As Repercussões Da Chegada Do Som No Cinema
As Repercussões Da Chegada Do Som No Cinema
As Repercussões Da Chegada Do Som No Cinema
RESUMO: O som chega ao cinema em 06 de outubro de 1927, com o filme The Jazz
Singer (O Cantor de Jazz). Embora o som tenha trazido novas possibilidades à criação
cinematográfica, sua chegada não foi do agrado de todos. Alguns cineastas como Charles
Chaplin, Sergei Eisenstein e Alfred Hitchcock foram resistentes a esta nova forma de
cinema. Para eles, as consequências negativas desta inovação estavam na perda da
fantasia e do estilo cinematográfico. Diante de tais alegações, o presente trabalho tem por
objetivo estudar se, com o advento do cinema sonoro, o som prevaleceu em detrimento
da arte.
ABSTRACT: The sound comes to the cinema on October 6, 1927, with the film The Jazz
Singer (The Jazz Singer). Although sound has brought new possibilities to
cinematographic creation, its arrival was not to everyone's liking. Some filmmakers like
Charles Chaplin, Sergei Eisenstein and Alfred Hitchcock were resistant to this new form
of cinema. For them, the negative consequences of this innovation were in the loss of
fantasy and cinematic style. Faced with such claims, the present work aims to study
whether, with the advent of sound cinema, sound prevailed at the expense of art.
Introdução
O som chega ao cinema no final dos anos 20, mais precisamente em 06 de outubro de
1927, com o filme The Jazz Singer (O Cantor de Jazz). Nessa nova estética de cinema,
som e imagem sincronizam-se e produzem no espectador o impacto afetivo. É inegável a
importância do som para o cinema, desde a sua chegada. Entre tantas contribuições, o
som existe no filme para guiar o olhar do público e induzi-lo a sentimentos, sensações e
emoções; deixando-o com o olhar deslumbrado. Mas, embora o som tenha trazido novas
possibilidades à criação cinematográfica e tenha dado um grande fôlego aos estúdios –
afinal, a queda da bolsa de Nova York em 1929 levou o mundo à recessão –, sua chegada
não foi do agrado de todos. Os puristas lamentaram essa nova linguagem, ao passo que
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outros a encararam como um avanço. Grandes cineastas como Charles Chaplin, Sergei
Eisenstein, Alfred Hitchcock foram resistentes à nova forma de cinema. Para eles, as
consequências negativas da inclusão do som estavam na perda do estilo cinematográfico
e na perda da fantasia.
Assim, levando em consideração tais fatos, objetiva-se estudar se, com o advento do
cinema sonoro, prevaleceu o som em detrimento da arte, da excelência na arte da
interpretação.
Este trabalho foi dividido em duas partes. A primeira parte apresenta a contextualização
teórica, a origem do cinema, a cronologia do cinema, o cinema mudo, a chegada do som
no cinema, o som e sua atuação dentro do filme e os gêneros cinematográficos. E a
segunda parte traz as considerações finais deste estudo.
1 Contextualização Teórica
O sociólogo Edgar Morin definiu a cultura como um sistema que contamina, segundo
seus entrelaçamentos, ao gerar cruzamentos, a vida real de imaginário e o imaginário de
vida real. Esta conclusão foi um dos resultados de suas pesquisas sobre a cultura de massa,
mais especificamente, sobre o cinema, “[...] meio de comunicação que serviu, durante
todo o século XX, como arena para este comércio simbólico entre fantasia e realidade
[...]” (MORIN, 1989 apud CLARET, 1997, p. 139).
Isto porque os filmes sempre foram exibidos com algum acompanhamento sonoro. Os
irmãos Lumière, refletindo a respeito desse detalhe, contratavam pianistas para conferir
acompanhamento sonoro às imagens, contratavam também um narrador para explicar a
história. Assim, as tentativas sonoras variavam sempre e com o mesmo objetivo, envolver
o espectador.
1902 - Georges Méliés – considerado o primeiro editor icônico, faz a adaptação da obra
de Júlio Verne – Viagem à lua –, considerado o primeiro filme de ficção científica. Méliés
é considerado o pai dos efeitos especiais.
1903 - La passion de Jésus Christ – foi a primeira história com sucessão de quadros, que
compunham uma narrativa, chamada de Tableau Vivant.
1903-1906 – Muitos filmes de perseguição: O grande roubo do trem (1903), famoso filme
de época, considerado ficção e não mais documental, como até então.
1908 - Até então o cinema era vulgarizado; diretores repensam, afinal, queriam que o
cinema fosse visto como arte e almejavam conquistar a burguesia, pensando na parte
econômica – governo impõe regras para melhorar o nível do público.
