Sebenta de Antropologia Cultural 2012

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Por: Mestre António V.

Waya

Por: Mestre Nosta G. Mandlate

Por: Mestre Savio J. R. Malope

_______________________________________________________________________________________________

No final deste capítulo, o estudante deve saber:

1. Conceito – definição etimológica de antropologia. Divisões. Áreas de estudos.


Definição de Antropologia Cultural como estudo de sociedades simples e não
complexas.
2. Diferença entre a antropologia social e a antropologia cultural.
3. Conceito de etnocentrismo.
4. Objecto de estudo: Objecto material e objecto formal
5. Objectivos
6. Breve historial do surgimento de antropologia cultural.
7. Relação entre a antropologia cultural e outras ciências sociais e humanas

1. Conceitos
Etimologicamente palavra Antropologia 1 formada por composição de anthropos (homem,
humanidade) + logia (estudo, discurso, conhecimento, tratado, abordagem sistemática)
significa estudo do homem2, isto é conhecimento sobre a humanidade ciência social e
humana, Antropologia se interessa pelo estudo do homem como ser biológico, social e
1
Em 1596, o humanista O. Casmann definia antropologia como doutrina do género humano natural; Kant, 1798, publica uma obra
na qual ele define a antropologia como doutrina do conhecimento do homem ordenada sistematicamente. Para Lévy-Strauss, a
antropologia passa a ser um estudo comparado das sociedades e das culturas para alimentar a reflexão teórica. O Grand
Dictionnaire Hachette, Encyclopedique ilustré apreseta as seguintes definições do termo antropologia:
a. Estudo da espécie humana sob os pontos de vista anatómica, fisiológica, biológica, genética ou filogenética.
b. Estudo de culturas de diferentes colectividades humanas (instituições, estruturas familiares, crenças,
tecnologias)

2
Até Wolff (Psychologia Empirica 1532, Psychologia Rationalis 1534) o estudo do homem era chamado De anima. Era um estudo
experimental e metafísico
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cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento
antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos
aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica ” (aspectos
genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social ” (organização social e política,
parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural ” (sistemas simbólicos, religião,
comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos
desaparecidos).3 Além disso podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e
Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições académicas.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss 4 a etnografia corresponde “aos primeiros   estágios


da pesquisa antropológica: observação e descrição, trabalho de campo ”. A etnologia, com
relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direcção à síntese ” e a antropologia “uma
segunda e  última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da
etnologia”. 

Qualquer que seja a definição adoptada é possível entender a antropologia como uma forma
de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos
3
G. Durant em Encyclopaedia Universalis, verbete anthropologie (vol II, pp. 50-51) oferece a seguinte divisão:
I. Antropologia biológica que se subdivide em :
a. Antropologia física ou anatómica
b. Antropologia fisiológica (conservação e crescimento do homem
c. Antropologia patológica
d. Antropologia zoológica (espécie de antropologia comparada entre os homens e os animais)
e. Antropologia paleontológica
II. Antropologia mental, que se subdivide em:
a. Antropologia Psicológica
b. Antropologia social e cultural

Battista Mondin, p. 9, determina para o termo antropologia três disciplinas distintas:


a. Antropologia física – estudo do homem sob o ponto de vista físico somático.
b. Antropologia etnológica ou cultural – estudo do homem sob o ponto de vista da sua origem histórica
c. Antropologia filosófica – estudo do homem sob o ponto de vista dos seus princípios últimos.
4
LÉVI-STRAUSS, Claude - Antropologia estrutural, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1970, 377.
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o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro ”; uma maneira de se situar na fronteira
de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos
alargar nossas possibilidades de sentir, agir e reflectir sobre o que, afinal de contas, nos torna
seres singulares, humanos.

2. Métodos e técnicas
A Antropologia é uma ciência social que se desenvolve não dentro de uma biblioteca, mas no
campo prático. Como ciência social e humana, a Antropologia emprega os métodos e técnicas
empregues por ciências humanas: o método experimental, o método de estudo de casos, e o
método, cujas técnicas são fundamentalmente as de observação participante e não
participante5. Para o estudo das sociedades de pequena escala recorre se ao método
etnográfico. (Etnografia6 – Marcel Mauss, Manuel de l’Ethnolographie, 1947; Marcel Griaule,
Méthode de l’Ethnographie, 1957 e Etnologia7). É um método do estudo do campo que
desenvolve através da observação directa, muitas vezes designada observação participante.
Através deste método o pesquisador estabelece entre si e o campo uma relação
cientificamente rentável.

Ao longo da história, os antropólogos empregaram diferentes tipos de etnografias: 1) a


teleetnografia de orientação evolucionista , isto é, a etnografia à distância, empregue nos finais
do século XIX por antropólogos evolucionistas (Edward Burnett Tylor, Lewis Henry Morgan,
James Georges Frazer, etc.). De longe os etnógrafos recolhem informações de missionários
(que viajam por terras distantes para anunciar o Evangelho), turistas (movidos por curiosidade
5
A técnica de observação não participante consiste fundamentalmente em entrevistas, questionários, inquérito por questionários e
6
O termo etnografia nasce na Rússia, em 1845, com a fundação em São Petersburgo, da sociedade russa de geografia cuja tarefa
principal era a recolha de dados de populações não eslavas do império. Pela sua etimologia, etnografia ( ethnos: povo, tribo, nação,
língua + lógia: ciência, estudo, tratado), passou a ser uma ciência descritiva das origens dos usos e costumes dos povos e do seu
desenvolvimento económico e social. A etnografia tem por finalidade reconstituir fielmente as sociedades estudadas. A etnografia é
um método. Etnografia colecta dados. Foi graças a Claude Lévy-Strauss ( Anthropologie Structurelle, 1958) que a etnografia recebe
a tarefa de colectar dados e a etnologia analisar os dados recolhidos pela etnografia nas sociedades particulares.

7
Ramo da antropologia que se propõe analisar e interpretar as semelhanças e diferenças entre as sociedades e as culturas.
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e aventuras de descobrir o universo), comerciantes, governantes. 2) a etnografia monográfica


virada para o estudo exaustivo de grupos sociais cujos resultados finais são documentados.
São os funcionalistas (sobretudo Bronislaw Kaspar Malinowski, 1884-1942) que mais
empregaram este tipo de etnografia. Permanência prolongada no terreno e domínio da língua
local favorecem a apreensão da dinâmica cultural de um grupo social. A etnografia
monográfica de distingue da etnografia de tonalidade museográfica que dominou a etnografia
russa da época. Malinowski quis definir um esquema interpretativo para a compreensão da
sociedade e a compreensão da cultura como fenómeno universal.

2.1. Princípios do método etnográfico


O método etnográfico é fundamentado por certos princípios: princípio comparativo, princípio
interdisciplinar, princípio holístico e princípio histórico.

2.1.1. O princípio de interdisciplinaridade


2.1.2. O princípio comparativo
2.1.3. O princípio histórico
2.1.4. O princípio holístico

2.2. A Antropologia no período colonial e pós-colonial em Africa e em Moçambique

A antropologia da era colonial é dominada pela corrente evolucionista. Ela se restringia


ao estudo das sociedades “primitivas” e à busca de explicações científicas sobre as origens 8.
O método empregue pelos etnólogos foi basicamente comparativo. Aqui, os usos e costumes
dos povos eram comparados às Civilizações clássicas. Na Antropologia evolucionista, o termo
“primitivo” é usado na sua acepção pejorativa 9 para designar todas as sociedades iletradas

8
Cf. As principais obras publicadas no século XIX foram influenciadas grandemente pela corrente Evolucionista. A Revolução
Industrial trouxe para o homem europeu um optimismo. A vida, as instituições sociais, a religião eram consideradas à luz do
progresso.
9
Cf. COPANS, Jean, TORNAY, S. Godelier, M. Antropologia: Ciência das Sociedades Primitivas? Lisboa, Edições 70, 1999, pp. 9-
31.
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(ágrafas). A antropologia colonial é influenciada pela aventura da exploração e pela luta


contra a escravatura. Duas intenções bastante antagónicas. A primeira foi suportada pela
expansão árabe (trocas mercantis) e pela expansão imperialista europeia, pela sede da
dominação do outro; verifica-se uma grande movimentação de grupos étnicos motivados por
razões diversas. O cristianismo, promovendo valores de humanismo, luta contra a
escravatura. O projecto colonial (C= colonialismo), a expansão mercantil (C= Comércio) e a
expansão missionária (C= Civilização) foram carregados por esta corrente etnocêntrica 10. O
intercâmbio comercial não se interessa apenas pelas trocas de produtos entre os
intervenientes. Foram envolvidos humanos na qualidade de escravos; plantas de diverso
espécie de origem asiática (cafezeiros, coqueiros, mangueiras, cana de açúcar, arroz de
regadio, inhame, bananeira, citrinos…) espalham-se pela costa oriental de África do mesmo
modo sua religião sob a forma sunitas se propaga em África. A expansão mercantil é uma
forma de contacto de dois povos desconhecidos e cruzamento de culturas estranhas.
As sociedades primitivas são julgadas atrasadas, selvagens, bárbaras . Os homens se
penduram em dois extremos distintos: o de descobridor e do descoberto. As relações entre
estas duas classes são do tipo hierárquico assimétrico. As relações são polarizadas entre
Civilizado e Selvagem; dono, escravo. 11
“Desde o início da expansão europeia os invasores tiveram tendência de tratar todos
os novos povos descobertos, do Sul da África e das Américas, como seres pouco humanos,
uma doutrina conveniente que implicava que eram objectos legítimos para a escravatura,
exploração e extermínio.”12 O projecto colonial é um projecto de implantação, de instalação
dos descobridores em terras exóticas. Os povos primitivos passam de exóticos a vizinhos. A
realidade passa a ser outra. Duas culturas se encontram. Que será dos povos primitivos?
Uma vez inferiorizados, serão eles condenados a se extinguirem? Planos coloniais são
instituídos. Criam-se segregações à base de grupos étnicos e culturais. A expressão mais alta
deste fenómeno se encontra no Apartheid 13 sul-Africano. Os nativos serão expropriados e

10
O diferente é sinónimo como pior.
11
Cf. LEACH Edmund, A Diversidade da Antropologia, Lisboa: Edições 70, 1982.
12
Idem, p. 63.
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desterritorizados. Fomenta-se racismo, tribalismo de toda a sorte. O projecto colonial


pretendia, substituir as culturas primitivas pela Civilização.
Os principais temas de interesse estão virados para as origens. Em África, por
exemplo, os primeiros missionários protestantes suiços eram naturalistas 14. Difundindo o
Evangelho, os missionários europeus se confrontam com algumas realidades imorais: o
canibalismo, a venda de escravos e o despeito da integridade humana. Acrescidos a estes
temas, podemos mencionar interesse pela magia e pela religião africana, designada por
animista pelos evolucionistas. A escola funcionalista inglesa desenvolveu estudos científicos
sobre a organização sociopolítica dos povos africanos 15.
Para civilizar os “selvagens”, foi concedida autorização especial às missões católicas
como “instrumento da civilização e influência nacional”. Desde cedo, as missões católicas
cumpriram este dever fielmente, usando as línguas ocidentais como instrumento desta obra.
As missões protestantes, de seu lado, usam igualmente o método de alfabetização para a
consecução deste objectivo. O ler e o escrever foram usados como instrumento para a
transformação da sociedade. Foi usada a língua vernácula 16. A Bíblia foi empregue como livro.
A língua empregue foi geralmente àquela recenseada pela SEMP. Com estes, a Bíblia é
traduzida em outras línguas locais. O povo aprende a ler e a escrever em sua língua nativa.
Dicionários e gramáticas em línguas locais são escritos. Mesmo assim, a alfabetização criou
em terras africanas duas classes distintas
Em 1927, funda-se em Londres, o International Institute of African Languages and
Cultures. Este instituto passa a ser chamado em 1947, International African Institute.
Participaram antropólogos e africanistas de diversas as correntes para a fundação deste
instituto, pois os seus objectivos não eram políticos, mas puramente etnológicos. 17 As

13
A ONU permanece em silêncio por longos anos desde a sua fundação. A condenação oficial deste regime segregacionista só
será pronunciada pela ONU a 30 de Janeiro de 1957
14
É o caso de Henri-Alexandre JUNOD, apaixonado pela natureza, considerado o primeiro entomólogo em terras africanas, Cf.
HARRIES Patrick, Junod e as Sociedades Africanas: Impacto dos Missionários Suiços na África Austral , Maputo: Paulinas Editorial,
2007.
15
Cf. Alfred Reginald Radcliffe-Brown, Os Sistemas do Parentesco africanos e a Organização sócio-política .
16
HARRIES Patrick, Junod e as Sociedades Africanas: Impacto dos Missionários Suiços na África Austral , Maputo: Paulinas
Editorial, 2007, p. 239.
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diversas publicações deste Instituto foram determinantes para o conhecimento científico das
culturas dos povos de África.

