O Cálculo Da Raiz Quadrada Através Dos Séculos
O Cálculo Da Raiz Quadrada Através Dos Séculos
O Cálculo Da Raiz Quadrada Através Dos Séculos
Junho/2013
João Pessoa - PB
Universidade Federal da Paraíba
Centro de Ciências Exatas e da Natureza
Departamento de Matemática
Mestrado Prossional em Matemática em Rede Nacional - PROFMAT
por
sob orientação do
Junho/2013
João Pessoa - PB
†
O
presente trabalho foi realizado com apoio da CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior.
O Cálculo da Raiz Quadrada
Através dos Séculos
por
Aprovada por:
Junho/2013
Agradecimentos
A Deus pela minha vida, por ter me ajudado a perseverar nos momentos de
fraqueza e pela minha saúde.
Aos meus pais Pereira e Luiza por todo o apoio e conança em mim deposi-
tados em todos esses anos e pela educação que me foi proporcionada, vocês são os
principais responsáveis por esse momento.
À minha segunda mãe Carminha pelos dias que reservou de sua vida para
estar ao lado da minha.
Às minhas irmãs e sobrinhos por terem sempre acreditado na minha capaci-
dade e entenderem o meu afastamento quando foi necessário.
A João Dias pela compreensão, companheirismo, apoio e cumplicidade em
todos os momentos deste e de outros trabalhos e por não ter permitido que eu
desistisse nos momentos de maior diculdade.
Aos professores e coordenadores do Mestrado na UFPB pelas aulas e pe-
las contribuições, em especial aos meus orientadores professores Pedro Hinojosa e
Fernando Xavier cujo as orientações foram de fundamental importância para a con-
clusão deste trabalho.
Aos meus amigos de jornada Sandro Godeiro, Thiago Valentim e Aldrin Ru-
no pelas viagens, pela companhia, pela ajuda, pelo apoio e pelos conselhos.
Aos demais amigos de Mestrado que estiveram juntos comigo durante os dois
anos do curso, em especial aos paraibanos Geraldo, Hebert, Sívio e Marco Viana.
Aos companheiros do IFRN de Currais Novos que sempre me apoiaram e
entenderam quando não podia estar presente na escola, em especial aos amigos
Ramon e Rady que me deram muita força para terminar essa capacitação.
Aos amigos de outras etapas da minha vida que sempre torceram por mim,
em especial a Ana Maria, Tia Alzira, Carla Souto, Elioenai e Rose.
À CAPES pela bolsa concedida.
A todos o meu muito obrigado!
Dedicatória
v
Abstract
In this work we aim to report the history of the methods for calculating
the square root over the centuries as well as civilizations through a bibliographical
research. We rst present the fundamental algorithm and the geometric method
for extracting roots to later expose ancient results and methods, which are dated
before the birth of Christ. Such results and methods encompass the 10th and 16th
century, where the last algorithm is the Algorithm Newton-Raphson, the one that
can be used to nd square roots. The historical development of the square root
symbol was also addressed in our research and we end our investigation presenting
a newprocedure that enables the algorithm to better nd square roots using the
sequence of negative odd numbers.
vi
Lista de Figuras
vii
2.18 Interpretação Geométrica do Algoritmo Chinês - 3a Etapa . . . . . . 46
2.19 O número de algarismos na raiz quadrada - Etapa 0 . . . . . . . . . . 47
2.20 O algarismo das centenas - Etapa 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.21 O algarismo das dezenas - Etapa 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.22 O algarismo das dezenas - Etapa 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.23 O algarismo das unidades - Etapa 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.24 O algarismo das unidades - Etapa 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.25 O algoritmo usual escrito de forma completa . . . . . . . . . . . . . . 50
√
2.26 Intervalos que contém a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
√
2.27 Intervalos que contém a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.28 Método de Newton - Justicativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.29 Método de Newton-Raphson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.1 Parte de uma página do Ars Magna que foi republicado como H.
Introdução xi
1 Raiz Quadrada 1
1.1 Encontrando a Raiz quadrada pelo método geométrico . . . . . . . 2
1.2 O Algoritmo Fundamental para extração de Raízes Quadradas . . 5
ix
3 Símbolos para representar raízes 65
3.1 A história da Simbologia para Representação de Raízes . . . . . . . . 65
Referências Bibliográcas 83
x
Introdução
xi
manipulação dos algoritmos de extração de raízes e, consequentemente, melhorar o
aprendizado dos alunos, oportunizando assim uma ampliação do conhecimento.
O desenvolvimento desse trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa bibli-
ográca, que dene-se como a modalidade de estudo que se propõe a realizar análises
critos e/ou produções culturais garimpados a partir de arquivos e acervos [10, p.71].
Dessa forma a pesquisa bibliográca tem como objetivo o de conhecer e analisar as
principais contribuições teóricas existentes sobre um tema em especíco(ver [13]).
A partir dessa denição nos aprofundamos no tema a partir do estudo dos
artigos de João Bosco Pitombeira de Carvalho (ver [5]), publicado na X SBEM e de
Bernard Hodgson (ver [11]) que foi publicado na Revista Gazeta de Matemática da
Sociedade Portuguesa de Matemática.
A utilização da História da Matemática não visou nesse trabalho falar so-
mente à vida e à obra de matemáticos, mas foi utilizada para, conhecer, reetir
e discutir sobre como se constituiu historicamente o saber matemático, mas espe-
cicamente como foi construído e desenvolvido o algoritmo de extração de raízes
quadradas.
Procurou-se aprofundar um pouco na História das civilizações buscando in-
formações na obra de Perry, (ver [18]) para contextualizar o período em que de-
terminada civilização se encontrava quando do desenvolvimento para o algoritmo.
A partir dessa contextualização colocou-se a História da Matemática em evidência,
buscando referências nas obras de Boyer (ver [2]), Berlinghof e Gouveia (ver [1]) e
traduções da obra de Cajori (ver [3] e [4]).
Esta dissertação desdobra-se em cinco seções das quais a primeira é a presente
Introdução que serve como apresentação da proposta de trabalho.
No Capitulo 1 foi abordado o conceito usual de raíz quadrada, o seu algoritmo
mais presente nas nossas salas de aula e a forma geométrica de encontrar a raiz
quadrada, já contextualizando com o que foi apresentado por Descartes no seu Lá
Géometrie.
xii
para o cálculo das raízes quadradas pelas culturas que fazem parte do que é cha-
mado de Berço das Civilizações :
O início das abordagens sobre as raízes recaem na
√
Mesopotâmia, onde aparecem valores aproximados para a 2 que podem ser justi-
cados a partir de demonstrações geométricas; Em seguida a Grécia, com os cálculos
de aproximações sucessivas desenvolvido por Herão de Alexandria e o Método co-
nhecido como Escada de Theon; Na Índia apresenta-se um algoritmo que pode ser
também justicado via geometria e a Fórmula de calcular raiz quadrada presente
no manuscrito de Bakhshäli, temos também o algoritmo chinês para o cálculo de
raízes quadradas e sua relação com o algoritmo utilizado até pouco tempo nas nos-
sas escolas; Apresenta-se aqui um método desenvolvido pelos arquitetos da Europa
Medieval no século X, e, concluindo, será exposto o método de Newton-Raphson
dando uma breve explicação a despeito de sua nomenclatura.
No Capítulo 3 encontra-se uma tradução de parte do livro de Cajori (ver [3])
sobre a história das notações matemáticas que descreve como foi o desenvolvimento
do símbolo que representa a raiz quadrada, mostrando que o mesmo já foi repre-
sentado pela letra R (devido a palavra radix - raiz), l (derivado da palavra latus -
√
lado), o sinal e o expoente fracionário.
No Capítulo 4 apresenta-se uma forma de calcular raízes que hoje é empre-
gada na escola do ensino básico, como método milagroso cujo a promessa é facilitar
o cálculo para extração de valores de raízes quadradas.
xiii
Capítulo 1
Raiz Quadrada
1
Encontrando a Raiz quadrada pelo método geométrico Capítulo 1
geométrico
2
Encontrando a Raiz quadrada pelo método geométrico Capítulo 1
Demonstração: Como podemos observar na Figura 1.2 o ângulo AEB está ins-
crito em um semicírculo, logo ele é um ângulo reto. Portanto os ângulos α e β
são complementares como ∠α, ∠A e ∠β , ∠B . Assim ∠α = ∠B e ∠A = ∠β
(complemento para os mesmos ângulos são iguais) e 4ACE ∼ 4ECB (similari-
dade AA). Portanto, AC
CE
EC
= BC ou AC × BC = (EC 2 ), logo sendo x qualquer
comprimento e 1 como o comprimento de unidade que for escolhida, então temos
√
x.1 = (CE)2 ⇒ (CE)2 = x ⇒ CE = x.
Uma outra alternativa de interpretação geométrica utiliza apenas o teorema
de Pitágoras e foi apresentada em [17].
Seja x > 1, um segmento AB de comprimento x marquemos o ponto médio
M e mais dois pontos C e D tais que CM = M D e CD = 1 (Figura 1.3).
3
O Algoritmo Fundamental para extração de Raízes Quadradas Capítulo 1
x2 + 2x + 1 = 4a2 + x2 − 2x + 1
√
4a2 = 4x =⇒ a = x
4
O Algoritmo Fundamental para extração de Raízes Quadradas Capítulo 1
Raízes Quadradas
√
Como 9 < 13 < 16 ⇒ 3 < 13 < 4;
√
Como 3+4
2
= 3, 5 ⇒ 3, 52 = 12, 25 ⇒ 3, 5 < 13 < 4;
√
Como 3,5+4
2
= 3, 75 ⇒ 3, 752
= 14, 0625 ⇒ 3, 5 < 13 < 3, 75;
√
Como 3,25+3,75
2
= 3, 5 ⇒ 3, 5 = 12, 25 ⇒ 3, 5 < 13 < 3, 75;
2
√
Como 3,25+3,75
2
= 3, 625 ⇒ 3, 6252
= 13, 140625 ⇒ 3, 5 < 13 < 3, 625;
E assim sucessivamente.
√
O processo é fácil de ser observado. Se an < 13 < bn , achamos o ponto
médio pn do intervalo [an , bn ]. Se p2n < 13, fazemos an+1 = pn , bn+1 = bn , e repetimos
o processo. Se 13 < p2n < bn , fazemos an+1 = an , bn+1 = pn , e continuamos com a
iteração do processo.
O grande problema desse e de outros algoritmos ensinados na escola é que os
alunos aprendem os passos sem entendê-los e, dessa forma, esquece dos mesmos com
muita facilidade. Isso não acontece apenas com os alunos, acontecem com alguns
professores também.
5
Capítulo 2
capítulos ainda estão por vir [1, p.04]. Neste sentido, podemos armar que a mate-
mática vem sendo construída ao longo de toda a história da humanidade, evoluindo
a partir de contagens, medições, cálculos e do estudo sistemático de formas geomé-
tricas e movimentos de objetos físicos.
Ninguém sabe quando começou a matemática. O que sabemos é que toda
6
Mesopotâmia Capítulo 2
2.1 Mesopotâmia
A região da Mesopotâmia (palavra grega que signica "terra entre rios" [18,
p.15]), localizava-se no Oriente Médio (Figura 2.1), entre os vales dos rios Tigre
e Eufrates, atual território do Iraque e áreas adjacentes. Está inserida no que se
denomina de Crescente Fértil tendo sido considerada um dos berços da civilização,
tinha como sua capital a cidade da Babilônia. Iremos estudar essa civilização no
período compreendido entre 2.000 a.C. e 1.600 a.C).
p.15]. Desenvolveram um sistema numérico que possuía como base o valor sessenta,
acredita-se que este sistema tenha sido usado por ser possível sua subdivisão em
7
Mesopotâmia Capítulo 2
metades, quartos, quintos, sextos, décimos, etc., até dez divisões são possíveis. Este
sistema encontra-se presente em nossas unidades de tempo e medida de ângulos.
Ao mesmo tempo, podemos imputar aos mesopotâmicos, ou de forma equi-
valente babilônicos, a invenção do sistema posicional. Com apenas seus símbolos
para unidades e dezenas, podiam representar qualquer número, por maior que fosse,
por repetição e mudança de posição. Este é o mesmo princípio de nosso sistema
numeral.
Os arqueólogos vêm trabalhando na Mesopotâmia desde antes da metade
do século XIX, e já desenterraram mais de 500.000 tábulas de argila com escrita
cuneiforme que datam de até 2.000 a.C, dessas quase 400 foram identicadas como
estritamente matemáticas, algumas são listas de problemas e outras tábuas para
resolver operações (ver [8]). Muitas dessas placas foram sendo guardadas em várias
coleções, a maioria particulares. As placas possuem nomes a partir da coleção de
qual faz parte, por exemplo a placa YBC 7289, da coleção da Universidade de
Yale da cidade de New Haven, Connecticut, Estados Unidos da América, com a
numeração 7289. Todas as tábulas, incluindo as mais antigas, dão conta de que os
8
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
1 b
(a2 + b) 2 ≈ a +
. (2.1)
2a
√
Encontraram ainda como aproximações de 2
25
1+ ≈ 1, 4166666667. (2.2)
60
24 51 10
1+ + 2 + 3 ≈ 1, 414212963. (2.3)
60 60 60
9
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
24 51 10 25 35
30 × 1 + + 2 + 3 = 42 + + 2
60 60 60 60 60
conclui-se que 1 + 24
60
+ 51
602
+ 10
603
é uma aproximação da diagonal de um quadrado
de lado 1.
10
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
√
Interpretação geométrica do cálculo do valor de k pelo algoritmo meso-
potâmico.
√
Do ponto de vista geométrico, calcular k pode ser concebido como a procura
do lado de um quadrado com área k. Dessa forma pode-se tentar colocar no interior
deste quadrado o maior quadrado possível cujo lado seja um valor conhecido (Figura
2.3). Para tanto poderia ser utilizado uma das numerosas tábuas de argila que
continha números elevados ao quadrado de propriedade dos mesopotâmios.
Figura 2.3:
√ Interpretação Geométrica do Algoritmo mesopotâmico para encontrar o
valor de k
11
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
2ac + c2 = k − a2
.
Se c for um número bem pequeno podemos desprezar c2 , e teremos assim a
aproximação
2ac ≈ k − a2
k − a2
c≈ .
2a
√
Podemos encontrar uma aproximação melhor para o valor de k (em relação
ao valor inicial de a) tomando para a aproximação de a+c a quantidade
k − a2
a0 = a + (2.4)
2a
k − a2 a2 + k
a0 = a + = .
2a 2a
√ √
Identicamos facilmente que se a < k , então a0 > k . Com efeito a última
desigualdade pode ser justicada elevando ao quadrado cada um dos membros de
2.4. E assim temos que,
k − a2 2 − 1, 42
c≈ = ≈ 0, 01428571429. (2.5)
2a 2, 8
Porém temos ainda,
51 10
c≈ 2
+ 3 ≈ 0, 01421296963.
60 60
12
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
√
Conclui-se que partindo de uma aproximação para k por falta, encontramos
uma aproximação a por excesso. Chamando de b a diferença entre as áreas dos dois
0
√ b
a2 + b ≈ a + . (2.6)
2a
Que é uma fórmula de aproximação bastante encontrada ao longo da história
da matemática.
Como caria a situação acima ao contrário, se ao invés de um quadrado de
lado a situado no interior do quadrado de área k, utilizássemos um quadrado que o
contivesse (Figura 2.4)?
Figura 2.4:
√ Interpretação Geométrica do Algoritmo mesopotâmico para encontrar o
valor de k
√
Teríamos então que a−c = k . Além disso o gnómon que envolve o quadrado
com área k agora possui a área dada por a2 − k . Decompondo-se o gnómon em dois
retângulos de lados a − c e c mais um quadrado de lado c, temos assim que
2(a − c)c + c2 = a2 − k.
a2 − k
c ≈ c0 = .
2a
13
A Raiz Quadrada na Mesopotâmia Capítulo 2
√
Segue que, nesta situação, um melhor valor de k é obtida tomando a aproximação
a − c dada por
a2 − k k − a2
a0 = a − c 0 = a − =a+ . (2.7)
2a 2a
√ √
Como a > k segue-se que a0 > k .
É interessante observar que comparando (2.6) e (2.7) a fórmula de aproxi-
mação decorrente é exatamente a mesma. Dessa forma não importa se a primeira
aproximação a foi por falta ou por excesso, a segunda a0 será sempre por excesso.
De forma semelhante a anterior, podemos determinar a diferença b entre as
áreas dos dois quadrados grandes da Figura 2.4 que, no caso, é b = a2 − k que é
equivalente a 2.6, logo
√ b
a2 − k ≈ a − (2.8)
2a
k − a2
1 k
0
a =a+ = a+ (2.9)
2a 2 a
Esta nova forma de escrever (2.7) nos faz dar atenção aos número a e ka , onde
√
a pode ser tomado como um valor muito próximo de k . Mais exatamente temos a
média aritmética desses números, ou seja, a0 é a média aritmética de a e ka .
