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“Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor, o teu Deus,
que te ensina o que é útil e te guia pelo caminho em que deves andar” (Is 48: 17).
1
Este curso é para o nível 1 ou básico, para os irmãos até dois anos de convertidos. Os
assuntos abordam a personalidade dos principais personagens bíblicos, assim como os
aspectos de sua vida que podemos tirar para o nosso aprendizado prático. Como grande
parte deste trabalho é voltada à cura interior, o conhecimento aqui colocado é
basicamente dirigido ao aprendizado com as situações do dia a dia, que trazem grande
crescimento à alma. Espero que você goste da leitura, seja ministrado e curado.
Que Deus o abençoe.
ÍNDICE
1) Apresentação da bíblia 3
2) A Criação: 1ª aula 25
3) A queda do homem: 2ª aula 29
4) Noé: 3ª aula 32
5) Abraão: 4ª aula 36
6) Isaque: 5ª aula 42
7) Jacó: 6ª aula 45
8) José: 7ª aula 50
9) Moisés: 8ª aula 56
10) Josué: 9ª aula 71
11) Débora: 10ª aula 80
12) Gideão: 11ª aula 87
13) Sansão: 12ª aula 92
14) Rute: 13ª aula 97
15) Ana e Samuel: 14ª aula 103
16) Rei Davi: 15ª aula 107
17) Reis: 16ª aula 119
18) Elias e os profetas de Baal: 17ª aula 144
19) Eliseu: 18ª aula 149
20) Ester: 19ª aula 158
21) Jó: 20ª aula 163
22) Paulo: 21ª aula 167
Tabelas e genealogias 177
Notas:
• As palavras ou frases colocadas entre colchetes [ ] ou parêntesis ( ), em itálico, foram
colocadas por mim, na maior parte das vezes, para explicar o texto bíblico, embora
alguns versículos já as contenham [não estão em itálico].
• A versão evangélica aqui utilizada é a ‘Revista e Atualizada’ de João Ferreira de
Almeida, 2ª ed., Sociedade Bíblica do Brasil.
• NVI = Nova Versão Internacional (será usada entre colchetes em alguns versículos
para facilitar o entendimento dos leitores).
• Referências bibliográficas:
Bíblia de estudo Vida, 2ª edição, João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no
Brasil.
• Nas últimas páginas do livro você encontrará tabelas referentes a pesos e medidas,
além das informações sobre o calendário bíblico. Também vai encontrar a genealogia de
alguns personagens importantes.
3
Apresentação da bíblia
Cânon:
O vocábulo grego Kanôn, que é de origem semítica (hebr. qãneh, Ez 40: 3, um junco,
instrumento de medir), foi empregado no sentido metafórico para regra de ação. Em
meados do século IV DC o termo parece ter sido aplicado à bíblia, uma coleção de
inscritos inspirados pelo Espírito Santo, considerada como a regra para nossa fé e vida.
Deus usou homens como Seus instrumentos, ao lado de ações humanas e reflexões que
interagiram com Ele para nos dar Seus ensinamentos. Kanôn também significa: regra ou
padrão; daí, a lista de livros que a Igreja reconhece como a norma da fé e da prática.
Bíblia:
Vocábulo latino derivado provavelmente do termo grego bíblia (livros: plural de
biblion, livro, que é diminutivo de biblos, vocábulo que na prática denota pequena
espécie de documento escrito, mas que originalmente significava um documento escrito
em papiro, gr. Byblos). A bíblia é, portanto, um conjunto de livros reconhecidos como
canônicos pela Igreja Cristã.
As Escrituras:
Outro termo sinônimo de bíblia é ‘As Escrituras’ (gr. hai graphai, ta grammata),
freqüentemente usado no NT para denotar os documentos do AT em sua totalidade ou
em parte.
Testamento:
No hebraico: Berïth, e no grego: diatheke, que quer dizer: pacto, aliança. Os escritos do
AT não apenas registram essa revelação acerca de Deus; ao mesmo tempo, eles
registram a reação dos homens para com a Sua revelação, uma reação algumas vezes
desobediente e expressa tanto em ação como em palavras. A relação entre o NT para o
AT é a revelação do cumprimento da promessa. Se o AT registra o que Deus falou
muitas vezes e de muitas maneiras nos patriarcas e nos profetas, o NT registra a palavra
final que Ele falou por Seu Filho, no qual toda a revelação anterior se centralizou e se
confirmou. Em outras palavras, o AT foi uma sombra do NT (Hb 10: 1; Cl 2: 17). A
mensagem central da bíblia é a história da salvação, ou seja, o pacto de Deus com os
homens.
O NT contém 27 livros:
1) Quatro evangelhos
2) Atos dos Apóstolos
3) 21 Cartas escritas por Paulo e outros homens de Deus
4) Apocalipse
Enquanto a escrita dos livros do AT (em hebraico) foi espalhada num período de mil
ou mais anos, os livros do NT (em grego) foram escritos dentro de um único século. A
compilação total de todos os livros ocorreu, provavelmente, antes do século IV DC. A
bíblia contém, então, 66 livros e aproximadamente 44 autores.
5
trono da glória no julgamento final. Mas não faz nenhuma menção ao livro bíblico de
Daniel; 72–82: O Livro Astronômico (também chamado de Livro dos Luminares
Celestiais ou Livro dos Luminares; uns pesquisadores dizem que essa parte é mais
desenvolvida na versão etíope do que na versão de Qumran; outros, dizem o contrário).
Este livro contém descrições do movimento dos corpos celestes e do firmamento, como
um conhecimento revelado a Enoque em suas viagens ao céu e descreve um calendário
solar que mais tarde foi descrito também no Livro dos Jubileus que foi usado pela seita
do Mar Morto, mas incompatível com as festas judaicas comemoradas no Templo de
Jerusalém; 83–90: O Livro dos Sonhos contém uma visão da história de Israel até a
Revolta dos Macabeus, como foi interpretado pela maioria, e a história do mundo até a
fundação do reino messiânico; 91–108: A Epístola de Enoque dá uma exposição
profética do reinado de mil anos do Messias. Nessa epístola a história do mundo usa
uma estrutura de dez períodos (denominados ‘semanas’), dos quais sete referem-se ao
passado e três a eventos futuros (o julgamento final). O clímax ocorre na sétima parte da
décima semana, onde ‘novo céu aparecerá’ e ‘haverá muitas semanas sem número para
sempre, e tudo permanecerá em bondade e justiça’. A parte do Nascimento de Noé
aparece em fragmentos de Qumran separados do texto anterior. Fala do dilúvio e de
Noé, que já nasce com a aparência de um anjo.
O ‘Primeiro livro de Enoque’ não foi considerado canônico nem pelos judeus nem
pelos cristãos do AT, nem consta da versão grega do AT (Septuaginta), nem entre os
livros Deuterocanônicos. Mas a bíblia Etíope (Copta) admite o Primeiro livro de
Enoque. Seu conteúdo é realmente muito diferente dos escritos bíblicos, bastante
místico, no mínimo escrito por uma mente fértil ou ‘mal inspirada’ por algum tipo de
entidade que não Deus.
Vários fragmentos aramaicos encontrados nos Manuscritos do Mar Morto, bem
como fragmentos gregos e latinos koiné, são a prova de que o Livro de Enoque era
conhecido pelos judeus e pelos primeiros cristãos do Oriente Próximo. Os autores do
Novo Testamento também estavam familiarizados com algum conteúdo da história.
Uma pequena seção de 1 Enoque (1: 9) é citada na Epístola de Judas do Novo
Testamento, Judas 1: 6; 14-15, e é atribuída a ‘Enoque, o sétimo depois de Adão’ (1
Enoque 60: 8). Também foi alegado que a Primeira Epístola de Pedro (1 Pe 3: 19-20) e
a Segunda Epístola de Pedro (2 Pe 2: 4-5) fazem referência a algum material enoquiano.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja SUD) não considera 1
Enoque como parte de seu cânon padrão, embora acredite que um suposto Livro
‘original’ de Enoque foi um livro inspirado, inclusive mencionado no ‘Livro de
Moisés’, publicado pela primeira vez na década de 1830.
Por outro lado, o ‘Segundo Livro de Enoque’ (abreviado como 2 Enoque e também
conhecido como Enoque Eslavo ou Segredos de Enoque) é um texto pseudepigráfico do
gênero apocalíptico. Pseudepigrafia (do grego ψευδεπιγραφία) é o estudo dos
pseudepígrafos ou pseudepígrafe, que são textos aos quais é atribuída falsa autoria ou
um título falso. O ‘Segundo Livro de Enoque’ descreve a ascensão do patriarca Enoque,
ancestral de Noé, por dez céus em um cosmos no centro da Terra, o que corresponde
intimamente às primeiras crenças medievais sobre a estrutura metafísica do universo. O
texto foi perdido após vários séculos e recuperado e publicado no final do século XIX.
O texto completo existe apenas na Igreja eslava (Russa e Búlgara), mas fragmentos
Coptas são conhecidos desde 2009. A versão búlgara antiga em si representa uma
tradução de um original em grego. A autoria do ‘Segundo Livro de Enoque’ é discutida.
Ele não está incluído nos cânones judaicos ou cristãos e se distingue do ‘Primeiro Livro
de Enoque’ e ainda um ‘Terceiro Enoque’.
7
1) Septuaginta ou versão dos setenta: conhecida pela sigla LXX, é a mais importante
tradução grega do AT, bem como a mais antiga tradução influente em qualquer idioma.
A origem é incerta; provavelmente foi escrita por volta de 250 AC, no reinado de
Ptolomeu Filadelfo ou Ptolomeu II (285-247 AC). Esse rei fez um apelo ao sumo
sacerdote de Jerusalém para ter uma tradução das Escrituras hebraicas para sua
biblioteca real. O sacerdote lhe enviou setenta e dois anciãos a Alexandria com uma
cópia oficial da Lei. Ali, em setenta e dois dias, fizeram uma tradução que foi lida
perante a comunidade judaica apresentada ao rei. Por causa do número de tradutores,
essa tradução tornou-se conhecida como Septuaginta. Essa foi a Septuaginta original.
Os livros restantes do AT foram sendo traduzidos aos poucos, posteriormente: os livros
canônicos algum tempo antes de 117 AC, enquanto que os livros apócrifos foram
traduzidos até o início da era cristã.
2) Vulgata: a versão latina da bíblia. Esta revisão foi empreendida por Jerônimo no
século IV a pedido do papa Damaso em 382 DC. Ele se baseou nos textos gregos da
Septuaginta, embora existam fontes de pesquisa dizendo o contrário: que a Vulgata foi
traduzida diretamente do texto hebraico original. O nome vem da expressão ‘vulgata
versio’, isto é, ‘versão de divulgação para o povo’, e foi escrita em um latim cotidiano,
assim como a Septuaginta havia sido escrita em grego koiné (popular).
No século VI DC surgiu a Massorá, que é o conjunto de comentários críticos e
gramaticais acerca da bíblia, sobretudo do AT, feitos pelos doutores judeus. Os
massoretas (literalmente: transmissores) substituíram os antigos escribas (sopherim)
como guardiões do texto sagrado. Estiveram em atividade desde cerca de 500 DC até
cerca de 1000 DC. A escrita das consoantes apenas foi processo adequado enquanto o
hebraico continuou sendo um idioma falado. Quando aparecia uma palavra que poderia
ser ambígua, eram usadas letras vogais para deixar o texto mais claro. Os massoretas
criaram os sinais vocálicos e a pontuação ou sinais de acentuação, que foram
adicionados ao texto consonantal.
Resumindo: enquanto a Septuaginta foi uma tradução grega da bíblia hebraica para os
povos gentios, a Massorá foi uma versão moderna escrita em hebraico para os próprios
judeus, usando vogais, pois o hebraico falado na época de Moisés não mais existia.
A seguir, coloco o autor, a data em que foi escrito e o conteúdo de cada livro:
Gênesis: abrange o início da Criação e a queda do homem até o dia que Israel chegou ao
Egito e se tornou nação (por volta de 1800 AC, segundo algumas fontes), passando por
toda a história dos patriarcas. Foi provavelmente escrito por Moisés por volta de 1440
AC por revelação divina ou por antigos relatos escritos e orais. Deve-se buscar em
Gênesis a relação entre Deus e a humanidade, quebrada no Éden e em vários ciclos de
pecado e arrependimento, e restaurada por sacrifícios e encontros com Ele (as alianças).
Gênesis, em hebraico, Bereshit, significa: no início, no princípio.
Êxodo: (Hebr.: Shemot = êxodo). O autor é Moisés e foi composto por volta de 1440
AC. Abrange a saída do Egito (1446 AC) e a entrada em Canaã (1406 AC). O Êxodo se
deu em 1446 AC (cf. 1 Rs 6: 1, pois o reinado de Salomão ocorreu no período de 970-
931 AC).
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Levítico: escrito por Moisés por volta de 1440 AC. Fala das leis, regras e
relacionamentos com Deus e com a sociedade, leis para a vida social e religiosa, pois
diz respeito aos levitas e a como deveriam conduzir corretamente a adoração. Levítico é
chamado “O livro das Leis”. Em hebraico, seu nome é wayyiqrã, que significa: “ele
chamou”, porque o livro inicia justamente com a frase: “Chamou o Senhor a Moisés e,
da tenda da congregação, lhe disse:...”.
Números: quem escreveu foi Moisés, por volta de 1406 AC. Fala sobre os quarenta anos
passados na peregrinação no deserto desde o Sinai até as margens do rio Jordão em
frente a Jericó: três meses do Egito até o Sinai e um ano acampados ao pé desse monte,
mais trinta e oito anos e nove meses vagando pelo deserto, após o castigo determinado
por Deus para os rebeldes. Neste livro, contam-se as famílias que saíram do Egito em
busca da Terra Prometida. Também conta histórias que mostram o pecado do homem e
a ira de Deus, assim como Sua misericórdia para com os que se voltam para Ele. Em
hebraico: Bamidbar = no ermo, por causa de Nm 1: 1: “No segundo ano após a saída
dos filhos de Israel do Egito, no primeiro dia do segundo mês, falou Deus a Moisés, no
deserto [ermo] do Sinai, na tenda da congregação...”.
Deuteronômio: Moisés é o autor, por volta de 1406 AC. Ensina o povo como ser livre,
gozando da plena vontade de Deus no exercício da fé, que se torna ativa quando brota
de um relacionamento vivo com um Deus de amor. Registra as palavras finais de
Moisés aos israelitas antes de entrarem na Terra Prometida ordenando-lhes a
obedecerem a Deus e a rejeitarem todas as formas de idolatria para não morrerem como
seus pais morreram no deserto. Deuteronômio (Devarim) significa: repetição das leis.
Josué: Talvez escrito por Josué ou os sacerdotes Eleazar e Finéias, por volta de 1390
AC. Fala da entrada na Terra Prometida e de sua conquista, a segunda chance de Deus,
já que tinham falhado da primeira vez e ficaram quarenta anos no deserto.
Juízes: Começaram a governar por volta de 1375 AC. Mostra a ascensão e queda do
povo no relacionamento com Deus em vários ciclos consecutivos. Escrito,
provavelmente, por Samuel ou qualquer outro profeta, por volta de 1050-1000 AC. O
livro abrange mais ou menos trezentos e cinqüenta anos onde doze juízes julgaram
sucessivamente a Israel, entre eles, uma mulher: Débora. Mais do que consultores
jurídicos, eram líderes locais que passaram a ter destaque em toda a nação por conta de
suas vitórias militares.
Rute: Provavelmente, uma história passada no período dos juízes (1375-1050 AC) e
escrita por Samuel ou autor desconhecido, por volta de 1000 AC. Conta a história de
Rute que, mesmo sendo estrangeira, viúva, sem filhos, pobre e abandonada, encontrou
seu lugar numa nova comunidade.
2 Samuel: Autor anônimo, por volta de 925 AC. Traça a história de Israel desde a morte
de Saul até o fim do reinado de Davi (mais ou menos 1010-970 AC). Mostra também os
detalhes mais importantes do reinado de Davi e a mão de Deus sobre os acontecimentos.
1 Reis: A tradição judaica considera o profeta Jeremias o autor desse livro ou autor
desconhecido que tenha usado os documentos preexistentes, como o livro da história de
Salomão (1 Rs 11: 41), o livro da história dos reis de Israel (1 Rs 14: 19) e o livro da
história dos reis de Judá (1 Rs 14: 29) ou outras fontes (1 Cr 29: 29; 2 Cr 9: 29; 2 Cr 12:
15). Provavelmente foi escrito durante o exílio babilônico dos judeus, por volta de 560 e
550 AC. Abarca os últimos dias de Davi, o reinado e a queda de Salomão, além da
divisão do reino em Israel e Judá (971-846 AC).
1 Crônicas: Tradicionalmente, a autoria é atribuída a Esdras, entre 450 e 400 AC. Foi
escrito para um povo que retornava do exílio, perguntando se ainda se enquadrava nos
planos de Deus. O propósito do autor era que os israelitas reconhecessem suas raízes
santas e reencontrassem sua herança. Abrange a genealogia do povo, a morte de Saul, o
reinado de Davi e a proclamação de Salomão como rei de Israel.
2 Crônicas: Quem o escreveu foi Esdras, sacerdote e escriba em fins de 400 AC.
Embora o livro abarque o período desde o reinado de Salomão (970 AC) até a queda de
Jerusalém (586 AC), foi escrito para os que estavam retornando do cativeiro e
reconstruindo a sociedade.
