Invenção de Orfeu
Invenção de Orfeu
Invenção de Orfeu
silentemente.
E nem as tocaste:
nem os silêncios.
Mas se não houvesse
propriamente voz...
O sono está.
amada presença,
V
só com o coração
sem correspondência,
Agora o sem senso
só com a vocação
de minhas lonjuras
Numas noites chegamos à janela,
de não existido,
e as mandíbulas do ar tanto nos
parado nos antes,
que os leitos rotos logo
nem sei de pecados,
Embora; escutai-me,
VIII
que eu falo com a voz
Se falta alguém nesses versos
inata que diz
pele vento interminável,
que a voz não é essa pelas arenas de estátuas,
exasperados invernos,
e
ombros de escova
inconfidentes comida,
quase abominadas dos corpos.
por oculta
as asas secas
paixão, caídas,
se intumesceram. E a relatividade
do espírito
ante seus netos calados;
Lírios eram
e incorporem-se a esse alvitre
subindo para
esse sabor de cortiça,
desceram
essas esponjas morridas,
cantando
essas marés estanhadas,
felizes
mesmo os ausentes e as vozes
agregações
aderidas a fragmentos
enfim
aí moram degredadas,
e tantas
IX
acotovelamentos,
m. Os desejos desgastes de
rgas e a barbárie
tão puro de todo o mal,
relativo, universal.
XII
O simples ar
de uma só corda
em curta raia,
mão de menino,
punhado escasso,
ar perfumado,
sem o alvoroço
dos vendavais;
anjo acolhido
XI
em róseo céu
pranto lavado,
Clodoveu ou Clodovigo?
chorar em ti
Éreis vós por acaso eles?
de arrependido,
Éreis vós aqueles nomes,
subir teus vales,
estes, e os demais já mortos,
amar teu pólen,
os mortos tão renovados
nunca escapar-me
nós mesmos sempre chamados
de tuas pétalas
Lutero, Lotário, otário,
cair com elas.
sim otário tão singelo,
XIII na inocência do ar coleado,
intranqüilas e veementes.
Uma janela aberta Ao zênite e areia em sede,
e um simples rosto hirto, asas das hastes pendidas,
e as pratas seriam o
O contro era um dia,
puro sonho de quem vive.
um dia futuro,
Todavia o sonho é como
e dentro do dia
as palmas dessas palmeiras.
incluído o conforme,
Eis as palmas.
e dentro o que foi
XIX
XVII
Roteiros vencidos
Um te exalou
compassam a festa:
nessa incidência:
a noiva está fria
céu, terra, mar;
no véu lamentado.
impermanência.
Três potros desfraldam-se
Outro te andou
três faces transcorrem
te indo e te vindo
no coche morrido,
pra te juntares,
em vão galopado.
te convergindo
O nome do noivo?
Quem te volou,
O nome da noiva?
esse te deu
O nome do diabo?
o sono no ar.
Três nomes corridos,
Esse te entoou
três sombras penadas
e te nasceu
no drama calado.
sem te acordar.
XX
me encontrareis,
No dia seguinte: entre um poema
oculto e claro,
te dana, te agita,
vivo ou demente,
te vinca de cruzes,
ou mesmo morto,
te envolve de nuvens. ou renascido
acontecidos,
sendo meu pai,
sucedo em mim,
meu filho e neto
depois vou indo
e aquele longe
fundo e arrastado
porém limiar,
na correnteza
malgrado e clâmide
que é de repentes.
aberta e alípede,
Morto incorrupto
foi argonauta,
guardo meus naipes
podia sê-lo
mais pressentidos,
se esse jacinto
intercadentes,
não fosse canto,
desordenados,
não há atavios, me patenteio,
precocemente executáveis;
minha progênie,
do sósia amado;
uns dementados,
quero sofrer-me,
outros co-réus,
quero imitar-me,
reconciliando-me
fico empunhado
com os mutilados
meu corpo no ar,
e este glossário
dependurado,
que é de meu sósia;
meio aderido
abastecido
a alguns palhaços
alego dores,
insimulados,
crescentes cargas;
portanto, instáveis, desse poema
beatificados;
ventos corteses
bem-parecidos XXI
vêm agitar
As portas finais,
nosso espantalho,
os cantos iguais,
enquanto as aves
os pontos cardeais,
canoramente
sempre obsidionais.
se desaninham
Os tempos anuais,
de nossos braços,
as faces glaciais,
ossos atados
as culpas filiais
a chão deitados,
sempre obsidionais.
chãos contestados
Os dois iniciais,
por figadais,
as dores tais quais,
mas afinal
os juízos finais
chãos estrelados
sempre obsidionais.
de algumas plantas
ambicionadas
XXII
por umas moças
em aços doces,
Quando menos se pensa
em gumes brandos
abrutamente a aprisionamos.
XXV
O que tu és, deusa, ignoramos,
Jorge de Lima