Chirinea Am Me Mar
Chirinea Am Me Mar
Chirinea Am Me Mar
MARÍLIA
2010
1
MARÍLIA
2010
Ficha Catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação – UNESP - Campus de Marília
CDD: 379
2
Banca examinadora:
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Iraíde Marques de Freitas Barreiro
Universidade Estadual Paulista
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Graziela Zambão Abdian
Universidade Estadual Paulista
___________________________________________
Prof. Dr. Pedro Ganzeli
Universidade Estadual de Campinas
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pelo dom da vida, pela sabedoria, e por
colocar em meu caminho pessoas tão especiais que me ajudaram ou me
capacitaram para a realização desse trabalho.
À Prof.ª Dr.ª Iraíde Marques de Freitas Barreiro, pela orientação segura, pela
dedicação, paciência e compreensão, e principalmente por ter contribuído muito com
meu crescimento pessoal e profissional.
À Irmã Elvira Milani, por acreditar no meu potencial e pelos incansáveis
incentivos e apoio.
À minha mãe, Olinda, pelos momentos de partilha, pelo incentivo, apoio e
pelas palavras de carinho.
À minha irmã Adriana Melanda, porque a vida é cheia de surpresas, e porque
tive o privilégio de conviver com você durante 33 anos da minha vida. Obrigada
sempre.
À minha irmã Claudia Melanda, obrigada pelo carinho, pelo apoio e por
caminhar sempre ao meu lado.
Ao meu marido Vicente, pelo amor, carinho, paciência e apoio e por estar
sempre ao meu lado, em todos os momentos.
A todos os professores com quem tive contato durante o curso, pelas
contribuições enriquecedoras para este trabalho.
Aos meus queridos sogros Selma e João Carlos, pelo carinho, apoio e pelas
orações em todos os momentos.
Aos colegas e amigos, em especial à Ana Lúcia Garcia, pela amizade, apoio,
convívio e pelas alegrias e tristezas partilhadas nesta jornada. Ana, você é muito
especial.
Aos professores Dr. Pedro Ganzeli e Dr.ª Graziela Zambão Abdian por
fazerem parte da banca examinadora deste trabalho.
4
RESUMO
ABSTRACT
This study aims to research the dimensions engendered in Brazilian public schools,
which contribute to use the quality of the education in Brazil, demonstrated through
standardized tests like “Prova Brasil” (Brazil Exam) and “SAEB” (Assessment of
Basic Education System) and compiled on IDEB (Basic Education of development
index). Thus this paper proposes to uncover the dynamic that contribute to the
education quality beyond the cognitive aspects proved through indexes. The data
were collected in two schools in Itápolis and Assis, both located in the interior of the
state of Sao Paulo. The best school has gotten 8.2 and the worst one has gotten 2.4
in 2007 respectively. This paper is characterized as a qualitative research of the case
study type, which contains two objects of study. The methods of collecting the data
were observing, document analyzing and interviewing. And the result of the analysis
had as a parameter a document elaborated by MEC/INEP (Indicators of quality of
education). This study is relevant to the education field, because it seeks to
demonstrate the observed variables, and how the circumstances and the conditions
help the development of the education itself. The results demonstrated that the
socioeconomic and cultural levels, the education, and the physical size, as the
management processes constitute determinant factors to the quality of the education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
O QUE É O IDEB?............................................................................................................ 16
DESCRIÇÃO DA PESQUISA ........................................................................................... 17
A CIDADE DE ITÁPOLIS.................................................................................................. 20
A CIDADE DE ASSIS ....................................................................................................... 22
CAPÍTULO 1 CONTEXTO GERAL DE REFORMA DO ESTADO E SEUS
IMPACTOS NA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA ..................................... 26
1.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E NEOLIBERALISMO ..................................................... 26
1.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS.......................................................................... 29
1.3 HISTÓRICO DAS REFORMAS ADMINISTRATIVAS NO BRASIL ........................ 30
1.4 O CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO BRASIL NA
IMPLANTAÇÃO DAS REFORMAS DA DÉCADA DE 1990 ............................................... 32
1.5 O IMPACTO DA REFORMA NA EDUCAÇÃO ....................................................... 36
