Atitudes Representacoes Politicas Esp PR
Atitudes Representacoes Politicas Esp PR
Atitudes Representacoes Politicas Esp PR
SÃO PAULO
2018
TADINEI DANIEL JACUMASSO
Versão Corrigida
De acordo:
SÃO PAULO
2018
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
JACUMASSO, T. D. Atitudes, representações e políticas linguísticas: lugares que a língua
espanhola ocupa no imaginário de paranaenses. 2018. 493 p. Tese (Doutorado em Letras –
Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
Banca Examinadora
Ao meu orientador, Prof. Dr. Adrián Pablo Fanjul, por ter me aceitado como seu orientando e
por ter me permitido escolher caminhos para serem trilhados. Sua orientação foi precisa,
inspiradora, eficiente e merecedora dos mais altos elogios. É um orgulho para mim ter sido
orientado pelo senhor.
Aos membros da banca: Prof. Dr. Xoán Lagares, por ter me recebido tão bem na Universidade
Federal Fluminense (UFF), na sua disciplina, que serviu de base para a fundamentação teórica
deste trabalho e pelas valiosas contribuições no momento da Banca de Qualificação. Profa. Dra.
Neide González, por ter acompanhado este trabalho desde a arguição do projeto, pela
generosidade que lhe é peculiar e pelas inestimáveis sugestões e indagações na ocasião da
Banca de Qualificação. Profa. Dra. Cibele Krause Lemke, amiga e colega de trabalho, por ter
me ensinado os primeiros passos da pesquisa científica, quando foi minha orientadora na
graduação, e por ser uma interlocutora constante, incentivadora e parceira de projetos e de lutas.
À querida amiga Wilma Rigolon, por ter me ajudado a dar os primeiros passos em São Paulo.
À Virginia Unamuno, por ter me ajudado a construir uma interrogação que mais tarde deu lugar
a um projeto de pesquisa que deu origem a esta tese.
Ao meu sogro Genoel e à minha sogra Fátima, que em diversos momentos abdicaram de seus
afazeres para que eu pudesse me dedicar ao Doutorado. O suporte de vocês foi fundamental
para a conclusão deste estudo.
Aos meus pais Tadeu e Nadir, que desde sempre me incentivaram e me proporcionaram
condições para a realização dos meus estudos. Obrigado por me permitirem estar ausente sem
nunca reclamar por isso.
À minha cãopanheira Paçoca, que foi privada de tantos passeios e parceira de muitas
madrugadas nesse período de estudos.
À minha esposa Marielli, que está sempre junto comigo, torcendo e incentivando. Obrigado
pela interlocução diária, pela ajuda constante e por cuidar de mim e da nossa família nesses
últimos quatro anos.
Aos amigos e familiares, aos que ajudaram de alguma forma, e aos que não atrapalharam.
Especialmente à minha madrinha, que sempre me incentivou.
Aos informantes por terem aceitado contribuir com esta pesquisa. Sem vocês não haveria esta
tese. Também aos servidores técnicos das escolas e dos Núcleos Regionais de Educação
(NRE’s) por intermediarem a minha entrada nas escolas.
A Deus, por ter me ajudado a tomar as decisões adequadas em cada etapa da pesquisa e por ter
me protegido no vai-e-vem das viagens, por terra, céu e mar.
Têm coisas que tem seu valor
Avaliado em quilates, em cifras e fins
Em cifras e fins...
E outras não têm o apreço
Nem pagam o preço que valem pra mim.
(MARENCO, 2005).
RESUMO
Esta tese focaliza lugares que ocupa a língua espanhola em relação a outras línguas no
imaginário de paranaenses vinculados a três escolas localizadas em Irati, Foz do Iguaçu e
Curitiba. Trata-se de uma pesquisa sobre atitudes, representações e políticas linguísticas que
adota como instrumentos para a composição do corpus questionários e entrevistas com
informantes variados, a saber: alunos, pais de alunos, professores e gestores da educação. A
pesquisa se apoia em estudos como os de Lambert (1967), Calvet (2004) e Petitjean (2009),
para fundamentar as questões de atitudes e representações linguísticas, em estudos como os de
Cooper (1997), Calvet (2007) e Hamel (2013), para tratar das noções de políticas linguísticas,
e em pesquisas como as de Picanço (2003) e Rodrigues, F. (2012), para apresentar um panorama
da inserção do espanhol no currículo escolar brasileiro e paranaense. Os resultados desta
investigação apontam que há uma certa relativização no que diz respeito à representação da
facilidade do espanhol para o brasileiro, motivada principalmente pelos efeitos da escolarização
do espanhol, ocorrida nas últimas duas décadas; verificou-se, também, por meio das atitudes e
representações dos informantes, que o inglês aparece como uma língua que serve para “tudo”,
que é a língua da ciência e que os paranaenses possuem pouco conhecimento dessa língua, o
que faz com que haja necessidade de mensuração sobre o tamanho do seu saber; observou-se,
além disso, na amostra pesquisada, um movimento que tende a negar uma realidade linguística
existente no Estado do Paraná e, por outra parte, uma reafirmação de uma suposta diversidade
que, obviamente, não é condizente com o real. Conclui-se, portanto, que a língua espanhola
ocupa lugares diferentes, como, por exemplo: i) lugar de língua de leitura numa comparação
com o inglês, que ocupa um lugar imaginário de língua para a comunicação oral; ii) lugar de
língua internacional, necessária e equiparada ao inglês em algumas condições; iii) lugar de
língua possível para o brasileiro, preferida em diversas situações comunicativas e indispensável
em outras quando não se pode usar o português.
Esta tesis se centra en lugares que ocupa la lengua española en relación a otras lenguas en el
imaginario de paranaenses vinculados a tres escuelas ubicadas en Irati, Foz do Iguaçu y
Curitiba. Se trata de una investigación sobre actitudes, representaciones y políticas lingüísticas
que adopta como instrumentos para la composición del corpus cuestionarios y entrevistas con
informantes variados, a saber: alumnos, padres de alumnos, profesores y gestores de la
educación. La pesquisa se apoya en estudios como los de Lambert (1967), Calvet (2004) y
Petitjean (2009), para fundamentar las cuestiones de actitudes y representaciones lingüísticas,
en estudios como los de Cooper (1997), Calvet (2007) y Hamel (2013), para tratar de las
nociones de políticas lingüísticas, y en pesquisas como las de Picanço (2003) y Rodrigues, F.
(2012), para presentar un panorama de la inserción del español en el currículo escolar brasileño
y paranaense. Los resultados de esta investigación apuntan que hay una cierta relativización en
lo que se refiere a la representación de la facilidad del español para el brasileño, motivada
principalmente por los efectos de la escolarización del español, ocurrida en las últimas dos
décadas; se verificó, también, por medio de las actitudes y representaciones de los informantes,
que el inglés aparece como una lengua que sirve para “todo”, que es la lengua de la ciencia y
que los paranaenses poseen poco conocimiento de esa lengua, lo que hace con que haya
necesidad de mensuración sobre el tamaño de su saber; se observó, además, en la amuestra
pesquisada, un movimiento que tiende a negar una realidad lingüística existente en el Estado
de Paraná y, por otra parte, una reafirmación de una supuesta diversidad que, obviamente, no
condice con el real. Se concluye, por lo tanto, que la lengua española ocupa lugares diferentes,
como, por ejemplo: i) lugar de lengua de lectura en una comparación con el inglés, que ocupa
un lugar imaginario de lengua para la comunicación oral; ii) lugar de lengua internacional,
necesaria y equiparada al inglés en algunas condiciones; iii) lugar de lengua posible para el
brasileño, preferida en diversas situaciones comunicativas e indispensable en otras cuando no
se puede usar el portugués.
This dissertation focuses on the places occupied by the Spanish language in relation to other
languages in the imageries of Paranaenses linked to three schools, located in Irati, Foz do Iguaçu
and Curitiba. It is a study about the attitudes, representations and language policies which
adopts as instruments for the composition of its corpus questionnaires and interviews with
various informants, that is: students, students’ parents, teachers and educational managers. The
research is based on studies such as Lambert’s (1967), Calvet’s (2004) and Petitjean’s (2009)
to support the questions of attitudes and linguistic representations, on studies such as Cooper’s
(1997), Calvet’s (2007) and Hamel’s (2013) to deal with the notions of language policies and
on research such as Picanço’s (2003) and F. Rodrigues’s (2012) to present a panorama of the
insertion of Spanish in the Brazilian and Paranaense school curriculum. The results of this
investigation point out to a certain relativization in what regards the representation of how easy
Spanish is to Brazilians, motivated especially by the effects of teaching Spanish at schools,
which occurred in the last two decades; it has also been verified, by means of the attitudes and
representations of informants, that English is seen as a language which will help with
“everything”, that it is the language of science and that Paranaenses have little knowledge of
this language, which creates a necessity for measuring the extent of their knowledge; it has also
been observed, in the sample studied, a movement which tends to negate a linguistic reality
existing in the State of Paraná and, on the other hand, a reaffirmation of a supposed diversity
which, obviously, is not consistent with reality. It is concluded, therefore, that the Spanish
language occupies different places, such as: i) a place of reading language in a comparison with
English, which occupies an imaginary place of language for oral communication; ii) a place of
international language, necessary and equivalent to English in some situations; iii) a place of
possible language for Brazilians, preferred in different communicative situations and
indispensable in others when Portuguese cannot be used.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 21
5.1 Relativização da facilidade do espanhol: proximidade não significa facilidade ....... 152
5.1.1 Fatos político-linguísticos que influem no status do espanhol no Brasil .................. 163
5.2 O espanhol como língua de leitura e o inglês como língua de comunicação oral ..... 168
5.3 Para a saúde, o espanhol. Para a ciência, o inglês: lugares diferentes para línguas
diferentes ............................................................................................................................... 174
5.4 Sei pouco, mas ele é bom pra tudo: representações sobre o inglês ............................ 180
INTRODUÇÃO
O leitor encontrará nesta tese os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo
central estudar atitudes, representações e políticas linguísticas, com a finalidade principal de
investigar que lugares ocupa a língua espanhola em relação a outras línguas no imaginário de
paranaenses. O corpus foi constituído por respostas dadas por informantes vinculados a três
escolas públicas localizadas em regiões diferentes do Estado do Paraná.
A problemática que apresentamos como espinha dorsal do trabalho é a de indagar como
uma língua estrangeira, no caso, a espanhola, que não constitui diretamente parte do
plurilinguismo histórico brasileiro, se insere nas práticas sociolinguísticas dos falantes
paranaenses e nas representações sociais sobre a diversidade linguística. Em outros termos,
investigamos, por meio da aplicação de questionários e entrevistas, que lugares ocupa a língua
espanhola em relação a outras línguas no imaginário de agentes que, de alguma forma, se
aproximam dessa língua na escola e na sociedade.
Delimitamos, inicialmente, como espaço para investigar as atitudes e representações
linguísticas, três escolas situadas geograficamente de modo estratégico para a nossa pesquisa,
a saber: i) uma escola da região Centro-Sul do Paraná, localizada na zona rural1 do município
de Irati, numa comunidade chamada Gonçalves Júnior; ii) uma escola localizada na região
fronteiriça do Estado, na cidade de Foz do Iguaçu e; iii) uma escola situada em Curitiba, a
capital do Paraná.
No primeiro caso (escola rural), o problema gira em torno de indagar lugares que a
língua espanhola pode ter num contexto sociolinguisticamente complexo em que há outra(s)
língua(s) em disputa, alguma(s) delas ainda faladas pelos membros da comunidade, o que
implica, às vezes, num apelo de se incluir no currículo da escola local a língua ucraniana, por
exemplo, por ser essa língua um dos elementos culturais que caracterizam aquela comunidade
e aquele grupo de falantes, haja vista que se trata de uma comunidade conhecida como de
imigração.
Na segunda escola (a fronteiriça), o problema ganha contornos em volta da proximidade
geográfica que (des)une brasileiros, paraguaios e argentinos, por exemplo, de modo que isso é
algo que historicamente tem sido usado como argumento favorável para tentar incluir o
1
Na região Centro-Sul do Paraná, ainda há municípios com características mais rurais que urbanas.
Alguns estudos sociolinguísticos têm apontado para o progressivo desaparecimento dessas comunidades
rurais, em alguns casos essas comunidades acabam sendo incorporadas às cidades, em outros, o êxodo
rural tem deixado nessas comunidades apenas as gerações mais velhas.
22
espanhol no currículo das escolas brasileiras. Não são poucos os casos de escolas brasileiras de
fronteira que recebem alunos de outros países hispanos e que se apresentam como contextos
interessantes de se verificar, por meio das atitudes e representações linguísticas desses falantes,
sobretudo daqueles atores que estão vinculados à escola, que lugares ocupa o espanhol nesse
contexto2.
Na terceira escola (a da capital), a problemática que se põe em tela é o lugar que ocupa
a língua espanhola em relação a outras línguas numa escola urbana de uma grande cidade
brasileira, local onde concorrem discursos de línguas mais valorizadas internacionalmente,
língua franca, língua de negócios, perspectivas de viagens internacionais etc.
Trata-se, portanto, de um estudo sociolinguístico que passa por questões de políticas
linguísticas, atitudes e representações em torno do plurilinguismo, com especial atenção para o
status das línguas. Em termos de contextualização, são apresentados alguns aspectos gerais da
situação sociolinguística histórica do Brasil e, em particular, do Estado do Paraná. Nessa
perspectiva, o estudo trata, por exemplo, das línguas em situação de minorização, da
representação do inglês como língua internacional e língua estrangeira nas escolas brasileiras,
do contato geográfico entre as línguas e seus falantes, assim como da inserção do espanhol
como língua estrangeira no currículo escolar brasileiro.
Cabe ressaltar que não se trata de fazer um estudo comparativo entre as três escolas. A
proposta do trabalho está vinculada a dar conta de pesquisar, sobretudo, as atitudes e
representações sobre as línguas em contextos diferentes, e poder conhecer e refletir sobre as
práticas institucionais que ali se produzem, em diferentes ordens.
Optamos, nesta tese, por trabalhar com os termos atitudes e representações linguísticas
um ao lado do outro. Essa decisão foi tomada porque entendemos que o nosso estudo não versa
apenas sobre atitudes e também não trata somente de representações. Além disso, é cabível
observar que não entendemos que esses são termos sinônimos, e que podem ser usados
indistintamente. No segundo capítulo desta tese, discorreremos de modo mais amplo e com
referências sobre o uso dos dois termos lado a lado. De forma resumida, observamos que as
atitudes estão mais no plano das reações imediatas a determinados estímulos, e se localizam no
nível das disposições para o agir espontâneo, na nossa pesquisa mais vinculadas às respostas
objetivas e imediatas, dadas aos itens dos questionários, e as representações linguísticas estão
menos vinculadas a um comportamento imediato, espontâneo, elas são mais discursivas e
2
Em Dalinghaus (2009), por exemplo, há uma descrição interessante acerca dos brasiguaios em escolas
de Ponta Porã, MS.
23
complexas, são ideias que ajudam a construir uma realidade social, surgem da interação,
possuem um núcleo mais ou menos compartilhado pelos membros da comunidade, e estão
apresentadas, no nosso estudo, mais relacionadas às entrevistas. Do nosso ponto de vista, por
estarem numa dimensão qualitativa, as entrevistas se desenvolvem numa superfície discursiva
mais rica. Já os questionários servem inicialmente para mapear as atitudes linguísticas.
O objetivo principal da nossa pesquisa foi investigar que lugares ocupa a língua
espanhola em relação a outras línguas por meio de atitudes e representações linguísticas de
informantes paranaenses que, direta ou indiretamente, se envolvem com essa língua nas escolas
no Estado do Paraná. Para atingir o objetivo central, fixamos alguns objetivos específicos,
como: i) investigar como se comportariam essas pessoas se fossem hipoteticamente legisladoras
autorizadas pelo Estado a tomar decisões político-linguísticas; ii) indagar o que fariam os
informantes diante de supostas situações em que seu interlocutor não soubesse falar português;
iii) averiguar se os lugares dados ao espanhol e às outras línguas são diferentes no nível da
oralidade e da leitura; iv) pesquisar se a representação sobre o plurilinguismo paranaense está
vinculada a atitudes favoráveis à conservação de línguas em situação de minorização; v)
analisar se a proximidade entre o português e o espanhol se traduz em representação de
facilidade na compreensão e na aprendizagem da língua espanhola para os paranaenses.
Ao longo do trabalho, fomos construindo algumas hipóteses sobre os lugares que ocupa
a língua espanhola no imaginário dos paranaenses. Entre as primeiras hipóteses construídas,
imaginamos que as atitudes e representações dos informantes tenderiam a mostrar que o lugar
que ocupa essa língua não é de destaque em relação a outras línguas nos contextos e moldes em
que propusemos a pesquisa. Acreditamos também que não haveria um lugar significativo para
o espanhol em relação às línguas de imigração (ucraniano, polonês, alemão e italiano, por
exemplo) presentes na comunidade rural onde se localiza uma das escolas, justamente porque
nos imaginários poderia rondar um desejo de reavivamento das memórias imigrantes e da
conservação de elementos culturais herdados de outras gerações. Ademais, pressupomos que
não haveria um lugar de destaque no contexto de fronteira (porque nesse lugar provavelmente
o português será muito mais valorizado, e ali apareceriam muitas variáveis relacionadas às
atitudes e representações, sejam os possíveis estereótipos que pesam sobre os paraguaios e/ou
brasiguaios, e sobre língua espanhola, por consequência). Além disso, colocamos como
hipótese inicial que não haveria lugar de destaque para o espanhol no contexto da escola de
Curitiba. Tratava-se, como se pode perceber, de hipóteses um tanto quanto vagas, pois tratar de
língua de destaque é algo complexo. A maioria dessas hipóteses não se confirmou, como
explicitaremos na ocasião das análises presentes no capítulo 5. Pelo contrário, observamos que
24
os lugares que ocupa a língua espanhola não são tão menores assim como pressupúnhamos.
Num segundo momento, construímos hipóteses mais específicas já baseados em alguns dados
empíricos. Nesse caso, essas hipóteses foram se confirmando, mesmo que parcialmente, e estão
discutidas nas sete partes que compõem o último capítulo desta tese. Mas o que cabe ser
ressaltado é que a “hipótese central” que pressupunha um lugar para o espanhol foi sendo
abandonada porque concluímos que não há um lugar, no singular, para essa língua e, sim,
lugares diferentes que são atribuídos em relação a outras línguas, que também ocupam lugares
diversos.
3
O nome do projeto coordenado pela professora Vanderci de Andrade Aguilera e financiado pela
Fundação Araucária era: Crenças e atitudes linguísticas: um estudo da relação do português com
línguas em contato no interior paranaense. A minha participação nesse projeto consistiu na aplicação
de questionários e realização de entrevistas em Irati - Paraná. O objetivo do governo estadual
paranaense, à época, ao financiar esse programa, era incentivar a realização de visitas de curta ou média
duração de pesquisadores, preferencialmente estrangeiros, cuja formação e experiência profissional
representassem uma contribuição inovadora aos cursos de pós-graduação stricto sensu e à consolidação
de grupos de pesquisa sediados no Estado do Paraná. Merece destaque negativo o fato de o governo
paranaense, após 2008, não ter aberto mais nenhum edital desse programa.
25
inicial do Mestrado previa uma aproximação aos estudos hispânicos e, por alguns motivos, ele
não foi desenvolvido, dando lugar a um projeto que tratou de questões relacionadas à
preservação da língua e da cultura ucraniana em Irati - Paraná.
Na minha dissertação de Mestrado (JACUMASSO, 2009), há um capítulo dedicado às
crenças e atitudes linguísticas, e hoje posso reconhecer que há algumas fragilidades naquela
parte do estudo, pois a pesquisa não focou especificamente as crenças e as atitudes e, portanto,
não adotou uma metodologia específica para a coleta e a análise dos dados condizentes com
essa temática. De qualquer forma, as reflexões feitas naquele momento e as leituras dos
principais referenciais teóricos serviram para que houvesse uma aproximação maior com essa
área da Sociolinguística, que certamente se refletem na execução deste trabalho.
Com esta condição em mente, a de fazer uma pesquisa de Doutorado envolvendo a
língua espanhola, motivo mais do que justo para um professor e pesquisador de espanhol, iniciei
um longo processo de leitura de editais de seleção e currículos de possíveis orientadores. No
final de 2012, concorri a uma vaga em três processos seletivos e com projetos diferentes para
entrar no Doutorado (Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)), os três sem sucesso.
No primeiro semestre de 2013, disputei a uma vaga na Universidade de São Paulo (USP), no
Programa de Pós-Graduação em Letras – Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-
Americana, no Departamento de Letras Modernas (DLM), da Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) e também não obtive êxito. Logo após essa reprovação, fui dando
precisão e consistência ao projeto, que apresentei na seleção de Doutorado do segundo semestre
de 2013, na USP, e que aqui se apresenta desenvolvido na forma de tese de Doutorado.
Algumas ideias gerais para uma primeira versão do projeto de pesquisa (que mais tarde
foram reformuladas e aprofundadas) nasceram de uma conversa informal com a professora
Virginia Unamuno, da Universidad de Buenos Aires (UBA) e do Consejo Nacional de
Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), na sua casa em Buenos Aires, numa manhã
ensolarada de um sábado de inverno argentino. Ali surgiu a primeira interrogação que depois
foi sendo lapidada: como o espanhol, uma língua não constitutiva diretamente do
plurilinguismo brasileiro, se insere no imaginário das pessoas?
Ainda em tom de contextualização do estudo, apresento os motivos de ter escolhido
realizar a pesquisa no Paraná. Um deles é que nasci e sempre vivi neste Estado. Além disso, o
Paraná, localizado na região Sul do Brasil, apresenta-se como um lugar com significativa
diversidade linguística e cultural, decorrente de processos imigratórios do final do século XIX
e início do século XX, sobretudo de alemães, italianos, poloneses e ucranianos. Contribui com
26
essa diversidade o fato de o Paraná fazer divisa com países que têm como língua oficial o
espanhol e o guarani. Trata-se, portanto, de um contexto linguisticamente complexo no que se
refere ao contato entre línguas de imigração, línguas de contato fronteiriço, línguas estrangeiras
modernas ensinadas na escola e a língua portuguesa, a língua oficial do Brasil.
Para finalizar esta parte, devo expor que a minha relação com a diversidade linguística
vem desde que era criança e comecei a entender que as pessoas falam de maneira diferente.
Nasci numa comunidade rural de Irati chamada Rio do Couro e lá vivi até os meus quinze anos.
Essa comunidade, essencialmente agrícola, é constituída na sua maioria por famílias de
descendentes de imigrantes italianos, inclusive a minha. As comunidades vizinhas ao Rio do
Couro são formadas, sobretudo, por descendentes de imigrantes eslavos, principalmente
poloneses e ucranianos. A escola do Rio do Couro recebe também alunos de diversas
comunidades vizinhas e é possível que tenha sido ali, na escola, nos primeiros anos da vida
estudantil, que o contato com crianças que falavam diferente de mim tenha me despertado a
curiosidade em relação às línguas e aos modos de falar das pessoas.
Como se pode imaginar, quando deixei a roça e passei a morar na cidade, sofri
preconceito linguístico porque eu falava diferente dos que viviam na cidade (diga-se de
passagem: uma cidade pequena do interior do Paraná). Passei por um processo de acomodação
linguística, sem perder, naturalmente, alguns traços que me acompanham até hoje. Esses traços
linguísticos chamaram e chamam a atenção de muitas pessoas com quem converso, inclusive
nos ambientes acadêmicos que circulei durante os estudos do Doutorado, por exemplo. Essa
condição de ser percebido enquanto alguém que fala diferente, principalmente quando saio de
Irati, me fez também estar sempre atento aos modos que os outros falam, como organizam as
suas argumentações, e como as pessoas estão sempre dispostas a emitir juízos de valor sobre as
línguas e os modos de falar. Concluo, diante disso, que o meu jeito caipira de falar me
proporcionou e me proporciona muito mais ganhos do que perdas.
Organização do texto
argumentações contidas nesse capítulo estão amparadas sobretudo nos trabalhos de Picanço
(2003), que desenvolve suas análises sobre a história, a memória e o ensino do espanhol no
Paraná entre os anos de 1942 e 1990, e de Rodrigues, F. (2012), que ao analisar o arquivo
legislativo e jurídico brasileiro constata um “processo de desoficialização” das disciplinas de
línguas estrangeiras nas escolas.
No segundo capítulo, exibimos o referencial teórico sobre atitudes, representações e
políticas linguísticas que dá sustentação ao estudo. Nessa seção, tentamos explicar alguns
conceitos e apresentar alguns trabalhos que servem de referência para as pesquisas nessa área
da ciência linguística, entre os quais podemos citar Lambert (1967), Cooper (1997), Calvet
(2007). Discorremos também sobre noções de políticas linguísticas e explicitamos algumas
ações político-linguísticas em relação às línguas espanhola, inglesa, portuguesa e em situação
de minorização.
No terceiro capítulo, detalhamos os aspectos metodológicos que percorremos para a
realização desta pesquisa. Ali o leitor encontrará a descrição dos instrumentos e dos
procedimentos adotados para a realização do estudo, assim como um detalhamento da
tramitação do projeto na Secretaria da Educação do Paraná (SEED-PR) e no Comitê de Ética
em Pesquisa (COMEP), a descrição das escolas e dos informantes, a metodologia para
transcrição das entrevistas e para análise dos dados, além do armazenamento do material
produzido no trabalho de campo.
No quarto capítulo, apresentamos uma descrição dos resultados obtidos na parte
quantitativa da amostra. Selecionamos alguns itens dos questionários para descrevermos,
especialmente os dados quantitativos da amostra advindos das respostas dos informantes
vinculados às três escolas. Nessa seção, argumentamos acerca da necessidade de ampliação do
corpus para tentarmos, com os resultados das entrevistas, atingirmos os objetivos da pesquisa.
No quinto capítulo, o leitor encontrará as análises do corpus da pesquisa. É neste
capítulo que se apresenta o que há de novidade, é onde cotejamos dados empíricos com
iniciativas político-linguísticas e analisamos as atitudes e representações que nos conduziram a
mostrar alguns lugares das línguas no imaginário dos paranaenses. Esses lugares estão
discutidos em sete partes temáticas que compõe o capítulo.
Para concluir, apresentamos as considerações finais. Nelas há uma tentativa de fazer
com que o leitor entenda que as partes do trabalho estão interligadas e que uma depende da
outra, ou seja, cada parte é componente de um todo que se pretende coeso. As conclusões
apresentadas ao final não são definitivas. Elas decorrem daquilo que as nossas leituras e as
nossas experiências nos fizeram ver ao analisar o corpus.
28
Tentamos colocar nesta tese aquilo que julgamos indispensável, evitando o enchimento
de páginas com, por exemplo, resenhas desnecessárias de estudos já devidamente explorados.
Sendo assim, incluímos apenas questões históricas que julgamos relevantes para
contextualizarmos o nosso trabalho e operamos com conceitos fundamentais para sustentarmos
a nossa argumentação.
29
4
Não é objetivo central desta exposição explicar os limites geográficos que hoje definem as terras
brasileiras e suas fronteiras com outros países, além de não ser nosso propósito situar os períodos
históricos em que se ensinou a língua geral, o latim, o português, entre outras, no período colonial.
5
O fato de ter havido preocupação não quer dizer que houve significativas melhoras na qualidade do
ensino no Brasil.
31
Pelo que se depreende das palavras da autora, é possível dizer que houve mudanças
significativas no que tange às reformas elaboradas na educação brasileira no período da
primeira república. Em cada estado brasileiro, foram criadas políticas de incentivo à
alfabetização, principalmente baseadas nos moldes da Escola Nova6. No entanto, os resultados
foram elementares do ponto de vista de oportunizar uma educação de qualidade ao povo
brasileiro, algo que ainda não ocorreu até a metade da segunda década deste século, apesar de
(e que bom que isso ocorreu) ter havido no final do século passado uma democratização no
acesso à educação no Brasil.
No que diz respeito às línguas, nesse período, conforme Rodrigues, F. (2012), há que se
considerar que o Decreto nº 981, de 1890, inclui os estudos de uma língua estrangeira (francês)
já no ensino primário. No ensino secundário, as línguas decretadas eram, por ordem de aparição
no documento: “português, latim, grego, francês, inglês e alemão” (RODRIGUES, F., 2012, p.
55).
Na educação, o que marca o período da época de Getúlio Vargas é a Reforma Francisco
Campos, por meio do Decreto nº 19.890, de 1931, que passa a ser a primeira legislação nacional
decretada pelo Governo Federal à qual se subordinam os estados, ou seja, inicia-se aí o processo
de centralização das determinações no sistema de ensino brasileiro. Outro fato significativo da
época foi o Manifesto dos Pioneiros. Os intelectuais da época lideraram esse movimento que
colocava, principalmente, o foco no aluno e não somente no professor, além de defenderem a
educação pública e de qualidade. A vida econômica do país passava por um processo de
profundas transformações, principalmente relacionadas à industrialização e à urbanização. Com
a saída de Getúlio Vargas do poder, foi criado o Conselho Nacional de Educação, que
estabelecia normas para a educação superior e secundária no Brasil.
6
A Escola Nova era “uma escola adequada ao meio social, a escola socializada, vinculada à sociedade
democrática cooperativa, que oferecia educação integral da personalidade. Essa escola seria função e
dever públicos, escola para todos, portanto comum e única (mas não unitária, como queriam os
marxistas, por exemplo), leiga, gratuita e obrigatória, descentralizada e múltipla, com recursos próprios,
ou seja, com autonomia técnica, administrativa e financeira, resultando em uma organização escolar
única, mas seletiva, de acordo com o princípio liberal das aptidões naturais (e não econômicos)”
(HILSDORF, 2006, p. 96).
32
No que diz respeito às línguas, esse período passa a ser particularmente importante para
a inserção da língua espanhola no currículo das escolas brasileiras. Até aqui, fizemos um
apanhado panorâmico a respeito das línguas e de alguns aspectos sócio-históricos relativos ao
período. A partir de agora, passamos a descrever alguns momentos históricos significativos da
inserção do espanhol no currículo das escolas brasileiras. Para tanto, baseamo-nos
principalmente em Picanço (2003), quem faz um estudo sobre a história, a memória e o ensino
do espanhol no Paraná entre os anos de 1942 e 1990. Segundo essa autora, o espanhol ocupa o
lugar do alemão no currículo escolar:
Essa exposição da autora vem logo após a descrição feita por ela sobre o fechamento
das escolas de imigrantes, especialmente as de alemães, ocorrida no período do governo de
Getúlio Vargas. O fechamento dessas escolas de imigrantes fazia parte do “ideal patriótico” que
buscava a “união nacional”. Nesse momento, se intensifica o processo de valorização da língua
portuguesa em detrimento de outras línguas faladas em território brasileiro. Ganha força, nessa
época, a representação de que, no Brasil, a única língua falada é o português. A argumentação
sobre os atributos necessários usados na época para a inclusão do espanhol no currículo merece
destaque. Não se tratava de uma língua “ameaçadora” para o povo brasileiro, pois ela era a
língua de um povo “pacífico e patriótico”. Vale também fazer uma menção ao fato de ser um
idioma europeu, sinal de prestígio e de modelo a ser seguido, sinônimo de ascensão social.
O ano de 1942 marca o início da introdução do espanhol no currículo escolar brasileiro
e paranaense. Foi por meio do Decreto-Lei nº 4.244, de 09 de abril de 1942, que a língua
espanhola passa a figurar na legislação brasileira como uma das línguas estrangeiras a ser
ofertada de maneira obrigatória aos alunos matriculados no curso secundário. De forma
resumida, Picanço (2003, p. 185) conta como foi a inserção do espanhol no sistema de ensino
brasileiro:
Com base nessas duas últimas referências acima, teceremos alguns comentários sem os
quais não poderíamos avançar. Notamos que a inserção do espanhol no sistema de ensino
brasileiro segue o mesmo padrão de desencontros político-educacionais que antecederam essa
inserção, isto é, o espanhol já inicia sua caminhada oficial na educação brasileira seguindo um
caminho contrário ao das tendências vigentes à época. Talvez seja por isso, ou esse parece ser
um elemento importante, que até hoje lutamos para romper alguns limites impostos para a
ascensão e valorização dessa língua enquanto disciplina escolar, sem contar que as décadas
seguintes à legislação de 1942 foram de total apagamento para o espanhol enquanto disciplina
curricular. Um dos elementos que contribuiu, à época, para a inclusão do espanhol no sistema
de ensino brasileiro foi o poderio do mercado editorial espanhol (da Espanha, principalmente).
