TESE PHD FGV Transformaçao Digital Gilberto Disessa JR
TESE PHD FGV Transformaçao Digital Gilberto Disessa JR
TESE PHD FGV Transformaçao Digital Gilberto Disessa JR
São Paulo
2021
Gilberto Disessa Junior
SÃO PAULO
2021
Junior, Disessa Gilberto .
VIDA DE GERENTES DE PROJETOS NA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL / Gilberto
Disessa Junior. - 2021.
251 f.
CDU 7.018.8
Gilberto Disessa Junior
Data de aprovação:
/ /
Banca examinadora:
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alberto Luiz Albertin, por sua habilidade de transmitir e estimular a
busca pelo conhecimento, por sua tranquilidade e capacidade de motivação em períodos de
ansiedade e também por sua dedicação e disponibilidade na orientação desde trabalho.
Aos Professores e amigos , Dr. Claudio Luís Carvalho Larieira, Dr. Cesar Alexandre de Souza e
Dr. Alexandre Cappellozza, por suas participações na banca e contribuições pertinentes para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Aos meus amigos number 1%, por suas presenças e palavras em momentos de ansiedade e também
no compartilhamento de informações e na resolução e esclarecimentos de dúvidas.
Aos amigos, que atuaram como apoiadores e facilitadores para a realização deste trabalho.
Ao meu amigo, que me ajudaram, pelo apoio recebido durante toda a fase do programa,
principalmente nos momentos mais difíceis, pelas suas colaborações nas leituras, revisões de texto
e traduções deste trabalho.
MARCO AURÉLIO
RESUMO
App Aplicação
B2B Business-to-Business
B2C Business-to-Client
CIO Chief Information Officer
CDO Chief Digital Officer
CFO Chief Financial Officer
CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
DWs Data Warehouses
FO Fornecedor
GMUD Gestão de Mudanças
GP Gerente do Projeto
HW Hardware
IA Inteligência Artificial
IBM® International Business Machine
ICB® Individual Competence Baseline
IPMA® International Project Management Association
IoT Internet of Things
KPI Key Performance Indicators
L&D Learning & Development
NE Negócios
NYSE New York Stock Exchange
PME Pequenas e Médias Empresas
PMI® Project Management Institute
PMP Project Management Professional
POC Prof of Concept
RA Realidade Aumentada
RH Recursos Humanos
SPED Sistema Público de Escrituração Digital
SW Software
TI Tecnologia da Informação
TD Transformação Digital
TWh Terawatt-hora
UAT User Acceptance Test
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................19
2 OBJETIVOS.............................................................................................................................20
2.1 GERAL......................................................................................................................................20
2.2 ESPECÍFICOS...........................................................................................................................20
3 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÃO.............................................................................21
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................................22
4.1 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL...............................................................................................22
4.1.1 Características..........................................................................................................................22
4.1.2 Principais elementos organizacionais influenciados pela Transformação Digital..................28
4.2 IMPACTOS NA EMPRESA EM CONSEQUÊNCIA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
35 4.2.1 Conceitos............................................................................................................................35
4.2.2 Principais impactos..................................................................................................................36
4.2.3 Ações da área de gestão de mudança no tratamento dos impactos na organização................38
4.3 COMPETÊNCIAS DOS GERENTES DE PROJETOS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
42
4.3.1 Competências tradicionais do gerente de Projetos...................................................................42
4.3.2 Competências necessárias em projetos de TD.........................................................................45
4.3.3 Participação do GP no tratamento dos impactos......................................................................48
4.4 CONSOLIDAÇÃO DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................50
5 MODELO TEÓRICO DE PESQUISA E PROPOSIÇÕES................................................53
5.1 MODELO TEÓRICO DE PESQUISA.....................................................................................53
5.2 PROPOSIÇÕES.........................................................................................................................54
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA..............................................56
6.1 ABORDAGEM E TIPO DE PESQUISA..................................................................................56
6.1.1 Pesquisa qualitativa exploratória.............................................................................................57
6.1.2 Estudo de caso.........................................................................................................................59
6.2 SELEÇÃO DOS CASOS..........................................................................................................60
6.2.1 Critérios adotados para a seleção das empresas......................................................................60
6.2.2 Critérios para seleção do(s) projetos(s)...................................................................................63
6.3 COLETA DE DADOS..............................................................................................................64
6.3.1 Entrevistas...............................................................................................................................66
6.3.2 Análise documental.................................................................................................................73
6.4 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS..........................................................................74
7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................................79
7.1 EMPRESA A – PROJETO DE AUTOMAÇÃO E ESCRITURAÇÃO DE NOTAS DE
SERVIÇOS...................................................................................................................................79
7.1.1 Análise dos resultados por categoria.......................................................................................83
7.2 EMPRESA B – PROJETO SUPER APP................................................................................104
7.2.1 Análise dos resultados por categoria.....................................................................................108
7.3 EMPRESA C - PROJETO LOGÍSTICA 4.0...........................................................................128
7.3.1 Análise por categoria.............................................................................................................132
7.4 EMPRESA D – PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO SISTEMA INTEGRADO
DE GESTÃO, NA NUVEM (CLOUD COMPUTING)..............................................................155
7.4.1 Análise por categoria.............................................................................................................158
7.5 EMPRESA E – PROJETO PORTAL DE RELACIONAMENTO.........................................179
7.5.1 Análise por categoria.............................................................................................................183
8 CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS...........................................................................203
8.1 MOTIVADORES....................................................................................................................203
8.2 ESPECIFICIDADES...............................................................................................................206
8.3 IMPACTOS ORGANIZACIONAIS.......................................................................................209
8.4 AÇÕES DO GERENTE DO PROJETO NO TRATAMENTO DOS IMPACTOS................213
8.5 COMPETÊNCIAS REQUERIDAS AO GERENTE DE PROJETOS....................................216
8.6 PERFIL DO GP NOS PROJETOS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL.............................219
9 VERIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES..............................................................................223
10 CONCLUSÃO....................................................................................................................226
11 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS......................................................................................230
12 CONTRIBUIÇÕES PRÁTICAS......................................................................................231
13 LIMITAÇÕES....................................................................................................................233
14 ESTUDOS FUTUROS.......................................................................................................234
REFERÊNCIAS............................................................................................................................235
APÊNDICE A – PROTOCOLO DA ENTREVISTA....................................................................247
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADO....................................250
19
1 INTRODUÇÃO
A Transformação Digital (TD) é um fenômeno que não se sabe ao certo quando e como iniciou-
se, mas sabe-se que, atualmente, é um fato e que possui um potencial de transformar processos de
negócios e operacionais, internos e externos, de forma intensa.
A Transformação Digital afeta a estratégia de uma empresa, suas ofertas, a infraestrutura da área
de Tecnologia da Informação (TI), a maneira de colaborar com os parceiros, sua estrutura
organizacional, modelos e processos de negócios. O potencial para as coisas darem errado é,
portanto, alto (PFLAUM; GÖLZER, 2018). Em uma pesquisa realizada pela McKinsey, sobre
Transformação Digital, mais de oito em cada dez entrevistados afirmam que empreenderam
esforços digitais nas suas organizações nos últimos cinco anos, (LINDSAY; WAUGH, 2018).
Segundo Libert et al. (2016), 66% a 84% dos projetos no contexto da Transformação Digital
falham, o que é uma proporção considerável em virtude dos custos, monetários ou não, de
colocar esses projetos em prática.
Dessa forma, os impactos devem ser tratados com ações assertivas pelos agentes de mudança,
com a participação ativa do gerente do projeto que, para desempenhar esse papel, deverá rever e
mudar o seu comportamento e seu “posicionamento” no projeto.
O perfil do GP também deve ser revisto, pois os projetos de Transformação Digital afetam de
forma mais ampla a organização e os negócios da empresa. Dessa forma, o gerente de Projetos
deve ter uma visão holística da empresa, sendo mais eficiente se originado na área de negócios.
20
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
(2) Identificar quais são os impactos nas organizações, causados por Projetos de
Transformação Digital.
(3) Identificar quais são as ações que devem ser adotadas com o objetivo de tratar os impactos
gerados pelos Projetos de Transformação Digital na organização e que devem ser de
responsabilidade do gerente do projeto.
(4) Identificar as competências necessárias para atuar nas ações que tratam os impactos dos
Projetos de Transformação Digital.
21
3 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÃO
Como contribuição acadêmica, esta pesquisa fornece um estudo sobre a adequação das
competências e funções da equipe de gerenciamento de projetos envolvidas no desenvolvimento
e aplicação de soluções relacionadas com à Transformação Digital, considerando as
especificidades das novas tecnologias adotadas e os impactos gerados na organização com sua
adoção, maximizando os resultados desejados e benefícios e reduzindo os efeitos negativos com a
mudança gerada na organização.
Segundo Guinan (2019), uma estrutura crítica para alcançar uma transformação digital bem-
sucedida é a equipe do projeto, mas há pouca pesquisa sobre como eles são criados e
desenvolvidos. Muito do foco tem sido em metodologias e processos ágeis, mas há menos
pesquisas para informar as organizações sobre a dinâmica da equipe, como funções, capacitação,
aprendizagem e desenvolvimento de liderança.
22
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, foi efetuada uma extensa revisão bibliográfica sobre os principais tópicos,
relacionada com a pergunta de pesquisa e os objetivos. A fundamentação teórica foi categorizada
em 3 grandes tópicos: "Transformação Digital", "Impactos organizacionais" e "Competências do
gerente de Projetos". Passemos a analisar cada um deles.
4.1.1 Características
A Transformação Digital deve atender vários critérios (DEHNING et al., 2003, p. 654), tais como:
Alterar as formas tradicionais de realizar negócios, redefinindo os seus recursos,
processos e relacionamentos (internos ou externos).
Envolver estratégias para adquirir novas capacidades ou para alcançar um novo espaço
de mercado.
Utilizar a tecnologia da informação para mudar radicalmente a forma de realizar tarefas,
assim como permitir que a empresa opere em diferentes mercados, atender diferentes
clientes, ou seja, obter vantagem competitiva por meio da inovação.
23
A Transformação Digital, nos negócios, tem papel essencial na estratégia formulada e executada
no aproveitamento dos recursos digitais e tecnológicos para criar valores diferenciados
(BHARADWAJ et al., 2013).
Berman (2012), argumenta que os principais motivadores da Transformação Digital são a criação
de novos modelos de negócios, a busca pela melhoria de processos operacionais e o
aprimoramento das experiências do cliente. Também considera que, para ter sucesso na
Transformação Digital, as empresas devem se concentrar em duas atividades complementares: a
reformulação do valor do cliente e a transformação de suas operações utilizando tecnologias
digitais. Empresas com um
24
plano coesivo para integrar o digital e componentes físicos das operações podem transformar seus
processos de negócios.
De acordo com Hess et al. (2016), a Transformação Digital se preocupa como as mudanças nas
tecnologias digitais podem trazer novos modelos de negócios que resultam em produtos
inovadores, automação de processos, assim como impactar nas estruturas organizacionais.
Por sua vez, Morakanyane et al. (2017) sugere que a Transformação Digital é um processo
evolutivo que aproveita recursos e tecnologias digitais para permitir que modelos de negócios,
processos operacionais e experiências do cliente criem valor para a organização.
Nesta pesquisa, conceitua-se a Transformação Digital como projetos que alteram e impactam de
forma significativa os principais elementos organizacionais da empresa, necessitando, dessa
forma, de um gerenciamento para sua implementação mais eficiente e eficaz.
Internet das coisas (IoT): IoT é a inter-rede de dispositivos físicos, veículos (também
chamados de "dispositivos conectados" e "dispositivos inteligentes" (Google Home, Alexa,
Watson, Cortana), edifícios e outros itens, incorporados a eletrônicos, softwares, sensores,
atuadores e conectividade de rede, que permitem a esses objetos coletar e trocar dados.
A ideia básica da IoT é que praticamente todas as “coisas” físicas podem se tornar um
computador conectado à Internet, ou seja, as “coisas” não se transformam em computadores,
mas podem apresentar minúsculos computadores. Quando o fazem, costumam ser chamados
de objetos inteligentes.
O uso de tecnologias móveis nos negócios e o atual nível de integração entre tecnologias são
consequências das necessidades da empresa e focam no gerenciamento dos processos de
negócios.
Big data e analytics: Big data é um grande volume de dados captados de diversas fontes.
Atualmente, o elevado volume de dados corporativos sugere que o gerenciamento e as análises
são um grande desafio para as empresas. Não é mais eficiente para os data warehouses (DWs)
gerenciar cargas de trabalho únicas e homogêneas.
Atualmente, para permitir maior flexibilidade e inovação mais rápida, os recursos de dados
são, cada vez mais, feitos em um modelo de nuvem, que fornece alocação dinâmica de
recursos, virtualização e economias em grande escala para gerenciar grandes quantidades de
dados. O conhecimento e o domínio da análise trazem recursos preditivos para todas as
funções, para que
26
todos os canais possam ser alinhados com base nas necessidades da empresa e preferências do
cliente.
Por exemplo, a indústria do livro, músicas e filmes viveu uma mudança digital com a
desmaterialização de livros físicos para e-books e a digitalização de música e filmes. Porém, a
internet e redes sociais possibilitam o acesso a um novo campo de clientes em potencial e
fortalecem os laços com os clientes existentes.
Realidade aumentada (RA): Os seres humanos não podem ver o que não está em seu
ambiente ou não podem tocar em um objeto que não existe fisicamente.
Com a tecnologia de Realidade aumentada (RA), os humanos podem explorar mais do que os
seus 5 sentidos percebem. O principal objetivo da RA é melhorar a percepção humana sobre o
meio ambiente, sobrepondo informações visuais geradas por computador à visão do usuário,
por meio de dispositivos específicos, como câmera dos smartphones, visores montados na
cabeça etc.
27
Ao sobrepor esse tipo de aumento à visão real do usuário, este pode obter as informações
ocultas sobre os objetos com os quais interage ou o ambiente, o que torna o AR uma
tecnologia eficiente para diversas áreas, como jogos, esportes, publicidade, compras,
educação, serviços militares, cirurgias médicas, bem como fins industriais etc.
Inteligência Artificial (IA): Um dos resultados mais importantes desse campo emergente é a
geração de uma quantidade de dados sem precedentes. Os dados devem ser armazenados e
usados de forma inteligente para monitoramento e atuação eficaz. Dessa forma, é importante
desenvolver algoritmos de inteligência artificial que possam ser centralizados ou distribuídos
com base na necessidade. Novos algoritmos de fusão precisam ser desenvolvidos para
entender os dados coletados.
Com isso, todo acordo, todo processo, toda tarefa e todo pagamento teriam um registro digital
e uma assinatura que poderiam ser identificados, validados, armazenados e compartilhados.
Com o blockchain, intermediários como advogados, corretores e bancos, poderiam não ser
mais necessários. Pessoas, organizações, máquinas e algoritmos agiriam livremente e
interagiam uns com os outros com pouco atrito. Este é o imenso potencial do blockchain.
(LIU, 2012; BERMAN, 2012; BELK, 2013; SCHWERTNER, 2017; HENRIETTE et al.,
2015; IANSITI;
LAKHANI, 2017; RANSBOTHAM et al., 2018; USTUNDAG; CEVIKCAN, 2017;
ESENGÜN; İNCE, 2017; GUBBI et al., 2013; ITU, 2013; FLEISCH, 2010).
Modelos de negócios
Osterwalder e Pigneur (2014, p.14) definem que um modelo de negócios descreve a lógica de
como uma organização cria, entrega e captura valor. Weill e Woerner (2015) propõem quatro
modelos de negócios para a era digital, em que os executivos de negócios precisam determinar
até que ponto eles desejam controlar a cadeia de valor, conduzir ou fazer parte de um ecossistema
que atenda às necessidades totais do cliente final e até que ponto eles sabem sobre as metas de
seus clientes finais.
29
hipercompetitivo, no qual, muitas vezes, é muito fácil para os clientes procurarem soluções
alternativas e os trocarem.
Processos de negócios
Para Zancul et al. (2016), a adoção da Tecnologia da Informação (TI) geralmente causa grande
impacto nos processos de negócios das empresas. No entanto, as novas tecnologias afetam os
processos das empresas de maneira incomum e, portanto, exigem uma abordagem de adoção
revisada e redesenhada.
Processos operacionais
Segundo Westerman e Bonnet (2015), chegou-se ao limite de quão longe é possível automatizar
os processos operacionais. No passado, a automação funcionava melhor para tarefas repetitivas
padronizadas. Era preciso ter pessoas para tarefas que envolviam destreza manual, compreensão
verbal, discriminação visual avançada ou condições não estruturadas.
Mas inovações como o IBM® Watson, o carro autônomo do Google e Tesla e novos robôs
flexíveis estão redesenhando os limites sobre quais tipos de trabalho podem ser automatizados.
Por exemplo, os computadores agora podem escrever pré-visualizações de ganhos corporativos e
histórias de esportes. A automação de farmácias passou da identificação de interações
medicamentosas
31
No entanto, a tecnologia não acaba com o trabalho de rotina, mas permite, também, redesenhar
radicalmente a maneira como a empresa opera. As novas tecnologias podem substituir os
trabalhadores em rotinas operacionais, no entanto, paradoxalmente, pode proporcionar uma
demanda maior de novas atividades, assim como liberá-los para executar trabalhos mais
gratificantes.
Colaboradores
Bouée (2015) argumenta que os funcionários não devem ficar de fora na jornada de
Transformação Digital. No nível da organização, é bastante claro que a maturidade digital é
sinônimo de maior crescimento econômico e maior nível de bem-estar dos funcionários.
Em estudo realizado pela Roland Berger (2014) nas empresas francesas, os funcionários daquelas
que são mais avançadas digitalmente relataram sentirem-se mais confortáveis em seus ambientes
profissionais, com níveis de índice de bem-estar profissional 50% maiores do que nas menos
avançadas. As empresas digitais já entendem que os funcionários são sua maior fonte de inovação
e o valor desse investimento.
A transformação é que a tomada de riscos está se tornando uma norma cultural, à medida que
empresas mais avançadas digitalmente buscam novos níveis de vantagem competitiva. Igualmente
32
Infraestrutura
A infraestrutura, em geral, pode ser definida como as estruturas físicas e organizacionais básicas
necessárias para a operação de uma sociedade ou empresa, ou os serviços e instalações
necessários para o funcionamento de uma economia. Consequentemente, as infraestruturas
digitais podem ser definidas como as tecnologias básicas da informação e das estruturas
organizacionais, juntamente com os serviços e instalações relacionados necessários para que uma
empresa ou setor funcione (TILSON et al., 2010).
Cultura organizacional
A digitalização é mais do que apenas uma mudança de ferramentas. Práticas diárias, estruturas do
local de trabalho, relacionamentos, compartilhamento de informações, interação com clientes e
até concorrência também são transformadas. Tornar-se uma verdadeira organização digital não é
apenas tornar-se conhecedor de tecnologia. Significa adotar uma nova cultura e mentalidade, na
qual a hierarquia se esvai e a inovação acontece por meio das redes (BOUÉE, 2015).
33
As empresas com maturidade digital se comportam de maneira diferente de seus pares menos
maduros. A diferença tem menos a ver com tecnologia e mais com fundamentos de negócios. As
organizações com maturidade digital estão comprometidas com estratégias transformadoras
suportadas por culturas colaborativas que estão abertas a correrem riscos. Igualmente importante,
líderes e funcionários de organizações com maturidade digital têm acesso aos recursos
necessários para desenvolver habilidades e conhecimentos digitais (KANE et al., 2015).
Para Westerman e Bonnet (2015), as organizações têm seu lugar nas interações com os clientes.
Mas nem todas as interações com as organizações/indivíduos são realmente valiosas para os
clientes. Nos pontos em que as pessoas simplesmente servem como uma interface do cliente ou
um veículo para personalizar os serviços, os clientes podem achar mais conveniente interagir com
as máquinas.
Para Gray et al. (2013), o conceito de autoatendimento se torna muito mais proeminente na
Transformação Digital e permeia três configurações de valor, (1) em cadeias de valor,
capacitando escolhas facilmente em transações e processos, (2) em value shop1 por meio da
aprendizagem e criação de conhecimento e (3) redes de valor, por meio do compartilhamento e
envolvimento com uma rede maior e mais diversificada de pessoas e recursos. Assim, em
contextos digitais, o gerenciamento efetivo do autoatendimento do cliente torna-se um importante
elemento de criação de valor por meio de qualquer um dos três modelos de configuração de
valor.
1
O termo "value shop" foi mantido como no original em inglês, pois seu significado corresponde a uma metáfora que poderia
perder o significado ao ser traduzido. O termo "shop" captura que uma empresa assim configurada é direcionada a uma classe
de problemas única e delineada. (Stabell e Fjeldstad, 1998, p. 241).
34
Neste capítulo, foram exploradas quais as características dos projetos de Transformação Digital
em que foram observadas, muitas vezes, a associação com novas tecnologias e, principalmente, a
percepção de que a TD gera impactos, positivos e negativos, em diferentes elementos
organizacionais nas empresas.
Dessa forma, foi notada a necessidade de efetuar um detalhamento desses impactos e quais
seriam os tratamentos para mitigá-los ou maximizá-los e, consequentemente, quais as
competências dos gerentes de Projetos que deveriam ser desenvolvidas para atuar de forma
adequada nesses tratamentos.
A Tecnologia da Informação (TI) tornou-se uma parte cada vez mais onipresente e integrante da
organização moderna, pois tem o potencial de melhorar o desempenho, nos níveis operacional e
estratégico. No entanto, essa ampla adoção da TI não é "neutra", pois incorpora características
essenciais que tendem a alterar a natureza do trabalho nas fábricas e escritórios e entre
trabalhadores, gerentes e funcionários (ASHURST et al., 2008).
4.2.1 Conceitos
Segundo Parviainen et al. (2017), as empresas maduras, geralmente, têm uma estratégia digital
clara combinada com atividades colaborativas que estavam impulsionando a transformação e
incentivando a tomada de riscos. A falta de uma estratégia geral de digitalização e de prioridades
concorrentes eram os obstáculos mais comuns para a digitalização, juntamente com preocupações
de segurança e habilidades técnicas insuficientes.
As organizações com maturidade digital estão mais confortáveis em correr riscos do que seus
pares com menos maturidade digital. Para tornar suas organizações menos avessas ao risco, os
líderes empresariais precisam adotar o fracasso como pré-requisito para o sucesso. Eles também
devem abordar a probabilidade de os funcionários serem tão avessos ao risco quanto seus
gerentes e precisarão de apoio para se tornarem mais ousados (KANE et al., 2015).
Em uma extensa revisão de literatura, Vial (2019) descreve que a eficiência operacional e a
melhoria no desempenho organizacional são os principais benefícios da Transformação Digital,
destacando a melhoria nos processos de negócios, a aceleração na tomada de decisão, a redução
de custos e um melhor desempenho financeiro, crescimento da empresa e a vantagem
competitiva.
Para Henriette et al. (2016), a digitalização dos processos de negócios gera um impacto
estruturante que pode levar ao desaparecimento de empregos, apesar do surgimento de novos
empregos com a Transformação Digital, causando uma grande resistência à mudança. Além
disso, os projetos de Transformação Digital exigirão um novo nível de foco em seus clientes
internos. Os líderes deverão encontrar, desenvolver e manter as pessoas certas, não
necessariamente estrelas da tecnologia, mas pessoas com alta capacidade de adaptabilidade,
(GOBBLE, 2016).
