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SUMÁRIO
PRIMEIRA UNIDADE7
O que é a Antropologia7
Os campos da Antropologia9
O objeto do conhecimento13
O que é o “homem” ?16
A pré-história da antropologia17
SEGUNDA UNIDADE23
Século XVIII: a invenção do homem23
O conceito de cultura28
A classificação da cultura29
Os componentes da cultura29
Ser humano é tornar-se humano30
A cultura condiciona a visão de mundo33
A cultura interfere no plano biológico34
Os indivíduos participam diferentemente da sua cultura36
A cultura é dinâmica36
TERCEIRA UNIDADE40
Etnografia e Etnologia40
Franz Boas44
Bronislaw Malinowski48
QUARTA UNIDADE56
Durkheim: o primeiro teórico da antropologia56
A Solidariedade58
A Primazia do Social60
O que é um Fato Social62
O Método67
As quatro características do fato social68
O homem dual69
2
APRESENTAÇÃO
PLANO DE ENSINO
EMENTA
Proporcionar aos alunos à introdução da Antropologia como Ciência do Homem.
Modelos e análises antropológicas. Conceitos introdutórios da Antropologia. O que
é o Homem. O conceito de Cultura. Etnografia e Etnologia.
.
OBJETIVO DA DISCIPLINA
Analisar e compreender a constituição da Antropologia, possibilitando e
estimulando nos alunos(as) uma iniciação geral à perspectiva antropológica sobre o
homem e a sua cultura, linguagem, sociedade, bens simbólicos e relações de
parentesco, a partir de uma discussão da formação epistemológica e histórica da
disciplina, seus principais conceitos, teorias e autores.
METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM
3
CONTEÚDO PROGRAMADO - VIDEOAULAS
1) INTRODUÇÃO:
Apresentação da disciplina, introdução do conteúdo e leitura do Plano de
Ensino.
2) O que é a Antropologia?
-Indicação de Leitura:
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003.
(Introdução). – Link para download:
https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2010/03/laplantine_aprender-a
ntropologia.pdf
MARCONI, Marina e PRESOTTO, Zelia. Antropologia: uma introdução. -SP:
Atlas, 2010. (Capítulo 1). -Link para download:
https://idoc.pub/documents/antropologia-uma-introduao-marconi-e-presottopdf-jl
k92edy2345
3) A Pré-história da Antropologia
-Indicações de Leitura:
LAPLANTINE, François. A pré-história da Antropologia. In: Aprender
Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003. (Capítulo 1). Link para download:
https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2010/03/laplantine_aprender-a
ntropologia.pdf
5) O conceito de cultura
4
-Indicação de Leitura:
LARAIA, Roque B. Cultura: um conceito antropológico. -14ªed. – RJ: Jorge
Zahar Ed, 2001. (Segunda parte – Como opera a cultura). – Link para
download:
https://projetoaletheia.files.wordpress.com/2014/05/cultura-um-conceito-antropo
logico.pdf
6) Etnografia e Etnologia
-Indicação de Leitura:
LAPLANTINE, François. Os pais fundadores da etnografia. In: Aprender
Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003. (Capítulo 4). - Link para download:
https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2010/03/laplantine_aprender-a
ntropologia.pdf
LEVÍ-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. – SP:Ed Anhembi Limitada, 1957.
-Link para download: https://docero.com.br/doc/8c8551
BOAS, Franz. Antropologia cultural. – RJ: Jorge Zahar Ed. 2005. (Capítulo 2:os
métodos da etnologia). – Link para download:
https://umapiruetaduaspiruetas.files.wordpress.com/2010/05/franz-boas-antrop
ologia-cultural.pdf
7) Franz Boas e Bronislaw Malinowski
-Indicação de Leitura:
BOAS, Franz. Antropologia cultural. – RJ: Jorge Zahar Ed. 2005. (Capítulo 1:
as limitações do método comparativo da antropologia). - Link para download:
https://umapiruetaduaspiruetas.files.wordpress.com/2010/05/franz-boas-antrop
ologia-cultural.pdf
LAPLANTINE, François. Os pais fundadores da etnografia. In: Aprender
Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003. (Capítulo 4). Link para download:
https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2010/03/laplantine_aprender-a
ntropologia.pdf
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacáfico Ocidental: um relato do
empreendimento e da aventura dos nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné
5
Melanésia. – SP: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1976. (Introdução: Tema,
método e objeto desta pesquisa).
