Tributacao No Setor Sucroenergetico
Tributacao No Setor Sucroenergetico
Tributacao No Setor Sucroenergetico
Piracicaba
2010
1
Orientador:
Prof. Dr. CARLOS JOSÉ CAETANO BACHA
Piracicaba
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP
CDD 338.476641
R333t
“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte – O autor”
2
3
AGRADECIMENTOS
A Deus.
Aos melhores pais do mundo, Mario Leonel Lima Regazzini e Sonia Regina Coviello
Regazzini, os quais não me faltaram uma vez sequer em toda a minha vida. Aos meus
padrinhos Rafael Coviello e Verusca Coviello que sempre torceram por mim. Aos meus tios
Sidney Spinardi e Maria José Regazzini Spinardi, os quais sempre estiveram por perto.
Ao Prof. Dr. Carlos José Caetano Bacha, que me orientou nesta dissertação com
uma dedicação admirável. Agradeço também à sua esposa e filho, dos quais ―roubei‖ algumas
boas horas do esposo e pai.
Aos professores Dr. Evaristo Marzabal Neves, Dr. Humberto Francisco da Silva
Spolador, Dr. Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho e Dra. Silvia Helena Galvão de Miranda,
que, pela dedicação ao trabalho, são exemplos para mim.
Ao Dr. Luis Henrique Andia e à Profa. Dra. Miriam Rumenos Piedade Bacchi, que
avaliaram este trabalho.
A todas as pessoas especiais que fizeram parte da minha vida neste período, entre
os quais destaco André Morais Tambelli, Daniel Henrique Dario Capitani, Fernando Crepaldi
Garcia, Fernando Pinheiro, João Vitor Crivelaro Loretti, Júlia Regazzini Spinardi, Luis Flávio
Nascimento de Andrade, Michel Cantagalo, Petto Skytta, Rafael Travassos, Renato Correa
Nogueirol, Rodrigo Amâncio Briozo, Vitor Yoshida e Wilson Zambianco.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................ 11
ABSTRACT .................................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 17
3 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 19
4 OS PRINCÍPIOS DA ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO E A TRIBUTAÇÃO NO
SETOR SUCROENERGÉTICO ..................................................................................... 31
4.1 Funções do Governo ................................................................................................ 31
4.2 Características Desejáveis a um Sistema Tributário ................................................ 33
4.3 Características Gerais dos Tributos Brasileiros ........................................................ 37
4.4 Características Econômicas dos tributos incidentes sobre o setor sucroenergético 42
5 METODOLOGIA PARA CÁLCULO DA CARGA TRIBUTÁRIA POTENCIAL NO
SETOR SUCROENERGÉTICO E DADOS UTILIZADOS .............................................. 59
6 A EVOLUÇÃO DO SETOR SUCROENERGÉTICO NO BRASIL E NO ESTADO DE
SÃO PAULO................................................................................................................... 79
6.1 O PROÁLCOOL e a evolução recente da produção de álcool no Brasil .................. 79
6.2 A evolução recente da produção de açúcar no Brasil .............................................. 83
6.3 O uso de mão-de-obra no setor sucroenergético brasileiro...................................... 85
6.4 A fase atual de expansão canavieira e os anos a serem analisados ....................... 86
6.5 A importância do estado de São Paulo no setor sucroenergético brasileiro ............ 87
7 ESTIMATIVAS DE CARGAS TRIBUTÁRIAS NO SETOR SUCROENERGÉTICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO ............................................................................................. 91
7.1 Carga tributária incidente por bem final da cadeia. .................................................. 91
7.1.1 Carga tributária sobre o álcool hidratado carburante adquirido no estado de São
Paulo .............................................................................................................................. 93
7.1.2 Carga tributária sobre o açúcar cristal empacotado adquirido no estado de São
Paulo .............................................................................................................................. 96
7.2 Diferenças tributárias entre produtos importados e vendidos internamente. ............ 98
7.2.1 Álcool..................................................................................................................... 98
7.2.2 Açúcar ................................................................................................................... 99
7.3 Diferenças tributárias entre 2000 e 2008................................................................ 100
10
RESUMO
ABSTRACT
Taxation in the sugar and ethanol sector of the state of Sao Paulo
Historically important for the Brazilian economy, the sugar cane has acquired
increasing importance since the early 2000s, resulting of growth of world demand for renewable
fuels. Simultaneously one can observe an escalation of the Brazilian tax burden over the past 30
years, especially since 1990s. This dissertation aims to analyze qualitatively and quantitatively
the major taxes on final goods of Brazilian sugar-ethanol industry, namely sugar and ethanol.
For this purpose, it‘s divided into two parts. The first one lists the desirable characteristics of a
perfect tax system, and evaluates the presence of these characteristics in the taxes levied on
the sugar-ethanol sector. Subsequently, estimates - based on the methodology of payment of
each tax - the potential tax burden levied on hydrated ethanol and crystal sugar in all links of
their chains in the state of Sao Paulo for the years 2000 and 2008. The results point to a
potential tax burden of 23.04% of the final price of hydrated ethanol and 27.39% of the final price
of crystal sugar. With the aim of measuring the importance of the exemption of some taxes on
foreign sales, this thesis estimates the difference in potential tax burden between ethanol
exported and sold to the domestic market. The same is done for sugar. The difference of the tax
burden on ethanol exported by the plant and ethanol sold to the domestic market is estimated at
15.65 pp. For sugar this difference is 21.25 pp. Finally, to verify the evolution of the tax burden
on the industry, this paper estimates the tax burden on the sector in 2000, what were 40.08% for
ethanol and 25.91% for sugar. There is an increasing burden on the sugar and reduce the
burden on alcohol.
1 INTRODUÇÃO
1
Há dois tipos de álcool etílico combustível. O álcool hidratado começou a ser utilizado pela frota automotiva
brasileira em 1979 e é usado em automóveis leves. O álcool anidro é usado como aditivo na gasolina. A mistura pode
variar entre 20 e 25% e é regulamentada por lei federal de acordo com a produção e disponibilidade do produto.
2
Esse valor corresponde à soma das vendas dos bens finais do setor, não considerando os bens e serviços
intermediários usados no processo produtivo. Essa metodologia é a mesma utilizada por Neves et al., 2009, fonte
desses dados.
3
Segundo Neves et al. (2009) é possível estimar o total de empregos diretos no setor em 1,43 milhão.
