Kalevala em Prosa

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KALEVALA

"Terra de Kalevi" o Épico Finlandês em Prosa.

RUNA I sustada com a luta dos ventos tem-


NASCIMENTO DE VÄINÄMÖINEN. pestuosos, nadando incessante-
mente antes que seu primogênito
NO passado distante, existiu uma nascesse.
donzela muito bela, conhecida 7 A mulher começou a chorar su-
como Filha do Éter, que viveu por avemente e expressou sua tristeza
muitas eras nas vastas extensões com estas palavras pesadas no co-
do céu, sobre pradarias ainda não ração:
conhecidas. 8 "Sinto-me profundamente infe-
2 Contudo, sua existência se tor- liz e amaldiçoada pela vida que te-
nou cansativa e triste, e ela acabou nho.
vivendo sozinha por muitas eras 9 Como pude acabar nesta situa-
nos espaços infinitos acima da es- ção? Deixei meu lar celestial no
puma do mar, em uma solidão no éter e vim habitar no meio do oce-
éter. ano, onde sou jogada pelas ondas e
3 Desesperada, ela desceu ao balançada pelos ventos e águas.
oceano, sinalizando sua carruagem 10 Só conheço dor e problemas
e deitando em seu leito. nesta vastidão salgada.
4 Então, o vento crescente de 11 Seria muito melhor para mim,
uma tempestade violenta soprando ó Ukkoa, se eu fosse uma donzela
do leste chicoteou o oceano em on- no éter, em vez de me tornar uma
das, jogando-a para lá e para cá, mãe d'água neste mundo frio e
cercada pela tempestade e pelas triste.
ondas ondulantes, incapaz de subir 12 Cada movimento é doloroso e
à superfície. sinto sofrimento constante en-
5 Por setecentos anos, ela vagou quanto permaneço nas águas e va-
pelo oceano, nadando aqui e ali, gueio pelo oceano.
consciente apenas do seu trabalho, 13 Imploro a ti, ó Deus, gover-
antes que finalmente desse à luz nante dos céus, que venhas até
seu primogênito, após nove anos aqui e me ajudes a me livrar desse
da existência humana. sofrimento e trabalho de parto.
6 Nadou como uma mãe d'água
em todas as direções do mar, as-

a
O Grande Espírito da mitologia finlandesa; sua morada é em Jumala.
Ukko – nome masculino que significa “velho” em finlandês
14 Venha o mais rápido possível, 23 Aproveitando o local de nidi-
para que possa me libertar dessa si- ficação seguro, o pato colocou seis
tuação difícil e ajude esta donzela ovos de ouro e um de ferro, que a
indefesa!" mãe d'água chocou com o calor de
15 Quando a donzela celestial seus joelhos e ombros.
parou de fazer suas súplicas, não 24 Após três dias, os ovos eclo-
demorou muito antes que um belo diram, mas a mãe d'água ficou com
pato descesse dos céus e voasse fogo em suas veias, e a donzela
apressadamente em direção à mãe moveu seus ombros, sacudindo o
d'água. ninho e fazendo com que os ovos
16 Ele voou para lá e para cá, caíssem no oceano, onde se trans-
procurando um lugar seguro para formaram em fragmentos que se
fazer seu ninho. uniram para formar a abóbada in-
17 Ele procurou por uma colina ferior e superior da Terra e do Céu,
gramada ou por qualquer pedaço respectivamente.
de vegetação que pudesse encon- 25 Os raios da lua, a luz do sol e
trar, mas não teve sorte. das estrelas, e as nuvens também
18 Infelizmente, ele não encon- foram formados a partir dos ovos.
trou um lugar protegido ou ade- 26 O tempo passou rapidamente,
quado para construir seu ninho em e o brilho do sol e da lua continuou
segurança. a iluminar os dias e as noites.
19 Enquanto voava lentamente e 27 E a filha do Éter, como uma
olhava ao redor, o pato começou a mãe d'água, nadou pelo mar com
pensar em voz alta e a debater con- as inundações diante dela e o céu e
sigo mesmo: oceano atrás.
20 "Será que devo construir mi- 28 Depois de nove anos, final-
nha morada nos ventos ou em meio mente no verão do décimo ano, ela
às enchentes? Certamente, os ven- ergueu sua cabeça acima da super-
tos iriam destruí-la e as ondas a le- fície, levantando sua testa das
variam para longe". águas para começar seus trabalhos
21 A filha do Éter, também co- de criação nas cristas de águas
nhecida como mãe d'água, levan- azuis e nas poderosas águas em
tou seus ombros e joelhos acima da desperdício diante dela.
superfície do oceano para permitir 29 Onde ela virou sua mão na
que o pato construísse um ninho água, uma colina fértil surgiu, e
seguro em sua proteção. onde ela descansou seu pé, ela faz
22 Voando lentamente, o pato um buraco para os peixes.
notou os ombros e joelhos da mãe 30 Quando ela mergulhava nas
d'água e pensou que eram colinas águas, ela descia nas muitas pro-
gramadas no fundo do oceano. fundezas do oceano.
31 Quando ela virou de lado, as 41 Leve-me, tu, ó Sol acima de
margens niveladas subiram, e onde mim.
sua cabeça apontava para a terra, 42 Leve-me, tu, ó Ursa do céu.
amplas baías e enseadas surgiram. 43 Liberte-me desta escuridão e
32 Quando nadava uma distância prisão triste, destes portais impró-
da costa e descansava de costas, prios, deste lugar estreito de des-
ela criava rochas e moldava recifes canso, desta morada escura e som-
ocultos, onde muitos navios nau- bria.
fragaram e muitas vidas foram per- 44 Deixe-me vagar pelo oceano,
didas. caminhar sobre as ilhas e na terra
33 Assim as ilhas foram criadas seca.
e as rochas foram fixadas no vasto 45 Quero caminhar como um an-
oceano. tigo herói, respirar o ar livre e ver
34 Os pilares do céu foram plan- a lua ao entardecer, a luz prateada
tados e os campos e florestas fo- do sol e a Ursa Maior, para que eu
ram criados. possa contemplar as estrelas."
35 As pedras quadriculadas de 46 Quando a Lua se recusou a li-
muitas cores brilhavam sob o sol bertá-lo, o Sol não quis ajudar e
prateado e todas as rochas perma- nem a Ursa Maior ofereceu assis-
neceram bem estabelecidas. tência, ele sentiu seu fardo e sua
36 Mas Väinämöinena, o cantor vida se tornou apenas um aborreci-
velho e fiel, ainda não havia con- mento.
templado a luz do sol ou visto o 47 Então, ele decidiu explodir os
luar dourado. portais externos de sua escura e
37 Ele demorou trinta verões e sombria fortaleza, usando seu
trinta invernos em sua masmorra, dedo forte, mas sem nome, para
pacífico na imensidão das águas abrir a fechadura resistente.
no amplo seio do mar. 48 Com os dedos do pé esquerdo
38 Por muito tempo, ele conside- e da mão direita, ele rastejou atra-
rou como não nascer para viver e vés dos portais maleáveis até che-
florescer nos espaços envoltos em gar ao limiar de sua morada.
escuridão, em limites desconfortá- 49 Ajoelhado na soleira, ele se
veis, onde ele não havia visto o lançou para frente, mergulhando
luar ou o sol prateado. nas profundezas do oceano, gi-
39 Então ele clamou: rando com as mãos na água, explo-
40 "Leve-me, ó Lua, eu te rogo, rando seu novo ambiente ao nadar
leve-me. para o norte, sul, leste ou oeste.

a
O herói principal do Kalevala; o herói de Vainola (Vainola), cuja mãe, Ilmatar,
caiu do ar no oceano. Väinämöinen – nome masculino impronunciável em portu-
guês que significa “rio largo e de fluxo lento”.
Väinämöinën nasce. Nikolai Kochergin.

50 Assim o nosso herói final- libertado da sua mãe Ilmatara, a fi-


mente chegou à água e descansou lha do Éter.
lá por cinco anos. RUNA II.
51 Depois, passou seis longos SEMEAGEM DE VÄINÄMÖINEN.
anos e até sete anos no oceano, até
o outono do oitavo ano. Então o velho Väinämöinen
52 Foi quando ele finalmente emergiu com seus pés sobre uma
deixou as águas e chegou a uma ilha vasta e desprovida de vegeta-
costa desprovida de verdura em ção, banhada pelo oceano.
um promontório. 2 Ele permaneceu na ilha por
53 De joelhos no chão ele plan- muitos verões e invernos, refle-
tou seu pé direito na terra sólida, tindo longamente sobre quem de-
movendo rapidamente suas mãos veria semear a ilha e espalhar as
sobre ela. sementes.
54 Em seguida, ele ficou ereto 3 Finalmente, ele pensou em Pel-
para ver o sol, o luar dourado, a lerwoinenb, o primogênito das pla-
Grande Ursa e as estrelas.
55 Esse nosso herói é Väinämöi-
nen, o maravilhoso mago, que foi

a
Ilmatar – nome feminino que também é derivado do finlandês “ilma”, que signi-
fica “ar”. Ilmatar é uma deusa semi-andrógina(?) dos céus. Ela é a mãe de Ilmari-
nen, Väinämöinen e Lemminkäinen.
b
O semeador das florestas.
nícies e pradarias, e um menino es- 7 Os zimbros também cresce-
guio chamado Sampsaa, que deve- ram, com bagas agrupadas nos ra-
ria semear a ilha deserta com as se- mos de espinheiro.
mentes da floresta. 8 Este foi o trabalho de Peller-
4 Pellerwoinen concordou e se- voinen, o menino esguio Sampsa,
meou diligentemente a ilha, espa- em sua infância.
lhando sementes em todos os pân- 9 Neste momento, o herói cha-
tanos, planícies, montanhas e va- mado Väinämöinen se levanta para
les. observar ao seu redor.
5 Logo, as sementes férteis bro- 10 Ele observa como as semen-
taram, as árvores da floresta cres- tes plantadas por Sampsa estão
ceram, as copas dos abetos apare- crescendo e como a colheita de
ceram e os pinheiros se espalha- Pellerwoinen está prosperando.
ram. 11 Väinämöinen vê as árvores
6 Os vidoeiros surgiram de todos jovens se espalhando densamente
os pântanos, os amieiros cresce- e a floresta se tornando mais bo-
ram no solo solto e as tílias no solo nita.
maduro. 12 No entanto, ele percebe que o
carvalho não brotou ainda.

Pellerwoinen semea. Nikolai Kochergin.

a
Um sinônimo de Pellerwoinen.
13 A árvore do céu ainda está uma bolota que brotou rapida-
dormindo dentro da bolota, desfru- mente e se tornou um majestoso
tando de sua própria felicidade. carvalho, alimentado pelo solo
14 Por isso, Väinämöinen espera rico em cinzas que as donzelas ha-
por mais três noites e outros tantos viam lavado da água.
dias. 24 O carvalho cresceu com mui-
15 Ele espera até que uma se- tos galhos que se espalharam am-
mana tenha passado e examina o plamente, elevando-o acima das
trabalho novamente. nuvens de tempestade.
16 Infelizmente, o carvalho 25 Seus galhos se estendiam para
ainda não havia crescido e não ha- as nuvens brancas no céu, e suas
via deixado sua morada de bolota. folhas eram tão densas que bloque-
17 Väinämöinen, um herói an- avam a luz do sol, os raios da lua e
tigo, estava observando quatro até mesmo a luz das estrelas no
donzelas à distância. céu.
18 As donzelas eram noivas da 26 Väinämöinen, refletiu por um
água e ele viu uma quinta donzela momento e ponderou cuidadosa-
na praia macia e arenosa, cercada mente sobre como derrubar o po-
por grama orvalhada e flores, perto deroso carvalho que havia sido cri-
das florestas da ilha, estendendo- ado para seu deleite.
se em direção ao mar. 27 Ele pensou em como cortar os
19 Algumas das donzelas esta- cem galhos da majestosa árvore.
vam ceifando, enquanto outras 28 Ele refletiu sobre como a vida
juntavam o que havia sido cortado, dos homens e dos heróis seria triste
formando uma leira no prado. e como o lar dos habitantes do oce-
20 Do fundo do oceano, emergiu ano seria triste se o sol não bri-
um imponente gigante chamado lhasse sobre eles e se a luz da lua
Tursasa, que era forte e robusto. não os alegrasse.
21 Ele pisoteou e comprimiu 29 Ele considerou que nenhum
toda a grama que as donzelas ha- herói poderoso havia nascido para
viam recolhido. derrubar o poderoso carvalho e
22 Enquanto isso, um fogo acen- cortar seus cem galhos.
deu-se dentro delas, fazendo as 30 Depois de refletir profunda-
chamas subirem até o céu e redu- mente, Väinämöinen disse em voz
zindo as pilhas de grama a cinzas. alta: "Kapéb, filha do Éter, antiga
23 Nesse local, tenro espalhou as mãe do meu ser, Luonnotarc, mi-
sementes dos gigantes, plantando

a
O mesmo que Iku-Turso. Um gigante maligno do mar.
b
Um sinônimo de Ilmatar, a mãe de Väinämöinen.
c
Uma das donzelas místicas e enfermeira de Väinämöinen
nha enfermeira e ajudante, em- tu sejas um ser humano, descen-
prestem-me as forças da água, que dente dos heróis-pigmeus.
possuem grandes poderes. 39 No entanto, é possível que es-
31 Conceda-me a força dos oce- teja já sem vida ou em estado mo-
anos para derrubar este poderoso ribundo, incapaz de fazer algo
carvalho e arrancar esta árvore do além de sucumbir."
mal, para que a luz do sol brilhe 40 O herói pigmeu respondeu ao
novamente e a lua possa brilhar valente Väinämöinen: "Verdadei-
mais uma vez." ramente sou um deus e um herói
32 Imediatamente uma forma das tribos que governam o oceano.
dos oceanos surgiu, ergueu-se um 41 Vim até aqui com o propósito
herói das águas. de derrubar o carvalho e cortar
33 Este herói não pertencia aos seus galhos com a minha machadi-
maiores nem aos menores, mas ti- nha."
nha um tamanho longo como o 42 Väinämöinen, responde ao
dedo indicador de um homem e herói nascido no mar: "Devo lhe
mais alto do que a mão de uma mu- dizer que nunca houve em ti a
lher. força necessária, nem mesmo te foi
34 Ele usava um gorro, botas, lu- concedida a capacidade para arran-
vas, listras e um cinto de cobre, car esse poderoso carvalho, para
além de carregar uma machadinha derrubar essa coisa maléfica, tam-
com cabo do tamanho de uma mão pouco para cortar seus cem ra-
de mulher e uma lâmina com a lar- mos."
gura de um dedo. 43 Enquanto ele terminava de fa-
35 O fiel Väinämöinen observou lar, suas pálpebras permaneciam
o herói com atenção e perguntou: imóveis e o pigmeu já se transfor-
"És tu, senhor, divino ou humano? mara em um gigante poderoso.
Qual destes apenas conheces? 44 Com apenas um passo, ele
36 Diga-me qual é o teu nome e deixou o oceano e se estabeleceu
posição. como um herói nos campos da flo-
37 Pareces-te muito com um ho- resta ao redor.
mem, tens o porte de um herói, 45 Com sua cabeça perfurando
embora do comprimento do dedo as nuvens e sua barba estendendo-
indicador de um homem, tão es- se até os joelhos, seus cabelos ca-
casso quanto alto como casco de íam até os tornozelos e seus olhos
rena." e pés estavam a uma grande distân-
38 Väinämöinen dirigiu-se nova- cia.
mente à figura emergente do oce- 46 Seus ombros eram ainda mais
ano e expressou: "Eu acredito que distantes.
47 Sem perder tempo, ele come- norte pelos ventos da tempestade e
çou a afiar seu machado com seis correntes oceânicas.
blocos duros de arenito e sete pe- 58 Na Terra do Norte, a bela e es-
dras de amolar mais macias. belta donzela estava lavando um
48 Com suas vestes longas e es- cocar na praia.
paçosas batendo nos ventos do 59 Ela batia suas vestes nas ro-
céu, ele se posicionou ao lado do chas e enxaguava seu vestido de
carvalho. seda nas águas de Pohyolaa.
49 Com seu segundo passo, ele 60 Foi nesse momento que ela
chegou à terra escura e com o ter- avistou as lascas sendo levadas pe-
ceiro, alcançou os galhos do carva- los ventos e águas.
lho. 61 Decidida, ela juntou as lascas
50 Usando seu machado afiado, em um saco e as levou para o an-
ele golpeou o tronco com um golpe tigo pátio.
poderoso e o cortou com o se- 62 Lá, ela pretendia fazer flechas
gundo golpe. encantadas para o grande mago,
51 Ao descer com a terceira vez, transformando as lascas em armas
faíscas voaram para cima, incendi- para o hábil arqueiro.
ando o carvalho. 63 Isso porque o poderoso carva-
52 Antes de descer pela quarta lho havia caído, perdendo seus
vez, a árvore havia produzido cem cem galhos, e era importante que o
ramos, sacudindo a terra e o céu ao Norte pudesse ver o sol e o suave
cair. brilho do luar, permitindo que as
53 Seus galhos se estendiam para nuvens mantivessem seus cursos e
o leste e as copas das árvores voa- a abóbada do céu fosse estendida
vam para o oeste. sobre cada lago e rio, bem como
54 As folhas foram espalhadas sobre as margens de cada ilha.
para o sul e os cem galhos foram 64 A beleza variada dos bosques
para o norte. surgiu e as florestas cresceram de
55 Aqueles que tomaram um ga- maneira encantadora.
lho alcançaram o bem-estar eterno, 65 Vinhas e flores voltaram a
enquanto aqueles que se segura- brotar.
ram no topo da árvore obtiveram o 66 Os pássaros voltaram a cantar
poder da magia. nas copas das árvores, com alegres
56 Aqueles que colheram a fo- tordos e cucos nas bétulas.
lhagem experimentaram um de- 67 Bagas cresceram nas monta-
leite que nunca cessou. nhas, flores douradas apareceram
57 Algumas lascas foram espa- nos prados e diversas ervas de
lhadas e levadas para as terras do

a
A Terra do Norte; Lapônia.
A Àguia parabeniza Väinämoinën por sua sabedoria. Nikolai Kochergin.

muitas cores surgiram, juntamente Terra do Norte, na beira da areia


com diversos tipos de vegetação. do oceano.
68 Entretanto, lamentavelmente, 71 Ele escondeu essas sementes
a cevada não está crescendo. em suas bolsas de confiança, feitas
69 Väinämöinen, após partir re- de pele de esquilo, algumas delas
flete cuidadosamente. confeccionadas com pele de marta.
70 Pelas margens das águas, en- 72 Com pressa, espalhou as se-
controu seis sementes de cevada mentes e plantou rapidamente os
dourada, além de sete grãos ama- grãos de cevada nas margens das
durecidos na costa superior da águas de Kaleva, nas colinas e pla-
nícies de Osmab.

a
Frequentemente usado para Kaleva.
b
73 ouça! O chapim emite seus bétula em pé, como um lugar de
gritos desordenados a partir do descanso para os cucos e todos os
álamo, dizendo: "A colheita de ce- pássaros, até eu posso descansar
vada em Osma e Vainolaa será im- sobre ela".
pedida, caso o terreno não seja de- 82 Väinämöinen, traz consigo
vidamente preparado e a floresta seus grãos mágicos de cevada.
nivelada, além da queima dos ga- 83 Ele carrega consigo sete se-
lhos até se transformarem em cin- mentes de grãos em suas bolsas
zas." confiáveis, feitas de pele de es-
74 Väinämöinen, decidiu cons- quilo e algumas de pele de marta.
truir para si um machado com o 84 Ele se apressa para semear
objetivo de cortar árvores na flo- suas sementes, espalhando os
resta. grãos de cevada com diligência.
75 Ele então começou a executar 85 Enquanto o faz, ele diz para si
sua tarefa, limpando e nivelando as mesmo: "Eu as sementes da vida
árvores. estou semeando, por entre meus
76 Com grande habilidade, ele dedos abertos, com a ajuda do meu
derrubou árvores de todas as espé- Criador, neste solo enriquecido
cies, exceto a bétula, que ele dei- com cinzas, brotem e floresçam
xou como um local de descanso neste solo.
para os pássaros. 86 Mãe antiga, tu que vives
77 Esse espaço especial foi re- abaixo da terra e do oceano, a mãe
servado para que o cuco pudesse dos campos e florestas, traz um
cantar com sua voz doce, já que solo rico e faça a cevada florescer.
esta é uma ave sagrada e os ramos 87 Peço-te que traga os grãos da
da bétula são considerados sagra- semente ao broto para que a ce-
dos. vada possa crescer.
78 Uma águia desceu dos céus e 88 A terra nunca produzirá ce-
voou pelo ar para poder observar. vada madura e nutritiva sem ajuda.
79 Então, ela disse: "Por que, an- Sua força nunca faltará se os doa-
tigo Väinämöinen, deixaste a dores derem assistência, agracia-
bétula em pé e não a derrubou?" rem a semeadura e agradecerem as
80 Väinämöinen respondeu: filhas da criação.
"Deixei a bétula em pé para que os 89 Que a terra se erga do seu
pássaros pudessem descansar nela, sono, despertando da terra ador-
e para que o cuco pudesse cantar mecida das eras.
seu canto sagrado". 90 Que os grãos de cevada come-
81 A águia respondeu: "Seu jul- cem a brotar, as folhas cresçam e
gamento foi sábio ao deixar a os caules verdejantes se elevem.

