16 Aula - SOCIEDADES LIMITADAS Continuação
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Essa regra da irresponsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais comporta exceções, ocasiões nas quais os credores da sociedade limitada poderão satisfazer seus créditos
no patrimônio pessoal do sócio.
1ª Exceção → A responsabilização solidária dos sócios pelo capital social não integralizado. (Art. 1.052, fine, CC)
Todos os sócios “[…] respondem solidariamente pela integralização do capital social.”
Quando tal integralização do capital social não ocorre, todos os sócios respondem solidariamente pela quantia não integralizada, mesmo aqueles sócios que já integralizaram
suas quotas.
Ex. Se Antonio, Benedito e Carlos contratam uma sociedade limitada, com capital subscrito de R$ 100.000,00, arcando, respectivamente, com 50%, 30% e 20% desse valor,
cada um deles é responsável pela soma das quantias não integralizadas. Se Antônio integraliza R$ 30.000,00 (de sua quota de R$ 50.000,00), Benedito, R$ 20.000,00 (da quota
de R$ 30.000,00), e Carlos também R$ 20.000,00, então o total do devido à sociedade pelos sócios é R$ 30.000,00. Esse é o montante que os credores da sociedade podem
cobrar, do sócio, para satisfação de seus direitos creditícios. Se os três sócios tivessem integralizado a totalidade do capital social subscrito, nenhum deles poderia, em
princípio, ser responsabilizado com seu patrimônio pessoal por dívidas da sociedade.
2ª Exceção → A responsabilidade pela exata estimação de bens conferidos ao capital social. (Art.1.055, § 1º, CC)
Os sócios respondem solidariamente pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, durante 5 (cinco) anos, a contar da data do registro da sociedade.
Quando a contribuição do sócio se der em bens, estes são avaliados, estimando-se o valor dos mesmos. Esse valor consta no contrato de constituição da sociedade empresária
e faz parte do capital social. Assim, todos os sócios responderão solidariamente com seus patrimônios pessoais, durante cinco anos, pelo valor atribuído a esses bens.
Ex. Um sócio integraliza um bem imóvel atribuindo a este o valor de R$ 100.000,00. Porém, o valor real dele é de R$ 50.000,00. Com isso, durante o período de cinco anos, caso
a sociedade seja cobrada por obrigação para a qual não tenha patrimônio suficiente para cumprir, qualquer dos sócios poderá ser cobrado pessoalmente pelos R$ 50.000,00 de
diferença entre o valor atribuído ao bem imóvel e o valor real dele.
Essa norma é altamente moralizadora e terá o condão de inibir a prática comum de superestimação do valor de bens conferidos por sócios ao capital social das limitadas.
3ª Exceção → Responsabilidade do sócio remisso perante a sociedade.
Há uma distinção entre subscrição e integralização do capital social quando da formação da sociedade empresária:
A subscrição consiste no estabelecimento da quantia com que cada sócio contribuirá.
A integralização consiste na efetiva entrega dessa quantia à sociedade, e não precisa ocorrer necessariamente no mesmo tempo da subscrição.1
Atenção: A responsabilidade do sócio remisso não é responsabilidade subsidiária do sócio pelas obrigações da sociedade, conforme as demais formas de responsabilização ora
analisadas, sendo, antes, responsabilidade perante a sociedade. (Art.1058, CC)
Com relação ao sócio remisso, os demais sócios podem responsabilizar-lhe pelo dano emergente da mora
excluir-lhe da sociedade
reduzir-lhe a quota ao montante já integralizado
O Conselho da Justiça Federal, no Enunciado nº 229 da Jornada III de Direito Civil, pronunciou-se afirmando que nesse tipo de responsabilização dos sócios não há
sequer necessidade de aplicar a desconsideração de personalidade jurídica, ou seja, os sócios enquadrados na prática ilícita prevista nesse dispositivo da lei respondem
direta, pessoal e ilimitadamente com seus bens particulares.
Não se trata de uma desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada, mas de atribuir, ao sócio, os resultados do ilícito de sua autoria.
O sócio administrador que deliberadamente violar a lei ou o contrato social, causando prejuízo à sociedade ou a terceiros, incorrerá na mesma responsabilidade. Nesse caso,
para que a responsabilização do sócio administrador seja direta, pessoal e ilimitada há necessidade de se verificar a existência do dolo em seu ato.
