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Saadi Lahlou
London School of Echonomics and Political Science
[email protected]
https://orcid.org/0000-0001-8114-7271
Tradutores
Caio Teixeira Brandão
Programa de Pós-Graduação em Educação - UNESA
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-0196-3074
RESUMO
A perspectiva evolucionista das Representações Sociais considera o papel da psicologia na
construção dos objetos sociais e a transmissão das representações pela cultura. Nesse contexto, a
evolução das representações e objetos se dá por meio de um mecanismo de dupla seleção, na
perpetuação dos mais adaptados à realidade social. Apresentamos a Teoria da Instalação, um
modelo para pesquisa e intervenção, que considera o mundo como uma instalação, um espaço
deliberadamente construído para a reprodução e padronização de comportamentos. A instalação
está distribuída em três dimensões: física, psicológica e institucional, sendo necessário intervir
simultaneamente nas três para modificar os comportamentos de forma eficaz.
Palavras-chave: teoria da instalação. Psicologia social. Representações sociais. Objetos.
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ABSTRACT
The evolutionist perspective on Social Representations considers the role of psychology on the
construction of social objects and its transmission through culture. In this context, the evolution
of social representations and objects happens through a double selection mechanism,
perpetuating the ones most adapted to social reality. We present the Installation Theory, a
framework for research and intervention, which considers the world as an installation, a space
constructed for the reproduction and standardization of behavior. Installations are comprised of
three dimensions: physical, psychological and institutional, and it’s necessary to intervene
simultaneously on those three dimensions, in order to modify behavior effectively.
Keywords: installation theory. Social psychology. Social representations. Objects.
RESUMEN
La perspectiva evolucionista de las Representaciones Sociales considera el papel de la
psicología en la construcción de objetos sociales y la transmisión de representaciones através
de la cultura. En este contexto, la evolución de las representaciones y los objetos se produce
através de un mecanismo de doble selección, en la perpetuación de los más adaptados a la
realidad social. Presentamos la Teoría de la Instalación, un modelo de investigación e
intervención, que considera el mundo como una instalación, un espacio construido
deliberadamente para la reproducción y estandarización de comportamientos. La instalación se
distribuye en tres dimensiones: física, psicológica e institucional, y es necesario intervenir
simultáneamente en las tres para modificar eficazmente los comportamientos..
Palabras clave: teoría de la instalación. Psicología social. Representaciones sociales. Objetos.
Introdução
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3 Moscovici (1984) define o olhar da Psicologia Social como um olhar “ternário” e apresenta um
esquema de interação no formato de um triângulo, no qual estão presentes: ego – alter – objeto.
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Eu uso o termo “objeto” em sentido amplo, pode ser um objeto material, tal como
um carro ou um chapéu. Mas também pode ser um objeto intangível como a democracia, ou um
objeto cujo status é menos claro, como por exemplo o “Governo Inglês”, HIV/Aids ou
álcool. Também pode ser um objeto que tem tanto os aspectos físicos e intangíveis, como
biotecnologia que é simultaneamente um discurso, uma ideologia, um conjunto de técnicas e um
conjunto de objetos materiais.
Não podemos perceber o objeto senão através de sua representação. Por exemplo,
olhando para esta sala, eu vejo “uma conferência” e eu percebo isso por meio de todas as
preconcepções envolvidas nesta representação, e me comporto de acordo com o que esta
representação me diz. Eu me comporto como o orador e vocês gentilmente se comportam como
o público; foi isto que Moscovici quis dizer quando escreveu que as representações sociais
produzem e determinam comportamentos, “uma vez que elas definem a natureza dos
estímulos que nos cercam, e que respostas devemos dar a eles” (Moscovici, 1976, p.26).
Não podemos perceber o objeto senão através de sua representação. Tudo que eu sei do
mundo são os estados internos do meu sistema nervoso. Uma situação, um objeto, são
conhecidos por mim de dentro do meu corpo, como um padrão específico de ativação das
minhas células. Num nível psicológico, esses diferentes estados podem ser interpretados de uma
maneira simbólica, como cognições. Essas cognições têm conotações físicas e emocionais. Em
resumo, nós humanos percebemos e agimos por confiar num sistema de representações, que são
construídas por nossa experiência direta, por nossas comunicações e pelo raciocínio.
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De uma perspectiva psicológica, objetos não existem por si, em isolamento, eles são
sempre representados por algum sujeito no contexto de determinada cultura. Considerando este
objeto, eu o seguro em minha mão, e não posso evitar em vê-lo como um chapéu, ou melhor,
como um boné. Tais representações não são construídas independentemente, por um indivíduo
isolado, elas são o resultado de uma construção coletiva em um contexto cultural. Uma vez que
não é o objeto em si, mas sua representação que guiará meu comportamento em relação a ele,
entende-se o quão importante é estudar suas representações.
