cuidados- internamento ou ambulatório- deve ser sempre feito em conjunto com a equipa de médicos de transplante.
Várias interacções medicamentosas sérias podem ocorrer no contexto da imunossupressão. Os efeitos adversos
possíveis das interacções mais comuns estão explicitadas na tabela abaixo. Estas interacções devem ser
consideradas antes da prescrição de novos fármacos aos doentes transplantados renais.
Os cuidados preconizados para a prevenção da LRA são aplicáveis a esta população de doentes que se considera
de elevado risco para esta complicação.
Definição
A Na abordagem inicial do doente com dificuldade respiratória aguda é importante reconhecer as situações de
perigo iminente e as metodologias para a sua correcção, identificar os mecanismos de hipoxemia e avaliar a
resposta ao tratamento, bem como interpretar os desvios do equílibrio ácido-base e correlacionar com os achados
clínicos.
Achados
A gasimetria de sangue arterial permite identificar situações de perigo iminente para a vida, tais como acidemia
grave (pH < 7,0), hipoxemia grave (PaO2 < 50 mmHg), hipocalémia (<2,5 mEq/L), hipercalémia (>7 mEq/L) ou
hiponatrémia (<115 mmol/L).
A abordagem sistémica da gasimetria deve permitir identificar a causa da hipoxémia (diminuição da FiO2,
hipoventilação, desequilíbrio V/Q, shunt e alterações da difusão alvéolo-capilar), bem como outros desiquilíbrios
hidroelectrolíticos e mecanismos de compensação associados.
Perguntas a formular:
1. Situação de perigo iminente ?
2. A PaCO2 está aumentada ?
3. O pO2(A-a) está aumentado ?
4. Há boa resposta à oxigenoterapia ?
5. Qual é o desvio primário ?
6. As compensações são as esperadas ?
7. Como está o Anion Gap ?
PaCO2 aumentada?
Sim Não
Sim Não
G(A-a) aumentada?
Diminuição FiO 2
Não Sim
Não Sim
EADPOC
Exacerbação Aguda de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
Ana Rego
Definição
A Evento agudo caracterizado por um agravamento dos sintomas respiratórios superior à variabilidade diária e
suficiente para implicar alteração na terapêutica de base, secundário a:
§ Infecções: víricas (Rhinovirus, Influenza) e bacterianas (Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae,
Moraxella catarrhalis, Enterobacteriaceae spp, Pseudomonas)
§ Poluentes/Factores ambientais: tabagismo, exposição profissional, poluição atmosférica
§ Incumprimento terapêutico
Diagnóstico
O diagnostico é clínico. Implica agravamento nos sintomas basais com incremento da dispneia, tosse e/ou volume
ou purulência da produção brônquica.
Estratificação de Gravidade
A integração dos antecedentes, da sintomatologia, e dos dados do exame objectivo permite estratificar níveis de
gravidade:
A gravidade da exacerbação pode ainda ser estratificada com base na clínica usando os Critérios de Anthonisen.
Esta estratificação tem sobretudo importância na selecção dos pacientes candidatos a antibioterapia:
Critérios de Anthonisen
Classificação Anthonisen
Tipo I – Grave Tipo II – Moderada Tipo III – Ligeira
3 sintomas 2 sintomas 1 sintoma
Tabela 2 - Estratificação clínica de gravidade segundo critérios de Anthonisen.
Critérios de Internamento
- Sintomas severos como dispneia em repouso, FR aumentada, SatO2 diminuida, confusão, letargia
- Falência Respiratória Aguda
- Sinais físicos de novo (cianose, edema periférico)
- Falência do tratamento médico inicial
- Presença de comorbilidades importantes (ICC, arritmias de novo, etc)
- Ausência de suporte domiciliário
Tabela 3 – Critérios de Internamento na EADPOC. Adaptado de Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of
COPD, GOLD 2017.
Exacerbação DPOC
ECD
Nível I Nível II Nível III
Ligeira Moderada Grave
Ambulatório Observação Hospitalar Admissão
Corticoide
§ Nível I: Prednisolona oral 40 mg 5-7 dias
§ Nível II e III: Prednisolona oral 40 mg ou equivalente ev 5-7 dias
§ A terapêutica oral é equivalente à intravenosa.
§ O budesonide inalado pode ser uma alternativa aos corticoides orais.
Oxigenoterapia
§ Insuficiência respiratória tipo 1: objectivos de satO2 94-98%
§ Insuficiência respiratória tipo 2: objectivos de satO2 88-92%
§ As máscaras de Venturi permitem fornecer uma uma FiO2 mais acurada que as cânulas nasais.
Metilxantinas
§ Nível II e III: Consideradas 2ª linha em doentes que não respondem às medidas iniciais. Não
recomendadas pelo GOLD 2017 devido aos seus efeitos laterais. Aminofilina 240mg em 100cc SF em 20
minutos
Em todos os doentes internados deve ser monitorizado o balanço hidríco, considerada profilaxia de
tromboembolismo com HBPM e devem ser identificadas e tratadas condições associadas (ICC, TEP, etc).
Antibioterapia
Antibioterapia na Exacerbação DPOC está indicada em:
§ Doentes com 3 sintomas cardinais | Anthonisen tipo I
§ Doentes com 2 sintomas cardinais, se purulência da expectoração for um deles | Anthonisen tipo II
§ Doentes com indicação para ventilação (invasiva ou não invasiva)
A presença de marcadores de inflamação nomeadamente PCR e Procalcitonina tem vindo a ter um papel cada vez
mais relevante na selecção de candidatos a antibioterapia.
A escolha do antibiótico deve ser baseada nos padrões de resistência local e a duração da antibioterapia deve ser
5-7 dias.
Ambulatório Hospital
Suporte Ventilatório
Tabela 6 – Critérios para Ventilação Mecânica Invasiva. Adaptada de, Global Strategy for the Diagnosis, Management and
Prevention of COPD, GOLD 2017
Glossário
ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva
DCI: Doença Cardíaca Isquémica MDI: Metered dose inhaler
DHC: Doença Hepática Crónica MNM: Marcadores de Necrose Miocárdica
DM: Diabetes Mellitus PCR: Proteína C Reactiva
DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica SABA: Short Acting Beta2 Agonists
DRC: Doença Renal Crónica SAMA: Short Acting Muscarinic Antagonist
EADPOC: Exacerbação Aguda de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica UCI: Unidade de Cuidados Intensivos
ECD: Exames Complementares de Diagnóstico VAS: Vias Aéreas Superiores
FEV1: Forced Expiratory Volume in one second VM: Ventilação Mecânica
GOLD: Global Initiative for Chronic Obstrutive Lung Disease VNI: Ventilação Não Invasiva
PNEUMOTÓRAX
Ana Rego
Definição
O Pneumotórax corresponde à presença de ar ou gás na cavidade pleural, secundário a uma comunicação com
atmosfera através da parede torácica; ou a uma comunicação com as estruturas broncoalveolares através da pleura
visceral.
Classificação
Pneumotórax
Primário Secundário
Traumático latrogénico Artificial
(PSP) (PSS)
DPOC Aberto /
Asma Fechado BTT Diagnóstico
DIP BTB
PPJ CVC SC
TP Actividades Toracocentese
CaPulmão VM Acupunctura
Catamenia Risco Terapêutico
Pneumotórax Espontâneo
Ocorre na ausência de um evento precipitante
Primário (PSP)
• Sem patologia pulmonar prévia (conhecida).
• Mas, cerca de 90% dos doentes com PSP têm blebs e bolhas nos ápices.
• Com patologia pulmonar prévia conhecida.
Secundário (PSS) • Catamenial: secundário à presença de focos endometriose torácica na pleura visceral e
migração transdiafragmática, e não doença respiratória subjacente, daí nem sempre ser
classificado como PSS.
Pneumotórax Não Espontâneo
Ocorre como consequência de um evento precipitante
Traumático
• Pós trauma acidental torácico aberto ou fechado.
• Relacionado com pressão em actividades ocupacionais/lazer de risco: piloto, mergulhador.
Iatrogénico • Acidental pós procedimentos médicos.
Estratificação de Gravidade
Clinica exuberante
Consegue completar frases
Cianose
FR < 24 cpm Se falha qualquer dos critérios de
Desvio traqueia
FC 60-120 bpm estabilidade
Instabilidade HD
SatO2 > 90% (21%)
Pulso paradoxal
ACCP Guidelines:
Distância cúpula-apex (a)
Grande > 3 cm; Pequeno < 3 cm
BTS Guidelines:
Distância intra-pleural a nível do hilo (b)
Grande >2 cm; Pequeno <2cm
Índice de Light:
% Pneumotórax: 100 x (1- (Pulmão^3(c) / Hemitórax^3 (d)))
1 cm: Pneumotórax 27%; 2cm: Pneumotóra x 49%
Figura 2 – Estimativa de Tamanho de Pneumotórax (Adaptado de BTS Pleural Diseases Guidelines 2010)
Ecografia Torácica:
§ Permite diagnóstico rápido mas é operador dependente.
