Revista Acácia Edição 53 - Maio 2023

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REVISTA MAÇÔNICA DIGITAL


Unidos pela Fraternidade Maçônica: Construindo uma ACÁCIA
Harmonia Duradoura
Publicação Mensal GRATUITA
Meus queridos Irmãos: ANO 5 – Nº 53 – MAIO 2023
Vivemos em uma época em que a
fraternidade e a harmonia parecem estar Administração:
ameaçadas por divisões, conflitos e
desigualdades que assolam nosso mundo.
No entanto, é exatamente nesses Wagner Tomás Barba
momentos de adversidade que devemos (L376)
nos unir em prol de um ideal maior: a
construção de uma sociedade baseada na
fraternidade e na harmonia. É chegada a
hora de repensarmos nossas atitudes,
enxergarmos uns aos outros como Irmãos Joaquim Domingues Filho
que somos, e trabalharmos juntos para
criar um futuro mais justo e pacífico. (L547)

A fraternidade é um valor essencial que transcende fronteiras,


raças, religiões e diferenças sociais. Ela é a essência da humanidade, o laço Conselho
invisível que conecta cada indivíduo ao outro. Quando cultivamos a
Omar Téllez (L329)
fraternidade, abrimos nossos corações para o próximo, mostrando
empatia, compaixão e solidariedade. Somente através da fraternidade Alessandro Zahotei (L605)
maçônica genuína podemos construir uma sociedade onde todos tenham Paulo da Costa Caseiro (L512)
igualdade de oportunidades, justiça e respeito. André Luís Almeida Nascimento (L188)
No entanto, a fraternidade maçônica não é apenas um sentimento Cláudio Sérgio Foltran (L184)
abstrato. Ela deve ser traduzida em ações concretas. Precisamos agir de Paulo Fernando de Souza (L547)
forma proativa para eliminar as barreiras que nos separam. Devemos Francisco Assis Javarini (L595)
buscar a compreensão mútua, ouvindo e valorizando as vozes daqueles
que não podem se pronunciar. Somente através do diálogo honesto e da Editor, Criador, Jornalista Responsável.
busca por soluções conjuntas poderemos alcançar a verdadeira harmonia.
Wagner Tomás Barba (L376)
A harmonia, por sua vez, é o resultado natural da fraternidade MTB 67.820/SP
maçônica em ação. Quando nos unimos como Irmãos, superando as
diferenças e trabalhando em conjunto, somos capazes de criar um ATENÇÃO:
ambiente propício para o florescimento humano. A harmonia envolve Os Artigos assinados são de
respeito mútuo, cooperação e a valorização da diversidade. Significa responsabilidade de seu autor e não
reconhecer que, apesar de nossas singularidades, compartilhamos a refletem, necessariamente, o pensamento
mesma essência humana e estamos interligados em uma teia indissolúvel
do Editor, Administração ou Conselho.
de relações.
Esta Revista está sendo enviada para
É hora de despertarmos transformador da fraternidade e da mais de 7.000 (Sete mil) Irmãos e as
harmonia. Juntos, podemos superar as divisões que nos afligem e construir propagandas são totalmente gratuitas.
um mundo melhor. Não podemos mais permitir que o ódio e a O objetivo desta Revista é integrar
intolerância prevaleçam sobre a compaixão e a solidariedade. Devemos os Irmãos e levar mais conhecimento
lembrar que, no final das contas, todos compartilhamos um destino maçônico.
comum e que, ao promover a fraternidade maçônica e a harmonia,
estamos construindo.
REVISTA GRATUITA
Ir Joaquim Domingues Filho PROPAGANDAS GRATUITAS
GRÃO MESTRE Adjunto da GLESP e membro da
ARLS Uniao e Lealdade, 547 GLESP E-Mail:
Or de Osasco/SP [email protected]
Administrador da Revista Acácia www.revistaacacia.com.br

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Ir Cídio Lopes de Almeida
Prof. Me. Doutorando em Ciências das Religiões
Faculdade Unida de Vitória
ARLS 27 de Setembro 773
Or de São Paulo/SP
GLESP
Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo

A maçonaria é um fenômeno social, tem suas


particularidades, mas continua a ser um aglomerado de pessoas e nesta chave pode ser
apreciado sob aspectos das ciências humanas e sociais. Não será tarefa vã abordar o
fenômeno sob a ótica da educação, filosofia, etc.

Partir de uma definição do que seja a Maçonaria, feita por ela


mesma, parece-nos pertinente. Neste sentido, para a Confederação da Maçonaria Simbólica
do Brasil -CMSB, a Maçonaria é uma “Filosofia de vida, com um sistema de moralidade e
ética social (...)” (CMSB, 06/10/22).
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Posto que é um fenômeno humano, articulado na forma de
Filosofia de Vida, podemos propor que ela pode e deve se servir de repertórios dos mais
variados conhecimentos para se organizar e estruturar suas atividades.

Neste quadro, partindo das Ciências das Religiões, um


campo científico estruturado formalmente pela CAPES sob o nome de Área 44, lançamos
algumas perguntas.

É conhecido que os fenômenos religiosos ou baseados em


filosofia de vida, distinguem-se por uma ideia de que há um “dentro" e um fora. Nos termos
de Mircea Eliade, um dentro enquanto sagrado e um fora como profano.

A pergunta, portanto, é: O que é este dentro da Maçonaria?


O que lhe é reservado, íntimo, particular?

Podemos rascunhar que seja uma tríade: convívio-fraterno-


filosófico. Contornar este aspecto seria negligenciar o que lhe é próprio, que é sua identidade.
Propor qualquer coisa que contorne este estar presente; face-a-face num dado ambiente,
reservado e que tem modos próprios de coordenar estas atividades do fazer-se presente, seria
destituir o que lhe é exclusivo e distintivo. Os maçons até utilizam o termo “profanar" a
Ordem, caso esta realidade seja desrespeitada. De resto, os demais fenômenos religiosos ou
de filosofia de vida também utilizam este método, seja o dentro da Igreja Católica ou em
outras tradições religiosas, tais como o Candomblé, a Umbanda, em que também podemos
verificar atividades mais reservadas aos membros ou iniciados e outras abertas ao público em
geral.

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Posto a primeira pergunta, levantamos uma segunda. Haveria
temas que não lhe seria exclusivo? Temas que são compartilhados com a vida fora do
Templo? A filosofia da Maçonaria seria a Filosofia Ocidental? Portanto, Sócrates, Platão,
Aristóteles, Kant, seriam também do interesse da Maçonaria? Os temas filosóficos tratados
por estes filósofos serviriam para a organização da vida maçônica, que é baseada em uma
dada filosofia de vida?