a
A casa de Väinämöinen e seu povo; um sinônimo de Kalevala
91 Que as próprias espigas se de- ancião Väinämöinen foi inspecio-
senvolvam e produzam cem vezes nar sua plantação de cevada para
mais, resultado de meu habilidoso verificar o resultado de seu traba-
e honesto labor em cultivar a la- lho com o arado e a semeadura.
voura e semeadura. 99 Ele ficou satisfeito ao encon-
92 Ukko, tu ó Deus acima, tu, ó trar a cevada crescendo forte, com
Pai dos céus, que vives no alto do nós triplos e espigas de seis lados.
Éter; que limitas todas a nuvens do 100 Väinämöinen, o idoso e leal,
céu; enviai nuvens de chuva do virou sua face e observou ao redor.
leste, nordeste, oeste e noroeste, e 101 E eis que surge um cuco da
do sul uma quente nuvem; para primavera, que observa a graciosa
que do céu caia a chuva, e as nu- bétula e repousa sobre ela, can-
vens derramem seu mel, para que tando docemente: "Por que a
os espigas encham e amadureçam, bétula prateada foi deixada ilesa
e os campos de cevada farfalhem." enquanto toda a floresta foi cor-
93 Ukko, o pai dos céus, man- tada?", questionou ao antigo
teve seu conselho no espaço da nu- Väinämöinen.
vem e deu bons conselhos no Éter. 102 Ele respondeu: "Eu deixei a
94 Ele enviou nuvens de diferen- bétula intocada para que pudesse
tes direções - do leste, nordeste, crescer sozinha, se tornando um lar
oeste, noroeste e sul - para unir e para ti, ó cuco de voz doce, para
costurar todas as arestas, formando cantar alegremente.
uma grande nuvem que foi lançada 103 Cante aqui com sua garganta
para a terra. de veludo, com sua voz de prata,
95 A nuvem de chuva caiu rapi- tocando a flauta dourada do cuco.
damente, deixando cair suas gotas 104 Cante pela manhã, à noite,
como mel, para que as espigas de na hora do meio-dia, para que as
cevada pudessem amadurecer ra- florestas cresçam melhor, a cevada
pidamente. amadureça, o Norte fique mais rico
96 As sementes de cevada cres- e Kalevala seja preenchida com
ceram, desdobrando-se, e as espi- alegria."
gas coloridas surgiram, brotando
do rico solo do pousio, do trabalho RUNA III.
habilidoso e honesto de Väinämöi- VÄINÄMÖINEN E YOUKAHAINEN.
nen.
97 Alguns dias passam desperce- Väinämöinen, o antigo menes-
bidos, e tantas outras noites voam trel, passou sua vida em plena sa-
rapidamente. tisfação nos prados de Vainola e
98 Após a viagem do sétimo dia, nas planícies de Kalevala.
na manhã do oitavo dia, o sábio e
Ele cantava lendas sempre maravi- 9 Imediatamente, o bardo sentiu-
lhosas e canções de sabedoria e sa- se enfurecido, e a inveja começou
gacidade antigas, cantando um dia, a crescer em seu peito.
depois um segundo, e até mesmo 10 Ele invejou Väinämöinen, fa-
no crepúsculo da noite, cantando moso por sua habilidade como
até o amanhecer. cantor, cuja doçura superava a sua
2 Ele cantava os contos de heróis própria. E
dos velhos tempos e contos de eras 11 le apressou-se em procurar
há muito esquecidos, bem como as sua mãe, que era sábia, e jurou que
lendas da criação. viajaria para o sul, levando con-
3 Antigamente, essas lendas sigo sua habilidade como bardo.
eram familiares às crianças, mas 12 Ele pretendia competir com
agora nossos filhos não as cantam Väinämöinen em uma batalha nas
mais. habitações de Vainola, nas caba-
4 Muitos heróis já cantaram nas da Terra do Norte.
parte dessas lendas, especialmente 13 "Não", responde o pai ansi-
nestes tristes dias de maldade em oso, "não vá para Kalevala."
que nossa raça se abateu. 14 A mãe, tomada por temor,
5 Por toda parte, a história viajou respondeu: "Não, não vá até onde
e homens distantes espalharam o está Väinämöinen, lá para desfiá-
conhecimento do canto do herói e lo para uma batalha.
da canção de Väinämöinen. 15 Com seu canto, ele é capaz de
6 Os ecos foram ouvidos ao sul e encantá-lo e enfeitiçá-lo, levando-
toda a Terra do Norte ouviu a his- o de volta com desonra e fazendo-
tória. o afundar na neve Congère.
7 Na distante e sombria Terra do 16 Além disso, seus dedos e pés
Norte, habitava o jovem e impru- flexíveis serão transformados em
dente menestrel da Lapônia, cha- gelo."
mado Youkahainena, que, certa 17 Estas são as palavras de You-
vez, durante um banquete com kahainen:"É benéfico receber o
seus amigos e companheiros, ou- julgamento de um pai, mas ainda
viu a história de um cantor mais melhor é receber o conselho de
doce e hábil em cantar lendas do uma mãe.
que ele próprio. 18 No entanto, a melhor opção é
8 Esse cantor vivia nos prados de tomar sua própria decisão.
Vainola, nas planícies de Kalevala, 19 Eu pretendo enfrentar o me-
e era ainda mais habilidoso do que nestrel e desafiá-lo em uma com-
aquele que ensinara Youkahainen. petição de canto.

a
Um célebre menestrel de Pohyola.
20 Irei desafiá-lo como bardo 24 O feiticeiro Youkahainen não
para a batalha, e cantarei para ele deu ouvidos aos conselhos pater-
meus doces compassos, lendas nais e maternos e conduziu seu
mais antigas e sabedoria acumu- corcel, cujas narinas exalavam
lada. fogo e cascos soltavam faíscas,
21 Que o famoso bardo de Su- saindo de seu estábulo.
omi, que é considerado o melhor 25 Prendeu-o a seu trenó dou-
dos cantores, seja derrotado na rado e, impetuoso, montou-o sobre
competição e se torne um infeliz a neve, saltando sobre o último
menestrel. banco cruzado.
22 Através de minhas canções, 26 Com seu chicote de bétula es-
vou transformá-lo para que seus maltado de pérola, bateu no corcel,
pés sejam como pedra de peder- que imediatamente partiu em sua
neira e suas vestes inferiores como jornada em direção ao norte, galo-
carvalho. pando incessantemente durante
23 Este famoso cantor, assim en- todo o dia e nos dias seguintes.
feitiçado, carregará sempre em seu 27 Após três dias, ao anoitecer,
coração um fardo de pedra, em seu chegou aos prados de Vainola, nas
arco de ombro de mármore, em sua planícies de Kalevala.
mão uma manopla de pederneira e 28 O correu que Väinämöinen, o
em sua testa uma viseira de pedra." mágico, cavalgava durante o pôr
do sol ao longo da estrada.
29 Ele conduzia seu cavalo com 39 Vainamoinen, sábio e ancião,
prazer e silenciosamente percorria respondeu assim ao jovem menes-
as pacíficas campinas de Vainola e trel: "Se tu és apenas Youkahai-
as planícies de Kalevala. nen, então és obrigado a me conce-
30 O jovem e ardente Youkahai- der toda a estrada, já que sou mui-
nen, impulsionado por sua monta- tos anos mais velho que tu."
ria espumante, avança com ímpeto 40 Em seguida, o arrogante You-
contra o cantor, sem desviar o seu kahainen dirigiu-se novamente a
curso. Väinämöinen e proferiu as seguin-
31 O encontro é inevitável e os tes palavras: "Não importa se é jo-
eixos se chocam violentamente, vem ou velho, a idade não tem
resultando no emaranhamento dos grande relevância.
hames, colares, rédeas e tirantes 41 O que importa é a sabedoria
dos cavalos. e conhecimento de cada um, e
32 A força do impacto faz com aquele que possui maior sabedoria
que ambos parem bruscamente e e conhecimento, e é um bom can-
observem a situação. tor, será o responsável por liderar
33 Nesse momento, gotas de o caminho, enquanto o outro se-
água escorrem do arreio e do cola- guirá atrás.
rinho, enquanto vapores se elevam 42 És tu o famoso mago e menes-
das narinas dos cavalos. trel Väinämöinen? Então vamos
34 Fala o menestrel, Väinämöi- começar a cantar as nossas antigas
nen: "Quem és tu, e de onde? Pois, lendas e a sabedoria que acumula-
tu vens como um jovem estupido, mos ao longo do tempo, para que
descuidado e atiraste-te em minha possamos ouvir um ao outro e jul-
direção. gar um ao outro em uma competi-
35 Destruíste minhas flechas e ção de provérbios mágicos."
trilhos, arruinando o colarinho do 43 Väinämöinen assim respon-
meu piloto. deu em tom modesto: "O pouco
36 Além disso, meu trenó dou- que sei não é suficiente para ser
rado encontra-se em pedaços, com digno de ser cantado, e mesmo
sua caixa e patins quebrados." meu canto não é grandioso.
37 Youkahainen então responde, 44 Tenho passado todos os meus
disse finalmente as palavras que se dias na fria e sombria Terra do
seguem: "Eu sou o jovem You- Norte, em uma terra desolada e so-
kahainen, mas primeira responda: litária onde moro em minha casa
38 quem és, de onde vens, para de campo.
onde vais, e de que tribo humilde 45 As canções que reuni são sim-
descendes?" ples e repetitivas, muitas delas na
medida do cuco, e eu mal consigo
me lembrar delas.
46 No entanto, como tu exigiste 54 Caso essa sabedoria seja con-
arrogante um desafio, eu o aceito. siderada insuficiente, posso com-
47 Então, diga-me agora, jovem partilhar outros assuntos e dizeres
cheio de sabedoria, o que tu sabes mágicos.
além dos outros, abra agora teu es- 55 Por exemplo, todos os ho-
toque de conhecimento." mens do Norte aram com renas,
48 A resposta de Youkahainen, o enquanto cavalos-mães aram as
jovem e impetuoso menestrel da terras do Sul e a Lapônia Interior
Lapônia, foi a seguinte:"Eu possuo ara com bois.
um vasto conhecimento adquirido 56 Conheço bem todas as árvo-
ao longo dos anos, e posso afirmar res da montanha de Pisaa, em toda
com clareza absoluta que cada te- a sua grandeza, e na rocha Horna
lhado deve ser dotado de uma cha- crescem abetos altos e esguios, en-
miné, bem como cada lareira deve quanto as árvores nas montanhas
possuir uma pedra específica para são magras.
sua construção. 57 Há três cachoeiras, três ocea-
49 As vidas das focas são reple- nos interiores e três montanhas al-
tas de liberdade e alegria, enquanto tas, atirando para a abóbada do
as morsas desfrutam de uma vida céu.
feliz alimentando-se de salmões 58 Hallapyorab está próximo de
descuidados e banqueteando-se di- Yaemenc, Katrakoski em Karyalad,
ariamente com percas e badejos. e a água caindo de Imatra ruge ao
50 Os badejos preferem viver em cair em Wuoksie."
áreas rasas e tranquilas, enquanto 59 Em seguida, disse
os salmões encontram seu lar em Väinämöinën: "Contos de mulhe-
fundos planos. res e a sabedoria das crianças não
51 O lúcio realiza a desova em são do agrado de um herói barbudo
climas frios e desafia as tempesta- e maduro o suficiente para o casa-
des de inverno. mento.
52 No outono, os poleiros nadam 60 Em vez disso, conte-me a his-
lentamente, com as costas tortas, tória da criação, descreva o início
caçando em águas profundas. do mundo e as criaturas que nele
53 Durante o verão, eles deso- habitam, e apresente também algu-
vam em águas rasas e saltam na mas reflexões filosóficas."
costa do oceano.

a
Uma montanha da Finlândia.
b
Um lago na Finlândia.
c
Ja'men (Ya'men). Um rio da Finlândia.
d
Kar-ja'la, (karya'la). A sede da cachoeira, Kaatrakoski.
e
O mesmo que Wuoksen (Vuoksen).
61 Então respoudeu: "Conheço 73 Agora, assim responde
bem sobre as fontes dos chapins, Väinämöinën à Youkahainen: "Po-
os quais são belos passarinhos. des me dar agora um pouco de sa-
62 A víbora, por outro lado, é bedoria? Esse absurdo é tudo o que
uma serpente verde. conheces?"
63 Os badejos habitam em águas 74 Respondeu Youkahainen:
salobras, enquanto os poleiros po- "Posso te contar uma história an-
dem ser encontrados em todos os tiga sobre os tempos primordiais.
rios. 75 Contarei sobre quando eu
64 É sabido que o ferro enferruja arava o mar salgado, varria as ilhas
com o tempo, e esse processo o e cavei grutas de salmões e caver-
torna mais fraco. nas profundas.
65 O umber possui um sabor 76 Eu também criei todos os la-
amargo, e a água fervente pode ser gos e empilhei as montanhas ao
perigosa. seu redor, colocando rochas em
66 O fogo, por sua vez, é sempre cima delas.
uma ameaça constante. 77 Eu estava presente como um
67 Como o primeiro médico é o herói sábio e antigo, o sexto dos
Criador considerado, e o mais an- heróis, e o sétimo dos heróis primi-
tigo remédio sendo a água, uma tivos, quando os céus foram cria-
das substâncias mais antigas utili- dos e os espaços etéreos se forma-
zadas para tal. ram.
68 A magia é tida como filha da 78 Eu vi quando o céu tinha pila-
espuma do mar, enquanto Deus é res de cristal e o belo arco-íris se
considerado o primeiro e melhor arqueava.
conselheiro. 79 Fui testemunha da colocação
69 As águas brotam de cada da Lua em órbita, do plantio do Sol
montanha, e o fogo desceu do céu prateado e da estação firme da
pela primeira vez. Ursa, com as estrelas sendo asper-
70 O ferro é moldado a partir da gidas pelos céus."
ferrugem, enquanto o cobre é cri- 80 Disse o antigo Väinämöinën:
ado a partir das rochas. "Tu és o líder dos mentirosos, o co-
71 Os pântanos são considerados mandante supremo de todos eles.
as terras mais antigas, e o salgueiro 81 Nunca exististe e nunca esti-
é a árvore que apareceu pela pri- veste presente durante a criação do
meira vez. mundo.
72 Os abetos foram as primeiras 82 Quando o mar salgado foi
casas, e as pedras ocas foram as arado, as ilhas cercadas pelo mar
primeiras chaleiras." foram escavadas, as grutas dos sal-
mões foram cavadas, as cavernas
foram escavadas, os lagos foram
criados e as montanhas foram sua força em batalhas maiores, en-
amontoadas ao redor deles, as ro- frentando desafios que exigem co-
chas foram empilhadas sobre elas. ragem e habilidade.
83 Nunca foste visto ou ouvido 91 É como um javali na floresta,
falar durante a criação da terra, dos com medo de se arriscar e ser der-
espaços etéreos, dos pilares de rotado.
cristal no ar, da colocação da Lua 92 O medo e a covardia os trans-
em órbita, do plantio do Sol prate- formarão em suínos, com corações
ado e da estação firme da Ursa e rostos de porcos.
Maior, nem quando os céus foram 93 Mas eu, através do meu canto,
salpicados com estrelas." irei expor esses heróis-covardes,
84 Youkahainen ficou furioso lançando-os para cá e para lá, pi-
com a resposta de Väinämöinen e sando neles na lama e no leito, tra-
retrucou: "Senhor, uma vez que tando-os como o lixo que são."
sou falho em sabedoria, ofereço- 94 Väinämöinen ficou irritado e
lhe batalha com minha espada. cresceu em cólera, ficando carran-
85 Convido-o, famoso bardo e cudo e feroz.
menestrel, o antigo cantor de ma- 95 Finalmente, ele quebrou o si-
ravilhas, para testar nossa força lêncio e começou a cantar um ma-
com espadas largas. ravilhoso canto.
86 Vamos colocar nossas lâmi- 96 Ele não cantou histórias in-
nas à prova e ver quem é o mais fantis ou sagacidade das mulheres,
habilidoso." mas sim heróis barbudos que eram
87 Disse o antigo Väinämöinën: desconhecidos pelas crianças e
"Eu não temo a tua espada, a tua donzelas, conhecidos apenas pela
sabedoria, a tua prudência ou a tua metade pela noiva e pelo noivo e
astúcia. em parte por muitos heróis.
88 Não me impressionas nem um 97 Estes eram tempos tristes de
pouco com teus desafios, pois és maldade, quando a raça estava so-
apenas um fanfarrão insignifi- frendo.
cante, vaidoso e sem importância. 98 Väinämöinen cantou grande-
89 Se eu aceitar o desafio, não mente até as montanhas de cobre e
será contigo, mas sim com um ad- as rochas duras e saliências ouvi-
versário verdadeiramente digno." rem seus tons mágicos e tremerem.
90 Então, Youkahainen, com a 99 Os penhascos da montanha
boca torta e rosto sarcástico, sacu- foram despedaçados, todo o oce-
diu seus cabelos dourados e res- ano se ergueu e caiu, e as colinas
pondeu: "Aquele que evita medir a distantes ecoaram.
sua própria lâmina teme testar a
100 Youkahainen ficou parali- uma sincera súplica a Väinämöi-
sado em silenciosa admiração, en- nen: "Ó sábio e digno menestrel, és
quanto seu trenó com enfeites de o único verdadeiro mago.
ouro flutuava como mato nas on- 107 Peço-te que cesse teu encan-
das. tamento e apenas afaste tua magia.
101 Väinämöinen cantou sobre 108 Permita-me deixar este pân-
sua espada com cabo de ouro, sua tano de horror e liberar-me desta
besta alegremente pintada, suas prisão pedregosa e deste tormento
flechas rápidas e emplumadas, seu mortal.
cachorro com focinho dobrado, 109 Pagar-te-ei um resgate de
seu boné de sua testa, suas mano- ouro."
plas em juncos nas águas, sua ves- 110 O antigo Väinämöinen inda-
timenta de cor púrpura em nuvens gou: "Indaga-me agora, qual será o
brancas nos céus, e seu cinto cra- teu resgate, se eu interromper meu
vejado de joias em estrelas cinti- encantamento, se eu renunciar à
lantes ao seu redor. minha magia, e te livrar do teu
102 Infelizmente para Youkahai- pântano aterrorizante, libertando-
nen, Väinämöinen cantou sobre te da tua prisão rochosa e aliviando
ele afundando cada vez mais fundo o teu tormento mortal?".
nas profundezas da areia move- 111 O jovem Youkahainen res-
diça, em sua tortura, até que seu pondeu: "Em minha morada, pos-
cinto desapareceu na lama e na suo duas bestas mágicas e um par
água. de arcos de poder maravilhoso.
103 Foi só então que Youkahai- 112 Um dos arcos é tão leve que
nen compreendeu com clareza sua uma criança pode dobrá-lo, en-
loucura e o fim da jornada que ha- quanto o outro só pode ser dobrado
via se aventurado em vão para a pela força.
glória de uma disputa com o 113 Escolha dentre estes, o que
grande e velho Väinämöinen. melhor lhe agradar."
104 Quando o triste jovem You- 114 Assim falou o antigo
kahainen de Pohyola, tenta mover Väinämöinen: "Eu não desejo as
seu pé direito com todas as suas tuas bestas mágicas, pois já possuo
forças, porém, infelizmente, o pé algumas delas.
não obedece. 115 As tuas bestas são mais do
105 E quando ele tenta mover que inúteis para mim. Tenho arcos
seu pé esquerdo, eis que o encontra em grande abundância, em cada
transformado em pedra de peder- prego e viga.
neira. 116 Esses arcos são tão podero-
106 Youkahainen, profunda- sos que superam qualquer outro
mente triste e desesperado, fez caçador, e até mesmo caçam sozi-
nhos."
117 E aconteceu que o antigo dois garanhões mágicos, um deles
Väinämöinen cantou mergulhando é um piloto rápido como um raio,
ainda mais na lama e na água, e o outro foi feito para suportar far-
ainda mais profundamente no pân- dos pesados.
tano do tormento o pobre You- 126 Tomai o que te agrada de-
kahainen. les".
118 Assim respondeu Youkahai- 127 E disse Väinämöinen: "Eu
nen: "Em minha morada, possuo não desejo teus garanhões, pois já
duas chalupas encantadas, barcos tenho o suficiente deles.
magníficos e admiráveis. 128 Meus estábulos estão reple-
119 Um deles navega graciosa- tos de garanhões mágicos, co-
mente sobre as águas do oceano, mendo milho em cada manjedoura
enquanto o outro foi confeccio- e tendo costas largas para suportar
nado para transportar cargas pesa- a água.
das. 129 Eles carregam a água em la-
120 Assim, escolha entre eles cinhos em suas garupas".
aquele que melhor lhe convier." 130 Ainda aconteceu que o bardo
121 E disse o antigo Väinämöi- e menestrel de Vainola começou a
nen: "Não desejo possuir as tuas cantar uma vez mais sobre o pobre
chalupas mágicas, pois já possuo o Youkahainen, que estava afun-
suficiente delas. dando cada vez mais fundo em seu
122 Todas as minhas baías estão tormento, submerso até os ombros.
cheias de chalupas, e todas as mi- 131 Falou Youkahainen: "Ó tu, o
nhas costas estão alinhadas com antigo Väinämöinen, Tu és o único
elas. mago verdadeiro.
123 Algumas foram construídas 132 Rogo-te que ponhas fim ao
antes mesmo de os ventos serem teu encantamento.
marinheiros, e outras foram feitas 133 Por favor, abandona a tua
para navegar contra eles." magia.
124 Ainda aconteceu que o 134 Se o fizeres, eu te darei ouro
bardo e menestrel de Vainola co- abundante e incontáveis depósitos
meçou a cantar uma vez mais so- de prata brilhante.
bre o pobre Youkahainen, que es- 135 Meu pai obteve essas rique-
tava afundando cada vez mais zas através das guerras e das bata-
fundo em seu tormento, em areia lhas árduas."
movediça até a altura do cinturão. 136 Disse Väinämöinen:"Não al-
125 Diante desse sofrimento, o mejo teu ouro, tampouco desejo
bardo da Lapônia expressou sua tua prata, pois já possuo o bastante
angústia e falou novamente para de ambos.
Väinämöinen: "Em minha casa há
137 Meus aposentos estão reple- seus próprios campos, e seu pró-
tos de ouro abundante, e sacos de prio grão sempre terá um sabor
prata pendem de cada prego. mais doce."
138 E o ouro cintila sob a luz so- 146 O jovem e imprudente me-
lar, enquanto a prata brilha sob o nestrel da Lapônia, carregado de
luar." tristeza, encontrava-se profunda-
139 O fanfarrão, Youkahainen, mente afundado na lama e na água.
foi submergido ainda mais profun- 147 Acorrentado pelo medo e
damente em seu pântano de tor- cheio de angústia, sua barba estava
mento, afundando até o queixo em suja de lama, e sua boca, que ou-
lama e água. trora era orgulhosa e cheia de algas
140 Apesar disso, ele continuava marinhas, agora estava enredada
falando e suplicando: “Ó, tu na grama.
Väinämöinen, antigo e venerável, 148 Nesse estado, o jovem me-
és considerado o maior dentre to- nestrel Youkahainen suplica: “Ó
dos os magos que já existiram. antigo Väinämöinen, tu que és o
141 Imploro-te que me ergas mais sábio dos cantores de sabedo-
deste poço de desespero e agonia, ria, peço-te que cesse enfim teus
desta prisão de tormento. encantamentos e que afaste tua
142 Ofereço-te todos os meus magia de mim.
campos de milho e todo o meu mi- 149 Rogo-te que restaure minha
lho armazenado em celeiros, se as- vida anterior e me liberte deste tor-
sim puderes me resgatar desta vida mento sufocante.
infeliz e garantir minha liberdade 150 Que meus olhos sejam liber-
eterna.” tos da areia e água.
143 Väinämöinen respondeu: 151 Prometo-te, em troca, minha
"Seja vosso milho transportado a irmã Ainoa, a filha mais bela de
outros mercados e disponibilize minha mãe, para ser tua noiva para
vossos celeiros aos necessitados. sempre e satisfazer teu prazer.
144 Pois em verdade, possuo 152 Ela varrerá os quartos dentro
grande abundância de milho e de tua cabana, manterá tua morada
campos em todos os bairros, de em ordem, lavará as travessas de
sorte que o milho floresce em to- ouro para ti, estenderá teu sofá
dos os meus domínios. com lençóis finos e tecerá cobertas
145 Pois a colheita de alguém douradas para tua cama.
sempre parecerá mais farta em 153 Além disso, ela assará para ti
o pão-de-mel.”

