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Resumo: O presente artigo tem o objetivo de mostrar uma parte dos resultados de uma pesquisa-ação
realizada na tese de doutorado e de, também, apresentar uma possibilidade de sequência de atividades
a ser utilizada em sala de aula como metodologia a fim de contribuir ao ensino-aprendizagem dos
alunos no que diz respeito aos temas gramaticais ordem do sujeito e concordância. O trabalho realizado
aborda a ordem dos constituintes, mais especificamente, a ordem Sujeito-Verbo e Verbo-Sujeito e as
implicações dessas ordens na concordância verbal no contexto escolar. Os objetivos gerais são: (i)
avaliar o funcionamento de uma abordagem reflexiva da gramática a fim de detectar se o conhecimento
inconsciente do aluno se transformará em conhecimento consciente; (ii) ensinar ao aluno a identificar
o sujeito posposto e, como consequência, levá-lo a estabelecer a concordância por meio de marca,
segundo a norma padrão. Em termos teóricos, levaram-se em consideração alguns pressupostos,
como os da teoria gerativa (CHOMSKY, 1965), da teoria da variação e mudança (WEINREICH; LABOV;
HERZOG, 2006 [1968]) e de algumas teorias reflexivas de ensino de gramática (VIEIRA, 2017). Além
disso, as metodologias utilizadas pautaram-se na pesquisa-ação (TRIPP, 2005), na metodologia
proposta por Vieira (2020), baseada no uso (situação inicial), reflexão, sistematização e uso (situação
final) e na metodologia da Aprendizagem Linguística Ativa (PILATI, 2017), e contou com duas propostas
de aplicação. Os resultados mostram, com base na adoção de estratégias pedagógicas particulares,
que é produtiva a reflexão sobre os fenômenos gramaticais em questão.
Abstract: This article aims to show a part of the results of an action research carried out in the doctoral
thesis and also to present a possibility of a sequence of activities to be used in the classroom as a
methodology in order to contribute to the teaching-learning process student learning considering the
grammatical topics subject order and agreement. The work carried out addresses the order of
constituents, more specifically, the order Subject-Verb and Verb-Subject and the implications of these
orders in verbal agreement in the school context. The general objectives are: (i) to assess the functioning
of a reflexive approach to grammar in order to detect whether the student's unconscious knowledge will
transform into conscious knowledge; (ii) teach the student to identify the postponed subject and, as a
consequence, lead him to establish the agreement by means of a mark, according to the standard norm.
In theoretical terms, some assumptions were taken into account, such as the of the generative theory
(CHOMSKY, 1965), the theory of variation and change (WEINREICH AND HERZOG, 1968) and of
some reflexive theories of grammar teaching (VIEIRA, 2017). In addition, the methodologies used were
based on action research (TRIPP, 2005), on the methodology proposed by Vieira (2020), based on use
(initial situation), reflection, systematization and use (final situation) and on the Active Language
Learning methodology (PILATI, 2017), and had two proposals for application. The results show, based
on the adoption of particular pedagogical strategies, that reflection on the grammatical phenomena in
question is productive.
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Keywords: Subject order; Agreement; Grammar teaching; Active Language Learning; Concrete
material.
INTRODUÇÃO
Muitos são os estudos que têm como foco o ensino de Língua Portuguesa
(PILATI, NAVES, SALLES, 2019) e abordam as problemáticas envolvidas no processo
de aprendizagem, sobretudo no tratamento da língua materna. Soares (1996), ao
estudar a abordagem do ensino de Língua Portuguesa nos documentos nacionais,
destacou, nos anos 50, a separação dos conteúdos gramaticais e textuais.