Portanto, quando lemos num manual (ritual) da Maçonaria e


lá encontramos que ela incentiva a livre investigação e noutras partes até mesmo fala de
Filosofia, de
lógica/dialética, gramática e
retórica, podemos
considerar que não será
estranho aos seus objetivos
a Filosofia estudada na
Universidade. Será válido
para o maçom, por
exemplo, ler a obra Crítica
da Razão Prática ou Crítica
do Juízo (Gosto) do
filósofo Kant, pois como
dissemos, ela mesma
incentiva por um lado a
livre investigação, por
outro, faz menção direta ao
repertório de conteúdos da
Filosofia Ocidental. E por
ter como objetivo geral
uma filosofia que
justamente orienta o viver
imerso na vida social, submetido às demais dinâmicas da vida social, cultivar o conhecimento
filosófico e outros mais parece ser algo desejado e pertinente para o ser maçom.

Avançando nesta comparação com outros fenômenos, ao


lançar mãos da história dos fenômenos religioso do Ocidente e mesmo da história da
Filosofia, podemos verificar variados pontos de contato e que podem contribuir para na
operacionalização daquilo que lhe é de interesse exclusivo. E que esta aproximação não irá
lhe privar do seu específico, daquilo que só se prática dentro do Templo Maçônico e como
maçom.

Um ponto importante a salientar é que de fato a Maçonaria


não é religião. Sobretudo quando temos em tela apenas o fenômeno da religião cristã, que se
organiza em torno da ideia de um deus único. Este tema torna-se mais plural quando
retomamos aquilo que na cultura da Grécia Antiga era também chamado de religião, pois se
dava noutra referência, e que era organizada de modo bem diferente da tradição cristã. Pelo
que aproximar destas tradições, cristã ou grega, não é para retirar este lugar que os maçons
apreciam ser um dos seus distintivos. Por uma questão de respeito e ética em pesquisa,

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considera-se relevante que os mesmos não desejam ser tomados como uma religião. Mesmo
que no contexto maçônico temos palavras e expedientes semelhante a fenômenos religiosos.
O templo maçônico, o segredo/mistério maçônico, o tempo sagrado, o tempo profano,
iniciação aos mistérios, são exemplos de palavras e termos que tem nítida partilha com o
religioso no geral, mas que difere
efetivamente do que seja a
religião cristã e uma ideia popular
do que seja religião. Em muito a
disciplina Ciências das Religiões
Comparadas pode contribuir
muito com a Maçonaria neste
sentido, sem falar na disciplina
Linguagem das Religiões, entre
outras disciplinas.

A primeira aproximação,
nesta comparação, portanto, será
conhecer o que eram os
fenômenos religiosos na Grécia
Antiga. Detalhar o que eram os
aedos, espécie de poetas e
religiosos, pelo que em muito
poderá contribuir com a ruptura
de uma visão hegemônica do que
seja religião e fazer surgir o que
seja este universo da Filosofia de
Vida. Permitindo que os maçons
avancem na compreensão do que
são enquanto fenômeno baseado
em filosofia de vida. Rompendo
em definitivo em dialetizar, e
neste sentido marcar a si neste
processo de negação, com um
momento histórico em que
fizeram oposição ao poder político da Igreja Católica Apostólica Romana. Pelo que a
maçonaria se situou no bojo do nascente pensamento Liberal do século XIX e daí cultivou
outras perspectivas de mística e compreensão do sagrado. Sendo em certa medida o desejo
da Maçonaria em divisar-se do religioso segundo este contexto histórico, e não uma questão
com o sagrado e a mística em geral. Compreender a religião grega e sua rica interação com a
Filosofia nascente nos séculos VI e V a. C. trará muitos ganhos para uma sociabilidade que
se vê como uma Filosofia de Vida.

Uma segunda aproximação história a ser investigada, seria o


momento dentro do cristianismo em que a fé cristã teve seu encontro cultural com a tradição
filosófica grega ou Greco-helenística, lá pelos séculos II e III d.C. Processo histórico que tem
muito a ensinar sobre este diálogo do que é específico de um grupo e como ele passa pelo

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processo de confrontar e negar um outro que se mostra a ele, parecendo ser mesmo oposto,
neste primeiro momento. Para uma segunda etapa, na qual o cristianismo assume para si a
filosofia grega e passa a trata-la como parte inerente da sua mensagem. Este processo tem
muito a colaborar com a Maçonaria, que vive em nossos dias dilemas de como lidar com a
vida “profana” e o que seja próprio da maçonaria, seu objetivo de existir.

Ainda no interior do cristianismo, mas já dando um salto


histórico para o século XI e XII d.C., o momento histórico do surgimento das Universidades,
tem muito a dizer sobre o cultivo do
conhecimento profano e o que é específico
do culto religioso. Neste quadro histórico
o interesse maçônico será sobre
compreender como a Igreja Católica
Apostólica Romana fez a gestão entre
aquilo que era próprio do culto religioso e
da própria hierarquia da Igreja, com a vida
do conhecimento própria dos ambientes
acadêmicos. Não foi um processo fácil,
pois sempre houve preocupação da Igreja
em não deixar que o seu específico fugisse
ao seu controle. E só muitos séculos depois
é que este processo foi se separando, até
chegar em nossos dias, que a vida
universitária não se mostra como uma
concorrente ao que seja o específico da
Igreja Católica Apostólica Romana, pelo
contrário, consolida o seu papel na vida
social em geral.

A aproximação
entre a Igreja e o conhecimento acadêmico
é um bom exemplo para se pensar sobre
manter-se no seu específico e dialogar com
o mundo em geral. Este tema, portanto,
produziu uma longa fortuna pelo que deste modo oferece uma ampla referência de
comparação para a Maçonaria, que enfrenta em nossos dias certa resistência em relacionar-
se com o mundo acadêmico universitário. Pelo que podemos compreender de partida que é
possível se servir dos mais diversos saberes sem perder-se neles.

Outro fenômeno importante de ser observado neste domínio


do religioso versus os estudos, será a partir do fenômeno sócio religioso chamado Reforma
ou Reforma Protestante. Neste quadro, em linhas muito gerais, podemos dizer que houve um
incentivo ao conhecimento, incialmente no contato direto com o texto sagrado dos cristãos,
mas que operou posteriormente uma série de modificações, tais como compreender que o
mundo também é parte daquele sagrado, antes restrito a um dado espaço e a uma dada classe
de pessoas. Fazendo avançar que o específico de um dado culto não se perderia ao ser visto
não apartado do mundo humano, mas imerso nele. Verificando que o viver neste mundo não

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afasta do sagrado, e que será em meio dele que se continuará a verificar o que é próprio do
cristão reformado e o que é do mundo.