Inclusive, diga-se de passagem, as editoras espanholas seguem sendo, na segunda década do
século XXI, uma potência mundial e representam cifras generosas para a economia daquele
país7. Essa nossa afirmação se baseia nas palavras de Picanço (2003, p. 36):
Outro fator que poderia explicar a opção pelo espanhol, ao lado do francês e
do inglês, no âmbito acadêmico, seria a demanda pelo ensino da língua
resultante da facilidade de encontrar livros em espanhol, não só de literatura
7
Em notícia on line publicada recentemente (julho de 2017) pelo jornal espanhol La Vanguardia, lemos
no título de uma de suas matérias: “El mercado editorial consolida su recuperación y crece por tercer
año seguido” e o subtítulo do texto anuncia o seguinte: “El año pasado se produjo un aumento del 2,7
%, hasta los 2.317,20 millones de euros”. Disponível em:
<http://www.lavanguardia.com/cultura/20170713/424094425615/el-mercado-editorial-consolida-su-
recuperacion-y-crece-por-tercer-ano-seguido.html>. Acesso em: 24 set. 2017. Os dados utilizados pelo
jornal foram extraídos da Análisis del Mercado Editorial en España: Comercio Interior y Exterior, um
estudo da Federación de Gremios de Editores de España.
34
Esses fatos que estão sendo apresentados acerca da inserção do espanhol são ações
tipicamente político-linguísticas, sobre os quais foram sendo construídos os argumentos que
sustentaram as decisões em diferentes épocas. Entre outros argumentos, percebemos que o
espanhol era ideal para o momento histórico vivido no Brasil nos anos quarenta.
Essa política deixou marcas profundas nos imigrantes e nos seus descendentes. Deles
foram roubados os direitos a usarem as suas línguas em troca de uma ideologia de que só
poderiam alcançar alguma ascensão social se aprendessem o português, a língua nacional. Não
8
Aqui cabe uma observação: esse mercado editorial espanhol a que a autora se refere está basicamente
relacionado às editoras espanholas que se instalaram, principalmente, em países como Argentina,
México, Uruguai, Venezuela. A Espanha, nessa época, passava por um dos seus piores momentos
econômico e político, e lá, por exemplo, havia um mercado ilegal de livros que eram editados na
América Latina.
35
são raros os depoimentos de descendentes de imigrantes nos quais afirmam que de tanto
sofrerem repressão por falarem línguas que não eram o português, esses imigrantes decidiram
não ensinar a seus filhos as línguas trazidas de além-mar (JACUMASSO, 2009; SCHNEIDER,
2007; HILGEMANN, 2004, por exemplo). Ainda vale dizer que muitas escolas de imigrantes
alemães, italianos, poloneses, ucranianos etc. foram proibidas de funcionar porque
representavam risco ao “ideal nacionalista”. Para Oliveira e Altenhofen (2011, p. 192),
Esse recorte se justifica primeiro pelo fato de ter sido na reforma de 1942 que
o espanhol foi introduzido no currículo da escola secundária. Até aquela data
as línguas geralmente ofertadas eram o francês, o inglês e o alemão. Em
segundo lugar, o período acaba na década de 90, porque é neste momento que,
após longos períodos de uma ausência quase total nas escolas do Estado, o
espanhol volta a ser ofertado como opção ao inglês e passa a ter preferência
sobre o francês, o alemão e o italiano, consolidando-se como disciplina escolar
(PICANÇO, 2003, p. 18).
Esse processo de desoficialização do espanhol permanece até o início dos anos noventa,
como podemos perceber nas palavras de Picanço (2003, p. 185):
Ghiraldelli Jr. (1990, p. 117) também critica a referida lei, afirmando que “a Lei, que
ficou treze anos no Congresso, e que inicialmente destinava-se a um país pouco urbanizado,
acabou sendo aprovada para um Brasil industrializado e com necessidades educacionais que o
Parlamento não soube perceber”. Outro ponto a ser destacado em virtude dos termos aprovados
na primeira lei proposta para regular a educação no Brasil foi o descontentamento dos
movimentos de base popular, que não acreditavam que a escola pública alcançaria resultados
positivos. Um desses movimentos resultou na criação da União Nacional de Estudantes (UNE),
entidade responsável por articular diversas discussões e manifestos que culminaram em ganhos
históricos para a educação brasileira.
Entre outras ações, o governo ditatorial (1964-1985) se posicionou contra os
movimentos populares, colocando, por exemplo, a UNE na condição de ilegalidade, pois ela
representava o movimento estudantil considerado de esquerda e lutava por reformas na
educação. Em 1968, foi criado o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE),
órgão vinculado ao Ministério de Educação e Cultura (MEC), a fim de garantir as condições de
financiamento da educação nos níveis fundamental, médio e superior.
Nesse período, outras duas legislações foram aprovadas: a LDB de 1971 e a Resolução
nº 58, de 1976. Segundo Rodrigues, F., (2012, p. 93),
No que diz respeito à resolução de 1976, de forma resumida, a mesma autora conclui
que essa legislação, por especificar na sua textualidade “língua estrangeira moderna”, favorece
a adoção do inglês como a língua “que cumpre esses requisitos [língua veicular ocidental e
língua instrumentalizada] necessários para habitar o espaço escolar, ainda que a legislação não
a especifique como tal” (RODRIGUES, F., 2012, p. 95).
Feita essa breve exposição, voltamos a tratar da inserção do espanhol no currículo das
escolas brasileiras na última década do século XX. Não é sem motivo que a maioria dos estudos
cita a criação do MERCOSUL como um marco divisório na valorização do espanhol no Brasil.
Houve, de fato, nesse momento, um movimento que buscava (e continua buscando) a integração
38
regional, com argumentos9 diversos, entre eles o de que o Brasil é o único país da América do
Sul cuja língua oficial não é o espanhol. Outro argumento que circulou (e ainda circula) no
Brasil é o de que o espanhol é a segunda língua nas relações comerciais no mundo. O fato é que
o Tratado de Assunção, de 1991, que culminou na criação do MERCOSUL, representa
verdadeiramente o início de um processo que culmina na aprovação da Lei do Espanhol (Lei nº
11.161), em 2005. Nossa opinião é a de que essa lei (agora revogada) foi o principal fato
político-linguístico da história recente no que diz respeito à inserção do espanhol nos currículos
das escolas do Brasil. Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) se menciona
claramente que
O contexto da aprovação da Lei do Espanhol foi descrito em vários estudos, mas os que,
na nossa interpretação, merecem destaque são o de Rodrigues, F., (2012) e os de González
(2009; 2010; 2012), pois alertam para o fato de que essa lei serviu também a propósitos
diferentes dos que almejavam a integração regional do Brasil com os seus vizinhos. Nas
palavras de González (2010, p. 26),
9
Esses argumentos apesar de terem sido muito usados por diversas pessoas no Brasil (professores,
pesquisadores, jornalistas, políticos, entre outros), foram argumentos usados muitas vezes por “não
integrantes” desse contexto. Por exemplo, a Espanha usou muito esses argumentos para tentar “vender”
o espanhol (e todos os “produtos” vinculados ao seu ensino) para o brasileiro.
39
O que se pode destacar é que nos anos noventa do século passado, havia uma tentativa
de integração regional dos países vizinhos ao nosso, os quais, assim como o Brasil, passavam
por uma crise econômica e estavam dispostos (ou não) a olharem uns para os outros, o que, até
então, pouco havia sido feito na história latino-americana. Houve, também, nesse período,
significativo investimento financeiro de grandes empresas multinacionais espanholas no Brasil,
ou seja, vários elementos convergiram para uma política de valorização do espanhol,
culminando na aprovação da Lei nº 11.161/2005.
A respeito dos reflexos da referida lei, Lagares (2013a, p. 187-188) expõe o seguinte:
O que se notou, logo após a aprovação da Lei do Espanhol, foi uma série de sucessivos
desencontros entre o MEC e as Secretarias Estaduais de Educação. Foram firmados acordos das
mais diversas índoles e com objetivos diversificados, especialmente no que concerne à
formação de recursos humanos necessários para o cumprimento da lei. Sobre isso, Paraquett
(2006, p. 133) assinala
10
Citamos, por exemplo, um livro publicado recentemente pela Editora Viva Voz (FALE/UFMG), que
traz um panorama de como tem sido a inserção do espanhol em diversos estados brasileiros nos últimos
dez anos. BARROS, Cristiano; COSTA, Elzimar; GALVÃO, Janaina. Dez anos da “Lei do Espanhol”
(2005-2015). Belo Horizonte: Viva Voz, 2016.
41
Para finalizar o percurso histórico, o passado mais recente mostra, no governo Lula
(2003-2010), a manutenção dos programas assistenciais criados pelo seu antecessor e a criação
de outros tantos. O FUNDEF foi ampliado e tornou-se o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), abrangendo também a educação de jovens
e adultos e a educação infantil, não contempladas anteriormente. Ademais, vale citar algumas
outras mudanças no sistema de ensino atual, a saber: a implantação da escola fundamental de
nove anos; a oferta de bolsas de estudo integrais e parciais para alunos do ensino superior
matriculados em faculdades privadas, por meio do Programa Universidade para Todos
(PROUNI). A oferta de vagas nas universidades federais por meio do Sistema de Seleção
Unificada (SISU). O último ponto a ser destacado é o investimento no ensino a distância. Foi
criada a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que em Parceria com a Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) atua, principalmente, na formação inicial
e continuada de professores e alunos.
Já no governo de Dilma Rousseff, em 2011, o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) incluiu a produção e a distribuição gratuita para alunos e professores de escolas
públicas de educação básica do livro didático para as disciplinas de línguas estrangeiras
(espanhol e inglês). Essa inclusão é significativa do ponto de vista de que se abriu um espaço
que antes era negado às línguas estrangeiras na escola, em especial para a língua espanhola que,
na maioria das vezes, foi preterida em relação a outras línguas.
Para finalizar essa exposição, apresentamos o mais recente (e não o derradeiro,
esperamos) gesto político-linguístico envolvendo a língua espanhola no Brasil. Trata-se da
edição, de autoria do presidente Michel Temer, que governa o país após um claro golpe de
Estado11, da Medida Provisória n° 746, de 22 de setembro de 2016, que foi convertida na Lei
nº 13.415, e promulgada em 16 de fevereiro de 2017, que reforma o Ensino Médio, alterando e
revogando leis vigentes. No caso do espanhol, foi revogada a Lei nº 11.161/2005, que previa a
obrigatoriedade da sua oferta e colocada essa língua na condição de optativa, conforme
determina o Art. 3°, no seu 4o parágrafo: “Os currículos do ensino médio incluirão,
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em
caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta,
locais e horários definidos pelos sistemas de ensino”. Diante disso, aguardemos os próximos
11
Na coletânea organizada por Jinkings, Doria e Cleto (2016), há diversos textos que nos dão
materialidade suficiente para afirmarmos, sem TEMER, que se tratou de um golpe parlamentar,
midiático, político etc.
42
gestos políticos em relação às línguas e, quem sabe, assim esperamos, que sejam mais
animadores para o ensino do espanhol no Brasil, haja vista que, pelo apresentado acima, neste
capítulo, as políticas linguísticas para o espanhol (e para as outras línguas estrangeiras) foram
momentâneas e circunstanciais, uma vez que não existe sobre esse tema um programa de Estado
claro e explicitado.
43
Explicamos inicialmente a junção desses três termos/temas que dão origem ao título do
capítulo. No nosso entendimento, como esclareceremos na seção 2.1, as políticas linguísticas
não são apenas planejamento e, sendo assim, acreditamos que as atitudes e as representações
constituem gestos de políticas linguísticas12. Como já foi anunciado anteriormente na
introdução desta tese, optamos por usar o par atitudes e representações ao mesmo tempo porque
entendemos que nosso trabalho versa sobre as duas coisas, uma vez que adota metodologia com
elementos quantitativos (questionários), numa parte, e com características qualitativas
(entrevistas), na outra. Além disso, entendemos que as atitudes e as representações estão
constantemente agindo sobre as práticas. No entanto, para não cairmos em anacronismos, em
alguns casos, trataremos de um ou do outro termo individualmente, como fazemos a seguir na
contextualização histórica de um dos principais estudos sobre atitudes linguísticas. Nesse caso,
não poderíamos discorrer sobre representação linguística.
Quando se faz uma revisão da literatura acerca das atitudes linguísticas, inevitavelmente
o pioneiro trabalho de Wallace Lambert (1967) e seus colaboradores, realizado em Montreal,
nos anos 1960, na área da Psicologia Social, deve estar presente. Nele, os autores investigaram
as atitudes linguísticas de jovens universitários canadenses falantes bilíngues de inglês e
francês. O método de investigação utilizado para aquele estudo foi o indireto, de modo que os
informantes não sabiam explicitamente o objetivo da pesquisa. A técnica usada para aquelas
medições ficou conhecida como técnica dos falsos pares, ou pares ocultos (matched guise).
Originalmente, essa técnica consistiu em gravar falantes bilíngues que dominassem as duas
línguas sobre as quais se pretendia investigar as atitudes linguísticas.
Essas gravações eram ouvidas por informantes (juízes ou jurados), também bilíngues,
que emitiam julgamentos pensando que eram as vozes de duas pessoas diferentes. O que se
12
Nesta tese, optamos por não usar o termo Glotopolítica, acunhado por Guespin e Marcellesi (1986),
apesar de sabermos que ele tem sido amplamente usado como sinônimo de Política linguística e parece
ser um conceito mais abrangente do que Política linguística. Arnoux (2011, p. 43) define assim o termo
glotopolítica: “o estudo das intervenções no espaço público da linguagem e das ideologias que ativam e
sobre as que incidem, associando-as com posições sociais e indagando nos modos em que participam
no questionamento, instauração, reprodução ou transformação de entidades políticas, relações sociais e
estruturas de poder tanto no âmbito local ou nacional como regional ou planetário” (tradução nossa).
44
pedia aos juízes era que descrevessem/avaliassem, numa escala de muito a muito pouco, os
falantes donos das vozes do ponto de vista da beleza física, da religiosidade, da inteligência, da
confiabilidade, da simpatia, do caráter, entre outros. No fundo, pensavam que estavam emitindo
julgamentos sobre a voz das pessoas, mas estavam emitindo pareceres sobre as línguas.
Os resultados dessa investigação pioneira mostraram uma atitude positiva dos
anglófonos e dos francófonos para com as vozes quando liam textos em inglês. Chama a
atenção, nesse estudo, o fato de os francófonos valorizarem positivamente aos que leram os
textos em inglês e terem uma atitude mais negativa que os anglófonos em relação às gravações
feitas em francês. Concluíram os autores que, no Canadá, o inglês e seus falantes gozavam de
um prestígio e pesava sobre o francês e seus falantes um estigma. Para Labov (2008, p. 176),
13
“durante muito tempo a noção de representação linguística se confundiu com a de atitude”
(GUEUNIER, 1997 apud CALVET, 2004, p. 163, tradução nossa).
45
Nas palavras das autoras se evidencia a importância que se deve dar às representações
sobre as línguas, haja vista que elas agem como norteadoras das escolhas que os falantes fazem.
Essas escolhas podem ser traduzidas por práticas e políticas linguísticas, que estão implicadas
por representações. Entre outros postulados, Moscovici (1989 apud PETITJEAN, 2009, p. 34)
14
“o termo atitude linguística se emprega como sinônimo e sem uma verdadeira matização do
significado, como representação, norma subjetiva, avaliação subjetiva, juízo e opinião, para designar
qualquer fenômeno ou caráter epilinguístico que tenha relação com a língua” (LAFONTAINE, 1997
apud CALVET, 2004, p. 162, tradução nossa, itálico do autor).
15
“por um lado, falaríamos de consciência linguística (a disposição sobre o próprio sistema, sobre outros
ou sobre a particular relação que se estabelece entre diferentes línguas); também se apontam questões
de prestígio, noções socioculturais, econômicas e inclusive políticas que transcendem ao sistema e que
afetam a quem o usa, próprios ou alheios; em última instância, Fasold (1984) reconhece que a própria
atitude com respeito a uma língua comporta inevitavelmente uma valoração sobre sua supervivência”
(MARTÍNEZ, 2008, p. 230, tradução nossa).
46
16
“uma representação não pode ser concebida sem referência às práticas que lhe estão relacionadas –
que às vezes são a única manifestação de alguns aspectos de que são partes constituintes” (FLAMENT,
2001 apud PETITJEAN, 2009, p. 32, tradução nossa).
17
“as imagens e as concepções que os atores sociais fazem de uma língua, do que são suas normas, suas
características, o seu status em relação a outras línguas” (MOORE, 2004 apud PETITJEAN, 2009, p.
40, tradução nossa).
47
ao conceito de imaginário, e com o qual operamos, Canut (1995 apud CALVET, 2004, p. 161)
afirma que é o “conxunto de normas avaliativas subxetivas que caracterizan as representacións dos
suxeitos sobre as linguas e as prácticas lingüísticas, salientable a través dos discursos epilingüísticos.
Considera a relación persoal que o suxeito mantén coa língua”18.
No que diz respeito aos estereótipos19, uma definição que nos parece pertinente é a
seguinte: “o estereótipo é o conjunto de informações e crenças relacionadas a categorias de
objetos, reelaboradas em uma imagem coerente e constante, em condição de sustentar e
reproduzir o preconceito diante dos objetos” (MAZZARA, 1999, p. 14). Notamos nas palavras
do autor que o estereótipo e o preconceito estão atrelados, de maneira que, conforme Simão
(2014, p. 245), “o primeiro compõe o núcleo cognitivo do segundo”. Ainda de acordo com
Simão (2014, p. 245, baseada em AMOSSY & PIERROT, 1997/2001), “o estereótipo atravessa
a questão da opinião e do sentido comum, da relação com o outro e da categorização, e permite
que estudemos as interações sociais, a relação dos discursos com os imaginários sociais e, em
termos mais abrangentes, a relação entre linguagem e sociedade”. No fundo, de alguma forma,
quando colocamos os participantes da pesquisa em situações de emissão de pareceres sobre os
lugares das línguas, estamos trabalhando também com estereótipos.
Os estereótipos servem, além disso, segundo Simão (2014, p. 245 fundamentada em
TAJFEL, 1972) para “transformar diferenças menos claras em diferenças mais nítidas, ou então
criar diferenças onde elas não existem”. De certa forma, os estereótipos simplificam o mundo
social, tão complexo, e proporcionam “uma espécie de roteiro a ser acionado para o
funcionamento das interações” (SIMÃO, 2014, p. 245).
Voltando a tratar das atitudes linguísticas, para López Morales (1993), elas só podem
ser positivas, de aceitação, e negativas, de negação, ou seja, não existem atitudes neutras. Para
Moreno Fernández (1998, p. 179), “una actitud lingüística favorable o positiva puede hacer que
un cambio lingüístico se cumpla más rápidamente o que en ciertos contextos predomine el uso
de una lengua en detrimiento de otra”20. O referido autor expõe que uma atitude favorável ou
18
“conjunto de normas avaliativas subjetivas que caracterizam as representações dos sujeitos sobre as
línguas e as práticas linguísticas, destacável através dos discursos epilinguísticos. Considera a relação
pessoal que o sujeito mantém com a língua” (CANUT, 1995 apud CALVET, 2004, p. 161, tradução
nossa).
19
Para Calvet (2004, p. 181), “os estereótipos não são uma coisa nova e sem dúvida sempre
acompanharam os contatos entre os povos”. O autor cita um conhecido provérbio que se remonta ao
século XVII e que mistura homens e línguas: “o alemão hurra, o inglês chora, o francês canta, o italiano
representa uma farsa e o espanhol fala” (tradução nossa).
20
“uma atitude linguística favorável ou positiva pode fazer que uma mudança linguística se cumpra
mais rapidamente ou que em certos contextos predomine o uso de uma língua em detrimento de outra”
(MORENO FERNÁNDEZ, 1998, p. 179, tradução nossa).
48
positiva pode fazer com que uma mudança linguística ocorra mais rapidamente ou que o ensino-
aprendizagem de uma língua estrangeira seja mais produtivo. Por outro lado, uma atitude
desfavorável ou negativa pode fazer com que uma língua seja deixada de lado, além de impedir
a difusão de uma variante ou que ocorra uma mudança linguística. Para o autor, a atitude é a
manifestação de um falante sobre a sua língua ou sobre a língua dos outros, assim como quanto
ao uso das línguas.
Assim como Martínez (2008), citado anteriormente, Moreno Fernández (1998, p. 181)
também menciona que uma das bases que sustentam as atitudes linguísticas é a consciência
linguística. Nas palavras do autor,
De acordo com Lambert e Lambert (1966, p. 77), a atitude é “uma maneira organizada
e coerente de pensar, sentir e reagir em relação a pessoas, grupos, questões sociais ou, mais
genericamente, a qualquer acontecimento ocorrido em nosso meio circundante”. Além disso,
na composição das atitudes estão as crenças, os pensamentos, os sentimentos e as reações. É na
e pela junção desses e de outros componentes que se forma uma atitude. Silva-Corvalán (2001,
p. 67) afirma que “el estudio de las actitudes subjetivas hacia la lengua es, pues, en cierta medida
un estudio de los estereotipos lingüísticos”22. Simão (2014), apoiada no conceito de estereótipo
presente em Lippman (1966/1972), assinala em seu estudo que se não houvesse os estereótipos,
o homem seria
21
“os falantes sabem que certos fatos linguísticos têm consequências sociais, sabem que sua variante de
fala pode ser considerada positiva ou negativamente, sabem que podem eleger outras línguas ou outras
variantes em função de seus objetivos e ao mesmo tempo têm opiniões sobre as línguas e seus falantes,
assim como sobre o prestígio que essas línguas e variantes têm e aportam a seus falantes” (MORENO
FERNÁNDEZ, 1998, p. 181, tradução nossa).
22
“o estudo das atitudes subjetivas em relação à língua é, pois, em certa medida um estudo dos
estereótipos linguísticos” (SILVA-CORVALÁN, 2001, p. 67, tradução nossa).
49
Ainda no que tange aos estereótipos, Silva-Corvalán (2001, p. 108) afirma que “la
tendencia a estereotipar, es decir, a percibir y ordenar el mundo objetivo en términos de
categorías sin excepciones, es típica de los seres humanos”24. Na mesma linha de raciocínio, a
referida autora conclui que os estereótipos não são positivos nem negativos, porém, necessários.
De igual monta, van Dijk (2008, p. 213) acena que os estereótipos são “representaciones
mentales de las experiencias personales que se van almacenando a partir de acciones, hechos o
situaciones específicas”25. Nesse sentido, é possível afirmar que as pessoas estão sempre aptas
a estereotipar e colocar determinados grupos de pessoas ou línguas ou culturas em
23
“uma adequada definição do preconceito contém dois ingredientes essenciais. Tem que haver uma
atitude favorável ou desfavorável, e deve estar vinculada a una crença excessivamente generalizada (e
portanto errónea)” (ALLPORT, 1977, p. 27, tradução nossa).
24
“a tendência a estereotipar, isto é, a perceber e ordenar o mundo objetivo em termos de categorias sem
exceções, é típica dos seres humanos” (SILVA-CORVALÁN, 2001, p. 108, tradução nossa).
25
“representações mentais das experiências pessoais que se vão armazenando a partir de ações, fatos ou
situações específicas” (VAN DIJK, 2008, p. 213, tradução nossa).
50
compartimentos subjetivos que vão sendo criados ao passo que se conhecem outras culturas,
modos de ser e fazer de outras pessoas e grupos.
Diante do exposto, parece-nos pertinente apresentar nesta tese uma proposta de união e
delimitação daquilo que entendemos como atitudes linguísticas e como representações
linguísticas. Essa tentativa de delimitação, a nosso ver, se faz necessária porque, a partir de
leituras recentes (PETITJEAN, 2009; CALVET, 2004), por exemplo, tem nos parecido mais
adequado, por um lado, discorrermos sobre representações linguísticas, uma vez que esse termo
parece abrir espaço, segundo os contornos dados ao nosso trabalho, para uma discussão mais
ampla, além da simples reação que fazem os informantes ao serem indagados acerca de algum
aspecto linguístico ou de alguma língua, por exemplo. Por outro lado, não podemos deixar de
assinalar que trabalhamos com as atitudes linguísticas e isso fica claro na formatação que demos
aos questionários de pesquisa e em alguns itens da própria entrevista, buscando nos
participantes uma reação imediata a determinadas situações semi-hipotéticas. Para Calvet
(2004), a linguística adaptou e aproveitou as metodologias das pesquisas sobre atitudes
linguísticas (até então da área da Psicologia Social) para o desenvolvimento de estudos sobre,
primeiramente, insegurança linguística e, depois, representações linguísticas. Gueunier (1997,
p. 247 apud RODRIGUES, L., 2012, p. 363) explica que
26
Canut (1996 apud CALVET, 2004, p. 161-162) define imaginário linguístico como sinônimo de
representação linguística, quando menciona que “o estudo das representações dos falantes (ou o estudo
do imaginário linguístico) [...]” (tradução nossa).
27
Para uma visão geral acerca dos primeiros trabalhos desenvolvidos no Brasil sobre atitudes
linguísticas, sugerimos a leitura da tese de Doutorado de Botassini (2013). Além disso, para uma
52
Como se nota, há que se ter cuidado para não confundir os conceitos, embora estejam
bastante relacionados. Devemos observar, também, que esses temas (atitudes, representações,
estereótipos, imaginários etc.) apresentados acima, alguns com conceituações mais definidas, a
depender da área em que são abordados, podem ser usados com significados que podem
divergir, especialmente em virtude do objeto de análise.
Que o poder decida sobre as línguas não é uma atividade recente da humanidade. Pelo
contrário, desde muito antes de pesquisadores cunharem o termo política linguística já se
tentava normatizar as línguas, definir seu status social, escolher uma em detrimento de outras,
criar suas ferramentas de produção escrita (manuais, gramáticas, dicionários etc.) e, não se pode
aproximação às diversas definições de atitudes linguísticas, seus componentes, como se formam, como
se medem, entre outros, indicamos também a leitura da tese de Balthazar (2016).
53
duvidar, já se havia percebido que as línguas são vigorosos instrumentos de poder. No entanto,
conforme Calvet (2007), foi só no século passado, na sua segunda metade, que o termo ou a
disciplina política linguística passa a fazer parte das preocupações e publicações científicas no
ambiente acadêmico. Um dos pesquisadores pioneiros nessa área foi Einar Haugen (1959),
responsável pela inclusão do termo language planning (traduzido ao português como
planificação ou planejamento linguístico), quando apresentou resultados de seus estudos sobre
questões linguísticas na Noruega. Outro autor que merece ser citado como representativo é
Heinz Kloss (1969), cujo trabalho serve de referência nessa área de estudo. Esse autor
estabelece pela primeira vez a distinção entre planejamento de corpus e planejamento de status.
O primeiro diz respeito à intervenção nas formas da língua, na ortografia etc., e o segundo se
refere às funções sociais da língua, seu prestígio em relação a outras línguas, por exemplo.
No Brasil, por exemplo, onde historicamente se privilegiou os estudos variacionistas,
não faz mais de três décadas que os estudos sobre políticas linguísticas se iniciaram de forma
consistente sua trajetória de lutas por um espaço na área da sociolinguística. Isso não quer dizer
que não se fez política linguística aqui desde a chegada dos portugueses. Como publicações que
são referências no meio acadêmico brasileiro, devemos citar a tradução para o português do
trabalho de Calvet (2007), as coletâneas organizadas por Orlandi (1988; 2007), Nicolaides et
al. (2013), Fanjul e Castela (2011), entre outros artigos e capítulos de livros. Além disso, há um
número especial (n. 32) da revista Gragoatá, organizado por Savedra e Lagares (2012) dedicado
aos estudos sobre políticas linguísticas.
É necessário observarmos que o conceito de política linguística é bastante heterogêneo,
com definições variadas e que foram sendo ampliadas e modificadas ao longo dos anos. De
forma resumida, a maioria desses conceitos adota na sua base uma noção clássica de política
linguística: de um lado estão as políticas linguísticas e de outro está o planejamento linguístico.
De acordo com Calvet (2007, p. 11), política linguística é a “determinação das grandes decisões
referentes às relações entre as línguas e a sociedade” e o planejamento linguístico consiste na
implementação dessas políticas. Fica claro que são dois eixos que se inter-relacionam e um é
dependente do outro. De acordo com o autor, na maior parte dos casos, as políticas linguísticas
são iniciativa do Estado ou de uma entidade que disponha no seio do Estado de certa autonomia
política. No Brasil, não há uma entidade oficial responsável direta e exclusivamente pelo
tratamento das políticas linguísticas, como ocorre em outros países, por exemplo28. Ainda, o
28
O caso da Espanha é um exemplo particular de órgãos atuantes em políticas linguísticas, como a Real
Academia Espanhola e o Instituto Cervantes, responsáveis pela difusão da língua espanhola no mundo.
54
autor acena que “qualquer grupo pode elaborar uma política linguística [...] mas apenas o Estado
tem o poder e os meios de passar ao estágio do planejamento, de pôr em prática suas escolhas
políticas” (CALVET, 2007, p. 20-21). Para Lagorio (2011, p. 28),
29
“o debate sobre Políticas Linguísticas deve incluir, não somente os discursos legais, senão,
principalmente as práticas sociais cotidianas que implicam atitudes, decisões em relação às línguas, no
micro universo cotidiano, isto é, não somente as prescrições normativas de caráter legislativo”
(LAGORIO, 2011, p. 28, tradução nossa).
55
discussão ao evidenciar que socialmente as línguas têm pesos diferentes no sistema linguístico
mundial. Para ele,
Resulta evidente, portanto, que, do ponto de vista social, não todas as línguas
têm o mesmo valor, nem o mesmo peso no sistema linguístico mundial. E isso
não depende apenas do número de falantes que as utilizam, mas de diversos
critérios relacionados à presença da língua no mundo, nos mais variados
âmbitos de uso (LAGARES, 2013b, p. 387, itálico do autor).
Como faltam critérios técnicos e específicos para que ocorra atribuição de valor às
línguas, ela é oriunda das crenças e das ideologias dos sujeitos envolvidos no processo. A
depender da posição e das forças desses sujeitos no jogo das relações de poder, as línguas vão
sendo colocadas em pódios linguísticos. Para tentar medir o peso e o valor das línguas no
mundo, Calvet (1999) faz referência a um modelo gravitacional, no qual as línguas se ligam
entre si por meio dos sujeitos bilíngues. Nesse modelo, cujo objetivo é situar a organização das
relações entre as línguas no mundo, algumas línguas supercentrais giram em torno de uma
língua hipercentral, o inglês. Entre essas línguas supercentrais estão o português, o espanhol, o
alemão, o francês, entre outras. Gravitam em torno das línguas supercentrais algumas centenas
56
de línguas centrais (por exemplo, em volta do francês gravitam o bambará, o bretão, o wolof
etc), e à volta das línguas centrais gravitam milhares de línguas periféricas.
Os indicadores usados para se medir os pesos das línguas são, por exemplo: número de
falantes, quantidade de prêmios Nobel de Literatura, número de artigos na Wikipédia, índice de
penetração da internet, entre outros. Como se pode perceber, analisando os indicadores, não se
trata de um modelo estático, pois há uma dinâmica na relação entre as línguas e esses
indicadores sofrem alterações constantemente. Por exemplo, se nesse modelo o inglês é
apresentado como hipercentral, esta situação pode evoluir ou apresentar-se de maneira
diferente, de acordo com o contexto e ao longo do tempo.
A partir desse modelo gravitacional de Calvet (1999), passamos a tratar especificamente
das línguas com que trabalhamos no nosso estudo, sobretudo fazendo referência às ideologias
linguísticas. Hanks (2008) questiona a padronização sobre o uso de determinadas línguas e
sobre a valorização de algumas em detrimento de outras. Segundo ele, há uma censura aos
modos de falar daqueles que não se adaptam ao padrão pré-estabelecido. A língua inglesa, nesse
caso, seria esse padrão. Conforme o referido autor, “falar uma língua não é dominar um código,
mas agir num mundo que é tacitamente aceito. A padronização e a legitimação sancionam
determinadas maneiras de falar, recompensando umas, porém silenciando outras. Seu efeito é
intimidar e censurar o discurso sem o uso de quaisquer atos visíveis de intimidação ou censura”
(HANKS, 2008, p. 52). Um bom exemplo dessa censura pode ser percebido na comunidade
científica, uma vez que a maioria das publicações com relevante fator de impacto é feita em
língua inglesa. Ou seja, quem não sabe essa língua, não acessa esse conhecimento
especializado.
A tão conhecida e discutida globalização assume um papel relevante em relação à
padronização sobre o uso de determinadas línguas e sobre a valorização de uma e não de
outra(s), pois interfere nas mudanças dos padrões tradicionais da sociedade. Vares (2002, p. 24)
afirma que a globalização promove a “uniformização do gosto” e assinala que “a cultura que
temos hoje diante de nós é a cultura da moda e a progressiva destruição das linguagens regionais
e específicas para o surgimento de um único idioma universal – que, obviamente, não é o
Esperanto”. O autor ainda continua pontuando que há na atualidade uma “crise da cultura
contemporânea” e que “não é correto buscar uma identidade em que desapareçam as
particularidades. O universal só pode ser compreendido na medida em que o singular
permanece” (VARES, 2002, p. 25). De fato, essa uniformização pelo gosto, pela cultura que
está na moda, serve para o apagamento das minorias linguísticas.