Lucas et al. (2013) descrevem uma possível frustação do consumidor como consequência de
novos produtos ou soluções tecnológicas. Quando os consumidores encontram problemas que
não podem resolver sozinhos acionam os serviços de suporte, gerando uma sobrecarga na equipe,
que deve responder prontamente e acertadamente para evitar a frustação do cliente.
Na pesquisa realizada por Piccinini et.al. (2015), foi constatada que a segurança e a privacidade
dos dados podem representar um grande problema dentro da organização devido aos projetos
ligados à Transformação Digital e Segundo Saka (2013), muitas empresas e indivíduos ainda
hesitam em reconhecer a profundidade e o impacto da Transformação Digital, basicamente por
quatro razões:
Hernandez e Caldas (2001) descrevem que uma das ações da gestão de mudança deve ser avaliar
com muito cuidado quem são os indivíduos da organização que poderiam resistir à iniciativa da
transformação e por quais motivos, porém alertam que a resistência às mudanças é um fato e
2
Este neologismo ainda não está consolidado pelo Volp, entretanto, é comumente utilizado pela literatura sobre o
tema com a finalidade de expressar o processo de estruturas mais horizontais. Assim, optou-se por utilizá-lo com a
finalidade de seguir o jargão da área.
39
Saka (2003) define o agente de mudança como um gerente que busca reconfigurar as funções,
responsabilidades, estruturas, produtos, processos, sistemas, tecnologia ou outro recurso de uma
organização à luz da melhoria da eficácia organizacional. Descreve que as competências dos
agentes de mudança eficazes são: Clareza na especificação de objetivos, atividades de formação
de equipes, habilidades de comunicação, habilidades de negociação e "habilidades de influência"
para que as pessoas se comprometam com as metas.
Em pesquisa realizada por Singh e Hess (2017), constatou-se que é tarefa dos Diretores Digitais
(Chief Digital Officers – CDOs3) inspirar as pessoas da organização e entusiasmarem-se com os
assuntos digitais e que, para inspirar com sucesso, geralmente é necessária uma mudança de
cultura corporativa, porque a maneira tradicional de fazer negócios está profundamente enraizada
em gerentes e funcionários e a parte crucial do trabalho dos CDOs é, portanto, convencer a força
de trabalho em todos os departamentos e níveis hierárquicos a se unir.
Outra constatação é que os CDOs precisam oferecer novas perspectivas, e educar as pessoas a
olharem e pensarem no futuro. Os CDOs precisam ter um conhecimento profundo da cultura
3
CDO (Chief Digital Officer) é o especialista em Transformação Digital da empresa, não uma responsabilidade além
de outras, enquanto o CIO assume o papel de especialista estratégico em TI. (SINGH; HESS, 2017).
40
Mesmo com uma visão clara, que leva em consideração o desenvolvimento da digitalização e
uma abordagem ágil para realizar e incentivar a inovação, algumas empresas ainda lutam para
enfrentar os desafios da digitalização. Se líderes e funcionários não tiverem as competências
certas, os novos processos necessários não poderão ser executados. Como competências, nos
referimos a um conjunto de habilidades, conhecimentos e atitudes. Uma transformação
organizacional não pode ter sucesso sem indivíduos competentes que realmente entendam o
significado e a complexidade da Transformação Digital (VEY et al., 2017).
A Transformação Digital nas empresas deve seguir um processo estruturado, tipicamente uma
abordagem "ascendente", orientada para a tecnologia. Primeiro, as equipes de inovação nas
empresas são treinadas em todos os aspectos das tecnologias de digitalização e suas aplicações.
Essas equipes identificam casos de uso em potencial e trabalham com as especificações da
solução correspondente.
Em seguida, os casos de uso são avaliados em relação à viabilidade técnica e aos benefícios
econômicos para a empresa e classificados em um roteiro de implementação. Essa abordagem
requer um entendimento profundo das tecnologias de digitalização, bem como dos processos da
empresa. Se nem todo conhecimento estiver disponível dentro da empresa, especialistas externos
podem estar envolvidos (PFLAUM; GÖLZER, 2018).
No Quadro 3, pode-se observar, de forma consolidada, o referencial teórico abordado nesta sessão.
41
Neste capítulo, foram estudados os principais impactos e suas caraterísticas, gerados pelos
projetos de Transformação Digital na organização e quais seriam as ações para mitigar os
impactos negativos e maximizar os impactos positivos. Dessa forma, levando a necessidade de
uma análise detalhada sobre as competências do gerente de Projetos para validar sua efetiva
participação nos tratamentos dos impactos gerados.
42
A quarta versão do ICB®, o guia de competências individuais, publicada pela IPMA, descreve
que as competências individuais necessárias, para que os gerentes de Projetos desempenhem suas
funções eficientemente, são compostas por 29 elementos, divididos em três áreas: técnica,
comportamental e contextual:
Segundo Vukomanović et al. (2016), o Guia de Competências Individuais do IPMA não detalha
as competências necessárias para funções específicas (por exemplo, gerente de projeto ou
especialista em risco), mas sim em termos do que é necessário em cada um dos domínios do
gerenciamento de
43
projeto. A justificativa é que as funções e os títulos das funções variam muito de acordo com o
idioma, a indústria e a organização. Portanto, estes não se referem a qualquer configuração
particular (ou seja, projetos, programas ou portfólios), mas vê-los todos como "iniciativas".
O PMI (2013), por meio de seu Guia de Gerenciamento de Projetos (GUIA PMBOK®), descreve
que um gerenciamento de projeto eficiente estabelece que os gerentes de Projetos detenham as
competências que são divididas em 4 grupos:
Em estudo realizado por Santos et al. (2017), no qual os autores realizam uma comparação
sistemática dos padrões do PMBOK®, do ICB® e do PRINCE2®, conclui-se que os três padrões
podem ser utilizados de forma complementar, inclusive com relação às competências e
responsabilidades do gerente de Projeto.
44
Área Competências
Elaboração do desenho do projeto.
Especificação dos requerimentos e objetivos.
Planejamento e controle.
Gerenciamento do escopo, tempo, qualidade, compras e pessoas.
Conhecimento (técnicas e práticas) Organização.
Técnicas fundamentais requeridas no Comunicação.
conteúdo estudado no gerenciamento de Finanças.
projetos. Controle de riscos e identificação das oportunidades.
Relacionamento com as partes interessadas (stakeholders).
Utilização de recursos.
Controle de mudanças.
Criação de relatórios sobre o andamento do projeto e lições aprendidas.
Experiência.
Maturidade.
Capacidade de execução.
Comprometimento.
Desempenho
Credibilidade.
Competências relacionadas com a
Aprendizado contínuo.
capacidade que o gerente de Projetos possui
Integridade.
para aplicar seus conhecimentos.
Agilidade.
Motivação.
Eficiência na tomada de decisões.
Influenciador.
Autorreflexão.
Comportamental
Autogestão.
Competências pessoais e interpessoais que
Comunicação pessoal.
descrevem os elementos que cobrem as
Relacionamento.
45
Segundo Shenhar et al. (2001), o sucesso do projeto está relacionado ao sucesso de um novo
produto ou serviço no mercado. O conceito de sucesso deve ser entendido em um sentido
multidimensional, que considera as dimensões como eficiência, benefícios para o cliente, sucesso
nos negócios da organização e a capacidade de o projeto preparar a empresa para os desafios
futuros. Nesse contexto, o gerente de Projetos deverá ser mais “orientado aos negócios”, em vez
de entregas.
Nos últimos anos, empresas em quase todos os setores têm conduzido várias iniciativas para
explorar novas tecnologias digitais e explorar seus benefícios. Isso, frequentemente, envolve
transformações de operações de negócios importantes e afeta produtos e processos, bem como
estruturas organizacionais e conceitos de gerenciamento. As empresas precisam estabelecer
práticas de gestão para governar essas complexas transformações (MATT et al., 2015).
46
Segundo Glukhov et al. (2015), projetos de conexão, como de banda larga de cada objeto, é um
projeto único, cujo serviço é essencial para aplicações de Transformação Digital. Para serem
executados com eficiência, os projetos precisam de técnicas específicas de gerenciamento de
projetos. Como a maior parte do projeto é técnica, é razoável que o gerente de Projetos seja um
especialista técnico com experiência, além das tradicionais habilidades de gerenciamento.
Pajares et al. (2017) também consideram que muitos projetos de TD precisarão do envolvimento
de pessoas e empresas com competências multidisciplinares, tais como advogados preocupados
com questões legais relacionadas à privacidade dos dados, filósofos envolvidos em questões
éticas, sociólogos, dentre outros. Essa heterogeneidade de disciplinas exigirá do gerente de
Projetos competências de gerenciamento multidisciplinar, principalmente quando as empresas
envolvidas tiverem diferentes culturas organizacionais.
Pajares et al. (2017) descrevem que o gerenciamento clássico de projetos é adequado quando não
há incerteza nos objetivos do projeto (escopo perfeitamente definido) e nos meios (procedimentos
e métodos conhecidos); quando não houver interações significativas entre os diferentes elementos
(técnicos, organizacionais, tarefas etc.) do projeto (independentemente do seu tamanho); e não há
mudanças importantes em metas e meios (por exemplo, tecnologias, necessidades do mercado
etc.) durante o ciclo de vida do projeto. O autor complementa que os projetos também envolverão
as tecnologias complementares que permitirão criar o valor final do produto ou serviço, como
computação em nuvem, big data, inteligência artificial, robótica.
um desafio para os gerentes de Projeto, que terão que trabalhar sob a filosofia da inovação aberta
e colaboração em rede. Competências como confiança e colaboração serão essenciais (PAJARES
et al., 2017).
Segundo Silvius (2016), uma importante competência que deve ser atribuída aos gerentes de
Projetos é a inclusão explícita de uma competência relacionada à sustentabilidade. Ele precisa
entender mais sobre as questões de sustentabilidade relacionadas aos modelos de negócios atuais,
padrões de consumo e produção e uso de recursos. Além disso, o gerente de Projetos também
precisa ser capaz de compreender as relações de causa e efeito e os efeitos de longo prazo das
ações de curto prazo.
4
"Sistema ciberfísico" é um sistema composto por elementos computacionais colaborativos, com o intuito de controlar
entidades físicas.
48
A inteligência emocional foi sugerida como uma qualidade importante na gestão de projetos,
devido à natureza dessa forma de organização do trabalho. Isso coloca ênfase específica nos
comportamentos do gerente de Projetos associados à comunicação, trabalho em equipe, atenção e
gerenciamento de conflitos e sua importância para os resultados bem-sucedidos do projeto. Além
disso, a capacidade de inteligência emocional, que usa emoções para facilitar o pensamento,
também foi significativamente associada às dimensões de liderança transformacional da
influência idealizada e da consideração individualizada, inspirando outros colaboradores, gerando
níveis mais altos de motivação e compromisso com a mudança (CLARKE, 2010; GROVES,
2006).
Para Munassar et al. (2013), existem várias definições para o termo projeto, o qual está sendo
ilustrado de maneira diferente, com base no ambiente de projeto estabelecido e na ampla
variedade de atividades da organização. No entanto, para generalizar o entendimento comum para
o termo projeto, foi definido que um projeto é a coleção de recursos humanos e “não humanos”,
designados para atingir determinadas metas especificadas e produzir resultados dentro de um
tempo específico e com um orçamento que serve às necessidades de seu cliente.
No Quadro 5, pode-se observar, de forma consolidada, o referencial teórico abordado nesta sessão.
Neste capítulo, foram estudadas, de forma detalhada, quais são as competências sugeridas pelos
principais institutos de metodologia de gerenciamento de projetos e quais seriam as competências
especificas para atuação dos GP’s em projetos de Transformação Digital, percebendo, assim, a
necessidade de uma revisão nessas competências, tais como a simplificação de competências
mais técnicas e o aprimoramento e desenvolvimento de competências comportamentais.
A fundamentação teórica foi efetuada com base nos principais temas identificados nos objetivos
desta pesquisa, de forma sistemática. Inicialmente, foi realizado o estudo dos assuntos
isoladamente e, na sequência, os temas foram abordados de forma consolidada. Foram abordados
os temas sobre “Transformação Digital - TD”, seus conceitos, tecnologias associadas e os
principais elementos organizacionais influenciados pela TD.
das ações dos agentes de mudança. Por fim, foi realizada a pesquisa sobre as competências dos
gerentes de Projetos tradicionais e em projetos de Transformação Digital, sua participação nas
ações de mudanças e suas principais competências requeridas em projetos de TD.
Dessa forma, a Transformação Digital possui características e tecnologias envolvidas que geram
impactos importantes na organização, sejam positivos ou negativos, e que requerem um
aprimoramento e o desenvolvimento de novas competências do gerente de Projetos para atuar de
forma efetiva no tratamento dos impactos identificados, fornecendo informações assertivas para a
elaboração das proposições e a construção do modelo de pesquisa deste estudo.
53
O modelo teórico da pesquisa foi elaborado a partir do relacionamento dos itens abortados na
fundamentação teórica, bem como a concepção das proposições a serem verificadas neste estudo.
54
5.2 PROPOSIÇÕES
Segundo Yin (2015), no estudo de caso, as proposições são componentes importantes para o
projeto de pesquisa, em que se destina direcionar a atenção do investigador para o que realmente
importa na pesquisa. De acordo com o referencial teórico levantado e o modelo de pesquisa
proposto, as seguintes proposições foram definidas:
A relação das principais etapas do projeto, como a questão de pesquisa, os objetivos gerais e
específicos, o referencial teórico e as proposições de pesquisa são observadas no Quadro 6.
55
Pergunta de Pesquisa
No contexto da Transformação Digital, quais as competências que devem ser desenvolvidas ou aprimoradas
pelos gerentes de Projetos?
Objetivos gerais
O objetivo principal desta pesquisa é identificar as competências que os gerentes de Projetos precisam
aprimorar ou desenvolver, para atuar no tratamento dos impactos gerados pelos projetos de Transformação
Digital.
Objetivos específicos
(1) Identificar se um (2) Identificar quais são (3) Identificar (4) Identificar as
projeto de os impactos nas quais são as ações que competências necessárias
Transformação Digital organizações, causados devem ser adotadas com o para atuar nas ações que
apresenta especificidades por um projeto de objetivo de tratar os tratam os impactos dos
diferentes e mais Transformação Digital. impactos gerados pelos projetos de Transformação
complexas em relação aos projetos de Transformação Digital.
projetos tradicionais ou de Digital na organização e
sustentação de que devem ser de
Tecnologia. responsabilidade do
gerente de Projetos.
Referencial
Transformação Digital Impactos organizacionais Competências do gerente de
Teórico
(TD) Projetos em soluções de TD
Para a realização deste trabalho, foi utilizada uma abordagem qualitativa exploratória, do tipo
estudo de caso múltiplo, tendo como objetivo a pesquisa de 4 estudos de casos. Os estudos foram
realizados remotamente, devido aos protocolos de restrições para a contenção da pandemia pela
COVID-19, por meio do levantamento de informações e fatos como fonte direta dos dados, tendo
o pesquisador como instrumento fundamental.
Para o estudo, foram identificadas empresas de grande porte. No caso de o estudo ser múltiplo, a
princípio, o setor da empresa poderá ser diferente, deverá possuir uma área de Transformação
Digital, direta ou indiretamente envolvida com a estratégia de negócios da empresa. A principal
característica que os casos possuem, obviamente, é um projeto relacionado à Transformação
Digital, que deverá constar no planejamento estratégico da empresa, possuir alta complexidade e
bons resultados para o negócio.
De acordo com a pesquisa realizada por Pozzebon e Petrini (2013), a natureza desta pesquisa
poderá ser classificada como crítica-interpretativista, pois tem como objetivo atender os seis
critérios para condução e avaliação de pesquisas qualitativas dessa natureza, conforme descritos
no Quadro 7.
57
Plausibilidade
Critério 4: O estudo (resultados) oferece algo
diferenciado?
A opção pelo método de investigação ser qualitativa e exploratória é devido ao fato de que foi
efetuada a pesquisa em uma organização sobre “como” os gerentes de Projetos devem tratar os
impactos dos projetos de Transformação Digital na cultura organizacional.
Classificação Descrição
Exploratórias Pesquisas classificadas como “exploratórias” podem gerar maior proximidade ao problema,
de forma que se torne mais evidente ou propicie a construção de hipóteses. Para pesquisas
exploratórias, o principal objetivo pode ser compreendido como o aperfeiçoamento de ideias
ou a revelação de intuições. Logo, o seu planejamento é muito adaptável, possibilitando a
consideração de diversos assuntos relativos ao tema de pesquisa.
Descritivas Pesquisas “descritivas” trazem o detalhamento de um determinado evento ou população,
assim como o vínculo estabelecido entre variáveis. Há uma quantidade imensa de pesquisas
com essa classificação e suas particularidades estão nas práticas de obtenção de dados,
como questionários e a observação ordenada.
Explicativas Pesquisas “explicativas” podem ser definidas como o apontamento de causas que definem
ou colaboram para a ocorrência de um evento. É o tipo que mais se aproxima da realidade,
devido ao objetivo de entender o motivo das coisas. Logo, torna-se o tipo de pesquisa mais
sensível e delicada, uma vez que a chance de cometer falhas aumenta significativamente.
Fonte: Adaptado de Gil, 2007.
Nesta pesquisa, o tipo de estudo mais adequado é o de múltiplos casos, uma vez que não há
evidência de que haja apenas um caso crítico e distinto, sendo possível identificar situações
similares. A classificação desta pesquisa é de múltiplos casos, pois foi efetuada uma investigação,
por meio de mais de um caso, para estudar um único fenômeno, conforme Gil (2007).
Este estudo foi efetuado em cinco empresas e, em cada uma delas, analisado um projeto de
Transformação Digital. Desta forma, pode-se classificar a pesquisa como do tipo holística de
casos múltiplos, conforme destacado na Figura 4, na qual é apresentado o modelo definido por
Yin (2015) referente aos tipos de estudo de caso.
60
Yin (2015, p. 32) define estudo de caso como “uma forma de se fazer pesquisa empírica que
investiga fenômenos contemporâneos dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando
os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidos.”
Neste capítulo, estão descritos os critérios para a seleção das empresas e projetos objetos da
pesquisa.
As empresas selecionadas possuem uma visão de que a Transformação Digital é estratégica para
a organização e tem consideráveis investimentos em projetos de inovação.
Inicialmente, foram contatadas 17 empresas, por meio dos relacionamentos, diretos e indiretos do
pesquisador, com as respectivas diretorias da área de Tecnologia da Informação. Todas as
empresas receberam um material descrevendo o escopo da pesquisa: objetivos, proposições,
modelo da pesquisa, critérios para identificação do projeto e entrevistados e as categorias das
questões.
Cinco empresas não retornaram o contato para a realização da primeira reunião para elucidação
da pesquisa. Após a realização da primeira reunião, com doze empresas, quatro não aprovaram a
realização da pesquisa, alegando questões de segurança da informação e, em outras três, não foi
identificado um projeto que atendesse aos critérios de seleção para a realização do estudo. Assim,
a pesquisa realizada em 5 empresas.
No Quadro 10, estão descritas as principais informações das empresas selecionadas para este estudo.
A seleção dos projetos foi efetuada de acordo com o planejamento estratégico da empresa,
considerando sua priorização e criticidade para o negócio da organização. Preferencialmente,
foram considerados os seguintes critérios:
No Quadro 11, estão descritas as principais características dos projetos considerados. Quadro
11 – Projetos estudados
P2: Desenvolvimento de
Tecnologias móveis Em
Empresa B um aplicativo para unificar 1 ano e 2 meses
Big Data e Analytics andamento
o relacionamento com o
Plataforma web. Testes
cliente.
Cloud Computing
Empresa C P3: Integração dos Plataforma web Concluído 3 anos
processos logísticos. Inteligência Artificial Produção
Tecnologias móveis
P4: Projeto de
Cloud Computing
Empresa D implementação de um Concluído 2 anos e 3 meses
Plataforma web
novo Sistema Integrado de Produção
Tecnologias móveis
Gestão.
P5: Desenvolvimento de
Cloud Computing
Empresa E uma aplicação web, para o Concluído 2 anos
Plataforma web
relacionamento dos Produção
Inteligência Artificial
parceiros e franquias.
Fonte: Elaborado pelo autor.
64
A coleta de dados foi realizada utilizando múltiplas fontes de dados, principalmente, entrevistas e
análise documental. Não foi possível a realização da observação não participante devido às
restrições da pandemia pela COVID-19. As entrevistas, foram do tipo semiestruturadas e
informais e realizadas com os principais envolvidos no projeto, necessariamente, os seguintes
indivíduos:
Durante todo o processo de levantamento de dados, foi efetuada uma análise sobre a importância
e o sentido das informações e percepções que os entrevistados transmitem sobre o projeto e a
cultura organizacional. Nesse contexto, a pesquisa qualitativa está ligada diretamente à
investigação e à compreensão do sentido que os indivíduos atrelam à uma determinada questão.
De acordo com Yin (2015), a coleta de dados, ao ser associada aos estudos de caso, torna-se mais
complexa do que quando se refere aos outros tipos de pesquisas. Logo, o pesquisador deve ser
cuidadoso ao definir a metodologia aplicada e ao coletar os dados, uma vez que os estudos de
caso exigem um controle de qualidade das informações muito maior que os demais tipos de
pesquisa.
O processo de coleta de dados segue o ciclo de atividades proposto por Creswell (2010), como
demonstra a Figura 6.
65
Para obtenção dos dados, optou-se pela aplicação das seguintes técnicas: Entrevistas informais e
parcialmente estruturadas e análise de documentação. Serão considerados também os três
princípios básicos no processo de coleta de dados, segundo Yin (2015):
O detalhamento das técnicas utilizadas para a coleta de dados está descrito nos próximos itens.
66
6.3.1 Entrevistas
A entrevista, como forma de coleta de informações, tem uma importância bastante significativa
no estudo de caso, pois, por meio dela, o pesquisador percebe a forma como os indivíduos
interpretam as suas experiências (BOGDAN & BIKLEN, 1994).
Forma Descrição
Informal Quando se distingue da simples conversação apenas por ter como objetivo
básico a coleta de dados.
Totalmente estruturada Quando se desenvolve a partir de relação fixa de perguntas. Nesse caso,
a entrevista pode se confundir com um formulário de questões.
Nos casos das entrevistas focalizadas e parcialmente estruturadas, foi utilizado, pelo pesquisador,
um roteiro durante a entrevista. Quanto à forma informal, foram utilizadas para conversas
ocasionais de curta duração, intencionais e não intencionais, para pequenos esclarecimentos das
informações ora obtidas nas entrevistas, e análises dos documentos, por meio de telefonemas ou
troca de mensagens instantâneas.
Todas as entrevistas, com exceção das informais, foram realizadas com agendamento prévio com
o entrevistado e com a intenção de que ocorresse em local adequado e fora do ambiente de
trabalho. A utilização dessa estratégia se deveu para que o entrevistado se atentasse mais à
entrevista, evitando intervenções das atividades de seu dia a dia
67
As entrevistas foram realizadas em duas etapas. Na primeira etapa foram realizadas entrevistas
com a diretoria e/ou gerente responsável da área de TI, com o objetivo de apresentar as principais
informações da pesquisa, explicação dos objetivos, proposições, categorias de questões,
identificação do projeto a ser estudado, bem como a indicação dos indivíduos a serem
entrevistados para a continuidade da pesquisa.