Esdras: Esdras talvez o tenha escrito junto com o livro de Neemias, por volta de 430
AC. Na bíblia hebraica original, Esdras e Neemias compõem um só livro. Descendente
de Arão, Esdras era sacerdote e escriba (copista da lei de Moisés) – Ed 7: 1-6; Ne 12:
26. Os acontecimentos relatados em Neemias foram concluídos um pouco depois de 440
AC. Esdras fala da reconstrução do templo, das dificuldades encontradas e das medidas
drásticas exigidas para expurgar a impureza dos exilados que se uniram aos idólatras da
terra.
Neemias: Esdras o compôs junto com o livro anterior, por volta de 430 AC. O episódio
de Neemias se deu entre 445 e 432 AC. A Pérsia conquistou a Babilônia em 539 AC e
depois permitiu que os judeus retornassem a Jerusalém (538 AC). O templo tinha sido
reconstruído, mas os muros permaneciam em ruínas. O livro fala da reconstrução dos
muros e da maneira pela qual Neemias equilibrou espiritualmente as ações práticas.
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Jó: Autor desconhecido. Cogita-se Jó (embora não seja Israelita), Eliú, Moisés,
Salomão, Isaías, Ezequias ou Baruque (amigo de Jeremias). Os antecedentes culturais e
históricos parecem remontar aos tempos de Gênesis (uma vez que se faz menção de
Elifaz, o temanita, um dos amigos de Jó – Jó 2: 11 etc.). Temã (têmãn) foi neto de Esaú
(Gn 36: 11; 1 Cr 1: 36), e talvez tenha dado seu nome ao distrito, norte de Edom (Jr 49:
20; Ez 25: 13; Am 1: 12). Seus habitantes eram famosos por causa de sua sabedoria (Jr
49: 7; Ob 8 e seg.). Acredita-se que a história de Jó foi transmitida oralmente, de
geração em geração, e só depois registrada por escrito. O livro foi escrito para lidar com
a questão do sofrimento e da injustiça; também para nos alertar contra as acusações
falsas que vêm dos supostos amigos.
Salmos: A maior parte dos salmos foi escrita durante os reinados de Davi e Salomão
(1010-930 AC). Os autores são diversos: Davi (73 salmos, não necessariamente do nº 1
ao 71º como muitos pensam, pois há salmos posteriores reputados a Davi: 86, 91, 96,
101, 103, 105, 108, 109, 110, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145), Asafe (Sl 50; 73-
83), os descendentes de Coré (Neto de Coate e bisneto de Levi; por exemplo: Sl 42-49;
84; 85; 87), Hemã (Sl 88), Etã (Sl 89), Salomão (Sl 72 e 127), Moisés (Sl 90), Esdras
(Sl 119) e outros autores (Sl 92; 93; 94; 95; 97; 98; 99; 100; 102; 104; 106; 107; 111;
112; 113; 114; 115; 116 ; 117; 118; 120; 121; 122; 123; 124; 125; 126; 128; 129; 130;
131; 132; 133; 134; 135; 136; 137; 146; 147; 148; 149; 150).
que, simplesmente, falou da perspectiva de um rei. Oferece uma filosofia de vida, usado
pelos judeus como livro de instrução, mostrando como descobrir relevância espiritual
numa vida que de outra forma seria irrelevante. Época em que foi provavelmente
escrito: por volta do século X AC.
Isaías: Isaías, filho de Amoz, por volta de 700-680 AC. Seu ministério em Judá foi de
740 a 681 AC. Fala da posição dupla do povo de Israel diante de Deus, sua acomodação
e falta de amor verdadeiro ao Senhor. Isaías trabalhou para dar ao povo a clareza dessa
hipocrisia na esperança de mudarem de atitude. Em 722 AC houve o exílio de Israel e
em 586 AC, o exílio de Judá. Durante seu ministério quatro reis de Judá reinaram. Por
meio de Isaías e de sua profecia, Deus mostrou ao povo Seus dois lados: misericórdia e
juízo, justiça e perdão, exílio e salvação. Profetizou a vinda do Messias, por isso foi
chamado de profeta messiânico.
Jeremias: Jeremias, durante seu ministério: 626-585 AC. Os últimos versículos foram
acrescentados depois, mais ou menos 25 anos após a destruição de Jerusalém. Foi
sacerdote e profeta (seu pai Hilquias era sacerdote da descendência de Abiatar, que
oficiou no reinado de Davi, e da linhagem de Itamar, irmão de Eleazar, filho de Arão).
Seu assistente, Baruque, anotou as profecias à medida que Jeremias as ditava. Recebeu
ainda jovem o chamado de profeta (por volta do início de sua 2ª década de vida) para
chamar o povo para Deus, antes que chegasse a destruição. Depois da queda Jerusalém,
foi forçado a fugir para o Egito e supõe-se que ali tenha morrido na cidade de Tafnes.
Ezequiel: Ezequiel, o sacerdote levado cativo para Babilônia, onde começaram suas
visões proféticas, escrevendo-o entre 592 e 571 AC. O primeiro retorno dos exilados a
Jerusalém só se deu em 538 AC. Escreveu para os que estavam com ele no exílio,
12
tentando reanimá-los, dizendo que Deus os levaria de volta à sua terra. Temas principais
do livro:
1) Advertências do juízo vindouro sobre a Jerusalém impenitente.
2) Promessas de juízo sobre outras nações.
3) Palavras de esperança para o futuro de Israel.
4) Visão do novo templo e do país restaurado.
Daniel: Daniel, membro de uma família real de Judá e que foi levado à Babilônia por
volta de 605 AC. Provavelmente foi escrito entre 536 e 530 AC, pouco depois de Ciro
conquistar a Babilônia em 539 AC. Fala da fidelidade de Deus e Seu poder sobre os
líderes e os impérios, sempre comprovando Sua superioridade sobre todos os demais
deuses. A História fala sobre três etapas do exílio de Judá: 605, 597, 586 AC.
Oséias: Oséias, profeta de Israel, do reino do Norte por volta de 715 AC (seu ministério
profético foi de 755 a 715 AC, abarcando o exílio de Israel em 722 AC). Conta o amor
de Oséias por Gômer, sua esposa infiel, que ilustra o amor de Deus por nós, mesmo
quando lhe somos infiéis. Jeroboão II (782-753 AC) foi um rei ímpio cujo domínio
produziu uma sociedade materialista, imoral e injusta. Os seis reis que se seguiram nos
próximos vinte e cinco anos contribuíram para a queda de Israel em 722 AC.
Joel: Joel, numa época desconhecida. Pode ter sido quando o rei Joás ainda era uma
criança (835 AC). Profetiza a descida do Espírito Santo e vincula a obra de Deus no AT
ao nascimento da Igreja no NT. Mostra o desejo intenso de Deus de ter intimidade com
todo o Seu povo. Joel conclamou o povo a se voltar para Deus.
Amós: Amós, entre 760 e 750 AC, antes do exílio de Israel em 722 AC. Ele era um
pastor de Judá sem credenciais conhecidas, a não ser o fato de que tinha uma palavra da
parte de Deus (Am 7: 14-15). Amós fala sobre o descontentamento divino contra a
exploração dos mais pobres e indefesos, assim como critica o materialismo e o baixo
nível moral de Israel, que tinha absorvido dos seus vizinhos pagãos (Am 2: 8-16).
Obadias: Obadias, em época desconhecida (profetizou entre 605 e 583 AC, no tempo do
exílio). Fala sobre a rixa entre Israel e Edom (parente distante de Israel por meio de
Esaú), pois quando o reino de Judá foi invadido e conquistado pela Babilônia, Edom
não só não os apoiou, mas ajudou a saquear o reino do Sul, entregando os israelitas aos
seus inimigos. A primeira etapa que Judá foi levado à Babilônia foi em 605 AC, mais
ou menos. Deus condenou os edomitas pela arrogância e pela traição.
Jonas: Jonas, entre 785 e 750 AC no reinado de Jeroboão II, rei de Israel (782-753 AC
– 2 Rs 14: 25). Fala da compaixão de Deus por todo o Seu povo e Seu desejo de
arrependimento sincero, independentemente do que a pessoa tenha feito.
Miquéias: Miquéias, por volta de 742-687 AC, durante os reinados de três reis de Judá:
Jotão (740-732 AC), Acaz (732-716 AC) e de Ezequias (716-687 AC). Miquéias
escreveu para os habitantes de Judá a fim de adverti-los de que o juízo divino era
iminente por haverem rejeitado Deus e Sua lei. Falava também que a nação acabaria
sendo restaurada.
13
Naum: Naum, entre 663 AC (quando o Egito já estava nas mãos da Assíria) e 612 AC
(quando a Assíria foi conquistada pela Babilônia, e quando ocorreu a queda de Nínive),
mais ou menos cem a cento e cinqüenta anos depois de Jonas entregar a mensagem de
Deus a Nínive, capital da Assíria. Naum faz lembrar que o Senhor detém o controle da
História e que não permitirá que o mal prevaleça para sempre.
Habacuque: Habacuque, profeta de Judá, mais ou menos entre 610 e 597 AC, durante o
reinado do rei Jeoaquim. Fala a Deus como um intercessor do povo pedindo que
acabasse com a corrupção de Judá.
Sofonias: Sofonias, durante o reinado do rei Josias em Judá (640-609 AC), mas antes da
destruição da cidade de Nínive em 612 AC (profetizada por Naum). Escreveu para o
povo de Judá, advertindo-o do juízo de Deus pelos pecados e assegurando que isso
abriria o caminho para uma nova sociedade, na qual a justiça prevaleceria e toda a
humanidade adoraria ao Senhor.
Ageu: Ageu, mais ou menos em 520 AC. Embora os judeus tivessem iniciado a
reedificação do templo dezesseis anos antes dessa profecia (por volta de 536 AC), a
oposição dos povos vizinhos conseguia intimidá-los e levá-los a abandonar a obra de
reconstrução. Ageu estimula o povo a reconstruir em 520 AC (Ag 1: 1; Ed 4: 24; Ed 5:
1-2). Ageu e Zacarias são os primeiros profetas referidos depois do retorno dos
primeiros exilados em 538 AC. A ordem de reconstrução já havia sido dada por Ciro em
539-538 AC, quando teve início o império persa. O templo começou a ser edificado em
536 AC, mas parou por dezesseis anos e era por isso que Ageu clamava. Sua conclusão
foi em 516 AC (em quatro anos). Segundo a História, o segundo retorno dos exilados a
Jerusalém (sob comando de Esdras) foi em 458 AC e a reconstrução das muralhas de
Jerusalém, em 445 AC (3º retorno: Neemias). Ageu testemunhou a crescente apatia
durante aquele período e, ao chegar à idade apropriada, o Espírito de Deus sobre ele
operou com o dom da profecia.
Zacarias: Zacarias, em 520 AC, durante o reinado de Dario. Era profeta e sacerdote e
nasceu no exílio. Quando jovem, voltou da Babilônia para Jerusalém. Motivou o povo a
restaurar o templo e fez predição sobre o Messias.
Malaquias: Malaquias, mais ou menos 440 AC, depois de Israel ter voltado do cativeiro
babilônico e depois da reconstrução do templo de Jerusalém (516 AC). Combate o
comodismo e a indiferença no meio do povo e dos sacerdotes. Ajuda a reavaliar o
relacionamento com Deus.
Período Persa:
539-333 AC.
Por cerca de cem anos após a época de Neemias (445-332 AC), os persas dominaram
Judá, mas os judeus tiveram permissão de dar prosseguimento às observâncias
religiosas sem enfrentar nenhuma oposição. Nesse período, Judá foi governado por
sumos sacerdotes.
14
O período Helenístico:
333-167 AC.
Em 333 AC os exércitos persas concentrados na Macedônia foram derrotados por
Alexandre, o Grande. Para ele, sem dúvida, a cultura grega seria a única força a
congregar o mundo. Ele permitiu que os judeus guardassem suas leis e até mesmo lhes
garantiu a isenção de tributos e impostos nos anos sabáticos. Por volta de 250 AC, a
conquista grega possibilitou a tradução do AT para o grego [a chamada Versão dos
Setenta ou Septuaginta, no reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-247 AC)]. Reis:
Alexandre, o Grande (330-323 AC), Reinado dos Ptolomeus do Egito e dos Selêucidas
da Síria (323-167 AC).
O período Hasmoneano:
167-63 AC
Hasmon era o nome da família de Judas ben Matatias.
No início desse período da História, os judeus submeteram-se a um jugo muito pesado.
Os Ptolomeus tinham sido complacentes para com os judeus, permitindo suas práticas
religiosas, mas os Selêucidas empenharam-se tenazmente por impingir-lhes o
helenismo. Institui-se como lei a destruição dos exemplares das Escrituras, e esse
decreto foi cumprido com extrema desumanidade. Os judeus oprimidos se rebelaram
sob o comando de Judas Macabeu.
O período Romano:
No ano de 63 AC, o general romano Pompeu conquistou Jerusalém, e as províncias da
Palestina se subjugaram ao domínio romano. O governo de cada região ficava parte do
tempo a cargo de príncipes e, no restante, sob a responsabilidade de procuradores
nomeados pelo imperador. Herodes, o Grande, foi rei de toda a Palestina na época do
nascimento de Cristo. Em 476 DC ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente.
Marcos: João Marcos, primo de Barnabé e filho de Maria, a mulher viúva que oferecia
sua casa para as reuniões da Igreja primitiva (At 12: 12; 25; At 13: 13; At 15: 37-39; At
19: 29; At 27: 2; Cl 4: 10; Fm 24). Era teólogo e historiador. Marcos escreveu o livro
por volta de 50-65 DC, provavelmente para os crentes gentios habitantes de Roma e
para quem ele explica as tradições judaicas de forma clara (Mc 7:1-4; 14: 12; 15: 42).
Atos dos Apóstolos: Quem o escreveu foi Lucas, mais ou menos 63 a 70 DC, como
historiador, para narrar o que aconteceu após a ressurreição de Cristo. Mostra a vida da
Igreja primitiva, o avivamento e o crescimento dependentes da ação do Espírito Santo.
Romanos: Paulo, ditado a Tércio (Rm 16: 22), mais ou menos 56 DC aos gentios de
Roma. Temas principais: fé, graça, justiça, justificação, com o propósito de moldar o
caráter do crente.
Gálatas: Paulo, mais ou menos 48-53 DC, para os cristãos da Galácia, província
romana na região central do que é hoje a Turquia. Corrige os falsos ensinos que se
tinham infiltrado nas igrejas que Paulo e Barnabé haviam fundado.
Filipenses: Paulo e Timóteo (Fp 1: 1), quando aguardavam o julgamento mediante apelo
ao imperador romano Nero, mais ou menos 60-62 DC (Fp 4: 22). Paulo escreveu para
os crentes de Filipos, localizada a Nordeste da Grécia (Macedônia). Filipos foi uma
colônia romana, o primeiro lugar onde Paulo fundou a primeira igreja em solo europeu
por volta de 50 DC (At 16: 11-40). Ele agradecia aos Filipenses por lhe mandarem
dinheiro para cobrir suas despesas em Roma. Também os advertiu contra falsos mestres
e exortou-os a ter mais unidade.
1 Timóteo: Paulo, talvez 63 DC. Escreveu para Timóteo (1 Tm 1: 2; At 16: 1-5) dando
conselhos sobre como conduzir melhor a Igreja de Éfeso frente aos falsos profetas que
agiam ali.
2 Timóteo: Paulo, talvez 62-63 DC. Muitos o tinham abandonado na prisão. Paulo
escreve para Timóteo (2 Tm 1: 2), colocando sua sabedoria a serviço de Deus. Desafiou
Timóteo a ter um ministério mais eficiente.
Tito: Paulo, talvez 62-63 DC. Tito era amigo íntimo e protegido de Paulo e o ajudara a
organizar e a dirigir igrejas na região leste do Império Romano. Paulo escreveu essas
instruções para ajudar Tito a liderar a conturbada igreja da ilha de Creta, próxima à
Grécia.
Filemom: Paulo, entre 60 e 62 DC quando estava preso em Roma. Filemom era cristão
rico da igreja de Colosso e seu escravo fugitivo chamado Onésimo foi convertido à fé
por Paulo. Ele escreveu a Filemom para que perdoasse seu escravo e o recebesse de
volta sem puni-lo.
Hebreus: Paulo, Barnabé, Lucas ou Apolo em 60-70 DC. Forte evidência a favor de
Paulo em Hb 13: 19 e 23 pela semelhança da frase com outras epístolas, embora o estilo
literário pareça ser um pouco diferente das demais epístolas Paulinas. Outros acham que
foi Apolo quem a escreveu, por causa do seu profundo conhecimento dos assuntos do
AT, pois era um judeu alexandrino. Apolo é a abreviação de Apolônio. O termo hebreu
é usado no AT como designação do povo semita. O filho de Noé, Sem, pai dos semitas,
era antepassado de Héber (de onde se origina a palavra ‘hebreu’, Gn 10: 21; 1 Cr 1: 18).
Aplicado em sentido mais amplo, o termo inclui outros povos não israelitas como os
Arameus, os Moabitas e os Amonitas. O termo parece referir-se mais à cultura do povo
que à sua identidade étnica. Hebreus, no NT, eram os primeiros crentes judeus que, por
causa da perseguição e das dificuldades, sentiam-se fortemente atraídos a voltar ao
estilo de vida segundo o AT. O autor traça contrastes freqüentes entre a lei cerimonial
do AT e a fé do NT.
Tiago: Tiago, meio-irmão de Jesus, primeiro bispo de Jerusalém, mais ou menos 40-50
DC, às doze tribos [Tg 1: 1: às pessoas de Israel que se haviam convertido e habitavam
em outras nações, ou à Igreja em sentido simbólico (judeus e gentios)]. Tiago advertiu
os crentes sobre alguns hábitos que haviam adquirido e que corroíam a essência da sua
fé: favoritismo, hipocrisia, calúnias, orgulho, mau uso das riquezas e falta de paciência.
