Aula 08 - Direito Processual Penal Militar
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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Contudo, deve-se ter cautela pra que a aplicação subsidiária do CPP e
da legislação processual comum não desvirtue a lógica processual penal
militar ou não haja previsão expressa sobre sua vedação. Exemplo de
vedação expressa é a prevista na lei 9099/95, em seu art. 90-A, que
determina o afastamento completo dos juizados especiais criminais da
esfera militar.
· O art. 4º do CPPM quase que em sua integralidade reproduz as
disposições de territorialidade e extraterritorialidade do art. 7º do CPM.
Contudo, em tempo de guerra, o inciso II do art. 4º do CPPM,
especificamente em sua alínea “b”, se verifica uma diferença. Assim,
mesmo que o fato ocorra em zona de operação militar brasileira, se houver
uma força aliada, será aplicada a lei processual brasileira, sendo um caso de
extraterritorialidade. Trata-se de extraterritorialidade irrestrita, ou seja,
independe de quem seja o autor ou a vítima.
· No tocante à aplicação da lei processual no tempo, nos
mesmos moldes da legislação comum, o CPPM adotou o princípio da
imediatidade.
· No caso de crime militar se perceberá que a autoridade, que
presidirá o inquérito policial militar, será também de natureza militar.
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· Segundo o art. 8º do CPPM são atribuições da Polícia Judiciária
Militar:
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formalidades previstas neste Código (art. 9º, § único do CPPM). Assim, diante do
contexto acima e da disposição prevista no art. 315, § único do CPPM, não se
poderia negar a realização de exame de corpo de delito.
• Escrito (art. 21 do CPPM);
• Sigiloso (art. 16 do CPPM);
Súmula vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa.
• Dispensabilidade (art. 28 do CPPM):
Dispensa de Inquérito
Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência
requisitada pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou
outras provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação,
cujo autor esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal Militar.
No que tange à hipótese da alínea c se verifica que o art. 341 dispõe sobre o
crime de Descato e o art. 349 tipifica o crime de Desobediência. Assim, dispensasse
o inquérito militar, haja vista a autoria e existência do crime já estarem
devidamente registradas através do flagrante no primeiro caso (Desacato) ou
certificadas no segundo (Desobediência).
Também é importante observar o disposto no art. 27 do CPM, que lista mais
uma hipótese de dispensabilidade do Inquérito Policial Militar. Confira.
• Indisponibilidade: Determina que, uma vez instaurado o inquérito, o
encarregado não pode arquivá-lo. Só o juiz arquiva inquérito policial militar, após
oitiva do MP. Conferir o art. 24 do CPPM:
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LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Forense, 2ª edição, 2011, p. 54.
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LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Forense, 2ª edição, 2011, p. 54.
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comum e militar, tendem a não admitir o denominado arquivamento
implícito, figura não prevista expressamente em nenhuma das duas
legislações.
· Ação penal.
Espécies de Ação Penal
No âmbito castrense só se admitem as seguintes espécies de ação
penal:
1) Ação Penal Pública Incondicionada – Regra;
2) Ação Penal Pública Condicionada à Requisição; e
3) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública.
Apesar do STF admitir a Ação penal privada subsidiária da pública o
mesmo não reputa viável a legitimação de pessoas jurídicas para tal ato.
Da mesma forma que na seara penal comum, para se admitir a
ação penal privada subsidiária da pública, é necessária a
caracterização da inércia do ministério público. Será considerado
inerte o Ministério público se, esgotado o prazo para a denúncia,
não a ofereceu, não pediu mais diligência e nem pediu
arquivamento do IPM ou das peças de informação.
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· O CPPM afirma que o processo penal militar se inicia
com o recebimento da denúncia e se efetiva com a citação.
· Para o CPPM, o acusado é a pessoa que tem contra si
uma denúncia recebida.
· Toda parte é sujeito processual, mas nem todo sujeito
processual é parte.
· Dispõe o art. 36 do CPPM que O juiz proverá a
regularidade do processo e a execução da lei, e manterá a ordem no
curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força
militar. Na definição de juiz o mesmo dispositivo em seu parágrafo 1º
afirma que sempre que este Código se refere a juiz abrange, nesta
denominação, quaisquer autoridades judiciárias, singulares ou
colegiadas, no exercício das respectivas competências atributivas ou
processuais.
