Fact-Checking X Fake News Um Estudo Sobre As Plata
Fact-Checking X Fake News Um Estudo Sobre As Plata
Fact-Checking X Fake News Um Estudo Sobre As Plata
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Lívia Costa 1
Ana Regina Rêgo2
DOI: 10.54751/revistafoco.v16n3-114
Recebido em: 24 de Fevereiro de 2023
Aceito em: 22 de Março de 2023
RESUMO
No presente trabalho nos propomos analisar como as plataformas digitais de Fact-
checking “Lupa” e “Aos Fatos” atuaram no combate às fake news sobre a CoronaVac
durante a pandemia da COVID-19. Para isso, descrevemos como as agências
selecionadas trabalharam para esclarecer as fake News a respeito do imunizante
produzido no Brasil. Mapeamos os recursos utilizados na composição das matérias;
avaliamos a partir das checagens produzidas pelas próprias agências qual o meio mais
utilizado para propagar desinformação sobre a CoronaVac.
ABSTRACT
In the present work we propose to analyze how the digital Fact-checking platforms “Lupa”
and “Aos Fatos” acted in the fight against fake news about CoronaVac during the COVID-
19 pandemic. For this, we describe how the selected agencies worked to clarify the fake
news about the immunizer produced in Brazil. We mapped the resources used in the
composition of the materials; based on the checks produced by the agencies
themselves, we evaluated the most used means to propagate fake news about
CoronaVac.
1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação – Universidade Federal do Piauí (PPGCOM-UFPI).
Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação da Universidade Federal do Piauí (NUJOC-PPGCOM-UFPI),
Teresina - Piauí. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Processos Comunicacionais. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação – Universidade Federal do Piauí (PPGCOM-UFPI), Teresina - Piauí. E-mail: [email protected]
RESUMEN
En el presente trabajo nos proponemos analizar cómo las plataformas digitales de Fact-
checking "Lu-pa" y "Aos Fatos" actuaron en la lucha contra las fake news sobre
CoronaVac durante la pandemia de COVID-19. Para ello, describimos cómo las
agencias seleccionadas trabajaron para aclarar las noticias falsas sobre la inmunización
producidas en Brasil. Mapeamos los recursos utilizados en la composición de las
historias; evaluamos a partir de las comprobaciones producidas por las propias agencias
cuál fue el medio más utilizado para difundir desinformación sobre CoronaVac.
1. Introdução
Fake news trazem prejuízos irreparáveis à humanidade. A chegada das
novas tecnologias, o surgimento da internet e facilidade das redes sociais
possibilitaram a propagação constante e incontrolável de conteúdo falso. Durante
a pandemia da COVID-19, inúmeras incertezas rodeavam o mundo, especialmente,
por se tratar de uma doença desconhecida e sem tratamento inicial. Esse foi o
cenário ideal para disseminação das fake news, na medida em que surgiram
inúmeras inverdades sobre tratamentos precoces, fabricação e eficácia das
vacinas, a própria ciência passou a ser descredibilizada pelas notícias falsas pondo
em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas. Nesse contexto, Rego (2021)
explica que a desinformação possui produtores dentro da própria sociedade, visto
que fabricam informações falsas de forma não intencional, mas que também afetam
a coletividade, especialmente no contexto da pandemia da COVID-19.
