Memorial Do Convento (IX, XV e XI)

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 4

Capítulo IX – “A construção da Passarola”

1. Identifica, justificando, a alcunha atribuída ao padre e mostra como a personagem se


sente.

O Padre tem alcunha de “Voador”, “Aquele que ali vem é o padre Bartolomeu Lourenço, a
quem chama o Voador…”. Esta alcunha foi-lhe atribuída devido às suas experiências
malsucedidas que tinha feito com os seus balões “... primeiro fiz um balão que ardeu, depois
construí outro que subiu até ao teto duma sala do paço, enfim outro que saiu por uma janela da
Casa da Índia e ninguém tornou a ver.…”. Esta alcunha faz com que o padre se sinta triste e
magoado, uma vez que é alvo de “risadas” por parte da corte e dos poetas, por ter tentado, em
vão, voar e por ninguém reconhecer o seu esforço e dedicação, pois a mentalidade da época
ainda era bastante atrasada para ideias tão revolucionárias.

2. Explica como conseguiu o padre convencer Baltasar a ajudá-lo no seu projeto.

Quando o Padre pediu a Baltasar para o ajudar na construção da passarola, este ficou bastante
surpreendido e recusou o pedido, pois acha que o facto de ser maneta não lhe permitiria
construir tal obra. No entanto, o padre tentou convencê-lo com dois argumentos, uma vez que
acreditava nas suas capacidades. Primeiro disse “Com essa mão e esse gancho podes fazer tudo
quanto quiseres, e há coisas que um gancho faz melhor que a mão completa...”. Deste modo, o
Padre Bartolomeu procurou convencer Baltasar que o gancho, que substituía a mão, seria uma
mais-valia e não uma limitação, principalmente quando teria de mexer em ferros que
magoariam uma mão humana. Todavia, Baltasar não ficou muito convencido com essas
palavras. De seguida, o padre, por ter ideias muito específicas sobre determinados assuntos, diz
que Deus é maneta da mão esquerda e conseguiu construir todo o universo, então Baltasar,
igualmente maneta da mão esquerda, também conseguirá construir a passarola. Apesar de
Baltasar ter ficado um pouco hesitante com tal heresia, acaba por se comprometer com o
projeto.

3. Refere o papel de Blimunda na construção da passarola.

Blimunda, apesar de não participar na construção manual da passarola, tem um papel


fundamental no projeto como um todo. É Blimunda, através dos seus poderes sobrenaturais de
ver por dentro dos corpos, quem recolhe as duas mil vontades imprescindíveis para o voo da
máquina. Devido aos seus poderes, por vezes, durante a noite vai verificar o estado da passarola,
ver se há algo que está estragado e que aos olhos humanos é impercetível, para depois transmitir
a Baltasar e assim este poder repará-lo. Para além disto, sempre que era necessário construir
alguma peça para a passarola, é Blimunda que a desenha na parede com a fuligem da candeia,
pois ela tinha um olhar e traço mais preciso do que o Baltasar. Por último, Blimunda apoia
Baltasar emocionalmente, incentivando-o a nunca desistir perante as dificuldades.

4. Carateriza a ligação entre estas três personagens, relacionando-a com os seus nomes.

As três personagens têm uma relação de amizade e cumplicidade muito forte entre si,
partilhando o sonho de voar e o segredo da passarola, que, uma vez descoberto, os levaria a
serem perseguidos pela inquisição. Os três representam a tríade terrestre: Bartolomeu, com as
suas ideias e trabalho científico corresponde ao Pai, Baltasar ao Filho, com o trabalho manual e
Blimunda, com a sua magia, representa o Espírito Santo, devido aos seus poderes. Partilham,
também, a inicial “B”, e, como são três, o número da totalidade e da perfeição, revelam
complementaridade entre si.
CAPITULO IX
Baltasar e Blimunda mudam-se para a quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira,
para trabalhar na construção da máquina de voar do Padre Bartolomeu Lourenço. Apesar de
não ter a mão esquerda, Baltasar tem a ajuda de Blimunda, uma mulher vidente.
El-rei que ainda gosta de brinquedos protege o padre da Inquisição. Este decide partir para a
Holanda, terra de muitos sábios sobre alquimia e éter, elemento que faz com que os corpos se
libertem do peso da terra.
Nesta altura as freiras de Santa Mónica manifestam-se contra a ordem de D. João V de que elas
só podem falar com familiares.
O padre abençoou o soldado e a vidente, despediu-se e partiu, deixando a quinta e a máquina de
voar ao cuidado deles. Antes de partir para Mafra, o par decide não ir ao auto-de-fé e vão assistir
às touradas, que é um bom divertimento. As touradas é como assar o touro em vida, tortura-se o
touro enquanto o público aplaude a mísera morte. Cheira a carne queimada mas o povo nem
nota pois está habituado ao churrasco do auto-de-fé.
Na madrugada seguinte Baltasar e Blimunda partem para Mafra com uma trouxa e alguma
comida.