Concomitantemente, os estudos linguísticos estão em evidência, estudos do
estruturalismo, estudos sociolinguísticos, estudos gerativistas surgem naquele
momento. Dessa maneira, o ensino de português nos moldes tradicionais –
prioritariamente prescritivo – é questionado e o ensino de Língua Portuguesa se torna
polarizado: para muitos professores-pesquisadores, a gramática é um compêndio no
qual se postulam regras que devem ser rigorosamente seguidas; para outros
professores-pesquisadores, a gramática é algo totalmente dispensável e, por isso,
deve ser abolida das escolas e do sistema educacional vigente. A preocupação e o
debate, dessa maneira, ficam não só na forma de ensinar, mas também, no uso ou
não da gramática em sala de aula, como se a gramática fosse o grande terror ou a
grande salvação do ensino de Língua Portuguesa.
Com novas composições culturais, sociais e econômicas, marcadas pelo
atendimento a um novo alunado vindo de diferentes classes sociais que passam a ter
acesso ao ensino formal, foi necessário mudar as bases curriculares e priorizar o texto
em sala de aula, numa perspectiva socio-interacional, muitas vezes, colocando o
ensino de gramática em segundo plano, ou deixando o ensino de gramática num
espaço meramente instrumental.
Sendo assim, diante da problemática do ensino de Língua Portuguesa, que
reflete até os dias atuais, levando em consideração a importância dos temas
gramaticais na construção do conhecimento linguístico, sem marginalizar, no entanto,
o ensino de gramática por meio dos textos, pretendeu-se produzir, aplicar e analisar
uma sequência de atividades, baseadas nas atividades linguística, epilinguística e
metalinguística (FRANCHI, 2006 [1988]), nos três eixos de gramática (VIEIRA, 2017)
Esta seção tem o intuito de mostrar alguns dos principais estudos linguísticos
que contribuíram em prol de uma literatura mais apurada dos temas da ordem Sujeito-
verbo e Verbo-sujeito e concordância no Português falado no Brasil. O objetivo da
seção é retomar o conceito de sujeito e concordância nos trabalhos que lidam com
esses temas e suas relações com os padrões de transitividade verbal.
DEFINIÇÃO DE SUJEITO
[...] o sujeito mais típico em português me parece aquele que é agente na oração ativa. Acredito
nisso porque: 1) os falantes pensam no traço em primeiro lugar, 2) há quase unanimidade a
respeito desse traço e 3) os outros traços alistados tiveram uma percentagem muito menor de
ocorrência. (PONTES, 1986, p. 170)
Dessa forma, a autora define sujeito como sendo um elemento multifacetado que
pode ser definido como prototípico seguindo diversos critérios ou como menos
prototípico também seguindo diversos critérios.
Para a concepção gerativista, que lida com o objeto de estudo em questão de
forma estrutural, sujeito é: “o elemento que ocupa a posição de especificador de SFlex
e exibe concordância com o verbo, além de caso nominativo, o que é visível quando
representado por um pronome” (BERLINCK; DUARTE; OLIVEIRA, 2015, p. 97) 1.
Para essa perspectiva das autoras mencionadas no parágrafo anterior, sujeito
seria uma categoria gramatical que estaria em posição externa ao verbo, portanto um
argumento externo, selecionada pelo verbo, predicador da sentença, com exceção do
sujeito argumento interno de construções passivas e de verbos inacusativos. Muitas
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Como se pode observar no exemplo seguinte:
a. Os sindicatos também devem levar... adiante... toda e qualquer... re reinvindicação... dos
seus... associados... (DIC REC) (apud. BERLINCK; DUARTE; OLIVEIRA, 2015, p. 97)
A expressão que introduz a entidade sobre a qual se diz alguma coisa (sobre a qual o falante
exprime um juízo, um comentário, etc.). Nas frases mais canónicas das línguas europeias que
serviram de base à elaboração da tradição gramatical ocidental, a expressão que funciona como
sujeito da predicação é o sintagma nominal que concorda em pessoa e número com o verbo
(RAPOSO et al., 2013, p. 353)
(1) Chove
(2) a. A Bárbara adormeceu
b. Ana espirrou
(3) A Maria leu [um livro do Tintim]
(4) A minha tia deu [um barco à vela] [ao meu irmão mais velho]
(5) O João levou [o carro] [do stand de vendas] [para casa]
Essa mudança vem atrelada a muitas outras mudanças, como atesta Tarallo
(1993), que advoga que o Português Brasileiro começou a “nascer” e “a escorrer sua
própria tinta” (Tarallo, 1993, p. 99) na virada do século XIX para o século XX. Portanto,
o Português Brasileiro começou a surgir nesse período e a ordem do sujeito também
se modificou devido a mudanças ocorridas na língua.