5ª Exceção → Responsabilidade dos sócios segundo as normas de outros ramos do direito e a desconsideração da personalidade jurídica
Art. 135, III do CTN → imputa ao administrador a responsabilidade pelas obrigações tributárias da sociedade limitada em caso de sonegação, mas não no de
inadimplemento. O administrador é responsável tributário pelas obrigações da sociedade limitada quando esta possuía o dinheiro para o recolhimento do tributo, mas
aquele o destinou a outra finalidade, como antecipação de lucro, pagamento de pro labore aos sócios, aplicações financeiras. Não haverá, porém, responsabilidade se
o inadimplemento da obrigação tributária decorreu da inexistência de numerário no caixa da sociedade, por motivo não imputável à gerência.2
Outros dos principais ramos do Direito nos quais há possibilidade de responsabilização dos sócios são:
Direito do Consumidor (Código de Defesa do Consumidor, artigo 28); Em todos esses ramos do Direito há necessidade de serem
Direito Ambiental (Lei nº 9.605, artigo 4º); observados os pressupostos da teoria da desconsideração
normas de prevenção e repressão às infrações à ordem econômica (Lei nº 8.884/94, artigo 18). da personalidade jurídica.
1
A lei não prescreve prazo para a integralização do capital social, contudo, diante do dinamismo e da natureza comercial da atividade empresarial é pertinente que se estabeleça no contrato
social prazo para que os sócios integralizem o capital subscrito. Não obstante a legislação estabeleceu critérios para evitar ou sanar prejuízos à sociedade por eventuais inadimplementos de
sócios pela não integralização do capital social subscrito.
2
Esclareça-se que as referências ao administrador aplicam-se do mesmo modo ao sócio que exerce tal função.
CLT → Os juízes trabalhistas têm, de maneira muitas vezes abusiva, desconsiderado a autonomia patrimonial, responsabilizando direta e pessoalmente os sócios pelas
dívidas trabalhistas da sociedade.
Não é incomum esses juízes determinarem penhora de bens pessoais dos sócios de limitada pelo simples fato de não encontrar numerários da sociedade para
satisfazer o crédito do empregado. Tudo isso, tendo por fundamento o artigo 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, que prima pela proteção ao empregado como
hipossuficiente econômico.
A doutrina e jurisprudência trabalhistas coerentes afirmam que o ingresso no patrimônio pessoal dos sócios deve se dar, em regra – salvo em casos de fraude, etc. –,
nos casos de falência, dissolução irregular da sociedade, se, após exaurido a patrimônio da sociedade, não houver bens suficientes para quitar os débitos trabalhistas.
Walsir Edson Rodrigues Júnior: “Sempre que a pessoa natural usar a pessoa jurídica para cometer um ilícito, a personalidade jurídica da pessoa jurídica poderá ser
desconsiderada e a pessoa natural punida em seu lugar.”
César Fiuza: “Teoria que visa considerar ineficaz a estrutura da pessoa jurídica quando utilizada desvirtuadamente.”
OBJETIVO:
Coibir a fraude e o abuso de direito realizados por meio da sociedade empresária.
IMPORTANTE:
Não há a extinção da sociedade empresária, mas apenas o afastamento específico e momentâneo da sua personalidade jurídica.
• Autonomia da pessoa jurídica regra
• Desconsideração exceção
Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder.
Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde,
porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
O grande avanço da norma elencada no art. 50, CC é instituir uma regra geral para a utilização da desconsideração da personalidade jurídica, não sendo mais necessário utilizar
determinadas leis esparsas à procura de uma solução para coibir certos tipos de fraudes e abuso de direitos.
Ocorrerá desvio de finalidade, sempre que a pessoa jurídica não cumprir a finalidade a que se destina, causando, com isso prejuízos a terceiros. A Alteração de
finalidade original não é desvio de finalidade.
Ex: Transferência de recursos financeiros da sociedade para os sócios ou pessoas ligadas ao sócio com o objetivo de inviabilizar a satisfação de uma dívida exequenda.
Pode ser feito incidentalmente na própria ação de execução, a fim de que o patrimônio dos sócios possa ser atingido pela penhora.
A confusão patrimonial ocorrerá quando não for possível estabelecer claramente o que é da sociedade e o que é dos sócios. (Rol Exemplificativo no §2º do art.50, CC)
Para a completa aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, devem ser adotados os seguintes objetivos:
Coibir:
• a fraude,
• o desvio de finalidade de pessoa jurídica,
• a confusão patrimonial,
Garantir o direito de receber dos credores e
Proteger o instituto da pessoa jurídica.
TEORIA MAIOR quando for constatada a fraude ou o abuso de direito. Art. 50, CC
TEORIA MENOR por mera insatisfação de crédito perante a sociedade. (CDC e Leis: Antitruste, Ambiental, Trabalhista)
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA Ocorre no sentido oposto, isto é, os bens da sociedade respondem por atos praticados pelos sócios.
REFERÊNCIAS:
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa – volume 1 – 17. ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
FIUZA, César. Direito Civil: Curso completo. 13. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 1.
REQUIÃO, Rubens. Abuso de Direito e Fraude através da Personalidade Jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1969.
RODRIGUES JUNIOR, Walsir Edson. Direito Civil: Famílias. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2012.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e Direito Societário – volume 1 - 9.ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.