Carlo Rosa Paiva
Carlo Rosa Paiva
Carlo Rosa Paiva
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2008
ED CARLO ROSA PAIVA
_____________________________ _____________________________
Prof. Antonio Teixeira de Matos Prof. Marcos Alves Magalhães
_____________________________ _____________________________
a
Prof . Maria Cristina Dantas Vanetti Prof. Roberto Francisco de Azevedo
_____________________________
Profa. Mônica de Abreu Azevedo
(Orientadora)
A Deus, por tudo o que sou e o que tenho.
ii
AGRADECIMENTOS
iii
Ao professor Dr. Sebastião Valadares, Departamento de Zootecnia da
UFV, por ceder o equipamento usado na trituração das carcaças de frango.
Aos funcionários e alunos de graduação e pós-graduação do Departamento
de Engenharia Agrícola da UFV que direta, ou indiretamente contribuíram para a
realização desse trabalho. Em especial, aos funcionários “Zé pequeno”, “Inhame”,
Simão, Claudenilson e Amiltom e aos alunos, Tatiana, Múcio (Estagiários) e
Débora Astoni, Reginaldo, Ednei (Pós-graduaçao).
Agradecimento especial à estudante de Engenharia Agrícola e Ambiental
Renata Pereira de Barros pela sua valiosa contribuição ao longo de toda a
pesquisa.
Ao Engenheiro Agrícola e Ambiental Francesco Miguel Valenza pela
importante ajuda na concepção e construção do sistema de umedecimento
implantado nos experimentos com aeração forçada.
A Capes, pela bolsa de estudo concedida.
A minha Esposa Nunziata pela contribuição na revisão deste trabalho.
Certamente esqueci de citar nomes de muitos que ajudaram neste “trabalho
de equipe”, mas agradeço sinceramente a todos aqueles que direta ou mesmo
indiretamente contribuíram para seu êxito.
iv
“Os ideais são como as estrelas: nunca as alcançaremos.
Porém, assim como os marinheiros, em alto mar,
traçaremos nosso caminho
seguindo-as.”
(Jean Paul Sartre)
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................x
LISTA DE SÍMBOLOS............................................................................................xiii
RESUMO................................................................................................................xiv
ABSTRACT............................................................................................................xvi
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................18
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..............................................................................22
2.1 - Definição ....................................................................................................22
2.2 - A Compostagem de Carcaça de Animais..................................................23
2.3 - Classificação dos Processos de Compostagem ........................................25
2.4 - Vantagens e Limitações do Processo ........................................................26
2.5. Microrganimos Associados a Compostagem ..............................................27
2.5.1. Bactérias...............................................................................................30
2.5.2. Fungos..................................................................................................31
2.5.3. Actinomicetos .......................................................................................32
2.5.4. Outros Organismos...............................................................................33
2.6. Mudanças Durante a Compostagem ...........................................................34
2.7. Principais Fatores que Afetam os Processos de Compostagem.................41
2.7.1. Temperatura .........................................................................................42
2.7.2. Requerimento de Oxigênio/Taxa de Aeração .......................................46
2.7.3. Conteúdo de Água ................................................................................48
2.7.4. Nutrientes .............................................................................................49
2.7.5. Tamanho da Partícula...........................................................................52
2.7.6. pH .........................................................................................................53
2.8. Sistemas de Compostagem ........................................................................54
2.8.1. Método da Composteira........................................................................54
2.8.2. Compostagem em Leiras......................................................................58
2.8.2.1. Processo “Windrow” .......................................................................59
vi
2.8.2.2. Sistema de Compostagem por Leiras Estáticas Aeradas ..............62
2.9. O Composto ................................................................................................66
2.9.1 Aspectos Qualitativos do Composto Orgânico Como Fertilizante..........66
2.9.2. Aspectos Sanitários do Composto Orgânico ........................................68
3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................72
3.1. Primeira Etapa.............................................................................................73
3.2. Segunda Etapa............................................................................................75
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................93
4.1. Método da Composteira ..............................................................................93
4.1.1. Requerimento de Oxigênio/Taxa de Aeração........................................93
4.1.2. Temperatura .........................................................................................93
4.1.3. Conteúdo de Água ................................................................................97
4.1.4. pH .........................................................................................................98
4.1.5. Sólidos Voláteis (SV) ..........................................................................101
4.1.6. Nutrientes ...........................................................................................102
4.2. Leiras Estáticas Aeradas (LEAs)...............................................................108
4.2.1 - Requerimento de Oxigênio/Taxa de Aeração....................................108
4.2.2. LEA 01 ................................................................................................110
4.2.2.1. Temperatura.................................................................................110
4.2.2.2. Conteúdo de Água .......................................................................112
4.2.2.3. pH.................................................................................................115
4.2.2.4. Sólidos Voláteis............................................................................115
4.2.2.5. Nutrientes .....................................................................................116
4.2.3. LEA 02 ................................................................................................120
4.2.3.1. Temperatura.................................................................................120
4.2.3.2. Conteúdo de Água .......................................................................122
4.2.3.3. pH.................................................................................................123
4.2.3.4. Sólidos Voláteis............................................................................124
4.2.3.5 Nutrientes ......................................................................................125
4.2.4. LEA 03 ................................................................................................128
4.2.4.1. Temperatura.................................................................................128
4.2.4.2. Conteúdo de Água .......................................................................130
4.2.4.3. pH.................................................................................................131
vii
4.2.4.4. Sólidos Voláteis............................................................................132
4.2.4.5 Nutrientes ......................................................................................134
4.3. Aspectos Sanitários do Composto Orgânico Produzido ............................138
4.4. Aspectos Qualitativos, em Termos de Valor Fertilizante............................140
4.4.1. Capacidade de Troca Catiônica (CTC) ...............................................140
4.4.2 – Outros Nutrientes.............................................................................142
4.5. A Responsabilidade Social das Empresas e a Sustentabilidade da Produção
.........................................................................................................................143
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..........................................................147
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................150
viii
LISTA DE TABELAS
ix
LISTA DE FIGURAS
`
FIGURA 3.1 Equipamento utilizado na determinação do gradiente de
pressão estática.................................................................. 73
x
FIGURA 3.16 Posicionamento das sondas de temperatura – Perfil
longitudinal.......................................................................... 91
xi
FIGURA 4.16 Variação na relação C/N em função do tempo de
compostagem – LEA 01..................................................... 120
xii
LISTA DE SÍMBOLOS
xiii
RESUMO
xiv
foram, respectivamente de 22,05% e 5,75 (composteira), 22,05% e 5,25 (LEA 01),
28,86% e 5,76 (LEA 02) e 54,5% e 9,74 (LEA 03). De acordo com os resultados
concluiu-se que todos os experimentos apresentaram valores satisfatórios.
xv
ABSTRACT
The aim of this work was evaluate the compostability of the poultry
carcasses, poultry litter, sugar cane bagasse and coffee straw, suitably mixed.
Besides, the different processes in relation to efficiency on pathogenic
microorganism elimination, nutrients recycling and time of composting were
evaluated and to compared
The analyzed processes were the bin method, emphasizing the procedure
adopted by poultry farmers of Zona da Mata Norte of Minas Gerais and the
composting in aerated static pile (ASP) with positive forced aeration. The research
was carried out in two phases. In the first phase the wastes to be composted the
optimum ratio was found, through the determination of C/N ratio of each material
and of the loss of air pressure when passing through the composting material. In
the second phase the experiments were built and monitored with the following
compositions: bin method - coffee straw, poultry litter and poultry carcasses, ASP
01 – sugar cane bagasse, poultry litter and poultry carcasses; ASP 02 - sugar cane
bagasse, poultry litter and ground poultry carcasses; ASP 03 - coffee straw, poultry
litter and ground poultry carcasses. The parameters monitored during the process,
were: temperature, C/N ratio, volatiles solids (VS), pH, cation-exchange capacity
(CEC) and water content. For assessment of the efficiency of each process the
reduction of VS and CEC/TOC index, which CEC/TOC ≥ 1,7 (stabilization grade of
organic matter); the Salmonella elimination and thermotolerants coliforms reduction
(sanitization of compost) were evaluated. After 90 days all experiments showed
satisfactory results, not only in the organic matter stabilization but also in the
compost sanitization, which is the absence of Salmonella and satisfactory
reduction of thermotolerants coliforms. The reduction of VS and the CEC/TOC
index were, respectively 22,05% and 5,75 (bin method), 22,05% and 5,25 (ASP
xvi
01), 28,86% and 5,76 (ASP 02) and 54,5% and 9,74 (ASP 03). According with
these results, it was concluded that all the experiments showed satisfactory values.
xvii
1. INTRODUÇÃO
1
AVIZOM – Associação dos Avicultores da Zona da Mata. Projeto de pesquisa: Cama de frango.
Visconde do Rio Branco – MG, fevereiro de 2006. Texto não publicado.
18
mortas, correspondendo uma produção anual de 75.600 toneladas de excretas e
cerca de 6,48 milhões de aves mortas.
A cama de frango descartada dos criatórios, antes Instrução Normativa no 8,
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não constituía problema
ambiental, sendo, ao contrário, responsável pela viabilidade econômica do sistema
de integração de frango na região, uma vez que todo esse material era
comercializado como suplemento alimentar de gado. As carcaças de aves mortas
durante a fase de criação eram enterradas, lançadas nos rios da região ou
utilizadas como alimento para outros animais (AVIZOM, 2006).
A Instrução Normativa no 8, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, promulgada em março de 2004, proibiu a prática de alimentar
outros animais com a cama de frango. Além disso, leis ambientais, tanto estaduais
quanto federais, exigem maior cuidado na disposição dos resíduos no solo, seja
por questões sanitárias ou mesmo ambiental. Maior atenção passou a ser dada,
pelos agricultores, à forma de disposição final das carcaças de aves, de forma a
atender a legislação vigente, que proíbe o seu lançamento em cursos d’água,
enterro sem critério ou uso na alimentação animal.
Nesse sentido, tornou-se urgente o desenvolvimento de tecnologias que
possibilite a destinação adequada, sob o ponto de vista sanitário e ambiental, se
possível, com o aproveitamento desse resíduo para fins agrícolas. Para que isso
seja possível, deve-se, no entanto, conhecer melhor os componentes químicos e
microbiológicos desses resíduos, de forma a se obter um adubo orgânico
sanitariamente seguro e que agregue valor econômico.
GRAVES et al. (2000) considera a compostagem de carcaças a técnica de
tratamento de custo e tecnologia mais acessível aos produtores de aves. Na
compostagem, propriamente dita, está implícita a aeração do material, seja por
reviramento (processo “Windrow”) ou por aeração forçada (processo de leiras
estáticas aeradas). O metodo da composteira, que é uma variante aos processos
de compostagem, entretanto, difere dos anteriores, conceitualmente pois
contempla uma fase onde se promove a aeraçao do material, nem por reviramento
e nem a aeração forçada.
19
A compostagem de animais mortos nos sistemas de produção comercial
tem sido feita, de forma predominante, em composteiras (“bin Method”) (GRAVES
et al., 2000), entretanto muita preocupação se tem com a qualidade sanitária do
material.
GOLUEKE (1980), citado por PEREIRA NETO (1987a), afirma que a
compostagem é o processo de tratamento de resíduos que apresenta menor custo
em relação a outros métodos de tratamento. O mesmo autor cita vários estudos
que demonstraram que a compostagem é o único processo que combina
eliminação adequada de patógenos com alto grau de estabilização. Tais
características fazem com que a compostagem seja o processo de tratamento de
resíduos orgânicos mais utilizado no mundo.
Segundo STENTIFORD (1986), citado por AZEVEDO (1993), a bibliografia
especializada contempla mais de 30 diferentes processos de compostagem.
Sendo que, esses processos se apresentam divididos, basicamente, sob duas
formas: os sistemas fechados, nos quais a compostagem ocorre dentro de
reatores mecânicos e os sistemas abertos, nos quais o processo de compostagem
ocorre em leiras. De qualquer forma, independente da forma de processamento, a
maior parte dos estudos tem sido direcionada a compostagem da fração orgânica
dos resíduos sólidos urbanos (RSU).
O processo de Leiras Estáticas Aeradas (LEA) vem sendo muito difundido
para o tratamento de resíduos orgânicos, principalmente, lodo de esgoto
doméstico, devido suas características inerentes como, baixo custo de
manutenção, grande produtividade e eficiência na eliminação de patógenos
AZEVEDO (1993). Ainda segundo a mesma autora os custos de construção e
operação das instalações dos sistemas de compostagem por LEA são similares ao
processo “Windrow”, sendo assim, acredita-se que tal processo possa ser
excelente alternativa de tratamento à crescente demanda dos resíduos gerados
pelo processo produtivo de carnes de frango no Brasil.
Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo geral:
• Avaliar a eficiência dos processos de compostagem por aeração forçada
e por composteira (na forma como desenvolvido na Zona da Mata Norte
mineira) no tratamento da carcaça de frango utilizando como materiais
20
estruturantes e fontes de carbono o bagaço de cana-de-açúcar, palha
de café e a cama de frango. Os indicadores utilizados foram a
estabilização da matéria orgânica (redução de sólidos voláteis e relação
C/N) e sanitizaçao (redução de microrganismos, coliformes
termotolerantes e Samonella).