16
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
volatilidade dos lucros dos produtores e das usinas e a multiplicação de barreiras não-
tarifárias ao etanol brasileiro no exterior.
5
De acordo com dados atualizados do cadastro da Secretaria de Produção do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, são hoje 432 unidades produtivas no Brasil, sendo 196 no estado de São Paulo.
22
incidentes sobre alimentos representam até 4% da renda total das famílias mais pobres
e de 0,4% a 0,2% da renda total das famílias com renda superior a 30 salários mínimos.
incidir sobre o lucro das empresas da cadeia produtiva, ou que possam incidir sobre a
produção de cana-de-açúcar, principal insumo utilizado no processo produtivo do
álcool. Também não são considerados os encargos trabalhistas associados à produção
do álcool.
8
Este tópico desta dissertação baseia-se fundamentalmente em Giambiagi e Alem (2000) e em Stiglitz (1998).
32
9
Keynes (1936) é o primeiro a defender a necessidade de proteção das economias pelos governos. Sua obra é escrita
na década de 1930, quando o mundo ainda sentia os efeitos da crise de 1929.
10
A maneira como os tributos podem cumprir uma função distributiva será abordada a seguir.
33
mas a principal fonte de recursos das economias modernas tem sido a arrecadação
tributária.
11
Estas características são apontadas por Stiglitz (1998) e Giambiagi; Alem (2000).
12
Estas características são incorporadas por Varsano (2002) e Santos (2006).
34
é uma característica que consta na literatura, e não deve deixar de ser citada pela
impossibilidade de sua identificação prática na vida real. Vale ressaltar ainda que, em
situações nas quais o financiamento de bens e serviços públicos ocorre diretamente
através do pagamento de tarifas ou taxas de utilização, é possível observar a existência
da eficiência. A cobrança de pedágio em rodovias é um bom exemplo.
13
A progressividade é um conceito muito comum e importante dentro da teoria de finanças públicas e consta na
Constituição Federal Brasileira (Art.153, § 2º). Um tributo é considerado progressivo quando sua alíquota se eleva
conforme se eleva o nível renda do contribuinte. Dessa maneira, quem recebe mais deve pagar uma proporção maior
de tributos do que aqueles que possuem um menor nível de renda. Stiglitz (1998) atribui a esse conceito a
denominação de princípio da justiça social.
35
14
“A relação ambígua existente entre aumentos de alíquotas e aumentos de receita é expressa no que a literatura
denomina „Curva de Lafer‟. Os princípios básicos dessa construção teórica são de que: a) com uma alíquota
tributária nula a receita obviamente é nula; e b) com uma alíquota de 100%, a receita também é nula, pois ninguém
trabalharia para que o governo se apropriasse de toda a renda. Assim, há um nível de alíquota que maximiza a
receita. A partir desse ponto (...) aumentos de alíquota são contraproducentes, pois produzem uma evasão e/ou um
desestímulo às atividades formais que superam o aumento da alíquota, gerando uma perda de receita.”
(GIAMBIAGI; ALEM, 2000).
36
15
É importante não confundir o conceito de custos diretos e indiretos do sistema tributário com o conceito de
impostos (ou tributos) diretos e indiretos, que será apresentado posteriormente no texto.
37
pessoas (chamados de tributos diretos) são melhores do que tributos que incidam sobre
os preços ou as receitas de bens e serviços (chamados de tributos indiretos), uma vez
que a incidência de fato desses tributos pode se dar sobre os consumidores. Como este
trabalho estuda a tributação incidente sobre o setor sucroenergético brasileiro, a
maioria dos tributos abordados a seguir incide sobre a receita de empresas, não sendo
ótimos, portanto, de acordo com o princípio da responsabilidade política.
16
É válido ressaltar a diferença entre imposto e contribuição. Enquanto o primeiro é cobrado pelo governo sem um
fim específico, o segundo concede aos contribuintes alguma contrapartida, ou seja, o governo só poderia usar a
receita das contribuições para fins específicos, enquanto os impostos podem ser incorporados a um orçamento geral e
financiar qualquer tipo de gasto público.
38
17
De acordo com essa definição, o Brasil possui atualmente 85 importantes tributos, disponíveis no sítio
www.portaltributario.com.br (Acessado em 4 de Maio de 2010).
39
Parcela do ônus B
assumida por
consumidores A
D
Parcela do ônus
assumida por Demanda
produtores
recebido depois do tributo e o que receberia antes do tributo (segmento DC). O ônus
tributário do consumidor pode ser identificado observando-se a diferença entre o preço
pago depois do tributo e antes (segmento BD).
Mas pode ocorrer do maior ônus da introdução do tributo ser pago pelos
consumidores. Quanto mais elástica é a curva de oferta, e menos elástica é a curva de
demanda, ou seja, quando a sensibilidade dos consumidores a variações de preço é
menor do que a dos produtores, maior será a parcela do ônus tributário que os
produtores poderão repassar aos consumidores nos preços18 (Figura 2).
P
Oferta com tributo
B
Oferta
Parcela do ônus
assumida por
consumidores
Parcela do ônus D A
assumida por
produtores
C
Demanda
18
Caso esse bem seja consumido majoritariamente pelas pessoas mais pobres teremos um tributo com características
regressivas, cuja incidência é proporcionalmente maior sobre os mais pobres.
41
Imposto sobre a
Propriedade Territorial Rural Imposto Patrimônio Federal Produtor rural
– ITR
19
Parte das informações dessa Seção baseia-se, fundamentalmente, em Bacha (2009).
20
O produtor rural que produz como pessoa física recolhe o IRPF ao invés do IRPJ.
43
conclusão
21
Neste caso, o produtor rural pessoa física fica isento de recolhimento.
22
A Lei Complementar 116/2003 estabelece os serviços tributáveis pelo ISS. Essa lista está disponível em
http://www.portaltributario.com.br/tributos/iss.html
23
Como exposto no Capítulo 3, este valor refere-se apenas aos tributos incidentes sobre as vendas.
44
24
São isentos de ITR: assentamentos; imóveis pertencentes ao poder público; e pequenas glebas rurais.
25
Área média igual a 259 ha (IBGE, 2006) e grau médio de utilização igual a 59% (BRUGNARO, 2003).