a
A irmã de Youkahainen. Aino – Nome feminino que significa "A único" em fin-
landês.
154 Väinämöinen, o velho sábio quebrando as hastes contra os por-
e fiel, tendo encontrado enfim o tais e destruindo em pedaços seu
resgate tão desejado: a jovem e belo trenó.
bela filha da Lapônia, querida irmã 163 Então a mãe, percebendo ra-
de Youkahainen. pidamente o ocorrido, repreendeu-
155 Feliz ele por tê-la conquis- lo-ia por sua imprudência.
tado, mesmo em sua idade avan- 164 No entanto, o pai inter-
çada, pois ela será sua noiva para rompe: "Por que destruíste teu
sempre e orgulho e alegria de trenó de neve? Por que destruíste
Kalevala. tuas colinas? Por que retornaste
156 Agora, senta-se na Rocha da para casa de forma tão estranha?
Alegria, Väinämöinen alegre 165 Qual é a razão por trás de teu
canta, entoando suas canções em comportamento rude e selvagem?"
três repetições para quebrar o en- 166 E aconteceu que Youkahai-
canto da magia e diminuir seu po- nen, que estava com o boné torto
der, a fim de dissipá-lo completa- na testa, caiu em pranto e seu cora-
mente. ção se partiu.
157 Quando o feitiço é quebrado, 167 Sua cabeça ficou deprimida
Youkahainen, embora triste, fica e sua mente abatida, e seus olhos e
mais sábio. lábios expressavam tristeza.
158 Ele sai arrastando os pés da 168 Ele não respondeu ao seu pai
areia movediça, levantando sua ansioso. Ai, pobre Youkahainen!
barba da água. 169 Então, a mãe o indagou
159 Conduz seu corcel das ro- prontamente, em busca de compre-
chas, traz seu trenó de volta dos ender a razão por trás de sua tris-
juncos, chama seu chicote de volta teza: "Por favor, diga-me, meu pri-
do oceano e coloca seu trenó dou- mogenito, por que choras? Por que
rado em ordem. teu coração está tão abatido e tua
160 Em seguida, ele se joga no mente tão desanimada? Por que
banco cruzado, estala seu chicote e teus olhos expressam tanta tris-
o leva de volta para casa, apres- teza?"
sando-se com o coração pesado. 170 Youkahainen respondeu: "Ó
161 Ao chegar em casa, ele en- mãe dourada, sempre fiel, há uma
contra sua mãe, a mãe de Aino, causa suficiente para minha tris-
grisalha e idosa, e fica ainda mais teza e lágrimas amargas.
triste. 171 Todos os meus dias passarão
162 Desatento, ele se aproxima infelizes, pois prometi a bela Aino,
de sua casa fazendo barulho e al- tua amada filha e minha devotada
voroço, e acaba dirigindo impru- irmã, ao decrépito Väinämöinen
dentemente contra a cobertura, como noiva para ele para sempre;
172 será seu teto acima dele, su- dentro de teu lar como uma rai-
porte abaixo dele e bela compa- nha."
nheira ao lado da lareira. 182 Chorosa respondeu Aino:
173 Esta causa é amarga para "Ó minha querida e misericordiosa
mim e traz grande sofrimento." mãe, há uma causa suficiente para
174 Então, a mãe se levantou ale- a minha tristeza e um motivo sufi-
gremente e bateu palmas de felici- ciente para o meu amargo choro.
dade. 183 Devo soltar as minhas tran-
175 Ela se dirigiu a Youkahai- ças ensolaradas, as minhas tranças
nen, seu amado filho, e disse: "Não belas e douradas, pois não posso
chores mais, meu filho. mais adornar o meu cabelo com
176 Não há motivo para tuas lá- jóias ou amarrar a minha cabeça
grimas, nem razão para tua tris- com fitas.
teza. 184 Tudo isso deve ser escon-
177 Eu já alimentei essa espe- dido sob o chapéu de linho que
rança muitas vezes e tenho orado uma esposa deve usar para sempre.
por muitos anos para que o pode- 185 Choro pela manhã, choro
roso bardo e herói, sábio e valente pela noite, e choro pela minha be-
Väinämöinen, se torne o esposo da leza que agora está desaparecendo.
bela Aino e o genro para mim, sua 186 A minha infância se foi e a
mãe". minha juventude também.
178 Mas a bela e adorável don- 187 O sol prateado e o luar dou-
zela, irmã querida de Youkahai- rado, que eram a esperança e o pra-
nen, que ao chegar ao limiar ime- zer da minha infância, foram tira-
diatamente caiu em um choro dos de mim agora para sempre, e
amargo e prolongado. tão cedo serão esquecidos na ban-
179 Chorou durante todo o dia e cada de ferramentas do meu irmão,
toda a noite, continuando a chorar na janela da minha irmã ou na casa
no segundo e terceiro dia, porque do meu pai."
uma grande tristeza havia se apos- 188 Disse novamente a mãe de
sado de seu jovem coração. cabelos grisalhos: "Cessa tua tris-
180 Então, a mãe de cabelos gri- teza, donzela tola, pois tu és in-
salhos indagou a sua filha, Aino, grata por chorar.
de maneira solene: "Por que estás 189 Não há motivo para tua la-
a chorar, adorável filha? Encon- mentação, nem o menor motivo
traste um nobre pretendente. para derramar lágrimas.
181 Tu governarás tua espaçosa 190 Em toda parte, o sol prate-
morada, sentar-te-ás em sua janela ado brilha tão intensamente sobre
para descansar, enxaguarás suas outras famílias.
travessas de ouro e caminharás 191 O luar brilha não apenas
através das janelas abertas de teu
pai e na bancada de trabalho de teu 6 Então, o menestrel dirigiu-se a
irmão. ela e disse: "Aino, beleza das Ter-
192 Flores desabrocham em cada ras do Norte, não use a cruz dou-
prado e bagas crescem em cada rada em teu peito, as pérolas bri-
montanha. lhantes em teus ombros e as tran-
193 Tu podes ir sozinha e encon- ças ruivas e douradas para os ou-
trá-las, ir e encontrá-las todo o dia. tros.
194 Não só os prados de teu ir- 7 Use-as apenas para mim, doce
mão, mas também outras áreas têm donzela".
belas videiras e flores. 8 Eis que a donzela prontamente
195 As montanhas de teu pai não respondeu, sizendo: "Não é para ti,
são as únicas que produzem bagas nem tampouco para outrem, que eu
maduras e nutritivas. penduro em meu pescoço a cruz,
196 Flores florescem em outros ou que adorno meus cabelos com
prados e bagas crescem em outras fitas de seda.
montanhas. 9 Não necessito mais das diver-
197 Assim como aqui, minha sas bugigangas que me foram tra-
adorável Aino." zidas por navio ou chalupa.
RUNA IV. 10 Antes, prefiro vestir-me com
O DESTINO DE AINO. roupas simples, alimentar-me da
casca do pão de cevada e habitar
Ao romper da aurora, a donzela, para sempre com minha mãe em
irmã justa de Youkahainen, diri- nossa modesta cabana, junto a meu
giu-se prontamente à floresta para pai".
colher brotos de bétula, a fim de 11 Então ela jogou fora a cruz de
confeccionar vassouras. ouro que trazia consigo e arrancou
2 Ela colheu borlas de bétula e, as joias de seus dedos.
em seguida, preparou um pacote 12 Rapidamente soltou seu colar
para seu pai, amarrou uma vas- brilhante e desamarrou suas fitas
soura de bétula para sua mãe e bor- de seda.
las de seda para sua irmã. 13 Com indignação, lançou to-
3 Imediatamente, a jovem Aino das essas peças nas samambaias e
correu para casa, deixando a flo- flores da floresta.
resta por uma trilha. 14 Em seguida, a donzela cha-
4 Quando ela se aproximou da mada Aino, apressou-se para a ca-
borda da floresta, vê! o antigo bana de sua mãe.
Väinämöinen, que a espiava furti- 15 Seu pai estava sentado na ja-
vamente. nela, dedicado a talhar um ma-
5 Aino estava vestida com es- chado de carvalho.
mero em roupas caras.
16 Então, ele dirigiu-se à sua fi- irmã, e bons motivos para minha
lha: "Por que choras, minha bela tristeza.
Aino, minha amada filha?" 29 É por isso que venho até ti
17 A donzela respondeu: "Meu como podes ver.
pai, tenho motivos justos para cho- 30 Não há nenhum filete escar-
rar e razões válidas para o meu late em minha cabeça, nenhuma
luto. trança de prata em meu cabelo, ne-
18 A razão pela qual choro e so- nhuma fita roxa em meus braços,
fro é porque retirei a cruz de meu nenhum colar brilhante em volta
peito, o broche de cobre de meu do meu pescoço, nenhuma cruz de
cinto e o cinto de prata da minha ouro em meu peito, e nenhum
cintura. brinco de ouro em minhas ore-
19 A minha cruz era bela e dou- lhas."
rada." 31 Próximo à entrada da leiteria,
20 Próximo à porta encontrava- encontrava-se sentada a mãe de
se sentado o irmão de Aino, escul- Aino, enquanto fazia creme desna-
pindo um jugo de boi feito de ma- tado.
deira de bétula. 32 Então, perguntou para sua
21 Ele perguntou: "Por que estás amada filha Aino, com ternura e
chorando, minha querida Aino, afeto: "Por que choras, minha que-
minha irmã devota?" rida Aino, filha devotada?"
22 Ela respondeu: "Irmão, tenho 33 A jovem, soluçando, respon-
motivos suficientes para chorar e deu: "Minha mãe amorosa e mise-
lamentar. ricordiosa, choro por uma causa
23 São bons motivos que me le- suficiente e boas razões para mi-
vam ao luto. nha tristeza.
24 Por isso, venho diante de ti 34 Fui à floresta para amarrar
sem os anéis que antes adornavam vassouras e colher brotos, especi-
meus dedos e sem o colar bonito ficamente para obter algumas
que enfeitava meu pescoço. bétulas borlas.
25 Eram anéis dourados que tu 35 Amarrei um feixe para meu
me deste, e o colar, pérolas e pai, um segundo para minha mãe,
prata!" um terceiro para meu irmão e as
26 No limiar da porta encon- borlas de seda para minha irmã.
trava-se a irmã de Aino, que habil- 36 Depois, voltei para casa pela
mente tecia um cinto de ouro. trilha que saía da floresta.
27 Observando o choro de Aino, 37 No entanto, quando cheguei à
sua irmã perguntou: "Por que cho- fronteira da floresta, Osmoinen, o
ras, minha amada irmã Aino?" antigo Väinämöinen do milharal,
28 Ela respondeu: "Tenho moti- falou comigo.
vos suficientes para chorar, minha
38 Dizendo: 'Bela donzela, não 46 Agora, suba até o topo da co-
uses isso para os outros, mas ape- lina e vá para o depósito na monta-
nas para mim. Doce donzela, usa nha.
uma cruz dourada em teu peito, pé- 47 Abra o grande compartimento
rolas brilhantes sobre teus ombros, e encontrará caixas, baús e caixo-
amarra para mim tuas tranças rui- tes.
vas e tece para mim tuas tranças de 48 Abra a caixa maior e levante a
prata'. cobertura berrante para encontrar
39 Então, joguei a cruz de ouro e seis cintos de ouro e sete vestidos
as joias de meus dedos, rapida- multicoloridos, tecidos pelas belas
mente soltei meu colar brilhante e filhas da Lua e moldados pelas do-
desatei minhas fitas de seda. Indig- ces virgens do Sol.
nada, lancei todas essas coisas nas 49 Quando eu era jovem, vagava
samambaias e flores da floresta. pelas montanhas como uma don-
40 Depois, eu disse ao cantor: zela, caçando bagas no bosque.
'Não para ti e nem para os outros, 50 Por acaso, ouvi as filhas da
pendurarei a cruz em meu pescoço Lua tecendo e as filhas do Sol gi-
e enfeitarei meu cabelo com fitas rando, sobre a borda azul da flo-
de seda. Não preciso mais de mui- resta, em uma montanha alta e dis-
tas bugigangas trazidas por navio e tante.
chalupa. Prefiro vestir a roupa 51 Fiquei escondida enquanto
mais simples, alimentar-me da suplicava às belas filhas da Lua
casca do pão de cevada e morar por sua prata e às doces virgens do
para sempre com minha mãe na ca- Sol por seu ouro.
bana com meu pai'." 52 Elas me deram generosa-
41 mãe, com cabelos grisalhos, mente seus tesouros para enfeitar
falou para sua amada filha, Aino, minhas têmporas e cabelo.
usando palavras reconfortantes: 53 Quando voltei para casa, usei-
"Não chore mais, minha adorável os por três dias e os guardei com
donzela. cuidado em suas caixas, onde per-
42 Não desperdice mais sua doce maneceram por muitas estações.
juventude. 54 Agora, enfeite sua testa com
43 Durante um ano, coma minha fita de seda, apare as têmporas
doce manteiga para se fortalecer e com ouro e use um colar de pérolas
ficar corada. em seu pescoço.
44 No segundo ano, coma bacon 55 Vista-se em puro linho
fresco para ficar alta e majestosa. branco e use o mais rico vestido
45 No terceiro ano, apenas gulo- curto, prendendo-o com um cinto
seimas, para ficar bela e adorável. de ouro.
56 Use meias de seda e sapatos donzela livre e alegre, brincando
de couro fino. nos prados com cordeiros, sem co-
57 Enfeite seu cabelo com tran- nhecer dor ou problemas.
ças douradas e prenda-o com fios 67 Agora, minha mente está
de prata. cheia de tristeza, eu ando cansada
58 Use anéis em seus dedos e ba- pelo pântano, pelo restolho, pelas
bados delicados em suas mãos. amoreiras e pela floresta sombria,
59 Então, venha enfeitada para até que minha vida esteja cheia de
seu quarto e volte para esta casa, escuridão e meu espírito, branco
para ser saudada pelos seus paren- de angústia.
tes e amigos, corada como bagas 68 Para mim, seria melhor se eu
vermelhas e tão radiante quanto o nunca tivesse visto a luz do sol, ou
raio de sol de seu pai. se tivesse nascido e morrido
60 Ande com beleza e majestade, quando criança, em vez de ter vi-
mais linda que o luar." vido como uma donzela nestes
61 E assim se expressou a mãe à dias de pecado e tristeza, debaixo
sua filha Aino, que chorava. de uma estrela tão infeliz.
62 No entanto, a jovem donzela 69 Teria sido melhor para mim
não cedeu aos desejos de sua mãe. se eu tivesse morrido no oitavo
63 Em vez disso, correu imedia- dia, depois de sete noites ter desa-
tamente para o pátio, lá para chorar parecido; precisaria de um pouco
em amarga tristeza, sozinha e an- de linho, um pequeno caixão e
gustiada. uma sepultura menor.
64 Após esperar por muito 70 Minha mãe teria lamentado
tempo, Aino, cheia de lamenta- um pouco, meu pai também talvez,
ções, finalmente expressou seus minha irmã teria chorado o dia in-
pensamentos em um solilóquio: teiro e meu irmão poderia ter der-
"Com o que posso comparar agora ramado uma lágrima.
a felicidade de um lar e a alegria da 71 Assim terminaria todo o luto."
fortuna? Seria como as águas do 72 Eassim aconteceu que Aino, a
rio, como as ondas do lago e como pobre donzela, derramou muitas
as águas cristalinas fluindo. lágrimas e suspirou profunda-
65 E quanto à dor cortante que mente.
sinto por causa do filho do frio in- 73 Seu pranto foi incessante, du-
fortúnio? Seria como o espírito do rando não apenas um dia, mas
pato marinho, como o gelo no in- dois, e ainda um terceiro desde a
verno e a água aprisionada no manhã até a noite.
poço. 74 Quando sua mãe a questionou
66 Esses pensamentos frequente- novamente: "Por que choras, mi-
mente vagam pela minha mente, nha amada filha? Por que trazes a
na infância quando eu era uma dor contigo?”
75 A donzela respondeu chorosa: 83 Ela escolheu o que mais lhe
"Eu choro e sofro porque me tor- agradou e se vestiu para parecer a
narei uma donzela miserável por mais bela, adornando-se com ouro
toda a minha vida. em suas têmporas, prata em seu ca-
76 Isso ocorre desde o momento belo, fitas roxas em seus ombros,
em que tu deste a pobre Aino e uma faixa azul em volta de sua
prometeste tua filha ao velho testa, uma cruz dourada, anéis e
Väinämöinen para confortá-lo em joias adequados para realçar sua
seus anos decadentes. beleza.
77 Ele terá um telhado sobre sua 84 Ela abandona seus muitos te-
cabeça durante as tempestades e souros e deixa o depósito na mon-
um manto para aquecê-lo em sua tanha, cheio de objetos valiosos de
casa. ouro e prata.
78 Seria muito melhor se tu ti- 85 Ela vagueia por campos e pra-
vesses me enviado para baixo das dos, por campos de pedra devasta-
ondas do mar salgado para me tor- dos e estéreis, pântanos e florestas,
nar irmã do badejo e amiga da pela vasta e triste floresta, indo de
perca e do salmão. um lado para outro, cantando des-
79 É melhor cavalgar nas ondas, cuidadamente enquanto ela va-
nadar na espuma do mar como gueia.
uma sereia e ser amiga dos peixes 86 Sua canção triste e ecoante
ágeis do que ser o consolo de um diz: "Ai de mim, minha vida mal-
velho. fadada! Ai de Aino, de coração
80 Preferiria ser a irmã do ba- partido! Que a dor e a angústia não
dejo e amiga da perca e do salmão sejam ainda mais profundas, nem
do que a escrava e querida de um meu sofrimento ainda maior.
velho, sendo seu suporte para se- 87 Se eu tiver que suportar esse
gurá-lo quando ele cambaleia, mão peso de tristeza e viver em desâ-
para ajudá-lo quando ele treme, nimo com um coração entriste-
braço para guiá-lo quando ele va- cido, prefiro entregar minha vida
cila e força para dar a ele quando para sempre e morrer infeliz.
ele enfraquece." 88 Agora é hora de Aino partir
81 Terminando de falar, ela dei- deste mundo cruel para o reino de
xou sua mãe e foi imediatamente Tuoni, o reino dos que partiram, a
correndo em direção à montanha. ilha do além.
82 Chegando ao topo, ela abriu a 89 Não chorem por mim, ó Pai;
maior caixa guardada lá e removeu querida Mãe, retire sua censura;
seis tampas, revelando seis cintos amável irmã, enxugue suas lágri-
de ouro e sete vestidos de seda. mas; querido irmão, não chore por
mim.
90 Quando eu afundar sob a es- reias, que são fadas das águas. En-
puma do mar, farei minha casa em quanto chora, Aino remove suas
grutas de salmão e meu leito em vestimentas com cuidado, pendu-
águas cristalinas, usando samam- rando suas roupas de seda nos ga-
baias aquáticas como meu sofá e lhos dos amieiros, deixando cair
travesseiro." sua cruz de ouro na praia.
91 Durante todo o dia, Aino, a 99 Ela também pendura suas fi-
pobre, caminhou. tas no álamo, suas meias de seda
92 No dia seguinte, triste e exa- nas rochas, seus sapatos de pele de
usta, continuou vagando até o ter- veado na grama, e deixa seu colar
ceiro dia, desde a manhã até a brilhante na areia junto com seus
noite, quando a noite cruel a envol- anéis e outras joias.
veu. 100 No mar, a uma distância
93 Foi então que ela alcançou a considerável, havia uma rocha
margem arenosa, chegando final- com as cores do arco-íris, bri-
mente à fria e sombria praia do lhando na luz prateada do sol.
mar. 101 Em direção a ela veio a infe-
94 Sentou-se na rocha da tris- liz donzela, Aino, nadando em sua
teza, sozinha no frio e na escuri- direção.
dão, ouvindo apenas a música dos 102 Ela subiu na pedra erguida,
ventos e das ondas ondulantes, que desejando ali descansar por um
cantavam todo o canto fúnebre de momento e repousar sobre a rocha
Aino. de beleza.
95 Durante toda aquela noite, a 103 De repente, balançando para
donzela cansada chorou e vagueou lá e para cá entre as ondas, a pedra
na fronteira, entre a areia e os sei- de muitas cores caiu com um es-
xos lavados pelo mar. trondo e rugido das águas no fundo
96 Ao romper da aurora, a perso- do profundo e ilimitado mar azul.
nagem vislumbra três ninfas mari- Aino, agarrando-se às bordas es-
nhas sobre um promontório que se carpadas da rocha, afundou bem
projeta para o mar. abaixo da superfície, perecendo no
97 Há ainda outras quatro donze- fundo do mar.
las da água, que se encontram sen- 104 Cantando enquanto a pedra
tadas nas bordas que são constan- descia, Aino lamentou a sua morte:
temente atingidas pelas ondas, al- "Uma vez eu vim nadar à beira-
ternando entre nadar e repousar so- mar para me divertir entre as on-
bre as rochas. das; com a pedra de muitas cores,
98 Apressadamente, a donzela a pobre Aino afundou no fundo do
triste e chorosa, conhecida como profundo e ilimitado mar azul,
Aino, se dirige ao encontro das se- como um filhote de pássaro bonito
pereceu.
105 Nunca venha pescar, pai, nas 117 Utilizando uma pedra de
margens dessas águas, nunca du- múltiplas tonalidades, afundei a
rante toda a sua vida, se tu amas a pobre Aino nas profundezas do in-
tua filha Aino." sondável e vasto mar azul.
106 “minha terna mãe, dirigi-me 118 Como um majestoso pás-
à costa marítima, buscando deleite saro melodioso, ela pereceu. Ja-
entre as ondas. mais venhas para lavar tuas pálpe-
107 Com uma pedra de múltiplas bras nestas ondas ondulantes e na
cores, submergi a pobre Aino nas espuma do mar.
profundezas do vasto e insondável 119 Nunca, em todos os dias de
mar azul, e assim, como um meló- tua vida, se tu amas a tua irmã
dico pássaro, ela pereceu. Aino.
108 Jamais misture teu pão, ó 120 Todas as águas do mar azul
prezada mãe, com a espuma e as serão o sangue do corpo de Aino.
águas do oceano cerúleo. Todos os peixes que nadam nessas
109 Nunca, em todos os dias de águas serão a carne de Aino para
tua vida, se tu amas a tua filha sempre.
Aino. 121 Os salgueiros à beira-mar
110 Querido irmão, adentrei às serão as costelas de Aino no por-
margens do mar, na busca de di- vir.
versão entre as ondas. 122 E todas as ervas marinhas da
111 Com a pedra de muitas co- margem terão crescido a partir das
res, afundei a pobre Aino nas pro- tranças de Aino.”
fundezas do insondável e vasto 123 Assim, a donzela desapare-
mar azul. ceu, e assim pereceu a adorável
112 Ela pereceu como um meló- Aino.
dico e gracioso pássaro. 124 Quem se encarregará de nar-
113 Jamais conduzas teu corcel rar essa história cruel? Quem le-
guerreiro com altivez, tampouco vará as más notícias até a morada
tragas teu corredor real. de sua mãe, que outrora foi o lar da
114 Não permitas que teus cor- adorável Aino? Será o urso que re-
céis adentrem as águas que deli- petirá essa história e transmitirá as
neiam as fronteiras do mar azul. tristes novidades à sua progeni-
115 Nunca, em todos os dias de tora? Não, pois o urso não pode ser
tua vida, se tu amas a tua irmã o mensageiro, pois ela destruiria os
Aino.” rebanhos de gado.
116 “minha amada irmã, dirigi- 125 Quem, então, terá a respon-
me à costa marítima em busca de sabilidade de contar essa história
recreação entre as ondas. cruel? Quem levará as más notí-
cias até a cabana de seu pai, que
outrora foi o lar da adorável Aino? 130 Velozmente galopou, tal
Será o lobo que repetirá essa histó- qual o voo das águias, seu pescoço
ria e trará a triste notícia a seu ge- contorcido impulsionando-o para a
nitor? Não, pois o lobo não pode frente, até alcançar o ansiado
ser o mensageiro, pois ele se ali- abrigo, outrora lar da encantadora
mentaria dos cordeiros mansos e Aino.
gentis. 131 A morada encontrava-se
126 Quem, então, terá o encargo imersa em silêncio e desabitada;
de relatar a história cruel? Quem então, ele adentrou a casa de ba-
ousará trazer as más notícias à casa nho, onde deparou-se com um
de sua irmã? Acaso a raposa repe- grupo de donzelas, cada uma em-
tirá a narrativa? Ela se tornará penhada em varrer com vassouras
mensageira das novidades? Não, de bétula.
pois não convém que a raposa as- 132 A lebre assentou-se na so-
suma tal papel, visto que ela se de- leira e, assim, as donzelas dirigi-
leitaria com os patos e as galinhas. ram-lhe a palavra: “Escuta-me, Ó
127 Quem, então, terá a respon- Pernas-compridas, pois considera-
sabilidade de narrar a história re- mos assar-te; Ó Olho-grande, co-
pleta de sofrimento? Quem se dis- gitamos ensopar-te.
porá a levar as tristes notícias até a 133 Serás assado para o desje-
morada de seu irmão, o local que jum de nossa senhora e ensopado
outrora abrigava a amada Aino? para o jantar de nosso mestre.
Será que a lebre será incumbida de 134 Faremos de ti um banquete
repetir a história e transmitir a do- para Aino, assim como para o seu
lorosa mensagem a seu irmão? irmão, Youkahainen! É preferível,
Sim, é a lebre que se tornará o portanto, que galopes velozmente
mensageiro, proclamando a todos de volta à tua toca nas montanhas,
a história cruel que se desenrolou. do que te tornares o prato principal
128 E assim, a lebre inofensiva de nossos jantares.”
respondeu, dizendo: "Eu serei o 135 E assim, a lebre altiva profe-
mensageiro que levará as más no- riu sua resposta, relatando o des-
tícias à antiga morada de Aino, a tino de Aino com palavras solenes:
fim de relatar essa história aos seus "Que não se pense que venho a
familiares." este lugar para ser assado em uma
129 Com presteza avançou o frigideira ou cozido em uma cha-
mensageiro de orelhas alongadas, leira.
ágil como os ventos que o prece- 136 Deixem que Lempoa encha
dem. suas mesas! Trouxe notícias som-