Objetivos específicos:
• Estudar e comparar a eficiência dos processos da composteira, tal como
desenvolvido na Zona da Mata Norte em Minas Gerais, e de leiras
estáticas aeradas na compostagem de cama-de-frango, bagaço de
cana-de-açúcar, palha de café e carcaça de frango, quanto à
estabilização da matéria orgânica e a eliminação de microrganismos
patogênicos.
• Estudar a compostabilidade conjunta da cama-de-frango, carcaça de
frango e bagaço de cana-de-açúcar ou palha de café.
• Avaliar o comportamento e o desempenho dos diferentes processos e
misturas dos materiais, por meio de análises físicas, químicas e
bacteriológicas, durante todo o período de compostagem.
21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 - Definição
2
Resíduos orgânicos convencionais aqui são considerados todos os resíduos orgânicos, exceto
animais mortos e partes de animais. Estes últimos exigem cuidados especiais na compostagem,
como por exemplo a fase de degradação ativa se apresenta em duas ou mais etapas distintas.
22
• Geração de um produto final ou “húmus”, que na verdade trata-se
apenas de um material humificado, consistente, marrom escuro,
parecido com solo e que contém, basicamente, bactérias mesofílicas.
23
A compostagem de animais mortos se diferencia da compostagem de resíduos
orgânicos convencionais por apresentar mais de um estágio de degradação ativa.
Os materiais que compõe a mistura e que são fontes de carbono e nitrogênio,
inicialmente, não se encontram intimamente misturados. Além disso, o processo
apresenta um pequeno período de degradação anaeróbia. Segundo KEENER et
al. (2000) e BAGLEY (2002), citados por MUKHTAR et al. (2004), o processo se
desenvolve da seguinte maneira:
• No inicio do primeiro estádio, no entorno das carcaças, o processo de
degradação é anaeróbio;
• Depois disso, os líquidos e gases formados, se movem em direção a
zona aeróbia, formada pelo material de co-compostagem que está no
entorno das carcaças;
• Os gases e líquidos são, então, capturados pelos microrganismos
presentes nessa massa de material e convertidos a dióxido de carbono
e água;
• O material do entorno das carcaças é fonte de carbono e de bactérias,
além de funcionarem como um filtro biológico (biofiltro) para o sistema.
De acordo com esse conceito, acredita-se que as carcaças de animais
funcionam como fontes de nitrogênio orgânico, o material do entorno são as fontes
de carbono e, a partir da atividade dos microrganismos, se tem, como produto
final, um material estável e relativamente homogêneo, composto por biomassa
bacteriana e ácidos húmicos, que pode ser usado para melhoramento (fertilização
e condicionamento) do solo. Segundo MUKHTAR et al. (2004), alguns autores
acreditam que, em termos de aplicação no solo, os produtos finais da
compostagem de animais mortos são comparáveis aos da compostagem de
resíduos orgânicos convencionais como resíduos sólidos urbanos e agrícolas e
lodo de esgoto.
Torna-se importante ressaltar que a compostagem de carcaças, mais
especificamente pelo método da composteira, é aplicável para animais com morte
natural, não sendo indicada para mortalidade catastrófica resultante de calor
excessivo, problemas com instalações, perdas por doença, entre outras.
(PEDROSO-DE-PAIVA, 2004). Entretanto, segundo relatado pela USEPA (2006),
24
a compostagem é boa alternativa para o combate a epidemias de gripe aviária,
podendo ser executada no campo ou em galpões. Nesse relatório está descrito
que um vírus de alta patogenicidade, como o H5N2, pode ser inativado em três
horas, sob temperatura de 55 oC, ou em meia hora, a 60 oC, sendo que essas
temperaturas estão dentro da faixa em que o processo de compostagem ocorre.
25
ocorre em uma unidade fechada denominada de reator, biodigestor ou
bioestabilizador. GOLUEKE (1977) considera que a compostagem conduzida na
maior parte dos processos mecânicos necessita de continuação em leiras,
objetivando a estabilização e maturação adequada do produto final.
26
GOLUEKE (1980), citado por PEREIRA NETO (1987a), afirma que a
compostagem em Leiras Estáticas Aeradas é o processo de tratamento de
resíduos que apresenta menor custo em relação a outros métodos de tratamento.
O mesmo autor cita vários estudos que mostraram que a compostagem é o único
processo que combina adequada eliminação de patógenos com alto grau de
estabilização do material orgânico.
27
determinado período da compostagem (GRAVES et al., 2000, MUKHTAR et al.,
2004).
Uma vez que a compostagem é, fundamentalmente, um processo biológico,
o conhecimento dos vários grupos de microrganimos e suas funções no processo
de bio-oxidação são essenciais (BERTOLDI et al., 1983, citado por AZEVEDO,
1993).
AZEVEDO (1993) apresenta, em sua revisão bibliográfica, uma serie de
pesquisas realizadas com os mais diferentes tipos de resíduos sólidos, que
enfocaram a identificação e quantificação dos microrganismos presentes durante
os processos de compostagem. SCHULZE, (1961); KANE e MULLINS, (1973);
FINSTEIN e MORRIS, (1975), pesquisaram resíduos sólidos urbanos e
(GOLUEKE et al., 1954; GRAY e BIDDLESTONE, 1971a e SAVAGE et al., 1973)
pesquisaram resíduos agrícolas e esterco de animais. Em todos estes trabalhos,
por meio de isolamento e incubação em laboratório, foram observadas sucessões
de microrganismos específicos relacionados a vários estágios do processo, em
função dos fatores temperatura e tempo.
GOLUEKE (1977) alerta para o cuidado que se deve ter ao se concluir a
respeito de análises relacionadas a microrganismos feitas em laboratório. Nesse
sentido, o autor ressalta que a identificação e quantificação dos microrganismos
atuantes no processo de compostagem, em laboratório, são feitas a partir do
isolamento e incubação destes, sob condições ótimas, o que nem sempre
correspondem às condições reais na massa de compostagem. O autor observa
que o fato de se isolar determinado grupo de microrganismo em maior numero que
outros, não significa que este grupo seja, realmente mais numeroso e nem prova
que ele seja o mais ativo, sob condições reais na massa de compostagem. Além
disso, o autor ressalta que em condições de laboratório a falta de interação e
competição entre espécies, bem como a utilização de um meio de cultura
específico favorece o crescimento de determinado microrganismo. A diversidade
microbiana, bem como a maior predominância de determinada espécie na massa
de compostagem é função da diversidade e quantidade de substratos disponíveis,
dentre outros fatores. A identificação de uma determinada espécie predominante
em uma determinada massa de compostagem, sob determinadas condições
28
ambientais, não garantirá que essa mesma espécie seja dominante, nas mesmas
condições, ambientais, porém com outros substratos.
O isolamento e a identificação de organismos, segundo GOLUEKE (1977),
é de grande importância, pois uma vez conhecido o papel desses microrganismos
na compostagem, podem ser conhecidas as condições ótimas para o crescimento
deles, bem como sua cinética de crescimento e, assim, pode-se projetar um
sistema de compostagem de acordo com essas informações. Entretanto, o mesmo
autor ressalta que as condições ótimas são aquelas nas quais a decomposição da
matéria orgânica se processa mais rapidamente e da forma desejada,
representado a interação de todos os fatores "in situ", sem a necessidade de se
identificar um único organismo.
Algumas pesquisas, citadas por AZEVEDO (1993), procuraram medir a
atividade microbiana e os efeitos das variáveis ambientais, incluindo temperatura,
umidade e pH, sobre as comunidades microbianas ativas, no processo de
compostagem. AZEVEDO (1993) relata que alguns pesquisadores concluiram que
os resultados destes estudos são de difícil comparação, devido à variedade dos
materiais usados, dos sistemas de compostagem empregados, bem como dos
métodos utilizados para estimar a atividade microbiana. Alguns destes métodos,
segundo a autora, incluíram a produção de odor (MAC GREGOR et al., 1981), a
umidade (SULLER e FINSTEIN, 1977; FINSTEIN et al., 1983), a produção no
interior da leira de dióxido de carbono (BACH et al., 1984; KUTER et al., 1985).
AZEVEDO (1993) destaca os seguintes resultados destes estudos:
• A maioria das comunidades microbianas são melhor adaptadas às
temperaturas mais altas durante a fase intermediária dos processos de
compostagem;
• Microrganismos mesofílicos e termofílicos têm importantes funções no
processo;
• Microrganismos termofílicos extremos (temperatura ótima acima de 60
o
C) não são os mais significantes no processo de decomposição.
A seguir, são descritos os principais microrganismos atuantes nos
processos de compostagem.
29
2.5.1. Bactérias
30
6 a 7,5 (GOLUEKE, 1977; GRAVES et al., 2000). Aparecem em maior número nos
primeiros estágios da compostagem, quando os compostos facilmente
degradáveis ainda não foram consumidos (RYNK, 1992, citado por GRAVES et al.
2000).
2.5.2. Fungos
2.5.3. Actinomicetos
33
atualmente utilizados, especialmente, quando estes são realizados em países de
clima tropical, onde praticamente não ocorrem estas temperaturas.
34
fase ativa tenha dois estágios, o autor considera que, na compostagem de
pequenos animais, seja adequado um tempo de 21 a 28 dias para cada estágio.
Entretanto, para grandes animais, esse tempo deve variar de 60 a 90 dias para
cada estágio.
BOLLEN et al. (1989) e KENNER et al. (2000), citados por MUKHTAR et al.
(2004), consideraram que, na compostagem de carcaça de animais, a primeira
fase, fase ativa ou fase de desenvolvimento, pode ser divida em três sub-fases,
assim descritas:
• Inicial, que pode durar de um a três dias, período em que a temperatura
do material aumenta, podendo chegar a 43 ºC. Nesta sub-fase, os
microrganismos mesofílicos degradam açúcares, amidos e proteínas;
• Alta taxa, pode durar de 10 a 100 dias, período em que a temperatura
aumenta de 43 ºC até aproximadamente 71 ºC. Os microrganismos
termofílicos degradam gorduras, celulose, hemicelulose e alguns tipos
de lignina;
• Estabilização, sub-fase que pode durar de 10 a 100 dias, período em
que a temperatura decresce, mas se mantém acima dos 40 ºC. Ocorre
a degradação de celuloses específicas (provavelmente de cadeia
curta), hemiceluloses e ligninas e microrganismos mesofílicos
recolonizam a massa de compostagem.
Os autores consideram que as altas temperaturas que ocorrem na primeira
e segunda sub-fase são em função da quantidade e do grau de uniformidade da
oxigenação, umidade e composição dos materiais necessários.
A segunda fase (também chamada de fase de maturação ou de cura) pode
necessitar de um mês ou mais para o seu término. Nessa fase, o oxigênio não é
fator determinante para a compostagem adequada, ocorrendo uma série de
reações retardadas, como a quebra da lignina, podendo durar muito tempo. De
acordo com BOLLEN et al. (1989), citados por MUKHTAR et al. (2004), essa fase
pode durar até cinco meses, devendo a temperatura permanecer inferior a 40 ºC.
Na compostagem de animais, esse período dura, em média, 90 dias (HENRY,
2003),
35
Segundo PEREIRA NETO (1987a), a duração da fase de maturação irá
depender do tipo do processo empregado e do grau de controle exercido durante
a primeira fase bioxidativa de compostagem e das características do material pré-
estabilizado. Segundo STENTIFORD (1991), a fase de maturação nada mais é
que um período de estocagem, em pilha, do material pré-estabilizado durante a
fase ativa.
Segundo KENNER et al. (2000), citado por MUKHTAR et al. (2004), durante
fases equivalentes de compostagem, a temperatura do material nas pilhas de
compostagem de carcaças serão menores que em pilhas de resíduos orgânicos
vegetais, a menos que condições físicas e químicas sejam otimizadas para
proporcionar maior diversidade microbiana e aeração adequada do material nas
primeiras. Além disso, a pilha de compostagem de carcaças deve ser grande o
suficiente ou possuir material isolante para manter as temperaturas altas.
Pouco se conhece sobre a influência do processo na qualidade química dos
compostos produzidos, principalmente no que se refere às diversas fases do
processo, alterações de temperatura e atividade microbiana, etc.. Segundo alguns
autores, como BIDDLESTONE e GRAY (1981), citados por AZEVEDO (1993),
devido à diversidade das matérias-primas utilizadas, tem sido extremamente difícil
precisar todas as mudanças bioquímicas que ocorrem durante o processo de
compostagem. Entretanto, PEREIRA NETO (1987a; 1989a) considera que a
degradação biológica pode ser descrita, em aspectos gerais, segundo um paralelo
feito entre a atividade microbiana e a temperatura que governa cada fase do
processo (AZEVEDO, 1993).
Na decomposição natural a temperatura se situa na faixa que favorece
microrganimos mesofílicos, ou seja, entre 10 ºC e 40 ºC, o que faz da microbiota
mesofílica a mais importante neste processo.