§ Eficácia em doentes em decúbito no contexto de emergência (FAST) e UCI.
TAC tórax:
§ Não indicado como rotina, apenas se dúvidas (ex: diferenciar entre bolha gigante e pneumotórax;
diagnóstico de pneumotórax em trauma e doentes ventilados; dúvidas no posicionamento do dreno).
§ Importante na avaliação de causa secundária.
Recidiva
§ Recidiva homolateral do PSP após o 1º episódio: 30%; no 2º episódio: 45-64%; no 3º episódio: 60-80%.
Risco de recidiva contralateral: 10 a 15%.
§ No PSS algumas séries apontem para um ligeiro aumento do risco.
Observação 24 horas
Dreno torácico em drenagem
Oxigenoterapia
subaquática
Alta se estável
Admissão Hospitalar
Follow up breve
Dreno Torácico em
Admissão
drenagem sub- Referenciar para Cirurgia
Observação
aquática Torácica
Oxigenoterapia
Admissão
Drenagem imediata
§ Pneumotórax hipertensivo requer drenagem emergente através de descompressão com abocath 14G, 2º
EIC linha médio-clavicular, com posterior colocação de dreno torácico.
§ Pneumotórax com sinais de instabilidade e/ou dispneia intensa independentemente do tipo ou tamanho,
deve ser orientado para reexpansão pulmonar activa urgente (aspiração ou dreno).
Oxigenoterapia
§ O ritmo de reabsorção do ar é 1.25% do volume pneumotórax por dia. A oxigenoterapia aumenta em 4-6 x
este ritmo, pelo que todos os doentes devem receber oxigénio de alta concentração.
§ No PSS esta deve ser guiada de acordo com existência de risco de hipercapnia.
Prevenção de Recidiva
A pleurodese química através do dreno só deve ser realizada se ausência de condições, recusa ou indisponibilidade
local para procedimento cirúrgico (VATS ou Toracotomia).
A pleurodese por toracoscopia médica é uma alternativa superior à pleurodese através do dreno devido à
capacidade de classificação endoscópica das lesões, possibilidade de intervenção terapêutica e menor índice de
recidiva.
Follow-up
Reavaliação clínica e radiológica às 48h se atitude conservadora.
Importante: Cessação tabágica; evitar actividades alto risco (mergulho); voos comerciais, apenas 4 a 6 semanas
após resolução do pneumotórax.
PNEUMONIA
Critérios major
§ Ventilação mecânica invasiva
§ Choque séptico com suporte vasopressor
Critérios minor
§ FR > 30 ciclos/min ou necessidade de ventilação mecânica não-invasiva
§ PaO2/FiO2 <= 250 ou necessidade de ventilação mecânica não-invasiva
§ Infiltrados pulmonares multilobares
§ Confusão/desorientação
§ Ureia > 65 mg/dl
§ Leucopenia < 4000 células/mm3
§ Trombocitopenia < 100.000 /mm3
§ Hipotermia central < 36ºC
§ Hipotensão com necessidade de reposição agressiva de fluidos
§ Hipoglicemia em doentes não diabéticos
§ Intoxicação alcoólica aguda ou síndrome de abstinência alcoólica
§ Hiponatrémia < 135mEq/L
§ Acidose metabólica sem causa identificada
§ Lactacidemia > 4.0 mmol/L
§ Historial de cirrose hepática
§ Historial de asplenia (anatómica ou funcional)
Adaptado das recomendações da Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society Consensus Guidelines on the
Management of Community-Acquired Pneumonia in Adults (2007).
Demografia
§ Comorbilidades
Neoplasia +30
Total:
Score PORT/PSI - Arnold FW, Ramirez JA, McDonald LC, Xia EL. Hospitalization for community-acquired pneumonia: the pneumonia
severity index vs clinical judgment. Chest 2003; 124:121–4.
0 a 1 pontos – gravidade ligeira (risco de mortalidade < 3%), tratamento em ambulatório geralmente adequado.
2 pontos – gravidade moderada (risco de mortalidade de 9%), tratamento hospitalar (curto) ou em ambulatório com supervisão.
