Os Bestializados 2

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 1

O processo de transição para a república é marcado pela tensão entre as expectativas

de mudança do novo governo e a persistência de antigas práticas coloniais, gerando


crises políticas e econômicas que levam a revolta da Armada em 1893, uma tentativa
frustrada de derrubar o governo.

Se hoje falamos no descolamento da classe trabalhadora da esfera política, do Estado


e suas decisões, imaginemos essas limitações na Primeira República, sobretudo na
capital federal, centro cultural e político do país, sob contínuo processo de desgaste
público, visando neutralizar a influência carioca no cenário nacional.

Aristides Lobo, em seu artigo no Diário popular, em formato de carta, diz: " O povo
assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava." Seria
essa a representação do povo brasileiro? Meros coadjuvantes bestificados sem uma
unidade?

Em seu livro “Os Bestializados”, o historiador social José Murilo de Carvalho analisa a
contraposição entre o ideário de uma cidadania republicana e o povo. Aponta uma
cidade ainda controlada por elites oligárquicas e questiona relação de estadania e
apatia da população, tida como objeto de ação ao invés de força modificadora da
sociedade.

No trecho “Havia consciência clara de que o real se escondia sob o formal” aponta
compreensão da população do esvaziamento do discurso liberal, e em ”o povo sabia
que o formal não era sério” a hipocrisia da manutenção da estrutura do antigo regime,
que buscava transição através de uma eleição forjada, orquestrada pelo governo da
época a fim de difundir participação popular inexistente.

Logo, sabiam que a representação política não serviria para mudar a realidade, não se
sujeitavam a manipulação e organizam-se fora da vigência do Estado através de
eventos culturais, festas populares e levantes como forma de protesto, com destaque
para o carnaval e a revolta da vacina.

Enfim, conclui que “apatia” é resposta a inviabilização do novo regime que falha na
democratização, manifestada através de postura sarcástica que não leva a sério a
falta de participação popular. Bestializados eram os que acreditavam na farsa da nova
República.

Por Caetano Goulart, Leonardo Sobral e Lucas Lopes

Você também pode gostar