Resumos - Seminário de Pesquisas em Educação e Linguagem
Resumos - Seminário de Pesquisas em Educação e Linguagem
Resumos - Seminário de Pesquisas em Educação e Linguagem
Este estudo teve como objetivo analisar as práticas avaliativas da produção textual de
professores do 5º ano do ensino fundamental. Buscamos identificar as concepções de
língua, escrita e avaliação subjacente ao trabalho docente através dos aspectos
priorizados na correção dos textos produzidos pelos alunos, bem como compreender as
estratégias de correção através das marcas deixadas pelos professores nos textos das
crianças. Analisamos ainda os critérios de avaliação materializados na correção desses
textos. A entrevista e a análise documental foram os procedimentos metodológicos
utilizados na presente pesquisa. Adotamos como pressuposto teórico a idéia de que é
indispensável ao professor, reconhecer e valorizar nos textos das crianças tanto os
aspectos relativos à correção ortográfica e gramatical, como também, e principalmente,
os aspectos relativos ao uso dos recursos linguísticos, à organização estrutural e à
textualidade. (LEAL E GUIMARÃES, 1999). Para isso nos baseamos nos estudos de Britto
(1990), Geraldi (1991), Marinho (1997), Marcuschi (2004), Suassuna (2006), Antunes
(2009), Val e outros (2009). A análise dos resultados revelou que as práticas avaliativas
das professoras, no tocante à correção dos textos, enfatizam uma avaliação monológica,
que não propicia o diálogo nas observações deixadas por elas nos textos. Os resultados
apontam também, que o trabalho com o gênero não superou a dimensão estrutural, e
que o caráter discursivo do gênero ainda não é considerado na prática de ensino e na
avaliação, o que parece apontar para uma prática arraigada na perspectiva da redação
escolarizada. Quanto aos critérios de avaliação presentes nas correções realizadas pelas
mestras, observamos que as mesmas percebem com maior facilidade os aspectos
presentes na superfície textual (problemas gramaticais e ortográficos) em detrimento dos
aspectos relativos à textualidade. Com base nos dados coletados, percebemos que
avaliação da produção textual parece ser um terreno difícil de ser percorrido pelos
professores, e que existe ainda uma distância entre o saber teórico produzido nas
pesquisas acadêmicas e a prática docente.
Palavras-chave: linguagem, produção de texto no ensino fundamental, correção e
avaliação.
Este estudo teve como objetivo analisar práticas diferenciadas de ensino voltadas à
compreensão do sistema de escrita alfabética (SEA) desenvolvidas em duas turmas do
último ano da Educação Infantil e suas relações com as aprendizagens dos alunos. Para o
seu desenvolvimento, nos apoiamos na teoria da Psicogênese da língua escrita
(FERREIRO, 1993; 2001; FERREIRO & TEBEROSKY, 1985), nas discussões sobre
Letramento (SOARES, 1998; 2007) e sobre o ensino da língua escrita na Educação
Infantil ( BRANDÃO & LEAL no prelo; BRAGAGNOLO & DICKEL, 2005). Participaram do
estudo duas professoras que lecionavam no último ano da Educação Infantil, sendo uma
da rede municipal do Recife e uma da rede privada do município de Olinda. Como
procedimentos metodológicos foram realizados: entrevistas com as professoras no final
do ano letivo a fim de que as mesmas falassem sobre o trabalho desenvolvido. Foram
realizadas 18 observações em cada turma investigada. As aulas foram gravadas em
áudio e posteriormente transcritas. As crianças foram avaliadas com atividade de ditado
mudo em três momentos distintos durante o ano a fim de analisar o desempenho das
mesmas no processo de aquisição da escrita. Os resultados da pesquisa indicaram que
uma prática de ensino de língua na perspectiva do alfabetizar letrando, com ênfase na
leitura de diferentes gêneros textuais e com atividades que envolvam o trabalho com
rimas e jogos fonológicos, oportunizando as crianças a pensarem sobre as características
do sistema de escrita, pode favorecer o desenvolvimento dos conhecimentos relativos à
aprendizagem da escrita alfabética. Quanto aos alunos, a turma 1, que vivenciou uma
prática de língua na perspectiva do alfabetizar letrando, obteve melhores resultados em
relação a turma 2, quanto à aquisição da escrita, uma vez que 21 (100%) dos alunos da
turma 1 concluíram o ano letivo no nível de fonetização da escrita, enquanto que na
turma 2, 54% das crianças concluíram com esse mesmo nível de escrita.