§ Tratamento preferencial: - Amoxicilina/Clavulanato 2,2g 8/8h EV + Azitromicina 500mg/dia EV (se suspeita de Legionella
– adicionar Levofloxacina).
§ Tratamento alternativo: - [Amoxicilina/Clavulanato 2,2g 8/8h EV + Levofloxacina 500mg/dia] ou [Cefotaxime 1g 8/8h ou
Ceftriaxone 2g/dia + Azitromicina 500mg/EV] (se suspeita de Legionella – adicionar Levofloxacina)
Adaptado das recomendações da British Thoracic Society - Guidelines for the Management of Community Acquired Pneumonia in
adults – Update 2009
Leucopenia X X
Adaptado das recomendações da Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society Consensus Guidelines on the
Management of Community-Acquired Pneumonia in Adults (2007).
Adaptado das recomendações da Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society Consensus Guidelines on the
Management of Community-Acquired Pneumonia in Adults (2007).
Streptococcus pneumoniae
Macrolidos, ceflosporinas, clindamicina, doxiciclina,
Não resistente à Pen.G Penicillina G, amoxicilina
quinolonas respiratórias
MIC < 2 mcg/mL
Streptococcus pneumoniae [isolado raro]
Penicilina G ou amoxicilina em alta dose se MIC < 4.
Resistente à Pen.G Cefotaxime, cefriaxone, quinolonas
Vancomicina, linezolide
MIC >= 2 mcg/mL respiratórias
Isoniazida + rifampicina +
Mycobacterium tuberculosis Análise caso-a-caso
pirazinamida + etambutol
Para infecções não complicadas
em doentes imunocompetentes, o
tratamento não é necessário.
Coccidioides spp Anfotericina B
Nos outros casos o tratamento
recomendado é itraconazol ou
fluconazol.
Baseado nas recomendações da IDSA/ATS (2007), combinadas com os dados microbiológicos locais do Centro Hospitalar do
Porto (Hospital Geral de Santo António).
Definição
Derrame pleural parapneumónico é um derrame pleural secundário a uma pneumonia (bacteriana ou vírica) ou a um
abcesso pulmonar. Surge como complicação em 20 a 40% dos doentes internados com pneumonia. É considerado
complicado se for necessário um procedimento terapêutico invasivo para assegurar a sua resolução ou for
confirmada por cultura a presença de bactérias. O empiema é por definição pús na cavidade pleural. A existência
prévia de derrame pleural é condição sine qua non para a formação do empiema. A taxa de mortalidade dos
doentes com derrame parapneumónico é superior à dos doentes com pneumonia sem derrame associado.
Sintomatologia
Os sintomas associados a um derrame pleural parapneumónico podem ser agudos ou crónicos e sobrepõem-se
com os da pneumonia subjacente. As infecções por anaeróbios cursam frequentemente com derrame pleural
crónico associado a emagrecimento e anemia inflamatória.
Marcadores bioquímicos
sim
Se insucesso
Antibioterapia sistémica TC torácico
Toracocentese diagnóstica sob controlo ecográfico
Não
Derrame categoria 3 ou 4 ? Se médio / grande volume: aspiração /
drenagem simples por agulha
sim
Estratificação do derrame pleural parapneumónico para decisão da abordagem em função do risco estimado de
desfecho desfavorável
Risco de
Perfil Bacteriologia do Bioquímica do Indicação para
Categoria desfecho
Anatómico líquido pleural líquido pleural drenagem
desfavorável
Pequeno a
Gram
moderado, livre pH >=
A1 E B0 amicrobiano e E C0 2 Baixo Não
(> 1cm e < 1/2 7,20
culturas estéreis
do hemitórax
Grande, livre (> Marcação no
1/2 do Gram ou
B1 3 Moderado Sim
hemitórax) ou culturas
A2 OU OU C1 PH < 7.20
loculado com positivas
espessamento
pleural B2 pús 4 Alto Sim
Estratificação do derrame pleural parapneumónico para decisão da abordagem de acordo com as recomendações
da American College of Physicians (2000).
Coordenação
Diana Valadares
Catarina Gomes
Alexandre Pinto (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Arlindo Guimas (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Diana Valadares (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Graziela Carvalheiras (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Joana Ramalho (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Filipe Nery (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
Pedro Vita (Assistente Hospitalar Medicina Interna, Hospital Stº António - CHP)
. . . . . . . . . . . . . . . . . V 5.1 - 2018