Durante a compostagem de resíduos orgânicos, da forma como hoje se
preconiza, essa faixa de temperatura ocorre no inicio do processo (fase ativa) e no
final do processo (fase de maturação). Assim que os resíduos orgânicos são
empilhados, inicia-se a atividade biológica de decomposição, em decorrência da
ação dos microrganismos mesofílicos presentes no material, degradando os
compostos de mais fácil metabolização, como açúcares, proteínas, aminoácidos,
36
amido e gorduras. Essa atividade libera energia e, esta energia fica parcialmente
retida no interior da leira devido às características termoisolante da matéria
orgânica. Assim, a temperatura da leira aumenta gradativamente, regulada por
fatores ambientais e pela natureza do material (GRAVES et al. 2000, MUKHTAR
et al. 2004). Na faixa de temperaturas elevadas, que favorecem a população
microbioana termofílica, esta substitui a população de microrganismos mesofílicos.
Quando a temperatura atinge a faixa entre 55 ºC e 60 ºC, bactérias
termofílicas, fungos e actinomicetos multiplicam-se e iniciam a utilização de
polissacarídeos, como hemicelulose e proteína, transformando-os em subprodutos
(açúcares simples), que são utilizados por várias outras espécies de
microrganismos (SCHULZE, 1961, citado por AZEVEDO, 1993). Nesta faixa de
temperatura, dependendo do processo utilizado, ocorrerá, a maior eliminação de
organismos patogênicos, bem como de larvas de insetos, ovos de helmintos e
sementes de ervas daninhas (PEREIRA NETO 1989a; 2004). Segundo
BIDDLESTONE e GRAY (1991), assim que a temperatura da pilha ou leira se
eleva até valores próximos a 60 ºC, a atividade dos fungos termofílicos é
interrompida e a reação de decomposição continua pela ação dos actinomicetos e
de bactérias formadoras de esporos. Em processos de compostagem não
controlados, a temperatura pode atingir valores superiores à 80 ºC e, nesse caso,
prejudica o processo (PEREIRA NETO, 2004), por provocar perda de nutrientes
contidos no material em compostagem, bem como eliminar microrganismos
benéficos.
Assim que as fontes de carbono de mais fácil degradação acabam, a
atividade microbiana é reduzida e, com ela, a temperatura também. Sendo assim,
o calor gerado pela atividade biológica é dissipado pela massa em compostagem,
marcando o fim da fase termofílica. Nesta fase, ocorre a degradação dos
compostos de mais fácil decomposição e a maior demanda de oxigênio
(AZEVEDO, 1993).
Findo o período de dominância de reações exotérmicas de degradação do
material orgânico, passa ocorrer resfriamento do material da leira. Com isso, os
microrganismos mesofílicos, principalmente fungos e actinomicetos, situados nas
zonas periféricas da leira (de baixa temperatura), reinvadem a massa de
37
compostagem recomeçando a degradação dos compostos mais resistentes. Esses
microrganismos tornam-se predominantes e passarão a ser os principais
responsáveis pela continuidade de degradação do material orgânico.
Logo que a temperatura da leira atingir valores inferiores a 40 ºC, o material
deve ser posto para maturar. Durante a fase de maturação, reações bioquímicas
complexas ocorrem entre resíduos de lignina e proteína, provenientes da morte de
microrganismos, para formarem ácidos húmicos PEREIRA NETO (1989a; 2004).
Algumas transformações bioquímicas, que ocorre durante o processo de
compostagem e relatadas por GRAVES et al. (2000) para obtenção de energia e
síntese celular, estão descritas a seguir:
Para a síntese de novas células, os microrganismos precisam de
quantidade suficiente de energia. Essa energia pode ser obtida por respiração
(aeróbia ou anaeróbia) ou por fermentação.
Na respiração aeróbia, os microrganismos utilizam o oxigênio molecular
(O2) para obter a maior parte da energia das fontes de carbono, produzindo
dióxido de carbono (CO2) e água. A reação básica é:
Essa conversão não é obtida completamente por uma simples reação, mas
por uma série de reações. Essas reações servem não somente para liberar
quantidade significativa de energia, mas também para formar grande quantidade
de compostos orgânicos intermediários, que servirão de ponto de partida para
outras reações de síntese.
Na respiração anaeróbia, os microrganismos usam outros aceptores de
elétrons que não o oxigênio (O2) para a obtenção de energia. Dentre eles, cita-se
nitratos (NO3-), sulfatos (SO4-2) e carbonatos (CO3-2). Com estes aceptores de
elétrons, nos processos metabólicos são produzidos compostos com odores
desagradáveis, tal como o sulfeto de hidrogênio (H2S). Além disso, são produzidos
ácidos orgânicos intermediários que são prejudiciais aos microrganismos aeróbios.
A respiração anaeróbia é menos eficiente para obtenção de energia e, além disso,
as temperaturas no processo são menores, o que proporciona uma degradação
38
mais lenta e prejudica a eliminação de patógenos. Em razão dessas
características, a respiração aeróbia é preferida em relação à anaeróbia para a
compostagem.
A fermentação é o processo de obtenção de energia mais simples, não usa
oxigênio e, é relativamente ineficiente, pois a maior parte do carbono é convertido
em produtos finais e não assimilados pelas células.
Todas as proteínas são quebradas para serem assimiladas por
microrganismos heterotróficos, para a obtenção de nitrogênio para a síntese de
novos materiais celulares. Resíduos orgânicos nitrogenados ou proteínas, por
oxidação enzimática (digestão), formam compostos aminados complexos por meio
do processo denominado aminização. Nessas reações, dióxido de carbono,
energia e outros subprodutos também são obtidos:
39
2 NH3 + H2CO3 → (NH4)2CO3 ↔ 2 NH4+ + CO3-2
40
Quando a desnitrificaçao é realizada por bactérias anaeróbias, há geração,
como produto final, do óxido nitroso. A reação geral, dessa transformação é:
41
Tabela 2.1: Faixas ótimas de valores para os principais fatores que afetam a
compostagem:
Variável Valores
Relação C/N 25-30:1
Tamanho da 10-35 mm para sistemas com reatores mecânicos e
partícula aeração forçada;
50 mm para os processos “windrow” e aeração natural
Conteúdo de água 50-60 dag kg-1
Fluxo de Ar 0,6 -1,8 m3 de ar dia-1kg-1 de sólidos voláteis ou manter
os níveis de oxigênio entre 10 a 18 m3 m-3. Para aeração
forçada positiva usar controle de temperatura por
“feedback”.
Temperatura 55 ºC
Controle de pH Normalmente não é recomendado.
Tamanho da leira 1,5 m de altura e 2,5 m de largua para leiras com aeração
natural. Para aeração forçada o tamanho pode ser
aumentado. O comprimento pode variar em função da
quantidade de material a ser compostado.
Fonte: BIDDLESTONE & GRAY (1991).
Porém, será visto, no decorrer dessa revisão bibliográfica, que essas faixas
podem variar de acordo com o tipo resíduo a ser compostado, com o tipo de
processo utilizado na compostagem, dentre outros fatores.
2.7.1. Temperatura
42
oxidação da matéria orgânica. Logo que a leira de compostagem é montada, a
temperatura da leira, inicialmente próxima a ambiente, eleva-se como resultado da
retenção do calor gerado por esta atividade. Se as condições ambientais
(umidade, aeração, disponibilidade de nutrientes) estão adequadas, a temperatura
da leira deverá atingir valores entre 40 ºC e 60 ºC, do segundo ao quarto dia de
compostagem (PEREIRA NETO, 1989b; PEREIRA NETO e AZEVEDO, 1990a).
STENTIFORD et al. (1996a), resumidamente, considera que temperaturas
superiores a 55 ºC, por no mínimo três dias, são suficientes para sanitizar o
composto, enquanto que a degradação máxima ocorre entre 45 ºC e 55 ºC e
máxima diversidade microbiana ocorre para temperaturas entre 35 ºC e 40 ºC.
Temperaturas na faixa de 65 ºC a 80 °C são prejudiciais à atividade da
microbiota responsável pela degradação, retardam o período de compostagem,
por causar a morte de microrganismos termofílicos benéficos, e interferem na
qualidade final do composto.
Temperaturas superiores a 65 °C, associadas a pH maiores que 7,5 a 8
(meio alcalino), favorecem a perda de nitrogênio do sistema pela volatilização da
amônia, gerando odores desagradáveis (PEREIRA NETO, 1989b; GRAVES et al.,
2000). Portanto, o objetivo dos sistemas de compostagem tal como se preconiza
atualmente é a manutenção da temperatura média no interior da leira abaixo de 65
ºC (FIALHO et al., 2005).
O controle das temperaturas desenvolvidas ao longo do processo de
compostagem poderá ser realizado por meio de reviramentos periódicos, caso o
sistema de compostagem empregado seja o Processo “Windrow” ou por meio da
passagem forçada de ar na leira de compostagem, quando o processo utilizado é
o de Leiras Estáticas Aeradas. Em ambos os processos, a aeração da massa de
compostagem passa a ser o principal mecanismo de controle da temperatura na
faixa considerada ideal (AZEVEDO, 1993).
Na compostagem de carcaças de animais, a temperatura é considerada o
fator mais crítico, principalmente, na fase ativa ou de desenvolvimento (MUKHTAR
et al. 2004). Segundo HENRY (2003), a temperatura mínima a ser alcançada na
compostagem de animais mortos dever ser de 54 ºC, sendo a ótima 60 ºC e a
máxima 71 ºC. A faixa de temperatura recomendada, para que o processo
43
funcione bem, é de 55 ºC a 65 ºC (RITZ e WORLEY, 2005). MUKHTAR et al.
(2004), citando HARPER et al. (2001), KEENER e ELWELL (2000) e LANGSTON
et al. (2002) relatou que a decomposição na faixa termofílica (entre 40 ºC e 71 ºC)
é mais rápida que na faixa mesofílica (entre 10 ºC e 40 ºC). Além disso, o calor
gerado pelo processo pode ser mantido, caso a pilha seja construída
adequadamente, favorecendo a rápida decomposição. Uma das vantagens de se
manter temperaturas elevadas é a inativação de sementes de ervas daninhas,
presentes no material estomacal e intestinal de animais compostados. Segundo
LOOPER (2002), citado por MUKHTAR et al. (2004), ervas daninhas podem ser
inativadas quando a temperatura superar 62 ºC.
A temperatura pode ser afetada por vários fatores, tais como: tipos de
microrganismos presentes, materiais que estão sendo compostados, tamanho das
carcaças, umidade, aeração e pH (GRAVES et al., 2000, MUKHTAR et al., 2004).
MUKHTAR et al. (2003), compostando carcaças de bois e cavalos, pelo
método de leiras estáticas aeradas passivamente3, com ou sem estrados,
verificaram que:
• Uma vez que as pilhas foram montadas em diferentes estações
do ano, com diferentes índices pluviométricos no período de
condução da compostagem de carcaças de cavalos (10 a 25 mm
de chuva) e bois (80 a 200 mm de chuva), a ocorrência de
temperaturas no interior da pilha (aproximadamente de 55 ºC)
durou um mês para os primeiros e cinco meses para os últimos;
• Dentro de poucos dias após a montagem das pilhas, as
temperaturas, tanto na base quanto no topo das pilhas de
compostagem de carcaças de cavalo e boi, montadas sobre
estrados excederam 55 ºC. As temperaturas da base da pilha se
mantiveram 5 ºC a 10 ºC acima das temperaturas do topo. Fato
este explicado pelo ressecamento da pilha;
3
A aeração passiva aqui considerada é aquela que ocorre pela entrada natural do ar na massa de
compostagem. O ar entra na massa favorecido pelo uso de materiais de co-compostagem que
conferem porosidade à massa. Nesse caso, o ar não entra forçadamente na massa com o uso de
ventiladores. Sua entrada na massa é favorecida pelo uso de materiais de co-compostagem que
conferem porosidade à massa.
44
• A pilha de composto de boi e cavalo, sem estrado, foi revirada
após três meses. Esta aeração juntamente com uma série de
eventos chuvosos que a precederam causou aumento
significativo na atividade microbiana e, conseqüentemente, na
temperatura na pilha de compostagem de boi, alcançando-se
temperaturas superiores a 74 ºC, cinco dias após o reviramento;
• Devido a diferentes quantidades de água e de nutrientes entre as
carcaças de boi e de cavalo, a temperatura dentro da pilha de
compostagem de boi se manteve acima ou próxima a 55 ºC, por
três meses, após o início da aeração, enquanto que na pilha de
compostagem de cavalo continuou a diminuir, com elevações
ocasionais, em decorrência de eventos de chuva.