17
1 Pedro: Pedro aos crentes (“eleitos” – ARA) gentios e de origem judaica, dispersos
(“forasteiros” – ARA) entre os não-convertidos em diferentes regiões da Ásia Menor
(atual Turquia), por volta de 60-64 DC; eram cristãos que, devido às crescentes lutas e
perseguições, imaginavam que Deus os tinha abandonado.
2 Pedro: Pedro, para alertar os crentes quanto aos falsos mestres que haviam invadido a
comunidade cristã. Aos crentes dispersos por todas as regiões da Ásia Menor (Turquia),
entre 64 e 68 DC. Orienta a desenvolver o caráter cristão, apegar-se à verdade, ficar
advertido contra falsos mestres e esperar a vinda do Senhor.
1 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC, para incentivar e fortalecer os crentes de
um grupo de igrejas nas proximidades de Éfeso (a oeste do que é hoje a Turquia). Fala
sobre o amor de Deus.
2 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC. Para os cristãos que se sentiam
pressionados pelos falsos mestres, incentivando-os a renovar o compromisso com a
verdade.
3 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC, ao amigo Gaio, incentivando-o a
continuar apoiando fielmente os mestres legítimos.
Judas: Meio-irmão de Jesus, irmão de Tiago, por volta de 65 DC. Advertia os crentes
contra as falsas doutrinas e os mestres enganadores.
Apocalipse: João, apóstolo, 90-95 DC, às províncias da Ásia Menor (atual Turquia), a
fim de adverti-los para que não abandonassem a fé em Cristo, assegurando sua vitória
por permanecerem com Deus. A palavra grega Apocalipse (Apokálypsis) significa:
descobrimento, revelação. Os escritos apocalípticos judaicos utilizavam a linguagem
figurada e o simbolismo para mostrar que o mal será substituído pela bondade e pela
paz do reino de Deus.
Nota:
A bíblia fala que o povo ficou setenta anos em cativeiro, provavelmente calculando
desde a 1ª etapa do exílio de Judá em 605 AC até o 1º retorno dos exilados a Jerusalém
em 538 AC (2 Cr 36: 21: “para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de
Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação
repousou, até que os setenta anos se cumprisse”). Outras referências em Jr 25: 11; Jr 29:
10; Dn 9: 2. A explicação para isso está na palavra Sábado. O povo deveria honrar a
Deus permitindo que a terra descansasse a cada sete anos. Esse período sem plantio era
considerado sábado de descanso (Lv 25: 2-4; Êx 23: 10-11). Como, porém, deixaram de
fazer isso ao longo dos séculos, Deus os condenou e retirou todos os sábados de
descanso de uma só vez. A terra ficaria adormecida durante o cativeiro na Babilônia (Lv
26: 34-35; 43).
18
P
R A Criação
È
- Adão e Eva no jardim do Éden
H
I Caim e Abel
S
T Noé e o dilúvio
Ó
R A torre de Babel
I
A
José – 1915-1805 AC (Gn 50: 22; 26) – chegou ao Egito em 1898 AC (Gn 37:
2; 36), provavelmente no reinado de Sesóstris II (Senusret II) – 1897-1878 AC
ou seu pai Amenemés II (1929-1895 AC) – 12ª dinastia egípcia
1900 Migração dos filhos de Jacó com suas famílias para o Egito: 1876 AC (Êx. 12:
AC 40-41; Gl 3: 17; Gn 46: 26-27; Êx 1: 5; Gn 41: 46; 53; Gn 45: 6).
Morte de Josué: 1375 AC, com 110 anos (Js 24: 29; Jz 2: 8)
O reino dividido
Judá (sul) Profetas Israel (Norte)
Sul Norte
Reis Profetas
700
AC Manassés (687-642 AC)
Naum (663-612 AC)
400
AC Alexandre, o Grande, governa a Palestina; domínio macedônico – 333-323 AC
A vida de Jesus
30 Dia de Pentecostes – 30
DC DC
Calígula (Gaio) – 37-41 Conversão de Paulo –
DC 35 DC
40 Cláudio 41-54 DC Herodes Agripa I (41-44) Início do Ministério de
DC DC (sobrinho de Herodes Paulo (45 DC)
Antipas e pai de Agripa, Morte de Tiago, filho de
Berenice e Drusila, que Zebedeu (44 DC)
se casou com Festo) Morte de Herodes
Agripa I – 44 DC
Fome no tempo de
Cláudio – 46 DC
Primeira viagem
missionária de Paulo –
46-48 DC
Edito de Cláudio – 49
ou 50 DC *
50 Sérgio Paulo, procônsul Conferência de
DC 50 DC Jerusalém 50-51 DC
Segunda viagem
missionária de Paulo –
50-53 DC
Paulo em Corinto – 50-
52 DC
Félix – 52-60 DC Terceira viagem
Nero 54-68 DC missionária de Paulo –
53-57 DC
Paulo em Éfeso – 54-57
DC
Paulo preso em
Jerusalém – 58 DC
Paulo na prisão em
Cesaréia – 58-60 DC
60 Pórcio Festo – 60-62 DC Paulo na prisão em
DC Roma – 61-63 DC
Morte de Paulo em
Roma – 63 DC
Morte de Pedro em
Roma – 65-68 DC?
Galba – 68-69 DC
Oto – 69 DC
Vitélio – 69 DC
23
Tito – 79-81 DC
Domiciano – 81-96 DC
Nerva – 96-98 DC
Trajano – 98-117 DC Morte de João – 98 ou
100 DC?
A Criação – 1ª aula
Resumo:
1) Jo 1: 3: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito se fez”.
2) Cl 1: 16: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as
visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer
potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (o Filho).
3) Ap 4: 11: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o
poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e
foram criadas”.
No princípio, é o que diz a bíblia, a terra estava sem forma e vazia e o Espírito de
Deus pairava sobre as águas. Deus falou Sua palavra e tudo veio a existir. Podemos ver
certa ordem na Criação: Primeiro, a luz, pois todas as formas de vida necessitam da luz
para existir. Depois, Deus criou o firmamento. Em terceiro lugar, os mares, a terra e a
vegetação. Até aqui, já podemos ver que o cuidado de Deus providenciou o ambiente,
ou seja, essas três primeiras criações são preparatórias para estabelecimento de
habitantes.
Três palavras são usadas no hebraico para a vida vegetal: Grama (deshe’ =
vegetação nova), erva (eçebh = plantas) para produzir semente conforme a sua espécie,
e árvores (‘eç) que produzem fruto cuja semente está no mesmo (Gn 1: 11-13).
Em quarto lugar, Deus criou o sol, a lua e as estrelas; em quinto, as aves (Gn 1: 20-
22, sendo que a palavra usada aqui é ‘ôph, que serve para designar todas as variedades
de aves). Em sexto lugar, Deus criou os peixes, os animais terrestres e o homem.
Em último lugar, abençoou o dia do descanso.
Aprendizados importantes:
da criação dos animais, luminares, plantas etc. Embora a bíblia use tantas palavras
para expressar a atividade divina, a atividade essencial tem origem na palavra de
Deus (“disse Deus”) que é um produto da Sua vontade. Para nós, o aprendizado
prático é que tudo o que falamos molda o nosso mundo espiritual e,
conseqüentemente, a nossa vida. Assim, na nossa boca está a bênção e a maldição.
Outra lição importante é que não adianta apenas falar, mas agir de acordo com o que
falamos.
3) Deus deu autoridade ao homem, lhe delegou o cuidado e a guarda do planeta. Ele
se preocupou com o homem dando-lhe suprimento, mas lhe deu também o encargo
de administrar os recursos naturais e lhe deu um trabalho (Gn 1: 29-30; Gn 2: 15):
“E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se
acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê
semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra, e a todas as
aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva
verde lhes será para mantimento. E assim se fez... Tomou, pois, o Senhor Deus ao
homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar”. Assim como
Deus deu trabalho e responsabilidades a Adão, deu-os também ao homem ainda
hoje. O homem precisa de trabalho para que não fique ocioso, sem provisão e sem
sustento. Mas tem também a responsabilidade de cuidar dos recursos naturais do
planeta para cooperar com a criação de Deus e com seus semelhantes.
4) As duas etapas da criação do homem: Gn 1: 26-27; Gn 2: 7: “Também disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra. Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou... Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Por estes versículos
podemos ver que Deus criou primeiramente a porção espiritual do homem (‘à sua
imagem e semelhança’); depois, sua parte terrena, assim como tinha criado os
outros seres animais. Ele criou o homem (‘adhãm = humanidade); a palavra
posterior é bãrã = homem, de modo composto, isto é, homem e mulher. Assim,
nossa porção terrena é vivificada pelo sopro de vida de Deus (seu Espírito) como
está escrito em Gn 2: 7: “... lhe soprou nas narinas o fôlego de vida (referindo-se ao
Espírito Santo) e o homem passou a ser alma vivente”.
5) A mulher foi criada para ser auxiliadora do homem e andar em igualdade com ele:
Em Gn 2: 18 está escrito: “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem
esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”. Em seguida, Ele fez cair
pesado sono sobre o homem, lhe tomou uma das costelas (hebr.: ‘a parte de um dos
lados do homem’) e a transformou numa mulher. O fato de Deus ter tirado uma
costela do homem para formar a mulher significa que Ele planejou uma
interdependência, ou seja, assim como a primeira mulher dependeu do homem para
existir, o homem depende da mulher para nascer na terra. A palavra grega para
mulher é gyne ou gynai e, em hebraico, ’ishstâ = varoa, porquanto do varão (’ïsh)
foi tomada. Deus tomou uma costela (hebr. çelã‘ ou ‘tsêlâ’, que em sumério
significa ‘vida’) e a fez (bãnâ = edificar, construir) numa mulher (le’ishstâ). A
palavra tsêlâ, em hebraico, significa ‘face, lado ou parede do tabernáculo (utilizada
no mesmo sentido que tem a expressão ‘Tsela Hamishcan’, ‘uma das faces, uma das
paredes’; o tabernáculo = Hammishkân). Dessa forma, uma das faces do primeiro
ser humano tornou-se a parte masculina, e a outra, a parte feminina. De acordo com
este conceito hebraico, a mulher possui um discernimento maior, pois foi criada
28
Resumo do texto:
Aprendizados:
Noé – 3ª aula
Resumo:
O gênero humano tinha se corrompido e Deus decidiu destruir a criação que tinha
feito. Mas encontrou Noé, homem justo e temente a Ele, com quem decidiu fazer uma
aliança (Gn 6: 18) e, a partir daí, recomeçar a história da humanidade. Em Gn 5: 32a
bíblia fala que Noé tinha três filhos e com quinhentos anos de idade foi chamado por
Deus para construir uma arca que o protegesse, assim como a sua família e os animais
da terra, do Dilúvio que estava por vir. Deus o orientou a construir uma arca de cipreste
calafetada com betume de aproximadamente 300 x 50 x 30 côvados (NVI: 1 côvado =
mais ou menos 45 cm), portanto, 135 m x 22,5 m x 13,5 m. O Senhor o orientou a
separar sete pares de animais limpos e um par de animais imundos e colocá-los na arca
(Gn 6: 19; Gn 7: 2). O termo hebraico para arca (têbhath) significa: ‘cofre, arca, caixa’.
A arca levou cem anos para ser construída (Gn 5: 32; Gn 7: 6). No ano seiscentos da
vida de Noé veio o Dilúvio, no 17º dia do segundo mês (Gn 7: 11) e durou quarenta dias
e quarenta noites (Gn 7: 17). A bíblia fala também que o nível das águas cobriu os
montes por sete metros. Quando as águas se escoaram a arca repousou sobre as
Montanhas de Ararate, mas Noé aí permaneceu ainda por muitos meses até as águas
secarem totalmente. Aos vinte e sete dias do segundo mês do ano seguinte a terra estava
seca (Gn 8: 14) e, então, Noé e sua família saíram da arca. Noé levantou um altar ao
Senhor como holocausto, e Deus os abençoou (Gn 9: 1) como tinha feito com Adão e
Eva, dando-lhes fertilidade e prosperidade. Em Gn 9: 6, para que houvesse respeito pela
vida e para que cada um visse nos outros a imagem de Deus, o Senhor disse que, se
houvesse morte, essa morte seria também vingada pelo sangue (pena de morte). A
aliança estabelecida com Noé foi que Deus jamais destruiria novamente Sua criação
com outro Dilúvio. O sinal desta aliança seria a presença de um arco-íris no céu.
Através de Cam, Sem e Jafé, filhos de Noé, o Senhor repovoou a terra. De Cam
descenderam os povos do Egito, Etiópia, Norte da África e Canaã. De Sem nasceram os
povos semitas (Gn 10: 24-29; 1 Cr 1: 1-27, os descendentes de Héber: povos israelitas e
não israelitas como os moabitas, os amonitas, os árabes, os acadianos e os arameus:
sírios e assírios que ocuparam grande parte da Mesopotâmia); e de Jafé, os povos indo-
europeus. Noé era lavrador e plantou uma vinha. Ao beber o vinho embriagou-se e se
pôs nu dentro de sua tenda. Cam, vendo a nudez do pai, falou com os irmãos que,
andando de costas, cobriram-no com um manto para nada verem. Quando se viu
novamente sóbrio, Noé amaldiçoou Cam para que fosse servo dos seus irmãos. Assim,
feita a aliança com o homem, Deus espalhou os povos sobre a terra.
33
Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e
Canaã lhe seja servo” (Gn 9: 24-27). Agiu como profeta, como instrumento de Deus
para fazer justiça, liberando a bênção sobre Sem e Jafé e a maldição sobre Cam,
colocando a vontade e a justiça divina acima das ligações carnais. Não deixou que
nada o trouxesse de volta ao passado nem competisse mais com o senhorio do
Senhor na sua vida. Viu, talvez, depravação moral em Cam e amaldiçoou o pecado
em nome de Deus. Não permitiu que se repetisse a história anterior de pecado dentro
de sua própria casa e na nova terra que Ele lhe tinha dado. Assim, quando
conquistamos a bênção, não devemos mais viver dos erros do passado, mas das
novidades de Deus, e zelar pelo que Ele nos confiou.
8) Noé pôde experimentar a proteção de Deus pela sua fidelidade mesmo no período
da tribulação: “Durou o dilúvio quarenta dias sobre a terra; cresceram as águas e
levantaram a arca de sobre a terra” (Gn 7: 17). O número quarenta na bíblia se refere
a uma geração ou a um período de aprendizado. Noé, assim como todos nossos
irmãos do passado, foi provado e venceu a prova, sobreviveu ao Dilúvio. Mesmo
com as águas destruidoras ao seu redor, foi protegido por Deus e superou as
dificuldades, como um prêmio pela sua integridade e fidelidade. Nesse período que
ficou dentro da arca, com certeza, teve tempo de meditar e ouvir Sua voz; teve
tempo para ser preparado para uma nova maneira de viver; teve tempo até de
conhecer melhor sua família e instruí-la nos caminhos do Senhor; teve tempo para
aprender. Da mesma forma acontece conosco: somos protegidos quando somos fiéis
a Deus e temos tempo de aprender com Ele, mesmo nos períodos de tribulação da
nossa vida, nos lembrando sempre que Ele é que está no comando do ‘nosso barco’.
9) Deus responde às nossas orações e ao nosso louvor (holocaustos) quando o
colocamos em primeiro lugar na nossa vida: “Levantou Noé um altar ao Senhor e,
tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar. E o
Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a
terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua
mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz. Enquanto durar a terra, não
deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8:
20-22). Em Gn 9: 1 está escrito: “Abençoou Deus a Noé e aos seus filhos e lhes
disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra”. A mesma bênção que tinha
sido dada a Adão antes do pecado estava sendo reafirmada sobre a humanidade,
agora, na pessoa de Noé. Quando o Senhor passa a ser verdadeiramente o nosso
centro podemos experimentar Sua recompensa e Sua bênção.
De Sem: Elão, Assur, Arfaxade, Lude, Arã, Uz, Hul, Geter, Meseque, Selá (Salá),
Héber, Pelegue, Joctã, Almodá, Salefe, Hazar-Mavé, Jerá, Hadorão, Uzal, Dicla, Ebal,
Abimael, Sabá, Ofir (Ufaz), Havilá, Jobabe.
De Cam: Cuxe, Mizraim, Pute, Canaã, Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá, Sabtecá,
Ninrode, Sabá, Dedã, Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim, Patrusim, Casluim e Caftorim
(de quem descendem os filisteus), Sidom, Hete, jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus,
arqueus, sineus, arvadeus, zemareus, hamateus.
De Jafé: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque, Tiras, Asquenaz, Rifate,
Togarma, Elisá, Társis, Quitim, Rodanim.
35
Abraão – 4ª aula
Resumo:
Sem, filho de Noé, gerou descendentes, entre eles o avô de Abrão, Naor, que gerou a
Terá. Este gerou três filhos: Abrão, Naor e Harã. Harã gerou a Ló e morreu na terra do
seu nascimento, em Ur dos caldeus. Abrão casou-se com Sarai, sua meia-irmã por parte
de pai (Gn 20: 12), e Naor com Milca, que era filha de Harã. Sarai era estéril. Ur era
terra pagã, assim como eram os antepassados de Abrão que aí viveram. Terá saiu de Ur
dos caldeus levando consigo a Abrão, Sarai e Ló para a terra de Canaã. Pararam em
Harã onde ficaram até a morte de Terá com 205 anos (Gn 11: 31-32). Embora a bíblia
fale em Gn 11: 31-32 que Terá, pai de Abrão saiu de Ur dos caldeus levando apenas
Abrão, Sarai e Ló, em Gn 22: 20-23, Gn 24: 10 e Gn 25: 20, ela também diz que Naor
mandou de Padã-Arã, na Mesopotâmia, a notícia da sua descendência a Abraão e foi
para lá que este mandou seu servo para buscar esposa para Isaque, seu filho, na cidade
de Naor, na Mesopotâmia – ver mapa no final do capítulo. Isso nos faz pensar que não
só Abrão veio junto com Terá de Ur dos Caldeus para Harã, mas toda a família; só ele,
Abrão, partiu depois para Canaã, com Sarai e Ló, após o chamado do Senhor.
Em Gn 12: 1-4 está escrito: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande
nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que
te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra. Partiu, pois, Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele.
Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã”.
Quando Deus pediu a Abrão que saísse da sua terra, Ele queria dizer: deixar as
raízes familiares, se alimentar Dele, ter a genealogia ligada à natureza de Deus, não de
homens. Quando disse para deixar a parentela, Ele se referia mesmo aos parentes, ou
seja, deixar seus problemas para Deus resolver. A casa de teu pai significa: deixar os
pensamentos familiares e ser igual a Deus. Só aqui já podemos imaginar o grande
desafio que o Senhor estava propondo a Abrão. Naquele tempo, viver em família era
manter laços fortes de dependência e compromisso, prendendo uns aos outros a todo
tipo de herança e costume. A família de Abrão era idólatra, o que nos faz pensar que
além das ligações emocionais doentes, havia a ação de outros deuses alimentando
aquela união pecaminosa. A bíblia não fala como Abrão começou a ter consciência do
Deus verdadeiro nem como começou a ouvir Sua voz. Podemos imaginar que foi pela
ação do próprio Deus que, conhecendo o Seu coração sincero, se agradou dele
desejando fazer com ele uma aliança.
Em Harã, Abrão ouviu a voz de Deus que lhe disse para sair da sua terra, da sua
parentela e da casa de seu pai para ir para uma terra que Ele lhe mostraria. O objetivo de
37
Deus era fazer de Abrão uma grande nação e através dele abençoar todas as famílias da
terra. Assim, ele deixou Harã com setenta e cinco anos de idade e partiu para Canaã
levando Sarai e Ló e os que estavam com ele (Gn 12: 1-4). Ao chegar a Siquém, ao
carvalho de Moré, edificou um altar ao Senhor, onde habitavam os cananeus e Ele lhe
confirmou a promessa de dar-lhe aquela terra. Dali partiu para o sul, para Betel (aí
também edificou um altar ao Senhor: Gn 12: 8) e para o Neguebe. Porque havia fome na
terra partiu para o Egito, mas com medo de ser morto pelos egípcios ordenou a Sarai
que lhes dissesse que era sua irmã, não sua esposa. Ela foi levada para a casa de Faraó.
Abrão prosperou ali, aumentando o número de pessoas e o gado que estavam com ele.
Mas por causa de Sarai, Deus feriu a Faraó com pragas e ele os expulsou do Egito.
Abrão novamente subiu para o Neguebe chegando a Betel. Ele e Ló eram muito ricos e,
para evitar contendas entre eles por causa de pastagem, se separaram. Ló escolheu as
campinas do Jordão, a leste, por serem favoráveis ao gado, e habitou próximo a
Sodoma. Abrão ficou a oeste, na terra de Canaã, e ali Deus confirmou pela segunda vez
sua promessa de lhe dar aquela terra, assim como à sua descendência. O que Abrão
conseguisse percorrer, o Senhor lhe daria (Gn 13: 14-18). Abrão saiu e foi habitar nos
carvalhais de Manre, ao Sul, junto a Hebrom.
Naquele tempo, quatro reis da região estavam em guerra contra cinco. O vale onde
estavam tinha poços de betume. Alguns fugiram e alguns caíram neles. Os que
chegaram a Sodoma e Gomorra levaram todos os bens, inclusive Ló. Abrão saiu com
seus homens e os derrotou, trazendo Ló de volta, todos os seus bens, o seu povo e as
suas mulheres. Quando voltou vitorioso, o rei de Sodoma veio lhe prestar homenagem
pela vitória sobre seus adversários comuns. Melquisedeque (rei cananeu e sacerdote de
Salém) também se encontrou com ele e o abençoou. Abrão, como gratidão a Deus, deu
o dízimo de tudo a Melquisedeque. Depois de tudo isso, Deus falou novamente com Seu
ungido, fortalecendo-lhe a fé Nele de que teria um descendente. Foi aí que o conduziu
para fora da tenda e o fez olhar para o céu. Assim como as estrelas, seria o número de
seus descendentes. Ele creu no Senhor e isso lhe foi atribuído para justiça, diz a bíblia
(Gn 15: 5-6). Ele arriscou a vida, a segurança, a reputação, o futuro e até mesmo o filho
com base na palavra de alguém a quem não podia ver, mas em quem cria.
Abrão (Gn 15: 8) estava pedindo ao Senhor um sinal de Sua promessa de que ele
possuiria aquela terra (cf. Gn 13: 14-15), para o fortalecimento de sua fé (Gn 15: 6) e a
fé da sua posteridade. O texto (Gn 15: 8-21) descreve a maneira antiga de se selar os
pactos. Cortava-se o animal ao meio e se passava por entre as duas partes para dizer que
o pacto estava feito; em outras palavras, os homens declaravam seu solene propósito de
manter o acordo (cf. Jr 34: 18). Nesse caso, podemos notar no v. 17, que apenas uma
tocha de fogo, símbolo da glória de Deus, um único representante do acordo, passou
entre as metades dos animais e, neste caso, isso simbolizava que a aliança só seria
mantida da parte de Deus, pois só Ele poderia cumprir a promessa que havia dado a
Abrão: “Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua
descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates” (Gn 15: 18).
Ainda no v. 17, o fogareiro esfumaçante (NVI) ou fogareiro fumegante (ARA) pode ter
sido uma visão profética dada a Abrão em relação à sua descendência no Egito, como
escravos de faraó, queimando os tijolos nas fornalhas (Êx 9: 8), com seus olhos
escurecidos pela fumaça, e passando por grandes dificuldades e aflições, pois o Egito
foi chamado na bíblia de ‘fornalha de ferro’ (Dt 4: 20). Talvez, a tocha acesa que passou
entre as partes prefigurasse a coluna de nuvem e fogo que os levou para fora do Egito.
Como Sarai era estéril, ela mesma ofereceu sua serva Agar a Abrão para que
pudessem ter filhos. Abrão já tinha oitenta e cinco anos. Dez anos já tinham se passado
desde que Deus falara pela primeira vez com ele sobre sua descendência. Agar
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engravidou e Sarai a expulsou por tê-la humilhado por ser estéril. Quando estava no
deserto, o Anjo do Senhor lhe apareceu e abençoou o filho que estava no seu ventre,
dando-lhe o nome de Ismael, que significa: Deus ouve, Deus ajuda, pois Deus a ouvira
na sua aflição. Abençoou também a descendência de Ismael como tinha prometido à de
Abrão. Ismael nasceu quando Abrão tinha oitenta e seis anos. Foi o pai da nação árabe.
Treze anos depois, com noventa e nove anos de idade, Abrão ouviu novamente a voz de
Deus (Gn 17: 1-8). Ele lhe mudou o nome de Abrão (’abhrãm, pai exaltado) para
Abraão (’abhrãhãm, pai de multidões, pai de muitos) e confirmou Seu pacto com ele e
com sua descendência. Deus instituiu a circuncisão como um sinal dessa aliança (a 2ª
feita com o gênero humano) entre Abraão, seus descendentes e Deus. Também mudou o
nome de Sarai (briguenta, minha princesa) para Sara (princesa) e lhe prometeu um
filho que se chamaria Isaque (yiçhãq, riso), pois Abraão se riu do fato de ter filhos com
cem anos de idade. Abraão com noventa e nove anos e Ismael com treze e todos os
homens escravos da sua casa foram circuncidados naquele dia.
Assim, a promessa feita a Abraão (a bênção de Abraão) se compõe de três
elementos principais: descendência (nele seriam benditas todas as nações da terra,
inclusive os gentios), terra (prosperidade, posse da terra de Canaã) e relacionamento
com Deus (intimidade e amizade com o Senhor, pois Deus chamou Abraão de “meu
amigo” – Tg 2: 23; Is 41: 8; 2 Cr 20: 7). Jesus veio e cumpriu a promessa, dando a nós,
os gentios, a mesma bênção dada aos judeus através de Abraão (Gl 3: 14). A intimidade
com Deus, a prosperidade e a fertilidade são bênçãos derramadas pelo Espírito Santo
através do dom da fé que foi desenvolvido por Abraão.
Para confirmar mais uma vez sua promessa, Deus (“O Anjo do SENHOR”) apareceu
novamente a Abraão nos carvalhais de Manre em forma humana, junto com dois anjos,
falando que dali a um ano Sara daria à luz um filho (Gn 18: 1-33, onde ‘SENHOR’ – Gn
18: 1; 13 – aparece escrito com letra maiúscula). Sara também riu quando ouviu a
notícia.
Abraão os acompanhou até o caminho para Sodoma. O Anjo do SENHOR lhe falou
que Sodoma e Gomorra seriam destruídas pelo seu pecado. Abraão, então, intercedeu
por Ló e por sua família que ali moravam. Os dois anjos visitaram Ló à noite e o
avisaram sobre a destruição que viria, orientando-o a sair da cidade com sua família.
Saiu Ló com sua esposa e suas duas filhas, sendo advertidos a não olhar para trás. Mas a
mulher de Ló desobedeceu e foi transformada numa estátua de sal. As duas cidades
foram completamente destruídas. As duas filhas de Ló, para gerarem descendência,
cometeram incesto com o pai já velho e geraram dois filhos: Moabe (pai dos Moabitas),
filho da primogênita, e Ben-Ami, da mais nova, pai dos Amonitas.
Abraão partiu dali de volta para o Neguebe, para Gerar, e mentiu ao rei da região,
Abimeleque, que Sara era sua irmã. À noite, Deus avisou o rei através de um sonho que
ela era mulher de Abraão. O rei os expulsou da sua presença, mas lhe deu o direito de
escolher qualquer lugar de sua terra para morar. Abraão orou por Abimeleque e Deus o
sarou e às suas mulheres para que pudessem ter filhos, pois as tinha tornado estéreis por
causa de Sara.
Nasceu Isaque. No dia em que foi desmamado, Sara notou que Ismael caçoava do
menino e pediu a Abraão que despedisse Agar e o filho e os rejeitasse. Eles se foram
pelo deserto e quase desfaleceram de sede até que Deus os fez ver um poço de água.
Mataram a sede e o rapaz habitou no deserto, se tornou flecheiro e se casou com uma
egípcia. E Deus o abençoou como havia prometido, dando-lhe doze filhos, que se
tornaram príncipes das nações árabes.
Algum tempo depois, Deus colocou Abraão à prova pedindo a ele que lhe oferecesse
Isaque como holocausto no Monte Moriá (= Visto por Deus ou Escolhido por Deus).
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Abraão levou Isaque até o lugar do sacrifício e, quando ia matar o filho, Deus o chamou
e o impediu, pois viu que a fé de Abraão Nele era real e firme. Ele viu um carneiro atrás
dos arbustos e o imolou ao Senhor. Deu ao Monte Moriá o nome de ‘O Senhor Proverá’
(Gn 22: 14). Vendo a ação de Abraão, Deus o abençoou, assim como toda a sua
descendência para sempre, confirmando Sua fidelidade.
Sara morreu com cento e vinte e sete anos e foi enterrada na Caverna de Macpela em
Hebrom, na terra de Canaã. Abraão desposou a Quetura, que lhe deu mais seis filhos
(Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Sua – 1 Cr 1: 32-34). Morreu Abraão com cento e
setenta e cinco anos sendo enterrado na mesma caverna em que o foi Sara.
1) Fé: Abraão se tornou conhecido como o pai da fé, pois todas as provas pelas quais o
Senhor o fez passar foram para provar sua fé Nele e no impossível de Deus. Abraão
creu contra as evidências, creu naquilo que para o homem era impossível; da
insegurança alcançou a plena confiança em Deus. Podemos ver que em todas as
circunstâncias sua fé foi ativa: saiu da sua terra e foi para a terra que o Senhor lhe
mostrava, creu na promessa da descendência e por vinte e cinco anos foi preparado
por Ele para receber a bênção, mesmo tentando apressar Seu trabalhar, gerando
Ismael. Ele peregrinou por toda aquela terra como o Senhor lhe tinha ordenado, na
esperança de que seria realmente sua e da sua descendência. Chegou ao ponto de
quase sacrificar o filho, pois cria que Deus seria capaz de ressuscitá-lo, se fosse o
caso. O fato de ter saído da tenda e olhado para o céu, crendo na promessa que o
Senhor lhe fazia, era um ato simbólico de sair de dentro de si mesmo e de sua vida e
de sua visão pequena e humana para crer no grande de Deus para ele. Saiu da tenda
da insegurança, da visão humana, para ter a visão divina. Por isso, seu exemplo de
fé fica como uma herança para nós até hoje para que possamos crer nas promessas
do Senhor para nós, por mais impossíveis que possam parecer, e nos faz agir de
acordo com o que Ele coloca no nosso coração, entendendo que, em todo o
processo, estamos sendo preparados para receber Sua bênção.
2) Fidelidade e gratidão a Deus: Abraão deu a Deus o dízimo quando Ele lhe deu a
vitória sobre os reis inimigos. Deu-o nas mãos do sacerdote Melquisedeque, e a
bíblia fala que esse ato foi espontâneo da parte de Abraão. Esse ato e muitos outros
de fé e gratidão, erguendo altares ao Senhor quando conquistava uma vitória, o
aproximaram cada vez mais do Altíssimo, por isso se tornou próspero, pois
descobriu o segredo da prosperidade falando com Ele. Para nós, isso significa que,
quando somos fiéis ao Senhor e gratos a Ele pelo que Ele nos dá, melhoramos nosso
relacionamento com Ele e passamos a conhecer mais profundamente o Seu coração.
Conhecendo Seu coração e Seus pensamentos, podemos profetizar Suas bênçãos em
nossas vidas, gerando prosperidade em todas as áreas. Melquisedeque é a figura de
Jesus e não só o nosso dízimo, mas nosso coração reverente e grato diante Dele,
trazem as bênçãos desejadas por nós, além da Sua proteção sobre o que é nosso, pois
Ele assume a responsabilidade pelos Seus filhos.
3) Desprendimento, entrega, submissão, logicamente ligadas à fé: Abraão abriu mão
da carne para viver no espírito, ou seja, deixou que a vontade de Deus prevalecesse
sobre a sua. Descobriu que nada podia ocupar o lugar Dele em seu coração. Por isso,
despediu Agar e Ismael para o deserto [despediu seu sonho (Ismael) para o de Deus
ocorrer: Isaque] e entregou aquele que tinha nascido de sua própria carne (Isaque)
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para que muitos pudessem ser abençoados com esse ato, pois sua atitude propiciou
mais tarde a entrega do Filho de Deus para toda a humanidade. Quase todos, senão
todos nós, já passamos por isso. Entregamos nossa vida a Jesus e, de repente,
perdemos algo que significava segurança para nós. Não precisamos nos desesperar;
é um tratamento de Deus para nos ensinar que não conseguiremos manter certas
posses ou posições se continuarmos na carne ou se elas forem nossos deuses. Só as
receberemos de volta, quando entendermos que Jesus é o centro e que tudo está
debaixo do domínio do Seu Espírito. Não é punição do Senhor; é cuidado e proteção
de um Pai amoroso que quer nos dar algo sólido, que não perderemos nunca mais. É
presente de um Deus que quer nos ensinar a reinar aqui na terra para podermos
reinar no céu. Quando estamos plantados em Jesus, o superficial pode sair da nossa
vida, mas a essência do Seu Espírito permanece em nós.
4) Deus é um Deus de alianças: a cada prova vencida, era reafirmada Sua aliança na
vida Abraão. Abraão não teve que fazer nada para merecer as bênçãos, pois o amor
de Deus é incondicional, mas sua resposta positiva aos Seus desafios o tornou cada
vez mais Seu amigo íntimo e mais consciente do caráter divino. O Senhor renovava
as alianças com Abraão após cada vitória sua sobre as circunstâncias e sobre sua
própria carne. Deus renova periodicamente a nossa esperança, a nossa fé e a nossa
confiança Nele e na Sua promessa para nós.
5) Abraão foi um intercessor: primeiro, pela vida de Ló e pelos habitantes justos de
Sodoma e Gomorra; depois, pelo seu inimigo, Abimeleque, que teve sua casa punida
por Deus por causa de Sara. Assim, nos ensina Jesus a interceder e orar pelos nossos
amigos e até pelos nossos inimigos.
6) Não há idade para ser feliz: é sempre tempo de receber a bênção de Deus. Abraão
tinha cem anos quando recebeu a bênção de ser pai. Por mais que nossas bênçãos
pareçam demorar, sempre é tempo para usufruí-las. Não é nossa idade cronológica
que conta, mas nosso preparo interior para não as perdermos nunca mais.
7) Não querer apressar o tempo de Deus, criando bênçãos por nossos próprios meios:
Deus não faz aliança com nossos projetos, mas com os Seus para nós. Sua bênção é
plena e completa. A bênção de Deus na vida de Abraão era sobre Isaque, não sobre
Ismael. Por isso, o Senhor só a aprovou verdadeiramente quando nasceu Isaque.