· As situações de impedimento (conferir art. 37 do CPPM)
são objetivas ou subjetivas e se referem a fatos e circunstâncias
encontradas dentro do processo. São tratadas no CPPM de forma
peculiar, pois são tidas como situações de inexistência de relação
jurídica processual e não como nulidades absolutas, como costuma
afirmar a maior da doutrina de direito processual penal comum.
· Casos de suspeição do juiz: conferir o Art. 38.
· Dispõe o CPPM, em seu art. 55, que cabe ao Ministério
Público fiscalizar o cumprimento da lei penal militar, tendo em
atenção especial o resguardo das normas de hierarquia e
disciplina, como bases da organização das Forcas Armadas.
· O direito a defesa técnica é indisponível, sendo que o juiz
deve, por injunção legal, nomear defensor ao acusado que não o
possua, ainda que contra a vontade deste (que poderá, a qualquer
momento, constituir outro de sua inteira confiança). Nesse âmbito
deve-se lembrar o que dispõe a súmula 523 do STF: “No processo
penal, a falta de defensor constitui nulidade absoluta, mas a sua
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deficiência só anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. Deve-
se registrar também que a falta de comparecimento do defensor, se
motivada, adiará o ato do processo, desde que nele seja
indispensável a sua presença. Mas, em se repetindo a falta, o juiz lhe
dará substituto para efeito do ato, ou, se a ausência perdurar, para
prosseguir no processo (art. 74 do CPPM).
· Não funcionarão como defensores: o cônjuge ou o
parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, do juiz,
do membro do Ministério Público ou do escrivão. Contudo, se em
idênticas condições, qualquer destes for superveniente no processo,
tocar-lhe-á o impedimento, e não ao defensor, salvo se dativo, caso
em que será substituído por outro (art. 76 do CPPM).
· Prerrogativa do posto ou graduação: Art. 73. O
acusado que for oficial ou graduado não perderá, embora sujeito
à disciplina judiciária, as prerrogativas do posto ou graduação.
Se preso ou compelido a apresentar-se em juízo, por ordem da
autoridade judiciária, será acompanhado por militar de
hierarquia superior a sua. Parágrafo único. Em se tratando de
praça que não tiver graduação, será escoltada por graduado ou
por praça mais antiga.
· Art. 60. O ofendido, seu representante legal e seu
sucessor podem habilitar-se a intervir no processo como assistentes
do Ministério Público.
· Art. 62. O assistente será admitido enquanto não passar
em julgado a sentença e receberá a causa no estado em que se
achar.
· Art. 65. Ao assistente será permitido, com aquiescência
do juiz e ouvido o Ministério Público: a) propor meios de prova; b)
requerer perguntas às testemunhas, fazendo-o depois do procurador;
c) apresentar quesitos em perícia determinada pelo juiz ou requerida
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pelo Ministério Público; d) juntar documentos; e) arrazoar os recursos
interpostos pelo Ministério Público; f) participar do debate oral.
· Segundo o CPPM, a nomeação dos peritos é competência
do juiz, sem que se admita a intervenção das partes (Art. 47).
· A Justiça Militar Federal tem recorrido a perito federal,
estadual ou federal, que estão dispensados do compromisso 3 à que
alude o parágrafo único do referido artigo e da nomeação prevista no
art. 47 do CPPM.
· Tendo em vista que o estudo da Competência da Justiça
Militar da União é, por reflexo, o estudo das atribuições do Ministério
Público Militar, devemos visualizar o seguinte:
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LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Forense, 2ª edição, 2011, p. 96.
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Sobre o tema, elucidativo o quadro exposto pelos professores
Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli4, que sintetizamos da
seguinte forma:
Conselho Especial Conselho Permanente
de Justiça de Justiça
Composição Juiz-Auditor e Juiz-Auditor e
Quatro Militares Quatro Militares
(de posto elevado ou mais (sendo um oficial superior e
antigos que o acusado, três oficiais de posto até
desde que haja ao menos Capitão-Tenente ou Capitão)
um Oficial-Superior ou
General)
Competência Processar e Julgar os Processar e Julgar os praças
Oficias, com exceção dos e os civis.
Oficiais-Generais.
Duração Constituição para cada Constituição a cada
processo. trimestre.
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MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 10.
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Órgão Jurisdicional Órgão Jurisdicional
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BRASILEIRO, Renato. Competência criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p.
129/130.
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· Crime propriamente militar é aquele cujo bem jurídico é
exclusivo da vida militar e estranho à vida civil, de que é exemplo o dever
militar. Assim, só pode ter como sujeito ativo o militar da ativa. Além disso,
só é previsto na lei penal própria. Exemplos: Deserção (art. 187),
embriaguez em serviço (202) e dormir em serviço (203) todos do CPM.