Podemos então dar uma nova interpretação geométrica. A determinação do
lado do quadrado de área k pode ser realizada substituindo o quadrado por um
retângulo de lados a e ka , que também possui a área k, a Figura 2.5 representa essa
nova situação.
O retângulo com área k e lados a e
representa dessa forma uma aproximação
k
a
do quadrado com a mesma área. Toma-se a média aritmética a0 = 12 a + ka dos
dois lados do retângulo obtendo-se um novo valor para a0 que constitui uma melhor
aproximação do lado do quadrado. A justicativa para essa armação se conrma
pois sabemos que a0 < a, pois a média a0 está localizada entre os valores a e ka , com
14
Grécia Capítulo 2
2.2 Grécia
15
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
a dois ângulos retos, que os lados de triângulos semelhantes são proporcionais e que
um círculo é cortado ao meio por qualquer dos seus diâmetros [1, p. 15].
Pouco se sabe sobre Pitágoras com algum grau de certeza, as lendas sobre
a gura desse matemático grego recaem sobre a sociedade pitagórica. Sua losoa
baseava-se na suposição de que a causa última das várias características do homem
e da matéria são os números inteiros [8, p. 97], ou seja, tudo era explicado a partir
dos números.
Os Pitagóricos, como eram conhecidos os seguidores dessa sociedade, se pre-
ocupavam muito com o estudo de razões (que relacionavam com a música). Na
geometria, eles possuem o crédito pelo Teorema de Pitágoras - o quadrado sobre a
tos [8, p. 103]. Esse teorema era conhecido pelos babilônios cerca de um milênio
antes, mas sua primeira demonstração formal pode ter sido realizada por Pitágoras.
Ligado diretamente ao Teorema de Pitágoras está o problema em encontrar
inteiros que possam representar os catetos e a hipotenusa de um triângulo retângulo,
ou seja os ternos pitagóricos. Credita-se aos pitagóricos a fórmula no qual os três
termos para todo m ímpar constituem um terno pitagórico.
2 2
m2 − 1 m2 + 1
2
m + =
2 2
A fórmula análoga, atribuída a Platão (c. 380a.C.), (2m2 ) + (m2 − 1)2 =
(m+1)2 foi idealizada com o mesmo propósito, porém nenhuma dessas duas fórmulas
fornecem todos os ternos pitagóricos.
É muito provável que o mais importante sucesso muitas vezes atribuídos à
sociedade pitagórica seja a descoberta dos incomensuráveis [1, p. 16].
16
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
dois números inteiros, o sistema dos números racionais é suciente para propósitos
envolvendo medições, uma vez que eles contém todos os inteiros e todas as frações [8,
p. 104].
Os primeiros matemáticos gregos acreditavam que todos os números pode-
riam ser representados através de uma reta, uma interpretação geométrica bastante
simples, os inteiros positivos e negativos poderiam ser representados por um con-
junto de pontos convenientemente espaçados a intervalos unitários, os positivos a
direita de uma origem O e os negativos a esquerda de O. Já no caso das frações de
denominador q poderiam ser representadas pelos pontos que dividem cada um dos
intervalos unitários em q partes iguais. Era um artigo de fé fundamental do pita-
gorismo que a essência de tudo, na geometria como nas questões práticas e teóricas
dem a nenhum número racional. Essa descoberta foi uma das grandes realizações
dos pitagóricos [8, p. 105] e é apontado por vários historiadores com um dos maiores
marcos da História da Matemática.
Em [1] comenta-se que a grande percepção dos pitagóricos foi identicar que
a razão de dois seguimentos não será sempre simples. De fato, eles demonstraram
que a razão entre o lado e a digonal de um quadrado, nem sempre poderá ser a
razão de quaisquer dois números inteiros. Chamaram segmentos dessa espécie de
incomensuráveis, e chamaram de irracional a razão entre tais segmentos2 .
2 Na verdade usaram as palavras gregas alogos e arrhetos, que também poderiam signicar não
faláve ou inexprimível. Porém o termo "irracional"que signica sem razão foi a palavra que
prevaleceu historicamente.
17
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
√ √
Demonstração: Suponha que 2 é racional, logo podemos escrever que 2 = ab .
Podemos escolher a e b de tal forma que (a, b)3 = 1. Com essa alternativa a e b não
possuem fatores comuns (dizemos nesse caso que eles são relativamente primos).
√
Dessa forma, podemos escrever 2 como,
√ a a2
2==⇒ 2 = 2 =⇒ a2 = 2b2 . (2.10)
b b
Concluí-se que a2 é um número par. Dessa forma a também é um número
par, pois caso contrário, o produto de um número ímpar com um outro ímpar é
sempre ímpar e a2 também seria ímpar.
Como a é par podemos escrevê-lo como sendo a = 2 × r, sendo r úm número
natural. Assim, a2 = 4 × r2 .
Da equação (2.10) obtemos,
3 O máximo divisor comum dos números a e b está sendo representado por (a,b).
18
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
√
Figura 2.6: Demonstração alternativa, geométrica para 2.
√
Demonstração: Suponha que 3 é racional. Logo existem dois números inteiros
√
a e b, onde 3 = b . Podemos escolher a e b de tal forma que (a, b) = 1, daí,
a
19
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
√ a a2
3= =⇒ 3 = 2 =⇒ a2 = 3b2 . (2.12)
b b
O Teorema Fundamental da Aritmética, arma que todo número inteiro se
escreve de maneira única, a menos de ordem dos fatores, como um produto de po-
tências de primos distintos [5, p. 03]. Desse teorema decorre que se o quadrado de
um dado número é múltiplo de 3, então esse número tem de ser múltiplo de 3. Logo
fazendo a = 3r temos,
20
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
do mesmo tipo admitiriam medidas em comum, tal como dois números admitem
d2 = l2 + l2
d2 = 2l2 .
camente sobre a reta numérica, localizando os pontos entre os pontos racionais [16,
p.164] (Ver Figura 2.8).
21
As Grandezas Irracionais Capítulo 2
22
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: A escada de Theon Capítulo 2
Teuel provou que duas hipotenusas da espiral nunca coincidem, não importando o
tamanho da espiral.
Boyer (ver [2]) arma que a aritmética grega tinha mais coisas em comum com
a losoa do que com o que consideramos matemática. Theon de Smirna que viveu
em torno do ano de 140 da Era Cristã, era um desses homens que se preocupavam
mais com a aplicação da aritmética à música e à losoa platônica do que com o
progresso da matemática como ciência.
Mesmo assim, Theon de Smirna apresentou um algoritmo muito simples para
calcular a raiz quadrada de 2, e que pode facilmente ser generalizada para achar a
23
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: A escada de Theon Capítulo 2
yn = cxn−1 + yn−1 .
√ √ √ √ n
yn + cxn = (1 + c)n , yn − cxn = (1 − c) . (2.15)
24
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: A escada de Theon Capítulo 2
...
yn √
lim = c.
n→∞ xn
Vamos realizar um exemplo prático com o algoritmo de Theon para achar
raízes quadradas, dessa forma podemos visualizar melhor como o mesmo é simples.
√
Encontraremos 3, am de compararmos e comprovarmos sua ecácia, utilizando
uma calculadora temos como solução exata dessa raiz até a oitava casa decimal
1, 732050807.
Façamos x1 = y1 = 1 e
xn = xn1 + yn−1
yn = xn + (3 − 1)xn−1 =⇒ yn = xn + 2xn−1
yn
rn = .
xn
25
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: A escada de Theon Capítulo 2
x xn yn rn
1 1 1 1
2 2 4 2
3 6 10 1,666666667
4 16 28 1,75
5 44 76 1,727272727
√
Tabela 2.1: Exemplo do Algoritmo de Theon para o cálculo de 3
Carvalho explana que não há, hoje, como saber exatamente como os gre-
gos chegaram ao resultado apresentado por Theon de Smirna para o cálculo de
√
2 e apresenta uma hipótese do historiador de matemática van der Waerden onde
26
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: A escada de Theon Capítulo 2
Sejam b0 = a − a0 e a0 = b − a0 . Então,
a = a0 + b 0 , b = 2a0 + b0 , (2.17)
27
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
A matemática grega em sua forma clássica tem seu desfecho no nal do século
V. Porém neste contexto precisa-se reforçar uma idéia clara, não existia apenas essa
idéia de matemática durante o período de esplendor grego (600 a.C. a 400d.C.). A
tradição cientíca da matemática grega encobriu a matemática prática do dia a
dia.