a
O Princípio do Mal; mesmo que Hisi, Piru e Jutas.
brias, vim para contar a cruel his- Aino, a mais bela filha das Terras
tória do desaparecimento e morte do Norte."
de Aino, a amada irmã de You- 143 Com tristeza, a mãe de cabe-
kahainen. los grisalhos derrama lágrimas
137 Com a pedra adornada por amargas, que escorrem por seu
múltiplas cores, Aino foi submer- rosto enrugado.
gida nas profundezas das águas 144 Essas lágrimas descem até
vastas e insondáveis, como um alcançar o seio, e dali fluem até a
belo pássaro cantor que pereceu. borda de sua vestimenta.
Seus laços foram pendurados nos 145 Elas prosseguem, descendo
choupos, sua cruzeta de ouro dei- pelas meias de seda, até tocar os
xado na praia, mantos de seda sapatos feitos de pele de veado.
adornaram os amieiros, suas meias 146 E então, sob seus pés calça-
de seda repousaram sobre as ro- dos com sapatos de pele de veado,
chas, seus sapatos de pele de cervo as lágrimas fluem incessante-
descansaram na grama, seu colar mente, como uma corrente que se-
brilhante se perdeu na areia, assim gue em direção à terra como sua
como seus anéis e joias. possessão e à água como sua parte
138 Nas ondas repousa a adorá- destinada.
vel Aino, adormecida no profundo 147 Enquanto as lágrimas caem
e ilimitado mar azul, nas cavernas e se misturam, formando três ria-
dos salmões, sendo a companheira chos em sua origem, das pálpebras
do badejo e amiga dos peixes da mãe surgem correntes de lágri-
ágeis." mas peroladas.
139 A tristeza se abate sobre a 148 Fluiam como pequenos rios,
mãe idosa, e de seus olhos azuis e cada riacho crescia, transfor-
brotam lágrimas amargas. mando-se em uma torrente impetu-
140 Ela expressa seu pesar em osa.
palavras lamentosas, com o cora- 149 E em cada torrente impetu-
ção partido, respondendo da se- osa e ruidosa, uma catarata se
guinte forma: "Escutai, ó todas as forma, espumando sob a luz prate-
mães, e ouçam atentamente, apren- ada do sol.
dam comigo uma história de sabe- 150 A partir da agitação da cata-
doria. rata, três rochas erguem-se majes-
141 Nunca forcem suas filhas a tosas, sustentando pilares grandio-
deixarem o lar paterno contra sua sos.
vontade, para unir-se a noivos que 151 De cada rocha, no seu topo,
não amam. brotam três colinas cobertas de
142 Eu, como mãe cruel e insen- verdejantes vegetações.
sata, expulsei minha adorável
152 E de cada colina, bétulas sal- 162 Lágrimas escorrem dos
picadas surgem em trio, erguendo- meus olhos cansados, percorrendo
se em direção aos céus. meu rosto marcado pelo tempo.
153 No topo de cada bétula, re- 163 São lágrimas imponentes,
pousa um cuco dourado, procla- semelhantes a pérolas marinhas de
mando seu chamado. prata.
154 E os três cantam, todos em 164 Meus cotovelos, que teste-
harmonia: "Amor! Ó Amor!" res- munharam o passar dos anos, en-
soa o primeiro chamado. velhecem junto comigo.
155 O segundo canta, clamando: 165 Meus dedos enrugados se
"Pretendente! Pretendente!" curvam, cansados em todos os seus
156 E o terceiro chama e ecoa, membros.
trazendo consolação: "Consola- 166 Meu corpo estremece em
ção! Consolação!" uma paralisia exaustiva.
157 Aquele chamado de "Amor! 167 Ao escutar o canto do cuco,
Ó Amor!" ecoa, convocando três o cântico sagrado do cuco."
luas e continuando incessante-
mente, dirigindo-se à donzela que RUNA V.
rejeita o amor, adormecida nos LAMENTAÇÃO DE VÄINÄMÖINEN.
castelos das profundezas maríti-
mas.
AS notícias se espalharam longe
158 O pretendente canta, procla- e extensamente, alcançando os ou-
mando "Pretendente! Preten- vidos de homens distantes, que fi-
dente!" por seis luas, persistindo caram cientes da história da fuga e
incansavelmente, para o preten- morte de Aino.
dente que canta e corteja sem ser 2 Ela era a amada irmã de You-
ouvido. kahainen, considerada a mais bela
159 Aquele que tristemente dentre todas as filhas da criação.
canta e ecoa: "Consolação! Conso- 3 Väinämöinen, o valoroso e ve-
lação!" continua a entoar incessan- raz, prontamente mergulhou em
temente por toda a sua vida, para a um pranto amargo.
mãe de coração partido, que deve 4 Chorou durante a aurora, cho-
lamentar e chorar eternamente. rou ao anoitecer, sem descanso, la-
160 Quando a mãe solitária e de- mentou a longa noite de tristeza.
safortunada foi agraciada com o 5 Sua Aino havia partido, a don-
cântico sagrado do cuco, uma tris- zela havia desaparecido, afundado
teza profunda invadiu seu coração. no abismo do mar azul, vasto e ili-
161 Em meio a lágrimas doloro- mitado.
sas, ela expressou seu pesar: "Ao 6 Repleto de aflição, o antigo
escutar o canto do cuco, minha cantor, Väinämöinen das Terras do
alma se enche de melancolia.
Norte, com um coração sobrecar- 17 Então, ele começa a remar ra-
regado e lágrimas amargas, apres- pidamente em direção à ilha co-
sou-se em direção às agitadas berta de floresta, até o ponto ador-
águas. nado de vegetação exuberante e o
7 Eis a oração e a indagação do promontório tingido de púrpura,
suplicante: onde habitam as ninfas do mar.
8 "Dize-me, Untamo, ó sonha- 18 Mal chega à ilha, o menestrel
dor, prontamente inicia sua pescaria.
9 Revela-me, Ó Indolência, as 19 Com destreza, ele lança o an-
visões que te acometem, zol para longe e o recupera ágil-
10 Onde podem os deuses das mente das águas, girando-o em um
águas encontrar refúgio, elo giratório de cobre preso a uma
11 Onde as donzelas de Wellamo linha prateada de pesca.
podem descansar?" 20 O anzol que ele usa é dou-
12 Então Untamo, em resposta, rado.
contou seus sonhos preguiçosa- 21 Eis que ele lançou sua rede de
mente, eis as suas palavras: "Lá re- pesca, tecida com fios de seda,
sidem as sereias, habitação das buscando capturar suas presas.
donzelas de Wellamo, no promon- 22 Com perícia, ele lançou sua
tório adornado com exuberante ve- rede em ângulos longos e mais lon-
getação, na ilha coberta por densas gos, dedicando-se a essa tarefa por
florestas, nas águas profundas e dias e noites, desde o amanhecer
translúcidas, nas costas purpúreas. até o anoitecer, até mesmo ao
13 Ali repousam as donzelas do meio-dia.
mar, as donzelas de Wellamo, em 23 Inúmeras vezes ele lançou sua
seus aposentos à beira-mar, des- rede, perseverando em sua pesca-
cansam em suas cavernas aquáti- ria.
cas, nas rochas com as cores do 24 E eis que, finalmente, numa
arco-íris, nas saliências das falé- manhã ensolarada, sua persistên-
sias." cia foi recompensada.
14 Imediatamente, Väinämöinen 25 Ele se deparou com um peixe
apressa-se em direção a uma casa dotado de poderes mágicos, que
de barcos situada à beira-mar. brincava em sua linha de pesca,
15 Ele observa com diligência os saltando e agitando as águas com
anzóis e as linhas que considera ímpeto.
adequados. 26 Porém, o peixe, exausto após
16 Prepara varas de pesca, redes a árdua luta, finalmente sucumbiu
secas e as coloca em um barco às habilidades do pescador.
feito de cobre. 27 Com habilidade e destreza, o
pescador o capturou e o acomodou
seguro no fundo de sua embarca- uma refeição ao meio-dia, um ban-
ção de cobre, digna de um herói. quete saboroso e um jantar no-
28 Väinämöinen, erguendo-se turno.
com altivez, proferiu as seguintes 37 Com destreza, assim como
palavras em um espanto reverente, um peixe, ele avança, tocando ha-
em forma de enigma: "Este, dentre bilmente com sua reluzente lâmina
todos os peixes do mar, é o mais de prata.
formoso que já meus olhos con- 38 Com velocidade surpreen-
templaram. dente, o peixe salta sobre as águas
29 Não há igual a ele, por certo. e mergulha abaixo da superfície
30 É indubitavelmente mais su- serena do mar, partindo do barco
ave que o salmão, suas manchas de fundo de cobre, do esquife per-
brilham com maior intensidade tencente a Väinämöinen.
que as da truta, sua coloração é 39 Nas vastas extensões das on-
mais acinzentada que a do lúcio de das, a uma considerável distância,
Suomi. eis que se ergue rapidamente do
31 Possui menos nadadeiras que mar, no sexto e sétimo vagalhão.
qualquer fêmea, superando em nú- 40 Sua cabeça emerge majesto-
mero as nadadeiras de todo peixe samente acima das águas, além do
macho. alcance dos apetrechos de pesca.
32 Não se assemelha às listras 41 Assim, dirige-se a Väinämöi-
das donzelas nascidas no seio do nen, repreendendo com veemência
mar, tampouco ao cinturão das se- o antigo herói, em tais palavras: "Ó
reias, nem mesmo às asas de qual- Väinämöinen, honrado menestrel
quer pássaro melodioso. do passado, não ouse presumir que
33 Sua aparência é, de certa vim a este lugar como um salmão
forma, similar à do nosso salmão pronto a ser capturado, apenas para
do norte, proveniente das grutas ser retalhado em pedaços, vestido
mais profundas do mar azul." e degustado como um simples ba-
34 No cinto do antigo herói, re- dejo.
pousava uma faca adornada com 42 Não serei para ti uma refinada
prata, cuidadosamente embai- refeição matinal, tampouco um de-
nhada. leite ao meio-dia, nem sequer uma
35 Retirando-a de seu estojo, ele saborosa ceia.
utilizá-la-ia para cortar o peixe em 43 Pois não passarei a ser a
pedaços, visando prepará-lo para o quarta refeição na Terra do Norte."
assado. 44 Disse o antigo Väinämöinen:
36 Com maestria, transformá-lo- "Por que então vieste para cá, se
ia em um desjejum requintado, não for para o meu jantar?"
45 Assim respondeu o peixe sem 56 Agora, porém, tu, Väinämöi-
nome, dizendo: "Eu vim a ti, ó me- nen, te tornaste um tolo, carente de
nestrel, para encontrar repouso e discernimento e juízo.
demorar em teus braços. 57 Não possuis conhecimento
46 Desejo amar-te e confortar-te, suficiente para me preservar.
tornando-me tua esposa e compa- 58 Teu coração é cruel, tuas
nheira de vida eternamente. mãos estão manchadas de sangue.
47 Embelezarei tua cama com 59 Tentaste tirar minha vida com
lençóis brancos, acariciarei tua ca- uma faca destinada aos peixes, pla-
beça enquanto repousas no traves- nejando me cozinhar para a tua re-
seiro. feição.
48 Limparei teus aposentos e os 60 Eu, uma sereia de Wellamo,
preencherei de alegria. antes conhecida como a bela e en-
49 Manterei tua moradia em or- cantadora Aino, querida irmã de
dem, acenderei o fogo quando ne- Youkahainen."
cessário, assarei para ti biscoito de 61 E assim falou o velho
mel e encherei teu copo com água Väinämöinen, com pesar e pro-
de cevada. fundo arrependimento em seu co-
50 Farei tudo o que desejares. ração:
51 Eu não sou um peixe esca- 62 "Oh, tu que és a irmã de You-
moso que habita as vastas águas kahainen, a formosa Aino de
salgadas do mar, nem uma truta Pohyola, peço-te que voltes para
que nada nos rios das terras ao mim mais uma vez!"
norte. 63 A sereia, sabiamente, respon-
52 Também não sou um badejo deu: "O espírito de Aino nunca
que vive nas profundezas das mais virá a ti e sofrerá maus tra-
águas, nem um salmão que per- tos."
corre as correntezas dos mares do 64 A jovem donzela desceu rapi-
norte. damente das águas, proveniente da
53 Eu sou uma jovem donzela superfície das ondas, em direção
cheia de alegria, uma amiga e irmã aos seixos repletos de cores diver-
dos peixes. sas.
54 Sou a irmã mais nova de You- 65 Ela se dirigiu às cavernas pi-
kahainen, sou eu, Aino, a quem tu torescas do arco-íris, onde as se-
pescas e a quem tu amas. reias residem e permanecem.
55 Em tempos passados, eras re- 66 Väinämöinen, não desani-
conhecido como um herói elo- mado, ponderou profundamente e
quente, um homem de sabedoria considerou com sabedoria como
em suas palavras. poderia viver, trabalhar e conquis-
tar sua amada.
67 Com cuidado, ele lançou sua foi e meu entendimento se dissi-
rede de pesca de seda, movendo-a pou. Toda minha prudência foi
habilmente através da espuma e destinada aos outros!
das ondas, pelas baías e canais si- 75 Aino, a quem amo e estimo, a
nuosos. quem tenho procurado honrar por
68 Ele a arrastou pelas águas se- todos esses anos, agora é uma don-
renas, pelos domínios dos salmões zela de Wellamo, outrora uma
e pelas moradias das donzelas da amiga prometida quando necessá-
água, navegando pelas águas de rio, e minha noiva prometida para
Vainola, atravessando o profundo sempre.
azul do oceano, os lagos distantes 76 Houve um tempo em que a ti-
da Lapônia, os rios de Youkolaa e nha ao meu alcance, quando a en-
os mares de Kalevala. contrei nas grutas de Wellamo e a
69 Ele esperava encontrar assim levei em meu barco de cobre, com
sua amada Aino. minha linha de pesca feita de prata.
70 Muitos foram os peixes que 77 No entanto, ai de mim! Não
ele capturou, todas as formas de pude mantê-la e não percebi que a
criaturas semelhantes a peixes, tinha conquistado tarde demais
mas ele não conseguiu encontrar a para cortejá-la e conquistá-la.
donzela do mar, a donzela da água 78 Deixei-a escapar entre meus
de Wellamo, a filha mais formosa dedos, para a morada das donzelas
das terras do norte. aquáticas, para o reino de Wel-
71 E assim, o antigo menestrel, lamo."
cuja mente estava abatida e o cora- 79 Väinämöinen partiu, carre-
ção desanimado, disse em pro- gando consigo apenas o vazio das
funda tristeza: "Eu sou tolo e mi- mãos e o peso no coração.
nha insensatez é grande, pois não 80 Sem demora, ele dirigiu-se à
possuo nem inteligência nem dis- sua terra, à sua morada em Kale-
cernimento. vala.
72 Houve um tempo em que eu 81 Durante sua jornada, proferiu
possuía algum conhecimento, al- estas palavras: "O que terá aconte-
guma percepção da sabedoria e até cido com o cuco, outrora portador
mesmo um pouco de instinto. de alegria, que costumava alegrar
73 No entanto, todas as minhas as manhãs e as noites, frequente-
virtudes me abandonaram nestes mente entoando sua canção ao
dias tristes de perversidade. meio-dia? O que terá silenciado
74 Minha juventude e vigor des- seu canto? Que força terá mudado
vaneceram, minha percepção se sua melodia? A tristeza deve ter

a
Jouko'la (Youko'la). A terra natal ou habitação de Youkahainen.
calado seu canto e a compaixão al- 90 Toma para ti uma compa-
terado seu chamado. nheira para a tua vida dentre as ho-
82 Não mais ouço seu canto, que nestas casas de Suomi, uma das fi-
costumava encher minha manhã de lhas virtuosas da Terra do Norte.
prazer e minha noite de felicidade. 91 Ela irá encantar-te com sua
83 Jamais descobrirei o segredo, amabilidade, trazer-te felicidade
como viver e prosperar, como des- com sua bondade.
cansar na terra e vagar pelos ma- 92 Sua forma é perfeita e sua
res! Somente minha idosa mãe, conduta é fácil, seus passos são
que habita na face da Terra do graciosos e cada movimento é
Norte, certamente me aconselharia cheio de sagacidade e bom com-
a respeito de meus pensamentos e portamento.
ações. 93 Ela honrará o teu lar e a tua
84 Que este cálice de dor possa família."
passar por mim, que esta tristeza RUNA VI.
possa abandonar-me e que esta nu- JORNADA INFELIZ DE VÄINÄMÖINEN.
vem sombria se dissipe."
85 Nas profundezas, a mãe des- VÄINÄMÖINEN, idoso e verda-
pertou do seu sono eterno e disse: deiro, está agora se preparando
"Eu estava apenas descansando, para uma jornada em direção à al-
mas agora despertei para respon- deia das Terras do Norte, à terra
der-te. dos invernos rigorosos, à terra com
86 Conta-me qual é o teu pensa- pouco sol e às terras habitadas por
mento e qual é a tua ação, para que mulheres dignas.
eu possa te ajudar a passar por esse 2 Ele monta seu ágil cavalo real,
cálice de aflição e para que essa ajusta cuidadosamente o freio feito
tristeza possa se dissipar e essa es- de ouro, coloca a sela em suas cos-
curidão se dissolver. tas, com fivela de prata e estribos
87 Parte imediatamente em dire- de cobre.
ção à Terra do Norte e visita as fi- 3 Sentado em seu corcel, inicia
lhas de Suomi. sua jornada para o norte.
88 Tu as encontrarás sábias e en- 4 Ele avança vigorosamente, ga-
cantadoras, superiores em beleza a lopando pela estrada, sentado em
Aino e mais dignas de se tornarem sua sela habilmente trabalhada,
tuas esposas. montado em seu cavalo manchado
89 Elas não são tão volúveis e to- de magia, atravessando os prados
las como as inconstantes donzelas de Vainola e as planícies de Kale-
da Lapônia. vala.
5 Ele galopa rapidamente e dis- 10 A cruel besta estava com-
tante, muito além de Vainola, con- pleta, com corda e haste, e suas
tornando o deserto das águas até pontas afiadas. O arco era belo e
chegar às margens do mar azul, poderoso, certamente não havia
sem permitir que seus cascos se sido feito de maneira desprezível.
molhem durante a corrida. 11 Nas costas, havia um corcel
6 No entanto, o perverso You- pintado, com belos potros em cada
kahainen nutria rancor em seu co- extremidade.
ração, alimentando o verme da in- 12 Próximo à curva do arco, ha-
veja por Väinämöinen, o magní- via uma pintura de uma donzela
fico encantador. dormindo, enquanto perto do enta-
7 Ele construiu uma besta cruel lhe havia uma lebre saltitante.
usando aço e outros metais, pin- 13 Assim, o arco formou-se de
tando o arco em diversas cores e maneira maravilhosa.
moldando a parte superior com co- 14 Ele cortou algumas flechas
bre. para sua aljava, cobrindo-as com
8 Ele adornou o arco com prata as melhores penas.
nevada e utilizou ouro para de- 15 As hastes das flechas foram
corá-lo. moldadas a partir do carvalho, e as
9 Em seguida, procurou os ten- pontas foram feitas do metal mais
dões mais fortes, encontrando-os afiado.
no veado de Hisi, e entrelaçou li- 16 Quando as hastes e as pontas
nho de Lempo. estavam prontas, ele emplumou
Youkahainen vigia Väinämoinën. Nikolai Kochergin.
cuidadosamente suas flechas com 28 Ele espera, observa e não se
penas de andorinha e espinhos das cansa, escutando da janela da casa
asas do pardal. de barcos.
17 Ele endureceu as flechas em- 29 Ele permanece no final do
plumadas de forma adequada e in- ponto de nevoeiro, próximo ao rio
fundiu novas virtudes em cada que flui em direção ao mar, perto
uma delas. da corrente sagrada e do redemoi-
18 Ele as mergulhou no sangue nho, próximo à queda de fogo do
de serpentes e no veneno de víbo- rio sagrado.
ras. 30 No alvorecer, quando a aurora
19 Agora todas as suas flechas pintava o céu, o menestrel da La-
estão prontas, e sua besta cruel está pônia, Youkahainen de Pohyola,
pronta e amarrada. direcionou seu olhar para o Nor-
20 Aguarda-se a chegada do sá- deste.
bio Väinämöinen. 31 Seus olhos se voltaram ao
21 Youkahainen, o menestrel da nascer do sol, onde avistou uma
Lapônia, espera há muito tempo, nuvem negra pairando sobre o oce-
sem se cansar. ano e algo azul sobre as águas.
22 Ele aguarda com vigilância o 32 Em um solilóquio, ele ponde-
antigo cantor, observando-o ao rou:"Seriam aquelas nuvens no ho-
amanhecer, ao entardecer e inces- rizonte ou talvez o amanhecer do
santemente ao meio-dia. dia? Não são nuvens que se apro-
23 Fica à espreita do mágico, es- ximam no horizonte, nem o raiar
perando e observando com uma do novo dia.
espécie de inveja. 33 É o antigo Väinämöinen, o re-
24 Ele senta-se junto à janela nomado e sábio encantador, que
aberta e fica atrás da cerca viva, cavalga em direção à Terra do
observando. Norte.
25 Fica no caminho, ouvindo e 34 Montado em seu corcel, ele
vigiando ao longo dos balcões de cavalga no cavalo mágico de Vai-
prados. nola."
26 Sua aljava está pendurada em 35 Num instante, o jovem You-
suas costas, com flechas empluma- kahainen, o orgulhoso e perverso
das. trovador da Lapônia, tomou sua
27 Ele carrega consigo uma po- besta com pressa, e preparou seu
derosa besta, como se estivesse arco e flechas com a intenção de
mergulhado no veneno de uma ví- matar Väinämöinen.
bora. 36 A velha mãe perguntou rapi-
damente ao seu filho, Youkahai-
nen, e disse-lhe estas palavras:
"Quem é o alvo da tua besta? Em "Que toda alegria desapareça eter-
cujo coração estão destinadas as namente, que os prazeres terrenos
tuas flechas envenenadas?" pereçam rapidamente, que se ex-
37 Respondeu Youkahainen: tinga a música mais doce da terra,
"Eu criei essa poderosa besta, um que a felicidade se vá para sempre;
arco moldado e flechas envenena- lançarei minha flecha contra este
das, com o propósito de acabar rival menestrel, sem me importar
com a vida de Väinämöinen, o com o que é o fim."
amigo das águas. 44 Com destreza e agilidade, ele
38 Planejo atirar no velho mago, prepara seu arco incandescente,
o bardo e herói eterno, visando seu enquanto descansa a arma em seu
coração, fígado, cabeça e ombros. joelho esquerdo.
39 Com este arco e flechas em- 45 Seu pé direito permanece fir-
plumadas, pretendo destruir meu memente plantado no chão, pro-
rival poeta." porcionando estabilidade.
40 Então, a mãe idosa respondeu 46 Assim, ele encorda o arco
com reprovação e proibição, di- com invejável habilidade. Seleci-
zendo: "Não deves matar o bom ona três flechas de sua aljava, es-
Väinämöinen, o antigo herói das colhendo criteriosamente a melhor
Terras do Norte, pertencente a uma delas.
nobre linhagem, pois ele é filho da 47 Com cuidado meticuloso,
minha irmã, meu sobrinho. ajusta a corda do arco e coloca a
41 Se tu o matares, Ai! toda a flecha emplumada com precisão.
alegria desaparecerá e nossos ma- 48 Coloca-a sobre a corda de li-
ravilhosos cantos perecerão. nho, segurando a arma em seu om-
42 É melhor que a alegria esteja bro.
presente na terra, assim como a 49 Com precisão, aponta na dire-
música mágica, do que nos reinos ção da margem, mirando direta-
inferiores, no domínio de Tuonia, mente no coração de Väinämöi-
onde residem aqueles que parti- nen, esperando pacientemente que
ram, na terra além." ele se aproxime galopando.
43 Então o jovem Youkahainen, 50 Enquanto aguarda, nas som-
após ponderar profundamente, er- bras de um arbusto, pronuncia as
gueu a besta com uma mão, en- seguintes palavras: "Corda de li-
quanto a outra parecia enfraquecer nho, sê tensa e elástica; voa rapi-
ao puxar a cruel corda do arco. Por damente, flecha de freixo emplu-
fim, ele proferiu estas palavras mada; acelera velozmente, projétil
com o peito inflado de inveja:

a
mortal; ágil como a luz, flecha en- 60 E aconteceu que o sábio
venenada, adentra o coração de Väinämöinen, em seguida, caiu-se
Väinämöinen. precipitadamente sobre as águas,
51 Se porventura segurar-te mergulhando sob as ondas que se
baixo demais, que os deuses te ele- moviam como ondulações, saindo
vem; se meus olhos te mirarem da sela de seu corcel, cuja arma-
com excessiva altitude, que os dura era manchada de magia.
deuses te façam descer." 61 E eis que um vento poderoso
52 Com firmeza, ele agora aci- e tempestuoso se levantou, ru-
ona o gatilho, como um relâm- gindo furiosamente sobre as águas,
pago, a flecha voa sobre a cabeça carregando o velho Väinämöinen
de Väinämöinen. para longe da terra, sobre as ondas,
53 Direcionando-se ao céu mais nas altas e ondulantes ondas, pelas
elevado, ela se lança em veloci- vastas extensões do mar.
dade e atravessa as mais altas nu- 62 Vangloriou-se, o jovem You-
vens, dispersando todo o rebanho kahainen, acreditando que Waino
das nuvens de lã, em sua jornada estava morto e sepultado.
rápida em direção ao céu. 63 Com palavras jactanciosas,
54 Não desanimado, com uma ele disse: "Nunca mais, velho
seleção rápida e um ajuste ágil, Väinämöinen, nunca mais em to-
Youkahainen aponta seu arco e dos os dias da tua existência, en-
dispara rapidamente uma segunda quanto a luz dourada da lua bri-
flecha. lhar, nunca mais contemplarás
55 A flecha acelera veloz como com teus olhos os prados de Vai-
um raio, mirando bem baixo o pro- nola, as planícies de Kalevala.
jétil. 64 Deves nadar por seis anos in-
56 Ela mergulha na terra, perfu- teiros nos vastos oceanos, enfren-
rando as regiões mais baixas e di- tar as ondas por sete verões, caval-
vidindo a antiga Montanha de gar as ondas espumantes por oito
Areia em duas partes. anos, na vastidão das águas.
57 Youkahainen, sem sentir 65 Passarás por seis longos outo-
medo algum, prontamente lança nos como um abeto, sete invernos
um terceiro disparo. como uma pedra e oito longos ve-
58 Veloz como a luz, ele acelera rões como um álamo."
em sua jornada e atinge o corcel de 66 E logo o menestrel da Lapô-
Väinämöinen, o ágil nadador oceâ- nia acorreu ao seu aposento encan-
nico. tado, ao que sua mãe dirigiu-se a
59 Seu golpe acerta próximo ao ele:"Acaso tu, filho meu, ceifaste a
cinto dourado, perfurando o ombro vida do bom Väinämöinen, o filho
do corredor. de Kalevala?"
67 Eis que Youkahainen respon- 2 Durante seis dias de verão e
deu, dizendo: "Eis que eu matei o seis noites sob o brilho dourado da
velho Väinämöinen e derrubei o fi- lua, ele nadou incansavelmente.
lho de Kalevala. 3 Contudo, as ondas se erguiam
68 Para que ele agora possa arar diante dele, e o céu e o oceano se
as vastas águas do oceano e varrer estendiam atrás dele.
as ondas. 4 Com valentia, ele persistiu por
69 Ele encontrará repouso nas mais dois dias e enfrentou duas
rochas que se erguem e se deitará. longas noites em batalha avante.
70 Ele mergulhou de cabeça nas 5 Mas na noite do oitavo dia, o
águas salgadas, afundou o mágico coração de Väinämöinën foi to-
em suas profundezas. mado pela desolação, pois suas
71 Ele se voltou para a praia, vi- unhas se perderam e seus dedos ja-
rando as costas para a rocha, esta- ziam mortos e agonizantes.
belecendo assim seu eterno des- 6 Väinämöinën, triste e exausto,
tino. falou: "Oh, como estou desafortu-
72 Portanto, ele tem para viajar nado, minha vida velha! Ai de
os mares sem limites, cavalgando mim, filho do infortúnio! Fui um
as ondas que se erguem majesto- tolo quando a sorte me sorriu, ao
sas." abandonar minha casa e minha fa-
73 Esta é a resposta da mãe: "Ai mília por uma donzela bela e en-
da terra por causa da tua ação! A cantadora.
alegria e o canto desapareceram 7 Aqui estou, sob o céu estre-
para sempre. lado, em meio a essa cruel imensi-
74 A sagacidade das eras se per- dão de água, nadando e vagando
deu! Tu mataste o bom Väinämöi- dia e noite, lutando contra os ven-
nen, o antigo cantor da sabedoria. tos das tempestades, sendo lan-
75 Mataste o orgulho de Suwan- çado por ondas crescentes, perdido
talaa, o herói de Vainola, a alegria nas vastas extensões deste imenso
de Kalevala." mar, neste oceano sem fim.
8 Minha vida é fria, triste e me-
RUNA VII. lancólica, uma dor insuportável
O RESGATE DE VÄINÄMÖINEN para que eu possa permanecer
EIS que Väinämöinën, o velho e sempre nestas águas, lutando pela
minha existência.
verdadeiro, atravessou as profun- 9 Não consigo compreender
dezas do mar, navegando como um como posso prosperar, encontrar
ramo trêmulo de álamo, como um comida e abrigo nessas águas frias
galho murchado de salgueiro.

a
O mesmo que Vainola(?)
e desprovidas de vida, nesses dias 17 Observa à frente, observa
de terrível infortúnio. atrás, e eis que avista o valente
10 Acaso construirei minha mo- Väinämöinën, no dorso azul do
rada com o vento? Certamente ela oceano.
não encontraria um fundamento 18 A águia, então, se aproxima
seguro. dele e indaga: "Por que, ó antigo
11 E se eu construísse minha herói, estás navegando nas profun-
casa sobre as ondas? Sem dúvida, dezas do mar?"
as ondas a destruiriam.” 19 "Eis que eu sou o antigo
12 Da longínqua Pohyola surge Väinämöinën, amigo e compa-
uma ave, do ocidente vem uma nheiro das águas, um renomado
águia. cantor de sabedoria.
13 Não se classifica entre as mai- 20 Decidi aproximar-me de uma
ores, tampouco entre as menores. donzela das Terras do Norte e cor-
14 Uma de suas asas toca as teja-la, uma donzela que reside na
águas, enquanto a outra percorre sombria Terra das Trevas.
os céus. 21 Assim, parti rapidamente em
15 Sobre as ondas ela desliza seu uma jornada, cavalgando na vasti-
corpo e com seu bico toca as falé- dão do oceano.
sias. 22 E ao chegar, numa manhã ao
16 Voa incansavelmente, para despontar da aurora, encontrei-me
então pousar com segurança.
A Águia resgata Väinämoinën. Nikolai Kochergin.
na baía de Luotolaa, próxima ao rio 31 Devo erguer minha morada
impetuoso de Youkola. sobre os ventos? Oh, que tolice!
23 Contudo, nesse lugar, o mal- Pois não encontrará alicerces segu-
vado Youkahainen, com seu arco e ros.
flecha, ceifou a vida do meu corcel 32 E se eu edificar minha casa
e tentou me ferir com suas armas sobre as águas? Certamente, as on-
mortais. das implacáveis a demolirão.
24 Em seguida, precipitei-me 33 Será, então, que devo deslizar
nas águas, mergulhando sob a su- perpetuamente por entre as ondas?
perfície do mar salgado, deixando Devo escolher entre a vida e a
para trás a sela do meu corcel má- morte?
gico, um corcel cuja pelagem era 34 E o que me sucederá se eu me
adornada de poderes encantados. entregar à morte, se sucumbir sob
25 E eis que sobreveio um vento as águas, perecendo neste lugar
impetuoso, uma tempestade pode- com frio e fome?"
rosa, que se levantou do leste e do 35 Assim respondeu o pássaro
oeste, como um redemoinho arre- do Éter: "Não te desanimes, pois,
batador. coloca-te entre meus ombros, so-
26 Fui levado em direção ao bre minhas costas, e assenta-te fir-
vasto mar, sobre as ondas que se memente, que eu te erguerei das
erguiam diante de mim. águas e conduzindo-te o levarei
27 Por muitos dias vagueei pelas com minhas asas para cima, levar-
águas, nadando e me balançando te-ei para onde desejares.
enquanto era levado cada vez mais 36 Lembro-me bem do dia em
longe. que tu prestaste serviço à águia,
28 Durante incontáveis noites, quando favoreceste os pássaros.
lutei contra as ondas impetuosas e 37 Tu deixaste a bétula erguida,
o rugir do mar, enfrentando os quando as florestas de Osmo fo-
ventos furiosos e as águas tumul- ram devastadas nas terras de Kale-
tuosas que me cercavam. vala, tornando-se um lar para os
29 Ai de mim, desafortunado é o pássaros canoros fatigados e um
meu destino! Minha existência é lugar de repouso para as águias."
um fardo insuportável, pois não 38 Então, Väinämöinën surge e
encontro solução para este pro- eleva sua cabeça acima das águas
blema que me oprime. com ousadia, erguendo-se das on-
30 Desconheço os caminhos da das do mar.
vida e da morte diante das águas 39 Ele se assenta sobre a águia,
amargas deste impiedoso mar. nos ombros emplumados da
mesma.

a
Uma baía da Finlândia, com o nome de Joukola.
40 O imenso pássaro o transporta beleza encantadora e amável apa-
rapidamente pelos céus, levando o rência, desafiou o Sol em uma
antigo Väinämöinën pelo caminho aposta.
dos ventos favoráveis, flutuando 50 Ela também desafiou a Lua,
nas brisas primaveris. afirmando que surgiria antes deles
41 Ele é levado até a costa dis- na manhã seguinte.
tante das Terras do Norte, em dire- 51 E assim, a donzela, radiante
ção à sombria Sariola, onde a em sua beleza, levantou-se muito
águia deixa sua carga e voa para se antes do nascer do Sol e do desper-
reunir aos seus companheiros. tar da Lua de suas camas sob o
42 Na solidão e no cansaço, oceano.
Väinämöinën se prostrou imedia- 52 Antes que o galo cantasse ao
tamente em profundo pranto. raiar do dia, antes que o Sol rom-
43 Com voz angustiada, ele der- pesse o sono, ela já havia tosqui-
ramou lágrimas copiosas e gemeu ado seis cordeiros delicados e co-
em tom pesaroso, à margem do lhido seis lãs brancas deles.
mar azul. 53 Essas lãs foram utilizadas
44 No alto de um promontório para criar rolos de fiação, que por
triste, suas feridas numerosas, in- sua vez foram transformados em
fligidas pelos ventos impiedosos e fios para tecer.
pelas águas agitadas, causavam- 54 Com esses fios, ela produziu
lhe tormento. vestes extremamente suaves e fi-
45 Seus cabelos e barba se en- nas, tudo isso antes do amanhecer
contravam desgrenhados, agitados e antes mesmo que o adormecido
pelo bramido das ondas. Sol tivesse nascido.
46 Por três longos dias, ele derra- 55 Após concluir essa tarefa, a
mou lágrimas desalentadas, la- criada procedeu a limpar as mesas
mentando nas noites de aflição. feitas de madeira de bétula, em se-
47 Perdido e sem encontrar dire- guida, varreu o chão do andar tér-
ção, ele vagava pela floresta sem reo do estábulo utilizando uma
uma pegada que o guiasse no ca- vassoura feita de folhas e galhos
minho. provenientes das bétulas da Terra
48 Não havia indicação de re- do Norte.
torno à sua morada em Kalevala, à 56 Ela cuidadosamente recolheu
sua amada casa e aos seus parentes a sujeira com uma pá feita de cobre
queridos. e a levou para fora do estábulo,
49 Uma jovem e graciosa don- atravessando a porta em direção ao
zela da Terra do Norte, dotada de prado, na fronteira distante, pró-
ximo às ondas do vasto mar.
57 Enquanto ela estava lá, ouviu 66 Ela oferece consolo ao herói,
um lamento vindo das águas, um confortando-o enquanto ele cho-
choro vindo da praia e uma voz de rava em meio a um bosque de sal-
um herói lamentando. gueiros, em uma situação lamentá-
58 Então a jovem rapidamente vel, cercado por amieiros e ála-
dirige-se à sua morada, apres- mos, próximo ao mar salgado.
sando-se ao lar de sua mãe. E as- 67 Seu rosto tremia, com cabelos
sim diz: "Eis que percebi um som em desalinho, expressando tristeza
de angústia vindo do vasto oceano, por meio de seus ouvidos, olhos e
ouvi um lamento ressoando da lábios.
beira do mar, na praia alguém está 68 A anfitriã de Pohyola, Louhi,
tomado de pesar." diz ao Väinämöinën: "Revela-me a
59 Louhi, a anfitriã de Pohyola, tua insensatez, qual foi a causa que
uma dama anciã e desdentada das te trouxe a esse estado lamentá-
Terras do Norte, apressou-se em vel."
sair de sua residência, atravessou o 69 E o sábio e venerável
pátio e dirigiu-se ao prado, che- Väinämöinën ergueu a cabeça e fa-
gando à praia. lou, dizendo: "Verdadeiramente,
60 Ela prestou atenção aos sons reconheço que é uma tolice que
de choro que ouviu, o lamento de trouxe-me tantos problemas para
alguém imerso na tristeza. minha vida.
61 Ela escuta a voz de alguém 70 Fui conduzido a esta terra ha-
enfrentando dificuldades e captou bitada por estranhos, a essas terras
um grito heróico repleto de angús- desconhecidas e inadequadas.
tia. 71 Eu era feliz ao lado de meus
62 Diante disso, a antiga Louhi parentes, em meu lar distante e em
responde: "Este não é um lamento minha terra natal, onde meu nome
de crianças, tampouco são as lágri- era honrado e reverenciado."
mas de mulheres. 72 Louhi, a anfitriã de Pohyola,
63 É assim que choram os bravos respondeu a Väinämöinën:"Eis
heróis barbudos; trata-se de um que desejo obter tal conhecimento,
grito heróico de angústia." então permito-me indagar-te,
64 Com rapidez, impulsiona seu quem és tu dentre os heróis anti-
barco em direção à água, para en- gos, entre toda a hoste de heróis?"
frentar as enchentes. 73 Esta é a resposta de
65 Seu navio, de beleza admirá- Väinämöinën:“Antigamente, meu
vel, avançava remando com uma nome era mencionado com fre-
velocidade comparável à de um quência, e eu era ouvido e honrado
raio, em direção ao entristecido como um menestrel e mágico du-
Väinämöinën. rante os longos e sombrios inver-
nos.
74 Eu era chamado de Cantor das 85 Respondeu Väinämöinën:
Terras do Norte, cuja fama ecoava "Tinha boas razões para o meu
pelos vales de Wainola e pelas vas- choro, uma causa suficiente para
tas planícies de Kalevala. toda a minha tristeza.
75 Ninguém poderia conceber 86 Por muito tempo eu nadei, ba-
que uma tla infortúnio pudesse re- tendo nas ondas, nas águas que se
cair sobre o sábio Väinämöinën.” estendem.
76 Louhi, a anfitriã de Pohyola, 87 Essa é a razão do meu choro.
respondeu com vivacidade: “Le- 88 Tenho vivido em labuta e tor-
vante-se, ó herói, do desconforto tura desde que deixei minha casa e
de seu leito entre os salgueiros. meu país, deixei minha terra natal
77 É hora de seguir por um novo e parentes, e cheguei a esta terra de
caminho. estranhos, a estes portais desco-
78 Vem comigo para aquela mo- nhecidos.
rada e conte suas estranhas aventu- 89 Todas as tuas árvores têm es-
ras, relate a história de seus infor- pinhos para me ferir, todos os teus
túnios." galhos, espinhos para me perfurar.
79 Agora, ela toma o infeliz he- 90 Até as bétulas me dão proble-
rói e o levanta do seu leito de tris- mas, e os amieiros trazem descon-
teza. forto.
80 Com cuidado, ela o coloca em 91 Meus companheiros, ventos e
seu barco, garantindo sua segu- águas, só o Sol parece amigável,
rança. neste país frio e cruel, perto destes
81 Em seguida, começa a remar portais desconhecidos."
com determinação e força, direcio- 92 Louhi respondeu: "Por favor,
nando-se para sua casa na praia, não derrames mais lágrimas,
rumo às moradas de Pohyola. Väinämöinën, e não te aflijas mais,
82 Chegando lá, ela dá de comer ó querido amigo das águas. T
ao herói faminto, proporciona des- 93 u és bem-vindo entre nós e te-
canso ao antigo Väinämöinën e lhe rás o privilégio de compartilhar
oferece calor, comida e abrigo. nosso convívio.
83 E logo o herói se recupera ra- 94 Sentar-te-ás à mesa conosco,
pidamente. desfrutando dos manjares servi-
84 A anfitriã de Pohyola dirigiu- dos, como o saboroso salmão e o
se ao antigo cantor com a seguinte delicioso toucinho.
pergunta: "Por que, Väinämöinën, 95 Também terás a oportunidade
amigo e companheiro das águas, de saborear o saboroso badejo pes-
choraste em tons tristes e amargos cado em nossas águas cristalinas."
na margem do oceano, entre os 96 Assim respondeu o velho
álamos e salgueiros?" Väinämöinën, em gratidão: “Eu
nunca frequento mesas desconhe- do cuco, ouvir o sagrado canto do
cidas, mesmo que a comida nelas cuco.
seja rara e saborosa. 102 Devo oferecer-te tesouros de
97 Meu país de origem é o mais ouro e encher as tuas taças com a
querido para mim, minha própria mais refinada prata?"
mesa é a mais doce e minha pró- 103 Esta é a resposta simples de
pria casa é a mais atraente. Louhi:"Ó tu, antigo Väinämöinën,
98 Peço, bondoso Ukko, Deus és o único mágico verdadeiro e sá-
acima de mim, que tu, Criador bio. E
cheio de misericórdia, me permitas 104 u nunca pedirei riquezas,
visitar novamente o meu amado lar nem ouro, nem prata.
e país. 105 O ouro destina-se às flores
99 É preferível viver em meu das crianças e a prata às joias do
próprio país, onde posso beber de garanhão.
suas águas saudáveis em simples 106 Serias capaz de forjar o
cálices de madeira de bétula, do Sampoa para mim e martelar uma
que vaguear por terras estrangei- tampa colorida? Usando as pontas
ras, onde teria acesso aos licores das penas de cisne branco, o leite
mais raros em tigelas de ouro per- da maior virtude, um único grão de
tencentes a estranhos." cevada e a lã mais fina das ove-
100 Louhi, a anfitriã de Pohyola, lhas?"
respondeu ao mago: "Qual será a 107 Esta é a resposta de Louhi:
recompensa que me concederás se "Eu também te concederei minha
eu te levar para qualquer lugar que filha como esposa. A
desejares? Poderás retornar à tua 108 lém disso, te recompensarei
terra natal e encontrar teus paren- através da donzela e te levarei de
tes, estar no aconchego do teu volta à tua amada terra natal, às
amado lar e lareira, caminhar pelos fronteiras de Wainola, onde pode-
prados de Wainola e pelas planí- rás desfrutar do som do canto do
cies de Kalevala." cuco, ouvir o sagrado canto do
101 Estas são as palavras de cuco."
Väinämöinën: "Qual seria uma re- 109 Väinämöinën, profunda-
compensa adequada? Tu deverias mente arrependido, respon-
conduzir-me de volta ao meu deu:"Lamento, mas não tenho a
povo, à minha casa e à minha terra capacidade de criar o Sampo para
distante, às fronteiras da Terra do ti, tampouco posso realizar a tarefa
Norte, onde eu possa ouvir o canto de confeccionar uma tampa colo-
rida.