- Link para download:
https://csociais.files.wordpress.com/2019/03/malinowski-bronislaw.-argonautas-
do-pacicc81fico-ocidental.-um-relato-do-empreendimento-e-da-aventura-dos-na
tivos-da-nova-guinecc81-melanecc81sia.-preacc81cio-introduccca7acc83o-cap
s.-2-.pdf
8) O modelo teórico de Durkheim
-Indicação de Leitura:
LAPLANTINE, François. Os primeiros teóricos da antropologia In: Aprender
Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003. (Capítulo 5).- Link para download:
https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2010/03/laplantine_aprender-a
ntropologia.pdf
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
6
LEVÍ-STRAUSS, Claude. Tristres Trópicos. – SP:Ed Anhembi Limitada, 1957.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacáfico Ocidental: um relato do
empreendimento e da aventura dos nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné
Melanésia. – SP: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1976.
MARCONI, Marina e PRESOTTO, Zelia. Antropologia: uma introdução. -SP:
Atlas, 2010.
PRIMEIRA UNIDADE
O que é a Antropologia
7
ciência do homem - uma antropologia - é, ao contrário, muito
recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se
constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o
homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas
nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em
aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área da
física ou da biologia (LAPLANTINE, 2003.p.7)
8
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/insetos-comestiveis/
9
O que estamos querendo afirmar é que muito daquilo que a gente acha que é
natureza, algo totalmente natural do indivíduo, é mais complexo do que a gente
realmente acredita.
Desse modo, a antropologia busca compreender os aspectos que formam o
“humano”. O seu principal problema científico é a indagação: o que é o homem ?
Essa resposta é o que a antropologia vai responder cientificamente, mobilizando
métodos e técnicas pesquisa que compõem a sua estruturação enquanto ciência.
Os Campos da Antropologia
10
especialmente, a cultura a este patrimônio, mas também, o que esse
patrimônio (que se transforma) deve a cultura? Desse modo, o antropólogo
biologista levará em consideração os fatores culturais que influenciam o
crescimento e a maturação do indivíduo. Ele se perguntará, por exemplo: por
que o desenvolvimento psicomotor da criança africana é mais adiantado do
que o da criança europeia? Essa parte da antropologia, longe de consistir
apenas no estudo das formas de crânios, mensurações do esqueleto,
tamanho, peso, cor da pele, anatomia comparada as raças, dos sexos,
interessam-se em especial - desde os anos 50 - pela genética das
populações, que permite discernir o que diz respeito ao inato e ao
apreendido, sendo que, um e outro estão interagindo continuamente. Ela,
segundo Laplantine (2003), tem um papel particularmente importante a
exercer para que não sejam rompidas as relações entre as pesquisas das
ciências da vida e as das ciências humanas.
11
escrita, mas também de tradição oral); ou como, naturalmente, eles
interpretam seus próprios saber e saber-fazer (área das chamadas
etnociências). A antropologia linguística, que é uma disciplina que se situa no
encontro de várias outras, não diz respeito apenas, e de longe, ao estudo dos
dialetos (dialetologia). Ela se interessa também pelas imensas áreas abertas
pelas novas técnicas modernas de comunicação. Na sua gênese, foi o
antropólogo Edward Sapir (1967) quem, além de introduzir o estudo da
linguagem entre os materiais antropológicos, começou também a mostrar que
um estudo antropológico da língua (a língua como objeto de pesquisa
inscrevendo-se na cultura) conduzia a um estudo linguístico da cultura (a
língua como modelo de conhecimento da cultura).
● Antropologia Social e Cultural (ou Etnologia): essa nos deterá por muito
mais tempo na nossa introdução à antropologia, é o principal elemento do
nosso curso. Desse modo, toda vez que utilizarmos a partir de agora o termo
antropologia mais genericamente, estaremos nos referindo a antropologia
social e cultural (ou etnologia), mas procuraremos nunca esquecer que ela é
apenas um dos campos/aspectos da antropologia. Um dos aspectos cuja
abrangência é considerável, já que diz respeito a tudo que constitui a uma
sociedade: seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua
12
organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas
de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas
criações artísticas.
Fonte: http://aulasdoaugusto.blogspot.com/2010/02/charge-o-olhar-antropologico.html
O objeto do conhecimento
13
humanidade em suas diferenças significativas. O seu primeiro objeto do
conhecimento científico foram as populações que não pertenciam à civilização
ocidental, povos distantes, nativos, indígenas, ou seja, civilizações exteriores à
Europa.
Desse contato com o que era diferente do senso comum europeu (o que
estamos socialmente acostumados) – o conhecimento popular da Europa-, decorre a
formação antropológica, daquilo que Laplantine (2003.p.13) chama de
estranhamento:
"estranhamento", a perplexidade provocada pelo encontro
das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo
encontro vai levar a uma modificação do olhar que se tinha
sobre si mesmo. De fato, presos a uma única cultura, somos
não apenas cegos a dos outros, mas míopes quando se trata
da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa
experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos
conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar a
nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que
consideramos "evidente". (Grifos nossos)
O mundo que a gente acha que é natural foi uma construção cultural
naturalizada nas nossas cabeças, e findamos nos acostumando, nos
habituando, virando, com isso, algo comum, normal, o natural, o senso comum
(conhecimento popular). Desse modo, compartilhando os mesmos referenciais
coletivos – o consenso do senso psicológico-, os pensadores não
questionavam sobre a “construção cultural do homem”. Foi no estranhamento,
no contato com o “diferente”, com outros tipos de sociedade e formações
humanas, o que os primeiros viajantes chamaram de forma preconceituosa de
“selvagens”, que começou a se desnaturalizar a naturalização do social que
forma o que é comum na nossa mente.
