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Nilton de Brito Cavalcanti1; Geraldo Milanez de Resende2; Luiza Teixeira de Lima Brito3
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo avaliar a dispersão das sementes de imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda)
pelos animais e a sobrevivência de plântulas na caatinga. O trabalho foi realizado no período de outubro de 2002
a dezembro de 2005 em área de caatinga degradada e nativa. Foram selecionadas, ao acaso, 16 plantas de
imbuzeiro, sendo oito plantas em cada área. Em cada planta foram demarcados doze transectos de 1 m de largura
por 25 m de comprimento, onde foram mensuradas as sementes encontradas no solo e as plantas jovens. As
observações foram realizadas a cada 15 dias na estação chuvosa e 30 dias na estação seca. O delineamento
experimental utilizado foi em blocos ao acaso em esquema fatorial 5 x 2, com quatro repetições. Foram
encontradas 1003,5 sementes m-2, em média, nas primeiras unidades amostrais da caatinga nativa. Já na caatinga
degradada observou-se, em média, 31,25 sementes m-2. Na área de caatinga nativa foram registradas 2,5 plantas
m-2, em média, nas primeiras unidades amostrais durante a estação chuvosa. Os dispersores das sementes
observados na área de catinga nativa foram o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), a cotia (Dasyprocta cf.
prymnolopha), o caititu (Tayassu tajacu), a raposa (Dusicyon thous), o teiú (Tupinambis merianae), o tatu-peba
(Euphractus sexcinctus) e o guará ou guaxinim (Procyon cancrivous) e na área de caatinga degradada o caprino
(Capra hircus).
Palavras-chave: precipitação, germinação, emergência, planta.
ABSTRACT
This work had as objective to evaluate the dispersion of the seeds of imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) for
the animals and the survival of plants in caatinga. The work was carried out in the period from October of 2002
to December of 2005 in degraded and native area of caatinga. They had been selected to perhaps, 16 plants of
imbuzeiro, being eight plants in each area. In each plant twelve transectos of 1 m of width for 25 m had been
demarcated, where the seeds found in the young ground and plants. The used experimental delineation was
block-type to perhaps in factorial project 5 x 2, with four repetitions. 1003.5 seeds.m-2 had been, on average, in
the first units you show of caatinga native and in caatinga degraded, it was observed, on average, 31.25 seeds
m-2. In the native area of caatinga they had been registered 2.5 plants m-2, on average, in the first units you show
during the rainy station. The dispersive ones of the seeds observed in the native area of catinga had been the
deer-catingueiro (Mazama gouazoubira), the cotia (Dasyprocta cf. prymnolopha), caititu (Tayassu tajacu), the
fox (Dusicyon thous), the teiú (Tupinambis merianae), the tatu-peba (Euphractus sexcinctus) of the guará
(Procyon cancrivous) the area of caatinga e na área de caatinga degraded the sheep (Capra hircus).
Key-words: rain, tree, seedlings, emergency, germination.
1
Administração de Empresas, M.Sc., Socioeconomia e Desenvolvimento Rural, Embrapa Semi-Árido - C.P. 23, CEP 56302-
970 Petrolina – PE. e-mail: [email protected];
2
Engº Agrº, D.Sc., Olericultura/Fitotecnia, Embrapa Semi-Árido Embrapa Semi-Árido. BR 428, km 152, C. Postal, 23. CEP-
56.302-970. Petrolina, PE. e-mail: [email protected];
3
Engenharia Agrícola, D.Sc., Recursos Naturais, Embrapa Semi-Árido Embrapa Semi-Árido. BR 428, km 152, C. Postal, 23.
CEP-56.302-970. Petrolina, PE. E-mail: [email protected].
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Ano 3
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5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 Transecto 1
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4 4
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Figura 1. Diagrama com a disposição dos transectos e das unidades amostrais em cada planta.
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Plantas
jovens na 18a
2f 0 0 0 12b 3f 1f 0 0 9c 1f 0 1f 2f 6d 2f 1f 2f 0
caatinga ²
nativa
Plantas
jovens na
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2a 0 0 1a 0 0 0
caatinga
degradada
(¹) Número das unidades amostrais por transecto/planta. (2) Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não
diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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Plantas jovens
na caatinga 4a² 1a 1a 0 0 1a 2a 0 0 0 2a 1a 0 0 0 1a 0 0 0 0
nativa
Plantas jovens
na caatinga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1a 0 0 0
degradada
(¹) Número de plantas jovens encontradas por unidade amostral. (²) Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem
entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Plantas jovens
5b² 0 0 0 0 4b 0 0 0 0 13a 5b 0 0 0 9a 1c 0 0 0
na caatinga
nativa
Plantas jovens
na caatinga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
degradada
(¹) Número das unidades amostrais por transecto/planta. (²) Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não
diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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dispersam as sementes maiores apenas consomem a polpa dos frutos embaixo das
quando as cospem durante a mastigação. plantas e dispersa as sementes nas
O tatu-peba alimenta-se dos frutos proximidades. Há uma concorrência forte
caídos no solo embaixo das plantas de entre o guará e a raposa pelos frutos do
imbuzeiro no período da safra e dispersa as imbuzeiro e quando um está embaixo de
sementes nas fezes em diferentes pontos da uma planta o outro faz ameaças até que
caatinga. Contudo, o tatu-peba tem este se retire, iniciando o consumo dos
causado a morte de muitas plantas jovens frutos. Quando a raposa ou o guará saem
pelo consumo de seu xilopódio na estação procurando outra planta, eles seguem
seca. mastigando alguns frutos e dispersando
suas sementes no caminho.