O Marxismo e a Antropologia
O interesse dos marxistas pela antropologia data do século XIX, com Karl Marx e
Fredrich Engels. Marx se preocupava pelas causas do surgimento do capitalismo. Nisto ele se
interessa pelo feudalismo e pelas sociedades primitivas. No fim da sua vida, Marx se
preocupou em estudar as sociedades rurais da Índia e da China. Seus estudos foram
publicados em 1972 por L. Krader, sob o título The Ethnological Notebooks of Karl Marx
(Manual da Etnografia de Karl Marx).
Marx, nestas notas (escritas entre 1880 e 1882), observam-se as influências recebidas
das ideias de Lewis Henry Morgan ( Ancient Society, 1877 (Sociedade arcaica), John Budd
Phear (The Aryan Village in India and Ceylon , 1880 (Aldeias Arianas na Índia e Ceilão ), Henry
Sumner Maine (Lectures on Early History of Institutions , 1875 (Lições da História Antiga das
Instituições) e John Lubbock (The Origin of Civilization and the Primitive Condition of Man ,
1870 (A Origem da Civilização e a Condição Primitiva do Homem ).
Decidido a completar a obra de seu predecessor, F. F. Engels, escreve, das notas de
Marx, uma obra a que designa de The Origin of the Family, Private Property and the State in
the Light of L. H. Morgan’s Researches 1884 (A Origem da Família, Propriedade Privada e
Estado à luz das Pesquisas de L. H. Morgan) . A tese fundamental de Engels é que a família,
a propriedade privada e o Estado têm uma origem única e são acúmulos diferentes de um só
e mesmo processo que se desenvolveu a partir da subordinação de mulheres aos homens e
da passagem da matri- a patri-linearidade; as mutações sociais seriam elas mesmas
consequência da domesticação de animais, de um lado, da apropriação privada da força do
trabalho pela família monogâmica, do outro.

17
Cf. BERNARDI Bernardo, Introdução aos Estudos Etno-Antropológicos, p. 202, apud Lord Lugard, o primeiro presidente deste
Instituto, afirma que promover “uma ligação maior entre a pesquisa, o saber científico e os assuntos práticos e, em particular, a
recolha de informações sobre o efeito que a civilização e o contacto com grupos europeus haviam tido sobre a procura dos nativos
como consumidores e sobre a extensão das mudanças causadas no seu teor de vida.”
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Karl Marx e Fredrich Engels, apoiando-se dos trabalhos da antropologia, desejavam


estabelecer três pontos fundamentais:
1. Os diversos aspectos da vida em sociedade estavam organicamente ligados uns dos
outros.
2. Os conceitos de amor e da sociedade são aspectos específicos de situações históricas
ligadas aos níveis particulares do desenvolvimento económico e social.
3. As principais transformações ocorridas na história são resultado das contradições entre
a organização da produção e a organização social.

Para coroar seu ponto de vista evolucionista, Fredrich Engels apresenta cinco modos de
produção, isto é, cinco estádios de uma evolução geral das sociedades humanas:

E. Comunismo18
D. Capitalismo
C. Feudal
B. Antigo
A. Primitivo

A antropologia marxista passou a ser maioritariamente do terceiro mundo. Ela se centra sobre
a análise das formas de exploração (sexual – androcentrismo; laboral – eurocentrismo, etc.);
para outros, a diferenciação sexual é cultural e não biológica. Ela será empregue como
expressão da emancipação de uma classe social oprimida.

18
Regime politico, economico e social caracterizado pela comunhão de todos os bens e pela ausencia de propriedades privadas. A
maioria dos países africanos adoptaram este regime depois das independências. Assiste-se em Moçambique: lojas do povo,
cooperativas do povo, machambas do povo, o salário era único para todos os funcionários, aldeias comunais, etc.
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Capitulo III: CULTURA E DINÂMICA CULTURAL


Por Mestre Sávio J. R. Malope

No final deste capítulo o estudante deve saber:

1- Conceituar a cultura
2- Distinguir o conceito antropológico do conceito humanístico de cultura
3- Distinguir cultura material da cultura espiritual
4- Compreender os diferentes factores que determinam e condicionam a cultura
5- Compreender a diversidade cultural para saber conviver
6- Descrever o processo da dinâmica cultural e seus respectivos fenómenos

A cultura é usada pela nossa sociedade com uma infinidade de sentidos. Ao longo da história o
conceito de cultura foi evoluindo até aos nossos dias. Junto as escolas de pensamento, os autores
criaram definições, que configuraram o edifício do que hoje consideramos cultura no sentido
antropológico. Com as suas teorias os estudiosos enriqueceram o sentido de cultura e lhe abriram
perspectivas novas. Este movimento de constante sistematização do conceito de cultura, chegou até
aos nossos dias aparecendo novas teorias e novas reformulações. Portanto, o processo de
globalização em que estamos mergulhados, levanta novas questões e desafios novos a reflexão
antropológica.

Há teorias que põe em relevo a tendência sociológica; outras que consideram a cultura como algo
indefinido, algo que já não serve para a pesquisa científica, um obstáculo, um enredo de difícil
solução, uma atrapalhação, algo assim como um texto estruturado de símbolos e significados, uma
sobrevalorização do conceito, uma invenção dos antropólogos. As definições são do tipo analítico,
umas e de tipo mais sintético, outras.
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Ora, o aspecto crucial da reflexão antropológica sobre a cultura, é o aspecto sistemático e a


possibilidade de reencontrar os percursos inerentes, mas isto, sem no entanto deixar-se do lado o
aspecto diferencial, que evidencia a importância que tem a alter idade e a diversidade cultural; e o
aspecto dinâmico, que sublinha os aspectos de encontros interculturais, de complementaridade, de
mudança e de transformação.

ETIMOLOGICAMENTE, o vocábulo Cultura provem do particípio passivo do verbo latino colo,


colis, colere, colui, cultum, que significa: cultivar, cuidar, ter cuidado, prestar atenção. Expressa a
relação dinâmica e estável a um lugar. Os seus derivados são: agri-cola=cultivador da terra; agri-
cultura=cultivo do campo; in-cola=morador; colonus=a pessoa que cultiva; colonia=local
cultivado.

Uso do termo cultura com diversos sentidos:

- sentido material: colere terram = cultivar a terra; é o primeiro sentido de cultura;

- sentido espiritual: colere deos loci; cultus deorum: venerar (prestar atenção) os deuses protectores
do lugar, cuidar os deuses da terra;

- sentido social: a partir do século XVII, o termo cultura começou a usar-se no sentido colectivo,
algo que tem que ver não apenas com o individuo, mas com as populações e nações.

- sentido étnico: também começou o uso particularista e étnico (a cultura de uma determinada
sociedade);

- sentido universalístico: no sentido universalista (a cultura de toda a humanidade, a cultura


universal). Neste sentido a cultura equivale a civilização.
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DEFINIÇÕES DA CULTURA

Em 1869, Matthew Arnold definiu a cultura como o conseguimento da perfeição, que implica uma
condição interna da mente e do espírito (doçura e luz), através do bom e do melhor que se pensou e
se diz na historia.(Arnold, 1975:23,24)

Vinigi L. Grotanelli, afirma que «a cultura é toda actividade consciente e deliberada do homem
como ser racional e como membro de uma sociedade e o conjunto das manifestações concretas que
derivam daquela actividade» (Grotanelli,1965:27). Desta definição, podemos olhar para a cultura
como que a expressão do homem, como individuo e como membro integrante de uma sociedade.

Mas de todas ate então apresentadas, a definição de Tylor, na sua obra, intitulada Cultura Primitiva
de 1871, «Conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e
varias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade» (Tylor,
1871:5), conseguiria ser o mais abrangente conceito de cultura no sentido antropológico ate então
criado. Ela contem acima de tudo afirmações importantes que devemos sublinhar: a cultura é
adquirida, não transmitida biologicamente; o homem adquire acultura como membro de uma
sociedade; existem tantas culturas quantas são as sociedades; todas as culturas são igualmente
dignas; a cultura é um conjunto complexo, isto é, composta por entidades que se podem decompor
nos seus variados elementos ou traços (símbolos, ritos, normas, instituições); necessidade do estudo
comparativo. Ela é património especifico de um determinado grupo social. É portanto, preciso não
esquecer que, a cultura é um modo colectivo de provar a sobrevivência de todos e de cada um dos
membros da população.

FACTORES DE CULTURA
Por: Mestre António V. Waya

O conceito de cultura atrás apresentado mostra que a cultura compreende traços ou elementos de
duas ordens: espiritual e material.

Os elementos espirituais compreendem as ideias, crenças, normas, valores, usos e costumes do


grupo. Neste conjunto, revestem-se de especial importância os valores, já que toda a vivencia
colectiva se realiza e se ajuíza em função deles. As ideias de bem e de mal, de justiça, de beleza, de
bondade, de liberdade, etc., condicionam efectivamente, a actividade dos indivíduos.

Por seu turno, os elementos materiais de uma cultura abarcam as obras realizadas, as técnicas ou os
elementos de trabalho do grupo, que não só lhe permitem exercer o necessário domínio da natureza
como exprimem o universo espiritual do ser humano. Os elementos materiais, relacionam-se, assim,
de forma directa, como ambiente que rodeia o grupo, pois reflectem a luta dos indivíduos pela sua
sobrevivência. Estes adaptam-se a natureza no sentido de a colocar ao seu serviço.

Naturalmente, como parte integrante da cultura, os elementos espirituais e materiais não tem
existência separada, antes interagem dialecticamente, produzindo a cultura.

Ora, quais seriam então os factores da cultuar? Sumariamente, diríamos que são quatro factores
essenciais da cultura. O anthropos, ou seja, o homem na sua realidade individual e pessoal; o
ethnos, comunidade ou povo, entendido como associação estruturada de indivíduos; o oikos, o
ambiente natural e cósmico dentro do qual o homem se encontra a actuar; o chronos, tempo,
condição ao longo da qual, em continuidade de sucessão, se desenvolve a actividade humana.

Nenhum destes factores produz, só por si, a cultura, mas nenhum pode ser considerado estranho ao
seu processo dinâmico. A sua acção é constante e, através de uma análise profunda, encontram-se
em todas as manifestações culturais com evidências mais ou menos patentes.

CULTURA E SOCIEDADE
Por: Mestre António V. Waya

Sabemos que o ser humano tem vivido, desde sempre, em grupo. Neste sentido, o homem é um ser
social. Mas, de igual modo podemos afirmar, também, que viveu sempre num estado cultural,
afastando-se do estado de natureza característico das restantes sociedades animais.

A vida em grupo tem conduzido ao desenvolvimento e procedimentos que, espelhando valores


aceites, concorrem para a satisfação das necessidades da colectividade, afastando-a de um estado
selvagem.

Em todos os tempos e lugares, a vida social tem, na verdade, suscitado crenças, criado normas,
idealizado valores, encontrado soluções organizativas e institucionais, inventado instrumento de
trabalho, desenvolvido capacidades, aperfeiçoado habilidades, produzido obras artísticas, técnicas,
literárias, etc., que a caracterizam e lhe conferem originalidade. Numa palavra, a vida em grupo é
uma vida em estado de cultura. Isto é, cada sociedade exprime-se e realiza-se através de uma
cultura.

De certo modo, deixamos já antever uma das noções mais comummente aceites de cultura:
conjunto complexo e articulado de normas, crenças e valores que condicionam o horizonte
espiritual do homem, bem como as realizações técnicas do grupo, que conferem a cada sociedade e
o seu aspecto original. Cultura é, pois, um fenómeno onde todos os membros do grupo têm lugar,
isto é, um fenómeno partilhado que concede a cada um uma semelhança básica

De modo simplificado, pode dizer-se que a cultura representa a expressão de um grupo e


concretiza tudo o que é socialmente aprendido e partilhado pelos membros desse grupo.

A actividade que o homem encerra no seu íntimo, como frequentemente acontece com a sua
intuição e o seu pensamento, ou, de qualquer, modo, o seu comportamento privado, mantém um
carácter nitidamente pessoal mas tira todo o seu impulso e modelo da cultura. A sociedade, como
grupo, considera a actividade humana, não no aspecto individual, mas no aspecto de participação e
Por: Mestre António V. Waya

de associação pluri-individual. Representa, portanto, uma manifestação da cultura humana, de


aplicação vastíssima e de valor fundamental, mas distinta da cultura como expressão total da mente
humana. É verdade que a cultura, ainda que brotando da actividade singular, deixaria de ser cultura
se permanecesse ao simples nível individual; mas não haveria nem cultura, nem sociedade se não
existisse o indivíduo e a sua actividade mental. A cultura abrange todos os aspectos do fenómeno e
é o conceito mais vasto e abrangente da sociedade.