46
26
Estes dados referem-se a cálculos elaborados pelo autor com as alíquotas percentuais da contribuição considerando
o tamanho da propriedade e o valor da terra do produtor médio de cana do estado de São Paulo. As alíquotas da CSR
estão disponíveis em:
<http://www.faep.com.br/contribuicao/2006/pag04a.asp>
47
27
Estas alíquotas foram alteradas em Outubro de 2008 para alíquotas nominais por litro.
28
O modelo desenvolvido por esta dissertação pode ser útil para esta análise ao mensurar a importância de cada
tributo para a carga tributária total dos bens finais deste setor. Cálculos realizados pelo autor apontam, por exemplo,
para uma carga tributária total de PIS e COFINS igual à R$ 0,07/litro de álcool hidratado na bomba no ano de 2008.
Caso as alíquotas fossem gerais, e não diferenciadas, este valor alcançaria R$ 0,13/litro, aumentando a carga deste
tributo em R$ 0,06/litro.
48
Bem como PIS e COFINS, o cálculo do ICMS por unidade de produto (quilo
de açúcar ou litro de álcool) em cada elo produtivo é realizado através da multiplicação
da alíquota de ICMS pelo valor adicionado pelo elo ao produto.
bem final, a cobrança de IPI gera crédito ao comprador, com o objetivo de evitar a
cumulatividade tributária. Caso esse produto seja adquirido para a revenda ao
consumidor final, não há crédito de IPI ao comprador. Por exemplo, uma indústria que
compra o açúcar de uma usina para fabricar chocolate, irá recolher IPI na venda do
chocolate, portanto tem direito a descontar deste valor devido o IPI que pagou na
compra do açúcar. Isso impede que o mesmo açúcar seja tributado duas vezes pelo IPI,
sob a forma de açúcar e sob a forma de chocolate. Caso a empresa (um supermercado,
por exemplo) compre o açúcar da usina para vendê-lo sem transformá-lo, não haverá
incidência de IPI na venda (há na compra). Logo não há crédito relativo ao IPI presente
no preço do açúcar vendido pela usina.
Por sua flexibilidade, o IPI é hoje uma das principais ferramentas de política
energética, alimentar e mesmo de saúde do governo federal29. Através de mudanças
em suas alíquotas, o governo é capaz de alterar os preços finais e, desse modo,
incentivar ou desestimular o consumo de determinados bens ou serviços. Obviamente,
está é uma política que afeta, deliberadamente a neutralidade tributária.
Desde 2000, o álcool hidratado carburante tem alíquota zero de IPI. A
alíquota do IPI sobre o açúcar é de 5%, a não ser em caso de exportação. Conforme
exposto no item anterior, desde 1996 a chamada Lei Kandir isenta produtos primários e
semi-elaborados exportados da cobrança de IPI.
Como as séries de preços utilizadas estimam o valor recebido pela usina,
incluídos ICMS, PIS e COFINS, mas sem o IPI, o valor deste recolhido por litro de
álcool hidratado combustível ou quilo de açúcar cristal empacotado para varejo in
natura deve ser obtido através da multiplicação do preço de venda da usina pela
alíquota deste tributo.
29
Alguns produtos alimentares de baixo valor nutricional apresentam alíquotas mais elevadas de IPI. O mesmo
ocorre, por exemplo, com bebidas de alto teor alcoólico.
51
que exceder a R$ 240 mil por ano. Por exemplo, uma empresa cujo lucro for de R$ 240
mil no ano recolherá 15% deste valor sob a forma de IRPJ (ou seja, recolherá R$ 36
mil). Outra empresa, cujo lucro for de R$ 300 mil, recolherá os mesmos 15% sobre R$
240 mil (R$ 36 mil) mais 25% sobre R$ 60 mil (R$ 15 mil), que é a diferença entre R$
300 mil e R$ 240 mil. As alíquotas são as mesmas independentemente do setor ou
segmento no qual a empresa esteja inserida, o que garante a neutralidade tributária e
impede o uso deste tributo como mecanismo de incentivo às exportações.
As empresas podem optar por dois diferentes sistemas de apuração do lucro:
o lucro real, cujo valor é declarado pela empresa e que pode ser apurado através de
livro-caixa; e o lucro presumido, para o qual o governo atribui taxas médias de
lucratividade por setor, aplicadas sobre a receita bruta. A todas as empresas da cadeia
agroindustrial sucroenergética é atribuído lucro presumido de 8% sobre o faturamento,
com exceção das empresas de revenda a varejo de combustíveis, às quais se atribui
lucro presumido de 1,6% sobre o faturamento sujeito ao IRPJ.
Desse modo, as empresas do setor sucroenergético que optem pelo lucro
presumido acabarão por recolher 1,2% (15% de 8%) sobre suas vendas se estas foram
menores ou iguais à R$ 3 milhões30, e 2% (25% de 8%) sobre a parcela superior a R$ 3
milhões se suas vendas foram maiores do que esse valor.
Por compor a estrutura de custos da empresa e não possuir sistema de
crédito tributário, o IRPJ pode ser considerado um tributo cumulativo31.
Para se obter o valor de IRPJ por litro de álcool ou quilo de açúcar é preciso
identificar o lucro por unidade – isto é, a margem líquida multiplicada pelo preço - em
cada elo do processo produtivo. Este valor deve ser multiplicado pela alíquota do IRPJ
à qual este contribuinte está sujeito.
30
Este valor corresponde ao faturamento anual cujo lucro presumido de 8% é igual R$ 240 mil por ano, exatamente a
faixa a partir da qual há incidência da alíquota adicional de até 10%.
31
Para o produtor rural é utilizado o IRPF. O modo de cálculo é o mesmo do IRPJ.
52
32
Esta contribuição destina-se a cobertura de aposentadorias por invalidez decorrente de acidentes de trabalho.
33
O Supremo Tribunal Federal declarou, recentemente, a inconstitucionalidade do FUNRURAL, em processo
promovido pelo Frigorífico Mata Boi. Após esta decisão, uma série de liminares em todo o país vem suspendendo a
cobrança deste tributo. Em conseqüência da decisão, a antiga contribuição sobre a folha de salários pode voltar.
53
Como esta decisão é posterior ao ano de estudo desta dissertação, este tributo é considerado nesta análise.
