Dialogos Cruzados Elizeu
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tuem, de modo algum, um inquérito verificatório, não visam nem estabelecer leis, nem
provar hipótese; têm por função recolher testemunhos, elucidá-los e descrever aconte-
cimentos vividos [...]” (Poirier et. al, 1999, p. 117).
Aqui, cabe explicitar algumas possibilidades de análise, após a identificação,
mapeamento e apreensão de unidades de análise temática ou de unidades descritivas,
as quais podem ser utilizadas na totalidade do texto narrativo biográfico ou da de-
marcação de excertos das narrativas (auto)biográficas. As quais remetem sempre para
a complexidade e a totalidade de cada experiência narrada, seja através da pertinência
e recorrência dos episódios ou das suas irregularidades e particularidades da vida em
suas diferentes formas de manifestação ou de expressão.
Ao utilizar princípios deontológicos, da hermenêutica e da fenomenologia,
a análise linguística e textual das narrativas (auto)biográficas pode ser construída a
partir do texto em sua totalidade, como utilizada pela História Oral, ou centrada na
análise temática ou descritiva, por considerar unidades de significação e excertos que
representem ou revelem regularidades ou irregularidades narradas pelos sujeitos, seja
individual ou coletivamente. Ainda assim, seja qual for a opção de análise, evidencia-
se a necessidade de constante retorno às narrativas (auto)biográficas, tendo em vista
esclarecer registros e articulações dialéticas das leituras temáticas e interpretativas no
processo de escrita e compreensão de percursos, trajetórias e experiências de vida dos
sujeitos, mediante o agrupamento de unidades de significações.
A construção de critérios de análise nasce articulada aos processos de lei-
tura cruzada, leitura analítica e leitura compreensiva-interpretativa, implicando-se no
modo como cada sujeito elege para narrar ou escrever sobre si, suas referências so-
cioculturais, as regularidades e irregularidades históricas dos percursos e trajetórias
de vida-formação, bem como pelo aprofundamento narrativo, frente a interioridade,
exterioridade e a subjetividade de cada narrativa. Ainda assim, as leituras temática, in-
terpretativa e compreensiva permitiram, como uma dimensão meta-reflexiva e de um
exercício metodológico, agrupar as unidades temáticas de análise através das recorrên-
cias e das irregularidades presentes nas narrativas, emergindo de um diálogo intertex-
tual e de uma análise horizontal das experiências individuais e coletivas contidas nas
narrativas. Conforme explicitam Poirier et. al. (1999), a “[...] análise horizontal resulta
do encadeamento, trecho a trecho, da totalidade do discurso organizado pelo sistema
categorial [...]” (p. 125) e ainda continuam afirmando os autores que “[...] empregamos
o termo ‘análise horizontal’ para indicar o trabalho sobre o conjunto do ‘corpus’, onde a
história é considerada só como um elemento de informação [...]” (idem, p. 125 – grifos
dos autores).
Diante das questões postas pelos autores, faz-se necessário explicitar duas
questões, a primeira diz respeito ao exercício constante de escuta e leitura para a cons-
trução de unidades de análise temática em articulação com a totalidade da história
narrada, contrapondo-se a ideia de categoria. A segunda refere-se as questões postas
entre pesquisa (auto)biográfica e o trabalho com as narrativas, exigindo uma posição
ética no processo da pesquisa ou das práticas de formação, em função da totalidade dos
conteúdos das histórias. Mesmo que a pesquisa utilize de fragmentos, aqui entendidos
como unidades de análise temática, para agrupar as experiências contempladas nas
narrativas e nos excertos biográficos dos sujeitos envolvidos num projeto de pesquisa
ou num processo experiencial de formação inicial ou continuada.
Referências
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todológicas da pesquisa (auto)biográfica. Natal: EDUFRN; Porto Alegre: EdiPUCRS; Sal-
vador: EDUNEB. (Coleção Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais. V. 1 Tomo I, 2012)
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EDIPUCRS, 2004.
