Ruben Dario

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O pássaro azul

El pájaro azul
Rubén Darío
Tradução/Traducción:
Marcelo Barbão
Edição/Edición:
Stella Maris Baygorria
Revisão/Revisión:
Rodrigo Gurgel
Projeto Gráfico/Proyecto Gráfico:
Vanderley Mendonça

Amauta Editorial
2005
AMAUTA EDITORIAL LTDA, 2005

Distribuição Gratuita
Distribución Gratuita

A Coleção Muro de Tordesilhas é distribuida


gratuitamente em Buenos Aires (Argentina),
Cidade do México (México) e São Paulo (Brasil).

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gratis en Buenos Aires (Argentina), México DF
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O PAI DE TODOS ELES

Seguramente, sem RUBÉN DARÍO, não


existiria literatura hispano-americana. Exagero?
Provavelmente, mas que a história teria sido
outra, isso é inegável. Darío nasceu na cidade
de Metapa, Nicarágua. Escreveu para vários
jornais em sua terra natal, mas também em El
Salvador e Chile. Aliás, foi neste país que
publicou “Azul” (1888), seu primeiro e mais
notável livro.
É considerado o pai do Modernismo latino-
americano. Segundo Borges, “Darío renovou
tudo: a matéria, o vocabulário, a métrica, a
magia peculiar de certas palavras, a
sensibilidade do poeta e de seus leitores”.
Seu segundo livro mais importante foi o
“Prosas profanas” (1896) no qual ele realiza
experiências sonoras renovadoras. Mas ele

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acabou sendo muito criticado por esquecer
uma temática latino-americana, pois suas
poesias e prosas eram povoadas por imagens
míticas e exóticas, ambientes aristocráticos e
personagens idealizados. Darío queria criar
uma literatura de conteúdo universal. Por isso
se apoiou mais na mitologia européia.
Em seu último livro “Cantos de vida y
esperanza” (1905), por outro lado, ele reivin-
dicou a temática indígena latino-americana e
defendeu a união de todos os países ame-
ricanos de língua espanhola. Este livro per-
tence à última etapa do modernismo (que não
pode ser confundido com o modernismo brasi-
leiro) latino-americano, chamado de “mundo-
novista” pela temática voltada para as raízes
continentais.
Rubén Darío morreu em 1916 em seu país
natal.

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O PÁSSARO AZUL

Paris é um teatro divertido e terrível. Entre


os freqüentadores do Café Plombier, bons e
decididos rapazes – pintores, escultores,
escritores, poetas; sim, todos buscando os
velhos louros verdes! –, nenhum mais querido
do que aquele pobre Garcín, quase sempre
triste, bom bebedor de absinto, sonhador que
nunca fica bêbado e, como boêmio irrepreen-
sível, grande improvisador.
No quartinho caindo aos pedaços de nossas
alegres reuniões, o gesso das paredes guardava,

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entre os esboços e rasgos de futuros Delacroix,
versos, estrofes inteiras escritas na letra
descuidada e grossa do nosso pássaro azul.
O pássaro azul era o pobre Garcín. Não
sabem por que se chamava assim? Nós o
batizamos com esse nome.
Isso não foi um simples capricho. Aquele
excelente rapaz era muito melancólico. Quando
lhe perguntávamos por quê, quando todos
ríamos como insensatos ou menininhos, ele
enrugava a testa e olhava fixamente o céu
limpo, e nos respondia sorrindo com certa
amargura:
– Camaradas: precisam saber que tenho um
pássaro azul no cérebro; por esse motivo...
Acontecia também que gostava de ir às
campinas novas, ao chegar a primavera. O ar
do bosque fazia bem a seus pulmões, segundo
nos dizia o poeta.
De suas excursões costumava trazer ramos

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de violetas e grossos cadernos de madrigais,
escritos ao ruído das folhas e sob um amplo
céu sem nuvens. As violetas eram para Niní,
sua vizinha, uma garota cheia de vida e rosada,
que tinha os olhos muito azuis.
Os versos eram para nós. Nós os líamos e
aplaudíamos. Todos tínhamos um elogio para
Garcín. Era um talento que devia brilhar.
Chegaria o momento. Oh, o pássaro azul voaria
muito alto! Bravo! Muito bem! Ei, garçom, mais
absinto!
Princípios de Garcín:
Das flores, as lindas campânulas.
Entre as pedras preciosas, a safira.
Das imensidões, o céu e o amor;
quer dizer, as pupilas de Niní.
E repetia o poeta: Acho que sempre é
preferível a neurose do que a estupidez.
Às vezes, Garcín estava mais triste que de
costume.