Em [2] vericamos que existiam dois níveis de congurações de estudo, uma
divisão entre a teoria dos números e as técnicas de computação, uma era racional e
a outra inteiramente prática. Os babilônios não tinham a primeira, mas eram fortes
mais aplicações práticas do que o acabamento teórico, mostram uma fusão curiosa
p
A= a(s − a)(s − b)(s − c) (2.18)
Na qual s = a+b+c
2
é o semiperímetro do triângulo. Carvalho (ver [5]) cita em
28
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
seu trabalho que Heron apresenta uma demonstração geométrica de (2.18) e aplica
√ √
a fórmula para os valores de a = 7, b = 8 e c = 9, encontrando 12 · 5 · 4 · 3 = 720.
Em alguns problemas escritos em sua obra, cuja a solução utilizava a equação
(2.18), os números escolhidos por Heron tinham raízes fáceis de serem calculadas.
√
Isso não aconteceu no problema 08, que deveria ser calculado 720. Em [5] comenta-
se que Heron explica o procedimento para a solução,
Como 720 não tem lado racional, nós extrairemos o lado com
uma diferença muito pequena, da maneira seguinte. Como o
primeiro número quadrado maior do que 720 é 729, cujo lado
2
é 27, divida 720 por 27, e o resultado é 26 e 3 , adicione 27 e
2 11
obtemos 53 3 ; tome a metade disso, que é igual a 26 2 3 . Em
11 1
verdade, 26 2 3 multiplicado por ele mesmo dá 720 36 ; de modo
1
que a diferença (dos quadrados) é 36 . Se quisermos tornar
1 1
essa diferença menor do que 36 , colocaremos 720 36 achado
há pouco no lugar de 729 e, procedendo da mesma maneira
acharemos que a diferença (sobre os quadrado) é muito menor
do que 36 .[5, p.11].
1
Esse texto de Heron deixa claro a idéia de repetir o procedimento que foi o
grande mérito dele, pois já sabemos que os mesopotâmios conheciam esse método de
resolver raízes quadradas, porém até hoje nunca cou claro se eles tinham a idéia de
repetir sucessivamente o processo am de se obter aproximações cada vez melhores
√
para k .
Dessa forma obtemos, pela iteração do processo de Heron, uma sucessão
√
innita, an de números a1 , a2 , a3 ,...., tal que limn→∞ an = k . Nesta sucessão, cada
termo está imediatamente relacionado ao anterior através da fórmula
1 k
an+1 = an + . (2.19)
2 an
Temos assim uma recorrência, método poderoso para denir sucessões.
Para uma melhor visualização do método com a utilização das sequências
√
vamos calcular a 95, com uma aproximação de oito casas decimais.Temos
k = 95
29
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
a1 = 9
1 k 1 95
a2 = a1 + = 9+ ≈ 9, 77777778
2 a1 2 9
1 k 1 95
a3 = a2 + = 9, 77777778 + ≈ 9, 74684343
2 a2 2 9, 77777778
1 k 1 95
a4 = a3 + = 9, 74684343 + ≈ 9, 74679434
2 a3 2 9, 74684343
√
Assim chegamos como solução para 95 ≈ 9, 74679434. Calculando essa
mesma raiz com o auxílio de uma máquina de calcular ou de uma planilha de cálculos
√
encontramos uma solução com doze casas decimais, 95 ≈ 9, 746794344809. Após
a realização de 04 iterações do processo de Heron verica-se que, os oito algarismos
iniciais das casas decimais dos valores encontrados coincidem, ou seja, o método nos
fornece um valor aproximado com uma margem de erro inferior a 0,00000001.
Denição 6 Dizemos que uma sequencia (xn ) é limitada se existe um real positivo
K tal que,
30
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
n > n0 ⇒ an0 ≤ an
e, portanto,
S − ε < an .
31
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
a
x2 + + 2a ≥ 2a + 2a
x
a 2
x+ ≥ 4a.
x
2
x + xa
≥ a. (2.21)
4
Elevando os dois membros de (2.20) ao quadrado teremos,
a 2
an +
2 an
(an+1 ) =
2
a 2
(an + an
)
(an+1 )2 = .
4
a 2
(an + an
)
2
(an+1 ) = ≥ a, n ∈ N. (2.22)
4
Além disso, para todo número real positivo x, se a ≤ x2 então
(x + xa )2 (x + x)2
≤ = x2 .
4 4
32
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
2c2 − c2 = a
c2 = a.
√
Concluímos então que limn→∞ an = a.
x2 + y 2 − (a + b)x + ab = 0. (2.23)
33
O Cálculo de Raízes Quadradas na Grécia: O método de Heron Capítulo 2
y = tx. (2.24)
(a − b)
y= √ x. (2.25)
2 ab
Substituindo o valor de y encontrado pela equação (2.25) na equação da
circunferência (2.23), chegamos as coordenadas de H dadas por,
2ab
,0
a+b
34
Índia Capítulo 2
2.3 Índia
35
A Raiz Quadrada na Índia Capítulo 2
trava soluções para problemas com ns comerciais que exigiam cálculos de juros sim-
ples e compostos e descontos. Aceitavam números negativos e irracionais e sabiam
que uma equação quadrática com respostas reais tem duas raízes formais. Possuem
o mérito ainda de unicarem a resolução algébrica de equações quadráticas pelo
método de completamento de quadrados (ver [2]).
5 Provavelmente relacionado como projeto de construção de uma altar cuja área duplique a de
um altar dado.
36
A Raiz Quadrada na Índia Capítulo 2
√ 1 1 1
2=1+ + − , (2.26)
3 (3)(4) (3)(4)(34)
Esta aproximação dá como resultado, 1,414215686, e os autores dos subasutras
não forneceram quaisquer orientações ou indicações de como eles chegaram a esse
√
valor para 2.
Uma explicação para o método utilizado pelos hindus consiste em tomarmos
dois quadrados de áreas iguais a 1 e tentar formar com eles um quadrado de área 2
(Figura 2.13) (ver [5]).
Iniciamos com dois quadrados de mesma área igual a 1, ABCD e P QRS .
37
A Raiz Quadrada na Índia Capítulo 2
mostrado.
Dessa forma, transformamos o quadrado ABCD em outro quadrado AEF G,
cujo seu lado é igual a,
1 1 5
+
1+ =1 . (2.27)
3 3·4 12
Se notarmos bem a área desse novo quadrado AEF G é maior do que 2, pois
o pequeno quadrado destacado em ABCD não vem do quadrado P QRS . A área
1 2
desse pequeno quadrado é igual a 3.4 . Para podermos ter uma área igual a duas
1
x≈ . (2.32)
3.4.34
O matemático Victor Katz, propõe outra interpretação para a aproximação
(2.26) (ver [5]). Partindo de (2.27), e do resultado 1 12
5
, aplica-se o método mesopo-
tâmico, obtendo de forma direta a aproximação descrita pelos hindus.
17 2 1
17 − 2 17 17 1
− 12
17 = − 144
34 = − . (2.33)
12 2. 12 12 12
12 3.4.34
38
O cálculo da Raiz Quadrada no Manuscrito de Bakhshäli Capítulo 2
Sobre este fato Neugebauer (apud [11, p.18]) faz o seguinte comentário: Não
√ b
a2 + b = a + . (2.34)
2a
39
O cálculo da Raiz Quadrada no Manuscrito de Bakhshäli Capítulo 2
√ b 2
b
a2 + b ≈ a + − 2a
b
(2.35)
2a 2 a + 2a
√
Exemplicando, se desejamos calcular a 11, podemos fazer a = 3 e b = 2.
Com a aplicação da fórmula obtemos,
√ 2 2 1
2
2 6 1 9
3 +2=3+ − = 3 + −
6 2 3 + 26 3 2 × 3 + 13
√ √ 1 1 199
11 = 32 + 2 = 3 +
− = ≈ 3, 31667.
3 60 60
√
Com o auxílio de uma máquina de calcular encontramos 11 = 3, 3166247903
onde observa-se uma precisão até a quarta casa decimal.
