Iliada Simone Weil
Iliada Simone Weil
Iliada Simone Weil
Simone Weil
… os cavalos
Faziam ressoar os carros vazios pelos caminhos da guerra,
(VER PASSAGEM NO F. LOURENÇO)
É certo que o infeliz estava longe dos banhos quentes. Não era o único. Quase
toda a Ilíada se passa longe dos banhos quentes. Quase toda a vida humana se passa
longe dos banhos quentes.
A força que mata é uma forma sumária, grosseira da força. Quão mais variada
nos seus processos, quão mais surpreendente nos seus efeitos é a outra força, aquela
que não mata; isto é, aquela que ainda não matou. Vai matar seguramente, ou vai
matar talvez, ou então está suspensa sobre o ser que a qualquer instante pode matar.
De qualquer das formas, transforma o homem em pedra. Do poder de transformar um
homem numa coisa, matando-o, procede um outro poder, prodigioso de uma forma
bem diferente: o que faz uma coisa de um homem que ainda está vivo. Está vivo, tem
uma alma; é, no entanto, uma coisa. É um ser bem estranho uma coisa que tem uma
alma; é um estranho estado para a alma. Quem sabe o quão necessário é torcer-se e
dobrar-se a alma sobre ela mesma para se conformar com isso? A alma não é feita para
habitar uma coisa. Quando a isso é constrangida, não há nada nela que não sofra
violência.
Um homem desarmado e nu ao qual se aponta uma arma torna-se num cadáver
antes de ser tocado.