O protestantismo, neste sentido, poderá fornecer elementos


para a Maçonaria pensar o que é o seu específico, e que deve ficar restrito ao sem espaço
sagrado (Templo), e o que poderá ser praticado em outros espaços, a exemplo dos
Protestantes que passaram a considerar a vida toda como obra de Deus, e neste quadro,
levando a ideia do sagrado a esferas até então concebidas como profanas. E sob certos
aspectos, permitindo certos cenários de modificações sociais antes nem mesmo pensadas.

Enfim, sobre o tema estudos na maçonaria ou da maçonaria,


creio que esta comparação histórica tem a contribuir com alguns dilemas e problemas
enfrentados no interior da maçonaria em nossos dias. Seja eles sobre faixa etária de quem
deseja ser maçom, fazendo aumentar nos seus quadros de adeptos pessoas mais jovens, seja
no sentido de tornar as atividades da Ordem relevantes, tanto para os próprios membros,
bem como para a vida social em geral. Ademais, para não deixar uma rica metodologia de
formação humana, baseada em Filosofia de Vida, esmoreça e não consiga fazer frente aos
desafios de nossa época a via dos estudos acadêmicos como parte do que seja ser maçom não
pode ser dispersada e vista em segundo plano. Será fundamental esta integração.

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Ir Valério de Oliveira Mazzuoli
Assessor e Consultor Jurídico do
Grande Oriente do Estado de Mato Grosso – GOEMT
Benemérito da Ordem e Membro-titular
do Ilustre Conselho do GOEMT.
Obreiro da BCARLS Conquista e Integração nº 8 (REAA)
e filiado à ARLS Cuyabá nº 88 (Rito de York)
Or Cuiabá – MT

No interior de um Templo Maçônico que adota o


REAA encontram-se doze colunas zodiacais, estando seis ao Norte e seis ao Sul. No
pórtico do Templo, do lado exterior, há duas grandes colunas de bronze (colunas “B” e “J”)
de trinta e cinco côvados de altura, doze de circunferência e quatro de diâmetro, com um
capitel sobre cada uma, com cinco côvados de altura cada qual, conforme as conhecidas
medidas bíblicas.

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Há, portanto, nos Templos que adotam o REAA,
quatorze colunas aparentes, somando-se as colunas “B” e “J” externas às doze colunas
zodiacais internas. Tais colunas têm significado e simbolismo ímpares, sendo sobremaneira
abrangente o seu campo de estudo e os significados que cada qual apresenta.

No que tange às colunas zodiacais, a sua investigação é


emblemática na tradição maçônica, por trazer à luz o conhecimento sobre as fases da vida
humana e da passagem de um grau simbólico a outro, partindo da iniciação, passando pelo
companheirismo e chegando ao mestrado.

Trata-se da investigação sobre o duodenário, que representa


a divisão mais antiga e natural do círculo. Em termos geométricos, o duodenário está formado
por dois diâmetros que se cruzam em ângulos retos e por quatro arcos, de raio idêntico ao da
circunferência, traçados e tendo como centro os pontos extremos da cruz.

Essa é uma divisão que completa o ciclo do ano, com doze


meses, certo de que cada mês guarda uma representação zodiacal própria. O iniciar e o findar
de um ano representa o ciclo da vida dividido em etapas, que se renova a cada final de
dezembro e início de janeiro, e assim por diante.

O planeta Terra faz o seu movimento de translação, que é


aquele realizado em torno do Sol, com duração de 365 dias, 5 horas e 47 minutos, movendo-
se a uma velocidade orbital média de 29,78 quilômetros por segundo. Pelo fato de o ano civil
ser contado em dias, a cada quatro anos realiza-se o chamado ano bissexto, que compensa as
quase seis horas anuais não computadas na divisão dos dias. Daí o motivo de ser acrescentado
mais um dia (29 de fevereiro) ao calendário gregoriano.

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O duodenário zodiacal fixa-se em símbolos que representam
cada qual das doze divisões do ano, baseados em animais (v.g., Áries, cujo símbolo é um
carneiro; Câncer, cujo símbolo é um caranguejo), em seres mitológicos (v.g., sagitário, cujo
símbolo é um centauro) e outros seres animados (v.g., Gêmeos e Virgem), à exceção apenas
de Libra, cuja representação é um objeto (balança).

Importa também esclarecer que o duodenário zodiacal tem


estreita ligação com sete astros, que se ligam aos signos agregando-lhes potência e vigor, na
seguinte ordem:

SOL Leão
LUA Câncer
MERCÚRIO Gêmeos e Virgem
VÊNUS Touro e Libra
MARTE Áries e Escorpião
JÚPITER Peixes e Sagitário
SATURNO Aquário e Capricórnio

Como se não bastasse, cada um dos signos do zodíaco


comporta as características e vibrações intrínsecas de um dos quatro elementos da natureza,
na seguinte divisão de quatro (elementos) por três (signos):

FOGO Áries, Leão e Sagitário


TERRA Touro, Virgem e Capricórnio
AR Gêmeos, Libra e Aquário
ÁGUA Câncer, Escorpião e Peixes

Portanto, os signos zodiacais são compostos de dois pilares


fundamentais, sendo o primeiro um dos sete astros referidos (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter e Saturno), e o segundo um dos quatro elementos da natureza (fogo, terra, ar
e água). Essa combinação entre astros e elementos da natureza caracteriza e atribui significado
próprio a cada um dos signos, os quais também passam a emprestar à tradição maçônica as
suas respectivas interpretações.

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Ademais, quando se analisa a personalidade de cada
indivíduo, percebe-se que, de fato, as características presentes nos signos – completadas pelas
suas relações com os
astros e os elementos da
natureza – transpõem-se,
em certa medida, para os
seres humanos, ainda
que cada qual se distinga
um dos outros pelas suas
ações e atos, nem
sempre pautados por
conexões astrais. No
entanto, não há dúvidas
de que os signos (e suas
combinações) exercem
certa influência nas
características intrínsecas
de cada indivíduo e, por
isso, são objeto de
estudo maçônico.

A presença
no Templo de seis
colunas ao Norte e seis
ao Sul, cada qual
representativa de um signo, é emblemática dessa tradição em compreender a vida e as atitudes
humanas por meio do simbolismo zodiacal.