57
Um outro tema que merece ser explicitado são as ideologias. Sobre esse assunto,
citamos duas definições que nos parecem adequadas e que nos servirão de apoio para as análises
posteriores. A primeira definição trata somente de ideologia, sem especificação, e está baseada
em Althusser:
sistemas de ideas que articulan nociones del lenguaje, las lenguas, el habla y/o
la comunicación con formaciones culturales, políticas y/o sociales específicas.
Aunque pertenecen al ámbito de las ideas y se pueden concebir como marcos
cognitivos que ligan coherentemente el lenguaje con un orden
extralingüístico, naturalizándolo y normalizándolo, también hay que señalar
que se producen y reproducen en el ámbito material de las prácticas
lingüísticas y metalingüísticas, de entre las cuales presentan para nosotros
interés especial las que exhiben un alto grado de institucionalización.30
30
“sistemas de ideias que articulam noções de linguagem, as línguas, a fala e/ou a comunicação com
formações culturais, políticas e/ou sociais específicas. Ainda que pertençam ao âmbito das ideias e se
possam conceber como marcos cognitivos que ligam coerentemente a linguagem com uma ordem
extralinguística, naturalizando-o e normalizando-o, também há que destacar que se produzem e
reproduzem no âmbito material das práticas linguísticas e metalinguísticas, dentre as quais apresentam
para nós interesse especial as que exibem um alto grau de institucionalização” (DEL VALLE, 2007, p.
20, tradução nossa).
58
No Brasil, por exemplo, essa naturalização do lugar dado ao inglês se evidencia nos
discursos institucionais, nos programas de incentivo à aprendizagem de línguas estrangeiras,
nas publicações científicas, entre outros. Woolard (2007, p. 134-135), sobre o status adquirido
pelas línguas, assinala que as pessoas
Esse poder conferido à língua inglesa parece, em muitos casos, que é inerente à língua,
como se ele não fosse resultado de políticas linguísticas (não apenas tomadas no âmbito do
Estado) que fizeram e fazem como que se atribua ao inglês todo esse prestígio. Hamel (2013,
p. 337) menciona que “a suposta supremacia intrínseca do inglês carece então de toda base
objetiva, mas opera como um constructo ideológico muito poderoso em nossos países”. A falta
de base objetiva a que se refere o autor diz respeito a não se ter critérios e elementos que possam
conferir objetivamente mais ou menos valor a uma língua. A riqueza ou a pobreza de uma língua
está no campo da subjetividade, e se manifesta também por meio das atitudes e representações
dos falantes.
De acordo com Damiana (2011, p. 885), quando se refere a questões relacionadas ao
poder e à supremacia da língua inglesa como língua estrangeira no Brasil, esse fenômeno da
supervalorização dessa língua ocorre “Graças a Legitimação e Reificação do status adquirido
pela língua inglesa, bem como pelos países em que a mesma é a língua mãe, tal crença passa a
fazer parte do coletivo, um pressuposto compartilhado em larga escala”. Nossa reflexão, nesse
momento, objetiva a questionar essa naturalização do inglês como essencial para o sucesso nas
mais diversas áreas da sociedade. A respeito dessa vinculação entre a língua inglesa e a certeza
do sucesso, Damiana (2011) afirma que
31
“Os estudos sociolinguísticos nos mostram como a ideologia do anonimato permite consolidar a
hegemonia exercida pelas línguas majoritárias. Ao dizer hegemonia, quero dizer que estas línguas
conseguem o que Raymond Williams (1977) chamou a saturação da consciência, a qual permite
naturalizar sua posição dominante e situá-la acima de qualquer questionamento”. (WOOLARD, 2007,
p. 133-134, tradução nossa).
59
Tornou-se hábito crer nessa falácia [a do sucesso] graças aos status dos países
envolvidos, cuja língua inglesa é a língua mãe. Os países chamados de
primeiro mundo representam um sucesso ideológico ainda maior do que o
“simples” sucesso profissional cotidiano. Não basta conquistar um bom
trabalho, um bom salário. Dissemina-se a necessidade das roupas mais caras,
das inúmeras viagens executivas, dos mais atuais equipamentos eletrônicos.
E, além da contaminação por esse ideal, ocorre a subsequente, que é a crença
de que tal ideal só pode ser alcançado mediante a proficiência do indivíduo na
língua inglesa, por ser através de seu uso que “todas as portas podem ser
abertas” (DAMIANA, 2011, p. 884).
Seguindo essa mesma perspectiva de exame das políticas linguísticas, vale a pena
destacar que nas universidades brasileiras, especialmente nas ciências naturais e exatas, o
monopólio linguístico conferido ao inglês é parte de um processo “naturalizado” que culmina
numa série de outros desdobramentos, como, por exemplo, a escolha por escrever e publicar
em inglês e em revistas internacionais os resultados das pesquisas, a exigência de proficiência
em inglês para ingressar ou permanecer nos programas de pós-graduação stricto sensu
brasileiros, assim como incluir na lista de países preferenciais para intercâmbio dos seus alunos
aqueles países cuja língua de comunicação seja a inglesa.
No que se refere à língua espanhola, essa assume, atualmente, conforme Hamel (2004),
quatro fronteiras territoriais e metafóricas da identidade linguística: língua dominante,
dominada, fronteiriça e internacional. Esses quatro eixos ou fronteiras identitárias são
resultados dos contatos e conflitos históricos pelos quais passou/passa a língua espanhola, em
que pese hoje haver mais falantes monolíngues do espanhol que bilíngues.
No caso de língua dominante, a sua expansão no continente americano é um caso talvez
nunca visto antes na história das línguas. Foi a língua de um grande império que dominou
simbólica e territorialmente uma grande região do continente. Seu poderio se assentou, dominou
e fez sucumbir centenas de línguas indígenas.
Em relação ao espanhol como língua dominada, sua penetração nos Estados Unidos da
América (EUA) como língua de imigração e sem status oficial é um caso que merece destaque.
Naquele país, que conta com mais de trinta milhões de falantes de espanhol, há uma clara
política que “se centra por razones estratégicas bien definidas en el combate del español en los
ámbitos de prestigio, sobre todo en la educación, la academia y en otras instituciones públicas,
reforzando una política monolingüe de Estado”32 (HAMEL, 2004, s/p.).
No que diz respeito ao espanhol como língua de fronteira, ele vive situações diferentes
na América Latina e na Europa. Para Hamel (2004, s/p.) “estas fronteras, otrora demarcaciones
claras de identidades lingüísticas nacionales, se comienzan a desplazar y diluir en el continente
32
“se centra por razões estratégicas bem definidas no combate do espanhol nos âmbitos de prestígio,
sobretudo na educação, na academia e em outras instituições públicas, reforçando uma política
monolíngue de Estado” (HAMEL, 2004, s/p, tradução nossa).
61
americano, mientras se refuerzan en España”33. O que tem feito com que ocorra essa diluição
(ainda elementar) das fronteiras no continente americano são as tentativas de integração
regional entre os países hispanos e o Brasil, com aumento de intercâmbios linguísticos e
culturais entre os países vizinhos.
No caso de língua internacional, os argumentos a favor do espanhol sempre estão
relacionados a posições geográficas dos seus países, ao número de falantes, ao número de países
onde é língua oficial, aos vários órgãos internacionais onde é língua oficial e de trabalho, aos
indicadores de crescimento, entre tantos outros números citados com recorrência nos discursos
de promoção do espanhol como língua internacional. Como argumentos desfavoráveis, quando
se quer citá-los, esses têm a ver com questões econômicas. Para Hamel (2004, s/p.), “la
producción económica conjunta de los países hispanos permanece endeble, su comercio es
disperso y ninguno de sus países miembros pertenece al círculo de los Estados líderes en el
mundo”34. Argumentos como o de “pátria comum” são recorrentes no sentido de se
criar/valorizar o conceito de “pan-hispanismo” e de se forjar uma “unidade linguística” a favor
da internacionalização da língua espanhola.
No que diz respeito às políticas para a língua portuguesa, Oliveira (2013) resume em
três fases a geopolítica recente dos países de língua portuguesa. São elas:
É nessas últimas duas fases que ocorrem as políticas linguísticas mais significativas do
passado recente, que destacaremos aqui, a saber: a criação do Instituto Internacional da Língua
Portuguesa (IILP), em 1989; a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
33
“estas fronteiras, outrora demarcações claras de identidades linguísticas nacionais, começam a se
deslocar e a se diluir no continente americano, enquanto se reforçam na Espanha” (HAMEL, 2004, s/p.,
tradução nossa).
34
“a produção econômica conjunta dos países hispanos permanece frágil, seu comércio é disperso e
nenhum de seus países membros pertence ao círculo dos Estados líderes no mundo” (HAMEL, 2004,
s/p., tradução nossa).
62
(CPLP), em 1996; o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP90), que começou a ser
implantado em 200935. Esses fatos político-linguísticos citados, entre outros, derivam de uma
política que busca a expansão e valorização da língua portuguesa, ou seja, se trata de um
planejamento funcional da língua. Para escapar um pouco dos números (tantos países, tantos
milhões de falantes etc.) relativos ao português, tão usuais quando se quer mostrar o valor e o
poderio de uma língua, optamos por citar novamente Oliveira (2013, p. 62) quando discorre
sobre os fatores que promoveram um maior interesse pelos países da CPLP após 2004:
“ampliou-se o letramento da população, a inserção dos países na sociedade internacional, o
crescimento da classe média, criando uma produção e um consumo cultural mais sofisticados,
mais viagens ao exterior e maior acesso à internet”.
Na mesma perspectiva de análise, no caso das políticas para as línguas em situação de
minorização36, vale citar a cooficialização de onze línguas diferentes distribuídas em dezessete
municípios, pertencentes a sete estados brasileiros, conforme dados apresentados no livro Leis
e línguas no Brasil: o processo de cooficialização e suas potencialidades (MORELLO, 2015).
A seguir, apresentamos as línguas e os respectivos municípios:
35
De acordo com Oliveira (2013, p. 54), “o AOLP90 marca o início de um modelo novo de gestão da
língua – internacional, convergente, multilateral e comunitário, no sentido de que realizado no espaço
dos países da CPLP”.
36
Preferimos usar os termos línguas em situação de minorização ou línguas minorizadas porque
entendemos que não são línguas minoritárias, termo comumente mais empregado nos trabalhos
sociolinguísticos. Sobre isso, Ponso (2017, p. 193-194) explica que “a minorização (termo usado em
profusão na literatura sociolinguística hispânica sobre a situação do catalão, galego, valenciano etc) não
depende do número de falantes, mas do status de que goza a língua. Também pode acontecer de haver
línguas majoritárias minorizadas, pois, embora usadas pela maioria das respectivas populações, não
gozam de estatuto de oficialidade, por exemplo”.
63
Nos incisos II e IV do Art. 14 dessa mesma Lei, que tratam da seleção de professores e
alunos, respectivamente, fica explícito o caráter bilíngue a que se propunha a universidade na
sua concepção:
Outro fato de política linguística recente presente na fronteira brasileira com países
hispano-americanos é a criação, em 2005, do Programa de Escolas Interculturais Bilíngues de
Fronteira (PEIBF)37, cujo objetivo é promover o intercâmbio entre professores dos países do
MERCOSUL e a integração de estudantes e professores brasileiros com os alunos e professores
dos países vizinhos. De acordo com Pereira (2014, p. 11),
Sobre a integração regional no Sul do continente, Arnoux (2011, p 53) acentua que
37
Atualmente o programa é chamado de Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF).
65
Apresentamos acima iniciativas com vistas à integração regional dos países latino-
americanos, com especial atenção para a relação entre a língua portuguesa e a língua espanhola
na fronteira. Um pouco mais acima, tratamos das questões relacionadas à cooficialização de
línguas em situações de minorização, sejam elas indígenas ou de imigrantes, em vários
municípios brasileiros. Um pouco antes disso, fizemos referência a alguns fatos político-
linguísticos relacionados à língua portuguesa com vistas à sua promoção e difusão no mundo
contemporâneo. Anteriormente a isso, expusemos os constructos com os quais lidam os falantes
da língua espanhola, seja como língua dominante ou dominada, fronteiriça ou internacional.
O que desencadeou essas breves apresentações dessas políticas linguísticas relacionadas
a essas línguas e nesses contextos, especificamente, foi a exposição do modelo gravitacional
das línguas (CALVET, 2007), que se alinha, conforme vimos discutindo, ao planejamento
funcional das línguas, e, por isso, nossa intenção foi a de apresentar um quadro das línguas com
as quais trabalhamos neste estudo. Não podemos nos esquecer que essas iniciativas e gestos
políticos relacionados às línguas são motivados por ideologias linguísticas, algumas bem
nítidas, outras nem tanto.
Diante do exposto, o que fica claro, em que pese à tendência de se naturalizar a língua
inglesa como universal e essencial para o mundo atual, há políticas que buscam a integração
regional dos países latino-americanos. Há também intentos político-linguísticos de valorização
das línguas que não gozam de prestígio para além dos falantes dessas línguas. Sendo assim,
teríamos exemplos e argumentos para assegurar que as políticas linguísticas para todos os casos
com os quais trabalhamos nesta pesquisa avançaram e seguem avançando.
38
“as línguas estão bem posicionadas para cumprir um papel na construção de novas subjetividades
sensíveis às problemáticas sociais contemporâneas. Não será a busca ilusória de uma comunidade
linguística homogênea senão diversas articulações, com variadas modalidades, das línguas da região
cujo conhecimento deverá estimular-se não somente a partir do sistema educativo mas também dos
meios, as práticas profissionais e artísticas, os empreendimentos empresariais, as atividades científicas
e tecnológicas” (ARNOUX, 2011, p 53, tradução nossa).
66
Em branco39
39
Algumas páginas estão em branco para que haja compatibilidade no número de páginas entre a versão
digital e a versão impressa desta tese, e para atender a normatização vigente, que estabelece que os
capítulos não podem iniciar no verso da página na versão escrita.
67
A realização de um estudo que envolve seres humanos e coleta de dados por meio de
pesquisa de campo é sempre desafiadora, mesmo que o pesquisador já possua experiência na
tarefa de entrevistar pessoas e de aplicar questionários, como é o nosso caso. A fim de atingir
o objetivo central da pesquisa, que é de investigar e discutir atitudes e representações
linguísticas em torno da língua espanhola em relação a outras línguas no meio escolar
paranaense, determinamos alguns itens metodológicos que serão detalhados a seguir.
A organização estrutural desta metodologia está assim exposta: o primeiro item a ser
tratado neste capítulo é a descrição dos instrumentos utilizados para a constituição do corpus
da pesquisa. O segundo tópico aborda as convenções para a transcrição das entrevistas. O
terceiro tema diz respeito à metodologia adotada para a análise dos dados. O quarto assunto
versa sobre o armazenamento dos materiais que não podem ser anexados à tese por motivo de
sigilo, como os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE’s) assinados pelos
informantes e os áudios das entrevistas, e, de volume, como os questionários impressos e
respondidos pelos informantes. O quinto item tem a ver com a escolha e a descrição das três
escolas. A sexta parte desta metodologia contempla a descrição dos grupos de informantes. O
último tópico tem a ver com a tramitação do projeto de pesquisa para aprovação juntos aos
órgãos reguladores e os percalços encontrados pelo caminho.
3.1.1 Questionário
40
Seguindo uma terminologia do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP) no que se refere a testes como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), por
exemplo, utilizamos a expressão “item” para designar as perguntas contidas no questionário.
Resolvemos usar este termo considerando que em alguns casos não se trata de perguntas, e sim, de
afirmações, sobre as quais os informantes deveriam assinalar a sua concordância ou discordância.
68
pesquisa e todos os procedimentos éticos e de sigilo, assim como da não obrigatoriedade da sua
participação. Fizemos a leitura do Termo de Assentimento para criança e adolescente (anexo J)
e pedimos a assinatura dos alunos, que receberam uma cópia assinada por nós do referido termo.
Assim, procederam às respostas dos questionários na sua forma impressa. Além disso,
convidamos os professores que estavam ministrando aula na ocasião da nossa presença para
que respondessem ao questionário específico para eles. Também aproveitamos os intervalos
entre as aulas e o horário de hora-atividade para pedir que outros professores e os diretores
respondessem ao questionário. O tempo médio usado para responder foi de quinze minutos.
Após a entrega dos questionários respondidos, interrogamos os alunos se eles poderiam
levar para casa um questionário para que seus pais o respondessem e se poderiam devolver no
dia seguinte. Os alunos que se manifestaram favoravelmente levaram consigo também duas
cópias do TCLE, sendo que uma delas deveria ser devolvida assinada pelos pais juntamente
com o questionário respondido. Nos dois dias seguintes, retornamos às escolas para recolher os
questionários respondidos pelos pais e para aplicar mais questionários aos professores.
As respostas dos questionários impressos foram passadas para um formulário do Google
Docs. Assim, os registros estão protegidos e podem ser acessados pelo pesquisador em qualquer
lugar. O próprio formulário on line gera os gráficos e os percentuais, mas como a qualidade dos
gráficos é reduzida, tivemos que gerar os gráficos a partir do Excel.
Os informantes das três escolas que responderam aos questionários estão assim
divididos:
Além dos grupos de sujeitos vinculados às três escolas, houve aplicação de questionários
on line a outros dois grupos de informantes, que não precisariam, necessariamente, estar
vinculados a essas escolas. Esses dois grupos são os chefes dos NRE’s e os professores de
espanhol do Estado do Paraná. O contato com eles foi feito da seguinte forma: para os chefes
70
de NRE’s enviamos via e-mail institucional a solicitação para participação na pesquisa. Após
um primeiro envio, em março de 2017, apenas dez dos trinta e dois chefes responderam ao
questionário. Em junho, reenviamos o questionário aos que não haviam respondido e fizemos
contato telefônico. Dessa forma, outros dezenove responderam ao questionário, totalizando
vinte e nove informantes. No caso dos professores de espanhol, o questionário foi enviado, em
março, via e-mail da Associação de Professores de Espanhol do Estado do Paraná (APEEPR),
sendo que vinte e dois responderam ao questionário e, em junho, fizemos novas solicitações
aos técnicos dos NRE’s responsáveis pelas línguas estrangeiras, para que enviassem o
formulário aos professores de espanhol e, dessa forma, mais nove participaram, totalizando
trinta e um informantes.
A realização de entrevistas na nossa pesquisa tem a ver com as diferenças entre atitudes
e representações, conforme expusemos no capítulo anterior. Partimos de uma compreensão de
que as atitudes estão na ordem do agir espontâneo, são reações subjetivas motivadas por algum
estímulo, no nosso caso, relacionadas aos questionários objetivos. No que se refere às
71
representações linguísticas, com base em Petitjean (2009), essas têm uma natureza mais
complexa e dinâmica em comparação às atitudes. As representações se constroem na interação
social, possuem um núcleo que tende a ser compartilhado pelo grupo social e podem ser
contraditórias no sentido de que uma mesma pessoa numa mesma interação pode explicitar
diversas representações sobre o mesmo objeto. No nosso caso, por essas características
apresentadas, as representações linguísticas estão vinculadas sobretudo às entrevistas com os
informantes. Partimos de uma concepção de entrevista proposta por Rocha, Daher e Sant’Anna
(2004, p. 01), que concebe a entrevista como um “dispositivo de produção de textos a partir de
uma ótica discursiva – produção situada sócio-historicamente, prática linguajeira que se define
por uma dada configuração enunciativa que a singulariza”.
Os procedimentos para a realização das entrevistas foram os seguintes: fizemos contato
com a direção dos três colégios para informarmos que procederíamos a mais uma fase da
pesquisa, agora com a realização das entrevistas. Antes de irmos às escolas, explicamos
novamente aos diretores do que se tratava a pesquisa e todos concordaram em nos receber.
Dedicamos uma semana para cada escola, conforme agenda definida com as direções. A
primeira escola onde realizamos as entrevistas foi a escola rural, em Irati. A segunda foi a de
Foz do Iguaçu e a última foi a de Curitiba. Os alunos foram escolhidos pela direção e pela
equipe pedagógica de cada escola. Os professores foram convidados a participar da pesquisa
respeitando sua disponibilidade de tempo na escola, sempre em horário de hora-atividade. Os
pais foram convidados via convite (anexo K), que foi encaminhado por meio de seus filhos,
alunos do colégio, e esses compareceram no colégio para a concessão da entrevista, ou seja,
todas as entrevistas foram feitas nas dependências das três escolas.
Os informantes foram convidados e participaram espontaneamente das entrevistas.
Essas tiveram um tempo médio de vinte e cinco minutos. A entrevista que teve o menor tempo
foi de oito minutos e onze segundos e a que teve maior tempo foi de trinta e oito minutos e
trinta e três segundos. O tempo total das entrevistas, após edição, foi de oito horas e trinta
minutos. As entrevistas foram gravadas em gravador digital da marca Sony, modelo ICD-
PX440, com áudio no formato MP3. A transcrição dos áudios resultou em sessenta e sete
páginas.
No total, foram realizadas vinte e nove entrevistas, conforme apresentamos a seguir:
72
Pedimos à direção que indicasse quatro alunos, sendo desses duas alunas e dois alunos.
Esse foi o único grupo de sujeitos para o qual colocamos como critério essa divisão por sexo41.
É necessário aclararmos que inicialmente havíamos delimitado que entrevistaríamos apenas
dois professores por colégio. No entanto, na escola de Foz do Iguaçu, uma das entrevistadas
não atuava, no primeiro semestre de 2017, como professora do Ensino Médio regular, e sim em
cursos técnicos e no Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM)42 daquele colégio.
Essa informação só fomos ter durante a entrevista. Na escola de Curitiba, uma das entrevistadas
ouviu a entrevista que fizemos anteriormente com outra professora, pois usamos para o nosso
trabalho um espaço coletivo dos docentes daquele colégio, sendo assim, metodologicamente,
há uma diferença nesse caso, pois é possível que ela tenha organizado diferentemente de outros
entrevistados as suas respostas, pois já conhecia previamente as perguntas. Isso não quer dizer
que ela daria respostas diferentes das que ela deu, mas vale, nesse caso, essa observação. Diante
desses dois casos relatados, optamos por fazer uma entrevista “a mais” em cada escola e
também decidimos por validar essas duas entrevistas, haja vista que não entendemos que isso
seria um problema metodológico.
Os professores das três escolas que concederam entrevistas atuam como professores das
seguintes disciplinas: artes, espanhol, filosofia, inglês, geografia, matemática e química. As
áreas de formação dos três diretores são: espanhol, física e inglês. Chamou a nossa atenção o
fato de apenas mães de alunos terem aceitado o convite para conceder entrevistas, ou seja,
nenhum pai esteve presente nessa fase da pesquisa.
41
Alguns estudos usam o termo sexo, outros usam o termo gênero, outros usam a combinação dos dois
sexo/gênero. No nosso caso, preferimos usar apenas o termo sexo, indicando feminino e masculino.
42
O CELEM do Paraná foi um dos primeiros centros de línguas criados no país, em 1986, e se diferencia
de outros centros de línguas no seu funcionamento, no estatuto, no custeio das suas despesas e nas
justificativas para a sua criação, por exemplo.
73
O roteiro de entrevistas (anexo A) foi construído com base em Daher (1998), que prevê
a distinção entre objetivos da entrevista e objetivos da pesquisa, de modo que para a entrevista
é necessário que o pesquisador estabeleça objetivos, problemas, hipóteses e, finalmente,
perguntas a serem efetivamente dirigidas ao informante. O roteiro de entrevistas possui catorze
itens pautados que davam margem a respostas abertas. Consistia, por exemplo, em elucidar
algumas atitudes linguísticas que foram mapeadas por meio dos questionários e que não ficaram
muito claras nos resultados da amostra quantitativa. As entrevistas tinham como objetivo
central produzir material discursivo qualitativo que nos indicasse pistas para investigar as
atitudes e representações sobre os lugares dados às línguas pelo informantes.
Uma vez realizadas as entrevistas, procedemos às edições necessárias dos áudios. Essas
edições consistiram basicamente na exclusão de informações que pudessem identificar
claramente os informantes, como nomes de pessoas, por exemplo, e os próprios nomes dos
entrevistados, que porventura nos descuidamos e mencionamos durante a entrevista. Houve
exclusões também de desvios temáticos, com assuntos aleatórios e que julgamos pouco úteis
para o nosso estudo. Além disso, tentamos excluir ruídos e melhorar a qualidade dos áudios
para facilitar o processo de transcrição.
A metodologia utilizada para a transcrição dos áudios consistiu em transcrever
literalmente as falas, com alguns pequenos ajustes, conforme exemplificados a seguir: quando
o informante disse: “eu tava esperando”, transcrevemos como: “eu estava esperando”. Outro
exemplo: “acabô saindo da grade”, transcrevemos como: “acabou saindo da grade”. Outro
exemplo: “eu não sô muito de estudá línguas”, transcrevemos como: “eu não sou muito de
estudar línguas”. Ademais, vale informar que as palavras escritas integralmente com letras
maiúsculas são inserções do pesquisador durante a entrevista, como no exemplo a seguir:
“também o espanhol e inglês eu acho que as duas são, né, são muito importante. SOBRE A
REFORMA DO ENSINO MÉDIO: eu não sei, a proposta do governo é o inglês, né”. Isso
significa que, durante a fala da entrevistada, fizemos uma pergunta relativa ao que ela achava
sobre a reforma do Ensino Médio.
A ordem de aparição das entrevistas no anexo das transcrições (anexo L) foi a ordem de
realização das entrevistas, exceto no caso de um docente da escola rural, que concedeu
entrevista depois da realização das entrevistas em Foz do Iguaçu e Curitiba.
74
Como se pode notar, pela amplitude da pesquisa, tivemos que selecionar aquilo que nos
chamou mais a atenção para fazer as análises. No total, participaram da pesquisa trezentos e
oitenta e oito informantes. Apenas dois informantes participaram em duas etapas da pesquisa,
respondendo ao questionário e concedendo entrevista, que são os diretores da escola de Foz do
Iguaçu e de Curitiba. Tomamos o cuidado para não entrevistar docentes, pais de alunos e alunos
que já haviam respondido ao questionário.
Pelo que conhecemos das limitações e alcances, dos prós e contras, acerca da adoção de
métodos específicos e escalas de valor para medir atitudes e representações linguísticas, como
a “escala Likert”, o “método do diferencial semântico”, o dos “falsos pares”, por exemplo,
alguns com abordagens diretas e outros com abordagens indiretas dos temas que se queria
investigar, decidimos não adotar nenhum desses métodos e nem escalas já utilizadas. O que
fizemos foi nos inspirar em estudos que indagaram atitudes e representações e que produziram
resultados consistentes sem o uso desses métodos.
Dessa forma, partimos da observação de regularidades de construções nos enunciados
dos informantes presentes nas entrevistas. À medida que líamos e relíamos as transcrições,
fomos localizando e marcando repetições nos modos de argumentar e de dar ênfase às línguas.
Um segundo passo foi compor um quadro geral com aquilo que encontramos de forma mais
reiterada. Nesse quadro, elencamos alguns temas importantes que poderiam ensejar uma
reflexão. Alguns desses temas constituem as análises desenvolvidas neste trabalho, outros
foram sendo excluídos ao passo que não davam margem para uma argumentação que trouxesse
novidade ao nosso estudo.
Numa fase seguinte, iniciamos um processo mais “fino” de análise, especialmente
dedicado a desvendar as repetições nos enunciados dos informantes. Uma nova aproximação
às transcrições objetivou comparar regularidades ou dissonâncias entre os itens da entrevista,
como exposto, por exemplo, na terceira parte do capítulo 5, quando constatamos que, para uma
consulta médica ou odontológica, o espanhol se apresenta como indispensável se ela não pode
ser em português e, para a ciência (usamos o exemplo de uma suposta palestra), o inglês detém
um espaço considerável. Numa última etapa, nos dedicamos a buscar nos resultados dos
questionários percentuais que corroborassem as discussões feitas a partir das regularidades
encontradas nos enunciados das entrevistas.
Do nosso ponto de vista, esse caminho que adotamos para analisar os dados foi
adequado para atingirmos o objetivo central da pesquisa. No entanto, isso não quer dizer que a
75
medição de atitudes e representações linguísticas seja tarefa das mais fáceis. Vandermeeren
(2005 apud Kaufmann, 2011, p. 128) nos alerta que “(...) ambos os sociopsicólogos e
sociolinguistas devem encarar o fato de que a quantificação de atitudes [e representações] ainda
acarreta problemas conceituais e metodológicos. O próprio conceito de atitude e, em especial,
a relação entre atitude e comportamento são sem dúvida questões controversas”. Diante dessas
dificuldades, seguimos o conselho de Lambert e Lambert (1975, p. 103) no sentido de que
devemos ser “extremamente inventivos para inferir a existência e as características de uma
atitude [e das representações]”, justamente porque “as atitudes [e as representações] de um
indivíduo não serão manifestadas clara e abertamente ao pesquisador; elas chegam, muitas
vezes, camufladas, desviadas, encharcadas de preconceito ou cheias de orgulho”
(BALTHAZAR, 2016, p. 44).
Mapa 1 – Localização dos três municípios paranaenses onde estão as três escolas pesquisadas.
43
Disponível em: <http://d-maps.com/carte.php?num_car=10808&lang=en>. Acesso em: 26 set. 2017.
77
Em Irati, fizemos uma consulta via telefone junto ao NRE para saber quais escolas rurais
ofertavam espanhol na matriz curricular do Ensino Médio. Entre as poucas opções apresentadas,
escolhemos o Colégio Estadual Gonçalves Júnior, por suas particularidades descritas adiante.
O colégio teve sua autorização para funcionamento da Educação Fundamental em 1985, por
meio da RES. nº 5609. A autorização para o funcionamento do Ensino Médio ocorreu em 2009,
por meio da RES. nº 238544. Atualmente, no colégio estudam cento e cinquenta e sete alunos,
divididos em nove turmas. Desses, sessenta e seis são alunos do Ensino Médio, divididos em
três turmas.
Esse colégio está localizado na zona rural, a 16 km do centro da cidade de Irati - Paraná.
O colégio leva o nome do distrito onde está localizado, e foi dado esse nome em homenagem
ao engenheiro Joaquim Ferreira Gonçalves Júnior, responsável por demarcar as terras onde os
imigrantes se instalaram. Os primeiros imigrantes a se instalarem no distrito foram os
holandeses, em 1908, e depois os alemães, em 1909. Nos anos seguintes chegaram grandes
levas de imigrantes eslavos, poloneses e ucranianos (ORREDA, 1999). De acordo com Orreda
(1999, p. 33), “em 1912 a população da Colônia foi estimada em 283 famílias com 1358
habitantes”. Hoje, na comunidade residem aproximadamente 60 famílias. Farah, Guil e Philippi
(2008, p. 36-37) mencionam que
44
Consulta feita na página web da SEED-PR. Disponível em:
<http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas/f/fcls/escola/atos/atosOficiaisAut.xhtml>.
Acesso em: 04 ago. 2017.
78
45
Esta construção abriga o museu local, cujo acervo é constituído por utensílios e ferramentas agrícolas
usados pelos imigrantes e seus descendentes. Ao fundo se pode notar a cobertura da quadra de esportes
do colégio onde realizamos a pesquisa.
79
46
A igreja é um dos cartões postais de Gonçalves Júnior. Destaque para a arquitetura eslava.
47
Consulta feita na página web da SEED-PR. Disponível em:
<http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas/f/fcls/escola/atos/atosOficiaisAut.xhtml>.
Acesso em: 04 ago. 2017.
80
quatro alunos, divididos em quarenta e oito turmas. Desses, quatrocentos e três são alunos do
Ensino Médio, divididos em quinze turmas.
3.6 Os informantes
Como é tradição nos estudos sociolinguísticos, preferimos usar o termo informante para
designar as pessoas que participaram da pesquisa, seja concedendo entrevista ou respondendo
questionário. Para Tarallo (2005, p. 86), informante é o “nome dado ao falante que faz parte da
amostra; sujeito da análise”. A delimitação e os critérios de inclusão de informantes foram
elaborados considerando que tínhamos como objetivo pesquisar os lugares que a língua
espanhola ocupa no imaginário dos paranaenses. Para isso, delimitamos três contextos
localizados geograficamente em regiões diferentes do Estado do Paraná, descritos acima.
Definimos, também, quem seriam os paranaenses (nativos ou que estivessem ocupando essa
posição por estarem residindo no Paraná) a serem investigados.