Relatam MUKHTAR et al. (2004) que a maioria dos pesquisadores acredita
que, quando a temperatura atinge a faixa de 55 ºC a 60 ºC em todo composto, ela
deve permanecer nessa faixa por uma a duas semanas. Além disso, para que seja
mais confiável a eliminação de patógenos, a temperatura do centro da pilha deve
alcançar e se manter em torno de 65 ºC por um ou dois dias. Depois disso, a pilha
de composto pode ser revirada ou retirada do local com o mínimo de risco de
disseminação de doenças causadas por microrganismos patogênicos. Entretanto,
caso a temperatura exceda 65 ºC por mais de dois dias, a pilha deve ser revirada
ou aerada para prevenir a inativação térmica de microrganismos benéficos
(MUKHTAR et al., 2004). O mesmo autor ressaltou que, embora altas
temperaturas sejam benéficas, em termos de aceleração da decomposição e
maior eficiência na eliminação de patógenos, temperaturas excessivamente altas
podem inativar enzimas desejáveis produzidas por microrganismos benéficos, ou
até mesmo esses microrganismos. Como o caso dos microrganismos Aspergillus
niger e Trichoderma reesei, que convertem celulose, hemicelulose e lignina em
moléculas menores, e que são destruídos quando as temperaturas atingem a faixa
de 60 ºC a 70 ºC, por mais de duas ou três horas. Além disso, nessa faixa de
temperatura, muitas enzimas responsáveis pela digestão de carbono são
inativadas e muitos compostos de nitrogênio são liberados na forma de gás,
gerando odores desagradáveis. MILLER (1993), citado por MUKHTAR et al.
45
(2004), confirmou que fungos assimilam fontes complexas de carbono, como
celulose e lignina, mas tem suas atividades muito reduzidas acima de 55 ºC.
KUBE (2002), citado por MUKHTAR et al. (2004), relatou que em compostos nos
quais a temperatura ficou acima de 65 ºC a atividade microbiana foi reduzida e
acima de 71 ºC foi interrompida.
Diante das considerações feitas por MUKHTAR et al. (2004) objetivando a
sanitização do composto, ressalta-se que, em termos práticos, é praticamente
impossível, se garantir uma temperatura entre 55 ºC a 60 ºC em todo o composto.
Devido às características do material a ser compostado, dimensões da leira,
condições ambientais, dentre outros fatores, o que ocorre é um gradiente de
temperatura na leira, partindo de temperaturas mais altas no interior da leira até
temperaturas próximas a ambiente nas regiões periféricas. Sendo assim, os
tempos definidos por esses autores anteriormente, devem ser vistos com cautela e
avalidados para cada situação.
47
da difusão diferencial do oxigênio na água e no ar. Uma vez que a demanda
bioquímica de oxigênio é significativamente menor que a quantidade necessária
para a remoção de água e calor, se a demanda de ar necessária à remoção do
excesso de calor e água é encontrada, então a demanda bioquímica de oxigênio
também será satisfeita (GRAVES et al. 2000).
48
O conteúdo ideal de água para a compostagem varia de acordo com o
modo de aeração (se manual ou mecânico) e características físicas do material
(capacidade de absorção de água, porosidade, entre outros.). Conteúdos de água
superiores a 65 dag kg-1 fazem com que a água ocupe os espaços vazios
impedindo a livre passagem do oxigênio na massa de compostagem,
proporcionando regiões de anaerobiose e favorecendo a lixiviação de nutrientes.
Por outro lado, conteúdos inferiores a 35 dag kg-1 diminuem a atividade
microbiana, retardando o processo de estabilização (PEREIRA NETO, 2004,
FIALHO et al. 2005).
Segundo HENRY (2003), o conteúdo de água é um fator critico na
compostagem de carcaça de animais, pois depende do tipo e tamanho das
carcaças a serem compostadas. Na compostagem de carcaças de animais,
GRAVES et al. (2000) e HENRY (2003) consideram a faixa de conteúdo ideal de
água mais ampla, situando-se entre 40 a 60 dag kg-1. Para a compostagem de
aves, pelo método da composteria, PEDROSO-DE-PAIVA (2004) sugere que o
conteúdo de água seja mantido entre 45 e 55 dag kg-1.
2.7.4. Nutrientes
50
AZEVEDO (1993) apresentou faixas de relação C/N, tidas como ideais para
diferentes autores, para diferentes resíduos. Tomando-se os extremos, ter-se-ia
uma faixa de relação C/N variando de 15 a 40:1. Acredita-se que essa larga faixa
seja devido às características particulares dos materiais a serem compostados,
clima da região, processo utilizado, dentre outros fatores.
Para autores como SAFLEY et al. (1996) e EPA (2007) a faixa ótima para a
relação C/N, para iniciar o processo, entre 25 a 40:1. No produto final, a faixa
ótima deve estar entre 10 a 20: 1 (EPA, 2007).
A relação C/N pode ser usada também para definir o final de cada fase do
processo de compostagem, bem como padrões para o produto final, em caso de
comercialização (KIEHL, 1998, citado por MATOS, 2006a). Quanto à
comercialização do material produzido, o Ministério da Agricultura do Brasil,
determina que um composto orgânico e um fertilizante organo-mineral deverão
apresentar relação C/N menor que 18/1, além de mais de 1 dag kg-1 de nitrogênio
total, no caso de composto orgânico (MATOS, 2006a).
Na compostagem de carcaça de animais, devido a suas particularidades, a
relação C/N inicial no processo deve estar entre 13 e 15:1 (GRAVES et al., 2000)
ou de 10 a 20:1 (HENRY 2003).
Segundo GRAVES et al. (2000), como grande parte do carbono é
continuamente liberada enquanto a maior parte do nitrogênio é reciclado, a
relação C/N diminui durante a compostagem, porém, em experimentos que ocorre
grande perda de nitrogênio a relação C/N pode aumentar.
É consenso entre os pesquisadores que uma alta relação C/N irá causar
diminuição da atividade microbiana, refletida através de valores baixos de
temperatura e por um período mais longo de compostagem. Por outro lado, a
compostagem de resíduos com baixa relação C/N, poderá provocar a eliminação
do excesso de nitrogênio pela volatilização da amônia, principalmente, quando for
combinada com altos valores de pH e temperatura (AZEVEDO, 1993).
Para a atividade metabólica, além de carbono e nitrogênio, os
microrganismos necessitam de certas quantidades de fósforo, potássio, cálcio,
sódio, magnésio, enxofre, ferro e traços de outros elementos, tais como cobalto e
zinco. Porém, na maioria dos materiais orgânicos em compostagem, estes
51
elementos são encontrados de forma adequada, não necessitando, portanto, de
correção em suas concentrações iniciais (BIDDLESTONE e GRAY, 1991,
GRAVES et al., 2000).
Segundo KIEHL (1998), citado por MATOS (2006a), o final da primeira fase
ocorre quando o composto tiver com uma relação C/N em torno de 18/1 e, o final
da segunda fase, essa relação deve atingir valores em torno de 10/1. Além disso,
para ser considerado composto ou fertilizante orgânico, o material dever
necessariamente ter que passar pelas duas fases do processo de compostagem,
ou seja, o produto final deve apresentar características como estabilidade e
humificação parcial.
2.7.6. pH
55
outras vantagens, permite a operação do sistema sob qualquer condição
climática e previne quanto à contaminação do solo e de águas
subterrâneas;
• Em caso de construção em concreto ou alvenaria, recomenda-se a
construção de paredes de 15 cm de espessura;
• Para facilitar o acesso em qualquer condição climática, recomenda-se
que o piso da região do entorno da composteira deva ser de concreto ou
pó de pedra compactado;
• A altura da composteira pode variar de 1,5 a 1,8 m. A largura de ser
suficiente para permitir o uso de equipamentos manuais, entretanto, não
deve exceder 2,4 m.
• A abertura frontal deve ser projetada de tal forma que as carcaças não
precisem ser erguidas a altura superior a 1,5 m. O uso de madeiras
(como tábuas de 30 cm de largura) para o fechamento em sistema de
comportas pode resolver o problema.
Para iniciar a primeira fase do processo de compostagem de carcaças de
aves em uma composteira, autores como GRAVES et al. (2000), HENRY (2003),
PEDROSO-DE-PAIVA (2004) e MUKHTAR et al. (2004) definiram, basicamente, a
mesma seqüência de montagem e operação, conforme apresentado a seguir:
• Colocar no fundo da composteira de 30 a 60 cm de cama de frango
seca e velha ou serragem, este material não será umedecido;
• Adicionar 15 cm de palha, grimpas de pinus ou outra fonte aceitável de
carbono, com o objetivo de servir como fonte de carbono e proporcionar
melhor aeração das carcaças das aves.
• Adicionar uma camada de carcaças. Não colocar as carcaças juntas e
nem umas sobre as outras, tomando-se o cuidado de deixar um espaço
de 15 a 30 cm entre as carcaças e a parede da composteira;
• Cobrir as carcaças com cama de frango ou outro resíduo. Quando
houver grande mortalidade de aves, várias camadas de palha, carcaças
e esterco deverão ser feitas;
• Adicionar água para umedecer a superfície do material. A quantidade a
ser adicionada pode variar de 0 a 50% da massa das carcaças, porém
56
deve se ter o cuidado de não adicionar uma quantidade de água que
prejudique a aeração causando a anaerobiose;
• Após a última camada de aves ser adicionada à composteira, cobrir a
pilha com uma camada de cama de frango ou de esterco seco de,
aproximadamente, 20 cm de espessura. No caso do uso de serragem
de madeira, usar camadas de 60 cm de material. Essa camada final
funciona como um biofiltro, evitando a atração de vetores e predadores
de carcaças, bem como minimiza a perda de fluido da massa de
compostagem.
MUKHTAR et al. (2004) recomendaram que, entre as camadas de carcaças
deve haver uma camada de, pelo menos, 30 cm de material fonte de carbono.
Esse material tem função de isolante, para manter a temperatura na pilha de
compostagem.
Para a segunda fase do processo, o material deverá ser removido da
câmara primária e disposto em uma câmara secundária. Nessa remoção faz-se a
correção do conteúdo de água no material, que deverá estar na faixa de 30 a 40
dag kg-1 (GRAVES et al., 2000) ou de 40 a 60 dag kg-1 (HENRY, 2003), ou ainda,
de 45 a 55 dag kg-1 (PEDROSO-DE-PAIVA, 2004). Essa movimentação,
juntamente com a correção do conteúdo de água, desfaz as camadas iniciais e
reativa a atividade microbiana, permitindo um novo ciclo de aquecimento.
As proporções de cada material, conforme definido anteriormente, são
dados práticos e que, em geral, se fundamenta nas proporções apresentadas na
Tabela 2.3.
59
condições climáticas do local, o tipo e a quantidade de material a ser compostado
(GRAVES et al. 2000).
Na construção de uma leira para a compostagem de animais mortos,
existem algumas características que não se apresentam na compostagem de
resíduos orgânicos convencionais. A construção dessas leiras será função do
tamanho e da quantidade de carcaças de animais a serem compostados. Nesse
sentido, MUKHTAR et al. (2004) sugerem que se adote os seguintes critérios,
seqüência e dimensões para as leiras:
• A leira deverá ser construída sobre piso impermeável e, caso não se
tenha um local nessas condições, antes da construção da leira
propriamente dita, deverá ser feita a impermeabilização do piso que
poderá ocorrer por meio da compactação do piso com pó de pedra;
• Em seguida, esse piso impermeável deverá receber uma camada de
material de co-compostagem (maravalha, pó de serra, cama de frango
velha seca, palha, ou outro material similar.), com espessura variando
de 30 cm (para animais pequenos (com menos de 23 kg), como
frangos), 45 cm (para animais médios (com massa entre 23 a 114 kg),
como suínos) e 60 cm (para animais grandes (com massa entre 114 a
227 kg), como suínos adultos e muito grandes (com massa superior a
227 kg), como cavalos ou bois);
• Sobre a camada anterior deve-se colocar uma camada de material
estruturante. Esse material apresenta porosidade alta, é resistente à
compactação com a finalidade de absorver os líquidos provenientes da
decomposição das carcaças e manter a porosidade adequada na massa
de compostagem. Esse material pode ser uma cama nova (palha de
café, palha de arroz, ou similar.) e sua espessura varia de 15 cm,
quando a compostagem for para animais pequenos e 30 cm, para todos
os outros;
• Sobre a camada anterior, é colocado, então, uma camada de carcaça
de animais, espaçados uniformemente sobre ela, e sobre essa camada
é colocada outra camada de material de co-compostagem com 30 cm
de espessura;
60
• Coloca-se, então, outra camada de carcaças e, novamente, outra
camada de material de co-compostagem e assim sucessivamente até
que se atinja uma altura de 1,8 m, quando da compstagem de animais
pequenos e médios;
• Finalmente, deve-se cobrir a leira com uma camada de material
estruturante (fonte de carbono), que funcionará como um biofiltro.
Quando se tratar de animais grandes (ex. suínos adultos) e muito grandes
(ex. cavalos e bois), MUKHTAR et al. (2004) sugerem a colocação de uma única
camada de carcaças no interior da leira. Além disso, nunca se deve colocar uma
camada de carcaça diretamente sobre a outra, devendo sempre colocar uma
camada de material de co-compostagem entre as camadas de carcaças.
Segundo GRAVES et al. (2000), o tempo necessário para finalizar a
compostagem pelo processo “windrow” pode variar de três a nove semanas.
Sendo esse tempo função do material compostado e da freqüência de
reviramento. Ou seja, quanto menor o intervalo de reviramento menor será o
tempo de compostagem. O autor sugere que, para um período de compostagem
de dois meses, sejam realizados de cinco a sete reviramentos. Depois disso, o
material deve ser posto para curar por, pelo menos, um mês. PEREIRA NETO
(1989a; 2007), recomenda que o ciclo de reviramento seja a cada três dias, nos
primeiros 30 dias do processo, seguindo-se um reviramento feito a cada seis dias,
até que sejam registradas temperaturas máximas inferiores a 40 ºC. Após isso, o
material é posto para maturar, por um período médio de 30 a 50 dias.