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Andava pelos bulevares; via passar in-
diferente as luxuosas carruagens, os elegantes,
as lindas mulheres. Na frente da vitrine de um
joalheiro, sorria; mas quando passava perto de
uma livraria, se aproximava das vitrines, fa-
rejava e, ao ver as luxuosas edições, se decla-
rava decididamente invejoso, enrugava a testa;
para desafogar-se, voltava o rosto para o céu e
suspirava. Corria para o café atrás de nós,
comovido, exaltado, pedia seu copo de absinto
e nos dizia:
– Sim, dentro da gaiola de meu cérebro
está preso um pássaro azul que quer sua
liberdade...
Alguns chegaram a acreditar em um
descalabro da razão.
Um alienista, a quem se deu a notícia do
que acontecia, qualificou o caso como uma
monomania especial. Seus estudos patológicos
não deixavam dúvidas.

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Decididamente, o desgraçado Garcín estava
louco.
Um dia, recebeu de seu pai, um velho
provinciano da Normandia, comerciante de
tecidos, uma carta que dizia o seguinte, mais
ou menos:
“Sei de suas loucuras em Paris. Enquanto
permanecer desse modo, não receberá de mim
nem um único sou. Venha pegar os livros de
meu armazém, e quando tiver queimado, vadio,
seus manuscritos loucos, terá meu dinheiro.”
Esta carta foi lida no Café Plombier.
– E você vai?
– Não vai?
– Aceita?
– Desdenha?
Bravo, Garcín! Rasgou a carta e,
transbordando de alegria, improvisou algumas
estrofes, que acabavam, se mal não me recordo:

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Sim, serei sempre um vadio,
o qual aplaudo e celebro,
enquanto for meu cérebro
gaiola do pássaro azul!

A partir de então, Garcín mudou de caráter,


ficou falante, tomou um banho de alegria,
comprou um fraque novo e começou um poema
em tercetos, intitulado, como não podia deixar
de ser: O pássaro azul.
A cada noite, lia-se em nossa tertúlia algo
novo da obra. Aquilo era excelente, sublime,
disparatado.
Ali havia um céu muito lindo, uma campina
muito fresca, países criados magicamente pelo
pincel de Corot 1, rostos de crianças assomados
entre flores, os olhos de Niní úmidos e grandes;
e, por acréscimo, o bom Deus que envia voan-

1- Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875), pintor francês,


famoso por suas paisagens líricas e idealizadas.

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do, voando, sobre tudo aquilo, um pássaro azul
que, sem saber como nem quando, se aninha
dentro do cérebro do poeta, onde fica apri-
sionado. Quando o pássaro quer voar e abre as
asas e bate contra as paredes do crânio, os
olhos se levantam ao céu, se enruga a testa e
se bebe absinto com pouca água, fumando além
disso, para arrematar, um cigarro de papel.
Eis aí o poema.
Uma noite Garcín chegou rindo muito e, no
entanto, muito triste.
A bela vizinha tinha sido conduzida ao
cemitério.
– Uma notícia! Uma notícia! O último
canto do meu poema. Niní morreu. Vem a
primavera e Niní se vai. Poupem as violetas
da campina. Agora falta o epílogo do poema.
Os editores não se dignam a sequer ler meus
versos. Vocês logo terão que dispersar. Lei do
tempo. O epílogo deve se intitular assim: De

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como o pássaro azul alça vôo ao céu azul.
Plena primavera! As árvores florescidas, as
nuvens rosadas na aurora e pálidas pela tarde;
o ar suave que move as folhas e faz agitar a
palha com um barulho especial! Garcín não foi
ao campo.
Ei-lo aqui, vem com uma roupa nova ao
nosso amado Café Plombier, pálido, com um
sorriso triste.
– Meus amigos, um abraço! Abracem-me
todos, assim, forte; digam-me adeus, com todo o
coração, com toda a alma... O pássaro azul voa...
E o pobre Garcín chorou, nos estreitou, nos
apertou as mãos com todas as forças e se foi.
Todos dissemos:
– Garcín, o filho pródigo, procura seu pai,
o velho normando. Musas, adeus; adeus,
obrigado! Nosso poeta decidiu medir panos! Ei!
Um copo por Garcín!
Pálidos, assustados, entristecidos, no dia

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seguinte todos os paroquianos do Café
Plombier, que fazíamos tanto bulício naquele
quartinho caindo aos pedaços, nos achávamos
na habitação de Garcín. Ele estava em seu
leito, sobre os lençóis ensangüentados, com o
crânio rompido por uma bala. Sobre os
travesseiros havia fragmentos de massa
cerebral... Horrível!
Quando, recuperados do choque,
conseguimos chorar ante o cadáver de nosso
amigo, descobrimos que tinha consigo o famoso
poema. Na última página estavam escritas estas
palavras:
Hoje, em plena primavera, deixo aberta a
porta da gaiola ao pobre pássaro azul.
Ai, Garcín, quantos carregam no cérebro
essa mesma enfermidade!

