Genero em Mocambique
Genero em Mocambique
Genero em Mocambique
ndice
Agradecimentos ....................................................................................... 3 Prembulo ................................................................................................. 4 Lista de Acrnimos .................................................................................. 5 1. Contexto .............................................................................................. 9 1.1..Estatsticas-Chave......................................................................... 9 1.2. Diviso administrativa ................................................................. 9 1.3. Caractersticas demogrficas e construo das relaes de gnero ..............................................10 1.4. ndice de desenvolvimento ajustado aos sexos ............................12 2. Polticas Nacionais e Insumos para a Promoo da Igualdade de Gnero .............................................. 14 2.1. Mecanismos e polticas institucionais para a promoo da igualdade de gnero ...................................14 2.2. Sociedade civil, organizaes de mulheres e movimento feminino .................................................16 2.3. O papel das agncias doadoras ...................................................18 2.4. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ..............19 3. Poltica Macroeconmica e Desenvolvimento Econmico ............. 22 3.1. Poltica macroeconmica e desempenho econmico ................. 22 3.2. Quadro para a reduo da pobreza ............................................24 3.3. Desenvolvimento econmico atravs do desenvolvimento do sector privado ....................................... 26 3.4. Estradas e desenvolvimento das infra-estruturas de transporte .................................................... 29 3.5. Desenvolvimento das infra-estruturas energticas ......................31 3.6. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 32 4. A Terra como Fonte de Subsistncia Sustentvel .......................... 34 4.1. Questes de gnero no sector agrcola ....................................... 34 4.2. Polticas e mecanismos institucionais para a igualdade de gnero na agricultura ................................ 36 4.3. A Lei de Terras e os direitos das mulheres de propriedade de terra .............................................. 37
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4.4. Reassentamento .......................................................................... 39 4.5. Segurana alimentar .................................................................. 40 4.6. Ambiente .....................................................................................41 4.7. Preveno de calamidades ..........................................................41 4.8. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 42 5. Capital Humano ................................................................................. 44 5.1. Educao .................................................................................... 44 5.2. Sade ...........................................................................................47 5.3. HIV/SIDA.................................................................................. 49 5.4. Acesso a gua limpa ................................................................... 52 5.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 53 6. A Situao Poltica ............................................................................ 55 6.1. Eleies ....................................................................................... 55 6.2. Mulheres em cargos polticos ..................................................... 56 6.3. Mulheres no Parlamento ............................................................ 58 6.4. Mulheres na funo pblica ....................................................... 59 6.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 59 7. Estatuto Legal ................................................................................... 61 7.1. .Quadro legal para a igualdade de gnero e a no-discriminao ................................................61 7.2. Reforma legal ..............................................................................61 7.3. Violncia com base no gnero .................................................... 64 7.4. Acesso justia ........................................................................... 65 7.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 66 8. As Tecnologias de Informao e Comunicao e os Mass Media ....................................................... 67 8.1. O acesso das mulheres s TICs .................................................. 68 8.2. Integrao da igualdade de gnero nas polticas, nas estratgias e nos programas das TICs ................................. 70 8.3. Oportunidades de emprego para as mulheres no sector das TICs ...................................................71 8.4. As TICs e os mass media convencionais como uma ferramenta para a igualdade de gnero ............................. 72 8.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ..............74 9. Raparigas e Rapazes ........................................................................ 75 9.1. Quadro legal e de polticas ..........................................................75 9.2. Crianas rfs e vulnerveis ........................................................75 9.3. Formas de violncia contra crianas e abuso de crianas .......... 77 9.4. Mortalidade infantil ................................................................... 78 9.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas ............. 79
Publicado pela Asdi em 2007 Departamento da Democracia e do Desenvolvimento Social Autora: Edda Van den Bergh-Collier Traduo de ingls para portugus: Ernesto Chamo Reviso da traduo: Solange Jonsson Impresso por Edita Communication AB, 2007 Art. n: SIDA31600pt Esta publicao pode ser descarregada/encomendada de www.sida.se/publications
Agradecimentos
Este Perfi l de Gnero de Moambique foi encomendado e produzido pela Embaixada da Sucia em Maputo em nome da Asdi. Sinceros agradecimentos a todos aqueles que tornaram possvel esta iniciativa e contriburam para o seu sucesso, em particular Sra. Lena Rupp (Coordenadora do Programa) e aos quadros da Embaixada e da Asdi que contriburam com dados e comentrios. Agradecimentos tambm aos membros do Grupo de Coordenao do Gnero em Maputo que compareceram a uma apresentao do rascunho do perfi l e forneceram informaes e percepes adicionais. Edda Van den Bergh-Collier, Maputo, Novembro de 2006.
Prembulo
Esta uma actualizao da edio anterior do Perfi l de Gnero de Moambique que foi produzida no ano 2000. A Asdi produz perfis de gnero de vrios pases com vista a fornecer um sumrio curto e conciso da situao da igualdade de gnero nos pases parceiros da Sucia. Este perfi l um estudo que rev e compila material estatstico disponvel que possa ser de interesse para todos aqueles que estejam interessados na situao social, econmica e legal das mulheres e queiram compreender as relaes de gnero em Moambique. Os indicadores de desenvolvimento humano mostram a existncia de um fosso significativo entre os sexos em Moambique. Consequentemente, um estudo das relaes de gnero deve frisar repetidamente a privao relativa das mulheres em relao aos homens. Este perfi l enfatiza dados que ilustram a posio relativa dos homens e das mulheres em vez de tentar captar e analisar as relaes de gnero em todo o pas. Uma discusso pormenorizada das relaes de gnero para cada rea temtica iria requerer dados extensivos e uma bibliografia sociolgica/antropolgica sobre a construo e a dinmica das relaes de poder entre os homens e as mulheres em relao a esse aspecto especfico da vida pblica e privada. Na sua maioria, este tipo de dados no se encontra disponvel em Moambique. Assim, o perfi l d uma viso geral dos tipos de situaes/problemas que as mulheres enfrentam, assim como uma breve indicao do que se est a fazer para abordar estes desafios. A Asdi desenvolveu termos de referncia gerais que identificam assuntos e tpicos especficos a tratar em perfi s individuais de cada pas. Embora o perfi l actualizado de Moambique aborde todos os assuntos e tpicos descritos nos termos de referncia gerais, os dados so apresentados numa sequncia especfica de modo a reflectir de uma forma mais realista a estrutura do PARPA (Programa de Reduo da Pobreza) e do PES (Plano Econmico e Social) do Governo de Moambique. O PARPA e o PES so instrumentos centrais de planificao do Governo; considera-se assim que a presente estrutura destaca as potenciais ligaes entre as prioridades do Governo e a planificao da Asdi para a cooperao para o desenvolvimento.
Lista de Acrnimos
Agncia Canadiana de Desenvolvimento Internacional Associao Moambicana das Mulheres de Carreira Jurdica Administrao Nacional das Estradas Antiretrovirais Agncia Sueca de Cooperao Internacional para o Desenvolvimento Carga viral / Contagem de CD4 (grau de infeco por HIV) Conveno sobre os Direitos da Criana Centro de Estudos Africanos Conveno para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra as Mulheres
CFMP CIUEM CNAM CNSC COV CSW DERP DINAGECA DNM EP 1 EP 2 EPG1 EPG2 ESG 1 ESG 2 FEWS FRELIMO
Cenrio Fiscal de Mdio Prazo Centro de Informtica da Universidade Eduardo Mondlane Conselho Nacional para o Avano da Mulher Conselho Nacional de Combate ao SIDA Crianas rfs e Vulnerveis Comisso do Estatuto das Mulheres Documento de Estratgia para a Reduo da Pobreza Direco Nacional de Geograa e Cadastro Direco Nacional da Mulher Ensino Primrio de Primeiro Grau Ensino Primrio de Segundo Grau = EP1 = EP2 Ensino Secundrio de Primeiro Grau Ensino Secundrio Segundo Grau Sistema de Alerta Contra a Fome Frente de Libertao de Moambique
FRP GCG GDG HIPC HIV IDH IDS IEC INE INGC LDH LINK MAE MICOA MINAG MMAS MPS MULEIDE OBC ODM OIT OMM OMS ONG ORAM OSC OSG PAEI PARPA PEN II PES PFG PGEI PIB PNAM PNUD PPP PRISE PROAGRI II PTGL 6
Programa de Estradas Secundrias Grupo de Coordenao do Gnero Grupo de Doadores do Gnero Iniciativa para os Pases Pobres Altamente Endividados Vrus de Imunodecincia Humana ndice de Desenvolvimento Humano ndice de Desenvolvimento Ajustado aos Sexos Informao e Educao Cvica Instituto Nacional de Estatstica Instituto Nacional de Gesto de Calamidades Liga dos Direitos Humanos Frum de ONGs Ministrio da Administrao Estatal Ministrio da Coordenao Ambiental Ministrio da Agricultura Ministrio da Mulher e Aco Social Medida de Participao Ajustada aos Sexos Mulher, Lei e Desenvolvimento Organizao Baseada na Comunidade Objectivos de Desenvolvimento do Milnio Organizao Internacional do Trabalho Organizao da Mulher Moambicana Organizao Mundial de Sade Organizao No Governamental Associao Moambicana de Apoio Mtuo Organizao da Sociedade Civil Oramento Sensvel ao Gnero Poltica de Agricultura e Estratgia de Implementao Plano de Aco para a Reduo da Pobreza Absoluta Plano Estratgico Nacional de Combate ao HIV/SIDA Plano Econmico e Social Ponto Focal de Gnero Poltica de Gnero e Estratgia de Implementao Produto Interno Bruto Plano Nacional para o Avano da Mulher Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Paridade dos Poderes de Compra Programa Integrado do Sistema das de Estradas Programa Nacional de Desenvolvimento Agrcola de Moambique Parque Transfronteirio do Grande Limpopo
PTV QAD/PAF RC REDE CAME RENAMO ROCS SADC SETSAN SIDA SISTAFE SWAp TDM TI TV UE UEM UG UNAC UNAIDS/ONUSIDA UNCDF UNESCO UNFPA UNIFEM UTREL WLSA
Preveno da Transmisso Vertical Quadro de Avaliao do Desempenho Reviso Conjunta Rede Contra o Abuso de Menores Resistncia Nacional de Moambique Programa de Estradas e Navegao Costeira Comunidade de Desenvolvimento da frica Austral Secretariado Tcnico para a Segurana Alimentar e Nutrio Sndroma de Imunodecincia Adquirida Sistema de Administrao Financeira do Estado Abordagem Sectorial Integrada Telecomunicaes de Moambique Tecnologia de Informao Televiso Unio Europeia Universidade Eduardo Mondlane Unidade de Gnero Unio Nacional de Associaes de Camponeses Agncia das Naes Unidas para o Combate ao HIV/SIDA Fundo das Naes Unidas de Desenvolvimento de Capital Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura Fundo das Naes Unidas para a Populao Fundo de Desenvolvimento das Naes Unidas para a Mulher Unidade Tcnica de Reforma Legal As Mulheres e a Lei na frica Austral
1. Contexto
1.1.
Estatsticas-Chave
Nacional 19 milhes 9.613.470 54% 35.7% 44.8% 12.6%
Dados Gerais Populao projeces para 2004 Crianas menores de 18 anos (2004) % da populao que vive abaixo da linha de pobreza (2003) gua e saneamento Acesso a gua potvel (2003) Acesso a saneamento (2003) HIV/SIDA Prevalncia de HIV/SIDA entre mulheres grvidas do grupo etrio 1549 anos (2002) Educao e analfabetismo Taxa de analfabetismo de adultos (2003) Taxa de analfabetismo de mulheres (2003) Taxa bruta de admisso feminina (2004) Taxa bruta de admisso masculina (2004) Taxa bruta de escolaridade feminina (2004) Taxa bruta de escolaridade masculina (2004) Taxa lquida de escolaridade feminina (2004) Taxa lquida de escolaridade masculina (2004) Cuidados de sade materna e fertilidade dos adolescentes Taxa de fertilidade (2003) Mortalidade materna (2003)/nascimentos vivos Partos assistidos por pessoal de sade qualificado (2003) Partos assistidos em instituies de sade (2003)
53.6% 68% 137,4 144,2 111,8 130,5 73,2 78,0 5.5 408/100.000 47.7% 49%
Fonte: Compilado a partir de UNICEF Mozambique & MINEC, Estatsticas sobre a Educao, Inqurito Escolar Anual de 2004 e Repblica de Moambique, Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, Agosto de 2005, Instituto Nacional de Estatstica (INE).
1.2. Diviso administrativa Moambique est dividido em 10 provncias e 1 cidade capital com estatuto de provncia. A regio Norte constituda por trs provncias: Niassa, Cabo Delgado e Nampula; a regio Centro constituda pelas provncias de Sofala, Zambzia, Tete e Manica; a regio Sul composta por Maputo Provncia, Gaza e Inhambane. Cada provncia est dividida em distritos e municpios com um total 128 distritos e 33 municpios/ autarquias no pas. Cada distrito governado a partir da capital distrital
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(Vila Sede) e composto por vrios Postos Administrativos que representam localidades que por sua vez so compostas por vrias comunidades. Caractersticas demogrficas e construo das relaes de gnero De acordo com o ltimo censo da populao realizado em 1997, o nmero total de habitantes de aproximadamente 19 milhes, dos quais 52% so mulheres e cerca de metade menores de 15 anos de idade.1 As provncias da Zambzia e Nampula so as mais populosas, com cerca de metade da populao. Os principais grupos tnicos de Moambique so constitudos por numerosos subgrupos com diversas lnguas, dialectos, culturas e histrias. Muitos esto ligados a grupos tnicos semelhantes que vivem nos pases vizinhos. Os Makua so o grupo dominante na regio Norte; os Sena e os Ndau so proeminentes no Vale de Zambeze e os Shanganes (Tsonga) dominam a regio Sul. Outros grupos incluem os Makonde, Yao, Chopi, Shona, Ronga e Nguni. Existe um pequeno grupo de europeus, a maioria de ascendncia portuguesa e uma minoria mulata. Uma pequena comunidade asitica, na sua maioria de origem paquistanesa e goesa, estabeleceu-se em Moambique e especializa-se na prtica do comrcio e da pesca, respectivamente. Nas reas costeiras houve influncia de comerciantes costeiros islmicos e colonizadores europeus, mas as pessoas do interior de Moambique mantiveram a sua cultura indgena baseada no culto dos antepassados, no animismo e na prtica da agricultura de pequena escala. O portugus a lngua oficial e especialmente predominante nas cidades; nas reas rurais falam-se lnguas africanas como primeira lngua. A 24 de Setembro de 1969 os nacionalistas moambicanos deram incio luta armada pela independncia do regime colonial portugus. Muitas mulheres participaram na guerra de libertao, tendo um nmero razovel ascendido a postos militares ou quadros elevados dentro da FRELIMO. Depois de 1975, o Estado socialista nacionalizou o patrimnio da igreja e instituiu o atesmo de Estado, mas crenas religiosas persistem presentemente e experimentam um renascimento cultural. De acordo com o ltimo censo da populao, 20-30% da populao so cristos (predominantemente catlicos); 15-20% professam o Islo e os restantes praticam crenas tradicionais. Esta diversidade religiosa provm da influncia catlica portuguesa, de religies animistas tradicionais e de laos histricos com as rotas comerciais rabes. De um modo geral, estas influncias religiosas e culturais servem para fortalecer a sociedade patriarcal, que reserva uma posio subordinada s mulheres e tolera a poligamia. De 1980 a 1992, Moambique viveu uma guerra civil prolongada entre o Governo dirigido pela FRELIMO e um movimento da oposio dirigido pela RENAMO. A guerra devastou as infra-estruturas do pas, em particular nas reas rurais. A destruio das instalaes de sade e escolas tem um impacto particular nas mulheres, cujo encargo pelos cuidados aumentou, que foram privadas de instruo/educao. Em 1997, quase um em cada quatro agregados familiares (23.2%) era chefiado por uma mulher. Em 2003, esta percentagem decresceu para 16.5%. No h um estudo actual nem uma explicao para esta diminuio, mas poder dever-se em parte aos efeitos da guerra em 1997 (i.e. as mulheres podero ter ficado vivas ou separadas dos maridos durante a 1.3.
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guerra) e a um regresso normalidade depois de uma dcada de paz. Tanto os homens como as mulheres tm maiores probabilidades de serem chefes de agregados familiares medida que envelhecem, mas os homens comeam mais cedo. Em particular, aos 35-39 anos de idade, os homens descrevem-se como chefes dos seus agregados, enquanto muito mais provvel que as mulheres se tornem chefes de famlia com uma idade mais avanada (50 anos). Isso explica-se pelo facto de aos 35-39 anos os homens j terem formado as suas prprias famlias e de se considerar os homens como chefes de famlia a norma. A probabilidade de as mulheres chefiarem agregados familiares deve-se a divrcio, viuvez e separao.2 Outro factor importante na chefia da famlia pela mulher o trabalho migratrio masculino; da que a percentagem de agregados familiares chefiados por mulheres seja maior em Gaza (24.9%), Inhambane (23.2%) e Maputo (19.6%) do que a mdia nacional (16.5%)3. O estatuto social das mulheres deste modo em parte definido pela integrao de Moambique na economia regional. Na ausncia dos homens, as mulheres tm a responsabilidade pela produo para o agregado. A migrao da mo-de-obra masculina para centros urbanos e pases vizinhos conta quer com o domstico quer com o trabalho de subsistncia das mulheres, enfatizando os deveres domsticos das mulheres, ao mesmo tempo que lhes deixa pouca margem para ocuparem espaos significativos na arena poltica ou na vida pblica. As posies relativas dos homens e das mulheres na sociedade so muito influenciadas pelos mecanismos culturais que definem a distribuio dos bens econmicos e recursos produtivos. No norte e no centro predominam sistemas de descendncia matrilinear, enquanto que no sul a descendncia patrilinear constitui a norma. A descendncia patrilinear traa laos de parentesco e de fi liao atravs da linha paterna; os sistemas matrilineares definem a descendncia atravs da linhagem materna. Nos sistemas patrilineares os homens assumem a propriedade dos recursos do agregado familiar e o homem que autoriza mulher o uso destes recursos. Por exemplo, nas zonas rurais de Gaza prtica comum as mulheres no matarem uma galinha sem o consentimento expresso do marido. No distrito de Buzi (perto da Beira, Sofala) as vivas so expulsas da casa do marido quando este morre, sendo a razo que todos os bens devem ser conservados em benefcio da linha patrilinear do falecido. Nas sociedades matrilineares os bens normalmente passam de gerao para gerao atravs dos familiares da me, permanecendo deste modo na linha sangunea da me. Por outro lado, a descendncia matrilinear fortalece a posio da mulher na sociedade porque aps um divrcio a casa e os fi lhos continuam a constituir parte da famlia da mulher. Contudo, a descendncia matrilinear no significa que as mulheres detenham o poder formal; de facto, o poder de deciso est investido no irmo da me (tio materno) que detm o direito de distribuir os bens e recursos. Na tradio Macua, por exemplo, erukulu (que significa literalmente tero) a unidade bsica da sociedade e consiste numa me e seus fi lhos. A mulher assim passa o seu nome aos seus fi lhos mas o irmo dela quem tem a responsabilidade de garantir a sobrevivncia e educao deles. A linhagem assim chefiada por um mwene e uma pwiyamwene (irm ou sobrinha do mwene). Embora a pwiyamwene tenha um estatuto privilegiado de conselheira do mwene e seja responsvel pela
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preparao de todos os rituais do grupo, as decises finais sobre as questes econmicas e sociais da linhagem cabem ao mwene.4 De um modo geral, as relaes de gnero em Moambique so caracterizadas pela posio subordinada das mulheres. Quer as comunidades patrilineares quer as matrilineares em Moambique assentam em formas de controlo social que priorizam o colectivo em detrimento do individual. Neste tipo de organizao social as mulheres tm papis claramente definidos com base nas relaes de gnero que as colocam numa posio subordinada, ao mesmo tempo que as definem como detentoras da tradio e conservadoras da cultura. Consequentemente, a autonomia e a emancipao das mulheres so muitas vezes vistas como algo que parece ameaar o mago da estrutura tradicional. 1.4. ndice de desenvolvimento ajustado aos sexos Os conceitos de gnero e igualdade de gnero so instrumentos fundamentais para descrever e analisar as desigualdades entre homens e mulheres. Por serem moldadas pelas normas culturais, sociais, econmicas e polticas, as relaes de gnero so construes essencialmente dinmicas. Assim referem-se a relaes sujeitas a mudanas, tornando possvel transformar as relaes de gnero e alcanar uma maior igualdade entre homens e mulheres. Contudo, quando os indicadores bsicos do desenvolvimento humano so desagregados por sexo, torna-se claro que muitas mulheres em Moambique esto claramente em desvantagem comparado com os homens, i.e. so incapazes de participar na ntegra no desenvolvimento social, econmico e poltico do pas. O IDH um ndice composto que compreende trs variveis: o ndice de longevidade medido pela esperana de vida nascena; o ndice de educao medido por uma combinao da taxa de alfabetizao de adultos e a taxa de escolaridade conjunta no ensino primrio, secundrio e superior; e o ndice das condies de vida, medido atravs do PIB real per capita expresso em dlares em PPP (paridade dos poderes de compra). Calcula-se o IDH como uma mdia simples destes trs ndices. O IDS usa mesmas variveis que o IDH mas ajustadas em cada pas em relao s diferenas na esperana de vida, no nvel de educao e nos rendimentos entre os homens e as mulheres. Um valor baixo reflecte uma alta disparidade em termos de gnero ou uma discrepncia entre os indicadores bsicos para homens e mulheres. Os nmeros recentes mostram que nos ltimos anos o IDS de Moambique se tem mantido baixo e que apenas progrediu ligeiramente de 0.307 (2000) para 0.31 (2002) e 0.365 (2003).5 Isso prova que enquanto os indicadores do desenvolvimento humano melhoraram, as disparidades entre homens e mulheres permanecem grandes e as mulheres ainda no beneficiaram tanto das polticas sociais e do crescimento econmico como os homens.
Para informaes mais pormenorizadas sobre o papel das mulheres na cultura Macua ver Maria Isabel Casas, Ana Loforte, Terezinha da Silva e Margarita Meija et al. Perfil de Gnero da Provncia de Nampula, elaborado para a Embaixada Real dos Pases Baixos, Maputo, 1998. O perfil tambm descreve as mudanas recentes que esto a minar a organizao social tradicional Macua, resultando numa estrutura cada vez mais patrilinear na Provncia de Nampula.
PNUD, Relatrio do Desenvolvimento Humano. O relatrio foi lanado em 2005 mas utiliza dados de 2003.
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Indicador Esperana de vida nascena de mulheres Esperana de vida nascena de homens Taxa de alfabetizao adulta feminina (15 anos de idade e superior) Taxa de alfabetizao adulta masculina (15 anos de idade e superior) Taxa bruta de escolaridade combinada de mulheres (primrio, secundrio e superior) Taxa bruta de escolaridade combinada de homens (primrio, secundrio e superior) Estimativa dos rendimentos auferidos pelas mulheres (PPP) Estimativa dos rendimentos auferidos pelos homens (PPP)
2000 40.2 anos 38.4 anos 28.7% 60.1% 26% ND 705 USD 1007 USD
2003 42.7 anos 41.1 anos 31.4% 62.3% 38% 48% 910 USD 1341 USD
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2.1.
O Ministrio encontra-se presentemente no processo de uma Anlise Funcional conforme requer o processo em curso da Reforma do Sector Pblico. Prev-se que a anlise funcional resulte num plano de reestruturao pormenorizado at ao fim de 2006. Ser dedicada especial ateno DNM para determinar se h alguma duplicao das funes entre os dois departamentos, bem como at que ponto as direces provinciais e distritais actualmente com extrema falta de recursos podem ser capacitadas para poderem implementar melhor as diversas funes exercidas pelos dois departamentos.
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O Departamento da Mulher e Famlia tem, entre outras, as funes de: (1) conceber e promover a implementao de programas de assistncia social destinados a mulheres e famlias vulnerveis (especialmente a famlias chefiadas por mulheres); (2) prestar assistncia tcnica s dimenses de gnero do plano sectorial do Ministrio para o combate ao HIV/SIDA; (3) conceptualizar programas de educao cvica para disseminar informaes sobre os direitos das mulheres e a preveno da violncia domstica. O Departamento de Gnero e Desenvolvimento responsvel por: (1) monitorar at que ponto as questes de gnero so integradas de forma adequada nos planos sectoriais do Governo; (2) promover a implementao do Plano Nacional de Aco Ps-Pequim (PNAM); (3) coordenar e implementar campanhas de advocacia sobre os direitos das mulheres; (4) promover a implementao da legislao que protege os direitos das mulheres. Em 2004 o Conselho de Ministros criou o Conselho Nacional para o Avano da Mulher (CNAM).7 Os membros do CNAM incluem vrios Ministros e Vice-Ministros, duas Organizaes da Sociedade Civil (OSCs) que trabalham em prol da igualdade de gnero, um representante de organizaes religiosas, um representante dos sindicatos e um representante do sector privado. Embora o CNAM seja presidido pela Ministra da Mulher e da Aco Social, o CNAM no parte do MMAS/DNM ou subordinado ao MMAS. Funciona antes como um mecanismo institucional e rgo de consulta autnomo que permite ao MMAS/DNM coordenar as questes de gnero com vrias partes interessadas na vida pblica. O CNAM tem um Secretariado Executivo que responsvel pela gesto tcnica. Para apoiar o Secretariado Executivo foi formado um Conselho Tcnico que composto por Pontos Focais de Gnero e representantes de instituies pblicas. luz dos esforos para descentralizar a tomada de decises e permitir s autoridades locais tornar-se mais pr-activas na promoo do desenvolvimento local, cada provncia deve criar o seu prprio Secretariado Executivo e Conselho Tcnico. A funo principal do CNAM promover e monitorar a implementao das polticas de gnero do Governo em todos os programas e planos do Governo, com particular referncia ao Plano Nacional para o Avano da Mulher (PNAM) 2002-2006 e Poltica de Gnero e Estratgia de Implementao (PGEI). Logo aps a Conferncia de Pequim, o Governo elaborou um plano nacional de aco (PNAM) mas sem um quadro de polticas. A inexistncia de uma poltica nacional de gnero representou uma lacuna crti7
Depois da Conferncia de Pequim, o Governo criou um Grupo Operativo para o Avano da Mulher (GOAM). Este rgo servia de plataforma de coordenao multi-sectorial, composto por dois Pontos Focais de Gnero de cada Ministrio, pelo Frum M ulher, por algumas OSCs da rea do gnero e por rgos acadmicos, e era presidido pela Ministra da Mulher e da Aco Social. O objectivo principal do GOAM era promover e garantir a integrao do gnero em todos os planos sectoriais do Governo contudo o GOAM permaneceu bastante ineficiente devido ao facto de muitos dos seus membros serem juniores e de estes Pontos Focais de Gnero no terem capacidade para influenciar as tomadas de decises. Em 2004 o GOAM foi extinto e substitudo pelo Conselho Nacional para o Avano da Mulher (CNAM).