1908 - Surge o órgão regulador Motion Pictures Patent Content (MPPC), ditando novas
diretrizes para o cinema.
1915 - Estreia um dos filmes da era do cinema mudo – The Birth of a Nation – de D.W.
Griffith.
1927 - Estreia o primeiro filme falado da história do cinema, The Jazz Singer.
Termina aqui, aquela que foi considerada a primeira fase da história do cinema, a do
cinema mudo.
Nos primeiros anos do cinema, os filmes eram compostos somente por imagens, sem
músicas, sem falas, sem trilha sonora de forma geral; o que rendeu a esse período, o nome
de “cinema mudo”.
Entretanto, os filmes não eram assistidos em silêncio absoluto. Segundo Carreiro (2018,
p. 36): “[...] é que aquelas exibições histórias das fotografias animadas não eram feitas
sem som. Precavidos, Louis e Auguste Lumière haviam pensado nesse detalhe e
contratado uma pianista que pudesse providenciar um acompanhamento sonoro às
imagens pioneiras”.
Era comum ter um músico atrás da tela ou em algum canto produzindo algum tipo de som
ao vivo, para acompanhar o filme. Às vezes improvisando, às vezes seguindo uma
tablatura enviada pelos realizadores (ADELMO; MANZANO, 2010). Ou seja, o cinema,
de alguma maneira, sempre representou o universo sonoro. Szaloky (2002 apud
SOARES, 2013) argumenta que “o cinema nunca foi silencioso, porque nunca quis
representar um mundo mudo a espectadores cegos”.
Na realidade, esses primeiros 30 anos de cinema mudo, assim chamados porque os filmes
não tinham som e imagem sincronizados, mesmo antes do surgimento do cinema, já
existia tecnologia para registrar e reproduzir sons. As pessoas iam aos teatros só para
ouvir uma música, reproduzida no fonógrafo, aparelho que data de 1877 (ADELMO;
MANZANO, 2010).
E por que não usá-lo no cinema? Usavam, mas para reproduzir músicas, não sons
sincronizados com imagem; como por exemplo, o som de uma porta ao bater, o trotar de
cavalos etc. Não era possível alcançar esse estágio, pois a tecnologia não permitia a
sincronização: um aparelho reproduzia a imagem, o cinematógrafo; o outro aparelho
reproduzia o som, o fonógrafo. Teria que ser dado play nos dois aparelhos ao mesmo
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O advento do som no cinema trouxe significante contribuição para a fruição da obra. Isto
porque, quando som e imagem se fundem, geram leituras múltiplas e abertas, ampliam o
imaginário do espectador a infinitos horizontes.
Segundo Umberto Eco (1968, p. 20), “Obra aberta, ou seja, aquela que se liberta a um
sem número de interpretações, que não se fecha em si mesma, que apresenta a própria
abertura da vida”.
Desde seu surgimento, em 1895, o cinema conquistou o mundo inteiro, seu sucesso foi
imediato. Isto porque, ele traduzia identificações imaginárias no interior de cada
indivíduo. Por volta de 30 anos, ele reinou absoluto ao criar grandes produções e estrelas;
além de se transformar em uma grande e poderosa indústria (ADELMO; MANZANO,
2010).
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Mas, a força do cinema mudo, a resistência de alguns cineastas à sonorização, vista por
eles como banalização da estética da sétima arte, a oposição e críticas ao som, por parte
dos europeus, reprimiram o avanço nas técnicas de som. Embora, os experimentos nunca
tenham deixados de ser realizados (LEE-MEDDI, 2010).
E no dia 06 de outubro de 1927, em Nova York, com o filme The Jazz Singer (O cantor
de jazz), o cinema se torna sonoro, quando passa a exibir som e imagem sincronizados,
cujo objetivo principal era envolver o público espectador com a narrativa ficcional, como
se o que se via, era a realidade, a busca da ilusão.
Mesmo que de forma precária, em termos de técnica, o som de The Jazz Singer selou de
vez a passagem do cinema mudo para o sonoro, mostrou ao mundo a chegada definitiva
do som à sétima arte. E essa nova estética trouxe enorme expectativa para os olhos ávidos
do espectador. Assim, o cinema nunca mais seria o mesmo.
Até a chegada definitiva do som, em 1927, várias alternativas foram experimentadas para
suprir a falta de som no cinema.
O uso dos intertítulos, que eram cartelas com uma ação escrita ou a fala
dos personagens, músicas com ou sem partituras apropriadas, para a
narrativa específica de cada filme; efeitos sonoros produzidos e
pontuados por instrumentos musicais; sonoplastia ao vivo, atores atrás
da tela; falando ou narrando. (FLORES, 2013, p. 27).