Porém, podemos encontrar valores melhores para a e b através de cálculos
racionais simples, facilmente podemos obter a = 3, 3 e b = 11 − 3, 32 = 0, 11,
aplicando a fórmula de Bakhshäli,
2
0,11
1
p
2
0, 11 6,6 1 3600
3, 3 + 0, 11 = 3, 3 + − = 3, 3 + − 1
6, 6 2 3, 3 + 0,11 60 2 × 3, 3 + 60
6,6
√ p 79201
11 = 3, 32 + 0, 11 = ≈ 3, 316624790.
23880
Se compararmos novamente ao valor encontrado com o auxílio de uma cal-
40
O cálculo da Raiz Quadrada no Manuscrito de Bakhshäli Capítulo 2
culadora, podemos vericar que o valor é correto até a nona casa decimal.
A precisão da fórmula é realmente surpreendente, porém nunca saberemos
qual o caminho que foi utilizado pelos autores de Bakhshäli para organizar a fórmula.
A seguir temos um método plausível que poderia ter sido utilizado pelos au-
tores do Manuscrito para se obter a fórmula (2.35). O método baseia-se no princípio
da iteração. É realmente difícil dizer a partir de qual tempo a simples ideia de itera-
ção veio a ser usada na matemática e em particular na análise numérica. Tudo o que
podemos dizer é que deve ser uma ideia muito antiga para poder ser vislumbrada
como um dos instintos humanos básicos de melhorar uma coisa dada com base em
uma experiência anterior. Além disso, a aplicação dessa ideia simples, não exige o
conhecimento de qualquer outro pensamento sosticado matemático. Portanto, é
bem plausível acreditar que o autor estava familiarizado com o processo de iteração.
Assim, poderia ter chegado a Equação (2.35), da seguinte forma,
√
Dado n, um número positivo, que desejamos encontrar n e seja a uma
aproximação para a raiz quadrada e b a medida do erro em relação a a. Temos que:
b = n − a2 (2.36)
b
a0 = a + (2.37)
2a
Encontramos o novo erro b0 ,
2
b2
b
0 0 2 2
b = n − (a ) ⇒ a + b − a + =− . (2.38)
2a 4a2
Repetindo o procedimento para encontrar uma segunda aproximação camos,
b0
a00 = a0 + (2.39)
2a0
Substituindo os valores em (2.39) encontramos,
41
China Capítulo 2
b 2
!
b b2 1 b
a00 = a + − 2 b
=a+ − 2a
b
(2.40)
2a 4a 2 a+ 2a
2a 2 a + 2a
2.4 China
ter certeza dos relatos históricos sobre esse período dado o fato de que os povos dessa
época faziam muitos de seus registros em bambu, um material bastante perecível [8,
p. 234] .
Um outro agravamento em relação a fontes históricas deve-se ao fato de que
em 213 a.C. o imperador da China ordenou uma queima de livros. Algumas obras,
evidentemente escaparam, seja pela persistência de cópias, seja por transmissão oral
[2, p. 135], devido a isso hoje há dúvidas sobre a autenticidade de grande parte do
material bibliográco que se alega ser anterior àquela data infeliz [8, p. 241].
A matemática e a ciência chinesas se atrasaram em relação a outras matérias,
pois os eruditos chineses muitas vezes se interessavam mais por losoa, arte e
literatura (ver [8]).
Muitos autores referem-se como o mais importante dos textos matemáticos
chineses antigos o Nove Capítulos sobre a Arte da matemática escrito por volta do
início da era cristã,
42
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
[...]nele
estão estabelecidos os traços da matemática antiga da
China: cálculos orientados, com teoria e prática ligadas numa
sequencia de problemas aplicados [8, p. 243]. Esse livro con-
tém 246 problemas sobre mensuração de terras, agricultura,
sociedades, engenharia, impostos, cálculos, solução de equa-
ções e propriedades dos triângulos retângulos [2, p. 134].
O livro Nove capítulos sobre a Arte da Matemática tem seu conteúdo apre-
sentado de forma sumária e sem justicações os chineses repetiam o mesmo hábito
dos babilônios de compilar coleções de problemas especícos [2, p. 134]. Esta obra foi
durante muitos séculos objeto de comentários explicando e justicando algoritmos
que ali estavam apresentados. Dentre os capítulos, o quarto se faz importante para
o nosso estudo por trazer conteúdos sobre a extração de raízes quadradas.
Para o nosso estudo os comentários de Liu Hui (263) são bastante peculi-
ares, dão uma interpretação geométrica bastante clara para o método de calcular
raízes quadradas proposto nos Nove capítulos sobre a Arte da Matemática. Esses
comentários foram apresentados em [5] e [11].
√
Interpretação Geométrica do Algoritmo Chinês para o Cálculo de k
seu valor posicional [11, p. 18]. Assim a discussão feita a seguir funciona igualmente
43
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
mais nas serão as frações correspondentes, de tal forma que, embora o quadrado
inicial não tenha sido completamente esgotado, a parte negligenciada se torna tão
A Figura 2.15 está presente nos cometários de Liu Hui, e se baseia em cores
para esclarecer melhor os passos sucessivos do algoritmo. A gura deve ser lida
etapa a etapa, enquanto se procura esgotar o quadrado de área dada por quadrados
44
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
maior quadrado de lado a · 102 esteja contido no quadrado de lado 55225, utilizando
linguagem matemática atual,
Portanto,
a=2
45
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
46
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
47
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
Vamos encontrar agora, o maior algarismo b tal que o número que se escreve
”4b” multiplicado por b, seja menor do que 152. De forma algébrica, queremos
resolver a inequação (2 · 20 + b) · b ≤ 152. Obtemos como resultado b = 3 . Logo
43 × 3 = 129, onde subtraindo de 152, camos com resto 23.
48
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
49
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
Observando bem, os dois últimos termos que estão do lado direito desta
igualdade são exatamente os mesmos da inequação (2.42), e podem ser escritos na
forma
50
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
Achamos, b = 3.
Achamos, c = 5.
51
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
árabe [1, p.30]. Alguns estudiosos trabalharam para fundamentar o assunto dando
demonstrações no estilo de Euclides utilizando apenas palavras.
Além da álgebra, os matemáticos árabes realizaram trabalhos importantes
na área de Geometria e Trigonometria principalmente nessa última, dada a sua
importância no estudo da astronomia.
Em [1] observamos que os árabes eram intensamente criativos, escolhendo o
melhor da matemática grega e indiana. Só uma pequena parte dessa matemática
foi levada para a Europa, levando a redescoberta de vários resultados. Só no século
XIX que estudiosos europeus se debruçaram em textos matemáticos árabes.
Um dos marcos da História a queda do Império Romano em 476 marca o
início da Idade Média, tendo como m a queda de Constantinopla perante os turcos
em 1453.
Essa foi de fato a Idade das Trevas da ciência, mas não de-
veríamos cometer o erro de supor que isso fosse verdade para
a Idade Média como um todo. Pelos dois séculos seguintes as
sombras se mantiveram a tal ponto de ser dito que nada de
erudito poderia ser dito na Europa[...] [2, p. 170].
52
A Raiz Quadrada na China Capítulo 2
mércio também era uma fonte de contato entre os europeus e o Império Islâmico,
estreitando os laços para o desenvolvimento da matemática. Leonardo de Pisa, o
Fibonacci, aprendeu bastante sobre a matemática árabe e em seus livros, buscou
explicar e estender o conteúdo que tinha aprendido.
A partir do século XV os europeus começaram a desenvolver a arte da nave-
gação e passaram a viajar para continentes distantes, levando a cultura europeia. No
nal do século XVI as escolas jesuítas tinham sido estabelecidas em muitos lugares
da América do Sul à China, levando a matemática europeia a ser estudada em toda
parte do planeta.
Devido as navegações a Trigonometria teve um destaque muito grande frente
a outros assuntos da matemática nos séculos XV e XVI. Porém, paralelo a esse
interesse, existia uma classe social mercantilista que precisava ser capaz de efetivar
cálculos.
No século XVI e início do século XVII a álgebra ocupa o centro das atenções.
Porém ainda muito retórica a álgebra não possuía ainda uma notação generalizada
para expressões matemáticas.
Apareceram na Europa os chamados cossistas que inventavam notações, sím-
bolos para incógnitas,o quadrado da incógnita e assim por diante (ver [1]).
Muitos algebristas desse período tentaram encontrar um método para resolver
dois métodos ligeiramente diferentes [1, p. 43]. A utilizada por Newton enfativaza
53
Método de encontrar raízes usado pelos arquitetos europeus no século X Capítulo 2
com uma razão constante de 2. Pense em como seria uma inserção de médias geo-
métricas na sequência. Isto é como alguém poderia renar ou interpolar a sequência
de tal modo a que se mantenha uma sequência geométrica (i.e. termos consecutivos
com uma razão constante). O que se quer é a sequência:
√ √ √ √ √ √
1, 2, 2, 2 2, 4, 4 2, 8, 8 2, 16, 16 232, ...( 2)n
√
Agora começa-se por fazer uma suposição a 2. Por exemplo, vamos começar
√
com o palpite bruto 2 ≈ 1. A sequência torna-se então: 1, 1, 2, 2, 4, 4, 8, 8, 16, 16, 32, ...
A partir desta sequência, forma-se então uma nova sequência na qual cada novo
termo é a soma de dois termos consecutivos na anterior (da mesma forma que gera
um Triângulo de Pascal). Ao fazer isso a cada nova sequência, vem cada vez mais
√
perto de ter uma relação comum de 2.
Vamos continuar a sequencia para servir de exemplo:
54
Método de encontrar raízes usado pelos arquitetos europeus no século X Capítulo 2
8119
≈ 1, 414213552...
5714
√
Um calculadora moderna daria como resultado, 2 ≈ 1, 414213562. Logo, o
algoritmo utilizado pelos antigos arquitetos gerava uma aproximação de sete casas
√
decimais para o valor de 2.
Justicativa do método
1, 1, k, k, k 2 , k 2 , k 3 , k 3 , k 4 , ..., k n
55
Método de encontrar raízes usado pelos arquitetos europeus no século X Capítulo 2
Analisando a situação caso a caso teríamos para os dois valores iniciais apenas
uma linha pois já chegaremos a quantidade de valores necessários.
1 1
Fazendo para três termos teremos n = 2 pois seriam necessárias duas linhas
do triângulo para chegarmos na aproximação.
1 1 k
2 1+k
1 1 k k
2 1+k 2k
3+k 1 + 3k
1 1 k k k2
2 1+k 2k k2 + k
3+k 1 + 3k k 2 + 3k
2
4k + 4 k + 6k + 1
k 2 + 10k + 5 5k 2 + 10k + 1
Para cada triângulo de polinômios chegamos aos dois que seria necessário
√
para efetivar a divisão e encontrar a aproximação de k . Vamos denir xn como
sendo a sequência dos polinômios que seriam os denominadores de cada aproximação
(os que cam a esquerda no nal de cada triângulo) yn a sequência dos polinômios
56
Método de encontrar raízes usado pelos arquitetos europeus no século X Capítulo 2
xn+1 = xn + yn (2.50)
yn+1 = yn + xn · k (2.51)
xn+2 = 2xn+1 + (k − 1) · xn
xn = p(r1 )n + q(r2 )n
57
Método de encontrar raízes usado pelos arquitetos europeus no século X Capítulo 2
√ √
xn = p(1 + k)n + q(1 − k)n (2.54)
√ √ √ √
1− k 1− k (−1)( k − 1 k
q= √ = √ √ = √ √ ⇒q=− (2.56)
2 · (k − k) 2 k( k − 1) 2 k( k − 1) 2k
1h √ √ i
yn = (1 + k)n − (1 − k)n (2.59)
2
Essas soluções das recorrências me permitem encontrar os valores necessários
√
para encontrar a aproximação de k utilizando tantos termos quanto acharmos
necessários.
Dividindo as soluções encontradas para os valores nais dos triângulo tere-
mos,
58
O Método de Newton-Raphson ou Simplesmente Método de Newton? Capítulo 2
1
h √ √ i
yn 2
(1 + k)n − (1 − k)n
= √ h √ √ i
xn k
(1 + k) − (1 − k)n
n
2k
yn 1
1 2k yn √
= √
2
= · √ =⇒ = k (2.60)
xn k 2 k xn
2k
Uma busca rápida em obras sobre extração de raízes pode deixar o pesquisa-
dor confuso com qual denominação usar Método de Newton ou Método de Newton-
Raphson ?
innitas passando seus resultados para seu professor em 1669, esse trabalho também
tem grande destaque por ter sido o primeiro a conter explicações do Teorema Bi-
nomial tendo sido impresso entre 1704 e 1711. Newton repetiu a mesma explicação
em um segundo trabalho denominado Methodus uxionum et serierum innitarum,
59
O Método de Newton-Raphson. Capítulo 2
Raphson, a diferença era suciente para que seu trabalho fosse considerado inde-
pendente dos estudos realizados por Newton.
Entretanto a modicação do processo executada por Raphson tem sua im-
portância identicada por grandes pesquisadores. Lagrange reconheceu o processo
60
O Método de Newton-Raphson. Capítulo 2
√
Figura 2.26: Intervalos que contém a
√
Figura 2.27: Intervalos que contém a
Dados dois intervalos [i, j] e [k, l], com ij = k1 = a, se i ∈ [k, l] ou j ∈ [k, l],
então [i, j] ⊂ [k, l] , ou seja, todo intervalo, que contém um extremo de um segundo
intervalo, contém integralmente este segundo intervalo;
As extremidades à esquerda desses intervalos são aproximações por falta de
√
a com erros cada vez menores, e as extremidades à direita são aproximações por
excesso também com erros cada vez menores. O método de Newton consiste em
√
determinar uma sucessão de intervalos cada vez menores, todos contendo a, de
61
O Método de Newton-Raphson. Capítulo 2
2
Isso nos leva a considerar a função y = f (x) = x − k e a
buscar encontrar os seus zeros, ou seja, os pontos aonde ela
se anula. Geometricamente, embora em outro contexto, isso
2
signica procurar os pontos em que o gráco y = f (x) = x −k
corta o eixo dos x.[5, p. 28].
Suponha que foi possível achar um intervalo [c, d] no qual se encontra o zero
procurado de f (x) − k . Na situação que estamos estudando de f (x) = x2 − k isso
não apresenta maiores diculdades. Basta achar o maior quadrado menor do que
√ √
k e o menor quadrado maior do que k .
62
O Método de Newton-Raphson. Capítulo 2
√
O método consiste em iniciar de um valor arbitrário a, próximo de k e
tomar como aproximação da raiz a interseção a da tangente ao gráco de f (x) =
0
De forma imediata,
f (a)
a0 = a − . (2.63)
f 0 (a)
Se repetirmos esse processo, com um novo valor inicial igual a a0 , obtemos
uma sequencia de aproximações a1 , a2 , a3 , ... tal que limn→∞ an = a. Com esta
notação podemos escrever
f (an )
an+1 = an − . (2.64)
f 0 (an )
Se aplicarmos este processo à função f (x) = x2 − k teremos,
a2 − k
1 k
an+1 = an − n = an + . (2.65)
2an 2 an
Que é exatamente o método utilizado pelos mesopotâmios e por Heron.
Hodgson (ver [11]) observa que um dos interesses em associar a técnica me-
sopotâmica com a de Heron ao método de Newton-Raphson é que pode-se retirar
dados conclusivos quanto a ecácia destes algoritmos. A convergência do método
Newton-Raphson é da forma quadrática, isto é o erro cometido em uma determinada
63
O Método de Newton-Raphson. Capítulo 2
64
Capítulo 3
Raízes
1 F. L. Grith, The Petrie Papyri, I. Kahun Papyri, Plate VIII. (apud [3, p. 361]).
2 H. Schack-Schackenburg in Zeitschrift fur aegyptische Sprache und Altertumskunde, Vol.
XXXVIII (1900), p. 136; also Plate IV. See also Vol. XL, p. 65.text (apud [3, p. 361])
65
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
66
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
Figura 3.1: Parte de uma página do Ars Magna que foi republicado como H. Cardano
Operum Tomus Quartus (Lugdvni, 1663).
Fonte: [3, p. 121].
nos para representar a ordem da raiz e o francês Jacques de Billy usou Q para a
raiz quadrada e QC para a raiz cúbica.
O sinal R ou como um radical foi mais forte nos países da Itália e na Espa-
nha, e mais fraco na Inglaterra. Com o m do século XVII ele praticamente morreu
√
como representação de raiz e o símbolo ganhou representação.
O símbolo l (lado) foi utilizado por Peter Ramus4 como l27 ad l12 dá l75,
4 P. Rami Scholarvm mattiematicarvm libri unus et triginti (Basel, 1569), Lib. XXIV, p. 276,
277. (apud [3, p.364]
67
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
√ √ √
isto é 27 + 12 = 75.
O l foi usado algumas vezes pelo grande algebrista Francis Vietá que parecia
√
declinado a adotar o ou para indicar raízes.