Palavras-chave: Educação Infantil, Letramento, Psicogênese da Língua Escrita, Práticas
de Ensino.
O presente estudo teve como objetivo geral relacionar o desempenho das crianças do
ensino fundamental I nas provas de habilidades fonêmicas com o domínio da escrita e o
desempenho ortográfico. Como objetivos específicos: relacionar o desempenho dos
sujeitos nas provas de habilidades fonêmicas com o domínio da escrita alfabética;
relacionar o desempenho dos sujeitos nas provas de habilidades fonêmicas com o
domínio ortográfico; e relacionar as habilidades dos sujeitos nas provas de consciência
fonêmica com as variáveis do estudo (escolaridade e desempenho ortográfico). Nossa
discussão parte do princípio que a escrita é um sistema notacional e não um código
(Morais, 2005), nesse caso, concebendo como um sistema de representação, para
escrever “como se deve”, o aprendiz terá que compreender os princípios básicos do
sistema alfabético em um primeiro momento e, posteriormente, compreender (e não só
memorizar) muitas das propriedades da ortografia de sua língua, para poder segui-la.
Concebemos que a notação escrita é um domínio específico de conhecimento e como tal
deve ser entendida dentro de suas especificidades. Nessa perspectiva, compreender o
processo de aprendizagem da notação escrita como uma construção gradativa de
conhecimentos torna-se fundamental, desse modo, utilizamos a psicogênese da escrita
para entender esse processo (FERREIRO E TEBEROSKY, 1996). Entendemos ainda que o
domínio das habilidades metafonológicas seja importante para o desenvolvimento da
escrita, porém essas são distintas e exigem diferentes habilidades cognitivas. As
habilidades fonêmicas, por exemplo, são as últimas a serem adquiridas e parecem estar
relacionadas com a escrita (FERREIRO, 2004; MORAIS, 2004;PESSOA 2007). Para
discutir a norma ortográfica utilizamos Morais (1998) que afirma que esta é dotada de
regularidades e irregularidades. De forma mais especifica, nesse estudo, nos deteremos
nas regularidades contextuais. O estudo foi realizado com 50 crianças, indicadas pelos
próprios professores, do ensino fundamental I, sendo 10 de cada turma, numa escola da
rede municipal de ensino da região metropolitana do Recife. Os instrumentos utilizados
na coleta de dados foram: dois ditados e uma tarefa de habilidades metafonológicas. As
crianças do primeiro e segundo ano do primeiro ciclo realizaram uma prova de ditado de
palavras a fim de verificar o nível de escrita, por outro lado, as crianças do terceiro ano
do primeiro ciclo e os alunos do segundo ciclo participaram de um ditado para
preenchimento de lacunas com o objetivo de verificar o domínio ortográfico. Esse último
ditado objetivou mapear a notação de 22 regularidades contextuais, sendo os “erros”
ortográficos apresentados pelas crianças contabilizados de acordo com a regra violada.
Desse modo, o escore poderia variar de 0 a 22 (zero ou um por regra). A partir da
realização do ditado as crianças foram divididas em dois grupos: 5 crianças com melhor
domínio ortográfico e 5 crianças com menor domínio ortográfico quando comparadas
entre si. Todas as crianças realizaram ainda uma tarefa de habilidades metafonológicas,
de forma individual, composta por 13 tarefas utilizando diferentes unidades fonológicas
(sílaba, rima e fonema) e exigindo diferentes operações cognitivas (contar, segmentar,
unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor). Os resultados apontaram que, dentre as
provas fonêmicas analisadas, aquelas que apresentaram maior dificuldade para as
crianças foram: produção fonêmica e transposição fonêmica. Foi percebido ainda que o
domínio das habilidades fonêmicas torna-se melhor com o aumento da escolaridade, com
o maior domínio da escrita e com o maior desempenho ortográfico, porém, ao
Esta pesquisa surgiu dos baixos desempenhos dos alunos concluintes do Ensino Médio
(EM) de uma escola estadual da cidade de Orobó (PE), revelados no Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) do ano de 2008. O objetivo do estudo é conhecer as práticas
avaliativas do docente durante as atividades de leitura e compreensão no EM e verificar
se essas práticas estão contribuindo para a formação de leitores proficientes nesse nível
de ensino. O estudo se apoiou em teorias recentes sobre o ensino de língua e leitura que
se baseiam na concepção sociointeracionista de linguagem, bem como na avaliação
enquanto prática discursiva, dialógica, formativa, mediadora e processual. A pesquisa é
Pautado numa concepção de leitura interativa (Kleiman, 2008; Marcuschi, 2001; Camps
e Colomer 2002; Solé, 1998) e na roda de história, enquanto espaço significativo para a
formação leitora desde a educação infantil (Rego, 1990; Nascimento e Brandão, 2010;
Freitas e Amarilha, 2005), o presente estudo teve como objetivo analisar os possíveis
caminhos para o desenvolvimento de habilidades argumentativas nas rodas de história,
enfocando, especificamente, a atuação da professora enquanto mediadora entre as
crianças-ouvintes e os textos literários lidos nas rodas. Foram analisadas cinco sessões
de leitura/releitura de histórias e a discussão dos textos, conduzidas por uma professora
do Grupo V com crianças entre 4 e 5 anos, de uma escola da Rede Municipal de Ensino
do Recife. As sessões foram planejadas, implementadas e avaliadas em conjunto com as
pesquisadoras em reuniões que aconteciam nos intervalos das sessões de leitura. Todas
sessões foram videogravadas e, posteriormente, transcritas, sendo este material
socializado com a docente nessas reuniões. De caráter predominantemente qualitativo o
estudo, portanto, se caracterizou por uma abordagem da pesquisa-ação. A análise dos
dados revelou que a elaboração do planejamento das rodas de história aliada à reflexão
sobre a interação da professora com as crianças nas sessões de leitura, teve um impacto
positivo na quantidade e qualidade das intervenções da professora durante a discussão
das histórias, tendo em vista que na 1ª roda não-planejada apenas 3,9% dos turnos de
fala da professora solicitava opinião das crianças, enquanto que na última roda planejada
79,3% dos turnos de fala da professora solicitavam opinião, justificativa, bem como
questionava e confrontava essas opiniões e justificativas. Neste sentido, constatamos
que é possível desenvolver um trabalho voltado ao desenvolvimento de habilidades
Esta pesquisa buscou investigar como os gêneros discursivos são abordados na Proposta
Curricular da Prefeitura de Recife, e se existem orientações específicas para os
professores de EJA, mais especificamente buscamos identificar quais gêneros discursivos
são citados na proposta e se há alguma recomendação específica quanto a tal questão na
parte em que há reflexões sobre a EJA e analisar se há objetivos / habilidades /
competências que contemplem o trabalho com os diversos gêneros discursivos
explicitados no currículo e, especificamente, na parte referente ao trabalho com jovens e
adultos. Para a discussão teórica, nos baseamos: na perspectiva de letramento de
Soares, que seria o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever. Com base
nela, discutimos o ensino da língua portuguesa na EJA ressaltando a importância de se
trabalhar com os gêneros discursivos; na teoria sociointeracionista dos gêneros
discursivos de Schneuwly e Dolz (2004) em que fala da importância e da necessidade dos
sujeitos se apropriarem dos gêneros, já que eles são um megainstrumento que necessita
ser apropriado pelo sujeito, já que este determina seu comportamento e pode ser
mediador de uma atividade; e na perspectiva de currículo de Sacristán (2000) em que se
discute a relação do professor com o currículo, já que é ele quem molda as propostas do
currículo e as coloca em prática com os alunos. Este autor defende a idéia de que as
aprendizagens são realizadas dentro de uma cultura escolar delimitada pelo currículo.