Somente com a distância em relação à sociedade europeia permite os
antropólogos fazerem a descoberta do seu objeto do conhecimento, uma
14
distância que faz com que os pensadores se tornem próximos daquilo que é
longínquo, passando a se surpreender com aquilo que diz respeito a si mesmo:
o reconhecimento, o conhecimento, juntamente, com a compreensão de uma
humanidade plural.
“O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa
inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos
especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras,
mas não a única”. (LAPLANTINE, 2003. p.13). Aquilo que, de fato, caracteriza
a unidade do homem, é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos
de vida e formas de organização social extremamente diversos.
15
sendo filosofia social, bem como as grandes religiões, nunca
se deram como objetivo o de pensar a diferença (e muito
menos, de pensa-la cineticamente), e sim o de reduzi-la,
frequentemente inclusive de uma forma igualitária e com as
melhoras intenções do mundo (Ibidem. p.14)
16
situação de laboratório, da organização "complexa “de nossas
próprias sociedades. (LAPLANTINE, 2003.p.7-8)
O que é o homem ?
Certa vez coloquei a seguinte questão dissertativa em uma prova de
antropologia: “o que é o homem?”. As respostas foram das mais diversas, mas
algumas me chamaram uma atenção: “é um bando de cara safado; é o
provedor do lar; é bom demais; é uma criatura de Deus; é superior a mulher
porque sustenta à família”; dentre outras respostas. Claro que nenhuma dessas
respostas citadas acima conseguiu pontuar a questão, mas, todas elas têm
algo em comum, foram respondidas a partir da experiência empírica de cada
autor, ou seja, a sua visão de mundo, suas crenças, o que acreditam, o seu
senso comum, e, não, o conhecimento específico da matéria.
Já outro bloco de respostas agrupou as seguintes afirmações: “é uma
construção social; é produto das experiências empíricas; é uma construção
17
cultural; é produto do meio”; dentre outras. Vemos, que esse segundo bloco de
respostas explica o primeiro bloco supracitado, e com isso, conseguiram
pontuar a questão.
Com isso, numa dialética materialista das respostas, o homem é uma
construção sociocultural das experiências empíricas (com o meio social), que
teve no decorrer de sua trajetória de vida, e essas formaram a sua visão de
mundo, suas crenças, o que acreditam, o seu senso comum.
Explicar, cientificamente, “o que é o homem”, é o principal problema
antropológico. Aquilo que Laplantine chama do “estudo do homem em sua
totalidade”. O menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas,
reações afetivas) não tem realmente nada de "natural", aquilo que tomávamos
por natural em nós mesmos é, de fato, cultural.
No entanto, com a formação do senso comum, os indivíduos não têm
consciência desta construção sociocultural, vivem sua vida como se tudo fosse
natural, como se nossos comportamentos estivessem inscritos em nós desde o
nascimento - e não adquiridos no contato com a cultura na qual nascemos-.
Ocorre uma naturalização do social no senso comum-.
Nesse sentido, se o senso comum é o que estamos socialmente
acostumados, como surgiram as primeiras indagações antropológicas? Como
se desnaturalizou a naturalização do social que forma o que é comum aos
nossos olhos? Quando os homens decidiram se questionar sobre “o que é o
homem”, ou seja, sobre si mesmos?
De acordo com o que vimos anteriormente, no contato com as
civilizações extra-europeias, as sociedades “longínquas”. Foi a partir dos
viajantes do renascimento (entre o século XIV à XVI) que se têm a gênese do
problema da antropologia, mas não a sua resposta, essa só obtida dois séculos
depois com a emergência da ciência do homem no final do século XVIII.
Resta-nos, no entanto, apresentar uma breve pré-história da antropologia.
A pré-história da antropologia
18
Nesta seção não estamos falando antropologia propriamente dita, mas,
da sua pré-história, ou seja, da gênese do problema: “o que é o homem?”.
Nesse âmbito, estamos nos referindo as grandes navegações, daquilo que
Darcy Ribeiro (1995) chama da heresia mercantil, ou seja, aos viajantes do
renascimento (entre o século XIV e XVI) que fizeram a colonização.
19
suas novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu
astrolábio e, sobretudo, seu conjunto de canhões de guerra (RIBEIRO,
1995.p.37-38).