Capítulo XV – “A recolha de vontades e a doença de Blimunda”

1. Refere os motivos que justificam o estado de saúde de Blimunda.

Para ajudar na construção da passarola, Blimunda, aproveitando o estado epidémico da cidade,


fica encarregue de recolher as vontades dos doentes. (“Lisboa está atormentada de uma grande
doença (…) lembrei-me de que não teremos melhor ocasião para recolher as vontades.”) Ao
estar constantemente rodeada por este ambiente de doença e devido ao trabalho exaustivo que
tem, acaba por ficar desgastada, cansada, extenuada, tanto física como mentalmente. “(…)
recolheram-se Blimunda e Baltasar à quinta (…) ela sofrendo uma insuportável náusea, como se
regressassem a um campo de batalha.”

2. Carateriza o estado de espírito do padre perante a doença de Blimunda.

O padre Bartolomeu Lourenço, ao ver o estado de Blimunda, demonstra arrependimento e culpa


por a ter incentivado a ir para a cidade infetada, que a fez ficar doente. “Mas, olhando Blimunda
(…) o padre mordia as unhas, arrependia-se de a ter mandado às instâncias vizinhas da morte
com tanta continuidade que a sua própria vida teria de padecer, (…)”

3. Explicita o papel de Scarlatti para a cura de Blimunda.

Durante o período em que Blimunda se encontrava doente, Scarlatti visitava-a regularmente.


Nessas suas visitas, tocava melodias no cravo e ao mesmo tempo, Blimunda ia recuperando
lentamente. “Durante uma semana, todos os dias, (…) o músico foi tocar duas, três horas, até
que Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do cravo, pálida ainda (…). Depois,
a saúde voltou depressa, (…)”
Scarlatti voltou muitas vezes à quinta e pedia que não parassem o trabalho; ali, em meio aos
ruídos e grandes barulhos, confusão, tocava o cravo.
Há um surto de varíola em Lisboa, oriundo de uma nau vinda do Brasil. O padre pede à
Blimunda que vá à cidade e recolha as vontades das pessoas. É assim que ela, em jejum, durante
um dia inteiro se põe a recolher tais vontades. Um mês depois, são mais de mil vontades presas
ao frasco em que Blimunda as recolhia. E quando a epidemia terminou, ela tinha aprisionado
duas mil vontades. Foi então que caiu doente. Nada a curava da extrema magreza; mas um dia,
Scarlatti pôs-se a tocar e ela abriu os olhos e chorou. O maestro veio, então, todos os dias, quer
fizesse chuva ou sol; e a saúde de Blimunda voltou depressa.
Um dia, Baltasar e Blimunda vão a Lisboa e encontram Bartolomeu doente, magro e pálido.
Parecia ter medo de algo.

Capítulo XVI – “O voo da Passarola”

1. Explicita a razão pela qual o padre entra violentamente na abegoaria.

O padre Bartolomeu Lourenço entra de forma repentina na abegoaria devido ao seu receio do
Santo Ofício, que acredita estar no seu encalce. Este receio é evidenciado na frase “Temos de
fugir, o Santo Ofício anda à minha procura”. Portanto, o padre apresenta-se “pálido, lívido, cor
de cinza”, estando de tal forma nervoso e inseguro que “Tremia todo, mal podia sustentar-se de
pé”. Consequentemente, o padre toma a decisão de fugir daquele local, e, por isso, tenta usar a
passarola, sendo representada essa intenção na ordem “Vamos fugir nela”.