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, realizamos uma análise documental da Proposta
curricular da Prefeitura de Recife (2005) nos baseando na análise de conteúdo de Bardin
(1977). A partir da análise, observamos que o trabalho com os gêneros discursivos é
abordado ao longo da proposta, tendo maior ênfase no referencial teórico. No entanto,
Este não é o caso do Brasil, onde este é um equipamento ainda pouco disponível nas
escolas. O censo escolar de 2008, por exemplo, aponta que apenas 39,3% das escolas
públicas de ensino fundamental possuíam biblioteca, o que indica que será necessária a
construção de 25 bibliotecas/dia para universalizar esse equipamento até 2020, para
atender à exigência da Lei n.12.244/20101. Além de pouco presente nas escolas, a
biblioteca tem se constituído num espaço vulnerável, desorganizado, sem profissionais
qualificados e sem projeto de leitura integrado aos programas de distribuição de acervos,
como fazem o PNBE e o PNLD (BRASIL, 2008).
1
Conforme divulgado por representantes do MEC/SEB durante o I Seminário Nacional do PNBE, em Brasília,
em 08/07/2010.
2
Tal suposição apóia-se, principalmente nos dados referentes à implantação do Programa Manuel Bandeira de
Formação de Leitores (BANDEIRA, ROSA e BRANDÃO, 2008).
A pesquisa tem apontado para alguns elementos que diferenciam a atuação pedagógica
na biblioteca e que a caracteriza como espaço de ampliação da aprendizagem na área do
ensino da língua. A organização mais flexível do tempo e a inexistência de um conteúdo
programático preestabelecido possibilitam um trabalho integrado com a sala de aula e o
laboratório de informática. Existem momentos de livre acesso ao acervo e equipamentos
da biblioteca, com mediação indireta através da organização do ambiente,
disponibilização do acervo e receptividade da professora de biblioteca em receber o
estudante interessado em estar na biblioteca. Também integra a rotina dessas
professoras a organização de atividades dirigidas e que são definidas a partir de acordos
prévios com outros professores, com coordenadores pedagógicos, com responsáveis
pelas TIC e com gestores escolares. Formam-se, a partir da biblioteca, “comunidades
escolares de informação” (INRP, 2006) e “comunidades de leitura” (CHARTIER, 1999) à
medida que se introduzem novos conteúdos e práticas centradas na apropriação da
informação e na literatura.
Referências
BANDEIRA, Carmen Lucia; ROSA, Ester C.S.; BRANDÃO, Maria Solange (ORGs).
Programa Manuel bandeira de Formação de Leitores: uma política de leitura na Rede
Municipal de Ensino do Recife. Cadernos da Educação Municipal. Recife: Fundação de
Cultura Cidade do Recife, v.04.
HUBERMAN, Michaël. O Ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (ORG)
Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1995. p. 31-62.
JOBIM E SOUZA, Solange ; GAMBA JR., Nilton. Novos suportes, antigos temores:
tecnologia e confronto de gerações nas práticas de leitura e escrita. Revista Brasileira
de Educação. 2002, n.21. p. 104-114.
PETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Editora 34,
2009.