Para saber mais, assista as duas primeiras partes do documentário: “O Povo Brasileiro”,
baseado na obra de Darcy Ribeiro. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-zEztOsq6yA
20
vestir, visões de mundo e estilos de vida (modos de existência). Se até hoje grupos
humanos entram em conflito com outros apenas por não possuírem a mesma
religião, por não respeitarem as diferenças, as desigualdades socias de raça e de
gênero -identidade-, imagina a sete séculos atrás. Desse modo, expulsaram da
cultura, isto é, para a natureza todos aqueles que não participavam da faixa de
humanidade à qual os colonizadores pertenciam e se identificavam, a mais comum
(para eles) (LAPLANTINE, 2003).
Com isso, houve uma especulação sobre os povos nativos, representações
concorrentes, um duplo discurso, acerca das populações que se encontravam fora
da civilização europeia – o que para eles era estar fora da condição de “humano” -.
21
Fonte: https://www.todamateria.com.br/etnocentrismo/
Nesse âmbito, essa foi uma especulação, e não ciência, estava longe disso, e
mais perto de ideologias que atravessava um duplo discurso. Independentemente do
valor positivo ou negativo, as populações nativas foram representadas como
selvagens, o que contribuiu para uma projeção etnocêntrica.
Por mais que a questão acerca dos povos nativos tenha ficado sem resposta,
se constituindo como uma especulação (selvagem ou civilizado; humano ou animal;
bom ou mau), foi a partir disso que surgiu a descoberta da alteridade, o
estranhamento com o diferente que impulsionou um problema que só foi respondido
mais de dois séculos depois, afinal: o que é o homem?
22
Referências Bibliográficas
23
SEGUNDA UNIDADE
24
metodológicas e epistemológicas para se estudar cientificamente o homem (o que
se torna a antropologia):
Fonte: http://teianeuronial.com/wp-content/uploads/milo-manara-man-HI.jpg
25
conhecimento positivo do homem (isto é, de um estudo de sua
existência empírica considerada por sua vez como objeto do saber)
constitui um evento considerável na história da humanidade. Um
evento que se deu no Ocidente no século XVIII, que, evidentemente,
não ocorreu da noite para o dia, mas que terminou impondo-se já que
se tornou definitivamente constitutivo da modernidade, revolução do
pensamento que instaura uma ruptura tanto com o "humanismo" do
Renascimento como com o "racionalismo" do século clássico
(LAPLANTINE, 2003.p.42)
26
Vejamos o exemplo, segundo um filosofo chamado René Descartes
(1596-1650): “penso, logo existo”. Essa frase é uma das afirmações mais
famosas da história da filosofia. Partindo dela, vamos falar do pensamento
humano. Vocês acham que podem pensar qualquer coisa? Que o pensamento
do ser humano é livre? Alguém acha que pode pensar tudo o que quiser? Para
quem acha que pode pensar acerca de tudo: pense agora a respeito da
paralaxe? Pense sobre o bóson de Higgs ? Sobre da dialética materialista.
Conseguiu? Isso não é questão de inteligência, e sim de conhecimento. A
gente só consegue pensar aquilo que a gente conhece. O conhecimento é a
condição de possibilidade do nosso pensamento. E o conhecimento é adquirido
no decorrer da nossa experiência: trajetória social, educação, socialização,
dentre outros aspectos. Ou seja: “penso, logo existo” (o cogito cartesiano), não
têm comprovação empírica/científica, é filosófico. Na inversão do cogito
cartesiano – “existo, logo penso”-, vemos que as expeperiências de nossa
existencia (hábitos, crenças e valores, dentre outros) precedem e orientam o
nosso pensamento, a nossa visão de mundo e o nosso comportamento.
27
A ciência moderna pressupõe epistemologicamente que existem
determinantes sociais, simbólicos, linguísticos e culturais que estruturam o
nosso pensamento, esse não é espontâneo. Essa compreensão científica –
com comprovação empírica-, é essencial para o entendimento da passagem do
conhecimento filosófico, para o científico, que estamos falando.
28
eram inimagináveis antes. A sociedade do século XVIII vive uma crise
da identidade do humanismo e da consciência europeia
(LAPLANTINE, 2003.p.40)
29
Nesse caso, é necessário um método para estruturar o projeto antropológico,
um método de observação e análise: o método indutivo.
O conceito de cultura
30
1. Intra-orgânica: dentro dos organismos humanos (conceitos, crenças,
emoções e atitudes)
2. Inter-orgânica: dentro do processos de interação social entre os seres
humanos.
3. Extra-orgânica: dentro de objetos materiais (machados, fábricas,
ferrovias, vasos) situados fora de organismos humanos, mas dentro dos
padrões de interação social deles.
A classificação da cultura
32
O humano, em suas multiplas deterinações, é uma construção cultural.
Desse modo, o conceito de cultura explica a forma comum e apreendida da
vida, compartilhada pelos membros da sociedade, a constante da totalidade
dos instrumentos, técnicas, instituições, crenças atitudes, motivações e
sistemas de valores conhecidos e reconhecidos pelo grupo.
Nesse contexto, uma das primeiras preocupações dos estudiosos com
relação à cultura era entender a sua origem. Em outras palavras, como o
homem adquiriu este processo extra-somático que o diferenciou de todos os
animais e lhe deu um lugar privilegiado na vida terrestre? Para antropólogo
belga Claude Lévi-Strauss (1982), a cultura surgiu no momento em que o
homem convencionou a primeira regra, o primeiro tabu, a primeira norma: a
proibição do incesto. Lévi-Strauss refere-se a proibição do incesto como uma
regra encontrada em todos os povos e em todos os tempos, ou seja, uma regra
universal que marca a passagem da natureza para a cultura. Já o antropólogo
norte-americano, Leslie White, considera que a passagem do estado animal
para o humano ocorreu quando o cérebro do homem foi capaz de gerar
símbolos.
33
Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o
símbolo que transformou nossos ancestrais antropóides em homens e
fê-los humanos. Todas as civilizações se espalharam e perpetuaram
somente pelo uso de símbolos .... Toda cultura depende de símbolos.
É o exercício da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso
de símbolos que torna possível a sua perpetuação. Sem o símbolo
não haveria cultura, e o homem seria apenas animal, não um ser
humano.... O comportamento humano é o comportamento simbólico.
Uma criança do gênero Homo torna-se humana somente quando é
introduzida e participa da ordem de fenômenos superorgânicos que é
a cultura. E a chave deste mundo, e o meio de participação nele, é o
símbolo. (WHITE.Apud: LARAIA, p.29)
34
Fonte: https://br.depositphotos.com/vector-images/s%C3%ADmbolos-religiosos.html
O parto, por exemplo, Buda (Sidarta Gautama) nasceu estando sua mãe,
Mãya, agarrada, reta, a um ramo de árvore; ela deu à luz em pé, assim como boa
parte das mulheres da Índia. Para os franceses, a posição normal é a mãe deitada
sobre as costas, e entre os índios da tribo Tupis a posição é de cócoras. Em
35
algumas regiões do meio rural da Europa existem cadeiras especiais para o parto
sentado.
Os indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por
uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, etc.
Todos os homens são aptos para receber um programa, e este programa é o que
chamamos de cultura. A lógica da sua amplitude, entretanto, será limitada pelo
contexto específico da socialização que o sujeito tem desde a sua tenra infância.
36
conhecimento popular de preconceito. Esses, são na verdade uma “herança
cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou
a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem
fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade (LARAIA, Ibid. p.35).
37
mente e o corpo das pessoas. O que é muito utilizado na cura ritual dos xamãs
indígenas, ou na feitiçaria africana (vodu).
38
humanas horários foram estabelecidos diferentemente e, em alguns casos, o
indivíduo pode passar um grande número de horas sem se alimentar e sem sentir a
sensação de fome.
Os indivíduos participam diferentemente da sua cultura
39
A cultura é dinâmica
40
desenvolvimento de um esquema conceitual específico. Surge, então, o
conceito de aculturação.
41
gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é
fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de
culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro
do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para
enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir. (LARAIA,
2001.p.52)
Referências Bibliográficas
42
MARCONI, Marina e PRESOTTO, Zelia. Antropologia: uma introdução. -SP:
Atlas, 2010.
TERCEIRA UNIDADE
Etnografia e Etnologia
43
considerados não mais como informadores a serem questionados, e sim como
hóspedes que o recebem e mestres que o ensinam – os povos pesquisados-.
O antropólogo aprende então, como aluno atento, não apenas a viver entre
eles, mas a viver como eles, a falar sua língua e a pensar nessa língua, a sentir suas
próprias emoções dentro dele mesmo (LAPLANTINE, 2003).
A revolução trata-se, como podemos ver, de condições de estudo
radicalmente diferentes das que conheciam o viajante do século XVIII e até o
missionário ou o administrador do século XIX - residindo geralmente fora da
sociedade indígena e obtendo informações por intermédio de tradutores e
informadores-. No século XX, com a etnografia e a etnologia, a antropologia se torna
pela primeira vez uma atividade ao ar livre (LAPLANTINE, 2003.p.57-58).