1.6 A REFORMA DA EDUCAÇÃO BÁSICA E O LIMIAR DE UMA NOVA QUALIDADE
EDUCACIONAL ............................................................................................................... 41
CAPÍTULO 2 O REFERENCIAL DE QUALIDADE LEGITIMADO PELA
AVALIAÇÃO EXTERNA ........................................................................................... 46
2.1 MARCO HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO EXTERNA NA AMÉRICA LATINA ............ 46
2.2 OLHAR HISTÓRICO ............................................................................................ 50
2.3 DEFINIÇÃO DE QUALIDADE ............................................................................... 53
2.4 REFERENCIAL DE QUALIDADE LEGITIMADA PELA AVALIAÇÃO EXTERNA ... 56
2.5 TRAJETÓRIA DOS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO EXTERNA NO BRASIL............. 59
2.5.1 SAEB e Prova Brasil ......................................................................................... 59
2.5.2 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica .............................................. 61
2.6 O IDEB E A QUALIDADE: FATORES DESVINCULADOS .................................... 63
CAPÍTULO 3 O IDEB E OS FATORES INTERVENIENTES À QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO ......................................................................................................... 67
3.1 DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS ............................................................ 69
3.1.1 Ambiente educativo e ambiente físico escolar .................................................. 72
3.1.2 Prática pedagógica e avaliação ........................................................................ 76
3.1.3 Ensino e aprendizagem .................................................................................... 81
3.1.4 Gestão escolar democrática ............................................................................. 83
3.1.5 Formação e condições de trabalho dos profissionais da escola........................ 87
3.1.6 Acesso e permanência dos alunos na escola ................................................... 94
3.2 PERCEPÇÕES DOS SUJEITOS ENTREVISTADOS SOBRE QUALIDADE ......... 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 100
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 106
APÊNDICE A – ANÁLISE DOCUMENTAL ............................................................ 113
APÊNDICE B – OBSERVAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR E DA ESTRUTURA
FÍSICA..................................................................................................................... 114
ANEXO C – ENTREVISTA COM DIRETOR ESCOLAR......................................... 116
ANEXO D – ENTREVISTA COM PROFESSOR ..................................................... 118
11
INTRODUÇÃO
1
Consideram-se avaliações externas todos os mecanismos que regulam a educação via testes
padronizados, como o SAEB, a Prova Brasil, o Enem e o Enade.
14
2
Ensino Fundamental Regular – Séries iniciais (até a 4.ª série). Dados referentes ao ano de 2007.
Disponível em: <http://www.portalinep.inep.gov.br>. Acesso em: 14 dez. 2009.
15
do enfoque dado, ciente, no entanto, de que esse atributo advém de outros fatores
que estão externos à sala de aula e à própria escola, como o nível socioeconômico e
cultural das famílias cujos filhos frequentam a escola; a gestão democrática e a
participação de pais.
Paralelamente à prática docente, o interesse em pesquisar a temática da
qualidade educacional também surgiu das muitas análises e ponderações discutidas
em encontros docentes, seminários, congressos em que o assunto é tratado.
Quando o IDEB passou a ser o grande referencial de qualidade para a
educação a partir de 2005, os questionamentos aumentaram, na medida em que
havia o entendimento da qualidade como um contexto maior do que simplesmente a
aferição de taxas de aprovação e desempenho.
Por isso a escolha em estudar o IDEB numa perspectiva comparativa,
procurando considerar os contextos próprios de cada unidade escolar e como estes
contextos ou especificidades influenciam a qualidade da educação e,
consequentemente, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
Outra questão na qual esta pesquisa se debruçou e procurou compreender
são as avaliações externas como mecanismo de controle do Estado, vinculando o
rendimento escolar dos alunos com promoções, méritos e bônus financeiros para
escolas, gestores e professores que alcançarem níveis estatisticamente satisfatórios
nas avaliações externas. A qualidade, portanto, é vista como algo meramente
estatístico e fundamentalmente quantitativo, baseada em critérios de produtividade,
eficácia e eficiência.
Engendradas, essas políticas procuram adequar a qualidade da educação no
país de forma a inseri-lo no grupo dos países desenvolvidos até o ano de 2021,
ocasião em que o Brasil estará às vésperas de completar 200 anos de sua
independência e tem como expectativa alcançar o índice 6,0 no IDEB, que é a média
atingida por países desenvolvidos que integram a OCDE.
Dessa premissa, entende-se que a educação é vista somente como um
indicador a ser buscado em longo prazo para a inclusão do Brasil no grupo dos
países desenvolvidos e para a formação de indivíduos capazes de responder às
demandas do mercado. A qualidade da educação, nesse sentido, não emerge como
direito do cidadão, mas como uma exigência de qualificação dos processos
educativos pela racionalidade imposta pelas inovações tecnológicas, pela
16
O QUE É O IDEB?
3
Plano elaborado a partir do documento “Todos pela Educação” – movimento organizado em 2006
por diferentes setores da sociedade e que defendem metas qualitativas a serem atingidas pela
educação no Brasil. Documento disponível em: <www.todospelaeducacao.org.br>.
17
DESCRIÇÃO DA PESQUISA
4
A responsabilidade pelo desempenho dos estudantes nas avaliações externas fica a cargo dos
professores e diretores das unidades escolares que podem ou não, dependendo da política adotada,
receber incentivos pelos “bons” resultados alcançados. ANDRADE, Eduardo. School accountability no
Brasil: experiências e dificuldades. Revista de Economia Política, v. 28, n. 3, p. 443-453, 2008.
18
5
Divulgação dos dados estatísticos do IDEB – planilhas para download. Disponível em:
<http://www.portalideb.inep.gov.br>. Acesso em: 27 set. 2010.
19
A CIDADE DE ITÁPOLIS
6
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas>. Acesso em: 17 nov. 2009.
21
A CIDADE DE ASSIS
7
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas>. Acesso em: 17 nov. 2009.
23
8
Dados referentes ao ano de 2009.
24
9
Entende-se por publicização a transferência direta dos serviços, antes executados somente pelo
Estado, para instâncias públicas não estatais. Nesse contexto, cabe exemplificar a municipalização
do ensino nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
37
maior do que os oito anos previstos na legislação. Entretanto, ao longo dos anos
1980, ampliaram-se as oportunidades de escolarização em todo o território
brasileiro, muito embora esse aumento quantitativo não tenha sido seguido pelo
qualitativo e pela universalização do Ensino Fundamental, pois continuavam
acentuadas as brutais diferenças regionais e a ausência de políticas públicas
voltadas para minimizar essas discrepâncias.
Esse cenário foi o “pano de fundo” para a reforma da educação. Segundo os
propositores, a crise existente no sistema escolar brasileiro emperrava o
desenvolvimento do país. Esse quadro, segundo os reformistas, exigia uma
reorganização política e uma mudança significativa na área da educação e foi nesse
sentido que a reforma educacional10 se concretizou.
Popkewitz (1997) pondera que o conceito de reforma é normativo e possui
implicações simbólicas. No entanto, o autor é bastante pragmático ao afirmar que a
escola é a instituição primeira onde a reforma se efetiva. Afirma ainda que a escola é
uma instância privilegiada para operar a reforma, pois ela é a primeira instituição a
estabelecer a direção, a finalidade e a vontade da sociedade, cabendo a ela,
portanto, conduzir a modernização das demais instituições. No olhar de Popkewitz
(1997, p. 21): “A reforma do ensino é vista como um mecanismo para alcançar o
ressurgimento econômico, a transformação cultural e a solidariedade nacional”.
Assim, as reformas são concebidas como necessidade de atualização e
modernização dos sistemas escolares, com a finalidade de introduzir inovações e
adequações da escola à demanda. Reformas são, portanto, repostas à crise da
educação.
No entender de Afonso (2005), as reformas na educação são também
tentativas para solucionar problemas enfrentados pelo Estado moderno, mais
especificamente a crise fiscal e a necessidade de promover processos de
acumulação e legitimação.
As mudanças transcorridas a partir da reforma pretendiam, portanto, adequar
a educação a uma nova ordem social e econômica vigente, caracterizada
principalmente pela reestruturação do capitalismo, pelos avanços científicos e
tecnológicos, pela alteração nas concepções de Estado e suas funções,
10
Embora o conceito de reforma educacional tenha significados distintos, tomou-se como referência a
fundamentação teórica do sociólogo Enguita (1995). Para uma análise sobre essa questão, ver:
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional regulação e emancipação: para uma
sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2005.
38
11
Segundo Torres (1998), o investimento recai prioritariamente no tempo de instrução, nos livros
didáticos e na formação de professores.
45
Vale ressaltar que essas ações fizeram parte da primeira reforma educacional
nos EUA, sob a presidência de Ronald Reagan, e que não lograram o êxito
esperado por serem medidas externas à escola. No entanto, num segundo
momento, já no segundo mandato como presidente, Reagan conduziu nova reforma,
agora dando maior nível de autonomia às escolas (AFONSO, 2005)
Já no governo de George Bush, a avaliação continuou a ser valorizada. O
relatório America 2000: an education strategy implementava novas estratégias de
avaliação por meio de testes padronizados, ainda sob a mesma perspectiva da
competitividade e produtividade, porém com outras duas dimensões: o accountability
e a competição entre as escolas (AFONSO, 2005)
Segundo Dias Sobrinho (2002), a avaliação externa transformou-se em
accountability, uma vez que ela tinha a função de prestar contas ao governo e à
sociedade, assim como cobrar das instâncias executoras, neste caso, as unidades
escolares, o cumprimento de obrigações, sob o ponto de vista da eficiência. Nesse
sentido, sua característica mais marcante era demonstrar índices de rendimento,
tanto aos governos como para a sociedade civil, além de controlar e propor políticas
públicas, legitimando o controle do Estado.
Segundo Oliveira (2005), sob esse aspecto, é possível afirmar que as
avaliações externas, realizadas via testes padronizados, ganharam um papel
significativo nas sociedades contemporâneas, cabendo-lhes, pois, a
responsabilidade de validar e legitimar iniciativas educacionais.
48
12
O trabalha o enfoque sociológico da avaliação com diferentes modalidades de avaliação.
13
Cabe ressaltar as relações de poder e disciplina que a avaliação pedagógica realizada pelo
professor em sala de aula impõem, assim como pressão e controle da avaliação externa nas escolas
e sistemas de ensino.
14
É quase-mercado, porque se distingue do mercado de livre concorrência. LE GRAND, Julian.
Quasi-markets and social policy. Economic Journal, v. 101, n. 408, p. 1256-1267, 1991.
49
15
Grifos do autor.
50
16
Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo.
17
Relatório Técnico do SAEB. Disponível em: <www.inep.gov.br>.
53
A qualidade não existe em si porque depende de fatores que lhe dão validade
e credibilidade. Esses fatores são determinantes porque constituem e caracterizam a
qualidade como boa ou ruim, dependendo da cultura, da sociedade e dos valores
estabelecidos.
Demo (1994) define qualidade como dimensão de intensidade. Está ligada à
questões como perfeição, profundidade e competência humana, no sentido de
mobilizar a capacidade de agir, construir e de participar. Quanto à educação, o autor
afirma que:
Daí a ideia de que a boa escola, a que tem “melhor” qualidade, em termos de
processo ensino e aprendizagem, infraestrutura, recursos humanos e materiais, é a
escola privada, equipada para qualificar a elite que pode pagar por um ensino de
“melhor qualidade”, em contraposição à ideia pejorativa da escola pública, vista,
muitas vezes, como uma escola de “qualidade questionável”.