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ca, uma vez que alguns sectores no ficaram convencidos da necessidade de nomear PFGs e criar UGs sem uma base legal formal. 8 Essa base legal agora fornecida pela Poltica de Gnero e Estratgia de Implementao (PGEI) que foi aprovada pelo Conselho de Ministros a 14 de Maro de 2006. A PGEI focaliza as mesmas reas crticas identificadas pelo PNAM. Estas incluem a criao de mecanismos institucionais para assegurar a integrao do gnero nos planos sectoriais, o empoderamento econmico, a segurana alimentar, a educao, a reduo da mortalidade materna, a eliminao da violncia contra as mulheres, a participao das mulheres na vida pblica e nos processos de tomada de deciso, e a proteco dos direitos das raparigas. A PGEI ainda tem de ser aprovada pela Assembleia Nacional. Sociedade civil, organizaes de mulheres e movimento feminino Desde a transio para um regime multi-partidrio e uma sociedade pluralista nos incios dos anos de 1990, Moambique tem uma sociedade civil jovem mas dinmica. A liberdade de associao e expresso legalmente protegida e a Lei da Imprensa muitas vezes considerada como uma das mais liberais da frica Austral. A maior parte das OSCs est afi liada ao LINK, uma organizao-chapu de OSCs activas em Moambique.9 Embora muitas organizaes/associaes de facto visem as mulheres e reivindiquem os direitos das mulheres, o LINK no funciona como uma plataforma para a promoo da igualdade de gnero. Este papel desempenhado pelo Frum Mulher, uma organizao-chapu nacional criada em 1992 para facilitar a coordenao entre as OSCs dedicadas aos direitos das mulheres, ao empoderamento econmico e poltico das mulheres a nvel nacional.10 Alm disso, o Frum Mulher assumiu o papel de provedor de servios aos seus membros, ministrando formao tcnica e prestando apoio na anlise de gnero, integrao e advocacia. O Frum Mulher tem actualmente cerca de 40 organizaes membros a nvel nacional. Contudo, na linha da frente da luta pela igualdade de gnero figuram as organizaes de mulheres que se dedicam especificamente a assistir as mulheres na luta contra a pobreza e a discriminao (colectivamente conhecidas como movimento feminino). O movimento feminino em Moambique est h muito associado OMM,11 a ala feminina da FRELIMO, partido no poder desde a independncia de Portugal em 1975. Com efeito, durante a ideologia socialista da FRELIMO as mulheres tinham garantias de estarem livres de discriminao e muitas mulheres aderiram luta de libertao contra o regime colonial, chegando a ocupar altos postos. Durante a guerra civil que rebentou depois da independncia, a viso ideolgica da FRELIMO era articulada e implementada atravs por parte da OMM. Apesar do muito bom trabalho realizado no terreno e de tentativas genunas da OMM para representar as mulheres a
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2.2.
Desde 1995, vrios ministrios comearam a elaborar as suas prprias polticas e os seus prprios planos estratgicos de gnero. A maioria tambm nomeou Pontos Focais de Gnero (PFGs) tanto a nvel central como provincial e instituiu Unidades de Gnero (UGs) a nvel central. Contudo, este processo te sido pouco uniforme, tendo alguns sectores adoptado polticas de gnero progressivas e formulado planos estratgicos de gnero (por exemplo, Educao, Sade, Agricultura, Plano e Finanas comearam o processo cedo).
O LINK conta actualmente com 155 membros (90 OSCs nacionais, 55 OSCs internacionais e 10 observadores). Para mais informaes consulte o stio: www.linkong.org.mz. Para mais informaes sobre o Frum Mulher consulte o stio: www.forumulher.org.mz. Organizao da Mulher Moambicana.
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nvel nacional, pouco foi feito pelo Governo para proteger e manter os direitos das mulheres e as estruturas de poder patriarcais mantiveram-se inalteradas.12 Nos incios da dcada de 1990, o pluralismo poltico e os subsequentes acordos de paz de 1992 resultaram num rpido crescimento da sociedade civil. Muitas OSCs foram estabelecidas para abordar uma vasta gama de problemas que afectam as mulheres. Estas organizaes tornaram-se rapidamente numa alternativa vivel OMM, que em 1992 por algum tempo tentou estabelecer-se como uma OSC autnoma tendo voltado pouco depois para a FRELIMO.13 Embora se tenha estabelecido em todas as vilas e os seus representantes sejam democraticamente eleitos, a OMM enfraquecida pela sua afi liao poltica, limitao de recursos e orientao para o bem-estar.14 Imediatamente aps a Conferncia de Pequim muitas OSCs orientadas para as mulheres ganharam um grande mpeto, particularmente porque comearam a construir credibilidade e legitimidade com firmeza e ganharam capacidade de gesto administrativa e financeira. A anlise de gnero foi gradualmente sendo reconhecida como uma habilidade especfica e as OSCs concentraram-se no fortalecimento das suas capacidades internas para abordar a desigualdade de gnero. Ao mesmo tempo, muitas associaes/organizaes de mulheres tambm se profissionalizaram, tendo-se muitas delas afi liado ao Frum Mulher. Com efeito, desde a sua fundao em 1992, o Frum Mulher tem sido sempre o ponto de referncia da sociedade civil que trabalha em nome das mulheres ou da igualdade de gnero. Embora algumas OSCs se dediquem especificamente promoo da igualdade de gnero e/ou proteco dos direitos das mulheres, muitas outras no visam especificamente as mulheres mas incluem-nas como beneficirias e desenvolvem esforos especiais para fornecer servios apropriados s mulheres pobres. positivo notar que os institutos de pesquisas tais como a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), universidades privadas e Centros de Estudos Africanos (CEA) oferecem cada vez mais cursos especiais e realizam pesquisas sobre assuntos de gnero. Contudo, na prtica as iniciativas para promover a igualdade de gnero so dirigidas por mulheres. Os homens so capazes de aderir a qualquer grupo que procure encorajar a igualdade de gnero. No permitido s associaes excluir indivduos com base no sexo. Contudo, a sociedade civil em geral nem sempre tem sido bem sucedida na formulao de uma viso clara e coerente do lugar da mulher na sociedade ideal, sendo notvel a inexistncia de uma viso feminista clara delineando estratgias sobre como transformar a sociedade e atingir a igualdade de gnero. Por exemplo, a Agenda 2025 uma declarao de viso e estratgia formulada em 2003 por um grupo de homens sensatos provenientes de diferentes grupos da sociedade civil. Atravs de consultas extensivas a todo o pas, a Agenda 2025 identifica vrios cenrios e uma viso estratgica de longo prazo para o futuro desenvolvimento do pas (2003-2025) assentando nos princpios de soberania, democracia, Estado de Direito, luta contra a pobreza absoluta
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Uma descrio interessante da OMM e do seu papel apresentada na obra Urdang, S. And Still They Dance: Women, War and the Struggle for Change in Mozambique (London, 1989). O livro discute a OMM no perodo de 1975-1988 mas a anlise das polticas da OMM e a viso do papel das mulheres na sociedade continuam vlidas.
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A OMM voltou para a FRELIMO principalmente porque no foi capaz de angariar recursos para garantir a sua existncia e as suas actividades. Historicamente, a abordagem da OMM tem sido conferir prioridade s necessidades de gnero prticas das mulheres em detrimento das necessidades estratgicas de gnero. Hoje, a abordagem da OMM continua a ser caracterizada por questes de bem-estar para as mulheres como esposas e mes e no como agentes da mudana da sociedade.
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e no-excluso. Embora a viso inclua especificamente um pas onde os homens e as mulheres gozem dos mesmos direitos e oportunidades a igualdade de gnero no sistematicamente levantada como uma questo ao longo do documento.15 De facto, a abordagem prevalecente da Agenda 2025 parece mais destinada a ajudar as mulheres a serem melhores esposas e mes do que propriamente a promover direitos das mulheres como o exerccio dos seus plenos direitos de cidadania e o empoderamento das mulheres. Consequentemente, o Frum Mulher enfrenta o desafio de mobilizar um apoio de base ampla para a igualdade de gnero atravs de campanhas directas de advocacia e a longo prazo. Como exemplo citam-se as reposies anuais do Frum Mulher da Marcha das Mulheres e uma campanha que finalmente culminou na aprovao da Lei da Famlia (2004). A ltima campanha do Frum Mulher visa a rpida aprovao da proposta de lei contra a violncia domstica. As organizaes de mulheres em Moambique so frequentemente sediadas em cidades e precisam de aumentar o impacto nos distritos de modo que o movimento feminino possa responder s realidades em todo o lado, incluindo quelas nas reas rurais e remotas. Embora se reconhea frequentemente que necessria uma expanso, muitas vezes as OSCs tm falta dos recursos humanos e financeiros necessrios para fazer da expanso uma realidade. O Frum Mulher ajudou a estabelecer redes provinciais que agrupam OSCs orientadas para as questes de gnero (por exemplo, NAFEZA na Zambzia), mas estas funcionam na maior parte das vezes como mecanismos informais de cooperao soltos, em parte porque muitas ainda esto no processo de institucionalizao e tambm porque em muitas provncias estas redes/estes fruns no tm fundos suficientes. Um desafio especfico reside na formalizao e operacionalizao de sinergias de modo que estas possam ser integradas nos planos de trabalho dos diferentes parceiros. Apesar do facto de as organizaes de mulheres serem muito claras quanto ao facto de pertencerem a uma sociedade civil independente, muitas tambm se vem a si prprias como potenciais parceiras para a implementao das estratgias do Governo. Assim h um consenso que o movimento feminino dever ser definido num sentido lato para poder incluir o Governo, visto que este tem um grande impacto na qualidade de vida dos cidados. Por exemplo, o Frum Mulher tomou a deciso estratgica de se empenhar ao mais alto nvel nos processos DERP. Neste contexto, criticou o PARPA I para o perodo de 2001-2005 e participou nas discusses volta do DERP sucessivo para o perodo de 2006-2009 (PARPA II). 2.3. O papel das agncias doadoras Em 1998 o Grupo de Doadores de Gnero (GDG) foi formado na iniciativa conjunta das agncias das Naes Unidas e de alguns doadores bilaterais, sendo de destacar os Pases Baixos. O objectivo era criar um mecanismo para coordenao e troca de informaes sobre as actividades dos respectivos doadores para apoiar a igualdade de gnero. Com o passar do tempo, o GDG transformou-se no actual Grupo de Coordenao de Gnero (GCG), que ainda mantm muitos dos doadores multilaterais e bilaterais, mas que se alargou para incluir a sociedade civil (i.e. Frum Mulher) e o Governo (DNM e o Secretariado Executivo do CNAM) como membros.
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Agenda 2025: Viso e Estratgia da Nao (Comit de Conselheiros, Maputo 2003) item 5.2, pg. 89.
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Actualmente, o GCG est no processo de reviso dos seus Termos de Referncia para examinar a possibilidade de colocar uma maior nfase na coordenao e promoo de sinergias em vez de uma mera troca de informaes. De momento, o GCG tambm funciona como o local para apresentar relatrios/prestar contas quando os seus membros tiverem participado em eventos internacionais e nacionais (conferncias, seminrios de formao, etc.). A presidncia do GCG rotativa. Embora nem todos os doadores tenham desenvolvido e adoptado polticas ou directivas internas de gnero, todos eles nomearam pontos focais de gnero (PFG) ou oficiais de gnero. No obstante, a maior parte dos PFG so oficiais cuja responsabilidade primria e mais importante no a questo do gnero mas sim acompanhar o apoio que as suas instituies prestam aos vrios sectores. Presentemente apenas a ACDI/ CIDA canadiana recrutou uma assessora de gnero a tempo inteiro.16 Os doadores continuam a financiar as OSCs que trabalham para a promoo dos direitos das mulheres e igualdade de gnero (por exemplo, Muleide, WLSA, Frum Mulher etc.). Os doadores em geral apoiam os esforos do Governo para integrar a igualdade de gnero nos planos sectoriais, como esta exemplificado pela continuao da advocacia para integrao do gnero no mbito das negociaes da abordagem sectorial integrada (SWAp) nas reas de sade, educao, agricultura (PROAGRI II), estradas, guas, etc., bem como no recentes processo de Reviso Conjunta.17 2.4. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas
O Governo de Moambique desenvolveu vrios mecanismos institucionais para promover a igualdade de gnero. Um mecanismo chave a Direco Nacional da Mulher (DNM), no Ministrio da Mulher e da Aco Social. A Direco Nacional possui dois departamentos encarregados da Mulher e Famlia e do Gnero e Desenvolvimento , respectivamente. O MMAS/DNM a entidade do Governo que tem o mandato directo para lidar com questes de gnero, e nessa qualidade elaborou a Poltica de Gnero e Estratgia de Implementao (PGEI), o Plano Nacional de Aco Ps-Pequim (PNAM), assim como participou activamente em vrias outras reas tais como a reviso da legislao discriminatria, campanhas para pr m violncia domstica e iniciativas para promover o empoderamento econmico e poltico das mulheres. Contudo, a DNM e o MMAS ainda precisam de apoio institucional e capacitao institucional, especialmente ao nvel das provncias, mas espera-se que isto seja abordado no exerccio de anlise funcional e reestruturao em curso que est ser conduzido como parte da Estratgia da Reforma do Sector Pblico. Outro assunto a necessidade de denir o papel do MMAS/DNM em relao aos outros ministrios porque falta alguma clareza quanto s competncias exactas do MMAS/DNM e s competncias do CNAM. Como a palavra coordenao foi omitida da designao ocial do Ministrio, parece que a nfase agora colocada no papel do MMAS/DNM de facilitador da implementao e proviso de servios s mulheres benecirias e muitas outras partes interessadas no tm inteiramente a certeza da maneira como isso funciona na prtica. A existncia da Poltica de Gnero e Estratgia de Implementao criou uma base legal para a reproduo dos mecanismos institucionais noutros sectores (por exemplo, a
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Antigamente, as embaixadas dos Pases Baixos e da Irlanda tambm tinham especialistas de gnero a tempo inteiro e a Danida empregava um consultor a tempo parcial para assessorar e acompanhar projectos relacionados com a rea do gnero.
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A Reviso Conjunta uma reviso do grau em que o Governo implementou o seu plano anual econmico e social (PES) e alcanou os indicadores acordados no sentido da reduo da pobreza. Embora seja dirigido pelo Governo, este processo realizado em conjunto pelo Governo e pelos doadores.
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nomeao de pontos focais de gnero, a criao das Unidades de Gnero) bem como para a implementao do PNAM. Espera-se que a PGEI possa acelerar a promoo da igualdade de gnero por todas as partes interessadas bem como a integrao do gnero em todos os sectores. Considerando que a PGEI ter de ser implementada pelos diferentes sectores e monitorada pelo CNAM, muito depender da medida em que o CNAM e as suas estruturas sero capazes de funcionar devidamente. Em ltima anlise, isso traduz-se num triplo desao para assegurar o seguinte: compromisso da liderana poltica pelo CNAM aos nveis central e provincial articulao da funo e do papel do CNAM face ao governo local capacitao institucional dos quadros de pessoal do CNAM e seus membros aos nveis central e provincial salrios e fundos operacionais para o CNAM aos nveis central e provincial.
A sociedade civil tambm operou progressos importantes ao reconhecer a igualdade de gnero como uma questo de justia social e direitos humanos; como bvio muitas organizaes de mulheres em Moambique operaram grandes progressos desde o seu incio no princpio dos anos de 1990. A sua participao na Conferncia de Pequim e em outros eventos internacionais abriu novos horizontes, criou oportunidades para capacitao institucional e nanciamento. No obstante, o movimento feminino continua a enfrentar desaos importantes incluindo os seguintes:18 Capacidade tcnica: o movimento das mulheres tem sido muito activo em vrios processos de alto nvel tais como a elaborao do DERP, leis, polticas; mas fazer lobby em relao a estes assuntos trabalho tcnico que resulta no recurso a consultores externos e num processo de acompanhamento contnuo; as OSCs recm-estabelecidas ainda requerem uma capacidade adicional para terem competncia na anlise e integrao do gnero, em particular nas provncias; Ligaes/sinergias Provncia-Maputo: h necessidade de encontrar uma forma de utilizar todo o trabalho realizado pelas diferentes partes interessadas nas diferentes reas temticas e geogrcas; Sinergias/integrao regional: apesar de Moambique ter aderido Commonwealth em 1995, os contactos com outras OSCs femininas so muito dicultados pela barreira lingustica, de modo que as anidades com os pases lusfonos so mais facilmente exploradas do que as ligaes com a Commonwealth ou a SADC. Embora o mencionado acima se rera necessidade de continuao do apoio institucional e tcnico, OSCs na rea do gnero e a sociedade civil em geral esto enfrentando um novo tipo de desaos, nomeadamente como desenvolver uma viso coerente e consensual da igualdade de gnero em Moambique. A sociedade civil vse frequentemente a si prpria como uma parceira para a implementao das polticas do Governo e, embora esta posio seja certamente muito estratgica, tambm importante notar que a sociedade civil dever desenvolver uma capacidade para propor a sua prpria viso e estratgia sobre como transformar a sociedade numa sociedade com base na igualdade de gnero, no-discriminao e respeito incondicional pelos direitos humanos independentemente do gnero. Os doadores apoiam h muitos anos projectos para o empoderamento das mulheres e a integrao do gnero. O Grupo de Coordenao de Gnero comeou como um mecanismo de coordenao, que depois se expandiu para incluir parceiros nacionais do Governo e da sociedade civil. Um desao reside em decidir se a funo primria do
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Open Society Initiative for Southern Africa, The Loss of Vibrancy in the Womens Movement in SADC countries - citao feita no Perfil de Moambique, pg. 1.
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GCG agir como um think-tank identicando assuntos de gnero emergentes e estimulando debates nacionais sobre estratgias apropriadas ou se o GCG pode agir como um mecanismo para a entrega conjunta da ajuda (i.e. coordenao, implementao conjunta, formalizao de ligaes estratgicas e sinergias etc.).
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Os direitos de uso da terra esto consagrados na Lei de Terras de 1997 que prev o reconhecimento dos direitos de uso da terra por indivduos e comunidades (direito de uso e aproveitamento da terra DUAT) bem como licenas a curto prazo e concesses a longo prazo por um perodo at 99 anos.
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A mdia da taxa de crescimento de 1993 a 1997 foi de 6.7%; de 1997 a 1999 a mdia foi superior a 10% por ano. As cheias de 2000 abrandaram o crescimento do PIB para 2%, tendo-se registado uma recuperao em 2001 de 13%. Estatsticas da Repblica de Moambique, Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 7.
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Repblica de Moambique, Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 7. Reviso Conjunta do desempenho em 2005, citado no Aide Mmoire (Maputo, 2006). Um controlo rigoroso dos gastos e da oferta de moeda reduziu com sucesso a inflao de 70% em 1994 para menos de 5% em 1998-99. As cheias causaram um retrocesso no desempenho econmico, o que fez com que a inflao disparasse para 12.7% em 2000 e 13% em 2003. A inflao est outra vez a decrescer paulatinamente. A 1 de Julho de 2006 o antigo metical (Mzm) deixou de existir e foi substitudo pelo Metical da Nova Famlia (MnF): 1000 Mzm antigos = 1 MnF.
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populao rural, apesar dos esforos para mitigar os impactos das recentes secas. Isto sugere que o crescimento global poder no ter uma base to ampla como no passado. As importaes continuam a ser quase 40% maiores que as exportaes; os dfices na balana de pagamentos tm sido largamente compensados por programas de apoio dos doadores e pelo financiamento privado do investimento directo estrangeiro aos megaprojectos e suas matrias-primas associadas (por exemplo, projecto de alumnio da Mozal, projecto de gs da SASOL). Embora os megaprojectos tenham aumentado muito o volume comercial nacional, claro que um crescimento sustentvel para o futuro ir tambm depender da continuao da reforma econmica, da recuperao da agricultura e da indstria, dos transportes e do desenvolvimento das infra-estruturas. Neste sentido, Moambique continuar a enfrentar alguns desafios importantes: a falta de acesso a capital24 que constitui um constrangimento para a produo industrial e o empresariado privado, infra-estruturas degradadas e mercados locais embrinicos; falta de mode-obra local suficientemente qualificada e uma legislao laboral onerosa. Embora ainda de forma modesta, o turismo e a indstria hospitaleira parecem determinados a tornar-se uma rea de crescimento capaz de atrair investimentos estrangeiros.25 A maioria da populao economicamente activa continua a depender da agricultura de subsistncia, verificando-se neste grupo uma esmagadora maioria de mulheres que se dedicam produo de alimentos para consumo familiar enquanto os homens so responsveis por culturas de rendimento comercial.26 A criao de riqueza est geograficamente distribuda de forma no equilibrada, estando grande parte do crescimento econmico concentrado na capital Maputo e nos centros urbanos principais. A Beira, a capital da regio centro, afectada pelo declnio da economia zimbabueana que paralisou o comrcio ao longo do corredor Beira-Harare. Embora continue a ser a segunda cidade do pas, a cidade da Beira poder em breve ser ultrapassada pela cidade de Nampula, a capital da regio norte, que est a crescer muito rapidamente devido ao aumento do comrcio, ao desenvolvimento do porto de Nacala, ao aumento da agricultura comercial e melhoria das infra-estruturas. Moambique tambm enfrenta desafios crescentes de se posicionar na economia global. Em fins da dcada de 1990, a abolio das barreiras comerciais quase que resultou no colapso do sector local da castanha de caju, anteriormente uma fonte significativa de receitas de exportao. Embora Moambique produza algodo, as fbricas txteis, tais como Textfrica em Chimoio (Provncia de Manica), tambm encerraram as portas, visto que no eram capazes de competir com produtos mais baratos importados. A queda nos sectores da castanha e txteis afectou um grande nmero de mulheres, visto que muitas estavam empregadas no descaroamento da castanha e na confeco de peas de vesturio. A crise no sector mineiro da frica do Sul que tradicionalmente atraa grandes quantidades de mo-de-obra das provncias moambicanas de Maputo, Gaza e Inhambane, resultou em despedimentos. Estima24
Em 2005 o Banco Central emitiu um regulamento, segundo o qual para cada emprstimo concedido em moeda estrangeira, o banco deve depositar um valor equivalente moeda estrangeira no Banco Central. Com efeito isso torna quase impossvel ter acesso a emprstimos em moeda estrangeira; os emprstimos em MnF so arriscados devido a taxas de juro excessivas.
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O uso total dos recursos naturais em bom estado de conservao atravs do desenvolvimento do turismo uma das prioridades do Governo cfr. Plano Estratgico para o Desenvolvimento do Turismo em Moambique 2004-2013 aprovado pelo Conselho de Ministros em Outubro de 2004.
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80% da populao economicamente activa dependem da agricultura de subsistncia. INE, IAF 2002/3, pg. 26.
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se que mais de 70.000 mineiros moambicanos possam ser afectados, no podendo muitos deles renovar os seus contractos.27 Esta situao no s afecta as economias locais no sul de Moambique, que tradicionalmente dependem muito da migrao da mo-de-obra masculina, mas tambm resulta no aumento da presso sobre os mecanismos de gesto das crises nas famlias, visto que muitos dos que regressam esto infectados com HIV/SIDA. Quando os trabalhadores migrantes regressam, as relaes de gnero tm de ser renegociadas e novas estratgias econmicas tm de ser desenvolvidas pelas famlias. Alm disso, muitos trabalhadores migrantes regressam com SIDA, causando uma maior disrupo do tecido social e criando uma maior presso sobre os mecanismos de gesto das crises nas famlias.28 3.2. Quadro para a reduo da pobreza Apesar do progresso econmico, o pas continua a ser um dos mais pobres do mundo com nveis baixos de indicadores socioeconmicos. Moambique est posicionado em 168 lugar num grupo de 177 pases de acordo com o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD, o nvel mais baixo da SADC. Alm disso, o pas posiciona-se em 133 lugar num grupo de 140 pases no ndice de Desenvolvimento Ajustado aos Sexos (IDS).29 Com uma dvida externa elevada e um bom desempenho no que se refere reforma econmica, Moambique foi o primeiro pas africano a receber alvio da dvida no mbito da Iniciativa HIPC (Iniciativa para os Pases Pobres Altamente Endividados).30 Com vista a cumprir os requisitos do alvio da dvida, Moambique elaborou uma Estratgia para a Reduo da Pobreza que prev a maneira como o alvio da dvida aplicado para aumentar as despesas sociais pblicas. Este documento conhecido como o Plano de Aco para a Reduo da Pobreza Absoluta 2001-2005 (PARPA I). A continuidade desta estratgia foi assegurada com a elaborao do PARPA II, que cobre o perodo de 2006-2009. A poltica econmica no PARPA continua a focalizar a liberalizao da economia com vista promoo de um crescimento pr-pobres. O processo de elaborao do PARPA I foi criticado pelos doadores e pelo movimento feminino nacional por no ser suficientemente sensvel ao gnero.31 Posteriormente, o PARPA II foi elaborado de forma mais participativa, com a participao activa da sociedade civil (atravs do chamado G-20) de um modo geral e do Frum Mulher em particular como representante das organizaes de mulheres.32 Como resultado de uma advocacia concertada, a igualdade de gnero foi especificamente reconhecida no documento do PARPA II como um assunto transversal. O PARPA assenta no Plano Quinquenal do Governo e forma a base do Plano Econmico e Social (PES) anual. A Reviso Conjunta uma avaliao do grau de sucesso do Governo na implementao e no cumprimento das metas traadas no PES usando fundos do Apoio Directo ao
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Ver Agncia de Informao de Moambique AIM, reportagem de 21 Julho de 2005. Para pormenores sobre a incidncia e os efeitos da migrao da mo-de-obra na provncia de Inhambane, ver Minzo, H., Orlowski, D., & Guivala, E. Pobreza em Inhambane: Factores, Distribuio e Estratgias: estudo de suporte para a elaborao de uma Estratgia de Desenvolvimento da Provncia de Inhambane (rascunho, 2000).
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PNUD, Relatrio Nacional do Desenvolvimento Humano 2000 (Maputo), pgs. 11-12. Em Abril de 2000, Moambique tambm se qualificou para beneficiar do Programa HIPC Reforado, tendo atingido o seu ponto de concluso em Setembro de 2001. Isso levou a que os membros do Clube de Paris se comprometessem em Novembro de 2001 a reduzir substancialmente a dvida bilateral restante. Isto por sua vez conduziu ao perdo total de um volume considervel da dvida bilateral.
31
Mejia, M. An Approach for the Analysis of Poverty Reduction Plan (PARPA) in Outras Vozes (WLSA, edio especial, Julho de 2003) pgs. 35-38. O G-20 compreende um grupo de 20 OSCs que participaram na elaborao de PARPA I e PARPA II.
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Oramento.33 Assim constitui uma reviso da despesa pblica, mostrando que as despesas de 2005 nos sectores prioritrios foram de 67% do total das despesas, dos quais 55% foram para os sectores da educao e da sade (dados preliminares).34 A Reviso Conjunta tambm constatou que a gesto das finanas pblicas tem melhorado nos ltimos anos, com a elaborao de vrias medidas inovadoras para racionalizar os procedimentos (por exemplo, reviso salarial, um novo regulamento para contratao pblica e um aumento significativo da cobrana de impostos embora as receitas se mantenham baixas.35 Futuros desafios so o desenvolvimento de um Cenrio Fiscal de Mdio Prazo (CFMP)36 coerente, a implementao do SISTAFE,37 a melhoria da gesto dos recursos humanos, a obteno de fundos ao oramento (on-budget) e a melhoria dos mecanismos de governao em geral. Como parte do processo de Reviso Conjunta, so formados vrios grupos de trabalho sectoriais compostos por representantes do Governo e de agncias doadoras. Em 2005, o GCG fez lobby para incluir um relatrio sobre questes de gnero nos relatrios dos grupos de trabalho e no Aide Mmoire. Posteriormente, cada grupo de trabalho deve preparar um pargrafo sobre questes de gnero como um assunto transversal. Embora este procedimento assegure a integrao do gnero nos relatrios sectoriais, as experincias passadas demonstraram que os relatrios sectoriais precisam ser completados com um relatrio separado que descreva as questes macro de gnero. Por esta razo, durante a Reviso Conjunta realizada em Maro-Abril de 2006, o GCG formou um Grupo de Trabalho de Gnero separado para preparar um relatrio com consideraes das questes macro de gnero.38 Como resultado dos esforos do GCG, o Aide Mmoire para a RC de 2005 faz referncias especficas integrao do gnero, reconhecendo que se conseguiu uma maior clareza conceptual e metodolgica no que respeita integrao do gnero como um aspecto transversal, mas enfatizando que necessrio defi nir instrumentos para assegurar a sua operacionalizao. O documento tambm destaca que o mandato dos rgos responsveis por assuntos transversais deve ser fortalecido atravs da liderana poltica e de uma maior afectao de recursos. No que respeita afectao de recursos para o gnero, a despesa pblica descrita usando categorias muito amplas (classificadores funcionais) que no permitem nveis suficientes de anlise (i.e. acompanhando a aplicao exacta dos fundos). Em particular, os classificadores funcionais em uso no permitem acompanhar que fundos tero sido usados para responder a iniciativas ligadas promoo da igualdade de gnero. Assim, o texto de Aide Mmoire recomendou que a reviso dos classificadores seja integrada no SISTAFE. Isto no ser s uma ferramenta para analisar a execuo oramental de uma
33
Este processo tem lugar anualmente em Maro-Maio. seguido posteriormente durante o ano da Reviso Aps MeioPercurso, que um processo de avaliao semelhante, mas que oferece uma oportunidade para renegociar as reas, objectivos e indicadores prioritrios.
34
Aide Mmoire para a RC de 2005. Estes nmeros preliminares para 2005 eram melhores que os de 2004 (respectivamente 63% e 50%). A cobrana de impostos montou a 14% do PIB em 2005. Aide Mmoire para a RC de 2005. O CFMP um instrumento de oramentao usado para afectar fundos para a implementao dos programas definidos no PARPA. SISTAFE: Sistema de Administrao Financeira do Estado, refere-se a novos sistemas de administrao financeira do Estado. Foi contratado um consultor para identificar assuntos de gnero relevantes sobre os quais os diferentes grupos de trabalho deveriam reportar. Um relatrio pormenorizado pode ser obtido junto do Presidente do GDG e da CIDA-PSU.
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perspectiva do gnero, mas tambm servir como uma ferramenta para demonstrar o impacto do gnero nas despesas em auditorias externas. Desde 2000, o UNIFEM, o PNUD e outros doadores tm apoiado algumas iniciativas para introduzir os fundamentos das metodologias do Oramento Sensvel ao Gnero (OSG) (i.e. formao dos membros do Frum Mulher, formao dos pontos focais de gnero nas instituies do Governo, formao da Secretria Executiva do CNAM) e desenvolver uma Declarao do Oramento do Gnero.39 Alm disso, o UNCDF atravs do seu apoio ao programa do Governo de planificao e finanas distritais descentralizadas est contemplando a possibilidade de desenvolver uma experincia piloto para aplicar a metodologia do OSG planificao e oramentao distrital nas provncias de Nampula e Cabo Delgado. As polticas de Moambique reduziram o nmero de pessoas vivendo na pobreza absoluta de 69.4% entre 1996-7 para 54.1% entre 2002-3, mas para acelerar o desenvolvimento o Governo adoptou a Declarao do Milnio em Setembro de 2000.40 Um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM) refere-se promoo da igualdade de gnero e empoderamento das mulheres. A meta correspondente definida como Eliminar as disparidades de gnero no ensino primrio e secundrio, de preferncia at 2005, e em todos os nveis de educao o mais tardar at 2015.41 Os indicadores correspondentes relacionam-se com a educao (por exemplo, o rcio de raparigas para rapazes no ensino primrio, secundrio e superior; o rcio de mulheres alfabetizadas em relao a homens no grupo etrio de 15-24 anos) mas tambm outros indicadores parecem concebidos para acompanhar a igualdade de gnero num sentido mais lato (por exemplo, a parcela de mulheres no trabalho assalariado no sector no-agrcola; a percentagem de assentos ocupados por mulheres no Parlamento nacional). O relatrio nacional sobre o progresso no sentido do ODM para a igualdade de gnero frisa que pouco provvel que o objectivo seja atingido e sugere que tal se deve em grande medida ao estado do ambiente de apoio que descreve como fraco mas registando melhorias.42 3.3. Desenvolvimento econmico atravs do desenvolvimento do sector privado A maioria da populao economicamente activa depende da agricultura de subsistncia e/ou da pesca, sendo os outros sectores muito pouco desenvolvidos. Todos os sectores excepo da agricultura empregam mais homens do que mulheres.43 O facto de 80.5% da populao economicamente activa dependerem da agricultura ou pesca para a sua
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Informaes extensivas podem ser obtidas junto do Secretrio Executivo do CNAM e do PFG do Ministrio da Planificao e Desenvolvimento. Informaes tericas, ferramentas e relatrios das actividades esto disponveis no website do UNIFEM www.unifem.org.
40
Os ODMs referem o seguinte: (1) erradicar a pobreza absoluta e a fome, (2) alcanar o ensino bsico universal, (3) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres (4) reduzir a mortalidade infantil (5) melhorar a sade materna, (6) combater o HIV/SIDA, a malria e outras doenas, (7) assegurar uma gesto sustentvel do ambiente e (8) estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Repblica de Moambique, Relatrio sobre Objectivos do Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 12.
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O Relatrio sobre Objectivos do Desenvolvimento do Milnio 2005 sugere que o enfoque na educao deriva do facto de este sector ser um dos mais avanados em termos da integrao do gnero no Plano Estratgico da Educao, com nfase especial no Plano Estratgico de Educao sobre a educao das raparigas.
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Repblica de Moambique, Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pgs. 21-23. Percentagem de homens e mulheres (economicamente activas) por sector: agricultura/pescas - homens: 69.3%, mulheres: 89.9%; comrcio homens: 9.2%, mulheres: 5.2%; servios homens: 7.3%, mulheres 3.1%; sector pblico (educao, sade, administrao) homens: 5.2%, mulheres 1.4%; construo homens 4.5%, mulheres 0.1%; manufactura 1.5 homens %, mulheres 0.1%; minas 1 homens %, mulheres 0.1%. INE, IAF 2002/3, pg. 26.
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sobrevivncia significa que a maior parte da populao adulta no remunerada mas est no auto-emprego ou trabalha sem salrio numa actividade familiar, incluindo na machamba. Apenas 11.5% recebem remunerao em dinheiro ou em espcie. Daqueles que auferem um rendimento ou recebem pagamento em espcie, a maioria so homens; pelo contrrio, a maioria dos trabalhadores no remunerados num negcio familiar so mulheres e sem dvida esta situao reflecte o facto de o trabalho produtivo das mulheres no ser considerado como actividade econmica.44 Em Junho de 2005 o Governo decretou um aumento de 14% do salrio mnimo para todos os trabalhadores assalariados (1 300 000 Mzm para trabalhadores do sector da indstria e sector dos servios e 935 000 Mzm para trabalhadores agrcolas). Apesar destes aumentos, que foram superiores taxa de inflao registada em 2004, nenhum dos salrios mnimos proporciona aos trabalhadores e suas famlias um padro de vida decente. As estratgias de sobrevivncia adoptadas incluem procurar um segundo emprego, abrir machambas e recorrer/ depender dos rendimentos dos outros membros de famlia. Os sistemas de apoio familiar esto sob uma presso crescente, dado que se espera que os membros de famlia que auferem rendimentos contribuam para aqueles que no tm nenhum, o que resulta em fontes de conflito latente. De acordo com os inquritos anuais aos agregados familiares, os agregados chefiados por homens gastam 13% mais que os agregados chefiados por mulheres por ms. Uma desagregao das despesas mostra que os agregados chefiados por homens gastam o mesmo que os agregados chefiados por mulheres na alimentao mas gastam muito mais em bebidas alcolicas, roupa, lazer, mobilirio e transporte.45 Por contraste, gastam menos na habitao que os agregados chefiados por mulheres. O maior nvel de despesas dos agregados chefiados por homens pode reflectir quer rendimentos duplos (a maioria dos agregados chefiados por mulheres so dirigidos por mulheres solteiras) quer o facto de as mulheres tipicamente auferirem salrios inferiores aos dos homens. Os doadores esto apoiando Moambique a desenvolver e sustentar um ambiente poltico, legal e regulador que ir promover o investimento privado e o comrcio, particularmente nos sectores em que os investimentos criam muitos empregos, reduzindo assim a pobreza. Um estudo revelou que a Lei do Trabalho de Julho de 1998 contm ambiguidades e requisitos dirigidos pelas polticas que impem custos significativos aos empregadores e tornam assim Moambique menos competitivo que os pases vizinhos.46 A Lei do Trabalho est em processo de reviso. O Frum Mulher mobilizou os seus membros que possuem conhecimentos tcnicos especiais para apresentarem comentrios e sugestes para tornar a Lei do Trabalho mais sensvel ao gnero, i.e. assegurar que a lei reflicta as questes das mulheres, quer como trabalhadoras quer na qualidade de mes. A legislao corrente protege as trabalhadoras como mes ao conceder-lhes licenas de maternidade por um perodo de 60 dias, uma reduo das horas de trabalho para amamentao, bem como dispensas para poderem assistir os filhos doentes e participar em funerais. As mulheres esto legalmente protegidas contra certos riscos ocupacionais, mas como poucas mulheres esto cientes dos seus direitos ao abrigo da lei, a lei no frequentemente usada para proteger as trabalha44 45 46
INE, IAF 2002/3, pg. 27. INE, IAF 2002/3, pg. 35. Avaliao da Lei do Trabalho de Moambique (estudo realizado para a USAID/Plano Estratgico de Moambique), elaborado por SAL Lda., Maputo 2002.
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doras contra a discriminao ou como meio para elas exigirem melhores condies de trabalho mais sanitrias. Um desafio especfico a definio de medidas apropriadas para prevenir e punir o assdio sexual no local de trabalho. A lei proposta prev uma reduo dos custos de despedimentos, mas resta saber se isto ir tornar as mulheres mais vulnerveis a despedimentos ou se a lei proposta ir abolir os salrios mais baixos para as mulheres que estejam a realizar o mesmo trabalho que os homens. Tal como em muitos outros pases, o mercado de trabalho est segregado tanto em termos verticais como horizontais. As mulheres esto concentradas em trabalhos menos qualificados com salrios mais baixos. As diferenas salariais podem ser compreendidas em termos de gnero: uma vez que os nveis salariais reflectem a produtividade, os nveis de educao mais baixo das mulheres reflectem-se na sua produtividade mais baixa, que um factor utilizado para justificar salrios mais baixos. Subjacente a isso, contudo, est o pressuposto de que os homens so os produtores primrios, precisando por isso de mais oportunidades de acesso a rendimentos. Essa percepo tem por sua vez razes na diviso tradicional do trabalho, que coloca um nfase central no trabalho reprodutivo das mulheres e no seu papel de produtoras de subsistncia. As Direces Provinciais de Trabalho reportam que a luta contra a discriminao no trabalho no prioridade nem realizada.47 Alm disso, estas direces tm poucas ligaes com os sindicatos dos trabalhadores e pouco controlo sobre a aplicao da lei nas companhias privadas. Tal como os sindicatos, os tribunais de trabalho prestam pouca ateno a prticas discriminatrias com base no sexo, despedimentos sem justa causa tais como gravidez, e assdio sexual.48 O Governo introduziu algumas medidas importantes para promover o investimento tais como a reduo da burocracia, nova legislao fiscal e reviso do Cdigo Comercial. Mesmo assim o desenvolvimento do sector privado mantm-se limitado. Apesar de haver alguns casos de empresrias de sucesso, muitas mulheres lutam para estabelecer e operar os seus prprios negcios e estas barreiras de gnero no so suficientemente destacadas e abordadas.49 De um modo geral, o empresariado feminino de Moambique est predominantemente concentrado nas micro-empresas maximizando as oportunidades no sector informal, caracterizado por baixos nveis de capitalizao, auto-emprego, dependncia dos recursos e das matrias-primas locais, transaces informais e entrada fcil no sector.50 A falta de facilidades de crdito nas zonas rurais significa que os negcios das mulheres so principalmente baseados nas urbes. Contudo, mesmo nas pequenas e grandes cidades as mulheres enfrentam constrangimentos especficos tais como dificuldades no acesso a emprstimos e crditos devido a condies impostas pelas instituies de crdito e necessidade de obter autorizao do marido. Outras dificuldades so os altos nveis de analfabetismo e escolarizao limitada, que afectam negativamente o acesso das mulheres a novas tecnologias; falta de competncia na rea dos negcios, informaes do mercado sobre as preferncias dos consumidores e desenvolvimento de produtos (toda a gente
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Artur, M:J: et al. Inequality Politics: Rudiments for an Evaluation of Government and NGO gender policies and programs Post-Beijing, 1995-1999 (Frum Mulher, Maputo 2000), pg. 36. Artur, M:J: et al. Inequality Politics: Rudiments for an Evaluation of Government and NGO gender policies and programs Post-Beijing, 1995-1999 (Frum Mulher, Maputo 2000), pg. 36. Por exemplo nas conferncias anuais do sector privado, confere-se muito pouca ou quase nenhuma visibilidade ao empresariado feminino e aos constrangimentos especficos que as mulheres enfrentam. OECD Gender Tipsheets: Micro-Credit and Micro-Entreprise Development, disponvel no stio www.oecd.org.
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vende a mesma coisa). O novo Cdigo Comercial que entrou em vigor em 2006 simplifica os procedimentos legais e administrativos para aquisio de activos produtivos e registo de um negcio em nome de uma mulher, mas poucas mulheres esto cientes das oportunidades que a nova lei oferece.51 Outros factores que encorajam o desenvolvimento econmico incluem a reabilitao e modernizao das infra-estruturas de transportes bem como a proviso de insumos produtivos tais como energia e desenvolvimento de instituies financeiras. Algumas instituies financeiras, tais como o Novo Banco, j comearam a responder s necessidades especficas de capital por parte das mulheres e a constrangimentos ao mercado de capitais local, estimulando desse modo as empresas de mulheres tanto no sector formal como no informal com bons resultados. Um desafio especfico assegurar que o capital esteja disponvel ao abrigo dos termos e condies apropriados para as mulheres rurais. Na Provncia de Gaza, por exemplo, uma OSC encontrou fortes indcios de que as mulheres esto a abandonar cada vez mais os esquemas de microcrdito na cidade de Xai-Xai (Sul de Moambique) porque receiam no ser capazes de cumprir os requisitos de reembolso dos fundos quando contraem doenas relacionadas com o SIDA ou tm de despender menos tempo em actividades produtivas, quando esto a tomar conta dos membros de famlia doentes.52 Estradas e desenvolvimento das infra-estruturas de transporte As infra-estruturas de transportes esto ainda pouco desenvolvidas. Nas reas rurais, 34.5% dos agregados familiares tm de percorrer uma ou mais horas a p para chegar ao mercado mais prximo e cerca de 40% tm de percorrer uma hora ou mais para chegar ao ponto mais prximo de transportes pblicos. Os mtodos com base na mo-de-obra para a construo e reabilitao de estradas tm sido implementados em Moambique desde 1981 com apoio de vrios doadores bilaterais. Entre 1992 e 2002 mais de 7900 km de estradas secundrias foram abertos, contribuindo para o reassentamento das pessoas que tinham sido deslocadas pela guerra, a recuperao de grandes reas de terras previamente abandonadas e a melhoria de oportunidades de emprego de curto prazo para as comunidades locais. Mais de 40.000 pessoas das zonas rurais foram empregadas no Programa de Estradas Secundrias (FRP) atravs de mecanismos tais como comida pelo trabalho e a participao das mulheres no FRP tem aumentado de forma constante ao longo dos anos. Enquanto em 1992 apenas 2% dos trabalhos foram para mulheres, at 2002 a participao das mulheres foi de 19%.53 Em 1996 uma Unidade de Gnero foi estabelecida dentro do FRP. Em 1999 foi estabelecida a Administrao Nacional das Estradas (ANE)54; em 2000 uma Unidade de Assuntos Sociais (incorporando a Unidade de Gnero) foi estabelecida na ANE com vista a ajudar a aumentar o nmero de mulheres empregadas nas obras de estradas. Embora a participao das mulheres seja um aspecto importante nos
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3.4.
Com base no trabalho de campo realizado na Cidade de Inhambane para GTZ Moambique no contexto do projecto do GTZ de apoio ao desenvolvimento do sector privado, Van den Bergh Collier, E. Gender Analysis, Maputo 2000 e My Very Own: Training Manual for Micro-Enterprise Development and Gender disponvel junto da FAO/OAA, Roma.
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Para mais informaes consulte Save the Children US (Salvem as Crianas) atravs do seu mecanismo de microcrditos em Xai-Xai e Matola. Os doadores fizeram lobby para a adopo do objectivo nacional de 25% em 1999, mas este foi depois reduzido porque no foi considerado realista. ANE: Administrao Nacional das Estradas.
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padres laborais promovidos pelo FRP, recrutar um grande nmero de mulheres e mant-las no emprego revelou-se muito difcil. O recrutamento de mulheres est muito dependente do nvel de conscincia dos contratadores individuais, dos costumes prevalecentes nos distritos e da influncia dos lderes locais na disseminao de informaes s mulheres e para assegurar que estas sejam recrutadas. Outros factores relacionamse com as condies de vida inadequadas nos campos, as responsabilidades das mulheres pela produo alimentar e os atrasos no pagamento dos salrios.55 A manuteno de estradas constitui uma fonte importante de rendimentos e emprego para as mulheres, mas tal como na construo de estradas, so necessrias medidas especficas para trazer as mulheres aos trabalhos de manuteno de estradas, enquanto se melhoram as condies de trabalho. O Programa de Estradas e Navegao Costeira (ROCS) foi largamente financiado pelo Banco Mundial. O ROCS I e o ROCS II so precursores do actual Programa de Sistema Integrado de Estradas (PRISE) que dever ter incio em 2007 e terminar em 2011 com um custo estimado em 200 milhes de USD.56 Embora o programa ROCS no tenha enfatizado a igualdade de gnero tanto como o FRP, h um verdadeiro interesse na integrao da igualdade gnero em futuras iniciativas tais como a PRISE. Contudo, a igualdade de gnero em programas de infra-estruturas no dever ser limitada participao das mulheres nas oportunidades de emprego criadas pelas obras nas estradas; outro aspecto importante at que ponto os homens e as mulheres so capazes de usufruir eles prprios das infra-estruturas e transportes. Isto particularmente relevante considerando o aumento dos custos dos transportes semi-colectivos, que foram muitas mulheres a ir a p para os seus postos de trabalho, mercados ou escolas. Evidncia anedtica sugere que algumas raparigas tm deixado de frequentar o ensino secundrio devido ao aumento dos custos dos transportes pblicos que reduz os rendimentos disponveis no agregado familiar.57 Um importante desafio reside na avaliao das necessidades e dos constrangimentos de deslocao das mulheres urbanas e rurais, na avaliao dos impactos que o ambiente das polticas legais, reguladas e de transporte tem nas preferncias das mulheres e dos homens por meios de transporte, e na reviso do potencial para expanso dos servios e promoo do uso de tais servios pelas mulheres. O mais recente Inqurito Anual aos Agregados Familiares constatou que os agregados chefiados por homens gastam mais que duas vezes mais em transportes do que os agregados chefiados por mulheres.58 Este aumento nas despesas devese subida dos preos dos transportes, mas tambm mostra que os agregados chefiados por mulheres so em grande medida incapazes de satisfazer todas as suas necessidades de transporte. tambm necessrio analisar o impacto social de grandes projectos de infra-estruturas, tais como a construo de pontes, nas comunidades locais. Embora a presena de um grande nmero de homens sem as suas esposas e com dinheiro para gastar possa injectar dinheiro na economia
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Mulheres solteiras chefes de agregados familiares so definidas como grupo-alvo prioritrio para recrutamento e as mulheres no casadas mostraram grande interesse no trabalho das estradas. Contudo, muitas retiraram-se do emprego devido aos atrasos nos pagamentos: estes agregados familiares so pobres em recursos e portanto incapazes de enfrentar situaes como o atraso no pagamento dos salrios. ANE, Relatrio Final do Estudo do Impacto Social ANE/DFID Projecto de Estradas Secundrias na Provncia da Zambzia (Scott Wilson, 2001), pgs. 17-22.
56 57 58
PRISE: Programa Integrado do Sistema de Estradas. Conversa com trabalhador da SC em Quelimane, Agosto de 2006. INE, IAF 2002/3, pg. 35.
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local e estimular o desenvolvimento econmico, tambm pode surtir efeitos negativos, especialmente para as mulheres e crianas. Os potenciais riscos incluem o facto de as crianas desistirem da escola para procurarem emprego nos locais ou volta dos locais onde h projectos de construo, o potencial perigo de explorao de crianas atravs do trabalho infantil ou da prostituio, o aumento das doenas de transmisso sexual, etc.59 3.5. Desenvolvimento das infra-estruturas energticas A populao moambicana experimenta uma pobreza significativa de energia, i.e. a falta de escolha suficiente no acesso a servios de energia adequados, acessveis, fiveis, de alta qualidade, seguros e benignos do ponto de vista do ambiente para apoiar o desenvolvimento econmico e humano. Atravs da sua Poltica e Estratgia de Energia, Moambique colocou nfase na electrificao rural e na melhoria das escolhas para reduzir a dependncia dos combustveis de biomassa.60 Tm-se empreendido vrios estudos diagnsticos que mostram que as mulheres so particularmente afectadas pela pobreza de energia e que estes dois aspectos tm dimenses de gnero importantes.61 As mulheres tm pouco acesso a energia moderna tal como electricidade, uma vez que esta uma forma de energia relativamente cara e o sistema de pagamento mensal no apropriado para o fluxo financeiro de muitas mulheres.62 As mulheres recorrem sobretudo aos combustveis de biomassa tais como lenha e carvo para cozinhar e tomar banho e devido ao esgotamento gradual destes combustveis em todo o pas, as mulheres so obrigadas a percorrer distncias cada vez mais longas para obter estes combustveis ou pagar preos mais altos. excepo da Cidade de Maputo, a fonte de energia mais frequentemente usada para iluminao so os candeeiros a petrleo, tanto nas reas urbanas como nas rurais.63 Mesmo nas cidades, cozinha-se com lenha ou carvo. As mulheres sofrem efeitos adversos na sade causados pelos combustveis tradicionais de biomassa para uso domstico, tais como desordens respiratrias causadas pela exposio ao fumo quando cozinham em fogareiros a carvo ou foges a lenha construdos com trs pedras em forma de tringulo. As tecnologias alternativas esto frequentemente fora do alcance das mulheres devido a custos de investimento, a uma manuteno que requer um certo grau de conhecimentos tecnolgicos, falta de peas sobressalentes e falta de disseminao de informaes, bem como de apoio tcnico suficiente. O acesso limitado a energia por parte das mulheres no s aumenta a sua carga de trabalho por terem que ir buscar lenha como tambm na medida em que as mulheres continuam a contar com a sua prpria fora de trabalho para pilar cereais, etc. Nas reas rurais h uma grande procura de moinhos e isso muitas vezes um dos principais objectivos das associaes locais. Alm do mais, a falta de acesso a energia por parte das mulheres reduz o seu potencial de gerao de rendimentos, uma vez que no esto em condies de expandir os seus negcios.
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Save the Children UK, A Bridge over the Zambezi: what needs to be done for children? (Maputo, 2006). A Poltica de Energia e a Estratgia de Energia foram aprovadas em 1998 e 2000 respectivamente. KPMG, Sofala Energy Survey (Maputo, 2003) ver captulo sobre gnero. Ver tambm Abreu, A. Relatrio do Diagnstico e Anlise Situacional de Gnero no Sector da Energia preparado para o Projecto Mulher e Energia (104 MOZ 802). O projecto foi implementado pelo FUNAE/MIREME com apoio da Danida durante 2001-2003.
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excepo de Maputo Provncia e Maputo Cidade, menos de 10% dos agregados familiares usam electricidade. Em Maputo Provncia 18.1% das famlias usam electricidade comparado com 45.9% na Cidade de Maputo. INE, IAF 2002/3, pg. 61.
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Para responder s implicaes de gnero no sector da energia, o sector identificou trs aspectos fundamentais:64 - como proporcionar s mulheres, particularmente s mulheres pobres, mais opes e melhores escolhas de energia para uso dos agregados familiares e gerao de rendimentos - como aumentar a conscincia dos profissionais no sector da energia apara os benefcios da igualdade de gnero para que esta se torne parte integrante das decises sobre planificao e aprovao de projectos - como aumentar a participao das mulheres e melhorar o seu estatuto relativo aos homens no sector da energia a todos os nveis, e em particular apoiar e encorajar o desenvolvimento profissional das mulheres nesta rea. Para este efeito, foram nomeados Pontos Focais de Gnero e uma Unidade de Gnero foi criada no MIREME em 2004.65 A Unidade de Gnero est presentemente a elaborar a Poltica de Gnero e o Plano Estratgico de Gnero. 3.6. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas
Desde o m da guerra civil em 1992, Moambique tem experimentado um crescimento e uma estabilidade econmicos signicativos. O quadro poltico prioriza a reduo da pobreza e gnero cada vez mais reconhecido como um aspecto fundamental do desenvolvimento humano e da estratgia para a reduo equitativa da pobreza. O PARPA II, o PES e a Reviso Conjunta integram o gnero como assunto transversal e um dos Objectivos de Desenvolvimento de Milnio focaliza de forma explcita a promoo da igualdade de gnero e o empoderamento das mulheres. Embora as estratgias para a reduo da pobreza tenham reduzido a percentagem da populao vivendo na pobreza absoluta de 70% em 1997 para 54% em 2003, o ndice de Desenvolvimento Ajustado aos Sexos mostra que os homens e as mulheres no beneciaram de forma igual. Uma rea prioritria deve ser a denio de indicadores apropriados que possam ajudar a medir os progressos para o cumprimento dos objectivos da igualdade de gnero denidos no PARPA II. Relacionada com isso est a necessidade de denir classicadores funcionais que permitam vericar at que ponto as despesas pblicas beneciam os homens e as mulheres, i.e. se as iniciativas correntes do oramento sensvel ao gnero devem ser fortalecidas e apoiadas atravs de advocacia e integrao estratgica nos processos polticos em curso tais como a Reviso Conjunta, a Reviso Anual Aps Meio Percurso, o ciclo oramental e o lanamento do SISTAFE, etc. A iniciativa dos ODMs pode ser criticada pelo facto de a sua viso da igualdade de gnero e do empoderamento das mulheres focalizar apenas nas taxas de educao, nas taxas de alfabetizao de adultos, nos nmeros de mulheres em empregos pagos no-agrcolas, e na percentagem de assentos ocupados pelas mulheres no Parlamento. Em todo o caso, o Governo reconhece que no provvel que se cumpra o objectivo, visto que caracteriza o ambiente de apoio como fraco mas registando melhorias.66 Um desao especco e prioridade a capacidade nacional para monitorar e analisar os progressos no sentido do cumprimento deste ODM.
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Ver Projecto Mulher e Energia (104 MOZ 802). Em 2005 o Ministrio da Energia e Recursos Minerais (MIREME) foi extinto e substitudo pelo Ministrio da Energia e pelo Ministrio dos Recursos Minerais. As Unidades de Gnero funcionam em cada ministrio ao nvel central, mas os pontos focais de gnero formados foram herdados do Ministrio dos Recursos Minerais, pelo que ao nvel provincial as duas instituies partilham estes quadros.
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Repblica de Moambique, Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 21.
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Apesar do bom desempenho macroeconmico continua a haver desaos importantes, tais como o facto de o crescimento se dever em parte a grandes projectos de investimento estrangeiro e de capital intensivo, a economia permanece vulnervel aos choques externos (aumento dos preos de petrleo) e calamidades naturais (cheias e secas) e a existncia de uma base industrial muito limitada que resulta numa dependncia excessiva dos recursos naturais (por exemplo, camaro, peixe, produtos orestais, madeira, etc.). Uma prioridade emergente uma melhor anlise do impacto da globalizao nas mulheres em Moambique, uma vez que elas so frequentemente as primeiras a ser afectadas quando os sistemas de produo mudam (deslocalizao) ou so racionalizados (despedimentos). Apesar das iniciativas para promover o crescimento econmico atravs do sector privado, o sector privado continua a ser prejudicado pela falta de crdito e capital, assuntos laborais e infra-estruturas limitadas. reas especcas de interesse e potenciais reas de interveno incluem a disseminao do novo Cdigo Comercial de modo que as mulheres quem plenamente conscientes das oportunidades que a nova legislao lhes proporciona para estabelecerem e registarem os seus negcios. Contudo, o impacto do Cdigo Comercial como uma contribuio para o empoderamento econmico das mulheres ser severamente limitado se no for combinado com a proviso de crdito e acesso ao capital, uma vez que este o principal constrangimento aos negcios em Moambique. Outra rea que merece apoio o esforo da sociedade civil para incluir as consideraes de gnero na nova Lei do Trabalho proposta. Esta deve focalizar na advocacia procurando a proteco dos interesses das mulheres como mes (direitos de maternidade) e trabalhadoras (proteco contra assdio sexual, despedimentos injustos e proibio de pagamento de salrios diferentes com base no sexo).