Desde o início da pandemia foram mais de 6,32 milhões de mortes pela
COVID-19; o Brasil é o segundo país com mais mortes, atingindo a triste marca de
mais de 670 mil vítimas (UOL, 2021). Além do estado crítico da pandemia, vários
fatores contribuíram para reforçar os conceitos da pós-verdade e favorecer as
informações falsas. Falas e declarações negacionistas do Presidente da República,
Jair Bolsonaro, sobre a gravidade da COVID-19 colaboraram para fortalecer o
discurso das fake news. Segundo Recuero e Soares (2021), Bolsonaro, na maioria
dos seus pronunciamentos, defendia que a COVID-19 se tratava de “uma
gripezinha”, além de defender a quebra do isolamento social e que a cura para
doença seria o uso da cloroquina, embora os especialistas, o Ministério da Saúde
e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertassem para a falta de evidências
Tandoc, Lim e Ling (2018) explicam que o termo fake news é impreciso e
pode ter seis significados diferentes, sendo eles: notícia como sátira, notícia como
paródia, manipulação dos fatos, propagada e relações públicas, notícias como
publicidade e por último notícia fabricada, cujo o objetivo é disseminar o conteúdo
sem base factual e apresentadas no formato jornalístico. Os autores apontam que
existe uma característica em comum entre os seis tipos de Fake News, pois “as
notícias falsas se apropriam da aparência e sensação das notícias reais, de como
os sites são exibidos, como os artigos são escritos, como as fotos incluem
atribuições” (TANDOC; LIM; LING, 2018, p.11, tradução própria).
Por esse motivo as fake news são o principal produto da era pós-verdade,
trazendo discussões sobre o impacto no cenário político e na vida da sociedade
(SANTOS; SPINELLI, 2018). Além de ir ao encontro das crenças pessoais de
alguns indivíduos, as fake news também se utilizam da credibilidade jornalística
para se disseminar. “Por isso, tentam pegar emprestado a credibilidade da
instituição jornalística, ao mimetizar as produções e os veículos, sobretudo nas
mídias digitais, onde parece haver certo afrouxamento dos limites entre jornalistas
e outros produtores de conteúdo” (TEIXEIRA; MARTINS, 2021, p.67).
A partir dessa conjuntura, as plataformas digitais de Fact-checking se
tornaram um fenômeno global necessário diante do surgimento das fake news, de
modo que essa foi uma alternativa para revitalizar a credibilidade jornalística
perdida em meio a camada exponencial de desinformação. Nesse sentido, o papel
das agências Fact-checking é verificar as informações que circulam nas redes
sociais e também as falas de figuras públicas relevantes, tendo como principal
3
Disponível em <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/>. Acessado em 25 de junho de 2022.
4
Disponível em: <https://aosfatos.org/>. Acessado em 25 de junho de 2022.
ainda sim a vacina produzida no Brasil sofreu diversos ataques das fake news e
resistência por parte da população para tomar o imunizante. Para Galhardi, Freire,
et al (2022), a desinformação e os discursos políticos impactaram a cobertura
vacinal no país, em 70% dos municípios brasileiros as pessoas queriam escolher
qual o imunizante tomar e 53,1% da população se recusava em se vacinar com a
CoronaVac.
Nesse contexto, o trabalho desempenhado pelas agências de fact-checking
mostrou-se cada vez mais indispensável, principalmente durante a pandemia da
COVID-19, visto que a desinformação se tornou mais constante, passando a
interferir diretamente na vida e na saúde das pessoas em todo o mundo. Com a
camada excessiva de fake news relacionadas ao coronavírus, a OMS declarou
esse período como uma “enorme infodemia: um excesso de informações, algumas
precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações
confiáveis quando se precisa” (OMS, 2020).
4. Metodologia
A metodologia desta pesquisa fará uso da análise de conteúdo conforme
Bardin (2011), passando a ter como objeto de estudo as plataformas digitais de
fact-checking “Lupa” e “Aos fatos”, na perspectiva de analisar como essas duas
agências colaboram a partir de suas checagens para esclarecer a desinformação
sobre a CoronaVac durante a pandemia da COVID-19.
Seguindo estas perspectivas, no primeiro momento a pesquisa conta um
levantamento bibliográfico que tem como intuito o embasamento teórico deste
trabalho, proporcionando através de outras pesquisas, estudos no campo
acadêmico e científico um conhecimento mais aprofundado, bem como uma
pluralidade de visões sobre o caso a ser avaliado. Para Candido (2005, p.24), a
pesquisa bibliográfica “procura analisar e conhecer as contribuições culturais ou
científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, explicando um
problema a partir desse levantamento”.