Ora, há que frisar que, a cultura não é só o conceito mais vasto de sociedade; esta assume ainda a
forma daquela. Por outras palavras, também a sociedade é uma manifestação tipicamente cultural.
Portanto, se quisermos chegar a uma definição de sociedade que tenha em conta estas considerações
antropológicas, devemos dizer juntamente com Bernardi que “a sociedade é o conjunto dos
sistemas normativos das relações humanas que traduzem e acionam os valores e as interpretações
culturais em instituições sociais” (Bernardi, 1974:37)

DIVERSIDADE CULTURAL

As diversidades culturais são diferenças culturais que existem entre o ser humano. Há vários tipos,
tais como: a linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições como a organização da
sociedade. A diversidade cultural é algo associada à dinâmica do processo associativo. Pessoas que
por algumas razões decidem pautar suas vidas por normas pré-estabelecidas tendem a esquecer suas
próprias idiossincrasias (Mistura De Culturas). Em outras palavras, o todo vigente se impõe às
necessidades individuais. O denominado "status quo" deflagra natural e espontaneamente, e como
diria Hegel, num processo dialéctico, a adequação significativa do ser ao meio. A cultura insere o
indivíduo num meio social.

O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos


diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura (do latim cultura,
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cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e
diferente especificidade. São práticas e acções sociais que seguem um padrão determinado no
espaço/tempo. Se refere a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que
permeiam e "preenchem" a sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social, é a identidade
própria de um grupo humano em um território e num determinado período.

A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos
de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes, também, pode ser
encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua.
A diversidade cultural é complicada de quantificar, mas uma boa indicação é pensar em uma
contagem do número de línguas faladas em uma região ou no mundo como um todo. Através desta
medida, há sinais de que podemos estar atravessando um período de declínio precipitado na
diversidade cultural do mundo. Pesquisa realizada na década de 1990 por Luã Queiros (Professor
Honorário de Linguística na University of Wales, Bangor) sugeriu que naquela época em média,
uma língua caía em desuso a cada duas semanas. Ele calculou que se a taxa de mortalidade de
línguas continuasse até o ano 2100, mais de 90% dos estilos falados actualmente no mundo serão
extintos.

FUNÇÃO E ENERGIA

Uma vez individualizados os elementos constitutivos das formas particulares da cultura


espontaneamente interrogarmo-nos: qual é a causa pela qual um antropema, qualquer que seja a sua
proveniência – a intenção humana ou a aplicação de um princípio estrutural - , é acolhido pela
comunidade e transformado em etinema? Qual é a causa pela qual um etinema se articula com
outros etnemas, como se tratasse de um organismo vivo? Quais as razões porque, num certo
momento, um etnema é recusado ou abandonado, deixado de ser integrante?
Por: Mestre António V. Waya

Portanto, esta problemática ocasionou pesquisas discussões sobre dinâmica da cultura,


definitivamente assinalados pelo pensamento antropológico.

A continuidade da estrutura é mantida pelo processo da vida social que consiste nas actividades e
interacções dos indivíduos e dos grupos organizados dentro dos quais se encontram unidos. A vida
social da comunidade é aqui definida como o funcionamento da estrutura social. “ A função de
qualquer actividade corrente, como a punição de um rebelde ou uma cerimonia fúnebre, é a parte
que ela desenvolve na vida social entendida como um todo e daí o contributo que induz a
manutenção da comunidade estrutural.”(Radcliffe-Brow apud Bernardi, 1974:97).

No conceito de função de Brown, assinala-se sobretudo o valor fundamental que ele atribui ao
indivíduo; a actividade está na base da formação da cultura entendida também como estrutura
social. Mas convém observar que se é, também, verdade que a continuidade da estrutura não é
destruída com a mudança dos indivíduos, muda porém a sua qualidade e sua forma. Mudam os
indivíduos e mudam os antropemas, isto é, mudam as interpretações e as instituições que estão na
raiz da cultura e da sociedade. Neste sentido, é muito significativo que a problemática da dinâmica
cultural, e em particular o problema das transformações, se tenha imposto ao estudo dos
antropólogos, mesmo com a preponderância do interesse funcionalístico. O aspecto individual é
irrepetível, pelo que só em sentido analógico a cultura se pode chamar um organismo.

O DINAMISMO E MUDANCA CULTURAL

A cultura tem sofrido um crescimento ao longo dos tempos, desde os primeiros hominídeos -
crescimento esse que proporcionou uma evolução cada vez mais rápida. Claro que toda a
rapidez é relativa! Actualmente, a evolução cultural atinge um ritmo sem precedentes, algo
que seria impensável sem a proximidade das populações e, por conseguinte, das suas
Por: Mestre António V. Waya

culturas, pela tecnologia.

Uma vez que a cultura é algo que se aprende, a vida em comunidade permite uma exposição
a um maior número de hábitos - pois a cultura é cumulativa - e, por conseguinte, a uma
maior possibilidade de evolução. Diversas comunidades levam, por sua vez, a uma maior
comunicação e trocas culturais. Certos hábitos podem ser esquecidos, sendo substituídos por
outros pertencentes a outras culturas, ou então substituídos por simples evolução cultural.
Deste modo, podemos dividir a dinâmica cultural em três factores - enculturação,
aculturação e desculturação - que pertencem a um processo único e dinâmico que acontece
continuamente e ao mesmo tempo.

Actualmente, a rápida troca de informações que permite o contacto de culturas diferentes


leva a que todas elas sofram uma aculturação. Ao adquirirem novos hábitos culturais as
culturas vão ficando mais enriquecidas, mas se perderem muitos traços culturais, estas
culturas ficam em risco de desaparecerem. Infelizmente, este último caso é o mais comum
com diversas culturas a sentirem uma aculturação excessiva por parte de culturas mais
fortes, economicamente. No entanto, para além de uma tendência globalizante, actualmente
também co-existe uma tendência tribalista - que procura reviver as diferenças culturais para
que certos grupos não percam a sua identidade cultural.

ENCULTURAÇÃO
Este é um processo educativo através do qual os indivíduos (regra geral pensamos nas
crianças como o único alvo, mas este é um processo que acontece ao longo de toda uma
vida) apreendem os elementos da sua cultura, quer informal, quer formalmente. Este
processo acontece informalmente de um modo contínuo, seja consciente ou
inconscientemente, pois processa-se essencialmente pela imitação e pelo envolvimento com
grupos espontâneos, e não instituições sociais. A família e os amigos são um bom exemplo
Por: Mestre António V. Waya

de grupos fundamentais à enculturação informal. Pelo contrário, a enculturação formal é


pautada pelo aspecto normativo e obrigatório inspirado por instituições sociais, o que
diminui a iniciativa espontânea (embora raramente a anule). A escola é, supostamente, uma
das instituições principais da enculturação formal.

A enculturação implica ainda um outro factor: a iniciação. Quando se fala de iniciação,


referimo-nos a todos e quaisquer tipos de rituais de iniciação:

- De puberdade e tribais;

– Religiosos e de outros mistérios;

– Escolares e académicos ;

– Desportivos e militares;

No entanto, estamos habituados a pensar em iniciações como uma celebração ou situação /


evento que marca um certo acontecimento, quando, na realidade, a iniciação não é um
evento único, mas uma série de estádios. Em certos casos, uma iniciação implica toda a
instrução que um indivíduo recebe. Assim, independentemente de ser uma iniciação que
acompanha o desenvolvimento fisiológico (início da menstruação, por exemplo) ou a
maturidade fisiológica (como o estádio da adolescência ou de adulto), existem três tipos de
iniciação:

 Instrutiva onde cada individuo aprende as tradições e os comportamentos através das


instituições directa.
 Dramática onde a acção cénica é o método preferencial de ensino.

 Visão onde o individuo entra em contacto com o mundo dos espíritos através de
Por: Mestre António V. Waya

isolamento, jejum ou drogas, interpretando as visões que dai advirem.

Então, por exemplo, conclui o leitor, a praxe universitária é uma iniciação! Absolutamente
correcto. O primeiro ano que um aluno passa como caloiro, digamos, numa faculdade
corresponde ao período de iniciação - um período longo em que passa pelo menos por três
estádios: o da chegada, o do período da praxe propriamente dita, e o um período de
aprendizagem que termina com o final do primeiro ano. Infelizmente, e apesar do efeito
estrutural da praxe acontecer de facto (ocorre uma mudança de status social), o efeito
psicológico falha pois não consegue transmitir a dignidade da passagem de caloiro para um
"estádio acima".

Para terminar, vamos apenas ver por que tipos de acontecimentos ocorre a mudança de
status social:

 Ritos de Separação em que o individuo é retirado do seu mundo anterior quase que
por uma morte simbólica.
 Ritos marginais ou de Liminalidade, o momento de passagem sagrada em que o
individuo já tem ou ainda tem uma nova qualificação (pertença ao nível do status)

 Ritos de Agregação, que transformam o individuo num novo membro da sociedade,


quase que por meio de uma ressurreição simbólica.

ACULTURAÇÃO
O processo de aculturação acompanha e pode até sobrepor-se à enculturação. São, assim,
processos muito semelhantes, mas enquanto a enculturação é a aquisição de cultura por um
membro dessa mesma cultura, a aculturação é a aquisição de elementos culturais de culturas
externas. Claro que essa assimilação, integração e fusão de elementos, por muito que os
Por: Mestre António V. Waya

agentes da aculturação sejam intencionais, não é um ponto assente na medida em que a


cultura receptora é muitas vezes selectiva face aos elementos culturais estrangeiros. Por
exemplo, os ameríndios, de um modo geral, assimilaram o cavalo no seu modo de vida; no
entanto, os índios Soshone não os conseguem criar visto o seu território não proporcionar o
pasto necessário. Por outro lado, se a força de aculturação se tornar opressiva contra a
selectividade natural do povo "aculturado", podem gerar-se crises de mal-estar social que
podem explodir e também originar movimentos religiosos ou crenças de salvação.

A aculturação é, basicamente, o resultado das relações culturais que podem ser de ordem
diversa:

 Simbiose Cultural

- Ocorre quando há coexistência ou convivência entre duas ou mais culturas (sub culturas,
por exemplo)

- Esta coexistência ou convivência não pode ser ocasional ou temporária.

 Osmose Cultural

- Ocorre quando, por mais que as culturas sejam diferentes, alguns elementos culturais
unificam-se devido a alianças matrimonais, trocas comerciais, escaramuças e lutas ou
guerras.

- Esta é típica em zonas fronteriças. Com a cultura espanhola ivasora dando origem a actual
cultura mexicana.

 Fusão Cultural

- Ocorre quando os elementos culturais de duas ou mais culturas se misturam de tal modo
Por: Mestre António V. Waya

que dão origem a outra cultura como aconteceu, por exemplo, no México: a cultura azteca
nativa fundiu-se com a cultura espanhola invasora dando origem a actual cultura mexicana.

DESCULTURAÇÃO
Relativamente à desculturação não há muito mais a dizer: é o processo de perda ou
destruição do património cultural, o que pode incluir apenas alguns elementos culturais ou
toda uma cultura. Este processo pode acontecer de um modo impercetível, como acontece
com a constante evolução e renovação da língua; ou pode acontecer de modo traumático,
como em situações de extermínio e genocídio, que visam acabar com todo um povo e sua
cultura, ou "moldá-los" para escravatura.

REFERÊNCIA

BERNARDI, Bernardo, Introdução aos estudos etno-antropológicos. Lisboa, Ed. 70, s/d.

CUCHE, D. A noção de Culturas nas Ciências Sociais. São Paulo, EDUSC; 1999, pp 175-202.

GEFFRAY, Christian. A Causa das Armas em Moçambique: Antropologia da Guerra


Contemporânea em Moçambique. Porto, Afrontamento,1991.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura. Um Conceito Conceito Antropologico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006

NGOENHA, Severino E. Identidade moçambicana: Já e ainda não. Serra, Carlos (dir.). Identidade,
moçambicana, moçambicanização. Maputo, Livraria Universitaria-UEM, 1998, p, 17-34.

MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para o estudo. 2. Ed, Matola,
Seminário Maior de S. Agostinho, 1995

MODIN, Baptista. O homem que ele é? Elementos da Antropologia Filosofia. Milão. Paulus, 2008.
Por: Mestre António V. Waya

MELO, Luiz Gonzaga. Antropologia Cultural. 8.ed. Petropolis, Brasil. Editora Vozes. 2001

TYLOR, E. B. Primitive Culture. Londres. 1871.

V. L. GROTANELLI, Etnologia. L’uomo e la civilta, Ed. Labor, Milano 19965.

QUESTIONÁRIO

1- Que conceito se lhe apresenta em torno do termo cultura?


2- Qual a diferença existente entre o conceito de cultura no sentido humanístico e o de cultura
no sentido antropológico?
3- Em que é que se distingue a cultura material da espiritual?
4- Quais os factores determinantes da cultura e demonstre a sua inter-conectividade?
5- Debruce-se em torno dos aspectos culturais e os principais fenómenos resultantes do
dinamismo cultural.
Por: Mestre António V. Waya

Fundamentos das Ciências Sociais introdução geral

Constituição e desenvolvimento das Ciências Sociais

Pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade nas Ciências Sociais

Ruptura com o senso comum

As ciências sociais são um conjunto de disciplinas, ou de ramos de saber que tem como objectivo
comum o de procurar conhecer a realidade social. Tais diciplinas são diversas apesar de
constituirem o mesmo conjunto, o das ciências sociais, uma vez que cada uma tem o seu objecto,
método e abordagens de forma espeficíca. Elas são sociais pelo facto de as suas investigações
incidirem no campo social, ou sob a vivência do ser humano.

Elas começam a ser ciências a partir do momento em que passam a ter um campo de abordagem,
objecto de estudo, objectivos e métodos de estudo, delimitam problemas solúveis, formulam leis,
constituem modelos interpretativos, tem capacidade de solucionar problemas, elaboram e testam
meios necessários, o uso de linguagem conceptual adequada e tanto quanto possível e exclusiva,
teses cientificas refutáveis que sejam verificáveis logicamente ou matematicamente, uma vez que
esses elementos constituem pontos centrais para que se considere um determinado ramo de saber
como ciência.

As disciplinas que compõem as ciências sociais são a história, etnografia, antropologia, demografia,
geografia económica entre outras, cada uma com o sua abordagem específica, mas todas elas se
preocupam com o social e as suas abordagens não estão distantes uma da outra, apenas
perspectivam a mesma realidade social de forma diversa, pois é meio complicado criar balizas bem
definidas que separam uma da outra. Uma vez que todas incidem o seu estudo no plano social.
Por: Mestre António V. Waya

Desenvolvimento das Ciências Sociais

As ciências sociais são uma criação histórica recente de uma civilização, onde o seu
desenvolvimento é marcado por diversos factores, a sua própria evolução teórica, o dinamismo de
outras ciências e formas de saber, as características desiguais de diferentes contextos institucionais
em geral, sociais.

Elas são um campo intelectual muito heterogéneo, em que a configuração é o resultado conjuntural
de uma história que continua. Foi no inicio do século XIX que vários autores evidenciaram a
autonomia e a profundidade do social. Onde o social é irredutível ao individuo, foi com a
consolidação desta tese que surgem as ciências sociais e também com o impacto crescente do saber
lógico matemático, físico e biológico que elaborava um modelo de estratégia de investigação que ia
servindo de referencial aos estudiosos sociais e com as transformações económicas, demográficas,
políticas e culturais dos oito cientistas do ocidente, referente aos anos 1800, ou ao século XIX.

As teorias ou as teses de Durkhein, Webber, Karl Marx, August Comte foram preponderante para o
surgimento das ciências sociais, apesar de alguns deles escrevessem acerca do social sem ter a
mínima noção de fundamentar um novo campo de investigação o social.

Augusto Comte na sua teoria dos três estados necessários no progresso do homem. O fictício, onde
o ser humano resolve seus problemas socorrendo se apenas dos valores da sua tradição. Metafísico,
que é o intermédio, para o estado Positivo, onde o homem passa a resolver os seus problemas não
mais como base a tradição, aqui existe o sentido crítico e analítico na resolução dos problemas. Karl
Marx estudava os factos sociais sob ponto de vista económico, focalizando a luta constante entre as
Por: Mestre António V. Waya

classes. Amile Durkhein onde faz o estudo do factos sociais sob vários pontos de vista, tentando
compreender os motivos que levam os indivíduos a frustração, estuda o homem como um ser que
não pode se isolar da sociedade.

Pluralidade, diversidades e interdisciplinaridade das ciências sociais

As ciências sociais são pluridimensionais na medida em que, um único fenómeno pode ser foco de
estudo de muitas ou de quase todas disciplinas sociais, em que tais estudos são feitos de pontos de
vistas diferentes, isto é, em perspectivas bastantes diversas.

Uma vez que o mesmo facto social estudado sob ponto de vista sociológico ganha uma perspectiva
diferente quando o mesmo facto for submetido ao estudo sob ponto de vista psicológico,
económico, antropológico entre outras disciplinas que fazem parte das ciências sociais.

Os factos sociais são designados de factos sociais totais na medida em que podem ser estudados
sob várias perspectivas que compõem o ramo das ciências sociais.

As disciplinas que compõem as ciências sociais se deferem, não por que existam fenómenos que
são exclusivamente sociológicos, económicos, demográficos, psicológicos históricos etc, mas por
que partem de perspectivas teórica distintas e constroem distintos objectos científicos, apesar de que
para qualquer destas disciplinas existam sociedades privilegiadas em que incidem mais o seu
estudo.

Não significa que os fenómenos económicos, políticos e sociais sejam compartimentos estanques,
são dimensões inerentes a toda acção social, estão nela profundamente interligados. É bastante
difícil delimitar as fronteiras em todas disciplinas que constituem as ciências sociais, uma vez que
no único fenómeno social pode ser visto sob várias perspectivas.

As ciências sociais se diferem uma da outra de acordo com forma que perspectivam a realidade,
onde cada ciência social elabora o seu próprio conjunto articulado de questões, a sua problemática
Por: Mestre António V. Waya

teórica, define o seu objecto científico, determina um certo número de problemas de investigação de
acordo com o contexto da problemática, constrói conjunto de princípios, teorias, estratégias
metodológicas e resultados cruciais que servem de modelos ou quadro, com o propósito de orientar
as pesquisas produzidas numa área específica de saber; os paradigmas.

Quase todas ciências sociais com o decorrer do tempo ou na sua evolução tem mudado de
paradigma e de quase todos elementos cientificamente aceites.

As ciências sociais se complementam nos campos das suas abordagens, uma vez que necessitam de
alguma outra ciência para compreender um determinado fenómeno. A interdisciplinaridade nas
ciências sociais reside no facto da existência da interdependência ou complementaridade entre as
disciplinas, uma vez que entre elas existe um mútuo e efectivo uso de conceitos que são de outros
ramos de saber.

Entre as ciências sociais existe um intercâmbio no uso mútuo dos conceitos, numa perspectiva de
facilitação de compreensão, da direccionalidade de um determinado estudo, a medida que na
antropologia social é necessário que se use o termo emprestado que é o sociológico e o mesmo
acontece em geografia económica e em tantos outros ramos do saber social onde existe interligação.

A ruptura com o senso comum

A ruptura das ciências no geral com senso comum é sobretudo no que diz respeito aos preceitos ou
mecanismo pelos quais um determinado saber deve passar para que se considere de científico, a
verificação, tese bem elaborada e lógica. No concernente as ciências sociais sobretudo se distancia
do senso comum à medida em que um determinado saber ou teoria deve ser interligado e que seja
verificável, na medida em que ela obedece aspectos lógico-matematicamente aceites nos padrões
científicos e não apenas uma mera dedução.
Por: Mestre António V. Waya

O senso comum é distanciado do saber cientifico por não obedecer regras cientificas na justificação
do seu saber. Um saber científico qualquer que seja deve partir de uma problematização, ser uma
teoria lógica verificável que obedece aos princípios estabelecidos num determinado ramo de saber,
e não apenas se tratar de simples deduções.

No tocante aos factos sociais para se considerar de científicos devem dizer respeito a uma
determinada sociedade com evidencias bem esclarecidas numa perspectiva social, conjuntural,
histórica comparativa etc. Os factos que a sua explicação é vista sob perspectivas individuais não
podem ser considerados de científicos senão de senso comum.

Exercícios de Aplicação

1.Diferencie o objecto de estudo da Antropologia do da História.

2.Qual é o objectivo de estudo das ciências sociais?

3. O que distingue as disciplinas que fazem parte das ciências sociais?

Antropologia no domínio das ciências sociais

a)Definição, objecto e campos de abordagem

b)Métodos e técnicas de investigação em Antropologia, etnografia, trabalho do campo, observação


participante, a interpretação.

A antropologia - etimologicamente vem da junção de duas palavras anthropos palavra grega que
significa homem e logia-estudo, sendo estudo ou tratado acerca do homem, dai que a antropologia
Por: Mestre António V. Waya

é ciência que estuda acerca do homem. Ela se difere das outras ciências sociais que estudam o
homem, a partir do seu objecto, uma vez que ela estuda o homem como um todo.

Para Herskovits a unidade da antropologia está no facto importantíssimo de que a antropologia,


centrando a sua atenção no homem, leva em conta todos os aspectos da existência humana,
biológica e cultural, passado e presente, combinando esses diversos materiais numa abordagem
integrada do problema da existência humana. Diversamente das disciplinas que tratam de aspectos
mais restritos do ser humano, a antropologia frisa, o princípio de que a vida não se efectua em
categorias mas é uma corrente contínua.

A antropologia é uma disciplina mais especializada e mais geral, ela é especializada enquanto trata
apenas de assuntos relacionados com homem e sua experiência e geral no concernente a variedade
incrível de aspectos da realidade humana que envolve temas estudados por geneticistas, psicólogos,
sociólogos, biólogos, geógrafos, etc. E por isso a antropologia pode ser considerada como parte das
ciências naturais.

A antropologia se subdivide em tantos ramos, onde Felix Keesing apresenta nos o


esquema seguinte:

Etnologia Etnologia
Por: Mestre António V. Waya

Antropologia Fisica Etnografia

Antropologia

geral Linguística Antropologia social

Antropologia Cultural Arqueologia Pré-histórica

Antropologia física- estuda os aspectos biológicos do homem, da história natural e ciência natural

do homem, não só lhe interessa o estudo das populações modernas, mas também do estudo da

evolução da espécie humana, estuda os problemas da origem do homem, as semelhanças e as

diferenças entre os povos, o antropólogo físico deve conhecer todos processos vitais da evolução, e

o ambiente geográfico que ocorre essa evolução.

Antropologia Cultural é o ramo da antropologia geral que estuda a obra humana, a cultura, que é o

conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras

capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro duma sociedade.

Na cultura encontramos aspectos relacionados com a política, religião, arte, artesanato, economia,

linguagem, práticas e teorias, crenças etc, é um ramo de aspectos complexos, onde inicia e termina

o campo da antropologia cultural, biológica, qual é a influência de uma em relação a outra.

Segundo keesing Felix na antropologia cultural encontramos três ramos bastantes nítidos, a

etnologia, linguística e a arqueologia pré-histórica, encontra se a etnologia, do grego ethnos-povo


Por: Mestre António V. Waya

significando estudo ou ciência do povo. Herskovits diz que; a etnologia se preocupa no estudo

comparado da cultura e da investigação dos problemas teóricos que brotam da análise dos costumes

humanos; na Inglaterra e nos Estados Unidos dão o nome de antropologia social.

Linguística trata de um aspecto restrito da cultura que é a linguagem, este ramo surge da

necessidade que os antropólogos tinham de aprender as línguas dos povos que estudavam. Tinham

que estudar as línguas dos povos ditos agrafos, sem escrita, e depois passam a fazer o estudo

comparativo dos idiomas e a examinar os vocábulos, a estrutura gramatical e lógica desses idiomas,

esse estudo foi importante, trazendo a luz muitas línguas ainda desconhecidas pelos filólogos.

Arqueologia archaicos – antigo, pré-histórica o estudo do passado por meio de escavações.

O primeiro ramo da antropologia cultural, a etnologia se subdivide em etnologia, etnografia e

antropologia social, a etnologia estuda a cultura dos povos destacando as semelhanças e diferenças

entre a cultura dos povos, analisando o desenvolvimento histórico de uma cultura e a relação entre

as culturas.

Antropologia social se aproxima muito da sociologia, preocupando se com a instituição de

generalizações sobre uma cultura, a sociedade e a personalidade em um sentido mais universal.

A Antropologia Cultural se defere das demais ciências sociais pelo facto de dever conhecer a

arqueologia, ela não só deve detalhar a compreender as actividades humanas desde o tempo da

primeira aparição dos hominídeos na terra, mas também deve ter ideia sequenciada pela qual se
Por: Mestre António V. Waya

desenvolveram vários elementos culturais, e das variedades evidenciadas pelos padrões culturais em

diferentes áreas do mundo, deve também dedicar se em descobrir quaisquer processos universais

que porventura estejam subjacentes ao progresso evolucionista da cultura humana à medida em que

um grau desenvolve a partir do outro.

O antropólogo cultural deve se esforçar em esquecer os aspectos que aprendeu acerca da sua

cultura, a sua preocupação fundamental é compreender os costumes dos homens e mulheres

diferentes dele, e não julga-los ou modifica-los. Um antropólogo cultural deve ter sempre em conta

as forças biológicas que desempenham um papel fundamental na mudança da conduta humana.

A antropologia Cultural é uma disciplina que estuda os povos no seu todo independentemente de
ser ou não ocidental. Na medida em que a sua real preocupação é com todas manifestações de
comportamentos evidenciadas pelos membros de espécies homo sapiens se sequer atender a raça,
local de residência ou grau de desenvolvimento.

Antropologia cultural para ..Levi Strauss, trata do estudo do homem enquanto fabricante de coisas,
põe em realce a diferença entre o homem e o animal, ou seja, põe em realce a oposição entre a
cultura e a natureza. Costumes, crenças e instituições são técnicas como quaisquer outras, mas
simplesmente de ordem mais propriamente intelectual.

A antropologia é o aperfeiçoamento do estudo outrora feito pela etnologia, a antropologia não


estabelece nenhuma comparação entre os povos agrafos ou não agrafos. Ela é a compreensão do
homem no seu todo, sob ponto de vista cultural, económico, social, político entre outros de modo a
fazer com que o homem se desenvolva, de modo a ter uma vida salutar.
Por: Mestre António V. Waya

A antropologia cultural é a discrição de conjunto de práticas e produções humanas socialmente


transmitidas. Em Herskovits a cultura é parte do meio produzida pelo homem.

O objecto de estudo da antropologia cultural é o comportamento de todos seres humanos, para a


antropologia cultural todas as actividades humanas, quer das sociedades não primitivas ou
ocidentais oferecem tanto interesse como as actividades das sociedades primitivas ou não
ocidentais.

Campo de abordagem

O maior foco dum antropólogo cultural são os padrões culturais, não implicando necessariamente
que não se interesse com outras partes que compõem a antropologia, mas sim tem o dever de
conhecer a arqueologia sobre tudo, que e o estudo das culturas extintas, da antropologia social,
económica, da psicanálise etc. Ao estudar a cultura devem compreender os aspectos que nela
interagem, a política, arte, religião, a própria cultura dos povos já extintos e presentes.

Métodos e técnicas de investigação em antropologia

Método etnográfico

Etnografia a partir do seu termo é a discrição dos costumes, da cultura e da vida dos povos, é a
colecta de documentos e discrição completa e pormenorizada de determinadas culturas. Para Levi-
Por: Mestre António V. Waya

Strauss a etnografia corresponde aos primeiros estágios da pesquisa, observação e discrição,


trabalho de campo, ela engloba ainda os métodos e as técnicas que se relacionam com o trabalho de
campo, com a classificação, descrição e análise dos fenómenos culturais particulares; quer trate de
armas, instrumentos, crenças ou instituições; e a etnologia faz a sistematização dos dados
fornecidos pelos etnógrafos e mais outras informações.

Trabalho de campo é um processo que envolve mais aspectos da conduta social, dentro dos quais
o comportamento manifesto é observado, o antropólogo durante o trabalho de campo procura no
conjunto de informações sobre o passado e o presente, contextualizar as relações sociais que
observa.

O trabalho de campo é envolvente, é o processo de procura de conhecimento através de vários


outros procedimentos, entre os quais a observação participante.

Um antropólogo cultural durante o trabalho de campo deve ter em conta que é um hóspede,
inesperado numa sociedade construída por seres humanos sensíveis, cujo sistema de valores é
inteiramente diferente do seu, o seu trabalho é o de aprender tudo que pode sobre a outra cultura e
não modificá-la ou reformá-lo, ele é que deve se ajustar as formas do nativo e não o contrário.

Ele deve iniciar o seu trabalho a partir de assuntos menos íntimos, tendo em conta que é um
desconhecido, e os membros da sociedade em estudo podem não estar dispostos em compartilhar
sua cultura com um desconhecido, dai que iniciaria com assuntos mais leves, como a recolha de
palavras que fazem parte do idioma dessa sociedade, e depois de ganhar a confiança deles entraria
em assuntos íntimos, como os sexuais, as bases da constituição das suas famílias.
Por: Mestre António V. Waya

Observação participante é o envolvimento directo que um investigador de campo na disciplina de


antropologia cultural tem com um grupo social em estudo, dentro dos parâmetros das próprias
normas do grupo, a observação participante é pontual, onde despe o investigador do seus
conhecimentos culturais próprios, enquanto veste o do grupo investigado, é o exercício que faz,
tentando ultrapassar o etnocentrismo cultural espontâneo em que cada ser humano define o seu estar
na vida.

Interpretação

Consiste na interpretação e análise de dados recolhidos no trabalho de campo, esta interpretação


deve ser bem cuidada na medida em que deve se analisar os dados recolhidos por meio de entrevista
ou inquéritos, uma vez que os informadores ou inqueridos podem não ter sido fieis nas informações
fornecidas ou podem ter omitido algumas informações, no que concerne a cultura existe hábitos ou
leis que existem como regras o que uma determinada comunidade crê, mas essas leis não fazem
parte do seu quotidiano. Deve existir cuidado também com os interpretes, uma vez que as
interpretações não podem ser fidedignas.

Objectivos:
Por: Mestre António V. Waya

Conhecer todas as fases que compreendem o pensamento antropológico

Explicar cada momento que compreende o pensamento antropológico

Explicar a origem do campo antropológico

Relacionar a antropologia emergente com o colonialismo

Descrever e explicar a origem de cada uma das correntes antropológica

Interpretar as correntes antropológicas a luz das culturas moçambicanas

Operacionalizar as correntes filosóficas dentro da culturas moçambicanas

História do Pensamento antropológico. A curiosidade intelectual e o interesse pelo exótico

Do colonialismo a crise da antropologia, Etnocentrismo. A universalidade da antropologia

A história da antropologia é bastante longa e não e recente, começa mesmo com própria civilização
humana, o tratado acerca do homem tem longa história, não sistemática e depois sistemática, desde
a idade clássica, com Heródoto, Platão, Aristóteles, Sócrates. Que faziam reflexões acerca do
homem.

A antropologia é sem dúvida a mais antiga das ciências humanas, atribui se ao grego Heródoto (480
ou 425-499), desde o século V a.C., o herói mítico, fundador da história, da geografia comparada e
da etnologia, este que efectuou várias viagens, nessas viagens fazia discrições narrativas acerca dos
povos que encontrava nos locais visitados, destacando as suas semelhanças e diferenças.
Por: Mestre António V. Waya

O estudo sobre os outros se efectua desde a antiguidade, onde os não gregos eram chamados de
bárbaros, e era necessário descreve-los para saber até que ponto eles são ou não bárbaros, descobrir
as diferenças e as semelhanças.

Na idade média o discurso passa a ser da diferença entre os cristãos e os não cristãos é sob este
pretexto que se fundamentaram as primeiras conquistas e explorações do renascimento, da
exploração dos povos não europeus.

Esta exploração e ocupação teve vários pretextos, de evangelizar os povos não ocidentais que
tinham suas religiões tradicionais, de educa-los sob modelos ocidentais, tais povos foram
considerados de povos sem cultura, sem civilização, tinham modelos de vida diferentes dos
europeus, por isso foram alvos de grandes práticas desumanos.

Com os descobrimentos este tratado acerca do homem, vira as suas atenções para o homem
diferente do europeu, entre os séculos...XVI... XVII, cresce o número de escrito acerca de modo de
vida dos povos não europeus, e dai se desviam as atenções para o homem no seu todo para apenas
para a discrição das sociedades não europeias.

Foi a partir dos séculos XVII e XVIII que se desenvolvem reflexões mais sistemáticas acerca dos
povos não europeus, estabelecendo as comparações existentes entre estes povos com a sociedade
em geral, europeus, isso foi crescendo com os relatos das viagens dos descobrimentos dos
missionários, as narrações relativas aos índios da América, as viagens de J. Chardin a persia, de F.
Bernier as Índias, as discrições das sociedades da oceânica por Cook, as explorações do Mungo
Park no interior Africano. Surgia grande tendência de se publicar acerca dos povos não europeus
pelos missionários e crescia a curiosidade em estudar estes povos e conhece-los, cresciam as
dúvidas em relação a pertença ou não destes povos á humanidade.
Por: Mestre António V. Waya

Com as explicações das diferenças e semelhanças, as origens das evoluções das sociedades, assim
como o programa dos pensadores da segunda metade do século XVIII, neste contexto são empregue
pelos termos Etnografia e Etnologia, a Etnologia, (Chavannes, 1787), como parte da filosofia da
história e mais tarde análise das características raciais, e a Etnografia ( Balbi, 1823), designando a
classificação dos grupos humanos a partir das características linguísticas.

Só nos fins do século XIX as duas disciplinas se apresentam como duas fases complementares do
mesmo projecto, sendo a Etnografia a colecta de documentos e discrição e a etnologia sintetiza e
compara os dados fornecidos pelos etnógrafos.

A autonomia do campo das ciências sociais no século XIX, com o uso dos métodos, técnicas do
objecto, a etnologia nesta senda encontra o seu campo geográfico e social de abordagem que é o
estudo das sociedades não ocidentais, a partir dos descobrimentos e da conquista. Aqui apenas se
estudava o outro, primitivo o estudo não é abrangente a todas sociedades.

Com a cisão entre a colecta de dados e interpretação, para o contacto directo dos antropólogos com
os povos ditos primitivos como B. Malinowski, Fraz Boaz entre outros, que viviam bastante tempo
fazendo estudo minucioso acerca destes povos, isso fez com que o campo etnológico adquirisse
uma originalidade.

Onde o Etnólogo deixa de ser etnólogo do laboratório ou de escritório, a entrar em contacto com os
povos ditos primitivos, vivendo directamente com os povos, e valorizando todos os momentos,
todas actividades sem critica-las, e prestando também a atenção em todos aspecto da vivencia destes
povos, a religião, os mitos, as crenças, etc.

O estado em que se encontrava o homem diferente do europeu, é considerado de estado anterior da


evolução humana, sobretudo do próprio europeu, antepassado do homem europeu, em que todos
estágios são necessários para evolução.
Por: Mestre António V. Waya

Por volta dos fins do século XIX ou inícios do século XX, a antropologia deixa de estar a serviço
exclusivo do imperialismo e do colonialismo passando a interessar se em estudar os povos de forma
muito interessante e não mais chama-los de agrafos, tendendo a uma nova metodologia, existindo
temas interessantes para o estudo das sociedades.

Já não são feitas as narrações de forma arbitrária, se estabelece um método que direcciona o estudo
dos povos, a emergência de tantas ciências como a psicologia, sociologia, psicanálise entre outra
contribuiu em grande medida para estudar e compreender estes povos.

Os novos métodos contribuem em grande medida da para o progresso do campo da antropologia,


onde já passa a se fazer o estudo dos povos a partir da convivência com os mesmos, onde se
valorizava a oralidade, o uso dos instrumentos ou materiais, como máquinas fotográficas,
gravadores entre outros instrumentos audiovisuais.

Surge a necessidade de preservar as culturas não ocidentais temendo a extinção destas sociedades e
dai que o campo da antropologia cultural ficaria em crise, e o estudo passa a ter uma nova
roupagem diferente daquela antiga.

Actualmente os antropólogos não só se preocupam em estudar os povos agrafos, passam a estudar


os povos no seu todo, existe grande tendência de contribuir para o desenvolvimento humano, a
preocupação do antropólogo já não é a de estudar os outros com pretensão de os modifica-los a sua
semelhança.

A heterogeneidade não é mais vista como acidental e desnecessária, mas sim como sendo uma
necessidade, onde não existe mais culturas inferiores ou superiores em relação as outras, mas se
exalta as diferenças culturais valorizando o multiculturalismo.

A antropologia conheceu varias fases de desenvolvimento, onde ganha diversas formas, tendo até
estado a serviço do colonialismo, explorando e pretendendo não aceitar a heterogeneidade ou até
Por: Mestre António V. Waya

pretendendo modificar os povos tido sem cultura. O seu desenvolvimento foi possível graças ao
desenvolvimento das ciências sociais e das ciências no geral, o que fez com que os etnólogos
saíssem dos gabinetes e efectuassem trabalhos de campos, vivendo e convivendo com os “outros”.

As correntes teóricas da antropologia

Evolucionismo é uma corrente segunda a qual as sociedades primitivas ou diferentes das do


ocidente representavam um estágio de evolução em que a sociedade ocidental já tenha passado. A
noção de evolução levou numerosos autores a estabelecerem uma sequência das diferentes etapas da
humanidade válida para todos os povos e em todo tempo. Os estados diferentes de evolução
observados seriam explicados não por concepções de tipo aparentemente não racista, mas através da
justificação de ordem cronológica.

Para os evolucionistas a existência de povos atrasados e avançados em determinada época apenas


significava que estavam em estado de evolução diferente e que os atrasados eram imagem do
passado dos grupos considerados avançados.

Para os evolucionistas os povos existentes no mundo deveriam pertencer a uma única civilização, a
ocidental, quer tanto no passado assim como no presente. Dai que o outro, diferente do ocidental
era visto em função da realidade ocidental, onde o ocidente ocupava naturalmente a última
etapa da evolução.

O grande e principal teórico do evolucionismo foi L. Morgan que dividiu a humanidade em três
fases Selvajaria, barbaria, civilização que dividiu cada fase em três partes também

-Selvajaria antiga Linguagem


Por: Mestre António V. Waya

Selvajaria -Selvajaria media-Fogo, lanças, machadas

-Selvajaria recente- arco e flecha

-Barbaria antiga - cerâmica

Barbaria -Barbaria média - domesticação, agricultura

-Barbaria recente metalurgia

-Civilização antiga - escrita

Civilização - Civilização media -pólvora, bússola, papel

- Civilização recente vapor, electricidade e noção de evolução

John Lubbock que dividiu as fases de evolução em ateísmo, feiticismo, naturalismo, xamanismo,
antropomorfismo, deísmo.