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Censo da Populao, 1997. Cardoso T. Muendane Sustentabilidade da Agricultura em Moambique no Contexto da Regionalizao caso dos cereais typescript/power point apresentado na 7 Reunio Anual do Sector Privado (Maputo 2003). IAF 2004. Danida, In-Depth Assessment of ADIPSA (Maputo, 2004). No entanto, relatrios de imprensa recentes questionam o sucesso da agricultura comercial como o artigo O Fim do Milagre de Manica devido a condies de emprstimo rigorosas, dificuldades de gesto e falta de apoio tcnico adequado (reportagens e recortes de jornais nmeros 96, 97, 98 Joseph Hanlon, Junho de 2006). Para informaes mais pormenorizadas ver: www.open.ac.uk/technology/ mozambique.
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mercializao (marketing) e (2) criao de economias de escala atravs do agrupamento de mulheres volta da venda de culturas sob o seu controlo. As mulheres das reas rurais cultivam tipicamente produtos que so altamente perecveis e o volume de excedentes comerciveis tambm tipicamente pequeno. Elas vendem num raio bastante limitado e no alcanam mercados maiores e mais lucrativos. Alm do mais, dado o baixo volume dos seus excedentes, a disperso das suas terras e os altos custos de transporte, necessrio ligar as mulheres aos principais canais de comercializao e conter os custos de armazenagem e transporte atravs de associaes de mulheres que sirvam de intermedirias ou atravs de comerciantes privados locais. Organizaes tais como a Unio Nacional dos Camponeses (UNAC) ajudam grupos locais de camponeses a formar associaes e adquirir conhecimentos de comercializao, permitindo aos camponeses oferecer os seus produtos em volumes e quantidades requerido pelos compradores. As mulheres ainda esto sub-representadas nestas associaes.71 A maior parte das reas so irrigadas pela chuva e dependem das fontes de gua das montanhas. Isso implica um risco de, medida que a agricultura comercial crescer, a agricultura de subsistncia das mulheres poder ser gradualmente afastada das melhores reas prximas da gua e deslocalizada para reas com solos frgeis ou degradados. Os bancos comerciais operam quase unicamente nos centros urbanos. H uma falta severa de crdito agrcola em Moambique, porque as instituies financeiras consideram que a baixa produtividade e a vulnerabilidade a secas e outras calamidades, juntamente com problemas para comercializar os produtos tornam este negcio demasiado arriscado. Por essa razo, o crdito agrcola s realmente disponvel atravs de empresas agrcolas tais como a DIMON na Provncia de Manica que concede emprstimos para a compra de alfaias.72 A nica outra fonte de crdito agrcola so as OSCs. O BAD constatou numa visita recente a Moambique que muitas instituies financeiras tais como o Mecanismo de MicroFinanciamento enfrentam mais problemas ao tentarem chegar s suas clientes. Estes problemas incluem nveis muito baixos de alfabetizao feminina em reas rurais, falta de acesso a activos independentes que possam servir de garantia, falta de tempo devido aos papis mltiplos das mulheres e falta de acesso a informao e experincia de negcios. Tudo isto torna o crdito ainda mais escasso para as mulheres e muitas vezes as mulheres carecem de informaes sobre os produtos financeiros disponveis (seja a nvel comercial seja atravs de OSCs), assim como de conhecimentos sobre os seus direitos a propriedade, o que lhes poderia permi71
Embora as mulheres no sejam oficialmente impedidas de serem membros ou terem representao no Conselho Directivo das Associaes, h vrias razes que justificam a pouca participao delas nas associaes. Primeiro, os homens como chefes de agregados familiares no controlam apenas o tipo de culturas que sero produzidas pelo agregado, mas tambm tomam decises fora do agregado familiar. Deste modo, so eles que negoceiam esquemas de cultivo com os compradores e representam a famlia nas reunies das associaes. Em muitos casos, isso tambm assegura que o trabalho de extenso rural e as novas tecnologias agrcolas cheguem aos homens e no s mulheres. Contudo, quando o acesso das mulheres situao de membros de associaes e a postos de liderana restrito nessas organizaes, o seu acesso aos recursos e a sua capacidade para tornarem as suas opinies conhecidas junto dos decisores/executores das polticas e planificadores tambm so restritos. O resultado bvio a incapacidade das mulheres farmeiras de cumprirem os seus papis no mbito da agricultura e segurana alimentar conforme o seu potencial mximo.
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Segundo relatrios de imprensa recentes, a DIMON poder sair de Moambique devido a um litgio relacionado com uma concesso de tabaco na provncia de Tete, dando origem a um debate sobre a poltica de desenvolvimento agrcola (novos relatrios e recortes nos 96, 97, 98 Joseph Hanlon, Junho de 2006). Ver tambm: www.open.ac.uk/ technology/mozambique
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tir apresentar uma garantia e desse modo aumentar as suas oportunidades para se qualificarem para emprstimos.73 Apenas cerca de um quarto dos extensionistas rurais so mulheres. consenso que h necessidade de recrutar e formar mais extensionistas rurais do sexo feminino, uma vez que os estudos indicam que o sexo do extensionista rural um factor importante para chegar s mulheres.74 Os extensionistas rurais tm sido formados, mas precisam de cursos de reciclagem e materiais para introduzirem uma abordagem de gnero nas suas actividades, particularmente quando intervm directamente ao nvel comunitrio. O papel dos extensionistas rurais na promoo de tcnicas de produo agrcola intensiva ou mais produtiva est-se tornando cada vez mais importante ainda com o alastramento rpido do HIV/ SIDA. A pandemia deixa as famlias numa espiral descendente de rcios crescentes de dependncia, pobreza de nutrio e sade, aumento das gastos dos recursos (tempo e dinheiro) com problemas de sade, maior escassez de alimentos, diminuio da viabilidade dos agregados familiares, e maior dependncia do apoio das famlias alargadas e da comunidade. Os mecanismos tradicionais para fazer face a situaes de dificuldade esto sendo pressionados com o fardo dos cuidados domicilirios a cair de forma desproporcional sobre as mulheres e as raparigas, tornando-se assim importante ensinar s mulheres tcnicas agrcolas menos intensivas de trabalho.75 Polticas e mecanismos institucionais para a igualdade de gnero na agricultura A Poltica Agrria e Estratgia de Implementao (PAEI) reconhece o princpio da equidade social e na ltima dcada o Ministrio da Agricultura operou progressos muito significativos na integrao do gnero. A capacidade para realizar pesquisas sensveis ao gnero, anlise e planificao est a aumentar gradualmente, graas a vrias formaes e iniciativas da Unidade de Gnero, na Direco de Economia.76 Em 2001 a Unidade de Gnero descreveu o seu mandato da seguinte forma: aumentar a conscincia e facilitar a aquisio de conhecimentos e competncia de gnero de modo a que todas as direces e instituies do MADER77 possam considerar e incorporar as questes de gnero nas suas aces e actividades. Para isso, as suas principais funes so ministrar formao em gnero, produzir informaes sobre questes de gnero bem como sistemas de monitoria e avaliao sensveis ao gnero. Com o apoio dos doadores, a Unidade de Gnero reviu o rascunho do programa para a agricultura, PROAGRI II, que foi aprovado em 2004. Em 2002 foi realizado um estudo diagnstico abrangente para identificar aspectos crticos de gnero relacionados com a agricultura e o desenvolvimento rural; este documento serviu de base para a elaborao
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4.2.
Banco Africano de Desenvolvimento, Multi-Sector Country Gender Profile (May 2004), pgs. 10-11. Uma reunio convocada por um extensionista rural conta com uma maior participao dos homens; pelo contrrio, uma reunio convocada por uma extensionista rural atrair frequentemente mais mulheres que homens. As reunies so frequentemente realizadas em horrios e locais no apropriados para as mulheres; os contedos das reunies tendem a focalizar mtodos e tcnicas de produo de culturas de rendimento em detrimento das culturas de subsistncia que as mulheres praticam.
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Em 2002, CNCS lanou o programa conhecido por Vida Positiva, que integra tcnicas de cultivo concebidas para melhorar o estatuto nutricional dos agregados afectados por HIV/SIDA usando culturas mais diversas (por exemplo, alho, cenouras, couves) que requerem menos gua e esforo. As tcnicas esto a ser propagadas pela Cruz Vermelha de Moambique em vrios distritos piloto.
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A Unidade de Gnero foi criada em 1998 dentro do Ministrio da Agricultura e Pescas. A Unidade de Gnero continuou a funcionar no Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento Rural e continua as suas funes no actual Ministrio da Agricultura.
77
MADER Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento Rural recentemente transformado no Ministrio da Agricultura (MINAG) e no Ministrio da Planificao que inclui agora a Extenso Rural.
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da Estratgia de Gnero na Agricultura que foi realizada pela Unidade de Gnero em 2005. A referida Estratgia de Gnero constitui por sua vez a base para o Plano de Aco de Gnero no Sector Agrcola que foi desenvolvido em 2005. O objectivo da estratgia de gnero assegurar que a equidade de gnero seja sistematicamente considerada em todos os aspectos do MINAG/PROAGRI II. Um dos objectivos especficos da Estratgia de Gnero estabelecer e fortalecer as ligaes entre o MINAG, o sector familiar, as associaes de agricultores/farmeiros, a sociedade civil e o sector privado nas parcerias para a promoo da igualdade de gnero. Outras intervenes estratgicas previstas incluem: Fornecer micro-crdito aos agricultores/farmeiros para que possam comprar alfaias. Disseminar tecnologias que melhorem a qualidade do solo, promovam a agricultura intensiva e reduzam a degradao ambiental dos solos. Desenvolver e disseminar tcnicas para produo, uso sustentvel, diversificao de culturas e armazenagem, etc. para aumentar a segurana alimentar. Conduzir demonstraes tecnolgicas dirigidas a mulheres rurais para promover mtodos que poupem a fora de trabalho e encorajar a participao das mulheres em programas de pecuria. Desenvolver tecnologias apropriadas para as mulheres em pacotes de uso fcil, harmonizando as tecnologias tradicionais com as modernas. Disseminar a Lei de Terras e os direitos das mulheres ao acesso e controlo da terra, reduzindo gradualmente os efeitos discriminatrios das normas costumeiras. 4.3. A Lei de Terras e os direitos das mulheres de propriedade de terra Moambique frequentemente referido como tendo uma das leis de terras mais progressivas e sensveis ao gnero da frica Austral. Na verdade, a Lei de Terras de 1997 procura proteger os direitos de uso de terra dos farmeiros de pequena escala, que representam talvez 90% de todos os farmeiros e que so a base da economia. Embora a terra continue a pertencer ao Estado, a Lei de Terras de 1997 e os seus regulamentos (1998) introduziram medidas legais para ajudar as comunidades e todos os indivduos homens e mulheres a ganhar o direito legal de propriedade de terra sem ser necessria prova escrita do seu uso de facto.78 A lei confere assim s mulheres como cidads com plenos direitos de posse algum controlo da terra como um recurso. Na realidade, contudo, a maioria da populao rural ainda no beneficia desta vantagem comparativa, por um lado devido falta de informao e conhecimentos sobre os seus direitos (particularmente para
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Antes da Lei de Terras de 1997, eram necessrias provas escritas que documentassem o direito de uso de terras em caso de litgios de terra. A maior parte dos camponeses e particularmente as mulheres camponesas no tinham contractos escritos e no eram capazes de proteger os seus direitos terra com os instrumentos legais formais. A Lei de Terras de 1997 reconhece a validade legal dos documentos escritos mas reconhece tambm os sistemas e direitos de propriedade costumeiros das pessoas que tenham ocupado a terra pelo menos durante dez anos em boa f. Isso significa que se um indivduo tiver ocupado a terra durante dez anos ou mais, pensando que mais ningum tinha uma reivindicao legtima mesma, pode legalmente cultivar a terra e regist-la em seu nome. Este procedimento permite que as comunidades e os indivduos assegurem terra para uso prprio e se protejam contra reivindicaes de pessoas alheias (tipicamente pessoas que solicitam concesses ou licenas anuais que lhes permitam explorar a terra e seus recursos naturais).
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as mulheres), e por outro porque as prticas administrativas e judiciais ainda esto longe de incorporar as normas e a dinmica que a Lei de Terras procura encorajar. Ao fornecer procedimentos formais para obter o ttulo de terras bem como reforar os mecanismos informais tradicionais de distribuio de terra, a legislao cria uma tenso que pode afectar as mulheres e as relaes de gnero. Por outras palavras, a nova legislao reconhece s mulheres a igualdade dos direitos de propriedade de terra dos homens e nesta medida assenta no pressuposto da igualdade de gnero. Contudo, tambm reconhece formalmente o que so sistemas patriarcais costumeiros de propriedade de terra, em que os direitos e deveres so distribudos de forma diferente, de acordo com o gnero e portanto com base na diferena de gnero. Esta tenso cria incertezas quanto interpretao e aplicao correctas da lei formal, que por sua vez poder resultar na insegurana de posse pela mulher. Pesquisas realizadas em Marracuene (Provncia de Maputo) demonstraram que esta tenso pode resultar numa das seguintes formas: pode-se argumentar que as normas costumeiras esto a ser usadas para despojar as mulheres das suas terras, mas tambm h casos documentados em que as mulheres e os homens recorreram aos direitos costumeiros para defender reivindicaes das mulheres terra.79 Esta capacidade para utilizar estrategicamente qualquer um dos sistemas depende muito do estatuto do indivduo na comunidade e da sua capacidade para articular os seus pontos de vista. Tambm parece variar de acordo com os valores sociais prevalecentes, e posio social e/ou estado civil. A pesquisa conclui que, embora o sistema formal de justia se mantenha inacessvel maior parte das mulheres moambicanas, ambos os efeitos (negativos e positivos) dos sistemas costumeiros de posse de terra devem ser considerados. provvel que essa situao se aplique a todo o Moambique. Da perspectiva da igualdade de gnero, portanto provavelmente certo dizer que a lei um passo significativo em direco salvaguarda dos direitos das mulheres, mas paradoxalmente encerra um risco significante dependendo das circunstancias individuais que pode colocar os direitos das mulheres terra numa posio subordinada aos direitos dos homens terra, perpetuando assim a falta de segurana em relao terra para muitas mulheres rurais. Quando a Campanha Terra terminou no fi m de 1999, as OSCs de que era composta decidiram continuar o trabalho de educao cvica e advocacia. 80 Foi criado um frum de OSCs chamado Frum Terra para lidar com problemas de terra e desenvolvimento rural em Moambique. O Frum Terra defi niu o direito das mulheres terra como uma rea de interesse e produziu alguns materiais para promover um melhor conhecimento dos direitos terra entre as mulheres rurais (por exemplo, vdeos sobre gnero e direitos terra e uma brochura sobre a consciencializao de gnero no exerccio da educao cvica). Contudo, alguns membros do Frum Terra tais como ORAM sentem que h necessidade de aumentar a capacidade institucional dos seus
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Waterhouse, R. Gender Difference in the Resolution of Conflicts over, or involving, Land: A case study from Marijuana District, Southern Mozambique working paper for Action Aid/Campanha Terra (Maputo, 1999). A Campanha Terra foi uma coligao ampla a nvel nacional da sociedade civil (OSCs, OBCs, grupos religiosos, acadmicos e indivduos) estabelecida em 1996 para defender uma srie de aspectos chave que foram posteriormente includos na Lei de Terras. No incio a Campanha concentrou-se na apresentao de insumos para a proposta de lei e depois que a Lei foi aprovada, lanou uma campanha escala nacional para disseminao do teor da lei. A Campanha traduziu a Lei para as lnguas locais, tornando as suas clusulas acessveis a todos os grupos sociais no pas.
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activistas de gnero e material prtico a usar no campo.81 Para alm dos materiais de formao e didcticos, h tambm necessidade de pesquisas que possam servir de base a aces de advocacia sobre a igualdade de gnero em relao s questes de terra. O Frum Terra tambm est envolvido num programa regional de pesquisa dirigido pela Coligao Internacional de Terra e a Plataforma dos Direitos a Terra e gua das Mulheres na frica Austral. Est sendo realizada pesquisa em quatro pases piloto, nomeadamente Lesoto, Zmbia, Zimbabu e Moambique sobre a situao actual dos direitos das mulheres a terra e gua. A pesquisa ir aumentar a conscincia e melhorar a capacidade institucional dos decisores para responderem s ligaes entre a igualdade de gnero, os direitos a terra e gua, a segurana alimentar e a reduo da pobreza. A DINAGECA (MINAG) est presentemente a pilotar a digitalizao dos sistemas de cadastro. O estabelecimento e a manuteno de um sistema de cadastro incluem funes que parecem bastante tcnicas e administrativas (por exemplo, inquritos para descrever as fronteiras terrestres, preparao de ttulos de terra ou registo de documentos, e o desenho de um sistema de informao que contm dados relevantes e permite a actualizao da mudana de propriedade de terras). Podem-se tomar decises sobre a posse neste processo, podendo vrios factores influenciar a probabilidade de as decises serem equitativas para homens e mulheres. Estes factores incluem (1) o estatuto e a autoridade das mulheres e (2) a falta de conhecimento da lei que confere s mulheres o direito propriedade do marido e preconceitos em relao posse por parte dos homens. Ambos os factores so relevantes para Moambique, uma vez que se confere de um modo geral s mulheres um baixo estatuto socioeconmico e que poucas mulheres rurais so nomeadas na certido/no ttulo de terras. As organizaes que se especializam na assistncia legal s mulheres reportam que embora essas mulheres possam ter direitos, podero ser necessrios muitos esforos e muitas despesas para proteger este direito em caso de divrcio, separao ou morte do esposo ou uso unilateral por um dos cnjuges. 4.4. Reassentamento O desenvolvimento do sector do turismo uma prioridade para Moambique. Neste contexto, grandes parcelas de terra esto sendo alocadas para fauna bravia, reservas ou parques nacionais tais como o Parque Transfronteirio do Grande Limpopo (PTGL) na Provncia de Gaza. Isso implica que comunidades relativamente grandes devem ser reassentadas em reas fora do PTGL. O Governo de Moambique preparou uma Estrutura Poltica de Reassentamento em 2003.82 Embora esta Estrutura Poltica de Reassentamento no mencione explicitamente questes sobre os direitos de terra das mulheres, prope que se criem Grupos de Trabalho de Reassentamento, o que garantiria a realizao de uma consulta e de negociaes genunas sobre direitos de reassentamento (alocao de novas terras, compensao fi nanceira, DUAT dentro do PTGL etc.). A participao das mulheres nos Grupos de Trabalho de Reassentamento critica para
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A Organizao Rural de Ajuda Mtua (ORAM) uma OSC moambicana especializada na disseminao dos direitos de terra, que atravs de uma rede de activistas comunitrios ajuda as comunidades a registar terras comunais. Tambm promove a gesto comunitria dos recursos naturais com base na Lei de Florestas e Fauna Bravia.
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Limpopo National Park Resettlement Policy Framework, elaborado por Huggins, Barendse & Fischer (Junho de 2003), disponvel no Ministrio do Turismo.
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assegurar que os assuntos de terras das mulheres sejam adequadamente articulados e abordados nas negociaes. 4.5. Segurana alimentar Grandes extenses de Moambique no tm segurana alimentar devido a calamidades naturais e/ou subcapitalizao das machambas dos agregados familiares. A desnutrio crnica generalizada, especialmente nas reas rurais e em Cabo Delgado, Niassa, Zambzia e Tete.83 A desnutrio das crianas ainda elevada e continua a ser uma das causas subjacentes principais da mortalidade infantil no pas.84 No h diferenas de gnero significativas no estatuto nutricional; raparigas e rapazes parecem ser afectados de forma semelhante e no h diferenas significativas de gnero nos indicadores chave tais como peso deficiente nascena, menores de cinco anos sofrendo de desnutrio moderada ou severa. Contudo, existe uma correlao significativa entre o nvel de educao/instruo das mes e o estatuto nutricional das crianas: as crianas cujas mes no tm instruo correm trs vezes mais o risco de nascer com peso deficiente do que as crianas cujas mes frequentaram o ensino secundrio.85 Em 1998 o Governo elaborou a Estratgia Nacional para a Segurana Alimentar e Nutrio e criou o Secretariado Tcnico para a Segurana Alimentar e Nutrio (SETSAN) como o rgo responsvel pela coordenao da implementao da estratgia.86 O SETSAN constitudo por vrios rgos, incluindo o Comit de Avaliao da Vulnerabilidade (CAV) que empreende avaliaes regulares do fornecimento de alimentos nas zonas de insegurana alimentar e faz alertas contra a fome atravs de Sistemas de Alerta Contra a Fome. Embora a erradicao da fome seja um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, no foi suficientemente integrada no PARPA I. Uma avaliao levada a cabo em 2005 sobre a implementao da estratgia para a segurana alimentar e nutrio indica a necessidade de uma resposta multi-sectorial e da afectao de fundos do Oramento do Estado. Mostrou tambm que apesar de a erradicao da fome ser um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, no estava suficientemente integrada no PARPA I. Por esta razo, a segurana alimentar e nutrio foram includas no PARPA II como um assunto transversal. A Reviso Conjunta do desempenho em 2005 constatou que se devia atribuir maior importncia segurana alimentar e nutrio na alocao de recursos humanos e financeiros, particularmente na rea da nutrio. Contudo, a Reviso Conjunta no apresentou recomendaes especficas em relao igualdade de gnero e segurana alimentar e nutrio, tendo meramente recomendado que o QAD inclusse uma srie de indicadores de monitoria da segurana alimentar e nutrio (por exemplo, peso deficiente para a idade, peso deficiente para a altura e peso deficiente nascena). importante que no futuro estes indicadores sejam desagregados por sexo bem como por rea geogrfica e grupos socioeconmicos.
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SETSAN, Food and Nutritional Security (FNS): Progress and Challenges in Mozambique (Maputo, 2005), pg. 9. Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (Maputo, 2005) pg. 15, fn 12. A taxa nacional de mortalidade infantil de menores de cinco, cujas mes no tm educao/instruo de 200 por 1000 (comparado com 87 por 1000 para crianas cujas mes tm o ensino secundrio); a taxa nacional de mortalidade infantil entre crianas, cujas mes no tm educao/instruo, de 142 por 1000 (comparado com 65 por 1000 para crianas cujas mes tm o ensino secundrio). INE, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique: an overview of the situation of children and women based on findings from the 2003 Demographic and Health Survey (Maputo, 2005), pgs. 11-12
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Para alm desta estratgia, o Ministrio da Sade elaborou a Estratgia Nacional de Nutrio em 2003 que implementada pela Unidade de Nutrio no Ministrio da Sade.
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4.6. Ambiente Quer os homens quer as mulheres so consumidores, exploradores e gestores de recursos naturais. Apesar de ainda serem consideradas vastas em Moambique, a degradao das florestas, bacias hidrogrficas, praias e terra agrcola tem um severo impacto nas mulheres, uma vez que elas esto altamente dependentes do ambiente natural, visto que so em grande medida responsveis pela agricultura de subsistncia da famlia, por ir buscar gua, combustvel, etc. Em Moambique a degradao do ambiente est-se a tornar um assunto cada vez mais preocupante. Com vista a monitorar a degradao ambiental com eficcia, bem como o uso eficiente dos recursos naturais, necessrio ter uma informao pormenorizada sobre a situao do ambiente no pas. O sector do ambiente e o Instituto Nacional de Estatstica elaboraram um Compndio de Estatsticas Ambientais cuja publicao estava prevista para 2006 e h planos para criar um Sistema de Informao para a Gesto Ambiental. De momento, poucas estatsticas esto desagregadas por sexo e assim importante que estas fontes de dados incluam dados sobre o uso dos recursos naturais pelas mulheres e documentem como elas so afectadas pela degradao ambiental. O Ministrio da Coordenao Ambiental (MICOA) nomeou Pontos Focais de Gnero aos nveis central e provincial; dados desagregados por sexo devem-lhes ser facultados para anlise. Em 2005, com vista a pr fi m explorao dos recursos naturais preocupante e insustentvel e promover um crescimento econmico sustentvel, o MICOA props integrar a sua agenda ambiental no PARPA II como a Estratgia Ambiental para o Desenvolvimento Sustentvel. A Estratgia Ambiental para o Desenvolvimento Sustentvel ainda tem de ser aprovada. A Poltica e Lei sobre Planificao e Uso da Terra foram aprovadas pelo Conselho de Ministros mas ainda tm de ser aprovadas pela Assembleia da Repblica. O MICOA tambm advoga uma abordagem multi-sectorial, pela qual estratgias de desenvolvimento rural podem ser combinadas com outras iniciativas tais como a promulgao de foges eficientes pelo sector da energia. Foi estabelecido um grupo inter-sectorial envolvendo ministrios (incluindo o MMAS), doadores, o sector privado e as OSCs que trabalham para eliminar prticas prejudiciais. Apesar de se reconhecer a necessidade de envolver tanto os homens como as mulheres neste grupo inter-sectorial, as mulheres continuam bastante ausentes na formulao de polticas e tomada de deciso em programas de gesto, conservao e reabilitao dos recursos naturais e do ambiente. Ao nvel comunitrio, as mulheres so raramente formadas como gestoras mais eficientes dos recursos naturais. A este respeito, interessante notar que os planos do MICOA integram questes ambientais nos processos de planificao distrital atravs de formao dos lderes comunitrios e outra dos decisores ao nvel dos distritos e municpios incluindo representantes femininas da comunidade. 4.7. Preveno de calamidades Moambique um pas assolado por calamidades naturais cclicas, tais como cheias, secas e ciclones. Estas afectam os mais pobres, uma vez que estes tm poucas ou no tm nenhumas reservas para enfrentar choques externos, particularmente os agregados familiares rurais chefiados por mulheres pobres em activos e que dependem quase exclusivamente da agricultura de subsistncia. Com vista a assegurar uma resposta rpida em casos de emergncia, o Governo elaborou um Plano de
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Contingncia, que em 2005 foi orado em 24 milhes de USD. Um aspecto central deste plano so as medidas para assegurar um fornecimento adequado de alimentos e gua limpa s populaes necessitadas. O Governo considera a preveno para lidar com calamidades um assunto transversal que mobiliza vrios sectores do Governo, os parceiros de cooperao e a sociedade civil.87 As Direces Provinciais e Distritais da Mulher e Aco Social participam nestes esforos conjuntos para identificar quantas mulheres e famlias vulnerveis podem ser afectadas e direccionar assim a assistncia necessria para estes grupos. Contudo, a Reviso Conjunta constatou que em muitos casos o grande nmero de instituies e partes interessadas envolvidas resulta num sistema frgil de gesto de informaes que carece de centros de tomada de deciso hierarquicamente definidos. Um desafio especfico assegurar que as questes de gnero sejam claramente articuladas e as estratgias acordadas por todos os actores. Isso por sua vez aponta para o papel crtico que o MMAS pode jogar neste processo atravs da sua Direco Nacional da Mulher (o Departamento da Mulher e Famlia em particular) juntamente com o Ponto Focal de Gnero do INCG. 4.8. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas
Mais de 80% da populao total recorrem explorao da terra e actividade da pesca para sobreviver; 90% de todas as mulheres adultas participam na agricultura e muitos agregados familiares contam com a sua prpria produo para segurana alimentar. Embora a terra seja frtil, Moambique no explora plenamente o seu potencial agrcola devido a vrios constrangimentos tais como a falta de mtodos de produo avanados, falta de alfaias, dependncia das chuvas, vulnerabilidade a calamidades naturais e degradao ambiental bem como a falta de redes comerciais nas reas rurais. Alm disso, a agricultura de pequena escala s vivel porque no remunera a mo-de-obra feminina. Muitos assuntos de gnero urgentes so reconhecidos no PROAGRI II e abordados na estratgia de gnero do sector; as reas prioritrias para interveno incluem o fortalecimento da capacidade do MINAG para supervisionar, implementar e monitorar actividades planeadas ao nvel comunitrio. Outra rea que requer apoio a denio de formas em que se possa introduzir uma tnica maior de gnero nos programas de extenso, tais como o recrutamento e a formao de mais mulheres extensionistas rurais que seriam instrumentais na introduo de mtodos ecientes em termos de custos e mtodos de produo de culturas de rendimento para um maior nmero de mulheres camponesas. Outro desao poder ser a denio de formas em que se possam encorajar as mulheres a participar com eccia em associaes de farmeiros no s como membros mas tambm como decisoras e a proviso do acesso ao crdito rural. Existe muita terra mas o aumento da agricultura comercial, de reas sob proteco como reservas naturais ou parques nacionais e a degradao ambiental, tal como a eroso e o esgotamento dos solos, poder resultar no futuro em presses e conitos sobre a terra em algumas partes do pas. Assim a disseminao da Lei de Terras ao nvel das vilas, dirigida s mulheres permanece um aspecto importante, podendo ser de forma til ligado modernizao planeada dos sistemas de cadastro. Como assunto emergente est a questo do reassentamento volta das reas naturais destinadas ao turismo e um desao especco reside em assegurar que as mulheres possam participar nos Grupos de Trabalho de Reassentamento e assegurar a integrao do gnero na Estrutura Poltica de Reassentamento.