Como se não bastasse, o duodenário zodiacal guarda estreita


relação com os três graus simbólicos da maçonaria, sendo as seis colunas do Norte relativas
ao grau de Aprendiz, a primeira coluna do Sul (Libra) relativa ao grau de Companheiro, e as
demais colunas do Sul relativas ao grau de Mestre.

Abaixo do capitel de cada coluna vêm fixados os signos do


zodíaco respectivos, a começar por Áries e terminando com Peixes. Também, em cada qual
das doze colunas os signos respectivos aparecem com um símbolo de Ativo ∆ e Passivo∇,
na seguinte ordem:

ATIVOS Áries, Gêmeos, Leão, Libra, Sagitário e Aquário


PASSIVOS Touro, Câncer, Virgem, Escorpião, Capricórnio e Peixes

Portanto, os doze signos do zodíaco guardam, cada qual, uma


representação própria no universo maçônico, perfazendo o caminho e o labor do Aprendiz,
sua passagem para o grau de Companheiro e a chegada ao grau de Mestre Maçom.

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Destaque-se que o número doze aparece fortemente no
Apocalipse, Capítulo 21, Versículos 12 a 14, ao descrever a cidade santa de Jerusalém, nos
seguintes termos: “Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e,
sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas
se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze
fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro”.

A repetição do mesmo numeral também se faz presente na


abertura ritualística do REAA, quando o Venerável Mestre dá três batidas com o
malhete, seguidas de três batidas do Primeiro Vigilante, três batidas do Segundo Vigilante e
três batidas do Cobridor Interno, computando-se doze batidas dentro do Templo.

O Cobridor Externo, a seu turno, também empreende três


batidas fora do Templo, perfazendo, agora, o número de quinze batidas ao todo. Dessas
quinze batidas, conhecemos as quatorze colunas respectivas, que são, repita-se, as colunas “B”
e “J” (fora do Templo) e as doze colunas zodiacais (dentro do Templo). Em princípio,
portanto, estaria sobrando uma batida e, consequentemente, faltando uma coluna no
Templo.

No entanto, a décima quinta coluna existe e está em lugar


privilegiado dentro do Templo. Porém, trata-se de uma coluna invisível aos olhos humanos,
podendo apenas ser sentida, e, ainda assim, não por todos os Irmãos, senão apenas por
aqueles muito concentrados e cujo pensamento está, efetivamente, elevado ao Grande
Arquiteto do Universo. A décima quinta coluna é superior às colunas externas “B” e “J” e às
doze colunas zodiacais internas, tanto em poder quanto em exuberância.

A décima quinta coluna é aquela que agrega em sua


dimensão todas as demais quatorze colunas do Templo, unindo-as em uma força espiritual
única. Esta coluna invisível não apresenta nenhuma forma ou característica própria, além de
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não comportar em sua estrutura qualquer um dos signos, revelando-se, por isso, única em
todos os sentidos. Também não se trata de uma coluna Ativa ∆ ou Passiva ∇, sendo, pelo
contrário, a simbiose dessas duas atividades, formando, com a junção dos triângulos Ativo ∆
e Passivo ∇, uma estrela de seis pontas (Estrela de Davi) que representa a união do masculino
com o feminino e a ligação da Terra com o Céu.

Aonde, então, se encontra a décima quinta coluna no


Templo? A décima quinta coluna é aquela que se ergue a partir do Altar dos Juramentos e se
eleva até o Grande Arquiteto do Universo, num feixe de luz branca e potente, visível apenas
em pensamento e em estado de profunda reflexão, ao elevarmos os nossos pensamentos a
Deus. Esta coluna é formada pelo Ativo ∆ e pelo Passivo ∇ conjuntamente, gerando o
hexagrama que permite unir a Loja (a Terra) a Deus (os Céus).

Esta coluna invisível, edificada em forma de luz, se levanta a


cada abertura do Livro da Lei nas Lojas. Aberto o Livro da Lei, a sua luz branca e radiante
rompe a abóboda do Templo e atinge os Céus, chegando até o Grande Arquiteto do
Universo, para que Ele guie, com toda a Sua sabedoria, os trabalhos que terão início naquela
sessão.

A décima quinta coluna, edificada sobre o Altar dos


Juramentos e de altura infinita, consubstancia-se na somatória espiritual das luzes postas nos
altares em que se assentam o Venerável Mestre, o Primeiro e o Segundo Vigilantes,
determinando a unidade do espírito, tal a unidade da santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo.

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Enfim, a “coluna das colunas” – que não guarda quaisquer
características das demais, quer em forma, quer em simbologia – é, em última análise, o
verdadeiro sustentáculo dos trabalhos em Loja, pois liga a Oficina ao Grande Arquiteto do
Universo, para o fim de orientar e guiar todas as atividades empreendidas, sem o que o
edifício maçônico não contará com fundamentos sólidos, e nós, maçons, não lograremos
jamais encontrar a Verdade.

BIBLIOGRAFIA:

CASTELLANI, José. Maçonaria e astrologia. 2. ed. rev. São Paulo: Landmark, 2002.
BARIANI, Walter de Oliveira. A perfeição possível: o mestre. 2. ed. São Paulo: A Gazeta
Maçônica, 2009.
DA CAMINO, Rizzardo. Simbolismo do terceiro grau: mestre. 5. ed. São Paulo: Madras,
2014.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Da pedra bruta à pedra cúbica: ensaios de evolução do
aprendiz ao companheiro. Cuiabá: Umanos, 2022.
WIRTH, Oswald. O simbolismo astrológico: a relação da linguagem astrológica com as
ciências e artes ocultas. Trad. Claude Gomes de Souza. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

16
Ir Gustavo Perim
ARLS Independência,01
GLMEES
Or de Vitória/ES

Um L⸫ da L⸫ ou L⸫ S⸫, pode ser brevemente definido


como sendo transcrições realizadas por escolhidos, onde, tais transcrições, seriam revelações
inspiradas por um ou mais seres superiores dignos de adoração. Nele, estão contidas
doutrinas, ensinamentos e mandamentos que entrelaçam o homem ao espírito e ao todo.

Na China, o L⸫ da L⸫ poderia ser o Yi-King, escrito por Fo-


Hi, ou os livros escritos por Lao-Tse, fundador do Taoísmo, ou ainda alguns dos Livros
Clássicos Confucionistas. Na Índia, seriam os Livros Sagrados Vedas do Hinduísmo ou o

17
Bhagavad Gitã, o Canto do Bem-Aventurado, atribuído à Krisna. No Japão seria o Tripitaka
do Budismo ou o Nihongi do Xíntoísmo. Em países islâmicos o Alcorão, em judaicos a Torá
e em cristãos a Bíblia Sagrada.