A humanidade e uma só e que a diferença existente entre os povos observados e os europeus esta
apenas na questão de estado de desenvolvimento, implicaria a necessidade de explicar um certo
números de atitudes que a primeira vista parecem contraditórias, uma vez que os povos atrasados
representam o primeiro nível de evolução da humanidade e como e que se explicariam algumas
crenças, ai surge o animismo, teoria que explica uma diferença do corpo humano, uma espécie de
alma que também pode dizer respeito aos animais, as plantas e aos objectos, e esta teoria explicava
no quadro do evolucionismo a existência de crenças tão diferentes das existentes no mundo
ocidental.

Que significava que os povos ditos primitivos teriam tendência em hábitos que estavam interligados
com alma, onde as manifestações dos homens estavam ligadas a aspectos da irracionalidade, onde o
homem primitivo teria tendências injustificáveis dentre os seres racionais, dai se explicava que as
Por: Mestre António V. Waya

acções dos homens primitivos estavam distantes da racionalidade e que a missão dos ocidentais era
de fazer com esses homens que não tinham ainda experimentado a racionalidade ajudar a atingir.

Difusionismo é uma corrente contrária ao evolucionismo que encontrou muitos adeptos na


Alemanha, EUA dentre eles encontramos RATZEL, FROBENIU e sobretudo GRAEBNERS que é
considerado verdadeiramente o teórico do Difusionismo.

Esta teoria defende que os elementos que constituem uma dada sociedade fossem recebidos de
outras sociedades. As sociedades difusoras são em pequenos números uma vez que criar seria difícil
que adoptar.

Para os difusionistas quando sociedades apresentam estados idênticos de desenvolvimento


significaria que tinham adoptado por contacto directo ou indirecto as mesmas características,
contrariamente ao evolucionismo seria que as sociedades estivessem no mesmo ou idêntico estágio
de evolução.

O difusionismo a semelhança do evolucionismo é uma corrente que estudava as diferentes culturas


com pretensão de explicar as razões das semelhanças e diferenças culturais, onde para o
difusionismo a dinâmica cultural, a questão de evolução cultural, ou mudança de costumes tinha
necessariamente que passar pelo contacto que tinha se estabelecido entre outros povos. Em que
práticas culturais determinadas tinham sido inventadas num espaço e tempo específico e que com o
contacto quer directo ou indirecto com os outros povos estas invenções se difundiriam para outras
partes do mundo.

Culturalismo de R. Benedict
Por: Mestre António V. Waya

Culturalismo é uma teoria segundo a qual o indivíduo deve ser compreendido como um ser que
existe a partir de uma determinada cultura e que a cultura é determinada pelo indivíduo.

Cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões de forma e de medida tradicionalmente
transmitidos na sua comunidade de geração em geração, onde o indivíduo desde que vem ao mundo
é moldado de acordo com os padrões existentes na sociedade onde ele faz parte.

E nesta relação é necessário fazer menção a psicologia do individuo, os costumes da sociedade para
R. Benedict tem como finalidade formar homens de vários tipos de acordo com a configuração
cultural da sociedade em que nasceram, em que existe dois tipos de culturas, as apolíneas e as
dionisíacas, as apolíneas trata-se de tipo equilibrado onde os individuo são educado para o respeito
da sensatez e da solidariedade enquanto que a dionisíaca os indivíduos são educados para
valorizarem a guerra, o individualismo, estas duas características mostram o aspecto psicológico da
cultura, que se pode encontrar na cultura. A personalidade é determinada pela cultura, onde também
a personalidade é bastante determinante na cultura. Na medida em que a cultura é transmitida de
geração em geração e o indivíduo pode optar em não aceitar o que lhe é transmitido, inventando a
sua forma de ser.

Funcionalismo

É uma corrente criada por Bronislaw Malinowski este que foi um dos etnólogos a considerar que os
etnólogos deviam abandonar os gabinetes, tendo sido um dos pioneiros no trabalho de campo.

Esta corrente vê a componente cultural de forma conjuntural em que surge como forma de
responder ou satisfazer as necessidades do homem, onde a questão cultural deve ser vista sob ponto
de vista funcional, onde uma determinada prática tem em vista a satisfação de uma necessidade do
Por: Mestre António V. Waya

homem. Onde existe questões culturais que surgem como forma de preservar a coesão entre pessoas
de determinado grupo, a magia, a religião, o saber, etc.

A noção de função é empregada enquanto relação entre um acto cultural e uma necessidade do
homem qualquer que seja a natureza da necessidade, onde encontramos de certa forma uma ligação
forte em relação a tudo que existe no plano social com a cultura, questões produtivas, normativas,
pedagógicas e políticas. Malinowski vai definir a função como sendo a relação entre um acto
cultural e uma necessidade, quando este procura satisfazer a necessidade.

E a cultural é um todo coerente e indivisível composto de instituições que agem separadamente ou


em conjunto, ou seja é o conjunto, material humano e espiritual que permite ao homem satisfazer os
diversos tipos de necessidades, num determinado meio ambiente. Tudo que existe numa
determinada sociedade é acompanhada de determinada realidade, onde qual quer ritual ou regra
deve ser vista sob ponto de vista funcional.

Estruturalismo

O estruturalismo de C. Levi-Strauss remonta a linguística de Ferdinand de Suassure em que um


determinado termo não pode ser percebido apenas através de um certo som com o seu conceito, mas
devendo se perceber os termos a partir de todo e não a partir do som e do seu conceito.

O estruturalismo a realidade é explicada a partir do todo, uma vez que não pode se compreender a
realidade social a partir das partes, mas sim com um todo. Em que C. Levi-Strauss diz que para
compreender as realidades sociais há necessidade de se perceber a partir do Estado natural, no
sentido de que as questões sociais só podem ser percebidas a partir de questões biológicas que sem
elas não encontrávamos as relações sociais e não encontramos explicações precisas acerca do
aspecto social se tentarmos percebe-lo de forma isolada.
Por: Mestre António V. Waya

Onde as questões de proibições sociais tais como o incesto assim como a exogamia encontram seus
alicerces nas questões biológicas em que em relação ao incesto a proibição em que o pai se encontra
em relação a sua filha e em relação a sua irmã, faz com que exista algumas regras ou direitos
relacionados com os mecanismos pelos quais se pode instituir os casamentos com estes indivíduos
que ela não pode se relacionar. Dai que o estruturalismo é uma corrente sistémica em que só se
percebe as regras sociais ou a cultura em si a partir de todo sistema e não de forma isolada.

O estruturalismo é a relação existente nos signos existentes numa determinada sociedade, onde os
signos dessa determinada sociedade são partilhados e interpretados por todos que constituem uma
determinada, isto fazem parte da comunicação entre os homens. Onde a cultura é essencialmente
partilhada ou transmitida a partir da própria linguagem.

Nestes signos existentes numa determinada cultura são forma de comunicação entre os homens,
onde existe grande relação entre os significados e os significantes.

A corrente Marxista

Para Marx o individuo é aniquilado em favor do colectivo, aqui valoriza-se as questões ligadas ao
todo, não existe o individualismo, a história é que determina a vida dos indivíduos em que tudo já
esta predeterminado na vida dos homens.

Esta corrente está ligada a antropologia económica, onde as formas de produção afectam as relações
sociais, influenciando em grande medida a situação sócio –cultural dos indivíduos. A ideologia
Marxista foi adoptada pelos socialistas, democratas entre outros, esta corrente que foi se alastrando
como sendo uma corrente cultural caracterizando a forma de vivencia dos indivíduos, onde na sua
conjuntura o marxismo pretende que se aniquile a família em favor do colectivo.
Por: Mestre António V. Waya

Existe muitos aspectos que estão ligados a produção as relações que existem entre o explorador e o
explorado em que na relação de produção o explorado trabalha para o seu senhor como forma de
fazer com que a sua vida seja preservada enquanto o explorador usa a mão -de -obra do explorado
para o seu enriquecimento sem nenhum custo, nas relações de produção existe também uma relação
entre indivíduos livres, estes que se encontram numa condições igualitária não existe nenhuma
situação de dominação. Basicamente o comunismo é a oposição que pode se estabelecer entre ele
com o capitalismo, onde os comunistas acreditam que o capitalismo impulsiona a dominação entre
os homens.

Exercício de Aplicação

1. Explique a essência do evolucionismo na disciplina de antropologia.

2. Em que período da historia da antropologia surge o evolucionismo?

3. Que relação se pode estabelecer entre o evolucionismo com o etnocentrismo ocidental?

4. Diferencie o evolucionismo do difusionismo quanto às suas características.

5. Apresente as características do culturalismo em Ruth Benedict.

O conceito antropológico de cultura (pluralidade e diversidade de definições e abordagens)


Por: Mestre António V. Waya

O conceito cultura tem múltiplas aplicações e foi usado em diferentes épocas e sentidos desde as
físicas as sociais. Na antropologia o seu significado conheceu várias significações. Tais definições
variam de teórico para teórico, onde Herskovits define como sento a parte do meio produzido pelo
meio, Levi-Strauss a definiu como sendo a oposição que existe entre o homem e o animal, a
oposição que existe entre o homem e a natureza e encontramos uma definição muito abrangente de
Edward Tylor que é considerada definição clássica, segundo este a cultura é complexo unitário que
inclui o conhecimento, crença, arte, a moral, as leis e todas as outra capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

A cultura é um produto da actividade mental do homem, esta é diferente da actividade animal pela
sua codificação dentro de um grupo social ajuda o homem a reflectir, ela é transmitida de geração
em geração, por um processo de socialização, com agentes e instituições bem identificados.

A origem e o desenvolvimento de cultura

A cultura surge na idade da pedra antiga. Onde as condições naturais e as mudanças climáticas
favoreceram ao surgimento da cultura do homem, a luta pela sobrevivência fizeram com que o
homem adoptasse uma nova forma de vida e que a mesma foi transmitida do mais velho ao mais
novo. A cultura surge quando o homem passa a ter capacidade e consciência de transformar a
natureza em seu favor. A cultura surge no momento em que o homem passa a ser sedentária, onde a
cultura surge sobretudo quando o homem já passa a usar instrumentos sofisticados, onde o homem
deixa de ser nómada passando a ser sedentário. A cultura é condicionada pelo clima e o meio
ambiente. A cultura é observável a partir das condições ecológicas duma determinada comunidade e
Por: Mestre António V. Waya

os fenómenos da natureza para o homem ganham significados: os relâmpagos, trovões, chuva


dependendo do espaço geográfico.

No primeiro estágio do seu desenvolvimento o homem era recolector, vivia de caça e da recolecção,
dependendo essencialmente da natureza. Pois quando as condições climatéricas não favorecem os
homens se recolhem e procuram outro sítio favorável para habitar, nesta fase o trabalho era dividido
a partir de faixas etárias.

Mas com o tempo o homem deixa de depender essencialmente da natureza, passando a ser
sedentário, a praticar a agricultura e a pastorícia o excelente produzido já entrava no comércio,
neste fase passa a existir noção de parentesco entre os membros duma comunidade e este
desenvolvimento foi seguido pelas cerimónias magico-religiosas.

Factores da cultura

Na cultura existe quatro factores nomeadamento: homem {Anthropos}, a sociedade {Ethnos}, o


ambiente {Oikos}, e o tempo {Chronos}.

Anthropos- ou homem na sua realidade individual contribui no aspecto cultural, como ser biológico
e social. O Homem nos seus primeiros dias de vida é ensinado a viver de acordo com a sociedade
em que ele estiver inserido. Este homem nesta aprendizagem não é passivo, ele contribui para a
alteração de hábitos e costumes duma na medida em que este é o fazedor da cultura e a sua
evolução depende da negação e rejeição que o homem vai fazendo da sua cultura e nessa negação
vai influenciar o todo da sociedade em aderir em tais hábitos fazendo evoluir a cultura.
Por: Mestre António V. Waya

A sociedade {Ethnos}, a cultura resulta num processo grupal, onde as acções dos indivíduos
ganham significado se elas estiverem inseridas na comunidade. Sendo através da sociedade que
surge a cultura a partir da interacção que existe entre os indivíduos, na medida em que as leis, a
conduta, os hábitos, crenças numa sociedade só vão surgindo tendo em conta uma sociedade.

O ambiente {Oikos}, o espaço em que os indivíduos estiverem inseridos vai influenciar as suas
actividades, a invenção dos seus valores, crenças, hábitos, etc, estes que passara dessa forma a
fazerem parte indispensável da sua convivência.

O tempo {Chronos}, a cultura vai ser também ser condicionada pelos aspectos relativos ao tempo,
estes que vão fazer com que aspectos duma cultura sejam remodelados ou mudados. Em relação ao
tempo encontramos a influência que este exerce no meio ambiente e a mudança do meio que é
provocado pelas condições temporais vão fazer com que aspectos chaves da cultura sejam
modificados de modo a coadunar com o tempo. Existe também a influencia que o tempo
cronológico exerce na cultura, este aspecto tem a ver com a própria dinâmica do tempo, podendo
também encontrar se aspectos relacionados com o tempo social, este que é referente a passagem de
um grupo etário de uma categoria para a outra.

Estes factores da cultura vão interagindo entre eles condicionando a dinâmica cultural, onde o
anthropos interage com o ethnos e o oikos interage com o chronos, e essas interacções vão se
conjugado ao todo condiciona a evolução d cultura.