Esses foram alguns dos caminhos encontrados para prover a parte sonora dos planos de
um filme.
Embora, desde 1877, o som já pudesse ser gravado e reproduzido por Thomas Edson,
com seu fonógrafo. E, em 1888, o gramophone de Emile Berliner substitui o fonógrafo
(FLÔRES, 2013).
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Neste percurso, o cinema mudo vai alcançando sua perfeição, mas, se não se reinventasse
poderia sucumbir.
Embora o som tenha trazido novas possibilidades à criação cinematográfica, tenha dado
grande impulso aos estúdios, sua chegada não foi do agrado de todos. Grandes cineastas
como Charlie Chaplin, Sergei Eisenstein, Alfred Hitchcock foram resistentes à nova
estética do cinema.
Chaplin recusou-se a lançar filmes sonoros até os anos 1930 (CARREIRO, 2018).
“É uma pena que, com o advento do som, o cinema tenha assumido, de uma hora para
outra, uma forma teatral. Uma das conseqüências disso, é a perda do estilo
cinematográfico; a outra, a perda da fantasia” (HITCHCOCK, 2015 apud SIJLL, 2019,
p. 12).
Como salienta Carreiro (apud VIANA, 2018) “Se o som não é realista, se não é
meticuloso na produção dos detalhes acústicos de uma época, ele pode tirar o espectador
da sensação de estar imerso”.
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Som, trilha musical, voz, ruídos, risadas, silêncio, barulho da chuva, entre outros, formam
a trilha sonora do filme, enriquecendo a sua produção. Dentro da trilha sonora, existem
diversos sinalizadores a serem trabalhados, tais como a articulação do movimento da
imagem com a narrativa; os detalhes da voz junto à ambiência; como trabalhar com o
silêncio, a emoção e a clareza que o filme traz.
Segundo Carreiro (2018), o som é uma espécie de sinalizador afetivo de uma cena.
A música desperta no espectador a dica de como ele deve interpretar a cena. E
exemplifica:
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Pedro Moreira (apud VIANA, 2018), técnico de som direto em curtas e longas-metragens,
afirma que “a trilha sonora talvez seja o artifício de maior poder de indução dentro das
diversas camadas de composição do desenho de som de um filme”.
Os filmes, por sua vez, se tornam mais complexos, mais reais, mais alegres, enfim, tornam-
se mais abrangentes, indo ao encontro das exigências do público em potencial crescimento.
E essa abrangência, uma evolução natural e progressiva reunia, no interior de cada filme,
elementos de vários temas, com a predominância de um, em destaque.
Em outras palavras, um tema como o amor, por exemplo, se fundia com outras categorias,
como tema menor de um outro. Assim, os gêneros como o amor, o drama, a aventura, a
comédia, o suspense, a ficção científica, entre outros, começam a se enriquecer por meio
da portabilidade recíproca.
Considerações Finais
Com base nas pesquisas realizadas, constatou-se que foi inegável a contribuição do som
para o cinema, desde a sua chegada em 1927. Entretanto, é válido concordar com alguns
cineastas como Chaplin, Hitchcock e outros, quando dizem que o som não foi tão positivo
quanto parece. E, justamente pela eloquência que o som, a trilha sonora como um todo,
produz no filme, alguns atores não se entregam totalmente à interpretação, deixando para
o efeito sonoro a função de encantar, envolver o público; delegando ao som a emoção, a
sensação da transposição para o mundo dos sonhos, da fantasia.
Referências
CARREIRO, Rodrigo (org.). O som do filme: uma introdução. Curitiba: Ed. UFPR,
2018.
CLARET, Martin. O poder do mito. São Paulo: Martin Claret, 1997. (Coleção O
Poder do Poder, n. 29).
FLORES, Virgínia Osório. Além dos limites do quadro: o som a partir do cinema
moderno. 2013. 195 f. Tese (Doutorado em Multimeios) – Instituto de Artes,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
SÁ, Simone P.; COSTA, Fernando M. (org.). Som + imagem. Rio de Janeiro:7 letras,
2013.
SOARES, N. Relações sinestésicas entre imagem e som, entre cor e som e alguns
exemplos no cinema silencioso. Laika, São Paulo, v. 2, n. 3, jun. 2013. Disponível em:
revistalaika.org/wp–content/uploads/2014/02/Rela%C3%87%C3%95ES–
SINEST%C3%89SICAS.pdf. Acesso em: 07 out. 2020.