No ocidente, o L⸫ da L⸫ comumente utilizado é a Bíblia


Sagrada, sendo a
utilização de outros LL⸫
da L⸫ um ponto de
polêmica entre
estudiosos da cultura
Maç⸫.

No entendimento de
alguns estudiosos, como
a M⸫ é universal,
tolerante e sem vínculos
religiosos, a L⸫ usaria o
L⸫ da L⸫ da religião
predominante do local
de origem e
acrescentaria outros
LL⸫ da L⸫ caso
iniciassem obreiros de
religiões diferentes.

No entanto, outra vertente vê, como única possibilidade, a


utilização da Bíblia Sagrada como L⸫ da L⸫. Isso se dá, porque a Maç⸫ anglo-saxônica a vê
como um guia único ao caminho de Deus.

A Grande Loja da Inglaterra recomenda apenas a Bíblia


como L⸫ da L⸫ a ser utilizado, dada sua origem de mestres construtores de igrejas e catedrais
sob a influência da Santa Igreja na Idade Média.

A prática de utilizar um L⸫ da L⸫ oficializou-se em 1717, a


partir da Grande Loja da Inglaterra, no entanto há referências ao seu uso a partir de 1670.

ABERTURA DO L⸫ DA L⸫ EM LOJ⸫ MAÇ⸫

Como é sabido, toda L⸫ M⸫ tem de ter um L⸫ da L⸫, mas


ele não é utilizado da mesma forma em todos os ritos, como por exemplo:

 Rito Moderno ou Francês: Não há abertura nem leitura;


 Rito Schröder: Não há abertura nem leitura;
 REAA - Original: Não há abertura nem leitura;
 REAA - Atual: Abertura e leitura, como o fazem as Grandes Lojas americanas;

18
 Rito Brasileiro: Abertura e leitura;
 Rito de Emulação: Abertura sem leitura;
 Rito Adonhiramita: Abertura e leitura;
 Rito Escocês Retificado: Abertura e leitura.

No que diz respeito ao REAA, a leitura de trechos nos três


graus simbólicos foram se firmando conforme ocorreram a evolução dos rituais franceses no
século XIX.

No Brasil a abertura
do L⸫ da L⸫ em L⸫ de Apr⸫ M⸫ no REAA era
feita no evangelho de São João até 1952, no
entanto, neste mesmo ano, mudou-se para o
Salmo 133. Isso ocorreu absorvendo-se o que era
feito nas Grande Lojas Americanas. No entanto,
muitos discordam dessa mudança, pois, nos EUA,
não se trabalhava no REAA, mas sim no Rito de
York, maioria até os dias atuais, onde se lê o
Salmo 133 apenas durante as iniciações.

EU DEVO ME ESFORÇAR PARA


CONHECER A VERDADE E SEMPRE
TENTAR PRATICÁ-LA!

BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA SAGRADA DE JERUSALEM

CAMINO, Rizzardo - Introdução à Maçonaria

JUK, Pedro – Leitura e Abertura do Livro da Lei

LIGOU, Daniel traduzido por FILARDO, José – A Bíblia dos Maçons

LIRA, Jorge Buarque – As vigas mestras da Maçonaria.

TAHA, Yassin – Abertura da Bíblia: Salmo 133

19
Ir Hercules M. Rozo
ARLS “Martim Afonso – Samaritá” Nº 450 – GLESP
Or Santos/SP
Inspetor do Rito - Sup.·. Cons.·. Do Grau 33º R.·. E.·. A.·. A.·. para a
República Federativa do Brasil

Para os fãs do personagem Robert Langdon (o fictício


professor de simbologia e alegorias da Universidade de Harvard/EUA, interpretado no
cinema pelo ator Tom Hanks), criado pelo escritor americano Dan Brown (autor dos livros
“Anjos e Demônios”, “O Código Da Vinci” e “O Símbolo Perdido” entre outros) é a
oportunidade de encontrar um cenário ideal que inspiraria um enredo repleto de mistério e
pródigo de interpretações.

Em cada canto vislumbram-se referências mitológicas,


literárias (Virgílio, Dante, Camões), religiosas (Ordem de Cristo) ou místicas. Os elementos
arquitetônicos e decorativos conjugam referências pagãs, cristãs, rosa-cruz, alquimia,
templária (notadamente na capela), misticismo judaico e maçônicas. Na apresentação, vou
me ater aos símbolos, alegorias voltadas à maçonaria.

20
A Quinta da Regaleira ficou muito famosa por causa do Poço
Iniciático e é a razão pela qual 9 entre 10 pessoas vão até lá. Muitos visitantes entendem que
seria uma visita rápida veria o poço, o palacete e pronto. Como se enganam (e que bom)!

A Quinta da Regaleira está situada no limite do Parque


Natural de Sintra-Cascais, mais especificamente na encosta Norte da Serra de Sintra. Por isso
não é difícil a formação de nevoeiro, o que reforça sua aura de mistério.

O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais


comum da Quinta da Regaleira. Também é designado Palácio do Monteiro dos Milhões,
denominação está associada ao apelido do seu primeiro proprietário, Dr. António Augusto
Carvalho Monteiro.

Dr. António Augusto Carvalho Monteiro, o célebre


“Monteiro dos Milhões”, nascido no Rio de Janeiro, com ascendência portuguesa, era o
herdeiro de uma grande fortuna familiar, multiplicada com o comércio de café e de pedras
preciosas no Brasil. Ele foi entomologista (especialista em insetos), refinado colecionador
(relógios, instrumentos musicais, pratas artísticas, antiguidades) e bibliófilo, sendo
considerado um homem culto e estudioso de Filosofia. Distinguiu-se ainda pela filantropia.

Dr. Carvalho Monteiro


* 1848 + 1920

21
Dr. António Augusto Carvalho Monteiro, ajudado pelo
arquiteto italiano Luigi Manini, dá à Quinta de 4 hectares, o palácio, jardins luxuriantes, lagos,
grutas e edifícios enigmáticos. Lugares estes que escondem significados relacionados com a
Maçonaria, Alquimia, Templários, a e Rosa-Cruz. Modela a Quinta da Regaleira em traçados
que evocam a arquitetura românica, gótica, renascentista e manuelina.

Arq. Luigi Manini


* 1848 + 1936

MAÇONARIA, SÍMBOLOS E ALEGORIAS NA QUINTA DA REGALEIRA

Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina


ou técnica de expressão simbólica, reservada aos iniciados. O esoterismo é, pois, o conjunto
de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma tradição multifacetada que
abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Maçonaria, por exemplo, incorpora teorias,
rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do esoterismo.