Cultura e sociedade
Por: Mestre António V. Waya

A cultura em relação a sociedade

Conteúdo do conceito antropológico de cultura (crenças e ideias)

Valores, normas e símbolos

Características do conceito antropológico de cultura

Simbólico

Cultura material e cultura imaterial

Cultura material é tudo relacionado com os símbolos, todos significados simbólicos que identificam
uma comunidade os artefactos tudo que é produto da própria cultura {os artefactos da cultura}. A
própria relação homem e o ambiente. O que o povo mais valoriza pois está a sua volta, o homem é
produtor e portador.

A cultura é uma transmissão ou difusão, ela não é geneticamente adquirida, só se adquire depois de
nascimento, na convivência familiar e no contacto estabelecido na convivência social. Sendo que as
Por: Mestre António V. Waya

pessoas são moldadas pela cultura a partir da casa{família}, onde se ensina as crianças de acordo
com o que é aceite numa determinada sociedade ou comunidade.

A cultura que é hábitos, costumes, conhecimentos, arte, crenças etc. São condicionados por
questões ecológicas, as condições climatéricas de um determinado espaço geográfico.

Cultura imaterial

A diversidade cultural

O dinamismo e a mudança cultural

A cultura é transmitida de geração para geração, dos membros mais velhos da sociedade para os
mais novos, a partir de um processo educativo por meio da convivência, das actividades e
realizações do quotidiano sendo uma educação informal e a este processo chama se de enculturação
ou endoculturação.

Na cultura encontramos também o processo de aculturação um processo pelo qual se introduz numa
cultura de uma dada etnia elementos de uma outra cultura, fazendo dessa forma uma comunicação
entre elementos da cultura original com elementos da cultura que está se introduzindo, neste estagio
não estão completamente perdidos os valores e crenças originais.

Desculturação é o processo de destruição e subtracção ou perda do património cultural, este


processo pode ocorrer de varias maneiras, pode ser através da colonização, do genocídio e pode
resultar do interior da cultura na medida em que alguns hábitos de uma determinada cultura passam
Por: Mestre António V. Waya

em desuso, por não resolverem mais as situações do momento, e o processo que desculturação
quando ocorre a partir do interior é lento e imperceptível.

Globalização acontece com o nível em que o mundo se apresenta em relação a acesso a informação,
a rápida propagação da informação a comunicação e interacção rápida que existe entre o mundo no
seu todo, removendo dessa forma as barreiras fronteiriças e, e com essa rápida comunicação existe
o intercambio cultural que se verifica através da convivência entre as tantas culturas no mesmo
espaço, em que este processo de globalização deu inicio com as primeiras viagens dos europeus
situado no século XVI. Neste processo são observado elementos culturais difundidos, podemos
apontar na arena política a administração ou a governação ocorre através da democracia em quase
todo mundo, se implantando o espírito multipartidário, que era na antiguidade cultura ocidental.

Cultura e educação: Saberes e contextos de aprendizagem em Moçambique

Tradição e identidade cultural

A génese da multiplicidade cultural na metade oriental da África Austral: factores e processos


culturais

No fim da leitura deste texto os estudantes devem:

Explicar todos elementos decorrentes da formação do parentesco

Descrever a formação do parentesco tendo em conta o aspecto social

Caracterizar cada um dos elementos do parentesco

Apresentar graficamente os laços de parentesco

Explicar a origem e evolução do conceito familia

Descrever todos tipos de família

Descrever os processos de mudança do conceito família em moçambique


Por: Mestre António V. Waya

Organização sociopolítica: Parentesco, Família e Casamento em Moçambique

Introdução ao estudo do parentesco

Parentesco é a relação decorrente da posição ocupada pelo indivíduo no sistema de parentesco, é


um vínculo entre membro de uma família.

O parentesco pode ser dividido em dois níveis, no sentido amplo e no sentido restrito. No sentido
amplo significando a inclusão das relações afins que surgem por matrimónio ou casamento e as de
laços de sangue, podendo encontra três tipos de parentesco: laços de sangue {descendência}, laços
de afinidade {casamento ou matrimónio} e laços fictícios {adopção}. E no sentido restrito refere-se
apenas aos laços de sangue, de consanguinidade.

Descendência refere-se aos laços ou relações do indivíduo com seus parentes de sangue, e o critério
da descendência é biológico, mas estão também incluídos elementos culturais. Encontramos na
descendência a bilateral esta que considera como ancestrais do indivíduo tantos parentes paternos
assim como os maternos, o que caracteriza as sociedades modernas.
Por: Mestre António V. Waya

Em muitas sociedades se tem tomado em consideração a descendência unilinear, podendo ser


agnatica quando a descendência for patrilinear, uterina quando for matrilinear e cognata quando a
descendência for bilateral.

Descendência unilinear dupla trata se de sociedade onde não se considera a descendência pelas
duas linhas, paterna e materna, onde mesmo aceitando a descendência unilinear, fazem de modo a
reconhece-la patrilinear para certos propósitos e exclusivamente matrilinear para outros propósitos.

Podendo se dar o exemplo clássico dos yako da Nigéria oriental, onde a descendência matrilinear
tem importância adicional. A terra sendo propriedade das patrilinhagens, sendo que os agnatos é
que são agrupados nos diferentes distritos de uma aldeia yako, enquanto que os bens imóveis são
herdados pela parte feminina e esta fica responsabilizada em saldar as dividas e também é
responsáveis pelas cerimonias fúnebres.

Pai e Genitor

Genitor se refere ao pai biológico e Pai se refere ao pai social, este que é reconhecido socialmente,
tendo muito a ver com questões culturais, onde as posições sociais são fruto do aprendizado
cultural, sendo que nas sociedades matrilineares, o pai biológico não tem um reconhecimento, só
desempenha o papel de genitor, e que as responsabilidades em relação aos descendentes são
exercidas pelo tio paterno e nas patrilineares a mãe biológica não desempenha o papel de elemento
na linhagem.

Nomenclatura de parentesco, simbologia e características do parentesco (filiação, aliança e


residência)
Por: Mestre António V. Waya

Nomenclatura ou terminologia do parentesco é sistema simbólico de denominação das posições


relativas aos laços de descendência e de afinidade. Encontrando pai, mãe, irmão, irmã, tio, tia,
esposo, sogro, sogra, avo, neto como terminologia de parentesco. Os antropólogos falam de dois
tipos de terminologia de parentesco: descritivo e classificatório.

Em que os sistemas descritivos são aqueles em que se usa os termos diferentes par designar cada
parente, frequentemente em linha direta de um descendente, tal como pai e mãe. E classificatórias
são aqueles em que se usa um único termo para designar uma classe ou um grupo de pessoas,
podendo se nomear de pai ao pai assim como aos irmãos do pai {os irmãos do pai ganharem o
mesmo termo que o pai ganha em relação aos seus descendentes}. As terminologias classificatórias
são mais acentuadas nas sociedades não ocidentais, enquanto que as descritivas são mais frequentes
nas sociedades ocidentais.

Clã e gens

Clã refere-se a um grupo de pessoas dotado de nome, de descendência unilinear, um conjunto de


pessoas que acreditam derivar do mesmo antepassado ou ancestral comum mesmo que ele seja
mítico e que seguem as regras de descendência masculina ou feminina, nunca de ambas parte
simultaneamente. Quando se trata de um clã patrilinear se tem como base a descendência pela linha
paterna e pode se designar de patriclã e materna matriclã. Os termos clã, gens e outros designam a
mesma coisa, gens sendo usado para patricla ou patrilinear e clã para matrilinear, mas actualmente o
termo clã é usado para designar matricla e patricla.

Apresentação gráfica dos laco de parentesco


Por: Mestre António V. Waya

Vide Luís Gonzaga Melo, Antropologia Cultural pag 315-339, Jean Copans, Antropologia ciência
das Sociedades primitivas? pag 45-90.

Há necessidade de indicar uma ponte de referencia no estudo de parentesco que ganha o nome de
Ego, que será este que servirá de base no estabelecimento de relações de parentesco entre membro
duma família ou entre familiares, existindo para ele parentes paternos e maternos. Existe um
tratamento em relação aos seus primos, estes que são filhos dos irmãos dos seus pais. Onde os
filhos dos irmãos do mesmo sexo que os seus pais são tidos como primos paralelos e os do sexo
oposto são designados de primos cruzados

Realidades Moçambicanas sobre o parentesco

No pais podemos encontrar a realidade semelhante a o que acontece em todo mundo, que segue a
questão biológico, mas que não esta alheia a questão cultural, onde esta vai determinar as
responsabilidade em relação aos filhos, em que o parentesco no sul e centro do país encontramos a
consideração de clã patrilinear, significando que os filhos são responsabilidades dos parentes
paternos, o consenso é observado através da reunião de parentes paternos, significando que a
descendência ou a linhagem que se observa é a aquela que tem como base a ligação através do
homem, que se chama agnata ou agnatica, em que o genitor, que é o pai biologico, desenpenha e é
reconhecida igualmente esta tarefa sob ponto de vista social, em que abundantemente se não no seu
todo, os patrelineares abunda a realização de lobolo, que uma cerimonia tradicional, que tem como
fim a entrega de um dote à família da noiva. E a realização desta cerimonia varia de uma etnia a
outra, em que para os chaganas até uma determinada altura o dote chegava até ser um
elevadíssimo número de de cabeças de gado bovino, o que tem vindo a reduzir, sendo uma das
razões a não abudância naquela região do gado bovino, e também pode ser pelo crescente exodo
rural.
Por: Mestre António V. Waya

No norte do pais e em algumas redondezas do centro do país os laços consideráveis são os laços
tendo a mulher como elo de ligação, aqui a responsabilidade pelos filhos e por todos assuntos da
vida social, a fixação da residência é confiada aos parentes maternos, em que no momento do
casamento quem passa para a casa dos sogro é o genro, residindo lá até ganhar uma autonomia para
fixar a sua residência num espaço concedidos pelos país da sua esposa. A responsabilidade em
relação aos filhos do casal é confiada ao tio materno.

Exercicios

1. Rui nasceu na cidade da Beira numa familia humilde constituida por cinco (5) (elemento)
pessoas seus pais e suas duas irmãs a uma das suas irmãs (Aimem) casou-se em Chibabava com
Afonso e teve três (3) duas meninas (Ruth e Elisa) um rapaz (Abel).
Rui casou-se com Rafina e tiveram quatro filhos, uma menina e três rapazes; seu pai teve três
irmaos um homem (Aberson) que casou-se com Rebecca e teve três filhos, um rapaz e duas
raparigas, as duas irmãs do pai (Aida e Aide) casaram Aida no Chimoio com Christian e a Aide
em Mafambisse com Robem ambas tiveram três filhos duas meninas e um rapaz. O filho de
Aide casou-se em Chidenguele com Sarah e tiveram três filhos (dois homens e uma mulher). A
sua mãe nasceu num universo de cinco irmãos (dois irmãos e duas irmãs), uma irmã (Adélia)
casou-se em Magoanine na cidade de Maputo com Fuel e tiveram quatro filhos duas raparigas e
dois rapaz, um dos rapazes Ruelson casou-se com Rosita e teve dois filhos homens, um dos
irmãos da mãe Raul casou-se com Rael e teve três filhos uma menina e dois rapazes, um dos
rapazes casou-se com Ana e teve três filhos dois homens e uma mulher.
a) Apresente a arvore geneológica do texto acima.
Por: Mestre António V. Waya

b) Apresente os primos paralelos e cruzados em relacção ao eogo


c) Apresente na arvore geneológica os membros pertencentes a linhagem do eogo, tendo em
conta que o eogo é da linha patrilinaer.

2. O senhor Mahlatine nasceu em Djuvukaze nas margens do rio Lipompo no distrito de Xai-Xai
na provincia de Gaza, seus pais Machacaile e Xiluva que tiveram três filhos duas mulheres
(Xigunwane e Alida), onde Alida casou-se com Djoissa e tiveram quatro filhos, tendo Ananiais
e Abel nascido no mesmo dia, e as outras irmãs Aissa e Ruth. O seu pai nasceu no universo de
cinco irmãos que só teve um irmão homem, chicurupate que casou se com Aventina e tiveram
duas meninas e uma das irmãs do pai, Atália casou se com Alberto e tiveram três filhos, dois
deles homens. Mahlatine casou se com Nyelete e tiveram quatro filhos dois deles homens, sua
mãe teve quatro irmãos dois deles homens e duas mulheres, onde a Ada casou se com Filimone
e tiveram três filhos, dois deles homens, e o seu irmão Arone casou se com Sophie e tiveram
quatro filhos três deles mulheres, seus avos paternos Mahungo e Ana e maternos Ruben e
Zabela ambos tiveram três irmãos, nesse universo de irmãos dos avos os seus avos foram os
únicos não estéris.
a) Apresente a àrvore genealógica do testo acima.
b) Apresente os primos paralelos e cruzados ao Ego.
Por: Mestre António V. Waya

Família em contexto de Mudança em Moçambique

Origem e evolução histórica do conceito de família

Surge como forma de criar uma ordem na sociedade, onde Rousseau vai considerar a família como
sendo o primeiro modelo de sociedade política, pois é através da família que são educados os
indivíduos antes da sua inserção no meio social. Na composição familiar encontramos laços de
consanguinidade e laços de afinidade e em alguns momentos podemos encontrar os laços fictícios
ou por adoção, mas há que ressaltar que a família é movida e originada por laços de afinidade, pois
é a partir da união entre homem e mulher que partindo dessa relação podem surgir filhos.