A configuração geométrica da leira ou pilha de materiais a serem
compostados é um fator importante no controle da temperatura, pois permite um
balanço térmico entre o calor produzido pela massa de compostagem e o calor
perdido para o ambiente, de forma que a temperatura máxima permaneça na faixa
de 60 ºC. A configuração geométrica é definida, basicamente, em função da
quantidade de resíduos a serem compostados. Para menores quantidades a
compostagem é feita em pilhas e, para maiores quantidades, a compostagem é
feita em leiras.
O reviramento da leira ou pilha é feito removendo-se a camada superficial,
aproximadamente 15 cm, que geralmente apresenta temperatura próxima à
61
ambiente e umidade diretamente influenciada pelas condições climáticas. Então,
esse material passa para o interior da nova leira montada, após o reviramento. Tal
procedimento permite que o material anteriormente exposto a baixas
temperaturas, passe, após o reviramento, a ficar sujeito a altas temperaturas e,
nesse sentido, contribuindo para melhorar a eficiência do processo, como um
todo, em relação à eliminação de microrganismos patogênicos e no controle de
atração de vetores. Após o reviramento, deve-se procurar proporcionar a mesma
configuração inicial.
63
• Causou menos ressecamento do material em compostagem, quando
utilizado o controle por “feedback” de temperatura;
• Causou menos compactação do material, criando condições mais
favoráveis, do ponto de vista da porosidade e distribuição de ar;
• Foi mais eficiente na redução da matéria orgânica, com base na
redução de sólidos voláteis e lipídios, e
• Foi mais flexível e de mais fácil operação, além de requer menos área
para ser operado.
AZEVEDO (1993), em sua revisão bibliográfica, relatou algumas das
vantagens da aeração positiva (injeção de ar) sobre a aeração negativa (sucção
de ar), comprovadas por vários autores, e que estão descritas a seguir:
• Na aeração positiva a perda de carga é significativamente menor do
que na aeração por sucção;
• A distribuição de ar na leira sob aeração positiva é mais uniforme do
que na aeração negativa;
• A aeração positiva não necessita de uma pilha - filtro, que é
responsável pelo aumento da perda de carga, não exercendo de forma
satisfatória o controle de odor, para o qual seu uso foi idealizado;
• A menor resistência ao fluxo de ar aumenta a eficiência da bomba de
aeração e consequentemente, menor será a manutenção exigida pela
bomba;
• A perda de nitrogênio da leira de compostagem é menor na aeração
positiva;
• A aeração positiva evita o entupimento da tubulação de aeração por
água ou compostos sólidos, o que tem sido observado na aeração
negativa;
• A aeração positiva remove de forma mais eficiente o calor produzido na
leira de compostagem do que a aeração por sucção;
• A aeração positiva remove mais eficientemente o excesso de água do
que a aeração negativa;
64
• A aeração positiva, aliada ao controle da temperatura em “feeback”,
mantendo-se a temperatura abaixo 60 ºC , promove maior taxa de
decomposição do que a obtida pelo Processo de Beltville;
• O modo positivo de aeração permite elevado grau de controle da
temperatura interna da leira (o que pode ser utilizado para melhorar a
eficiência do processo), menor perda de água, grande atividade
microbiana de degradação e eliminação de microrganismos
patogênicos;
• Com relação aos aspectos operacionais, o sistema por injeção de ar
apresenta as melhores vantagens, visto que: envolve menor mão-de-
obra, necessita de menor área para instalação, por não requer espaço
para a pilha-filtro e apresenta menor período de compostagem,
dispensa aparatos para condensação, não produz chorume nem odor,
fatos associados ao sistema negativo de aeração.
AZEVEDO (1993), citando PEREIRA NETO (1987b), relata outra forma de
aeração dos processos de compostagem em leiras, denominada aeração híbrida.
Esta nova forma de aeração, combina o modo negativo seguido do modo positivo
de aeração. Este sistema híbrido apresentou, segundo o autor, as limitações
existentes nos dois sistemas, não sendo eficiente na eliminação de
microrganismos patogênicos. Entretanto, essa pode ser uma forma de manejo
adequada quando se requer melhor homogeneização na distribuição da água no
material.
Segundo METCALF & EDDY (1991), no sistema de leiras estáticas aeradas
o material é aerado por 21 a 28 dias, que deve ser seguido por um período de
cura do material, sem aeração forçada, por 30 ou mais dias.
Em relação a compostagem de animais mortos, não foi encontrado na
literatura pesquisada nenhum trabalho que utilizasse o processo de leiras
estáticas aeradas com aeração forçada. Segundo GRAVES et al. (2000), na
maioria das instalações agrícolas não se tem compostagem de carcaça de
animais com aeração forçada, sendo assim, as variáveis de projeto de sistemas a
serem utilizados com este fim não estão tão bem estudadas e conhecidas, tal
65
como já estão no caso de lodos de esgotos e outros resíduos orgânicos
convencionais.
2.9. O Composto
67
galinha ou de lodos ativados. Além disso, essa relação pode ser adulterada pela
adição de uréia ao composto crú (KIEHL, 1998, citado por MATOS 2006b).
68
Tabela 2.4. Ponto de morte térmica de alguns patogênicos e parasitas
comumente encontrados na compostagem:
Organismo O que ocorre
Salmonella tiphi nenhum crescimento em torno de 46 ºC;
morte em 30 min a 55 ºC a 60 ºC.
Salmonella spp morte dentro de 1 hora a 56 ºC;
morte dentro de 15 a 20 min a 60 ºC.
Shigella spp morte dentro de 1 hora a 55 ºC.
Escherichia coli a maioria morre dentro de 1 hora a 55 ºC; e
dentro de 15 a 20 min a 60 ºC.
Endamoeda histolytica ponto de morte térmica a 68 ºC.
Taenia saginata morte dentro de 5 min a 71ºC.
Trichinella spiralis Infectividade reduzida como resultado de
(fase larval) exposição por 1 hora a 50 ºC.
ponto de morte térmica é de 62 ºC a 73 ºC.
Necator americanus morte dentro de 5 min a 45 ºC.
Brucella abortus ou suis morte dentro de 3 min a 61 ºC.
Micrococcus pyogenes morte dentro de 10 min a 54 ºC.
Mycobacterium morte dentro de 15 a 20 min a 60 ºC, ou calor
tuberculosis (var. hominis) momentâneo a 67 ºC.
Mycobacterium diptherial morte dentro de 45 min a 55 ºC.
Fonte: GOLUEKE (1977).
69
Tabela 2.5. Temperatura e tempo requeridos para a inativação de patógenos:
Tempo de exposição (minutos)
Organismo Ambiente
50 oC 55 oC 60oC 65oC 70 oC
71
3. MATERIAIS E MÉTODOS
72
3.1. Primeira Etapa
73
por chapa com furos circulares; (4) câmara plenum, em madeira, de seção
quadrada (0,55 x 0,55 m), com 0,33 m de altura; (5) tubo de chapa galvanizada,
medindo 1,20 m de comprimento por 0,10 m de diâmetro, responsável pela
condução do ar insuflado pelo ventilador até o plenum; (6) homogeneizador, para
uniformização do fluxo de ar (não usado no presente trabalho); (7) ventilador
centrífugo de pás retas, acionado por motor elétrico, com potência de ¼ HP; (7);
(8) diafragma fixo à entrada de ar, para possibilitar a variação na vazão.
74
bagaço de cana-de-açúcar e 70% de cama de frango e 40% de bagaço de cana-
de-açúcar e 60% de cama de frango. Foi analisada a perda de carga somente
para a posição de abertura total do diafragma.
Em geral, as medições de queda na pressão estática do ar forçado nas
pilhas de material são realizadas utilizando-se vazões de ar proporcionadas por
diferentes aberturas do diafragma. Este procedimento permite, a partir de um
mesmo ventilador, testar diferentes vazões de ar (diferentes potências de motor)
associadas a diferentes perdas de carga. Isto permite uma otimização, eficiência e
custo, do sistema de ventilação. Entretanto, no presente trabalho, como já se
possuíam os equipamentos (motores e ventiladores) as potências dos motores já
estavam definidas e, portanto não justificava variar as vazões.
Composteira
A composteira foi construída com uma área e altura útil de 1,5 x 1,5 m2 de
1,5 m, respectivamente.
As proporções dos materiais (cama de frango, bagaço de cana-de-açúcar,
carcaça de frango e água) utilizados na montagem da composteira seguiram as
recomendações de PEDROSO-DE-PAIVA (2004) e HENRY (2003), tendo sido
75
utilizados 0,3 kg de bagaço de cana-de-açúcar ou palha de café para cada 1 kg de
carcaça de frango e 2 kg de cama-de-frango.
A composteira foi montada com 3 camadas de carcaças de frango assim
distribuídas: 1ª 28 kg de carcaça; 2ª 28 kg de carcaça e 3ª 27 kg de carcaça,
totalizando 83 kg de carcaças.
Na Figura 3.3 está apresentado detalhe da montagem da 1ª camada.
76
deixado um espaço de, aproximadamente, 20 cm entre as carcaças e a
parede da composteira;
4 – cama de frango foi colocada em cobertura às carcaças, tomando-se o cuidado
de haver a formação de uma camada de, pelo menos, 5 cm de material sobre
as carcaças;
5 – adicionou-se água (o equivalente a 20% do massa das carcaças) sobre o
material, para umedecê-lo;
6 – repetiu-se essa sequência até ser colocada a última camada de aves. Cobriu-
se, então, a pilha de material com uma camada dupla de cama de frango
seca.
77
Figura 3.4. Seqüência de montagem e formação da estrutura da composteira.
78
Leiras estáticas aeradas
Três Leiras Estáticas Aeradas (LEA), sendo que cada LEA contou com um
ventilador centrífugo (motor elétrico de ¼ HP de potência) de funcionamento
controlado por timer analógico (precisão de 15 minutos) e termostato digital
(precisão de 0,1 ºC). As leiras foram montadas com seção transversal trapezoidal
(LEA 01) e triangular (LEA 02 e 03) com medidas aproximadas de 2 m de base
maior, 1, 5 m de base menor (LEA 01) e 1 metro de altura e comprimento de 3 m.
Ligado ao ventiladore, foi instalada uma tubulação modulada, em aço galvanizado,
e cuja parte responsável pela aeração das leiras possui um formato triangular
(com base = 10 cm e altura = 10 cm) e furos de 1/8“ de diâmetro, uniformemente
distribuídos (Figura 3.5).
79
Figura 3.6. Detalhamento da camada de brita colocada sobre o duto de
aeração e, ao fundo observa-se o duto interligado ao ventilador.
80
Figura 3.7. Aspecto visual da disposição das carcaças de frango na Leira 01,
durante a sua montagem.
Figura 3.8. Aspecto visual da leira 01, depois de concluída a sua montagem.
81
A LEA 02 foi composta por carcaças de frango trituradas, cama de frango e
bagaço de cana-de-açúcar e a LEA 03 foi composta por carcaças de frango
trituradas, cama de frango e palha de café, nas proporções já definidas, sendo que
a proporção de palha de café foi à mesma definida para o bagaço de cana-de-
açúcar. A trituração das carcaças foi feita colocando cerca de 10 a 15 carcaças
inteiras em um equipamento apropriado para esse fim denominado “Cutter”. Após
colocadas as carcaças o equipamento era ligado e, então, através do giro
simultâneo da hélice e da bacia, as carcaças eram trituradas. O procedimento era
interrompido quando o material apresentava uma consistência pastosa, com
aparência uniforme de carne moída. O “Cutter” utilizado é constituído de uma
bacia giratória e uma hélice fixa, movido por motor trifásico A Figura 3.9 mostra o
equipamento utilizado na trituração das carcaças, bem como o aspecto visual
pastoso das carcaças de frango trituradas.
82
A LEA 02 foi montada com cerca de 145 kg de carcaça de frango triturado,
totalizando cerca de 480 kg de material a ser compostado (Figura 3.10). e a LEA
03 foi montada com cerca de 167 kg de carcaça de frango, totalizando cerca de
550 kg de material a ser compostado (Figura 3.11).
83
Figura 3.11. Detalhe da Leira 03, em primeiro plano, depois de concluída a sua
montagem.
Leira 01:
84
5 – Adicionou-se água para umedecer a superfície na quantidade equivalente a
20% da massa das carcaças;
6 – Após ser colocada a última camada de aves na leira esta foi coberta com uma
camada de 15 cm da mistura de cama de frango e bagaço de cana-de-
açúcar.
Leira 02 e 03:
85
do ventilador, por meio do estabelecimento de uma temperatura máxima de
controle, no caso do funcionamento em "feedback". A sonda controle registrava,
instantaneamente, qualquer alteração de temperatura no interior da leira.
Dependendo da temperatura registrada, o ventilador entrava em funcionamento se
até que a temperatura se tornasse menor que a temperatura máxima pré-
estabelecida. A faixa de trabalho do termostato é T ± 0,1 ºC, onde T é a
temperatura pré-estabelecida.