Na busca de uma compreensão mais acurada das práticas sociais intermediadas pela
escrita, esta pesquisa procura identificar as práticas e eventos de letramento propostos
por uma ONG que atua na educação não-formal. Para tal, realizamos uma pesquisa
qualitativa de cunho etnográfico, na qual utilizamos de observações, entrevistas com
educadores e relatos das atividades realizadas. Os alunos que freqüentavam a Instituição
eram expostos diariamente a inúmeros gêneros discursivos, que cumpririam finalidades
sociais, políticas e éticas. O arcabouço teórico da pesquisa centra-se em autores que
estudam o letramento como fenômeno social e aliam-se aos Novos Estudos do
Letramento (NLS), para os quais as práticas da escrita são socialmente situadas e, por
serem permeadas por ideologias, desempenham uma função significativa na interação
sócio-cultural dos indivíduos. Os resultados do estudo mostram ainda que as práticas
pedagógicas da Instituição visam à promoção do letramento como instrumento
potencializador de cidadania e inclusão social.
Palavras-chave: letramento, educação não-formal, práticas de leitura e escrita, cidadão
letrado.
3
Dados da Dissertação de Mestrado orientada pela Prof ª. Dr ª Telma Ferraz Leal.
4
Neste resumo, apresentaremos apenas um recorte dos dados encontrados da dissertação de Mestrado intitulada
“Orientações sobre o Ensino dos Gêneros Discursivos na Base Curricular Comum de Pernambuco e no Livro
Didático de Língua Portuguesa: Encontros e Desencontros.
Neste estudo foram investigadas as expectativas dos alunos jovens e adultos em relação
ao que querem aprender na escola, mais especificamente, aquelas que têm relação com
o componente curricular língua Portuguesa. Serviram de base para o diálogo teórico os
estudos de Oliveira (1999) sobre as especificidades etária e cultural do processo de
Educação de Jovens e Adultos, as contribuições de Moura (1999) e Paiva (1973) acerca
do ensino de língua portuguesa materna na EJA e a concepção de Bakhtin (2002) sobre
língua como espaço de interação, além de outros teóricos que discutem acerca dos
impactos dessa concepção de língua para o processo de ensino e aprendizagem. A
metodologia da pesquisa consistiu na realização da coleta e análise de entrevistas com
20 (vinte) alunos jovens e adultos de uma escola da Rede Municipal do Recife. Foi
utilizado, como pressuposto teórico-metodológico, a Análise de Discurso, a partir dos
estudos de Orlandi (1999), o que nos permitiu compreender os significados implícitos que
os sujeitos da EJA atribuem ao espaço institucional e ao que querem aprender no que
concerne ao componente curricular Língua Portuguesa. Os resultados evidenciaram que
as expectativas dos entrevistados são construídas com base nas concepções que a
sociedade atribui ao jovem e ao adulto não-alfabetizado. Com isso, os anseios dos
entrevistados revelam, muitas vezes, um sentimento de diminuição social ou marcas da
exclusão. Assim, quando ressaltam suas expectativas em ampliar sua participação em
práticas sociais de prestígios, alcançarem a certificação para possibilidades futuras de
emprego, garantia de melhores condições de vida, estão, de fato, denunciando e
tentando superar o estigma do adulto analfabeto associado à questão de pobreza
cognitiva, cultural, linguística e social.
Palavras-chave: expectativas, currículo, ensino de Língua Portuguesa, Educação de
Jovens e Adultos.
Lívia Suassuna
Jailton Jáder Nóbrega Santos
Em vista de uma forte tradição que faz perdurar a concepção de língua como
código/sistema, as aulas de língua portuguesa muitas vezes se resumem à memorização
dos conceitos da gramática e a uma posterior identificação, através de exercícios
mecânicos e repetitivos, das estruturas estudadas.
