Aula Semana 08-Compósitos
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COMPÓSITOS DE ENGENHARIA
1 INTRODUÇÃO
Material compósito ou composto (Figura 01) pode ser definido como aquele formado pela
combinação inteligente e deliberada entre dois ou mais outros materiais, com características e pro-
priedades diversas, que continuam a ser identificáveis após a combinação. Esse tipo de material é
foco de diversos estudos, no sentido de desenvolver teorias que permitam aperfeiçoar suas propri-
edades e formulações, procurando uma melhor seleção e combinação dos elementos constituintes.
2.2 COMPONENTES
Materiais Compósitos = Matriz + Reforço
A matriz se caracteriza por ser contínua, apresentando maior ductilidade (exceto matriz ci-
mentícia) e menor módulo de elasticidade do que os elementos de reforço. Suas principais funções
são transmitir as tensões dentro do compósito, conectar os elementos de reforço e envolvê-los,
assegurando-os de danos físicos e da ação agressiva do ambiente. Por isso, é extremamente im-
portante que a matriz seja compatível química e termicamente com o componente de reforço.
Geralmente, a matriz é a parte de menor resistência do compósito. Todavia, existem casos
em que matrizes poliméricas são mais resistentes do que seus componentes de reforço, que são
adicionados para reduzir custos ou deformabilidades.
O componente de reforço é descontínuo e, tomando a forma de partículas ou fibras, ele se
dispersa pela matriz. Quando a relação comprimento/diâmetro dessas partículas é muito elevado
(na ordem de 100 vezes), passam a ser chamadas de fibras, alterando também seu comporta-
mento. O desempenho dos compósitos é afetado pelas características dos componentes fibrosos:
o material constituinte, geometria transversal, o formato, comprimento, área superficial, caracterís-
ticas da superfície e teor e eficiência da ancoragem da fibra influenciam diretamente no desempe-
nho dos compósitos.
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2.3 CLASSIFICAÇÃO
Os compósitos normalmente são classificados quanto ao tipo de matriz e da natureza e
forma do elemento de reforço. O sistema de classificação mais adotado é baseado na classificação
em função da natureza do elemento de reforço. Assim, os compósitos podem ser reforçados por
partículas e/ou por fibras.
Quando reforçados por fibras, os compósitos são subdivididos em função do comprimento e
da forma de dispersão das fibras na matriz: fibras longas e alinhadas formam compósitos ditos
reforçados por fibras contínuas; fibras curtas e alinhadas, compósitos reforçados por fibras descon-
tínuas; e as fibras podem estar alinhadas ou distribuídas aleatoriamente, gerando compósitos ho-
mogêneos ou heterogêneos. Na Figura 03 são ilustradas as diferentes formas de disposição dos
elementos de reforço na forma de fibras.
Figura 03: Exemplos de compósitos reforçados com: a) partículas aleatórias; b) fibras descontí-
nuas unidirecionais; c) fibras descontínuas aleatórias; d) fibras contínuas unidirecionais
Quanto aos compósitos reforçados por partículas, se as partículas são pequenas, diz-se que
os compósitos são reforçados por um mecanismo de dispersão de partículas. Se as partículas são
maiores, o mecanismo se altera.
Enumerando agora os diferentes tipos de matrizes, são comuns os compósitos de matriz
cerâmica, de matriz metálica e os de matriz polimérica. Dentre os compósitos de matriz cerâmica,
a mais comum no nosso dia a dia, estão os fibrocimentos, argamassas e concretos.
Além dessas categorias, existem os compósitos estruturais (ou estruturados), que são for-
mados pela combinação de camadas de materiais homogêneos ou compósitos. São chamados
compósitos por causa da combinação das propriedades das diversas camadas, podendo ser lami-
nares ou do tipo sanduíche.
Existem também os compostos híbridos, que são aqueles formados por mais de um tipo de
matriz e/ou de elementos de reforço. Na Figura 04 são ilustrados compósitos em quatro grupos: (a)
compósitos reforçados por partículas, (b) compósitos reforçados por grãos ou flocos, (c) compósitos
reforçados por fibras e (d) compósitos estruturais, formado pela combinação de várias camadas
como os laminados e painéis sanduíches.
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5.4 ORIENTAÇÃO
A orientação das fibras e o percentual de fibra existente em determinada seção transversal
do compósito são determinantes nas resistências à flexão, à compressão, à tração e ao cisalha-
mento do compósito. Os compósitos formados por fibras longas apresentam máximo efeito de ori-
entação, porque todas as fibras encontram-se alinhadas na mesma direção, enquanto os compó-
sitos de fibras curtas apresentam orientação em diversas direções, podendo ter ou não uma orien-
tação predominante, em função dos processos de mistura e moldagem.