No Quadro 13, estão relacionados todos os indivíduos entrevistados diretamente por meio de sua
codificação, cargo na organização e função exercida no projeto, assim como a identificação da
empresa.
Com relação ao formato das entrevistas, data e duração, 23 entrevistas foram realizadas de forma
virtual e 2 de forma presencial, conforme apresentado, de forma detalhada, no Quadro 14.
No Quadro 15, são apresentados os dados das entrevistas de forma consolidada, quantidades de
entrevistas, duração, total geral e média de duração das entrevistas.
As entrevistas foram gravadas por meio do aparelho celular. Como forma de garantir a qualidade,
o entendimento e a continuidade da entrevista em caso de falha, foi utilizado um segundo
aparelho de celular.
Questões de entrevistas
Segundo Eisenhardt (1989), uma estratégia para definir categorias ou dimensões pode ser
sugerida pelo problema de pesquisa ou pela literatura existente, ou o pesquisador pode,
simplesmente, escolher algumas categorias. Inicialmente, as principais questões que serão
utilizadas no roteiro das entrevistas foram elaboradas a partir do modelo e das proposições
definidas para esta pesquisa. Para um melhor entendimento, as questões foram divididas, em sete
categorias:
71
(1) projetos;
(2) motivadores;
(3) especificidades;
(4) impactos;
(5) tratamentos;
(6) competências requeridas ao gerente de Projetos (GP);
(7) perfil do gerente de Projetos.
A categoria (1), projetos de Transformação Digital, teve como finalidade levantar as informações
da empresa, do projeto estudado e os resultados alcançados ou esperados e, com isso, contribuir
com a verificação da Proposição 1 e da Proposição 2.
A categoria (2), motivadores, teve como objetivos levantar quais são os elementos motivadores
para a realização do projeto e se a pandemia contribui com a realização do projeto. Com isso,
também, contribuir com a verificação da Proposição 1.
A categoria (3), especificidades, é composta por uma única questão e teve como objetivo levantar
as especificidades distintas, de projetos tradicionais de TI, do projeto estudado. A categoria
especificidades tem relação direta com a verificação da Proposição 1.
A categoria (4), impactos, teve como objetivo identificar os impactos gerados pelo projeto
estudado na organização, como também mapear quais as áreas impactadas. Essa categoria teve,
como objetivo, verificar a Proposição 2 e contribuir com a verificação da Proposição 3.
A categoria (5), tratamentos, é formada por duas questões distintas. A primeira, levantar quais
são as atividades para tratar dos impactos na organização e, uma segunda questão, que tem como
objetivo mapear quais seriam as ações do gerente de Projetos no tratamento desses impactos, e
teve como objetivo principal a verificação da Proposição 3 e contribuir na verificação da
Proposição 4.
72
A categoria (7), perfil do gerente de Projetos, teve como objetivo levantar qual seria o perfil
do gerente de Projetos, com base nas novas competências, de qual área ele deve ser e como
adquirir as novas competências. Essa categoria teve como objetivo contribuir com a validade da
Proposição 4.
No Quadro 16, pode-se observar a relação das categorias e questões das entrevistas com as
proposições da pesquisa.
73
De acordo com Cellard (2012, p. 295), a investigação documental auxilia na “observação dos
processos de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos,
mentalidades, práticas, dentre outros”. Para Flick (2009), a análise documental pode ser utilizada
como estratégia complementar para outras técnicas de coleta de dados.
74
Nesta pesquisa, a análise dos documentos do projeto teve, como um dos objetivos principais, a
validação e a ratificação de algumas informações obtidas por meio das entrevistas. Na análise da
documentação levantada, foram considerados os quatros critérios de avaliação da qualidade dos
documentos, conforme citado por Scott (1991): autenticidade, credibilidade, representatividade e
significado.
No Quadro 17, pode-se observar uma síntese da investigação no estudo de casos múltiplos,
fontes, técnicas e instrumentos.
Ao longo da pesquisa, foi utilizado um diário para anotações. O uso do diário em pesquisa
qualitativa permite o registro de eventos diversificados e sucessivos. De acordo com Falkembach
(1987), o diário de campo utilizado durante a coleta de dados de uma entrevista consiste no
registo mais fidedigno das observações, dos acontecimentos, dos apontamentos e dos
comentários descritos pelo entrevistado, pela análise documental, contatos informais e acesso aos
sites das empresas na internet. O diário de campo também pode ser visto como uma relevante
fonte de dados.
De acordo com Gil (2007), analisar dados e informações envolve várias atividades, dentre as
quais: a codificação das respostas obtidas e a tabulação dos dados levantados. Logo após, ou
simultaneamente à análise das informações, o pesquisador poderá interpretar os dados obtidos, ou
75
Durante todo o processo da análise de dados, as informações coletadas foram trabalhadas a fim
de se tornarem compreensíveis, para que a elaboração de diferentes análises seja realizada de
forma consistente, assim como a representação de tais dados. Também pretendeu-se reduzir a
distância entre a teoria e os dados e entre o contexto e a ação, com o objetivo de buscar a
compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação.
Um grande volume de material foi produzido pelos meios de comunicação durante a fase de
coleta de dados. Para o tratamento de todo material produzido, foi considerada a técnica da
análise de conteúdo. Segundo Bardin (2016), a análise de conteúdo é definida como
Nesta pesquisa, foram aplicadas as três fases, consideradas fundamentais na utilização da técnica
de conteúdo, conforme proposto por Bardin (2016): pré-análise, exploração do material e o
tratamento dos resultados.
Na análise e no tratamento dos dados, também foi utilizada a técnica da categorização, que, para
Gil (2007), consiste na organização dos dados para que facilitem a tomada de decisões e
definição de conclusões pelo pesquisador. Isso demanda a elaboração de um conjunto de
categorias descritivas. Adicionalmente à análise de conteúdo, proposto por Bardin (2011),
também foi considerado o modelo de Creswell (2010), em que seu processo é linear e hierárquico
e seus estágios são inter- relacionados, conforme demonstrado na Figura 8.
Para Creswell (2010), a técnica de categorização está inserida na fase de codificação dos dados.
Nesta pesquisa, a técnica de triangulação foi utilizada na análise e interpretação dos dados. Foi
efetuada, principalmente, por meio da análise das informações obtidas nas 5 entrevistas
realizadas
77
Na análise das informações das empresas, também foram utilizadas, como fonte de dados, as
informações disponíveis em seus websites oficiais. Essa verificação das informações entre as
diferentes fontes de dados é também denominada como triangulação. Conforme representado na
Figura 9.
Para o tratamento e manipulação dos dados, foi utilizada como ferramenta de suporte o software
NVivo. Segundo Lage (2011), o NVivo é considerado um dos principais softwares mais
utilizados no ambiente acadêmico brasileiro. Alves, Filho e Silva (2015) apontam o NVivo como
um programa a ser utilizado para a análise de informações qualitativas, o qual promove a
integração entre suas principais ferramentas e o uso de documentos em forma de textos,
imagens, áudios,
78
Neste capítulo, são descritos os casos estudados e os resultados obtidos, por meio da análise de
conteúdo sobre as entrevistas realizadas, materiais obtidos e consulta a websites oficiais das
empresas, considerando as categorias de pesquisa propostas.
Para a realização das descrições das empresas e projetos, foram utilizadas as informações obtidas
por meio da categoria 1, Projetos de TD.
A matriz fica localizada no Estado de São Paulo e possui uma estrutura operacional presente em
todo o território nacional, distribuída entre unidades produtivas, terminais de distribuição,
unidades administrativas, escritórios e depósitos. Possui também escritórios em outros países.
No ranking das 1.000 maiores empresas do país, referente ao ano de 2019, publicado pela Revista
Valor Econômico (EDITORA GLOBO, 2020), figura entre as maiores empresas, com uma
receita líquida superior a R$ 100 bilhões de reais.
O projeto P1 tem como objetivo a automatização e a escrituração das notas de serviços recebidas
na empresa, oriundas de diversos prestadores de serviços.
As notas fiscais de serviços são emitidas pela prefeitura da cidade onde a empresa prestadora do
serviço está registrada e cada prefeitura tem o seu layout de nota, tem suas regras de tributação,
especificidades de acordo com o fornecedor, dentre outras particularidades. Um problema
constatado no processo de emissão de nota de serviço foi com relação ao tipo do documento, pois
tem prefeituras que emitem o documento de forma eletrônica, outras apenas por imagem e,
outras, apenas em papel. A Empresa A trabalha, aproximadamente, com 850 prefeituras que
geram, no mínimo, 800 layouts distintos.
Todo o processo de recepção e escrituração das notas de serviços é efetuado de forma manual, da
seguinte maneira: o colaborador que contratou o serviço recebe a nota fiscal de serviço e a
encaminha para uma outra área de recebimento de documentos, a qual faz uma série de
validações a respeito dessa nota e, em seguida, a encaminha para o departamento fiscal, que faz a
escrituração no sistema de gestão integrado (ERP).
Devido ao grande volume de notas recebidas e muitas pessoas envolvidas no processo de análise,
em que é efetuada uma verificação manual das informações, surgiu a ideia do desenvolvimento
de uma ferramenta que automatizasse todo esse processo, chamado de Projeto 1.
81
A ferramenta desenvolvida padroniza a entrada da nota fiscal em um único local, não sendo mais
recebida de forma pulverizada pela empresa. O recebimento das notas de serviços passa a ser de
forma centralizada. As informações são capturadas por meio de uma caixa de e-mail específica
ou pelo acesso nos sites das referidas prefeituras (para aquelas que já possuam solução sistêmica).
Em algumas situações em que não é possível capturar a nota nem por e-mail nem pelo sistema da
prefeitura, o próprio fornecedor acessa um portal e insere as informações da nota emitida. Nesse
portal, o fornecedor pode acompanhar seu processo de pagamento.
Primeiramente, foi desenvolvida uma função para resolver o problema de diferentes tipos de
layouts, uma função que transformasse todos os layouts em um único tipo de arquivo.
Para os casos de documentos não fiscais, por exemplo, o caso de recibos para reembolso que não
geram um documento fiscal, foi desenvolvido um formato no qual o usuário solicitante do serviço
digita as informações na ferramenta, que gera um arquivo.
Outra questão importante é a necessidade de ter um pedido cadastrado pelo usuário no ERP,
gerando um número. Esse mesmo número deve constar na nota fiscal. Caso essa informação não
conste na nota, o usuário receptor tem autonomia para editar esse número do pedido, a fim de
conseguir receber a nota de forma automática.
A ferramenta é integrada com o ERP da empresa, e durante todo o processo são efetuadas
aproximadamente 70 validações. Se alguma inconsistência é identificada, a área responsável é
acionada. Exemplificando: o pedido de compra não tem saldo suficiente, a área de suprimentos é
acionada, a nota está com a alíquota de imposto errada, o contratante do serviço terá que acionar
o fornecedor para a regularização. Conforme depoimento do gerente do projeto, “(...)
basicamente,
82
esse projeto transforma, de forma digital, todo o processo de recebimento e escrituração da nota
de serviços, que é um processo arcaico” (GP-A).
Para a realizar o desenvolvimento do projeto P1, foi efetuada uma exaustiva verificação no
mercado para identificar se existia alguma solução pronta, mas não foi identificada uma solução
que atendesse à Empresa 1, optando pelo desenvolvimento de uma própria, em parceria com um
fornecedor que já atuava na empresa. "[...] vamos construir em parceria, eu não tenho o produto
pronto, mas eu tenho o know-how pra poder construir o que você quer. Você me passa as ideias,
eu crio o produto, vendo o produto pra você e viro esse produto meu depois pro mercado." (FO-
A).
O Projeto P15, utiliza como principal recurso digital a computação em nuvem (cloud computing)
e os principais elementos organizacionais impactados foram: Os processos operacionais,
colaboradores, infraestrutura, cultura organizacional e relacionamento com os prestadores de
serviços. Praticamente, todas as áreas de negócios da empresa foram impactadas pelo Projeto P1.
5
O projeto teve uma duração de, aproximadamente, 2 anos, e estava previsto para entrada em produção em abril de
2021, de forma acompanhada, e, em junho de 2021, de forma definitiva.
83
Na análise dos resultados, foram consideradas as categorias que tinham sido mapeadas e
analisadas, utilizando a técnica de análise de conteúdo abordada nas cincos entrevistas que foram
realizadas no estudo do caso da Empresa A. Foram consideradas as seguintes categorias:
Foram identificados outros dois motivadores, porém com pouca relevância, sendo estes a
integração de sistemas, citada apenas uma vez por dois entrevistados, e a qualidade de dados,
citada uma vez por um entrevistado. Na Figura 10, pode-se observar a quantidade de referências
dos motivadores citados.
84
A redução de custos foi citada 24 vezes pelos 5 entrevistados, sendo considerada, principalmente,
a redução dos custos relativos à folha de pagamento e a mitigação de multas e infrações,
conforme exemplifica o fornecedor, os envolvidos das áreas de negócios e o gerente do projeto,
“[...] redução de custo, em primeiro lugar, né? Porque vai reduzir um trabalho manual muito
grande da área fiscal. Porque hoje, de toda essa questão das escriturações dessas notas de
serviços, são feitas por equipes (FO-A)." e ainda, “[...] acredito também que a parte de custos,
porque a ideia do projeto é que tudo seja automático, né? Entre de forma automática. Então,
queira ou não, isso vai dar uma enxugada na necessidade de mão de obra." (NE2-A).
Já outro entrevistado disse que, "[...] na verdade, redução de custo, realmente de esforço físico e
a mitigação na questão de multas e juros, porque hoje a gente fica às cegas, eu dependo de um
usuário da lá, dá conta me mandar a nota fiscal pra eu lançar. A gente é muito reativo". (NE1-
A), e também, "[...] o principal acaba sendo a redução de headcount, ele tem um apelo de
redução de headcount muito grande, porque imagina que nesse processo manual que a gente faz
hoje, eu tenho uma série de headcounts ali que tão atuando no dia a dia." (GP-A).
85
A eficiência operacional foi outro motivador muito referenciado, citado 12 vezes pelos 5
entrevistados, associado à automatização do processo, tarefas repetitivas, conforme demonstrado
com as seguintes citações do gerente do projeto e o envolvido da área de TI, “[...] eu vejo que ele
traz celeridade no processo, né? E a partir do momento que você tem ganhos aí, e celeridade no
processo, você acaba entregando de forma mais rápida, mais eficiente pro seu cliente.” (TI-A).
E ainda,
[...] então, esses projetos de eficiência operacional, eles tão muito aí na raiz do
CSC. Não só de transições financeiras que é onde a gente acaba atuando mais,
mas também recursos humanos, pessoal ali de serviço ao cliente, né? Tem todo
um viés aí mais pra poder reduzir custo e gerar eficiência operacional. (GP-A).
Adicionalmente, foi verificado como a pandemia causada pelo vírus COVID-19 afetou o
andamento do projeto, considerando que este teve grande parte realizado ao longo do ano de
2020.
[...] então, a gente fazia home office, sei lá, uma vez na semana e tranquilo. Mas
tinha um pouco desse receio, da produtividade cair, se todos os profissionais se
adequariam a essa realidade, e com a pandemia fomos também obrigados a nos
enquadrar, e a surpresa foi muito boa. Então, o que foi constatado é que a
produtividade de todo mundo ou aumentou ou se manteve. (FO-A).
E também, "[...] os treinamentos que a gente vai fazer agora acho que, querendo ou não, a
pandemia ensinou a gente a trabalhar de forma diferente, que antes tudo era presencial. Eu falo
isso porque nos dois últimos anos e eu tive que viajar muito pra dar treinamento." (NE1-A).
86
A inovação, como uma especificidade do Projeto P1, está relacionada com a promoção de uma
solução inédita para resolver uma dificuldade operacional antiga, conhecida e complexa,
conforme observa-se na citação da principal envolvida da área de negócios:
[...] a gente criou uma matriz de decisão, onde a gente criou vários critérios de
qualificação desses fornecedores, mas o que a gente realmente queria não tinha
nada pronto. Porque eu fiz um desenho e a gente procurava aquela solução no
mercado e realmente ainda não existia...a gente tá criando uma ferramenta que
vai ser um monstro no mercado, porque ela abrange todas as etapas do
processo. (NE1A).
O processo que a solução vai automatizar envolve e impacta diversas áreas da empresa, ou seja,
existe uma variabilidade de serviços prestados solicitados por diferentes áreas de negócios e que
impacta diretamente as principais áreas financeiras, a contabilidade, tesouraria e fiscal,
caracterizando que o projeto possui uma alta transversalidade na empresa, exemplificado pelo
fornecedor do projeto, “[...] é um projeto muito grande, bem robusto, envolve muitas áreas da
empresa, justamente porque de serviços a gente fala desde uma pessoa que fornece serviços... a
organização está muito envolvida, porque como envolve muitas áreas." (FO-A).
Como o Projeto P1 envolve 3 atores principais: (1) a empresa com suas diferentes áreas envolvidas,
(2) os fornecedores e sua aderência à solução e (3) as Secretarias Municipais, que trabalham com
independência na definição de seus procedimentos e processos, a solução possui muitas
singularidades independentes, estabelecendo como uma especificidade do projeto, as suas
inúmeras Peculiaridades, exemplificando, de acordo com a principal fornecedora envolvida no
projeto, “[...] cada prefeitura tem a suas características, o seu modelo de documento. Então,
assim, praticamente não existe um padrão pra (sic) quase nada, tudo precisa ser customizado."
(FO-A). E também, "[...] já no caso de serviço, o desafio, ele é grande porque não existia
padrão, simplesmente não existia um padrão. Então, o grande desafio que eu comparo hoje entre
os projetos que eu já passei e esse, é justamente o desafio de não ter o padrão." (NE1-A). Ou
ainda,
[...] então, serviço é algo muito, muito, muito pulverizado. Então, cada
prefeitura tem o seu layout de nota, cada prefeitura tem as suas regras de
tributação, que, às vezes, elas são até por nível de fornecedor, se o cara tem um
regime especial, se ele presta algum tipo de serviço específico, até por material,
dependendo do tipo de serviço que ele presta. (GP-A).
88
[...] Eu diria que, dos projetos que eu toquei, esse aqui, ele tem uma diferença
sim, que é a questão do novo, né? Tem a preocupação de como que a
ferramenta vai capturar as notas. A gente não sabe qual é a acuracidade disso,
se a gente vai conseguir coletar de todas as prefeituras, se todos os
fornecedores vão aderir ao processo. Então, eu acho que essa parte da dúvida...
não diria da dúvida, mas essa insegurança de que é um negócio totalmente
novo. (GP-A).
algum impacto negativo, porque é uma mudança de mindset, é uma mudança de processo muito
pesada. (GP-A).
Os processos operacionais são os elementos organizacionais mais impactados com o projeto, pois
os processos executados de forma manual serão automatizados, “[...] a [Empresa 1], ela vem
procurando, cada vez mais, a automatização de processos repetidos.” (TI-A).
Consequentemente, com a automação do processo, os demais elementos organizacionais serão
impactados, conforme apresentado na Figura 14.
90
E completa,
[...] automaticamente o sistema recusa essa nota, manda uma carta de anuência
pro fornecedor e abre novamente um novo montador falando pra ele
“Fornecedor, você tem cinco dias pra me apresentar o comprovante de
cancelamento dessa nota, se você não me apresentar o comprovante, as
próximas emissões que você fizer, suas notas vão ser bloqueadas". (NE1-A).
A questão mais sensível, com relação ao fornecedor, foi a necessidade de padronização do layout
das notas fiscais emitidas. Para parceiros de pequeno a médio porte, essa necessidade foi mais
fácil de ser negociada e obtida. Já com os fornecedores de grande porte, as negociações foram
mais difíceis, pois os fornecedores de grande porte possuem um número maior de clientes.
Alterando o formato da nota fiscal para atender a necessidade da Empresa A o fornecedor terá
que informar e negociar a mudança do layout também com os outros clientes, conforme
exemplifica o envolvido da área de negócios no projeto:
[...] um dos maiores processadores lá que é a ... né? a forma que ele coloca a
tributação na nota visualmente, tipo, pra nós hoje tá ok, tá correto, mas ele não
coloca os impostos em campo próprio na nota, ele deixa jogada lá no corpo da
nota. Então eu falei: “Como que a gente vai bater de frente com eles e pedir.”
(NE2-A).
A cultura organizacional é outro elemento que será impactado, principalmente devido à redução
das interações entre os colaboradores e a absorção de um conhecimento mais digital. Terá uma
redução dos envolvidos no processo antes manual e que passarão a não ter mais a necessidade de
conversar sobre as ações inerentes ao processo, pois ele todo será executado de forma
automatizada, conforme citado pelos envolvidos das áreas de negócios no projeto:
92
[...] eles vão ter que ter essa clareza, vai ter que ter uma comunicação maior,
sabe? Uma clareza. Por isso que eu falo que vai mudar a cultura, vai mudar o
processo, então todo mundo tem que estar falando na mesma linguagem, não
pode ser cada um aperta a sua tecla, cada um faz o seu, porque senão não vai
funcionar. (NE2-A).
E ainda,
[...] acho que foi a questão de como a [empresa 1] trata toda essa questão de
liberação de dados, integração com os sistemas de terceiro, porque nesse caso
aí, igual, a gente tinha muita coisa desenvolvida dentro da própria empresa,
né? E, aos poucos, a gente veio mudando o modelo e esse projeto é um dos que
vem tratando isso, deixando de utilizar desenvolvimentos realizados dentro da
própria empresa, pra fazer a contratação de fornecedor (TI-A).
No Quadro 19, observa-se uma síntese dos elementos organizacionais impactados e a descrição
dos respectivos impactos, bem como se o impacto é positivo ou negativo.
Elementos Orientação
Impactos principais
organizacionais do impacto
As principais ações mapeadas do gerente do projeto, no tratamento dos impactos mapeados, são:
supervisão das atividades da equipe de gestão de mudanças;
participação no mapeamento dos possíveis impactos;
intensificação na comunicação com as partes envolvidas;
envolvimento no levantamento dos requisitos.
As ações foram mapeadas em 12 referências e citadas pelos 5 entrevistados. Na Figura 15, pode-
se observar a quantidade de referências das ações do gerente de Projetos para o tratamento dos
impactos mapeados.
94
A supervisão da área de gestão da mudança foi a ação atribuída ao gerente do projeto, que tem
como principal objetivo potencializar as atividades atribuídas à essa área. As principais atividades
desenvolvidas pela área de gestão de mudança são os treinamentos, a capacitação de fornecedor,
disseminar o conhecimento para área usuária, auxiliar a gestão do projeto na comunicação efetiva
para os stakeholders, garantir o mapeamento, desenho e implantação das mudanças de processos.