8) Os rejeitados dos homens são cuidados e amparados por Deus: foi o caso de Agar e
Ismael que, embora tendo sido expulsos do acampamento, não foram desamparados
por Deus, mas cuidados e protegidos, com direito também a uma bênção para si e
para sua descendência. Por mais que sejamos rejeitados por homens, somos amados,
amparados e protegidos por Deus, que nos envia Seu socorro na hora certa e nos
garante a bênção e o sustento.
9) A provisão e o livramento de Deus estão sempre presentes quando estamos no centro
da Sua vontade: no monte Moriá Deus providenciou o cordeiro para o sacrifício e o
livramento para Isaque, pois ele e Abraão estavam no centro da Sua vontade. Eles
tinham obedecido às ordens do Senhor, por isso Ele foi fiel e cumpriu Sua parte no
acordo. Se Abraão tivesse desobedecido ou se não tivesse ido até lá com fé
verdadeira no coração, poderia ter acontecido o contrário. Quando estamos em
obediência ao Senhor e no centro de Sua vontade, mesmo que para os homens
pareça absurdo, Ele cumpre Sua promessa, nos supre e nos livra do mal.
10) Estar disponível nas mãos de Deus: Abraão não se fixou em nenhum lugar em
especial, mas foi aonde Deus o levou para ter um aprendizado e um crescimento; ele
não empacou, não estagnou. Isso significa não termos apegos nem falsas seguranças,
mas fluir no Espírito conhecendo nossa terra prometida e tomando posse dela.
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AS JORNADAS DE ABRAÃO
Isaque – 5ª aula
Resumo:
Em Gn 17: 19 Deus diz a Abraão que Sara dará à luz um filho e lhe porá o nome de
Isaque (hebr. Yiçhãq, riso). Podemos ver aqui que foi Deus que lhe deu o nome: “Deus
lhe respondeu: De fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque;
estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência”.
Isaque nasceu e foi circuncidado no oitavo dia como sinal da aliança com o Senhor (Gn
21: 1-7).
Isaque também foi posto à prova quando Deus disse a Abraão que Lhe oferecesse
seu único filho como holocausto. Em Gn 22: 12 pela palavra usada pelo Senhor (“Não
estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças, pois sei que temes a Deus, porquanto não
me negaste o filho, o teu único filho”), podemos imaginar que Isaque não era mais uma
criança indefesa, poderia se defender se quisesse, mas a bíblia não disse que ele reagiu.
De acordo com a tradição judaica, Isaque tinha aproximadamente trinta e sete anos de
idade quando Abraão o levou a Moriá e foi um sacrifício voluntário que se pôs no altar.
Mas por causa desse ato, Deus pôde mais tarde dar Jesus para morrer pela humanidade.
Em Gn 22: 19 está escrito: “Então, voltou Abraão aos seus servos, e, juntos, foram para
Berseba, onde fixou residência”. Não está escrito que Isaque veio junto. Talvez tenha
ficado mais um tempo naquele lugar, no altar, sozinho, na presença de Deus.
Abraão enviou Eliézer, seu servo, à sua parentela em Padã-Arã (Gn 24: 1-4; Gn 25:
20) para tomar esposa para seu filho Isaque. O servo lá chegou e encontrou Rebeca,
filha de Betuel, filho de Milca e Naor, irmão de Abraão. Ela o levou à sua casa e o
apresentou à sua família. Rebeca tinha um irmão chamado Labão que se sentiu
interessado na história de Eliézer, pois viu as jóias que este tinha dado a ela. Passaram
ali a noite, ele e toda a sua comitiva, e pela manhã resolveram partir. Rebeca quis ir com
ele e foi abençoada pela família com a bênção semelhante à que Deus tinha dado a
Abraão: “Abençoaram a Rebeca e lhe disseram: és nossa irmã; sê tu a mãe de milhares
de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos” (Gn 24: 60).
Partiu Rebeca com suas moças e sua ama para o Neguebe para se encontrar com Isaque.
Ele a tomou por esposa. Isaque tinha, segundo a bíblia, quarenta anos (Gn 25: 20)
quando se casou com Rebeca. Abraão morreu com cento e setenta e cinco anos e foi
enterrado por Isaque e Ismael junto com Sara (Gn 25: 7-10).
Rebeca também era estéril (Gn 25: 21) e Isaque intercedeu por ela junto ao Senhor.
Deus ouviu sua oração e Rebeca engravidou. No seu ventre foram gerados gêmeos. Os
dois lutavam e naquela ocasião Deus já lhe disse que o mais velho serviria ao mais
moço, ao contrário do que devia se esperar. O primeiro nasceu ruivo e coberto de pêlos,
por isso, o chamaram Esaú, que quer dizer: peludo, cabeludo. Depois nasceu o irmão e
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segurava com a mão o calcanhar de Esaú; por isso, o chamaram Jacó (o suplantador, o
enganador, o que segura pelo calcanhar). Isaque tinha sessenta anos quando nasceram
seus filhos (Gn 25: 26). Os meninos cresceram. Isaque amava Esaú, e Rebeca, Jacó.
Como veio fome à terra, Isaque foi a Gerar para falar com Abimeleque, o filisteu. O
Senhor lhe disse que permanecesse ali e não descesse ao Egito e confirmou sobre Isaque
a mesma bênção da descendência dada para Abraão (Gn 26: 2-6). Então, Isaque ficou
em Gerar. Ali, aconteceu caso semelhante com o que tinha acontecido com Abraão e
Sara: Isaque disse aos homens da terra que Rebeca era sua irmã, com medo de ser morto
pelos filisteus, mas Abimeleque descobriu a farsa e, com temor do juízo de Deus,
proibiu qualquer um de tocar em Rebeca.
Isaque ficou ali, semeou e prosperou porque o Senhor o ajudava. Ficou riquíssimo.
Os filisteus o invejaram e entulharam todos os poços que os servos de Abraão tinham
cavado naquela região; eles os encheram de terra. Isaque saiu e se acampou no vale,
reabrindo os poços que se cavaram nos dias de seu pai e que os filisteus tinham
entulhado. Deu-lhes os mesmos nomes. Seus servos acharam um poço de água nascente
e os pastores de Gerar contenderam com eles pelo poço de Eseque (= opressão,
contenda). Cavaram os servos de Isaque outro poço e também houve contenda por causa
dele (poço de Sitna = luta, cansaço, inimizade). Cavaram um terceiro poço e aí não
houve contenda, por isso, o chamou Reobote (= espaço, lugar extenso). O Senhor o
prosperou na terra.
Dali subiu para Berseba e, na mesma noite, o Senhor lhe apareceu confirmando mais
uma vez Sua bênção sobre sua vida (Gn 26: 24). Então, levantou um altar a Ele e seus
servos abriram um poço. Ali armou sua tenda. Fez também aliança com Abimeleque e o
nome do poço, o mesmo que tinha sido aliança entre Abraão e Abimeleque, foi Berseba
(poço dos sete ou poço do juramento). Isaque estava trilhando os mesmos passos de
Abraão, aprendendo a confiar em Deus através das provações da vida.
Esaú, com quarenta anos, tomou duas esposas hetéias (Judite e Besamate), que
foram amargura de espírito para Isaque e Rebeca (Gn 26: 34-35). Mais tarde, tomou por
esposa a Maalate (filha de Ismael e neta de Abraão – Gn 28: 8-9). Tomou também
mulheres entre as filhas de Canaã (Ada – hetéia e Oolibama – hevéia). Na região de
Edom, a sudeste do Mar Morto, em Seir (terra montanhosa na região de Edom), Esaú se
fixou e estabeleceu descendência. Como tinha aberto mão do seu direito de
primogenitura para Jacó por um cozido de lentilhas (Gn 25: 27-34), agia como um
ímpio, não dando valor à promessa de Deus feita a Abraão.
Isaque já velho e enfraquecido quis abençoar os filhos. Seus olhos não enxergavam
mais com nitidez. Pediu a Esaú que lhe fizesse uma comida saborosa de caça. Mas para
se cumprir a palavra profética que Deus tinha dado a Rebeca, quando ainda os filhos
estavam no seu ventre, de que o mais moço é que herdaria a bênção dada a Abraão,
Jacó, usando de fraude (falaremos mais tarde quando estudarmos sobre ele), chegou
primeiro e Isaque o abençoou como primogênito. Isaque morreu com cento e oitenta
anos (Gn 35: 28) em Hebrom, onde peregrinou seu pai.
1) Foi o filho da promessa, do milagre de Deus, por isso seu nome foi dado pelo
próprio Deus e não foi mudado como o de Abrão e Jacó. Seu nome significa riso e
ele viu a mão do Senhor sobre sua vida em bênção e proteção, poupando-o do
sacrifício e cumprindo nele a promessa dada para sua descendência. Como ele tinha
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sido motivo de riso na vida de Abraão e Sara a ação divina em sua vida também foi
para ele motivo de riso, apesar das provações que passou. Assim também é conosco:
nós podemos mostrar o riso sincero e verdadeiro de quem crê na palavra de Deus,
mesmo que ainda não vejamos a promessa cumprida. Mantermo-nos na presença do
Senhor como ele ficou nos garante livramento.
2) Ficou na presença de Deus apesar dos momentos difíceis e confiou, ou seja, ficou
na total e completa dependência de Deus. Podemos ver isso quando esteve em
Moriá, quando dependeu do Senhor para escolher sua esposa e quando esteve na
terra dos filisteus (Gn 26: 2-6) e no caso dos poços disputados com Abimeleque.
3) O que Deus nos dá nós não perdemos mais: Isaque reabriu os poços cavados pelo
pai e entulhados pelo inimigo, mas para não haver contendas maiores e até morte,
abriu outro, quando o Senhor lhe deu, e não o perdeu mais (Reobote = lugares
amplos). Aqui temos dois ensinamentos interessantes sobre os poços. Um
ensinamento positivo é que seguiu os passos do pai como uma maneira de reafirmar
sua fé como descendente da promessa e tentou reabrir os poços que Abraão havia
aberto, mas os inimigos entulharam, pois assim poderia recolocar a marca da família
ali naquela terra. Entretanto, Deus não permitiu que os poços fossem recuperados
por Isaque, pelo contrário, deixou que as contendas o afastassem deles até que ele
descobrisse outra lição importante: recursos antigos não matam a sede, e sim os
novos dados pelo Senhor. Ele não queria que Isaque andasse na visão dos
antepassados (carne), nem nas vitórias e experiências de outros, mas nas suas
próprias experiências e conquistas, buscando novas revelações divinas para sua vida.
Não era preciso contender pelo que não tinha mais vida, pelo velho, pelo que já
passou, pois o Altíssimo tinha lugares mais amplos (Reobote) para ele habitar e
águas mais frescas para matar sua sede.
4) Assim como Abraão, Isaque também foi um intercessor. Abraão intercedeu por Ló
no caso de Sodoma e Gomorra; Isaque o fez por Rebeca que era estéril e Deus o
ouviu. A oração transforma maldição em bênção, morte em vida, esterilidade em
prosperidade.
5) Apesar dos nossos aparentes erros e fracassos, prevalece a vontade de Deus.
Apesar de o primogênito ser Esaú, com direito à bênção dobrada do pai, e apesar de
parecer que Isaque foi enganado, o plano de Deus estava se cumprindo, pois o
escolhido por Ele tinha sido Jacó para herdar a bênção da primogenitura.
Posteriormente (Gn 28: 4), Isaque aceitou o fato de que seu filho mais moço era
quem o Senhor usaria para o cumprimento da promessa dada a Abraão. Por isso o
abençoou, tornando-o herdeiro do mais importante bem da família: a amizade com
Deus.
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Jacó – 6ª aula
Resumo:
Rebeca era estéril e Isaque intercedeu por ela junto ao Senhor. Ela engravidou e os
dois filhos lutavam no seu ventre: Esaú e Jacó. Foi quando Deus lhe falou que dela
nasceriam duas nações e o filho mais velho serviria ao mais novo. Ao nascer, o
primogênito era ruivo e peludo, por isso o nome Esaú (= peludo, cabeludo). Jacó nasceu
em seguida, segurando o irmão pelo calcanhar, por isso seu nome (Ya’aqõbh = ele
agarrava, suplantador, enganador, o que segura pelo calcanhar).
“Os meninos cresceram e Esaú se transformou em perito caçador e homem do
campo; Jacó, porém, homem pacato (hebr., ‘cuidava do rebanho’), habitou em tendas.
Isaque amava Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava Jacó” (Gn
25: 27-28). Jacó fez um cozido de lentilhas e Esaú veio faminto do campo; pediu, então,
a Jacó que o deixasse comer do cozido vermelho. Jacó, entretanto, se valendo da
fraqueza do irmão, pediu a ele que lhe vendesse o direito de primogenitura. Esaú, com
muita fome e pensando nas suas necessidades imediatas, vendeu seu direito de
primogenitura ao irmão e jurou. Desprezar essa bênção era desprezar o direito de ter a
bênção dobrada do pai, além da liderança da família e da descendência. Quando Isaque
envelheceu e não enxergava mais como antes, chamou Esaú, pediu que saísse ao campo,
apanhasse alguma caça e lhe fizesse uma comida saborosa; assim, o abençoaria como
primogênito antes de morrer. Enquanto Esaú foi caçar, Rebeca disse a Jacó o que tinha
escutado e, por meio de uma fraude, planejou enganar Isaque para que Jacó ficasse com
a bênção da primogenitura. Rebeca cozinhou dois cabritos para Isaque. Com a pele dos
animais cobriu as mãos e o pescoço de Jacó. Pegou a roupa de Esaú e colocou-a no filho
mais novo. Este se foi ao pai levando a comida e os pães preparados por Rebeca. Ao
tocá-lo, Isaque percebeu que o pescoço e as mãos eram peludos como os de Esaú, assim
como o cheiro de sua roupa era de seu filho mais velho, embora o tom da voz fosse de
Jacó. Então, o abençoou: “Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que
o Senhor abençoou; Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de
trigo e de mosto. Sirvam-te os povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos,
e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o
que te abençoar” (Gn 27: 27-29). A bênção da descendência era semelhante à que Deus
tinha feito a Abraão, assim como Sua promessa de proteção. Quando Esaú voltou e
descobriu a fraude, se entristeceu. Passou a odiar o irmão e planejou matá-lo. Rebeca,
para proteger Jacó, lhe contou das intenções do irmão e o aconselhou a deixar sua casa e
partir para a terra de seu tio Labão (irmão de Rebeca) em Harã. Nem Isaque, nem
Rebeca queriam que Jacó se casasse com mulher cananéia como Esaú tinha feito. Isaque
quis que Jacó tomasse por esposa alguém da casa de Rebeca. Assim, abençoou mais
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(Jacó) e os sem mancha, de Labão. Assim, com o rebanho ele poderia sustentar sua
família.
Labão, porém, separou os bodes listrados e malhados e todas as cabras salpicadas e
malhadas naquele mesmo dia e os cordeiros negros e os entregou aos seus filhos para
que os colocasse à distância de três dias de jornada de Jacó. Sem os machos listrados do
rebanho, as possibilidades de Jacó eram mínimas. Por isso, Deus lhe deu uma estratégia.
Removeu a casca de varas verdes de álamo, aveleira e plátano e as colocou em frente ao
rebanho. Quando as ovelhas concebiam diante das varas, davam crias listadas,
salpicadas e malhadas. Ele colocava as varas quando o rebanho forte ia conceber.
Quando era o fraco, não as colocava. Assim, as fracas eram de Labão e as fortes, de
Jacó. Pelo rebanho, Jacó trabalhou para Labão mais seis anos. Enriqueceu e teve
também servos, camelos e jumentos.
Assim, Jacó ouviu de Deus que era tempo de retornar à sua terra, pois o Senhor seria
com ele. Por dez vezes Labão mudara o salário de Jacó naqueles anos, mas nenhum mal
lhe acontecera porque a mão do Senhor estivera com ele e Deus tinha visto tudo o que
Labão lhe fizera. Por quatorze anos serviu Jacó por causa das filhas de Labão e seis
anos por causa do seu rebanho. Jacó saiu com todos os seus pertences, gado, filhos e
mulheres. Mas Raquel furtou os ídolos do lar que eram de Labão. Jacó fugiu sem que
Labão soubesse. Quando este soube de tudo, o perseguiu e o alcançou no 7º dia e lhe
pediu conta de seus deuses roubados. Jacó jurou que aquele com quem Labão achasse
seus ídolos morreria, pois não sabia que estavam com Raquel. Labão procurou,
entretanto, não os encontrou. Mesmo assim, quis ficar com as filhas, com os netos e
com o rebanho. Jacó discutiu com ele e fizeram uma aliança, colocando Deus entre os
dois para julgá-los e prometeu que não faria mal nenhum às suas filhas e aos seus netos,
nem tomaria outras esposas para si. Assim, Jacó partiu.
Quando estava chegando à terra prometida Deus lhe enviou anjos que saíram a
encontrá-lo e não só lhe asseguravam proteção, mas confirmavam a promessa divina
para ele e para Seu povo escolhido. Àquele lugar se chamou Maanaim (Mahanayin,
hebr.), que quer dizer, dois acampamentos ou dois exércitos (por causa dos anjos – Gn
32: 2). Ele precisava se sentir seguro, pois se encontraria com Esaú. Jacó lhe deu um
rico presente do seu rebanho com o intuito de lhe aplacar a ira; ainda tinha medo dele.