O conceito família em alguns casos é considerado de clã, e alguns consideram como sendo a
unidade social menor ligada aos laços de consanguinidade, afinidade e adopção, o termo família
pode ser visto em comparação com o termo parentesco, o de família sendo usado para estudar as
sociedade de larga escala e parentesco as sociedades de menor escala, as sociedade ditas primitivas.

Falar de família abarca relações de consanguinidade e sobretudo as ralações de afinidade, estas que
são mais significativas no tratamento deste assunto, na medida em que os laços que são razões de
Por: Mestre António V. Waya

contacto e mais próximas neste tipos de sociedades são fruto de afinidade, onde numa união entre
dois conjugues não só se unem os dois, esta união implica em unir os dois grupos de duas famílias
se perpetuando desta forma os laços de familiaridade.

Família pode significar um grupo composto por pais e filhos, linhagem patrilinear ou matrilinear,
um grupo cognatico, que reconhecem ter descendido do mesmo antepassado seja homens ou
mulheres e grupos de parentes e descendentes. Existindo família nuclear aquela que é composta por
mãe, pai e filhos tantos filhos legítimos assim como adoptivos e na união de tantas famílias
nucleares teríamos família extensiva.

Quando jovens se unem constituem família e novas regras vão ocorrer a partir dessa relação, onde
em muitos caso as raparigas mudam de religião, encontram novas leis ao se unirem a nova
sociedade, dai resultando a adoção ao novo apelido deixando de pertencer a sua família original,
onde essas formas de união diferem de região para região, existindo vários tipos de união
matrimonial:

Casamentos preferenciais, estes que ocorrem a partir de pressupostos económicos, onde se deseja
que uma filha ou um filho se case com alguém de um determinado status social, como em alguns
casos associados a endogamia.

Casamentos prescritos são aqueles em que as pessoas ao nascer já estão comprometidas com outros,
e podendo ocorrer o casamento antecipado, existindo dois tipos de casamentos prescritos na
Por: Mestre António V. Waya

literatura etnográfica o casamento prescrito de primos cruzados (matrilinear ou patrilinear)


casamento prescrito de primos paralelos também matrilinear ou patrilinear. Para Lucy Mair o
casamento normalmente prescrito é entre primos cruzados matriarcal, existindo em relação a esses
casamentos relatividades, na medida em que alguns casamentos prescritos recomendados em
algumas sociedades podem representar para outras uniões pecaminosas e proibidas.

Casamentos exogâmicos quando os conjugues são de grupos diferentes e endogâmicos quando o


casamento ocorre dentro do grupo, onde os conjugues pertencem ao mesmo grupo. Existe
casamentos por captura que ocorre nas boas partes das tribos brasileiras, onde as mulheres dos
vencidos são tomadas para esposas dos vencedores. Os casamentos por fuga, acontece muitas vezes
quando o casamento não for agrado dos pais, a noiva foge e vai parecer para os seus pais um rapto é
uma de encenação.

Existe também casamento por compra da noiva, onde o pai compra uma esposa para o seu filho, em
que este tipo de casamento ocorre mediante o pagamento de um dote ao pai da noiva, acontecendo
isso com frequência em sociedade de pequena escala, onde as mulheres têm realizado grandemente
os trabalhos agrícolas, isso pode ser característica semelhante a uma dada altura principalmente na
Idade Media na europa em que os casamentos aconteciam mediante ao pagamento de dotes para à
família do noivo. A herança de esposas, trata de costumes de o filho herdar as esposas do pai, à
exceção da própria mãe, isto foi encontrado entre os Mongois por Marco Polo e existe vestígios
disso nos araucanos do chile. Nos casamentos por herança existe o levirato de (levir, que em latim
significa cunhado), consistindo em um individuo esposar a viúva do seu irmão e a outra forma de
casamento por herança é o sororato que é o viúvo casar com irmã mais nova da esposa falecida.
Por: Mestre António V. Waya

Família como fenómeno cultural

A formação ou a constituição da família está intrisecamente ligada ao contexto sócio-cultural, em


que os casamentos se realizam de acordo com o contexto etnico da região em que os indivíduos se
encontram inseridos.

Monogamia encontramos como sendo a existência de uma união entre uma mulher e um homem,
que de esta união encontramos a existência de filhos, em alguns casos encontramos enteados que
surgem do segundo casamento em casos de separação ou em falecimento de uma das partes unidas.

Poligamia encontramos um homem com varias esposas, isto em algumas sociedades está associado
ao poder, em que se considera homem que tenha várias esposas seja sinónimos de poder.

Poliandria, encontramos em algumas sociedades apesar de serem casos muitos raros de acontecer
como sendo a união de vários homens com uma única esposa.
Por: Mestre António V. Waya

Novas abordagens teóricas do conceito família

Estudo de caso (família em contexto de mudança em Moçambique)

Remete- nos à nova lei da família de 25 de Agosto de 2004.

Fundamentos das Ciências Sociais: introdução geral

NUNES, Adérito Sedas. Questões preliminares sobre as Ciências Sociais. Lisboa, Editorial
Presença, 2005, pp.17-41.

PINTO, José Madureira e SILVA, Augusto Santos. Uma visão global sobre as Ciências Sociais. In:
PINTO, José Madureira e SILVA, Augusto Santos (orgs.). Metodologia das Ciências Sociais.
Porto, Afrontamento, 1986, pp.11-27.

A Antropologia Cultural no domínio das Ciências Sociais

ITURRA, Raúl. Trabalho de campo e observação participante. In: José Madureira Pinto e Augusto
S. Silva (orgs.), Metodologia das Ciências Sociais. Porto, Afrontamento, 1987, pp.149-163.

RIVIÈRE, C. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000, pp 11 – 32.


Por: Mestre António V. Waya

História do pensamento antropológico

CASAL, Adolfo Yáñez. Para uma epistemologia do discurso e da prática antropológica. Lisboa,
Cosmos, 1996, pp. 11-19.

COPANS, Jean. Antropologia ciência das sociedades primitivas? Lisboa, Edições 70, 1999, pp.9-
31.

Práticas etnográficas no Moçambique colonial e pós-colonial

CONCEIÇÃO, António Rafael da. “Le développement de l’Anthropologie au Mozambique”.


Comunicação apresentada ao Colóquio internacional de Antropologia. s.d

FELICIANO, José Fialho. Antropologia Económica dos Thonga do Sul de Moçambique. Maputo,
Arquivo Histórico de Moçambique, 1998.

JUNOD, Henri. Usos e Costumes dos Bantu. Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique, Tomo I,
1996[1912].

RITA-FERREIRA, A.. Os africanos de Lourenço Marques, Lourenço Marques, IICM, Memórias


do Instituto de Investigação científica de Moçambique, Série C, 9, 1967-68, 95-491.

As correntes teóricas da Antropologia

MOUTINHO, Mário. Introdução à Etnologia. Lisboa, Estampa, 1980. pp. 79-108.

PEIRANO, Mariza. A favor da Etnografia. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995.


Por: Mestre António V. Waya

SANTOS, Eduardo dos. Elementos de Etnologia Africana. Lisboa, Castelo Branco, 1969, pp.85-
115.

O conceito antropológico de cultura

CUCHE, D. A noção de Cultura nas Ciências Sociais. São Paulo, EDUSC, 1999, pp 175 – 202.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito Antropológico. Rio de Janeiro, Zahar, 2001.
SPIRO, M. “Algumas reflexões sobre o determinismo e o relativismo culturais com especial
referência à emoção e à razão” in: Educação, Sociedade e Culturas, no 9, Lisboa, s/e, 1998.

Parentesco, Família e Casamento em Moçambique

GEFFRAY, Christian. Nem pai nem mãe. Crítica do parentesco: o caso macua. Maputo, Ndjira.
2000, pp.17-40 e 151-157.

GRANJO, Paulo. Lobolo em Maputo: Um velho idioma para novas vivências conjugais. Porto,
Campo das Letras, 2005.

SANTOS, Eduardo dos. Elementos de Etnologia Africana. Lisboa, Castelo Branco, 1969, pp.247-
260 e 269-315.

Família em Contexto de Mudança em Moçambique


Por: Mestre António V. Waya

BOTTOMORE, Tom. “Família e parentesco”. In: Introdução à Sociologia. Rio de Janeiro, Zahar
Editores, s/d, pp.: 164 – 173.

GIMENO, A. A Família: o desafio da diversidade. Lisboa, Instituto Piaget, 2001, pp 39 – 73.

WLSA. Famílias em contexto de mudanças em Moçambique. Maputo, WLSA MOZ. 1998.

Bibliografia complementar
CASAL, Adolfo Yáñez. Para uma epistemologia do discurso e da prática antropológica. Lisboa,
Cosmos, 1996, pp. 11-19.
COPANS, Jean. Críticas e Políticas da Antropologia. Lisboa, Edições 70, 1981.

COPANS, Jean. Introdução à Etnologia e à Antropologia. Lisboa, Publicações Europa-América,


1999.

MARTÍNEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para o estudo. 2. ed, Matola,
Seminário Maior de S. Agostinho, 1995.
TITIEV, Misha. Introdução à antropologia cultural. 8. ed. Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2000.
Por: Mestre António V. Waya

Capítulo VI: O domínio do simbólico

Origem e natureza da Religião


1. Animismo: Edward Burnett Tylor (1832-1917), em Primitive Culture, 2 volumes, 1871.
A alma é a causa de todos os fenómenos vitais e psíquicos. O animismo, (do latim
anima, do qual vem a palavra animal, significa o que vive, o que se mexe), é
considerado falsamente religião por excelência dos africanos, da Oceânia e dos
aborígenes da Austrália. O animismo porém encontra-se sob suas diversas formas em
todas as partes do universo (Europa, América do Norte, Malásia, Austrália). O
animismo pode apresentar três formas diferentes:
a) Manismo de Manes, antepassados – o culto dos antepassados. Herbert
Spencer (1820-1903) em Principles of Sociology, 3 volumes (1876, 1882, 1896).
Todos os povos acreditam numa vida nova dos mortos e muitos destes
apresentam cultos dos antepassados. Manismo consiste na sobrevivência dos
antepassados. Segundo Spencer, “o culto dos antepassados é a raiz de toda a
religião”. Os que morreram não desapareceram totalmente, mas sobrevivem
em condições especiais, nalguma parte. O heroísmo praticado desde os tempos
antigos na Grécia é um exemplo disto.
b) Naturismo de natura, natureza – crença na alma das coisas. Tudo se move tem
alma.
c) Espiritismo – crença em seres incorporados. O espiritismo se apresenta na
forma de consulta de alma dos mortos.

Destas três formas, os cultos dos antepassados e das forças da natureza são traços
característicos principais do animismo. Para a animismo, não há morte. O que há é
transferência de residência. Os mortos ainda agem a favor e contra os vivos. Eles
Por: Mestre António V. Waya

estão próximos destes. Os mortos zangam-se e quando tal, devem ser “babados ”
pelos sacrifícios apropriados.

Para Edward Tylor, o animismo é simples crença em seres espirituais, o mínimo a


partir do qual se pode de religião.

Pré-animismo de R. R. Marett (1866-1943)


Esta teoria atribui vida ou energia a todos os objectos inertes. A religião deve ser
compreendida nos seus ritos e não nos seus mitos.

2. Magia : James George Frazer (1854-1941) em The Golden Bough 1890.


Para Frazer, apoiando-se em argumentos de ordem psicológica e histórica, a Magia é
a primeira forma da religião. Muitos antropólogos aderiram a teoria de Frazer:
Bronislaw K. Malinowski, Marcel Mauss. Magia é crença

3. Totemismo: John Ferguson MacLennan (1827-1881) em Primitive Marriage (1866) e


Study in Ancient History (1876). O Totemismo é visto como fonte de toda a expressão
cultural, nas suas formas zoolâtricas e fitolâtricas. Muitos outros antropólogos
estudaram o totemismo: James George Frazer em Totemism and Exogany, 4 volumes,
(1935); Claude Lévi-Strauss, em Le Totemisme Aujourd’hui, (1962); A. R. Radcliffe-
Brown em Structure and Function in Primitive Society (1912) e Emile Durkheim em As
Formas Elementares da vida Religiosa e Sigmund Freud em Totem e Tabu. O
Totemismo pode ser definido como relação entre um clã ou uma tribo com um herói
mítico que tenha vivido em tempos remotos e que se tenha encarnado em um animal
ou em uma planta. E o totemismo que fundamenta as adorações a animais ou a
plantas.
4.

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