A temperatura de controle (temperatura máxima), inicialmente utilizada em
todos os experimentos, foi de 65 ºC. Entretanto, devido a problemas operacionais,
verificou-se que a temperatura do material em compostagem não atingia esse
valor, então a temperatura de controle foi aumentada gradualmente, da seguinte
forma: 1º dia – 30 ºC, 2º dia – 40 ºC, 3º dia – 50 ºC, 4º dia – 60 ºC e, a partir do 5º
Dia, 65 ºC. Estes valores foram definidos com base em experiências de
AZEVEDO (1993). Além disso, estes valores se enquadram na faixa de 40 ºC a 60
ºC para os três primeiros dias, indicativo de equilíbrio do sistema (PEREIRA
NETO, 2004).
Ainda com relação ao controle de aeração do sistema, tomando-se por
base a temperatura de controle, um terceiro método de controle foi avaliado. Este
método consistiu em: depois de feita a correção do conteúdo de água no material,
deixar que a temperatura da leira se elevasse ao máximo que esta conseguisse,
sem, contudo deixar que se excedesse os 65 ºC. Este método, juntamente com o
sistema de umedecimento do ar implantado (Figura 3.12), evitou o ressecamento
da leira e permitiu a manutenção de temperaturas na faixa termofílica por maior
período de tempo.
86
VENTILADOR ÁGUA BOIA RESERVATÓRIO
DE ÁGUA
DUTO DE
AERAÇÃO
Na matéria-prima
Na massa em compostagem
88
Na composteira, foram definidos doze pontos de amostragem, distribuídos
ao longo da altura das camadas (Figura 3.14.).
89
Figura 3.15. Detalhe do amostrador, em tubo de PVC de ¾”, utilizado para a
coletar amostras na compostera, juntamente com uma amostra já
coletada e acondicionada para análise.
Monitoramento
90
A temperatura foi medida diariamente, em três pontos situados na base,
centro e topo das leiras e da composteira, durante todo o período de
compostagem (fase ativa). Na Figura 3.16 está mostrado o posicionamento das
sondas de temperatura na seção longitudinal das leiras de compostagem por
aeração forçada, bem como na composteira.
91
METHODS 1998). Para análise do fósforo diosponível, utilizou-se o método
colorimétrico (EMBRAPA, 1997). O potássio e o sódio foram quantificados por
fotometria de chama, (STANDARD METHODS, 1995).
As análises bacteriológicas foram realizadas no Laboratório de
Microbiologia de Alimentos da UFV e as análises consistiram na verificação de
presença ou ausência de Salmonella e Coliformes termotolerantes em
quantidades inferiores a 103, com base no NMP por grama de Sólidos Totais, de
acordo com a IN62 de 26 de agosto de 2003, Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
92
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1.2. Temperatura
90
Temperatura
80 Ambiente (°C)
70 Temperatura
Temperatura (°C)
Base (°C)
60
Temperatura
50 Centro (°C)
40 Temperatura
Topo (°C)
30
20
10
0
1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61
Tempo (dias)
95
4.1), pode ter contribuído para uma adequada eliminação dos patógenos
monitorados no 1º estágio de degradação.
O comportamento da temperatura no segundo estágio está apresentado na
Figura 4.2. Foi observado que a temperatura no segundo estágio alcançou picos
de 71 ºC. COSTA et al. (2005; 2006) obtiveram temperaturas máximas de,
aproximadamente, 66 ºC no segundo estágio (reviramento) de compostagem. A
diferença nas temperaturas observadas neste trabalho em relação a esses autores
pode ter várias explicações, dentre as quais, cita-se a manutenção do conteúdo de
água na faixa adequada por um maior período de tempo, a relação C/N e a
degradabilidade dos materiais compostados.
90
80
Temperatura
70 Ambiente (°C)
Temperatura (°C)
60 Temperatura
Base (°C)
50
Temperatura
40 Centro (°C)
30 Temperatura
Topo (°C)
20
10
0
1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61
Tempo (dias)
96
Se no 1º estágio de degradação o período de altas temperaturas no
material pode ser considerado curto, as altas temperaturas alcançadas pelo
material no 2º estágio podem ter complementado o período necessário de altas
temperaturas, indispensável para que se alcançasse a eliminação dos patógenos
presentes no material.
4.1.4. pH
10
8 pH (Água)
pH
7
pH (Cloreto
6
de cálcio)
5
20 40 60 90
Tempo (dias)
98
medição apenas em solução. O pH em CaCl2, apesar de pouco utilizado nas
pesquisas e monitoramento de experimentos de compostagem de resíduos
sólidos, é o método oficial, adotado pelo Ministério da Agricultura, para
caracterização de material orgânico, incluindo-se entre eles compostos orgânicos,
a serem comercializados como fertilizantes agrícolas (MATOS, 2006a).
O valor encontrado para pH em CaCl2, já na primeira medição, efetuada
aos 20 dias de compostagem do material, atenderia a exigência do Ministério da
Agricultura quanto ao valor mínimo de pH CaCl2 de 6, para comercialização de um
composto orgânico. Além disso, pode ser observado que, com o passar do tempo
de compostagem do material, o valor do pH CaCl2 se manteve inferior ao do pH
H2O. Isto ocorre porque o pH em CaCl2 pode ser considerado como o pH H2O +
∆pH função dos íons H+ adsorvidos no complexo de troca da matéria orgânica.
Conforme, descrito anteriormente, a faixa de pH em que ocorre maior
degradação do material orgânico é a de 5,5 a 8,0 e a faixa do composto final é de
7,5 a 9,0. De acordo com a literatura, o valor de pH H2O de 9,58, obtido na última
medição (90 dias), se encontra próximo ao limite superior considerado adequado
para um produto final estabilizado.
Os valores do pH H2O de 9,58 e do pH CaCl2 de 9,35 podem ser
considerados altos, devendo ter contribuído para retardar o processo de
degradação do material orgânico, favorecendo a formação de gás amônia, o qual
pode ser perdido por volatilização. KUMAR et al. (2007) encontram no composto
final, em experimentos semelhantes, valores de pH H2O na faixa de 8,20 a 9,34.
Os autores atribuíram esse fato à grande formação de sais de amônio
provenientes da cama de frango. COSTA et al. (2005 e 2006) encontrou no seu
composto final valor de pH H2O de 7,9 e 7,63, respectivamente. Enquanto SILVA
et al. (1998), citados pelos mesmos autores, encontraram pH CaCl2 de 7,1.
99
Tabela 4.1. Parâmetros Avalidados:
CFO N P K Na SV pH CTC COT CTC/C
Experimento Dias C/N -1
-----------------------dag kg ---------------------- % H2O CaCl2 cmolc kg-1
dag kg -1
-0,0026x
y = 86,439e
2
R = 0,7854
100
90
SV (dag kg )
-1
80
70
60
50
40
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
4.1.6. Nutrientes
6 -0,0132x
y = 3,591e
2
5 R = 0,8538
N (dag.kg )
-1
1
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.5. Variação na concentração de nitrogênio em função do tempo de
compostagem.
103
incubadora, encontrou reduções de 55,2 e 63,2%. MATOS et al. (1998),
trabalhando com vários resíduos agrícolas, pelo processo “Windrow”, nos quais a
fonte de N era águas residuárias de suinocultura, encontrou, não um decréscimo,
mas um aumento na concentração de nitrogênio ao longo do tempo. Os autores
consideram que esse aumento foi devido à concentração relativa, proporcionada
pela remoção de outros constituintes na forma de gases, principalmente, e pela
fixação desse nutriente na massa de material em compostagem, por bactérias
capazes de efetuarem esse tipo de atividade. Além disso, essa diferença no
comportamento pode estar associada à relação C/N inicial da mistura que, no
caso desses autores foi de cerca de 30:1, enquanto neste experimento foi de,
aproximadamente 19,2:1. Acredita-se que a relação C/N baixa e, portanto, a
concentração de nitrogênio em excesso para o metabolismo microbiano,
associada a altas temperaturas e pH básico, acima de 8,5, tenha favorecido o
comportamento observado neste e outros experimentos com resíduos similares.
O comportamento do carbono no processo seguiu a mesma tendência
apresentada pelo nitrogênio, com reduções em escala exponencial, conforme
apresentado na Figura 4.6. Esse comportamento também foi observado por
MATOS et al. (1998), trabalhando com diferentes fontes de carbono para
compostagem em conjunto com águas residuárias da suinocultura.
104
-0,0026x
y = 48,022e
2
R = 0,7853
50
COT (dag kg )
-1 45
40
35
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
105
KUMAR et al. (2007), analisando os experimentos com base nas fontes de
carbono palha de arroz e feno, verificaram redução de 29,02 e 31,02%,
respectivamente, na concentração desse nutriente no material. A diferença entre
os valores deste trabalho e os obtidos pelos autores citados, pode ser devido ao
conteúdo de água e da proporção de fonte de carbono de cada experimento. No
presente trabalho foi adotada a relação de 0,2 kg de água e 0,26 kg de palha de
café para cada kg de carcaça, enquanto nos experimentos de KUMAR et al.
(2007) essa relação foi de 1,7 kg de água e 1,75 kg de palha de arroz para kg de
carcaça e 1,60 kg de água e 1,75 kg de feno para cada kg de carcaça. A adição
de maior quantidade de água pode ser um fator importante para explicar o
favorecimento da atividade microbiológica e, portanto a degradação do material,
pois possibilitou a manutenção da umidade em níveis adequados, por maior
período de tempo.
A relação C/N inicial, calculada por balanço de massas e, como citado
anteriormente, foi de, aproximadamente, 19:2, sendo as demais determinadas por
amostragem. No primeiro estágio, as amostras foram coletadas na região das
carcaças (na composteira). No segundo estágio, as amostras foram coletadas de
maneira aleatória em toda a massa de compostagem. Na Tabela 4.1 estão
apresentados todos os valores obtidos no primeiro e segundo estágios e na Figura
4.7, está apresentado o comportamento da relação C/N no primeiro estágio do
processo.
Como pode ser observado, os valores de relação C/N no material não
apresentaram tendência clara de comportamento exponencial durante o período
de compostagem. Nos primeiros 20 dias do processo, houve degradação
acelerada no entorno das carcaças, o que pode ser evidenciado pelos
decréscimos acentuados nos valores de concentração de CFO e N (Tabela 4.1), o
que, conforme já discutido, pode ser debitado à presença de umidade e aeração
adequadas no material. Depois disso, passou a ocorrer estabilização na
concentração de CFO e grande perda de N, provavelmente na forma de gás
amônia, em decorrência das condições alcalinas do material (Figura 4.3). Com
isso, a relação C/N no material voltou a aumentar. Devido a questões de
amostragem, associada à grande perda de N no processo, os valores da relação
106
C/N, correspondente a 60 e 90 dias, respectivamente, foram superiores aos
obtidos no balanço de massas inicial (Tabela 4.1).
-0,0091x
y = 16,173e
20 2
18 R = 0,2788
Relação C/N
16
14
12
10
8
6
4
0 15 30 45 60
Tempo (dias)
Figura 4.7. Variação na relação C/N em função do tempo de compostagem (1º
estágio).
107
4.2. Leiras Estáticas Aeradas (LEAs)
30
Pressão Estática (mmCA)
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Vazão (m³/min)
109
Quando essa temperatura atingia níveis críticos, fazia-se a intervenção nas leiras,
ou seja, corrigia-se o conteúdo de água e, então, as temperaturas voltavam a
subir. Quando foi observado que, mesmo corrigindo-se o conteúdo de água a
temperatura não atingia níveis satisfatórios, considerou-se o fim da “Fase ativa”,
sendo as leiras desmontadas e o material conduzido para pátio de compostagem,
onde foi submetido à “Fase de Maturação”.
4.2.2. LEA 01
4.2.2.1. Temperatura
110
90
80
70
Temperatura
Ambiente (°C)
Temperatura (°C)
60
Temperatura
50 Base (°C)
40 Temperatura
Centro (°C)
30
Temperatura
20 Topo (°C)
10
0
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111
Tempo (dias)
111
No 29º dia, a LEA 01 foi novamente aberta para a correção do conteúdo de
água e implantação de um sistema de umedecimento, já que se concluiu ser
indispensável sua instalação para o bom desempenho do sistema de
compostagem. A partir daí, observou-se novo período de elevação das
temperaturas do material, com um pico de 63,1 ºC, no 34º dia, quando então a
temperatura começou cair.
A intervenção feita para correção do conteúdo de água no 37º dia, resultou
em um aumento imediato de temperatura que alcançou a temperatura máxima de
71 ºC, no 38º dia, no topo da leira. Nesse momento a leira operava com uma
temperatura de “feedback” de 60 ºC, com medição feita no centro da leira. Com
isso, observou-se que nem sempre, em sistema de compostagem por leiras
estáticas aeradas, a mais alta temperatura ocorrerá no centro geométrico da
massa. Por esta razão, a partir disso, a temperatura de “feedback”, tomada no
centro da leira, passou a ser de 55 ºC.