Segundo os trabalhos de Berlinck (1988, 1989), em que se utilizam três corpora
do português escrito no Brasil, houve um decréscimo de ocorrências da ordem VS em
dados do século XX em comparação aos dados do século XIX. Dessa forma, a autora
conclui que a inversão, naquele momento, estava limitada às construções
inacusativas e copulativas (chamadas também construções apresentativas). A autora
observou, também, que a ordem SV se tornou rígida no Português Brasileiro em
comparação com a ordem VS ao longo do tempo.
Em síntese, como se pode verificar nesta subseção, o Português Brasileiro tem
características específicas que devem nortear o trabalho do professor em sala de aula.
É preciso que o professor domine plenamente os estudos acerca do Português
Brasileiro para, assim, mediar o trabalho em sala de aula junto aos alunos.
CONCORDÂNCIA
Resumindo, pois, concluímos que, dada uma certa forma verbal num certo contexto, a realização
ou a ausência de concordância não é um fenômeno aleatório. Pelo contrário, a possibilidade
desta ocorrência concordar é determinada por um princípio básico: quanto menos saliente for a
diferença entre singular e plural, mais provável será a falta de concordância. A saliência de que
se trata é, no entanto, um conceito geral: engloba aspectos tão diversos como diferenciação
física entre formas, posição relativa dos elementos determinante e determinado, grau de
inerência da noção semântica em jogo. (LEMLE; NARO, 1977, p. 46)
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
CONCEITOS GERATIVISTAS
CONCEITOS VARIACIONISTAS
CONCEITOS PEDAGÓGICOS
METODOLOGIA
SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES
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É importante salientar que, devido aos limites deste artigo, não foi possível trazer os comandos
direcionados aos alunos. Portanto, sugere-se a leitura da tese de doutorado de CHALFUN (2021),
que descreve o passo a passo realizado em sala de aula e todas as atividades trabalhadas.
◦1ª etapa (Ordem do sujeito) – os alunos puderam formar frases possíveis dentro
de um número limitado de predicadores e sintagmas, nominais e preposicionais, a fim
de que percebessem as nuances de papéis temáticos atribuídos aos complementos
verbais, as possibilidades de formação de um predicador e as possíveis posições do
sujeito a partir dessa interação, como se pode ver nas imagens abaixo:
◦2ª etapa (Concordância) - a etapa seguinte visa à reflexão no que diz respeito
às frases já formadas, no mesmo sentido da reflexão anterior: possibilidades de
posição do sujeito, papéis temáticos presentes. No entanto, dessa vez, a intenção foi
analisar a marca de concordância (presença ou ausência), como mostram as imagens
abaixo:
• Por fim, o Exercício III (Jogos) promoveu o uso do material concreto defendido
por Pilati (2017). Foram elaborados 4 jogos: Caça-concordância, Perfil verbal, Uno
verbal e Imagem e ação verbal, inspirados em jogos que já existem na sociedade,
b) Perfil Verbal
c) Uno Verbal
• Por fim, foi realizada uma atividade impressa final (Diagnose ressurge) com os
alunos a fim de observar o uso (situação final) depois da sequência de atividades
proposta no trabalho. Dessa forma, será possível avaliar em termos quantitativos as
reflexões realizadas com as atividades e o efetivo reconhecimento das categorias
gramaticais estudadas.