Naquela noite ficou no acampamento. Levantando-se de noite, tomou sua família e
transpôs o vau de Jaboque, levando com ele tudo o que lhe pertencia. Quando ficou só,
viu-se à frente com um desconhecido e lutou com ele até pela manhã e o estranho, não
podendo resistir a ele, tocou-lhe na articulação da coxa, deslocando-a. Jacó não o queria
deixar ir sem que o abençoasse. Foi aí que o estranho lhe disse: “... já não te chamarás
Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e
prevaleceste”. Israel significa: o que luta com Deus (como Deus, no original),
vencedor, príncipe de Deus. E o homem o abençoou ali. Segundo alguns estudiosos, o
nome Israel é, muito provavelmente, uma compilação do verbo sara e do substantivo
El, abreviação comum para Elohim (Deus). Tem a mesma raiz do nome Sara que vem
do verbo sarar, e significa: reinar, governar, ser nobre, principesco. Assim, Israel teria o
significado de “Deus luta, Deus persevera, Deus contende, ele será um príncipe com
Deus”. Jacó chamou o lugar de Peniel [que significa: A face de Deus (do hebraico:
Pnuw'el ou Pniylel = Penuel ou Peniel – ;לאינפde: Pney ou Pniy = face – ;םינפe El =
Deus – )אל, encontro com Deus, lugar de confronto com Deus], pois disse: “Vi a Deus
face a face, e a minha vida foi salva”. Conseguiu a bênção que queria, que era
reconciliar-se com Esaú. Quando o irmão o viu o beijou e choraram ambos. Depois se
separaram indo Esaú para Seir e Jacó para Sucote e edificou ali uma casa e fez tendas
para o seu gado (Sucot = tendas); chegou a Siquém, na terra de Canaã e levantou ali um
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altar e lhe chamou Deus, o Deus de Israel; ou Poderoso é o Deus de Israel (El-Elohe
Israel). Comprou aquele campo dos filhos de Hamor, pai de Siquém. Siquém tomou a
Diná, filha de Jacó, à força. Pediu ao pai (Hamor) que a comprasse de Jacó, mesmo
sabendo que a tinha violentado, pois a amava. Os filhos de Jacó se iraram com a
situação e só permitiram que Diná ficasse com ele (Siquém) se fosse circuncidado,
assim como todo o seu povo. Como Siquém a amava, fez como os filhos de Jacó
disseram e passaram a ser um só povo. Entretanto, no terceiro dia após a circuncisão dos
homens, Simeão e Levi tomaram cada um da sua espada e mataram todos os homens da
cidade, inclusive Hamor e Siquém e a saquearam. Jacó repreendeu os filhos, pois ficou
com medo da retaliação por parte dos habitantes da terra (Gn 34: 30). O Senhor disse,
então, a Jacó que fosse a Betel para ali habitar e lhe erigisse novamente um altar. Jacó
purificou seu povo dos deuses estranhos e não foi perseguido por ninguém. Chegou a
Betel e edificou um altar ao Senhor, chamando-o de El-Betel. Deus apareceu novamente
a ele e confirmou a mudança do seu nome para Israel, reafirmando também a bênção de
Abraão e Isaque. Ao partir de Betel, antes de chegar a Efrata (Belém), Raquel deu à luz
seu 2º filho, com muito sofrimento e, antes de morrer, deu-lhe o nome de Benoni (filho
da minha aflição ou filho da minha dificuldade), mas Jacó lhe deu o nome de Benjamim
(filho da minha mão direita ou filho da felicidade). Estava se cumprindo a maldição que
lançara sobre aquele que tivesse roubado os ídolos do lar de Labão, pois sem saber que
fora Raquel quem os furtara, liberou essa sentença de morte.
Jacó voltou a Hebrom para se encontrar com Isaque, que ainda vivia. Morreu Isaque
com cento e oitenta anos e Jacó e Esaú o sepultaram. Em Gn 37: 1 está escrito que Jacó
habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã. Sua história continua
paralela à de José. Faleceu com 147 anos (Gn 47: 28) e foi sepultado em Macpela (Gn
50: 13). Antes, porém, abençoou todos os seus filhos e os filhos de José, mais uma vez
na história da família invertendo a posição deles, colocando o mais novo como
primogênito (Efraim, o mais novo, ocupou o lugar de Manassés, o mais velho).
1) Visão de Deus para os homens: Deus escolheu Jacó ao invés de Esaú antes do seu
nascimento, portanto, Jacó não fez por merecer suas bênçãos, pois o Senhor já o
havia designado para patriarca do Seu povo escolhido. Agindo ou não do jeito que
agiu, ele herdaria a bênção da primogenitura, pois já fora determinado.
2) Visão humana: Jacó não conhecia a maneira de Deus de fazer justiça e fazer
prevalecer Sua vontade na vida dos Seus escolhidos, portanto, agiu na terra
seguindo os impulsos do seu coração, tendo por base as dificuldades e as barreiras
humanas que procuraram se levantar contra sua bênção, pois sabia que a bênção do
avô (a bênção da descendência, da prosperidade e da intimidade com Deus) lhe
pertencia. Guerreou por suas bênçãos, até usando métodos errados, mas não abriu
mão delas; lutou como muitos de nós, na força do seu braço, até descobrir e
conhecer de verdade o Deus a quem servia e confiar Nele totalmente, sabendo que
Ele sempre estaria do seu lado. Assim, Deus trabalhou o caráter de Jacó, ensinando-
lhe a maneira correta de conquistar suas bênçãos, ao mesmo tempo em que se deu a
conhecer a ele lhe revelando Seu caráter e Suas boas intenções. Quando se fala “O
Deus de Israel, o Deus de Jacó”, estamos nos referindo à entrega completa e ao
encontro com Ele para ser mudado à Sua imagem e semelhança. Isso nos mostra que
o encontro verdadeiro com Deus traz mudança real.
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José – 7ª aula
Resumo:
José tinha dezessete anos e apascentava os rebanhos com seus irmãos (Gn 37: 2).
Israel (Jacó) amava José mais do que todos os seus filhos porque foi o primeiro filho
que Raquel lhe deu na sua velhice. Jacó lhe deu uma túnica talar de mangas compridas,
o que provocou ciúmes nos irmãos. Um dia, teve um sonho no qual os irmãos atavam
feixes no campo e o de José se levantou e ficou em pé e os feixes dos seus irmãos se
inclinavam perante o dele. Os irmãos o odiaram, pois imaginaram José reinando sobre
eles. Teve outro sonho em que o sol, a lua e as estrelas se inclinavam perante ele. Jacó o
repreendeu, pois não podia aceitar que a família um dia viesse se inclinar perante José,
mas considerou o caso consigo mesmo, enquanto os irmãos o odiaram ainda mais.
Os filhos de Jacó foram a Siquém apascentar os rebanhos do pai e este, então,
enviou José a eles para trazer-lhe notícia. José os achou em Dotã, mas quando o viram
de longe conspiraram entre si para matá-lo. Entretanto, Rúben não deixou que o
matassem; apenas sugeriu que o lançassem dentro de alguma cisterna. Pensava em
restituí-lo ao pai. Logo que José chegou, seus irmãos lhe tiraram a túnica e o lançaram
numa cisterna vazia sem água. Viram que uma caravana de ismaelitas [também
chamados midianitas (Gn 37: 25; Gn 37: 36)], vinha de Gileade; seus camelos traziam
especiarias para o Egito. Judá sugeriu, então, que vendessem José para os ismaelitas e
todos concordaram. Assim, José foi vendido aos mercadores midianitas.
Os irmãos rasgaram a túnica de José e a mancharam com sangue de um bode e
levaram a Jacó, que imaginou que José tivesse sido devorado por algum animal
selvagem. Jacó o pranteou por muitos dias, recusando-se a ser consolado. Nesse ínterim,
os midianitas venderam José no Egito a Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda.
Como Deus estava com ele, veio a ser homem próspero na casa de Potifar e José achou
mercê perante seu senhor, que o pôs por mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha.
O Senhor abençoou a casa do egípcio por amor a José; a bênção do Senhor estava tanto
sobre o que tinha em sua casa quanto no campo. Potifar tudo confiou a José.
José era formoso de porte e aparência e a mulher do seu senhor o seduziu, mas José
recusou seu convite. Pela segunda vez ela fez o mesmo, mas quando José fugia, suas
vestes ficaram nas mãos dela, que gritou e o acusou de molestá-la. José, acusado
falsamente, foi preso e lançado no calabouço junto com os presos do rei.
O Senhor, porém, era com José e lhe foi benigno, dando-lhe mercê perante o
carcereiro, o qual confiou às suas mãos todos os presos que estavam no cárcere; e ele
fazia tudo quanto se devia fazer ali. O carcereiro lhe confiou tudo e tudo o que José
fazia prosperava porque o Senhor era com ele. Certo dia o mordomo e o padeiro do rei
vieram parar na prisão e José foi designado para servi-los. Ambos tiveram um sonho,
51
mas não souberam interpretá-lo (Gn 40: 1-23). Então, o contaram a José que os
interpretou e, de acordo com o que tinha dito, o padeiro-chefe foi executado e o copeiro-
chefe restituído ao seu cargo. José tinha pedido ao copeiro-chefe que intercedesse por
ele junto a Faraó, mas quando ele foi liberto, se esqueceu de José.
Depois de dois anos, Faraó teve sonhos que o perturbaram muito. Chamou a todos
os magos do Egito, que não puderam interpretá-los. Foi, então, que o copeiro-chefe se
lembrou de José e falou dele ao Faraó. José foi chamado à presença do rei para
interpretar seus sonhos. Os dois sonhos significavam a mesma coisa: haveria um
período de sete anos de grande abundância sobre o Egito, seguidos de sete anos de
muita fome (Gn 41: 1-36). Sugeriu que Faraó arranjasse um homem sábio que soubesse
administrar os suprimentos para o tempo de fome não ser tão ruim. Faraó escolheu José
para ser administrador e o pôs por autoridade no país, apenas abaixo dele. Como
governador, Faraó mudou seu nome para Zafenate-Panéia que significa: ‘O homem que
vive quando fala a deidade’ ou ‘Deus fala e Ele vive’ (o significado hebraico). O
significado egípcio é ‘O salvador do mundo’. José casou com Asenate, filha do
sacerdote Potífera, e percorreu toda a terra do Egito. Ele tinha trinta anos na época (Gn
41: 46).
José ajuntou suprimento durante os sete anos de fartura. Antes de chegar a fome,
José teve dois filhos com Asenate: o primogênito se chamou Manassés (= aquele que
fez esquecer), pois Deus o tinha feito se esquecer de todos os seus trabalhos e de toda a
casa de seu pai. Ao segundo chamou Efraim (= frutífero), pois Deus o tinha prosperado
na terra da sua aflição. Vieram, então, os sete anos de fome em todas as terras e José
vendia suprimentos aos necessitados.
Jacó soube que havia mantimento no Egito e enviou seus filhos para lá para
comprarem cereais. Todos desceram ao Egito, menos Benjamim. Chegaram e se
prostraram diante de José. Ele os reconheceu, porém, não se lhes deu a conhecer.
Perguntou de onde vinham e lembrou-se do sonho que tivera quando jovem; para testá-
los, acusou-os de espionagem. Eles o negaram e lhe contaram sobre seu pai e sobre
Benjamim, que tinham ficado na terra de Canaã. José, então, exigiu que trouxessem o
irmão mais novo também e, até que se provasse o que estavam dizendo, os manteve na
prisão por três dias.
Depois de três dias ele deixou que fossem ao seu pai com o cereal necessário, mas
um deles ficaria na prisão até que lhes trouxessem Benjamim. José entendeu o que
falavam quando eles comentavam uns com os outros sobre o remorso que sentiam em
relação a ele pelo que lhe fizeram quando era jovem.
José chorou sem que eles vissem. Voltando, algemou Simeão e deixou os outros
irem. Os sacos de cereal foram cheios, porém, por sua ordem, o dinheiro que haviam
trazido lhes foi restituído. Abrindo os sacos durante a viagem, eles viram o dinheiro
dentro deles e se alarmaram. Chegaram e contaram tudo o que tinha acontecido a Jacó.
Rúben argumentou com o pai e se propôs a trazer de volta Simeão e Benjamim, se este
fosse com eles ao Egito. Mas, com medo, Jacó não consentiu.
A fome persistia na terra e, quando o cereal deles acabou, Jacó ordenou-lhes que
voltassem ao Egito para comprar mais. Judá o lembrou das ordens do governador acerca
de Benjamim. Então, Jacó mandou que levassem o mais precioso que tinha para
presenteá-lo: bálsamo, mel, arômatas e mirra, nozes de pistácia e amêndoas; também,
dinheiro em dobro, além daquele que tinha sido restituído nos sacos.
Chegando ao Egito, se apresentaram perante José. Vendo Benjamim, ordenou ao seu
servo que preparasse o almoço e levassem os viajantes para sua casa. Seus irmãos
ficaram com medo e lhe contaram sobre o dinheiro que tinha sido posto nos sacos de
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cereal na viagem anterior. Ele os tranqüilizou e foram levados à sua casa, sendo
preparados para o almoço.
Deram-lhes os presentes que trouxeram e ele lhes perguntou sobre Jacó, se ainda
vivia. Soube por eles que Jacó estava vivo e bem. José teve que sair da presença deles
para chorar quando viu Benjamim. Voltou e almoçou com eles, servindo porção cinco
vezes maior para Benjamim. Isso mostrava a todos que ele era seu convidado de honra.
José deu ordem ao mordomo que enchesse os sacos de cereais, devolvendo-lhes o
dinheiro em cada um deles e colocasse seu copo de prata no de Benjamim.
Na manhã seguinte, quando se despediram, José ordenou ao seu mordomo que os
seguisse e os acusasse de terem roubado seu copo de prata. Ocorreu o que José ordenara
e eles se alarmaram com o que viram. Foram trazidos de volta à presença de José. Judá
se desculpou em nome de todos e intercedeu por Benjamim para que Jacó não morresse
de tristeza com o filho longe dele. Confirmou que era fiador de Benjamim perante Jacó
e se ofereceu para ficar como servo de José no lugar do mais novo.
José fez todos saírem de sua presença, exceto os judeus, seus irmãos. Então, ele se
deu a conhecer e chorou, o que deixou seus irmãos perplexos e atemorizados, pois
tinham medo de sua reação, que poderia ser de vingança contra eles. Mas José os
perdoou e lhes explicou que tudo aconteceu por permissão de Deus para executar Seu
propósito soberano na vida dele (José) e de toda sua família. Seu propósito como
governador do Egito era trazê-los para essa terra, a fim de que pudesse supri-los por
mais cinco anos, pois ainda haveria cinco anos de fome. Falou-lhes para trazerem Jacó,
suas mulheres, seus filhos e seus rebanhos para a terra de Gózen, na região do delta do
Nilo, pois ali havia mais vegetação. Abraçou Benjamim e chorou com ele, assim como
o fez com todos os outros. José tinha trinta e nove anos agora.
Faraó soube que a família de José tinha vindo e lhes abriu a terra do Egito para
habitarem. Em Berseba, Jacó ofereceu sacrifícios ao Senhor e Este, em visão, acalmou-
lhe o coração confirmando sua jornada para o Egito, além da bênção da descendência.
Vieram os descendentes de Jacó (Gn 46: 1-27; Êx 1: 5) para o Egito:
• De Rúben: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi.
• De Simeão: Jemuel, Jamim, Oade, Jaquim, Zoar e Saul (filho de uma Cananéia)
• De Levi: Gérson, Coate e Merari
• De Judá: Er ( em Canaã), Onã ( em Canaã), Selá, Perez e Zerá;
De Perez: Hezrom e Hamul
• De Issacar: Tola, Puva (no texto Massorético; ou Pua), Jó (no texto Massorético;
ou Jasube) e Sinrom
• De Zebulom: Serede, Elom e Jaleel
• Diná (todos os filhos de Lia, que já havia morrido em Canaã – Gn 49: 31); total de
33 pessoas (incluindo Jacó).
• De Gade: Zifiom (no texto Massorético; ou Zefom na Septuaginta e Pentateuco
Samaritano), Hagi, Suni, Esbom, Eri, Arodi e Areli
• De Aser: Imna, Isvá, Isvi, Berias e Sera (♀). Berias gerou Héber e Malquiel (todos
os filhos de Zilpa, serva de Lia); total de 16 pessoas.
• De José: Manassés e Efraim.
• De Benjamim: Bela, Béquer, Asbel, Gera, Naamã, Eí, Rôs, Mupim, Hupim e Arde
(todos os filhos de Raquel, que já tinha morrido em Canaã – Gn 35: 19); ao todo 14
pessoas.
• De Dã: Husim
• De Naftali: Jazeel, Guni, Jezer e Silém (todos os filhos de Bila, serva de Raquel);
total de 7 pessoas.
Não foram contadas as mulheres dos filhos de Jacó.
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Total: 33 + 16 + 14 + 7 = 70 pessoas.
O número 70 corresponde ao número de nações (povos) que repovoaram a terra
após o Dilúvio (Gn 10: 1-32; 1 Cr 1: 5-23). Assim, os descendentes de Jacó foram uma
maneira de repovoar o Egito; um grande momento para a humanidade, cumprindo-se
parte da promessa de fazer de Abraão uma grande nação. Portanto, o número setenta
pode simbolizar um tempo de reconstrução, de encher de novo a nossa terra que foi
assolada.
José se encontrou com o pai Jacó e tomou apenas cinco dos seus irmãos e os
apresentou a Faraó, realçando sua ocupação como pastores de ovelhas, acalmando sua
preocupação sobre eles terem ambição política no país.