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Por exemplo, durante a recente seca, que afectou grandes partes das regies centro e sul do pas, foram colocadas equipas multi-sectoriais em vrios distritos das provncias de Maputo, Gaza e Inhambane para criar condies elaborao de planos de preveno e mitigao.
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Embora no haja discriminao entre rapazes e raparigas quando as famlias tm alimentao insuciente, h nveis elevados de desnutrio crnica e h necessidade de uma interveno multi-sectorial alargada focalizando na disponibilidade, no acesso e uso de alimentos. O PARPA II reconhece assim a segurana alimentar como um assunto transversal que pode ser mais bem alcanado atravs de parcerias estratgicas, particularmente no nvel descentralizado. Uma rea especca de prioridade a desagregao por idade e sexo dos indicadores principais de vulnerabilidade no PARPA II e no QAD. Tambm se deve dedicar ateno especca a medidas que ligam a informao nutricional educao das mulheres, uma vez que a experincia demonstra que o nvel de educao/instruo da me surte um efeito positivo directo no estado nutricional da criana. A correlao que existe entre o HIV/SIDA e a falta de segurana alimentar faz da segurana alimentar outra prioridade, especialmente focalizando em iniciativas que podem reduzir o tempo que as mulheres precisam despender para continuarem a produo de alimentos.
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5. Capital Humano
5.1. Educao A educao um direito humano bsico, reconhecido pela Constituio, e a ministrao justa de educao s raparigas tanto quanto aos rapazes uma grande responsabilidade poltica que deve ser devidamente integrada no PARPA II. Os benefcios da educao das raparigas e das mulheres so bastante bvios, tais como um maior poder de rendimento para as famlias, aumento do recurso aos servios de planeamento familiar, reduo da desnutrio, reduo da mortalidade infantil e materna e melhoria da sade pblica, o que por sua vez pode mudar as relaes de gnero existentes. Desde a independncia a alfabetizao de adultos tem aumentado quer para os homens quer para as mulheres, mas Moambique ainda possui um dos nveis de alfabetizao de adultos mais baixos da regio da SADC: a taxa de alfabetizao das mulheres de 37.5% comparada com a dos homens de 67%. As taxas de alfabetizao correlacionam-se com residncia (localizao) e riqueza. A alfabetizao entre as mulheres urbanas trs vezes mais alta que entre as mulheres rurais (65% vs 21.6%) embora menos marcantes so tambm significativas as discrepncias entre as taxas de alfabetizao masculina urbana e rural (84% vs 55%).88 A taxa de alfabetizao das mulheres das famlias mais abastadas tende a ser quase oito vezes superior das mulheres das famlias mais pobres.89 A educao universal tem sido um objectivo primrio desde a independncia. Embora houvesse alguns sucessos iniciais, a guerra civil que se seguiu destruiu uma grande parte das infra-estruturas escolares particularmente nas reas rurais. Os problemas enfrentados pelo sector da educao tambm incluem taxas de escolaridade baixas, a estagnao dos programas de alfabetizao e um declnio geral da qualidade da educao. Muitos professores esto infectados com HIV e pensa-se que o sector ir perder um grande nmero deles diz-se frequentemente que os professores esto a morrer a um ritmo mais rpido do que a capacidade do sector para formar novos professores. Os rcios aluno/turma e aluno/ professor figuram entre os mais altos na SADC: no ensino primrio, 15 classes (EP 1), h uma mdia de 48 alunos por turma e h apenas um
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INE/UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique (Maputo, 2005), pgs. 36-37. INE/UNICEF, ibidem, pg. 38.
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professor para 68 alunos.90 Em muitos casos os prprios professores tiveram poucas oportunidades para fazer estudos superiores ou obter habilitaes profissionais. Trs quartos dos professores tm apenas a 6 ou a 7 classe que foram complementadas com um ou trs anos de formao profissional.91 O Plano Estratgico para o Sector da Educao (1999-2005) focalizou a expanso do acesso, melhoria da qualidade e relevncia da educao, e o fortalecimento da capacidade para gerir e entregar servios de educao apropriados. O Plano Estratgico para o Sector da Educao e Cultura (2006-2010) mantm estas prioridades mas tambm coloca maior nfase na melhoria da qualidade da educao e em medidas que encorajem os alunos e estudantes a continuar a sua educao para alm do ensino primrio. O Inqurito Escolar Anual de 2004 constatou que a maioria das crianas que est no sistema de educao est no EP 1 (83,7%); a frequncia escolar diminui vertiginosamente depois da concluso da 5 classe (EP 1). As 6 e 7 classes do ensino primrio (EP 2) s representam 11,1% de todas as crianas do sistema de educao comparado com 4,6% no ensino secundrio, 8-10 classes (ESG 1) e 0,6% no ensino secundrio, 11-12 classes (ESG 2).92 Cerca de 1 em cada 5 crianas repete pelo menos um ano no EP 1. Ambos os planos estratgicos prestaram ateno especfica a quatro factores: acesso (entrada na escola), permanncia na escola, aprendizagem e aproveitamento (na medida em que o indivduo obtm algum beneficio da educao). No que se refere ao acesso, dados de 2003 indicam que 60% de todas as crianas com idades compreendidas entre 6-12 frequentam presentemente a escola primria (EP1 e EP2). Dados de 2005 indicam que 3,4 milhes de crianas estavam no EP 1 (dos quais 46,4% so raparigas), e que apenas 470 000 crianas frequentam o EP 2 (dos quais 41% so raparigas).93 Estima-se que em 2005, 660 000 crianas entre 6-10 anos de idade no frequentavam a escola.94 Tal como na alfabetizao de adultos, a taxa lquida de frequncia no ensino primrio est correlacionada com a residncia, a riqueza e o sexo. As reas urbanas tm taxa lquida de frequncia no ensino primrio mais elevada do que as reas rurais (76% vs 53% - dados de 2003) e mais provvel que os rapazes frequentem a escola do que as raparigas (63% vs 57%).95 muito mais provvel que as raparigas nas reas urbanas frequentem o ensino primrio do que as raparigas nas reas rurais (75% vs 48% - dados de 2003).96 mais de duas vezes mais provvel que as raparigas das famlias ricas frequentem o ensino primrio do que as raparigas das famlias pobres.97 A correlao com base na localizao, no sexo e na riqueza ainda mais pronunciada para o ensino secundrio. Dados de 2003 sugerem que a taxa lquida de frequncia no ensino secundrio entre as crianas com idades compreendidas entre 13-17 anos de apenas 7.6% (15.6% para reas urbanas comparado com apenas 1.9%); 8.4% entre os rapazes comparado com 6.7% entre as raparigas; apenas 0.7% dos rapazes e raparigas das famlias mais pobres frequentam o ensino secundrio comparado com 21.6% das famlias mais
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MINEC, Education Statistics: Annual School Survey 2004, July 2004, pg. 17. MINEC, Education Statistics: Annual School Survey 2004, July 2004, pg. 19. MINEC, Education Statistics: Annual School Survey 2004, July 2004, pg. 7. Repblica de Moambique, Plano Estratgico de Educao e Cultura 2006-2010, Junho de 2006. Repblica de Moambique, Plano Estratgico de Educao e Cultura 2006-2010, Junho de 2006. INE/UNICEF, ibidem, pg. 31. INE/UNICEF, ibidem, pg. 32. INE/UNICEF, ibidem, pg. 34.
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abastadas.98 O Inqurito Escolar Anual para 2004 constatou que h mais rapazes que raparigas no EP 2, excepto em Maputo Cidade, Maputo Provncia, Gaza e Inhambane que tambm tm uma percentagem mais elevada de raparigas que rapazes no EP 1.99 A Unidade de Gnero do sector no Ministrio da Educao e Cultura tem identificado constrangimentos na educao das raparigas. Estes incluem o baixo valor atribudo educao das raparigas comparado com a educao dos rapazes tendo em conta que no se espera que as raparigas arranjem empregos (os pais podero assim achar que o investimento ou o custo de oportunidade da educao das raparigas no valham a pena); a carga do trabalho domstico e o trabalho sazonal das raparigas; a pobreza; a falta de professoras que possam ser vistas como modelos a seguir e para supervisionar as raparigas; a violncia e o abuso sexual das alunas na escola; a distncia entre a casa e a escola e poucos estabelecimentos residenciais (lares) para as raparigas que vivam mais longe. Isto especialmente importante para as raparigas mais velhas que esto no EP2 e no ensino secundrio, uma vez que a maior parte das escolas secundrias est localizada nas cidades. As escolas mistas constituem a norma, mas os internatos no tm instalaes para raparigas. Nas reas rurais das provncias do norte h um conflito entre a educao tradicional e a educao formal. Prticas tais como casamentos e gravidezes prematuros implicam frequentemente que os pais valorizam a instruo alternativa tais como ritos de iniciao e escolas cornicas/ islmicas em detrimento da educao formal. Para enfrentar esta situao estabeleceram-se Conselhos Escolares, em que participam os pais e o pessoal da escola. Estes conselhos tm permitido a algumas comunidades marcar os ritos de iniciao para o perodo das frias escolares; noutras os pais assumiram um papel activo na definio de uma parte do currculo ( permitido s comunidades definir at 10% do currculo com vista a tornar a educao formal relevante para os alunos). Espera-se que estas iniciativas ajudem a melhorar a aprendizagem. Como a lngua oficial, o portugus o principal meio de instruo. Para a maioria da populao rural, contudo, a segunda lngua e pode assim levar a dificuldades de aprendizagem, isolamento e limitao na leitura. Isso por sua vez pode conduzir a um retorno ao analfabetismo aps a formao formal. No que se refere ao aproveitamento escolar, este de apenas 1% dos estudantes no ensino superior. O sub-sector pequeno e subdesenvolvido. Em termos tcnicos e profissionais a educao das raparigas constitui menos de um quarto dos estudantes nos nveis bsicos e mdios do ensino tcnico. A escassez de mulheres no ensino superior est relacionado com o papel reprodutivo das mulheres que muitas vezes considerado incompatvel com os estudos superiores e, em certa medida, com esteretipos de gnero e talvez em alguns casos com a falta de confiana das prprias mulheres. Esteretipos de gnero tambm se reflectem na escolha das reas de estudo. Os Institutos Comerciais que oferecem cursos de secretariado, administrao e contabilidade registam at 60% de estudantes do sexo feminino, enquanto que institutos de formao industrial e agrcola tm um nmero significativamente baixo de estudantes do sexo feminino. No ano 2000 foi criado o Ministrio do Ensino Superior, Cincias e Tecnologia dirigido por uma Ministra mas este ministrio foi extinto em Janeiro de 2005.
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INE/UNICEF, ibidem, pg. 5. MINEC, Education Statistics: Annual School Survey 2004, Julho de 2004, pgs. 13 e 21.
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5.2. Sade O direito a uma vida saudvel reconhecido no artigo 94 da Constituio assim como em vrias cimeiras mundiais em que Moambique tem participado. Apesar de a esperana de vida nascena ter melhorado (actualmente estimada em 42.7 anos para as mulheres comparado com 40.2 anos em 2000),100 o alto nvel de mortalidade materna, a alta incidncia de mortalidade infantil de lactentes e crianas pequenas e a baixa esperana de vida para homens e mulheres mostra que pobreza generalizada limita o alcance deste direito por todos. Nos anos passados, foi dada nfase reabilitao das infra-estruturas existentes e construo de novos centros de sade com vista a assegurar um acesso razovel aos servios de sade. Uma preocupao especfica foi a expanso da cobertura e assegurar a equidade, nomeadamente como abordar os desequilbrios geogrficos. Havia uma grande necessidade de melhorar a cobertura nas reas rurais remotas, uma vez que nas reas rurais cerca de 80% da populao tm de andar at meia hora ou mais para chegar a um posto de sade, comparado com 32% nas reas urbanas.101 Com efeito, 40% dos agregados rurais precisam de andar at duas horas ou mais para chegar a uma unidade de atendimento.102 A melhoria do acesso foi uma estratgia importante para reduzir o encargo das mulheres uma vez que elas normalmente so responsveis por levar as crianas ou os familiares doentes aos centros de sade. Nos anos recentes, contudo, h uma crescente preocupao em relao qualidade da entrega dos servios e satisfao por parte dos utentes. Para estudar isso, importante identificar que tipos de servios de sade so mais usados. Considerando as distncias que os agregados rurais tm de percorrer para chegar a uma unidade de atendimento, os mdicos/curandeiros tradicionais so consultados com maior frequncia do que em reas rurais. O mdico tradicional o terceiro agente de sade mais consultado (depois do pessoal do Posto/Centro de Sade) e particularmente popular entre as mulheres, especialmente as com nveis de educao/instruo mais baixos.103 As causas mais frequentes de queixas pelos utentes de unidades modernas so: o longo tempo de espera (51.7%), a falta de medicamentos (32.6%), a ineficcia do tratamento (25%), o custo (17.8%), a falta de pessoal (12.7%), a corrupo (4.4%) e a falta de higiene (3.2%). O tratamento ineficaz nos centros de sade citado como a principal razo por que as pessoas consultam mdicos tradicionais, ilustrando assim o conflito entre ambos os sistemas de crenas.104 H um preconceito materno persistente, i.e. a tendncia para equiparar as questes de gnero com medidas para reduzir a mortalidade materna e aumentar servios de sade sexual e reprodutiva. De resto, as questes de gnero no so sistematicamente includas nos outros programas de sade. O preconceito materno ainda fortalecido pelo facto de a mortalidade maternal e a mortalidade infantil terem sido declaradas Objectivos de Desenvolvimento do Milnio. Embora as mulheres no estejam, como bvio, excludas de outras iniciativas relacionadas com a sade, tais como as campanhas para fazer recuar a malria, a tuberculose e outras doenas infecciosas, h pouco enfoque no
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Ibraimo, M. A Situao da Mulher e Criana em Moambique, in INE, Populao e Sade Reprodutiva em Moambique (Maputo, 2005), pg. 47. H tambm diferenas regionais significativas: Maputo Cidade, Maputo Provncia e Gaza tm o melhor acesso a unidades sanitrias. O Niassa figura entre as provncias com menor cobertura. INE, IAF 2002/3, pg. 75. INE, IAF 2002/3, pg. 77. INE, IAF 2002/3, pg. 78. INE, IAF 2002/3, pg. 79.
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que se pode fazer especificamente para responder melhor s necessidades especficas de sade das mulheres e aos requisitos nestas reas. Necessidades de sade mais amplas incluem a desnutrio, longas horas de trabalho, violncia, desordens respiratrias que resultam de se cozinhar com carvo e lenha, o facto de as mulheres levarem cargas pesadas na cabea, gua imprpria para consumo, infeces urinrias que resultam de condies sanitrias deficientes, etc. Um assunto que est a ter alguma ateno recentemente o aborto. Em 2004 o Ministrio da Sade realizou uma conferncia nacional sobre o aborto inseguro em Moambique.105 A conferncia constatou que so predominantemente mulheres jovens e pobres com baixos nveis de escolarizao que recorrem com maior frequncia a abortos inseguros e ilegais. Os abortos ilegais constituem a terceira causa de mortalidade materna em Moambique.106 No incio da dcada de 1990, estimava-se que Moambique tinha uma das taxas de mortalidade materna mais altas do mundo. H um consenso geral que se operaram progressos na reduo da mortalidade materna, mas as estatsticas da mortalidade materna so contenciosas. O Governo estima que houve uma reduo da mortalidade materna de aproximadamente 1.000 por 100.000 nascimentos vivos em 1997 para aproximadamente 408 por 100.000 nascimentos vivos em 2003. Isso deve-se a melhor acesso, melhores cuidados obsttricos e a uma srie de medidas implementadas no mbito da Estratgia Nacional para Reduo da Mortalidade Materna lanada em 2000 que focaliza no triplo atraso.107 Alm disso, a percentagem de nascimentos assistidos por pessoal de sade qualificado cresceu de 44% em 1997 para 48% em 2003. As mulheres rurais, contudo, continuam a ter predominantemente partos assistidos por familiares do sexo feminino ou parteiras tradicionais assistentes.108 Ao mesmo tempo a OMS estima que o risco de as mulheres moambicanas morrerem devido a m sade sexual e reprodutiva de uma em dezasseis (1/16). Este nmero fi gura entre os mais elevados do mundo. As raparigas iniciam as suas actividades sexuais muito cedo e gravidezes entre as adolescentes so comuns, particularmente nas reas rurais onde as raparigas podem ser foradas a casamentos prematuros depois dos ritos de iniciao no incio da adolescncia. Preservativos e plulas contraceptivas so os mtodos de contracepo mais populares, mas a preferncia no se correlaciona necessariamente com o aumento do seu uso pois estes no esto disponveis de uma forma abundante nas zonas remotas e reas rurais, onde os servios
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A Conferncia reflecte uma evoluo na posio do Governo em relao ao aborto. At 1985 todas as formas de aborto eram proibidas pela lei e a lei penalizava tanto a mulher como quem praticasse o aborto. Em 1994 a Conferncia Internacional sobre Populao e Desenvolvimento resultou numa maior conscincia para responder ao problema do aborto inseguro. Como resultado, qualquer gravidez at 12 semanas pode ser interrompida no Hospital Central e em algumas unidades sanitrias, com base numa solicitao por escrito pela mulher ou pelo casal. necessrio o consentimento de um adulto para adolescentes com idade igual ou inferior a 18 anos. Contudo, a conferncia provocou, pela primeira vez depois da independncia, um debate pblico sobre este assunto que ainda largamente considerado tabu.
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Outras Vozes, Suplemento do Boletim 8, Agosto de 2004, pgs. 14-18. O primeiro atraso envolve o tempo necessrio para decidir levar a mulher para dar luz numa unidade sanitria. Esta deciso tipicamente tomada pelo marido e envolve uma avaliao das opes de transporte e despesa; muitas vezes a deciso de usar dinheiro s tomada depois de aparecerem sintomas de complicaes. O segundo atraso o tempo gasto na viagem para a unidade sanitria e o terceiro atraso refere-se ao tempo que leva at se ser atendido por um profissional especializado.
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Apenas 34% das mulheres rurais tm os filhos em unidades sanitrias comparado com 80% nas reas urbanas. Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 8. Discusso completa sobre o objectivo de reduzir a mortalidade materna: ibidem, pgs. 29-31.
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de sade reprodutiva escasseiam. Isso resulta numa alta taxa de fertilidade sustentada e num nmero significativo de crianas no planeadas.109 Em 2003 apenas 1.1% das mulheres numa relao reportaram o uso de preservativos, reflectindo o facto de muitas mulheres ainda no serem capazes de negociar sexo seguro com os seus parceiros, uma vez que tal atitude levanta frequentemente suspeitas de infidelidade. Apesar de vrias campanhas de planeamento familiar e de preveno de HIV dirigidas especificamente s jovens, apenas 29% das mulheres e 33% dos homens com idades entre os 15-24 anos reportaram o uso do preservativo durante a ltima relao sexual. O uso do preservativo durante a prtica sexual de alto risco varia de acordo com a idade, residncia, provncia, nveis de educao e pobreza. Por exemplo, apenas 4% das mulheres mais pobres no grupo etrio de 15-24 anos reportaram ter usado preservativo comparado com 41% das mulheres economicamente estveis.110 O sector da sade est severamente afectado pela falta de pessoal devido falta de pessoal qualificado. O plano de desenvolvimento dos recursos humanos deste sector reconhece este facto, e destacou a necessidade de mais profissionais de sade do sexo feminino e de mais mulheres em cargos de administrao e gesto, considerando que menos de 40% ocupam cargos de liderana ao nvel central e cerca de 25% ocupam cargos de liderana ao nvel provincial. O gnero foi tambm includo nos cursos de desenvolvimento dos quadros. Em muitas partes do pas as mulheres so assistidas por mdicos e enfermeiros, o que muitas vezes no apropriado. 5.3. HIV/SIDA Durante a guerra civil, Moambique teve taxas baixas de infeco de HIV/SIDA comparado com outros pases da regio. Contudo, com o regresso dos refugiados dos pases vizinhos e o reassentamento das populaes deslocadas internamente nos incios da dcada de 1990 e a reabertura dos corredores de transporte que ligam cidades costeiras de Moambique com Harare, Joanesburgo, Malawi e Zmbia a pandemia alastrou-se muito rapidamente. Enquanto nos meados dos anos de 1990 a prevalncia era de 8%, j em 2005 a prevalncia entre adultos de idade compreendida entre 15-49 anos era estimada em 16.2.9%, com uma taxa de infeco diria de 500 para adultos e 90 para crianas.111 Moambique ocupa presentemente a dcima posio em termos de infeco ao nvel mundial. Na regio Central (Sofala, Tete, Manica e Zambzia) uma regio com linhas cruzadas por vrias auto-estradas internacionais a situao particularmente alarmante, uma vez que possui a maior taxa de prevalncia no pas (16,7%). Travar o alastramento da doena um dos Objectivos do Desenvolvimento do Milnio; em 2002 foi criado o Conselho Nacional de Combate ao SIDA para liderar e coordenar a resposta nacional pandemia. As taxas de prevalncia mostram que as mulheres especialmente as jovens so as mais afectadas. No grupo etrio de 15-24 as mulheres so trs vezes mais susceptveis de contrair a doena,112 o que significa que as raparigas iniciam a vida sexual mais cedo e talvez usem as relaes
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Ibraimo, M. A Situao da Mulher e Criana em Moambique, in INE, Populao e Sade Reprodutiva em Moambique (Maputo, 2005), pg. 47. Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005, pg. 34. INE et al., Impacto Demogrfico do HIV/SIDA em Moambique (Maputo, 2004), pg. 13. Dados baseados na Ronda de Vigilncia Epidemiolgica de 2002. INE et al., Impacto Demogrfico do HIV/SIDA em Moambique (Maputo, 2004), pg. 20.
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sexuais como uma estratgia de sobrevivncia, particularmente envolvendo-se com parceiros mais velhos que so economicamente mais estveis.113 Em geral estima-se que 28% das mulheres tenham tido relaes sexuais antes dos 15 anos de idade, comparado com 26.4% dos homens. Estes dados so consistentes com casamentos prematuros das mulheres: 22% das mulheres casam-se antes dos 15 anos e 38% das mulheres com idades entre 15-19 anos esto presentemente casadas ou a viver em unio de facto.114 Em Moambique as mulheres ainda so vistas como subordinadas e espera-se que sejam meros objectos de prazer para os namorados e esposos, o que torna difcil para elas recusarem a prtica de sexo no protegido e refora a percepo generalizada de que os homens tm poder de tomar decises sobre o comportamento sexual das suas esposas e das mulheres em geral. De alguma forma esta situao justificada pelo facto de o uso do preservativo na primeira relao sexual ser praticamente o mesmo para homens e mulheres (homens: 7.8%, mulheres: 8%) mas o uso do preservativo durante a ltima relao sexual de risco maior entre os homens (33%) que entre as mulheres (29%).115 As atitudes perante a virgindade tambm so importantes: nas comunidades muulmanas por exemplo, espera-se que as mulheres sejam virgens enquanto que os homens so encorajados a ganhar experincia sexual. A tolerncia das prticas tradicionais, tais como a poligamia, a infidelidade masculina e o levirato tambm expem as mulheres a um grande risco. Em alguns casos as prprias mulheres podero no querer usar preservativos porque querem ter fi lhos e os homens podem sentir-se pressionados a ter uma segunda esposa ou parceira se a mulher no tiver fi lhos. Muitos programas de preveno focalizaram na consciencializao e disseminao de informao, encorajando a testagem voluntria, o uso do preservativo e/ou a abstinncia. Considerando as altas taxas de prevalncia entre os jovens, muitos programas tm sido direccionados aos jovens e adolescentes (por exemplo, Gerao Biz). Por exemplo, 39% dos jovens do sexo masculino com idades entre 15-24 anos tiveram sexo com dois ou mais parceiros nos ltimos 12 meses, comparado com apenas 8% das mulheres no mesmo grupo etrio.116 Contudo, muitas iniciativas no respondem suficientemente s relaes de gnero subjacentes, pelo que as mulheres permanecem desprovidas de poder para negociar o uso do preservativo ou para tomar decises informadas sobre a sua sade sexual e reprodutiva. Dez anos de campanhas de educao cvica e consciencializao ainda no produziram as mudanas de comportamento desejadas; apesar de campanhas sociais de grande escala (massificao) e algumas estratgias de comunicao inovadoras (por exemplo, sries dramatizadas emitidas pela rdio). O fracasso relativo das campanhas de preveno explicado pelo facto de o Inqurito Demogrfico Sade de 2003 ter constatado que 83.7% dos homens tinham tido relaes sexuais de risco no ano anterior, comparado com 37% das mulheres.117 Talvez
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Um estudo constatou que em Moambique, 56% das raparigas de 16 anos e 49% dos rapazes de 16 de anos j tinham tido relaes sexuais e menos de um em cada dez tinha usado um preservativo durante a primeira experincia sexual e mais de um em cada dez jovens que so sexualmente activos tinha tido alguma histria de uma DTS (INE, INJAD study).
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UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique: an overview of the situation of children and women based on the findings from the 2003 Demographic and Health Survey (November de 2005). UNICEF, ibidem. UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique: an overview of the situation of children and women based on the findings from the 2003 Demographic and Health Survey (November 2005). UNICEF, ibidem.
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isto se deva em parte ao facto de terem sido elaboradas e difundidas mensagens uniformes a todos os grupos, independentemente das caractersticas especficas de cada um (por exemplo, apesar de as pessoas terem comportamentos diferentes, as mesmas mensagens foram usadas para jovens e idosos, homens e mulheres, populaes urbanas e rurais). Embora haja consenso que a discriminao de gnero, o nvel baixo de educao das raparigas, a violncia com base no gnero e o acesso desigual informao podem muitas vezes conduzir a altas taxas de prevalncia entre as mulheres e a baixo acesso aos cuidados e a tratamento,118 poucas campanhas de preveno propem de facto medidas especficas para melhorar o estatuto das mulheres na sociedade, reduzindo assim a vulnerabilidade das mulheres a infeces. No todo, o Inqurito Demogrfico e de Sade de 2003 parece indicar que as campanhas de Informao e Educao Cvica (IEC) conseguiram visar mais os homens do que as mulheres. Por exemplo, os homens parecem estar mais, e mais bem informados, sobre a preveno de HIV do que as mulheres (61% dos homens tm conhecimento de pelo menos dois mtodos de preveno comparado com apenas 45% das mulheres); 39% dos homens no tm crenas erradas sobre o SIDA comparado com 23% de mulheres. Assim a aceitao de atitudes perante uma PVHS mais comum entre os homens (16%) que as mulheres (7.8%). Os homens parecem inclusivamente estar mais bem informados sobre a transmisso de me para fi lho (31.9% dos homens sabem sobre a transmisso de me para fi lho e a sua preveno comparado com 26.1% das mulheres. Contudo, o nmero de homens e mulheres que fazem o teste de HIV e recebem os resultados quase o mesmo, homens: 2.7% vs 2.4% para mulheres); como se pode esperar, este indicador correlaciona-se com a localizao geogrfica (mais homens e mulheres presentes para testes de HIV e recebem resultados nas reas urbanas do que nas reas rurais).119 H necessidade de aumentar de forma proporcional o tratamento, e continuar com abordagens integradas para preveno da transmisso de me para filho (Preveno da Transmisso Vertical - PTV). Dada a grande presso que o pas tem para responder s necessidades de tratamento (aproximadamente 200.000 PVHS precisam de tratamento), Moambique solicitou OMS e UNAIDS/ONUSIDA apoio no mbito da Iniciativa 3x5 a 24 de Novembro de 2003.120 Contudo, as metas do tratamento definidas no Plano Estratgico Nacional de Combate ao HIV/SIDA para 20042008 prevem tratamento para apenas 20.800 at ao fim de 2005. O marco de 100.000 s ser alcanado em 2008 (meta para 2008: 132.000). Estas metas conservadoras esto baseadas no facto de programas eficazes pblicos de terapia antiretroviral (ARV) s terem tido incio em 2004 e no facto de as infra-estruturas de sade existentes serem muito fracas. Embora seja um factor crtico, critrios e medidas de apoio ainda no foram estabelecidos para assegurar um acesso equitativo ao tratamento entre homens e mulheres e at data, o acesso ao tratamento depende inteiramente da existncia de infra-estruturas de sade e critrios clnicos (carga viral ou contagem de CD4).
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Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 2005 (Maputo, 2005), pg. 34. UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique: an overview of the situation of children and women based on the findings from the 2003 Demographic and Health Survey (November 2005). Para fazer face a um nmero crescente de pessoas a sucumbir vtimas de SIDA, a OMS e a USAIDS/ONUSIDA lanaram um desafio global conhecido como a iniciativa 3 x 5. O objectivo tratar 3 milhes de pessoas at ao fim de 2005; esta meta global baseia-se na estimativa de que das 40 milhes de pessoas infectadas com HIV ao nvel mundial, 6 milhes precisam de tratamento. A iniciativa 3 x 5 representa uma campanha macia de mobilizao de recursos para acelerar o tratamento e ministrar tratamento a pelo menos metade desse nmero antes de 31 de Dezembro de 2005. Estritamente falando, a iniciativa 3 x 5 implica que 100.000 PVHS em Moambique deveriam ter estado em tratamento at ao fim de 2005.
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Embora o nmero de mulheres que beneficiam dos programas de PTV esteja a aumentar, preocupante notar que a maior parte das mulheres beneficiam de medicao e profi laxia apenas at ao nascimento dos fi lhos. As mulheres infectadas no so automaticamente integradas nos programas ARV depois do nascimento da criana. Isso implica que as mulheres so vistas primariamente como portadoras de crianas e que a tnica incide na salvaguarda da sade das crianas. Para alm disso, muitas pessoas na comunidade consideram o HIV e as doenas transmissveis sexualmente como doenas de mulheres promscuas. Uma vez que a testagem de HIV efectuada atravs de servios pr-natais, as mulheres so frequentemente as primeiras a ser diagnosticadas com HIV e podem ser acusadas de serem a fonte desta doena na famlia. Estudos sobre crianas pequenas raramente indicam se ambos os pais esto infectados. As mulheres muitas vezes ficam a saber que esto infectadas com HIV durante ou aps a gravidez. Assim, os homens e as suas famlias, que antes no estavam cientes da sua prpria situao de infeco acabam culpando as esposas de os infectar, a eles e aos fi lhos. O Conselho Nacional de Combate ao SIDA elaborou um Plano Estratgico Nacional de Combate ao HIV/SIDA (PEN 2005-2009), que foi aprovado pelo Conselho de Ministros em 2004. Este plano multisectorial inclui vrias intervenes para serem implementadas pelo Ministrio da Mulher e da Aco Social com vista a responder aos assuntos relevantes de gnero. A este respeito, importante notar que as mulheres e os rfos so considerados grupos-alvo chave. O CNCS tambm canaliza fundos para organizaes da sociedade civil que implementam iniciativas ao nvel comunitrio. As actividades incluem normalmente conversas e debates pblicos para reduzir o estigma e a discriminao, campanhas de preveno e informao, distribuio de alimentos e material escolar para aliviar o impacto da doena nos agregados familiares. Muitas OSCs estabelecem redes de activistas comunitrios. Muito frequentemente as mulheres so recrutadas como voluntrias sem remunerao, enquanto os activistas remunerados so frequentemente homens.121 5.4. Acesso a gua limpa Estima-se que apenas 35.7% da populao tenham acesso a gua limpa, mas h diferenas significativas entre reas urbanas, peri-urbanas e rurais (no h dados disponveis que correlacionem o acesso a gua limpa e saneamento e o sexo do chefe do agregado familiar). Pensa-se que 57.7% das famlias urbanas e peri-urbanas tm acesso a gua limpa, comparado com apenas 26.4% da populao rural.122 Nas reas rurais, a maioria das mulheres de percorrer at meia hora at chegar fonte de gua mais prxima, mas estes dados no consideram o facto de muitos rios e sistemas de gua secarem sazonalmente e o facto de alguns distritos serem particularmente propensos a secas.123 Embora na ltima dcada o acesso a gua tenha melhorado devido expanso dos sistemas de abastecimento de gua,124 o problema continua a piorar devido a uma urbanizao descontrolada, particularmente volta de Maputo. Isso acarreta um risco mais elevado de surtos de
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Albers, R. et al. Women, Girls and HIV/SIDA: Situational Analysis (Maputo, 2004) disponvel no UNFPA. INE, IAF 2002/3, pg. 60. INE, IAF 2002/3, pg. 64. Para um testemunho pungente sobre a carncia de gua no distrito de Chicomo (Provncia de Inhambane) e estratgias locais de sobrevivncia, ver Cabral, J. The Water War (SDC/Maputo, 1998). Nas reas urbanas a gua canalizada a fonte de gua mais prevalecente, enquanto que nas reas rurais, metade de todos os agregados familiares recorre aos poos, particularmente a poos no protegidos. Desde 1997 o nmero de agregados familiares que usam gua canalizada aumentou de 8.6% para 15.8% (2003). INE, IAF 2002/3, pg. 59.
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diarreia e outras doenas provocadas pela gua tais como a clera. As doenas provenientes da gua so uma ameaa constante devido a infraestruturas sanitrias limitadas: mais de metade de todos os agregados familiares declarou que falta de casas de banho ou latrinas recorria ao mato.125 A poltica do Governo reconhece a necessidade de incluir a participao comunitria na gesto, no armazenamento, no uso e na eliminao das guas. Esta abordagem baseada na comunidade reconhece que as mulheres so tradicionalmente responsveis por ir buscar gua, pela eliminao de lixos/resduos e pelos cuidados com os doentes. Por estas razes encoraja as mulheres a participar nos comits locais de gua e saneamento, a quem so confiados a eliminao das guas e dos lixos/ resduos, bem como programas de educao sobre a higiene pessoal. Embora se tenha colocado muita nfase na participao das mulheres nos Comits de gua (gesto) e Saneamento e Higiene, tem-se tido menor sucesso no envolvimento das mulheres nas responsabilidades tcnicas. Assim as iniciativas devem procurar promover a participao das mulheres nos programas de formao para manuteno das bombas e encorajar os homens a partilhar activamente as suas responsabilidades em questes de gua e higiene dentro do agregado familiar. 5.5. Sumrio dos pontos principais e das reas estratgicas
Embora os nveis de educao tenham melhorado nos ltimos anos, a disparidade de gnero est a encolher a nvel do EP 1 mas no nos nveis mais altos. A probabilidade de um indivduo poder ter acesso a educao depende muito do sexo do indivduo, da localizao (residncia em reas urbanas ou reas rurais) e se provm de uma famlia pobre ou rica. Assuntos que continuam a limitar os nveis de educao das raparigas so o baixo valor atribudo educao das raparigas, tenses entre formas tradicionais e formais de educao, falta de segurana nas escolas (particularmente a falta de proteco adequada contra o abuso fsico e a violao) e participao limitada das mulheres e raparigas na formao tcnica e vocacional. reas estratgicas incluem o apoio ao plano de aco sectorial para a igualdade de gnero, reforma curricular, aumento da participao comunitria e parental na gesto das escolas, aumento do nmero de professoras, maior formao vocacional para raparigas e mulheres jovens e medidas para reduzir o assdio sexual e abuso nas escolas. Embora no haja certeza sobre o nvel exacto da mortalidade infantil, h consenso geral que esta diminuiu signicativamente nos ltimos dez anos como resultado da Estratgia Nacional para a Reduo da Mortalidade Materna que foi lanada no ano 2000. No obstante, continua a haver desaos importantes tais como eliminar o triplo atraso, aumentar o nmero de trabalhadoras de sade qualicadas e o nmero de partos assistidos realizados por prossionais de sade qualicados. O HIV/SIDA continua a ameaar todos os avanos alcanados na melhoria do desenvolvimento humano em Moambique. Questes de preocupao especca incluem a vulnerabilidade desproporcional das mulheres, particularmente das mais jovens, ao HIV e SIDA; atitudes patriarcais perante a virgindade e a sexualidade feminina; prticas tradicionais que obrigam a comportamentos de alto risco (por exemplo, poligamia, levirato, puricao, presso para ter lhos). Apesar das constantes campanhas de Informao e Educao Cvica (IEC) nos passados dez anos, nmeros muito baixos de homens e mulheres servem-se da testagem e do aconselhamento de HIV. Poucas campanhas de preveno focalizam na melhoria do estatuto das mulheres. Por outro lado, as campanhas de IEC usam campanhas de sensibilizao no diferenciadas, visando homens e mulheres, jovens e
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idosos, ricos e pobres, analfabetos e pessoas formados de forma muito semelhante. As estatsticas sugerem deste modo que os homens esto cada vez mais e mais bem informados sobre a transmisso do HIV/SIDA do que as mulheres, mesmo no que se refere transmisso de me para lho. O acesso a gua limpa/potvel um aspecto importante do desenvolvimento humano e continua a ser tipicamente uma responsabilidade feminina. Embora a cobertura da gua tenha aumentado, tornou-se evidente que a participao das mulheres em todos os comits (comit de gua, comit de manuteno e comit de higiene e saneamento) importante para assegurar uma gesto sustentvel e equitativa das fontes de gua.
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6. A Situao Poltica
6.1. Eleies Ao abrigo da Constituio de 1990, Moambique uma democracia multi-partidria. O poder executivo composto pelo Presidente, Primeiro-Ministro e Conselho de Ministros. Existe uma Assembleia Nacional (criada em 1994) e assembleias municipais (criadas em 1998). O poder judicirio compreende o Tribunal Supremo, um Tribunal Administrativo e tribunais provinciais, distritais e municipais.126 O sufrgio universal para cidados maiores de 18 anos. As mulheres receberam o direito de voto e assumiram cargos na funo pblica aps a independncia em 1975. Desde o fi m da guerra civil em 1992, realizaram-se eleies gerais em 1994, 1999 e 2004.127 Em 2004 o candidato da FRELIMO Armando Guebuza venceu as eleies presidenciais com 64% dos votos populares e inaugurou o seu mandato como Presidente de Moambique a 2 de Fevereiro de 2005. O seu oponente, Afonso Dhlakama da RENAMO, recebeu 32% dos votos. No Parlamento, a FRELIMO obteve 160 assentos. A coligao entre a RENAMO e vrios pequenos partidos ocupou os restantes 90 assentos. S foram realizadas eleies locais em 1998 para garantir a representao local e alguma autoridade oramental ao nvel dos municpios. Estabeleceu-se um total de 33 municipalidades. As segundas eleies locais, realizadas em 2003, foram conduzidas de forma ordeira sem incidentes violentos, mas o perodo imediatamente a seguir s eleies foi marcado por objeces ao registo dos votos e candidatos e tabulao dos votos e apelos a uma maior transparncia. Deste modo a Lei Eleitoral reescrita e aprovada pela Assembleia da Repblica por consenso em Dezembro de 1998 foi de novo modificada em Maio de 2004 com base na experincia das eleies municipais de 2003. O partido no poder, a FRELIMO, tem sido capaz de fortalecer de forma consistente a sua base de poder enquanto que a RENAMO
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O Tribunal Administrativo tem a funo de monitorar a legalidade e aplicao correcta dos procedimentos pelo Executivo. Todas foram ganhas pela FRELIMO, o partido no poder desde a independncia. Em 1999 o Presidente Chissano venceu as presidenciais com uma margem pequena de 4% sobre o candidato da RENAMO-Unio Eleitoral, Afonso Dhlakama. Embora exista um acordo geral que as eleies de 1999 foram bem organizadas e ordeiras, tanto a oposio como os observadores internacionais referiram falhas no processo de tabulao. A coligao na oposio RENAMO-UE recorreu ao Tribunal Supremo; um ms aps o escrutnio o tribunal rejeitou as alegaes da oposio e validou os resultados eleitorais.
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permanece caracterizada por uma estrutura partidria fraca e uma viso estratgica limitada do futuro desenvolvimento do pas.128 Existem vrios partidos de oposio, mas estes so pequenos, fragmentados e no tm experincia de operar numa democracia multi-partidria e so em certa medida tambm excludos da integrao na poltica pelo partido no poder. Embora Moambique j no viva um conflito aberto, a transio para a democracia ainda frgil e repleta de tenses,129 como foi evidenciado em vrios perodos marcados por distrbios localizados.130 De acordo com um estudo recente, a jovem democracia ainda caracterizada por desequilbrios regionais no desenvolvimento econmico, concentrao do poder nas mos de uma elite poltica, corrupo na entrega dos servios pblicos e uma crescente indiferena do eleitorado (o nmero de votantes caiu de 88% em 1994 para 40% em 2004) e isso pode encerrar riscos de futuros conflitos.131 Nenhum dos partidos polticos existentes liderado por uma mulher. Com efeito, um estudo constatou que os partidos polticos so altamente patriarcais e que as alas femininas dos partidos (a OMM da FRELIMO e a Liga Feminina da RENAMO) so marginalizadas nos processos de tomada de deciso.132 O estudo tambm constatou que em 1994 e 1999, nas mais recentes eleies legislativas nenhum dos partidos polticos fez um esforo sistemtico para ganhar votos do eleitorado feminino atravs de promessas especficas de promoo da igualdade de gnero ou abordar as questes das mulheres. Embora as mulheres polticas fossem activas nas campanhas eleitorais, foi conferida maior visibilidade sua relao com o partido que representam do que sua identidade feminina. Menos de um quarto dos comcios e marchas realizados durante a campanha eleitoral foram dirigidos por mulheres mas notou-se que as mulheres eram de longe mais numerosas que os homens nas marchas e nas campanhas porta-a-porta [] esta diferena na participao das mulheres no dia-a-dia das actividades da campanha deve-se largamente ao uso da capacidade das mulheres para mobilizar e a sua vontade de realizar as actividades menos visveis.133 Assim, na maior parte das reunies pblicas o papel das mulheres limita-se a cantar e a apelar s pessoas para votarem no seu lder e no seu partido.134 6.2. Mulheres em cargos polticos No obstante, Moambique frequentemente elogiado por ter aumentado de forma contnua o nmero de mulheres dirigentes na esfera pblica. A MPS, Medida de Participao Ajustada aos Sexos, revela se as mulheres esto a tomar parte activa na vida econmica e poltica de um pas;
128
A RENAMO baseia-se numa estrutura altamente personalizada, centralizada e hierrquica herdada da guerra de guerrilha. Contudo, no primeiro congresso do partido depois da guerra realizado em 2001 a RENAMO tentou estabelecer uma estrutura para uma melhor organizao interna e uma tomada de decises de base mais ampla. Ver Mozambique Political Process Bulletin, issue 27, December 2001, pg. 3 (AWEPA).
129
Observadores independentes tm sustentado que Moambique ainda uma democracia eleitoral simples, no sendo ainda uma democracia consolidada madura e complexa porque a RENAMO tem sido constrangida pela sua falta de imaginao poltica que concebe pouco mais do que a sua bem conhecida estratgia de boicote eleitoral, enquanto o partido no poder ainda no mostrou um compromisso suficiente face democracia para aceitar uma possvel perda de poder poltico. Ostheimer, A. Citado no Boletim sobre o Processo Poltico em Moambique, nmero 27, Dezembro de 2001, pg. 2 (AWEPA, ed. J. Hanlon).
130
Exemplos incluem: Montepuez (Provncia de Cabo Delgado): aproximadamente 80 apoiantes da RENAMO foram detidos pela polcia durante as manifestaes e morreram sufocados devido superlotao das prises; em Setembro de 2005 as eleies municipais so contestadas em Mocmboa da Praia (Cabo Delgado) conduzindo a manifestaes que so reprimidas pela polcia que usa excesso de fora/brutalidade que resulta em vrias mortes e caa s bruxas entre os partidrios da oposio.
Ver Tony Vaux et al, citado no Savana, 1 Set. 2006 Moambique controlado por uma oligarquia, pg. 4. Osorio, C. et al The case of the 2004 legislative elections in Mozambique: a gender analysis (WLSA Maputo, 2005). Osorio, C. et al ibidem, pg. 5. Osorio, C. et al ibidem, pg. 5.
56
calculada na base do nmero de assentos que as mulheres tm no Parlamento, nmero de administradoras e gestoras, nmero de mulheres empenhadas em profisses e trabalhadoras tcnicas, e da estimativa dos rendimentos das mulheres (PPP).135 Moambique tem um nvel relativamente alto de MPS, devido ao nmero crescente de mulheres parlamentares e mulheres que ocupam cargos de chefia na funo pblica. O nmero de mulheres que ocupam cargos seniores no Governo aumentou substancialmente na dcada passada: presentemente h 6 Ministras, 4 Vice-Ministras e 6 Secretrias Permanentes em comparao com apenas uma Ministra e 3 Vice-Ministras em 1997. O posto de Primeiro-Ministro ocupado por uma mulher, que antes exerceu a funo de Ministra do Plano e Finanas. Na administrao pblica h 2 Governadoras Provinciais, 6 Secretrias Gerais Provinciais e 33 Directoras Provinciais (face a apenas 12 Directoras Provinciais em 1997). Observa-se muitas vezes que estas conquistas se devem a nomeaes polticas, embora em 1995 se criasse o Ncleo de Promoo da Mulher na Funo Pblica para promover a entrada das mulheres no sector pblico. Foram envidados esforos para incluir a promoo da igualdade de gnero na actual Reforma do Sector Pblico (por exemplo, foco nas Unidades de Gnero na Anlise Funcional) mas resta ainda fazer muito (por exemplo, consideraes sobre as disparidades de gnero na reforma salarial, medidas para visar as mulheres nos programas de desenvolvimento/ formao etc.). Apoio tcnico sobre como integrar dimenses de gnero na reforma do sector pblico em curso disponvel atravs dos Pontos Focais de Gnero do MAE e de projectos dos doadores.136 O Governo reconhece o distrito como um ponto focal de desenvolvimento, estando assim comprometido face ao processo de descentralizao iniciado h cerca de dez anos. Embora esta situao crie oportunidades para as mulheres participarem e moldarem a vida poltica e pblica da comunidade, na prtica h poucas mulheres disponveis para ocuparem estes cargos. Em geral, menos mulheres que homens participam nos conselhos comunitrios e nas autoridades locais e parece que so necessrias medidas especiais para encorajar as mulheres a participar.137 Ao nvel das vilas, as mulheres enfrentam vrios constrangimentos que limitam a sua participao, incluindo os custos de transporte, a incapacidade de deixar os seus fi lhos e os seus dependentes, quando viajam para as reunies dos conselhos comunitrios, assim como o facto de se considerar os homens os porta-vozes da comunidade. Aos nveis mais altos, existem tambm numerosos factores que por si ou juntamente com outros limitam a participao activa das mulheres na poltica tais como:138 Demasiado trabalho e dificuldades em reconciliar obrigaes familiares com cargos na funo pblica. Falta de experincia anterior na funo pblica e falta de autoconfiana. Falta de recursos financeiros para financiar campanhas eleitorais. Falta de acesso aos mass media.
135
PNUD, Relatrio Nacional do Desenvolvimento Humano: Gnero, mulheres e desenvolvimento humano (Maputo, 2001), pg. 12. Unidade Tcnica da Reforma do Sector Pblico: UTRESP Ministrio da Educao Estatal: MAE. Ver Borowzak, W. et al, Evaluation of Support to Decentralized Planning and Budgeting in Nampula and Cabo Delgado Provinces, project implemented by DNPO, (UNCDF, 2004). WILDAF, Study on Womens Political Participation, 1998.
136 137
138
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Abuso e assdio das candidatas aspirantes que so muitas vezes rotuladas de feministas, o que interpretado como no-feminidade e falta de respeito pelos valores culturais. Uma percepo persistente entre o pblico em geral de que a esfera pblica domnio masculino, enquanto o lugar das mulheres a esfera domstica. A participao por si s no significa que as mulheres sero agentes efectivas de mudana, i.e. capazes de articular interesses de gnero. Frequentemente, as vozes das mulheres no so ouvidas devido a factores tais como:139 O nmero relativamente pequeno de mulheres e a marginalizao. Resistncia reduo ao silncio por parte dos homens. Colocao das mulheres em sectores sociais. Uma tendncia recente em algumas instituies para equacionarem os movimentos femininos com uma campanha de bem-estar do estilo OMM. 6.3. Mulheres no Parlamento Para alm de registar um nmero crescente de mulheres nas mais altas funes polticas, Moambique tem uma alta percentagem de mulheres parlamentares (35,6%), e tal deve-se em grande parte ao sistema de quotas adoptado pela FRELIMO, pelo que as mulheres devem perfazer um tero das candidaturas. Assim, Moambique atingiu as metas da Commonwealth e da SADC que requerem 30% de mulheres nos postos de deciso at 2005. O Gabinete da Mulher Parlamentar opera em estreita colaborao com a Comisso Parlamentar sobre assuntos de gnero, sociais e ambientais com o mandato de promover a igualdade de gnero. Mesmo assim, a Faco Feminina nem sempre est empenhada e em muitas questes delicadas as parlamentares ainda votam de acordo com as posies do partido. Isto ficou nitidamente ilustrado durante os debates sobre a Lei da Famlia, quando ficou claro que as mulheres no votariam como um bloco slido ultrapassando as barreiras partidrias. Embora as mulheres que se encontram no Governo ou no Parlamento estejam sujeitas a uma presso enorme para exercerem os direitos das mulheres, a sobrevivncia poltica pode ditar uma abordagem pragmtica que resulta no enfraquecimento da agenda para uma igualdade de gnero estrita. Embora seja compreensvel, muitas mulheres dos escales de base vem essas atitudes como um abandono do ideal de empoderamento e isto resultou numa diviso crescente entre um grande grupo de mulheres no poder e os seus crculos eleitorais. Existe at uma percepo generalizada de que as mulheres dos escales de base j no esto representadas de forma adequada pela elite das mulheres que elas ajudaram a obter assentos no Parlamento ou cargos polticos. Para lidar com esta situao, a Associao dos Parlamentares da Europa Ocidental (AWEPA) apoiou a Comisso Parlamentar sobre assuntos de gnero, sociais e ambientais e o Gabinete das Mulheres Parlamentares com capacitao em termos de anlise de gnero e competncia em advocacia para a igualdade de gnero.
139
Para uma discusso mais alargada queira ver UNDP, Womens Political Participation and Good Governance: 21st century challenges (2000), pgs. 27-40.
58
6.4.
Cargo
Governo Primeiro-Ministro Ministro Vice-Ministro Parlamento Assembleia da Repblica Partidos Polticos FRELIMO RENAMO UNIO ELEITORAL Governo Provincial Governador Provincial Secretrio Permanente Provincial Director Provincial Director Provincial Adjunto Governo Local a) Eleitos Presidente do Conselho Municipal Inspector b)Nomeados Administradores Distritais Chefe de Posto Administrativo Funcionrios Pblicos Secretrio Permanente Director Nacional Director Nacional Adjunto Chefe de Departamento Chefe de Repartio Chefe de Seco Embaixadores Poder Judicirio Juzes Procurador-Geral Procuradores-Gerais Adjuntos Magistrados Militares Oficiais
0 1 3 70
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2 23 12 148 157 2
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24
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rias medidas especiais para aumentar a participao das mulheres nestes processos de descentralizao. Ao nvel central, a presente Estratgia da Reforma do Sector Pblico oferece vrias oportunidades para denir e implementar estratgias para promover a participao das mulheres na funo pblica. Alm disso, estratgico que os defensores do gnero empenhem os parlamentares na igualdade de gnero, particularmente com vista reviso em curso da legislao.
60
7. Estatuto Legal
7.1.
Quadro legal para a igualdade de gnero e a no-discriminao As Constituies de 1975, 1990 e 2004 defendem o princpio da igualdade de gnero e probem a discriminao com base no sexo.140 Considerando que a Constituio a lei mais alta do pas, toda a restante legislao deve submeter-se aos princpios constitucionais, o que implica que a legislao discriminatria deve ser revista e modificada. Os princpios da igualdade e no-discriminao so ainda reforados pelo facto de Moambique ter ratificado a Conveno para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra as Mulheres (CEDAW) a 2 de Junho de 1993, que em Moambique entrou em vigor como lei a 16 de Maio de 1997. A CEDAW com efeito requer que toda a legislao nacional seja domesticada, i.e. revista e harmonizada de acordo com a CEDAW. Todos os pases que ratificaram a CEDAW devem apresentar relatrios regulares s Naes Unidas sobre o ponto de situao da implementao da CEDAW. Embora tenha elaborado tarde o seu relatrio, Moambique cumpriu os requisitos quando apresentou quer o seu relatrio inicial quer o seu segundo relatrio. Ambos sero analisados pela Comisso do Estatuto das Mulheres (CSW) das Naes Unidas na 38 sesso da Comisso em Maio de 2007.141 Moambique ainda no aderiu ao Protocolo Opcional, que entrou em vigor no ano 2000, pelo qual os Estados individuais aceitam que a CWS possa receber queixas de indivduos, se o Estado no estiver a cumprir a CEDAW.142 7.2. Reforma legal O relatrio da CEDAW reconhece que o processo da reforma da legal lento e que a maior parte da legislao interna tem ainda de ser domesticada e alinhada com a CEDAW. Em 1997 foi criada uma Comisso de Reviso da Lei, funcionando sob a superviso do Ministrio da Justia. Em 2002 foi criada uma Unidade Tcnica da Reforma Legal (UTREL) para apoiar a Comisso de Reviso da Legislao. Dado que
140
O art. 6 prev que todos os cidados so iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e esto sujeitos s mesmas obrigaes, independentemente da cor, raa, sexo, etnia, lugar de nascimento, religio, nvel de educao, estatuto social, estado civil dos pais ou profisso. O artigo 67 diz que o homem e a mulher so iguais perante a lei em todas as esferas da vida poltica, econmica, social e cultural. Constituio da Repblica de Moambique, 1990.
141 142
Para mais informaes sobre a CEDAW e o protocolo, ver o endereo: www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/reports Moambique signatrio de vrias convenes internacionais e instrumentos legais internacionais. Para uma viso geral e o estatuto de implementao, ver o relatrio disponvel na Liga Moambicana dos Direitos Humanos.