Para o tratamento dos dados, utilizaremos a Análise de Conteúdo, que é
uma técnica para investigar de maneira objetiva as comunicações. “Não se trata de
um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um
5. Análises
Partindo do primeiro critério analisado identificamos a abordagem das fake
news sobre a vacina da CoronaVac. Para tanto, percebemos que as principais fake
news verificadas pela Lupa relacionavam que a CoronaVac causava mortes após
a aplicação. Outro dado significativo da incidência da desinformação sobre a vacina
é associado a produção do imunizante, dando indícios que a fabricação e os
estudos desenvolvidos pela farmacêutica Chinesa Sinovac não eram seguros.
Desse modo, entre os dados relevantes encontramos abordagens que traziam a
perspectiva de que a CoronaVac estaria sendo recusada por outros países, como
a China. Além de que o imunizante seria ineficaz e que estaria causando doenças
graves, como vasculite, câncer e pensamentos suicidas. Cabe ainda ressaltar que
também encontramos fake news relacionadas a CoronaVac abordando que o
imunizante causaria reação adversa grave, que o risco de contrair COVID-19seria
maior caso alguém tomasse a vacina produzida pelo Instituto Butantan, além de
que a CoronaVac custa 17 vezes mais que a vacina de Oxford, e por último que
pessoas públicas relevantes, como o Governador de São Paulo não teria optado
por tomar outro imunizante contra a COVID-19.
Correspondendo a agência Aos Fatos, a principal abordagem das fake news
encontrada nas matérias analisadas incidiu que a CoronaVac causava reação
adversa grave por ter em sua composição 225 microgramas de alumínio e que
enfermeiras teriam passado mal após tomar a vacina. De segundo modo
encontramos a partir da checagem da agência que o imunizante seria ineficaz para
proteger contra o vírus da COVID-19. Além da produção da vacina, relacionando
que a CoronaVac estaria fora dos padrões de qualidade da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, bem como a recusa de outros países em utilizar a CoronaVac,
como os Estados Unidos. Ressaltamos que diante da quantidade de matérias não
encontramos abordagens sobre outros assuntos. A tabela a baixo mostra os
resultados encontrados nas duas agências.
Quadro 1 - Classificação da abordagem das fake news sobre a CoronaVac e quantidade de assuntos
encontrados na agência Lupa e Aos Fatos.
ABORDAGEM AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
AUMENTA O RISCO DE 1 0
COVID-19
DOENÇAS 2 0
MORTE 4 0
PREÇO DA CORONAVAC 1 0
REAÇÃO ADVERSA 1 2
GRAVE
INEFICACIA 2 3
PRODUÇÃO DA VACINA 4 1
RECUSA DE OUTROS PAÍSES 3 1
PESSOAS PÚBLICAS 1 0
RELEVANTES
Fonte: Autores.
Tabela 2: Classificação das fontes sobre a CoronaVac e quantidade de matérias com cada fonte.
FONTE AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
EXPERT 0 1
OFICIAL 18 6
Fonte: Autores.
Quadro 3 - Origem das fake news sobre a CoronaVac checadas pela Lupa e Aos Fatos e quantidade
de meios encontrados.
ORIGEM AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
FACEBOOK 10 4
WHATSAPP 3 1
FALA DE PESSOAS 4 2
PÚBLICAS RELEVANTES
SITE 0 1
Fonte: Autores.
Nessa perspectiva, notamos que a maioria dos conteúdos tem como origem
as redes sociais, como destaque para o Facebook, esse dado se configura pelo
fato das agências possuírem uma parceria com a plataforma, analisando os
assuntos que tem mais destaque ou engajamento. A Lupa e a Aos Fatos também
possuem parceria para verificar as informações que circulam no WhatsApp, no
entanto pelo material catalogado a quantidade de verificações das agências por
esse meio é menor. Contudo, o fato desses conteúdos circularem mais nas redes
sociais possibilita um alcance ainda maior da desinformação sobre a CoronaVac,
como também facilita o compartilhamento e a interação desse tipo de conteúdo.
