Artigo Advogado
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mesmo princípio jurídico revelado por essa norma. Num caso, o intér-
prete corrige a infeliz formulação da lei; no outro, completa um pre-
ceito jurídico partindo da formulação parcial dêste, prevista para re-
gular um caso particular, e chegando à regra geral de direito impli-
citamente consagrada pela lei" (op. cito pág. 324) .
5. François Geny, estudando as relações entre a ciência e a
técnica do direito, salienta os casos em que o direito positivo (a lei)
considerado como um meio técnico, é a única fonte de direito, o que
exclui inteiramente, para a elaboração do direito, tôda livre pesquisa,
isto é, todo processo de analogia. E, entre êsses casos, lembra a inter-
pretação nas questões fiscais, que continua no domínio exclusivo da le-
gislação, "no sentido, pelo menos, de que o Juiz não pode estabelecer
impostos nem aumentá-los" (Science et Technique en Droit Privé Po-
sitif, Paris, 1924, tomo IV, pág. 42).
Discordando do grande mestre, Louis Trotabas, num estudo sôbre
Interpretação das leis fiscais (publicado no "Recueil d'Etudes sur les
Sources du droit en l'honneur de François Geny", R. Sirey, Paris
1934, tomo UI, pág. 101-108 e na Revista de Direito Administrativo,
vol. 26, pág. 34), entendendo ser indispensável reconhecer-se o em-
prêgo possível da analogia pelo Juiz fiscal, chega a falar no poder cria-
dor da jurisprudência fiscal. .. !
Essa proposição extremista é absolutamente insustentável no di-
reito brasileiro em face da norma constitucional inserta no § 34 do
art. 141 da Lei Magna.
Vanoni, criticando a doutrina sustentada por Hensel, de que,
no Estado de direito, a invasão da esfera patrimonial do cidadão, pelo
Estado, só é lícita quando prevista em lei, escreve:
"Hensel entende, portanto, de maneira excessivamente rígida e
formal o princípio de que no Estado de Direito os limites da compe-
tência do Estado são ditados pela lei, levando êste princípio as conse-
qüências que não são conciliáveis com a sua verdadeira essência. ~ste
princípio não implica que no Estado de Direito tôdas as relações entre
Estado e cidadão devam ser reguladas por normas expressas de lei, por-
quanto, dessa maneira seria criada uma exigência pràticamente im-
possível de satisfazer, em conseqüência da impossibilidade humana de
prever tôdas as hipóteses possíveis" (op. cit. pág. 330). Ocorra, ou
não, a impossibilidade humana de prever tôdas as hipóteses possíveis,
pode-se responder a Vanoni que, no Brasil, as relações entre o Estado
e o cidadão são reguladas sempre por normas expressas de lei, parti-
cularmente na esfera tributária, à sombra da garantia assegurada na
Constituição, de ninguém poder ser obrigado a fazer ou deixar de fa-
zer alguma coisa, senão em virtude de lei, e que só mediante o estabe-
lecimento em lei pode qualquer tributo ser exigido ou aumentado.
6. J á é tempo de concluir. A nosso ver não há dúvida possível
e a conclusão é uma só: o direito positivo brasileiro não admite o
emprêgo da analogia em matéria fiscal. A tese está amparada na
lição autorizada dos Mestres e tem sido sufragada pela jurisprudên-
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