a
Sampo. A joia que Ilmarinen forjou com os metais mágicos; um talismã de su-
cesso para o possuidor; uma fonte contínua de conflito entre as tribos do Norte.
110 No entanto, leva-me de volta seu trenó feito de madeira de
à minha terra distante e, lá, envia- bétula.
rei Ilmarinena para atender ao teu 121 Ela colocou Väinämöinën
pedido. no assento cruzado e o preparou
111 Ele é um habilidoso ferreiro para a sua jornada.
capaz de forjar o Sampo desejado 122 Então ela se dirigiu ao antigo
e dar forma à tampa com cores vi- menestrel: “Não ergas os olhos
brantes. para o céu, não olhes para cima du-
112 Além disso, ele também é rante a tua jornada, enquanto o teu
capaz de conquistar a tua adorável corcel estiver fresco e brincalhão,
donzela. enquanto a estrela do dia iluminar
113 Ilmarinen é um ferreiro o teu caminho antes que a estrela
digno, considerado o primeiro e da tarde se eleve.
mestre nessa arte. 123 Se os teus olhos estiverem
114 Ele é conhecido por ter for- voltados para cima enquanto a es-
jado os próprios céus e ter criado trela do dia ilumina o teu caminho,
uma capa oca no ar. um terrível infortúnio te atingirá,
115 Em nenhum lugar encontra- algum triste destino te alcançará."
remos vestígios do seu martelo, 124 Em seguida, o antigo
nem uma única marca de suas te- Väinämöinën empreendeu sua jor-
nazes." nada com diligência.
116 A anfitriã Louhi respon- 125 Ele se apressou alegremente
deu:"Eu concederei minha filha em direção à sua casa e acelerou
somente a ele. com um coração feliz.
117 Faço a promessa de entregar 126 Ele partiu da sempre som-
minha criança em casamento bria Terra do Norte, da sombria
àquele que forjará o Sampo para Sariola.
mim. RUNA VIII.
118 Ele martelará a tampa com A DONZELA DO ARCO-ÍRIS.
cores, usando as pontas das penas
de cisne branco e o leite da maior A bela e encantadora filha de
virtude. Pohyola, honra da terra e da água,
119 Também usará um único assentou-se no arco celestial, no
grão de cevada e a mais fina lã de seu ponto mais elevado e resplan-
ovelhas." decente.
120 Em seguida, a anfitriã 2 Vestia um traje feito do tecido
Louhi, de forma rápida, engatou mais luxuoso, ornamentado com
um corcel de pelagem malhada ao ouro e prata, enquanto tecia teias

