10 - o Psicólogo e A Unidade de Terapia Intensiva (Uti)
10 - o Psicólogo e A Unidade de Terapia Intensiva (Uti)
10 - o Psicólogo e A Unidade de Terapia Intensiva (Uti)
BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda o resultado de uma pesquisa, cujo objetivo
foi refletir sobre a prática do profissional do psicólogo na UTI, através da
fotografia. O trabalho do psicólogo no hospital está cada vez mais valorizado
e compreende-se como essencial para o cuidado integral, tanto dos pacientes
e familiares quanto dos trabalhadores. A psicologia em suas diversas áreas de
cuidado tem ganhado espaço e sendo requisitada em várias áreas, entre eles a
Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Esta é a unidade onde pacientes graves e
de alto risco são internados. Muitos deles, com grande chance de recuperação,
mas também pacientes terminais, isto é, aquele que muitas vezes está sendo
cuidado paliativamente.
O psicólogo carrega durante sua formação muita teoria e dedicação, o que
deve continuar para poder trabalhar no hospital, combinado a aspectos teóricos,
filosóficos, emocionais e de personalidade, que farão ele ter discernimento para
saber os seus limites pessoais. Na atuação hospitalar, ele pode perceber uma
enorme diferença entre teoria e prática, pois dentro de qualquer instituição de
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa através de fotografias são dispositivos que, segundo Justos e
Vasconcelos (2009), permite olhar para as demandas a partir dos olhos do outro,
observar a potencialidade das imagens e relacionar com a fala dos profissionais,
onde trazem a subjetividade e particularidade de cada um e a maneira que
enxerga seu trabalho, o que ele simboliza através da produção fotográfica de
cada uma das psicólogas que se dispuseram a participar da pesquisa.
Assim, este artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa, de cunho
exploratório, cujo objetivo foi refletir sobre a prática do profissional da UTI,
através da fotografia. A pesquisa foi realizada com três psicólogas que atuam em
Unidades de Terapia Intensiva adulta, infantil e pediátrica no Vale do Taquari
e Alto Uruguai/RS. As profissionais foram escolhidas de forma intencional e
contatadas por e-mail, primeiramente, para explicação do projeto e convite. As
entrevistadas possuem de 10 a 18 anos de formadas e idades entre 34 e 44 anos.
Com o aceite recebido, solicitamos que as profissionais produzissem
uma foto, com seu celular, que representasse o seu trabalho na UTI. Solicitamos
que não houvesse pessoas nas mesmas e que, preferencialmente, não fossem
produzidas no espaço hospitalar para proteger o nome da instituição e as
pessoas, trabalhadores, pacientes etc. O prazo para produção foi de sete dias,
sendo que as imagens foram enviadas por e-mail, com a produção, também, de
uma legenda para foto.
Figura 1- Afeto3
Fonte: P1
3 O título das figuras apresentados no artigo são as legendas produzidas pelas entrevistadas.
P2: E a acho que poder abrir esse olhar da Psicologia realmente né,
que às vezes não é só uma coisa psicológica que tem que olhar. A
pessoa tem que olhar as necessidades que elas têm, enfim, eu acho
que sim que é um trabalho bem diferente porque eu acho que quem
está enfrentando uma situação de UTI, poder ter essa (pausa),
um suporte de uma pessoa que está melhor que está podendo ser
mais forte ali, podendo dar uma continuidade ali que, é totalmente
diferente do que estar totalmente desamparado, às vezes a própria
família não consegue amparar as pessoas que estão ali, de tão, de tão
desestruturante que é uma situação de UTI. E acho que o psicólogo
pode ter esse papel realmente de, de ajudar estruturar alinhavar
essas coisas para também melhorar toda a questão da internação,
enfim do quadro do paciente né.
Imagem 2: Metamorfose
Fonte: P2
As UTIs são locais de trabalho instável, de uma hora para outra pode
acontecer um óbito ou uma melhora repentina, é um lugar de movimentos
e mudanças. Segundo a Psicóloga 2, é um espaço de metamorfoses, onde os
pacientes e profissionais da saúde são perpassados pelos sentimentos e emoções
que este lugar oferece no dia-a dia:
P3: [...] da uti neonatal a gente oferece grupos para os pais que estão
com os bebês internados né então a gente tem uma reunião a cada
um mês e meio a gente faz uma reunião com a equipe multi. Que
daí sou eu, a terapeuta ocupacional, assistente social, enfermeira e
a nutricionista. Né, porque são grupos com 5 módulos onde cada
profissional vai abordar da sua especificidade, né!
P2: [...] sempre tem uma equipe que a gente troca, a gente dá suporte
também assim para as minhas intervenções né, eu tenho uma boa
relação com médicos, com técnicos com enfermeiros, então com a
equipe mesmo com a nutri, com a fisio, é um trabalho bem bacana
que a gente consegue desenvolver.
Fonte: P3
A UTI é uma porta de entrada tanto para a vida quanto para a morte. E
durante as falas das entrevistadas, esse é uma das maiores dificuldades de se
trabalhar no hospital, o entender e aceitar o fim de uma vida. No momento da
morte, a equipe de saúde, de alguma maneira, é afetada; porém, essa passagem
pode ter diversas interpretações de acordo com o significado que tem para cada
um, e como é importante falar sobre ela, pois faz parte do ciclo de vida humana.
P3: Eu acho que a UTI, né, tanto adulta quanto a neonatal, a entrada
do psicólogo, assim... a minha entrada foi feita de uma forma bem
tranquila né! Assim... principalmente na UTI neonatal, então, eu
acho que a porta, aquela coisa da entrada, né, significa muito. [...].
Então a porta é aquilo da entrada e quanto o meu espaço ainda pode
ser construído dentro da UTI adulta né, principalmente na UTI
adulta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar no trabalho do psicólogo de UTI é um reinventar-se a cada dia
diante das diversas situações inesperadas. Lidar com a vida e morte como
aliadas, observar o nascer e o morrer de bebês e adultos realizando o cuidado
dos familiares. Conforme os relatos das psicólogas entrevistadas, o trabalho
mais efetivo em UTI é realizado com os familiares dos pacientes, que são a
extensão dos mesmos. A relação, criação de vínculo com a equipe, família e
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, F.A.; MORAES, M.S.; CUNHA, L.R. Cuidando do neonato que está
morrendo e sua família: vivências do enfermeiro de terapia intensiva neonatal. Rev
Esc Enferm USP , 2016; 50(n.esp):122-129.
ARANTES, A. C.Q. A morte é um dia que vale a pena viver. 30 de abr de 2013
https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs