Manejo de Doenças Na

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MANEJO DE DOENÇAS NA

CULTURA DA SOJA
GODOY, Cláudia Vieira! forma geral, essas doenças ocorrem
1Doutora em Fitopatologia. em reboleiras, em razão da distri-
Pesquisadora da Embrapa Soja. buição desuniforme dos patógenos
Email: [email protected] no solo, com maior frequência em
condições de alta umidade e tem-
As doenças que incidem na peratura. Os sintomas geralmente
cultura da soja se intensificaram se manifestam com a morte inicial
nos últimos anos com o aumento da plântula, podendo ser observado
da área semeada, a ampla janela de estrangulamento da haste no nível
semeadura, a expansão da cultura do solo, resultando em murcha,
para novas regiões e a entrada de tombamento ou sobrevivência tem-
novos patógenos no País. Aproxi- porária com emissão de raízes ad-
madamente 40 doenças causadas ventícias acima da região afetada.
por fungos, bactérias, vírus e ne- A ocorrência dessas doenças pode
matoides já foram identificadas ser reduzida com medidas como o
no Brasil. A importância econômi- tratamento das sementes com fun-
ca de cada doença varia de ano para gicida, para proteger contra fungos
ano e de região para região, depen- presentes no solo durante a emer-
dendo das condições climáticas de gência; a rotação de culturas, com
cada safra. o objetivo de reduzir a população
Em safras com maiores volu- de patógenos que sobrevivem de
mes de chuva durante a implantação uma safra para outra nos restos de
das lavouras, logo após a emergên- cultura; e a eliminação da compac-
cia da cultura, pode ser observada a tação do solo, para promover o bom
morte de plântulas ou tombamentos desenvolvimento das raízes e dimi-
que podem estar associados a fun- nuir o acúmulo de água em perío-
gos de solo. Patógenos como Rhi- dos chuvosos.
zoctonia solani, Sclerotium rolfsii, Os sintomas mais comuns ob-
Fusarium spp. e Phytophthora so- servados durante o desenvolvimen-
jae podem causar sintomas seme- to da lavoura são as manchas folia-
lhantes, sendo difícil para o produ- res, causadas por diversos fungos e
tor identificar o agente causal. De bactérias, incidindo em diferentes

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fases da cultura. As primeiras man- parentes quando observadas contra
chas foliares observadas são asso- a luz, que necrosam e coalescem,
ciadas a fungos que sobrevivem formando áreas grandes de tecido
em restos de cultura como Septoria morto.
glycines, que causa a mancha-par- No período inicial ainda é pos-
da. Esse fungo pode colonizar as sível observar a ocorrência de míl-
primeiras folhas, principalmente, dio (Peronospora manshurica) e
quando há senescência de tecidos oídio (Microsphaera diffusa), am-
associada a excesso de população bas sendo favorecidas por tempe-
de plantas, compactação do solo, raturas amenas (20°C a 22°C). O
deficiência nutricional ou aplica- míldio ocorre em condições de alta
ção de herbicidas. No entanto, na umidade e o oídio de baixa umidade
maioria dos caos, a desfolha não é relativa. Os sintomas do míldio são
significativa nos estádios iniciais. lesões verde-claras, que se tomam
No final de ciclo, quando ocorre amarelas com posterior necrose dos
a maturação das plantas, há uma tecidos. No verso dessas lesões, na
maior incidência de mancha-parda, face inferior da folha, aparecem as
associada ao crestamento foliar de estruturas de frutificação do pató-
Cercospora (Cercospora kikuchii), geno, de aspecto cotonoso e colo-
formando o complexo chamado de ração acinzentada. Para o míldio,
doenças de final de ciclo (DFCs). não há medidas de controle reco-
As DFCs podem antecipar a desfo- mendadas em razão da pouca im-
lha da lavoura, causando redução portância econômica da doença. À
de produtividade. O controle com
fungicidas na parte aérea é reco-
mendado durante a fase de forma-
ção e enchimento das vagens.
Outra doença que ocorre no
início do desenvolvimento da la-
voura é o crestamento bacteriano,
causado por Pseudomonas savas-
tanoi pv. glycinea, sendo a doen-
ça bacteriana mais comum em
soja, presente em todas as regiões
onde há cultivo, mas sem impor-
tância econômica. Seus sintomas
são manchas aquosas, semitrans- Mancha-púrpura (Cercospora kikuchii)

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manchas na haste e nas vagens. As
estratégias de manejo recomen-
dadas para essa doença são: a uti-
lização de cultivares resistentes, o
tratamento de sementes, a rotação/
sucessão de culturas com milho e
outras espécies de gramíneas e o
controle químico com fungicidas.
Fungicidas contendo os ingredien-
tes ativos protioconazol ou fluxapi-
Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) roxade têm apresentado as maiores
eficiências de controle dessa doen-
medida que as folhas envelhecem e ça nos ensaios em rede.
as temperaturas aumentam os sin- A ferrugem-asiática, causada
tomas dessa doença diminuem. Os pelo fungo Phakopsora pachyrhizi,
sintomas do oídio ocorrem em toda é a doença que tem mais destaque
a parte aérea, onde se observam es- na cultura em decorrência do seu
truturas brancas constituídas de potencial de dano. O fungo se dis-
micélio e esporos pulverulentos semina pelo vento e pode incidir em
do patógeno. Para oídio, o contro- qualquer estádio da cultura, porém
le químico é recomendado quando é mais comum após o fechamento
há incidência ainda no período ve- do dossel, em razão do acúmulo de
getativo. umidade e da menor incidência de
Uma doença que tem aumen- radiação solar nas folhas baixeiras,
tado sua incidência nas lavouras é por onde a doença tende a começar.
a mancha-alvo, causada pelo fim- Todas as estratégias de mane-
go Corynespora cassiicola, em jo devem ser utilizadas para evitar
razão do aumento da semeadura reduções de produtividade com a
de cultivares suscetíveis e da bai- ferrugem, envolvendo a utilização
xa eficiência dos fungicidas mais de cultivares de ciclo precoce e se-
comumente utilizados na cultura meaduras no início da época reco-
da soja. Os sintomas mais comuns mendada; a eliminação de plantas
são manchas circulares, de colo- de soja voluntárias e a ausência de
ração castanha com pontuação no cultivo de soja na entressafra (va-
centro, semelhante a um alvo, daí o zio sanitário); o monitoramento da
nome da doença. Cultivares susce- lavoura desde o início do desenvol-
tíveis podem sofrer desfolha, com vimento da cultura; a utilização de

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fungicidas preventivamente ou no
aparecimento dos sintomas; e a uti-
lização de cultivares com gene(s)
de resistência. As cultivares com
gene(s) de' resistência apresentam
lesões com menor quantidade de
esporos e não dispensam a utiliza-
ção de fungicidas. São ferramentas
importantes de manejo e podem
ajudar a reduzir a pressão de sele-
Ferrugem asiática da soja
ção sobre os fungicidas, mas, como
apresentam um ou no máximo dois de isolados menos sensíveis, em
genes de resistência, o fungo pode consequência do uso intensivo de
vencer essa resistência, por sele- fungicidas. Os principais modos
ção natural, de forma semelhante de ação utilizados no controle da
ao que ocorre com os fungicidas. ferrugem-asiática são os fungici-
A semeadura no início da época das sítio-específicos inibidores da
recomendada é uma das principais desmetilação (IDM, "triazois"),
estratégias para escapar da doen- os inibi dores da quinona externa
ça, uma vez que o fungo inicia sua (IQe, "estrobilurinas") e os inibi-
multiplicação após o período do va- dores da succinato desidrogenase
zio sanitário. (ISDH, "carboxamidas"). Desde
Desde 2003/04, ensaios em 2014/15, fungicidas multissítios
rede vêm sendo realizados por ins- como mancozebe, clorotalonil e
tituições públicas e privadas com fungicidas a base de cobre têm
o objetivo de comparar a eficiên- sido avaliados na rede de ensaios
cia de fungicidas para diferentes em misturas prontas e associados a
alvos biológicos. Para ferrugem- fungicidas sítio-específicos.
-asiática, ensaios em rede foram Resultados de pesquisas recen-
conduzidos em todas as safras, tes devem ser consultados na esco-
desde o início. Esses ensaios, ini- lha dos fungicidas para o controle
cialmente propostos para comparar da ferrugem. Os ensaios em rede
a eficiência de fungicidas, têm per- não se constituem em recomenda-
mitido acompanhar a mudança de ção de controle e são somente um
sensibilidade do fungo aos diferen- indicativo para a escolha dos fungi-
tes fungicidas. Essa mudança de cidas mais adequados aos alvos bio-
sensibilidade é atribuída à seleção lógicos. Para o controle químico de

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doenças deve ser priorizada a utili- to do micélio dá origem a uma mas-
zação de misturas prontas de dife- sa negra e rígida, o esc1eródio, que é
rentes modos de ação e a rotação de a estrutura de resistência do fungo,
fungicidas dentro do programa. Em podendo ser formados tanto na su-
razão da redução de eficiência dos perficie quanto no interior da haste
fungicidas sítio-específicos, fungi- e das vagens infectadas. Em áreas
cidas multissítios devem ser utili- de ocorrência da doença, recomen-
zados no programa de manejo para da-se fazer a rotação/sucessão de
aumentar a eficiência de controle soja com espécies não hospedeiras;
e tentar atrasar o aparecimento de fazer semeadura direta sobre palha-
resistência. da de gramíneas; eliminar as plan-
Além dessas doenças, existem tas invasoras hospedeiras do fungo;
problemas mais localizados como utilizar cultivares com arquitetura
o mofo-branco, causado pelo fungo que favoreça boa aeração entre as
Sclerotinia sclerotiorum, que ocor- plantas; empregar controle químico
re, principalmente, em regiões com com fungicidas específicos, princi-
altitude superior a 700 m, uma vez palmente, no período do início da
que o fungo é dependente de tempe- fioração até o início da formação de
raturas amenas e alta umidade para vagens; promover a limpeza de má-
se desenvolver. Os sintomas dessa quinas e equipamentos após utiliza-
doença são bem característicos, ção em área infestada para evitar a
sendo observado micélio branco e disseminação de esc1eródios.
denso sobre a planta. O adensamen- A antracnose (Colletotrichum
truncatum), doença que afeta a fase
inicial de formação de vagens, é um
dos principais problemas nos Cer-
rados, por causa das condições de
alta umidade e temperatura. Pode
causar queda total das vagens ou
deterioração das sementes quan-
do há atraso na colheita em razão
da ocorrência de chuva. As vagens
infectadas nos estádios R3-R4 ad-
quirem coloração castanho-escura
a negra e ficam retorcidas. Medi-
das de manej o como tratamento
Antracnose (Colletotrichum truncatum) de sementes, rotação de culturas,

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utilização de maior espaçamento Com essa grande diversidade
entre linhas, população de plantas de doenças, o principal procedi-
adequada e adubação equilibrada, mento da pesquisa é tentar desen-
principalmente, com relação ao volver cultivares resistentes para o
potássio, são' recomendadas para produtor. Doenças como o cancro-
reduzir a incidência dessa doença -da-haste (Diaporthe aspalathi), a
uma vez que o controle químico mancha or.no-de-rã (Cercospo-
com fungicida não tem se mostrado ra sojina) e a pústula-bacteriana
eficiente. (Xanthomonas axonopodis pv.
A podridão-de-carvão, cau- glycines) praticamente não são
sada pelo fungo Macrophomina encontradas nas lavouras, uma
phaseolina, é a doença radicular vez que a maioria das cultivares
mais comumente encontrada nas lançadas apresentam resistência.
áreas cultivadas com soja. O fungo Para doenças causadas por vírus e
é um habitante natural do solo e a nematoides (galha e cisto), a prin-
doença pode ocorrer após o flores- cipal estratégia de controle tam-
cimento em condições de estresse bém é a utilização de cultivares
hídrico, sendo mais importante em resistentes. O controle por meio
anos com veranicos prolongados e de resistência genética é a opção
temperaturas elevadas. Nas lavou- mais econômica para o agricultor.
ras onde o preparo do solo não é O manejo eficiente das doen-
adequado, permitindo a formação ças começa no planejamento da
de camada compactada, as plantas lavoura com a escolha da cultivar,
desenvolvem sistema radicular su- levando em conta as principais
perficial, não suportando deficiên- doenças na região. Todas as estra-
cia hídrica e tomando-se mais vul- tégias de controle devem ser utili-
neráveis ao ataque de M. phaseoli- zadas conjuntamente, envolvendo a
na. O principal sintoma na lavoura adoção do vazio sanitário, a rotação
são plantas com folhas inicialmente de culturas, o uso de cultivares re-
cloróticas, que secam e tomam-se sistentes, a eliminação de compac-
marrons, permanecendo aderi das tação do solo, a utilização de se-
aos pecíolos. Quando as plantas mentes sadias e tratadas, a aduba-
são retiradas do solo podem ser ob- ção baseada em análises de solo e
servadas as raízes com coloração tecido, a semeadura com população
cinza, cuja epiderme é facilmente adequada e o controle químico para
destacada, mostrando massa de mi- algumas doenças fúngicas que inci-
croescleródios negros. dem na parte aérea.

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