Baseados em De Swaan (2001 apud SOUZA, 2017, p. 284) para quem “el sistema
educacional es el principal responsable por la difusión de las lenguas, sin embargo, él no actúa
48
Antes de iniciarmos a pesquisa nesse colégio, o presidente da APEEPR se afastou das atividades
docentes para cursar Mestrado em uma instituição de ensino superior paranaense. Sendo assim, nas
vezes que estivemos no colégio, não o encontramos.
49
Consulta feita na página web da SEED-PR. Disponível em:
<http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas/f/fcls/escola/atos/atosOficiaisAut.xhtml>.
Acesso em: 04 ago. 2017.
81
Partimos de uma premissa de que a escola é um lugar legítimo (e legitimado) para ser o ponto
de partida na escolha dos participantes. Optamos por sujeitos de pesquisa variados, todos com
algum vínculo com a escola, que estão apresentados a seguir.
Essa escolha se deu considerando que na maioria das escolas paranaenses, nos últimos
anos da Educação Fundamental, esses alunos tiveram a língua inglesa como disciplina de língua
estrangeira. Em vista disso, como no Ensino Médio eles estão estudando a língua espanhola
como língua estrangeira, critério esse definido por nós, e a língua materna deles é a língua
portuguesa, trata-se de um grupo de informantes já com possibilidade de emitir parecer, mesmo
que de maneira indireta, sobre os lugares das línguas na escola e na sua vida cotidiana. Trata-
se, também, de um grupo de sujeitos do qual se espera, por serem os principais interessados na
sua formação, um posicionamento crítico quanto à oferta de línguas no currículo de sua escola,
assim como de outras disciplinas. Se isso não bastasse, a inclusão de jovens na pesquisa é
justificada pela participação deles nas mais diversas atividades de interação, principalmente
aquelas promovidas pelas redes sociais e mediadas por aparelhos eletrônicos como
computadores e telefones celulares.
50
“o sistema educacional é o principal responsável pela difusão das línguas, porém, ele não atua
independentemente do contexto político, econômico e cultural, que modela a hierarquia e interfere na
decisão sobre a aprendizagem das línguas” (DE SWAAN, 2001 apud SOUZA, 2017, p. 284, tradução
nossa).
51
“a atividade escolar (...) é um dos espaços fundamentais em que expõe o arsenal ideológico não
somente em relação às línguas – seja na defesa estratégica da língua escolhida como oficial, seja no
ensino de segundas línguas de outros Estados, senão também no silêncio em torno de línguas que fizeram
parte da configuração histórica das sociedades e que se encontram em situação de risco” (LAGORIO,
2011, p. 27, tradução nossa).
82
Esse grupo de sujeitos é representativo do ponto de vista de que faz parte da comunidade
escolar e, portanto, tem espaço para discutir os rumos que quer para a escola e a educação dos
seus filhos. Além disso, quando colocado comparativamente com os alunos, notam-se aí duas
gerações marcadas, sobretudo, por acesso ao conhecimento e à informação diferentes.
3.6.3 Professores
A inclusão desse grupo de participantes se justifica porque eles são, em certa medida,
os responsáveis por despertar nos alunos uma visão crítica acerca das línguas e sua importância
no mundo.
3.6.4 Gestores
São eles que conduzem as discussões (quando elas ocorrem) sobre a inclusão e retirada
das línguas estrangeiras no currículo das escolas.
cargo de confiança por indicação política. Nem sempre são pessoas com formação na área de
educação. Entendemos que os chefes dos NRE’s representam a voz do Estado e, por isso, são
os transmissores das decisões que ocorrem na SEED-PR aos diretores das escolas. Portanto,
devem estar alinhados aos discursos e políticas estaduais, sob o risco de perderem seus cargos,
por exemplo. Conforme consta no site de cada NRE:
52
Disponível em: <http://www.nre.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=112>.
Acesso em: 05 jun. 2017.
84
certeza de quantos participantes teríamos em cada escola, ou seja, havia um número mínimo de
participantes necessário definido por nós para atender o critério de representatividade de cada
grupo de participantes. Por exemplo, se numa determinada escola houvesse duzentos alunos e
desses apenas quarenta aceitassem participar do estudo, teríamos que buscar outros
participantes em outra escola e, assim, alterar alguns dados metodológicos do projeto, pois
havíamos estipulado um número mínimo de cinquenta alunos.
Quando apresentamos essa limitação ao relator do COMEP, recebemos a orientação de
tentar conseguir essas cartas de anuência/autorização junto aos chefes dos NRE’s sob os quais
as possíveis três escolas estariam subordinadas, pois assim poderíamos escolher qualquer escola
e até mais de uma de cada NRE. Diante disso, iniciamos um longo processo de fazer contatos
com as secretarias dos NRE’s para intermediarem a assinatura da carta de anuência/autorização.
No Paraná, na maioria dos casos, os chefes de NRE são pessoas indicadas por alguma liderança
política local, ou seja, não são funcionários públicos de carreira e, portanto, não estão a serviço
exclusivo daquele órgão.
Conseguimos as cartas assinadas pelos chefes dos NRE’s de Irati e Foz do Iguaçu e as
enviamos novamente ao COMEP para uma segunda apreciação. Não conseguimos a carta do
NRE de Curitiba. Lá (no NRE de Curitiba) nos informaram que deveríamos formalizar um
pedido, via ofício, e encaminhar vários documentos, entre eles o projeto de pesquisa. Toda essa
documentação passaria pela SEED-PR, para análise, que encaminharia para a Superintendência
de Educação do Estado, para emissão de parecer, e esses pareceres tramitariam até o chefe do
NRE de Curitiba, que julgaria se deveria assinar a carta de anuência/autorização. Optamos por
não fazer todo esse trâmite, naquele momento53, uma vez que isso poderia demorar muito
tempo, segundo a informação inicial que tivemos naquele órgão. Explicamos, via Plataforma
Brasil, toda essa situação ao relator do COMEP e, mesmo assim, a decisão tomada foi a de não
aprovar o projeto naquele momento.
A essa altura, as três escolas já estavam definidas e, assim, optamos por entrar em
contato com a direção da escola de Curitiba e pedir essa carta de anuência/autorização. O
problema (para nós, diga-se de passagem) é que estava ocorrendo, nos últimos meses de 2015,
um Processo de Consulta à Comunidade Escolar para Direção de Escola (eleição), ou seja, as
escolas paranaenses estavam passando por um processo eleitoral para escolha de seus diretores
cuja votação ocorreu no dia 03 de dezembro daquele ano. Essa eleição aparentemente não seria
53
Como relatado a seguir, em 2016, tivemos, sim, que fazer todo esse trâmite da documentação para a
aprovação do projeto de pesquisa.
85
54
Essa informação foi repassada pela secretária da escola após nosso contato para saber por que, em 29
de março de 2016, ainda não havia uma posição formal acerca da autorização para a realização da
pesquisa.
86
questionário (deixar de usar o nome dos cargos dos gestores – diretor, chefe de NRE e Secretário
de Educação – para usar somente o termo Comunidade escolar).
Isso pode ser interpretado como uma tentativa de “isentar” e/ou de não associar os atores
oficiais das decisões. Mas o e-mail mais curioso tem um tom de defesa, isto é, o técnico da
SEED-PR cita a Lei nº 11.161/2015 e indica que o Paraná atende essa legislação, baseado na
Deliberação 06/09, do Conselho Estadual de Educação (CEE-PR), que trata da Implantação do
Ensino da Língua Espanhola no Sistema Estadual de Ensino do Paraná, ou seja, demonstrou
que já estavam/estariam preparados para qualquer questionamento e já sinalizou, com isso, que
não adianta criticar o não cumprimento da Lei do Espanhol, pois no Paraná foi criada uma
legislação específica para atender a legislação federal. Outro pedido da SEED-PR dizia respeito
à entrega de declarações dos diretores das três escolas, nas quais devem afirmar que estão
cientes e que concordam com a realização da pesquisa na sua escola. Questionamos o motivo
de tais declarações, se quem autoriza é a SEED-PR e não o diretor da escola (foi justamente por
isso que criaram essa normativa: para se ter um controle central de quem faz pesquisa nas
escolas paranaenses). A resposta foi que sem as declarações o processo não seguiria o trâmite.
Pior que isso, é que entre os documentos solicitados para a submissão, não constava/consta nos
termos da resolução o envio desse tipo de documento. Há uma contradição nisso: a SEED-PR
autoriza somente se o diretor autorizar e o diretor autoriza somente se a SEED-PR autorizar.
Diante desse imbróglio, não nos restou outra opção a não ser entrar em contato com os
diretores das três escolas, explicar toda a situação e pedir uma declaração de que estavam
cientes e que concordavam com a realização da nossa pesquisa. Após a obtenção desses
documentos, os enviamos para a SEED-PR para apreciação “final”. Em 12 de julho de 2016,
recebemos o comunicado de que a pesquisa havia sido aprovada e que o processo estava sendo
encaminhado para o NRE de Irati para nossa ciência. No entanto, numa folha de despacho, nos
foram solicitadas manifestações dos chefes dos NRE’s de Foz do Iguaçu, de Curitiba e de Irati
sobre a realização da pesquisa. Em virtude da documentação exigida para submissão do projeto
ao COMEP, já tínhamos esses documentos fornecidos pelos NRE’s de Foz do Iguaçu e de Irati,
só faltava o de Curitiba. Entramos em contato novamente com esse NRE e conseguimos esse
último documento. E para quem pensou que assim acabaria a “saga”, ainda faltava remeter o
“remendo/emenda” ao COMEP, ou seja, encaminhar os documentos necessários para a
alteração no projeto de pesquisa, agora já com a inclusão da escola de Curitiba. Foi o que
fizemos: solicitamos uma emenda na Plataforma Brasil, alteramos os dados, enviamos um novo
projeto já com as alterações necessárias, e essas foram apreciadas e aprovadas na reunião do
COMEP ocorrida no dia 20 de setembro de 2016.
87
Julgamos pertinente relatar neste texto essa experiência acerca da tramitação do projeto
de pesquisa na SEED-PR e no Comitê de Ética porque não concordamos com os protocolos e
práticas vigentes. Isso não significa que somos contrários a que os projetos de pesquisa que
envolvem seres humanos sejam apreciados por um comitê de ética ou por um órgão gestor da
educação. O que pretendemos, e por isso colocamos textualmente numa tese de Doutorado, é
contribuir para que outros pesquisadores reflitam sobre a decisão de submeter ou não seus
projetos de pesquisa a esses órgãos, haja vista que cabe a ele, ao pesquisador, a decisão final
pela submissão e a responsabilidade pela execução da pesquisa.
Conforme prevê a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional
de Saúde, todas as pesquisas que envolvem seres humanos devem ser apreciadas e aprovadas
por um comitê de ética em pesquisa. O problema disso é que os comitês de ética em pesquisa
no Brasil, na maioria dos casos, são constituídos e administrados por pesquisadores da área da
Biologia, da Farmácia, entre outras vinculadas à área da saúde. E por consequência, os
protocolos, critérios e normas estão vinculados a essa área do conhecimento, que possui
metodologias e procedimentos significativamente diferentes dos estudos relacionados às
ciências humanas e sociais, por exemplo.
No nosso caso, embora já tivéssemos um pouco de conhecimento acerca dos trâmites
do COMEP, justamente por haver submetido outros projetos, especialmente o da pesquisa
realizada no Mestrado, o processo de aprovação foi bastante moroso. Diante disso, para uma
pesquisa que disponha de pouco tempo, levando em conta todo o relato acima, fica praticamente
inviável a submissão dos documentos para apreciação desses órgãos.
88
89
entrevistas e nas entrevistas propriamente ditas. Desse modo, anunciamos que é no próximo
capítulo, na ocasião em que analisamos os resultados das entrevistas, que tratamos mais
substancialmente sobre atitudes e representações linguísticas.
A organização estrutural deste capítulo está assim composta: na primeira parte,
apresentaremos os resultados referentes às respostas dadas pelos alunos de Foz do Iguaçu e, na
segunda parte, estão as respostas dadas pelos informantes adultos de Foz do Iguaçu (pais de
alunos, professores e a diretora da escola). Na terceira parte, descreveremos os resultados
concernentes às respostas dadas pelos alunos de Irati e, na quarta parte, estão as respostas dadas
pelos informantes adultos de Irati. Na quinta parte, mostraremos os resultados no que diz
respeito às respostas produzidas pelos alunos de Curitiba e, na sexta parte, estão as respostas
dadas pelos informantes adultos de Curitiba. Apesar de termos trabalhado, por exemplo, com
resultados separados por escola e de fazermos comparações entre as línguas, não se trata de um
estudo comparativo entre as três escolas e entre os grupos de informantes.
Nossa decisão de agrupar os três grupos de informantes adultos (pais de alunos,
professores e diretor de escola) ocorreu porque julgamos que se analisássemos dados
quantitativos de um número muito reduzido de informantes, como é o caso dos diretores das
escolas (apenas três, um por escola), essas análises teriam uma característica mais qualitativa
do que quantitativa. Pensamos, também, e isto nos parece mais importante, que não seria
produtivo agruparmos as respostas dos professores com as dos diretores e isolarmos o grupo
dos pais de alunos porque, desde o início da confecção do projeto de pesquisa, tentamos dar
consistência à argumentação de que deveriam ser informantes que tivessem, de certo modo,
algum vínculo com a escola, ou seja, seria incoerente, no momento das análises, tratar os pais
de alunos como “os de fora da escola”.
Neste capítulo, privilegiamos a descrição dos seguintes itens de todos os grupos de
informantes e das três escolas:
a) os itens que investigavam sobre quais línguas os informantes estudam (no caso dos alunos)
ou conhecem (no caso dos adultos) e quais gostariam de estudar (alunos) ou conhecer (adultos);
b) os itens que consistiam na proposição de substituição de línguas na escola;
c) os itens que tratavam de colocar os informantes numa situação de seu computador estar
inesperadamente numa língua estrangeira;
91
d) os itens que solicitavam que os informantes tomassem uma decisão se ao ligar a sua TV para
assistir a uma partida de futebol fossem surpreendidos com a narração em outra língua que não
a portuguesa55.
Ao final deste capítulo, faremos algumas considerações gerais acerca da parte
quantitativa da amostra, especialmente os destacados acima, e discorreremos sobre a
necessidade de incluirmos entrevistas na pesquisa, ou seja, a necessidade de ampliarmos o
corpus. A seguir, iniciamos a descrição dos resultados apresentando os dados dos alunos da
escola de fronteira.
Na escola Sol de Maio, localizada em Foz do Iguaçu, foram aplicados noventa e seis
questionários, em quatro turmas do Ensino Médio. Esses questionários foram respondidos por
quarenta e quatro meninos (46,8%) e por cinquenta meninas (53,2%). Em dois questionários
não havia a indicação de sexo. A idade média desses jovens é de quinze anos (40%). O sexo e
a idade não constituíram objeto de análise, apenas compuseram a ficha social para observarmos
se não havia muita desproporção entre os informantes no tocante ao sexo e para aferir uma
média de idade comum entre alunos do Ensino Médio, que é de catorze a dezoito anos.
O primeiro bloco de itens a ser analisado diz respeito a uma situação semi-hipotética de
substituição das aulas de língua espanhola por aulas de língua guarani, língua inglesa e língua
portuguesa (itens 1, 2 e 3)57, ou seja, se hipotetizava a exclusão do espanhol e a inclusão de uma
dessas outras línguas no seu lugar. Os resultados mostraram uma atitude favorável à
manutenção das aulas de espanhol se a língua a substituí-la fosse o guarani. Quarenta
55
Apesar de serem parecidos esses itens, um deles consistia em perguntar o que os informantes fariam
se a narração da partida de futebol do seu time preferido fosse em espanhol, inglês, ucraniano ou guarani.
As opções de resposta variavam entre: a) tento assistir assim mesmo e compreender a narração; b)
procuro um outro canal que esteja transmitindo o jogo em português; deixo a televisão sem volume e
apenas vejo as imagens e; d) desligo a televisão. O outro item também tratava de uma suposta partida
de futebol na televisão, mas se diferenciava porque neste item era pedido para os informantes escolherem
a língua estrangeira de preferência para assistir ao jogo da Seleção Brasileira de Futebol.
56
Nesta seção e na próxima (dos alunos e dos adultos, respectivamente), apresentamos em nota de
rodapé inserida a partir dos títulos dos gráficos os enunciados dos itens correspondentes para otimizar a
leitura, de modo que o leitor não precise recorrer aos anexos da tese para ver o enunciado do item na
íntegra. Nas seções seguintes, pensamos que não há necessidades dessas notas de rodapé.
57
Como mencionado no capítulo anterior, na metodologia da pesquisa, para o mesmo questionário havia
três formatos, com rotação na ordem de apresentação dos itens e das opções de resposta. Essa numeração
que colocamos para análise corresponde à numeração do formato 1.
92
Quando a situação posta para análise dos alunos era a substituição das aulas de espanhol
por aulas de inglês, a atitude foi favorável à mudança: trinta e cinco (36,8%) concordaram
totalmente e trinta e oito informantes (40%) concordaram parcialmente. Os informantes que
mostraram uma atitude negativa quanto a essa substituição foram de catorze (14,7%) que
discordaram totalmente e oito (8,4%) discordaram parcialmente.
58
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de Foz do
Iguaçu por aulas de guarani. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
93
35
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 35 38 8 14
Percentuais 36,80% 40% 8,40% 14,70%
Quando o cenário posto para avaliação dos informantes era a substituição das aulas de
espanhol por aulas de português, a atitude foi negativa: vinte e cinco (26,3%) discordaram
totalmente e vinte e um informantes (22,1%) discordaram parcialmente. Os informantes que
mostraram uma atitude positiva quanto a essa substituição foram dezoito (18,9%) que
concordaram totalmente e trinta e um (32,6%) concordaram parcialmente.
No gráfico a seguir, apresentamos os resultados do item que propunha a exclusão do
espanhol e a inclusão de mais aulas de português no seu lugar.
59
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de Foz do
Iguaçu por aulas de língua inglesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
94
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 18 31 21 25
Percentuais 18,90% 32,60% 22,10% 26,30%
60
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de Foz do
Iguaçu por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
61
Todas as vezes que usamos os termos “marginal”, “marginalizadas” etc. estamos nos referindo a
“excluída”, “desprestigiadas” etc.
95
O segundo bloco de itens a ser analisado diz respeito a uma situação hipotética de
substituição das aulas de língua inglesa por aulas de língua espanhola, língua guarani e língua
portuguesa (itens 4, 5 e 6), ou seja, se cogitava a exclusão do inglês e a inclusão de uma dessas
outras línguas no seu lugar. Os resultados mostraram uma atitude favorável à exclusão das aulas
de inglês se a língua a substituí-la fosse o espanhol. Vinte e cinco informantes (26%)
concordaram totalmente quanto a essa possível substituição. Trinta e quatro informantes
(35,4%) concordaram parcialmente. Os que manifestaram atitude favorável à manutenção do
inglês foram dezesseis informantes (16,7%) que discordaram totalmente com a substituição e
vinte e um (21,9%) que discordaram parcialmente.
35
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 25 34 21 16
Percentuais 26% 35,40% 21,90% 16,70%
Quando a colocamos para análise dos alunos uma situação em que se supunha a
substituição das aulas de inglês por aulas de guarani, a atitude foi desfavorável à substituição:
apenas onze informantes (11,5%) concordaram totalmente e dezesseis informantes (16%)
concordaram parcialmente. Os informantes que mostraram uma atitude negativa quanto a essa
substituição foram cinquenta e dois (54,2%) que discordaram totalmente e dezessete (17,7%)
discordaram parcialmente.
62
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Foz do Iguaçu
por aulas de língua espanhola. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
96
50
40
30
20
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 11 16 17 52
Percentuais 11,50% 16,70% 17,70% 54,20%
Quando hipotetizamos a substituição das aulas de inglês por aulas de português, a atitude
foi favorável à substituição: vinte e três informantes (24%) concordaram totalmente e trinta e
um informantes (32,3%) concordaram parcialmente. Os informantes que mostraram uma
atitude negativa quanto a essa substituição foram de dezenove (19,8%) que discordaram
totalmente e vinte e três (24%) que discordaram parcialmente.
63
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Foz do Iguaçu
por aulas de guarani. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
97
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 23 31 23 19
Percentuais 24% 32,30% 24% 19,80%
Uma análise inicial mostra uma contradição. Quando há uma proposta de substituir o
espanhol pelo inglês e vice-versa, a atitude foi positiva. Essa mudança pode estar relacionada à
insatisfação dos alunos para com as aulas de língua estrangeira, tão desprestigiadas no currículo
escolar ao longo dos tempos, como pudemos mostrar no capítulo 1, quando fizemos uma
apresentação resumida das políticas linguísticas e da história das línguas estrangeiras no sistema
64
Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação
de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas6. Imagine a
seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de Educação de Foz do
Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Foz do Iguaçu por aulas
de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição? de Foz do Iguaçu por aulas de língua
portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
98
escolar brasileiro. Além disso, há que se observar que as atitudes e representações podem ser
contraditórias. O que se pode notar com a análise desses seis itens é a confirmação de uma
hipótese prévia, a de que o guarani não ocupa lugar de destaque no imaginário dos paranaenses
fronteiriços (usando apenas essa análise desses itens e de apenas um grupo de informantes).
Obviamente que faltam outras análises, de outros itens, de outros informantes (pais, professores
e gestores) e das entrevistas, que estão apresentadas no próximo capítulo. Outro dado
interessante é que o português não teria lugar de destaque diante do espanhol, pois os
informantes preferem que as aulas de espanhol sejam mantidas. Já diante do inglês, nessa
proposta, o português teria destaque, pois pareceu pertinente para os alunos a exclusão das aulas
de inglês e a inclusão de mais aulas de português na matriz curricular da escola.
O próximo bloco de itens analisados corresponde aos itens 7, 8 e 9. A situação colocada
para a avaliação dos informantes é a seguinte: você liga o seu computador para acessar o
Facebook e tudo nele está em inglês (item 7), espanhol (item 8) e guarani (item 9). Qual a sua
atitude diante dessa situação? Nos três itens houve a indicação de que cinco (5,3%) dos
informantes não têm conta ativa no Facebook. Vinte e oito informantes (29,5%) tentariam usar
o Facebook se ele estivesse em inglês. Trinta e um informantes (32,6%) tentariam usar se ele
estivesse em espanhol e apenas seis informantes (6,3%) tentariam usar se ele estivesse em
guarani. Dois informantes (2,1%) desligariam o computador se o Facebook estivesse em inglês
e espanhol e nove informantes (9,5%) desligariam o computador se o Facebook estivesse em
guarani. Sete informantes (7,4%) pediriam ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o
Facebook estivesse em inglês. Quatro informantes (4,2%) pediriam ajuda a outra pessoa para
alterar o idioma se o Facebook estivesse em espanhol e quinze informantes (15,8%) pediriam
ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o Facebook estivesse em guarani. Cinquenta e dois
informantes (54,7%) procurariam uma configuração no computador para alterar o idioma se ele
estivesse em inglês e espanhol. Cinquenta e sete informantes (60%) procurariam uma
configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse em guarani.
99
Gráfico 7 – Resultados referentes aos itens 7, 8 e 965 dos alunos de Foz do Iguaçu.
O que se pode analisar é que são praticamente inexistentes as diferenças nos percentuais
entre o inglês e o espanhol, embora se possam visualizar números mais favoráveis ao espanhol
numa comparação simples com o inglês. No que concerne ao guarani, os números mostram
pouca disposição dos informantes a usar a rede social se o idioma fosse o guarani, e um número
grande proporcionalmente de informantes que desligaria o computador se esse fosse o idioma
que aparecesse na sua tela. Esses resultados reforçam a nossa análise de que ao guarani é dado
um lugar “marginal” na fronteira brasileira.
Dando prosseguimento à descrição dos dados, trabalhamos agora com o bloco
concernente aos itens 10, 11 e 12. A situação hipotética apresentada para o julgamento dos
informantes consistia em perguntar o que eles fariam se ligassem a televisão para ver uma
partida de futebol do seu time preferido e a narração fosse feita numa língua estrangeira.
Quarenta e oito informantes (50,5%) assinalaram que tentariam assistir ao jogo em inglês e
compreender a narração. Já em espanhol, o número aumenta para sessenta e quatro (66,7%) e
em guarani apenas trinta e um informantes (32,3%) tentariam assistir ao jogo nesse idioma.
Trinta informantes (32,6%) procurariam outro canal que estivesse transmitindo o jogo em
português se a narração fosse em inglês, e dezessete (17,7%) se a narração estivesse sendo feita
em espanhol. Agora se a narração fosse em guarani, aí seriam quarenta e três (44,8%) que
65
Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele está em
inglês (item 7), espanhol (item 8), guarani (item 9). Qual a sua atitude diante dessa situação?
100
Gráfico 8 – Resultados referentes aos itens 10, 11 e 1266 dos alunos de Foz do Iguaçu.
Nossa análise, com base nos números apresentados, é a de que mais uma vez o guarani
“corre por fora”, ou seja, ele é colocado na “marginalidade” e não tem espaço no imaginário
dos informantes pesquisados. Além disso, há pré-disposição maior para assistir ao jogo em
espanhol do que em inglês, por exemplo. Assim, podemos analisar mais uma vez como atitude
positiva a favor do espanhol, decorrente, possivelmente, de uma imagem construída de que o
espanhol é mais facilmente compreensível do que o inglês, imagem essa que será discutida no
próximo capítulo. Nossa análise inicial se direciona a mostrar que o espanhol ocupa um lugar
de destaque nesse bloco de itens.
66
Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do seu time
favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa (item 10), língua espanhola (item 11), guarani
(item 12). Qual a sua atitude diante dessa situação?
101
50 43
40 33 35
30
20 13 12
9
10 2 3 2
1 1 1 1 1
0
italiano inglês espanhol alemão polonês guarani francês mandarim finlandês japonês
67
Qual(is) língua(s) estrangeira(s) você estuda atualmente na sua escola e qual(is) língua(s)
estrangeira(s) você gostaria de estudar que não tem aqui na escola? Pode marcar mais de uma resposta.
102
Nesse item, os números favoráveis ao espanhol são expressivos, uma vez mais da
metade dos informantes indica que escolheria a língua espanhola para ver o jogo de futebol da
Seleção Brasileira. Esclarecemos, do nosso ponto de vista, que é comum essa escolha em se
tratando de falantes do português. Ademais, chama a nossa atenção o fato de que aqui aparecem
três menções ao guarani. De certa forma, esses resultados serão retomados nas análises feitas
no capítulo 5.
68
Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é motivo de
paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é possível ouvir em
português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na sua opinião, em qual das
línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
103
10
8 7
6 5 5
4 4
4 3
2 2 2
2
0 0
0
espanhol inglês italiano alemão português guarani polonês francês
69
Qual(is) língua(s) estrangeira(s) você conhece e qual(is) língua(s) estrangeira(s) você gostaria de
conhecer? Pode marcar mais de uma opção por coluna.
104
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 1 6 5 11
Percentuais 4,30% 26,10% 21,70% 47,80%
No item que se cogitava hipoteticamente a substituição das aulas de espanhol por aulas
de inglês, a atitude foi favorável à substituição: oito informantes (34,8%) concordaram
totalmente e dez informantes (43,5%) concordaram parcialmente. Os informantes que
mostraram uma atitude negativa quanto a essa substituição foram dois (8,7%) que discordaram
totalmente e três (13%) discordaram parcialmente, como se pode observar no gráfico a seguir.
70
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua espanhola nas escolas paranaenses por aulas de guarani. Qual a sua
opinião sobre essa substituição?
105
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 8 10 3 2
Percentuais 34,80% 43,50% 13% 8,70%
71
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua espanhola nas escolas paranaenses por aulas de língua inglesa. Qual a
sua opinião sobre essa substituição?
106
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 4 5 3 11
Percentuais 17,40% 21,70% 13% 47,80%
A análise que fazemos desses resultados é a de que, assim como nas análises dos
questionários dos alunos, ao guarani é dado o lugar de “marginalidade”. No que tange à atitude
favorável à exclusão do espanhol e à inclusão do inglês no seu lugar, isso também ocorreu nas
respostas dos alunos. Notamos também que para esse grupo de informantes não seria uma boa
troca a exclusão das aulas de espanhol e no seu lugar a inclusão de aulas de português. O
resultado das análises desse primeiro bloco de itens mostrou uma certa sincronia entre as
respostas dos alunos e as respostas de seus pais, professores e diretora da escola. Como se pode
notar no quadro abaixo, houve duas tendências comparativamente desfavoráveis para o
espanhol, e uma favorável.
72
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua espanhola nas escolas paranaenses por aulas de língua portuguesa. Qual
a sua opinião sobre essa substituição?
107
No que concerne à proposição de excluir o inglês e incluir o guarani no seu lugar, três
informantes (13%) concordaram totalmente, três informantes (13%) concordaram
parcialmente, dois informantes (8,7%) discordaram parcialmente e quinze informantes (65,2%)
discordaram totalmente. Os números estão dispostos no gráfico a seguir.
73
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua inglesa nas escolas paranaenses por aulas de língua espanhola. Qual a
sua opinião sobre essa substituição?
108
14
12
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 3 3 2 15
Percentuais 13% 13% 8,70% 65,20%
Quanto à possível proposição de excluir o inglês e incluir o português no seu lugar, três
informantes (13%) concordaram totalmente, cinco informantes (21,7%) concordaram
parcialmente, cinco informantes (21,7%) discordaram parcialmente e dez informantes (43,5%)
discordaram totalmente. No próximo gráfico encontramos a ilustração desses resultados.
74
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua inglesa nas escolas paranaenses por aulas de guarani. Qual a sua opinião
sobre essa substituição?
109
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 3 5 5 10
Percentuais 13% 21,70% 21,70% 43,50%
75
Imagine a seguinte situação: o(a) secretário(a) estadual de educação do Paraná pretende propor a
substituição das aulas de língua inglesa nas escolas paranaenses por aulas de língua portuguesa. Qual a
sua opinião sobre essa substituição?
110
(item 11), espanhol (item 12) e guarani (item 13). Qual a sua atitude diante dessa situação? Nos
três itens houve a indicação de que quatro informantes (5,3%) não têm conta ativa no Facebook.
Nove informantes (39,1%) tentariam usar o Facebook se ele estivesse em inglês. Dez
informantes (43,5%) tentariam usar se ele estivesse em espanhol e apenas um informante
(4,3%) tentaria usar se ele estivesse em guarani. Um informante (4,3%) desligaria o computador
se o Facebook estivesse em inglês e espanhol e dois informantes (8,7%) desligariam o
computador se o Facebook estivesse em guarani. Dois informantes (8,7%) pediriam ajuda a
outra pessoa para alterar o idioma se o Facebook estivesse em inglês e em espanhol. Quatro
informantes (17,4%) pediriam ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o Facebook
estivesse em guarani. Seis informantes (26,1%) procurariam uma configuração no computador
para alterar o idioma se ele estivesse em inglês e cinco informantes (21,7%) procurariam uma
configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse em espanhol. Doze
informantes (52,2%) procurariam uma configuração no computador para alterar o idioma se ele
estivesse em guarani. Esses números estão ilustrados no gráfico abaixo.
Gráfico 18: Resultados referentes aos itens 11, 12 e 1376 dos adultos de Foz do Iguaçu.
76
Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele está em
inglês (item 11), espanhol (item 12), guarani (item 13). Qual a sua atitude diante dessa situação?
111
ao espanhol numa comparação simples com o inglês. No que concerne ao guarani, os números
mostram pouca disposição dos informantes a usar a rede social se o idioma fosse o guarani.
Esses resultados reforçam a nossa análise de que ao guarani é dado um lugar desprestigiado na
fronteira paranaense do Brasil com o Paraguai. Esses resultados são muito parecidos aos dos
alunos.
O próximo bloco de itens descritos se refere aos itens 14, 15 e 16, que tratam de uma
suposta transmissão de um jogo de futebol do seu time favorito. Os resultados foram os
seguintes: catorze informantes (63,6%) tentariam assistir ao jogo em espanhol e compreender
a narração. Já em guarani, o número diminui para quatro informantes (17,4%) e em inglês são
onze informantes (47,8%) que tentariam assistir ao jogo nesse idioma. Cinco informantes
(22,7%) procurariam outro canal que estivesse transmitindo o jogo em português se a narração
fosse em espanhol e doze (52,2%) se a narração estivesse sendo feita em guarani. Agora se a
narração fosse em inglês, aí seriam oito informantes (34,8%) que procurariam um canal que
estivesse transmitindo o jogo em português. Não houve indicação de deixar a televisão sem som
e apenas ver as imagens se a narração fosse em espanhol. Três informantes (3%) deixariam a
televisão sem som e apenas veriam as imagens se a narração fosse em guarani e apenas um
informante (4,3%) deixaria a televisão sem som e apenas veria as imagens se a narração fosse
em inglês. Dois informantes (8,7%) desligariam a televisão se a narração fosse em inglês ou em
espanhol e quatro informantes (17,4%) desligariam a televisão se a narração fosse em guarani.