Gentili (1995), ao concordar com Enguita, afirma que o próprio conceito de
qualidade educacional, numa perspectiva voltada para o mercado, é uma ferramenta
de manutenção da sociedade, bem como do projeto neoconservador. O autor
destaca que, numa sociedade democrática, não devem existir diferenças entre o
acesso à escola e o tipo de serviço prestado por ela, criticando as “qualidades”
demandadas pela escola pública e pela privada. Segundo o autor, é preciso
transformar a qualidade dos sistemas de ensino num direito comum a todos e não a
55
uma pequena parcela da população, pois “qualidade para poucos não é qualidade é
privilegio” (GENTILI, 1995, p. 177).
Considera-se relevante para este estudo a argumentação de Dourado,
Oliveira e Santos sobre o conceito de qualidade.
brasileira, entretanto a maior ênfase nessas questões só foi dada após a década de
1980.
A qualidade educacional e a estratégia de avaliar os processos educativos por
meio de avaliações também estão contempladas na Constituição Federal de 1988. O
artigo 206 estabelece a garantia de padrões de qualidade; já o artigo 209 garante e
autoriza aos poderes públicos a realizarem avaliações para medir a qualidade de
seus sistemas de ensino.
Entretanto, para Pinto (2008), embora a legislação contemple a qualidade da
educação estabelecendo aos sistemas de ensino preceitos legais que a garantam, a
realidade está longe de ser cumprida, pois, segundo o autor, enquanto as escolas
particulares preparam suas crianças e seus jovens para o ensino superior, a escola
pública não consegue garantir domínios mínimos de leitura, escrita e cálculo. No que
se refere à aferição da qualidade, o autor explica que:
para que, em 2021, o país atinja a meta de qualidade educacional dos países
desenvolvidos.
Para alcançar as metas propostas pelo IDEB, é preciso que escolas e
sistemas de ensino regularizem o fluxo escolar, ou seja, quanto menor a reprovação
e o abandono de alunos, melhor a nota do índice. Outra exigência para aumentar o
valor da nota é a melhoria do desempenho dos alunos, principalmente nas
avaliações externas.
A média nacional da aferição do IDEB no ano de 2005 foi de 3,8. Já no ano
de 2007, o resultado ficou em 4,2, contra 6,0 alcançado por países desenvolvidos.
Logo, a média 6,0 passa a ser a meta a ser alcançada em 2021, às vésperas de
completar 200 anos de sua independência. Com os objetivos atingidos, poderá fazer
parte dos países integrantes da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (HADDAD, 2008).
Há ainda outros tipos de avaliações externas no Brasil, como o Enem, criado
em 1998 e aplicado somente aos alunos concluintes do Ensino Médio, com o
objetivo de analisar o desempenho e o rendimento do estudante; o Enade, criado em
1996 e aplicado a alunos de graduação no Ensino Superior (INEP/MEC, 2009).
De acordo com as notas obtidas pelo IDEB, é possível realizar projeções,
conforme indica a Tabela 3, tendo em vista que a expectativa é que o Brasil passará
a fazer parte do grupo dos países mais desenvolvidos do mundo, até 2021.
18
Geralmente, os rankings com as melhores escolas são elaborados e divulgados pelos meios de
comunicação em massa.
67
Os fatores que o IDEB leva em consideração para sua formatação, bem como
os resultados obtidos com a Prova Brasil e o SAEB, estão relacionados somente ao
fluxo e ao desempenho escolar. Não há, portanto, uma relação específica entre os
Indicadores da Qualidade na Educação e os resultados obtidos por meio dessas
avaliações. Os dados, nesse sentido, são puramente quantitativos e não mobilizam a
escola a refletir sobre outras questões além do aspecto didático pedagógico.
