Fact-Checking X Fake News Um Estudo Sobre As Plata

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Lívia Costa, Ana Regina Rêgo

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FACT-CHECKING X FAKE NEWS: UM ESTUDO SOBRE AS


PLATAFORMAS “LUPA” E “AOS FATOS” NO COMBATE À
DESINFORMAÇÃO SOBRE A CORONAVAC

FACT-CHECKING X FAKE NEWS: A STUDY ON THE


PLATFORMS “LUPA” AND “AOS FATOS” IN THE FIGHT
AGAINST MISINFORMATION ABOUT CORONAVAC

FACT-CHECKING X FAKE NEWS: UN ESTUDIO SOBRE LAS


PLATAFORMAS "LUPA" Y "A LOS HECHOS" EN LA LUCHA
CONTRA LA DESINFORMACIÓN SOBRE LA CORONAVAC

Lívia Costa 1
Ana Regina Rêgo2

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n3-114
Recebido em: 24 de Fevereiro de 2023
Aceito em: 22 de Março de 2023

RESUMO
No presente trabalho nos propomos analisar como as plataformas digitais de Fact-
checking “Lupa” e “Aos Fatos” atuaram no combate às fake news sobre a CoronaVac
durante a pandemia da COVID-19. Para isso, descrevemos como as agências
selecionadas trabalharam para esclarecer as fake News a respeito do imunizante
produzido no Brasil. Mapeamos os recursos utilizados na composição das matérias;
avaliamos a partir das checagens produzidas pelas próprias agências qual o meio mais
utilizado para propagar desinformação sobre a CoronaVac.

Palavras-chave: Fake news; fact-checking; CoronaVac; Covid-19.

ABSTRACT
In the present work we propose to analyze how the digital Fact-checking platforms “Lupa”
and “Aos Fatos” acted in the fight against fake news about CoronaVac during the COVID-
19 pandemic. For this, we describe how the selected agencies worked to clarify the fake
news about the immunizer produced in Brazil. We mapped the resources used in the
composition of the materials; based on the checks produced by the agencies
themselves, we evaluated the most used means to propagate fake news about
CoronaVac.

Keywords: Fake news; fact-checking; CoronaVac; Covid-19.

1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação – Universidade Federal do Piauí (PPGCOM-UFPI).
Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação da Universidade Federal do Piauí (NUJOC-PPGCOM-UFPI),
Teresina - Piauí. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Processos Comunicacionais. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação – Universidade Federal do Piauí (PPGCOM-UFPI), Teresina - Piauí. E-mail: [email protected]

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FACT-CHECKING X FAKE NEWS: UM ESTUDO SOBRE AS PLATAFORMAS
“LUPA” E “AOS FATOS” NO COMBATE À DESINFORMAÇÃO SOBRE A CORONAVAC
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RESUMEN
En el presente trabajo nos proponemos analizar cómo las plataformas digitales de Fact-
checking "Lu-pa" y "Aos Fatos" actuaron en la lucha contra las fake news sobre
CoronaVac durante la pandemia de COVID-19. Para ello, describimos cómo las
agencias seleccionadas trabajaron para aclarar las noticias falsas sobre la inmunización
producidas en Brasil. Mapeamos los recursos utilizados en la composición de las
historias; evaluamos a partir de las comprobaciones producidas por las propias agencias
cuál fue el medio más utilizado para difundir desinformación sobre CoronaVac.

Palabras clave: Fake news; fact-checking; CoronaVac; Covid-19.

1. Introdução
Fake news trazem prejuízos irreparáveis à humanidade. A chegada das
novas tecnologias, o surgimento da internet e facilidade das redes sociais
possibilitaram a propagação constante e incontrolável de conteúdo falso. Durante
a pandemia da COVID-19, inúmeras incertezas rodeavam o mundo, especialmente,
por se tratar de uma doença desconhecida e sem tratamento inicial. Esse foi o
cenário ideal para disseminação das fake news, na medida em que surgiram
inúmeras inverdades sobre tratamentos precoces, fabricação e eficácia das
vacinas, a própria ciência passou a ser descredibilizada pelas notícias falsas pondo
em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas. Nesse contexto, Rego (2021)
explica que a desinformação possui produtores dentro da própria sociedade, visto
que fabricam informações falsas de forma não intencional, mas que também afetam
a coletividade, especialmente no contexto da pandemia da COVID-19.
Desde o início da pandemia foram mais de 6,32 milhões de mortes pela
COVID-19; o Brasil é o segundo país com mais mortes, atingindo a triste marca de
mais de 670 mil vítimas (UOL, 2021). Além do estado crítico da pandemia, vários
fatores contribuíram para reforçar os conceitos da pós-verdade e favorecer as
informações falsas. Falas e declarações negacionistas do Presidente da República,
Jair Bolsonaro, sobre a gravidade da COVID-19 colaboraram para fortalecer o
discurso das fake news. Segundo Recuero e Soares (2021), Bolsonaro, na maioria
dos seus pronunciamentos, defendia que a COVID-19 se tratava de “uma
gripezinha”, além de defender a quebra do isolamento social e que a cura para
doença seria o uso da cloroquina, embora os especialistas, o Ministério da Saúde
e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertassem para a falta de evidências

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em relação as falas do presidente.


A vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, CoronaVac, foi alvo de
ataques e descredibilizada em meio a desinformação. Desse modo, as plataformas
digitais de fact-checking foram fundamentais para levar ao público informações
verdadeiras, e desmentir os boatos em torno da pandemia. Um desafio jornalístico,
combater a desinformação durante a crise sanitária mundial da COVID-19.
Profissionais que vivenciaram as mesmas angústias e incertezas, mas reforçaram
seu papel de verificar os fatos e possibilitar um ambiente mais seguro em meio à
proliferação de fake news.
Nesse contexto, temos como objetivo principal neste artigo, analisar o
trabalho desempenhado pelas agências de Fact-Checking “Lupa” e “Aos fatos”
durante a pandemia da COVID-19 para combater a desinformação sobre a
CoronaVac. Os objetivos específicos buscam: descrever como as agências
selecionadas atuaram para esclarecer as fake news sobre a CoronaVac; mapear
os recursos utilizados na composição das matérias e avaliar a partir das checagens
produzidas pelas agências, quais os principais meios de propagação de
desinformação sobre a vacina mencionada.
Na construção metodológica do trabalho utilizamos a análise de conteúdo
por Bardin (2011), como também a pesquisa bibliográfica por Candido (2005), além
do método qualitativo por Oliveira (2011). Destacamos que as matérias analisadas
foram selecionadas de forma aleatória conforme Laville e Dione, (1999), em virtude
da nossa pesquisa ter utilizado para selecionar as checagens a palavra-chave
CoronaVac na ferramenta de busca das agências “Lupa” e “Aos Fatos”.
Ressaltamos que não nos concentramos apenas nas primeiras aparições das
buscas, visto que, na plataforma Aos Fatos as notícias sobre a vacina da
CoronaVac eram poucas, por isso avançamos mais quatro páginas do site para
obter um número relevante para a análise, e da mesma forma fizemos com a
agência Lupa. O presente trabalho está divido em dois principais sub-tópicos, o
primeiro aborda o contexto das fake news e as plataformas de Fact-checking,
conforme Rego (2021) e Santos; Spinelli, (2017), já o segundo trata sobre a
pandemia da COVID-19 e a desinformação sobre as vacinas, especialmente a
CoronaVac, com base nos estudos de Massarani et al. (2021) e Pena (2020).
Nesse contexto, a escolha das plataformas “Lupa” e “Aos Fatos” justifica-se

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por serem as primeiras agências com o formato de Fact-checking no Brasil, além


de serem certificadas pela Associação Global de Checagem dos Fatos, a
Internacional Fact-Checking Network – IFCN. Portanto, são de suma importância
no combate a desinformação, e no esclarecimento das Fake News. Assim,
destacamos a ampla relevância de se pesquisar sobre fake news e as plataformas
de fact-checking em um período extremamente complexo como a pandemia do
coronavírus, no qual a ciência e o jornalismo passaram por momentos desafiadores
para conter o vírus da COVID-19 e o vírus da desinformação. As vacinas, única
forma de saída confiável e segura foram alvos incessantes das fake news, o que
pôs em risco a saúde milhões de pessoas no mundo.

2. Fake News x Fact-Checking


O ambiente virtual possibilitou grandes mudanças, tanto no fazer jornalístico
como no comportamento das pessoas diante das informações. Com as múltiplas
facilidades proporcionadas a partir da internet e do uso das redes sociais, ser
provedor da notícia não é mais exclusividade dos meios de comunicação. Conforme
Recuero (2009), a Internet permitiu mecanismos no qual as pessoas podem se
comunicar, sociabilizar e interagir com outros internautas. Tal fato colabora para
que qualquer indivíduo produza conteúdo nas mídias sociais, afetando diretamente
a produção jornalística, como também a credibilidade da informação. Assim, o
ciberespaço e o uso das novas tecnologias modificaram os processos e a rotina do
jornalismo, além de alterar a qualidade do produto apresentado ao público. A partir
dos novos limites e possibilidades do jornalismo contemporâneo, tornou-se
necessário um caminho de inovação e redefinição dos produtos dos meios de
comunicação (TEIXEIRA, 2017).
A partir das redes sociais na internet, o processo de seleção de notícias
passou a envolver outros mecanismos e preocupações, tanto pela rapidez, como
pela forma que as mensagens se propagam nesse meio. De modo que a
transmissão e o compartilhamento imediato de uma mensagem seguem a lógica
de uma nova era que integra protagonistas diferentes, além de abranger dimensões
que frequentemente se descontextualizam (SILVA, 2019). Partindo desse ponto,
Teixeira e Martins (2021) correlacionam que a internet não tem sido palco apenas

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de conteúdos propositivos, mas que a partir de 2010 é possível perceber o processo


de desinformação nas mídias digitais de forma desenvolvida e estruturada. Rego
(2021, p.223) compreende a desinformação como um fenômeno social, oposta a
informação, visto que “é algo que se “vende” como informação, por isso é aceita,
tendo em vista a importância da informação para a sociedade. E a desinformação,
que usa uma máscara de informação por sua vez, “é aceita pelos aparatos de
receptividade da informação na sociedade”. Ainda de acordo com esta autora, a
desinformação possui alto potencial de circulação, bem como de formar opiniões
acerca de determinado assunto, podendo também limitar o acesso a informações
confiáveis.