Jacó abençoou os filhos de José, colocando a mão direita (símbolo de bênção, força,
autoridade, privilégio, honra) sobre o mais moço, Efraim, ao invés do mais velho,
Manassés, pela quarta vez na história da família confirmando o Senhorio de Deus e Sua
escolha sobre a primogenitura (Isaque era mais novo que Ismael; Jacó era mais novo
que Esaú; José era mais novo que Rúben, e Efraim era mais novo que Manassés). Jacó
os abençoou com a bênção da descendência sobre a terra, sendo a de Efraim maior do
que a de Manassés.
Quando abençoou os demais filhos, Jacó abençoou Judá com a liderança
governamental do seu clã, embora o direito de primogenitura tivesse sido dado a José (1
Cr 5: 1-2: ‘príncipe’, no v. 2, era uma referência a Davi e, conseqüentemente, Jesus).
Jacó pediu a José que o sepultasse na caverna de Macpela, junto com Abraão, Sara,
Isaque, Rebeca e Lia (Gn 48: 7 cf. Gn 49: 31). Foi embalsamado (levou quarenta dias
para isso) e sepultado como desejara. José e seus irmãos voltaram ao Egito. José viveu
cento e dez anos e viu os filhos de Efraim até a terceira geração. Pediu aos seus irmãos e
à sua descendência que transportassem seus ossos do Egito para a terra de Canaã,
quando Deus os tirasse de lá, e os fez jurar. Os ossos de José foram enterrados em
Siquém, na região dada à tribo de Manassés (Js 24: 32).
1) Integridade, retidão, aliança com Deus: José se manteve íntegro, reto e fiel a Deus,
mesmo diante das propostas impuras, como no caso da mulher de Potifar, ou das
circunstâncias adversas como aconteceu quando estava na prisão, acusado
injustamente. Como o Senhor estava com ele, prosperou, e suas atitudes de fé e
sinceridade fizeram com que ele ganhasse a confiança dos ímpios, pois puderam
conhecer o seu Deus. Ele preferiu ser rejeitado pelos homens a ser rejeitado pelo
Senhor ou ir contra os Seus mandamentos. Quando mantemos firmes as nossas
convicções e agimos de acordo com o que pregamos, nossa luz passa a ser vista e
muitas pessoas vão vir a nós para conhecerem o nosso Deus e a razão da nossa fé.
2) O Senhor o sustentou, prosperou, libertou e o honrou fazendo-o governador de uma
nação: Deus sustentou José nas suas necessidades básicas e, porque se dispôs a ser
instrumento em Suas mãos, Ele o capacitou com dons naturais e espirituais que
geraram prosperidade não só para ele, mas para os que estavam ao seu lado, como
aconteceu com Potifar. Deus o libertou da prisão e o honrou no tempo certo,
colocando-o numa posição de destaque diante de todos, inclusive aos olhos de
Faraó. Muitas vezes, nosso caminhar parece longo, difícil e sem sentido, mas se
estivermos no centro da vontade do Senhor, Ele, no devido tempo, nos libertará de
todos os jugos, nos sustentará e nos honrará diante daqueles que se acham
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poderosos, pois mostrará a eles a Sua soberania colocando no poder quem Ele
quiser.
3) Fé e paciência: como Abraão exercitou a fé, José também a exercitou, pois teve que
crer nos sonhos que Deus colocou no seu coração quando ainda era um jovem e que
só foram se realizar anos mais tarde. Nem a própria família creu nele no início e até
atentou contra sua vida. José teve que exercitar a fé no seu Deus quando estava na
casa de Potifar, quando ficou na prisão e quando foi colocado em posição de
autoridade no Egito, pois dependia Dele para administrar a nação e para cumprir a
palavra profética dada por ele mesmo, no caso do sonho de Faraó. A paciência que
teve que exercitar caminhou junto com a fé; ele dependeu do tempo para ver sua
promessa cumprida e realizada.
4) Sabedoria para gerenciar a bênção de Deus: José teve a sabedoria divina para
gerenciar a bênção que fora colocada em suas mãos, pois só a sabedoria do Senhor
poderia lhe ensinar como armazenar tanto cereal nos celeiros da nação para supri-la
e às terras em redor nos próximos anos de fome. Mesmo quando chegou ao Egito,
ainda jovem, quase um garoto, dependeu da sabedoria de Deus para estar à frente
dos negócios de Potifar e lhe prestar contas de tudo corretamente. Teve sabedoria
divina para interpretar os sonhos dos companheiros de prisão, assim como o sonho
de Faraó. Teve sabedoria para tratar com seus irmãos, deixando que o Senhor
curasse feridas antigas e restaurasse a união familiar. Teve sabedoria e prudência
para apresentar seus parentes diante de Faraó, apaziguando todos os seus temores
em relação à disputa de poder político na nação. Quando Deus nos dá Sua bênção,
devemos pedir a Ele a sabedoria para podermos administrá-la com sucesso, pois
muitos vão depender da nossa ação correta.
5) Exercitou o perdão: não só exercitou o perdão em relação aos seus irmãos, mas para
com outros: Potifar e sua esposa (que o colocaram na prisão injustamente) e o
copeiro-chefe (que saiu da prisão e foi restaurado ao seu cargo, de acordo com as
previsões de José, porém, se esqueceu dele quando se viu livre do cárcere. Pagou o
bem que José lhe fez, no mínimo, com indiferença). Assim, também, temos que
passar pelas duras provas de exercitar o perdão para com aqueles que nos fazem
mal, nos acusam injustamente, põem obstáculos ao nosso caminhar por inveja da
nossa determinação, e para com os que reagem com indiferença e ingratidão, depois
que foram abençoados através da nossa vida e do nosso trabalho.
6) Experimentou a reconciliação com quem o tinha injustiçado, pois Deus lhe deu
estratégia e sabedoria para reverter situações que aparentemente não tinham solução,
como aconteceu no caso da sua família; foi o próprio Deus que colocou no coração
dos seus irmãos o arrependimento em relação a José, porém, usou-o com sabedoria
para confrontá-los com seu pecado. No tempo certo, Deus pode trazer a nós aqueles
que nos feriram ou nos insultaram, colocando o arrependimento nos seus corações.
Pode usar qualquer pessoa e qualquer tipo de estratégia para realizar Seu plano de
restauração na nossa vida.
7) A promessa de Deus pode ser comprometida pelas ações humanas, mas sempre será
preservada por Ele: as pessoas podem retardar o plano de Deus, mas nunca podem
impedir sua realização. Ele pode usar até as más intenções dos homens para cumprir
Seus propósitos na vida dos Seus escolhidos. Os irmãos de José tentaram impedir
que Deus manifestasse nele o Seu projeto; mesmo assim, ele foi usado por Ele para
abençoar seus irmãos.
8) Manter a visão profética do projeto de Deus: José manteve dentro de si a visão do
projeto de Deus para ele; deu valor aos sonhos que foram colocados no seu coração
ainda jovem e não os desprezou para agradar a homens. Da mesma forma, devemos
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dar valor aos sonhos que Ele coloca no nosso interior, ainda que tenham sido
colocados na infância ou mesmo que outros não dêem valor a eles e até zombem
deles. A visão profética do Seu projeto deve estar sempre viva dentro de nós para
que nossa esperança e nossa fé Nele não morram.
9) Tirar proveito das situações adversas: José foi vendido aos egípcios quando era
jovem, entretanto, já sabia aproveitar as situações para aprender e crescer. Não
importa como nem com quem José aprendeu a escrever em língua egípcia. O que
importa é que quando chegou à casa de Potifar já possuía algo que o capacitava a
realizar tarefas que outros escravos não poderiam. Ler, escrever e entender de
matemática lhe deram a chance de mostrar ao seu senhor que ele era um escravo
diferente e digno da sua confiança. A lição para nós é: devemos sempre aprender o
que for para estarmos capacitados em qualquer situação, pois não sabemos de que
forma Deus vai querer nos usar. Nossa habilidade e nosso interesse por aprender
poderão fazer com que achemos graça diante das pessoas, que verão Sua boa mão
sobre nós.
10) Aprender a ser um provedor: José aprendeu a ser um provedor. O Senhor lhe deu
sabedoria para saber administrar os recursos naturais e fez do seu coração um
coração doador e abençoador. Com os cereais que ele tinha acumulado no período
de abundância, pôde abençoar muitos povos no período da fome. Pelas atitudes de
José, podemos notar que ele nunca foi mesquinho ou avarento; seus valores eram
outros e fazia questão de mostrar isso às pessoas para que aprendessem com ele a
exercitar a semeadura e a prosperidade. Quando nossos valores são espirituais, não
carnais, Deus nos coloca em posição de honra e liderança porque temos capacidade
de mostrar o Seu reino àqueles que ainda não O conhecem verdadeiramente; através
de nós, Ele mostra Sua bondade, Sua misericórdia e Sua prosperidade.
11) O abençoador é abençoado por Deus: por ser um abençoador de muitos, José foi
abençoado não só pelo pai, mas igualmente por Deus com as bênçãos dos altos céus
(espirituais), das profundezas (emocionais) e dos seios e da madre (materiais; ‘da
fertilidade e da fartura’ – NVI), como está descrito em Gn 49: 25, assim como toda
a sua descendência.
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Moisés – 8ª aula
Resumo:
chamou Gérson (= peregrino, estrangeiro). Ficou ali por mais ou menos quarenta anos
até que morreu Faraó.
Os filhos de Israel gemiam sob a servidão e seu clamor subiu a Deus. Assim, Ele se
lembrou de Sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó e atentou para o choro do povo.
‘Lembrar-se’, em hebraico, no Antigo Testamento, significa: ‘dar atenção’.
Moisés estava apascentando o rebanho do sogro a oeste de Midiã, no deserto do
Sinai, chegando ao Monte Horebe (conhecido como ‘o monte de Deus’; Horebe
significa: seco, deserto). Ali lhe apareceu o Anjo do Senhor, numa chama de fogo, no
meio de uma sarça que, entretanto, não se consumia.
Então, o Senhor lhe falou que tinha visto o sofrimento do Seu povo no Egito e o
estava escolhendo para livrá-lo das mãos de Faraó para levá-lo a uma terra que ‘manava
leite e mel’, ou seja, uma terra fértil e abundante. Seu nome, YHWH, ‘o Senhor’, ‘O Eu
Sou o Que Sou’ (ehyeh-asher-ehyeh), seria conhecido pelo Seu povo (Êx 3: 14-15; Êx 6:
2-3). EU SOU, em hebraico, Ehyeh, provém do verbo Hayah, ‘ser’, muitas vezes
traduzido como ‘Eu serei’, ‘tornar-se’ ou ‘mostrar ser’. Asher é um pronome ambíguo
que pode significar, dependendo do contexto, ‘que’, ‘quem’, ‘qual’, ou ‘onde’. Portanto,
embora Ehyeh-Asher-Ehyeh geralmente seja traduzido como ‘Eu Sou o Que Sou’, a
expressão pode significar: ‘Eu serei o que serei’ ou ‘Eu vou ser quem eu vou ser’ ou
‘Eu vou provar ser o que eu vos revelar ser’ ou ‘eu vou ser porque eu vou ser’. Os
patriarcas o tinham conhecido como El-Shaddai (‘O Todo-Poderoso’, ‘o Deus que é
mais do que suficiente’, ‘o Deus que detém todo o poder’) – Gn 17: 1, entre outros
nomes.
O Senhor também lhe disse que com mão forte feriria o Egito e livraria o Seu povo.
Moisés tentou argumentar com Deus, pois temia sua missão. Como tinha sido treinado
para ser príncipe do Egito, conhecia bem seu poderio militar e achava impossível que
um povo daquele tamanho (o povo hebreu) pudesse ser liberto de Faraó. Disse ao
Senhor que tinha um problema de fala; talvez isso quisesse dizer que não sabia
argumentar, que não era bom orador. Mas Deus não voltou atrás. Deu-lhe dois sinais
(Êx 4: 9) e o mandou ir. Garantiu-lhe que Ele poria em sua boca as palavras corretas e
Arão, seu irmão, sacerdote e levita, falaria ao povo por ele. Dessa forma, Moisés tomou
sua mulher e seus dois filhos, pois mais um lhe nascera em Midiã (Eliézer, meu Deus é
auxílio, Êx 18: 4), e partiu para o Egito, levando na mão o bordão de Deus.
Encontrou-se com Arão em Horebe. Arão era casado com Eliseba e tinha quatro
filhos: Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Êx 6: 23). Chegaram ao Egito e comunicaram
ao povo as palavras de Deus; o povo creu no Senhor e o adorou.
Arão e Moisés foram falar com Faraó, que não lhes deu ouvidos; pelo contrário,
afligiu ainda mais os hebreus, tirando deles a palha para fazerem os tijolos.
Moisés e Arão falaram novamente com Faraó, mas o Senhor os avisou que
endureceria o coração do rei para que ele pudesse ver as maravilhas e o poder do Deus
verdadeiro. A bíblia diz que Moisés tinha oitenta anos e Arão oitenta e três, quando
falaram a Faraó (Êx 7: 7).
Assim, Deus enviou dez pragas ao Egito para mostrar Seu poder ao rei e libertar
Seu povo:
1º) As águas se tornaram em sangue
2º) Rãs
3º) Piolhos
4º) Moscas
5º) Peste nos animais
6º) Úlceras
7º) Chuva de pedras
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8º) Gafanhotos
9º) Trevas
10º) A morte dos primogênitos do Egito. Aqui, Deus instituiu a Páscoa e instruiu o
povo como deveria se preparar para a partida. À meia-noite o Destruidor passou sobre o
Egito, deixando vivos apenas os filhos dos hebreus, que tinham a marca do sangue do
cordeiro nas suas portas.
Com a morte do seu primogênito, Faraó os lançou fora da sua terra e o povo saiu
com ovelhas, gado, ouro, prata e vestes e despojaram os egípcios.
A bíblia diz em Êx 38: 26 (Nm 1: 46; Nm 26: 51) que saiu do Egito um exército de
603.550 homens de vinte anos para cima, afora as mulheres e crianças, idosos e
estrangeiros que decidiram ir com eles. Em Nm 1: 47 a bíblia também deixou de contar
os levitas. Diz, igualmente, que o tempo que habitaram no Egito desde que chegou Jacó
foram quatrocentos e trinta anos (Êx 12: 40-41; Gl 3: 17) sendo que, provavelmente, sua
escravidão tenha começado cento e vinte anos antes do Êxodo, pois no tempo de José
foram hóspedes bem-tratados. Ao saírem, levaram também os ossos de José, como ele
os fizera jurar antes de morrer. O Senhor ia adiante deles, durante o dia, numa nuvem
para guiá-los pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo.
Faraó os perseguiu e os alcançou no deserto quando eles estavam acampados junto
ao mar. A palavra hebraica usada para Mar Vermelho é Yam suf, que significa: Mar de
juncos. Juncos são papiros que proliferavam na área pantanosa que ia desde o Golfo de
Suez até o Mediterrâneo e que crescem em água doce, como os Lagos Amargos, Timsa,
Balá e Manzalé, no Delta do Nilo. Por isso, não podemos identificar em nenhum mapa
sobre o Êxodo, o local de passagem pelo Mar Vermelho propriamente dito. Imagina-se
que os locais mais prováveis sejam o Golfo de Suez, o Grande Lago Amargo entre o
Golfo e o Mediterrâneo, o Lago Manzalé na boca do Nilo, no Norte do Egito, ou o
Mediterrâneo Sul. O termo Yam suf é usado para diferentes tipos de formação aquática.
Apesar de todas as cogitações, permanece a hipótese principal (levando-se em conta Nm
33: 1-37) de ter sido a travessia próxima a Suez (ver mapa no final do capítulo).
O povo, então, tirou satisfação com Moisés, acusando-o de tê-lo tirado do Egito
para morrer no deserto. Moisés reforçou neles a fé no Senhor, ergueu o bordão e
estendeu sua mão sobre o Mar Vermelho como Deus lhe mandara e as águas se
separaram. Assim, Israel passou pelo meio do mar. Quando terminaram de passar, as
águas retomaram sua força e afogaram os egípcios que os tinham perseguido. Morreram
todos: soldados e cavalos.
Moisés entoou um cântico de vitória e exaltação ao nome do Senhor e todo o povo
o acompanhou. Miriã também tomou um tamborim e cantou, e todas as mulheres
dançaram com ela. A partir daí, Moisés começou a dirigir o povo conforme o Senhor o
orientava, mas teve que administrar as reclamações contra ele, como se fosse culpado de
qualquer circunstância que parecesse contrária. Podemos ver isso no caso das águas
amargas de Mara, que Deus transformou em doces para dessedentar o povo; também
quando pediram comida e Ele lhes deu o maná pela manhã e carne à tarde. Ninguém
conhecia o que era aquele ‘orvalho’ que caía pela manhã, por isso lhe chamaram Maná
(Hebr. = que é isso? – Êx 16: 15; 31). Os israelitas ainda não mostravam confiança em
Deus depois de tudo o que já tinham visto; assim, reclamavam por qualquer motivo.
Facilmente resistiam ao comando de Moisés e duvidavam do cuidado do Senhor.
Novamente contenderam em Refidim por causa de água e Ele os dessedentou (Moisés
feriu a rocha e dela manou água).
Moisés também teve que enfrentar uma batalha com Amaleque em Refidim.
Amaleque, pai dos amalequitas, foi descendente de um neto de Esaú; eram nômades
ferozes que pilhavam outras tribos, muitas vezes, matando por simples prazer. Eram
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Pela reação dos israelitas descrita na bíblia (como uma orgia), é mais provável que
estivessem adorando Hator ou os dois (ver Êx 32: 4, onde está escrito: “teus deuses”:
“Este [Arão], recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um
bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da
terra do Egito”).