O esoterismo baseia-se, fundamentalmente, na lei das


correspondências, que visa encontrar, através do recurso da analogia, relações simbólicas
entre o divino e o terreno, entre o visível e o invisível, entre o homem e o universo.

A passagem de uma a outra dimensão opera-se em


cerimônias de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o
neófito recebe o segredo da transmutação, e após a cerimônia é aceita a sua filiação no grupo
de irmãos, ascendendo a um nível espiritual superior.

A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das


confrarias, das corporações, dos agrupamentos profissionais de pedreiros livres e dos
construtores das catedrais medievais.

À defesa dos interesses profissionais, juntavam os franco-


maçons preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso. Os grupos maçónicos,
organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter
exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão, mas que
compartilhavam os mesmos ideais Iniciáticos.

O declínio das confrarias origina a Maçonaria Moderna,


chamada especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção,
tendo utensílios como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente
simbólico.

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Grande parte da simbologia maçónica inspira-se em
correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo e são mostrada
em símbolos e alegorias em diversos locais da Quinta da Regaleira.

PONTOS DE INTERESSE

Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço


grandioso, em que vivesse rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses
e ideologias.

JARDINS

A Quinta da Regaleira possui quatro jardins, horta, pomar e


bosque, com uma grande variedade de árvores (tanto ao redor do palácio como na formação
da mata mais fechada), destacando-se palmeiras, carvalhos, castanheiros, azinheiras, tílias e
pinheiros entre outras.

BOSQUE

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Existe uma intencionalidade até mesmo na definição e
localização de algumas espécies, como por exemplo a palmeira e a tamareira, consideradas
símbolos de renascimento, porque os gregos chamavam de “Fênix” árvores da mesma família
(aquela que renasce das próprias cinzas).

PATAMAR DOS DEUSES

O Patamar dos Deuses é composto por 9 estátuas dos deuses


greco-romanos. Este patamar transporta-nos para a Antiguidade Clássica onde estátuas
alinhadas de nove deuses acompanham o viajante durante o percurso interior e ajudam-no
através dos aspetos que retratam. Estes deuses são: Hermes, Vulcano, Dionísio ou Baco, Pã,
Ceres, Flora, Vénus, Orfeu e Fortuna. Vigiando o Patamar está a estátua de um leão, que
simboliza o sol e é o simbólico alquímico do ouro. Isto está também ligado ao culto maçônico.
A mitologia clássica foi uma das inspirações de Carvalho Monteiro para os jardins da
Regaleira.

LÓGGIA DE PISÕES

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A Loggia é uma construção no estilo neomanuelino, é uma
entrada lateral que dá acesso aos jardins da Quinta. É um tipo de estrutura arquitetônica muito
utilizada na Itália, semelhante a uma varanda coberta e está situada no extremo da alameda
que faz a ligação com o Palácio da Regaleira. Coincidentemente, a palavra “loggia” em italiano
é também usada no sentido de “loja maçônica”

POÇO INICIÁTICO

O poço é uma torre invertida com cerca de 27 metros de


profundidade. A descida é feita através de uma escadaria com nove níveis em espiral. Aqui o
número nove tem uma simbologia relacionada com a “Divina Comédia” por serem nove os
círculos do Inferno e do Paraíso que Dante atravessa. São também nove os meses que uma
criança demora a nascer. É, de qualquer forma, um número relacionado com o nascimento
ou com uma nova vida. O número 9 não é ao acaso, em muitas línguas europeias, semelhante
à palavra novo, como em português: novo e nove, em francês: neuf e neuve, em alemão: neun
e neu, em espanhol: nueve e nuevo, em inglês: nine e new. O número 9 está assim associado
à transição do velho para o novo.

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Entre cada patamar há 15 degraus. No tarot de Marselha, a
carta nº15 é a carta do Diabo, das provações e tentações, o que pode representar as
dificuldades sentidas na viagem interior. No fundo do poço, está embutida em mármore uma
rosa-dos-ventos na qual se inclui também uma cruz templária.

No pavimento do fundo do Poço Iniciático está desenhada


uma cruz templária (cruz pátea) com a sobreposição de uma estrela de oito pontas, que é a
representação do brasão de Carvalho Monteiro – mas também um símbolo
associado a Ordem Rosa Cruz.

É uma sensação indescritível estar no “ventre da terra” e


olhar para o alto e enxergar o céu (ainda mais num dia ensolarado). A eterna dualidade entre
a escuridão do subterrâneo e a luminosidade da superfície – que evoca o nascimento ou
também o contraste entre as trevas da ignorância e a luz do conhecimento.

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PERCURSOS SUBTERRÂNEOS

Conjunto de galerias, construídas de forma a aproveitar as


características geológicas, predominantemente graníticas, da Serra de Sintra e que interligam
as várias construções espalhadas pela Quinta da Regaleira.

Presume-se que exista uma intensa carga simbólica nesses


caminhos (que lembram um labirinto) e muitas teoriasalimentam as discussões sobre seus
significados: morte/ressurreição; trevas/luz; fim/começo…

Não são formações naturais. Foram totalmente construídas


pelo arquiteto e cenógrafo Manini, conforme os desejos de Carvalho Monteiro, como
entradas para o “labirinto subterrâneo”.

Envolvendo aqui três dos quatro elementos vitais presentes


na Iniciação Maçônica: a Terra por onde as grutas nos levam, a Água porque encontramos
lagos interiores e exteriores às grutas e o Ar porque há múltiplas aberturas por onde podemos
sentir a brisa ao passar. Antigamente, cabia ao visitante introduzir o quarto elemento, para
iluminar sua caminhada: o fogo (munido de velas ou tochas).

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LAGO DA CASCATA

O Lago da Cascata pode ser atravessado por uma ponte e


apresenta um formato irregular, rodeado por um caminho onde estão dispostos canteiros de
flores e bancos.

Caminha-se nas 15 pedras sobre o espelho d’água no Lago


da Cascata. Esta é outra maneira de alcançar a entrada do percurso subterrâneo. Inicia-se a
caminhada sob as pedras com o pé esquerdo.

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CAPELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Capela da Santíssima Trindade possuí diversos símbolos e


alegorias que aludem a Maçonaria e a Ordem dos Templários (que não foi extinta em
Portugal, como ocorreu em toda a Europa, mas sim recriada como Ordem de Cristo).

No piso em mosaico da Capela avista-se a esfera armilar (ou


globo celeste) sob a Cruz da Ordem de Cristo, rodeada de pentagramas (estrela de cinco
pontas, que representa a figura do homem que domina o espírito sobre a matéria, a
inteligência sobre os instintos). O seu simbolismo alude ainda à Ordem de Cristo, herdeira
da missão Templária.