Não se trata somente de fakes, fraudes ou mentiras - essas compõem


uma pequena porcentagem das informações falsas que circulam. Trata-
se de narrativas dúbias e/ou híbridas, que mesclam fatos e mentiras,
apresentam narrativas descontextualizadas, imprecisas e manipuladas,
de modo a levar o receptor da mensagem a acreditar na desinformação,
pois nela há alguma informação comprovada, (REGO, 2021, p.224)

Para Canavilhas e Ferrari (2018, p.37) a velocidade interligada a pouca


atenção nas redes sociais, “nos obriga a refletir sobre a era pós-verdade, contexto
em que a verdade ganha uma roupagem diferente em cada comunidade a partir
das suas motivações e da maneira como interpretam para responder as suas
necessidades”. Nessa perspectiva, é importante compreender como a verdade
passou a ter diferentes ângulos a partir do mesmo fato e implicar diretamente na
proliferação das Fake News. Segundo Foucault (1977, p.10) “a verdade é deste
mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos
regulamentados de poder”. Por tanto, cada sociedade estabelece seu regime de
verdade, a partir dos tipos de discurso que escolhe como verdadeiros; de maneira
que os mecanismos e as instâncias possibilitam diferenciar a verdade do que é
falso, com base nas técnicas e nos procedimentos, conforme o estatuto daqueles
cujo a função é de dizer o que funciona como verdadeiro (FOUCAULT, 1977).
Enquanto o conceito de pós-verdade chama atenção para as emoções e
crenças pessoais de cada indivíduo, sendo seus os princípios e valores adquiridos
ao longo do tempo determinantes confiar ou não em uma informação recebida.
Conforme a revista UNO (2018, p. 12), “A pós-verdade consiste na relativização da
verdade, na banalização da objetividade dos dados e na supremacia do discurso

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emocional.” As discussões acerca das fake news e da pós-verdade no meio digital


começaram em 2016 quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
utilizou a expressão para se referir às notícias jornalísticas ou tudo aquilo que seria
desconfortável ao seu posicionamento (MENESES, 2018).

Nós nos tornamos tão seguros em nossas bolhas que começamos a


aceitar apenas informações, verdadeiras ou não, que correspondam às
nossas opiniões, em vez de basearmos nossas opiniões nas evidências
que estão por ai. Apesar de suas maravilhas a web tende a amplificar o
estridente e dispensar a complexidade. Para muitos – talvez a maioria –
estimula o viés de confirmação, e não a busca pela divulgação acurada
(D’ANCONA, 2018, p.52).

Tandoc, Lim e Ling (2018) explicam que o termo fake news é impreciso e
pode ter seis significados diferentes, sendo eles: notícia como sátira, notícia como
paródia, manipulação dos fatos, propagada e relações públicas, notícias como
publicidade e por último notícia fabricada, cujo o objetivo é disseminar o conteúdo
sem base factual e apresentadas no formato jornalístico. Os autores apontam que
existe uma característica em comum entre os seis tipos de Fake News, pois “as
notícias falsas se apropriam da aparência e sensação das notícias reais, de como
os sites são exibidos, como os artigos são escritos, como as fotos incluem
atribuições” (TANDOC; LIM; LING, 2018, p.11, tradução própria).
Por esse motivo as fake news são o principal produto da era pós-verdade,
trazendo discussões sobre o impacto no cenário político e na vida da sociedade
(SANTOS; SPINELLI, 2018). Além de ir ao encontro das crenças pessoais de
alguns indivíduos, as fake news também se utilizam da credibilidade jornalística
para se disseminar. “Por isso, tentam pegar emprestado a credibilidade da
instituição jornalística, ao mimetizar as produções e os veículos, sobretudo nas
mídias digitais, onde parece haver certo afrouxamento dos limites entre jornalistas
e outros produtores de conteúdo” (TEIXEIRA; MARTINS, 2021, p.67).
A partir dessa conjuntura, as plataformas digitais de Fact-checking se
tornaram um fenômeno global necessário diante do surgimento das fake news, de
modo que essa foi uma alternativa para revitalizar a credibilidade jornalística
perdida em meio a camada exponencial de desinformação. Nesse sentido, o papel
das agências Fact-checking é verificar as informações que circulam nas redes
sociais e também as falas de figuras públicas relevantes, tendo como principal