No que se refere a fala de pessoas públicas relevantes, esse dado se
configura pelo fato das agências verificarem os discursos de políticos, celebridades,
ou pessoas que de algum modo tenham destaque na mídia já que seus
posicionamentos tem influência na sociedade, essa analise por parte das agências
são essenciais especialmente em um período delicado como a pandemia, visto que
a sociedade não tinha tantas informações a respeito do vírus, e que o discursos
dessas pessoas contribuíram para tomadas de decisões e seguir as normas dos
órgãos de saúde. Já os sites de notícias são portais falsos que se utilizam da
credibilidade e dos mecanismos jornalísticos para se espalhar e fazer com que as
Quadro 4: Recursos das fake news sobre a CoronaVac. Quantidade de conteúdos encontrados
Agência Lupa e Aos Fatos.
RECURSOS AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA AOS FATOS
FALAS DE PESSOAS 4 2
PÚBLICAS RELEVANTES
FOTO 13 3
VÍDEO 2 1
TEXTO 8 4
SITE 2 1
Fonte: Autores.
6. Considerações Finais
Apresentamos aqui os resultados da nossa investigação sobre a vacina da
CoronaVac e a atuação das plataformas de Fact-checking “Lupa” e “Aos Fatos”
para combater a desinformação sobre o imunizante, de modo que, os objetivos
deste trabalho foram alcançados. Nesse sentido, também respondemos nosso
problema de pesquisa e compreendemos que as agências atuaram de forma
significativa para esclarecer as fake news que circularam sobre a CoronaVac,
colaborando para que a sociedade tivesse acesso a fatos reais sobre a vacina em
meio a camada incontrolável de desinformação durante a pandemia, colaborando
assim através da verificação dos mais variados meios para que o público
conseguisse distinguir o que é verdadeiro ou não sobre a CoronaVac. Além disso,
as agências possibilitaram a valorização da ciência a partir de suas checagens,
reforçando a confiabilidade dos estudos científicos, e do trabalho dos órgãos de
saúde.
Nessa perspectiva, mapeamos os recursos utilizados na composição das
matérias, a partir dos resultados percebemos as fake news abordaram assuntos
que causavam insegurança na sociedade, como mortes, doenças, efeitos colaterais
graves e ineficácia, dificultando assim que as pessoas se vacinassem com o
imunizante produzido no Brasil, além de descredibilizar a ciência. Avaliamos a
partir das checagens produzidas pelas agências que as redes sociais foram os
meios mais utilizados pelos propagadores de fake news sobre a vacina CoronaVac
para divulgar informações incorretas sobre o imunizante, especialmente, o
Facebook.
Ao final, ressaltamos a importância das agências de verificação jornalística
no cenário pandêmico, principalmente por realizarem um trabalho condizente com
a cientificidade, possibilitando assim que as pessoas tenham acesso às
informações corretas sobre a CoronaVac, permitindo também minimizar o impacto
da desinformação sobre a vacina. Por fim, sugerimos que novas pesquisas sejam
realizadas em relação as plataformas de fact-checking e a pandemia da COVID-19.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA LUPA. Como a Lupa Faz suas checagens?. 2015. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2015/10/15/como-fazemos-nossas-checagens/.
Acesso em: 14 de jun. de 2022.
11.jun.2022.
LAGE, Nilson. Fontes e Fontes. 3o Edição. Rio de Janeiro: CPI Brasil, 2003.
LAVILLE, Christian e DIONNE, Jean. A construção do saber. Belo Horizonte: ED.
UFMG, 1999.
SANTOS, Jéssica Almeida & Spinelli, Eleg Muller. Jornalismo na era da pós-
verdade: fact-checking como ferramenta de combate às fake news. Revista
Observatório. Palmas, v. 4, n. 3, p. 759-78 2, maio. 2018.
TANDOC, Edson; LIM, Zheng Wei; LING, Richard. Defining “Fake News”: a
typology of scholarly definitions. Digital Journalism. Reino Unido: Routledge, v. 6,
n. 2, p.137–153, 2018.
p.63-81, 2021.