Agora convido vocês a considerar esta construção do objeto por sua representação na
consciência do indivíduo, como quando percebo uma situação através do filtro das minhas
representações prévias, como essa conferência. A construção do objeto ocorre literalmente,
quando o objeto é construído, feito no mundo físico real. A construção, nesse momento, ocorre
também fisicamente, quando o objeto físico é feito, porque este também é construído em
referência à representação. Por exemplo, este artefato que seguro: sua forma, suas propriedades,
são o resultado de uma conformidade deliberada do objeto a uma forma de referência, pelo
chapeleiro; e esta forma de referência é a representação do chapéu. Representações têm,
portanto, um impacto direto na construção do mundo real. Isto parece um comentário trivial e é,
mas veremos depois suas enormes consequências. Uma vez mais, isso não é verdade somente
para objetos materiais, mas também para objetos mais complexos como esta conferência. Como
eu disse, vocês e eu acreditamos que isto é uma conferência, nos comportamos de acordo.
Portanto, de alguma forma, a representação da conferência é uma profecia autorrealizável. Eu
voltarei a isto depois.
Eu abro parênteses aqui para indicar que é geralmente o caso de todos os objetos ter
tanto o aspecto tangível quanto o intangível. Por exemplo, a democracia tem seus votos, seus
distritos, seus partidos, seus agentes, seus oficiais, seus programas de entrevista. Assim que
consideramos a prática no mundo real, objetos físicos vêm galopando do passado e saturando o
campo de visão porque a vida cotidiana é um tecido feito de práticas concretas.
É vã a esperança de distinguir uma classe de objetos que são só imateriais: como
acabamos de ver, até a democracia tem aspectos materiais. Por outro lado, até mesmo algo tolo
como o material chapéu tem suas regras, suas leis, sua história, seus aspectos simbólicos. Deixe-
me justificar este exemplo, uma vez que escolhi pegar o chapéu como exemplo nesta
apresentação. Escolhi o chapéu puramente como um exemplo pedagógico. Preciso dizer que
pessoalmente, eu não me importo com chapéus, e acho que o tópico dos
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chapéus não tem interesse científico. Uso este exemplo como poderia ter usado maçãs ou
ônibus, porque encontrei uma figura engraçada para ilustrá-lo. No entanto, vamos olhar mais de
perto, mesmo que este caso pareça não ter interesse social.
Os chapéus são realmente desprovidos de interesse social? Notem que na Turquia, usar
um barrete4 foi oficialmente proibido, em 25 de outubro de 1925, por uma lei em vigor a partir
de 28 de novembro de 1925, sobre a reforma da secularização da Turquia, iniciada por Mustafá
Kemal, também conhecido como Ataturk. Num discurso, ele descreveu o barrete como “um
símbolo do descaso, da intolerância e ódio ao progresso e à civilização”. A lei condenou
inicialmente a três meses na prisão, mas na prática, especialmente durante o período da
corte marcial, centenas de pessoas foram sentenciadas a anos de trabalho duro e um número de
indivíduos que usaram o barrete foram executados sob a razão de que usar um barrete era
considerado incitação à revolta. As controvérsias atuais sobre o véu islâmico nos lembram que o
uso de coberturas para a cabeça está longe de ser um ponto neutro.
Depois desses poucos minutos de introdução, acho que vocês concordam que a situação
é bastante confusa. Sentimos que temos que levar em conta objetos materiais nas análises de
representações sociais e, de um modo mais geral, na pesquisa psicológica sobre como os
indivíduos se comportam em relação aos outros e ao mundo em geral. No entanto, não sabemos
exatamente onde colocar esses objetos nos quadros referenciais
4 S.m. 1. Cobertura que se ajusta à cabeça, e que ordinariamente é feita de tecido mole e flexível;
gorro, gorra. [Cf. carapuça e solidéu.] (FERREIRA, 2004).
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teóricos. O problema de sua posição no emblemático triângulo psicológico não é claro: estamos
falando sobre o objeto material ou sobre sua representação? E, se os dois são idênticos, o que
devemos fazer com os objetos que têm um hardware importante? Até agora, quando se trata de
representações, a maioria dos psicólogos está estudando discurso e outros materiais verbais.
Mas, uma vez que começamos a estudar a ação e a prática, esta abordagem fica mais difícil de
sustentar.