As atividades da área de gestão de mudança têm como objetivo minimizar os possíveis impactos
no relacionamento com o fornecedor, com os colaboradores e na cultura organizacional,
conforme exemplifica o gerente do projeto, “[...] então, eu tenho uma frente que vai cuidar da
GMUD, eu tenho uma frente que vai cuidar da mudança de processo ali no... perdão, mudança
sistêmica, e
95
também acabo fazendo a gestão do fornecedor.” (GP-A). E ainda, “[...] quando a gente tá
falando da frente de GMUD, é treinamento, capacitação de fornecedor, comunicação, padrão
visual da ferramenta, interlocução aí com todas as partes envolvidas.” (GP-A), e pelo envolvido
da área de negócios: “[...] então, assim, eu entendo que, essa ação realmente deve ser tocada
pelo key user, que é o que a gente tá fazendo, mas tem que ser supervisionada sim, pelo gerente
de projeto.” (NE1-A).
[...] então, por exemplo, nós tivemos um mês aí do projeto, que foram somente
workshops de levantamento de requisitos. Então, assim, um mês fazendo
reuniões de três horas diárias, mostrando a ferramenta: “Ó, a ferramenta faz
isso. A gente planejou isso aqui”. E ouvindo do usuário qual é a experiência
dele, o que atende, o que não atende, o que ele precisaria que fosse diferente.
(FO-A).
E,
[...] é claro que ele não vai poder dar algum parecer na minha função, no que
eu faço, mas assim, nada impede dele entender o porquê é que ele coloca
aquela
96
informação que vai impactar no meu processo, entendeu? Vai ter que ter essa
troca. Eles vão ter que ter essa clareza, vai ter que ter uma comunicação maior,
sabe? Uma clareza. (NE1-A).
"[...] sim, com certeza. E essa parte aqui de orientação ao negócio, também,
entender, né? As dores da área de negócios, pra gente conseguir fazer com que o
projeto traga sucesso." (FO-A).
Orientação ao negócio
"[...] eu acho que com esse protagonismo que eu acho que o time de TI tem que
passar a ter, aqui na empresa, pelo menos, eu acho que a gente tem que tá mais
conectado com o negócio pra poder propor soluções pra eles." (GP-A).
vai ter interesse na parte técnica do... daquele projeto, e o negócio, ele vai ter
interesse ali no". (TI-A).
"[...] de ter que resolver todos os problemas, o pessoal tá procurando aí pessoas com
um viés um pouco mais técnico, também. Eu acho que essa é uma competência que
Conhecimento técnico acabou se tornando aí meio que mandatória pra algumas posições. Então, hoje, o
heterogêneo gerente de projeto, além de conhecer a metodologia de gestão, de ter que fazer esses
papéis, ele ainda tem que entrar um pouco no contexto técnico pra poder ajudar a
sair do outro lado." (GP-A).
"[...] é claro que ele não vai poder dar algum parecer na minha função, no que eu
faço, mas assim, nada impede dele entender o porquê é que ele coloca aquela
Gerenciamento informação que vai impactar no meu processo, entendeu? Vai ter que ter essa
multidisciplinar troca." (NE2-A).
"[...] enfim, e aí, por ele ter uma experiência, mesmo que mínima, nessas outras
áreas, a chance dele conseguir ter um jogo de cintura maior num projeto que
envolve equipes multidisciplinares, acaba sendo maior." (GP-A).
"[...] eu vejo que... que com certeza tem mais empatia hoje em dia do gerente de
projetos. Eu acredito que até pelo envolvimento dele com as partes interessadas de
Empatia um projeto, dele tá próximo de todo mundo, não só próximo do T.I. ou só próximo
do negócio. Então, por ele tá mais próximo assim, e acaba entendendo um
pouquinho do dia a dia, tem essa empatia por parte deles sim." (TI-A).
"[...] será que realmente eu preciso automatizar isso? Será que no futuro a gente não
Pensamento crítico vai evoluir pra um cenário um pouco mais simples, não precisaria de um relatório
novo, uma transação nova?" (GP-A).
"[...] porque não me considero nada além do que o padrão ali que a gente precisa,
Resiliência né? Mas, eu acho que assim, o gerente de projeto, ele precisa ser uma pessoa
resiliente, antes de qualquer coisa." (GP-A).
Fonte: Elaborado pelo autor.
"[...] eu vejo que o que foi essencial pra esse projeto aí, pra tá trazendo sucesso
Comunicação pra ele, é justamente a comunicação. Igual, comunicar a informação certa pras
pessoas certas." (TI-A).
"[...] eu acho que um pouco de maturidade pessoal, né? Porque muitas dessas coisas
é preciso que você consiga segurar suas emoções, que você consiga ter a
Experiência e maturidade
determinação pra correr atrás de determinados conhecimentos. Eu acho que isso
vem com a maturidade." (FO-A).
"[...] pra fazer gestão de projeto, eu acho que a gente tem que ter agilidade, mas não
Agilidade
naquela... no conceito do ágil." (GP-A).
Competências
Citações
simplificadas
"[...] eles criaram uma parte específica pra gestão do stakeholders, eu acho que o que
Gestão dos stakeholders eu tô aplicando de maior diferença aí nesse projeto, é a gestão do stakeholder." (GP-
A).
"[...] é porque se ele, por exemplo, porque as ações do gerente de projeto nunca vão
Gestão do cronograma mudar, na verdade, né? Esse guiar sempre vai ter que existir, né? Talvez de uma
forma mais simples." (NE2-A).
100
"[...] então, eu faço a gestão de cronograma, da equipe, das entregas da equipe, tudo
mais. Mas ele tem toda essa idealização técnica e ele é que vai dando pra gente essa
medida do que é possível, o que não é, o que dá pra fazer no projeto, o que não dá, e
como integrar isso com a realidade da empresa." (FO-A).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Na Figura 18, observa-se o relacionamento das competências requeridas do GP com suas ações
para o tratamento dos impactos e a descrição dos impactos, assim como seus respectivos
elementos organizacionais.
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP, com base nas novas
competências, e de qual área ele deve ser originado. Basicamente, foram identificados três tipos
de perfis do GP:
101
perfil de negócios, perfil híbrido e perfil de TI, mapeados em 12 referências e citados pelos 5
entrevistados. Na Figura 19, pode-se observar a quantidade de referências dos perfis citados.
O perfil do gerente de Projetos mais citado foi o “híbrido”, ou seja, um profissional que tenha
conhecimentos tecnológicos e que possua experiência na área do negócio e tenha sua origem em
umas das duas áreas, TI ou negócios. Conforme citado pelo gerente do projeto e pelo fornecedor
do projeto: "[...] mas eu entendo que sim, as competências técnicas são muito válidas. Então, eu
diria 50/50, Henrique. Eu acho que, hoje em dia, hoje em dia tem possiblidade pra outras
pessoas sim, mas ainda acho que o foco é a área de TI." (FO-A). E também,
[...] TI não era... assim, sempre foi um mundo muito evolutivo, né? Sempre teve
muito projeto rolando aí de TI. Mas eu acho que, por muito tempo, a gente tinha
gerentes de projetos aí que trabalhavam de formas híbridas, né? Eu conheço
algumas pessoas, por exemplo, que hoje atuam em projetos de TI, mas no
passado trabalharam em construção civil, e diversas outras áreas, né? (GP-A).
102
O perfil de TI, ou seja, o profissional que tenha sua origem na área da Tecnologia da Informação
e que possua conhecimentos tecnológicos, foi citado por dois entrevistados em três referências,
como, por exemplo,
O perfil de negócio teve apenas uma citação, em que o profissional de gestão de projetos é
originário da área de negócios, conforme o exemplo,
[...] então, (eu fiz o) caminho inverso, eu não era uma pessoa da TI, por
exemplo, como a maioria das vezes é, né? A pessoa é uma pessoa da TI que ela
vai pra área de gestão de projetos. Eu era uma pessoa da área de RH, que fui
pra gerenciamento de relacionamento e depois fui pra gestão de projetos, acho
que justamente por conta dessas competências, né? (FO-A).
Para a obtenção das competências requeridas ao gerente de Projetos, foram mapeados dois
requisitos principais, a maturidade e a experiência profissional, exemplificado pelo fornecedor e
pelo gerente do projeto:
[...] eu acho que um pouco de cada coisa, Henrique. Eu acho que um pouco de
maturidade pessoal, né? Porque muitas dessas coisas é preciso que você
consiga segurar suas emoções, que você consiga ter a determinação pra correr
atrás de determinados conhecimentos. Eu acho que isso vem com a maturidade.
(FO-A).
E também,
Na Figura 20, observa-se a distribuição dos perfis mapeados, conforme a intensidade das
citações, nota-se uma predominância do perfil “híbrido”.
103
A Empresa B faz parte de um grupo de empresas que atua no segmento de seguros, soluções
financeiras e serviços em geral, oferecendo mais de 50 produtos e serviços ao cliente. É
reconhecida como uma das maiores seguradoras do país, por sua atuação nos segmentos de
seguros de automóveis e residência e está entre as 5 maiores empresas de seguros no Brasil.
Seguros
Seguro de automóveis e residência.
Seguro saúde e odontológico.
105
Negócios financeiros
Consórcio.
Financiamentos e cartão de crédito.
Investimentos.
Gestão financeira.
Serviços gerais
Locadora de veículos.
Reciclagem de peças de automóveis.
Prestação de serviços médicos.
Serviços de conveniência.
Promotora de serviços.
Seguro saúde para animais de estimação.
Proteção e monitoramento patrimonial.
Possui uma carteira de, aproximadamente, 9 milhões de clientes, composta, principalmente, por
pessoas físicas e pequenas e médias empresas (PME’s), em todas suas linhas de negócios. Sua
sede está localizada na capital do estado de São Paulo e conta com mais de 36.000 corretores
independentes espalhados pelo território nacional.
O Projeto P2 foi concebido baseado no feedback do cliente. A Empresa B oferece aos seus
clientes em torno de 20 diferentes produtos, porém semelhantes nos seus atributos, seguros de
vida e patrimonial, assim como soluções financeiras. Cada produto é concebido e administrado
por uma “empresa” que, por sua vez, possui uma autonomia muito grande com relação às
estratégias de relacionamento com seu cliente, ou seja, seu negócio e seguindo com total
independência.
Dessa forma, o cliente que possuir mais de um produto da Empresa B vai se relacionar com a
empresa de uma forma diferente. Os canais de relacionamento com o cliente são os mais diversos
possíveis, 18 aplicativos, portais web, 67 números de telefone, entre outros. O cliente se
identificava pelo produto adquirido e não pela empresa.
Em uma pesquisa de satisfação realizada pela Empresa B com seus clientes, um dos resultados
obtidos foi a insatisfação do cliente no que diz respeito ao seu relacionamento com a empresa e as
diferentes formas de comunicação. Esse resultado suscitou, na Empresa B, a necessidade de
criação de um projeto em que fosse desenvolvido um aplicativo único para todos os produtos, ou
seja, um único ponto de contato com o cliente, em que ele pudesse falar com uma única empresa.
107
[...] o objetivo é criar essa visão unificada para o cliente... Ter todos os
produtos em um lugar só, onde a gente possa, não só atender o cliente no
sentido de autosserviço, mas onde a gente possa melhorar engajamento, onde a
gente possa ser preventivo, onde a gente possa dar pra ele visibilidade de quais
são os produtos que ele possui e quais são os benefícios que esses produtos
oferecem; poder explorar oportunidade e, a partir do perfil dele, identificar
melhor as ofertas. Então, nasce, principalmente, com esse objetivo da gente
construir uma visão única e totalmente integrada. (NE-B).
O projeto teve início em meados de novembro de 2019 e está na fase de UAT (User Acceptance
Test), em que são disponibilizadas versões para testes com a equipe de projeto e, após a
aprovação pelos membros do projeto, uma versão é disponibilizada para os responsáveis nas
áreas de negócios testarem. Foi adotada a metodologia “Ágil” de desenvolvimento de software e
conta com uma equipe de mais de 100 pessoas com dedicação exclusiva.
Por meio do Projeto P2, a Empresa B busca atingir uma diversificação sinérgica em seus
negócios, aprimorando a retenção dos clientes, alavancar vendas cruzadas e aumentar a
rentabilidade da empresa. O Projeto P2 utiliza como principal recurso digital as tecnologias
móveis (mobile service) e os principais elementos organizacionais impactados foram: os
processos de negócios, a cultura organizacional e o relacionamento com o cliente. Praticamente,
todas as áreas de negócios da empresa foram impactadas pelo Projeto P2.
108
A análise de dos resultados considerou as categorias que foram mapeadas e analisadas utilizando
a técnica de análise de conteúdo efetuada nas cinco entrevistas realizadas no estudo do caso da
Empresa B. Foram consideradas as seguintes categorias:
A redução do custo foi citada como um motivador para a realização do projeto, porém, com
pouca relevância, citado apenas uma vez por um entrevistado. Na Figura 22, pode-se observar a
quantidade de referências dos motivadores citados.
109
O relacionamento com o cliente foi um dos principais motivadores para a realização do projeto,
citado 10 vezes pelos 5 entrevistados, considerando, principalmente, a necessidade de o cliente
em ter uma visão única da Empresa 2, independentemente do produto, melhorando a experiência
do cliente ao adquirir os produtos ofertados, exemplificando com as seguintes citações:
[...] ele surgiu a partir das dores do cliente, né? Então, meados de (2019), a
gente, através de uma pesquisa para entender as principais dores dos clientes, e
são dores do tipo, putz, o cliente, ele acha que a Empresa B não reconhece ele
da melhor forma. Ou seja, putz, a gente deveria, né? Ter um programa de
relacionamento unificado, por exemplo. (NE2-B).
E também,
[...] que a gente precisava construir uma visão Empresa B, e começar a levar a
Empresa B pra fora de uma maneira mais transversal. Então, como é que a
gente cria um conceito de unicidade, né? Pro cliente parar de enxergar o
automóvel, ou o cartão de crédito, ou seguro de vida e começar a enxergar a
Empresa B, como um ecossistema. (NE1-B).
110
A maximização da oferta de produtos foi outro motivador muito referenciado, citado 8 vezes por
4 entrevistados, relacionado, principalmente, em oferecer uma visão de integração dos produtos
para o cliente, conforme demonstrado com as seguintes citações:
[...] então, a ideia inicial para o cliente é o app, o que vai expor na ponta pro
cliente é um app, mas este centralizador, ele tem que ter uma visão 360 do
cliente, né? Então como nós possuímos... cada produto eu tenho as suas bases,
cada produto seu têm os seus benefícios, então como que a gente canaliza isso e
normaliza pra trazer uma visão única pro cliente? (TI-B).
E ainda,
[...] ter todos os produtos em um lugar só, onde a gente possa, não só atender o
cliente no sentido de autosserviço, mas onde a gente possa melhorar o
engajamento, onde a gente possa ser preventivo, onde a gente possa dar pra ele
visibilidade de quais são os produtos que ele possui e quais são os benefícios
que esses produtos oferecem; poder explorar oportunidade de vendas e, a partir
do perfil dele, identificar melhor as ofertas. (NE1-B)
Considerando que o projeto teve grande parte de sua realização no ano de 2020, foi analisado se a
pandemia causada pelo vírus da COVID-19, afetou o projeto.
Foi verificado que não houve nenhuma interferência significativa no projeto, pois todo o
planejamento do projeto foi elaborado antes da pandemia, em meados de 2019, e executado de
acordo com esse planejamento, conforme observado nas seguintes citações:
[...] não teve, porque todo o plano foi montado antes da pandemia, né? Então,
todo esse processo, esse projeto, saiu antes da pandemia, né? Então, a
pandemia acabou não interferindo, especificamente, nada, nesse projeto.
Acabou interferindo em outras ações da [empresa], mas no projeto em si, não.
(GP-B).
O dinamismo é uma característica forte do projeto, que pode ser adotado por meio da estratégia
de entregas parciais, tornando o projeto mais ágil e podendo mudar de direção por diferentes
motivos, por exemplo, questões financeiras ou estratégicas, de forma que não haja consequências
no que já foi desenvolvido, ou seja, o impacto da mudança é bem menor e facilita na
identificação e correção de erros, conforme exemplificado:
[...] parece que a direção tá certa." "Não, o ponteiro não tá mexendo. Opa,
então vamos ter que mudar a nossa direção. Tem que fazer, talvez, outras
coisas". Chega num determinado momento, a gente faz a prestação de contas,
né? "Eu tinha esse dinheiro pra gastar, esse resultado pra atingir. Atingiu ou
não atingiu? Quero continuar ou quero parar?". É um mindset muito diferente
do que nós tínhamos, né? (LI-B).
112
Ou,
O planejamento do projeto permite agregar novos produtos e serviços durante e depois do seu
lançamento, resultando em evoluções constantes do produto. Essa característica é determinante
para o sucesso do projeto, já que a solução se propõe a integrar todos os produtos da empresa em
um único aplicativo.
[...] então assim, a gente ainda não chegou nesse nível de discussão, mas o que
eu imagino é que a [empresa], à medida que esse app for evoluindo, na linha de
atender vários produtos, ele pode evoluir na medida de não atender só clientes
da [empresa], né? (GP-B).
E ainda,
[...] as pessoas que se interessarem e quiserem, ela tem uma opção de solicitar
pra ser convidada pra participar. Então, a gente tá muito na linha de definir
perfis, então, quais perfis a gente vai abordar. Então, tem todo um plano de
hidratação, pra esse app, sendo construído, com o intuito de, em algum
momento, de fato, liberar pra todos esses usuários. (GP-A).
[...] quando a gente iniciou com ágil teve uma resistência, muitos clientes
vinham: “Ah, mas qual que é o cronograma? Qual que é o orçamento?” e isso
foi quebrando esse gelo. Então quando nós começamos o Super App já tinha
uma mudança já dentro da [empresa] pra metodologia ágil. (TI-B).
113
[...] você tem que criar relevância pra ele, né? Então, você tem que, de alguma
forma, tornar seu app relevante. Aquela coisa, assim, você não vai desinstalar o
seu app de mapas, que você usa. Por quê? Porque se você anda de carro, cara,
por que que você vai desinstalar, sabe? Você até pode usar o A ou o B, mas
você não vai desinstalar, porque você usa, entendeu? (GP-B).
(4) Impactos na
organização
Cultura organizacional.
Colaboradores.
114
Infraestrutura de TI.
Processos operacionais.
Processos de negócios.
Relacionamento com o cliente.
[...] Tem uma dificuldade também que é a dificuldade dessa mudança de mindset
que a gente tá falando aqui, de você fazer parte de um grupo onde a
responsabilidade é do grupo, não é mais de um ou de outro; o dono do produto,
ele é responsável tanto por definições de regra de negócio, mas também pela
tecnologia que vai implementar, pela solução que vai entregar aquilo que ele
espera, e eu acho que isso também é uma dificuldade, e a dificuldade eu acho
que maior de tudo isso é a questão cultural, né? (LI-B).
O principal impacto nos colaboradores é a resistência à mudança de cultura pela digitalização que
o produto vai proporcionar. Algumas áreas de produtos alegam não ter tempo para participar do
projeto, e outras não demonstram interesse em substituir os sistemas atuais. Exemplificando pelo
envolvido da área de negócios no projeto:
Outro ponto importante é a questão da arquitetura de TI que será impactada com a substituições
dos sistemas legados pelo novo aplicativo, conforme exemplifica o líder do projeto, “[...] nós
temos muito legado. A maior parte do que a gente construiu no passado não se encaixa nesse
novo modelo. Então uma das dificuldades que eu vejo é a questão do legado tecnológico.” (LI-
B).
Ao longo do mapeamento dos processos operacionais relacionados com o Projeto P2, foram
identificados processos inadequados que tiveram que ser redesenhados, resultando em um
acúmulo de atividades nas equipes de desenvolvimento ao longo do projeto, exemplificado pela
key user de negócios:
[...] tem alguns impactos, que a gente olha, a gente fala: “Putz, esse processo
não tá bacana”. Aí tem um impacto alto e a gente tem que se movimentar pra
fazer acontecer. Então, por exemplo, já com as entregas porque a gente não
tava fazendo o planejamento da forma correta ali com um time de
desenvolvedores, por exemplo. O impacto foi extremamente negativo. (NE2-B).
[...] os canais digitais e tal, confere fatura, mas o produto cartão, ele acaba... a
gente até brinca, ele acaba sendo um produto de gaveta, porque tipo, usa
porque ele (compra) aqui dentro com um cartão, ou utilizam o cartão
entretelado: “Putz, deixa eu consertar alguma coisa do meu carro, e no cartão
da Empresa B tem um desconto”. Então, ele acaba sendo um produto muito
nessa linha. E a gente quer sair dessa linha, sabe? A gente quer que o cliente
use o cartão recorrentemente. (NE2-B).
117
[...] eu acho que é uma mudança mais cultural. Por exemplo, como pensar de
forma digital, como criar produtos que são digitais, como criar atendimentos
que são digitais, como colocar essa essência da Empresa B, que é o
atendimento humano, que é aquela coisa de tá próximo do cliente, de atender
bem o cliente, no canal digital. (GP-B).
E também,
[...] como é que eu consigo trazer isso pro digital, sabe? Eu acho que é essa
mudança cultural que a gente precisa fazer lá, né? Como é que eu começo a
pensar disso sem perder a minha essência, mas pensando que: "Cara, eu
preciso investir no digital. Eu preciso investir na capilaridade, na
potencialidade que o digital me traz de abranger não uma pessoa, mas milhões
de pessoas." (GP-B).
No Quadro 27, observa-se uma síntese dos elementos organizacionais impactados e a descrição dos
respectivos impactos, bem como se o impacto é positivo ou negativo.
As principais ações mapeadas do gerente do projeto no tratamento dos impactos identificados, são:
As ações foram mapeadas em 31 referências e citadas pelos 5 entrevistados. Na Figura 28, pode-
se observar a quantidade de referências das ações do gerente do projeto para o tratamento dos
impactos mapeados.
[...] o que eu sinto é um pouco isso assim, ela é mais uma coisa consciente e
natural do que impositiva, né? Então, você não impõe a mudança, você tenta
convencer a trazer... É isso que a gente tem adotado, né? A gente tem tentado
convencer as pessoas a embarcar com a gente. Então, a gente tá indo muito no
diálogo. (GP-B)
[...] quando a gente vai pra outras áreas, aí você ainda tem algumas questões
culturais pra quebrar ali, sabe? Não tá sendo tão complicado, porque é aquilo,
a gente tem o apoio do alto escalão da empresa. Então, os diretores dessas
áreas têm acompanhado o projeto, seja alguns até muito próximos, outros um
pouco mais distantes, lá no conselho etc. Então, a gente não tem tido tanta
dificuldade. (GP-B).
Manter os colaboradores sempre informados com antecedência das atividades que serão
realizadas no projeto, ou seja, dar previsibilidade dos acontecimentos relacionados ao projeto,
principalmente na participação dos envolvidos em atividades planejadas, mostrou-se uma forma
muito eficaz de mitigar os possíveis impactos, conforme exemplifica o gerente do projeto:
120
[...] Porque como a gente é dedicado, é muito mais flexível pra gente mudar a
nossa agenda. Então, a gente tem feito isso, tem tentado dar previsibilidade pra
eles, né? Até porque ela tem outras coisas pra fazer. Só que a gente tem
conseguido fazer isso sem muito esforço. Então, a gente consegue, dado que ela
sabe que ela tem que se dedicar um pouco pra gente, ela não reserva a agenda
toda dela, ela não pega atividades que acabem com a semana toda. (GP-B).