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característica deixar de forma clara no texto de suas checagens a forma como


chegaram à determinada conclusão sobre o que foi verificado, seja verdadeiro ou
não, para que o leitor possa percorrer o mesmo caminho da análise e tirar as suas
próprias conclusões. Outra questão importe que diferencia o Fact-checking do
jornalismo tradicional é que as agências precisam ser apartidárias e transparentes
como o seu financiamento.
Para tanto, as agências de checagem auxiliam no combate a desinformação,
especialmente em tempos de pandemia em que as fake news afetavam
diretamente a vida e a saúde das pessoas. No Brasil, as plataformas “Lupa” e a
“Aos fatos” são certificadas pela Internacional Fact-Checking Network- IFCN, o
objetivo da associação é estudar e discutir a verificação dos fatos, além de ser
regida por um código de princípios éticos e conferências anuais de proporção global
(CONCEIÇÃO, 2018; SANTOS; SPINELLI, 2018).
Segundo Diniz (2018), as normas que regem as agências de fact-checking
foram constituídas coletivamente, e para uma concessão de Fact-checking ser
aberta precisa atender os cinco princípios estabelecidos pelo código, sendo eles:
compromisso com o apartidarismo e a isenção; transparência das fontes;
transparência da organização e do financiamento; transparência da metodologia e,
por último, o compromisso com as correções abertas e honestas.
A Lupa3 foi a primeira agência de Fact-checking do Brasil, e desde novembro
de 2015 tem atuado na checagem de notícias, verificando informações sobre
política, economia, cidade, cultura, educação, saúde e relações internacionais. A
função dessa agência é checar dados ou documentos históricos, comparações,
estatísticas, ou afirmações sobre a veracidade dos fatos. A agência Aos Fatos4
também surgiu em 2015, e verifica os mais variados tipos conteúdos, como
declarações de políticos e personalidades públicas de relevância nacional, além de
verificar assuntos que circulam na internet, analisando a veracidade das
informações.
Diniz (2018, p.35) complementa ao dizer que o Fact-checking “se apresenta
como um caminho para recuperar a credibilidade e fortalecer as coberturas
jornalísticas sobre os temas de interesse público.” Além disso, as agências Fact-

3
Disponível em <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/>. Acessado em 25 de junho de 2022.
4
Disponível em: <https://aosfatos.org/>. Acessado em 25 de junho de 2022.

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checking de colaboram a partir de suas checagens para que as pessoas tenham


acesso a verificações detalhadas sobre as fake news que circulam nos mais
diversos meios.

3. Pandemia e a Desinformação Sobre as Vacinas da COVID-19


A pandemia da COVID-19 parou mundo. Em 31 de dezembro de 2019, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de uma
síndrome respiratória aguda grave, causada pelo vírus SARS-CoV-2. A cidade de
Wuhan passou a ser o epicentro da doença, rapidamente o vírus cruzou as
fronteiras da pequena cidade da República Popular Chinesa, e em 11 de março de
2020, a OMS declarava a COVID-19 como uma pandemia, devido aos surtos em
vários países e regiões do mundo (OMS, 2020).
Nesse contexto, o alerta emergencial dado pela OMS sobre a pandemia
mudou drasticamente o cotidiano das pessoas. Para conter a propagação do vírus
foi necessário inserir medidas sanitárias antes nunca vistas, como uso obrigatório
de máscaras ao sair de casa, lavagem das mãos, uso frequente de álcool em gel,
distanciamento e isolamento social, todas esses protocolos passam a fazer parte
da rotina de milhões de pessoas no mundo. Um período marcado pelo medo,
insegurança e o desconhecimento de como a doença agiria em cada organismo,
de quem conseguira sair vivo em meio a um vírus devastador. O número crescente
de casos superlotava os hospitais e o risco de o sistema colapsar era eminente. Os
órgãos oficias de saúde também enfrentavam a difícil missão entender a melhor
forma de tratamento para conter a doença, e como a nova cepa do coronavírus
afetava as pessoas infectadas.
Diante do caos causado pela pandemia, as fake news encontraram um
ambiente propício para se espalharem. Pena (2020) explica que esse período
potencializou a era de tais notícias, além disso a desinformação passou a ser mais
grave em virtude de afetar diretamente a vidas das pessoas. Massarani et al. (2021)
destaca que durante a pandemia, o mundo aguardava respostas, especialmente
em relação ao desenvolvimento de uma vacina que colocasse fim à crise sanitária.
Entretanto, nos primeiros resultados dos testes com imunizantes, as fake news
propagaram-se com mais intensidade, atacando diretamente as indústrias

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farmacêuticas, como também a eficácia das vacinas produzidas em diversos


países, esse cenário exigiu da imprensa um trabalho minucioso de checagem para
refutar a desinformação (MASSARANI et al., 2021).
Rego (2021, p.228), enfatiza “a pandemia potencializou a circulação da
desinformação, de narrativas fakes, imprecisas e manipuladas”. O negacionismo
científico também ficou evidenciado durante a pandemia, e ao tempo que os
estudos sobre os primeiros imunizantes da vacina contra a COVID-19 começaram
a ser divulgados, as fake news atacavam a ciência tentando descredibilizá-la.
Finatto; Silva; Esteves (2021, p.458) afirma que “o problema das fake news sobre
as vacinas é que elas geram confusão, dúvida, descrença e medo”. Conforme
matéria divulgada pelo portal de notícias G1 (2021), as vacinas também são alvos
constantes das Fake News, pondo em questão a sua eficácia, algumas mensagens
falsas relatam que se trata de um processo experimental e que podem causar
Alzheimer, doenças autoimunes, ou que alteram as células sanguíneas. No
entanto, cientificamente os imunizantes são seguros e eficazes contra a COVID-19,
ajudando a reduzir o alto número de casos e mortes em todo o mundo.