Agora, o pesquisador que deve ele mesmo efetuar no campo sua própria
pesquisa e análise científica, tendo o trabalho de observação direta como parte
integrante e fundamental da pesquisa. O trabalho de campo, viagem etnográfica:
Orientou a partir desse momento a abordagem da nova geração de
etnólogos que, desde os primeiros anos do século XX, realizou
estadias prolongadas entre as populações do mundo inteiro. Em 1906
e 1908, Radcliffe-Brown estuda os habitantes das ilhas Andaman. Em
1909 e 1910, Seligman dirige uma missão no Sudão. Alguns anos
mais tarde, Malinowski volta para a Grã-Bretanha, impregnado do
pensamento e dos sistemas de valores que lhe revelou a população
de um minúsculo arquipélago na melanésia. A partir dás missões de
pesquisas etnográficas e a publicação das obras que delas resultam
se seguem em um ritmo ininterrupto. Em 1901, Rivers, um dos
fundadores da antropologia inglesa, estuda os Todas da Índia; após a
Primeira Guerra Mundial, Evans-Pritchard estuda os Azandés (trad.
franc. 1972) e os Nuer; Nadei, as Nupes da Nigéria; Fortes, os
Tallensi; Margaret Mead, os insulares da Nova Guiné, etc. Como não
é possível examinar, dentro dos limites deste trabalho, a contribuição
desses diferentes pesquisadores na elaboração da etnografia e da
etnologia contemporânea, dois entre eles, a meu ver os mais
importantes: um americano de origem alemã, Franz Boas; o outro, um
44
polonês naturalizado inglês, Bronislaw Malinowski (LAPLANTINE,
2003.p.58)
Nesse ínterim, cada realidade pesquisa tem a sua própria dinâmica cultural:
mentalidade, visões de mundo, valores; a cultura é relativa de cada população, o
real é relacional. Não existe, com isso, uma cultura melhor ou pior, boa ou má,
emerge um relativismo cultural.
45
Fonte: Mulheres Girafas da Tailândia | Viajeindochina
46
Fonte: A coragem dos índios kayapó | Povos indígenas brasileiros, Indios brasileiros, Arte indígena
brasileira (pinterest.com)
Cada cultura tem seus traços significativos que constituem um modo peculiar
e característico dos seus grupos constituintes (área cultural). Ela tem a sua
linguagem própria, e o pesquisador – etnólogo- acessa a lingua da cultura que se
está pesquisando -traduz as tradições-, decifra a realidade sociocultural que está
sendo pesquisada. Destacado isso, apresentaremos agora as contribuições
seminais de Franz Boas e em seguida Bronislaw Malinowski.
Franz Boas
47
Franz Boas era, antes de tudo, um homem de pesquisa campo. Suas
pesquisas, totalmente pioneiras, iniciadas a partir dos últimos anos do século XIX
(em particular entre os Kwakiutl e os Chinook de Colúmbia Britânica), eram
conduzidas de um ponto de vista que hoje qualificaríamos de microssociológico. Ele
ensina que no campo, tudo deve ser anotado: desde os materiais constitutivos das
casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, e isso detalhadamente,
e no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da
re-transcrição mais elaborada (como por exemplo, as diferentes versões de um mito,
ou diversos ingredientes da composição de um alimento). A sua preocupação de
precisão na descrição dos fatos observados, acrescentava-se de uma conservação
metódica do patrimônio recolhido -foi conservador do museu de Nova Iorque-
(LAPLANTINE, 2003.p.50-60).
Enquanto professor, formou a primeira geração de antropólogos americanos
(Kroeber, Lowie, Sapir, Herskovitz, Linton... e, em seguida, R. Benedict, M. Mead),
assim como brasileiros que estudaram nos Estados Unidos, como o pernambucano
48
Gilberto Freyre. Franz Boas permanece sendo o mestre incontestado da
antropologia americana na primeira metade do século XX.
49
Boas anuncia, nesse âmbito, a constituição do que hoje chamamos de
"etnociências" (analises minuciosas em micro contextos pesquisados). Para o
autor, não há um objeto nobre nem objeto indigno da ciência, o estudo
minucioso de micro contextos de interação social nos revela a cultural total do
grupo social pesquisado.
50
Jakobson (ZAFIROPOULOS, 2009.p.13). Boas, com isso, precede a psicanálise
lacaniana onde o inconsciente é estruturado como uma linguagem.
Certa vez, em Gana, tentou-se erradicar a malária, mas os médicos não conseguiam
porque a população local não ia se tratar. Então, uma equipe de antropólogos foi fazer
uma pesquisa para entender o porquê. Descobriu-se que a comunidade local acreditava
numa doença chama asra: “asra” englobava um complexo de sinais e sintomas muito
semelhantes aos da malária, incluindo febre; muitos membros da comunidade não
conectavam o vetor à doença; a população acreditava que o “asra” era causado por
contato prolongado com o calor excessivo. Essa concepção etiológica eliminava quase
toda possibilidade de prevenção, pois o sol está sempre presente e não há como evitá-lo.
Essa doença era também considerada pela população incurável pela medicina, pois, com
o tratamento, a doença desaparecia, mas voltava a reaparecer algum tempo mais tarde”
(UCHÔA e VIDAL, 1994). Com a descoberta antropológica, houve um diálogo entre a
medicina e a cultura local, para combater a “asra”, e com essa mudança contextual de
uma palavra, para outra que fazia sentido (significado) na psicologia das pessoas
(significantes), conseguiu-se erradicar a “malária”.