Criar e manter um ambiente colaborativo é uma atividade fundamental para o bom andamento do
projeto, facilita a interação entre os recursos envolvidos, promovendo uma coesão da equipe,
como também conquista a admiração e a confiança dos clientes internos da empresa, conforme
exemplifica o envolvido da área de TI no projeto, “[...] então, se você tem esse entrosamento e
gera essa empatia do time é muito bom...Então você ter um time muito mais entrosado, com essa
sinergia boa, você acaba tendo mais produtividade, você tem um melhor resultado.” (TI-B), e
pelo gerente do projeto, “[...] e aí, a gente conseguiu convencer ele, o cara deu várias ideias,
que, no final, ele achou as ideias deles fantásticas e resolveu fazer. Então, tipo, a gente ganhou
várias pessoas dando ideia pra gente. Olha que sensacional.” (GP-B).
121
"[...] Assim, olha, eu acho que, hoje, ele tem muito uma necessidade de um
conhecimento tecnológico, que não era necessário nos gerentes de projetos de
antigamente, né?" (GP-B).
Conhecimento técnico
heterogêneo "[...] Tem que ter um certo conhecimento tecnológico, pra fazer uma extração
analítica, pra ele conseguir fazer um cruzamento de dados e ele ter mais autonomia,
né?" (TI-B)
"[...], mas eu acho que a gestão, ela tem que ser muito inovadora. Por quê? Porque
não só a tecnologia, o mundo tá mudando muito rápido, então, a gestão tem que
mudar muito rápido também. A forma como você faz tem que mudar muito rápido
Execução inovadora
também." (GP-B).
"[...] tem que ter paixão e poder transformar e mudar cultura, tem que ter visão e
conhecimento de visão de jornada, tem que ter um viés de inovação." (NE1-B).
"[...] você tem que adaptar ele ao seu ecossistema e ao seu time, ao seu projeto, e ao
seu cliente, né? Então, acaba você tendo que, de alguma forma, mudar isso, né?
Então, eu acho isso importante. Tem que ter um pensamento crítico, na minha
opinião." (GP-B).
Pensamento crítico "[...] eu não tô aqui pra lhe atender, eu tô aqui pra atender o nosso cliente, que nosso
cliente não é você. Nosso cliente é o cara que tá lá fora. Então, não é porque você
quer isso, que eu vou fazer’. Porque, eventualmente, não faz sentido, sabe? Então,
tem que ter essa coisa muito crítica, essa participação na estratégia, no método, nas
entregas, né?" (GP-B).
"[...] então ele vai ter esse papel de ajudar, de colaborar, independente do que for.
Se o cara está com algum problema ou até um problema pessoal ou até um
Habilidades para criar coesão
problema tecnológico ou um problema... então ele vai ser essa pessoa que vai trazer
essa harmonia pro time e também ali puxar, provocar." (TI-B).
"[...] o que tem é sempre o uso racional da tecnologia. Então, cara, não vamos subir
um ambiente gigantesco, porque não faz sentido. A gente tá indo na linha de
Direcionamento sustentável
trabalhar dentro da escala, então escalar a medida do necessário, e tirar a medida do
possível. Então, muito na linha do uso racional de toda a cadeia tecnológica, né?"
(GP-B).
"[...] você tem uma pessoa que hoje ela tá liderando um time aqui num projeto, acabou
esse projeto, ela vai pra um outro time, ser liderada por alguém que ela liderava no
projeto anterior. Por quê? Porque, aqui, outra habilidade dela é necessária, e não a
Adaptabilidade
gestão, e aí, ela pode contribuir de outra forma, porque uma habilidade técnica
específica dela é muito mais requerida, então, ele passa a ser um liderado, não um
líder." (GP-B).
"[...] exato, exato. Então se você tem esse entrosamento e gera essa empatia do time
Empatia
é muito bom." (TI-B).
Fonte: Elaborado pelo autor.
124
"[...] então, você não tem aquela: "Ah, este cara faz isso, esse cara faz aquilo".
Então, você tem um time que, às vezes, tem um multiconhecimento, sabe? Pessoas
Liderança
que podem fazer mais de uma função. Então, saber como usar isso e saber como
adaptar aquela sua rotina ou aquele seu projeto à essa multidisciplinaridade." (GP-
B).
"[...] de fato, resistência mesmo, a gente não tá sentindo. É mais ajustar algumas
Comunicação
coisinhas ali, de processo mesmo, de entendimento e de responsabilidade." (GP-B).
"[...] nesse modelo não. Os reports, eles são muito mais rápidos, as decisões, elas
Agilidade são muito mais rápidas, né? Então é uma gestão, é uma gestão de tempo, de prazo.
Acho que as disciplinas são as mesmas." (LI-B).
Fonte: Elaborado pelo autor.
A gestão do custo, tempo e pessoas foram competências citadas como necessárias ao gerente do
Projeto, porém, de forma mais simplificadas, do que descritas nas principais metodologias
conhecidas de gestão de projetos. No Quadro 25, observam-se as referências citadas.
125
Competências
Citações
simplificadas
"[...] a gente precisa fazer um trabalho pra melhorar isso aqui" "Olha, pô, colocamos
o cara errado pra fazer isso. A gente não tinha esse conhecimento". Então, o time faz
Gestão de pessoas
isso automaticamente, não precisa ter alguém. Então, é como se você fizesse tudo
aquilo, mas de uma forma muito mais leve, muito mais simples, sabe?" (GP-B).
"[...] eu acho que algumas coisas são necessárias, mas num nível muito mais simples
do que o PMI prega. Então assim, a gestão financeira, ela é importante? Ela é, mas
Gestão do custo
ela deixou de ser tão importante, porque você já tem time fixo, né? Então assim, o seu
custo já é meio que fixo, sabe?" (GP-B).
"Hoje não funciona mais assim...eu não sei o que eu vou fazer" "Ah, em qual prazo?"
Gestão do tempo 'Ó, o prazo eu até tenho, mas não é o cronograma que eu fazia antigamente de
atividade por atividade.'" (LI-B).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Na Figura 31, observa-se o relacionamento das competências requeridas do GP com suas ações
para o tratamento dos impactos e a descrição dos impactos, assim como seus respectivos
elementos organizacionais.
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP com base nas novas competências,
e de qual área ele deve ser originado. Basicamente, foram identificados apenas dois tipos de
perfis do GP: perfil de negócios e perfil híbrido, mapeados em 8 referências e citados pelos 5
entrevistados. Interessante observar que não foi citado nenhum perfil da área de TI. Na Figura 32,
pode-se observar a quantidade de referências dos perfis citados.
O perfil de TI, ou seja, o profissional que tenha sua origem na área da Tecnologia da Informação,
e que possua conhecimentos tecnológicos, não foi citado em nenhuma entrevista. Na Figura 33,
observa-se a distribuição dos perfis mapeados, conforme a intensidade das citações. Nota-se uma
distribuição apenas entre o perfil “híbrido” e o perfil de negócios.
Na opinião do líder do projeto, essa visão de origem do gerente de Projetos ser da área de
negócios ou da área de TI não é mais usual e a nomenclatura de "gerente de Projetos" não é mais
adequada.
128
De acordo com o entrevistado, "[...] você percebe que o time é time mesmo quando as pessoas
não têm mais essa distinção entre elas do que é negócio e o que é tecnologia. E isso não é só pro
gerente de projeto, que hoje nem a gente usa esse termo mais, né?" (LI-B).
Sua operação contempla todo o território nacional, por meio de 100 filiais de vendas e centros de
distribuição, oferecendo mais de 22 marcas no varejo. Sua operação no Brasil está entre as 10
maiores do mundo.
O Projeto P3 tem como principal objetivo a implementação de uma Torre de Controle Logístico,
a fim de aumentar a eficiência na cadeia de serviços de movimentação e distribuição de seus
produtos por meio da digitalização dos principais processos de controle.
Macroprocesso Processos
Captura de pedido
Planejamento de remessa
Planejamento Programação
Processos licitatórios
Monitoramento
Despacho
Execução Rastreamento
Gerenciamento da entrega
Auditoria do pagamento dos fretes
Análise de gastos
Controle e performance Análise de dados
Visualização e relatórios
Gerenciamento da frota
Serviços e produtividade
Gerenciamento de operadoras
131
Rastreamento de benefícios
Integração de atendimento ao cliente
Fonte: Elaborado pelo autor.
3. Melhorias tecnológicas:
Nesta fase, foi efetuada toda a implementação das novas plataformas e ferramentas
necessárias para suportar o todo o processo. As principais ferramentas adquiridas e
implementadas foram:
[...] principalmente pelo impacto que ele vai dar na companhia, pela própria
produtividade que ele vai trazer no futuro, e assim, e a transformação do que a
empresa tá passando. Esse projeto vai ser transformador pra que a [empresa]
consiga operar de uma forma melhor, rápida, e atende o cliente da maneira
mais eficaz possível. (NE1-C).
O projeto teve seu início em fevereiro de 2018 e sua implementação em produção no final de
2020. Para o ano de 2021, estão previstas a consolidação do projeto e sua expansão. O Projeto
P3, utiliza como principais recursos digitais as tecnologias móveis (mobile services) e a
computação em nuvem (cloud computing), e os principais elementos organizacionais impactados
foram: os processos de negócios e operacionais, a cultura organizacional, a infraestrutura e o
relacionamento com o cliente.
A análise de dos resultados considerou as categorias que foram mapeadas e analisadas utilizando
a técnica de análise de conteúdo efetuada nas cincos entrevistas realizadas no estudo do caso da
Empresa C. Considerando as seguintes categorias:
O relacionamento com o cliente foi outro motivador importante para a realização do projeto,
citado 4 vezes por 3 entrevistados, considerando, principalmente, dar uma maior visibilidade ao
cliente em todo o processo do serviço prestado pela Empresa C, conforme exemplifica o líder de
TI e o envolvido da área de negócios no projeto, “[...] é principalmente pelo impacto que ele vai
dar na companhia, esse projeto vai ser transformador pra que a [empresa] consiga operar de
uma forma melhor, rápida, e atende o cliente da maneira mais eficaz possível.” (NE1-C).
A redução do custo foi citada como um motivador para a realização do projeto, porém, com
pouca relevância, citada apenas uma vez por um entrevistado. Na Figura 35, pode-se observar a
quantidade de referências dos motivadores citados.
134
Considerando que o projeto tem grande parte de sua realização nos anos de 2019, foi analisado se
a pandemia causada pelo vírus da COVID-19, afetou o projeto.
Foi verificado que houve uma interferência significativa no projeto, pois toda sua realização, até
sua entrada em produção, foi executada durante a pandemia, no final do ano de 2019. O impacto
foi notado, principalmente, nas ações que tiveram que ser executadas de forma remota,
dificultando a comunicação na equipe, conforme observado pelo envolvido da área de negócios
no projeto:
[...] ela interferiu bastante, na minha visão. Por conta de quê? Porque você teve
que se desafiar muito mais, porque a questão de você não tá fisicamente, e tem
um plano de teste pra ser executado remotamente, é muito mais complicado.
Então, são várias sessões de reuniões via Zoom, que você teve que fazer pra
chegar numa definição, algo que [se] você pudesse tá indo tomar um café lá no
escritório, você já tinha resolvido isso. (NE1-C).
135
O dinamismo é uma característica forte do projeto, que pode ser adotada por meio da estratégia
de entregas parciais e ciclos menores das etapas, possibilitando a identificação e a correção de
erros mais rápido, reduzindo as possibilidades da incidência de erros mais complexos ao final do
projeto, conforme exemplificado nos depoimentos "[...] eu concordo que os ciclos, eles estão cada
vez menores, o tempo de ciclo, de cada etapa, mas ao mesmo tempo eu acho que hoje, a gente tá
muito mais passível, vai, aberto ao erro ou não, isso é bom." (LI2-C).
E também em,
Inovação, como uma especificidade do Projeto P3, está relacionada com o desafio da
implementação de uma solução inédita na empresa, principalmente na área de transportes, com a
substituição de tecnologias vistas como obsoletas, utilizando tecnologias modernas dentro da
empresa, conforme observa-se na citação do envolvido da área de negócios e do gerente do
projeto: [...] tem, porque é como eu comentei anteriormente pra você, por ser um projeto
transformador na área de transporte, algo que não tinha nada acontecido até o momento na
empresa, ou seja, você tava sempre vivendo aquele seu mundo de fazer sempre um processo
igual. (NE1-C).
E em,
[...] a gente tá usando agora aplicações que estão fora, né, (então não funciona
mais) conosco, a gente tá usando solução mobile, aplicativos, a gente tá usando
rastreadores. Cara, é uma coisa que não é muito nova, se você parar pra
pensar, mas se você olhar como tão rápido a gente tá se transformando, puxa
vida, é fundamental. (GP-C).
O projeto P3 tem como objetivo a modernização da área de logística da empresa que, por sua vez,
envolve e impacta diferentes áreas da empresa, clientes e fornecedores, caracterizando que o
137
projeto possuí uma alta transversalidade na empresa, exemplificado pelo envolvido da área de
negócios:
[...] ele permeia a cadeia como um todo. Então, ele tem sim, a parte do
transporte, mas ele influencia o fiscal, ele influencia toda a parte contábil da
companhia, influencia transportadoras, influencia os clientes internos como
customer service. Então, ele é um projeto horizontal na cadeia, e essa é a
diferença dele. Então, todo mundo é envolvido nessa transformação. (NE2-C).
A participação ativa e dedicada da área de negócios no projeto foi intensa, uma característica
importante na realização do projeto. O envolvimento dos colaboradores, das áreas de negócios
impactadas direta ou indiretamente, foi uma especificidade fundamental para sua concretização,
conforme exemplifica o gerente do projeto, "[...] que a gente começou esse projeto ainda no
modelo um pouco antigo e, no decorrer dele, a gente foi pegando esse entendimento do que era a
velocidade que o projeto precisava ter e qual que é o nível do envolvimento do negócio dentro do
projeto." (GP-C).
A inovação proposta pelo projeto trouxe a utilização de tecnologias modernas na solução, o que
proporcionou a acessibilidade e um melhor conhecimento das novas tecnologias, resultando em
uma importante característica do projeto, conforme exemplifica o líder do projeto, “[...] eu acho
que a gente tá vendo, vivendo um momento de comoditização de tecnologia, a tecnologia, ela
tá
138
cada vez mais acessível, ela tá cada vez mais compreensível, né, ou seja, as pessoas entendem
mais.” (LI2-C).
Colaboradores.
Relacionamento com o cliente.
Cultura organizacional.
Processos de negócios.
Processos operacionais.
139
[...] imagina você um motorista, que tá acostumado a usar o celular pra falar
com a família no Whatsapp, passar a usar aplicativo pra comunicar com a
companhia. Então acho que uma mudança aí de mindset muito grande, e
internamente, até pessoas que mais estão acostumadas a trabalhar em
backoffice também mudando aí a mentalidade pra uma velocidade diferente de
como as coisas acontecem. (GP- C).
O relacionamento com o cliente é diretamente muito impactado com o projeto, de forma positiva,
pois o cliente passa a ter uma visão de todo o seu processo de compra e entrega. Outro fator
importante é a questão do compromisso de entrega dos produtos aos clientes. Dessa forma, o
cliente consegue fazer um planejamento mais eficaz de suas atividades, conforme exemplificam
os envolvidos das áreas de negócios: “[...] então, a tecnologia, ela vai integrar todas essas fases
da cadeia. Então, o projeto, ele tá integrando o meu schedule com a minha execution, ele entra
na execução tendo monitoramento em tempo real para o meu cliente.” (NE1-C). E também,
141
[...] é principalmente pelo impacto que ele vai dar na companhia, pela própria
produtividade que ele vai trazer no futuro, e assim, e a transformação do que a
empresa tá passando. Esse projeto vai ser transformador pra que a [empresa]
consiga operar de uma forma melhor, rápida, e atende o cliente da maneira
mais eficaz possível. (NE2-C).
[...] robustez na nossa gestão de supply chain tem sido destacado aqui na
empresa que a gente tá criando um modelo global, um benchmarking interno de
como gerir transportes na empresa, até mais que a matriz dos Estados Unidos,
pelo nível de informação que a gente tem, e muito mais que outros mercados da
América Latina, como, por exemplo, o México, que é muito forte aqui na
empresa. (LI1- C).
142
No Quadro 27, observa-se uma síntese dos elementos organizacionais impactados e a descrição
dos respectivos impactos, bem como se o impacto é positivo ou negativo.
Processos de negócios Referência das melhores práticas para desempenho da área. Positivo
Melhor compreensão e análise do modelo de negócios. Positivo
As principais ações mapeadas do gerente do projeto, no tratamento dos impactos identificados, são:
As ações foram mapeadas em 27 referências e citadas pelos 5 entrevistados. Na Figura 40, pode-
se observar a quantidade de referências das ações do gerente do projeto para o tratamento dos
impactos mapeados.
tentar cuidar das pessoas e tratá-las tipo: 'Não, é um impacto positivo pra companhia e,
consequentemente, vai ter impacto positivo para as pessoas.' É só você absorver isso de uma
forma positiva." (NE1-C). E ainda,
[...], mas hoje, um gerente de projeto, no meu ponto de vista, o mais importante,
que eu vejo desse projeto, é a influência... o poder de influenciar as pessoas, de
mobilizar a organização pra mudança em grande escala, de mobilizar várias
áreas da organização pra essa mudança, de incentivar as pessoas e tá toda
hora falando que vai dar certo, incentivar as pessoas e ser um líder com essa
parte de positividade, né? Você tá sempre positivo. (NE2-C).
A obtenção e a manutenção do apoio dos executivos da empresa ao projeto foi uma ação
importante para o tratamento dos possíveis impactos. O suporte dos executivos no dia a dia faz
com que os benefícios sejam mais destacados, melhorando o engajamento dos colaboradores.
Conforme exemplifica o líder do projeto: "[...] e teve um apoio muito forte também da liderança,
tanto o diretor sênior de supply chain, como o gerente sênior de transportes, e o gerente da torre
de controle de transportes, todos os três muito suportivos durante toda a transformação. (LI1-C).
A liderança na área de gestão da mudança foi uma ação atribuída ao gerente do projeto, que tem
como principal objetivo integrar as equipes envolvidas, conforme cita o gerente do projeto: "[...]
a gente tinha bem segregado. Na verdade, sim, né, porque você acaba tendo que fazer a gestão
do líder de management também, que é a pessoa responsável. Mas essa integração eu acho que
foi muito maior do que a gente costumava ter anteriormente." (GP-C).
Outro ponto importante nas ações da área de gestão de mudança foi a atribuição de uma liderança
da área de negócios, o que contribui com ações mais assertivas devido ao conhecimento da
realidade da própria área, conforme exemplifica o envolvido da área de negócios e o gerente do
projeto em "[...], mas isso requer muita gestão do líder pra poder tá trabalhando junto com eles
e acompanhando como que tá sendo a evolução de cada um. Porque, se você tiver predisposto, e
ter alguém que te auxilie, e você entrar de cabeça junto com a mudança, você consegue
progredir bem." (NE1-C), e "[...] nós trouxemos pessoas do negócio pra fazer change. Então, as
próprias pessoas que estavam focadas no projeto, as pessoas que fizeram change. Então, foram
as pessoas
145
que treinaram, as pessoas que buscaram o conhecimento, que preparam a nossa equipe,
montaram o plano de comunicação." (GP-C).
[...] pra mim, é muito importante cara, é todo o tempo: “Onde a gente tá
sustentando o sistema? Onde a gente tá rodando o projeto?”. E sempre garantir
que essas agendas estejam conectadas com agendas do negócio, porque isso é
chave pra gente entregar valor. (LI1-C).
O compartilhamento das decisões da equipe do projeto com as áreas de negócios foi uma atitude
adotada pelo gerente do projeto, com o objetivo de garantir as expectativas do cliente do projeto,
evitando possíveis impactos gerados por decisões inconsistentes ao longo do projeto, conforme
exemplifica o envolvido da área de negócios no projeto, “[...] Mas se você tem esse diálogo bom
com o negócio, e é uma via de duas mãos, vamos usar isso aí pra gente potencializar os dois
lados e ambos saírem satisfeitos.” (NE1-C).
O treinamento dos colaboradores impactados pelo projeto foi considerado um fator de extrema
importância, e o gerente do projeto teve uma participação ativa na motivação para a realização
dos treinamentos, com o objetivo de minimizar os impactos causados pela digitalização das
operações nas áreas, conforme depoimento do envolvido da área de negócios no projeto:
[...] você sempre vai achar que o novo não tá te acrescentando nada. Então
assim, essa mudança com pessoas, então, através de treinamentos, a parte de
change junto com o time de change, pra gente poder mostrar e começar a
treinar essas pessoas a ter esse tipo de mudança cultural dentro da área. (NE1-
C).
"[...} então você acaba ainda tendo coisa muito pesada na cabeça, que te leva pra
aquele caminho de tentar arrumar soluções técnicas, quando, na verdade, se você
parar pra pensar, você tem que trazer a solução de negócio." (GP-C).
"[...] tem uma competência que eu não conseguir ter uma tradução para o português
Orientação ao negócio muito boa ainda. A gente traduz para o português como perspicácia de negócio, né?
já vi também como coeficiente de inteligência do negócio. É um pouco disso: como
você começa a assimilar o negócio que você tá servindo, o negócio que você tá se
propondo a entregar valor, pra que você possa fazer com a T.I., a transformação
digital, por exemplo, como uma das formas de gerar valor para o negócio, ela
entrega o máximo de valor possível, não seja só a tecnologia pela tecnologia." (LI1-
C)
"[...] então essa experiência que a gente teve, não só com o nosso cliente, mas com
os nossos fornecedores, foi fundamental. Então você vê o impacto que o seu projeto
tá causando nas pessoas, e é aquele temos que você falou, preciso ter empatia, né?"
Empatia
(GP-C).
"[...] com certeza. Porque senão o negócio só fica em ambiente de projeto. Não vira
real. É o App que é grande, é o App... cara, infelizmente se você não fizer esse
148
processo de empatia, esse processo de vestir o (sapato) e que seja simples, né?"
(LI2- C).
"[...] e aí você ocupa esse espaço pra falar: "Então, vou discutir isso com o gerente
do produto tal, com a contabilidade, com o financeiro, qualquer pessoa do negócio,
pra ver o reflexo que eu posso trazer de imediato pra dentro do projeto." (NE1-C).
Gestão integrada e
multidisciplinar "[...] ele tem que ter um pouco de TI, tem que ter um pouco do negócio, e, ao
mesmo tempo, ele tem que ter essa maturidade, porque o projeto, ele exige também,
pelo que eu percebo, um conhecimento meio multidisciplinar. Você tem que
conhecer um pouco de contabilidade, um pouco de jurídico, essas coisas." (NE2-C).
"[...] esse foi um projeto, que testou e amadureceu muito aquela questão da visão
holística. Aqui, a gente tá falando das entregas de projeto e das entregas do
produto/serviço que o projeto tá elaborando. Mas e a conexão desses serviços e
Visão holística
também das entregas de projeto que vão ajudar a monitorar tempo e orçamento,
entre outros fatores, com habilitadores de metas estratégicas, que vão, por
consequência, gerar o valor para a organização que tá patrocinando aquele projeto."
(LI1-C).
"[...] e se você não se adapta, e você vai ver o que o mercado está te oferecendo,
você vai ficando obsoleto e vai ficando pra trás, né?" (NE1-C).