O âmago da argumentação do negacionismo científico cria um movimento


especializado para fortalecer as Fake News com argumentos que coloca
a população em dúvida sobre as questões apontadas por estes, ou seja,
toda vez que a ciência descobre uma verdade que desagrada ou contraria
determinados grupos, esse grupo mobiliza esforços para desacreditar e
invalidar a ciência e, inclusive se fortalece e engrandece com a confluência
e união de outros movimentos negacionistas que passam a se articular
como uma frente de oposição a legitima ciência (MARQUES; RAIMUNDO,
2021, p. 69).

No Brasil, em janeiro de 2021, a vacina produzida pelo Instituto Butantan


teve sua eficácia e segurança comprovadas pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), passando a ser distribuída em todo território nacional. Os
estudos clínicos comprovaram 85% de eficácia da CoronaVac para os casos graves
de COVID-19, além de proteger contra as variantes beta, gama e delta do SARS-
CoV-2, (INSTITUTO BUTANTAN, 2022, ONLINE). Ainda de acordo com o órgão,
“entre todas as vacinas aplicadas no Brasil, a CoronaVac é a que causa menos
efeitos adversos, e mais leves, de acordo com números de ensaios clínicos e de
estudos científicos, (INSTITUTO BUTANTAN, 2022, ONLINE)”.
Apesar dos estudos e comprovações científicas da eficácia da CoronaVac,

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ainda sim a vacina produzida no Brasil sofreu diversos ataques das fake news e
resistência por parte da população para tomar o imunizante. Para Galhardi, Freire,
et al (2022), a desinformação e os discursos políticos impactaram a cobertura
vacinal no país, em 70% dos municípios brasileiros as pessoas queriam escolher
qual o imunizante tomar e 53,1% da população se recusava em se vacinar com a
CoronaVac.
Nesse contexto, o trabalho desempenhado pelas agências de fact-checking
mostrou-se cada vez mais indispensável, principalmente durante a pandemia da
COVID-19, visto que a desinformação se tornou mais constante, passando a
interferir diretamente na vida e na saúde das pessoas em todo o mundo. Com a
camada excessiva de fake news relacionadas ao coronavírus, a OMS declarou
esse período como uma “enorme infodemia: um excesso de informações, algumas
precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações
confiáveis quando se precisa” (OMS, 2020).

4. Metodologia
A metodologia desta pesquisa fará uso da análise de conteúdo conforme
Bardin (2011), passando a ter como objeto de estudo as plataformas digitais de
fact-checking “Lupa” e “Aos fatos”, na perspectiva de analisar como essas duas
agências colaboram a partir de suas checagens para esclarecer a desinformação
sobre a CoronaVac durante a pandemia da COVID-19.
Seguindo estas perspectivas, no primeiro momento a pesquisa conta um
levantamento bibliográfico que tem como intuito o embasamento teórico deste
trabalho, proporcionando através de outras pesquisas, estudos no campo
acadêmico e científico um conhecimento mais aprofundado, bem como uma
pluralidade de visões sobre o caso a ser avaliado. Para Candido (2005, p.24), a
pesquisa bibliográfica “procura analisar e conhecer as contribuições culturais ou
científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, explicando um
problema a partir desse levantamento”.
Para o tratamento dos dados, utilizaremos a Análise de Conteúdo, que é
uma técnica para investigar de maneira objetiva as comunicações. “Não se trata de
um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um

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único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e


adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações” (BARDIN,
2011, p.31).
Desta forma, Fônseca Junior (2006) acrescenta que a análise de conteúdo
é uma técnica de investigação que permite descrever de forma sistemática e
quantitativa o conteúdo presente nas comunicações, tendo como suas principais
bases as análises do tipo temática e frequencial. Nesse contexto, também foram
inseridas as etapas de codificação e categorização, sendo que a primeira pode ser
definida como um “processo de transformação dos dados brutos de forma
sistemática, segundo regras de enumeração, agregação e classificação, visando
esclarecer o analista sobre as características do material selecionado” (FÔNSECA
JUNIOR, 2006, p. 294). Enquanto a segunda “consiste no trabalho de classificação
e reagrupamento das unidades de registro em número reduzido de categorias, com
o objetivo de tornar inteligível a massa de dados e sua diversidade” (FÔNSECA
JUNIOR, 2006, p. 298).
Para tanto, utilizamos a pesquisa qualitativa, que contribui na coleta de
dados a partir da elaboração de métodos e técnicas, bem como na reflexão e
análise da realidade, no qual é possível compreender de maneira detalhada objeto
a ser pesquisado por meio de um contexto histórico e conforme a sua estruturação
(OLIVEIRA, 2011).
Por fim, estes métodos contemplam a última etapa da pesquisa, através das
variáveis de análise aplicado as checagens verificadas pelas agências de fact-
checking em torno das vacinas contra a COVID-19. As categorias tem as seguintes
propostas: analisar a partir das checagens produzidas pelas agências a
abordagem das fake news em relação a vacina CoronaVac, para compreender se
tratavam sobre a ineficácia, efeito colateral, morte ou outros. Identificar as fontes
utilizadas nas checagens, verificar com base no que é exposto nas matérias das
agências a origem de onde foram analisadas as Fake News, perceber também a
partir das checagens produzidas pelas duas plataformas quais os recursos as fake
news usaram para se propagar, além avaliar quais as etiquetas de verificação mais
frequentes nas checagens. A partir disso, será possível responder a perguntar
norteadora deste trabalho, percebendo de que maneira essas agências auxiliaram
no combate as fake news sobre a primeiro imunizante produzido no Brasil para

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conter o vírus da COVID-19.