Vejamos no gráfico a seguir esses números.
112
Gráfico 19 – Resultados referentes aos itens 14, 15 e 1677 dos adultos de Foz do Iguaçu.
Nossa análise, com base nos números apresentados, é a de que mais uma vez o guarani
“corre por fora”, ou seja, assim como ocorreu nas escolhas dos alunos, ele é colocado na
condição de “língua sem prestígio” e não tem espaço no imaginário desse grupo de informantes.
Além disso, possivelmente em função da aparente facilidade na compreensão, há pré-disposição
maior para assistir ao jogo em espanhol do que em inglês, por exemplo, assim podemos analisar
mais uma vez como atitude positiva a favor do espanhol.
Para finalizar esse conjunto de análises, passamos agora a descrever os resultados
obtidos no item 33, o último do questionário, que dizia respeito à escolha de uma outra língua
na impossibilidade de não se ter o português para assistir a uma partida de futebol. Os resultados
estão apresentados no gráfico 20, a seguir:
77
Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do seu time
favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola (item 14), língua guarani (item 15), língua
inglesa (item 16). Qual a sua atitude diante dessa situação?
113
20
15
10
0
guarani italiano inglês espanhol polonês alemão francês
Número de indicações 0 0 3 20 0 1 0
Percentuais 0,00% 0,00% 13% 87,00% 0,00% 4,30% 0,00%
78
Imagine a seguinte situação: num sorteio, o Paraná foi contemplado com uma série de conferências
internacionais sobre meio ambiente e elas serão ministradas por um palestrante famoso que não é falante
de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria fazer as palestras?
114
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 11 26 9 8
Percentuais 20,40% 48,10% 16,70% 14,80%
Quando a situação posta era a substituição das aulas de espanhol por aulas de português,
a atitude foi negativa: dezoito informantes (33,3%) discordaram totalmente e dezenove
informantes (35,2%) discordaram parcialmente. Os informantes que mostraram uma atitude
positiva quanto a essa substituição foram de seis (11,1%) que concordaram totalmente e onze
(20,4%) concordaram parcialmente.
O segundo bloco de itens que descrevemos aqui diz respeito a uma situação hipotética
de substituição das aulas de língua inglesa por aulas de língua espanhola, língua ucraniana e
língua portuguesa (itens 4, 5 e 6), ou seja, propusemos a exclusão do inglês e a inclusão de uma
dessas outras línguas no seu lugar. Os resultados mostraram uma atitude favorável à exclusão
das aulas de inglês se a língua a substituí-la fosse o espanhol. Vinte e um informantes (38,2%)
concordaram totalmente quanto a essa possível substituição. Vinte informantes (36,4%)
concordaram parcialmente. Os que manifestaram atitude favorável à manutenção do inglês
foram seis informantes (10,9%) que discordaram totalmente com a substituição e oito
informantes (14,5%) que discordaram parcialmente.
117
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 21 20 8 6
Percentuais 38,20% 36,40% 14,50% 10,90%
Quando apresentamos a situação referente à substituição das aulas de inglês por aulas
de ucraniano, a atitude dos alunos foi desfavorável a essa substituição: nove informantes
(16,4%) concordaram totalmente e quinze informantes (27,3%) concordaram parcialmente. Os
informantes que mostraram uma atitude negativa quanto a essa substituição foram de dezesseis
(29,1%) que discordaram totalmente e quinze (27,3%) discordaram parcialmente.
O item seguinte propunha a substituição das aulas de inglês por aulas de português, e o
resultado mostrou uma atitude desfavorável a essa hipotética substituição: sete informantes
(13%) concordaram totalmente e vinte informantes (37%) concordaram parcialmente. Os
informantes que mostraram uma atitude negativa quanto a essa substituição foram de dez
(18,5%) que discordaram totalmente e dezessete (31,5%) que discordaram parcialmente.
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 7 20 17 10
Percentuais 13% 37% 31,50% 18,50%
Na sequência, apresentamos o quadro com o resumo dos números obtidos com base no
bloco de itens 4, 5 e 6.
Uma comparação simples mostrou que os resultados referentes a esse bloco de itens são
parecidos aos resultados obtidos na escola fronteiriça. Ademais, é possível afirmar que há, com
base numa análise prévia, uma contradição. Ao propormos substituir o espanhol pelo inglês e
vice-versa, a atitude dos alunos foi positiva. Como mencionamos anteriormente, o que pode
119
justificar essa contradição é uma possível insatisfação para com as aulas de língua estrangeira,
tão “marginalizadas” no currículo escolar ao longo dos tempos, como pudemos mostrar no
capítulo 1 e nas análises que faremos no capítulo 5. O que se pode notar com a análise desses
seis itens é a confirmação de uma hipótese prévia, a de que o ucraniano (assim como o guarani
em Foz do Iguaçu) não ocupa lugar de destaque no imaginário dos paranaenses iratienses. Outro
dado interessante é que o português não teria lugar de destaque diante do espanhol e do inglês,
pois os informantes preferem que as aulas de espanhol e de inglês sejam mantidas.
O próximo bloco de itens analisados diz respeito aos itens 7, 8 e 9. Nos três itens o tema
girava em torno de o informante ligar o seu computador e não encontrar a língua portuguesa na
página da anteriormente menciona rede social. Houve a indicação de que treze (24,1%)
informantes não têm conta ativa no Facebook. Merece destacarmos que o número de alunos
que não tem conta ativa é quase o triplo do número de alunos que não tem conta ativa no
Facebook na escola da fronteira, e o número de informantes da fronteira é quase o dobro do da
zona rural. Atribuímos esse dado ao fato de a escola de Irati estar localizada na zona rural do
município, onde o acesso à internet é bastante limitado, praticamente inexistente. Seguindo a
descrição dos resultados desse item, temos o seguinte: oito informantes (14,8%) tentariam usar
o Facebook se ele estivesse em inglês. Treze informantes (24,1%) tentariam usar se ele estivesse
em espanhol e nenhum informante (0%) tentaria usar se ele estivesse em ucraniano. Um
informante (1,9%) desligaria o computador se o Facebook estivesse em inglês e espanhol e três
informantes (5,6%) desligariam o computador se o Facebook estivesse em ucraniano. Um
informante (1,9%) pediria ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o Facebook estivesse
em inglês e espanhol. Quatro informantes (7,4%) pediriam ajuda a outra pessoa para alterar o
idioma se o Facebook estivesse em ucraniano. Trinta e um informantes (57,4%) procurariam
uma configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse em inglês. Vinte e seis
informantes (48,1%) procurariam uma configuração no computador para alterar o idioma se ele
estivesse em espanhol e trinta e quatro informantes (63%) procurariam uma configuração no
computador para alterar o idioma se ele estivesse em ucraniano.
120
Diante desses números, o que se pode analisar é que são poucas as diferenças nos
percentuais entre o inglês e o espanhol, algo parecido com o que ocorreu na escola Sol de Maio,
embora se possam visualizar números mais favoráveis ao espanhol numa comparação simples
com o inglês, principalmente porque há uma disposição maior para usar o computador mesmo
que nele aparecesse como língua o espanhol. Retomamos aqui uma possível explicação para
esse dado: é bastante difundida a crença de que o espanhol é de fácil compreensão para os
brasileiros. Essa representação (ou a relativização dela) será discutida no próximo capítulo. No
que concerne ao ucraniano, os números mostram pouca disposição dos informantes a usar a
rede social se o idioma fosse o ucraniano. Esses resultados reforçam a nossa análise de que ao
ucraniano é dado um lugar “marginal”, conforme assinalado anteriormente.
O bloco de itens analisados a seguir é concernente aos itens 10, 11 e 12. Nele tratamos
de uma suposta transmissão de uma partida de futebol do time favorito em língua estrangeira.
Vinte e quatro informantes (43,6%) tentariam assistir ao jogo em inglês e compreender a
narração. Já em espanhol, o número aumenta para trinta e cinco (64,8%) e em ucraniano são
dezessete informantes (32,3%) que tentariam assistir ao jogo nesse idioma. Vinte e quatro
informantes (43,6%) procurariam outro canal que estivesse transmitindo o jogo em português
se a narração fosse em inglês, quinze (27,8%) se a narração estivesse sendo feita em espanhol
e vinte e seis informantes (48,1%) se a narração fosse em ucraniano. Quatro informantes (7,3%)
deixariam a televisão sem som e apenas veriam as imagens se a narração fosse em inglês. Esse
121
Analisamos, com base nos números apresentados, que mais uma vez o ucraniano, assim
como ocorreu nas análises anteriores, recebe um lugar minorizado no imaginário dos
informantes. Além disso, há pré-disposição maior para assistir ao jogo em espanhol do que em
inglês, por exemplo, assim podemos analisar mais uma vez como atitude positiva a favor do
espanhol. Como já exposto acima, tendemos a crer que essa postura decorre da crença de que a
língua espanhola é facilmente compreensível para os falantes de português.
O item 19 tratava de verificar qual(is) língua(s) estrangeira(s) os alunos estudam
atualmente na sua escola e qual(is) língua(s) estrangeira(s) eles gostariam de estudar. Alguns
destaques necessários: embora o total de informantes seja de cinquenta e cinco, não foram todos
que marcaram que estudam espanhol, algo que ocorreu também na escola de fronteira. No
entanto, na escola rural os resultados são diferentes dos obtidos na escola Sol de Maio no que
diz respeito à vontade de aprender o guarani, pois na escola iratiense foram vinte e quatro
informantes (43,6%) que manifestaram sua vontade de aprender ucraniano, já na escola de Foz
122
do Iguaçu foram apenas nove (9,5%) informantes que manifestaram vontade de aprender o
guarani.
40
30 28
24
21
20
13 14
11
9
10
0 0 0 0
0
inglês espanhol italiano alemão polonês ucraniano
Para concluir esta parte de descrção dos questionários dos alunos de Irati, expomos os
resultados advindos do item que fazia referência a uma suposta transmissão de uma partida de
futebol da Seleção Brasileira de Futebol em língua estrangeira, e colocava os informantes para
manifestarem sua escolha.
123
Neste item, assim como no que o antecedeu, os números favoráveis ao espanhol são
mais expressivos e as possíveis explicações para tal também não poderiam ser diferentes das
que expusemos anteriormente. O que se pode considerar é que na comparação entre as línguas
minorizadas, há uma lugar um pouco mais destacável para o ucraniano do que para o guarani.
Este grupo de informantes que apresentaremos as análises dos seus questionários diz
respeito aos pais de alunos, professores e diretora da escola de Gonçalves Júnior. No total,
foram quinze informantes, sendo sete pais ou mães de alunos, a diretora da escola, um professor
de espanhol e seis professores de outras disciplinas.
Assim como no questionário dos adultos de Foz do Iguaçu, o item que inaugurava o
questionário versava sobre qual(is) língua(s) estrangeira(s) os informantes conhecem e qual(is)
língua(s) estrangeira(s) eles gostariam de conhecer. Os resultados foram os seguintes:
124
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 1 3 4 7
Percentuais 6,70% 20% 26,70% 46,70%
No caso de uma suposta substituição das aulas de espanhol por aulas de inglês, a atitude
foi favorável à substituição. Os números obtidos são estes: quatro informantes (26,7%)
concordaram totalmente e nove informantes (60%) concordaram parcialmente. Os informantes
que mostraram uma atitude negativa quanto a essa substituição foram de dois (13,3%) que
discordaram parcialmente. Ninguém discordou totalmente, nem a professora de espanhol.
Nesse caso, se esperava que pelo menos a professora de espanhol manifestasse uma posição
contrária à suposta extinção das suas aulas naquela escola.
126
No item que previa a substituição das aulas de espanhol por aulas de português, a atitude
foi contrária à substituição. Os resultados mostraram que cinco informantes (33,3%)
discordaram totalmente quanto a essa possível substituição, número igual ao de informantes
que discordaram parcialmente. Os que manifestaram atitude favorável à substituição do
espanhol foram um informante (6,7%) que discordou totalmente com a substituição e quatro
informantes (26,7%) que discordaram parcialmente.
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 1 4 5 5
Percentuais 6,70% 26,70% 33,30% 33,30%
A análise que fazemos desses resultados é a de que, assim como nas análises dos
questionários dos alunos, ao ucraniano é dado o lugar de “marginalidade”. No que tange à
atitude favorável à exclusão do espanhol e à inclusão do inglês no seu lugar, isso também
ocorreu nas respostas dos alunos. Notamos também que para esse grupo de informantes não
seria uma boa troca a exclusão das aulas de espanhol e no seu lugar a inclusão de aulas de
português. O resultado das análises desse primeiro bloco de itens mostrou uma certa sincronia
entre as respostas dos alunos e as respostas de seus pais, dos professores e da diretora da escola.
Como se pode notar no quadro abaixo, houve duas tendências comparativamente favoráveis
para o espanhol, e uma desfavorável.
O segundo bloco de itens a ser descrito diz respeito a uma situação hipotética de
substituição das aulas de língua inglesa por aulas de língua espanhola, língua ucraniana e língua
portuguesa (itens 7, 8 e 9, respectivamente).
No que tange à possível proposição de excluir o inglês e incluir o espanhol no seu lugar,
nenhum informante (0%) concordou totalmente, nove informantes (60%) concordaram
parcialmente, quatro informantes (26,7%) discordaram parcialmente e dois informantes
(13,3%) discordaram totalmente.
128
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 0 4 5 6
Percentuais 0% 26,70% 33,30% 40%
Como se pode observar nesses resultados, as atitudes dos adultos de Irati são favoráveis
ao inglês. Em nenhuma das três proposições houve concordância no sentido de excluir a língua
inglesa da matriz curricular da escola.
O próximo bloco de itens que descreveremos é correspondente aos itens 11, 12 e 13, e
neles indagamos sobre o que fariam os informantes num suposto cenário de ligar o seu
computador e não poder acessar o Facebook em português. Nos três itens houve a indicação de
130
que quatro informantes (26,7%) não têm conta ativa no Facebook. Três informantes (20%)
tentariam usar a rede social se ela estivesse em inglês. Sete informantes (46,7%) tentariam usar
se ela estivesse em espanhol e apenas um informante (6,7%) tentaria usar se ela estivesse em
ucraniano. Oito informantes (53,3%) procurariam uma configuração no computador para alterar
o idioma se ele estivesse em inglês e cinco informantes (33,3%) procurariam uma configuração
no computador para alterar o idioma se ele estivesse em espanhol. Dez informantes (66,7%)
procurariam uma configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse em
ucraniano. Ninguém assinalou que desligaria o computador, assim como ninguém assinalou
que pediria ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o Facebook não estivesse em português.
informantes (26,7%) e em inglês são cinco informantes (33,3%) que tentariam assistir ao jogo
nesse idioma. Sete informantes (46,7%) procurariam outro canal que estivesse transmitindo o
jogo em português se a narração fosse em espanhol e dez (66,7%) se a narração estivesse sendo
feita em ucraniano. Agora se a narração fosse em inglês, aí seriam nove informantes (60%) que
procurariam um canal que estivesse transmitindo o jogo em português. Não houve indicação de
deixar a televisão sem som e apenas ver as imagens em nenhum dos casos. Um informante
(6,7%) desligaria a televisão se a narração fosse em inglês ou em espanhol ou em ucraniano.
10
0
ucranian
italiano inglês espanhol polonês alemão francês outros
o
Número de indicações 0 0 4 11 0 0 0 1
Percentuais 0% 0% 26,70% 73,30% 0% 0% 0% 6,70%
Nesse item, os números favoráveis ao espanhol são mais expressivos do que no item
anterior. Como já acenamos anteriormente, esses resultados podem advir da crença de que o
espanhol possibilita uma compreensão sem grandes esforços por parte dos falantes de
português.
O que se pode perceber, até agora, é que somente os dados quantitativos não permitem
chegar a uma conclusão sobre os lugares do espanhol em relação a outras línguas no Paraná. O
que tentamos fazer acima foi dar pistas de possíveis análises, mas para construirmos uma
argumentação mais consistente e analítica, entendemos que é pertinente fazer outras análises
baseadas em dados qualitativos acerca dos lugares que as línguas ocupam no imaginário dos
informantes e tentar explicar as possíveis motivações das quais elas decorrem.
3 desta tese. Além disso, essa foi uma das mais de mil escolas ocupadas pelos estudantes no
segundo semestre de 2016, em protesto às medidas do então presidente interino Michel Temer.
Nessa escola, foram aplicados noventa e quatro questionários, em quatro turmas do
Ensino Médio. Esses questionários foram respondidos por quarenta e oito meninos (52,7%) e
por quarenta e três meninas (47,3%). Em três questionários não havia a indicação de sexo. A
idade média desses jovens é de dezessete anos (32,3%), um pouco superior à média de idade
dos alunos das outras duas escolas. Cabe assinalar que os questionários respondidos pelos
informantes vinculados a essa escola não apresentavam itens específicos relativos a línguas em
situação de minorização, como fizemos com a inclusão do ucraniano na escola de Irati e com o
guarani na escola de Foz do Iguaçu.
O primeiro bloco de itens a ser analisado diz respeito a uma situação hipotética de
substituição das aulas de língua espanhola por aulas de língua inglesa e língua portuguesa (itens
1 e 2). Os resultados mostraram uma atitude favorável à substituição das aulas de espanhol se
a língua a substituí-la fosse o inglês. Quarenta informantes (43,5%) concordaram totalmente
quanto a essa possível substituição. Vinte e oito informantes (30,4%) concordaram
parcialmente. Apenas dezesseis informantes (17,4%) discordaram totalmente com a
substituição e oito informantes (8,7%) discordaram parcialmente.
Na suposta substituição das aulas de espanhol por aulas de português, a atitude foi
ligeiramente negativa: vinte e quatro (26,4%) discordaram totalmente e vinte e cinco
informantes (27,5%) discordaram parcialmente. Os informantes que mostraram uma atitude
positiva quanto a essa substituição foram dezessete (18,7%) que concordaram totalmente e vinte
e cinco (27,5%) concordaram parcialmente.
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 17 25 25 24
Percentuais 18,70% 27,50% 27,50% 26,40%
O segundo bloco de itens a ser analisado diz respeito a uma situação hipotética de
substituição das aulas de língua inglesa por aulas de língua espanhola e língua portuguesa (itens
3 e 4), ou seja, se cogitava a exclusão do inglês e a inclusão de uma dessas outras línguas no
seu lugar. Os resultados mostraram uma atitude desfavorável à exclusão das aulas de inglês se
a língua a substituí-la fosse o espanhol e também se fosse o português. Treze informantes (14%)
concordaram totalmente quanto a essa possível substituição. Dezoito informantes (19,4%)
concordaram parcialmente. Os que manifestaram atitude favorável à manutenção do inglês
foram trinta e dois informantes (34,4%) que discordaram totalmente com a substituição e trinta
(32,3%) que discordaram parcialmente.
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 13 18 30 32
Percentuais 14% 19,40% 32,30% 34,40%
Quando hipotetizamos a substituição das aulas de inglês por aulas de português, a atitude
foi desfavorável à substituição: doze informantes (13%) concordaram totalmente e dezesseis
informantes (17,4%) concordaram parcialmente. Os informantes que mostraram uma atitude
negativa quanto a essa substituição foram de vinte e nove (31,5%) que discordaram totalmente
e trinta e cinco (38%) que discordaram parcialmente.
136
35
30
25
20
15
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 12 16 35 29
Percentuais 13% 17,40% 38% 31,50%
A análise desse bloco de itens mostra o lugar de destaque dado à língua inglesa, na
medida em que houve uma tendência a valorizar mais essa língua e a não dar lugar às outras
línguas colocadas em comparação. Essa tendência a valorizar mais o inglês do que o espanhol
na capital do Estado em comparação às outras cidades foi uma das hipóteses apresentadas
quando delimitamos os três contextos que fariam parte da pesquisa. Mas somente essa
explicação não basta. Aqui especificamente devemos destacar que as atitudes dos alunos diante
de supostas substituições de aulas podem ter levado em conta o momento em que se realizou
essa etapa da pesquisa, isto é, os questionários foram respondidos logo após a desocupação da
escola. Fazia parte das discussões dos alunos a proposta de reforma do Ensino Médio que
previa, entre outras mudanças, a substituição das aulas de espanhol por aulas de língua inglesa.
137
Nesse caso, as situações apresentadas nos questionários não eram tão hipotéticas como para os
alunos das outras duas escolas.
O bloco seguinte de itens descritos se refere aos itens 5 e 6, cujo tema é a falta da língua
portuguesa para navegar na página do Facebook. Nos dois itens houve a indicação de que cinco
informantes (5,3%) não têm conta ativa no Facebook. Cinquenta e nove informantes (62,8%)
tentariam usar o Facebook se ele estivesse em inglês e quarenta e oito informantes (51,1%)
tentariam usar se ele estivesse em espanhol. Trinta e três informantes (35,1%) procurariam uma
configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse em inglês e trinta e seis
(38,3%) procurariam uma configuração no computador para alterar o idioma se ele estivesse
em espanhol. Um informante (1,1%) pediria ajuda a outra pessoa para alterar o idioma se o
Facebook estivesse em inglês e nove informantes (9,6%) pediriam ajuda a outra pessoa para
alterar o idioma se o Facebook estivesse em espanhol. Nenhum informante desligaria o
computador se o Facebook estivesse em inglês e dois informantes (2,1%) desligariam o
computador se o Facebook estivesse em espanhol.
O que se pode notar é que são praticamente inexistentes as diferenças nos percentuais
entre o inglês e o espanhol, embora se possam visualizar números mais favoráveis ao inglês
numa comparação simples com o espanhol.
138
O próximo bloco de itens analisados diz respeito aos itens 7 e 8. Pesquisamos como se
comportariam os informantes diante de uma suposta dificuldade de compreensão linguística,
caso ligassem sua televisão para assistir a uma partida de futebol do seu time e a programação
não estivesse sendo transmitida em português. Sessenta e três informantes (67,7%) tentariam
assistir ao jogo em inglês e compreender a narração. Já em espanhol, o número diminui para
cinquenta e três (57%). Vinte e sete informantes (29%) procurariam outro canal que estivesse
transmitindo o jogo em português se a narração fosse em inglês e vinte e nove (31%) se a
narração estivesse sendo feita em espanhol. Um informante (1,1%) deixaria a televisão sem
som e apenas veriam as imagens se a narração fosse em inglês. Esse número de informantes
sobe para quatro (4,3%) se a narração fosse em espanhol. Seis informantes (6,5%) desligariam
a televisão se a narração fosse em inglês. Esse número aumenta para dez (10,8%) se fosse em
espanhol.
Nossa análise, com base nos números apresentados, é a de que há uma pré-disposição
maior para assistir ao jogo em inglês do que em espanhol, por exemplo. Assim, podemos
entender como atitude positiva a favor do inglês. Esse resultado, de certa maneira, nos
surpreende, especialmente se compararmos com os resultados advindos dos outros alunos das
outras duas escolas.
139
40 33
30 23
20
10
7
10 4 4 2 1 1 3 2 1 0 2
0
espanhol inglês italiano alemão polonês francês guarani ucraniano outros
Diante desses números apresentados no gráfico acima, é válido chamar a atenção para
o elevado número de alunos que gostaria de estudar inglês em comparação aos que gostariam
de estudar espanhol. Esses resultados destoaram significativamente dos que vimos
apresentando anteriormente. Nesse caso, poderíamos argumentar partindo de dois pontos de
vista: por um lado, esses números reforçam a tendência a querer que a língua estrangeira seja
substituída por outra, como demonstraram os resultados das outras duas escolas. Por outro,
podem estar agindo sobre essas atitudes as discussões acerca dos lugares das línguas nas
escolas, motivadas pelo contexto político-educacional vigente na época da aplicação dos
questionários.
140
50
40
30
20
10
0
ucranian
espanhol inglês italiano alemão polonês francês guarani
o
Número de indicações 46 48 3 2 0 4 5 1
Percentuais 50,50% 52,70% 3,30% 2,20% 0% 4,40% 5,50% 1,10%
No último item, uma vez mais, os números mostraram que no imaginário dos alunos o
inglês tem um lugar maior que o das outras línguas comparativamente apresentadas. Esses
resultados também diferiram dos números das outras duas escolas, sendo que em Curitiba a
preferência é pelo inglês na suposição oferecida aos alunos.
10 9
8 7 7 7
6 5 5
4 4
4 3
2 2
2 1 1
0 0 0 0
0
espanhol inglês italiano alemão português guarani polonês ucraniano francês outros
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 2 7 3 6
Percentuais 11,10% 38,90% 16,70% 33,30%
Quando a interrogação era acerca da substituição das aulas de espanhol por aulas de
português, a atitude foi contrária à substituição. Os resultados mostraram que onze informantes
(61,1%) discordaram totalmente quanto a essa possível substituição. Quatro informantes
(22,2%) discordaram parcialmente. Os que manifestaram atitude favorável à substituição do
espanhol foram um informante (5,6%) que concordou totalmente com a substituição e dois
informantes (11,1%) que concordaram parcialmente.
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 1 2 4 11
Percentuais 5,60% 11,10% 22,20% 61,10%
A análise que fazemos desses resultados é a de que, no que tange à exclusão do espanhol
e à inclusão do inglês no seu lugar, os números são muito parecidos, não sendo possível,
portanto, afirmar se há uma tendência favorável à substituição ou não. No que diz respeito à
exclusão do espanhol e inserção do português no seu lugar, os números mostraram que os
informantes não concordam com essa mudança. Como se pode notar no quadro abaixo, houve,
comparativamente, um empate e uma tendência desfavorável para o espanhol.
O outro bloco de itens que descrevemos aqui diz respeito a uma situação hipotética de
substituição das aulas de língua inglesa por aulas de língua espanhola e língua portuguesa (itens
7 e 8, respectivamente). Os resultados mostraram uma atitude favorável à manutenção das aulas
de inglês nos dois casos.
Quanto à possível proposição de excluir o inglês e incluir o espanhol no seu lugar,
nenhum informante (0%) concordou totalmente, seis informantes (33,3%) concordaram
parcialmente, três informantes (16,7%) discordaram parcialmente e nove informantes (50%)
discordaram totalmente, conforme se pode observar no gráfico a seguir.
No que tange à possível proposição de excluir o inglês e incluir o português no seu lugar,
nenhum informante (0%) concordou totalmente, dois informantes (11,1%) concordaram
parcialmente, cinco informantes (27,8%) discordaram parcialmente e onze informantes (61,1%)
discordaram totalmente.
10
0
Concordo Concordo Discordo Discordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Número de indicações 0 2 5 11
Percentuais 0% 11,10% 27,80% 61,10%
Os resultados dos itens 10 e 11 são os próximos a serem descritos. Por meio deles,
indagamos que atitudes os informantes teriam se ao ligar o seu computador se deparassem com
a falta da língua portuguesa na tela para navegar na página do Facebook. Nos dois itens houve
a indicação de que dois informantes (11,1%) não têm conta ativa nessa rede social. Sete
informantes (38,9%) tentariam usar o Facebook se ele estivesse em inglês e dez informantes
(55,6%) tentariam usar se ele estivesse em espanhol. Nenhum informante (0%) desligaria o
145
O que se pode analisar é que são praticamente inexistentes as diferenças nos percentuais
entre o inglês e o espanhol. Esses resultados são muito parecidos aos dos alunos nesse bloco de
itens.
O próximos itens dizem respeito ao 12 e ao 13 cujo tema era a partida de futebol do time
preferido. Os resultados são os seguintes: dez informantes (55,6%) tentariam assistir ao jogo de
futebol em espanhol e compreender a narração e em inglês são nove informantes (50%) que
tentariam assistir ao jogo nesse idioma. Cinco informantes (27,8%) procurariam outro canal
que estivesse transmitindo o jogo em português se a narração fosse em espanhol e sete (38,9%)
se a narração estivesse sendo feita em inglês. Um informante (5,6%) deixaria a televisão sem
som e apenas veria as imagens se a narração fosse em espanhol ou em inglês. Dois informantes
(11,1%) desligariam a televisão se a narração fosse em inglês ou em espanhol.
146
Nossa análise, com base nos números apresentados, é de que não há diferença
significativa na comparação entre as línguas.
A título de conclusão desta seção, apresentamos os números obtidos com o item que
pedia para os informantes escolherem uma língua estrangeira para assistirem a uma partida de
futebol da Seleção Brasileira.
12
10
0
espanho ucrania
guarani italiano inglês polonês alemão francês outros
l no
Número de indicações 0 0 4 13 0 0 0 0 1
Percentuais 0% 0% 22,20% 72,20% 0% 0% 0,00% 0% 5,60%
parte dos alunos com o ensino de línguas estrangeiras na escola. Além disso, o conjunto desses
itens mostrou resultados que nos levam a concluir previamente que há pouca valorização para
as línguas em situação de minorização (guarani e ucraniano, especificamente). A discussão
dessa temática tem um lugar reservado no próximo capítulo. No que tange à proposição de
excluir as línguas estrangeiras e incluir mais aulas de português no seu lugar, concluímos que
há uma tendência a não querer que haja essa substituição. Sobre essa proposição,
especificamente, é necessário esclarecer que o item pode ter sido mal elaborado, ou pode ter
sido mal interpretado pelos informantes, uma vez que o português já está no currículo das
escolas, ou seja, seria uma ampliação da carga-horária, e isso pode não ter ficado muito claro.
Além disso, percebemos uma diferença significativa entre os resultados dos alunos que
responderam o questionário no final de 2015 (alunos de Irati e de Foz do Iguaçu) e os que
responderam no final de 2016 (alunos de Curitiba). Em 2016, após a proposta de reforma do
Ensino Médio, o inglês recebeu manifestações comparativamente mais favoráveis do que em
2015.
c) os itens que tratavam de colocar os informantes numa situação de seu computador estar
inesperadamente numa língua estrangeira;
Os números resultantes desses itens são muito parecidos entre o inglês e o espanhol,
com ligeira tendência a preferir que o computador estivesse em espanhol. O que determinou
essa nossa interpretação se baseia no quantitativo de indicações para a alternativa “tenta usar
assim mesmo”. Uma das possíveis explicações para esses resultados é a proximidade entre o
português e o espanhol. Nesse caso, entendemos que é “normal” que o brasileiro prefira ler em
espanhol do que em inglês, por exemplo. Nessa análise, cabe um parêntese: o grupo de alunos
da escola de Curitiba, contrariamente a todos os outros grupos de informantes, tende a preferir
que o computador esteja em inglês, segundo os percentuais obtidos. No capítulo seguinte, há
uma discussão mais aprofundada sobre a tendência a relacionar imaginariamente o espanhol
com situações de leitura.
d) os itens que solicitavam que os informantes tomassem uma decisão se ao ligar a sua TV para
assistir a uma partida de futebol fossem surpreendidos com a narração em outra língua que não
a portuguesa.
Esses itens nos indicaram que há números bastante favoráveis ao espanhol, isto é,
depreendemos diante dos percentuais obtidos que os informantes preferem que, na
impossibilidade de assistir a uma partida da Seleção Brasileira de Futebol ou do seu time
preferido, a narração do jogo seja feita em espanhol. O que determinou chegarmos a essa
conclusão foi o número de indicações assinaladas na alternativa: tento assistir assim mesmo e
149
compreender a narração, e nas escolhas pelo espanhol na impossibilidade da narração ser feita
em português. Mais uma vez atribuímos esses resultados à tendência de o brasileiro preferir o
espanhol, nessa situação, devido à proximidade entre o português e o espanhol. Diferentemente
de todos os outros grupos de informantes, os alunos da escola de Curitiba acenaram que
prefeririam o inglês nessa situação proposta.
Com base no exposto, julgamos necessário aclarar que os resultados apresentados
anteriormente mostraram a necessidade de uma análise mais qualitativa e por isso a entrevista
foi o caminho escolhido. Como se pode notar, em muitos casos, não foi possível concluir se os
informantes manifestavam, por exemplo, atitudes positivas ou negativas e se davam lugares de
destaque às línguas ou se as preteriam. Pelo descrito, no máximo foi possível tratar
comparativamente de números favoráveis e desfavoráveis a essa ou aquela língua, de
disposições para valorização disso ou daquilo, e de tendências a favor de uma ou de outra
língua. O que se pode concluir, sim, foi que ao guarani e ao ucraniano os informantes dão
lugares “marginais”, periféricos, como já havíamos inicialmente previsto como uma das
hipóteses do projeto de pesquisa. Já em relação ao inglês e ao espanhol, a maioria dos resultados
mostraram comparativamente lugares semelhantes às duas línguas.