Conforme observado na Figura 4.9, após a instalação do sistema de
umedecimento, a intervenção ocorreu em intervalos de, aproximadamente, 10
dias, sendo que nesses intervalos a temperatura se manteve na faixa favorável à
degradação acelerada. Após 65 dias de experimento, quando as temperaturas
atingiram a casa de 40 ºC, o material foi colocado para maturar, sendo
interrompida a aeração forçada. Entretanto, tal como observado por AZEVEDO
(1993), o material ao ser levado para um pátio aberto e, portanto submetido a
aeração mais uniforme, voltou a atingir temperaturas em torno de 50 ºC,
mostrando que, nesse tipo de processo, a compostagem não ocorre de forma
uniforme.
113
Figura 4.10: Detalhe do perfil de distribuição de água no material constituinte da
Leira Estática Aerada 01.
EVAPORAÇÃO
ZONA DE CONDENSAÇÃO
114
4.2.2.3. pH
10
8
pH (Água)
pH
7
pH (Cloreto
6
de cálcio)
5
15 30 45 60 90
Tempo (dias)
SV (dag kg )
-1
80
70
60
50
40
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
4.2.2.5. Nutrientes
A relação C/N foi um dos fatores que nortearam a montagem das leiras
estáticas aeradas. Na leira 01, essa relação ficou, inicialmente, em 13,8:1. Este
valor está dentro da faixa de valores sugeridos por HENRY (2003), que é 10 a
20:1.
Os valores de concentração de C, N, P, K e Na no material, quantificados
no composto produzido, estão apresentados na Tabela 4.1, onde também estão
116
apresentados os valores de relação C/N ao longo do processo de compostagem.
A variação da concentração de N está apresentada na Figura 4.14.
6 -0,0162x
5.5
y = 5,5062e
2
5 R = 0,876
4.5
N (dag.kg )
-1
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
117
Os valores de 4,91 e 5,08 dag.kg-1 são referentes à concentração de N
calculado por balanço de massas e no material coletado nas zonas da leira onde
havia grande quantidade de carcaças de frango, respectivamente. Os demais
valores, que variam de 3,46 a 1,40 dag kg-1 referem-se às amostras retiradas após
a leira ter sido revirada e homogeneizada. Como dito anteriormente, essa redução
de, aproximadamente, 71% na concentração de N no material está relacionada,
principalmente, às perdas por volatilização. AZEVEDO (1993), relatou em
compostagem por aeração forçada de resíduos sólidos urbanos (RSU), relatou
grande variação nas concentrações de N no material, ao longo da fase ativa de
degradação. A autora encontrou, porém, aumento de cerca de 70% na
concentração de N, ao final da fase ativa. Este fato pode ser devido ao aumento
da concentração relativa de N, em decorrência da remoção de SV (MARA e
STENTFORD, 1983, citados por AZEVEDO, 1993) e, também, da fixação desse
nutriente por bactérias (MATOS et al. 1998).
A variação na concentração de C no processo de compostagem ocorre
devido à ação de microrganismos. Na respiração aeróbia, os microrganismos
utilizam o oxigênio molecular (O2) para obter a maior parte da energia das fontes
de carbono, produzindo dióxido de carbono (CO2) e água. Segundo
BIDDLESTONE et al. (1981), citados por AZEVEDO (1993), cerca de 50 a 60% do
carbono orgânico presente na massa em compostagem é convertido em dióxido
de carbono. Essa redução pode ser verificada pela redução dos sólidos voláteis
durante o processo e é uma das grandes responsáveis pela perda de massa
durante o processo.
Na Figura 4.15 está apresentada a variação da concentração de carbono
em função do tempo de compostagem e na Tabela 4.1 os dados obtidos nesse
período. Conforme pode ser observado na Figura 4.15, o COT apresentou
tendência de redução exponencial com o tempo de compostagem. A redução
apresentada no valor de COT, nesta leira aerada, foi de 29,48% enquanto que na
composteira, ao final de 90 dias, foi de cerca de 22%. AZEVEDO (1993), na
compostagem de RSU e lodo de esgoto, observou redução de 12,47% na
concentração de C no material.
118
-0,0044x
y = 47,195e
2
50 R = 0,8918
COT (dag kg )
-1 45
40
35
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
119
atividade microbiana e, portanto, maior degradação da matéria orgânica. Nos dias
seguintes, como parte da matéria orgânica facilmente degradável já tinha sido
decomposta e parte do N se perdeu por volatilização, a decomposição da matéria
orgânica se processou de maneira mais lenta.
-0,0096x
y = 13,282e
20 2
R = 0,8302
18
16
Relação C/N
14
12
10
8
6
4
0 15 30 45 60
Tempo (dias)
Figura 4.16. Variação na relação C/N em função do tempo de compostagem –
LEA 01.
4.2.3. LEA 02
4.2.3.1. Temperatura
120
conteúdo de água no material, no início do processo, que foi de 43,6 dag kg-1
(b.u.).
90
80
70
Temperatura
Temperatura (°C)
60 Ambiente (°C)
50 Temperatura
Base (°C)
40 Temperatura
Centro (°C)
30
Temperatura
20 Topo (°C)
10
0
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111
Tempo (dias)
121
4.2.3.2. Conteúdo de Água
122
Figura 4.18. Detalhe do perfil de distribuição de água no material constituinte da
LEA 02.
4.2.3.3. pH
123
10
8
pH pH (Água)
7
pH (Cloreto
6 de cálcio)
5
15 30 45 60 90
Tempo (dias)
Figura 4.19. Variação do pH em função do tempo de compostagem – LEA 02.
Conforme pode ser observado na Figura 4.19, o pH H2O, obtido aos 15 dias
de compostagem, foi de 7,45, próximo da neutralidade. Segundo PEREIRA NETO
(2004), esse valor de pH se encontraria dentro da faixa considerada ótima para
desenvolvimento da maioria das bactérias, o que pode indicar uma fase
degradação acelerada do material orgânico.
Aos 30 dias de compostagem, o pH H2O do material ficou em torno de 9, o
que pode indicar, segundo KUMAR et al. (2007), a formação de sais de amônio. O
pH se manteve nesse patamar até os 90 dias. Este valor está dentro da faixa
indicada por PEREIRA NETO (2004), para o final do período de compostagem,
que vai de 7,5 a 9,0.
124
100 -0,0041x
y = 80,3e
90 2
R = 0,7362
80
SV (dag kg )
-1
70
60
50
40
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.20. Variação na concentração de sólidos voláteis em função do tempo de
compostagem – LEA 02.
4.2.3.5 Nutrientes
Na LEA 02, a relação C/N foi, inicialmente, de 13,8:1, tal como a adotada
para a LEA 01, por se tratar dos mesmos materiais. Este valor está dentro da faixa
de valores sugeridos por HENRY (2003), que é 10 a 20:1. As concentrações de N
e C, bem como os valores da relação C/N, ao longo do processo de
125
compostagem, estão apresentados na Tabela 4.1. A variação na concentração de
N está apresentada na Figura 4.21.
6 -0,0129x
y = 4,7145e
5.5 2
5 R = 0,8405
4.5
N (dag.kg )
-1
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.21. Variação na concentração de Nitrogênio em função do tempo de
compostagem – LEA 02.
126
perda desse elemento por volatilização. STENTFORD et al. (1996b), trabalhando
com RSU e lodo de esgoto, observaram aumento na concentração de N no
material em compostagem, que variou de 25%, em leira que partiu de uma relação
C/N 41:1, a até 65%, em leira que tinha a relação C/N inicial de 46:1.
50 -0,0041x
y = 44,612e
2
R = 0,7362
COT (dag kg )
45
-1
40
35
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.22. Variação na concentração de Carbono Orgânico Total em funçao do
tempo de compostagem – LEA 02.
127
20 -0,0099x
y = 12,249e
18 2
R = 0,6984
Relação C/N
16
14
12
10
8
6
4
0 15 30 45 60
Tempo (dias)
4.2.4. LEA 03
4.2.4.1. Temperatura
90
80
70 Temperatura
Temperatura (°C)
Ambiente (°C)
60
Temperatura
50
Base (°C)
40 Temperatura
30 Centro (°C)
Temperatura
20
Topo (°C)
10
0
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111
Tempo (dias)
129
Depois da instalação do sistema, esse período chegou a 12 dias. Este fato,
não só reduziu as intervenções para a correção de conteúdo de água no material
como acelerou o processo de degradação e a eliminação dos microrganismos.
A fase ativa foi considerada encerrada aos 50 dias de compostagem,
quando as temperaturas se tornaram inferiores a 40 ºC. Depois de 74 dias de
compostagem, 24 dias de maturação do material no pátio as temperaturas
voltaram a atingir 45 ºC, o que se deve, provavelmente, em razão da maior
oxigenação da massa e homogeneização do material.
130
Figura 4.25. Detalhe do perfil de distribuição de água no material constituinte da
LEA 03.
4.2.4.3. pH
131
10
8
pH pH (Água)
7
pH (Cloreto
6 de cálcio)
5
15 30 45 60 90
Tempo (dias)
Figura 4.26. Variação do pH em função do tempo de compostagem – LEA 03.
Conforme pode ser observado na Figura 4.26, o pH H2O, obtido aos 15 dias
de compostagem, foi de 7,04, próximo da neutralidade. Segundo PEREIRA NETO
(2004), esse pH se encontra na faixa ótima para maioria das bactérias (6 a 7,5) e
fungos (5,5 a 8,0) se desenvolverem, o que pode indicar fase de acelerada
degradação do material.
Analisando-se as Figuras 4.19 e 4.26, observa-se que o comportamento
das LEA 02 e 03, em termos de pH, foi bastante semelhante.
O pH H2O em torno de 9, obtido aos 30 dias de compostagem, pode
indicar, tal como já discutido, a formação de amônia. O pH H2O se manteve nesse
patamar até os 90 dias, na faixa de valores considerados normais (7,5 a 9,0) do
material apresentar ao final do período de compostagem.
132
100 -0,0084x
y = 91,227e
90 2
R = 0,9221
SV (dag kg )
80
-1 70
60
50
40
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.27. Variação na concentração de sólidos voláteis em função do tempo de
compostagem – LEA 03.
133
100 LEA 01
90
SV(dag kg )
-1
80 LEA02
70
60
LEA03
50
40
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Como pode ser observado, na Figura 4.28, as leiras que receberam frango
triturado (LEA 02 e 03), nos primeiros 45 dias do processo de compostagem,
apresentaram um decréscimo mais rápido no valor de SV. Entretanto, aos 90 dias
de compostagem, a LEA 03 apresentou maior redução total de SV. Em termos
comparativos, a redução de SV no material mantido na Composteira, aos 90 dias,
foi de 22% enquanto na LEA 03, já aos 45 dias, uma redução de quase 30% já
havia sido alcançada, indicando eficiência de degradação muito maior na LEA 03.
4.2.4.5 Nutrientes
Na LEA 03, relação C/N obtida inicialmente ficou em 13,6:1, que está
dentro dos valores sugeridos por HENRY (2003), que é 10 a 20:1. As
concentrações de N e C, bem como a relação C/N está apresentada na Tabela
4.1. A variação na concentração de N em função do tempo de compostagem está
apresentada na Figura 4.29.
134
6 -0,0141x
y = 5,3572e
5.5 2
5 R = 0,8572
4.5
N (dag kg )
-1
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
135
50 -0,0084x
y = 50,682e
2
R = 0,9221
45
COT (dag kg )
-1 40
35
30
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo (dias)
Figura 4.30. Variação na concentração de Carbono Orgânico Total em função do
tempo de compostagem – LEA 03.
Na Figura 4.30 e na Tabela 4.1, pode ser observado que a redução no valor
de COT foi de 59,3%, enquanto que no material constituinte da LEA 01 foi de
29,5%; na LEA 02 foi de 28,8% e na composteira foi de 22%, portanto, na LEA 03
a compostagem foi a mais acelerada, fato esse que deve ter sido favorecido pela
palha de café como fonte de C. A palha de café apresentou relação C/N de 36,9:1
contra 167:1 do bagaço de cana-de-açúcar e ambos os materiais foram usados
nas mesmas proporções, assim os melhores resultados obtidos na LEA 03 podem
ser creditados à mais baixa relação C/N da palha de café ou à maior
disponibilização de N para os microrganismos, proporcionadas por esse material.
Na Figura 4.31 está apresentada a variação da relação C/N em função do
tempo de compostagem, nos primeiros 30 dias.
136
-0,0198x
20 y = 12,733e
2
18 R = 0,8834
16
Relação C/N
14
12
10
8
6
4
0 15 30
Tempo (dias)
137
4.3. Aspectos Sanitários do Composto Orgânico Produzido
Experimentos
microrganismos Dia
Composteira LEA 01 LEA 02 LEA 03
4 6
0 2.9 x 10 4,6 x 10 2,4 x 106 1,5 x 106
15 NA <3 9,2 3,6
20 <3 NA NA NA
Coliformes a
45°C (NMP*/g) 30 NA 3,6 <3 <3
40 <3 NA NA NA
45 NA <3 <3 > 1,1 x 103
60 <3 NA NA NA
0 Presença Ausência Presença Ausência
15 NA Ausência Ausência Ausência
20 Ausência NA NA NA
Salmonella 25 g 30 NA Ausência Ausência Ausência
40 Ausência NA NA NA
45 NA Ausência Ausência Ausência
60 Ausência NA NA NA
1 – NMP = Número Mais Provável.