51
para mim (como ser pensante) uma influência valiosa, ela reside no fortalecimento
do ponto de vista da relatividade de toda formação” (BOAS, 2005.p.9).
Bronislaw Malinowski
52
Malinowski instaura uma ruptura com a história conjetural e com a geografia
especulativa (a teoria difusionista, que tende, no início do século, a ocupar o lugar
do evolucionismo) considerando que uma sociedade deve ser estudada enquanto
uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo onde a observamos.
Enquanto seu professor e mestre James Frazer – autor de “O Ramo de Ouro” -
analisava de forma intensiva e contínua uma microssociedade sem referir-se a sua
história, procurava responder à seguinte pergunta: "Como nossa sociedade chegou
a se tornar o que é?". Malinowski adota uma abordagem rigorosamente inversa, se
perguntando: “O que é uma sociedade dada em si mesma e o que a torna viável
para os que a ela pertencem?
54
Fonte:
http://www.megatimes.com.br/2015/02/funcionalismo-teoria-antropolo
gica-e.html
55
na totalidade social desse povo, e toca em muitos outros
aspectos que não à agricultura (LAPLANTINE, 2003. p.64-65)
56
perspectiva, a antropologia supõe uma identificação (ou, pelo menos, uma busca de
identificação) com a alteridade, Malinowski “mostrando-nos com sua pureza aquilo
que nos faz tragicamente falta: a autenticidade (LAPLANTINE, 2003. p. 63).
“Malinowski ensinou a muitos entre nós não apenas a olhar, mas a escrever,
restituindo às cenas da vida cotidiana seu relevo e sua cor” (IBIDEM.p.65), ensinou
para o campo da antropologia como se faz a etnografia e a etnologia.
58
Referências Bibliográficas
BOAS, Franz. Antropologia cultural. – RJ: Jorge Zahar Ed. 2005. (Capítulo 1:
as limitações do método comparativo da antropologia). - Link para download:
https://umapiruetaduaspiruetas.files.wordpress.com/2010/05/franz-boas-antrop
ologia-cultural.pdf
LAPLANTINE, François. Os pais fundadores da etnografia. In: Aprender
Antropologia. – SP: Brasiliense, 2003. (Capítulo 4).
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacáfico Ocidental: um relato do
empreendimento e da aventura dos nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné
59
Melanésia. – SP: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1976. (Introdução: Tema,
método e objeto desta pesquisa).
- Link para download:
https://csociais.files.wordpress.com/2019/03/malinowski-bronislaw.-argonautas-
do-pacicc81fico-ocidental.-um-relato-do-empreendimento-e-da-aventura-dos-na
tivos-da-nova-guinecc81-melanecc81sia.-preacc81cio-introduccca7acc83o-cap
s.-2-.pdf
MARCONI, Marina e PRESOTTO, Zelia. Antropologia: uma introdução. -SP:
Atlas, 2010.
UCHÔA, Elizabeth e VIDAL, Jean. Antropologia Médica: Elementos
Conceituais e Metodológicos para uma Abordagem da Saúde e da Doença.
Cad. Saúde Pública., Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504, out/dez, 1994. -Link para
download:
https://www.scielo.br/j/csp/a/vCMjGFqtdTFfmNCbyZkK3mQ/?format=pdf&lang=
pt
ZAFIROPOULOS, M. Nossa arqueologia crítica da obra de Lacan: Lacan e as
ciências sociais - Lacan e Lévi-Strauss, 2009. (on line) – Link para download:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rel/v2n3/v2n3a04.pdf
QUARTA UNIDADE
60
Boas e Malinowski, nos anos que antecederam a Primeira Guerra
Mundial, fundaram a etnografia. Mas o primeiro, recolhendo com a
precisão de um naturalista os fatos no campo, não era um teórico.
Quanto ao segundo, a parte teórica de suas pesquisas é o que há de
mais contestável em sua obra. A antropologia precisava ainda
elaborar instrumentos operacionais que permitissem construir um
verdadeiro objeto científico. É precisamente nisso que se
empenharam os pesquisadores franceses dessa época, que
pertenciam à chamada "escola francesa de sociologia". Se existe uma
autonomia do social, ela exige, para alcançar sua elaboração
científica, a constituição de um quadro teórico, de conceitos e modelos
que sejam próprios da investigação do social, isto é, independentes
tanto da explicação histórica (evolucionismo) ou geográfica
(difusionismo), quanto da explicação biológica (o funcionalismo de
Malinowski) ou psicológica (a psicologia clássica e a psicanálise
principiante).