· Por outro lado, o crime impropriamente militar, também
conhecido como crime acidentalmente militar ou crime militar misto,
envolve bem jurídico comum, tutelável pelas esferas penal comum e penal
militar. Desse modo, qualquer pessoa pode cometê-lo, embora o crime seja
considerado militar. Logo, encontra previsão no CPM, mas há previsão
idêntica ou semelhante na lei comum.
· Critérios Legais para Definir o Crime Militar: No que tange
ao critério para definir o crime militar, afirma-se que o legislador militar
adotou um critério processualista para definir o crime militar, pois
considerou aspectos comumente utilizados para definir competência (lugar,
matéria, pessoa). O critério prevalente é o da ratione legis. O legislador,
para trazer uma ideia do que seria o crime militar, faz uma soma de
critérios, sendo este preponderante e que sempre estará presente. Ou seja,
o crime militar é o que a lei militar assim define.
· Crimes Militares em Tempo de Paz (art. 9º do CPM)
Crimes Tipicamente Militares: São exemplos de crimes propriamente
militares: 1) Deserção, 2) Insubmissão (entendimento majoritário e do
STM), 3) Pederastia, 4) Motim e revolta, 5) Reunião ilícita.
· Art. 9º, II, alínea a: O contexto alínea acima é o seguinte:
Militar da ativa pratica crime contra militar também da atividade. Segundo o
STM, para que incida essa alínea, basta que os dois sejam militares,
mesmo que não estejam em serviço ou em local administrado pela
instituição militar. Assim, o militar da ativa é militar 24 horas por dia. Nesse
sentido decidiu recentemente o STM: Desnecessária a conjugação da
condição funcional com os demais elementos circundantes do crime,
bastando que o agente e a vítima sejam militares das Forças Armadas para
a fixação da competência da Justiça Castrense, em consonância com o
art.9º,inciso II, alínea a, do CPM. Cuidado deve ter o candidato caso a
questão indague sobre o posicionamento do STF. Pedimos cuidado, pois o
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STF, tem alterado seu entendimento desde o ano de 2011. Assim, segundo
os últimos informativos do STF a respeito do tema, se tem considerado que
a qualidade de crime militar se afasta caso, por exemplo, os militares
envolvidos desconhecessem a situação funcional dos envolvidos. (STF,
Informativo 626)
· Art. 9º, II, b: Súmula 172 do STJ: Compete à Justiça Comum
processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço.
· Súmula da jurisprudência do STJ: Súmula: 75, STJ: COMPETE A
JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR O POLICIAL MILITAR
POR CRIME DE PROMOVER OU FACILITAR A FUGA DE PRESO DE
ESTABELECIMENTO PENAL.
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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, vol. I, Niterói, RJ: Impetus, 2011, p. 541.
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Alterou o § único do art. 9º do Código Penal Militar que passou a ter a seguinte redação: Art. 9o ...
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra
civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica.” (NR)
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· Em 2012 o STF se manifestou no informativo 655:
Militar e tribunal do júri: Compete à justiça comum processar e
julgar crime praticado por militar contra militar quando ambos
estiverem em momento de folga.
· Segundo entendimento recente do STF, compete à justiça
federal comum processar e julgar civil, em tempo de paz, por delitos
alegadamente cometidos por estes em ambiente estranho ao da
Administração castrense e praticados contra militar das Forças
Armadas na função de policiamento ostensivo, que traduz típica
atividade de segurança pública.
· Segundo entendimento recente do STF, a justiça
castrense é absolutamente incompetente para processar e julgar civis
que, em tempo de paz, tivessem cometido fatos que, embora em tese
delituosos, não se subsumiriam à descrição abstrata dos elementos
componentes da estrutura jurídica dos tipos penais castrenses que
definiriam crimes militares em sentido impróprio.
· Segundo entendimento recente do STM, a Justiça Militar
é competente para julgar crime contra Força de Pacificação, haja
vista os militares da Força de Pacificação exercerem função
tipicamente militar, relacionada à garantia da lei e da ordem,
conforme previsto no artigo 142 da Constituição Federal.
· Segundo entendimento recente do STM, a Justiça Militar
tem como missão proteger as instituições militares e,
consequentemente, a soberania estatal em sentido amplo, sendo o
réu civil ou militar.
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