34
Outros encargos, mas não tributários, são o décimo terceiro, as férias e 1/3 de abono de férias, que equivalem a
19,44% do salário pago (BACHA, 2009). Esses encargos não-tributários são considerados por esta dissertação
54
cada um destes encargos para cada elo analisado, bem como a soma dos mesmos em
cada elo.
O cálculo da importância dos encargos trabalhistas sobre o preço final do
álcool e açúcar se dá através da multiplicação do salário médio do trabalhador de cada
elo da cadeia produtiva pela soma das alíquotas dos encargos tributários incidentes
sobre este elo, e da divisão do valor obtido pela produtividade deste trabalhador em
litros de álcool, ou quilos de açúcar.
Exatamente por incidir sobre a folha salarial, os encargos trabalhistas
acabam por onerar mais aquela atividade econômica mais intensa no fator trabalho.
Desse modo, criam um incentivo à redução do fator mão-de-obra no processo
produtivo, prejudicando a oferta de empregos.
porque os encargos tributários incidem sobre o salário médio e os encargos não tributários. Quando esta dissertação
utiliza o termo „encargos trabalhistas‟ refere-se a encargos trabalhistas tributários.
55
35
Por vezes admite-se a hipótese de que esses recursos financiem proporcionalmente todas as despesas do
orçamento. De qualquer modo, ainda assim a análise da presença de eficiência e eqüidade é bastante difícil.
56
56
Mecanismo de
Tributo Eficiência* Eqüidade* Neutralidade Simplicidade Cumulatividade Política Comercial
36
Também não se pode afirmar que estas contribuições são necessariamente progressivas.
58
37
O autor considera que esta política tem sido adotada de maneira não coordenada pelos estados da Federação.
59
Para o açúcar cristal, considera-se uma cadeia produtiva com três elos até o
consumidor final (Figura 4): fazenda, usina e supermercado (ou varejista). Essa
caracterização ignora dois elos importantes que podem estar presentes na cadeia do
açúcar, a indústria e o atacadista. De fato, cerca de 60% da produção de açúcar da
região Centro-Sul destina-se à indústria (Neves et al, 2009). Entretanto, deve-se
considerar que esse açúcar é adquirido pela indústria como insumo para a produção de
outros alimentos, e não para o consumo final como açúcar. A inserção deste elo na
cadeia produtiva levaria essa análise, portanto, a outros bens finais, dos quais o açúcar
representa apenas um de muitos insumos utilizados em seus processos produtivos.
Para que esta análise possa estimar a carga tributária incidente sobre o açúcar como
bem final é preciso então percorrer o caminho do açúcar in natura dentro da cadeia
38
Para as usinas produtoras de álcool é comum também a utilização do termo destilaria.
61
produtiva. Em relação ao atacadista, este elo é ignorado por representar apenas 12%
das vendas de açúcar das usinas, contra 28% destinadas ao varejo.
Onde:
tribtotal = total de tributos que se incorporam ao preço final de um litro de álcool hidratado
combustível no estado de São Paulo (R$/litro).
de tributos (pagamentos de salários mais lucros mais juros mais aluguéis), de custos de
insumos e (líquido de tributos) de tributos.
O que se apresenta na eq. (1) são os tributos que se incorporam nas parcelas
(em cada elo) do preço final ao consumidor. Por exemplo, trib faz são os tributos
cobrados no elo fazenda e que fazem parte da parcela do preço final do álcool que é
formada na fazenda. Ao se ter (tribtotal/preço do álcool) obtém-se a carga tributária que o
consumidor paga ao comprar um litro de álcool no posto de combustível.
FAZENDA
USINA
DISTRIBUIDORA
custos* parcela do preço
salários*, lucros*, com + tributos sobre comercialização,
juros* e aluguéis*
+ = final do álcool
insumos salários e lucros formada na distribuidora
POSTO
salários*, lucros*, custos* tributos sobre
com + salários e lucros parcela do preço
juros* e aluguéis* + = final do álcool
insumos
formada no posto
PREÇO
FINAL
As fontes dos dados utilizados nesta equação, bem como nas próximas, estão
descritas no Anexo A.
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
+ 𝑓𝑢𝑛𝑟𝑢𝑟𝑎𝑙 ∗ $𝑓𝑎𝑧 + ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐹
𝑡𝑜𝑛𝑓𝑎𝑧
(2)
Onde:
$hafaz = valor médio da terra nua cultivada de cana-de-açúcar no estado de São Paulo
por hectare (em R$).
$faz = preço médio recebido pelo produtor pela tonelada da cana-de-açúcar no estado
de São Paulo (em R$).
39
Conforme explicado no Capítulo 4, esta é a única exceção à incidência do Imposto de Renda Pessoa Jurídica
(IRPJ) e se deve ao pressuposto de que o produtor rural de cana-de-açúcar é pessoa física.
67
A eq. (3) representa a soma total de tributos incidentes sobre o álcool hidratado
na usina. Os encargos trabalhistas são obtidos da mesma maneira representa na eq.
(2) (apenas com alíquotas diferentes, uma vez que o empregador rural, diferentemente
dos outros elos, não recolhe INSS – ver Anexo D). Os valores de ICMS, PIS, COFINS
são calculados conjuntamente, e seguem metodologia de Bacha (2009). Como há
diferimento, a incidência se dá sobre o preço de venda sem crédito tributário. O IPI
incide por fora, mas como a estatística de venda da usina não inclui esse tributo, ele
pode ser calculado multiplicando a alíquota pelo preço de venda, no qual já está incluso
os demais tributos (ICMS, PIS e COFINS). O IRPJ e a CSLL são calculados através da
multiplicação das respectivas alíquotas pelo lucro médio por litro.
𝑒𝑛𝑐𝑎𝑟𝑔𝑜𝑠 ∗ 𝑠𝑎𝑙𝑎𝑟𝑖𝑜𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎 = + 𝐼𝐶𝑀𝑆 + 𝑃𝐼𝑆 + 𝐶𝑂𝐹𝐼𝑁𝑆 ∗ ($𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎 ) + 𝐼𝑃𝐼 ∗ $𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑟𝑎𝑏𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
+ 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜/𝑙𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎 ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐽 + 𝐶𝑆𝐿𝐿
(3)
Onde:
$usinas = preço médio do álcool vendido pelas usinas no estado de São Paulo (em R$).
lucro/lusinas = lucro médio por litro de álcool produzido pelas usinas (em R$).