As questões que abordarei aqui mais especificamente são: Quais os mecanismos de
evolução dessas entidades? Quais são as funções sociais das representações e objetos? Não
tenho a pretensão de fornecer respostas definitivas a essas perguntas; claro, eu simplesmente
desejo começar uma discussão sobre o que parecem ser questões fundamentais na psicologia, e
para aqueles particularmente interessados em representações sociais.
Para responder a essas questões, começarei dando uma ampla estrutura de análise que
integra os objetos a partir de uma perspectiva social. Este quadro é a Teoria do Mundo como
Instalação. Por uma questão de argumento, e por causa do tempo relativamente curto, vou
assumir posições que são de algum modo um tanto caricaturais e primárias: estou ciente que a
realidade é mais complexa e cheia de nuances, e sou o primeiro a achar o modelo que proponho
muito simples, mas isso ajudará a abrir o debate.
Os atuais Homo Sapiens são primatas, mas ao contrário de outros primatas, não vivem
na floresta como bandos de indivíduos nus. Os humanos que estudamos hoje não são mais
macacos nus. Densas colônias de humanos cobrem o globo, 50% da população humana vive
agora em áreas urbanas. Essas pessoas vivem em ambientes artificiais massivamente instalados,
saturados com objetos materiais como são todas as construções humanas. Eu desafio vocês a
encontrarem nesta sala um único elemento que não tenha sido feito ou moldado por seres
humanos, alguma coisa que você possa encontrar como se estivesse em um ambiente natural.
Para sobreviver nestes densos ambientes artificiais, os indivíduos devem seguir regras estritas de
comportamento a fim de limitar conflitos, tais como o acesso a recursos. Seu comportamento
parece dirigido principalmente por regras sociais formais que estão frequentemente em oposição
às tendências instintivas que eles têm como primatas, como por exemplo, a agressão.
REVISTA EDUCAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEA | v. 16, n. 45, p. 008-030, 2019.
ISSN ONLINE: 2238-1279
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5 Do original em inglês: affordances. A palavra também pode ser traduzida como recursos.
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aquisição de produtos, e depois tentar recrutar algumas instituições para que elas assumam a
parte educativa da instalação. Agora vamos considerar a questão da evolução e mudança das
sociedades.
Vou mostrar a vocês que há um mecanismo de seleção dupla, do tipo evolucionário
ovo-e-galinha6, mas mais complexo e mais eficiente que o mecanismo de seleção natural
descrito por Charles Darwin. Mas primeiro preciso esclarecer a noção de representação social
numa perspectiva evolucionária. A Teoria das Representações Sociais (TRS), uma teoria
introduzida pelo psicólogo social Serge Moscovici, lida com essas construções mentais
(Moscovici, 1976). A partir das representações, os indivíduos tomam ciência das situações e
objetos em termos de sua conotação de atividade (Uexkull, 1965), ou atrativos cognitivos
(Lahlou, 2000). Deixem-me explanar rapidamente sobre esta teoria de representações sociais.
Humanos nunca estão isolados. Eles vivem em populações. Essas populações de seres
humanos abrigam populações de representações mentais individuais de objetos. Por exemplo,
cada um de nós como indivíduo tem uma representação do que é um “chapéu”. Estas
representações são uma população própria, que habita a população humana, como a população
de cachorros habita as casas humanas. Como uma população biológica, esta população de
representações se reproduz. Ela faz isso de forma diferente das espécies biológicas. A psicologia
ocidental tem estudado extensivamente como as representações se propagam por meio do
discurso. Por exemplo, a discussão, a educação e a mídia. Mais tarde na minha fala vou focar
em outro aspecto desta reprodução, através dos objetos.
Antes disso, deixe-me aproveitar a oportunidade para chamar sua atenção para o fato de
que objetos também são populações, e que eles também estão distribuídos por esta população
humana. Para voltar ao exemplo dos chapéus é fácil notar que uma coleção de chapéus está
distribuída por esta multidão. O mundo é cheio de tais coleções de objetos, assim como é cheio
de populações de representações. Espero que com o meu simples exemplo, vocês comecem a
entender o que quero dizer com distribuição por uma população. Estou claramente adotando
uma aproximação epidemiológica. A teoria da Instalação, e isto é menos trivial, também tenta
esclarecer como as mudanças ocorrem, fornecendo um modelo para a evolução da instalação.
Este modelo descreve como cada uma das três camadas (objetos, representações e instituições)
se desenvolve, e suas respectivas relações. Então vamos agora examinar a evolução desa
instalação distribuída.
6 Refere-se ao dilema de causalidade ilustrado pela questão: “quem nasceu primeiro: o ovo ou a
galinha?”.