Figura 06: Exemplos de componentes fabricados com compósitos de matriz poliéster refor-
çada com fibras de vidro.
O MDP-Middle Density Particleboard- (Figura 08) também é feito com a junção de madeira
triturada, entretanto, nesse caso há ainda partículas de madeira maciça, que junto com a resina e
os aditivos, garantem maior resistência ao material. Por outro lado, a composição do material faz
com que seu acabamento não seja tão liso quanto o MDF. Isso acontece porque a mistura dos
elementos gera maior porosidade às chapas, resultando em uma superfície irregular. As peças de
MDP não recebem bem camadas de tinta, adesivos ou colagem de lâminas.
Figura 08: Diferença entre MDF e MDP quanto à porosidade e dimensões das partículas lig-
nocelulósicas que os compõem.
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Outro compósito com material lignocelulósico é o OSB, ilustrado na Figura 09. OSB é um
painel composto por tiras de madeira unidas por resina, ou seja, matriz polimérica. A sigla vem do
nome em inglês: Oriented Strand Board. Para produzir OSB, lascas de madeira são orientadas em
camadas perpendiculares, unidas com resina resistente a intempéries e prensadas sob alta tempe-
ratura. Isso aumenta sua resistência mecânica, rigidez e estabilidade. O OSB geralmente é com-
posto de três a cinco camadas. No Brasil, a maioria das placas de OSB possui quatro camadas –
duas externas, orientadas no sentido longitudinal, e duas internas, cruzadas no sentido perpendi-
cular. OSB é usado na construção civil, por exemplo, no fechamento de estruturas de steel e wood
frame, em telhados, paredes, pisos e lajes. Além disso, ele serve também para tapumes e barra-
cões de obras.
Figura 10: Reforço de estruturas de concreto com polímeros reforçados com fibras de car-
bono.
8 FIBROCIMENTO
O fibrocimento é um material à base de cimento, com adições minerais (pozolânicas e/ou
calcíticas), sem agregados e com fibras de reforço distribuídas discretamente pela matriz. Normal-
mente, no mercado nacional, o fibrocimento envolve o uso de matriz de cimento Portland e fibras
minerais de amianto ou fibras sintéticas como reforço, para produção de telhas de cobertura, caixas
d’água, tubos e placas planas.
Produtos de fibrocimento sem amianto, reforçados com fibras sintéticas e polpa de celulose,
curados ao ar, podem ser encontrados no mercado brasileiro atualmente. O uso desses materiais
tem-se consolidado devido à implantação de normas vigentes, além de despertar interesse pelo
baixo custo, disponibilidade, economia de energia e no que se refere à preservação ambiental.
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Com o advento do processo de fabricação denominado Hatschek, a produção de fibroci-
mento vem crescendo muito desde o século passado, se firmando no Brasil por volta dos anos 70,
explicado pelo fato desse produto ser considerado a melhor solução para habitações destinadas à
população de baixa renda frente a outras soluções construtivas convencionais para coberturas.
Hoje em dia, as indústrias fibrocimentícias brasileiras geram por volta de 10 mil empregos
diretos e 200 mil indiretos, movimentando cerca de 2 bilhões de reais ao longo de toda a cadeia
produtiva.
8.1 MATÉRIAS-PRIMAS
8.1.1 AGLOMERANTES E CARGAS MINERAIS
O ingrediente de maior proporção em massa presente no fibrocimento é o cimento Portland;
que pode ser de diferentes tipos variando a proporção de clínquer, sulfatos e adições como escó-
rias, pozolanas e material carbonático.
Entende-se por pozolana todos os materiais sílico-aluminosos que, na forma de grãos muito
pequenos e em presença da água, reagem com hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) para formar com-
postos com propriedades cimentícias. O hidróxido de cálcio liberado pela hidratação do cimento
Portland sem adições pozolânicas não contribui significativamente para a resistência mecânica e
pode prejudicar a durabilidade da pasta de cimento. Adicionando-se as pozolanas, o hidróxido de
cálcio é reduzido, aumentando resistência mecânica e durabilidade nos produtos de cimento.
Adições minerais com granulometria ultrafina aumentam a densidade de empacotamento do
cimento, em particular na zona de transição entre as fibras de reforço (no caso do fibrocimento) e
a pasta de cimento, resultando no preenchimento de poros e na redução da permeabilidade, além
de trazer maior resistência mecânica e maior durabilidade para o fibrocimento.