Desta forma, utilizamos como critério de análise pesquisar pela palavra-
chave CoronaVac dentro do campo de busca das plataformas Lupa e Aos Fatos.
Para tanto, analisamos as notícias que se concentravam nas quatro primeiras
páginas do site das agências, em virtude da pesquisa no campo de busca da Aos
Fatos não aparecer matérias suficientes sobre o imunizante na primeira página
comprometendo assim realizar a nossa análise. Por este motivo tivemos que
avançar mais páginas para encontrar as notícias relacionadas ao tema.
Ressaltamos que adotamos o mesmo critério para a agência Lupa e paramos a
busca na quarta página dos sites por considerarmos que encontramos um número
relevante de checagens. A presente pesquisa catalogou 53 matérias de forma
aleatória e conforme a aparição obtida pela busca, no entanto ressaltamos que
algumas checagens não tratavam diretamente sobre a CoronaVac e outras
matérias estavam relacionadas a produção de conteúdos informativos
independentes das agências, por tanto estas foram excluídas da nossa análise. No
total contabilizamos 25 checagens sendo 18 da agência Lupa e 7 da agência Aos
Fatos. As matérias foram catalogadas entre os dias 19 e 20 de junho de 2022.

5. Análises
Partindo do primeiro critério analisado identificamos a abordagem das fake
news sobre a vacina da CoronaVac. Para tanto, percebemos que as principais fake
news verificadas pela Lupa relacionavam que a CoronaVac causava mortes após
a aplicação. Outro dado significativo da incidência da desinformação sobre a vacina
é associado a produção do imunizante, dando indícios que a fabricação e os
estudos desenvolvidos pela farmacêutica Chinesa Sinovac não eram seguros.
Desse modo, entre os dados relevantes encontramos abordagens que traziam a
perspectiva de que a CoronaVac estaria sendo recusada por outros países, como
a China. Além de que o imunizante seria ineficaz e que estaria causando doenças
graves, como vasculite, câncer e pensamentos suicidas. Cabe ainda ressaltar que
também encontramos fake news relacionadas a CoronaVac abordando que o
imunizante causaria reação adversa grave, que o risco de contrair COVID-19seria
maior caso alguém tomasse a vacina produzida pelo Instituto Butantan, além de

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que a CoronaVac custa 17 vezes mais que a vacina de Oxford, e por último que
pessoas públicas relevantes, como o Governador de São Paulo não teria optado
por tomar outro imunizante contra a COVID-19.
Correspondendo a agência Aos Fatos, a principal abordagem das fake news
encontrada nas matérias analisadas incidiu que a CoronaVac causava reação
adversa grave por ter em sua composição 225 microgramas de alumínio e que
enfermeiras teriam passado mal após tomar a vacina. De segundo modo
encontramos a partir da checagem da agência que o imunizante seria ineficaz para
proteger contra o vírus da COVID-19. Além da produção da vacina, relacionando
que a CoronaVac estaria fora dos padrões de qualidade da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, bem como a recusa de outros países em utilizar a CoronaVac,
como os Estados Unidos. Ressaltamos que diante da quantidade de matérias não
encontramos abordagens sobre outros assuntos. A tabela a baixo mostra os
resultados encontrados nas duas agências.

Quadro 1 - Classificação da abordagem das fake news sobre a CoronaVac e quantidade de assuntos
encontrados na agência Lupa e Aos Fatos.
ABORDAGEM AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
AUMENTA O RISCO DE 1 0
COVID-19
DOENÇAS 2 0
MORTE 4 0
PREÇO DA CORONAVAC 1 0
REAÇÃO ADVERSA 1 2
GRAVE
INEFICACIA 2 3
PRODUÇÃO DA VACINA 4 1
RECUSA DE OUTROS PAÍSES 3 1
PESSOAS PÚBLICAS 1 0
RELEVANTES
Fonte: Autores.

Partindo do material analisado, podemos entender que a abordagem das


fake news sobre a vacina da CoronaVac em ambas as agências pautou assuntos
que causam insegurança nas pessoas, especialmente por relacionarem o
imunizante a mortes, doenças, efeitos colaterais graves e ineficácia, podendo de
fato contribuir para a recusa da vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.
Além disso, a ciência também foi descredibilizada ao tempo em que a
desinformação atacava a produção da CoronaVac, colocando dúvidas sobre os
estudos e a proteção do imunizante.