Good e Weinstein (1995) explicam que a variação de resultados observáveis
nas duas escolas depende dos processos internos das instituições e do clima
organizacional instalado e produzido pela gestão. Os autores afirmam que as
escolas e todas as relações estabelecidas nesse ambiente influenciam e conduzem
o sucesso ou o fracasso escolar.
Não é intenção deste trabalho encontrar uma resposta única para o conceito
de qualidade na educação. Não há um conceito absoluto sobre o que é qualidade. O
que se pretende somente é investigar como se organizam e se relacionam as
dimensões propostas nos Indicadores da Qualidade na Educação do MEC para
buscar a qualidade na educação, ainda que ela seja definida sob a forma de médias
de desempenho estudantil.
19
A qualidade depende de fatores que estão dentro e fora da escola. Por isso, Dourado; Oliveira e
Santos (2007) utilizam as expressões intra e extraescolar.
72
20
Dados referentes ao ano de 2009.
74
[...] Muitas vezes a gente não consegue contar com a ajuda dos pais,
que é uma coisa muito importante, né. O apoio da família, inclusive
na minha sala eu tenho uma criança que eu aceitei como ouvinte,
porque ela não parava na sala de aula dela, é uma criança que ela
não para mesmo, a gente tem que fazer um trabalho muito grande
para conseguir fazer com que ela pare, e não fazendo exatamente o
que o restante da turma está fazendo. Fazendo outra atividade, e
hoje eu fiquei sabendo que esta criança tem a avó que, além de se
prostituir ali na rodovia, é usuária de droga, o pai veio falar hoje cedo
comigo, logo 7 horas da manhã, já estava cheirando a álcool, a mãe
o abandonou e foi embora, ele mora junto com o pai e a madrasta,
então são estes tipos de dificuldades que a nossa escola tem. A
maioria das nossas crianças que dão trabalho são crianças vindas de
uma realidade assim (professora 7 – Assis).
21
Dados referentes ao ano de 2009.
22
Conforme descrito no Projeto Político-Pedagógico.
75
Essa constatação também foi verificada pela fala da diretora da escola e sua
preocupação com a alta rotatividade de professores. Segundo dados apresentados,
essa rotatividade chega a 75% e é considerado muito alto pela direção da escola.
O quadro docente da instituição é formado por 36 profissionais, assim
distribuídos: 20 professores do Ensino Fundamental, 4 da Educação Infantil e 12 que
trabalham com as oficinas. Há também os estagiários e monitores que colaboram
nas oficinas.
Uma das razões do absenteísmo e rotatividade dos professores, segundo
conversa com a coordenadora pedagógica, e com as próprias professoras, é a
localização da escola numa área da cidade marcada pela marginalidade. Segundo a
coordenadora pedagógica, esta é uma questão que acaba prejudicando a escola,
porque o trabalho pedagógico muitas vezes é interrompido por faltas ou licenças, e
pela constante remoção de professoras da escola.
Segundo depoimento da diretora, algumas ações são feitas para que o
professor permaneça na escola, segundo sua verbalização:
23
As provas do Saresp, no ano de 2009, foram realizadas nos dias 11, 12 e 13 de novembro.
79
Gráfico 3 – Alteração da dinâmica da sala de aula em função do teor dos testes padronizados
24
No início do segundo semestre de 2010, as escolas municipais de Itápolis passaram a adotar o
material didático do Sistema Anglo de Ensino.
82
ensino de nove anos. Para tanto, a atribuição dessas salas foi realizada pela própria
diretora da escola.
Em Assis, o critério de escolha das salas de aula foi definido pelas próprias
professoras em conjunto com a diretora.
As Tabelas 4 e 5 demonstram os índices das escolas pesquisadas, no que se
refere à matrículas, transferências, aprovação, evasão e reprova. Esses dados
constituem um referencial sobre o processo ensino e aprendizagem.