Normalmente utiliza-se sílica ativa como adição mineral, baseado na sua alta pozolanicidade
e distribuição granulométrica com partículas menores que 3 µm e formato esférico. Ela cobre a
necessidade de aumentar a densidade de empacotamento, criando uma matriz mais forte.
8.1.2 FIBRAS MINERAIS
Para aumentar a resistência à tração e ao impacto, e ter a possibilidade de uso em estágio
pós-fissurado dos produtos de cimento, adiciona-se fibras de reforço à matriz frágil. O comporta-
mento mecânico e o desempenho do compósito dependem do tipo, distribuição, relação compri-
mento-diâmetro e a durabilidade da fibra, que pode ser do tipo mineral, vegetal ou até mesmo
polimérica.
A fibra mineral usada é o amianto (ou asbesto). O amianto é uma fibra mineral natural sedosa
muita utilizada no advento do fibrocimento por ser barata, facilmente encontrada na natureza e ter
propriedades físico-químicas interessantes, como alta resistência mecânica, flexibilidade, durabili-
dade, boa qualidade isolante e resistência ao ataque de álcalis, ácidos e bactérias. É extraído de
rochas compostas de silicatos hidratados de magnésio e são encontrados de dois tipos: ricos em
magnésio (crisotilas, de fórmula 3MgOSiO2H2O) e ricos em ferro (os anfibólios, Na2OFe2O3OSiO2).
No Brasil, os anfibólios deixaram de ser usados desde a década de 70 e os crisotilas estão
em progressivo desuso, ambos por fornecerem risco à saúde humana. Doenças como asbestose
e câncer de pulmão são comuns em trabalhadores de minas de amianto e indústrias fibrocimentí-
cias que usam o amianto. Ainda assim, o Brasil está entre os cinco maiores produtores de amianto
crisotila do mundo e é um dos maiores consumidores desse material.
8.1.3 FIBRAS POLIMÉRICAS
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No Brasil, o avanço da legislação restritiva ao uso de amianto está proporcionando o desen-
volvimento de tecnologias substitutivas e o aprimoramento de alternativas duráveis e tecnicamente
compatíveis com nosso mercado consumidor. As fibras sintéticas (fibras poliméricas) são exemplos
do progresso de pesquisas nessa área, e as de polivinil-álcool (PVA) e de polipropileno (PP) são
as mais usadas no fibrocimento.
As fibras de PVA têm elevada resistência mecânica, são duráveis em meio alcalino e têm
alta aderência à matriz cimentícia; enquanto as fibras de PP apresentam baixa resistência à tração,
baixo módulo de elasticidade e fraca aderência à matriz de cimento, tornando-as menos favorável
do que as de PVA. Mas, ambas são alvo de diversas pesquisas no intuito de desenvolver caracte-
rísticas mais apropriadas para matrizes cimentícias e de menor custo.
Apesar de serem utilizados baixos teores de PVA ou PP na fabricação de fibrocimentos, o
custo final ainda é muito elevado, isso se for levar em conta apenas o fator econômico. E, enquanto
as pesquisas sobre as fibras poliméricas ainda não trazem resultados mais satisfatórios em relação
ao custo, uma saída construtiva que tem atraído muito interesse é o uso de fibras vegetais.
8.1.4 FIBRAS VEGETAIS
Devido ao seu baixo custo e interesse comum de trabalhar sustentavelmente, já que sua
extração pode ser até de rejeitos reciclados de outras aplicações, o uso de fibras vegetais como
acréscimo à matriz de cimento tem sido cada vez mais comum em pesquisas e na própria indústria
fibrocimentícia.
Usualmente, no processo Hatschek (que será discutido mais adiante), as fibras vegetais co-
merciais são empregadas na forma de polpas celulósicas, produzidas conforme processo dominado
pela indústria de celulose e papel, e passam pelo processo de refinamento. Tal processo consiste
na fibrilação do filamento, para conferir-lhe maior ductilidade, torná-lo mais maleável e com melhor
aderência à matriz.
Figura 11: Processo Magnani modificado para fabricação de caixas d’água de fibrocimento.
8.2.2 PROCESSO HATSCHEK
Este processo é o mais empregado na produção de placas de fibrocimento planas e ondula-
das para a construção civil (Figura 12). Ele começa com uma suspensão de fibras bem diluídas,
cimento e outros aditivos, que é misturada em um grande tanque onde cilindros rotatórios captam
essa pasta por meio de sucção, removendo a água da mistura até a obtenção de mantas com a
espessura desejada (aproximadamente 1mm cada uma).
Esse processo é contínuo e produz placas cimentícias de fibrocimento compostas de diver-
sas camadas, que depois, ainda no estado fresco, podem ser conformadas para produzir diversos
acessórios para a construção civil.