𝑒𝑛𝑐𝑎𝑟𝑔𝑜𝑠 ∗ 𝑠𝑎𝑙𝑎𝑟𝑖𝑜𝑑𝑖𝑠𝑡
𝑡𝑟𝑖𝑏𝑑𝑖𝑠𝑡 = + 𝐼𝐶𝑀𝑆 + 𝑃𝐼𝑆 + 𝐶𝑂𝐹𝐼𝑁𝑆 ∗ $𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − $𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑟𝑎𝑏𝑑𝑖𝑠𝑡
+ 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜/𝑙𝑑𝑖𝑠𝑡 ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐽 + 𝐶𝑆𝐿𝐿
(4)
Onde:
40
Apesar de esta alíquota ser zero nos dois anos analisados nesta dissertação (2000 e 2008), o IPI foi incluso na
equação (3), pois caso sua alíquota seja alterada, o modelo ainda continua valendo.
69
$final = preço médio final de venda ao consumidor no estado de São Paulo (em R$/litro).
$usina = preço médio recebido pela usinas no estado de São Paulo (em R$/litro).
lucro/ldist = lucro médio por litro de álcool hidratado carburante vendido pelas
distribuidoras de combustíveis (em R$)
Por último, a eq. (5) apresenta a soma dos tributos incidentes sobre o álcool
hidratado nos postos de combustíveis. Deve-se observar que, em função da
substituição tributária, são poucos os tributos que incidem sobre o álcool neste elo. Os
41
Esta estatística é calculada através da divisão das vendas totais de álcool hidratado no Brasil pelo número de
funcionários em distribuidoras no Brasil, ponderado pela importância do álcool.
42
Este trabalho adota a hipótese de que a distribuidora é credenciada pela Secretaria da Fazenda. Caso contrário,
todo o tributo seria recolhido pela usina.
70
encargos trabalhistas são calculados como nas equações (2) a (4) e o IRPJ e CSLL
como nas equações (3) e (4).
𝑒𝑛𝑐𝑎𝑟𝑔𝑜𝑠 ∗ 𝑠𝑎𝑙𝑎𝑟𝑖𝑜𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠
𝒕𝒓𝒊𝒃𝒑𝒐𝒔𝒕𝒐 = + 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜/𝑙𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐽 + 𝐶𝑆𝐿𝐿
𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑟𝑎𝑏𝑝𝑜𝑠 𝑡𝑜𝑠
(5)
Onde:
lucro/lpostos = lucro médio por litro de álcool hidratado carburante vendido pelos postos
de combustíveis no Brasil (em R$)44.
43
Esta estatística é calculada com a produtividade do funcionário da distribuidora
44
É obtido através da aplicação da margem líquida de lucratividade ao preço de venda.
71
Onde:
tribtotal = total de tributos que se incorporam ao preço final de um quilo de açúcar cristal
empacotado para varejo no estado de São Paulo (R$/kg).
A eq. (6) é a soma dos tributos que são gerados em cada elo e tem-se que a
carga tributária sobre o açúcar cristal empacotado para varejo é tribtotal/preço final do
açúcar cristal no varejo.
FAZENDA
USINA
SUPERMERCADO
A eq. (7) a seguir apresenta a soma dos tributos incidentes sobre um quilo de
açúcar na fazenda, ainda sob a forma de cana-de-açúcar. São obtidos os tributos por
toneladas de cana-de-açúcar e a soma destes valores é multiplicada pelo rendimento
da cana-de-açúcar em quilos de açúcar por tonelada de cana.
73
(7)
Onde:
$hafaz = valor médio da terra nua cultivada com cana-de-açúcar no estado de São Paulo
por hectare (em R$).
$faz = preço médio recebido pelo produtor pela tonelada da cana-de-açúcar no estado
de São Paulo (em R$).
O cálculo da soma dos valores dos tributos incidentes sobre o açúcar no elo
usina é descrito na eq. (8), a seguir. Os encargos trabalhistas são obtidos da mesma
maneira representada na eq. (3). Os valores de ICMS, PIS, COFINS são calculados
conjuntamente. Como há diferimento a incidência se dá sobre o preço de venda sem
crédito tributário. Também neste caso, como a estatística de venda da usina não inclui o
IPI, ele pode ser calculado multiplicando-se a alíquota pelo preço de venda que inclui os
demais tributos (ICMS, PIS e COFINS). O IRPJ e a CSLL são calculados através da
multiplicação das respectivas alíquotas pelo lucro médio por quilo.
75
𝑒𝑛𝑐𝑎𝑟𝑔𝑜𝑠 ∗ 𝑠𝑎𝑙𝑎𝑟𝑖𝑜𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎𝑠
𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎𝑠 = + 𝐼𝐶𝑀𝑆 + 𝑃𝐼𝑆 + 𝐶𝑂𝐹𝐼𝑁𝑆 ∗ ($𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎 ) + 𝐼𝑃𝐼 ∗ $𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑟𝑎𝑏𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎
+ 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜/𝑙𝑢𝑠𝑖𝑛𝑎𝑠 ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐽 + 𝐶𝑆𝐿𝐿
(8)
Onde:
$vendausinas = preço médio do quilo de açúcar cristal recebido pelas usinas no estado
de São Paulo (em R$).
lucro/kgusinas = lucro médio por quilo de açúcar cristal produzido pelas usinas no Brasil
(em R$).
Por último, a eq. 9 apresenta a soma dos tributos incidentes sobre o açúcar
cristal no elo supermercado. O valor dos encargos trabalhistas é calculado como nas
equações anteriores. Os valores de ICMS, PIS e COFINS são obtidos através da
multiplicação de suas alíquotas pela diferença entre o preço de venda do supermercado
e o preço de venda da usina. Isto se deve ao fato de que há crédito tributário referente
ao ICMS, PIS e COFINS pagos pelo supermercado na compra do açúcar.
Diferentemente do álcool, as vendas de açúcar no varejo não estão sujeitas á
substituição tributária45. Como na eq. 8, IRPJ e a CSLL são calculados através da
multiplicação das respectivas alíquotas pelo lucro médio por quilo.