Adaptabilidade
"[...] adaptação ao estilo e abordagem de um ambiente de negócio, em constante
mudança, gerenciando a pressão, adotando e defendendo mudanças para
impulsionar a transformação." (NE2-C).
"[...] eu falei: "Não, hoje, com toda a tecnologia que a gente tem, vamos botar isso
no Sharepoint, vamos deixar assinar eletronicamente, a gente assina, pra questão de
Direcionamento sustentável auditoria, tá todo o documento lá, ele baixa, ele analisa ali onde ele tiver esse
documento". Não precisa pedir pra uma empresa ir lá buscar a caixa pra poder ver
se realmente o documento tá ali guardado na caixa certa e tudo mais." (NE1-C).
"[...] e, por fim, o pensamento, alguém que traz e utiliza ideias externas, pensa
Pensamento crítico criativamente e adota uma perspectiva holística e de longo prazo para tomar
decisões embasadas." (NE2-C).
Fonte: Elaborado pelo autor.
"[...] mas hoje, um gerente de projeto, no meu ponto de vista, o mais importante,
que eu vejo desse projeto, é a influência... o poder de influenciar os outros. Eu acho
que essa é uma das principais... comportamentos hoje do gerente do projeto: poder
Influenciador de influenciar as pessoas, de mobilizar a organização pra mudança em grande
escala, de mobilizar várias áreas da organização pra essa mudança, de incentivar as
pessoas e tá toda hora falando que vai dar certo, incentivar as pessoas e ser um líder
com essa parte de positividade, né?" (NE2-C).
"[...] além dos meus resultados quantitativos, que é o resultado de negócio, eu também
Liderança
tenho uma avaliação, por as minhas competências de liderança." (NE2-C).
"[...] então, muitas vezes, você acaba sendo um negociador, né? Você tem que
negociar com os seus pares ou com outros mercados, ou com outras áreas, pras
Negociação
pessoas verem valor no projeto. Então, muitas vezes, você vira um negociador e um
vendedor, porque você tem que vender o projeto e pra que as pessoas veem valor no
dia a dia delas." (NE2-C).
"[...] então, pra mim, pra você chegar, entender, falar: "Putz, essas competências de
um gerente de projeto não é mais analisar um cronograma ou analisar um orçamento”.
Maturidade e experiência
Tudo isso, pra mim, é background, é experiência mesmo. Isso não se adquire da
noite pro dia, assim." (NE2-C).
"[...] muitas vezes tem que incentivar o conflito, porque no conflito que vem as boas
ideias, que vem as visões. Então, muitas vezes, cara, você tem que ficar meio isento,
Gestão de conflitos deixa o pau torar e vamos ver no que dá. Às vezes você puxa, às vezes você não
puxa, às vezes você entra. Então, eu acho que essa é uma competência importante
também." (NE2-C).
Fonte: Elaborado pelo autor.
O planejamento, o controle e a gestão de custos foram competências com apenas uma citação
cada uma, como necessárias ao gerente do projeto, porém, de forma mais simplificada do que
descritas
150
Competências
Citações
simplificadas
"[...] não adianta você querer inventar uma roda e falar assim: "Ah, eu vou partir por
Planejamento e controle aqui pra ver se vai dar certo". Não. Existe um check list, um processo, pra você
seguir, inicial." (NE1-C).
"[...] Tanto pro projeto quanto pro negócio. Então, é o que eu tô te falando, que você
vai lá, faz uma parte, testa tudo aquilo e entrega positivo, e vamos partir pra próxima,
Gestão de custos e aí você vai meio que monitorando e acompanhando tanto o teu gasto financeiro, o
monetário, quanto o resultado positivo dessa entrega que você tá fazendo por etapas."
(NE1-C).
Fonte: Elaborado pelo autor.
As competências requeridas para o gerente do projeto são obtidas por meio da experiência e
maturidade, conforme exemplifica o envolvido da área de negócios e o gerente do projeto, “[...]
porque, falando de maturidade, você vê o quanto você evolui de um projeto pro outro e o quanto
você persegue as pessoas que tão iniciando também um projeto.” (NE1-C), e ainda,
[...] eu acho que a experiência, ela, sem dúvida, traz muita coisa. Até imagino
que deve existir ou vai ter que existir, dentro dessa mudança de metodologia,
algo que nos traga também, teoricamente, alguma coisa que nos ajude... que
você não vai conseguir estar o tempo todo dentro do negócio acompanhando e
vendo o dia a dia dele, mas eu imagino que a vivência é fundamental, a
experiência te traz isso também. (GP-C).
Na Figura 43, observa-se o relacionamento das competências requeridas do GP com suas ações
para o tratamento dos impactos e a descrição dos impactos, assim como seus respectivos
elementos organizacionais.
151
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP com base nas novas competências,
e de qual área ele deve ser originado. Foram identificados três tipos de perfis do GP: Perfil de
negócios, perfil híbrido e perfil de TI, mapeados em 12 referências e citados por 4 entrevistados.
Nota-se que o perfil de TI foi citado apenas uma vez. Na Figura 43, pode-se observar a
quantidade de referências dos perfis citados.
152
[...] então, a área que esse gerente de projeto, hoje, nasce, é uma área híbrida,
vamos dizer assim. Ele tem que ter um pouco de TI, tem que ter um pouco do
negócio, e, ao mesmo tempo, ele tem que ter essa maturidade, porque o projeto,
ele exige também, pelo que eu percebo, um conhecimento meio multidisciplinar.
Você tem que conhecer um pouco de contabilidade, um pouco de jurídico, essas
coisas. (NE2-C).
[...] eu acho que pra entregar projeto, você não precisa de um cara de TI pra
entregar projeto, você precisa ter um cara que tenha essa visão do negócio, que
tenha o expertise, e ele sabe o que que ele precisa entregar no final. Eu acho
que não precisa ser necessariamente um cara de TI. (GP-C).
153
O perfil de TI, ou seja, o profissional que tenha sua origem na área da Tecnologia da Informação
e que possua conhecimentos das áreas de negócios, foi citado apenas uma vez, conforme
exemplifica o líder do projeto: "[...] alguém de T.I. que conhece negócio, porque a gente tá
incorporando muitas coisas em melhorias em soluções que já existem, ao passo que a gente tá
habilitando novas tecnologias, e além dessa complexidade, desse ambiente complexo e desses
desafios culturais." (LI1-C)
Na opinião do gerente do projeto é fundamental que o projeto não seja reconhecido como um
projeto da área de TI, exemplificando: "[...] é, a gente ainda pegou um pouco disso. Mas eu acho
que o fundamental é o dono do projeto, o sponsor, saber que aquele projeto não é um projeto de
TI. conheci pessoas que ainda tinham essa mentalidade antiga, mas a liderança não. Isso foi
fundamental." (GP-C).
Na Figura 45, observa-se a distribuição dos perfis mapeados, conforme a intensidade das
citações, nota-se uma predominância do perfil “híbrido”.
A liderança dos projetos de Transformação Digital deve ser conduzida por um profissional da
área de negócios, considerando o conhecimento do negócio como essencial na transformação,
exemplificado pelo envolvido do negócio no projeto:
154
[...] eu acho que pra essas transformações que a gente vem passando, que as
companhias tão investindo e tudo mais, eu acho que deveria ter uma pessoa do
negócio que entendesse. Você poderia até contratar alguém de fora que pode ter
outras visões, que vai agregar muito, mas que tivesse também um líder dentro
do negócio, da própria empresa. (NE1-C).
Seus principais números, aproximadamente, referentes aos processos de importação por ano, são:
A administração de TI, tem uma postura independente, porém alinhada com as estratégias de
negócios da empresa e se reporta diretamente à Vice-presidência da Empresa.
156
Do ponto de vista dos executivos, a área de TI é estratégica para a empresa, sempre alinhada com
às necessidades de negócios e eficaz ao atendimento de mudanças, novas funcionalidades ou
parametrizações para novos negócios.
O Sistema de Gestão Integrada (ERP), utilizado pela Empresa D, era um sistema monolítico,
baseado em uma tecnologia antiga e todos os seus componentes eram instalados em servidores
próprios. O sistema não era on-line, todas suas funcionalidades eram processadas em batch, ou
seja, todos arquivos de dados eram processados em lotes, no período noturno, em que são
efetuados todos os registros que ocorreram durante o dia, e disponibilizados no dia seguinte.
Com mais de 2.000 customizações efetuadas, solicitadas por diferentes áreas e gestores, o suporte
e a manutenção do sistema também ficaram prejudicadas e, a cada mudança de versão da
ferramenta, eram necessários muitos desenvolvimentos para que todas as customizações
funcionassem.
Diante desse cenário, a Empresa D decidiu buscar no mercado uma solução completa de gestão
integrada e que, adicionalmente, atendesse especificidades do negócio de importação.
Identificaram uma empresa que fornecia uma solução completa para as suas necessidades e que
também estava lançando uma nova versão baseada em cloud. Nesse cenário, a Empresa D
realizou várias provas de conceito, conhecido no mercado como POC (prof of concept) antes de
efetivar a contratação da solução encontrada.
157
A ferramenta foi desenvolvida sob os conceitos de bases relacionais em 3 camadas, cujas rotinas
fundamentais encontram-se em back-end (instalados em um servidor de aplicação), e o acesso
podendo ser realizado por meio de vários formatos de front-end (interface com o usuário final),
com a finalidade de permitir a entrada de dados nas diversas áreas do sistema e a saída de
informações pelos mais diversos periféricos de saídas.
O projeto foi iniciado em outubro de 2018 e, como a Empresa D é um grupo composto por 6
empresas, a estratégia de implementação em produção foi por empresa, começando pela de
menor complexidade e volume de operação, para que fosse possível corrigir os erros
identificados sem comprometer as operações mais complexas da Empresa D. Os lançamentos em
produção ocorreram nos seguintes períodos: abril de 2019, agosto de 2019, junho de 2020,
outubro de 2020, e janeiro de 2021. A duração total do projeto foi de 2 anos e 3 meses.
O Projeto P4, utiliza como principal recurso digital a computação em nuvem (cloud computing)
e os principais elementos organizacionais impactados foram: os processos operacionais,
colaboradores e infraestrutura. Praticamente, todas as áreas de negócios da empresa foram
impactadas pelo Projeto P4.
que a nova aplicação adotou como tecnologia principal a computação em nuvem e conforme
exemplifica o líder do projeto:
[...] então toda vez que o sistema lançava uma versão nova, esses
penduricalhos, metade caía, se quebrava, tinha que reconstruir tudo de novo.
Não era um sistema online, tudo funcionava em batch... integrava malíssimo
com o nosso sistema novo, que é o sistema do BI, não conseguia ter uma
integração on-line com o sistema, ou seja, era lento. Então tinha um monte de
problema. (LI-D).
E ainda,
[...] deixa o hardware pras pessoas que cuidam de hardware. Você ter uma
especialização como outra qualquer, você precisa ter parques e parques de
hardware, você precisa ter solução pra incêndio, solução pra não sei o que,
disaster recovery, enchente. Você não precisa se preocupar com mais nada
disso. Você quer operar, qualquer lugar você entra na web. (LI-D).
[...] na verdade, eu acho que foi basicamente redução de custo, integração com
outros sistemas, integração com o BI, atender... a gente também tem uma
característica na empresa, nos clientes da [empresa], que a gente acaba
atendendo muitas particularidades que cada cliente tem, então, pra customizar
e pra desenvolver essas particularidades, com o Protheus também era muito
engessado. (NE2-D).
Adicionalmente, foi verificado como a pandemia, causada pelo vírus COVID-19, afetou o
andamento do projeto, considerando que o projeto teve grande parte realizado ao longo dos anos
de 2019 e 2020.
[...] que a gente tava no meio da pandemia quando a gente fez a troca, né? Por
um lado, foi bom porque (tinha que dar) uma pequena diminuída de quantidade
por conta da pandemia, então foi meio que na hora certa de fazer, mas por
outro foi uma outra situação diferente. Pra todo mundo, no caso. Então, ficou
um sistema com todo mundo em casa praticamente. Foi uma coisa nova pra
todo mundo. Mas deu certo, funcionou. (NE1-D).
E também,
[...] foi um momento um pouco mais calmo, as pessoas tavam todas em casa.
Então as pessoas em casa, se dá algum problema, você tá muito mais
acomodado, acolhido, aconchegado do que você ter que ficar aqui no escritório
até as 11 horas da noite, entendeu? É muito mais fácil das pessoas ficarem mais
(ligadas) em casa. Por um outro lado, a comunicação é muito mais difícil. Você
não tem todo mundo dentro de uma sala de reunião, você não consegue circular
por cima pra ver que as coisas tão acontecendo. É tudo por telefone. (LI-D).
[...] porque você fica sem visibilidade. Então assim, existia aquela pressão pra
se fazer, pra se sair. Então, a pressão nunca deixou de existir. Porém, sempre
existia esse outro lado, que era o cliente, que eram as pessoas que estavam ali.
Então, tem uma série de coisas aí, né? Tem o... também tivemos alguns... muita
troca de agentes aí, das pessoas que saíram, outras que entraram, então isso
também acaba impactando bastante, né? (GP-D).
Evolutismo é uma característica forte do projeto pois permite agregar novas funcionalidades e
customizações, de acordo com as demandas das áreas de negócios e necessidades promovidas por
novos clientes, com maior agilidade e dinamismo, conforme exemplifica o gerente do projeto:
163
[...] a gente ainda tem hoje algumas pendências aí de sistema, que precisam ser
melhoradas ou que precisam realmente serem feitas. Só que hoje já além disso
ainda, dessas melhorias, também entram customizações de clientes novos,
porque a empresa não parou. Então, temos clientes novos ou temos até os
clientes que já tínhamos mesmo antes, mas que solicitam algum tipo de
customização, e etc., e tal. (GP-D).
O projeto P4 permeia todas as áreas de negócios e operacionais da empresa e tem como objetivo
principal promover a integração dos respectivos processos, caracterizando que o projeto
apresente uma alta transversalidade na empresa, exigindo que a comunicação entre as áreas seja
mais simétrica, conforme exemplifica o envolvido da área de negócios:
[...] isso é um pouco mais complicado quando se trata de uma empresa grande
com várias áreas diferentes. Uma vez que você tá fazendo um projeto que
envolve todas as áreas, e todas as áreas têm que se conversar pra que nada que
eu peça atrapalhe a outra, isso é complicado. Então isso eu acho que faltou um
pouco. (NE1-D).
A participação ativa e dedicada da área de negócios no projeto foi intensa, uma característica
importante na realização do projeto, principalmente com o envolvimento dos colaboradores mais
experientes da empresa, tornando fundamental essa característica na realização do projeto,
conforme exemplifica o gerente do projeto:
(...) houveram alguns impactos sim, houveram alguns problemas sim, mas não
foi nada que... absurdo, né, uma coisa muito grande. O que contou bastante
também, foi a experiência das pessoas também, principalmente dos gerentes das
áreas aí que já se prepararam, já até se anteciparam ao máximo aí. Então, isso
contou bastante.
Colaboradores.
Processos operacionais.
Infraestrutura de TI.
Processos de negócios.
Cultura organizacional.
Por não ter uma equipe da área de negócios 100% dedicada ao projeto, o conflito nas atividades
operacionais com as atividades do projeto foi um impacto significativo sentido pelos
colaboradores, conforme exemplifica o gerente e o fornecedor do projeto:
[...] a concorrência com o dia a dia, entendeu? Você tinha que: “Ah, eu tenho
que testar uma implementação” “Oh, mas agora não dá pra testar a
implementação porque eu tenho que fazer uma determinada tarefa”. Havia
isso? Bastante, mas aí o que que acontece? A empresa tem um determinado
momento que pegou um pitbull e falou com o pitbull: “Pitbull, você vai em
todas as pessoas que têm demanda de testar tela, de testar relatórios e você vai
sentar do lado e vai pedir pra pessoa fazer”. (FO-D).
E ainda,
[...] ah, um ponto importante também é que não foi, vamos dizer assim,
dedicado, de fato, pegado... contratado uma equipe, né, de cada uma das áreas
pra poder fazer os testes, vamos dizer, a implantação. Então, ou seja, as
pessoas tinham que fazer a tarefa do dia a dia e mais a implantação do sistema.
Isso impacta bastante em tempo, porque às vezes alguma coisa... o cliente pede
alguma coisa, então você tem que priorizar aquilo, ou a... e assim por diante,
né? Então, isso impacta também. (GP-D).
167
A resistência à mudança também foi um impacto percebido, apenas no início do projeto, devido à
insegurança dos colaboradores com relação às suas atividades habituais, porém logo foram
percebidos os benefícios que o projeto traria. Os colaboradores passaram a ter que absorver
conhecimento mais digitais com a implantação do sistema, bem como um conhecimento mais
amplo dos processos e atividades de outras áreas, exemplificado pelo gerente do projeto e pelo
envolvido da área de negócios: “[...] Sim. E você tem mais tempo pra poder estudar um pouco
mais sobre a empresa e pra aprimorar seus conhecimentos sobre as suas atividades, mas, falar
que as atividades deixaram de ser repetitivas, isso, não.” (NE2-D). E também,
[...], mas eu acho que de resistência, eu acho que o máximo que eu posso dizer é
isso: Ah, eu acho que poderia ter tido um pouquinho mais de velocidade, um
pouquinho mais de tração no início, e não houve, mas, depois acho que pegou,
o pessoal viu que ia acontecer mesmo, que era um caminho sem volta e que se
ficasse pra trás, a sua área que ia ser impactada, né? (GP-D).
[...] até pelo fato de algumas coisas também, a gente tem que rever o processo
da própria empresa, né? Então, assim, quando a gente muda a versão do
Proteus, não chega a um ponto de mudar processo, né? Muda... se mudar, mas
é muito pouco. No Conexos, a gente já teve que mudar os processos, né? A
gente já teve que fazer algumas mudanças um pouco mais radicais, decidir
quem faz o que em alguns momentos, né? (GP-D).
[...] comprar disco, comprar servidor, rede. Meu Deus. Tem um monte de coisa
aqui pra fazer manutenção, aí tem que ter o nobreak, tem que ter a sala de
servidores. Isso é coisa do tempo das cavernas. "Pô, preciso aumentar a
memória do servidor". Aí você tem que comprar um pente de memória física,
enfiar o pente
168
A cultura organizacional é outro elemento que foi relativamente impactado, como consequência
das mudanças geradas nos processos operacionais e de negócios, principalmente no que se refere
à automatização das atividades manuais e repetitivas, proporcionando aos colaboradores uma
visão mais estratégica e digital da empresa, conforme exemplifica a envolvida da área de
negócios no projeto:
No Quadro 32, observa-se uma síntese dos elementos organizacionais impactados e a descrição
dos respectivos impactos, bem como se o impacto é positivo ou negativo.
As ações foram mapeadas em 15 referências e citadas pelos 5 entrevistados. Na Figura 52, pode-
se observar a quantidade de referências das ações do gerente de Projetos para o tratamento dos
impactos mapeados.
A capacitação dos usuários impactados pelo projeto foi considerada um fator de extrema
importância, na qual o gerente de projeto realizou toda a gestão dos treinamentos, promovendo
diferentes níveis, teve uma participação ativa na motivação para a participação dos treinamentos,
com o objetivo de minimizar os impactos causados pela implementação do novo sistema,
conforme exemplifica o gerente do projeto:
Como o projeto tem como uma forte característica o envolvimento de várias áreas da empresa, a
intensificação na comunicação com as partes envolvidas foi uma ação essencial do gerente do
projeto no tratamento dos impactos, principalmente para minimizar informações divergentes ao
longo do projeto, conforme exemplifica o envolvido da área de TI:
[...] isso é um pouco mais complicado quando se trata de uma empresa grande
com várias áreas diferentes. Uma vez que você tá fazendo um projeto que
envolve todas as áreas, e todas as áreas têm que se conversar pra que nada que
eu peça atrapalhe a outra, isso é complicado. Então isso eu acho que faltou um
pouco. (NE1-D).
[...] a gente usou algumas estratégias, né? A gente usou algumas estratégias aí
de contenção das pessoas e de engajamento. Então, eu acho que foi muito bom.
Eu acho que o que eu poderia dizer, assim, que, às vezes, em alguns momentos
talvez, não tenha tido, assim, um suporte suficiente de algumas áreas, mas não
da liderança de implantação do projeto. (GP-D).
Por se tratar de um projeto com alto impacto nos processos da empresa, o envolvimento do
gerente do projeto no levantamento dos requisitos do produto, fluiu naturalmente. O
envolvimento nos levantamentos dos requisitos e analisar com mais critério as demandas das
áreas, proporciona uma melhora significativa no tratamento dos impactos nos processos
operacionais, de negócios e colaboradores, conforme exemplifica o gerente do projeto:
[...] no Conexos, a gente já teve que mudar os processos, né? A gente já teve que
fazer algumas mudanças um pouco mais radicais, decidir quem faz o que em
alguns momentos, né? Algumas coisas são bastante óbvias, e aí acaba ficando
com as pessoas mesmo, de fato, e outras não tão óbvias, né? Então, você tendo
que acabar fazendo reuniões. Então é um trabalho um pouco mais árduo, vamos
dizer assim. (GP-D).
"[...] em alguns momentos você tem que tomar algumas decisões também do que
que vale a pena você ter e do que que vale a pena você não ter. E como é que você
Orientação ao negócio
toma dessas decisões se você não conhecer o produto? Espera as pessoas tomarem a
decisão por você?" (LI-D).
"[...] você sabe a pergunta que você tem que fazer, você sabe o que você tem que
perguntar pro cara. Então, acho que esse é o grande segredo. A formação
Multidisciplinaridade multidisciplinar, ela seria fundamental, sendo que não vejo necessidade, hoje, de
você ser da área de TI ou engenharia pra tá como gerente de projetos." (FO-D).
"[...] você saber facilitar uma discussão é um valor, você saber que você precisa
tomar conta de escopo, de custo, de tempo, de risco. Isso tem o seu valor, mas ele
Facilitador meio que funciona no teu inconsciente, entendeu? Se você ficar externalizando isso
o tempo inteiro: "É custo, é custo ou é escopo, é escopo, ou é prazo". Os negócios
vão se atropelar..." (LI-D).
174
"[...] olha, acho que assim, uma competência que nós, que trabalhamos com
Resiliência projetos, podemos observar é a resiliência. A gente foi muito experimentado em
relação à resiliência. Você tinha que ser muito resiliente, tá?" (FO-D).
"[...] e que essas demandas, qualquer uma dessas novas demandas, gera um custo, e
aí, por isso que tem esse envolvimento do Alexandre também em tentar reduzir um
Pensamento crítico
pouco do custo e fazer o trabalho de, tipo: "Essa é uma customização, essa é algum
relatório, alguma coisa que de fato vai ser útil, vai ter um ganho pra área." (NE2-D).
Fonte: Elaborado pelo autor.
"[...] se você tem experiência de quem já fez, quem já voltou, quem foi pra trás,
quem foi pra frente, quem já passou por aquilo, é um negócio muito mais rico do
que um cara simplesmente que sabe gerenciar." (LI-D).
Experiência
"[...] o gerente de projeto, pra assumir esse papel, sim, tem que ter muita
experiência, muito tempo de casa, experiência como gerente de projetos,
experiências em projetos, experiência em conhecimento, em área de negócio."
(NE2-D).
"[...] então assim... e engessada como você tá dizendo mesmo, não funcionava.