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A Cruz Templária da Ordem de Cristo no pavimento da
Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do
templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro.

A concepção estritamente religiosa não foi determinante na


edificação da Capela, que abriga múltiplos simbolismos e alegorias, instigando diferentes
interpretações e amplos debates, tais como: o “Delta Radiante” – um triângulo com o “olho
de Deus” (que na Maçonaria é o representa do Grande Arquiteto do Universo) enfeitando o
teto do Coro da Capela.

CRIPTA

Sob o Coro Alto situa-se a entrada para a cripta (uma porta


com um pentagrama), acessível por uma escada helicoidal.

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No seu interior há um altar, exatamente embaixo do altar da
capela. O chão apresenta um ladrilhado preto e branco (pavimento mosaico) similar aos de
templos maçônicos.

PALÁCIO DA REGALEIRA

Mirante em cuja cobertura encontra-se a esfera armilar e o


cata-vento com a Cruz da Ordem de Cristo. Por sua privilegiada posição favorece um amplo
panorama que engloba a Serra de Sintra e a vista do oceano.

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BIBLIOTECA

Um efeito interessante, decorrente da pouca iluminação do


ambiente e dos espelhos na base das estantes, provoca no visitante a sensação de estar a beira
de um “abismo de livros”.

AS 3 GRAÇAS MAÇÔNICAS

Força, Sabedoria e Beleza – que representam os pilares da


maçonaria, obra pintada em 1910 por José Tiago Ferreira Basalisa, no antigo escritório de
Carvalho Sabedoria não tem como manifestar-se sem o concurso da Força e da Beleza; a
Força, sem Sabedoria e Beleza gera o ato imperfeito; a Beleza que não se apoie na Sabedoria
e na Força é ilusória e superficial nos seus efeitos.

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INICIAÇÃO
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes
Neófito, não há morte.
FERNANDO PESSOA

CAVALEIRO MONGE

Do vale à montanha Por prados desertos


Da montanha ao monte Sem ter horizontes
Cavalo de sombra Caminhais libertos
Cavaleiro monge Caminhais libertos
Por casas, por prados Caminhais libertos
Por quinta e por fonte Do vale à montanha
Caminhais aliados Da montanha ao monte
Do vale à montanha Cavalo de sombra
Da montanha ao monte Cavaleiro monge
Cavalo de sombra Por ínvios caminhos
Cavaleiro monge Por rios sem ponte
Por penhascos pretos Caminhos sozinhos
Atrás e defronte Do vale à montanha
Caminhais secretos Da montanha ao monte
Do vale à montanha Cavalo de sombra
Da montanha ao monte Cavaleiro monge
Cavalo de sombra Por quanto é sem fim
Cavaleiro monge Sem ninguém que o conte

33
Caminhais em mim Cavalo de sombra
Do vale à montanha Cavaleiro monge
Da montanha ao monte Por quanto é sem fim
Cavalo de sombra Sem ninguém que o conte
Cavaleiro monge Caminhais em mim, ai
Por prados desertos Cavaleiro monge
Sem ter horizontes Por penhascos pretos
Caminhais libertos Por rios sem ponte
Sem ter horizontes Caminhais em mim
Caminhais libertos FERNANDO PESSOA

CURIOSIDADES

Carvalho Monteiro morreu em 1920. Tinha mandado


construir o seu túmulo, no Cemitério dos Prazeres, ao
mesmo arquiteto com quem projetou construiu a Quinta
da Regaleira, Luigi Manini. A porta do jazigo, também ele
recheado de simbologia, era aberta com a mesma chave
que abria a Quinta da Regaleira e o seu Palácio em Lisboa,
na Rua do Alecrim.

O jazigo, localizado do
lado esquerdo na alameda de quem entra no Cemitério,
ocupando uma área com o lugar, o tamanho e a forma do
secretário num templo maçónico, referenciando a igreja
como oriente, ostenta múltipla e variada simbologia.

A porta tem, gravada na


aldraba uma borboleta da
família Sphingidae
(esfingídeos) que tem a
particularidade de ter um
desenho no tórax semelhante
a uma caveira O gradeamento,
que podemos ver nas traseiras
do jazigo, ostenta a simbologia
do vinho e do pão, o espírito e
o corpo.

Corujas, símbolo de
sabedoria, ornamentam o jazigo, assim como as papoilas-
dormideiras que simbolizam a morte.

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BIBLIOGRAFIA

Anes, José Manuel - Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira. Ésquilo Edições e


Multimédia, Lda., Lisboa, Novembro 2005.
Adrião, Vitor Manuel - https://lusophia.wordpress.com
A Quinta da Regaleira e António Augusto Carvalho Monteiro
A Quinta da Regaleira de Sintra e os signos da Tradição
Augusto Carvalho Monteiro e o Jardim do Éden
O Sagrado e Secreto do Jazigo da Família Carvalho
Os subterrâneos da Quinta da Regaleira de Sintra
Pereira, Denise - Pereira, Paulo, Anes, José Manuel, Quinta da Regaleira – História, Símbolo
e Mito.
Fotografias de Nuno Antunes. Edição da Fundação Cultursintra, Sintra, 1998.
Galtier Beatrice, Pinto Rui, Carvalho Rute - Quinta e Jardins da Regaleira - Trabalho
apresentado no âmbito da
unidade curricular de Património Cultural e Natural – 2015 - Escola de Hotelaria e Turismo
do Estoril.
FUNDAÇÃO CULTURSINTRA (2011), Quinta da Regaleira apresentação, disponível em
http://www.regaleira.pt/
HISTÓRIA DE PORTUGAL- O GUIA ONLINE DA HISTÓRIA DE PORTUGAL,
Quinta da Regaleira, disponível em
http://www.historiadeportugal.info/quinta-da-regaleira/
PROGRAMA AGORA, (2013), Quinta da Regaleira, in: Programa Agora, episodio 9,
[progama televisivo], RTP 2,
22/07/2013, disponivel em https://www.youtube.com/watch?v=CqsQsb29Uxo
VIAGEM PELA ARTE, PARTE II, Quinta e Palácio da Regaleira, Sintra, disponível em
http://desdetempobarroco.blogspot.pt/2012/04/quinta-da-regaleira-um-mundo-
fantastico.html

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Ir Pedro Jorge de Alcantara Albani
ARLS Montanheses Livres, 09
Grande Oriente de Minas Gerais – GOMG
Or de Juiz de Fora – MG
Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Arte - AMCLA
Membro da Academia Maçônica de Letras de Juiz de Fora e Região - AMLJF

Como é bom acordar do sono dos justos, uma noite bem


dormida representa um dia de muita paz... Assim esperava. Sirvo-me de um cafezinho, que
embriagava os cômodos da minha casa com seu aroma, ligo a televisão para acompanhar os
acontecimentos; Ai vem meu grande susto.