61
grande parte da legislao data do tempo colonial, o propsito da comisso harmonizar e ajustar a legislao s presentes realidades socioeconmica, poltica e cultural. Apesar de a igualdade de gnero no estar explicitamente mencionada nos termos de referncia da comisso, pontos focais e juristas do sexo feminino esto na comisso criando assim uma janela de oportunidade para assegurar que a anlise de gnero seja integrada nas propostas da legislao. At data, as leis que foram revistas e tm um impacto nas relaes de gnero incluem a Lei de Terras (1997), a Lei do Trabalho (1998), a Lei da Famlia (2005) e o Cdigo Comercial (2005). Aps uma longa campanha da sociedade civil para incorporar os princpios de igualdade entre os homens e as mulheres na Lei da Famlia e aps muita controvrsia entre os membros do comit de redaco e o Parlamento, a nova Lei da Famlia entrou em vigor em Fevereiro de 2005.143 Do lado positivo, a lei define direitos especficos para as mulheres e introduz numerosas inovaes.144 Durante os debates parlamentares a lei gerou uma controvrsia acalorada sobre a questo da poligamia, com uma oposio firme por parte dos defensores de gnero ao reconhecimento formal da poligamia. A lei acabou por estipular que o casamento uma unio monogmica. Os casais so livres de escolher o tipo de casamento que pretendem (civil, religioso ou tradicional). A idade legal para o casamento para ambos os sexos de 18 anos e a lei requer o pleno consentimento de ambos os nubentes, o que significa que ningum ser forado a casar contra a sua vontade. O princpio estabelecido pela lei que o agregado familiar chefiado por ambos os cnjuges; por esta razo os cnjuges devem apoiar-se mutuamente e so reciprocamente obrigados a contribuir para as despesas da casa e a participar na gesto da vida familiar. Ambos os parceiros tm o direito de administrar as propriedades do casal de forma igual. Violncia domstica, adultrio e abandono do lar por mais de um ano constituem matria suficiente para divrcio. Contudo, um homem no se pode divorciar da sua esposa se ela estiver grvida ou durante o primeiro ano de vida do fi lho (excepto se a gravidez for resultado de adultrio). Todas as crianas tm o direito de ser registadas nascena e o poder parental deve ser exercido de forma igual pelo pai e pela me; em caso de divrcio os pais devem decidir com quem a criana ir viver e quem ir assegurar o sustento. Embora a lei esteja a contribuir assim para uma maior igualdade de gnero, a prtica parece mostrar que a lei no tem sido capaz de resolver todos os problemas das mulheres. A Liga Moambicana dos Direitos Humanos (LDH) reporta que muitas das mulheres beneficirias procuram assistncia legal para resolver disputas conjugais e conflitos relacionados com a Lei da Famlia (por exemplo, divrcio, penso de alimentos, processos de paternidade, pagamento de mensalidade para os fi lhos, registo de nascimento, etc.).145 A lei tambm introduz um novo conceito:
143
J em 1998 o Frum Mulher lanou uma campanha de advocacia extensiva para assegurar que as propostas inclussem a igualdade de gnero. Em 2001, o debate sobre a poligamia foi publicado em vrias reportagens dos mass media. Ver por exemplo o Metical, 27 de Julho de 2001 Opinio por Judite Cristvo. Ver tambm Porque a Poligamia Inaceitvel na Lei da Famlia artigo de da Silva, T et al. in Outras Vozes, suplemento, # 8 (2004) pgs. 25-27.
144
Para uma discusso pormenorizada ver A Brief Overview of the New Family Law in Mozambique artigo de Levi, M.B. in Outras Vozes, suplemento, # 8 (2004) pgs. 28-31. Liga Moambicana dos Direitos Humanos (LDH), Relatrio sobre os Direitos Humanos em Moambique 2003, pg. 70. Moambique participou em vrias conferncias da ONU que resultaram na ratificao de declaraes sobre os direitos humanos e os direitos das mulheres tais como: Conferncia Mundial das Naes Unidas sobre os Direitos Humanos (Viena, 1993); Vienna+5 (Nova Iorque, 1998); Conferncia sobre Populao e Desenvolvimento (Cairo, 1994); Cairo+5 (Nova Iorque, 1999); Cimeira Social (Copenhaga, 1995); Conferncia Mundial sobre as Mulheres e o Desenvolvimento (Pequim, 1995); Beijing +5 (Nova Iorque, 2000), Beijing+10 (Nova Iorque, 2005), Cimeira sobre a Globalizao (Genebra, 2000) e Conveno sobre os Direitos Civis e Polticos.
145
62
a unio de facto.146 O reconhecimento das unies de facto implica direitos a penso de alimentos e herana por parte dos fi lhos, que tm de ser pagos do patrimnio/dos bens que o falecido tinha em conjunto com a esposa legal, o que cria potenciais conflitos entre as diversas parceiras do homem. Outra coisa: pode-se considerar que os homens que no esto casados mas tm vrias amantes vivem em unies de facto, o que significa que se tolera uma forma velada de poligamia. A Liga Moambicana dos Direitos Humanos tambm reporta que apesar das campanhas de consciencializao pblica muitas mulheres particularmente das reas rurais continuam a no estar informadas sobre a lei, pelo que aspectos importantes da lei no so aplicados. Um exemplo disto o problema de casamentos forados e casamentos prematuros que continua a existir.147 Outros assuntos que ainda requerem regulao atravs de uma legislao apropriada incluem violao da esposa, assdio sexual, aquisio de nacionalidade e discriminao econmica contra as mulheres. A violao legalmente proibida mas a lei no reconhece a violao dentro do casamento, i.e. a violao pelo esposo ainda no considerada um crime. A violao punida nos termos da lei com pena de priso que vai de 2 a 12 anos, dependendo da idade da vtima. Tal como acontece com a violncia domstica e o estupro das raparigas na escola, a lei sobre a violao no cumprida efectivamente e poucos casos so julgados em tribunais, dado que muitas famlias preferem resolver tais problemas em foro privado atravs de remunerao financeira em vez de recorrer ao sistema formal de justia.148 Embora o assdio sexual seja ilegal e generalizado, poucos casos so levados ateno pblica e justia pelas mulheres. Outras reas de discriminao incluem a nacionalidade: ao abrigo da lei actual, concedida a cidadania a uma mulher estrangeira casada com um moambicano mas no a um homem estrangeiro casado com uma cidad nacional. Diferenas salariais, pelas quais as mulheres auferem salrios inferiores aos dos homens pelo mesmo trabalho, tambm devero ser abordadas na presente reviso da Lei do Trabalho. Outro assunto crtico a viuvez. Em muitas partes do pas a morte associada a foras malignas; ela vista como resultado do feitio da mulher. Neste contexto, tanto a viva como a famlia precisam de um tratamento especial atravs de rituais de purificao que purificam a viva e a famlia de influncias negativas.149 Outras regies adoptaram o levirato ou o sororato com vista a conservar os recursos da famlia e evitar a fragmentao dos bens do falecido.150 A homossexualidade no publicamente discutida e os artigos 70 e 71 do Cdigo Penal criminalizam a homossexualidade masculina com penas at trs anos de priso numa instituio de reeducao, onde se
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O termo unio de facto significa uma relao entre um homem e uma mulher que embora estejam em posio de poder casar no o fizeram; para ser reconhecida pela lei esta relao deve ter durado pelo menos um ano. Depois de um ano, se o casal tiver um filho, este dever ser registado como filho de ambos os pais exactamente como se eles fossem casados. As regras que se aplicam comunho de bens adquiridos so aplicveis a qualquer bem adquirido pelo casal. Ver A Brief Overview of the New Family Law in Mozambique artigo publicado por Levi, M.B. in Outras Vozes, suplemento, # 8 (2004) pgs. 28-31.
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Bureau of Democracy, Human Rights and Labour, Country Report on Human Rights Practices 2005, (8 March, 2006). A Lei da Famlia estabelece a idade mnima para o casamento civil de 18 anos, mas pessoas entre os 16 e os 18 anos casam-se com consentimento dos pais. Contudo, casamentos prematuros e forados persistem, particularmente nas provncias do norte e nas comunidades muulmanas e do sul asitico.
148 149
Bureau of Democracy, Human Rights and Labour, Country Report on Human Rights Practices 2005, (8 March, 2006). No Sul os rituais de purificao so conhecidos por kubassisa no Norte so conhecidos por namurapi. Ambos envolvem a prtica de relaes sexuais entre a viva e o purificador (normalmente um membro da famlia). Ver tambm Tembe, E. O Significado da Viuvez para as Mulheres in Outras Vozes, suplemento, # 8 (2004) pgs. 36-38.
150
Levirato a prtica pela qual a viva casa com o irmo do falecido esposo; nos sistemas sororato o vivo tem o direito de levar como esposa a irm da falecida mulher.
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recorre a trabalhos pesados para mudar o comportamento aberrante dos prisioneiros. A homossexualidade feminina no mencionada no cdigo penal. Contudo, a primeira conferncia pblica sobre homossexualidade foi organizada pela Liga Moambicana dos Direitos Humanos em Outubro de 2006. No h absolutamente nenhum debate pblico relativo a questes de bissexualidade e transgnero. 7.3. Violncia com base no gnero O movimento feminino h muito que se interessa pela eliminao da violncia com base no gnero. A violncia com base no gnero qualquer forma de violncia contra a mulher que inspirada ou legitimada pelos mecanismos que subordinam as mulheres. Assim, a violncia com base no gnero uma expresso das relaes desiguais de poder e dos papis de gnero desequilibrados entre homens e mulheres. muito difcil ter uma ideia clara do nmero de mulheres sujeitas a violncia com base no gnero, dado que em muitos casos esta no reportada. Contudo, estima-se que uma em cada quatro mulheres em Moambique seja vtima de violncia pelo menos uma vez na vida. Esta alta incidncia consistente com a grande percentagem de homens e mulheres que tm uma atitude de aceitao perante a violncia domstica. De facto, ao nvel nacional 54% das mulheres entre 15-49 anos referiram que se justifica ser espancada pelo esposo/parceiro por razes tais como roubar comida, discutir, sair de casa sem informar o marido, recusar-se a ter relaes sexuais e no cuidar dos fi lhos. As mulheres rurais tendem a aceitar mais a violncia domstica que as mulheres urbanas, com 57.5% das mulheres rurais a aceitarem comparado com 48% das mulheres urbanas. interessante notar que a mesma fonte revela que os homens aceitam menos a violncia domstica, pois apenas 41.5% dos homens com idade igual ou superior a 15 anos dizem que se justifica bater esposa com base nos argumentos apresentados acima. A fonte tambm constata esta discrepncia em relao recusa a ter relaes sexuais como razo de violncia domstica: de acordo com o Inqurito Demogrfico de Sade de 2003, 34% das mulheres concordam que se justifica serem espancadas se se recusarem a manter relaes sexuais com os respectivos parceiros comparado com 17.5% dos homens.151 Desde a Conferncia de Pequim em 1995, o movimento das mulheres em Moambique tem estado interessado na eliminao da violncia com base no gnero. O movimento adoptou uma abordagem multi-facetada: por um lado, montou uma campanha extensiva de advocacia para uma Lei da Famlia sensvel ao gnero. Essa lei essencial para eliminar a violncia com base no gnero, uma vez que define as relaes entre os cnjuges e a famlia como a unidade bsica da sociedade na qual os indivduos so socializados e aprendem papis de gnero. Por outro lado, tambm empreendeu vrios estudos profundos sobre a violncia domstica para aprofundar a compreenso do fenmeno, identificar as suas variadas formas, compreender quer as causas quer a interaco entre a vtima e o perpetrador.152 Graas a estes estudos, as aces de advocacia foram baseadas nas pesquisas e deram-se contributos realistas lei. Alm disso, vrias OSCs formaram a iniciativa Todos Contra a
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INE, DHS 2003, indicadores 53-54. Citado em UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique (Maputo, 2005). WLSA realizou uma pesquisa extensiva sobre as causas e medidas para fazer face violncia domstica. Ver em particular Meja, M., Osrio, C. e Artur, M.J. No sofrer caladas! Violncia Contra Mulheres e Crianas: denncia e gesto de conflitos (Maputo, 2004).
152
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Violncia que estabeleceu unidades especiais em algumas unidades sanitrias que providenciam servios de aconselhamento especializados para apoiar as vtimas de violncia. Criaram-se unidades especiais nas esquadras da polcia que oferecem vrios servios de aconselhamento s vtimas de violncia domstica e do abuso.153 Estas unidades nas esquadras da polcia tm resultados muito positivos, o que significa que haver necessidade de alargar a cobertura geogrfica. So necessrios recursos adicionais para maximizar os resultados: ser importante melhorar as condies materiais nas unidades, aumentar o nmero de horas de abertura, e continuar a investir na formao dos agentes da polcia.154 Foram organizadas vrias formaes sobre os direitos humanos e das mulheres para agentes da polcia e oficiais da justia, tanto pela sociedade civil como pelo Governo. O Frum Mulher est actualmente a disseminar uma campanha de lobby para a aprovao de uma lei que ir criminalizar a violncia domstica e a violncia com base no gnero. 7.4. Acesso justia Esforos para assegurar a reviso e emendas das leis para proteger os direitos das mulheres s sero teis na medida em que a legislao for aplicada na prtica. Os direitos das mulheres e os direitos humanos em geral no devem ser vistos somente em termos de direitos formalmente institudos, mas tambm em termos do cumprimento da lei, acesso justia e educao legal. Existem vrias iniciativas para tornar o sector da justia mais acessvel e eficaz, incluindo Pro Justia,155 um programa da UE/do PNUD para apoiar o acesso dos cidados justia; e o futuro projecto do Banco Mundial que foca a formao de juzes. De um modo geral, o gnero tratado como um assunto transversal. H vrias iniciativas para fortalecer a defesa dos direitos humanos, incluindo a criao do Departamento para a Promoo e o Desenvolvimento dos Direitos Humanos dentro do Ministrio da Justia em 2004; a preparao da legislao para criar a futura Comisso Nacional dos Direitos Humanos e mais recentemente, em Abril 2006, a promulgao da lei que prev a criao do cargo de Provedor de Justia. Contudo, algumas incertezas prevalecem sobre a sua adequao/pertinncia e o seu funcionamento apropriado. Seria importante estabelecer mecanismos para assegurar que se coloque a devida nfase na igualdade de gnero e nos direitos humanos das mulheres.
153
Estas unidades so conhecidas como Gabinetes de Atendimento e Aconselhamento para as Vtimas da Violncia Domstica e do Abuso Sexual. So integradas nas esquadras da polcia, geridas e financiadas pelo Ministrio do Interior. Onde for possvel, so geridas por mulheres polcias que oferecem vrios tipos de servios incluindo aconselhamento psicolgico, mediao, assistncia legal para as mulheres que desejam apresentar queixas de pessoas por tentativa de estupro ou violao, e encaminhamento para servios mdicos. Aproximadamente 20 foram estabelecidas a nvel do pas.
154
A formao afecta a maneira como uma queixa recebida e processada. Com demasiada frequncia, a prtica prevalecente persuadir a vitima a aceitar a mediao e reconciliao, mesmo quando a violncia sistemtica. Estima-se que apenas 10% dos casos de violncia contra mulheres sejam encaminhados para a polcia de investigao criminal para aprofundar as investigaes e eventualmente realizar julgamentos no tribunal, enquanto 60% das queixas feitas por homens contra mulheres so encaminhadas para as autoridades mais altas. Osrio, C. Some Reflections on the working of the Assistance Centres for Victims of Domestic Violence, 2000-2003 artigo publicado in Outras Vozes, suplemento, # 8 (2004) pgs. 1-7.
155
Grande parte do apoio ao sector da justia financiada por doadores escandinavos, tais como o Pro Justia (Danida), i.e. um programa com componentes no fortalecimento da planificao estratgica e reforma da lei, reforo do sector da justia, promoo e defesa dos direitos humanos, e melhoria das condies do acesso justia atravs de tribunais formais, bem como de mecanismos informais/locais de resoluo de conflitos. A Sucia apoia a criao do Provedor da Justia e da Comisso dos Direitos Humanos.
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A Constituio de 1990 mantm o princpio de no-discriminao, tal como a CEDAW que entrou em vigor em Moambique em 1997. Toda a legislao deve ser harmonizada com a Constituio e domesticada para se alinhar com a CEDAW; embora o processo de reviso legal seja lento, algumas leis-chave j foram revistas, tais como a Lei de Terras, a Lei do Trabalho, o Cdigo Comercial e a Lei da Famlia. A Lei da Famlia introduz algumas novidades importantes que regulam as dimenses de gnero, mas o seu impacto ainda limitado pela conscincia insuciente dos direitos e deveres consagrados na nova lei e muitas mulheres ainda no conhecem as ramicaes precisas da lei. Outros assuntos que devem ser urgentemente abordados so a violao pelo esposo, o assdio sexual, salrios mais baixos para as mulheres em relao aos homens no mesmo trabalho, a aquisio de nacionalidade (no concedida a nacionalidade moambicana ao cidado estrangeiro casado com uma cidad nacional) e a viuvez. Como resultado de uma campanha sustentada pela sociedade civil, a violncia domstica est a ser cada vez mais reconhecida como uma prioridade. Aps a criao de locais de aconselhamento nas esquadras pelo Ministrio do Interior, a sociedade civil est agora a fazer lobby para conseguir o reconhecimento urgente da violncia domstica como crime. O primeiro passo o reconhecimento pela Lei da Famlia que a violncia domstica constitui uma base que justica o divrcio. Outra rea prioritria a integrao do gnero na recm-criada Comisso Nacional de Direitos Humanos e na funo de Provedor de Justia.
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Exemplos de iniciativas especficas usando TICs para promover a igualdade de gnero so: iniciativas de comrcio electrnico que ligam as mulheres artistas e produtoras directamente aos mercados globais atravs da Internet e apoio s suas actividades com informaes sobre mercados e produtos; programa de governao electrnica, em alguns casos com uma estratgia explcita, para assegurar que estes servios cheguem s mulheres e a outras pessoas que enfrentem barreiras ao acesso, troca de informaes e dilogo atravs de e-mail, boletins informativos e listserves online entre mulheres em diferentes pases permitem a colaborao e a convergncia de esforos a nvel regional para lutar pela agenda para a igualdade de gnero.
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8.1. O acesso das mulheres s TICs Em Moambique 80% de todas as mulheres vivem em reas rurais onde o nmero de computadores e linhas telefnicas virtualmente insignificante. As escolas rurais no tm computadores, visto que as escolas fora da capital administrativa distrital no esto ligadas rede nacional devido sua localizao remota. Embora seja verdade que a populao rural como um todo est largamente excluda das TICs, as mulheres tm claramente um acesso muito mais limitado. Tal situao deve-se principalmente ao alto ndice de analfabetismo entre as mulheres rurais, mas tambm se deve em parte aos valores culturais que confinam a tecnologia e iniciativas inovadoras esfera de influncia masculina. Para ilustrar este ltimo exemplo, a consultora notou que nos raros casos em que h computadores disponveis, tal como nos locais de formao ou em centros administrativos, estes so vistos como um smbolo de estatuto, sendo por essa razo frequentemente instalados no escritrio do superior hierrquico, mesmo que esta pessoa no saiba usar o computador. Nos ltimos anos o nmero de telefones fi xos duplicou e a companhia estatal de telefones, Telecomunicaes de Moambique TDM, emitiu recentemente vrias licenas com vista a permitir que pequenas lojas possam revender chamadas atravs de telefones pblicos equipados com contadores. Regista-se igualmente um crescimento muito rpido do nmero de assinantes de telefones celulares. O facto de haver diversificao de opes no uso de telefones a pr-pagamento, incluindo valores pequenos como 50 Mts (aproximadamente 2,5 USD), tornou os telefones celulares acessveis a grande parte da populao, incluindo as mulheres.157 Os telecentros so frequentemente considerados como instrumentos primrios que permitem aos grupos pobres e marginalizados beneficiar das TICs.158 Consequentemente, a introduo de telecentros nas reas rurais considerada como um meio para acelerar o desenvolvimento rural e reduzir os desequilbrios entre a cidade e o campo. No mbito da Iniciativa Accia abriram-se dois telecentros piloto em duas pequenas comunidades, Namaacha e Manhia, para criar experincias e em ltima anlise avaliar a abordagem do telecentro.159 A experincia Accia demonstra que ter pessoal do sexo feminino nos telecentros no assegura automaticamente um maior acesso ou uso das TICs pelas mulheres. Uma avaliao dos telecentros constatou que as mulheres representam menos de 1/3 dos utentes mesmo com recurso a formadoras/facilitadoras e a materiais de formao orientados para mulheres. A avaliao indicou que o uso das TICs altamente determinado por uma srie de factores tais como barreiras socioculturais, custo e percepo da relevncia do acesso s TICs.
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De facto, cartes pr-pagos em pequenas quantidades convm muito s mulheres, uma vez que estas frequentemente fazem as despesas dos seus agregados familiares numa base diria ou semanal, preferindo comprar alimentos e outros produtos bsicos com regularidade a comprar em grandes quantidades. Tal estratgia est muitas vezes relacionada com o facto de as mulheres normalmente no controlarem os rendimentos dos agregados familiares, mas receberem uma semanada para as despesas do agregado familiar.
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Telecentros so centros baseados na comunidade equipados com equipamento TIC que providenciam o acesso a telefone, fax, e-mail, Internet, uso de computadores, instalaes para impresso e fotocpia e so tambm frequentemente usados como um pequeno centro de recursos/biblioteca. Normalmente ministram cursos bsicos de informtica aos clientes a um custo com base no mercado ou subsidiado.
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Ambas as comunidades esto localizadas na regio sul, cerca de uma hora de distncia de carro de Maputo. Uma Namaacha situada perto da fronteira com a Suazilndia e a outra Manhia e situa-se ao longo da auto-estrada principal (estrada nacional nmero 1). Em tais contextos dinmicos, o acesso informao um factor crtico que permite s pessoas aproveitar as oportunidades econmicas. A Iniciativa Accia um esforo internacional encabeado pelo Centro Internacional de Pesquisa de Desenvolvimento (IDRC) para empoderar as comunidades da frica Subsariana no sentido de usarem as TICs para o seu prprio desenvolvimento social e econmico. Esta iniciativa pilotada em Moambique, no Senegal, na frica do Sul e no Uganda. Em Moambique implementada pelo Frum Mulher.
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Tal como nas restantes partes do mundo, a experincia em Moambique mostrou que h factores socioculturais que impedem o uso das TICs pelas mulheres, particularmente nas rurais reas: Atitudes culturais que discriminam contra o acesso das mulheres tecnologia e educao tecnolgica esta situao est evidente nos altos ndices de analfabetismo feminino e na tendncia das raparigas para desistncia aps o ensino bsico; menos provvel que as mulheres possuam meios de comunicao rdio, telefones celulares; As mulheres dos agregados pobres no auferem rendimentos que lhe permitam usar as infra-estruturas pblicas; As responsabilidades domsticas das mulheres limitam o gozo dos tempos livres os centros podem estar abertos em horas que no convenham s mulheres; Os centros de informao podem estar situados em lugares onde as mulheres no se sintam vontade ou que sejam distantes das suas casas; Muitas mulheres no usam as instalaes noite, dado que se considera no ser apropriado estar fora de casa depois do pr-do-sol e elas no querem voltar para casa quando j est escuro. Em termos prticos, estes constrangimentos podero requerer estratgias que num lugar signifiquem o recrutamento de mulheres como gestoras de telecentros e noutros possam significar horrios s para mulheres ou espao s para mulheres; isto poder requerer formaes e encontros separados para homens e mulheres. O mais importante que no existe uma nica soluo e que so necessrias estratgias flexveis para satisfazer as necessidades especficas que existem no seio da comunidade. O custo outro factor que influencia a determinao do nvel do uso das TICs. Muitos telecentros cobram valores monetrios e os preos so relativamente altos, devido s altas tarifas que resultam do monoplio governamental das linhas fi xas. Uma ideia se os telecentros conseguirem atrair uma variedade de clientes, poder ser possvel calcular os preos de uso com base numa miscelnea de servios e as potenciais estruturas do custo com base em subsdios cruzados. Alm disso, as mulheres das reas rurais remotas no esto apenas sujeitas ao prerio do telecentro, mas tambm aos custos de transporte.160 Esta situao levanta duas questes fundamentais: ser que as mulheres rurais tm meios para pagar os servios (considerando que elas tipicamente tm poucas oportunidades para receber em dinheiro) e ser que a aplicao do seu dinheiro nas TICs responde a uma necessidade estratgica? Estas questes levantam a pergunta inevitvel: ser que a informao disponvel nos telecentros relevante e til para as mulheres? A experincia Accia constatou que contedos apropriados que permitam s mulheres encontrar melhores oportunidades educacionais e econmicas so vitais para tornar os telecentros relevantes para as mulheres. Por exemplo, na Manhia a utilizao das TICs pelas mulheres nos telecentros aumentou substancialmente quando um grupo de
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Por exemplo, um telecentro na Vila de Manica (Provncia de Manica) reportou srios problemas de conexo. A linha de conexo de Internet vai-se frequentemente abaixo e de fraca qualidade. Isto tem implicaes para os utentes com menos recursos, particularmente as mulheres rurais. Por exemplo, se uma mulher que viva numa vila desejar usar os equipamentos do telecentro, obrigada ou a percorrer grandes distncias ou a investir no transporte (50 Mtn para uma ida e volta). Em tais casos, pouco provvel que ela volte ao telecentro numa outra ocasio para ver se o servio est disponvel mais tarde.
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mulheres comeou a recolher informaes sobre ervas e caractersticas medicinais das plantas e culturas que poderiam ser transformadas em produtos comerciais. A adaptao e simplificao da informao (descarga, simplificao, traduo e adaptao da informao para as lnguas locais) so passos igualmente cruciais para melhorar a relevncia e portanto o uso dos telecentros. Contudo, isso levanta a questo de se saber se a gesto dos telecentros poderia ser sensvel s necessidades de informao das mulheres e vontade de interpretar a informao disponvel na Internet,161 exerccio que consome tempo. Ao fornecer s mulheres acesso a fontes virtualmente ilimitadas de informao, os telecentros ajudam a preencher as necessidades de capacitao amplas, no somente formao bsica no uso de computadores. Os telecentros podem tambm fornecer s mulheres informaes exactas e pormenorizadas sobre sade, educao, programas de OSCs, apoios do Governo, etc. Existe aparentemente em Moambique uma grande procura deste tipo de informaes relacionadas com servios de apoio s mulheres. O Frum Mulher e outras OSCs compilaram uma lista de recursos existentes, tais como websites geridos por organizaes da sociedade civil que oferecem assistncia legal s mulheres, por exemplo a MULEIDE, AMMCJ, ORAM.162 Contudo, este tipo de interaco electrnica com outras instituies requer que as ligaes sejam robustas. Por exemplo, se uma mulher encontrar informaes na Internet sobre a existncia de uma unidade especial dentro da esquadra da polcia onde as vtimas de violncia domstica possam apresentar queixa e se ela decidir usar estes servios, os servios tm de facto de existir e devem providenciar servios com a qualidade descrita na Internet. 8.2. Integrao da igualdade de gnero nas polticas, nas estratgias e nos programas das TICs Integrar a igualdade de gnero nas TICs no meramente garantir um maior uso das TICs pelas mulheres, tambm transformar o sistema das TICs. Isso envolve mltiplas intervenes de vrios actores, incluindo: Polticas governamentais das TICs com uma perspectiva forte de gnero e engrenadas com a sociedade civil; Distribuio de estratgias de gnero claras na concepo, implementao e avaliao dos programas e projectos das TICs; Recolha de informaes com estatsticas desagregadas por sexo e indicadores de gnero sobre acesso, uso e contedos das TICs, sobre emprego e educao; Considerao das questes de gnero nas polticas das TICs/comunicaes, representao na tomada de deciso nas telecomunicaes/ TICs;
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A Internet pode tambm ajudar as mulheres produtoras a obter acesso a grandes mercados para distribuio dos seus bens e servios. Por exemplo, podem ser criadas redes de comunicao no seio das Organizaes Baseadas nas Comunidades (OBCs) das mulheres para publicarem os seus produtos. As OBCs podem equipar as mulheres com telefones celulares e ensinar como telefonar para uma central de informao que dispe de informaes sobre mercados e preos; o uso dos telefones celulares pelas mulheres pode permitir-lhes chegar aos mercados urbanos mais lucrativos mesmo sendo distantes. Os websites so desenvolvidos de forma a inclurem nos seus contedos informao sobre a criao de animais de pequeno porte, servios veterinrios e outras informaes prticas. De momento, tais oportunidades de empoderamento econmico esto apenas disponveis aos poucos indivduos que possuem computadores e conhecimentos de ingls. Com vista a chegar s mulheres rurais em Moambique, essa informao teria de ser traduzida para portugus, agrupada e adaptada para formatos de leitura mais simplificados e prontos para serem aplicados.