Negociação Porque assim, muitas vezes a gente teve que realmente lidar com as pessoas ali,
negociar com as pessoas. Acho que a principal coisa acho que foi negociar (GP-D).
"[...] se você não tiver liderança, se você não tiver raciocínio lógico, se você não
Liderança tiver uma solução, se você não tiver um planejamento de uma solução de onde você
está, onde você quer chegar." (LI-D).
"[...] assim, um ponto que eu desenvolvi muito, tive que desenvolver muito mais,
foi a questão da resolução de problemas assim, de pensar rápido, de dar soluções
rápidas pra problemas, porque como o negócio é dinâmico, você tem que assim... e
Dinâmico
o seu senso crítico tem que ser muito grande, porque é o seguinte, como você
trabalha num ambiente de ERP, você tem que pensar: "Tem que dar uma solução
rápida." (FO-D).
Fonte: Elaborado pelo autor.
175
O controle das atividades foi a única competência citada da área técnica de gerenciamento de
projetos como necessárias ao gerente do projeto, porém, de forma mais simplificada do que
descreve as principais metodologias conhecidas de gestão de projetos. No Quadro 35, observam-
se as referências citadas.
Competências
Citações
simplificadas
"[...] e na parte de gestão de projeto então, assim, o que eu acho que fazia bastante
Controle de entregas diferença, que fez bastante diferença era realmente ter alguém dedicado pra cobrar,
né, as pessoas." (GP-D).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Na Figura 55, observa-se o relacionamento das competências requeridas do GP com suas ações
para o tratamento dos impactos e a descrição dos impactos, assim como seus respectivos
elementos organizacionais.
176
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP com base nas novas competências,
e de qual área ele deve ser originado. Foram identificados dois tipos de perfis do GP: perfil de
negócios e perfil híbrido, mapeados em 7 referências e citados pelos 5 entrevistados. Foi apenas
mapeada uma referência ao perfil de negócios e nenhuma citação ao perfil de TI, prevalecendo o
perfil híbrido. Na Figura 56, pode-se observar a quantidade de referências dos perfis citados.
177
O perfil do gerente de Projetos mais citado foi o “híbrido”, ou seja, um profissional que possua
experiência e conhecimento multidisciplinar, incluindo noções e habilidades na área de TI e que
tenha sua origem em umas das duas áreas, TI ou negócios. Conforme citado pelo fornecedor do
projeto: "[...] e todos os projetos que eu tenho rodado me levam a crer que não é necessário que
você tenha formação em TI. É necessário que você tenha o quê? Um conhecimento
multidisciplinar, não só de TI, mas de outras áreas, entendeu? Você pode ser um contador..."
(FO- D).
A experiência e a vivência foram mapeadas como as principais fontes para obtenção das
competências requeridas ao gerente de Projetos, exemplificado pelo fornecedor:
[...] olha, pra desenvolver essas competências é o dia a dia, não tem jeito. Eu
acho que não tem uma escola de negócios, não tem um livro que vai substituir
ou que vai te dar uma competência de você tá numa sala de reunião com oito,
dez pessoas, ou que seja com cinco pessoas, e você defender uma ideia, você
argumentar sobre um prazo, ou até mesmo você chegar e falar assim: “Vai
atrasar”. Ou: “Estamos no caminho errado desse projeto.” (FO-D).
178
Na Figura 57, observa-se a distribuição dos dois perfis mapeados, conforme a intensidade das
citações, nota-se uma predominância do perfil “híbrido”.
Sua base de clientes é formada por mais de 70.000 empresas nacionais e internacionais, de
diferentes tamanhos e segmentos. A Empresa E, também comercializa seus produtos por meio de
um programa de franquias para a comercialização, em todo território nacional, de todo o seu
portfólio de produtos e serviços.
Segundo o Internacional Data Corporation (IDC, 2019), a Empresa E possui mais de 40% de
participação no mercado de software de gestão para o varejo e no setor de e-commerce atinge,
aproximadamente, 14% de participação no mercado, referente ao ano de 2019, configurando
entre as 5 maiores empresas do mercado, no seu segmento.
A Empresa E é uma das primeiras empresas brasileiras de software com capital aberto na Bolsa
de Valores de Nova York (NYSE – New York Stock Exchange).
A ferramenta, que é o portal de franquias e parceiros, surgiu de duas necessidades: a primeira, foi
a necessidade de uma solução que proporcionasse um melhor ambiente de relacionamento com as
franquias. O ambiente que tinha, dentro da empresa, era bem precário, a usabilidade era muito
ruim, a ponto de o franqueado ter que acessar várias plataformas de relacionamento.
182
A segunda necessidade era devido aos problemas nos processos financeiros, no fluxo de
pagamentos e no repasse de comissão na empresa. Os franqueados não tinham uma visibilidade
plena das informações, prejudicando muito o gerenciamento da franquia.
Quando a Empresa E duplicou o número de franqueados, aproximadamente de 200 para 400, em
apenas 1 ano, todo o processo de relacionamento ficou inviável.
O projeto completo, desde a concepção até sua implementação em produção, foi executado em
aproximadamente 2 anos, tendo seu lançamento em março de 2020.
O Projeto P5, utiliza como principal recurso digital a computação em nuvem (cloud computing),
inteligência artificial e solução na plataforma web. Os principais elementos organizacionais
impactados foram: os processos operacionais, colaboradores e infraestrutura. As principais as
áreas de negócios da empresa impactadas, pelo Projeto P5, foram as áreas de relacionamento com
o cliente, prestação de serviços e financeiro.
183
A análise dos resultados considerou as categorias que foram mapeadas e analisadas utilizando a
técnica de análise de conteúdo efetuada nas cincos entrevistas realizadas no estudo do caso da
Empresa E. Considerando as seguintes categorias:
O aumento da produtividade foi o principal motivador para a realização do projeto, citado 8 vezes
por 4 entrevistados, automatizando os processos de negócios com os clientes (parceiros e
franqueados) proporcionando uma melhor governança sobre os contratos com as franquias, bem
como desburocratizando atividades no processo de negociação até o fechamento do contrato com
o franqueado, conforme exemplificado pelo líder do projeto e pelo envolvido da área de negócios,
“[...] otimizar a entrada de uma nova franquia, ter o handover dessa franquia, melhorar o fluxo
de comunicação, expansão de franquias, melhorar a gestão de resultados e ativação… melhorar
governança do contrato...apresentar indicadores de gestão.” (LI-E). E ainda, "[...] então, teve
ganhos de produtividade imensos. Fora isso, a parte de sustentação também, porque a gente
automatizou, por exemplo, toda a geração de contrato, a parte de assinatura digital de
documento, enfim, teve uma série de coisas que foi muito melhor." (NE1-E).
184
O relacionamento com o cliente foi outro motivador importante para a realização do projeto,
citado 5 vezes por 3 entrevistados, considerando principalmente oferecer um ganho de
produtividade com o cliente (parceiro ou franqueado), facilitando a comunicação entre a empresa
e o franqueado, conforme exemplifica o gerente do projeto, “[...] tanto melhorar o
relacionamento com ele, como, também, facilitar e dar mais produtividade no dia a dia para
essa franquia tratar de todos os assuntos deles com a [empresa].” (GP-E).
A evolução tecnológica foi citada como um motivador para a realização do projeto: “[...] a gente
tinha a necessidade de evolução tecnológica, precisaria ter uma gestão maior dentro... uma
integração maior das ferramentas de gestão.” (GP-E).
A solução tecnológica anterior, que tinha como objetivo o relacionamento com o cliente, tinha
baixa usabilidade. A evolução tecnológica está diretamente relacionada com os motivadores de
produtividade e relacionamento com o cliente, conforme exemplifica o envolvido da área de
negócios no projeto:
Considerando que o projeto tem grande parte de sua realização no ano de 2019, foi analisado se a
pandemia causada pelo vírus da COVID-19 o afetou.
Foi verificado que não houve nenhuma interferência significativa no projeto, apenas na questão
da realização das atividades dos envolvidos no projeto por meio do home office, que não
impactou o andamento do projeto.
O desenho do projeto foi realizado ao longo do projeto, permitindo agregar algumas experiências
que foram surgindo como também evoluir funcionalidades, resultando em evoluções constantes
do produto. A evolução foi uma característica determinante para o sucesso do projeto, conforme
exemplifica o líder e o envolvido da área de negócios no projeto, “[...] foram dois anos de
projeto, gente, se eu pegar, tem funcionalidades que a gente entregou no começo do projeto, que
hoje ela já tá evoluída num nível, assim, que já tá até automatizada, faz sozinha, sabe?” (NI2-E),
e ainda, "[...] porque nós iniciamos esse projeto com muitas dúvidas sobre o modelo e
praticamente, nós fomos desenhando o projeto ao longo do contexto, com histórias, e fomos
criando pilotos daquela
187
experiência, fomos aprimorando aquela experiência, inclusive, com o apoio dos canais da
ponta." (LI-E).
quando eu falo dum portal de franquias, eu tenho que pensar que é um terceiro que vai usar, né?
É uma pessoa que não é da empresa, é uma visão muito de cliente, tem que pensar nessa
usabilidade.” (NE1-E).
Processos de negócios.
Colaboradores.
Relacionamento com o cliente.
[...] Esse projeto, ele tem como foco principal automatizar processos de negócio
com as nossas franquias, tá? Automatizar o fluxo e processos de negócios…
fluxos de processos de negócios, com os canais de franquias ..., seja de serviços
ou vendas ou… vou chamar da… serviços, vendas ou as duas operações. (LI-E).
O relacionamento com o cliente, franquias e parceiros, foi um elemento muito impactado, pois
houve uma mudança significativa na governança dos contratos firmados. Foi percebida uma
pequena resistência dos parceiros e franqueados na utilização da solução, bem como uma
dificuldade na adaptação, principalmente no início da operação com a nova solução, conforme
exemplifica o gerente do projeto:
191
[...] vou falar assim, no início, na implantação dele, teve uma alteração de
cultura, sim. Principalmente em relação a essa parte de governança, né? Eles
estavam bem acostumados a troca de e-mails, ou fazia aquela governança em
papel, planilhas. Teve uma mudança de cultura com esses parceiros em relação
a isso. (GP-E).
E ainda,
Da mesma forma que houve impactos na relação com o cliente, proporcionalmente, houve
impactos com os colaboradores da empresa que interagiam com os franqueados e parceiros,
principalmente na adaptação da utilização desse novo modelo de relacionamento, conforme
exemplifica o líder do projeto:
[...] é natural, né, inicialmente, a adaptação das pessoas nesse novo modelo,
né? Era muito mais fácil eu mandar alguns e-mails ou ir na mesa das pessoas,
anexo a esse e-mail, né, ou ficar ligando, né? E hoje, não, esse fluxo seria
totalmente visual a todas as pessoas que estão participando desse processo.
Houve um processo de adaptação, capacitação, comunicação e adaptação
nesse novo modelo, né, que fez parte em todas as nossas operações e canais.
(LI-E).
No Quadro 36, observa-se uma síntese dos elementos organizacionais impactados e a descrição
dos respectivos impactos, bem como se o impacto é positivo ou negativo.
As principais ações mapeadas do gerente de Projeto, no tratamento dos impactos identificados, são:
As ações foram mapeadas em 14 referências e citadas por 4 entrevistados. Na Figura 64, pode-se
observar a quantidade de referências das ações do gerente do projeto para o tratamento dos
impactos mapeados
193
E ainda,
O engajamento dos colaboradores impactados pelo projeto é uma ação essencial para sua
condução, sustentado, principalmente, por uma outra ação importante, que é o compartilhamento
das decisões, das lideranças do projeto com os colaboradores das áreas de negócios, sendo uma
atitude adotada com o objetivo de favorecer um juízo de pertencimento dos colaboradores,
mantendo a sua satisfação e engajamento no projeto, conforme exemplifica o envolvido da área
de negócios no projeto: [...], mas geralmente a gente compartilha. Eu sempre pergunto: "O que
que você faria no meu lugar?". As pessoas sempre esperam que você tenha a solução. Eu falo:
"Eu não sei. Você que é o especialista. O que você faria no meu lugar?". (NE3-E), e também,
[...] então, você acaba engajando o time, tendo esse senso de pertencimento, e
ele pode dar errado, e aí é legal que mesmo que dê errado, aí você tem que
mudar um pouquinho a sua resiliência, paciência, porque vai dar errado.
Lógico, suportar no momento que der o suporte, pra que o time cresça. (NE3-
E).
"[...] então, tem hora que eu tô falando com desenvolvedor, eu não preciso entender
da linguagem dele, mas eu preciso entender da lógica, se eu entendo a lógica de
programação, dificilmente alguém vai te passar a perna, entendeu? Eu acho que essa
competência muito de visão sistêmica, mesmo." (NE1-E)
Conhecimento técnico
heterogêneo "[...] primeiro é a questão de você ter entendimento de negócio e principalmente das
tecnologias envolvidas. Porque como você tá num modelo em que você quer
gerenciar algo que você desconhece, você tem que ser muito apoiado (por
especialista), muito, muito." (NE3-E).
"[...] é, isso é fundamental, né? Então, a gestão topdown deixou de existir. Falar
assim: "Ah, tem que ser assim, porque eu estou mandando ser assim”, pelo menos...
faz uns três anos na empresa que isso não funciona, né?" (NE1-E).
Empatia
"[...] e neste modelo você tem que ter muito mente aberta, e assim, e a tua empatia
tem que ser muito mais forte do que o teu próprio conhecimento. Empatia é um dos
pontos mais fortes." (NE3-E).
"[...] é igualzinho eu te falei. Então, por exemplo: se você olhar ali, tem
conhecimento tecnológico e tem a regência. Você tem que conhecer de tudo um
pouquinho, gerenciamento multidisciplinar, esse que eu tô te falando, né?" (GP-E).
Gestão multidisciplinar "[...] ah, pra tocar esse projeto, é jurídico, com certeza, fiscal e contábil, sem sombra
de dúvidas, mesmo porque tem toda a questão de repasses, de faturamentos de
prestação de serviços e tributação, como contabiliza, tem que entender de margens
de contribuição." (NE1-E).
Inteligência emocional
197
"[...], mas eu concordo plenamente. Eu acho que uma... igual, assim, inteligência
emocional, é uma coisa que eu tô até... comecei a estudar, inteligência emocional
exatamente agora." (NE3-E).
"[...] eu já desconstruí vários requisitos, o cara queria um negócio lá com uns seis
ou sete porquês: "Mas por que você quer fazer isso?" "Por que precisa" "Mas por
Pensamento crítico
que que precisa?". Aí o cara chega à conclusão que ele não precisa. Então não existe
porquê. Então nem resposta, né?" (NE3-E).
"[...] então, na verdade, eu sou só um fio condutor, uma pedra ou um fio dobrado
que tá lá, eu vou tirar da frente, lógico, e olhando o todo. "Putz, vai dar problema
Facilitador
aqui. Cara, tá adiantado aqui, segura um pouquinho aqui". Só. Não é mais que isso."
(NE3- E).
"[...] habilidade pra criar coesão e confiança, é o skill, eu acho que o gerente tem
Habilidades para criar coesão que ter. Todo mundo tem que ter a confiança em você, você criar a coesão entre a
sua equipe e a equipe... e a área de negócio." (GP-E).
"[...] ah, hoje o gerente de projetos, se ele não pôr a mão na massa, ele não entrega.
Antigamente, aquela gestão de projeto que eu já fui, sabe? Sempre ficava dando
Participação ativa
chicotada em todo mundo, só fazendo follow-up, não funciona. Não, é verdade,
gente, não funciona." (NE1-E).
Fonte: Elaborado pelo autor.
"[...] a gente tem muito o aprendizado contínuo, né? Provavelmente vocês têm o
Aprendizado contínuo
conhecimento... alguns fixos, né, sei lá, legislação, é uma coisa que muda bastante,
mas não lá na ponta. Todo dia." (NE3-E).
"[...] então acho que aí, Henrique, a questão de entender cultura é muito (bacana),
Comunicação
porque você tem níveis de contato e de comunicação diferentes. Geralmente os GPs,
eles pasteurizam a comunicação e acabam não comunicando direito." (NE3-E).
198
"[...] ele tem que ser mais esse intermediador, mais um cara pra apaziguar aquilo, ou
pra dar um direcionamento, do que, exatamente, aquele gerente de (voz) que
Dinâmico
conhece todos as competências de um gerenciamento de projeto. “Ah, não, tem que
passar por isso, por isso e por isso”. Todas as etapas. Não. Eu acho que, hoje, o
gerente, ele tem que ser muito mais dinâmico." (GP-E).
"[...] antes eu era muito bater no peito: "Porque o escopo é meu e eu vou fazer esse
negócio". Cara, você se ferra. "Qual que é o impacto? Já viu o impacto?" "Não, não
Liderança
vi" "Então o impacto é esse, mas a decisão é sua". De novo, eu não sou o rei da
verdade, eu sou só o cara condutor do negócio." (NE3-E).
"[...] às vezes a gente dá uma volta gigante nas coisas, e cada vez mais a gente tem
as coisas mais simples, direta, (pouca) leitura, visual, e fazer isso acontecer, só vai,
lógico, com o tempo que você vai aprendendo isso, mas tem uma outra parte do
Maturidade
conhecimento do gerente, que você tem que, entendendo da cultura, é fazer com que
você transborde aprendizado: "Cara, olha, experiências passadas, pela minha
experiência, as coisas andam dessa maneira"." (NE2-E).
"[...] geralmente, é um gerente que trata várias áreas, ou seja, ele não vai ter uma
equipe dedicada, ele vai ter que ficar mendigando relação pras áreas executarem, e
Negociação
se ele não for uma pessoa que consiga negociar isso e envolver as pessoas, ele não
vai conseguir desenvolver nada." (NE1-E).
"[...] acho que o gerente de projeto, ele passa todo o tempo fazendo lobby, não só
com a equipe, mas com cliente, com fornecedores e com os sponsors. Então assim,
Relacionamento
é um cara que tem que se fazer muito bem... saber alinhar, ter visão de futuro, pra
discutir A e B, né, (e nem sempre ele) tem razão." (NE3-E).
Fonte: Elaborado pelo autor.
O controle das atividades e a gestão de riscos e custos foram competências com apenas uma
citação cada uma, como necessárias ao gerente do projeto, porém, de forma mais simplificada do
que descrita nas principais metodologias conhecidas de gestão de projetos. No Quadro 39,
observam- se as referências citadas.
Competências
Citações
simplificadas
"[...] é aquela pessoa que você precisa mitigar tempo, reduzir tempo de esforço, pra
Controle das atividades
ela ter tempo de fazer coisas mais nobres, enfim, martelando do jeito que o povo
martela.
199
Então, isso é muito importante na gestão de projeto, hoje em dia. Não se limitar só a
expectativa do gestor da área, mas em quem executa." (NE3-E).
"[...] porque é o seguinte, tem projetos que são pequenos, que eu não preciso fazer
Gestão de riscos uma gestão de risco tão sofisticada ou uma gestão financeira tão robusta, por
exemplo, mas eu tenho que ter. E aí o que aconteceu? Eu tive dois aprendizados."
(NE3-E).
"[...] agora, eu acho, assim, você ter essa bagagem do que que é o fundamento, do que
Gestão dos custos deveria ser, do que que é uma gestão de custo, do que é uma gestão adequada de
alocação, eu acho que é uma bagagem que não se despreza..." (NE1-E).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Na Figura 67, observa-se o relacionamento das competências requeridas do GP com suas ações
para o tratamento dos impactos e a descrição dos impactos, assim como seus respectivos
elementos organizacionais.
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP com base nas novas competências,
e de qual área ele deve ser originado. Foram identificados três tipos de perfis do GP: Perfil de
negócios, perfil híbrido e perfil de TI, mapeados em 12 referências e citados pelos 5
entrevistados. Nota-se que o perfil de TI foi citado apenas uma vez. Na Figura 68, pode-se
observar a quantidade de referências dos perfis citados.
[...] então pra mim, gerente de projeto tinha que ser o contrário: é um cara que
devia nascer de qualquer área de negócio, financeira, engenharia. Cara, pra
você ter uma ideia, até um médico é um gerente de projeto. Enfim. Mas numa
operação o cara precisa entender o que tem que ser feito lá pra entregar. (NE3-
E).
O perfil do gerente de Projetos mapeado como “híbrido”, é de um profissional que seja originado
na área de negócios e que tenha um bom raciocínio lógico. Conforme citado pelo envolvido de
negócios no projeto, “[...], mas, eu acho que precisa ter essa mescla, entendeu? Eu não vejo
como um impeditivo uma pessoa de negócio ser um gestor de projeto, desde que ela tenha um
raciocínio lógico desenvolvido.” (NE1-E).
[...] então, pra mim, hoje em dia, um gerente de projeto de TI, é TI e ponto.
Porque se ele não ser, se ele não entende de TI, ele é atropelado, por quem tá
debaixo dele. Tem uma coisa que... tem uma máxima no desenvolvimento que é
assim: pra você convencer o desenvolvedor mostre que você sabe tanto quanto
ele. (NE1-E).
Na Figura 69, observa-se a distribuição dos perfis mapeados. Conforme a intensidade das
citações, nota-se uma predominância do perfil de “negócios”.
[...] então, é algo que vai se diluir com o tempo, vai deixar de existir, no meu
ponto de vista, sabe? Se eles não se reciclarem, isso tem vida útil...(...) olha, vou
dar o meu exemplo: eu era um grande defensor do PMP até uns três anos atrás,
eu achava super estruturado e tal, mas, eu cheguei à conclusão que PMP, no
Brasil, não funciona. (NE1-E).
De acordo com as informações obtidas nos cinco estudos de caso, foi possível demonstrar, com a
pesquisa, que houve uma consonância nos resultados, em todas as categorias mapeadas e
analisadas.
8.1 MOTIVADORES
Foram identificados, pelas cinco empresas estudadas, 8 motivadores para a realização de projetos
de tecnologia no contexto da Transformação Digital. No Quadro 40, estão listados os
motivadores citados, a respectiva empresa que indicou, bem como a quantidade de referências.
Empresa
Motivador Referências
A B C D E
1. Redução de custos X X X X 27
2. Relacionamento com o cliente X X X 19
3. Aumento de produtividade e qualidade X X X 17
4. Evolução tecnológica X X 13
5. Eficiência operacional X 11
6. Maximizar a oferta dos produtos X 8
7. Integração dos sistemas X 2
8. Qualidade dos dados X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
A redução de custo foi o motivador mais referenciado e citado por 4 empresas, principalmente
associado à redução dos custos relativo à folha de pagamento, mitigação da incidência do
pagamento de juros, devido ao atraso no pagamento de serviços dos fornecedores e aos custos
relativos à sustentação da infraestrutura da área de TI, hardwares e softwares.
O relacionamento com o cliente foi citado por 3 empresas como motivador para a realização dos
projetos, associado a promover ao cliente uma visão única e padronizada da empresa e o
conhecimento integrado dos produtos ofertados, proporcionar ao cliente a possibilidade de
204
acompanhamento das principais etapas do processo, referentes aos serviços prestados pela
empresa e otimizar os canais de relacionamento com os clientes, estreitando a comunicação,
facilitando a conquista de novos clientes.
Aumento da produtividade e da qualidade dos serviços oferecidos pelas empresas foi outro
motivador citado por 3 empresas, relacionado a garantir os compromissos estabelecidos com os
clientes e associado à automatização dos processos de negócios, proporcionando uma melhor
governança dos contratos firmados com os clientes.
A qualidade de dados e a integração de sistemas foram dois motivadores identificados com baixa
relevância, mapeados em uma empresa e referenciados apenas duas e uma vez respectivamente.
Após realizar uma análise taxonômica nas citações referentes a esses motivadores, eles foram
agregados no motivador “atualização tecnológica”, resultando em uma relação final de 6
motivadores principais para a realização de projetos de TI, conforme apresentados na Figura 71.
205
Influências da pandemia
Como todos os projetos estudados tiveram fases realizadas nos anos de 2019 e 2020, período em
que o mundo foi impactado com a pandemia causada pelo COVID-19, adicionalmente, foi
pesquisada a influência da pandemia no andamento dos projetos.
O único impacto notado de forma negativa foi relacionado à comunicação entre os envolvidos na
equipe do projeto, na execução das atividades efetuadas de forma remota, consequência do
trabalho em home office, porém não impactou nas datas estabelecidas para entrega das atividades.
8.2 ESPECIFICIDADES
Foram identificadas, pelas cinco empresas estudadas, 12 especificidades referentes aos projetos
de tecnologia no contexto da Transformação Digital. No Quadro 41, estão listadas as
especificidades mapeadas, a respectiva empresa que indicou, bem como a quantidade de
referências.
Empresa
Especificidades Referências
A B C D E
1. Transversal X X X X 10
2. Evolutivo X X X 30
3. Inseguro / imprevisível X X X 26
4. Participação ativa da área de negócios X X X 9
5. Adoção da metodologia Ágil X X 16
6. Peculiar X 10
7. Dinâmico X 7
8. Inédito X 3
9. Inovador X 3
10. Usabilidade X 3
11. Relevante X 2
12. Tecnologias acessíveis X 2
Fonte: Elaborado pelo autor.
A característica “evolutiva” dos projetos foi a mais referenciada, citada por 3 empresas, e está
relacionada ao planejamento do projeto que permite agregar novos produtos e funcionalidades.
Essa característica permite realizar novas configurações, principalmente de acordo com as
demandas das áreas de negócios e necessidades promovidas pelos clientes, com maior agilidade,
durante o projeto, bem como depois do seu lançamento em produção, resultando em evoluções
constantes do produto.
207
A adoção da metodologia ágil foi referenciada por duas empresas e fortemente citada como uma
característica essencial para a realização dos projetos, principalmente associada ao dinamismo e à
evolução que as soluções requerem, pois estão diretamente relacionadas com as mudanças
constantes no mercado.
A peculiaridade foi uma especificidade dos projetos, devido à solução de possuir inúmeras
particularidades independentes, principalmente relacionadas às necessidades de agentes externos
à empresa, tais como fornecedores e prefeituras associada a uma complexa legislação.
A participação ativa e da área de negócios no projeto também foi bastante referenciada como uma
especificidade importante para a realização dos projetos, relacionada com a necessidade do
conhecimento dos processos operacionais das áreas de negócios impactadas pelo projeto,
principalmente a contribuição significativa dos colaboradores mais experientes da empresa,
tornando a área de negócios um parceiro e não um cliente interno.
O ineditismo e o inovador são duas especificidades similares que estão associadas com o
desenvolvimento de uma aplicação nova para resolver uma conhecida e complexa operação nas
empresas, como também com a implementação de uma solução inédita, substituindo aplicações
obsoletas por sistemas integrados utilizando tecnologias modernas.
A relevância, como uma especificidade do projeto, está relacionada com a intensa utilização da
aplicação pelos clientes, ou seja, ser relevante para os clientes, não se tornando uma aplicação
descartável. A usabilidade está em consonância com a relevância, pois está associada à sua
intensidade e facilidade de utilização. Por fim, a utilização de tecnologias acessíveis está
diretamente relacionada com a especificidade da inovação, a qual foi referenciada como o
conhecimento e o acesso à novas tecnologias.
Nota-se que todas as especificidades mapeadas possuem um relacionamento entre elas, conforme
representado na Figura 73.
Empresa
Elementos organizacionais impactados Referências
A B C D E
1. Colaboradores X X X X X 57
2. Cultura organizacional X X X X 18
3. Processos de negócios X X X X 16
210
4. Processos operacionais X X X 29
5. Infraestrutura de TI X X X 14
6. Relacionamento com o cliente X X X 12
7. Relacionamento com o fornecedor X 5
8. Relacionamento TI x cliente interno X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
A cultura organizacional foi citada por 4 das 5 empresas estudadas, como um elemento
organizacional impactado. Os impactos mapeados foram: o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos digitais, a digitalização das atividades manuais, proporcionar uma visão ampla
das atividades dos processos e a redução das interações humanas, indicados como positivos.
A infraestrutura de TI, como um elemento organizacional, foi muito referenciado, citado por 3
empresas das 5 estudadas. Os principais impactos estão relacionados com o posicionamento da
área de TI dentro da empresa, transferindo os controles da capacitação do hardware e do
software relacionados à sustentação e à manutenção dos sistemas para terceiros, tornando a
diretoria de TI mais estratégica dentro da empresa. Essa mudança de posicionamento trouxe
alguns impactos negativos, relacionados, principalmente, ao controle de acessos aos sistemas,
segurança e privacidade dos dados. Já a terceirização do controle da produção dos sistemas,
impactou no relacionamento do cliente interno com a área de TI, visto como um impacto
negativo pelos entrevistados.
No Quadro 43, observa-se a síntese dos impactos mapeados, agrupados nos elementos
organizacionais impactados e a indicação da referência positiva ou negativa. É importante
salientar que a indicação se os impactos são positivos ou negativos deu-se por meio da análise do
conteúdo das entrevistas.
212
Elemento
Impactos positivos Impactos negativos
organizacional
Absorção de novos conhecimentos Resistência às mudanças
Inclusão digital Dificuldade na adaptação de
Foram identificadas 12 ações orientadas ao gerente de Projetos para atuar no tratamento dos
impactados mapeados, levantadas nas 5 empresas estudadas. No Quadro 44, estão listadas as
ações mapeadas, a respectiva empresa que as indicou, bem como a quantidade de referências.
Quadro 44 – Resultado consolidado das principais ações para o tratamento dos impactos
Empresa
Ações Referências
A B C D E
1. Promover ações de engajamento dos envolvidos X X X X 27
2. Intensificação na comunicação com as partes interessadas X X X X 16
3. Estimular o apoio dos executivos e da alta gestão X X 13
4. Motivar a realização e a participação nos treinamentos X X X 13
5. Supervisão das atividades da gestão de mudança X X 8
6. Comunicar as ações do projeto com antecedência X 6
7. Compartilhar decisões X X 5
8. Envolvimento no levantamento dos requisitos X X X 3
9. Adquirir conhecimento com terceiros X 3
10. Participação no mapeamento dos possíveis impactos X 2
11. Criar um ambiente colaborativo X 2
12. Examinar criteriosamente as demandas das áreas X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
O envolvimento e apoio dos executivos na rotina do projeto faz com que os possíveis impactos
sejam minimizados, principalmente na redução das resistências, favorecendo o engajamento dos
envolvidos no projeto. Porém, devido à intensa rotina das atividades dos executivos na empresa
diminui esse envolvimento. Para mantê-lo e contar com o apoio dos executivos ao longo do
projeto, de forma contínua, o gerente do projeto deve realizar ações de obtenção e manutenção de
apoio dos executivos.
Nas empresas que possuem uma área de gestão de mudança para o tratamento dos impactos, a
função de supervisão das atividades dessa área foi atribuída ao gerente do projeto com o objetivo
de potencializar as ações atribuídas à área de gestão de mudança, tais como a execução das
atividades de planejamento dos treinamentos, a capacitação dos fornecedores e clientes na
utilização da nova aplicação, realizar ações de engajamento das partes envolvidas e manter uma
comunicação constante, clara e objetiva sobre o andamento do projeto e mapeamento dos
possíveis impactos.
215
O compartilhamento das decisões da equipe do projeto com as áreas de negócios foi uma atitude
adotada pelo gerente do projeto, com o objetivo de garantir as expectativas do cliente do projeto,
evitando possíveis impactos gerados por decisões inconsistentes.
A assimilação de conhecimentos oferecidos por terceiros contratados, referente à metodologia
aplicada no projeto, mostrou-se necessária para o gerente de projeto, pois favoreceu e facilitou a
comunicação relativas ao projeto com os envolvidos, evitando possíveis impactos provocados
pela assimetria de informações.
A participação do gerente do projeto no mapeamento dos impactos previstos é uma ação que
contribui com a qualidade no levantamento desses impactos, a aderência com as atividades da
gestão de mudança e a validação com os principais envolvidos, assim como com a mitigação dos
possíveis impactos relacionados a todos os elementos organizacionais.
Criar e manter um ambiente colaborativo é uma ação essencial que o gerente do projeto deve
realizar. Favorece as relações entre os colaboradores envolvidos, proporcionando uma união da
equipe, como também promove a admiração e a confiança dos envolvidos, direta ou
indiretamente, da empresa.
216
Na Figura 74, observa-se a lista de 12 ações requeridas ao gerente do projeto para atuar no
tratamento dos impactos gerados em decorrência do projeto de Transformação Digital,
classificada pela quantidade de referências à TD:
As novas competências requeridas são aquelas que não estão listadas nas melhores práticas de
gerenciamento de projetos conhecidas. Neste grupo, as competências identificadas estão
fortemente relacionadas ao perfil comportamental e de desempenho do gerente do projeto.
Também observa-se que as novas competências estão associadas ao desenvolvimento do produto
e com uma
217
visão direcionada para as áreas de negócios. No Quadro 45, estão listadas as novas competências
identificadas, a empresa que as citou e a quantidade de referências:
Empresa
Novas competências Referências
A B C D E
1. Orientação ao negócio X X X X X 42
2. Gerenciamento multidisciplinar X X X X X 28
3. Empatia X X X X X 22
4. Pensamento crítico X X X X X 10
5. Inteligência emocional X X X 13
6. Conhecimento técnico heterogêneo X X X 11
7. Habilidades para criar coesão X X X 4
8. Resiliência X X 5
9. Direcionamento sustentável X X 5
10. Execução inovadora X X 5
11. Adaptabilidade X X 4
12. Facilitador X X 4
13. Visão holística X 5
14. Participação ativa X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
Empresa
Competências tradicionais aprimoradas Referências
A B C D E
1. Experiência e maturidade X X X X 15
2. Comunicação X X X X 12
3. Aprendizado contínuo X X X X 11
4. Agilidade X X X X 8
5. Liderança X X X 11
6. Relacionamento X X 3
7. Influenciador X 4
8. Negociação 3
9. Gestão de conflitos e crises X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
Empresas
Competências tradicionais técnicas simplificadas Referências
A B C D E
1. Gestão de custos X X X 10
2. Gestão do cronograma X X 3
3. Gestão de riscos X 2
5. Gestão de pessoas X 1
219
6. Gestão do tempo X 1
7. Controle de entregas X 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nesta categoria, foi pesquisado qual deveria ser o perfil do GP com base nas novas competências,
e, basicamente, foram identificados três tipos de perfis do GP: perfil de negócios, perfil híbrido e
perfil de TI, mapeados em 29 referências. Nota-se que o perfil de TI foi pouco referenciado pelas
empresas. No Quadro 48, estão listados os perfis, a respectiva empresa que os indicou, bem como
a quantidade de referências.
220
Empresa
Perfil Referências
A B C D E
1. Híbrido (negócios + TI) X X X X X 29
2. Negócios X X X X X 16
3. Tecnologia da informação X X X 6
Fonte: Elaborado pelo autor.
O perfil do gerente de Projetos mais citado foi o "híbrido", ou seja, um profissional que tenha
conhecimentos multidisciplinares, bom raciocínio lógico, habilidades da área de TI, que possua
experiência na área do negócio e do produto e tenha sua origem em umas das duas áreas, TI ou
negócios. O perfil híbrido foi citado por todas as empresas estudadas.
Na Figura 76, observa-se a distribuição dos perfis mapeados, conforme a intensidade das citações
e nota-se uma predominância do perfil “híbrido”.
221
Para a obtenção das competências requeridas ao gerente do Projeto para atuar em projetos de
Transformação Digital foram mapeadas, principalmente, duas características, a maturidade e a
experiência profissional.
A liderança dos projetos deve ser conduzida por um profissional com profundos conhecimentos
da área de negócios, considerando esse conhecimento como essencial no processo de
Transformação Digital e é fundamental que os projetos não sejam mais reconhecidos como
projetos pertencentes a área de TI. Na opinião de apenas um entrevistado a liderança dos projetos
deve permanecer na área de TI.
O profissional tradicional de gestão de projetos, com conhecimentos apenas nas disciplinas das
metodologias de gerenciamento de projetos, é um profissional que tem seu futuro incerto, e que
deve que procurar ampliar seus conhecimentos em diferentes áreas, além de ser mais orientado ao
negócio da empresa para liderar projetos de Transformação Digital.
222
Os projetos de Transformação
Digital geram impactos na Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada
organização
Com relação à terceira proposição, com o objetivo de verificar se as ações do gerente de Projetos
podem tratar os impactos gerados pelos projetos de TI relacionados à Transformação Digital,
foram mapeadas 12 ações para que o GP possa atuar nos tratamentos dos impactos, evidenciadas
nos 5 projetos estudados, de acordo com a opinião dos entrevistados, confirmando a proposição
3, conforme apresentado no Quadro 51.
Na quarta proposição apresentada, que teve como objetivo avaliar se é requerido ao gerente de
Projetos novas competências ou o aprimoramento das competências tradicionais para atuar nos
projetos de TI relacionados com à Transformação Digital, foram identificadas 14 novas
competências, o aprimoramento de 9 competências conhecidas e a utilização de 7 competências
técnicas de forma simplificada, necessárias ao GP, nos 5 projetos estudados, confirmando a
quarta proposição apresentada, conforme apresentado no Quadro 52.
pesquisador quanto às respostas obtidas com os entrevistados. Essa regularidade representa que,
nos cinco projetos estudados, houve uma convergência de opiniões na relação às proposições
formuladas. Dessa forma, é possível verificar com maior assertividade os resultados atingidos e a
evidenciação das 4 proposições apresentadas. A síntese da análise das proposições pode ser
verificada no Quadro 53.
10 CONCLUSÃO
Esta pesquisa teve como principal objetivo estudar quais são as competências que os gerentes de
Projetos precisam aprimorar ou absorver para atuar no tratamento dos impactos organizacionais
gerados pelos projetos de Transformação Digital. Para tal, foi realizada uma pesquisa qualitativa,
utilizando a técnica de estudo de caso múltiplos, de cinco projetos estratégicos de Transformação
Digital, em cinco empresas de grande porte.
Primeiramente, foi efetuada uma revisão da literatura abordando os temas sobre as competências
dos gerentes de Projetos, Transformação Digital e os impactos organizacionais gerados pelos
projetos de TD. Na sequência, iniciou-se a etapa de identificação e seleção das empresas e
projetos de acordo com os critérios estabelecidos para o estudo. A coleta de dados foi
fundamentada, principalmente, na realização de entrevistas, com os principais envolvidos nos
projetos e de áreas distintas, como os gerentes dos projetos, executivos das áreas de negócios e de
TI e envolvidos das áreas diretamente impactadas pelo projeto.
Com relação aos objetivos específicos desta pesquisa, foi possível atingir, de forma clara, todos os
4 objetivos estabelecidos. No objetivo específico 1, buscou-se identificar se os projetos de
Transformação Digital apresentam características diferentes dos projetos tradicionais ou de
sustentação de TI, e foram identificadas 12 especificidades inerentes aos projetos de TD
estudados.
No objetivo 3, em que se buscou identificar quais são as ações que devem ser adotadas pelo
gerente do Projeto para atuar no tratamento dos impactos, foram identificadas 12 ações que
devem ser exercidas constantemente pelos gerentes dos Projetos para mitigar os impactos
negativos e maximizar os impactos positivos.
Neste trabalho, ficou evidenciado que as competências requeridas aos gerentes de Projetos se
concentram nas competências comportamentais, de desempenho e contextuais, novas ou
aprimoradas.
Neste trabalho, ficou evidenciado que o gerente de Projetos deve ter uma visão mais holística da
necessidade da solução na organização, ter uma forte empatia e inteligência emocional com todos
os envolvidos no projeto, sentir a necessidade de seu cliente, as dificuldades da área de
tecnologia, os impactos da mudança nas áreas de negócios, o relacionamento com os prestadores
de serviço e, principalmente, o comprometimento com os resultados esperados pela
Transformação, atuando fortemente nos impactos, positivos ou negativos, gerados pelo projeto.
Com relação ao perfil do profissional gerente de Projetos, foi possível identificar três tipos de
perfis, a saber, o profissional que tem sua origem e experiência na área de negócios, o
profissional com origem e experiência na área de TI e o “híbrido”, um profissional que tenha sua
origem e experiência na área de negócios ou de TI. Os perfis mais referenciados foram o perfil
“híbrido” e o perfil da área de negócios. Por fim, o menos referenciado foi o perfil do profissional
de TI.
O gerente de Projeto deve ter como objetivo principal a participação ativa na implementação de
uma estratégia de Transformação Digital, em todas suas fases e perspectivas, e com forte atuação
nas mudanças organizacionais, não mais apenas preocupado com a entrega de um artefato de TI.
Outro ponto interessante, é verificar o surgimento de várias competências requeridas ao gerente
do Projeto na Transformação Digital, que antes não eram destacadas em projetos tradicionais de
TI, em que o objetivo era apenas entregar um produto, dentro do prazo, custo e escopo
definidos. A
229
preocupação do GP era entregar o que foi solicitado, com um orçamento definido e um prazo
estipulado. Isso fazia com que os GPs se preocupassem, essencialmente, com as competências
técnicas, voltadas ao controle do projeto até sua entrega, sem a preocupação com os impactos
organizacionais. As mudanças solicitadas ou necessárias nos objetivos de escopo, prazo ou custo
tornavam-se geradores de crises e conflitos, entre as diferentes áreas da empresa, principalmente
a área de negócios de TI.
Na Transformação Digital esse comportamento muda radicalmente, pois não se trata mais de
entregar apenas um artefato tecnológico, dentro de um escopo, prazo e custo fixados e
sacramentados. As especificidades dos projetos de TD, tais como a transversalidade, incertezas,
evolutivo, participação ativa da área de negócios, dentre outras, faz com que a expressão “ter que
entregar”, não seja mais singular e essencial no gerenciamento de projetos. Agora, refere-se a
“como entregar”, “tratar”, “cooperar” e, essencialmente, “transformar”, para tornar o projeto o
mais aderente possível às necessidades da empresa, tratando os impactos gerados em todos os
elementos organizacionais, como a cultura, colaboradores, processos e clientes. Com isso, as
competências mais técnicas tornam-se mais simples e as comportamentais essenciais ao perfil do
GP.
230
11 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
As especificidades dos projetos, as ações do GP no tratamento dos impactos e sua relação com as
competências necessárias para essas atividades são elementos pouco estudados nas disciplinas de
gerenciamento de projeto, indicando que as responsabilidades do gerente do projeto devam ser
revisadas nos planos de ensino e qualificações.
Portanto, este estudo disponibiliza dados empíricos, obtidos por meio da análise de cinco projetos
complexos, implementados em grandes empresas, sendo dois na fase final de desenvolvimento e
três na fase de pós-produção. Tais projetos foram definidos como soluções de TI que fazem parte
da estratégia de TD das referidas empresas.
O estudo foi realizado de forma abrangente, em que a coleta das informações ocorreu por meio de
entrevistas com os principais envolvidos em um projeto, líderes, executivos, fornecedores,
agentes de TI e de negócios, não focalizando apenas a visão do gerente do projeto, conforme
observado, com frequência, em outros estudos.
231
12 CONTRIBUIÇÕES PRÁTICAS
assertivos e aderentes à Transformação Digital adotada pela organização, em toda sua estrutura
organizacional.
233
13 LIMITAÇÕES
Nesta pesquisa, a principal limitação foi a disponibilidade dos entrevistados para a realização dos
encontros. Essa limitação está diretamente relacionada à disponibilidade das pessoas envolvidas
nos projetos de TI em fase de conclusão e pós-produção, em que tal período exige uma atenção
maior nos projetos estudados, dificultando a disponibilidade. Os encontros para a realização das
entrevistas foram remarcados inúmeras vezes, dificultando o planejamento dessa fase da
pesquisa.
Devido à pandemia, a maior parte dos entrevistados estava trabalhando em home office, o que
gerou a necessidade de realização das entrevistas também de forma virtual. Essa limitação,
provavelmente, teve influência no levantamento das informações, impossibilitando uma conversa
com mais interação entre o pesquisador e o entrevistado, exigindo um maior esforço do
pesquisador na condução da entrevista.
14 ESTUDOS FUTUROS
Propõe-se que, em estudos futuros, sejam analisados projetos de Transformação Digital após um
determinado período de sua implementação em produção, para que seja verificado se os possíveis
impactos mapeados ocorreram e se as ações de tratamento foram eficazes em sua mitigação.
Os resultados desta pesquisa permitem indicar algumas áreas que podem ser objetos de estudo,
como, por exemplo, processos de digitalização na organização e reflexos na cultura
organizacional e o comportamento do cliente externo após a digitalização dos processos de
relacionamento.
Por fim, propõe-se a aplicação deste estudo em projetos de diferentes áreas, não só de
Transformação Digital, mas também projetos sociais, logísticos, empreendimentos comerciais,
dentre outros.
235
REFERÊNCIAS
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análise de conteúdo. Revista Política Hoje, Recife, PE, v. 24, n. 2, p. 119-134. 2015. Disponível
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246
3. Dados da pesquisa
3.1 Objetivo
O objetivo principal desta pesquisa é identificar as competências que os gerentes de Projetos
precisam aprimorar e absorver para atuar no tratamento dos projetos de Transformação Digital.
3.3 Proposições
248
Proposição 3: Os impactos gerados pelos projetos de Transformação Digital podem ser tratados
com ações adequadas do gerente de Projeto.
1. Projetos de TD
Informações da empresa
Informações do projeto
Resultados esperados
2. Motivadores
Motivadores para a realização do projeto
Influências da pandemia
3. Especificidades
Especificidades dos projetos de Transformação Digital
4. Impactos
Áreas impactadas
Impactos do(s) projeto(s) na organização
5. Tratamentos
249
As informações obtidas com os documentos e acessos aos websites serão utilizadas como fonte de
evidências para confrontar com as informações obtidas nas entrevistas.
250
1. Informações da empresa
Ramo de atividade
Quantidade de funcionários
Faturamento anual aproximado
2. Informações do projeto
Resumo do projeto (breve histórico)
Objetivos e benefícios principais
Resultados esperados ou alcançados
3. Motivadores
Elementos motivadores para a realização do projeto
Verificação se a pandemia acelerou ou atrasou a realização do projeto
4. Especificidades
Levantamento das características especificas de projetos de TD em relação à
projetos tradicionais de TI
5. Impactos
Identificação dos impactos gerados pelo projeto na organização
Mapeamento das áreas impactadas
Elementos organizacionais impactados
6. Tratamentos
Levantamento das atividades para tratamento dos impactos na organização
Ações do Gerente do projeto no tratamento desses impactos
251