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Como segundo critério avaliamos as fontes que as agências de checagem


utilizaram para confirmar ou refutar a informação analisada. E tanto na Lupa quanto
na Aos Fatos as fontes citadas nas checagens em sua maioria são de caráter oficial.
Nesse sentido, Nilson Lage (2003), define fonte oficial, como as que são
sustentadas pelo Estado, bem como instituições ligadas aos estados ou empresas
e organizações. Ressaltamos que apenas na agência Aos Fatos encontramos outro
tipo de fonte, como a de especialista para explicar dados sobre a vacina. Lage
(2003), configura esse tipo de fonte como de expert, caracterizadas como
secundárias que trazem versões ou interpretações de acontecimentos. Na tabela
está relacionado as fontes encontras nas checagens. Já nas imagens a baixo
podemos perceber exemplos dessas fontes e como as agências deixam o acesso
fácil para os leitores.

Tabela 2: Classificação das fontes sobre a CoronaVac e quantidade de matérias com cada fonte.
FONTE AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
EXPERT 0 1
OFICIAL 18 6
Fonte: Autores.

Figura 1 - Checagem da Agência Lupa.

Fonte: Agência Lupa

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Figura 2: Checagem Agência Aos Fatos.

Fonte: Agência Aos Fatos

A partir desses aspectos, compreendemos que ambas as agências colaboram


para que o público tenha acesso a fontes confiáveis e que assim possam identificar
com clareza os assuntos que condizem ou não com a realidade em relação a
CoronaVac. Também entendemos que o uso de fonte oficiais ressalta a importância
da ciência, pois na maioria das checagens utilizavam estudos e dados por
instituições renomadas como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
Organização Mundial de Saúde, Instituto Butantan, dentre outros órgãos. Além de
possibilitar uma maior confiabilidade para os leitores, principalmente quando as
agências disponibilizam essas fontes nas matérias para poderem ser acessadas
também pelos internautas. Já as fontes de especialistas utilizadas pela Aos Fatos
permitem que alguns assuntos sejam explicados com uma maior riqueza de
detalhes, além de compreender de forma mais simples alguns termos técnicos.
Notamos, a partir disso que as fake news podem ser desmentidas sem a
necessidade de muitos mecanismos. No entanto, seu modo de disseminação e a
forma como atingem o público interferem nessa perspectiva, logo o trabalho dessas
plataformas contribuem para minimizar o impacto das informações falsas na
sociedade especialmente sobre a vacina da CoronaVac, pois ambas as agências
desempenham um papel de checagem minuciosa dos fatos.
Como terceiro critério, analisamos conforme as checagens produzidas pelas
agências e a partir da forma que deixam claro em seu material de qual meio foi
verificado o conteúdo. Desse modo, identificamos a origem das fake news sobre a

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“LUPA” E “AOS FATOS” NO COMBATE À DESINFORMAÇÃO SOBRE A CORONAVAC
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CoronaVac. Na agência Lupa percebemos que a maioria das checagens


verificaram assuntos provenientes das redes sociais, especialmente do Facebook
e do WhatsApp. Também encontramos como origem das fake news, falas de
pessoas públicas relevantes, principalmente de políticos. Já na Aos Fatos, os
conteúdos analisados também tiveram como origem conteúdos oriundos do
Facebook e WhatsApp, e de segundo modo da fala de pessoas públicas relevante,
além de sites que se assemelham a veículos jornalísticos.

Quadro 3 - Origem das fake news sobre a CoronaVac checadas pela Lupa e Aos Fatos e quantidade
de meios encontrados.
ORIGEM AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
FACEBOOK 10 4
WHATSAPP 3 1
FALA DE PESSOAS 4 2
PÚBLICAS RELEVANTES
SITE 0 1
Fonte: Autores.

Nessa perspectiva, notamos que a maioria dos conteúdos tem como origem
as redes sociais, como destaque para o Facebook, esse dado se configura pelo
fato das agências possuírem uma parceria com a plataforma, analisando os
assuntos que tem mais destaque ou engajamento. A Lupa e a Aos Fatos também
possuem parceria para verificar as informações que circulam no WhatsApp, no
entanto pelo material catalogado a quantidade de verificações das agências por
esse meio é menor. Contudo, o fato desses conteúdos circularem mais nas redes
sociais possibilita um alcance ainda maior da desinformação sobre a CoronaVac,
como também facilita o compartilhamento e a interação desse tipo de conteúdo.
No que se refere a fala de pessoas públicas relevantes, esse dado se
configura pelo fato das agências verificarem os discursos de políticos, celebridades,
ou pessoas que de algum modo tenham destaque na mídia já que seus
posicionamentos tem influência na sociedade, essa analise por parte das agências
são essenciais especialmente em um período delicado como a pandemia, visto que
a sociedade não tinha tantas informações a respeito do vírus, e que o discursos
dessas pessoas contribuíram para tomadas de decisões e seguir as normas dos
órgãos de saúde. Já os sites de notícias são portais falsos que se utilizam da
credibilidade e dos mecanismos jornalísticos para se espalhar e fazer com que as

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pessoas deem credibilidade aquele assunto.