O uso da letra l para calcular radicais nunca se tornou popular, principal-
mente após a invenção dos logaritmos, pois essa letra foi usada para identicá-los.
John Napier5 preparou um manuscrito sobre Álgebra que só foi impresso em
1839. Fez uso da notação de Stifel para representar radicais, mas ao mesmo tempo
criou um esquema de sua autoria. Apesar dele ter inventado uma excelente notação,
o mesmo não a utilizou em sua obra, usando-a apenas quando achava necessário
para evitar algum tipo de ambiguidade que pudesse surgir. Sua notação foi derivada
a partir da gura abaixo:
Figura 3.2: Esquema para Notação de Radicais Elaborado por John Napier
√
O sinal para apresentar raiz
Este símbolo teve origem na Alemanha. L. Euler6 cogitou que era uma letra
r deformada, a primeira letra de radix. Esta opinião é aceita até recentemente,
alguns estudiosos zeram uma pesquisa em quatro manuscritos antigos de álgebra
alemães e aceitaram essa explicação, a priori, por acharem a teoria de que o símbolo
originou-se a partir de um ponto muito menos provável.
O mais antigo dos manuscritos data de 1480 está na Biblioteca de Dresden e
5 De Arte Logistica Joannis Naperi Merchistonii Baronis Libri qui superaunt(Edinburgh, 1839),
p. 84(apud [3, p.365]).
6 L. Euler, Institutiones calculi dierentialis (1775), p. 103, art. 119; J. Tropfke, op. cit., Vol.
II (2d ed., 1921), p. 150. (aoud [3, p. 366])
68
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
ponto (·)colocado antes do radicando signica raiz quadrada, dois pontos (· ·)signica
raiz da raiz, três pontos (· · ·)signica raiz cúbica, para quatro pontos (· · · ·)raiz cúbica
cada um. Em outro lugar se encontra a declaração per punctum intellige radicem
- por um ponto se entender uma raiz. Ou seja, o ponto era usado como raiz no
manuscrito.
O terceiro manuscrito pertence a Universidade de Gottingen. É uma carta
escrita em latim por Initus Algebras, provavelmente antes de 1524. Uma elaboração
desse manuscrito foi feita para o alemão por Andreas Alexander8 , nele o sinal do
radical é um ponto forte com um golpe de caneta para cima e curvando-se à direita,
assim . É seguido por um símbolo que signica a ordem da raiz, , indica a raiz
quadrada, para a raiz cúbica, para a raiz nona, e assim por diante. Além
p √
disso cs|8+ 22 , para 8 + 22, onde cs signica a raiz do binômio que está
mostrado como uma quantidade e encontra-se destacado entre as linhas horizontal
e vertical, o indicando a ordem da raiz é colocado como um subscrito no nal.
O quarto manuscrito é um documento sobre Algebra completada por Adam
Riese9 em 1524. Reese estava um pouco familiarizado com a algebra latina da
coleção de Dresden, citado anteriormente; Não usa o ponto na sua forma simples,
7 C. J. Gerhardt, Monatsberichte Akad. (Berlin, 1867), p. 46; ibid. (1870),p. 143-47; Cantor,
op. cit., Vol. II (2d ed., 1913), p. 240, 424. (apud [3, p. 366])
8 G. Enestrom, Bibliotheca mathematica (3d ser.), Vol. Ill (1902), p. 355-60. (apud [3, p.367])
9 B. Berlet, Adam Riese, sein Leben, seine Rechenbucher und seine Art zu rechnen; die Coss
von Adam Riese (Leipzig-Frankfurt a/M., 1892). (apud [3, p. 367])
69
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
mas o ponto com um golpe ligado a ele, embora ainda aconteça o ponto. Na sua
√
obra ele compara o com o símbolo , dando-lhes o mesmo signicado, ou seja a
raiz quadrada.
Foram apresentados aqui os principais fatos dos quatro manuscritos. Os
mesmos, mostram conclusivamente que o ponto foi associado como um símbolo de
extração de raiz. No primeiro manuscrito, o ponto realmente aparece como um sinal
para as raízes. O ponto não aparece como um sinal no segundo manuscrito, mas é
mencionado no texto. No terceiro e quarto manuscritos, o ponto, pura e simples,
não ocorre para a designação das raízes, o símbolo é descrito pelos autores mais
recentes como um ponto com um traçado a ele ligado. A questão é saber se o nosso
√
sinal algébrico tomou sua origem no ponto. Alguns escritores alemães acreditam
nesse ponto de vista, mas a evidência está longe de ser conclusiva.
Christo Rudol estava familiarizado com o Manuscrito de Viena, que usa
o ponto com uma extensão. Na sua obra em 1525 fala de ponto em conexão com
o simbolismo de raiz, mas usa uma marca com um curto golpe pesado para baixo
(quase um ponto), seguido por uma linha reta ou traçado, inclinada para cima
(Figura 3.3).
Deve-se acrescentar que se Rudol olhou para o seu símbolo radical como re-
almente um ponto, ele foi menos propenso a ter usado o ponto novamente para um
segundo propósito em seu simbolismo radical. É possível, talvez provável, em que
o símbolo de Rudol e nos manuscritos terceiro e quarto acima referidos não é um
70
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
ponto de todo, mas um r, a primeira letra de radix. Que foi o entendimento do escri-
tor espanhol do século XVI, Perez de Moya, onde é evidente por suas denominações
de raiz quadrada por r, a raiz quarta por rr, e a raiz cúbica por rrr.
√
A história do nosso sinal radical , depois do tempo de Rudol, se relaciona
principalmente com os simbolismos para indicar o índice da raiz e a agregação de
termos quando a raiz de um binômio ou polinomial é necessária. Levou mais de um
século para chegar a algum tipo de acordo sobre esses pontos. Além disso, Stifel deu
√
ao símbolo sua forma moderna, tornando o lado esquerdo, mais aberto do que o
de Rudol.
Na Dinamarca Chris Diubuadius10 em 1605 desenvolveu três denominações
√ √ √ √ √ √
para o símbolo da raiz quadrada , Q e , três para raíz cúbica C, c,
√√ √ √
c e para a raiz quarta,
e
, QQ e . Stifel teve um modo mais complicado e
desajeitado de indicar a ordem das raízes do que Rudol. Christo Rudol, em 1544
e 1553 tinha elaborado símbolos melhores de sua autoria, e encontrou adoção um
pouco modicada da sua forma entre alguns escritores de data posterior. Ocorrem
na obra do espanhol Aurel de 1552. Eles são dados em Recorde, de
Arithmetical
√
Whetstone Witte (1557), que, após a introdução do primeiro sinal , prossegue
usando o segundo sinal como .16 para signicar a raiz cúbica de 16 e por outras
vezes foram usados outros sinais com ele também, como ce 25 para a raiz cúbica
de 25.
Um momento de inovação considerável foi quando os índices de Stevin for-
mado por numerais tomaram o lugar das letras de Stifel para marcar as ordens das
√
raízes. Começando com Stifel o sinal sem qualquer marcação adicional veio a ser
interpretado no sentido de raiz quadrada. Stevin adotou esta interpretação, mas
√
no caso da raiz cúbica ele colocou após o o numeral 3 incluso por um círculo.
Usando essa norma para as raízes de ordem superior. O uso de Stevin de números
se encontrou com grande aprovação, mas ainda não tinha aceitação universal. Havia
ainda aqueles que indicavam a ordem de uma raiz com o uso de letras, um deles
√
foi Descartes, que em 1637 indicou raiz cúbica por C. Mas em uma carta para
Albert Girard de 1640 usou o numeral 3 e inclinou-se para a outra notação, quando
√ √ √ √
escreveu 3)20 + 392 para 3 20 + 392.
71
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
gura 3.4). Substancialmente esta notação foi utilizada por Descartes em uma carta
√
a Mersenne (Setembro 30, 1640), onde se representa a raiz cubica por 3), a raiz
√ √
quinta por 5) e assim por diante. Outras vezes utilizou-se colchetes, [3]1000 para
√3
1000 na nossa notação atual.
Figura 3.4: Página 101 do Artis Analyticae praxis, 1631 de Thomas Harriot.
Fonte: [3, p. 201].