𝑒𝑛𝑐𝑎𝑟𝑔𝑜𝑠 ∗ 𝑠𝑎𝑙𝑎𝑟𝑖𝑜𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟
𝒕𝒓𝒊𝒃𝒔𝒖𝒑𝒆𝒓 = + 𝐼𝐶𝑀𝑆 + 𝑃𝐼𝑆 + 𝐶𝑂𝐹𝐼𝑁𝑆 ∗ 𝑚𝑔𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟
𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑟𝑎𝑏𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟
+ 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜/𝑙𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟 ∗ 𝐼𝑅𝑃𝐽 + 𝐶𝑆𝐿𝐿
(9)
Onde:
45
Este trabalho adota a hipótese de que o supermercado é credenciado pela Secretaria da Fazenda. Caso contrário,
haveria substituição tributária e todo o tributo seria recolhido pela usina.
77
mgsuper = diferença entre o preço médio do quilo de açúcar cristal vendido pelos
supermercados ao consumidor final e o preço médio do quilo de açúcar cristal vendido
pelas usinas (em R$).
lucro/lsuper = lucro médio por embalagem de açúcar cristal de 5 quilos vendida pelos
supermercados (em R$/quilo).
Através deste modelo pode-se obter o total de tributos incidentes sobre o litro
do álcool hidratado e sobre o quilo de açúcar cristal vendidos ao consumidor final, em
reais e em percentual do preço final. Além disso, é possível identificar como cada tributo
46
Neste caso, é preciso ressaltar que a produtividade do trabalhador não está disponível, e foi estimada pelo autor
com base nas vendas de açúcar e no número de funcionários de supermercado, ponderado pela importância do açúcar
na cesta básica.
78
47
Expressão em inglês relativa a testes de estresse que procuram analisar o comportamento de variáveis dependentes
a partir de mudanças nas variáveis independentes.
79
120
100
80
60
40
20
0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
2000
1000
0
1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981
-1000
-2000
-3000
-4000
-5000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008
48
As características renováveis do álcool combustível devem-se, principalmente, não a um nível menor de emissão,
mas à captura de carbono da atmosfera no processo produtivo. Seu baixo custo de produção em relação a outros
combustíveis naturais está relacionado à produtividade da lavoura de cana-de-açúcar (BRASIL, 2010).
83
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
2004 2005 2006 2007 2008
3
Figura 8 – Exportações brasileiras de álcool (mil m )
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do dados de BRASIL, 2009.
35
Milhões de t.
30
25
20
15
10
5 Produção
Exportações
0
01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09
49
Como comprador, se destacou a Rússia, responsável por 22,5% das exportações brasileiras no ano de 2008
(UNICA, 2009).
50
A redução da proporção de cana-de-açúcar utilizada na produção de açúcar, em favor da produção de álcool, pode
levar a um aumento da produção de álcool sem aumento da produção total de cana-de-açúcar.
85
9 80,00
t./ha
milhões de ha
8
78,00
7
6 76,00
5
74,00
4
3 72,00
2
70,00
1 Produtividade
Área colhida
0 68,00
2004 2005 2006 2007 2008
51
Estimativas de geração de empregos indiretos podem levar à marca de 4,29 milhões de pessoas empregadas direta
ou indiretamente pelo setor no Brasil.
87
800 14
600
10
500
8
400
6
300
4
200
100 2
Volume
Valor
0 0
52
Valor em reais de 2000.
53
De acordo com o IBGE, o maior valor de produção registrado até 2008 é de R$ 12.029 milhões, referente ao ano
de 1989.
88
hectare em 2002. O estado possuía cerca 11.200 fornecedores de cana, dos quais
80,8% eram pequenos (até 4 mil t./ano), 11,5% eram médios (4.000 a 10.000 t./ano) e
7,7% grandes (acima de 10.000 t./ano). Estes últimos representavam 57% da produção
estadual de cana-de-açúcar. Em São Paulo, o setor representou 35% do PIB agrícola
estadual, e esteve presente em 350 municípios em todo o estado (mais da metade).
Eram cerca de 600 mil postos de trabalhos no estado, com piso salarial 70% superior
em média ao salário mínimo (ORPLANA, 2002). Três grandes grupos são responsáveis
por dois terços da produção de cana-de-açúcar no estado, e por pouco mais de um
terço da produção de açúcar
900
Milhões de t.
800
700
600
500
400
300
200
BRASIL
100
SÃO PAULO
0
Figura
12 – Produção de cana-de-açúcar no Brasil e em São Paulo
Elaborado pelo autor com dados da UNICA (2009).
89
PERNAMBUCO
5% OUTROS
10%
ALAGOAS
7%
MINAS GERAIS
7% SÃO PAULO
63%
PARANÁ
8%
PERNAMBUCO
5%
ALAGOAS
6%
SÃO PAULO
PARANÁ 62%
9%
Tabela 1 – Tributos e alíquotas incidentes em cada elo da produção e comercialização do álcool e açúcar
em 2008 no estado de São Paulo
O elo fazenda – tanto para o álcool como para o açúcar - não possui alíquota
de ICMS porque, conforme exposto no Capítulo 4, há o diferimento deste tributo para o
produtor rural de cana-de-açúcar. O mesmo ocorre com a contribuição ao PIS e
COFINS.
O elo posto também não apresenta alíquota de ICMS, PIS e COFINS, mas
isto ocorre por um motivo diferente. Também conforme exposto no Capítulo 4, há
substituição tributária desses tributos na distribuidora, isto é, a distribuidora fica
responsável pelo recolhimento de ICMS, PIS e COFINS sobre o valor adicionado por
ela ao álcool e também pelo valor a ser adicionado pelo posto.
54
Vigorou até Setembro de 2008, passando a R$ 0,048 por litro a partir de Outubro do mesmo ano.
55
A alíquota de IRPJ/CSLL utilizada por esta dissertação (34%) é a alíquota máxima, considerando o adicional por
lucro superior a R$ 240 mil. Esta hipótese pode sobreestimar a parcela deste tributo incorporada ao preço final do
açúcar ou do álcool.
93
Tabela 2 – Carga tributária por tributo e elo da cadeia do álcool hidratado combustível (valores em %
56
do preço final do álcool )
56
O preço final do álcool hidratado é de R$ 1,28 referente a 2008 (CEPEA, 2009).
94
O tributo que mais contribui com a carga tributária total incidente sobre o
álcool, dentro do elo posto, foi o IRPJ/CSLL, que representa em média 1,19% do preço
final do álcool. Por outro lado, os encargos trabalhistas pagos pelos postos representam
apenas 0,16% do preço final do álcool.