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História Oral. 3ª Edição, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2000, p. 183-191.
BUENO, B. O.; CHAMLIAN, H. C.; SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. Histórias de vida e
autobiografias na formação de professores e profissão docente (Brasil, 1985-2003). Educação e
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COULON, A. A Escola de Chicago. São Paulo: Papirus, 1995.
DELORY-MOMBERGER, C. Abordagem metodológica na pesquisa biográfica. Revista
Brasileira de Educação, v. 17, n. 51, 523-740, set./dez. 2012.
FERRAROTI, F. Sobre a autonomia do método biográfico. In: NÓVOA, A.; FINGER, M. O
método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988, p. 17-34.
JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M. Entrevista narrativa. In: BAUER, M. W. ; GASKELL,
G. (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2002, p. 90-113.
Notas
1
Sobre os estudos relacionados ao estado da arte sobre pesquisa (auto)biográfica no campo educacional
brasileiro, cabe consultar os seguinte trabalhos: Bueno, Catani, Sousa e Chamlian (2006); Souza, Sousa e
Catani (2008), Stephanou (2008).
2
Cabe aqui destacar o pioneirismo da Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação e da
Pesquisa Biográfica em Educação (ASIHVIF-RBE), no contexto francófono e o trabalho da Associação
Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica (BIOgraph) e da Associação Norte e Nordeste das Histórias de
Vida em Formação (ANNIHVIF) no campo educacional brasileiro.
3
Do mesmo modo a rede de pesquisa propiciada pelo Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográ-
fica (CIPA), com as diferentes edições do congresso (I CIPA, 2004, Porto Alegre; II CIPA, 2006, Salvador;
III CIPA, 2008, Natal; IV CIPA 2010, São Paulo; V CIPA, 2012, Porto Alegre e a organização no VI
CIPA previsto para 2014, no Rio de Janeiro), evidenciam consolidação de redes de pesquisas e de trabalhos
sobre as (auto)biográficas como dispositivos de investigação, de formação e de pesquisa-formação no campo
educacional no País.
4
Aqui cabe destacar as publicações que resultaram das diferentes edições dos CIPA, especialmente o livro
de Abrahão (2004); Souza e Abrahão (2006); Souza (2006); Souza (2008); Passeggi e Souza (2008), Souza
e Mignot (2008), Vicentini e Abrahão (2010); Silva e Cunha (2010), Abrahão e Passeggi (2012), Souza
e Bragança (2012), bem como as coleções: Pesquisa (auto)biográfica & Educação (2008); Artes de Viver,
Conhecer e Formar (2010) e Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais (2012), as quais apresentam
um conjunto de textos de pesquisadores brasileiros, latino-americanos, europeus e norte-americanos sobre
questões teóricas e metodológicas da pesquisa (auto)biográfica.
5
Projeto desenvolvido pela Diretoria de Formação e Experimentação Educacional - DIRFE / IAT /SEC,
no período de junho 2008 a dezembro de 2008, através dos Seminários de Formação em escolas Polos de
Salvador, com Consultoria de Elizeu Clementino de Souza e Osvaldo Fernandez. O referido projeto buscou
discutir e sistematizar questões sócio-históricas sobre a homossexualidade, mapear representações dos(as)
professores(as) sobre a temática trabalhada, tendo em vista a proposição coletiva de modos de enfrentamen-
to de práticas homofóbicas na escola.
6
Quando no início do Governo Dilma, a SECAD passou a ser denominada de SECADI (Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), mudando completamente sua política de
ação em relação aos projetos sobre diversidade afetivo-sexual na escola.
Correspondência
Elizeu Clementino de Souza – Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus I.
Estrada das Barreiras, s/n, Narandiba, CEP: 41150-350 – Salvador, Bahia – Brasil.
E-mail: [email protected]