2. Explica de que forma o narrador se serve do voo da passarola para ridicularizar os dogmas
da Igreja.

O voo da passarola é utilizado para ridicularizar os dogmas da igreja, na medida em que


demonstra que para atingirmos outra realidade temos de ignorar e, por vezes, até ir contra esses
dogmas. O combustível que permite à tríade Blimunda, Baltazar e Bartolomeu a ascensão e a
fuga do universo material são as vontades recolhidas por Blimunda. Esta recolha de vontades
humanas vai contra as normas da igreja, sendo impossibilitado o voo da passarola a menos que
se rompa com as mesmas. Este dilema ainda está presente nos dias de hoje, sendo questionável
até que ponto certos progressos científicos não entram em conflito com os pilares da religião
Católica.

3. Estabelece um contraste entre a construção da passarola e a do convento, clarificando a


sua simbologia.

Nesta obra é estabelecido um paralelismo entre a construção do convento e a construção da


passarola, visto que ambas têm por base a concretização de um sonho. Por um lado, a primeira
deve-se a uma promessa do rei caso o seu sonho de gerar descendentes seja cumprido. Por
outro, a construção da passarola ocorre devido ao desejo do Padre Bartolomeu de Gusmão de
voar. Embora seja criado este paralelismo entre as construções, estas constituem uma antítese,
uma vez que se baseiam em dois desejos, um real e concreto do rei em assegurar descendência
ao trono e outro que se prima pela ascensão do real para um universo imaterial através do voo,
alimentado pelas vontades dos humanos.

Neste capítulo, comenta-se fortemente a governação do reino, criticando a maneira de se fazer


justiça, onde o poder e a riqueza se sobrepõem sempre àqueles que nada têm nem podem... Até
mesmo o destino, se calhar, foi injusto ao deixar morrer afogado o Infante D. Miguel, poupando
a vida ao seu irmão o Infante D. Francisco.
Entretanto, criada pelo Padre Bartolomeu Lourenço, a passarola, a máquina de voar, está
pronta. Em S. Sebastião da Pedreira, Baltasar e Blimunda, têm de deixar a quinta que foi
perdida por El-rei para o Duque de Aveiro. O Padre Bartolomeu Lourenço, aguarda a vinda de
El-rei para provar a máquina e quer dividir a glória e a fama do seu invento com Blimunda e
Baltasar. Porém o Padre anda agitado e receoso de que o acusem de feiticeiro e judeu, embora
conte com o apoio de El-rei.
O tempo passa, El-rei não chega; já é Outono e a máquina necessita de sol para se erguer do
chão! Certo dia, eis que o Padre Bartolomeu Lourenço chega pálido e assustado dizendo que
tinha de fugir, pois o Santo Ofício já andava à sua procura para o prender! Apontou a passarola e
disse que iriam fugir nela! Depois de preparada pedem ajuda ao Anjo Custódio para aquela
"viagem"... e partiram pelos ares sacudidos pelos ventos até onde o destino os quis levar. Passam
por momentos de medo, euforia, deslumbramento e felicidade, considerando-se loucos. Lá do
alto avistam Lisboa, o Terreiro do Paço, as ruas, etc... Nesta altura procuram o padre para o
prender e percebem que este fugiu. A noite chega, sem sol a máquina começa a perder altitude...
Estão assustados. O Padre Bartolomeu Lourenço, resignado, espera o fim mas Blimunda como
que inspirada, consegue controlar a máquina com a ajuda de Baltasar e evitam o pior. Uma vez
em terra firme, deixam-se escorregar para fora e consideram um milagre terem-se salvo sem
qualquer ferimento.
Não sabem onde estão. O Padre acha que vão encontrá-los e que morrerão. Blimunda e Baltasar,
confiantes, acreditam que se se salvaram daquele perigo, salvar-se-ão dos próximos, e estão
prontos para fazer a máquina voar no dia seguinte. Cansados e depois de comerem algo,
adormecem, Blimunda e Baltasar. O Padre está doente, tenta pegar lume na passarola mas os
dois não o permitem. Afasta-se para umas moitas e nunca mais é visto. Baltasar vai procurá-lo,
mas em vão. Cobriram a máquina de ramos e folhas para impedi-la de voar. Na manhã seguinte,
desceram pelo mesmo sítio onde o Padre desaparecera sem deixar rasto, mas nem sombra dele.
E lá partiram os dois. Ao fim de dois dias chegam a Mafra, onde havia uma Procissão na rua que
dava graças a Deus por haver mandado voar sobre as obras da Basílica o seu Espírito Santo.

Você também pode gostar