Resultados do IDEB
ESCOLA 2005 2007 2009 Meta para 2021
Itápolis 6,3 8,2 6,7 7,8
Assis 4,5 2,4 4,5 6,6
Fonte: MEC/INEP
De acordo com Kanter (1977 apud LÜCK et al., 2005, p. 22), a melhoria da
produtividade escolar, entendida aqui como qualidade nos processos educativos,
está associada com estratégias de gestão participativa.
Há, portanto, um clima na organização escolar que pressupõe um referencial
comum a ser atingido por todos, assim como um padrão de desempenho profissional
dos educadores, que se reflete em normas de qualidade não reguladas. Logo a
gestão da escola condiciona ou conduz a qualidade dos processos educativos.
Partilham dessas ideias Glatter (1995), Good e Weinstein (1995) e Nóvoa
(1995) ao entenderem que as escolas criadoras de um clima organizacional
favorável e uma estrutura de liderança participativa tendem a obter melhores
resultados em termos de aprendizagem dos alunos. Essa constatação permitiu
pensar na gestão das escolas de Itápolis e de Assis e como elas conduzem as
referidas unidades escolares para a qualidade e para os índices no IDEB.
A escola de Itápolis, além de ser menor, do ponto de vista da estrutura física e
dos níveis de ensino oferecidos, consegue articular um clima organizacional
favorável à aprendizagem dos alunos.
A direção procura, nos horários destinados à HTPC, duas vezes por semana,
após o período vespertino de aula, motivar as professoras para o trabalho didático e
coletivamente decidir ações de melhoria na aprendizagem dos alunos. Durante a
observação realizada no momento da HTPC, percebe-se que a diretora faz, num
primeiro momento, uma reflexão com as professoras lendo e discutindo um texto
previamente preparado e, num segundo momento, comenta sobre ações
administrativas e pedagógicas da escola, dando oportunidade das professoras se
manifestarem. Além disso, percebe-se a troca de experiências entre as professoras,
principalmente no que se refere a estratégias didáticas, aprendizagem e
comportamento dos alunos.
Quanto às questões do planejamento participativo e mesmo da elaboração do
projeto político pedagógico da escola, 83% das professoras entrevistadas
responderam que participam do processo, sugerindo novas ideias e projetando
ações futuras. Desta amostra, 17% disseram que não participaram da construção do
PPP porque entraram na escola após a reunião de reconstrução do projeto. No
entanto 100% das professoras entrevistadas foram unânimes ao afirmarem que
participam de reuniões com a diretora para decidirem questões referentes à gestão
85
A escola investigada em Assis não partilha deste perfil, até pelo tamanho e
sua estrutura de funcionamento. A gestão da escola é partilhada entre a diretora da
unidade e duas coordenadoras pedagógicas: uma da Educação Infantil e outra do
Ensino Fundamental, que também tem sob sua responsabilidade a organização das
oficinas.
O PPP da escola contempla a gestão participativa e as verbalizações das
professoras da escola de Assis também denotaram que participam da elaboração do
PPP. Quanto à tomada de decisões na escola, as professoras entrevistadas
disseram que participam muito pouco dos processos decisórios da escola, mas que
são sempre informadas sobre esses processos. Observou-se, durante o período de
coleta de dados, que a coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental gerencia
as ações administrativas e pedagógicas na escola, orientando os professores sobre
a prática docente, analisando e sugerindo adequações nos planos de ensino,
coordenando projetos didáticos e oficinas.
Percebe-se, portanto, que a liderança da escola é exercida pela coordenadora
do Ensino Fundamental. Isso ficou fortemente evidenciado no momento da
entrevista com a diretora da unidade que, para responder às perguntas, solicitava a
anuência da coordenadora. Num discurso velado, e pela observação, nota-se
também certa centralização do poder nas mãos da coordenadora, que apenas
comunica as decisões tomadas à direção da escola.