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Num nível social, a coevolução dos objetos e representações é monitorada pelo domínio
local de comunidades de stakeholders7 (usuários, fornecedores, autoridades públicas, etc.) que
definem os padrões de objetos, as regras de prática e mais. Porque os stakeholders conhecem o
campo, as representações dos objetos e as regras são adaptados aos comportamentos. Esses
sujeitos envolvidos criam instituições que são tanto conjuntos de regras a serem aplicados para
manter a ordem quanto para promover a cooperação e comunidades de interesses, cientes de que
estão jogando o mesmo jogo.
De fato, como dito anteriormente, saber como usar essas affordances nem sempre é
suficiente para executar o comportamento adequado. Algumas pessoas devem fazer alguma
coisa errada e provocar (por ignorância, interesse pessoal, etc.) externalidades negativas para si
ou para outrem. As instituições são uma resposta social: elas criam e reforçam regras para
controlar esses potenciais maus usos ou abusos; elas estabelecem convenções comuns que
permitem cooperação (ex: pessoas devem dirigir todas do mesmo lado da rua). Muitas dessas
regras já estão inseridas nas representações mentais que são, por natureza, normativas. Mas as
instituições trazem um controle físico sobre estas normas. Elas as reforçam com pessoal
especializado. Além disso, cada membro leal da comunidade tende a servir como um aplicador
de regras fazendo os outros andarem nos trilhos. Muitas vezes, essas regras são formais e
explícitas (regulações, leis, etc.), mas podem permanecer como regras informais de boas
práticas, truques do comércio ou tradições. Como essas regras são o resultado de acordos entre
os interesses locais, variam de lugar para lugar. As instituições refletem o equilíbrio de poder
entre os stakeholders e evoluem conforme esses equilíbrios de poder evoluem.
7 Termo utilizado para se referir ao público estratégico de determinada ação, a tradução literal seria partes
interessadas.
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representações estão distribuídas na população. Uma razão pela qual essas campanhas não
podem produzir resultado sozinhas é porque são endereçadas somente a uma camada da
instalação. Trabalhar no nível físico é uma solução interessante. Algumas vezes proporciona
bons resultados, mesmo quando usado sozinho. Vamos dar uma olhada num escritório, onde fiz
um experimento no final dos anos 1990.
Em um escritório trabalhavam dois engenheiros. As discussões com os usuários nos
levaram a construir novo mobiliário que os permitiria um melhor uso do espaço, especialmente
para lidar com as pilhas de documentos em suas mesas de trabalho. Deixamos os escritórios sob
observação durante três semanas para estabelecer um patamar. Construímos a mobília, depois a
nova instalação foi feita sob total controle dos usuários.
Durante nove meses (o tempo da instalação mais os meses seguintes), uma câmera de
vídeo por reconhecimento automático de movimento estava gravando as atividades para permitir
análises futuras. Análises dos movimentos foram feitas, e mapas de atividades traçados,
mostrando onde os movimentos aconteciam no escritório. Foi feita uma comparação dos mapas
de atividades antes e depois das mudanças da instalação. Antes das mudanças, o sujeito
trabalhava sozinho a maior parte do tempo. Depois, observou-se frequentes sessões de
colaboração de dois ou três indivíduos, de frente para a tela. Os ocupantes espontaneamente
começaram a trabalhar cooperativamente com engenheiros de outros escritórios. Os visitantes
não ficavam simplesmente parados na porta como faziam antes, eles entravam e sentavam para
discutir em frente às telas.
Durante a apresentação dos resultados, os gestores desse grupo expressaram surpresa:
eles tentaram por anos obter esse resultado, a colaboração, mas nunca tiveram sucesso, e
atribuíram o fracasso dos esforços gerenciais ao fato que esses engenheiros eram cabeças-duras.
Curiosamente, este comportamento colaborativo ocorreu espontaneamente depois da nossa
reforma no escritório, simplesmente porque a nova configuração ofereceu boas possibilidades
para colaboração: um espaço grande o suficiente para dois ou três assentos de frente para uma
boa tela. Esta possibilidade não foi planejada por nós de maneira alguma, mas produziu efeitos.
O novo comportamento, documentado dois meses após a instalação da nova configuração
permaneceu estável. Este resultado pode parecer bastante trivial, mas nos lembra que um
primeiro movimento para promover a mudança é abordar a possibilidade física para o novo
comportamento.