O teiú é um dispersor de sementes de
muitos frutos em toda área de seu habitat A presença de frutos na dieta das
(INSTITUTO HORUS, 2006). Mercolli & raposas, também foi registrada por
Yanosky (1994) citam várias espécies de Dalponte (1997) num estudo da dieta de
frutos encontrados no tubo digestivo de raposas no Mato Grosso. No estômago de
Tupinambis merianae como os de Eugenia um animal foram encontrados restos de
uniflora (Myrtaceae), Syagrus cinco espécies de frutas: lobeira
romanzoffiana (Arecaceae) e Copernicia (Solunmum spp.), uma espécie de
alba. Milstead (1961) encontrou no sistema Myrtacea, coquinhos (Arecaceae), fruto de
digestivo do teiú T. merianae uma grande ema (Parinarium obtusifolia) e araticum
quantidade de frutos dos gêneros Vitis e (Annonaceae). Segundo Santos (1997) a
Phylodendron (WILLIAMS et al. 1993). Já dieta do guará é baseada em frutos,
Reis (1995), na região de Santa Catarina, vertebrados e invertebrados. Um estudo
registrou em campo Tupinambis sp. com a espécie, no Rio Grande Sul,
consumindo frutos de palmito Euterpe apresentou uma preferência por frutos
edulis (Arecaceae). Na área de caatinga (53%) seguida por insetos (14%) e aves
nativa, o teiú visita as plantas de imbuzeiro (13%). Crustáceos e peixes somaram 6%
no período entre as 10:45 às 15:30 horas e da preferência alimentar.
consome os frutos maduros caídos no chão A cotia é um dispersor e predador de
embaixo das plantas e dispersa as sementes sementes do imbuzeiro na caatinga,
nas fezes. principalmente em áreas nativas. Durante o
A raposa e o guará visitam as plantas período da safra a cotia consome a polpa
do imbuzeiro, principalmente à noite, e dos frutos e a amêndoa das sementes secas,
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como também dispersa as sementes na área tanto das safras anteriores, quanto da safra
próxima a seu habitat enterrando-as no atual. Contudo, a maior parte das sementes
solo para consumi-las posteriormente. apresenta danos que impossibilitam sua
Todavia, parte destas sementes é esquecida germinação.
pelos animais e germinam, transformando- Na caatinga degradada o banco de
se em novas plantas. sementes é muito pequeno e, praticamente,
Nas áreas de caatinga degradada o sem sementes das safras anteriores. A
principal dispersor das sementes do dispersão das sementes na caatinga nativa
imbuzeiro é o caprino. Contudo, esse tipo encontra-se concentrada nas duas primeiras
de dispersão pode ser considerado unidades amostrais. Quanto à ocorrência
negativo, pois, na verdade, os animais de plantas jovens, há predominância nas
consomem os frutos na caatinga e primeiras unidades amostrais da caatinga
regurgitam as sementes nos chiqueiros e nativa com média de 2,5 plantas m-2,
apriscos onde elas são levadas durante a estação chuvosa. Todavia,
normalmente junto ao esterco dos animais, poucas plantas jovens resistem ao período
o qual é comercializado para as áreas de de estiagem. Aquelas que sobrevivem, na
agricultura irrigada e as plântulas que por maioria das vezes, são consumidas pelo
ventura germinarem, logo elas são tatu-peba e caititu.
eliminadas nas capinas das áreas irrigadas. Os dispersores das sementes de
Segundo Resende et al. (2004), um imbuzeiro observados na área de catinga
caprino consome, em média, 10.126 frutos nativa foram o veado-catingueiro (Mazama
de imbuzeiro em uma safra. Como o gouazoubira), a cotia (Dasyprocta cf.
rebanho de caprinos da região semi-árida prymnolopha), o caititu (Tayassu tajacu), a
do Nordeste está estimado em 8,3 milhões raposa (Dusicyon thous), o teiú
de cabeças (ARAÚJO, 2004), pode-se (Tupinambis merianae), o tatu-peba
perceber a grande erosão genética que (Euphractus sexcinctus) e o guará ou
estes animais têm provocado na caatinga. guaxinim (Procyon cancrivous) e na área
de caatinga degradada o caprino (Capra
hircus).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A regeneração natural do imbuzeiro
Na caatinga nativa o banco de
na caatinga degradada é muito baixa,
sementes das plantas de imbuzeiro,
apresenta um número de sementes bastante devido à ausência de animais dispersores
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