Diante disso, o caminho a seguir foi a realização de entrevistas, para ampliarmos o
corpus e para termos novos elementos para análise. Os resultados (ou a falta deles) da parte
quantitativa da pesquisa nos mostraram os temas aos quais deveríamos dar mais atenção na
elaboração das entrevistas. Foi o que fizemos e os resultados serão apresentados no capítulo
que está a seguir.
150
151
79
No capítulo 3, quando apresentamos os aspectos metodológicos da pesquisa, explicamos o porquê do
uso do termo informantes e os seus respectivos grupos. Além disso, incluímos um quadro com as siglas
correspondentes a cada grupo de informantes.
80
“as representações estão constituídas pelo conjunto das imagens, das posições ideológicas, das crenças
que têm os falantes a respeito das línguas em contato e das práticas linguísticas, as suas e as dos outros”
(CALVET, 2004, p. 167, tradução nossa).
152
81
No caso das entrevistas, não tivemos nenhum pai de aluno que participou da pesquisa.
82
Os enunciados dos informantes estão dispostos em formato de tabela para uma melhor visualização,
no entanto preferimos não nominar essas tabelas como fizemos com outros elementos ilustrativos,
gráficos e quadros, por exemplo.
153
PEr - o espanhol, se bem que, às vezes, o espanhol é traiçoeiro, certas palavras não são
aquilo que a gente pensa.
MEf - Então a gente fala que o espanhol é mais fácil, mas na verdade ele não é mais
fácil.
MEf - você acha que sabe, mas você não sabe, na verdade, você fica perdido igual.
PEc - embora assim eu já tive um professor que era peruano e não é tão fácil também
você entender.
PEc - o que não ajuda a aprender o espanhol infelizmente é a nossa língua, porque o
nosso estudante, ele não sabe a própria língua, então a partir do momento que eu não
sei a minha língua, eu vou ter dificuldade numa segunda (cita o exemplo de muy e
mucho). Eles têm dificuldade no espanhol porque não sabem o português.
83
“a imagem que predominou no Brasil historicamente tem sido a da transparência entre as línguas e
esta transparência não tem implicado confusão” (CELADA, 2008, p. 3, tradução nossa).
154
que trataram dessa temática: la justa medida de una cercanía (KULIKOWSKI & GONZÁLEZ,
1999), a proximidade e os aspectos contrastivos entre essas línguas (FANJUL, 2002), a inversa
assimetria entre as duas línguas (GONZÁLEZ, 2008), as descontinuidades e a memória na
relação dessas línguas (CELADA, 2008), entre tantos outros. De certa forma, mesmo não sendo
o principal elemento que fez modificar as representações sobre o espanhol, justamente porque
têm um alcance limitado devido à sua circulação apenas no ambiente acadêmico, do nosso
ponto de vista, esses estudos incidiram indiretamente para deslocar as representações acerca
dessa língua no Brasil. É provável que essas noções de língua e de proximidade linguística entre
o português e o espanhol tratadas nesses textos citados anteriormente tenham sido levadas ao
conhecimento dos professores de espanhol que atuam nas escolas investigadas e, por
consequência, tenham chegado aos seus alunos.
A análise que fazemos de enunciados que qualificam a língua espanhola como
“complexa”, “enganadora”, “traiçoeira”, “estranha” e “difícil”, assim como a noção de
“confusão” permite-nos inferir que estão agindo sobre esses enunciados uma representação
mais fiel e condizente com as práticas linguísticas observadas por esses informantes a partir de
suas vivências cotidianas relacionadas ao uso das línguas, ou seja, não são gratuitas essas
percepções de que há uma complexidade e diferença no funcionamento das línguas espanhola
e portuguesa. O seguinte enunciado exemplifica a não transparência entre o espanhol e o
português:
AEf - No shopping, por exemplo, aqui de Foz, entrou uns argentinos lá e eu estava
numa loja lá dentro lá e (inaudível), não a senhora tem que ficar na fila, porque eles
estavam cortando a fila, porque não tinha nenhuma indicação, tinha indicações, mas
em português e os argentinos não estavam entendendo e eles cortaram a fila e teve que
vir segurança pra afastar eles e tal e eu estava junto com a minha mãe nesse dia, só que
eu não sabia explicar pra eles como é que tinham que fazer. Minha mãe já explicou na
hora. Foi muito rápido o que ela falou e os argentinos compreenderam e agradeceram
ela, né, e foram certinho na fila e aguardaram, e os seguranças, assim, ficaram de cara,
né, principalmente eu fiquei de cara, numa loja grande como é, né, e não ter funcionário
adequado falando fluentemente o espanhol, né, principalmente o inglês, né.
O episódio narrado acima pelo aluno é ilustrativo sob o ponto de vista da relativa falta
de transparência entre as línguas portuguesa e espanhola. Além disso, o fato de o informante
ter ficado “de cara” porque um estabelecimento comercial como aquele não possuía
155
funcionários preparados para aquela situação, mostra que há esta expectativa, especialmente na
fronteira do país, de profissionais bilíngues, que saibam atender ao público em mais de uma
língua. Isto é, está evidente que o informante manifesta uma representação de que caberia ao
espanhol um lugar de maior destaque nas competências linguísticas dos profissionais que atuam
naquele shopping.
Nesse processo de relativizar a facilidade do espanhol para o brasileiro, o uso de
construções adversativas merece também ser explicitado. A conjunção adversativa mas aparece
com bastante frequência, como nestes exemplos: “você acha que sabe, mas você não sabe”,
“que é mais fácil assimilar, mas não é”, “o espanhol é parecido, mas não tanto” e em
“Confunde, mas acredito que ajude também”. Ademais, são vários os casos em que se acionam
dois polos contrários no eixo da argumentação para, por um lado, não descartar a proximidade
entre as duas línguas e, por outro, assinalar que apesar da proximidade, o espanhol é diferente
do português, como em “pode ajudar e pode piorar”, e também nas seguintes contraposições:
“ajuda, mas confunde”, “fácil, mas engana”, entre outros. Essas maneiras de relativizar a
facilidade do espanhol também são expressadas na forma de alertar para possíveis embaraços,
como em: “engana, cuidado!”, “na verdade, você fica perdido igual”.
Alguns enunciados dos informantes nos chamaram a atenção por atribuírem ao espanhol
um lugar igual ao do inglês. É verdade que algumas representações se mostram um tanto quanto
incoerentes com a realidade das práticas linguísticas, como neste enunciado:
AEc - tirando o português, o inglês e o espanhol, porque são as três línguas mais faladas
no mundo, assim, digamos, são basicamente as línguas universais. Onde você for, o
português não é tanto, mas o inglês e o espanhol, onde você for se você falar inglês ou
espanhol, o pessoal vai entender, o pessoal vai responder, então tipo seriam esses três.
Está manifestada nas palavras do aluno uma representação um pouco extremada quando
inclui o português numa sequência de línguas “universais”. É claro que há também uma
relativização, quando o informante diz que “o português não é tanto”, apesar de esse aluno
concluir que “seriam esses três”. Mas o que é saliente nesse enunciado é a representação de um
lugar dado ao espanhol igual ao lugar dado ao inglês, com a especificação de um lugar universal,
mais falado no mundo e, portanto, “onde você for se você falar inglês ou espanhol, o pessoal
vai entender, o pessoal vai responder”.
Dessa forma, pelo que vimos mostrando, o que percebemos na nossa amostra é uma
menor ingenuidade em relação à representação sobre a facilidade para o brasileiro de
156
compreender e aprender espanhol se compararmos com estudos de duas décadas atrás, por
exemplo, que demostravam representações associadas à facilidade de aprendizagem e
compreensão dessa língua. Nesse sentido, entendemos que isso ocorre por dois motivos: em
primeiro lugar, porque essa representação sobre o espanhol está dita em função da necessidade
de aprendizagem, quando antigamente era uma afirmação para justificar uma não necessidade
de aprendizagem. Em segundo lugar, porque essa percepção dos informantes se limita à
compreensão, não à produção oral. São raros, praticamente inexistentes, os casos em que se
mencione que seja fácil falar espanhol, talvez porque se atribua a essa língua um lugar de leitura,
como veremos mais adiante.
Além disso, e o que julgamos mais importante, são os efeitos da escolarização do
espanhol presentes nas respostas dos informantes, colocando lado a lado o inglês e o espanhol
como “línguas necessárias” e desconstruindo a imagem de que não há necessidade de o
brasileiro estudar espanhol para comunicar-se nessa língua. Nesse sentido, os enunciados
mostram um panorama ideológico significativamente diferente do que se via nos trabalhos
produzidos antes da implantação do espanhol nas escolas, implantação essa que teve seus
melhores momentos a partir de 2005 e que se manteve, em certa medida, e apesar das
dificuldades, estável por aproximadamente uma década.
Especialmente nas indagações sobre quais línguas são ensinadas nas escolas
paranaenses e acerca de quais línguas devem ser ensinadas, surgiu um número expressivo de
respostas que dão ao espanhol um lugar que talvez era impensável no início deste século,
justamente, quem sabe, pela ausência do espanhol nas escolas, como dito neste enunciado de
uma mãe de aluno da escola rural (MEr): “antes era mais o inglês”. Como se sabe, a inserção
do espanhol na escola pública brasileira foi sendo construída a passos lentos, com superação de
obstáculos, conquistas e retrocessos, como foi descrito no capítulo 1 desta tese.
Ademais, nos chamou a atenção a abundância de respostas favoráveis ao espanhol,
quando pedimos que os informantes elencassem, por ordem de prioridade, quais línguas são as
mais importantes para sua comunicação através dos computadores. É possível mencionar que,
mesmo o inglês aparecendo com mais frequência nas respostas, o espanhol ocupa no imaginário
dos paranaenses um lugar que era impensado duas décadas atrás. Nessa parte cabe um parêntese
para esclarecer que os informantes não sabiam que o entrevistador é professor de espanhol,
portanto todas as respostas foram dadas sem que se colocasse uma língua em destaque e sem
que houvesse identificação da formação do pesquisador. Essa informação vale tanto para as
respostas obtidas nas entrevistas como nos questionários.
157
PEc - eu acredito que duas, né, no ensino obrigatório, que é o espanhol e o inglês ou o
espanhol ou inglês, né, eu acredito que sejam duas.
PEc - eu acho que desde o início as duas, tanto o inglês quanto o espanhol, isso, porque
é, querendo ou não, hoje são duas línguas que é, super necessárias, em todo lugar que
você vai você sempre tem as duas opções, se você vai viajar, mesmo que seja dentro
do teu país, né, você vai olhar as placas de aeroportos, por exemplo, tem as duas opções,
né, então eu acho que tinha que ter as duas desde a base mesmo.
DEr - então oferecer uma e em contra-turno outra, né, pra ele ter mais chances,
oportunidades, também o espanhol e inglês eu acho que as duas são, né, são muito
importante.
AEr - Eu acho que deveria ser o inglês, o espanhol. Eu acho que as duas só, que a gente
ocupa bastante.
AEr- Acho que tinha que ter inglês e espanhol à noite, pra todo mundo.
MEr - O inglês e o espanhol principalmente, né, é essas duas mais que eu acho.
PEr - além do espanhol e do inglês, que são línguas necessárias.
PEf - se vai colocar as duas, espanhol e inglês, coloca de tal a tal ano espanhol e de tal
a tal ano inglês, ou optativa, agora sem, não dá,
MEf - Acho que é importante as duas. Ah, eu acho interessante tanto uma como a outra.
O espanhol é muito bom pra gente aqui, né, por essa região, porque o Paraguai e a
Argentina, tudo aqui é espanhol e o inglês também.
AEf - ah, essas línguas [espanhol e inglês] eu acho que está bom, porque são meio que
principais, ultimamente são as que mais faladas, daí eles estão querendo preparar os
alunos pra saber um pouco.
Como se pode notar nos enunciados acima, existe uma representação de paralelismo
entre o inglês e o espanhol, ou seja, lugares “equiparáveis” atribuídos a essas duas línguas. Na
nossa opinião, e é o que estamos tentando demonstrar ao longo dessas análises, estão agindo
sobre esses enunciados o processo de escolarização do espanhol no Brasil, ou seja, aparecem aí
158
os efeitos das políticas linguísticas, sobretudo daquelas adotadas pelos governos, como
exemplificado neste enunciado proferido por um professor da escola rural (PEr): “Se torna mais
por causa da oferta do governo, porque daí os alunos já têm essa oferta, né, e hoje vários
países que também estão utilizando o espanhol”. Um outro caso em que se manifesta o efeito
recente da escolarização do espanhol foi dito por uma mãe de aluno da escola rural (MEr).
Segundo ela, “o espanhol, né, que entrou agora também né”. Notamos que há essa percepção
por parte da informante de que há uma outra língua na escola do seu filho, que é recente essa
entrada na matriz curricular, mas que já faz parte do cenário escolar.
Ainda para ilustrar essa questão do espanhol no contexto escolar, um professor da escola
rural (PEr) faz o seguinte comentário: “[o espanhol] por vir sendo trabalhado”. Observemos
que esse enunciado faz menção ao trabalho “sendo trabalhado” como atividade profissional,
entendido aqui por nós como algo regular, com todas as prerrogativas inerentes a algo que tem
lugar, que não é apenas passageiro. Dessa forma, esses enunciados nos ajudam a argumentar a
respeito do lugar que ocupava o espanhol e do lugar que ele ocupa atualmente.
Nesse sentido, merece ser grifado novamente o fato de que a representação do espanhol
como língua fácil deu lugar à representação do espanhol como língua que requer aprendizagem
e/ou que ocasiona aprendizagens, ou seja, é uma língua que está ligada à expectativa de
aprendizagem e não como uma língua que dispensa sua aprendizagem84. Vejamos a seguir três
enunciados que ilustram nossa afirmação:
AEf - lendo aquilo ali em espanhol eu acho que eu posso entender mais, compreender
mais, né, e com isso facilita mais a minha aprendizagem.
AEf - ah, aí é fácil pra entender, eu usaria um pouco para aprender um pouco mais,
né, que eu estou fazendo curso.
DEr - sempre a gente diz, né, veja aquela língua que vocês vão se sair melhor, né, que
vocês dominam mais, que tenha mais facilidade, porque de repente vocês (inaudível),
isso pode ajudar, se você conseguir entender o espanhol ou uma língua, vai ajudar, né,
então eles, a maioria, acho que todos, 100%, fazem adesão ao espanhol, por essa
semelhança, né, da língua.
84
Apesar de estar evidente essa representação sobre o espanhol como língua de aprendizagem, está
presente também uma expectativa de facilidade, que, de acordo com a nossa análise, não pode ser
confundida com certeza de facilidade. Essa expectativa de facilidade se mostra também em oscilações
como: “fácil, mas nem tanto” e em “ajuda, mas não ajuda”, conforme mencionamos anteriormente.
159
Os dois primeiros enunciados são resultados das respostas dadas a este questionamento:
Em qual língua está configurado o seu computador? O que você faria se tivesse que usar outra
língua ao invés dessa [do português] no seu computador? Esses enunciados tratam de vincular
claramente o espanhol a um espaço de aprendizagem, como em “facilita mais a minha
aprendizagem”, “aprender um pouco mais” e “eu estou fazendo curso”, ou seja, não se pensa
prontamente em mudar nas configurações do computador o idioma para o português. Pelo
contrário, se busca um entendimento daquilo que está escrito na tela com a perspectiva de que
ali também se pode aprender. Nosso entendimento, nessa análise, é o de que seria como
transformar uma dificuldade de compreensão numa oportunidade de aprendizagem.
O último desses enunciados é decorrente do nosso questionamento sobre se a escola
ajuda os alunos na escolha da língua estrangeira para o vestibular. É verdade que nesse
enunciado está presente também uma representação da facilidade do espanhol para o brasileiro,
especialmente vinculada à habilidade de compreensão leitora, que é o que se exige no
vestibular, mas o que nos chama a atenção é que é dado ao espanhol um lugar específico na
educação, um lugar de aprendizagem. Ademais, entendemos que pode ter havido um exagero
na suposição de que “100%” dos estudantes escolheria essa língua, apesar de que dados85
recentes do MEC apontam que majoritariamente os alunos (cerca de 60%) optam pelo espanhol
no ENEM num comparativo com o inglês, apesar de que o índice de acertos em língua
estrangeira é maior dos que fazem a prova de língua inglesa.
Para citarmos como exemplo mais específico e contextualizado, apresentamos os
números do vestibular da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), uma das
universidades públicas paranaenses, que ocorreu nos dias 17 e 18 de setembro de 2017, com
vistas ao ingresso de novos alunos no primeiro semestre de 2018, ou seja, são dados
atualíssimos. Dos 4646 candidatos inscritos, 2949 optaram por fazer a prova de espanhol e 1552
optaram por fazer a prova de inglês. Os percentuais podem ser visualizados no gráfico a seguir:
85
Fonte: Microdados do ENEM. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/microdados>.
Acesso em: 04 set. 2017.
160
Diante desses números, de forma alusiva, entendemos que é provável que a maioria dos
vestibulandos optem pelo espanhol nos vestibulares das outras universidades públicas
paranaenses. Foram excluídos da nossa análise 145 vestibulandos (3,1%) porque estes não
tiveram oportunidade de escolha, haja vista que os cursos para os quais eles se inscreveram no
vestibular aceitam apenas o inglês ou o espanhol. São casos como o de Letras-Espanhol, por
exemplo, ofertado na UNICENTRO, Campus de Irati, que exige que os vestibulandos façam a
prova de espanhol no vestibular. Mas entre esses excluídos há um dado interessante: o curso de
Ciência da Computação é o único curso que não é voltado para as línguas estrangeiras que
restringe apenas ao inglês a opção de língua estrangeira no vestibular. Esse dado corrobora a
nossa discussão acerca da representação que “encaixa” o inglês como língua da ciência,
apresentada na terceira parte deste capítulo. Em consulta à coordenação do curso de Ciência da
Computação, investigamos se havia algum registro em ata, ou alguma memória sobre essa
decisão do Conselho Departamental de exigir que os vestibulandos façam a prova de inglês. O
chefe atual do Departamento nos informou, via e-mail, o seguinte:
Retomamos via telefone esse assunto com um dos docentes mais antigos desse curso e
ele nos explicou que nunca ouviu qualquer tipo de indagação sobre essa decisão, pelo contrário,
essa escolha departamental é tratada com naturalidade, sem margem para qualquer
possibilidade de mudança ou discussão.
161
Nesse ponto, vale a pena acrescentarmos um outro elemento à análise: o lugar dado ao
espanhol quando perguntamos, nos questionários, na opinião dos informantes, em qual(is)
língua(s), além do português, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas indicadoras de
lugares públicos etc.) deveriam estar escritas. Para os alunos, perguntamos em relação à sua
cidade (Curitiba, Foz do Iguaçu e Irati, respectivamente) e para os grupos de informantes dos
adultos (pais de alunos, professores e diretores), perguntamos em relação ao Paraná. Os
resultados estão apresentados nos gráficos a seguir:
Sinalizações em Curitiba
90 80
80
70
60
46
50
40
30
20
10 1 4 1 3 3 3 1
0
inglês espanhol italiano alemão polonês ucraniano francês guarani mandarim
Sinalizações em Irati
45
39
40
35 32
30
25
20
15
10 5 6
4
5 1
0
inglês espanhol italiano alemão polonês ucraniano
Os resultados mostram que para os alunos de Curitiba o lugar de maior destaque deve
ser dado ao inglês, como já havíamos previsto nas hipóteses iniciais da pesquisa. Já para os
alunos de Foz do Iguaçu, o inglês e o espanhol ocupam lugares muitos próximos, pois há um
“empate técnico” no número de indicações. E em Irati, o espanhol recebe o maior número de
indicações, resultado esse que acena para um lugar mais destacável para essa língua. Esses
dados corroboram a nossa discussão acerca do lugar do espanhol quase equiparado (em alguns
casos há uma comparação explícita) com o do inglês. Na sequência, apresentamos os resultados
obtidos com as respostas do público adulto, composto por pais de alunos, professores e diretores
das três escolas.
10
6
5 3
1 1 1 1 1
0
Curitiba Foz do Iguaçu Irati
Como se pode notar, os resultados mostram que em Curitiba e Foz do Iguaçu o inglês e
o espanhol recebem praticamente o mesmo número de indicações. Em Irati, o espanhol recebe
163
a metade do número de indicações dado ao inglês. Esses dados nos ajudam a argumentar acerca
do alcance destacável que o espanhol ocupa no imaginário dos paranaenses, tendo praticamente
o mesmo status do inglês. O que merece ser mencionado é que os resultados dos informantes
de Foz do Iguaçu se mantiveram parecidos numa comparação entre os alunos e o público adulto.
Em Curitiba e em Irati, nesse tipo de comparação, os resultados foram diferentes. Para o público
adulto de Curitiba, o espanhol e o inglês “caminham” lado a lado, já para os alunos o inglês
recebe um lugar mais destacável. Em Irati ocorreu o contrário, pois os alunos dão ao espanhol
um lugar privilegiado, inclusive superando o número de indicações dado ao inglês, e o público
adulto concede ao espanhol a metade de indicações recebidas pelo inglês. Essa diferença
constatada nos dá mais indícios de que estão agindo, especialmente em Irati, os efeitos da
escolarização do espanhol. Porém, como não é nosso objetivo trabalhar com comparações entre
os públicos das três escolas, não vamos nos aprofundar nessa discussão.
Em relação às outras línguas (além do espanhol e do inglês) mencionadas nos
enunciados das entrevistas e nas respostas aos questionários, há na sexta parte deste capítulo
uma discussão sobre a sua situação de minorização.
língua espanhola nos mais diversos meios motivada por uma nova proposta de um pan-
hispanismo renovado que já se anunciava no início no século XX, conforme descreve Del Valle
(2007) e que tem a Espanha como gestora dessa língua. Algumas ideias como a de língua como
“pátria comum”, “desterritorializada”, “língua de encontro”, entre outras, foram reaproveitadas
e difundidas principalmente pelo Instituto Cervantes, após sua implantação/fundação no Brasil
a partir de 1998, órgão estatal espanhol que é componente central da política pan-hispânica para
a difusão da língua espanhola no exterior. Convém mencionar que fatores comerciais e de
rentabilidade financeira são elementos norteadores das políticas do Instituto Cervantes. Além
dessas políticas mencionadas, o que nos parece ter incidido mais diretamente nas representações
dos nossos informantes, inclusive por chegar mais ao grande público, é o papel das
multinacionais espanholas presentes no Brasil e nos países vizinhos, como os bancos Santander
e o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), a empresa de transporte aéreo Iberia, a empresa
de telecomunicações Telefônica, que além de serem parte das mesmas políticas pan-hispânicas,
parecem representar uma “promessa” de que o espanhol pode significar uma “inserção no
mundo”, um sinal de “sucesso” pessoal e profissional.
Além disso, na Espanha, a partir da aprovação da Constituição de 1978, foram sendo
desenvolvidas um par de políticas linguísticas direcionadas para a planificação de status e do
corpus do espanhol, além, é claro, de esforços que tentavam regular as línguas cooficiais das
comunidades autônomas. Para Del Valle e Villa (2005, p. 199), “desde principios de los
noventa, se diseñaron y pusieron en práctica proyectos de planificación del estatus del español.
Los objetivos declarados de estas políticas se pueden condensar fundamentalmente en dos: la
consolidación de la unidad de la lengua y su promoción internacional”86. Para os mesmos
autores, colocar a língua num status superior ao que se encontrava era uma das metas tanto da
Real Academia Española (RAE) como do Instituto Cervantes, que estavam dispostos a dotar o
espanhol de uma
86
“desde princípios dos noventa, se projetaram e puseram em prática projetos de planificação do status
do espanhol. Os objetivos declarados destas políticas se podem condensar fundamentalmente em dois:
a consolidação da unidade da língua e sua promoção internacional” (DEL VALLE & VILLA, 2005, p.
199, itálico do autor, tradução nossa).
165
E para alcançar esse objetivo, um dos principais argumentos adotados pelas instâncias
de fomento foi vincular o espanhol a um valor econômico, capaz de gerar riquezas, como se
percebe nas palavras de Del Valle e Villa (2005, p. 201).
87
“imagem pública que sirva a sua aceitação como língua comum da Espanha – frente ao constante
questionamento de seu status por parte dos nacionalismos catalão, galego e vasco – e a sua afirmação
como língua de prestígio internacional – que persegue ao todo poderoso inglês e desafia às velhas
grandes línguas de tradição como o alemão e o francês” (DEL VALLE & VILLA, 2005, p. 200, itálico
do autor, tradução nossa).
88
“entre os objetivos prioritários das políticas linguísticas que estamos descrevendo estão a incorporação
do valor econômico à imagem pública do espanhol (convencer a todos, dentro e fora do mundo
hispânico, de que saber espanhol é benéfico) e a organização de um setor empresarial destinado à
exploração deste recurso” (DEL VALLE & VILLA, 2005, p. 201, tradução nossa).
166
No que diz respeito ao PEIF, uma mãe de aluno da escola fronteiriça (MEf) faz menção
a ter participado de uma experiência diferente em relação ao espanhol. De acordo com essa
informante, “eu já tive uma palestra já em espanhol, lá no Porto Meira, essas escolas
intercultural”, o que mostra que o espanhol está inserido, por meio do PEIF, no plano de
educação intercultural bilíngue.
Isso que tratamos como escolarização ou curricularização do espanhol, percebida nas
representações dos informantes e decorrente dessa conjuntura de ações descritas acima, está
fortemente ameaçada pelas políticas adotadas pelo Governo Federal desde 2016. Conforme já
discutimos no capítulo 1, a lei que propõe a reforma do Ensino Médio (Lei nº 13.415/2017),
entre outras mudanças, revogou a Lei do Espanhol e deixou apenas o inglês como língua
estrangeira obrigatória. Está no texto dessa Lei, no § 4o, do inciso IV, do Art. 35-A, o
seguinte: “Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua
inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o
espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas
de ensino” (BRASIL, 2017). A exclusividade dada ao inglês nessa reforma educacional vai na
contramão do que propunha os PCN’s: “sem dúvida, a aprendizagem da Língua Inglesa é
89
O PNLD é um programa do Governo Federal que objetiva auxiliar os docentes nas atividades
pedagógicas por meio da distribuição de livros didáticos aos alunos da Educação Básica da rede pública
de ensino.
167
fundamental no mundo moderno, porém essa não deve ser a única possibilidade a ser oferecida
ao aluno” (BRASIL, 2000, p. 14).
Tratamos desse tema da reforma do Ensino Médio com os diretores das três escolas,
para sabermos o que pensam sobre o assunto. Uma das informantes disse o seguinte quando
perguntamos se havia alguma discussão acerca de excluir o espanhol da matriz curricular e
incluir o inglês no seu lugar: “não, nenhuma, nem se cogita a ideia”. Já em outro caso, a postura
da diretora é mais cautelosa/diplomática, seguidora de ordens: “eu não sei, a proposta do
governo é o inglês, né, que eles querem o inglês daí eu não sei se a gente vai pelo, vai ter que,
eu acho que não vai ter escolha, né, vai ser direcionada, vai vir de lá, eu acho que a gente não
vai ter muita saída pra escolher, né.”. Esse enunciado vem logo após uma introdução
esclarecedora: “cada um puxa pro seu lado, né”, mostrando que o papel do gestor da escola tem
relevância fundamental nas políticas de adoção e de exclusão das línguas nas escolas. Citamos
um outro enunciado que corrobora o que vimos dizendo: “eu sou suspeita pra falar, né, porque
eu sou do inglês”, ou seja, nesse caso, não se cogita a ideia de contrariar aquilo que vem de
cima, justamente porque há interesses particulares em jogo. O outro diretor não se posiciona
claramente sobre a questão das línguas na reforma do Ensino Médio, apenas menciona que isso
“é uma briga tão desnecessária porque não é essas mudanças que vai melhorar o ensino no
Brasil, não é isso” e que, segundo ele, ainda vai demorar para que haja alguma alteração na
matriz curricular das escolas paranaenses: “essa mudança nova agora eu não conheço bem o
teor, que pra ser implantado no Paraná eu não sei quando, acho que só daqui dois anos, que
vão pensar em mexer em alguma coisa, por enquanto continua como está, sabe, não sei se
algum estado para em 2018 já vai começar a implantar”.
Não há como duvidar que os lugares ocupados pelas línguas são resultados de disputas
políticas, assim como é preciso entender que o funcionamento das línguas e os seus lugares se
dão em relação a outras línguas. Esses lugares estão em constante processo de reformulação,
sejam por fatos político-linguísticos oficiais, como a proposta de um novo Ensino Médio, seja
por políticas não institucionalizadas, como aquelas que ocorrem diariamente nas práticas
linguísticas das pessoas. Nesse sentido, volta a ser atual o contido nas OCEM, quando
menciona, por exemplo, que “estamos diante de um gesto político claro e, sobretudo, de um
gesto de política linguística, que exige uma reflexão acerca do lugar que essa língua [espanhol]
pode e deve ocupar no processo educativo” (BRASIL, 2006, p. 128). Se naquela época, em
2006, se exigia reflexão acerca do lugar do espanhol, o momento atual não é diferente.
Embora o cenário educacional e político brasileiro atual seja de muita incerteza, pois
ainda não se sabe ao certo o que ocorrerá efetivamente nas escolas no que tange à reforma do
168
Ensino Médio, nossa percepção vai no sentido de que os esforços despendidos a favor do
espanhol no Brasil não foram em vão e, portanto, modificaram o panorama das línguas
estrangeiras no nosso país, fazendo com que a inércia histórica mencionada por Celada (2008)
fosse descontinuada e fixando raízes sólidas capazes de dar futuros e promissores frutos.
De qualquer forma, e apesar desses retrocessos, o que deve prevalecer nessa discussão
é o conjunto de políticas que colocaram o espanhol numa situação equiparada ao inglês e que
estão presentes nas representações dos informantes, como vimos apresentando seus enunciados.
5.2 O espanhol como língua de leitura e o inglês como língua de comunicação oral
Passamos agora a analisar algo que nos pareceu relevante justamente porque nunca
havíamos visto isso em outros estudos. Trata-se de uma representação que parece tender a
qualificar o espanhol como língua de leitura e o inglês como língua de comunicação oral. É
necessário aclarar que essas representações ocorrem em determinadas circunstâncias e por
determinadas razões, mas é também necessário enfatizar que se trata de como essas línguas
aparecem representadas nas respostas de muitos dos nossos informantes. Não é raro relacionar
o espanhol como língua de cultura, principalmente em contraposição ao inglês como língua de
negócios, como bem observou Sousa (2007), no seu estudo. Desse modo, apresentamos
inicialmente dois enunciados para depois procedermos às análises. O primeiro deles surgiu
numa situação em que perguntávamos sobre a preferência pela língua estrangeira para a
realização de uma palestra. O segundo enunciado é oriundo de uma pergunta sobre qual língua
estrangeira o aluno escolheria no vestibular ou no ENEM para a realização da prova.
Imaginamos que podem estar agindo sobre essa representação do informante alguns
efeitos da implantação do espanhol na matriz curricular das escolas. As próprias OCEM –
Espanhol (BRASIL, 2006) sugerem um trabalho que se alinhe à formação do aluno como
cidadão crítico e não apenas um sujeito que vai fazer provas de vestibular.
169
Ao dizer que “a interpretação de texto mesmo não é tão complexa assim como no
espanhol” (AEc), isso pode ter a ver com que a presença do texto na aula de inglês, na nossa
opinião, deve ser bem menor em relação à presença do texto em espanhol. E ainda, quando se
menciona que “no inglês é mais verbo” (AEc), supomos que isso decorre das experiências e
representações de que se ensina na escola apenas o verbo to be, como exemplificaram outros
informantes que participaram deste estudo. Além disso, não é raro na aula de inglês o trabalho
de conjugação verbal que propõe como exercício de “treinamento” a memorização de tabelas
de verbos e o preenchimento de espaços vazios.
Ademais, analisamos que há uma certa ingenuidade do aluno em pensar que uma
palestra proferida em inglês seria de fácil compreensão. Essa representação simplesmente não
condiz com a realidade e a complexidade que é entender um falante palestrando em inglês, mas
como estamos trabalhando com representações, essas não estão na ordem da comprovação e
sim da própria existência. Além disso, a representação de que há muita dificuldade na
interpretação de textos em espanhol está vinculada a uma falsa ideia de que para o brasileiro é
muito difícil aprender outras línguas porque não sabe a língua portuguesa. Não é raro ouvir que
os falantes de espanhol “respeitam” na fala as regras usadas para a escrita. Já no caso dos
falantes de português, a representação corrente é a de que o brasileiro “não sabe” falar
português, como dito por esta informante:
PEc - o que não ajuda a aprender o espanhol infelizmente é a nossa língua, porque o
nosso estudante, ele não sabe a própria língua, então a partir do momento que eu não
sei a minha língua, eu vou ter dificuldade numa segunda [...] Eles têm dificuldade no
espanhol porque não sabem o português.