a
Ilmarinen – Nome masculino derivado do finlandês “ilma”, que significa “ar”.
Väinämoinën convida a Donzela do Arco-Íris. Nikolai Kochergin.
de uma textura dourada, entrela- o som do tear celestial, enquanto a
çando fios de prata. donzela habilmente manobrava a
3 Empunhava uma lançadeira lançadeira.
feita de ouro e um pente de tecela- 9 Rapidamente, o impensado
gem feito de prata. Väinämöinën ergueu seus olhos
4 Com destreza, a lançadeira de maravilhados e contemplou a abó-
ouro voava alegremente entre os bada do céu, onde avistou o arco
dedos ágeis da donzela, enquanto da beleza.
o torno girava rapidamente, te- 10 Sentada no arco, estava a bela
cendo as fibras com velocidade. Donzela do Arco-Íris, a glória da
5 O pente de prata também voava terra e do oceano, tecendo ali um
velozmente entre os dedos da don- tecido dourado e trabalhando com
zela, nascida do céu, enquanto ela a prata sussurrante.
tecia teias de uma beleza maravi- 11 Väinämöinën, o antigo me-
lhosa. nestrel, interrompe velozmente o
6 O antigo Väinämöinën vinha, seu corredor e fixa os olhos na en-
conduzindo o seu trenó, retor- cantadora donzela. Em seguida,
nando para casa pela estrada. ele se dirige a ela: "Por favor, ve-
7 Ele vinha da Terra do Norte, nha, bela donzela, e sente-se ao
sempre sem sol, da sombria Sari- meu lado no meu trenó de neve."
ola. 12 Assim, a Donzela da Beleza
8 Ele havia percorrido apenas respondeu:“Diga-me o que desejas
uma curta distância, quando ouviu
de mim, devo acompanhá-lo no 19 "O pássaro canoro me deu a
trenó de neve(?)”. resposta, o tordo cantou esta infor-
13 Fala o velho Väinämöinën e mação: Os dias de verão são claros
responde assim à Donzela da Be- e quentes, mas a liberdade da don-
leza: "Esta é a razão da tua vinda: zela é ainda mais calorosa.
tu irás assar biscoitos de mel para 20 O inverno é frio como ferro,
mim, irás preparar água de cevada, assim como a vida das mulheres
encherás meus copos com cerveja casadas.
espumante, cantarás ao lado da mi- 21 As donzelas que vivem com
nha mesa, alegrar-te-ás dentro dos suas mães são como frutas madu-
meus portais, caminhará uma rai- ras e avermelhadas.
nha dentro da minha morada, nos 22 As mulheres casadas, por ou-
salões e câmaras de Wainola, nas tro lado, são como cachorros acor-
cortes de Kalevala." rentados no canil, raramente pe-
14 A Donzela da Beleza, sentada dem favores, pois às esposas os fa-
em seu trono nos céus, respondeu: vores não são dados."
"Ontem, durante o crepúsculo, eu 23 Väinämöinën, velho sábio e
fui aos prados floridos. verdadeiro, respondeu à Donzela
15 Lá, eu caminhei entre a natu- da Beleza: "É tolo o tordo que
reza comum, onde o Sol se põe canta dessa maneira, e é uma bo-
para descansar. bagem o gorjeio do pássaro ca-
16 Foi lá que ouvi um pássaro noro.
cantando, o tordo, entoando melo- 24 As donzelas são tratadas
dias simples e suaves, expressando como bebês, enquanto as esposas
os pensamentos doces das donze- são consideradas rainhas e alta-
las e as preocupações das mães. mente honradas.
17 Então, eu fiz uma pergunta ao 25 Venha, doce donzela, para o
encantador cantor, dirigi-me ao meu trenó de neve.
tordo com uma simples indagação: 26 Eu não sou desprezado como
'Cante para mim, adorável pássaro herói, nem mesmo o mais cruel
melódico, cante de forma que eu dos mágicos.
possa compreender. 27 Venha comigo e eu farei de ti
18 Cante para mim com um ge- esposa e rainha em Kalevala."
nuíno sotaque, sobre como viver 28 A resposta da Donzela da Be-
com a maior alegria e a mais doce leza foi: "Eu te consideraria um
felicidade, como uma donzela em herói, um poderoso herói, eu te
companhia de seu pai ou como chamaria assim, quando tu quebra-
uma esposa ao lado de seu marido'. res um cabelo dourado usando fa-
cas que não possuem fio, quando
tu me prenderes um ovo de pássaro
com uma armadilha que eu não minha roca, e lançar essa embarca-
possa ver." ção nas águas para que flutue.
29 Väinämöinën, um habilidoso 37 O barquinho não poderá ser
e antigo, conseguiu partir um fio empurrado com o joelho, movido
de cabelo dourado de maneira pre- com o braço, tocado com a mão,
cisa, utilizando facas que não pos- girado com o pé, nem impulsio-
suíam fio. nado por qualquer outro meio."
30 Em seguida, ele conseguiu 38 O hábil Väinämöinën disse:
prender um ovo de forma segura, "Não há pessoa alguma na Terra
usando uma armadilha que a don- do Norte, nem sob a abóbada ce-
zela não viu. leste, que possua a habilidade que
31 “Venha, doce donzela, para o possuo em construir uma embarca-
meu trenó de neve, eu fiz o que de- ção a partir dos pedaços de rochas
sejas.” e lascas de fuso".
32 A resposta da donzela foi a se- 39 Então, ele recolheu os frag-
guinte: "Não irei entrar no teu mentos da roca e as lascas do fuso
trenó de neve sob nenhuma cir- com diligência.
cunstância, a menos que tu sejas 40 Apressou-se a partir do barco
capaz de descascar um arenito. em direção a uma montanha de
Além disso, exijo que me faças um ferro, onde se dedicou a reunir os
chicote com gelo, cuidadosamente muitos fragmentos.
cortado de forma a não gerar lascas 41 Com grande zelo, ele mane-
ou fragmentos." jou o martelo e a machadinha, sem
33 Väinämöinën, o verdadeiro se deixar intimidar.
mágico, não se deixou intimidar 42 Sem hesitar, construiu o na-
nem desencorajar. vio, trabalhando com afinco du-
34 Com habilidade, ele descas- rante o primeiro dia e também no
cou o arenito arredondado e cortou segundo.
habilmente um chicote do gelo, 43 No terceiro dia, trabalhou
sem perder nem a menor lasca, com mãos firmes.
nem o menor fragmento. 44 Contudo, na noite desse ter-
35 Em seguida, ele chamou a ceiro dia, o malvado Hisi agarrou
donzela novamente para se sentar a machadinha, Lempo segurava o
em seu trenó de neve. cabo torto, fazendo com que o ma-
36 A resposta da Donzela ao chado se desviasse ao cair, batendo
grande mago foi a seguinte: "Eu nas pedras e se quebrando em vá-
irei somente com aquele que for rios pedaços.
capaz de construir um navio ou 45 Os fragmentos ricochetearam
uma chalupa utilizando as lascas das rochas, perfurando a carne do
do meu fuso e os fragmentos da mágico e cortando o joelho de
Väinämöinën.
46 Lempo guiou o machado afi- 56 Agora o sábio e antigo menes-
ado, Hisi separou as veias. trel empreende a tarefa de coletar
47 Rapidamente, jorrou uma cor- líquens do arenito, bem como dos
rente de sangue, que tinha uma co- troncos das bétulas, e também de
loração carmesim. colher musgo dos pântanos, en-
48 Väinämöinën, um homem quanto retira a grama dos prados.
idoso e verdadeiro, conhecido 57 Seu intento é deter o curso do
como um feiticeiro sábio, diz: "Ó, riacho de coloração carmesim e
machado afiado e cruel, feito de buscar o fechamento das feridas
metal afiado, a tua finalidade é expostas.
cortar as árvores em pequenos pe- 58 Contudo, seus esforços reve-
daços, cortar o pinheiro e o sal- laram-se infrutíferos, e a corrente
gueiro, cortar o amieiro e a bétula, carmesim continua a fluir inces-
cortar o zimbro e o álamo. santemente.
49 No entanto, não deves cortar 59 Väinämöinën, sentindo dor e
o meu joelho em pedaços, nem ras- temendo a fraqueza, entrega-se ao
gar as minhas veias." choro, com o coração carregado de
50 Então, o antigo Väinämöinën tristeza.
começa seus encantamentos e seu 60 Com rapidez, ele agora
canto mágico a respeito da origem prende seu corcel ao trenó de ma-
do mal. deira de bétula e sobe com descon-
51 Cada palavra é dita em per- forto no banco cruzado.
feita ordem, sem qualquer esforço 61 Golpeia seu corcel em uma
para lembrar. sucessão veloz, estalando seu chi-
52 Ele entoa sobre a origem do cote acima do condutor, e o corcel
ferro, com o propósito de moldar avança rapidamente.
um parafuso e assim preparar uma 62 Como os ventos, ele varre a
fechadura segura, para proteger as estrada até se aproximar de uma al-
feridas causadas pelo machado e deia na Terra do Norte, onde o ca-
pelas pequenas machadinhas. minho se divide em três partes.
53 No entanto, o riacho flui, cor- 63 Väinämöinën, idoso e fiel, se-
rendo desenfreado como uma tor- gue o caminho mais baixo e se
rente. aproxima rapidamente de uma ca-
54 Ele mancha as ervas nos pra- bana espaçosa.
dos, cobrindo praticamente toda a 64 Diante da porta, faz sua per-
vegetação, não deixando sequer gunta rápida:"Há alguém habi-
um pouco de verde à vista. tando este lugar, que possa com-
55 Enquanto flui e avança, ele preender a dor que carrego e curar
emerge do joelho do mágico, das
veias de Väinämöinën.
esta ferida causada por um ma- tampouco de curar as feridas pro-
chado? Pode alguém verificar este vocadas pelos machados, ou con-
riacho de cor carmesim?" ter o fluxo do sangue vermelho
65 Um menino posicionou-se em como carmesim.
um canto, num banco adjacente a 72 No entanto, naquela casa vizi-
um bebê, e respondeu ao herói: nha, talvez haja alguém disposto a
"Não existe ninguém nesta resi- lhe prestar auxílio."
dência capaz de compreender a dor 73 Väinämöinën, sem se sentir
que sentes, de curar as feridas cau- intimidado, chicoteia seu piloto
sadas pelo pequeno machado, de para que o cavalo acelere e corre
conter o fluxo escarlate; alguém ao longo da estrada.
habita aquela casa de campo, quem 74 Ele dirige apenas uma curta
sabe possa ser de auxílio para ti." distância nas altas estradas e ga-
66 Väinämöinën, chicoteia seu lopa até uma cabana modesta.
corcel para fazê-lo galopar en- 75 Em seguida, ele se dirige a al-
quanto corre ao longo da estrada. guém que está próximo da cober-
67 Ele dirige-se apenas por uma tura, sentado no batente da porta, e
curta distância, no meio das estra- pergunta: "Existe alguém nesta ca-
das, em direção a uma cabana lo- bana que possa ter conhecimento
calizada à beira da estrada. da dor que estou sofrendo? Al-
68 Ao chegar lá, ele pergunta a guém que possa curar essa ferida
alguém que está na soleira da porta causada pelo machado e conter
e faz suas perguntas pelas janelas esse fluxo carmesim?"
abertas. 76 Próximo à lareira estava sen-
69 Assim ele pergunta:"Existe tado um idoso.
alguém nesta cabana que possa 77 No lugar aquecido pelo fogo,
compreender a dor que estou so- estava sentado o homem de barba
frendo? Existe alguém que possa grisalha.
curar essa ferida causada pelo ma- 78 Ele então respondeu a
chado? Existe alguém que possa Väinämöinën: "Feitos grandiosos
conter esse riacho de cor carme- foram realizados, coisas extrema-
sim?" mente maravilhosas foram efetua-
70 No chão jazia uma bruxa, das, apenas através de três palavras
perto da lareira repousava a velha do mestre.
senhora. 79 Ao narrar as causas, rios e
71 Foi então que ela dirigiu suas oceanos foram acalmados, as que-
palavras a Väinämöinën, respon- das d'água dos rios foram reduzi-
dendo-lhe com dificuldade entre das, enseadas foram formadas a
os dentes: "Nesta humilde cabana, partir de promontórios, ilhas foram
não há ninguém capaz de compre- erguidas do fundo do mar."
ender a intensidade de sua dor,
RUNA IX. 10 Posso afirmar que o arco feito
ORIGEM DO FERRO. de aço é considerado antiquado.
11 A mais antiga mãe é o ar, se-
Väinämöinën, encorajado dessa guida pela água como o irmão
forma, levanta-se prontamente do mais velho, o fogo como o se-
seu trenó de neve sem solicitar au- gundo irmão e o ferro como o ir-
xílio a ninguém. mão mais novo.
2 Ele se dirige imediatamente à 12 O primeiro criador é Ukko, o
cabana e adentra a casa, onde se criador dos céus.
senta. 13 Foi ele quem separou o ar e a
3 Em seguida, duas donzelas água antes que o metal, o ferro,
chegam trazendo cântaros de prata existisse.
e cálices de ouro. 14 Ukko, o criador dos céus, es-
4 Elas mergulham os objetos um fregou vigorosamente suas mãos e
pouco, mas apenas com a menor pressionou-as firmemente em seus
quantidade possível do sangue das joelhos, resultando no surgimento
feridas do mágico Väinämöinën. de três belas donzelas, três filhas
5 Da lareira, o velho chama, o magníficas. Estas foram as mães
homem idoso com barba grisalha do ferro e do aço de cor azul bri-
faz-lhe a pergunta: "Por favor, lhante.
diga-me quem és entre os heróis, 15 Tremulando, elas caminha-
quem és entre todos os grandes ram pelos céus, atravessaram as
mágicos? Observa! O teu sangue nuvens adornadas com prata, com
enche sete barcos e oito das maio- seus seios transbordando do leite
res embarcações de bétula, fluindo que seria usado para criar o futuro
das veias de algum herói, das feri- ferro.
das de algum mágico. 16 Esse leite fluía incessante-
6 Tenho outras questões que gos- mente das bordas cintilantes das
taria de te perguntar. nuvens para a terra, preenchendo
7 Diga-me a causa deste pro- os vales e acalmando as águas em
blema que enfrentas. seu chamado ao sono.
8 Narra-me a fonte dos metais, 17 A mais velha das filhas de
descreve a origem do ferro e como Ukko derramou leite preto nos ca-
ele foi inicialmente criado." nais dos rios.
9 Então, o antigo Väinämöinën 18 A segunda filha derramou
respondeu ao homem de barba gri- leite branco sobre as colinas e
salha: "Possuo um conhecimento montanhas, enquanto a filha mais
profundo sobre a origem dos me- nova espalhou leite vermelho pe-
tais, incluindo o ferro. los mares e oceanos.
19 Onde o leite preto foi derra- 28 Aqui e ali, o fogo o alcançou
mado, cresceu o ferro dúctil e es- e o levou para a fornalha, onde lan-
curo. ças, espadas e machados podem
20 Onde o leite branco foi derra- ser forjados e adequadamente mar-
mado, cresceu o ferro de cor mais telados.
clara. 29 Nas águas enegrecidas dos
21 E onde o leite vermelho foi pântanos, os ursos vinham cami-
derramado, cresceu o ferro verme- nhando da charneca e os lobos cor-
lho e quebradiço. riam.
22 Após a passagem do tempo, o 30 Foi lá que o ferro apareceu,
Ferro se apressou em visitar o onde as patas dos lobos pisaram e
Fogo, seu amado irmão mais ve- onde os ursos deixaram suas pega-
lho, para melhor conhecer o pró- das.
prio irmão. 31 Então, o ferreiro, Ilmarinen,
23 Imediatamente, o Fogo come- veio à terra para exercer sua habi-
çou a rugir e trabalhou para consu- lidade com o metal.
mir seu irmão mais novo, o amado 32 Ele nasceu no Monte do Car-
irmão. vão e foi criado com destreza nos
24 Nesse momento, o Ferro per- campos onde se produz carvão.
cebeu o perigo iminente e salvou- 33 Em uma mão, segurava um
se fugindo rapidamente dos avan- martelo de cobre, enquanto na ou-
ços da chama ardente. tra tinha uma pinça de ferro.
25 Ele fugiu para cá e para lá, de 34 O ferreiro nasceu durante a
maneira silenciosa, buscando noite e, pela manhã, construiu sua
abrigo nos pântanos, nos vales, nas forja.
fontes ruidosas e junto aos rios que 35 Com cuidado, buscou uma
serpenteiam em direção ao mar, colina favorável onde os ventos
nas amplas margens dos pântanos pudessem encher seu fole.
onde os cisnes construíram seus 36 Descobriu uma colina nas ter-
ninhos e onde os gansos selvagens ras pantanosas, onde o ferro estava
chocam seus filhotes. abundantemente escondido.
26 O ferro se encontra nas terras 37 Foi ali que ele ergueu sua for-
pantanosas, estendendo-se ao nalha de fundição e colocou seu
longo dos cursos de água, oculto fole de couro.
por muitas eras nas florestas de 38 Seguiu os rastros deixados
bétulas. pelos lobos e trilhou o caminho
27 No entanto, não pode perma- dos ursos.
necer oculto para sempre diante 39 Encontrou as formações jo-
das buscas de seu irmão. vens do ferro nos rastros deixados
pelos lobos dos pântanos e pelo
urso cinzento.
40 Em seguida, o ferreiro, Ilma- 50 Ilmarinen operou o fole,
rinen, dirigiu-se ao ferro adorme- dando três movimentos com o
cido nestes termos: 'Tu és o metal cabo, e o ferro fluía em correntes
mais útil, está adormecido nos provenientes da forja do mágico.
pântanos, escondido em condições 51 Logo, transformou-se em
humildes, onde o lobo caminha pe- algo semelhante a fermento de pa-
los pântanos e o urso dorme nas deiro, suave como a massa de pão
matas. de cevada.
41 Pensaste e considerastes cui- 52 Nesse momento, o metal, o
dadosamente qual seria sua posi- Ferro, exclamou: 'Maravilhoso
ção no futuro. ferreiro, Ilmarinen, ó tira-me, tira-
42 Devo colocá-lo na fornalha me de tua fornalha, deste fogo e
para torná-lo livre e útil?' desta tortura cruel.'
43 Ferro, por sua vez, ficou to- 53 Ilmarinen, assim respondeu:
mado pelo medo, angústia e horror eu replico a ti: 'Eu te retirarei de
ao ouvir menções ao Fogo, a força minha fornalha, estás apenas
que pode destruí-lo. pouco assustado. Tu te tornarás um
44 Ilmarinen, o ferreiro, volta a grande poder, capaz de perecer o
falar novamente e se dirige ao melhor dos heróis e ferir o teu ir-
Ferro, desta forma: 'Não se preo- mão mais querido.'
cupe, metal útil. 54 Imediatamente, Ferro fez uma
45 Com certeza, o Fogo não te promessa solene, jurando diante da
consumirá, não queimará seu ir- fornalha, da bigorna, das tenazes e
mão mais novo, não causará danos do martelo.
ao seu parente mais próximo. 55 Eis as palavras que ele profe-
46 Venha ao meu aposento e for- riu com veemência: 'Comprometo-
nalha, onde o fogo arde livre- me a derrubar muitas árvores e a
mente. devorar os corações das monta-
47 Tu viverás, crescerás e pros- nhas.
perarás, tornando-se as espadas 56 No entanto, não matarei meu
dos heróis, fivelas para os cintos parente mais próximo, não elimi-
das mulheres' narei o mais valente dos heróis e
48 Antes que a estrela da noite nem ferirei meu irmão mais que-
aparecesse, o minério de ferro ti- rido.
nha sido retirado dos pântanos e 57 Prefiro viver em liberdade ci-
elevado dos leitos de água. vil, pois minha vida seria mais fe-
49 Foi levado até a fornalha e o liz se eu pudesse servir meus se-
ferreiro o colocou no fogo, inse- melhantes como ferramentas para
rindo-o na sua fornalha de fundi- sua comodidade, ao invés de ser
ção.
um instrumento de guerra, cau- 66 Ela voa pelo ar e finalmente
sando a morte de meus amigos e pousa em segurança próximo à
parentes próximos, e ferindo os fi- fornalha da forja.
lhos da minha mãe.' 67 Assim como o ferreiro se di-
58 Agora, Ilmarinen, o mestre, rige à abelha, estas são as palavras
renomado e habilidoso ferreiro, re- de Ilmarinen: 'Pequena abelhinha,
tira o ferro do fogo e o coloca so- gracioso passarinho, traga-me mel
bre a bigorna. em suas asas.
59 Ele o martela com destreza 68 Peço-lhe que traga a doçura
até que fique maleável, forjando dos prados perfumados, proveni-
uma variedade de utensílios refina- ente dos delicados cálices das flo-
dos, como lanças, espadas, macha- res, das pontas de sete pétalas, para
dos, facas e garfos, além de uma que, dessa forma, possamos auxi-
ampla gama de ferramentas de liar a água na produção do aço do
martelos. ferro'.
60 Muitas coisas que o ferreiro 69 O pássaro maligno do Hisi,
precisava, muitas coisas ele não conhecido como vespa, ouviu as
poderia moldar, como a pinça de palavras de Ilmarinen enquanto es-
ferro, o martelar o aço do ferro e a tava empoleirado na empena da
capacidade de tornar o ferro endu- cabana.
recido. 70 Ela voou rapidamente para a
61 Ilmarinen, após uma cuida- casca de bétulas, enquanto as bar-
dosa e profunda ponderação, refle- ras de ferro estavam esquentando e
tiu longamente. o aço era temperado.
62 Ele decidiu reunir cinzas de 71 A vespa picou com veloci-
bétula e mergulhá-las na água para dade, espalhando todos os horrores
criar uma lixívia que endurecesse de Hisi.
o ferro, permitindo a formação do 72 Ela trouxe a bênção da ser-
aço necessário. pente, o veneno da víbora, o ve-
63 Ele provou a mistura com a neno da aranha e as picadas de to-
língua, avaliando cuidadosamente dos os insetos, tudo misturado com
o resultado. minério e água, enquanto o aço es-
64 O ferreiro então disse: 'Todo tava sendo temperado.
esse trabalho é em vão, não será 73 Ilmarinen, hábil ferreiro, o
capaz de moldar o aço do ferro, primeiro entre todos os ferreiros,
nem fazer com que o minério ma- pensou que a abelha, sem dúvida,
cio endureça'. lhe trouxera mel dos prados perfu-
65 Neste momento, uma abelha mados, dos pequenos cálices de
sobrevoa o prado, uma Asa-azul flores, das pontas de sete pétalas.
que vem das flores. 74 E ele proferiu as seguintes pa-
lavras: 'Bem-vinda, bem-vinda, é a
tua vinda,portadora do doce néctar forma, beleza, força ou grande im-
das flores, que trazes para auxiliar portância.
na forja do aço do ferro!' 84 Descansavas na forma de leite
75 Ilmarinen, o antigo ferreiro, e por eras permaneceste escondido
imergiu o ferro na água, uma água nos arfantes seios das três filhas de
misturada com diversos venenos, Deus, nos confins das nuvens e na
pensando que era apenas o mel de abóbada azul dos céus.
uma abelha selvagem. 85 No passado, tu eras insignifi-
76 Dessa forma, ele moldou o cante e desprovido de atributos va-
aço a partir do ferro. lorosos.
77 Quando ele o mergulhou na 86 Não possuías forma atraente
água, uma água misturada com nem beleza cativante, tampouco
muitos venenos, e o colocou na exibias força ou relevância signifi-
fornalha, o ferro endurecido cres- cativa.
ceu com ira, quebrando o jura- 87 Estavas na condição de água
mento que havia feito. estagnada, repousando tranquila-
78 Ele consumiu suas próprias mente nas vastas extensões dos
palavras como cães e demônios, e pântanos e nas encostas íngremes
impiedosamente feriu seu próprio das montanhas.
irmão, enfurecendo-se loucamente 88 E assim eras, apenas matéria
contra seus parentes. sem forma, mera partícula de po-
79 O sangue jorrou como riachos eira com tonalidade enferrujada.
das feridas do homem e do herói. 89 Sem dúvida, em tempos pas-
80 Essa é a origem do ferro e do sados, tu eras destituído de grandi-
aço de cor azul claro." osidade, sem possuir nem força
81 Diante da lareira, ergueu-se nem beleza.
um homem de barba grisalha. Com 90 Quando o alce te pisoteava,
um gesto, sacudiu suas pesadas quando o corço te pisava, quando
madeixas e respondeu:"Agora, co- as pegadas dos lobos se encontra-
nheço a origem do ferro e a fonte vam em ti e as patas dos ursos ar-
do aço, assim como os males que ranhavam teu corpo, certamente te
eles trazem consigo. mostravas de pouco valor.
82 Maldito seja tu, ferro cruel, e 91 Na verdade, eras insignifi-
maldito seja o aço que provém de cante quando o habilidoso Ilmari-
ti. nen, o primeiro entre todos os fer-
83 Lanço minha maldição sobre reiros, te trouxe das terras pantano-
ti, língua do mal, e que tua vida sas enegrecidas e te levou para sua
seja amaldiçoada para sempre! No antiga forja, onde te colocou na ar-
passado, eras de pouco valor, sem dente fornalha.
92 Com efeito, tu possuías pouca 102 Foste tu mesmo quem cau-
vitalidade, pouca força e represen- sou todo este mal.
tavas pouco perigo quando estavas 103 Tu és a causa de todos os
no fogo sibilando, rolando como nossos problemas.
água fervente proveniente da for- 104 Vem e contempla as tuas
nalha da forja. más ações.
93 Naquele momento, tu fizeste 105 Corrige essa inundação de
o juramento mais vigoroso, pela danos antes que eu revele aos teus
fornalha, pela bigorna, pela tenaz e cabelos grisalhos da mãe e ao teu
pelo martelo, pela morada do fer- velho pai.
reiro, pelo fogo dentro da fornalha. 106 Imensa é a angústia de uma
94 Agora, sem dúvida, te tor- mãe, profunda é a tristeza de um
naste poderoso e capaz de se enfu- pai, quando um filho comete ações
recer na mais selvagem fúria. malignas, quando uma criança
95 Tu quebraste todas as tuas corre descontrolada e sem lei.
promessas e desrespeitaste os teus 107 Ó riacho carmesim, cesse o
votos solenes. fluir incessante das feridas de
96 Como um cão, envergonhaste Väinämöinën; interrompa o curso
a honra e desonraste a ti mesmo e do sangue das eras que corre pelas
à tua família. veias do mágico.
97 Manchaste tudo com o sopro 108 Permaneça imóvel como os
do mal. pilares de cristal no céu, posicio-
98 Diga-me, quem te conduziu a nando-se como colunas firmes no
essa maldade? Quem te ensinou oceano, como bétulas majestosas
toda a tua malícia? Quem te pro- na floresta, altos juncos nos pânta-
porcionou tamanha depravação? nos e rochas elevadas na costa do
Será que foi teu pai ou tua mãe? mar.
Talvez o mais velho dos teus ir- 109 Que assim seja pelo poder da
mãos, ou a mais nova das tuas ir- poderosa magia!
mãs? Ou até mesmo o pior dentre 110 Certamente, tua vontade
todos os teus parentes? Será que deve te impelir de forma inevitável
foi algum deles que te transmitiu a a fluir em teu ciclo infinito.
tua natureza maligna? 111 Percorres as veias de
99 Mas não foi teu pai, nem tua Väinämöinën, atravessas ossos e
mãe. músculos, pulmões, coração e fí-
100 Não foi o mais velho dos gado do poderoso sábio e cantor.
teus irmãos, nem o mais novo das 112 É melhor ser o alimento dos
tuas irmãs. heróis do que desperdiçar tua força
101 Nem tampouco o pior dentre e virtude nos prados e florestas,
todos os teus parentes. sendo perdido em pó e cinzas.
113 Flua eternamente em teu cír- Ukko, o ser Onisciente, reconhe-
culo; deves cessar este fluxo de cido como o mais poderoso dos
sangue vermelho carmesim. criadores, superando em força to-
114 Não manche mais a grama e dos os heróis antigos e sendo mais
as flores, nem macule estas colinas sábio do que os mágicos do
douradas, orgulho e beleza de nos- mundo.
sos heróis. 122 Ele examinará atentamente o
115 Tuas moradas e depósitos le- fluxo carmesim da ferida e a curará
gítimos encontram-se nas veias do com sua sabedoria, curará o feri-
mágico, no coração de mento causado por um machado.
Väinämöinën. 123 Ukko, Deus de amor e mise-
116 Retira agora tuas forças para ricórdia, Deus e Mestre dos céus,
lá, apressando-te em teu fluxo rá- peço que venha até aqui, pois sua
pido. presença é necessária e urgente.
117 Não fluas mais como corren- 124 Rogo-te que estenda sua
tes carmesim, não enchas mais la- mão para auxiliar seus filhos, to-
gos com tua cor vermelha, não de- cando esta ferida com dedos que
ves correr como riachos durante a possuem o poder de cura.
maré alta, nem sinuosamente 125 Interrompa o fluxo desse vi-
como rios. tal sangue heróico e enfaixe a fe-
118 Interrompas o teu fluir, por rida com cuidado, utilizando sua-
meio de uma palavra mágica, tal ves folhetos e misturando-os com
como as quedas de Tyrya ou os flores medicinais.
rios de Tuoni que se aquietam 126 Dessa forma, poderemos de-
quando o céu retém suas gotas de ter o fluxo vermelho carmesim e,
chuva e o mar desiste de suas assim, salvar a vida deste grande
águas durante a escassez das esta- mago.
ções ou nos anos de fogo e tortura. 127 Peço-lhe, salve a vida de
119 Se não atenderes a este pe- Väinämöinën."
dido, tomarei outras medidas, pois 128 No momento em que as pa-
possuo o conhecimento de outras lavras mágicas eram pronuncia-
forças. das, o fluxo de sangue cessou.
120 Invocarei os ferros de Hisi e 129 O homem de barba grisalha,
neles te submeterei a fervura e as- regozijando, instruiu seu jovem fi-
samento, com o objetivo de conter lho a ir à forja e preparar um bál-
o teu fluxo carmesim e, dessa samo curativo.
forma, salvar o herói ferido. 130 O bálsamo seria feito a partir
121 Caso essas medidas se reve- de uma mistura cuidadosa de ervas
lem ineficientes e as ações toma-
das se mostrem inúteis, invocarei
de fibras tenras, plantas medici- se está pronta e se seu remédio está
nais, caules que secretam mel, raí- completo.
zes e flores. 141 No entanto, o bálsamo se
131 No caminho, ele se depara mostra ineficaz e indigno.
com um carvalho e, dirigindo-se a 142 Ele acrescentou outras ervas
ele, o filho pergunta: "Possuis mel às já existentes, ervas conhecidas
em teus ramos? Corre em ti uma por suas virtudes curativas.
seiva repleta de doçura?". 143 Essas ervas foram trazidas
132 O carvalho, com sua sabedo- de nações distantes, localizadas a
ria, responde: "Certamente, con- centenas de léguas ao norte.
tudo, na noite anterior, o mel es- 144 Elas foram colhidas pelos
correu sobre meus galhos disper- mais sábios menestréis e trazidas
sos, enquanto as nuvens espalha- por nove encantadores.
ram sua fragrância. 145 Após três dias, o bálsamo foi
133 Elas peineiraram o mel entre embebido novamente.
as minhas folhas, provindo de sua 146 Durante três noites, o fogo
morada celestial." foi cuidadosamente controlado.
134 Em seguida, o filho recolhe 147 Por nove dias e noites, ele
lascas de madeira de carvalho e os foi observado constantemente.
galhos mais jovens dessa árvore. 148 Em seguida, o curandeiro