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Meu Irmão fraterno estava sendo preso, acusado haver
ameaçado um Juiz, durante uma audiência no Fórum; As imagens mostravam o carro dele
cercado por agentes de segurança, que mandavam o Irmão descer do carro. O veículo estava
todo adesivado com símbolos da Ordem Maçônica, o que foi um prato cheio para a imprensa.

As chamadas das matérias dos noticiários televisivos, diziam,


MAÇOM AMEAÇA JUIZ DE MORTE; MAÇONARIA REALMENTE MATA e outras
nos mesmos moldes; Os Jornais escritos seguiam a mesma linha; Era assustador ler e ouvir
as manchetes.

Em seu depoimento o Irmão alegava que não ameaçou o


Juiz, que era somente um Maçom e não poderia revelar mais nada.

Recordei que o Irmão desde a sua iniciação, mostrou ser


uma pessoa indiscreta, gostava de ostentar símbolos da maçonaria, não podia ver um Irmão
da Ordem e o cumprimentava fraternalmente com um aperto de mão. Nas rodas de conversa,
principalmente se tivesse uma pessoa não iniciada, gostava de, através de palavras, reafirmar
que era maçom justo e ..., o que ruborizava os maçons presentes. Para ele representava uma
sonora gargalhada, para o profano várias interrogações.

Mas um gesto era marcante, inclusive ganhou o apelido de


“pescocinho”, pelos seus vizinhos, pois rotineiramente passava a mão na garganta, parecia um
tique nervoso, para os Maçons uma falta de respeito à ordem e aos Irmãos.

Por várias vezes fora advertido, porém por mais que se


comprometesse a ser um Maçom discreto, a vaidade sobrepunha a sua vontade.

E foi esta mania que causou toda a confusão. Ao ir ao Fórum,


passando por uma sala de audiência avistou um advogado, Irmão da Ordem, como não sabia

37
ter um comportamento discreto, fez sinal para o Irmão, porém o magistrado que presidia a
sessão achou que era para ele, e que o gesto era uma afronta uma ameaça de morte.

Daí os fatos desencontrados levaram o Irmão à prisão, como


nada podia revelar, pois poderia
cometer perjúrio, o máximo que ele
conseguia pronunciar, que era inocente
da acusação e que era maçom.

Meus
Irmãos a discrição é uma das virtudes
extremamente importante e
indispensável para manter a concórdia e
harmonia em qualquer instituição,
principalmente na Maçonaria, que
desde seu surgimento vem despertando
a curiosidade de olhos alheios.

Um
Maçom discreto quando diante de um
profano, deve buscar ser comedido com
seus gestos e palavras, para que olhos e
ouvidos curiosos não consigam
descobrir o que é restrito a Ordem.

Mas
voltemos a nossa estória. Temos várias
correntes em nossa Ordem, um
Meritíssimo Juiz foi designado para o
caso, que foi resolvido de modo sigiloso.
Ninguém soube o que ocorreu naquela sala, pois havia somente homens discretos na
audiência e outro arrependido da indiscrição.

As matérias se estenderam por mais alguns dias, até que


surgiram outros fatos na cidade que despertaram a atenção e serem vendáveis. O ocorrido
encontra adormecido, porém jamais esquecido.

Lembremos que a maçonaria, não é um prédio físico e sim,


vários prédios individuais que carregamos em nosso peito. Nossas virtudes nos fazem
verdadeiramente maçons e cabe a cada um a responsabilidade de viver as virtudes.

Esta estória é fictícia, porém, muitos Irmãos indiscretos


podem acrescer um “HI” a palavra estória, e as consequências seriam incalculáveis. Pense
nisso ao encontrar outro Irmão fora do templo.

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Ir Fábio Emmendörfer.
ARLS Amizade ao Cruzeiro do Sul II nº 90 – GLSC
Filatelista com temática Maçônica

Na edição passada vimos que o Grande Oriente Brasileiro


foi criado em 17 de junho de 1822, ou seja, estaria completando 201 anos. Dessa época
precisamos lembrar de algumas figuras icônicas. De um lado, aparecem
Joaquim Gonçalves Ledo, jornalista e político, iniciado em Coimbra, e
Januário da Cunha Barbosa, orador sacro, historiador, jornalista, poeta,
biógrafo e político. Do outro lado, encontramos José Bonifácio de
Andrada e Silva, naturalista, estadista e poeta.

Enquanto Gonçalves Ledo conspirava no


Rio de Janeiro visando tornar o Brasil independente de Portugal, trazendo
membros para a Maçonaria, José Bonifácio articulava em São Paulo e tinha
apoio da Coroa Portuguesa, tanto que em 1821
Dom Pedro foi ordenado voltar à Europa. A
resposta foi rápida e Ledo foi um dos responsáveis
pelo movimento de permanência do Príncipe
Regente, conhecido como o Dia do Fico. Portugal então nomeou
José Bonifácio como ministro do Reino e dos Estrangeiros, dando
poderes para agir e perseguiu todos com ideias revolucionárias.

Resumindo, o que vimos na história


é que Gonçalves Ledo, Januário da Cunha e todos os outros maçons
da época foram perseguidos por defender a ideologia política de um
governo regido pela soberania popular, que tivesse como
representante D. Pedro I. Já José Bonifácio e seu grupo, defendiam
uma constituição baseada em ideais voltados a dinastia, restringindo a Assembleia Legislativa
e dando autoridade suprema ao governante.

Na história postal, não encontramos selos emitidos para


Joaquim Gonçalves Ledo, apesar de aparecer em Selos onde aparece
a Obra de Arte feita em 1922 por Georgina de Albuquerque sobre a
Sessão do Conselho de Estado que precedeu a declaração de
Independência. Na imagem Ledo está na mesa, ao lado da Princesa
Maria Leopoldina. Já José Bonifácio aparece em sete selos, inclusive
com o símbolo da Maçonaria. Sim, ele foi Maçom, e sua iniciação foi
decorrente de ser um entrave ao desenvolvimento da Maçonaria.

Então, para tentar neutralizar a sua atividade nefasta,


resolveram nomeá-lo, por aclamação, para o cargo de Grão-Mestre.
Pelo visto, sem resultados práticos.

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