O perfil da gestão da escola de Assis difere da escola de Itápolis, por ser uma
escola maior, de tempo integral e atender outro nível de ensino, além do
Fundamental. Outra questão que se apresenta na escola de Assis é a falta de
86
33%
50%
muito boa
Satisfatória
Poderia melhorar
17%
17% 16%
muito boa
Satisfatória
Poderia melhorar
67%
90
2º semestre de 2008
17%
2º semestre de 2008
17%
2º semestre de 2009
83%
17%
33%
50%
17%
83%
Dessa forma, entende-se que testes não são suficientes para qualificar
escolas e sistemas de ensino por se constituírem como referência somente o
desempenho dos alunos nas provas, ignorando questões que influenciam
intensamente os resultados como o nível socioeconômico dos alunos e suas
famílias. Segundo Pinto:
Entende-se, portanto, que, sem uma reflexão da própria escola sobre suas
potencialidade e fragilidades, a avaliação externa se reduz à mera atividade técnica
e mecanicista, cujos critérios de eficiência, eficácia e produtividade acabam por
direcionar todo o processo educativo.
Esses critérios restringem o processo didático-pedagógico em detrimento do
resultado final alcançado pela escola no IDEB, através apenas do desempenho
estudantil, apresentado em dados quantitativos.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
25
Um dos usos sociais da avaliação externa é o ranking que a mídia faz das escolas e sistemas de
ensino, após a divulgação do IDEB pelo MEC/INEP.
104
REFERÊNCIAS
FREITAS, Luiz Carlos de. A avaliação e as reformas dos anos de 1990: novas
formas de exclusão, velhas formas de subordinação. Educação & Sociedade.
Campinas, v. 25, n. 86, p. 133-170, abr. 2004.
GLATTER, Ron. A gestão como meio de inovação e mudança nas escolas. In:
NÓVOA, António (org.). As organizações escolares em análise. Lisboa: Dom
Quixote, 1995.
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PERONI, Vera. Política educacional e papel do Estado: no Brasil dos anos 1990.
São Paulo: Xamã, 2003.
RIBEIRO, Vera Masagão; RIBEIRO, Vanda Mendes; GUSMÃO, Joana Buarque de.
Indicadores de qualidade para a mobilização da escola. Cadernos de Pesquisa.
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instrumento de gestão educacional. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. Gestão
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SOUZA, Sandra Zákia Lian de; OLIVEIRA, Romualdo Portela de. Políticas de
avaliação da educação e quase mercado no Brasil. Educação & Sociedade.
Campinas: Cedes. v. 24, n. 84, p. 873-895, 2003.
Instrumento 2
1) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
1.1- Observador(a):
1.2- Data _____/_____/______
1.3- Nome da Escola:
1.4- Rede:
2) INSTALAÇÕES FÍSICAS:
2.1- Tamanho da sala em relação ao número de alunos:
( ) Pequena ( ) Média ( )Grande
2.2- Ventilação:
( ) Suficiente ( ) Insuficiente
2.3- Iluminação:
( ) Suficiente ( ) Insuficiente
3) ASPECTOS DE ATENDIMENTO
3.1- Séries oferecidas:
3.2- Organização do Ensino:
( ) Por série ( ) Por ciclo ( ) Por série e ciclo
3.3- Turnos de funcionamento:
3.4- Número de alunos:
3.5 - Número total de classes:
4. QUADRO DE PESSOAL
4.1- Número de funções docentes em classes de Ensino Fundamental:
4.2- Número de funções docentes em Atividades de Coordenação:
4.3- Número total de professores:
4.4- Diretor(a):
4.5- Vice-diretor(a):
4.6- Coordenadora:
4.7- Funcionários administrativos:.
4.8- Outros:
4.9- Número total do quadro de pessoal da escola:
i) ( ) muito baixa
j) ( ) não sabe responder
19) Quais os aspectos negativos da sua escola, e que de certa forma podem
influenciar nos resultados obtidos nas avaliações externas.
20) Como são estabelecidas as relações entre professores e alunos e entre os
professores e o trio gestor?