135 Ele colhe uma variedade de experimentou novamente o un-
ervas curativas, incluindo flores e guento, examinando-o com cau-
ervas mais raras encontradas das tela e fazendo testes.
Terras do Norte. 149 Finalmente, ele descobriu
136 Essas plantas são colocadas que estava pronta e concluiu que o
dentro de uma chaleira de cobre e bálsamo mágico estava acabado.
inseridas na fornalha. 150 Próximo dali encontrava-se
137 O filho deixa as ervas mace- uma bétula com múltiplos ramos,
rarem e fervem juntas, juntamente localizada à margem do prado.
com os pedaços de casca do carva- 151 Infelizmente, ela tinha sido
lho. maliciosamente quebrada pelo vil
138 São utilizadas muitas ervas Hisi.
com virtudes curativas. 152 Com presteza, ele toma seu
139 Ele as deixa embebidas por bálsamo curativo e aplica-o nos
um dia, depois por mais um, e em galhos fraturados.
seguida, por três longos dias du- 153 Esfrega cuidadosamente o
rante o clima de verão, tanto du- bálsamo nas áreas lesionadas e, as-
rante o dia quanto à noite. sim, dirige-se à bétula: "Por meio
140 Após esse período, ele testa deste bálsamo, eu te unjo, co-
seu bálsamo mágico, verificando brindo tuas feridas com este un-
guento.
154 Que os teus locais lesiona- que era um remédio eficaz, pos-
dos sejam adequadamente protegi- suindo virtudes mágicas.
dos. 165 Em seguida, ungiu o menes-
155 Agora, a bétula deve se recu- trel e utilizou o bálsamo mágico
perar, tornando-se ainda mais bela para curar as feridas de
do que antes." Väinämöinën.
156 É verdade que a bétula rapi- 166 Enquanto fazia isso, proferiu
damente se restabeleceu, adqui- palavras de sabedoria antiga, di-
rindo uma beleza ainda maior do zendo: "Não confie apenas em sua
que antes. própria virtude e não dependa ape-
157 Seus galhos se tornaram nas de seu próprio poder.
mais uniformes e seu tronco mais 167 Coloque sua confiança na
robusto e majestoso. força do seu Criador.
158 Essa transformação se deu 168 Não se orgulhe de sua pró-
graças ao poder curativo do bál- pria sabedoria, mas fale com a lín-
samo e do unguento mágico. gua do poderoso Ukko.
159 Aplicou-os sobre o arenito 169 Se há doçura em minha
lascado, os blocos quebrados de boca, ela vem do meu Criador.
granito e as fissuras nas monta- 170 Se minhas mãos estão cheias
nhas. de beleza, toda a beleza vem de
160 Como resultado, as partes Ukko."
danificadas se reuniram e todos os 171 Quando as feridas foram tra-
fragmentos cresceram juntos. tadas com unguento, quando o un-
161 Então, o jovem retornou guento mágico as tocou, imediata-
prontamente com o bálsamo que mente o antigo Väinämöinën so-
havia finalizado. freu uma terrível dor e angústia.
162 Ele entregou o unguento ao 172 Ele afundou no chão em tor-
homem idoso de barba grisalha, e mento, virando-se de um lado para
o menino proferiu as seguintes pa- o outro, procurando descanso em
lavras: "Aqui trago o bálsamo da vão.
cura, trago-te um unguento mara- 173 Sua dor persistia até que o
vilhoso. barba grisalha a dissipou, banindo-
163 Ele une as partes quebradas a pela ajuda da magia.
do granito, faz com que os frag- 174 Ele afastou seu tormento
mentos se unam, aquece as racha- mortal para o tribunal de todos os
duras nas montanhas e restaura a nossos problemas, para a mais alta
bétula ferida." colina de tortura, para as rochas e
164 O velho testou o bálsamo saliências distantes, para as monta-
mágico com a língua e descobriu nhas que carregam o mal, para o
reino do perverso Hisi.
175 Então ele tomou um tecido 186 Então, o antigo
de seda e rapidamente o rasgou em Väinämöinën ergueu seus olhos
pedaços, fazendo tiras iguais para para o alto Jumala e olhou com
fazer uma bandagem. gratidão para o céu.
176 Amarrou as pontas com fitas 187 Ele sentiu alegria e contenta-
de seda, criando assim uma banda- mento enquanto se dirigia ao onis-
gem de cura. ciente Ukko.
177 Em seguida, habilmente en- 188 Esta foi a oração que o me-
volveu o joelho e o tornozelo de nestrel proferiu: "Ó seja louvado,
Väinämöinën, envolvendo as feri- tu Deus de misericórdia, permita-
das do mágico. me louvar-te, meu Criador, pois
178 E o de barba grisalha profe- me deste assistência e concedeste
riu esta oração: "O tecido de Ukko tua proteção.
é a bandagem, a ciência de Ukko é 189 Curaste minhas feridas e
o cirurgião. acalmaste minha angústia, baniste
179 Estes serviram ao herói fe- toda minha dor e problemas causa-
rido, envolvendo as feridas do Má- dos pelo Ferro e por Hisi.
gico. 190 Ó, vós, povo de Wainola,
180 Ó Deus misericordioso, olha povo desta geração e o povo das
para nós, vem e guarda-nos, bon- eras futuras, não vos orgulheis em
doso Criador, e protege-nos de emulação de barcos fluviais ou
todo o mal! Guia nossos pés para chalupas oceânicas, vangloriando-
que não tropecem, guarda nossas se de sua bela aparência; pois so-
vidas de todos os perigos, dos bos- mente Deus pode realizar a con-
ques perversos de Hisi." clusão e dar causa ao seu final per-
181 Väinämöinën, um homem feito.
idoso e digno, experimentou a po- 191 Nunca a mão do homem
derosa assistência da magia. pode encontrá-la, nunca o herói
182 Ele sentiu a ajuda graciosa pode alcançá-la.
de Ukko e imediatamente seu 192 Ukko é o único Mestre."
corpo se fortaleceu.
183 Suas feridas se curaram ins- RUNA X.
tantaneamente, e a terrível dor de- ILMARINEN FORJA O SAMPO.
sapareceu rapidamente.
184 O herói cresceu em força e
Väinämöinën, o mágico, monta
resistência, e pôde caminhar em em seu corcel de cor de cobre, en-
total liberdade. gatando rapidamente seu corcel de
185 Ele movimentou seus joe- pés velozes e colocando-o no trenó
lhos em todas as direções, sem co- de neve.
nhecer nem dor nem problemas.
2 Ele salta imediatamente sobre 10 Sua melodia ecoou tão alto
o assento cruzado e estala seu chi- que ultrapassou as nuvens em
cote adornado com joias. constante crescimento, alcançando
3 O corcel voa adiante como os com seu topo e galhos dourados os
ventos, enquanto o piloto acelera próprios céus.
como um relâmpago, fazendo o 11 O pinheiro espalhou seus ga-
trenó de neve ranger e chocalhar, e lhos pelo éter, em meio à lumino-
a estrada desaparecer rapidamente. sidade radiante do sol.
4 Ele atravessa pântanos e flores- 12 Agora, ele entoa novamente
tas, sobre colinas e vales, sobre de maneira encantadora, cantando
pântanos, montanhas, férteis planí- para que a lua brilhe eternamente
cies e prados. sobre os galhos verdejantes do
5 Assim, ele viaja por um dia, de- abeto.
pois outro, e então um terceiro, 13 No topo, ele entoa à constela-
desde a manhã até a noite. ção da Ursa Maior.
6 chegar à noite do terceiro dia, 14 Em seguida, ele retorna rapi-
ele alcança a ponte infinita de damente ao seu lar, apressando-se
Osmo, os campos e pastagens de em direção aos imponentes portões
Osmo, e as planícies de Kalevala. dourados.
7 Foi então que o herói falou o 15 Sua cabeça está inclinada e
seguinte: "Que os lobos devorem o seu rosto enrugado, com o chapéu
sonhador, que o Lapônio seja co- levemente torto em sua testa.
mido no jantar, que a doença des- 16 Ele havia prometido a Ilmari-
trua o fanfarrão, aquele que disse nen, o artista mágico, que retorna-
que eu nunca mais veria minha ria como resgate para salvá-lo da
amada pátria, minha parentela, tortura nos distantes campos das
nunca mais durante toda a minha Terras do Norte, na triste Sariola.
vida, nunca enquanto o sol bri- 17 Quando o garanhão de
lhasse, nunca enquanto o luar bri- Väinämöinën parou no campo de
lhasse nos prados de Wainola, nas Osmo e no prado, ele subiu rapida-
planícies de Kalevala." mente em seu trenó de neve.
8 Então, o venerável 18 O mágico então ouviu alguém
Väinämöinën, um antigo bardo e batendo, quebrando carvão dentro
renomado cantor, deu início ao seu da forja, utilizando um martelo pe-
ato de revitalizar seus encantamen- sado.
tos. 19 Väinämöinën, renomado me-
9 Ele entoou com maestria as pa- nestrel, adentrou a forja direta-
lavras diante de um imponente pi- mente e lá encontrou Ilmarinen, o
nheiro, cuja grandiosidade era de ferreiro, martelando com seu mar-
tirar o fôlego. telo de cobre.
20 Ilmarinen dirigiu-se com as 28 Ela é a mais bela donzela de
seguintes palavras: "Sê bem- Pohyola, filha da terra e do oceano.
vindo, meu irmão Väinämöinën, o 29 De suas têmporas emite o bri-
respeitável e venerável lho do luar, e seu peito, o esplen-
Väinämöinën! Por qual razão esti- dor do sol.
veste ausente por um longo perí- 30 Sua testa resplandece o arco-
odo? Onde te ocultaste por tanto íris, e em seu pescoço, as sete es-
tempo?" trelinhas, além da Grande Ursa que
21 Väinämöinën, em resposta, repousa em seu ombro.
proferiu as seguintes palavras: "De 31 Ilmarinen, digno irmão, és o
fato, vivi durante um longo perí- único habilidoso ferreiro.
odo, em que inúmeros dias som- 32 Vá e contemple sua beleza
brios se arrastaram e muitas noites maravilhosa.
tristes perduraram. 33 Observe-a usando roupas de
22 Flutuei em meio ao oceano ouro e prata, vestindo-se com as
implacável, chorei nos pântanos e melhores vestimentas.
nas florestas da Terra do Norte, um 34 Veja-a sentada no arco-íris,
lugar sempre desagradável e obs- caminhando sobre as nuvens de
curo conhecido como Sariola. púrpura.
23 Percorri essas terras junto aos 35 Forje o Sampo mágico para
lapões, um povo envolto em feiti- ela e crie uma tampa com várias
çaria." cores.
24 Imediatamente, Ilmarinen 36 Como recompensa, receberás
respondeu com prontidão:"Ó tu, a virgem e conquistarás essa noiva
velho Väinämöinën, reconhecido e de beleza.
eterno cantor, conte-me sobre tua 37 Parta e traga a adorável don-
jornada em direção ao norte, tuas zela para a sua casa em Kalevala."
andanças pela Lapônia e sua dolo- 38 O irmão Ilmarinen dirigiu-se
rosa jornada de retorno ao lar." a Väinämöinën: "Ó tu, astuto
25 Disse o menestrel, Väinämöinën, que já me prome-
Väinämöinën:"Tenho uma história teste resgatar-te da sempre som-
maravilhosa para te contar, meu ir- bria Terra do Norte, ao oferecer
mão. tua devotada cabeça em troca.
26 Nas terras do Norte, habita 39 No entanto, eu nunca irei visi-
uma virgem em uma aldeia, uma tar as Terras do Norte, tampouco
donzela que não aceitará um ver a tua donzela, e não nutrirei
amante, rejeita a mão de um herói amor pela Noiva da Beleza.
e desdenha o coração de um mago. 40 Jamais sob o luar brilhante,
27 Toda a Terra do Norte canta irei à sombria Pohya ou às planí-
seus louvores, elogiando seu valor cies de Sariola, onde as pessoas se
e beleza mágica. devoram e afundam seus heróis no
oceano, nem mesmo em troca de 49 Ele espreita a Urso no topo do
todas as donzelas da Lapônia." abeto, que está sentado em galhos
41 O irmão Väinämöinën profe- de esmeralda.
riu: "É-me possível relatar-lhe pro- 50 E, enquanto observa, também
dígios ainda mais grandiosos. vislumbra o brilho do luar dou-
Ouça a minha narrativa extraordi- rado.
nária: Testemunhei o abeto em 51 O antigo Väinämöinën falou
plena floração, com flores adorna- assim: "Querido Ilmarinen, suba
das por ramos de coloração esme- nesta árvore e traga para baixo os
ralda. raios dourados da lua.
42 Essa cena deslumbrante ocor- 52 Traga a Lua contigo quando
ria nos campos e bosques de descer dos galhos altos do abeto."
Osmo. 53 Ilmarinen, consentindo com-
43 No topo da árvore, o luar res- pletamente, prontamente escalou o
plandecia, enquanto a Ursa Maior abeto dourado, alcançando o topo
habitava seus galhos." do céu, com o propósito de trazer
44 Ilmarinen respondeu de forma os raios dourados da lua e trazer
cética: "Não consigo crer em tua- também a constelação da Ursa
história, nem confiar em teus con- Maior do céu, retirando-a dos ra-
tos de maravilhas, a menos que eu mos mais altos do abeto.
mesmo testemunhe o abeto em 54 Após isso, o abeto em flor di-
flor, com seus numerosos ramos rigiu-se a Ilmarinen com as se-
verde-esmeralda, acompanhado da guintes palavras: "Ó tu, herói in-
Ursa e de um brilhante luar." sensato e imprudente, careces de
45 Esta é a resposta de inteligência e discernimento.
Väinämöinën:“Não acreditarás na 55 Tu sobes pelos meus galhos
minha história? Vem comigo e eu dourados sem nenhum julga-
te mostrarei, se meus lábios falam mento, buscando tomar meus raios
fato ou ficção." de luar e tirar minha luz prateada
46 Rapidamente, eles partem em das estrelas, roubando meu Urso e
uma viagem de descoberta, ansio- galhos floridos."
sos por testemunhar o magnífico 56 Com rapidez comparável ao
abeto. pensamento, o venerável
47 Väinämöinën assume a lide- Väinämöinën entoou uma vez
rança na jornada, enquanto Ilmari- mais em tons mágicos.
nen o acompanha de perto. 57 Ele entoou sobre um vendaval
48 Conforme se aproximam das que varria os céus, sobre ventos
fronteiras de Osmo, Ilmarinen se selvagens enfurecidos.
apressa para poder contemplar
essa maravilha.
58 O cantor proferiu as seguintes 68 Ilmarinen responde: "Certa-
palavras: "Ó tempestade, toma o mente não vim aqui para ser la-
ferreiro, leve-o em seu navio. drado pelos cães de guarda, nestes
59 Faça isso rapidamente e colo- portais desconhecidos, nos portões
que o herói na eternamente som- de Sariola."
bria Terra do Norte, na sombria 69 Em seguida, a anfitriã da
Sariola". Terra do Norte dirigiu-se nova-
60 Eis que o vento da tempes- mente ao herói estrangeiro: " Tu já
tade, com rapidez, cobre o céu de conheceste o ferreiro de Wainola,
escuridão. o herói Ilmarinen, um habil fer-
61 Agita-se o ar com vigor, reiro e artista? Por muito tempo,
transformando-se em veleiro. aguardo ansiosamente a sua che-
62 É nele que embarca o ferreiro gada, e há muito tempo esperamos
Ilmarinen, fugando dos galhos do por este momento nas fronteiras da
abeto, rumo à desolada Terra do Terra do Norte, para que ele possa
Norte, à sombria Sariola. forjar o Sampo para mim."
63 Navegou Ilmarinen pelos 70 O herói Ilmarinen disse: "De
ares, avançando incansavelmente fato, conheço o ferreiro Ilmarinen,
para o norte, seguindo a trilha dos pois eu mesmo sou ele.
ventos impetuosos. 71 Sou o habilidoso ferreiro e ar-
64 Sob a lua e a luz solar, caval- tista."
gou ele nas costas amplas da 72 Louhi, a anfitriã das Terras do
Grande Ursa, até que finalmente se Norte, uma dama desdentada de
aproximou das densas florestas de Sariola, corre imediatamente para
Pohyola e das moradas de Sariola. sua morada.
65 Desceu ele sem ser notado, 73 Eis as palavras que Louhi pro-
passou despercebido pelos caçado- fere: "Venha, tu, a mais nova de
res e não foi farejado pelos cães de minhas filhas, venha, tu, a mais
guarda. bela de minhas donzelas.
66 Louhi, a anfitriã de Pohyola, 74 Vista-se com as melhores
uma dama antiga e desdentada da roupas, enfeite teu cabelo com as
Terra do Norte, está de pé no pátio joias mais raras, coloque pérolas
aberto e se dirige a Ilmarinen, en- em seu peito inchado, use um colar
quanto observa o herói estran- de ouro em teu pescoço, amarre
geiro. tua cabeça com fitas de seda, faça
67 Ela pergunta: "Quem és tu, tuas bochechas parecerem frescas
vindo aqui no vento da tempes- e coradas, e mantenha seu sem-
tade, sobre o caminho do trenó do blante belo e cativante.
éter, despercebido pelos cães de 75 Pois o artista Ilmarinen, vindo
guarda de Pohya? Dos heróis anti- de Kalevala, está aqui para forjar-
gos, de toda a hoste de heróis?"
nos o Sampo, martelar-nos a tampa de maior virtude e um único grão
em cores." de cevada, e a mais fina lã de ove-
76 A filha da Terra do Norte, lhas? Se fores capaz de fazer isso,
uma jovem honrada tanto pela terás como recompensa a minha fi-
terra como pela água, prontamente lha mais bela por este serviço pres-
veste suas melhores roupas, esco- tado."
lhendo vestidos ricos em beleza, 83 Estas são as palavras de Ilma-
selecionando o mais fino do seu rinen:"Eu forjarei para ti o Sampo,
guarda-roupa de seda. martelarei a tampa com cores,
77 Ela então adorna-se com um usando penas de cisne branco, leite
filete de seda, coloca uma faixa de da maior virtude, um único grão de
cobre em sua testa, cinge sua cin- cevada e a mais fina lã de cordei-
tura com um cinto de ouro e ros.
adorna seu pescoço com um colar 84 Uma vez que forjei o arco do
de pérolas. céu e moldei ao ar em uma cober-
78 Seu peito brilha com ouro re- tura côncava antes que a terra ti-
luzente, e em seus cabelos há fios vesse um começo."
de prata. 85 E assim, o ferreiro mágico
79 Saindo de seu aposento, ela se partiu para forjar o maravilhoso
apressa ao salão, atenta e ouvindo, Sampo, em busca de uma oficina
repleta de beleza e alegria, com de ferreiro.
orelhas atentas e olhos brilhantes, 86 Ele procurou fervorosamente
bochechas coradas e um rosto en- por ferramentas adequadas para re-
cantador, esperando ansiosamente alizar seu trabalho.
pelo herói estrangeiro. 87 No entanto, ele não encontrou
80 Louhi, a anfitriã de Pohyola, nenhum lugar propício para execu-
conduziu o herói Ilmarinen até sua tar a forja.
morada na Terra do Norte, em sua 88 Não havia ferraria disponível,
casa em Sariola. nem foles para avivar o fogo, nem
81 Ela o sentou em sua mesa uma chaminé para direcionar a fu-
farta e lhe ofereceu as melhores maça.
iguarias, proporcionando-lhe todo 89 Além disso, ele não encontrou
o conforto necessário. uma bigorna para moldar o metal,
82 Em seguida, ela falou da se- nem tenazes e martelo para dar
guinte maneira: "Ó tu, ferreiro Il- forma à obra.
marinen, mestre da forja! Será que 90 Em seguida, o artista Ilmari-
és capaz de forjar para mim o nen expressou em solilóquio, di-
Sampo, martelando a tampa com zendo: "Apenas as mulheres de-
cores, feita das pontas das penas de sencorajam, apenas os patifes dei-
cisnes brancos, utilizando o leite xam o trabalho incompleto, nem os
demônios, nem os heróis, nem os florescer nas pegadas dos trabalha-
Deuses mais sábios." dores, graças ao calor mágico pro-
91 Então, o ferreiro Ilmarinen veniente da fornalha.
começou a procurar um local ade- 102 No primeiro dia, Ilmarinen
quado para construir uma forja e se curvou e observou atentamente
plantar um fole, nas terras do o interior de sua fornalha, procu-
Norte, nas colinas e prados de rando ver o que poderia estar se
Pohya. formando a partir do fogo mágico
92 Ele procurou durante um dia e e dos metais.
depois durante um segundo dia. 103 Das chamas, surgiu uma
93 Antes da noite do terceiro dia, besta com um brilho semelhante
uma pedra surgiu em seu campo de ao dos raios da lua, um arco dou-
visão, uma pedra que brilhava com rado com pontas de prata.
as cores do arco-íris. 104 Em sua haste reluzia o cobre
94 Foi nesse lugar que o ferreiro brilhante, e o arco era forte e ma-
Ilmarinen começou seu trabalho ravilhoso.
para construir a forja. 105 No entanto, ai! a besta era de
95 Ele acendeu uma fogueira e má índole, exigindo um herói to-
ergueu uma chaminé. dos os dias e duas cabeças em dias
96 No dia seguinte, colocou seu de festa.
fole e, no terceiro dia, construiu a 106 Ilmarinen, o hábil artista,
fornalha. não se agradou dessa criação e de-
97 Assim, ele começou a forjar o cidiu quebrar o arco em vários pe-
Sampo. daços.
98 O eterno artista mágico, o an- 107 Ele o lançou de volta na for-
tigo ferreiro Ilmarinen, que foi o nalha e manteve os mercenários
primeiro de todos os ferreiros, mis- trabalhando no fole, empenhado
turava certos metais e colocava a em forjar o mágico Sampo.
mistura em um caldeirão. 108 No segundo dia, o ferreiro
99 Ele então o colocava no fundo curvou-se e examinou cuidadosa-
da fornalha e chamava os merce- mente o interior da fornalha.
nários para a forja. 109 Dali, emergiu um objeto
100 Habilmente, eles trabalha- feito de metais fundidos, asseme-
vam o fole, cuidavam do fogo e lhando-se a um barco de cor púr-
adicionavam o combustível du- pura.
rante três belos dias de verão e três 110 Cada parte dele reluzia em
curtas noites do solstício de verão. tons dourados, e os remos eram ha-
101 Foi somente após esse perí- bilmente forjados em cobre.
odo que as rochas começaram a
111 O esquife possuía uma be- 122 Ele a lançou de volta na for-
leza admirável, porém, lamenta- nalha ardente e manteve os merce-
velmente, estava manchado por nários trabalhando no fole, empe-
algo maligno. nhado em forjar o mágico Sampo.
112 Rapidamente se envolvia em 123 No quarto dia, Ilmarinen
problemas, instigando brigas e se desceu e examinou cuidadosa-
lançando em combates maliciosos, mente a fornalha até o fundo.
sem qualquer provocação. 124 Lá ele viu um belo arado
113 Ilmarinen, o hábil artista, emergindo do fogo dos metais.
também não se agradou dessa cri- 125 A ponta e a relha do arado
ação e quebrou o esquife em vários eram douradas, e a viga era feita de
pedaços. cobre forjado.
114 Ele o lançou de volta na for- 126 Os cabos eram de prata fun-
nalha e manteve os mercenários dida, tornando-o um arado encan-
trabalhando no fole, empenhado tador e maravilhoso.
em forjar o mágico Sampo. 127 No entanto, infelizmente, ele
115 No terceiro dia, Ilmarinen, o era indisciplinado.
renomado ferreiro, curvou-se e 128 Ele arava campos de milho e
examinou cuidadosamente o fundo cevada e sulcava os prados mais
da fornalha. férteis.
116 Lá, ele avistou uma novilha 129 Ilmarinen, estava insatisfeito
majestosa, cujos chifres resplande- com sua criação.
ciam em ouro, chamada Kimmoa. 130 Decidiu, então, quebrar rapi-
117 Sobre sua cabeça, ostentava damente o arado em pedaços e
a constelação da Ursa Maior, e em jogá-lo de volta na fornalha.
sua testa, um disco solar radiante. 131 Ele permitiu que os ventos
118 Era uma bela vaca com po- atendessem ao fole, deixando os
deres mágicos. ventos da tempestade incendiarem
119 No entanto, lamentavel- os metais.
mente, essa criatura era de índole 132 Os ventos do céu competiam
maligna. ferozmente: o vento leste soprava,
120 Ela corria precipitadamente o vento oeste rugia, o vento sul gri-
pela floresta, atravessando pânta- tava e o vento norte uivava.
nos e prados, desperdiçando todo o 133 Sopraram um dia e depois
seu leite ao correr. um segundo, sopraram o terceiro
121 Ilmarinen, o hábil artista, desde a manhã até a noite.
também não se agradou dessa cri- 134 Foi quando o fogo saltou pe-
ação e cortou a vaca em vários pe- las janelas e as faíscas voaram para
daços. cima pela porta.
a
Kim'mo. Um nome para a vaca; a filha de Kammo, o patrono das rochas.
135 Nuvens de fumaça subiram com que três poderosas raízes se
para o céu, misturando-se com as espalhem ao seu redor.
nuvens enquanto os ventos da tem- 146 Essas raízes crescem na terra
pestade dobravam o fole. por nove braças, sendo uma delas
136 Na terceira noite, Ilmarinen, uma imensa raiz localizada sob a
inclinando-se para examinar seus montanha, outra sob a areia do
metais, encontrou-se diante das leito do mar, e a terceira sob a mo-
profundezas da fornalha. rada das montanhas.
137 Lá testemunhou o milagroso 147 Humildemente, Ilmarinen
Sampo emergir, contemplou a implora pela resposta voluntária da
tampa multicolorida. donzela. Eis suas palavras: "Que-
138 Rapidamente, o talentoso ar- res vir comigo, bela donzela, tor-
tesão de Wainola empunhou a te- nar-te minha esposa e rainha para
naz e a bigorna, martelando habil- sempre? Eu forjei para ti o Sampo,
mente o Sampo com força. e forjei a tampa em diversas co-
139 No processo, ele o forjava de res."
modo exímio. 148 A bela e adorável filha das
140 De um lado, o Sampo moía Terras do Norte respondeu ao fer-
farinha; do outro, produzia sal; em reiro: "Quem se aventurará na pró-
outra face, forjava fortuna, en- xima primavera e no segundo ve-
quanto a tampa exibia suas múlti- rão para liderar o canto e o eco do
plas cores. cuco? Quem atenderá ao seu cha-
141 Assim, o Sampo moía inces- mado e cantará com ele no outono?
santemente, movendo-se de um Deveria eu partir para terras dis-
lado para o outro com um balançar tantes? Deveria esta alegre donzela
suave. desaparecer dos campos de Sari-
142 Moía uma medida ao romper ola, dos pântanos e florestas de
do dia, uma medida própria para Pohyola, onde o cuco canta e
alimentação, uma segunda medida ecoa? Se eu deixasse a casa de meu
destinada ao mercado e uma ter- pai, se a amora de minha mãe de-
ceira medida para ser armazenada. saparecesse, se estas montanhas
143 Com grande alegria, a nobre perdessem suas cerejas, então o
dama da Terra do Norte, chamada cuco também desapareceria.
Louhi e conhecida como anfitriã 149 Todos os pássaros deixa-
de Pohyola, parte levando consigo riam a floresta, abandonariam os
o mágico Sampo. picos das montanhas e partiriam de
144 Ela o conduz em direção às meus campos e florestas nativas.
colinas de Sariola, nas majestosas Jamais, em minha vida, direi adeus
montanhas de cobre. à virginal liberdade, nem aos cui-
145 Lá, ela coloca nove fecha- dados e trabalhos de verão, para
duras sobre essa maravilha e faz
que a colheita não seja negligenci- 157 Ela o alimentou com comi-
ada, para que as bagas não sejam das requintadas e deliciosas, e o
deixadas para trás, para que os pás- acomodou em um barco feito de
saros melódicos não abandonem a cobre, revestido com o mesmo ma-
floresta, para que as sereias não terial.
deixem as águas, para que eu não 158 Louhi convocou os ventos
cante mais com elas." para ajudá-lo e o vento norte o
150 Ilmarinen, o mágico e eterno guiou de volta para sua terra natal.
forjador de metal, estava com o 159 Assim, o hábil Ilmarinen
quepe torto e a cabeça abaixada. partiu em viagem em direção à sua
151 Seu coração estava pesado e pátria.
desapontado, e suas mãos estavam 160 Ele navegou pelas profunde-
vazias, enquanto ele pensava em zas azuis das águas, viajando por
como alcançar sua pátria distante, um dia e depois por um segundo
seu lar amado e querido, os prados dia, até que, na terceira noite, che-
de Wainola. gou aos pacíficos prados de Wai-
152 Ele desejava retornar da nola, à sua casa em Kalevala.
nunca agradável Terra do Norte e 161 Num instante, o venerável
da sombria Sariola. Väinämöinën voltou-se para Ilma-
153 Então, Louhi, a senhora do rinen e disse-lhe:"Ó meu irmão,
Norte, falou com o pretendente Il- exímio artesão do metal, tu, que és
marinen:"Ó tu, ferreiro Ilmarinen, o eterno criador de maravilhas,
por que tens o coração tão pesado? forjaste o mágico Sampo? Forjaste
Por que está teu semblante tão aba- a sua tampa em várias cores?"
tido? Tens em mente viajar dos va- 162 O irmão Ilmarinen disse es-
les e colinas de Pohya para os pra- tas palavras conforme o mestre fa-
dos de Wainola, para tua casa em lou: "Sim, eu criei o Sampo má-
Kalevala?" gico.
154 Essa é a resposta de Ilmari- 163 Forjei a tampa com várias
nen:"Minha mente anseia para lá, cores, que balança para lá e para
para minha terra natal. cá.
155 Deixe-me partir rumo aos 164 Ela moe uma medida ao
meus parentes e ali permanecer, amanhecer, uma medida para ser
descansando em meu próprio consumida, uma segunda medida
país." para o mercado e uma terceira me-
156 Imediatamente, Louhi, uma dida para o armazém.
anfitriã das Terras do Norte, con- 165 Louhi possui o maravilhoso
cedeu ao herói todo conforto ne- Sampo, eu, porém, não tenho a
cessário. Noiva da Beleza."
RUNA XI.
LAMENTO DE LEMMINKAINEN.
Esta é a história de Ahti, também
conhecido como Lemminkainena,
filho de Lempo, Kaukomielib.
2 Ahtic era o governante das
ilhas, tendo crescido entre as casas
das ilhas, no local onde sua amada
mãe residia, nas margens do oce-
ano e nas pontas dos promontórios.
3 Ele se alimentava de salmão e
badejo dos oceanos, o que o tornou
um herói poderoso.
4 Em suas veias corria o sangue
de gerações passadas, sua postura
era altiva e sua presença domi-
nante.
5 Sua mente e corpo se desenvol-
veram de forma perfeita.
6 Mas, ai! ele possuía falhas.
7 Seu coração e sua moral eram
maus, e ele vagava por lugares im-
próprios, passando dias e noites
nas casas de donzelas alegres e
participando das danças das vir-
gens, envolvendo-se com donzelas
de longas tranças.

a
O que significa é desconhecido, possivelmente relacionado ao finlandês Lempi
"amor".
b
Um nome próprio masculino que significa “observado, distraído ; mentalmente
distante ; viajante indiferente , sem objetivo e aventureiro , impelido a viajar pelo
desejo de viajar ; sonhador cuja mente está frequentemente sonhando acordado em
outro tempo e lugar”
c
Ahti – Nome masculino de significado desconhecido. Este é o nome do deus fin-
landês do oceano, dos rios e da pesca.

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