95
Tabela 3 - Importância dos principais tributos sobre o preço final do álcool hidratado combustível
É possível notar que o ICMS, com uma carga de 12,00%, é o tributo que
mais contribui para a carga tributária total incidente sobre o preço do álcool hidratado
carburante vendido ao consumidor final no estado de São Paulo em 2008, seguido por
PIS e COFINS, com 5,18%. Os encargos trabalhistas de todos os segmentos da cadeia
do álcool correspondem a 0,61% do preço final deste produto.
irá resultar na redução do preço do litro álcool na bomba em R$ 0,07. Apesar de não
ser integralmente repassada aos consumidores, estudos apontam para um elevado
potencial de repasse de desoneração tributária aos consumidores para alguns produtos.
Negri Neto et al. (1997) estudaram o impacto da redução da alíquota do ICMS incidente
no café torrado e moído, em São Paulo, de 18% para 7%. Os autores concluíram que
os consumidores apropriaram-se de 92% do benefício total dessa desoneração.
Tabela 4 – Carga tributária por tributo e elo da cadeia do açúcar cristal empacotado para varejo (valores
57
em % do preço final do açúcar )
57
O preço final do kg de açúcar é de R$ 0,79, referente a 2008 (DIEESE, 2009).
97
Por outro lado, a usina é o elo da cadeia responsável pela maior parcela de
tributos adicionados ao preço final do açúcar, 20,32% do preço final do açúcar. Este
valor se deve ao fato de que a usina é o segmento que mais agrega valor ao produto
em sua cadeia produtiva. Soma-se a isso o alto nível de tributação ao qual este
segmento está submetido (veja a Tabela 1).
Tabela 5 - Importância dos principais tributos sobre o preço final do açúcar cristal
7.2.1 Álcool
58
Esta dissertação assume o pressuposto de que o álcool é exportado diretamente pela usina. O mesmo para o açúcar,
a seguir.
99
a alíquota dos tributos que apresentam isenção para exportações, quais sejam ICMS,
PIS, COFINS. A Tabela 6, abaixo, apresenta esses resultados em percentual do preço
de venda da usina.
Tabela 6 – Diferenças tributárias entre a venda doméstica e a exportação de álcool hidratado combustível
59
(em % do preço de venda da usina )
7.2.2 Açúcar
59
O preço médio do litro de álcool vendido pela usina é R$ 0,85.
100
Tabela 7 – Diferenças tributárias entre a venda doméstica e a exportação de açúcar cristal (em % do
60
preço de venda da usina )
Para este produto, a diferença entre a carga tributária total incidente sobre o
produto exportado ou vendido ao mercado doméstico é ainda mais significativa.
Enquanto o açúcar vendido ao mercado interno já acumula uma carga tributária total
igual a 27,02% de seu preço na usina, o açúcar vendido ao exterior está sujeito a uma
carga tributária total correspondente a 5,77%. Uma diferença de 21,25 pontos
percentuais.
60
O preço médio do quilo de açúcar vendido pela usina é R$ 0,85.
61
Por terem ainda caráter cumulativo no ano 2000, PIS e COFINS são estimadas para este ano através da
multiplicação de suas alíquotas pelo preço de venda em cada elo, e não ao valor adicionado, uma vez que seu
recolhimento não gerava crédito.
62
Por inexistência de dados, este trabalho adota a hipótese de que a margem líquida dos elos analisados era, em
2000, igual à verificada para o ano de 2008.
101
Tabela 8 – Tributos e alíquotas incidentes em cada elo da produção e comercialização do álcool e açúcar
no ano 2000 no estado de São Paulo
7.3.1 Álcool
Tabela 9 - Diferenças tributárias para o álcool hidratado combustível entre 2000 e 2008
7.3.2 Açúcar
8 CONCLUSÕES
63
Deve-se ressaltar que esta dissertação analisa a tributação sobre o setor individualmente. É possível que uma
avaliação do sistema tributário brasileiro aponte para uma regressividade de tributos incidentes sobre o açúcar.
104
possível afirmar, portanto, que a tributação incidente sobre o setor é utilizada como
instrumento de política comercial, com significativo potencial de estímulo às
exportações.
pode-se considerar que apenas quatro tributos incidentes sobre o setor apresentam
simplicidade.
Os resultados obtidos por este trabalho podem ser comparados com a Carga
Tributária Bruta (CTB) do Brasil. Em 2008, a arrecadação tributária bruta do Brasil
alcançou R$ 1,034 trilhões, o que representou 35,80% do PIB brasileiro (BRASIL,
2009). Conforme citado, a carga tributária sobre o álcool hidratado e açúcar cristal no
estado de São Paulo, no ano de 2008, foi de 23,04% e 27,39%, respectivamente.
REFERÊNCIAS
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cana de açúcar do Brasil e da França. In: Congresso Brasileiro de Economia e
Sociologia Rural. 41. 2003. Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora, UFJF, 2003, p. 57-74.
ANCELES, P.E. dos S. Manual de tributos da atividade rural. São Paulo: Atlas, 2.ed.,
2002. 641 p.
FABRETTI, L.C. Contabilidade tributária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 346p.
GIAMBIAGI, F.; ALEM, A.C. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. 2.ed. Rio de
Janeiro: Campus, 2000. 518p.
KEYNES, J.M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1982.
Publicação original em Londres, 1936. 328 p.
MAGALHÃES, L.C.G. de; SILVEIRA, F.G.; TOMICH, F.A.; VIANNA, S.W. Tributação,
distribuição de renda e pobreza: uma análise dos impactos da carga tributária
109
MANKIW, N.G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2005. 852 p.
RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas.
2.ed., 1994. 192 p.
SIQUEIRA, P.H. de L. Análise dos índices financeiros das usinas de açúcar e álcool
brasileiras: uma análise de benchmarking utilizando análise envoltória de dados In:
Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. 45. 2007. Londrina. Anais...
Londrina, UEL, 2007, p. 114-129.
STIGLITZ, J.E. Economics of public sector New York: Global. 1998. 467 p.
VARSANO, R.; PESSOA, E. de P.; SILVA, N.L.C. da; AFONSO, J.R.R.; ARAUJO, E.A.;
RAIMUNDO, J.C.M. Uma análise da carga tributária no Brasil. Brasília: Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, jun. 1998. p. 55 (Texto para Discussão, 401).
ANEXO A
Álcool
Encargos. Igual à média simples dos valores Bacha (2009)
máximo e mínimo da soma das alíquotas de
encargos trabalhistas existentes no Brasil.
Salário médio pago pelos postos de RAIS, (2010)
combustíveis brasileiros.
Produtividade média do funcionário do posto RAIS, (2010)
na venda de álcool. UNICA (2010)
Igual ao número de funcionários em postos Neves et al. (2009)
no Brasil ponderado pela importância do
álcool nas vendas, dividido pelo volume de
vendas de álcool hidratado no Brasil.
Lucro por litro no posto. Igual à margem SINDIPETRO
líquida média multiplicada pelo preço de
venda.
Alíquota de IRPJ e CSLL Receita Federal
Preço final do álcool hidratado no estado de ANP
São Paulo em 2008.
Salário médio pago pelas distribuidoras de RAIS, (2010)
combustíveis brasileiras.
Produtividade média do funcionário da RAIS, (2010)
113
Açúcar cristal
trib_super encargos icms/pis/cofins irpj/csll preço final
R$ 0,030 R$ 0,008 R$ 0,016 R$ 0,006 R$ 0,79 /kg
Dados
encargos usina 0,355 $_usina 0,6903 mgl_usina 0,0251 csr_nominal/há 11,839525
salario_super 1296,04344 lucro/kg_super 0,017775 encargos_faz 0,105 funrural 0,023
produtivitrab_super 59605,67 mgl_super 0,0225 salario_faz 1112,153616 mgl_faz 0,098
ntrab_super 386886 irpj/csll 0,34 produtivitrab_faz 1189 $ton_faz 39,85
vendas_açucar 553454354 rendimento_kg/ton 135,13 itr 0,013 lucro/ton_faz 3,9053
importancia_açucar 0,024 salario_usina 1259,829232 area_aprov 181,902 irpf 0,275
icms 0,07 produtivitrab_usina 56132 $/há 11839,525 encargos super 0,35
pis/confins 0,0925 IPI 0,05 produtividade 84,3 13o./adic./férias 1,1944
$_final 0,79 lucro/kg_usina 0,01732653 area_media 259,86
117
Álcool hidratado
trib_postos encargos irpj/csll preço final
R$ 0,011 R$ 0,001 R$ 0,010 R$ 0,82 /litro
trib_dis encargos icms pis/cofins irpj/csll preço dist
R$ 0,056 R$ 0,002 R$ 0,022 R$ 0,03 R$ 0,002 R$ 0,79 /litro
trib_usina encargos icms pis/cofins ipi irpj/csll preço usina
R$ 0,219 R$ 0,001 R$ 0,185 0,026937 R$ 0,000 R$ 0,006 R$ 0,74 /litro
trib_faz encargos itr csr funrural irpf preço faz
R$ 0,044 R$ 0,001 R$ 0,031 R$ 0,002 R$ 0,006 R$ 0,004 R$ 0,27 /litro
R$ 2,895 R$ 0,052 R$ 2,024 R$ 0,156 R$ 0,404 R$ 0,258 R$ 17,58 /ton de cana
Dados
encargos usina 0,36 pis/confins 0,0365 ipi 0 funrural 0,023
salario_postos 497,22872 $_usina 0,738 lucro/l_usina 0,0185238 $ton_faz 17,58
produtivitrab_postos 123754 lucro/l_dist 0,007107 mgl_usina 0,0251 mgl_faz 0,098
%fat_alcool 11,30% mva_dis 0,25 encargos_faz 0,105 lucro/ton_faz 1,72284
lucro/l_postos 0,02884 $_dis 0,618 salario_faz 454,254208 irpf 0,15
irpj/csll 0,3425 mgl_dist 0,0115 produtivitrab_faz 913,54 produtividade 76,04
$_final 0,824 rendimento_l/ton 65,52 itr 0,013 encargos dist 0,36
mgl_postos 0,035 salario_usina 611,986672 encargos posto 0,36
salario_dist 1686,361416 produtivitrab_usina 154355 $/há 11839,525 13o./adic./férias 1,1944
produtivitrab_dist 387432 ICMS 0,25
icms 0,25 pis/confins 0,0365 csr_nominal/há 11,839525
118
Açúcar cristal
trib_super encargos icms pis/cofins irpj/csll preço final
0,035 0,005 0,007 R$ 0,019 0,004 R$ 0,53 /kg
Dados
encargos usina 0,36 $_usina 0,4326 mgl_usina 0,0251 csr_nominal/há 3,06725
salario_super 478,942456 lucro/kg_super 0,0119925 encargos_faz 0,105 funrural 0,023
produtivitrab_super 34441,02 mgl_super 0,0225 salario_faz 454,25421 mgl_faz 0,098
ntrab_super 454695 irpj/csll 0,3425 produtivitrab_faz 913,54 $ton_faz 17,58
vendas_açucar 23438954 rendimento_kg/ton 114,21 itr 0,013 lucro/ton_faz 1,72284
importancia_açucar 0,04 salario_usina 529,334192 irpf 0,15 13o./adic./férias 1,1944
icms 0,07 produtivitrab_usina 44839 $/há 3067,25
pis/confins 0,0365 IPI 0,05 produtividade 76,04
$_final 0,533 lucro/kg_usina 0,01085826 encargos super 0,35
119
ANEXO D
2008
INSS FGTS RAT Sistema S sal. edu. Total
fazenda 0,00% 8,00% 0,00% 0,00% 2,50% 10,50%
usina 20,00% 8,00% 2,50% 2,50% 2,50% 35,50%
dist 20,00% 8,00% 1,00% 2,50% 2,50% 34,00%
posto 20,00% 8,00% 1,00% 2,50% 2,50% 34,00%
super 20,00% 8,00% 2,00% 2,50% 2,50% 35,00%
2000
INSS FGTS RAT Sistema S sal. edu. Total
fazenda 0,00% 8,00% 0,00% 0,00% 2,50% 10,50%
usina 20,00% 8,00% 3,00% 2,50% 2,50% 36,00%
dist 20,00% 8,00% 3,00% 2,50% 2,50% 36,00%
posto 20,00% 8,00% 3,00% 2,50% 2,50% 36,00%
super 20,00% 8,00% 2,00% 2,50% 2,50% 35,00%