61
como ciência. A sua principal preocupação era desenvolver a sociologia como sendo
uma ciência madura, tal como as ciências naturais (química, física e astronomia),
para isso desenvolveu um método positivista nas ciências sociais (sociologia e
antropologia), amparado em diversas pesquisas empíricas sobre a divisão do
trabalho social, o suicídio, a educação, dentre outros.
E. Durkheim (1858-1917)
62
seja, a sociedade não se resume às simples ações e interesses dos seus
membros individuais (GIDDENS, 2008.p.9).
Três dos principais temas que abordou foram: a importância da
sociologia/antropologia enquanto ciência empírica; a emergência do indivíduo e
a formação de uma ordem social; e as origens e carácter da autoridade moral
na sociedade (GIDDENS, 2008.p.9). A seguir apresentaremos os principais
conceitos do autor.
A Solidariedade
64
e de mutua dependência, vêm substituir as crenças partilhadas na função de
criar um consenso social (GIDDENS, 2008.p.9-10).
A Primazia do Social
65
Não que Durkheim estivesse afirmando que uma sociedade possa existir
sem indivíduos (o que seria totalmente ilógico). O que ele desejava ressaltar
é que uma vez criadas pelo homem, as estruturas sociais passam a
funcionar de modo independente dos indivíduos, condicionando suas ações.
Para Durkheim, a sociedade é muito mais do que a soma dos indivíduos que
a compõem. Uma vez vivendo em sociedade, o homem dá origem a
instituições sociais que possuem uma dinâmica própria (SELL, 2009.p.29).
66
Fonte: https://conhecerepensar.wordpress.com/emilie-durkheim/
67
ressaltar que, em última instância, até mesmo a noção de que nós somos
pessoas ou sujeitos individuais, não passa de uma construção social. (SELL,
2009.p.29)
Durkheim, com isso, afirma que a explicação da vida social tem seu
fundamento na sociedade, e não no indivíduo, ou seja, nas suas instituições
sociais e as tendencias coletivas que exercem sobre o indivíduo uma pressão.
68
propriedade de existirem fora das consciências individuais (DURKHEIM,
2007.p.1-2).
fatos sociais são formas de agir, pensar ou sentir que são externas aos
indivíduos, tendo uma realidade própria exterior à vida e percepções das
pessoas individualmente. Outra característica dos fatos sociais é exercerem
um poder coercivo sobre os indivíduos. No entanto, a natureza constrangedora
dos fatos sociais raramente é reconhecida pelas pessoas como algo coercivo,
pois de uma forma geral atuam de livre vontade de acordo com os fatos sociais
(GIDDENS, 2008.p.9).
69
No entanto, a pressão social não se impõe necessariamente pela força
ou violência física, não tem uma pessoa que aponta uma arma para nós
dizendo como a gente deve se comportar, agir, pensar e sentir numa
sociedade. A pressão social que o fato social exerce é moral. “A sociedade são
os meios morais que cercam o indivíduo” (Durkheim). E os indivíduos
internalizam essa moral na constituição do seu self, na sua própria constituição
enquanto sujeitos.
70
pode ser feito na sociedade. O fato social se impõe a partir das leis que se
impõem gerando, com isso, códigos de conduta.
● Moda: o sujeito ao comprar o que vende nas lojas do shopping, ele está
comprando o que está na moda, ou seja, a tendência coletiva do momento.
71
Eis portanto uma ordem de fatos que apresentam características
muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de
sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de
coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por
conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenômenos
orgânicos, já que consistem em representações e em ações; nem com
os fenômenos psíquicos, os quais só têm existência na consciência
individual e através dela. Esses fatos constituem, portanto, uma
espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação
de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é claro que, não tendo
o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro senão a
sociedade, seja a sociedade política em seu conjunto, seja um dos
grupos parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas
políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a
eles só que ela convém; pois apalavra social só tem sentido definido
com a condição de designar unicamente fenômenos que não se
incluem em nenhuma das categorias de fatos já constituídos e
denominados. Eles são, portanto, o domínio próprio da sociologia.
(DURKHEIM, 2007.p.3-4).
72
O Método
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seus objetos de estudo (ambos considerados como “coisas”) permitiu a este
autor postular que, afinal, seus métodos de estudo também deveriam ser
semelhantes (SELL, 2009.p.30)
⮚ Coercitivo: exercem uma coerção nos indivíduos, fazendo com que eles façam
algo de forma imposta (coercitividade das regras).
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⮚ Generalista: é algo que é geral da sociedade, uma tendência coletiva que é
seguida pela grande maioria das pessoas – o senso comum-.
O homem dual
75
A questão central para Durkheim é que a consciência coletiva é maior do
que a consciência individual.
76
Referências Bibliográficas
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SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber.
Petrópolis: Vozes, 2009. – Disponível em:
https://www.sociologialemos.pro.br/wp-content/uploads/2019/11/CARLOS_EDU
ARDO_SELL_SOCIOLOGIA_CLASSICA-2-1.pdf
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