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Associao Mulher, Lei e Desenvolvimento (MULEIDE), Associao Moambicana de Mulheres de Carreira Jurdica (AMMCJ), ORAM uma OSC que assiste as comunidades no registo do ttulo de terras.
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Combinao das TICs com formas alternativas de comunicao social tais como rdio, drama, etc. para maximizar o alcance nas reas rurais e responder aos altos ndices de analfabetismo; Produo de programas dos mass media em lnguas locais, com contedos ajustados para reflectir realidades rurais e estratgias de reduo da pobreza; Formao de quadros dos mass media para descrevem as mulheres como cidads activas e empoderadas e modelos apropriados para serem seguidos; Promoo do uso da Internet e das TICs integrando a competncia necessria no currculo escolar e atravs do fornecimento de computadores. Sendo um sector relativamente novo, a capacidade interna/local para abordar as questes da igualdade de gnero ainda limitada. Contudo, uma excepo digna de nota o projecto da Rede de Informaes sobre a Terra e a Agricultura (LAIN),163 que incluiu uma anlise de gnero de grande escala. Tem por objectivo demonstrar a viabilidade de um sistema LAIN atravs da investigao de TICs apropriadas em aplicaes que apoiem a produtividade agrcola, a segurana dos direitos de uso de terra e oportunidades financeiras. Inclui o desenvolvimento de um portal de Internet para demonstrao e aplicaes que usem TICs num contexto agrcola, rural. 8.3. Oportunidades de emprego para as mulheres no sector das TICs H uma falta aguda de quadros formados nas reas de tecnologia de informao e comunicao em Moambique, e esta situao mais pronunciada nas provncias. H muito poucas companhias que desenvolvem novas ferramentas de TICs em Moambique, mas h alguns anos uma companhia situada em Maputo elaborou pacotes para facilitar o acesso Internet aos utentes no habilitados medida que pode ser importante aos telecentros destinados s mulheres rurais ou adaptados para melhor se enquadrarem com as necessidades especficas de diferentes grupos de utentes. A tecnologia de informao trouxe oportunidades de emprego para as mulheres, mas as tendncias internacionais destacam muitos desafios. O relatrio da Organizao Internacional de Trabalho (OIT) de 2001, Relatrio sobre o Trabalho na Nova Economia, observa as seguintes questes em relao ao sector da Tecnologia de Informao (TI): Os padres de segregao de gnero esto sendo reproduzidos na economia de informao, onde os homens ocupam a maior parte dos postos que exigem altas qualificaes e so de alto valor acrescentado, enquanto que as mulheres esto concentradas em postos com menos requisitos profissionais e de baixo valor acrescentado; As indstrias tradicionais de manufactura que antes empregavam mulheres esto a desaparecer gradualmente, as mulheres que conseguem empregos nas novas empresas relacionadas com as TICs raramente so as mesmas que perderam os seus empregos nos sectores tradicionais;
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O projecto teve incio em 2004 com financiamento do Programa para a Cooperao Industrial da Agncia Canadiana de Desenvolvimento Internacional (CIDA-INC) e foi realizado pelo Grupo de Desenvolvimento das TICs de RADARSAT International (RSI) em colaborao com a Direco Nacional de Geografia e Cadastro: DINAGEGA do Ministrio da Agricultura (MINAG).
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Novas desigualdades esto assim emergindo entre mulheres com competncia em empregos relacionados com as TICs e aquelas que no tm essa competncia/esses conhecimentos. Estes padres tambm parecem aplicar-se a Moambique: um tecto de vidro semelhante tambm existe no mercado de trabalho moambicano mantendo as mulheres empregadas em postos menos bem pagos e de baixo valor acrescentado. O sector da Internet e das TICs caracterizado por exigir um nvel alto de competncia, aprendizagem contnua e aumento contnuo de conhecimentos, o que pressupe acesso s oportunidades de educao e formao necessrias para equipar os indivduos para uma rea onde os requisitos em termos de competncia esto a mudar rapidamente. Assim as polticas devem encorajar as raparigas e as mulheres a usar as TICs logo no incio da sua educao e seguir estudos superiores nas reas das TICs e nas reas tcnicas como cientistas, pesquisadoras, administradoras e educadoras. De momento em Moambique h poucas mulheres profissionalmente activas nos campos cientfico e tecnolgico. A breve existncia do Ministrio do Ensino Superior e Tecnologia durante o perodo de 2000-2004 poder ter aumentado o nmero de mulheres no ensino superior, mas isso s surtir efeitos a longo prazo. Por outro lado, a abolio do ministrio em 2005 deixa muitas interrogaes. Evidentemente que algumas mulheres moambicanas tm capacidade para entrar no campo das TICs, exigindo postos de trabalho que a tecnologia est a criar, tais como criadores de websites, provedores de servios, especialistas multimdia ou trouble shooter na rea dos computadores em empresas. Estas mulheres tm tipicamente perfis especficos no sentido de que provm de meios ricos e urbanos e tm um alto nvel de educao e raramente exercem a sua profisso fora de Maputo. 8.4. As TICs e os mass media convencionais como uma ferramenta para a igualdade de gnero As organizaes das mulheres moambicanas esto gradualmente a comear a usar as TICs para alargar o seu acesso a fontes de informao. Usam as TICs para recolher e disseminar informaes relacionadas com o desenvolvimento que possam ser usadas para o desenvolvimento humano sustentvel e o empoderamento. Com o apoio dos doadores, tomaram-se algumas iniciativas para usar a Internet como uma ferramenta para advocacia e integrao/trabalho em rede (por exemplo, o Frum Mulher tem um website e distribui documentos e relatrios chave por via electrnica). Contudo, a Internet ainda vista principalmente como uma fonte de informao, no usada nem como um frum para um debate mais alargado nem como um lugar onde as OSCs possam publicar as suas ideais e convidar a um feedback crtico. Estas OSCs poderiam ainda beneficiar da Internet como um instrumento para melhorar a eficcia das suas aces de lobby, alargar o alcance das suas actividades de disseminao de informao e aumentar o grau em que esto integradas em redes e campanhas regionais e internacionais. Ao providenciar espaos para uma comunicao diversa e com uma comunicao a baixo custo, as TICs tambm podem dar maior espao s vozes das mulheres, e ajudar a publicar as experincias e perspectivas das mulheres. Hoje, a imprensa, a rdio e a TV ainda so os principais meios de informao usados por grupos de mulheres para a disseminao de informaes. A eficcia e o alcance podem ser melhorados combinando
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velhas tecnologias tais como rdio, televiso, jornais, revistas, etc. com novas tecnologias tais como Internet, telefones celulares, etc. Isso por sua vez levanta questes importantes sobre o acesso aos mass media convencionais nas reas rurais, particularmente entre mulheres rurais analfabetas e a produo de programas e mensagens dos mass media dirigidas populao rural analfabeta. Os homens tm muito mais acesso aos mass media do que as mulheres: 50% das mulheres adultas no tm acesso aos mass media, comparado com apenas 22% dos homens adultos. A falta de acesso especialmente pronunciada nas reas rurais, onde 63% das mulheres no tm acesso aos mass media comparado com 30% nas reas urbanas. Nas reas urbanas, apenas 9% dos homens no tm acesso aos mass media.164 De um modo geral, apenas um nmero muito limitado de pessoas tem acesso TV: 15% de todas as mulheres e 22.5% de todos os homens. Nas reas rurais o acesso TV muito baixo tanto para homens como para mulheres. Apenas 2% das mulheres rurais tm acesso televiso (comparado com 3% dos homens rurais).165 Alm do mais, a imprensa e a TV operam em portugus, embora apenas uma minoria da populao rural fale portugus (isto muito provavelmente uma consequncia do facto de a maior parte dos mass media estar concentrada em Maputo Cidade com apenas cobertura limitada das provncias). Tambm fonte de inquietao o facto de em Moambique at data s haver um pequeno nmero de mulheres que trabalham como jornalistas ou editoras, pelo que muitas das histrias e notcias so elaboradas por homens reproduzindo assim os papis de gnero tradicionais e esteretipos. Contudo, as entrevistas dadas pela Primeira-Ministra, muitas Ministras e a eleio de mulheres parlamentares vo gradualmente fortalecendo a percepo pblica de que as mulheres podem ser lderes eficazes e modelos a seguir para o empoderamento das mulheres. Mais de metade da populao total possui rdio, o que chama a ateno para a importncia deste meio. Os homens, contudo, tm mais acesso rdio que as mulheres, pelo que 46% das mulheres adultas escutam rdio pelo menos uma vez por semana comparado com 75% de homens adultos. A discrepncia de gnero maior nas reas rurais: 37% das mulheres rurais escutam rdio pelo menos uma vez por semana comparado com 68% dos homens rurais. Nas zonas urbanas 63% de mulheres escutam rdio uma vez por semana comparado com 85% dos homens. A Zambzia a provncia com menor nmero de mulheres que escutam rdio.166 A primeira rdio comunitria emitiu pela primeira vez em 1994; j em 2004 o nmero subira para 42. Em muitos casos, as rdios comunitrias usam telecentros para acederem a informaes que posteriormente passam na rdio. Muitas rdios comunitrias transmitem em lnguas locais e assim tm um grande pblico constitudo por mulheres. Uma rdio comunitria, Rdio Muthiyana, est especificamente dirigida s mulheres. Desde o seu lanamento em 2001, esta rdio tem emitido programas realizados por e para mulheres em portugus e shangana das 6 s 19 horas.167 Enquanto a rdio e a TV so de longe os meios de comunicao mais utilizados, apenas uma pequena parcela da populao tem acesso
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UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique, November 2005, indicadores 80-81. UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique, November 2005, indicadores 84-85. UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique, November 2005, indicadores 84-85. A Rdio Muthiyana foi iniciada pela Associao Moambicana da Mulher na Comunicao Social.
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imprensa escrita (jornais). Apenas 4% das mulheres adultas tm acesso aos jornais comparado com 11.5% dos homens.168 Isso deve-se em grande medida ao facto de os jornais serem produzidos em Maputo e posteriormente distribudos para o resto do pas. O Centro Africano dos Mass Media para Mulheres (sediado em Dacar) apoia desde 1997 mulheres jornalistas com formaes em tica jornalstica, advocacia, liderana atravs das TICs, etc., e parceiro da Associao dos Mass Media das Mulheres Moambicanas. A UNESCO e outras agncias gerem o Projecto dos Mass Media Moambicanos, cujo objectivo o fortalecimento de todos os aspectos do sector dos mass media, incluindo a capacitao para mulheres profissionais dos mass media. Estes programas de capacitao foram criados para responder aos desafios levantados em vrios estudos sobre a igualdade de gnero nos mass media.169 Uma controvrsia recente ilustra que muitas vezes os assuntos de gnero so mal interpretados pelos mass media com vista a ter ttulos sensacionalistas.170
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UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique, November 2005, indicadores 82-83. Por exemplo, Who Is Out There? (de Ana Monteiro) e Listen To Us, Too! (de Ruth Ayisi). Informaes adicionais esto disponveis do Projecto sobre os Mass Media www.mediamoz.com. A 16 de Fevereiro de 2006, o Presidente da Repblica de Moambique realizou uma reunio com organizaes de mulheres para discutir o HIV/SIDA. Na reunio, uma organizao sugeriu que fosse elaborada uma lei para regular a maneira como as mulheres se vestem, uma vez que a moda moderna de vestir incita prtica de violao sexual e adultrio. Na sua cobertura, os mass media sugeriram que este era o parecer das organizaes de mulheres em geral. O Frum Mulher reagiu publicando um anncio no Jornal Notcias para protestar contra os comentrios e clarificar que esta no era a posio de todas as organizaes de mulheres.
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9. Raparigas e Rapazes
9.1. Quadro legal e de polticas Moambique signatrio de vrios instrumentos internacionais tais como a CEDAW (1993), que prev a eliminao de todas as formas de discriminao contra as mulheres e as raparigas, a Conveno dos Direitos da Criana (1989), a Carta Africana dos Direitos e do BemEstar das Crianas (1998). Uma legislao geral relativa a crianas foi recentemente elaborada, com base nas recomendaes do relatrio inicial do Governo ao Comit dos Direitos da Criana.171 Durante a dcada passada, operaram-se progressos significativos no desenvolvimento de um quadro nacional legislativo e de polticas que respondesse s necessidades de desenvolvimento das crianas. Por exemplo, a reduo da mortalidade infantil um dos Objectivos do Desenvolvimento do Milnio e foi includa no PARPA II e no PES. Alm disso, o MMAS desenvolveu um Plano de Aco para Crianas rfs e Vulnerveis (COVs) 2005-2010. Em consonncia com a Estratgia de Aco Social para Crianas172 o plano encoraja a integrao de rfos em famlias e comunidades, focando assim no fortalecimento dos mecanismos comunitrios e na prestao de apoio directo s crianas mais vulnerveis. Define tambm os servios bsicos (sade, educao, nutrio e apoio alimentar, apoio financeiro, e aconselhamento legal e psicolgico) e padres mnimos de cuidados para as COVs. Os servios so coordenados pelo Ministrio mas em geral so implementados pelas OSCs e pelos parceiros. 9.2. Crianas rfs e vulnerveis Contudo, em todo o pas as crianas continuam a enfrentar grandes desafios. A UNICEF estima que 58% das crianas em Moambique vivam abaixo da linha de pobreza, comparado com 49% dos adultos.173 A UNICEF estima que 4 milhes num universo de 10 milhes de crianas e adolescentes menores de 15 anos sejam consideradas vulnerveis.174 Frequentemente estas crianas encontram-se em situaes de explorao. O Governo de Moambique estima que 1,6 milhes de crianas sejam rfs, das quais 370.000 perderam um ou ambos os pais vtimas de
UNICEF, Draft Country Programme Document (2007-2009), March 2006, pg. 3. Aprovada pela Resoluo 8/98. UNICEF, Draft Country Programme Document (2007-2009), March 2006, pg. 2. www.unicef.org ver informaes sobre Moambique.
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SIDA.175 medida que o SIDA continua a fazer vtimas, cada vez mais crianas vo perdendo os pais, passando em muitos casos a assumir a responsabilidade pelos membros mais novos da famlia. Ao mesmo tempo que enfrentam dificuldades no acesso aos servios sociais bsicos tais como sade, educao, alimentos, servios de assistncia legal e psico-social, os rfos esto cada vez mais a assumir responsabilidades pesadas por outros membros da famlia. Para o grande nmero de crianas no registadas nascena, o acesso aos servios sociais ainda mais complicado. Por esta razo, em 2005 o Governo e a sociedade civil empenharam-se numa campanha nacional de grande escala, encorajando as famlias a registar todas as crianas e permitindo a regularizao do registo das crianas no registadas sem custos ou com custos mnimos. Embora esta campanha tenha sido muito bem sucedida,176 muitas crianas nas reas remotas permanecem no registadas devido a vrios problemas prticos (por exemplo, a percepo de que o registo implica custos e procedimentos complexos, longas distncias a percorrer para chegar s autoridades administrativas, etc.) e devido descentralizao insuficiente do registo. A Liga Moambicana dos Direitos Humanos (LDH) reporta que aproximadamente 5% de todos os pedidos de assistncia legal esto relacionados com o registo de crianas e que 87% destes casos so trazidos por mulheres.177 O trabalho infantil proibido, mas no ano 2000 o Ministrio do Trabalho encontrou casos de trabalho domstico infantil, prostituio infantil e crianas a trabalhar em farmas comerciais.178 Embora no haja estatsticas exactas disponveis, existe evidncia anedtica suficiente recente que ilustra que muitas raparigas jovens, particularmente as rfs, so foradas a deixar a casa paterna para ajudar os parentes com trabalho domstico tanto nas cidades com nas reas rurais. Em muitos casos raparigas, com 10 anos de idade, assumem o encargo dos trabalhos domsticos, tais como acarretar gua e arranjar lenha para cozinhar, lavar e fazer limpeza. As crianas tambm reportam que os rfos so frequentemente maltratados pelas madrastas.179 Muitas crianas so empregadas em farmas comerciais, mas como se trata de empregos sazonais ou temporrios, o seu trabalho no est formalmente registado e no existem estatsticas oficiais.180 Entre as raparigas em particular h uma tendncia crescente para recorrer a estratgias negativas de sobrevivncia tais como casamento prematuro, sexo comercial e formas prejudiciais de trabalho. Estas prticas prejudiciais devem-se em grande parte ao facto de as crianas, e especialmente as famlias chefiadas pelas raparigas rfs, terem opes limitadas de estratgias de sobrevivncia e meios de gerao de rendimentos.181 Embora os rapazes sejam considerados menos vulnerveis, uma vez que conseguem emprego formal mais facilmente, evidncia
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O Governo de Moambique define rfo como um menor que perdeu um ou ambos os pais. Durante a campanha de 2006, foram oficialmente registadas 40.000 crianas que ainda no estavam registadas. Country reports on Human Rights Practices released by Bureau of Democracy, Human Rights and Labour (8 March 2006).
Liga Moambicana dos Direitos Humanos, Relatrio sobre os Direitos Humanos em Moambique 2003, pg. 70. www.unicef.org ver informao sobre Moambique. Van den Bergh Collier, E. and MacAskill, J. Country Case Study Report on the INAS Food Subsidy Programme in Mozambique (2005); disponvel nos seguintes websites: www.savethechildren.org.uk e www.isd.ac.uk. Em Chokw (Provncia de Gaza) por exemplo as crianas ajudam os pais a colher tomate a 2 Mtn por caixa, ganhando assim 10 Mtn diariamente (0,40 USD). Evidncia anedtica encontrada pela autora em vrios estudos de campo em Nampula (2004, 2005, 2006) e Tete (2005) sugere que prticas semelhantes ocorrem nas plantaes de tabaco e algodo noutras zonas do pas. O exemplo de Chokw produto do trabalho de campo levado a cabo no mbito do Country Case Study Report on the INAS Food Subsidy Programme in Mozambique (2005).
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MMAS & UNICEF, A Study of Community Coping Capacity for the Care and Protection of Orphans and Vulnerable Children in the Context of HIV/AIDS, (September, 2004).
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anedtica indica que os rapazes rfos e vulnerveis enfrentam srias dificuldades para conseguir emprego, acabando por entrar em contacto com uma vida de rua arriscada e por cometer pequenos crimes. Formas de violncia contra crianas e abuso de crianas Organizaes tais como a Rede CAME e a LDH reportam uma crescente incidncia da prostituio infantil devido vulnerabilidade crescente das crianas pobreza, particularmente em Maputo, Beira, Nampula, Nacala ao longo das rotas comerciais de transporte e locais de obras de construo de estradas e pontes.182 Embora no haja dados especficos em Moambique, as tendncias mundiais indicam que a prostituio comum afecta mais as mulheres, enquanto que os rapazes so mais afectados pelo turismo sexual. As crianas prostitutas esto frequentemente merc dos agentes da polcia e em alguns casos tem-se reportado que as raparigas acusadas no eram separadas dos outros prisioneiros.183 O trfico de crianas para os pases vizinhos est-se a tornar uma preocupao crescente em Moambique.184 Moambique conhecido como um pas de origem para os traficantes mas pouco se sabe sobre a situao e necessrio quantificar o fenmeno e sensibilizar as pessoas nesse sentido. Algumas fontes referem que as raparigas so particularmente alvo do trfico humano (trafficking), uma vez que so seduzidas para a prostituio, servios domsticos ou casamentos forados; evidncia anedtica sugere que os rapazes tambm so vulnerveis ao trfico humano devido ao seu interesse em encontrar emprego nos pases vizinhos.185 Desde 1999, um nmero crescente de esquadras da polcia tem beneficiado de unidades especiais onde as mulheres podem fazer queixa dos perpetradores de violncia domstica e receber apoio psico-social e/ aconselhamento legal. Estes Gabinetes de Atendimento reportam que a nvel nacional raparigas e crianas pequenas so frequentemente vtimas de violncia e abuso sexual no seio das suas famlias.186 A educao considerada a melhor proteco contra a violncia e o abuso das crianas. Vrias iniciativas foram levadas a cabo para elevar a conscincia entre crianas e adolescentes, pais e conselhos escolares.187 Infelizmente, o abuso de raparigas nas escolas cometido por professores e outros estudantes mantm-se muito generalizado188 e em muitos casos as mulheres vtimas so culpadas ou incitadas a aceitar formas de mediao insatisfatrias, que no abordam os aspectos subjacentes das relaes de gnero que deixam as mulheres mais vulnerveis e tornam a violncia aceitvel na sociedade.189
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9.3.
Ver o artigo Pas sob risco de se tornar em corredor de turismo sexual infantil in Democracia e Direitos Humanos: revista informativa mensal de especialidade, boletim mensal publicado pela LDH (Set. 2005), pg. 16. Conversa com quadros da LDH (Nampula, 2006). Estima-se que 1000 pessoas sejam traficadas anualmente de Moambique para os pases vizinhos. Ver Organization for International Migration, Seduction, Sale and Slavery: trafficking in women and children for sexual exploitation in Southern Africa (May 2003). O trfico humano no ilegal em Moambique e por esta razo a sociedade civil est a fazer lobby para uma nova legislao que possa tornar o trfico humano um crime.
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Organization for International Migration, Seduction, Sale and Slavery: trafficking in women and children for sexual exploitation in Southern Africa (May 2003). WLSA fez uma pesquisa extensiva sobre as causas e medidas para combater a violncia domstica. Ver Meja, M., Osrio, C. and Artur, M.J. No sofrer caladas! Violncia Contra Mulheres e Crianas: denncia e gesto de conflitos (Maputo, 2004).
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Estes incluem programas de educao cvica nas escolas, iniciativa SARA, Gerao Biz, etc. Informaes pormenorizadas disponveis no Relatrio do Estudo sobre o Abuso Sexual da Rapariga nas Escolas Moambicanas, relatrio conjunto entre o Ministrio da Educao, FDC, Save the Children, CARE e Rede Came, 2004. Cfr. Meja, M., Osrio, C. and Artur, M.J. No sofrer caladas! Violncia Contra Mulheres e Crianas: denncia e gesto de conflitos (Maputo, 2004).
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A falta de compreenso das desigualdades nas relaes de poder que tornam as mulheres e as raparigas vulnerveis a violncia e abuso tambm se reflecte num despacho ministerial controverso emitido pelo Ministro da Educao em 2003.190 O despacho estipula que as raparigas grvidas devem ser compulsoriamente transferidas para o curso nocturno se houver uma vez que a presena de estudantes grvidas considerada um mau exemplo para outros alunos. Assim, quando uma gravidez resulta de violao sexual por parte do professor, a vtima punida duas vezes; por um lado na forma de abuso sexual e por outro ao ser privada da sua educao. Embora este despacho preveja que a mesma punio seja aplicada ao pai, se este for aluno da mesma escola, na prtica isto tem tido poucas consequncias.191 Existem ritos de iniciao complicados para raparigas e rapazes, especialmente nas regies matrilineares nas provncias do norte e do centro, que envolvem instruo sexual e em alguns casos esculpir a pele da face e do corpo. Contudo, a mutilao genital no um fenmeno prevalecente em Moambique. Nos ltimos anos tem havido algumas notcias perturbadoras sobre crianas especialmente rapazes que foram alegadamente raptados para lhes extrarem os rgos para efeitos mdicos ou para a prtica de rituais.192 9.4. Mortalidade infantil Os ODMs incluem a reduo da mortalidade de crianas menores de cinco anos em dois teros at 2015.193 As taxas de mortalidade infantil de lactentes e crianas pequenas em Moambique so das mais altas do mundo: o Inqurito Demogrfico de Sade de 2003 constatou que 178 crianas em cada 1000 morrem antes dos cinco anos e 124 em cada 1000 morrero antes de completarem um ano de vida. No entanto, comparado com 1997, estes nmeros representam uma melhoria de 18% e 15% respectivamente.194 Tal situao deve-se em grande parte implementao do Programa Alargado de Vacinao. Notou-se que a cobertura das vacinaes mais alargada nas zonas nas reas urbanas (90.8%) do que nas rurais (70.8%).195 As principais causas da mortalidade infantil de menores de 5 so evitveis e incluem nascimentos prematuros, peso deficiente nascena, asfi xia, infeces, diarreias, infeces respiratrias agudas, malria, sarampo, desnutrio e HIV. Embora no haja uma discrepncia significativa entre as taxas de mortalidade entre rapazes e raparigas, os nveis de mortalidade no seio de crianas esto fortemente associados s caractersticas econmicas dos seus agregados e ao nvel de educao das mes. Entre as crianas das famlias mais pobres, a taxa de mortalidade de menores de 5 duas vezes mais alta do que entre as crianas que vm de famlias mais abastadas (196 vs 108), ao passo que a probabilidade de os fi lhos de mes sem nenhuma educao morrerem antes de atingirem os cinco anos de idade 130% maior do que os fi lhos de mes com o ensino secundrio.196 As taxas de mortalidade infantil de lactentes e
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Despacho 39/GM/2003 Artur, J.M. and Cabral, Z. Those pregnancies that embarrass schools, in Outras Vozes, Supplement Nr 8, August 2004, 21-23. Um caso que foi amplamente publicado envolveu o jovem Samuelito da Provncia de Manica. Contacto directo com o pessoal da Liga Moambicana dos Direitos Humanos na Beira (2006). A taxa de mortalidade de crianas pequenas mede o nmero de crianas que morrem antes dos cinco anos em cada 1000 nascimentos vivos. A taxa de mortalidade de lactentes mede o nmero de crianas que morrem antes de completarem o seu primeiro ano de vida em cada 1000 nascimentos vivos.
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UNDP, Mozambique National Human Development Report 2005: Reaching for the MDG (Maputo, 2006), pg. 57. UNDP, ibidem, pg. 57. Relatrio sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (Maputo, 2005) pg. 26.
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crianas pequenas so significativamente mais altas nas reas rurais (135 e 192 respectivamente) do que nas reas urbanas (95 e 143 respectivamente).197 Estima-se que todos os dias 90 crianas sejam infectadas com HIV atravs da transmisso de me para fi lho. Mesmo com a melhoria dos servios de preveno da transmisso de me para fi lho, a cobertura permanece muito baixa, particularmente nas reas rurais. Somente metade de todas as mulheres tem acesso a aconselhamento para a preveno da transmisso de me para fi lho (mulheres urbanas: 70% vs 44% nas reas rurais). Apenas 26% de todas as mulheres sabem que a transmisso de HIV de me para fi lho pode ser prevenida atravs de terapia antiretroviral durante a gravidez e evitando a amamentao do peito da me (zonas urbanas: 35% vs 21% nas zonas rurais).198 A desnutrio considerada a causa por trs de cerca de metade de todas as mortes das crianas menores de cinco anos e afecta de forma igual os rapazes e as raparigas, uma vez que no h tabus com base no sexo relacionados com a dieta das crianas.
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UNICEF, A Statistical Profile of Disparities in Mozambique, November 2005, indicadores 1-2. UNICEF, ibidem, indicadores 61 e 77.
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A reduo da pobreza a metade at 2005 um dos maiores desaos do nosso tempo e requer cooperao e sustentabilidade. Os pases de cooperao so responsveis pelo seu prprio desenvolvimento. A Asdi fornece recursos e desenvolve conhecimentos e capacidades/competncia tornando o mundo um lugar mais rico.
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