índice dentro da abertura do radical tinha sido sugerida por Albert Girard, já em
1629. A Notação de Wallis é encontrada na aritmética universal do espanhol, José
11 Richard Sault, A New Treatise of Algebra (London, n.d.).(apud [3, p. 371]
12 John Wallis, Arilhmetica innitorum (Oxford, 1655), p. 59, 87, 88.(apud [3, p.371]
72
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
√ √ √ √ √ √
Zaragoza13 , que escreve 4 243 − 3 27 para o nosso 4 243 − 3 27 e 2 (7 + 2 13)
p √
para o nosso 7 + 13. Wallis empregou essa notação na sua Algebra de 1685. Foi
√
o primeiro a utilizar índices na expressão d Rd = R.
A idéia de Girard colocando o indicador na abertura do radical aparece em
Traite Holle M. d'Algebre (Paris, 1690), numa carta de Leibniz14 , para Varignon do
√
−3, e em 1708 em uma revisão de G. Manfred15
p
ano de 1702, na expressão 1 +
p n √
com índices literais, aa + bb . Nesta altura, a preferência leibniziana para (aa +
m
√
bb) em vez de aa + bb é tornado público; uma preferência que foi atendida na
Alemanha e Suíça mais do que na Inglaterra e na França. Na obra Arithmetica
16
universalis , de Isaac Newton de 1707 (escrito por Newton em algum momento
entre 1673 e 1683, e publicado pela Whiston sem ter obtido o consentimento de
√
mesmo) o numeral índice é colocado depois do radical, embaixo, como em 3 : 64
√
para 3 64, causando o risco de confusão maior do que na maioria das outras notações.
Christian Wol17 , em 1716, usou em um só lugar o caráter astronômico re-
presentando Áries ou o carneiro, para o sinal radical, e escreve o índice da raiz para
a direita, assim 3
que signica raiz cúbica. No entanto, a notação veio a ser
adotada quase universalmente durante o século XVIII.
Variações aparecem aqui e ali. De acordo com W. J, Greenstrcet18 , a uti-
lização de um sinal radical curioso encontra-se na Walkingame's Tutor's Assistant
(20th ed., 1784). Emprega-se a letra V para raiz quadrada, mais utiliza V 3 para
o cubo ou terceira potência, V 4 para a quarta potência. Em 1811, uma obra de
√ √
aritmética anônima de Massachusetts sugere 2 4 para 2 4 e m b para b.
m
√ √
Ainda em 1847 encontra-se a notação 3 b, , m abc, para a raiz cúbica e a m-
ésima raiz, o índice aparecia em frente do sinal radical. Esta forma não foi adotada
tendo em conta as limitações da tipograa, para um artigo na mesma época, a partir
da obra de De Morgan, o índice é colocado dentro da abertura do sinal radical19 .
√
René Descartes, em seu Géométry (1637), indica a raiz cúbica por C. como
13 Joseph Zaragoza, Arithmetica universal (Valencia, 1669), p. 307.(apud [3, p.371]
14 Journal des Sâvans, annee 1702 (Amsterdam, 1703), p. 300. (apud [3, p.371]
15 Ibid., ann6e 1708, p. 271. 8 Ibid.(apud [3, p.371]
16 Isaac Newton, Arithmetica universalis (London, 1707), p. 9; Tropfke, Vol. II, p. 154. (apud
[3, p.371]
17 Christian Wol, Mathematisches Lexicon (Leipzig, 1716), p. 1081. (apud [3, p.371]
18 W. J. Greenstreet in Mathematical Gazette, Vol. XI (1823), p. 315. (apud [3, p.371]
19 A. de Morgan, "Study and Diculties of Mathematics,"ibid., Mathematics, Vol. I (London,
1847), p. 56. (apud [3, p.371]
73
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
em
s r
1 1 1
C. q + qq − p3
2 4 27
para o nosso
s r
3 1 1 2 1
q+ q − p3
2 4 27
√
Aqui uma inovação notável é a união do sinal radical com o vínculo
(Figura 3.5).
74
A história da Simbologia para Representação de Raízes Capítulo 3
√
Esta combinação de sinal radical e vínculo é aquele que encontrou com
grande apelo e tem mantido um lugar de destaque em livros de matemática até o
nosso tempo. Antes de 1637, esta combinação de sinal radical e vínculo havia sido
sugerida por Descartes (Euvres, vol. X, p. 292).
alunos não teriam tido a necessidade de dominar as duas notações quando uma só (o
exponencial) teria respondido todos os ns. Isaac Newton, mais tarde, também per-
deu a oportunidade, até introduziu a notação da fração expoente, porém continuou
usando radicais.
Leibniz e outros que estavam destinados a simplicar a impressão através da
utilização em uma linha de símbolos desencorajou o uso do símbolo com o vínculo.
Em 1915, o Conselho da Sociedade de Matemática de Londres, nas suas sugestões
√ 1
para Notação e impressão, recomendou que 2 ou 2 2 deveria ser adotado em vez
√ √ 1 √
de 2, também (ax2 + 2bx + c) ou (ax2 + 2bx + c) 2 em vez de ax2 + 2bx + c.
O Comitê Nacional dos Estados Unidos fez uma recomendação em relação
√
ao uso dos símbolos para indicar raízes. No que diz respeito ao sinal de raiz , a
comissão reconhece que a conveniência da sua escrita assegura o seu uso contínuo,
em muitos casos, ao invés de utilizar o expoente fracionário. Recomenda-se, con-
tudo, que, quando o trabalho algébrico envolver situações complicadas o expoente
fracionário deverá ser preferido. Chama-se atenção para o fato de que o símbolo
√ √
a (a > 0) signica apenas a raiz quadrada positiva e que o símbolo n a signica
1 1
20
n-ésima raiz de a, e de forma similar para a 2 , a n .
20 Report of the National Committee on Mathematical Requirements under the Ausjyices of the
Mathematical Association of America (1923), p. 81. (apud [3, p.379]
75
Capítulo 4
Neste capítulo, iremos apresentar uma nova forma de calcular a raiz qua-
drada que é abordada nas nossas escolas atualmente, am de ampliar o leque de
possibilidades de métodos de extração de raízes e sua utilização por alunos e docen-
tes.
76
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
5o Passo: Colocar o número 01 abaixo das unidades do número 124 e somar o último
ímpar que apareceu dentre as subtrações com valor 1 colocando o resultado ao lado
77
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
esquerdo do número 1 no resto. Ou seja, ca 5 (último ímpar que foi subtraído) +
1 (xo) = 6, colocar esse valor ao lado do algarismo 1 formando 61 para reiniciar a
subtração.
Neste caso como o resto das subtrações foi zero temos uma raiz exata. Mas
se a raiz não for exata, um número irracional por exemplo. Vamos extrair a raiz
quadrada de 2 com aproximação de 3 casas decimais.
78
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
A justicativa do método
Podemos escrever qualquer número quadrado perfeito como a soma dos n pri-
meiros números ímpares menores que o valor que se quer encontrar a raíz quadrada.
Ou seja,
a1 = 1
a2 = 1 + 3 = 4
a3 = 1 + 3 + 5 = 9
79
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
a4 = 1 + 3 + 5 + 7 = 16
(...)
k = 1 + 3 + 5 + 7 + ... + an
an = a1 + (n − 1).r
an = 1 + (n − 1).2
an = 2n − 1
(a1 + an ).n
k=
2
(1 + 2n − 1).n √
k= = k = n2 =⇒ n = k (4.1)
2
O valor de n é o número de parcelas da soma da progressão aritmética.
O método, como todos os outros também se torna exaustivo para números
elevados e para aproximações com necessidade de muitas casas decimais, mas serve
como mais um método que busca simplicar o cálculo das raízes quadradas exatas
ou não.
Geometricamente a ideia é ir completando o quadrado com os números ím-
pares organizando-os de forma a desgastar a área inicial (gura 4.1).
Da mesma forma que o algoritmo chinês, esse método encontra os algarismos
√
do valor da raiz quadrada um a um. Logo a 1024 pode ser escrito na forma ab
onde teríamos a · 10 + b. E daí,
√
a · 10 ≤ 1024 (4.2)
a2 · 102 ≤ 1024
80
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
1024 − a2 · 102 ≥ 0
a2 = 9 = (1 + 3 + 5)
81
Método Apresentado por Jonofon Sérates Capítulo 4
ak.10i = 2.k.10i − 1
an = 2n − 1 ⇒ a31 = 2 · 31 − 1 = 61
124 − 61 = 63
63 − 63 = 0
Como o resultado deu zero signica dizer que a soma da sequencia de números
ímpares esgotou o quadrado inicial. E que o valor de b é a quantidade de números
√
ímpares que faltava para que isso acontecesse, dessa forma, b = 2 e 1024 = 32.
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Referências Bibliográcas
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