170
PEr - alguma coisa eu diria que eu sei pronunciar em inglês, talvez coisas químicas, na,
da minha área, mas dizer que eu fale fluentemente, não.
PEf - no caso somente o inglês, né, intermediário, comunicação, audição, e a nossa
nacionalidade, o português.
PEr - o inglês, não fluentemente, mas deve ter alguns que conversam.
AEr- português, e já, eu estou aprendendo assim a falar inglês e agora, à noite, a gente
está aprendendo o espanhol.
DEc - mas no Paraná tem muita gente que fala inglês, tem muita gente que fala alemão,
tem muita gente que fala francês, italiano.
MEr- Você vai falar o português correto. Pergunta em inglês e algumas coisinhas. Que
nem eu sempre brinco com a minha menina. Como é que é? Vai me fugir agora. O
171
nome que sempre era batido nas aulas e the book is on the table lá, que o livro está
sobre a mesa era o que mais a professora repetia e daí e só.
Alguns termos são bastante frequentes quando se atribui imaginariamente ao inglês esse
lugar de língua de comunicação oral, como fluência, pronúncia, fluentemente, conversa, fala,
audição, comunicação. Não que esses termos não possam estar relacionados à escrita e à leitura,
mas são mais contundentes no âmbito da oralidade. Já em relação ao espanhol, parece haver
uma expectativa de compreensão, mais voltada para a leitura, como se pode notar nos
enunciados apresentados a seguir.
Uma das hipóteses para o surgimento dessa representação que tende a encaixar as
línguas em domínios diferentes (oralidade e leitura) pode estar relacionada ao desenvolvimento
de campanhas publicitárias de escolas de idiomas, especialmente aquelas que tratam a língua
inglesa como o seu carro-chefe. A maioria dos slogans e propagandas dessas escolas de idiomas
prometem que estudando em determinada escola o aluno falará inglês em tanto tempo, terá
fluência na língua porque os professores são nativos, ou falará inglês fluentemente, entre
outras marcas que aludem à oralidade.
172
Vejamos alguns exemplos que foram extraídos90 das páginas web oficiais de algumas
conhecidas escolas de idiomas: o primeiro exemplo que abordamos aqui é o da Cultura Inglesa.
Essa escola, que é considerada a escola de idiomas mais antiga do Brasil, numa campanha
publicitária atual de workshops de conversação, apresenta o seguinte slogan: “o inglês que
você precisa do jeito que você quer”. No caso da Wizard, a maior escola de idiomas do mundo,
com mais de 1200 escolas espalhadas em 740 cidades brasileiras, o slogan atual é “falar inglês
também pode fazer parte da sua realidade”. A Wise Up também relaciona a oralidade no seu
slogan: “Esteja pronto para as oportunidades. Fale inglês”. O CCAA adota uma alternância de
código para chamar a atenção do público: “Quando você vê, you are speaking”. E para concluir,
no CNA, que apresenta ao lado do nome a indicação de “inglês definitivo”, na descrição do
curso para adultos, explica como o aluno aprende inglês: “No CNA você aprende a se
comunicar em inglês fazendo, na sala de aula, o que você terá que fazer fora dela: se apresentar,
pedir informações, fazer apresentações, ler notícias e escrever e-mails. Assim, o aprendizado
se dá de forma significativa e natural”. Esses são apenas alguns exemplos de algumas escolas
de idiomas que vinculam o inglês à oralidade.
Além dos casos mencionados acima relacionados às escolas de idiomas, citamos o
Paraná Fala Inglês (PFI), programa do Governo Estadual criado em 2014 e que visa promover
a internacionalização das instituições do ensino superior do Paraná, oferecendo várias opções
de cursos de língua inglesa para docentes, alunos da graduação, pós-graduação e agentes
universitários das universidades paranaenses, com vistas especialmente a que participem de
mobilidade internacional. A proposta inicial do Governo se tratava de um programa mais
amplo, chamado Paraná Fala Línguas Estrangeiras, mas até 2017 o que se viu concretamente
foi apenas o PFI. E nesse exemplo percebemos mais uma vez a vinculação da língua inglesa à
oralidade e não à escrita.
Outra explicação que para esse “fenômeno” da vinculação do inglês à oralidade e do
espanhol à leitura diz respeito a que a “universalidade do inglês” carrega consigo a
representação de que é uma língua de todos e de ninguém, sem cultura, sem sotaque (se é que
se pode afirmar isso). Os termos International English, Global English, World English,
Common English ou General English são bastante frequentes no âmbito acadêmico e, de acordo
com Rajagopalan (2004, p. 11), dizem respeito a um inglês que “pertence a todas as pessoas
(do mundo) que falam inglês, mas ele não é a língua nativa de ninguém”. O que se acredita,
costumeiramente, é que o inglês é uma língua franca, capaz de permitir a comunicação entre
90
Consulta feita no dia 15 de agosto de 2017.
173
qualquer falante do mundo, pois nela estariam misturados todos os tipos de sotaques, palavras,
expressões etc.
Na página web da Cultura Inglesa, por exemplo, logo após anunciar que o inglês é o
“idioma do mundo”, há uma descrição que dá conta de mostrar que essa língua é comum a todo
o planeta. Segundo consta:
O inglês se mostra como um idioma comum a todo planeta. Sendo assim, uma
vez que o domine você poderá comunicar-se com muitas pessoas ao redor do
mundo. Primordial aos negócios, à tecnologia e demais elementos da
globalização, essa língua é tida como comum a todas estas especificações [...]
Pode parecer que o mundo caminha para sonho antigo do idioma universal. A
língua franca da vez é inglês, que hoje está estabelecido solidamente como
segundo idioma de eleição dos terráqueos, além de ser falado pelo império
americano. Praticamente obrigatório no universo dos negócios, das ciências e
da internet, trata-se sem dúvida de uma língua que, se você não fala, devia
falar (CULTURA INGLESA, 2016, negrito nosso).
Como se pode perceber, não são poucos os casos em que se vincula a língua inglesa à
oralidade e, por isso, nossa proposta tem sido a de tentar argumentar, baseados em alguns casos,
a origem dessa representação que atribui imaginariamente ao espanhol uma língua de leitura e
ao inglês uma língua de comunicação oral. Apesar de termos argumentado anteriormente sobre
a supremacia do espanhol nas escolhas para a realização de provas seletivas, como o vestibular
e o ENEM, na nossa opinião essa construção argumentativa precisaria de mais elementos além
do da “transparência” dessa língua com a portuguesa para que houvesse uma sustentação mais
consistente desses lugares dados ao inglês e ao espanhol. Em vista disso, como não dispomos
até o momento desses elementos, e isso requereria, talvez, uma investigação mais específica,
preferimos tratar esses dados como possíveis hipóteses que justificariam tal representação, sem
deixar de assinalar que a representação existe e foi manifestada nos enunciados dos informantes,
apesar da dificuldade de indicar a sua origem.
5.3 Para a saúde, o espanhol. Para a ciência, o inglês: lugares diferentes para línguas
diferentes
91
Se você necessitasse de um médico ou dentista e esse profissional não falasse português, mesmo assim
você procuraria atendimento com ele? Em qual(is) língua(s) você preferiria que fosse a comunicação
durante a consulta?
92
Imagine a seguinte situação: num sorteio, o Paraná foi contemplado com uma série de conferências
internacionais sobre meio ambiente e elas serão ministradas por um palestrante famoso que não é falante
de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria fazer as palestras?
175
participantes, 7 prefeririam que a palestra fosse em inglês, ou seja, mais que o dobro dos que
optaram pelo inglês no item anterior. Em que pese esse aumento, o espanhol ainda figura como
língua preferida, com 22 manifestações. Os números obtidos na parte quantitativa da amostra
também mostraram preferência pelo espanhol no caso da palestra, como se pode visualizar no
gráfico a seguir:
200
150 127
100
50
3 3 2 4 4 4 3 1
0
espanhol inglês italiano alemão polonês francês guarani ucraniano português mandarim
Até aqui tratamos apenas de dados quantitativos, que não são os mais importantes para
essa análise, na nossa opinião. Uma leitura superficial desses números acenaria para uma
supremacia de preferências pelo espanhol em detrimento de outras línguas. Mas como aqui não
cabe apenas a leitura superficial, passamos a analisar como os informantes articulam a sua
preferência por uma ou outra língua.
Os enunciados referentes à preferência pelo espanhol no item 13 das entrevistas estão
determinados por representações de que há uma maior facilidade na compreensão dessa língua
por ser parecida com o português. Seguem alguns enunciados:
Como se pode notar, nos enunciados acima, e em tantos outros que não foram
mencionados aqui, está explícita a representação de que a proximidade entre o espanhol e o
português sugere que os informantes escolham em primeiro lugar a língua espanhola para o
atendimento médico ou odontológico. A possível facilidade na compreensão foi manifestada
por quase todos os informantes. Nessa questão, cabe um parêntese: não é de se estranhar que
na comparação entre o espanhol e o inglês, ou entre o espanhol e o ucraniano, ou entre o
espanhol e o guarani, um falante brasileiro imagine que é mais fácil compreender o espanhol e,
portanto, prefira essa língua. O contrário, sim, causaria estranheza.
Ainda no que diz respeito ao item 13, citamos um ditado popular bastante comum (Com
saúde não se brinca), usado especialmente para quando se quer alertar a alguém que se deve
procurar atendimento médico por estar com algum sintoma ou problema de saúde. Citamos dois
enunciados interessantes a esse respeito:
MEc - se eu falar que eu estou com dor de barriga e ele entender que eu estou com dor
de cabeça, ele vai me dar um remédio errado.
DEr - [se fosse em espanhol] você não ia correr risco de vida ali, né.
Nesses exemplos, esse possível risco de vida e/ou de medicação errada decorre de uma
provável incompreensão na comunicação entre médico e paciente ou entre dentista e paciente,
conforme propunha a situação do item que estamos analisando. Imaginamos que deve ser
angustiante, e até temeroso, principalmente para o paciente, a falta de entendimento daquilo
que o médico ou dentista está falando, especialmente nessa condição em que o paciente já se
encontra fragilizado e procura atendimento para resolver seu problema de saúde.
Esse tipo de situação proposta objetiva fazer com que o entrevistado se manifeste
imediata e espontaneamente, sem profundas reflexões, acerca de uma cena visivelmente
desconfortável, que ativa emoções e que exige uma manifestação de preferência, uma tomada
de atitude, decorrente daquilo que as suas representações sobre as línguas o induzem a
expressar. Isso não desqualifica a nossa argumentação de que as atitudes linguísticas estão mais
vinculadas à parte quantitativa da amostra, vinculada sobretudo aos questionários da pesquisa.
Já no caso da palestra, tratada no item 14, comparativamente com o item anterior,
diminui essa preocupação com a falta de compreensão, haja vista que muitos dos informantes
supõem que os ouvintes não entenderiam a palestra, e mesmo assim acreditam que ela deve ser
feita em língua inglesa. Merece ser destacada uma naturalidade de vários informantes em
177
responder que o palestrante faria a palestra em inglês, sendo necessário, nesses casos, retomar
e explicar que não se trata disso, e sim, qual a preferência pela língua.
A título de exemplo, citamos estes dois enunciados, o primeiro deles é de um professor
da escola fronteiriça (PEf) e o segundo é de um professor da escola rural (PEr): “Ele falaria
inglês, mas acredito por ser o mais utilizado”, “Eu acho assim que as pessoas muitos procuram
até pra compreender, se eu não me engano, hoje em dia, até tem, eu lembro que eu fui numa
exposição que teve uma vez no MASP lá em São Paulo que era, tinha, era tudo em inglês mas
você chegava com um aparelhinho, você colocava na frente e ele traduzia, eu acho que por ser
mais utilizado” (itálico e negrito nossos).
Notamos que a escolha imaginária pelo inglês tem a ver com que seria uma língua mais
procurada, por ser mais utilizada, então, as pessoas poderiam optar por ela mais para praticar,
nesse caso, do que para garantir compreender o conteúdo da palestra. Além disso, essa escolha
pode estar relacionada com a larga presença da língua inglesa nas ciências e, portanto, no caso
de uma conferência internacional, logo se associa ao inglês, haja vista que é considerada uma
língua internacional, com status superior às outras línguas e, portanto, como maior prestígio.
Parece ocorrer, nessa perspectiva de análise, uma transposição de uma representação que
percebe o inglês como a língua da ciência e, portanto, a língua que deve ser usada na palestra.
Cabe frisar que mesmo supondo que grande parte do público não entenderia a palestra em
inglês, essa língua foi a escolhida por alguns entrevistados. Essa naturalidade ao tratar do lugar
das línguas se relaciona com a “saturação da consciência” (WILLIAMS, 1977 apud
WOOLARD, 2007), conforme expomos no capítulo 3 desta tese. Vale citar também que alguns
informantes mudaram de opinião quando foi retomada a pergunta e questionado sobre em qual
língua haveria mais compreensão do público.
Esses enunciados apresentados até aqui explicam, em parte, quando mencionamos no
subtítulo que para a saúde, o espanhol e para a ciência, o inglês93, ilustrado, também, com o
ditado popular de que com saúde não se brinca. É verdade que houve entrevistados que
perguntaram se havia a possibilidade de não fazer a palestra, como nestes exemplos:
DEf - Tem a opção de não fazer? Se tem a opção de não fazer é não fazer.
MEf - ah, não tem, iria fazer o que com outra língua? São pouquíssimas as pessoas que
conseguem falar.
93
Não queremos em momento algum afirmar que não se faz ciência em outras línguas.
178
AEr - para o Paraná só? o espanhol, né, porque é bem parecidão com o português. E
SE FOSSE PARA O BRASIL? Se fosse para o Brasil inteiro acho que o inglês daí, né.
E SE FOSSE SÓ EM GONÇALVES JÚNIOR: daí o espanhol, porque aqui a maioria
só sabe espanhol, um pouco.
PEf - no Paraná? Ah, tem que ser espanhol, né, é. Vamos supor, depende da pessoa, a
pessoa tem facilidade com o inglês, mas como a região aqui, é uma região como que a
gente estava falando, de fronteira, então o espanhol aqui ele predomina bem mais, ele
acaba predominando, não tem jeito, então às vezes não tem que olhar, vamos supor, o
cara lá fala inglês, mas é só ele, mas a maior parte tem a fala do espanhol, então teria
que ser o espanhol, né, creio que seria por esse lado, pelo todo, o contexto de modo
geral. SE FOSSE NO BRASIL, NAS CAPITAIS: com certeza o palestrante ia falar em
inglês. EXPLICO QUE NÃO SE TRATA DA NATURALIDADE DO INGLÊS: no
Brasil todo? seria o inglês, não teria como. Acho que voltaria naquele aspecto da
questão da maior quantidade de pessoas terem acesso à língua. Acho que não tem outra.
Olha, aí quando você chegar no Paraná você fala em espanhol.
Nesses exemplos acima, os entrevistados fazem suas opções por palestras em espanhol
no Paraná e em inglês para o restante do Brasil, como se no Paraná houvesse uma tendência a
compreender mais a língua espanhola do que em outros estados brasileiros. Uma das
justificativas para essa representação consiste no fato de o Paraná fazer fronteiras com a
Argentina e com o Paraguai, ambos países que têm o espanhol como língua oficial. Além disso,
um exemplo que foi mencionado nas entrevistas foi o fato de estar radicada no Paraná a UNILA,
com sede em Foz do Iguaçu, instituição criada justamente para fortalecer a integração dos povos
latino-americanos. Essa representação de uma presença maior do espanhol no Paraná pode ser
decorrente dos processos de integração regional entre o Brasil e os países Sul-Americanos,
como se percebe nestes enunciados:
PEf - você tem Argentina, as universidades que você, alguns alunos daqui saem do
Brasil também para estudar na Argentina, para estudar no Paraguai, por exemplo, curso
de Medicina, então, normalmente o espanhol está sendo muito influenciado agora,
acredito que no Paraná, né, também o espanhol seja uma língua valorizada.
180
Acerca da indicação de uma ou de outra língua para que fosse feita a palestra (item 14),
compete-nos apresentar o enunciado de um professor da escola da capital (PEc). Segundo esse
informante, “eu acho que o espanhol, eu acho que é mais fácil do público geral entender, né,
pela proximidade da língua, depois o inglês, talvez se for só pra técnicos e tal, talvez o inglês
fosse a mais adequada”. Percebemos nesse enunciado uma diferenciação entre técnicos e
público em geral, mostrando que, de acordo com essa representação, de maneira alusiva,
haveria uma língua do conhecimento científico (inglês) e outra do conhecimento popular
(espanhol), ou uma língua mais específica, para poucos conhecedores (técnicos) e a outra mais
geral, mais próxima, de acesso mais amplo. Estão evidentes, portanto, dois tipos de
aproximações às línguas, ou seja, para o inglês há um lugar de prestígio, de língua dominante,
e para o espanhol, por ser a língua mais próxima do português, a língua possível, há um lugar
da comunicação isolada, face a face.
Vale comentar, também, que para o item 13 foram dadas várias respostas relacionadas
aos médicos cubanos, que trabalharam e trabalham no Brasil por ocasião do Programa Mais
médicos, cuja cooperação se deu entre o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-
Americana da Saúde (OPAS). Na nossa opinião, a recorrência desses enunciados se relaciona
a uma experiência coletiva específica com a língua espanhola, uma vez que, de certo modo,
para muitos brasileiros atendidos pelos profissionais cubanos, além de ter sido o primeiro
contato com um falante nativo de espanhol, foi um momento de superação do preconceito que
se criou em relação aos médicos cubanos, haja vista que foi bastante criticada a vinda deles para
o Brasil. Um dos argumentos que pesava contra esses profissionais era a possível
incompreensão da língua espanhola por parte dos brasileiros, argumento que foi logo
desconstruído à medida que os atendimentos médicos foram sendo realizados.
5.4 Sei pouco, mas ele é bom pra tudo: representações sobre o inglês
181
É comum que se tente medir os conhecimentos das pessoas em relação às línguas. Para
isso, existem as mais diversas formas de “encaixar” os falantes em determinados níveis.
Citamos alguns, por exemplo: básico, intermediário, avançado, superior, entre outros.
Principalmente no contexto do ensino de línguas estrangeiras, foram criados diversos tipos de
exames, como o DELE, CELU (espanhol), TOEFL, IELTS (inglês), CELPE-BRAS
(português), DALF (francês), entre outros, com classificações, tanto em nível oral quanto
escrito, geralmente vinculados a cursos de idiomas e universidades. Podemos também citar os
casos de proficiência exigida nos programas de pós-graduação, intercâmbios, mobilidades etc.
O próprio Currículo Lattes, do CNPq, exige que ao cadastrar um novo idioma, o pesquisador
assinale o seu nível de conhecimento (pouco, razoavelmente, bem) nas habilidades de leitura,
fala, escrita e compreensão. Talvez em virtude dessas práticas, algo que apareceu com
recorrência nas entrevistas foram formas de mensurar o quanto se sabe de inglês, mais do que
em outras línguas, numa tentativa de, às vezes, justificar o tamanho ou a quantidade do seu
saber. Seguem alguns exemplos:
MEr - inglês eu tive o tempo que eu estudei, digamos assim, foi mínimo o meu inglês,
então não tenho muita.
PEr - alguma coisa eu diria que eu sei pronunciar em inglês.
AEr - aprendo um pouco de inglês.
AEr - desde o sexto ano foi inglês.
AEf - o inglês também sei falar algumas frases.
PEf- no caso somente o inglês, né, intermediário, comunicação, audição.
AEr - ia saber falar tipo já maisomeninho assim já, não bem, ia errar, mas errar é
normal.
Essas tentativas de mensuração nos indicam que há, de fato, uma representação de que
falta para esses informantes o desejado conhecimento/proficiência/fluência na língua inglesa e,
portanto, não basta apenas dizer que conhece/sabe, é preciso justificar o quanto se sabe/conhece.
Ademais, está presente nesses enunciados uma representação bastante recorrente de que, em se
tratando de línguas estrangeiras, a escola pública regular não ensina mais do que “algumas
frases”, “um pouco”, “o mínimo”, “maisomeninho”, entre outros. Mas, além disso, como já
abordamos anteriormente, julgamos que o principal fator que pode explicar esta necessidade de
mensurar o conhecimento do inglês é a representação de que essa língua é a língua
182
“importante”, de forma que é essa língua a que abriria os “caminhos do mundo”, a que permite
uma comunicação verdadeiramente ampla, a que possibilita melhores postos no mercado
laboral, a que permite usar qualquer dispositivo eletrônico sem maiores problemas e a que
credencia a viajar para qualquer país sem se preocupar com o idioma local, entre outros. Outra
hipótese defendida por nós é a de que o exercício da mensuração se faz necessário para esses
informantes para criticarem o pouco que se aprende de inglês na escola pública regular,
conforme representação recorrente na amostra que está sendo analisada. Não são poucos os
estudos que dialogam com esse tema da insuficiência de aprendizagem do inglês nas escolas,
os quais acenam para um cenário bastante caótico principalmente porque, por um lado, há uma
tendência a culpar o professor pela não aprendizagem do seu aluno, como vimos em alguns
enunciados na nossa pesquisa, por outro, se justifica essa não aprendizagem culpando o aluno
pela falta de vontade e respeito em sala de aula. Aliado a isso, o número reduzido de aulas para
o ensino de língua estrangeira quase sempre serve de justificativa quando o êxito esperado não
se alcança.
No que diz respeito à representação que coloca o inglês como uma língua frustrante do
ponto de vista de seu aprendizado na escola, é possível refletir, com base na nossa experiência
na docência universitária em curso de Letras, que muitos alunos optam por fazer uma
habilitação em língua espanhola porque não tiveram sucesso na aprendizagem de língua inglesa
durante os anos da sua vida estudantil no Ensino Fundamental e Médio.
A essa altura das análises, é válido nos remetermos àquilo que expomos no capítulo 1
quando discutimos o “processo de desoficialização” das disciplinas de línguas estrangeiras na
escola pública brasileira (RODRIGUES, F., 2012). Nosso entendimento é o de que essas
tentativas de mensuração estão assentadas na representação de que na escola pública regular
não se aprende língua estrangeira, representação essa que ao longo de décadas foi se
consolidando e que afetou principalmente o inglês, a língua ensinada há mais tempo e em
maiores proporções. Apesar de o eixo central do Guia de Livros Didáticos do PNLD (2011)
prever que “é sempre importante lembrar que lugar de aprender línguas estrangeiras é na escola
de educação básica” (BRASIL, 2010, p. 11), as representações sobre esse tema são contrárias.
Para reforçar nossa argumentação, citamos o que aponta Monte Mór (2010, p. 577 baseada em
UECHI, 2006): “a língua inglesa como língua estrangeira tem sido vista como uma ‘disciplina-
problema’”. Além disso, a autora prossegue comentando que
Sobre essa percepção de que a escola pública regular não é o lugar de aprender línguas
estrangeiras, Costa (2011, p. 318) lamenta que
o ensino da língua estrangeira, reiteramos, não pode nem ser nem ter um fim
em si mesmo, mas precisa interagir com outras disciplinas, encontrar
interdependências, convergências, de modo a que se restabeleçam as ligações
de nossa realidade complexa que os olhares simplificadores tentaram desfazer;
precisa, enfim, ocupar um papel diferenciado na construção coletiva do
conhecimento e na formação do cidadão (BRASIL, 2006, p. 131).
AEc - acho que a cultura norte-americana, consequentemente a língua, né, se você for
ver músicas, livros, até coisas bobas do tipo frases assim tudo em inglês.
AEf - também assim uma coisa futura, porque tudo o que a gente for fazer em algum
momento a gente vai usar o inglês, se a gente souber já é mais fácil.
PEr - Porque o inglês tem essa questão de pesquisa, o próprio Google, né, você coloca
em inglês e vai achar tudo.
MEr - No mundo é o inglês. Tudo o que você vai abrir lá já tem o inglês junto, né.
MEf- acho que é o inglês. Tudo o que você vai ler é em inglês, né, os manuais, a
maioria.
AEf- inglês. Porque ele está tudo, tudo escrito em inglês, assim vem de lá, eu acho,
dos EUA, a maioria dos sites.
Essa representação de que tudo está em inglês ou de que ele é bom para tudo se alinha
com a representação de que ele é uma língua universal, a língua hipercentral sobre a qual as
outras orbitam na metafórica constelação linguística de Calvet (1999). E não há quem negue
todo esse poderio da língua inglesa, inclusive há quem diga que o mundo caminha para um
monolinguismo nessa língua. Mas por outro lado, como mencionamos anteriormente, há
representações de que o inglês fracassa no seu ensino na escola pública brasileira, com falta de
progressão nos conteúdos, com pouca possibilidade de fluência dos alunos nessa língua após
alguns anos de estudo. Enunciados como “Inglês não aprendi nada” são bastante recorrentes e
não causam espanto para quem os ouve. O que devemos esclarecer é que essas duas
representações que estamos apresentando não se excluem uma em relação à outra, e que nem
são contraditórias. Elas são resultados de experiências vivenciadas pelos informantes seja no
ambiente escolar ou fora dele. No que diz respeito às representações sobre o inglês como língua
que serve para tudo, apontamos que faltam critérios técnicos e específicos para que ocorra essa
medição e atribuição de valor às línguas, assim como pensamos que a representação sobre a
“insuficiência” do ensino do inglês na escola pública é resultado de um processo histórico que
tende a não dar lugar às línguas estrangeiras. No entanto, o que se pode afirmar é que há, além
das políticas linguísticas explícitas, marcas sutis e até um tanto quanto naturalizadas favoráveis
ao inglês, como no caso apresentado a seguir.
O tratamento prestigioso dado ao inglês como a língua estrangeira fica evidente na
página web da SEED-PR, na parte que trata dos conteúdos das línguas estrangeiras modernas,
especialmente vinculadas ao Ensino Médio, quando inclui um link anunciando que, ao clicar
185
nele, o internauta acessará na íntegra as Diretrizes de Língua Inglesa (sic.) 94. No entanto, o
referido link dá acesso às Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Estrangeira
Moderna (PARANÁ, 2008), documento que orienta o trabalho com todas as línguas
estrangeiras (alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, japonês, mandarim, polonês e
ucraniano) e não apenas uma. Além disso, nos últimos anos, a SEED-PR extinguiu setores
administrativos destinados ao espanhol da sua estrutura organizacional e dos NRE’s, fazendo
com que os técnicos pedagógicos que atuavam nesses setores tivessem que voltar para as suas
escolas onde estão lotados. A Secretaria também eliminou conteúdos da sua página web que
veiculavam materiais para o ensino de língua espanhola na escola.
Baseado nos postulados sobre “hegemonia”, de Gramsci, e sobre Habitus, de Bourdieu,
Lagares (2015) discute um pouco essa “naturalização” do lugar dados às línguas hegemônicas.
Para ele,
E para dar tons de conclusão a este tópico, citamos um gesto de política linguística que,
de certa forma, justifica o subtítulo usado nesta parte do capítulo: Sei pouco, mas ele é bom pra
tudo. Esse gesto a que nos referimos é o programa Ciências sem Fronteiras, do Governo Federal,
que, ao conceder bolsas de estudos, “busca promover a consolidação, expansão e
internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por
meio do intercâmbio e da mobilidade internacional” (BRASIL, 2017)95. Na sua primeira fase,
a demanda por países como Espanha e Portugal foi tamanha que na sequência esses países não
poderiam mais ser o destino dos estudantes. Dessa forma, ficou evidente o pouco conhecimento
de inglês que possuem os universitários brasileiros. Mas, como “o inglês é bom pra tudo”,
94
Link da página web a que nos referíamos:
<http://www.lem.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=142>. Acesso em: 28 ago.
2017.
95
Disponível em: <http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa >. Acesso em 05 set.
2017.
186
principalmente para a ciência, o Governo Federal criou um novo programa para enfrentar o
problema da falta de conhecimento dessa língua. Trata-se do Idioma sem Fronteiras, que tem
como objetivo principal “promover ações em prol de uma política linguística para a
internacionalização do Ensino Superior Brasileiro, valorizando a formação especializada de
professores de línguas estrangeiras” (BRASIL, 2017)96. E a exemplo do que ocorre no programa
paranaense PFI, citado acima, o lugar de prestígio é dado ao inglês.
Merece nossa atenção a diversidade de respostas no item que tratava sobre o país
preferido para viajar e aprender uma língua estrangeira, caso o informante tivesse essa
oportunidade. Nas entrevistas, o maior número de menções (10) foi para os EUA. A Espanha
recebeu a metade (5) das menções recebidas pelos EUA. Outros países citados pelos
informantes foram os seguintes: Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Canadá, Grécia, Portugal,
Ucrânia, Holanda, Noruega, Islândia, Jerusalém e Nova Zelândia. Houve também menções para
Argentina, Paraguai e Cuba, mas não de preferência e sim de que se ouve falar de que alguém
foi para esses países, ou para estudar ou para fazer compras. Atribuímos essa diversidade de
preferências aos processos de globalização que diminuíram ou romperam barreiras e ao acesso
à informação, de modo que são inúmeras as facilidades que se têm atualmente de investigar
sobre os países, prever rotas, pesquisar quais línguas são faladas ali e quais os costumes das
pessoas, assim como o clima, o custo de vida etc. Essa facilidade está atrelada, também, à
internet, uma vez que esta favorece novas formas de comunicação, além de que é possível
pesquisar e comprar passagens, fazer reservas em hotéis, entre outros.
Os motivos elencados para a escolha dos países também são bastante diversificados.
Vão desde questões estéticas relacionadas à língua: “Acredito que eu iria pra França, acho uma
língua chique, diferente”, passando por questões de buscar as raízes da família: “A minha mãe
falava bastante ucraniano”, “eu iria pra Itália, é como eu tenho descendente, eu sou meio
descendente lá longe de italiano, poderia querer até, sei lá, ver ou conhecer um pouco lá das
minhas raízes, coisa assim”, “É porque eu tenho parentes, família do meu marido moram lá,
que foram pra lá, estão super bem, trabalhando e tudo, se eu pudesse também iria.”, até
escolher o país por questões afetivas: “Mas eu sou apaixonada. Sou apaixonada pela cultura,
pelo povo, por tudo ali”.
96
Disponível em: <http://isf.mec.gov.br/programa-isf/entenda-o-isf>. Acesso em: 05 set. 2017.
187
Essa diversidade de preferências foi expressada também pelos informantes nas respostas
aos questionários, ou seja, na parte quantitativa da pesquisa. Além desses países já citados, nos
questionários apareceram menções a outros países, como: Rússia, Polônia, Coreia do Sul, China
e Japão. Os percentuais das respostas aos questionários podem ser visualizados no gráfico a
seguir:
MEr - bom, pelo que eu vejo na tv sempre falam bastante dos EUA, que é um país que tem
mais, aí o que que eu vou dizer. França. Eu nunca parei pra analisar nesse caso, mas que
sempre comentam de ir para os EUA, né.
MEf - o povo fala nos EUA, talvez, não sei, esses intercâmbios aí, de repente EUA, potência
né.
Voltando à análise do item que trata da viagem a outro país, merece ser explicitado que
se trabalharmos apenas com as respostas dos informantes do grupo dos professores de espanhol
não necessariamente vinculados às três escolas (aqueles que responderam o questionário on
97
“sentido comum refere ao conhecimento acrítico ou sem fundamento racional-científico, social ou
coletivamente distribuído. Utilizado muitas vezes com desprezo, as verdades do sentido comum não são
obviedades, mas sua afirmação ou defesa não supõe autoridade acadêmica, nem outro conhecimento
que o dado pela idade e a experiência. Nossas sociedades aceitam a possibilidade de equívocos da parte
de quem não tem conhecimentos sempre que a verdade violada não se encontre no sentido comum,
porque está ao alcance de todos” (RAITER, 2003, p. 112, tradução nossa).
189
line), os resultados dos questionários são bastante diferentes se compararmos com os resultados
de todos os grupos de informantes, como se pode visualizar no gráfico a seguir:
Gráfico 64 – Número de indicações de países para aprender uma língua estrangeira somente do grupo
dos professores de espanhol.
Se você ganhasse uma bolsa de estudos para aprender uma língua
estrangeira em outro país, qual país você escolheria?