Nesse contexto, João Wanderley Geraldi (1997) propôs a prática da Análise Linguística
(AL) como um trabalho de reflexão sobre os elementos da língua e sobre os efeitos de
sentido gerados por eles no discurso, no processo real de interação. Seguindo a mesma
linha de pensamento, Batista (1991) e Mendonça (2006), ao constatar os resultados
insatisfatórios das aulas de gramática, defendem, como alternativa às aulas de
gramática, a prática da AL articulada à leitura e à produção de texto. Já Pisciotta (2001)
afirma que as aulas de língua portuguesa devem focalizar a língua e a linguagem como
objetos de estudo, para que o aluno aprenda a observar, descrever e categorizar os fatos
linguísticos que aparecem nos textos para desenvolver, através dos recursos da língua,
sua capacidade analítica e reflexiva. Por isso, não se trata apenas de mudança de rótulo,
mas de concepção de língua e de objetivo de ensino, o que implica também mudanças na
metodologia a ser utilizada e nos conteúdos a serem ensinados (GERALDI, 1997;
PISCIOTTA, 2001).
Frente a essas questões, esta pesquisa teve como objetivo geral investigar como se
efetiva o ensino de análise linguística/gramática no ensino médio, e, como objetivos
específicos: analisar se essa prática promove a reflexão e construção de conhecimentos;
identificar quais as estratégias utilizadas para isso; investigar se predomina a indução ou
a dedução como metodologia de ensino; verificar se há o reconhecimento da variação
linguística e de seus efeitos de sentido; e investigar qual o papel atribuído à
nomenclatura nas aulas de análise linguística.
Para realizar a pesquisa, do tipo qualitativa e indiciária, foram escolhidas duas escolas do
Recife, nas quais observamos aulas de língua portuguesa em uma turma do ensino médio
de cada uma. As escolas foram: uma da rede estadual, escolhida de forma aleatória, e o
Colégio de Aplicação da UFPE (CAp), tomado como referencial de qualidade a partir de
seu projeto institucional e curricular. A coleta foi realizada por meio do registro das aulas
através de diários de campo e de gravação em áudio.
A partir da análise da prática da professora da escola estadual, percebeu-se que não é
realizado um ensino sistemático de AL que desenvolva as habilidades de leitura e escrita
dos alunos; sua prática se caracteriza pela transmissão de conceitos prévios e pelo
reconhecimento desses conceitos, e é baseada no método dedutivo, sem o estímulo à
reflexão. Quanto à prática da professora do CAp, foi constatado que, através do uso da
língua em contexto, são mobilizados conhecimentos internalizados dos alunos a partir de
questionamentos; os discentes são estimulados a levantarem hipóteses até chegar à
formulação de conceitos sobre a língua. Assim, nessa segunda escola, foi promovida, por
meio de textos utilitários e literários, uma prática reflexiva que desenvolve não só as
Esta pesquisa buscou conhecer o que alunos do 4º ano do Ensino Fundamental de Nove
Anos revisam em seus textos escritos, particularmente, o que revisam quando escrevem
cartas de reclamação, em situações em que são estimulados a refletir sobre o gênero, e
assim, contribuir para reflexão sobre o que os estudantes consideram relevante e o que
são capazes de fazer ao revisar seus escritos, o que poderá ser muito importante para
fornecer informações aos docentes, que precisam auxiliar os alunos a aprender a
produzir textos. Foram objetivos específicos do estudo: categorizar as dimensões
textuais revisadas; investigar os tipos de mudanças realizadas nos momentos de revisão;
e analisar as modificações quanto à dimensão argumentativa do gênero carta de
reclamação observadas nas diferentes versões dos textos das crianças. A base teórica
central do estudo foi o interacionismo instrumental de Schneuwly e Dolz (2004),
Bronckart (1999) e a teoria dos gêneros textuais de Bakhtin (2000). Além, de outros
autores sociointeracionistas, que também foram fonte de apoio para construção teórico-
metodológica. Participaram da pesquisa professoras e alunos de duas turmas, de escolas
da Rede Municipal de ensino da cidade do Recife/PE. A coleta de dados se deu a partir da