Podemos também mudar o comportamento agindo em nível institucional, agindo sob as
regras, nas atribuições, na estrutura de poder e legitimação. É nesta perspectiva que
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Eu não devo insistir nestes dois níveis porque, como cientistas sociais, estamos cientes
deles. De fato, esses são os caminhos habituais para as políticas sociais: conduzir à educação e
campanhas na imprensa, criar leis e instituições especializadas. Deixe-me lhes mostrar uma
aplicação na indústria que ilustra como podemos implementar mudanças nas organizações do
mundo real. É chamada “realidade experimental”. Como eu disse, quando queremos mudar
o mundo, devemos modificar todas as três camadas. O problema é que, a coordenação das três
camadas é um problema do tipo ovo-e-galinha. Isso levanta a questão de timing e de enquadrar
socialmente esta coevolução. Como podemos fazer isso?
As situações do mundo real são tão complexas que desafiam a modelagem completa,
portanto, devemos operar num pequeno e realista microcosmo do sistema para modificar a
instalação, por exemplo, para viabilizar um novo comportamento. Fazendo isso, devemos
entender o que deve mudar nas diferentes camadas (física, social, mental) para tornar este novo
comportamento durável. Se conseguirmos criar uma boa solução neste microcosmo, uma que
seja durável, podemos estendê-la a todo o sistema. Isto é o que chamamos de “realidade
experimental”. Gradualmente modificamos a instalação alterando deliberadamente as
diferentes camadas, pouco a pouco, à medida que a situação se desenvolve. Na prática, fazemos
experimentos controlados, mas realistas, em pequena escala, envolvendo stakeholders e
usuários.
Uma primeira aplicação em larga escala foi o Laboratório de Design para Cognição, um
laboratório que fundei em 2000 com Valery Nosulenko na Électricité de France (EDF)8 para
implementar novos meios de trabalhar usando Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Maior conforto e eficiência e também mais sustentabilidade eram os objetivos. Entre outras
coisas, o experimento permitiu desenvolver um trabalho colaborativo que pôde reduzir
necessidades de transporte, o que é bom para as pessoas e para o ambiente. O laboratório tem
um prédio de 4.000ft²9 projetado como um estúdio de cinema (figura 6). A infraestrutura é
completamente flexível e organizada para observação contínua. A construção é equipada com
30 câmeras time-lapse (ou câmera-rápida) no teto que operam continuamente. Há vários
equipamentos de gravação de todos os tipos, incluindo subcâmeras e até monitoramento
fisiológico.
O laboratório tem escritórios futurísticos onde trabalhadores de verdade fizeram seus
trabalhos sob observação contínua. Um time de 25 trabalhadores voluntários participou do
processo. Coletivamente, com a ajuda de designers e psicólogos, eles criaram
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novos ambientes de trabalho, novas práticas e novas regras. O experimento durou três anos. O
fato de estar sob constante observação foi compensado pelo fato de viverem num ambiente
muito confortável e futurista, com crédito quase ilimitado para equipamentos de TIC. O
laboratório era parte de uma organização ainda maior, e os trabalhadores faziam seu trabalho
normal; o que permitiu explorar a compatibilidade das soluções locais com o sistema maior e,
portanto, apontar quais seriam os problemas de implantação. Este laboratório permitiu testar e
criar instalações para várias inovações que eram depois desenvolvidas na companhia. Entre
esses estavam redes de trabalho sem fio, áreas de trabalho móveis, encapsulamento VPN,
videoconferência por IP e o uso de etiquetas RF-ID, que na época eram inovações. Eu adoraria
dar mais detalhes, mas falta tempo. Eu recomendo aos interessados que leiam o livro que a
Springer está lançando esta semana chamado “Designing User Friendly Augmented
Environments” (2009).
As implementações dessas ações na companhia não salvarão o mundo por si só, mas
salvar o mundo será o resultado de vários esforços locais. Por exemplo, medidas no uso da sala
de videoconferência principal do K1 provou que não somente economiza tempo e esforços aos
usuários, mas economizou cerca de nove toneladas de CO² ao mês, e também mais de 40 mil
euros em transporte por mês. Também permitiu reduzir pela metade o atraso para encontrar uma
data apropriada para reuniões uma vez que é mais fácil se preparar para estar numa reunião com
uma hora de antecedência do que meio dia de antecedência, se houver transporte.
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Considerações Finais
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pragmática para aqueles que querem mudar o mundo. Precisamente porque a Teoria do Mundo
como Instalação é um modelo super simplificado, é simples de usar e pode, portanto, ser útil na
prática – desde que se lembre que é muito simplificado.
Referências
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Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia (26 a 29 de Outubro). Belém, 2011.
SEARLE, John R. The construction of social reality. New York: Simon and Schuster, 1995.
Licença Creative Commons – Atribuição Não Comercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0)
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