20 18
15
10
4
5 2 2
1 1 1 1 1
0
estatuto diferente entre elas, pois, nos moldes que propomos a pesquisa, o guarani não é uma
língua constitutiva do cenário linguístico brasileiro. Ela foi pensada no nosso estudo como uma
língua de contato com o português na fronteira do Brasil com o Paraguai, língua que é cooficial
(ao lado do espanhol) naquele país e é falada por grande parte da sua população, além de ser
uma das línguas oficias do MERCOSUL. Já as línguas de imigração, sobretudo a ucraniana, no
contexto da escola rural, mantém uma relação de contato com o português dentro do país, ou
seja, é falada no ambiente familiar e religioso por alguns membros da comunidade rural
investigada. Nesse particular, vale fazer um alerta: em que pese trabalharmos com contato entre
línguas, não é nosso propósito explorar essa área da Sociolinguística, nomeando seus
precursores, definindo termos, explicando conceitos, entre outros. O que nos cabe é argumentar
que, se há uma situação de minorização linguística, é porque há relações de contato desiguais
entre línguas e seus falantes. Nesse sentido, o contato linguístico aqui é tratado porque
entendemos que o lugar dado às línguas é decorrente das representações que os falantes têm
dos outros falantes e das outras línguas. Para Ponso (2017, p. 186), o
No primeiro capítulo desta tese fizemos referência, mesmo que de forma resumida, à
diversidade linguística brasileira, de modo que são faladas em território nacional mais de
duzentas línguas, entre autóctones e alóctones. A maioria dessas línguas vive em situação de
minorização, ou seja, sem que a elas seja dado o devido valor e espaço. Isso decorre de um
processo histórico que tentou e tenta manter a língua portuguesa como a única língua oficial do
Brasil. No caso do ucraniano e do guarani, os números demonstram que, por um lado, são
línguas constitutivas do imaginário paranaense, pois há diversas indicações de que os
informantes veem essas línguas e, por outro, está explícito que são línguas em situação de
minorização. Vejamos os números contidos nos dois gráficos apresentados a seguir:
191
Alunos Adultos
25
20 16
15
10 8 7
6
5 3 3 2 2 3 2
1 1 1
0
na televisão em livros em filmes em jogos em músicas em site de não vejo na igreja conheço
notícias pessoas
Alunos Adultos
98
No que diz respeito às representações sobre o guarani, cito uma casualidade que não constitui o corpus
da pesquisa e que ocorreu no período em que escrevíamos esta parte do capítulo: enquanto lavava a
louça do almoço, no feriado de 7 de setembro, eu ouvi numa emissora de rádio, num programa de humor,
192
valor, por ser nossa cultura”. O segundo enunciado foi emitido100 por um chefe de NRE. Para
esse informante, “O guarani deveria ser ensinado no Brasil pelo valor identitário que possui”.
Nos dois enunciados há marcas de valorização dessas línguas atreladas à questão identitária e
cultural.
Esse argumento de que as línguas em situação de minorização devem ser valorizadas
por uma questão cultural e identitária é o que tem dado o tom nas discussões sobre políticas
linguísticas a favor dessas línguas. Aliás, diga-se de passagem, essas políticas linguísticas muito
têm contribuído para diminuir os preconceitos que pesam sobre as línguas em situação de
minorização e seus falantes. Payer (2006, p.194), ao tratar das línguas de imigração,
especialmente do italiano no Estado do Espírito Santo, sustenta que
100
A emissão desse enunciado ocorreu no questionário on line, na parte destinada a comentários.
101
O NEES mantém parceria com vários órgãos e instituições nacionais e internacionais. Entre essas
parcerias estão algumas universidades polonesas e ucranianas, como a Universidade de Varsóvia, a
Universidade da Silésia, a Universidade de Kielce, a Universidade Pedagógica Nacional Mykhailo
Petrovich Dragomanov, a Universidade Nacional Oles Honchar, para citar algumas.
194
102
Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 25 set. 2017.
195
Silva (2017, p. 7), que elucida um pouco certas naturalizações dos lugares que ocupam as
línguas.
Seguindo essa mesma perspectiva, mas com preocupações mais voltadas para os
contextos de sala de aula em contextos multilíngues, Unamuno (2003, p. 57) pontua que
103
“a existência de mais de uma língua em nossas aulas pode considerar-se um recurso muito
interessante para ‘fazer língua’: nos permite trabalhar como linguistas, contrastar formas e usos verbais
(entre línguas e entre dialetos diferentes de uma mesma língua), descrever e explicar seu funcionamento
social, comparar a maneira de comunicar-se de diversas culturas, etc. Também nos permite incidir sobre
as atitudes sobre as línguas, incentivando o interesse sobre elas e promovendo uma atitude positiva em
relação ao multilinguismo. Este tipo de atitudes (contrárias àquelas que têm os que creem que a
diversidade linguística dificulta a comunicação) favorece a aprendizagem e o respeito aos demais. As
línguas, como bens culturais, são transmissíveis e acumuláveis, se podem adquirir sem que esta
aquisição comporte renúncia alguma. Por isso, são elementos importantíssimos nos processos de
integração” (UNAMUNO, 2003, p. 57, itálico da autora, tradução nossa).
196
políticas, há uma tendência maior à exclusão das línguas na escola a favor de uma língua
hegemônica.
Para fazer, de certa forma um contraponto com as análises apresentadas na parte anterior
deste capítulo, nesta parte analisaremos as atitudes e representações dos informantes sobre o
plurilinguismo paranaense e como eles analisam o quadro da oferta de línguas nas escolas.
Colocaremos em evidência alguns enunciados que julgamos representativos, os quais advieram,
principalmente, das respostas dadas pelos informantes ao item 3104 do roteiro de entrevistas. O
que merece ser destacado inicialmente é que quase todos os informantes avaliam como
necessário o aumento da oferta de línguas estrangeiras nas escolas paranaenses. Os motivos
para esse aumento são variados e serão melhor explorados na sequência. Por exemplo, no
enunciado a seguir, um aluno da escola fronteiriça (AEf) acena o seguinte:
AEf - bom, eu acho assim que devia ter mais, eu acho que são assim muito importantes pra
quem quer sair pra fora do país, tentar uma faculdade fora, eu acho que as escolas deveriam
adotar mais, ter mais línguas diferentes, mais culturas.
Como se pode notar, esse informante concorda com a adoção e oferta de mais línguas
na matriz curricular e atribui a uma possível saída do país para estudar, fazer um curso superior.
Compete-nos, também, aclarar que o informante vincula as línguas às culturas, o que supõe
uma representação positiva no sentido de não olhar as línguas somente como instrumentos de
comunicação e amontoados de regras gramaticais. Essa representação sugere que o aluno
percebe as línguas nas escolas como parte de um processo que contribui para a formação dos
alunos enquanto cidadãos que atuam em sociedade.
No enunciado a seguir, o informante expressa sua posição em relação à oferta de línguas
estrangeiras na matriz curricular.
104
Quantas e quais línguas você acha que são ensinadas nas escolas do Paraná? O que você pensa sobre
isso? Deveriam aumentar/diminuir esse número de línguas? Por quê? Quais deveriam ser
substituídas/excluídas/incluídas?
197
PEc - eu acho pouco, eu acho que devia ter mais, tinha que ter, tinha que ter. A língua é porta
aberta pra uma outra cultura, né, então falta.
O argumento utilizado por esse informante é significativo, pois entende a língua como
sendo uma porta aberta pra uma outra cultura, enunciado este que se relaciona com o anterior
e que vai mais além, pois usa a metáfora da porta que se abre, que possibilita adentrar em novas
culturas por meio da língua, isto é, não se limita a perceber a língua como um instrumento de
comunicação.
Na sequência, o informante adota no seu discurso uma posição de paridade entre as duas
línguas estrangeiras mais ofertadas nas escolas paranaenses.
AEr - Acho que tinha que ter inglês e espanhol à noite, pra todo mundo.
MEr - Eu acho que até seria bom se tivesse mais, né, opção, por (sic) hoje em dia, né, os
idiomas, né, as crianças, né, depois no futuro, né. Eu acho que seria interessante, né, ter mais
línguas, né.
AEc - bom, eu acho que quanto mais, melhor [...] mas podia ter mais língua também, é
interessante, o francês seria legal, outras línguas [...] como eu já disse, quanto mais melhor.
DEc - não sei, eu acho que deveria ser mais, devia ter pelo menos mais umas duas, né, só tem
duas, devia ter pelo menos mais umas duas, pelo menos o francês e o italiano, eu vejo assim,
devia ter pelo pelos mais umas duas.
Como se pode notar, os enunciados acima convergem para uma mesma representação
de que há necessidade de se ter mais línguas presentes nas escolas. Nossa proposta de colocar
três enunciados em sequência, que apontam no mesmo sentido, é para mostrar que informantes
pertencentes a grupos diferentes, nesses casos representados por uma mãe de aluno da escola
198
rural (MEr), um aluno da escola da capital (AEc) e o diretor da escola da capital (DEc),
respectivamente, se posicionam a favor do plurilinguismo nas escolas, independentemente do
lugar e da relação que mantém com a escola.
O enunciado que se apresenta adiante nos possibilita uma reflexão acerca do papel que
o ensino de línguas poderia/deveria exercer nas escolas públicas.
PEf - se vai colocar as duas, espanhol e inglês, coloca de tal a tal ano espanhol e de tal a tal
ano inglês, ou optativa, agora sem, não dá, porque vai fazer muita falta mais pra frente e aí a
pessoa vai ter que buscar outros recursos, com dinheiro e tudo mais, então é uma coisa boa
pra ser aproveitada porque é de graça.
MEc - ah, no Paraná é, no Paraná, é uma Europa, né, eu falo que o Paraná é, é um pedaço da
Europa, porque quando eu mudei de São Paulo pro Paraná, eu achei que eu estava num outro
país, é, é, porque é muita diferença, né, não que em São Paulo a gente não tenha isso, mas os
costumes são muito diferentes, a forma, o vocabulário é diferente. Às vezes eu chamava algo
199
de um nome e eles usavam outro. Até eu descobri o que eles estavam querendo dizer, eu
levava um tempo. Então eu acredito que poloneses, eu convivi com gente que falava polonês,
alemão, o italiano, né, o que mais? assim que eu convivi, nesses quinze anos que eu morei
ali em Cascavel, né, tinha o pessoal do Sul, né, do Rio Grande do Sul que também tinha um
outro vocabulário, mesmo interno. É um vocabulário do pessoal daquela região, né. É um
vocabulário diferente. Então eu percebo assim no Paraná existem várias formas, né, diferente
de São Paulo, eu percebo. Eu fui criada em São Paulo, mas era diferente.
Além disso, em que pese ter aparecido em vários relatos dos informantes esta
representação, optamos por não dedicar tanto espaço nas discussões para os equívocos de
201
representem espaços para o deleite e para o acesso a bens materiais e imateriais e, por fim, que
em cada língua seus falantes possam fazer fruir seus argumentos, ideias e sentimentos.
203
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, tentamos indagar lugares que as línguas ocupam no imaginário dos
paranaenses. Para alcançar esse objetivo, lançamos mão de instrumentos e procedimentos
oriundos da sociolinguística para compor a fundamentação teórica e o corpus da pesquisa. As
análises do corpus nos levaram a concluir que há uma certa relativização no que diz respeito à
facilidade do espanhol para os informantes, e que essa relativização é decorrente, segundo a
nossa argumentação, do processo de escolarização que passou essa língua nas últimas duas
décadas. Concluímos também que o espanhol aparece imaginariamente mais relacionado a
situações de leitura e o inglês a situações de comunicação oral. Além disso, ficou evidente,
também, no nosso estudo, que o espanhol é a língua possível para o brasileiro, que em supostos
casos de necessidade comunicativa se apela a essa língua na falta do português, assim como é
a língua estrangeira de preferência para quem faz exames seletivos como o vestibular e o
ENEM, por exemplo. Percebemos nos dados, ademais, que o inglês aparece como uma língua
que “serve para tudo”, que é a língua da ciência e que a escola não é o lugar de aprender essa
língua, apesar de que se manifeste nos enunciados dos informantes uma posição favorável ao
aumento da oferta de línguas estrangeiras na matriz curricular das escolas. Além disso, a análise
do corpus nos possibilitou mostrar que os informantes veem o Paraná como um Estado
plurilíngue e que as línguas minorizadas oscilam entre a negação da sua existência e a
reafirmação de uma suposta multiplicidade. Essas conclusões estão assentadas nas análises que
fizemos das atitudes e representações linguísticas manifestadas pelos informantes que
participaram da pesquisa e a nossa discussão se ancora em fatos político-linguísticos que foram
sendo apresentados ao longo da argumentação. É necessário enfatizar que os dados da nossa
pesquisa revelaram muitas contradições acerca dos lugares que as línguas ocupam no
imaginário dos informantes. E essas contradições são resultado de políticas linguísticas e
educacionais também contraditórias.
Afirmar precisamente qual é o lugar (no singular) das línguas (e especialmente do
espanhol) no imaginário dos paranaenses é uma tarefa árdua, quase impossível. E essa
impossibilidade nasce justamente porque os lugares que as línguas ocupam no imaginário das
pessoas são relativos e diversos, a depender de como essas opiniões são abordadas. Além disso,
esses lugares são resultados de circunstâncias e processos de implantação histórica, como a
inserção escolar do espanhol no Brasil. E porque esses processos são contraditórios e coexistem
com circunstâncias anteriores é que não é possível pensar um único lugar. No caso particular
do espanhol, ele ocupa lugares diferentes porque assume papeis diferentes, ora como língua
204
“combatente” ao monopólio e hegemonia do inglês, por exemplo, ora como língua a ser
“combatida”, por representar uma dificuldade de emergência de línguas e culturas em situação
de minorização. Sendo assim, apoiamo-nos em Del Valle e Villa (2005, p. 224) para assinalar
que
105
“o espanhol desempenha um papel certamente complexo: por um lado, como língua internacional
que é, seus defensores a oferecem como possível contrapeso à hegemonia do inglês e afirmam a
necessidade de criar em seu entorno um espaço de lealdade (uma comunidade linguístico-cultural) capaz
de resistir à investida daquele e do que representa; por outro lado, e novamente por ser língua
internacional, os defensores do espanhol legitimam seu status e extensão com argumentos
predominantemente utilitários e mercantilistas quase idênticos aos difundidos na promoção do inglês. E
aqui se encontra precisamente uma das principais armadilhas discursivas que encerra a defesa do
espanhol: usar a ameaça do inglês como desculpa para impor uma proteção em torno do espanhol que,
como com o inglês, sirva a uns interesses econômicos e políticos muito concretos (os mesmos na
realidade), e que dificulte a emergência de culturas linguísticas alternativas” (DEL VALLE & VILLA,
2005, p. 224, tradução nossa).
205
apenas em se tratando de línguas eslavas, geração após geração, tem havido uma constante
diminuição na conservação dos elementos culturais trazidos de além-mar. E apenas para não
deixar de mencionar, o principal motivo para a não conservação dessas línguas de imigrantes
está marcado pela representação de que essas línguas não são sinônimo de status e, portanto,
não representam sinais de ascensão social, deixando transparecer que ainda ecoam as políticas
nacionalistas adotadas no Brasil desde as primeiras décadas do século passado.
A análise das políticas linguísticas oficiais implantadas neste século nos mostra duas
posições ideológicas bastante claras em relação ao ensino de línguas no Brasil. Por um lado,
podemos citar iniciativas políticas (tímidas e contraditórias) a nível federal que visavam a
integração regional no Sul do continente, com uma tendência à valorização do espanhol nos
governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. De outro lado, há elementos que nos dão pistas de
que parece estar vigente no Brasil um projeto de governo (surgido de um golpe de Estado, em
2016) que desqualifica qualquer tipo de integração com os nossos vizinhos, priorizando a língua
inglesa em detrimento de qualquer projeto que valorize o plurilinguismo. E pior que isso, se é
que dá pra afirmar assim, há um projeto de governo que dá mostras claras e recorrentes a favor
da privatização dos sistemas de ensino público no Brasil, desprezando a formação dos alunos
enquanto cidadãos críticos e transformando a educação numa competição entre pessoas e
instituições, desfavorecendo as mais “fracas”, ranqueando e premiando as “melhores”,
especialmente aquelas que são mais “produtivas” e atingem as metas estabelecidas, algo típico
de uma lógica mercantilista vigente.
É verdade que no que se refere às línguas em situação de minorização há políticas
linguísticas localizadas e específicas que tentam fortalecer essas línguas e culturas, como no
caso da cooficialização de línguas em diversos municípios brasileiros e nas ações desenvolvidas
pelo NEES em prol das línguas e culturas eslavas no Centro-Sul do Paraná, por exemplo,
conforme descrevemos na parte em que tratamos das representações sobre as línguas em
situação de minorização, no capítulo 5 desta tese. Mas, na nossa opinião, isso tem sido pouco.
Não são suficientes essas ações com vistas à preservação se levarmos em conta a riqueza que
representa o plurilinguismo e que infelizmente tem sido apagado com políticas totalizadoras e
pouco preocupadas com a manutenção da diversidade linguística. E se tem sido pouco não é
por falta de vontade de pesquisadores e defensores do plurilinguismo. Nossa experiência tem
nos mostrado que é por falta de investimento financeiro e de pessoal, pois os financiamentos de
projetos dessa natureza são cada vez mais restritos e limitados.
Apesar de estarmos presenciando um quadro bastante pessimista em relação às políticas
educativas, isso não significa que se deve “baixar a guarda” e deixar que as poucas políticas
207
106
Essa afirmação não se baseia em dados de outras instituições, mas na alusão do que presenciamos no
curso de Letras-Espanhol da UNICENTRO.
208
objetivos da pesquisa, possa ter dificultado nossa seleção no que diz respeito a que deveríamos
privilegiar para compor a tese. É válido apontar que alguns itens dos questionários não
produziram dados significativos para as análises, justamente porque eles estavam ali para
servirem de aproximação dos informantes ao conteúdo principal da pesquisa, que foram
abordados nos outros itens. A nosso ver, foi um empecilho ter seguido à risca as recomendações
e normas da SEED-PR e do COMEP para a aprovação do projeto de pesquisa, conforme
descrevemos detalhadamente na metodologia desta tese. O tempo gasto com esses trâmites
impactou diretamente na execução do trabalho de campo, de modo que certamente poderia ter
havido um aprofundamento maior nas análises se a burocracia não tivesse consumido tanto
tempo e esforço.
Entre as limitações da pesquisa, apontamos, por exemplo, que não foi possível
argumentar com tanta precisão sobre a diversidade de países indicados para uma viagem ao
exterior com fins de aprender uma língua estrangeira. Ou melhor, a diversidade de escolhas e
os motivos elencados não nos possibilitaram concluir precisamente quais foram os lugares
dados às línguas nesse particular. Por outro lado, entendemos que esse tipo de limitação decorre
do formato da pesquisa com que trabalhamos, pois como garantimos o anonimato dos
informantes, não tínhamos possibilidade clara de um novo encontro para esclarecer dúvidas
advindas das respostas dadas a determinados itens. No que se refere aos itens do questionário
objetivo que dispunham de alternativas que iam de concordo totalmente a discordo totalmente,
os percentuais obtidos não nos ajudaram a construir argumentações consistentes, haja vista que
não achamos adequado atribuir numericamente pesos a essas alternativas de resposta,
especialmente quando perguntamos, por exemplo, sobre o prestígio que as línguas têm no
Brasil, no Paraná e nas cidades onde realizamos a pesquisa de campo, por isso esses itens
especificamente não constituem a parte central deste estudo.
É válido observar também que a nossa proposta em termos de estrutura da tese sempre
foi a de colocar textualmente aquilo que mais se apresentava como significativo. Sendo assim,
evitamos ao máximo o enchimento de páginas somente para contar, por exemplo, sobre o
nascimento da Sociolinguística, resenhar seus principais autores, entre outros, porque
entendemos que isso já está devidamente apresentado ao público que lerá este texto. Ademais,
não nos preocupamos em explicar citações bibliográficas e enunciados dos informantes que por
si só já são autoexplicativos, ou seja, evitamos contar parafrasticamente aquilo que já havia sido
contado anteriormente. Isso não quer dizer que não há diálogo entre o saber construído e a
interpretação que fazemos dos dados.
209
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famoso que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria
fazer as palestras?
Observação: Caso queira fazer comentários sobre alguma pergunta ou algo que eu não tenha
perguntado, fique à vontade.
223
1. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de
Irati por aulas de língua ucraniana. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
2. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de
Irati por aulas de língua inglesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
3. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas de
Irati por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
4. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Irati
por aulas de língua espanhola. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
5. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Irati
por aulas de língua ucraniana. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
6. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Irati pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de Irati
por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
7. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
8. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
9. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em ucraniano. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
10. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
225
11. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
12. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua ucraniana. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
13. Se a tua escola te oferecesse uma bolsa de estudos com as despesas todas pagas para
aprender uma língua estrangeira em outro país, qual país você escolheria?
14. Na sua opinião, aqui em Irati, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas indicadoras
de lugares públicos etc.) deveriam estar escritas em qual(is) língua(s), além do português?
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) espanhol ( ) polonês
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
15. Na sua opinião, aqui no Brasil, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas indicadoras
de lugares públicos etc.) deveriam estar escritas em qual(is) língua(s), além do português?
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) espanhol ( ) polonês
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
226
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
19. Qual(is) língua(s) estrangeira(s) você estuda atualmente na sua escola e qual(is) língua(s)
estrangeira(s) você gostaria de estudar que não tem aqui na escola?
32. Imagine a seguinte situação: num sorteio, a sua escola foi contemplada com uma
conferência internacional sobre meio ambiente e ela será ministrada por um palestrante famoso
que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria fazer a
palestra?
( ) espanhol ( ) polonês
( ) inglês ( ) ucraniano
229
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
33. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) espanhol ( ) polonês
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
Caso queira justificar alguma(s) resposta(s) ou fazer comentários, use este espaço.
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Um questionário como este, às vezes, não traduz o porquê de certas respostas. Desse modo,
caso você tenha interesse em participar de outra fase desta pesquisa, por favor, escreva abaixo
um contato (e-mail ou telefone ou facebook).
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230
231
1. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de guarani. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
2. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de língua inglesa. Qual a sua opinião sobre essa
substituição?
3. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa
substituição?
4. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de língua espanhola. Qual a sua opinião sobre essa
substituição?
5. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de guarani. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
6. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Foz do Iguaçu pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas
escolas de Foz do Iguaçu por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa
substituição?
7. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
8. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
9. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em guarani. Qual a sua atitude diante dessa situação?
( ) não tenho conta ativa no Facebook ( ) peço ajuda a alguém para alterar o idioma
( ) tento usar assim mesmo ( ) procuro uma configuração para alterar o idioma
( ) desligo o computador ( )
10. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
233
11. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
12. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em Guarani. Qual a sua atitude diante dessa
situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
13. Se a tua escola te oferecesse uma bolsa de estudos com as despesas todas pagas para
aprender uma língua estrangeira em outro país, qual país você escolheria?
14. Na sua opinião, aqui em Foz do Iguaçu, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas
indicadoras de lugares públicos etc.) deveriam estar escritas em qual(is) língua(s), além do
português?
( ) inglês ( ) guarani
( ) espanhol ( ) polonês
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
15. Na sua opinião, aqui no Brasil, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas indicadoras
de lugares públicos etc.) deveriam estar escritas em qual(is) língua(s), além do português?
( ) alemão ( ) italiano
( ) guarani ( ) inglês
( ) polonês ( )
( ) espanhol ( )
234
16. Onde você vê a língua inglesa escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
17. Onde você vê a língua espanhola escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
18. Onde você vê o guarani escrito ou falado? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
19. Qual(is) língua(s) estrangeira(s) você estuda atualmente na sua escola e qual(is) língua(s)
estrangeira(s) você gostaria de estudar que não tem aqui na escola? Pode marcar mais de uma
resposta.
32. Imagine a seguinte situação: num sorteio, a sua escola foi contemplada com uma
conferência internacional sobre meio ambiente e ela será ministrada por um palestrante famoso
que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria fazer a
palestra?
237
( ) guarani ( ) polonês
( ) inglês ( ) italiano
( ) alemão ( )
( ) espanhol ( )
33. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) espanhol ( ) polonês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( )
( ) alemão ( )
Caso queira justificar alguma(s) resposta(s) ou fazer comentários, use este espaço.
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Um questionário como este, às vezes, não traduz o porquê de certas respostas. Desse modo,
caso você tenha interesse em participar de outra fase desta pesquisa, por favor, escreva abaixo
um contato (e-mail ou telefone ou facebook).
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238
239
1. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Curitiba pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas
de Curitiba por aulas de língua inglesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
2. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Curitiba pretende propor a substituição das aulas de língua espanhola nas escolas
de Curitiba por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
3. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Curitiba pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de
Curitiba por aulas de língua espanhola. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
4. Imagine a seguinte situação: o/a diretor/a da sua escola ou o/a chefe do Núcleo Regional de
Educação de Curitiba pretende propor a substituição das aulas de língua inglesa nas escolas de
Curitiba por aulas de língua portuguesa. Qual a sua opinião sobre essa substituição?
5. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
6. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo nele
está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
7. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
8. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
9. Se a tua escola te oferecesse uma bolsa de estudos para aprender uma língua estrangeira em
outro país, qual país você escolheria?
10. Na sua opinião, aqui em Curitiba, as sinalizações visuais (placas de trânsito, placas
indicadoras de lugares públicos etc.) deveriam estar escritas em qual(is) língua(s), além do
português?
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) espanhol ( ) francês
( ) italiano ( ) guarani
241
( ) alemão ()
( ) polonês
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) ucraniano
( ) alemão ()
( ) polonês
12. Qual(is) língua(s) estrangeira(s) você gostaria de estudar que não tem aqui na escola?
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) ucraniano
( ) alemão ()
( ) polonês
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ()
( ) em jogos ( ) não vejo
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ()
( ) em jogos ( ) não vejo
24. Imagine a seguinte situação: num sorteio, a sua escola foi contemplada com uma
conferência internacional sobre meio ambiente e ela será ministrada por um palestrante famoso
que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria fazer a
palestra?
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) ucraniano
( ) alemão ()
( ) polonês
25. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) ucraniano
( ) alemão ()
( ) polonês
244
Caso queira justificar alguma resposta ou fazer comentários, use este espaço.
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245
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) espanhol ( ) francês
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
( ) alemão ( ) ucraniano
( ) francês ( ) inglês
( ) polonês ( ) italiano
( ) espanhol ( )
10. Se você ganhasse uma bolsa de estudos para aprender uma língua estrangeira em outro país,
qual país você escolheria?
( ) Inglaterra ( ) Espanha
( ) Paraguai ( ) Itália
( ) França ( ) Polônia
( ) Ucrânia ( )
( ) Alemanha ( )
11. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
12. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
13. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em ucraniano. Qual a sua atitude diante dessa situação?
14. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
15. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua ucraniana. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
248
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
16. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
32. Imagine a seguinte situação: num sorteio, o Paraná foi contemplado com uma série de
conferências internacionais sobre meio ambiente e elas serão ministradas por um palestrante
famoso que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria
fazer as palestras?
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) ucraniano
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
33. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) ucraniano ( ) polonês
( ) italiano ( ) alemão
( ) inglês ( ) francês
( ) espanhol ( )
Caso queira justificar alguma(s) resposta(s) ou fazer comentários, use este espaço.
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Um questionário como este, às vezes, não traduz o porquê de certas respostas. Desse modo,
caso você tenha interesse em participar de outra fase desta pesquisa, por favor, escreva abaixo
um contato (e-mail ou telefone ou facebook).
252
253
( ) inglês ( ) guarani
( ) espanhol ( ) francês
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
( ) alemão ( ) guarani
( ) francês ( ) inglês
( ) polonês ( ) italiano
( ) espanhol ( )
10. Se você ganhasse uma bolsa de estudos com as despesas todas pagas para aprender uma
língua estrangeira em outro país, qual país você escolheria?
255
11. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
12. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
13. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em guarani. Qual a sua atitude diante dessa situação?
14. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
256
15. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em guarani. Qual a sua atitude diante dessa
situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
16. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
17. Onde você vê o guarani escrito ou falado? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
18. Onde você vê a língua inglesa escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
19. Onde você vê a língua espanhola escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
257
32. Imagine a seguinte situação: num sorteio, o Paraná foi contemplado com uma série de
conferências internacionais sobre meio ambiente e elas serão ministradas por um palestrante
famoso que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria
fazer as palestras?
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
33. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) guarani ( ) polonês
( ) italiano ( ) alemão
( ) inglês ( ) francês
( ) espanhol ( )
Caso queira justificar alguma(s) resposta(s) ou fazer comentários, use este espaço.
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260
Um questionário como este, às vezes, não traduz o porquê de certas respostas. Desse modo,
caso você tenha interesse em participar de outra fase desta pesquisa, por favor, escreva abaixo
um contato (e-mail ou telefone ou facebook).
261
( ) inglês ( ) guarani
( ) espanhol ( ) francês
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
( ) ucraniano
( ) alemão ( ) guarani
( ) francês ( ) inglês
( ) polonês ( ) italiano
( ) espanhol ( ) ucraniano
( )
262
( ) alemão ( ) guarani
( ) francês ( ) inglês
( ) polonês ( ) italiano
( ) espanhol ( ) ucraniano
( )
9. Se você ganhasse uma bolsa de estudos com as despesas todas pagas para aprender uma
língua estrangeira em outro país, qual país você escolheria?
( ) Inglaterra ( ) Espanha
( ) Paraguai ( ) Itália
( ) França ( ) Polônia
( ) Ucrânia ( )
( ) Alemanha ( )
10. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em inglês. Qual a sua atitude diante dessa situação?
11. Imagine a seguinte situação: você liga o seu computador para acessar o Facebook e tudo
nele está em espanhol. Qual a sua atitude diante dessa situação?
12. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua espanhola. Qual a sua atitude
diante dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
13. Imagine a seguinte situação: você liga a sua televisão para assistir a um jogo de futebol do
seu time favorito e a transmissão está sendo feita em língua inglesa. Qual a sua atitude diante
dessa situação?
( ) tento assistir assim mesmo e compreender ( ) deixo a televisão sem volume e apenas
a narração vejo as imagens
( ) procuro um outro canal que esteja ( ) desligo a televisão
transmitindo o jogo em português
14. Onde você vê a língua inglesa escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
264
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
15. Onde você vê a língua espanhola escrita ou falada? Pode marcar mais de uma resposta.
( ) na televisão ( ) em músicas
( ) em livros ( ) em sites de notícias
( ) em filmes ( )
( ) em jogos ( ) não vejo
25. Imagine a seguinte situação: num sorteio, o Paraná foi contemplado com uma série de
conferências internacionais sobre meio ambiente e elas serão ministradas por um palestrante
famoso que não é falante de português. Nesse caso, em qual língua você acha que ele deveria
fazer as palestras?
266
( ) espanhol ( ) francês
( ) inglês ( ) guarani
( ) italiano ( ) polonês
( ) alemão ( )
( ) ucraniano
26. Sabe-se que o futebol é o esporte mais popular no Brasil e a seleção brasileira de futebol é
motivo de paixão para muitos brasileiros. Imagine que, por algum motivo específico, não é
possível ouvir em português a transmissão de uma partida da seleção brasileira de futebol. Na
sua opinião, em qual das línguas abaixo você preferiria ouvir a transmissão?
( ) guarani ( ) polonês
( ) italiano ( ) alemão
( ) inglês ( ) francês
( ) espanhol ( )
( ) ucraniano
Caso queira justificar alguma(s) resposta(s) ou fazer comentários, use este espaço.
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
Um questionário como este, às vezes, não traduz o porquê de certas respostas. Desse modo,
caso você tenha interesse em participar de outra fase desta pesquisa, por favor, escreva abaixo
um contato (e-mail ou telefone ou facebook).
___________________________________________________________________________
267
Prezado(a) Colaborador(a),
===================================================================
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO
____________________________________________
Assinatura do participante / Ou Representante legal
_______________________________
Assinatura do Pesquisador
269
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO
______________________________________ ______________________________________
Assinatura do menor Assinatura do pesquisador
270
271
Prezado(a) Colaborador(a),
===================================================================
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO
__________________________________________
Assinatura do participante / Ou Representante legal
_______________________________
Assinatura do Pesquisador
273
CONVITE
O(A) senhor(a) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa intitulada Línguas na
Educação Paranaense. Sua participação será concedendo uma entrevista ao coordenador da
pesquisa, Tadinei Daniel Jacumasso, em data e local previamente agendados. O tempo médio
da entrevista é de 20 minutos. A sua participação é voluntária.
No Colégio Estadual Barão do Rio Branco, a primeira fase da pesquisa ocorreu em
dezembro de 2016, quando houve a aplicação de um questionário. Nesta fase, alunos, pais de
alunos, professores da escola e a direção participarão concedendo entrevistas.
As entrevistas poderão ser feitas nos dias 04, 05, 06, 07 e 08 de abril de 2017.
Corte aqui---------------------------------------------------------------------------------------------
Por favor, assinale o dia e o horário para a realização da entrevista e peça para seu (sua)
filho(a) entregar esta parte do convite na escola.
04/04 05/04 06/04 07/04 08/04 Local da entrevista
Manhã
Tarde
Noite
Contatos do participante:
Fones: ( ) _________________________ ou ( ) ___________________________
E-mail: _______________________________________________________________