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EL PÁJARO AZUL

París es teatro divertido y terrible. Entre los


concurrentes al Café Plombier, buenos y deci-
didos muchachos pintores, escultores, escri-
tores, poetas; sí, ¡todos buscando el viejo lau-
rel verde! —, ninguno mas querido que aquel
pobre Garcín, triste casi siempre, buen bebedor
de ajenjo, soñador que nunca se emborracha-
ba, y, como bohemio intachable, bravo impro-
visador.
En el cuartucho destartalado de nuestras
alegres reuniones, guardaba el yeso de las

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paredes, entre los esbozos y rasgos de futuros
Delacroix, versos, estrofas enteras escritas en la
letra echada y gruesa de nuestro pájaro azul.
El pájaro azul era el pobre Garcín. ¿No
sabéis por qué se llamaba asi? Nosotros le bau-
tizamos con ese nombre.
Ello no fue un simple capricho. Aquel
excelente muchacho tenía el vino triste. Cuando
le preguntábamos por qué, cuando todos reíamos
como insensatos o como chicuelos, él arrugaba
el ceño y miraba fijamente el cielo raso, y nos
respondía sonriendo con cierta amargura:
— Camaradas: habéis de saber que tengo
un pajaro azul en el cerebro; por consiguiente...
Sucedía también que gustaba de ir a las
campinas nuevas, al entrar la primavera. El
aire del bosque hacía bien a sus pulmones,
según nos decía el poeta.
De sus excursiones solía traer ramos de vio-
letas y gruesos cuadernillos de madrigales,

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escritos al ruido de las hojas y bajo el ancho
cielo sin nubes. Las violetas eran para Niní,
su vecina, una muchacha fresca y rosada, que
tenía los ojos muy azules.
Los versos eran para nosotros. Nosotros los
leíamos y los aplaudiamos. Todos teníamos una
alabanza para Garcín. Era un ingenio que
debía brillar. El tiempo vendría. ¡Oh, el pájaro
azul volaría muy alto! ¡Bravo! ¡Bien! ¡Eh, mozo,
más ajenjo!
Principios de Garcín:
De las flores, las lindas campánulas.
Entre las piedras preciosas, el zafiro.
De las inmensidades, el cielo y el amor; es
decir, las pupilas de Niní.
Y repetía el poeta: Creo que siempre es
preferible la neurosis a la estupidez.
A veces Garcín estaba mas triste que de
costumbre.
Andaba por los bulevares; veía pasar

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indiferente los lujosos carruajes, los elegantes,
las hermosas mujeres. Frente al escaparate de
un joyero sonreía; pero cuando pasaba cerca de
un almacén de libros, se llegaba a las vidrie-
ras, husmeaba y, al ver las lujosas ediciones,
se declaraba decididamente envidioso, arrugaba
la frente; para desahogarse, volvía el rostro
hacia el cielo y suspiraba. Corria al café en
busca de nosotros, conmovido, exaltado, pedía
su vaso de ajenjo, y nos decía:
— Sí, dentro de la jaula de mi cerebro está
preso un pájaro azul que quiere su libertad...
Hubo algunos que llegaron a creer en un
descalabro de razón.
Un alienista a quien se le dio la noticia de
lo que pasaba calificó el caso como una mono-
manía especial. Sus estudios patológicos no
dejaban lugar a duda.
Decididamente el desgraciado Garcín esta-
ba loco.

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Un día recibió de su padre, un viejo pro-
vinciano de Normandia, comerciante en trapos,
una carta que decía lo siguiente, poco más o
menos:
“Sé tus locuras en Paris. Mientras perma-
nezcas de ese modo, no tendrás de mí un solo
sou. Ven a llevar los libros de mi almacén, y
cuando hayas quemado, gandul, tus manuscritos
de tonterías, tendrás mi dinero.”
Esta carta se leyó en el Café Plombier.
—¿Y te irás?
—¿No te irás?
—¿Aceptas?
—¿Desdeñas?
¡Bravo, Garcín! Rompió la carta, y soltan-
do el trapo a la vena, improvisó unas cuantas
estrofas, que acababan, si mal no recuerdo:

¡Sí, seré siempre un gandul,


lo cual aplaudo y celebro,

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mientras sea mi cerebro
jaula del pájaro azul!