2 – Análises feitas de acordo com IN 62 de 26 de agosto de 2003 – Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
NA – Não analisado.
138
Os resultados apresentados na Tabela 4.2 comprovam a eficiência do
primeiro estágio da composteira na eliminação de microrganismos indesejáveis.
Assim, temperaturas superiores a 65 ºC no material mantidas no processo
do 2º ao 6º dias já foram suficientes para a eliminação ou inativação dos
microrganismos monitorados. Os resultados apresentados indicam a eliminação e,
ou, redução de Salmonella e coliformes termotolerantes, após 20 dias de
execução da compostagem.
Os resultados mostraram, também, eficiência do processo de Leiras
Estáticas Aeradas na redução e, ou, eliminação de microrganismos do tipo
Coliformes termotolerantes e Salmonella. Comparando com os valores
preconizados pela legislação CONAMA 375, os processos, LEA 01, LEA 02 e LEA
03, atenderam, já aos 15 dias de compostagem, os padrões microbiológicos
estabelecidos. Entretanto, a amostra de 45 dias da LEA 03 apresentou uma
quantidade superior ao exigido pela legislação de referência. Este fato pode ser
devido às condições sanitizantes heterogêneas, especialmente, a umidade e as
temperaturas e, ou, a uma recontaminação da massa de compostagem.
Segundo PINTO (2001), temperaturas superiores a 60ºC, por um período
de dois dias, seriam suficientes para garantir a eliminação de Salmonella. O
mesmo autor relata que, para E. coli, 60 minutos seriam suficientes.
COSTA et al. (2006), em experimento semelhante, porém adicionando 1 L
de substrato contendo Salmonella sp na diluição de 108 unidades por mL, na
última camada da composteira, com área aproximada de quatro metros
quadrados, não conseguiu eliminação satisfatória desses microrganismos no
primeiro estágio do processo. Segundo os autores as temperaturas máximas
alcançadas no processo variaram de 54,1ºC a 66,2 ºC.
139
4.4. Aspectos Qualitativos, em Termos de Valor Fertilizante
140
referência, os materiais compostados nesse trabalho podem ser classificados da
seguinte forma:
• O material da composteira apresentou coeficiente de humificação de
cerca de 2,5 vezes o valor de referência (1,7), já no final do 1º estágio
de degradação, e de 3,5 vezes, nos 30 primeiros dias do 2º estágio;
• O material da LEA 01 apresentou coeficiente de humificação, aos 45
dias de compostagem, de 3 vezes o valor de referência (1,7). Após 60
dias de compostagem, essa relação se manteve;
• O material da LEA 02 apresentou coeficiente de humificação de 3 vezes
o valor de referência (1,7), aos 30 dias e, manteve esse coeficiente aos
45 dias. Aos 60 dias, o coeficiente de maturação foi 4 vezes superior ao
valor de referência e, aos 90 dias, esse valor reduziu para 3,4;
• O material da LEA 03 apresentou coeficiente de humificação de 2,65,
aos 30 dias, de 3,4, aos 45 dias e de 5,7, aos 90 dias.
Avaliando os índices obtidos nos processos de compostagem que têm, em
sua composição, os mesmos materiais, observa-se que:
• O material da LEA 03 apresentou coeficiente de maturação, aos
90 dias, 1,7 vezes o valor obtido no material da composteira.
Como pode ser observado na Tabela 4.2, este valor foi
conseguido não pelo ganho em termos de CTC, mas da redução
do COT;
• O material da LEA 02 apresentou coeficiente de maturação, aos
90 dias, 1,3 vezes o valor obtido no material da LEA 01. Essa
diferença é devida ao ganho, em termos de CTC, e também à
redução do COT.
Diante destes resultados, observa-se que, em relação a essa variável, a
trituração das carcaças de frango, favorecendo a degradação e humificação do
material. Entretanto, conforme pode ser observado pelos valores apresentados na
Tabela 4.2, esta melhoria foi, basicamente, em função da redução do COT, ou
seja, da aceleração do processo de compostagem.
141
4.4.2 – Outros Nutrientes
142
0,97 dag kg-1 de K e COSTA et al. (2005), trabalhando com resíduos sólidos da
indústria de desfibrilação de algodão, encontrou concentração de 2,04 dag.kg-1 de
K. Essas diferenças apresentadas comprovam o que foi dito anteriormente que as
concentrações dos nutrientes, no composto final, estão diretamente relacionadas
aos materiais que compõe a mistura inicial.
As concentrações de Na encontradas foram de 0,47 dag kg-1, no material
retirado da Composteira, 0,58 dag kg-1, no material da LEA 01, 0,77 no material da
LEA 02 e 0,67 dag kg-1, no material da LEA 03. Segundo MATOS (2006a), a cama
de frango tem cerca de 0,54 dag kg-1, palha de café 0,016 dag kg-1 e resíduos da
cana-de-açúcar varia de 0,04 a 1,4 dag kg-1. Com exceção do valor obtido no
material da composteira, os demais valores seriam os mesmos encontrados, caso
se fizesse uma composição dos diferentes materiais que compõe cada leira e suas
respectivas proporções.
143
Este cenário é preocupante, principalmente, quando se considera a
crescente demanda de alimentos no Brasil e em outros países, em especial carne
de frango, paralelamente a uma melhor consciência da população mundial a
respeito das questões sociais e ambientais. Essa mudança de postura do
consumidor, especialmente, aqueles de paises desenvolvidos, tem levado muitas
empresas a repensar a forma como elas se relacionam com a sociedade e o meio
ambiente. Nesse sentido, MACHADO FILHO (2004) relata que tem havido
aumento da pressão dos mercados externos, tanto no que se refere aos aspectos
intrínsecos da qualidade dos produtos, quanto no que diz respeito a
rastreabilidade de todo o processo produtivo, incluindo as relações sociais com
fornecedores, processos de abate e práticas ambientais adequadas. Segundo
VERDOLIN e ALVES (2005), com o advento da globalização da economia, a
revolução tecnológica e o aumento do fluxo de informações deram inicio à
construção de uma nova filosofia corporativa, a responsabilidade social, na qual as
questões sociais e ambientais são pontos essenciais e, por que não dizer, vitais
para as organizações.
Pela ótica da responsabilidade social, qualquer atividade de negócios
possui uma dimensão ética, complementar as suas dimensões econômica e legal
(MACHADO FILHO, 2004.). De acordo com o Business Social Responsible
Institute4 (BSR, 2001), citado por MACHADO FILHO (2004), de uma forma ampla,
o termo responsabilidade social corporativa se refere às decisões de negócios,
tomadas com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o
respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente. Sustenta, ainda, que o
conceito de empresa socialmente responsável se aplicará àquela que atue no
ambiente de negócios de forma que atinja ou exceda as expectativas éticas, legais
e comerciais do ambiente social no qual a empresa se insere. Nessa mesma linha
de pensamento, o INSTITUTO ETHOS (2002; 2004), considera que as empresas
que possuem responsabilidade social são co-responsáveis pelo desenvolvimento
social. E que, a empresa socialmente responsável tem como principal
característica à coerência ética nas praticas e relações com acionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade,
4
Principal entidade mundial na área de responsabilidade social, reunindo 1600 empresas que
representaram um faturamento total em torno de US$ 1,5 bilhão de dólares em 1999.
144
governo e meio-ambiente contribuindo para o desenvolvimento contínuo de todos
e dos relacionamentos entre si e com o meio ambiente. Além disso, ao adicionar
às suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as
empresas conquistam o respeito das pessoas e das comunidades atingidas por
suas atividades, o engajamento de seus colaboradores e a preferência de seus
consumidores.
O objetivo do presente tópico é fazer uma breve reflexão sobre a
necessidade de se pensar e agir no sentido de melhorar as relações, em todos os
níveis da cadeia produtiva, no que diz respeito às pessoas envolvidas no processo
e às questões ambientais relacionadas. Nesse sentido, sugere-se que seja
pensada a produção alimentar como um conjunto de elos de uma cadeia na qual
não importam somente as questões financeiras, mas tudo e todos que são
afetados, diretos e indiretamente, pelo processo produtivo, em si. Além disso,
percebe-se a necessidade de definir e fiscalizar as responsabilidades de todos os
envolvidos. Percebe-se que no curso da cadeia produtiva alimentar, tal como tem
sido praticada, tem-se buscado o aperfeiçoamento da produção, em cada elo da
cadeia, aumentando a produtividade e a lucratividade sem, contudo, dar a devida
atenção às questões ambientais e sociais. Entretanto, essa é uma visão míope
que busca o maior lucro financeiro possível em detrimento dos aspectos sociais e
ambientais, o que pode trazer sérias conseqüências, em médio e longo prazo,
tanto ao meio ambiente e a saúde dos trabalhadores envolvidos no processo,
quanto a restrições de mercado para os produtos obtidos a partir desse modelo
produtivo.
Acredita-se que uma parceria que envolvesse a agroindústria, a associação
de avicultores, as instituições de ensino e pesquisa da nossa região poderia ajudar
a desenvolver um sistema de gestão da cadeia produtiva na qual todos poderiam
se beneficiar e, assim, minorar os problemas sociais e ambientais. Além disso,
com uma atitude pró-ativa, poder-se-ia planejar melhor a expansão da cadeia
produtiva no sentido de evitar ou minimizar os impactos ambientais inerentes ao
processo de produção. A agroindústria poderia, por exemplo, subsidiar a
construção de unidades de tratamento para os resíduos orgânicos, como unidades
de compostagem. O Estado poderia criar incentivos fiscais que promovessem
145
tanto o uso quanto o beneficiamento de compostos orgânicos. Os produtores
rurais associados, juntamente com as instituições de ensino e pesquisa,
trabalhariam no sentido de desenvolver tecnologias e formar mão-de-obra para a
operação dos processos de reciclagem dessa grande quantidade de resíduos
orgânicos. Além da produção de um composto orgânico, que é um excelente
condicionador de solo, a compostagem, conforme apresentado neste trabalho, é a
alternativa mais adequada para tratamento de resíduos orgânicos, tanto do ponto
de vista sanitário e ambiental quanto econômico.
Essa “força tarefa” poderia proporcionar melhor condição de vida aos
trabalhadores envolvidos na produção de frangos, melhorando a saúde e auto-
estima de todos, poderia gerar mais empregos e renda para a região (aspectos
positivos economicamente), melhorar a sustentabilidade dos negócios tanto no
sentido econômico quanto ambiental, além de se desenvolver uma cultura de
respeito ao ser humano e ao meio ambiente, que irá trazer benefícios para essa e
as próximas gerações.
A direção e o sentido do desenvolvimento das atividades agrícolas e
agroindustriais deverão voltar-se para a qualidade e sustentabilidade, não
somente econômica, mas também social, ambiental e tecnológica (VALENZA
PAIVA, 2007).
146
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
148
• A excessiva perda de nitrogênio, ocorrida no presente trabalho, pode ser
evitada e, ou, amenizada através de uma relação C/N mais adequada
ou mesmo pela adição sulfato de cálcio ou cal.
• A umidade demonstrou ser um fator condicionante do processo, sendo
assim, um estudo mais aprofundado de mecanismos de umedecimento
das LEA e composteira é de suma importância, especialmente, para
evitar ou minimizar a intervenção no processo para correção da
umidade. Afinal, em função das características bacteriológicas desses
resíduos, a intervenção traz riscos à saúde dos operadores do sistema.
• A compostagem em LEA, para esses tipos de resíduos, ainda precisa de
estudos mais aprofundados. Parece ser uma boa alternativa de estudo,
métodos alternados de aeração. Acredita-se que essa alternância pode
acelerar a degradação do material pelo deslocamento das zonas de
maior aquecimento no interior da leira.
• A composteira mostrou-se eficiente, em termos de sanitização, mas não
na estabilização da matéria orgânica, medida pela redução de SV. Além
disso, parece ser limitada em se tratando de grandes quantidades de
resíduos. Nesse sentido, seria importante um estudo comparativo de
custos envolvidos nos processos LEA e composteira, considerando as
potencialidades e limitações de cada um.
• A ausência de temperaturas sanitizantes nas regiões periféricas das
LEA prejudicou a eliminação de microrganimos indicadores de
interesse, bem como a uma degradação mais uniforme da matéria
orgânica. Nesse sentido, recomenda-se o uso de um material isolante
na coberturas das LEA , podendo ser um composto maturado
149
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASTONI, D.M.; MATOS A.T.; SARTORI, M.A.; SILVA, N.C.L.; BARROS, R.T.P.;
LUIZ F., A.R. Perda de carga em ar forçado em colunas de material orgânico com
diferentes profundidades e estágios de degradação bioquímica. Engenharia na
Agricultura, vol. 16, n.1, janeiro – março, 2003.
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West Veterinary Conference. Logan, Utah. 2002 apud MUKHTAR, S.; KALBASI A.;
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BOLLEN, G.J.; VOLKER, D.; WIJNEN, A.P. Inactivation of soil borne plant
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BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W.; HALL, C.W. Drying cereal grains. The
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151
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Responsabilidade social corporativa e a criação de valor para as organizações.
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