No quarto critério, buscamos identificar qual os recursos as fake news se
utilizaram para propagar a desinformação sobre o imunizante produzido pelo
Instituto Butantan. Nesse sentido, percebemos que na agência Lupa as fake news
se utilizaram mais de imagens para se propagar, assim como texto e vídeos.
Ressaltamos que esses dados se correlacionam em virtude dos conteúdos estarem
presente nas redes sociais e fazerem parte do mecanismo da própria plataforma.
Além da desinformação estar presente na fala de pessoas públicas relevantes, em
congressos, TVs, e do mesmo modo no conteúdo analisado da agência Aos Fatos.
Também identificamos que na Aos fatos os principais recursos são através de
textos, fotos, vídeos, e da mesma forma esses dados se correlacionam por serem
conteúdos circulados nas redes sociais. A partir dos dados apresentados
entendemos que as fake news sobre a CoronaVac se apropriam de vários recursos
para se disseminarem e influenciarem a sociedade. É importante frisar que os
recursos desempenham resultados importantes para mostrar as diferentes faces
em que pode estar caracterizada uma Fake News.

Quadro 4: Recursos das fake news sobre a CoronaVac. Quantidade de conteúdos encontrados
Agência Lupa e Aos Fatos.
RECURSOS AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
FALAS DE PESSOAS 4 2
PÚBLICAS RELEVANTES
FOTO 13 3
VÍDEO 2 1
TEXTO 8 4
SITE 2 1
Fonte: Autores.

E, por último, como quinto critério analisamos as etiquetas de checagens das


agências no qual deixam exposto no texto o grau de veracidade dos conteúdos
analisados. Desse modo, tanto na Lupa quanto na Aos Fatos a maioria dos
conteúdos analisados foi comprovadamente falso, apenas em uma matéria da
agência Lupa um dado foi tido como subestimado, ao analisar a fala do Prefeito de
São Paulo João Doria, ao dizer que um a cada quatro brasileiros se vacinou com a
CoronaVac, para a agência Lupa o conteúdo foi entendo como subestimado, pois
conforme os dados do Localiza SUS “a CoronaVac é a segunda vacina mais
utilizada, ficando atrás apenas da AstraZeneca, que representa 41,6% das doses

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“LUPA” E “AOS FATOS” NO COMBATE À DESINFORMAÇÃO SOBRE A CORONAVAC
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aplicadas e 40,8% dos imunizados”, ( LUPA 2022).

Quadro 5: etiquetas de classificação. Quantidade Agência Lupa e Agência Aos Fatos.


ETIQUETAS AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
FALSO 17 7
SUBESTIMADO 1 0
Fonte: Autores.

Nesse contexto, entendemos diante das matérias analisadas encontramos um


dado expressivo de informações falsas sobre o imunizante desenvolvido pelo Instituto
Butantan, o que reforça a importância do trabalho desempenhado por essas agências,
bem como significativa contribuição para combater a desinformação acerca da vacina
da CoronaVac, colaborando para que o público tenha acesso a informações de forma
segura e como base na ciência, bem como identificar o que é real ou não a respeito
do imunizante.

6. Considerações Finais
Apresentamos aqui os resultados da nossa investigação sobre a vacina da
CoronaVac e a atuação das plataformas de Fact-checking “Lupa” e “Aos Fatos”
para combater a desinformação sobre o imunizante, de modo que, os objetivos
deste trabalho foram alcançados. Nesse sentido, também respondemos nosso
problema de pesquisa e compreendemos que as agências atuaram de forma
significativa para esclarecer as fake news que circularam sobre a CoronaVac,
colaborando para que a sociedade tivesse acesso a fatos reais sobre a vacina em
meio a camada incontrolável de desinformação durante a pandemia, colaborando
assim através da verificação dos mais variados meios para que o público
conseguisse distinguir o que é verdadeiro ou não sobre a CoronaVac. Além disso,
as agências possibilitaram a valorização da ciência a partir de suas checagens,
reforçando a confiabilidade dos estudos científicos, e do trabalho dos órgãos de
saúde.
Nessa perspectiva, mapeamos os recursos utilizados na composição das
matérias, a partir dos resultados percebemos as fake news abordaram assuntos
que causavam insegurança na sociedade, como mortes, doenças, efeitos colaterais
graves e ineficácia, dificultando assim que as pessoas se vacinassem com o
imunizante produzido no Brasil, além de descredibilizar a ciência. Avaliamos a

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partir das checagens produzidas pelas agências que as redes sociais foram os
meios mais utilizados pelos propagadores de fake news sobre a vacina CoronaVac
para divulgar informações incorretas sobre o imunizante, especialmente, o
Facebook.
Ao final, ressaltamos a importância das agências de verificação jornalística
no cenário pandêmico, principalmente por realizarem um trabalho condizente com
a cientificidade, possibilitando assim que as pessoas tenham acesso às
informações corretas sobre a CoronaVac, permitindo também minimizar o impacto
da desinformação sobre a vacina. Por fim, sugerimos que novas pesquisas sejam
realizadas em relação as plataformas de fact-checking e a pandemia da COVID-19.

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