Desde entonces Garcín cambió de carácter,


se volvió charlador, se dio un baño de alegría,
compró levita nueva y comenzó un poema en
tercetos, titulado, pues es claro: El pájaro azul.
Cada noche se leía en nuestra tertulia algo
nuevo de la obra. Aquello era excelente, su-
blime, disparatado.
Allí había un cielo muy hermoso, una
campina muy fresca, países brotados como por
la magia del pincel de Corot 1, rostros de niños
asomados entre flores, los ojos de Niní húme-
dos y grandes; y por añadidura, el buen Dios
que envía volando, volando, sobre todo aque-
llo, un pájaro azul que, sin saber cómo ni
cuándo, anida dentro del cerebro del poeta, en

1- Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875), pintor francés


famoso por sus paisajes líricos e idealizados.

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donde queda aprisionado. Cuando el pájaro
quiere volar y abre las alas y se da contra las
paredes del cráneo, se alzan los ojos al cielo,
se arruga la frente y se bebe ajenjo con poca
agua, fumando además, por remate, un ciga-
rrillo de papel.
He ahí el poema.
Una noche llegó Garcín riendo mucho y, sin
embargo, muy triste.
La bella vecina había sido conducida al
cementerio.
— ¡Una noticia! ¡Una noticia! Canto último
de mi poema. Niní ha muerto. Viene la pri-
mavera y Niní se va. Ahorro de violetas para
la campiña. Ahora falta el epílogo del poema.
Los editores no se dignan siquiera leer mis ver-
sos. Vosotros muy pronto tendréis que disper-
saros. Ley del tiempo. El epílogo debe de titu-
larse así: De como el pájaro azul alza el vuelo
al cielo azul.

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¡Plena primavera! ¡Los árboles florecidos,
las nubes rosadas en el alba y pálidas por la
tarde; el aire suave que mueve las hojas y hace
aletear las cintas de paja con especial ruido!
Garcín no ha ido al campo.
Hele ahí, viene con traje nuevo, a nuestro
amado Café Plombier, pálido, con una sonrisa
triste.
— ¡Amigos míos, un abrazo! Abrazadme
todos, así, fuerte; decidme adiós, con todo el
corazón, con toda el alma... El pájaro azul
vuela...
Y el pobre Garcín lloró, nos estrechó, nos
apretó las manos con todas sus fuerzas y se
fue.
Todos dijimos:
— Garcín, el hijo pródigo, busca a su
padre, el viejo normando. ¡Musas, adiós; adiós,
gracias! ¡Nuestro poeta se decide a medir tra-
pos! ¡Eh! ¡Una copa por Garcín!

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Pálidos, asustados, entristecidos, al día
siguiente todos los parroquianos del Café
Plombier, que metiamos tanta bulla en aquel
cuartucho destartalado, nos hallábamos en la
habitación de Garcín. Él estaba en su lecho,
sobre las sábanas ensangrentadas, con el crá-
neo roto de un balazo. Sobre la almohada había
fragmentos de masa cerebral...
¡Horrible!
Cuando, repuestos de la impresión, pudimos
llorar ante el cadáver de nuestro amigo, encon-
tramos que tenía consigo el famoso poema. En
la última página había escritas estas palabras:
Hoy, en plena primavera, dejo abierta la
puerta de la jaula al pobre pájaro azul.
¡Ay, Garcín, cuántos llevan en el cérebro tu
misma enfermedad!

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Coleção/Colección

Os Imigrantes – Horacio Quiroga


Ciudad Ácida – Marcelino Freire
Uma Pena Extraordinária – Martín Kohan
Más allá de la calle – Rogério Augusto
O pássaro azul – Rubén Darío
Un acreedor del Ministerio de Economía –
Qorpo Santo

Próximos autores:
Claudinei Vieira - Brasil
Furio Lonza - Brasil
Glauco Mattoso - Brasil
Indigo - Brasil
Joca Reiners Terron - Brasil
Marcelo Barbão - Brasil
Marcos Cesana - Brasil
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Ronaldo Bressane - Brasil
Salvador Elizondo - México

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