RESULTADOS
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O número de participantes, reduzido e desigual por série, foi determinado pelo que foi possível
mediante o contexto de aulas semipresenciais na pandemia. Na verdade, todos os alunos que foram
contabilizados fizeram ao menos uma atividade escrita; por isso, foi possível quantificar. Dessa forma,
pode ser que tenham participado das aulas, de forma online, mais alunos que o quantitativo postulado.
Todavia, não foi possível contabilizá-los.
Transcrição 1
Aluno 1: ja adorei vc prof
Aluno 2: Dá aula junto com a Prof de portugues
Aluno 3: a gente aprende em dobro
Aluno 4: que chique
Aluno 5: vou me sentir mais inteligente
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Neste artigo, no entanto, somente será mostrado um resultado individual por motivos de limitação do
número de páginas.
5
Nesse exemplo, os depoimentos foram colocados na íntegra, no que diz respeito ao conteúdo e à
forma.
Pode-se analisar que, ainda que os resultados estejam em sua maioria com
atendimento ao reconhecimento das estruturas gramaticais, o componente gramatical
sujeito (93, 8%, 87,5%, 87,5%, 87,5%, 87,5%, 93, 8%) e concordância (37,5%, 25%),
muitas vezes, ainda parece desconhecido para alguns alunos, ainda mais se tratando
dos contextos em que o sujeito aparece depois do verbo, mostrando a ordem ser
pouco usual a esses estudantes. Ademais, não se podem esgotar, em um primeiro
momento, as possíveis análises dos resultados dessa primeira atividade, já que é
relevante compará-los aos resultados da atividade final (diagnose final) para uma
análise mais apurada.
Foram elaboradas duas estratégias para que a reunião dos resultados da
Diagnose Inicial e Diagnose Final permitisse avaliar se os alunos apresentaram
avanços na aprendizagem:
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Devido aos limites impostos a este artigo, não será possível trazer os resultados dessa tabela em
específico. Por isso, sugere-se a leitura da tese de Chalfun (2021) para a visualização das demais
tabelas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo realizou sua intenção maior que era a de contribuir com a
problemática do ensino de temas gramaticais. O objetivo foi criar, realizar e analisar
os resultados de uma sequência de atividades que propusesse explicitar os
conhecimentos implícitos dos alunos, a fim de que, ao final, os alunos pudessem
identificar as estruturas e as categorias gramaticais trabalhadas, exibindo autonomia,
senso crítico e reflexivo no que tange ao conhecimento dos aspectos gramaticais.
Dessa maneira, pode-se constatar que, embora não acabados, ambos os
objetivos foram cumpridos: para o objetivo científico, (i) o conhecimento implícito do
aluno se transformou em conhecimento explícito, permitindo-lhe operar sobre a língua
de forma consciente e autônoma; e, para o objetivo do ensino, (ii) o aluno conseguiu
identificar melhor o sujeito posposto das construções frasais trabalhadas, levando-o a
reconhecer e, portanto, estabelecer, para produções de textos futuras, a concordância
por meio de marca. Os resultados obtidos, portanto, demonstram que é possível (i) a
“construção de uma gramática explícita” em sala de aula, como propõem diversos
autores; e, ainda, (ii) o desenvolvimento de habilidades específicas no controle e uso
dos recursos gramaticais.
REFERÊNCIAS
CHALFUN, S. V. S. "Dá aula junto com a prof de português", "A gente aprende
em dobro" - Do conhecimento implícito ao explícito: uma abordagem acerca da
ordem do sujeito e da concordância verbal no contexto escolar. 2021. Tese
(Doutorado em Língua Portuguesa) - Curso de Pós-graduação em Letras Vernáculas
(Língua Portuguesa), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
CHOMSKY, N. Aspects of the theory of syntax. Cambridge: The MIT Press, 1965.
PILATI, E; NAVES, R.; SALLES, H. (org.). Novos olhares para a gramática na sala
de aula: questões para estudantes, professores e pesquisadores. Campinas:
Pontes, 2019.
Sobre a autora