No dia seguinte, Moisés subiu ao Monte e intercedeu novamente pelo povo,
oferecendo sua própria vida em troca. Mas o Senhor disse que Ele mesmo os puniria
pelo seu pecado e Seu Anjo iria adiante deles para lhes dar vitória sobre seus inimigos.
Ele mesmo não seguiria no meio deles. Moisés Lhe pediu, então, para ver a Sua glória,
ou seja, o próprio Deus. Este o colocou numa fenda da rocha e fez Moisés ver Sua
glória pelas costas. Depois disso, deu-lhe novamente as tábuas de pedra com a Lei.
Quando desceu do Monte, seu rosto resplandecia.
Debaixo da orientação de Deus o Tabernáculo foi levantado. Quando a nuvem
ficava sobre ele os israelitas paravam e, quando ela se levantava, eles caminhavam
avante. Apesar de tudo o que tinha visto pelas mãos do Senhor, o povo continuou
insatisfeito, tendo grande desejo das comidas dos egípcios; queriam carne, peixe,
pepinos, melões, alhos e cebolas, reclamando do maná. Moisés se queixou com o
Senhor porque achava pesado demais o seu cargo e não tinha como satisfazer o desejo
dos seus irmãos. Pediu até para que Deus o matasse, pois não suportava mais. O Senhor
lhe disse para ajuntar setenta homens dos anciãos de Israel, sobre os quais Ele
derramaria do Seu Espírito, e eles levariam a carga do povo junto com ele. Deus
também lhe falou para preparar os hebreus porque no dia seguinte comeriam carne e a
comeriam por um mês, até se enfastiarem dela porque reclamaram contra Ele. Então,
soprou um vento do Senhor e trouxe codornizes do mar, e as espalhou pelo arraial quase
caminho de um dia, ao seu redor, cerca de dois côvados sobre a terra (1 côvado = 44, 4
cm, portanto, havia codornizes atingindo uma altura de quase noventa centímetros sobre
a terra). Enquanto comiam, acendeu-se a ira do Senhor contra o povo e o feriu com
praga.
Não bastasse esse problema, Miriã e Arão tiveram inveja da posição especial de
Moisés como porta-voz de Deus e, usando como pretexto a mulher cuxita (Etíope) que
ele tomara, provocaram contenda, mas o Senhor os repreendeu. Miriã ficou leprosa e,
por intercessão de Moisés foi curada, porém, detida fora do arraial por sete dias.
Pouco depois, duzentos e cinqüenta homens liderados por Coré (Corá), Datã e
Abirão se rebelaram contra a liderança espiritual de Moisés e Arão, pois para eles toda a
congregação era santa. Além disso, Coré era da tribo de Levi, da família dos coatitas,
como Arão, e levavam a arca e os objetos sagrados; era levita, entretanto, não era da
linhagem sacerdotal porque não descendia de Anrão, pai de Arão e Moisés, mas de Isar,
irmão de Anrão (Êx 6: 21; Nm 16: 1; 1 Cr 6: 33-38). O Senhor abriu a terra debaixo dos
três rebeldes e os tragou, assim como suas famílias. Os outros duzentos e cinqüenta
foram consumidos pelo Seu fogo. Da descendência de Coré (Nm 26: 11) procedeu
Elcana, pai de Samuel (1 Cr 6: 22; 27).
No dia seguinte, toda a congregação murmurou contra Moisés e Arão, acusando-os
de matarem seus irmãos. Mas Deus, com grande ira, já estava consumindo o povo com
praga. Moisés e Arão intercederam por eles e a praga cessou; entretanto, mais quatorze
mil e setecentos morreram. Assim, o Senhor falou para que os doze príncipes das tribos
trouxessem seus bordões para a tenda da congregação e o bordão que Ele escolhesse
floresceria e cessariam as murmurações. O de Arão era pela casa de Levi; floresceu no
dia seguinte e foi colocado junto à arca do testemunho como um sinal da escolha de
Deus.
62
Por ordem divina, Moisés enviou doze homens para espiar a terra que Deus lhes
prometera (Nm 13: 1-17), um príncipe de cada tribo de Israel, entre eles Calebe, pela
tribo de Judá, e Josué, pela tribo de Efraim. Voltaram depois de quarenta dias. Josué e
Calebe mostraram-lhes o fruto da terra: um cacho de uvas que trouxeram numa vara,
como também romãs e figos. No entanto, os outros dez transmitiram medo ao povo
quando lhes contaram sobre as nações que lá habitavam: gigantes (enaquins), diante dos
quais os israelitas pareciam gafanhotos. Apenas Josué e Calebe viam a terra com bons
olhos e com ousadia para conquistá-la. O povo murmurou novamente contra Moisés e
contra Arão e eles se prostraram perante a congregação. Também queriam apedrejar
Josué e Calebe. Então, a glória do Senhor apareceu no Tabernáculo, desejando dizimar
o povo. Novamente Moisés intercedeu por ele junto a Deus, mas Ele deu o castigo:
nenhum dos homens de vinte anos para cima que saiu do Egito, colocando-o à prova
dez vezes (Nm 14: 11; 21-23 cf. Sl 78: 40-41), veria a Terra Prometida, pois morreria
no deserto; apenas a segunda geração a veria. Também Josué e Calebe a veriam por
terem perseverado e crido na promessa (Nm 14: 21-24; 29-30). Essa conversa entre
Deus e Moisés aconteceu em Cades Barnéia (Nm 13: 26; Nm 33: 36). A partir daí,
peregrinariam no deserto por quarenta anos (Nm 14: 34). Os outros dez espias morreram
de praga perante o Senhor. Após a morte de Arão (Nm 33: 37-38) o povo volta a
Eziom-Geber e começa sua jornada rumo à Terra Prometida (Nm 33: 38-49).
As dez vezes que o povo tentou o Senhor até este ponto foram:
1) Junto ao Mar Vermelho, antes da travessia: Êx 14: 11-12.
2) Em Mara, por causa da água amarga: Êx 15: 22-25.
3) Em Taberá, quando o povo começou a se queixar da sua sorte: Nm 11: 1-3; Dt 9:
22. Taberá significa: ardente, queimado.
4) Murmuração por querer as comidas dos egípcios. Deus lhes deu o Maná pela
manhã e mandou as codornizes à tarde: Êx 16: 1-8; 11-15; 31; Nm 11: 4-7; 13; 31-35
(v. 34-35: Quibrote-Hataavá = sepulcros da concupiscência); Dt 9: 22; Sl 78: 23-31 e Sl
106: 14-15, onde o salmista repete o episódio ocorrido no deserto e a reação de Deus.
5) Reclamaram por não haver água para beber; e o lugar passou a ser chamado
Massá e Meribá, por causa da provocação (Massá) e da contenda do povo (Meribá): Êx
17: 1-2; 5-7; Dt 9: 22.
6) O bezerro de ouro: Êx 32: 1-10; Sl 106: 19-23.
7) A sedição de Miriã e Arão: Nm 12: 1; 6-10; 13; 15.
8) A rebelião de Corá (ou Coré, filho de Isar, irmão de Anrão, pai de Moisés – Êx 6:
21). Pode ser que esse incidente tenha ocorrido enquanto os homens estavam espiando a
terra (nos quarenta dias em que ficaram fora do arraial): Nm 16: 1-3; 8-10; 28-33; 35; Sl
106: 16-18.
9) Murmuração contra a liderança de Moisés e Arão (O bordão de Arão floresce):
Nm 16: 41-50; Nm 17: 5-8.
10) Murmuração contra Moisés e Arão, após o relatório dos doze espias: Nm 13: 1-
3; 25-26; 32; Nm 14: 1-4; Sl 106: 24-27.
A trajetória dos Israelitas até este ponto (Cades Barnéia), onde Deus se queixa com
Moisés, pode ser vista em Nm 33: 1-37.
A trajetória dos Israelitas até este ponto (Cades Barnéia), onde Deus se queixa com
Moisés, pode ser vista em Nm 33: 1-37: Ramessés – Sucote – Etã – voltaram a Pi-
Hairote (defronte a Baal-Zefom, e acamparam-se diante de Migdol) – atravessaram o
Mar Vermelho – deserto de Etã – Mara – Elim – acampamento junto ao Mar Vermelho
– deserto de Sim – Dofca – Alus – Refidim – deserto do Sinai, onde ficaram acampados
por um ano (Nm 9: 1; Nm 10: 11; Êx 40: 2; 17) – Quibrote-Hataavá (Nm 11: 35) –
Hazerote – Ritma – Rimom-Perez – Libna – Rissa – Queelata – Monte Sefer – Harada –
63
1) Nada nem ninguém conseguem matar o projeto de Deus: Faraó, apesar de todas as
tentativas para conter o crescimento do povo hebreu, não conseguiu matar Moisés,
recém-nascido em vigência daquelas ordens. Assim, podemos dizer que Moisés era
o projeto de Deus para o Seu povo naquele momento da humanidade e ninguém
pôde impedir o seu nascimento nem o seu crescimento como o Senhor já tinha
planejado para ele. Todos os acontecimentos que sucederam ao seu nascimento
estavam sob total controle de Deus. Quando Ele tem um projeto em nossa vida, por
mais que tentem atrasá-lo, detê-lo ou matá-lo ele vai se cumprir, pois a mão do
Senhor está sobre ele.
2) Deus se responsabiliza pelo Seu projeto do começo ao fim, cuidando dos mínimos
detalhes e dando provisão e suprimento para que ele vá em frente: podemos ver que
Deus providenciou a amamentação de Moisés e o cuidado com ele quando bebê e
depois, seu sustento e educação como filho da filha de Faraó. Providenciou sua
formação em todas as áreas como se ele fosse o futuro rei do Egito. Ele precisava de
estudo e sabedoria nas ciências e na política egípcia, ao lado do treinamento de
combate, como se fazia com um guerreiro. Ele aprendeu a se defender, aprendeu a
ser líder no âmbito militar. Tudo isso lhe deu condições de sobreviver no deserto.
Conosco ocorre a mesma coisa. Quando Deus tem um projeto para nós, Ele prepara
pessoalmente todo o nosso treinamento. Todas as experiências de vida pelas quais
passamos são lições que Ele usa para o nosso crescimento e nada vai ser perdido,
pelo contrário, tudo o que aprendemos passa a ter um objetivo que se encaixa
perfeitamente nos Seus planos para nós.
3) Quando uma etapa de aprendizado termina Deus se encarrega de providenciar as
condições favoráveis para a outra: quando Deus terminou o treinamento de Moisés
na corte egípcia, levou-o ao deserto (após ele ter matado seu compatriota e
escondido na areia), onde ele aprendeu a pastorear ovelhas; uma atividade
completamente diferente daquilo que tinha feito até agora, mas que era um
acréscimo de Deus em sua vida, pois a primeira etapa teve o objetivo de prepará-lo
como um líder militar e esta tinha o objetivo de prepará-lo como líder espiritual.
Aqui, Moisés precisava aprender a desenvolver alguns dons como: mansidão,
paciência, perseverança, cuidado pelas ovelhas, pensar mais em Deus, depender
mais Dele e se achegar mais a Ele. Da mesma forma acontece em nossa vida. Ele
nos prepara, primeiramente, com as condições apropriadas para agirmos no mundo
natural e depois nos prepara para conhecermos mais de perto o Seu reino e o mundo
65
espiritual, com o objetivo de nos tornar líderes, reis e sacerdotes como está escrito
em Sua palavra; em suma, Ele nos dá condições de atuar com autoridade para que
possamos agir em Seu nome na terra e no mundo espiritual. Ele quer se revelar
através do nosso testemunho de vida àqueles que ainda não o conhecem e nos fazer
conquistar a Sua plenitude e a Sua abundância, pois somos Seus filhos e herdeiros.
4) Quando o período de treinamento termina, a revelação de Deus se torna clara:
Moisés teve um encontro com Deus no Monte Horebe, diante da sarça; ali ele soube
com clareza qual o projeto do Senhor para sua vida. Nós, da mesma forma, quando
terminamos nosso período de treinamento, experimentamos o nosso ‘momento de
sarça’, onde se torna claro o que Deus quer de nós. A revelação divina surge de
maneira clara e inconfundível.
5) Fé: assim como os patriarcas antes dele, Moisés aprendeu a desenvolver sua fé em
Deus de uma maneira ativa e crescente; cada desafio o colocava num exercício de
fé, pois muitos dependiam dela para serem libertos do cativeiro e sobreviverem em
condições precárias. Começou com o encontro com Arão e a visita a Faraó,
passando por todos os milagres e prodígios no Egito, no Mar Vermelho e no deserto
até poder contemplar a Terra Prometida.
6) Deus não olha o exterior, mas o interior por Ele formado em nós: em outras
palavras, Ele não leva em conta nossas fraquezas nem nossos argumentos, mas a
força do nosso espírito e a disposição da nossa alma ao Seu serviço. Como
aconteceu com Davi quando foi ungido, Deus não olhou para a aparência, e sim para
o coração, e o escolheu dentre os oito filhos de Jessé. Como Moisés argumentou
com Ele baseado nas suas impossibilidades, nós até podemos colocar diante Dele as
nossas opiniões, sentimentos, argumentos e limitações; porém, Ele nos faz olhar
com Seus olhos, não com os nossos. Ele nos faz enxergar a capacidade do Seu
Espírito em nós e crer na Sua direção e ajuda para desempenharmos com sucesso
nossa missão.
7) Deus está no controle de todas as coisas e, mesmo que o inimigo pareça ter poder, o
Senhor faz prevalecer a Sua vontade para proteger e salvar os que são Seus. Nós
podemos ver isso através das pragas que enviou ao Egito. Nem os poderes dos
magos nem a autoridade de Faraó foram capazes de impedir a saída do povo da
escravidão. Deus mostrou Sua forte mão em favor dos oprimidos e dos Seus
escolhidos.
8) A palavra de Deus abre o mar das impossibilidades: Moisés é o símbolo da palavra
profética na Igreja, além de simbolizar a Lei. Assim, a palavra profética de Deus
abre o mar das impossibilidades (o Mar Vermelho) e derrota o inimigo. O milagre se
torna possível. Quando o povo atravessou o mar, experimentou uma nova condição
de vida. Deixou de ser escravo para ser um futuro líder e um conquistador. Da
mesma forma, a passagem pelo Mar Vermelho é um marco importante na vida do
crente, pois prefigura o batismo nas águas, onde Deus nos separa da antiga vida
como escravos do mundo (Egito) e nos prepara para nos dar o Seu reino. A palavra
Egito, em hebraico, Mizraim, significa: terra de escravidão, dilema, conflito,
confusão, aflição, problema, perturbação.
9) O louvor e a gratidão ao Senhor pela vitória: depois que atravessaram o Mar
Vermelho, a bíblia diz que Moisés e Miriã entoaram um cântico como gratidão pela
vitória que o Senhor lhes tinha dado.
10) Mansidão, paciência, disciplina e capacidade de administrar as circunstâncias
adversas e as vontades humanas: logo que atravessou o Mar Vermelho e entrou no
deserto, Moisés teve que se deparar com as murmurações do povo, o que aconteceu
praticamente por quarenta anos. Muitas vezes, teve que usar a disciplina para deixar
66
clara a sua posição de autoridade. Ele teve que exercitar a fé em Deus, sabendo que
Ele estava no controle de tudo, e Sua vontade, no final, haveria de prevalecer.
11) O socorro de Deus vem, muitas vezes, do improvável: podemos ver isso nas
passagens onde Deus supre a sede do povo através de uma rocha. É improvável é
que se consiga água de pedra, mas Deus quis ser glorificado nesses milagres.
Figuradamente, a Rocha é Jesus e é Dele que manam as águas vivas para nos refazer
na nossa caminhada espiritual. É tocando na Rocha que conseguimos vida eterna (Dt
32: 15; Ez 47: 1; Zc 14: 8; Jo 7: 38; Jo 3: 36).
12) Às vezes, uma luta inesperada é o início de um treinamento, mesmo que não
tenhamos condições aparentes: podemos ver isso quando tiveram que enfrentar
Amaleque. Ainda não era um exército treinado; na verdade, eles eram recém-saídos
da escravidão, não tinham condições aparentes de vencer. A vitória veio pela fé.
Com essa situação, Deus já os estava preparando para serem conquistadores, estava
fazendo com que eles se vissem como vencedores.
13) Deus cumpriu a promessa feita a Moisés quando lhe falou na sarça, de que ele seria
confirmado como líder do Senhor. O sinal é que ele voltaria àquele lugar com o
povo e adoraria o Senhor ali. O interessante é que, muitas vezes, o nome Horebe é
usado como Sinai, embora no sentido estrito, o Monte Horebe seja um Monte na
Cordilheira do Sinai. Muitos acham que o Monte Sinai recebeu este nome por se
encontrar no deserto de Sim, portanto, ‘sim-nai’ (‘Sim’ significa: ‘pântano’).
Horebe quer dizer: ‘seco, deserto’, aparentemente um contraste com Sinai, que quer
dizer: ‘bosque do Senhor’. Quando pensamos num bosque não o associamos a um
deserto, mas a um lugar fértil e cheio de vida. Assim, a promessa de Deus que é feita
quando nos encontramos num deserto se cumpre trazendo vida e abundância. Da
primeira vez que Deus se manifestou a Moisés ali foi de uma maneira inusitada, mas
simples, como uma sarça. Quando voltou com o povo ao Sinai, a manifestação de
Deus foi portentosa, com relâmpagos e trovões, fogo e nuvens.
14) Delegar funções: um líder tem que aprender a delegar certas funções para que não
se sobrecarregue com as coisas menores que possam tirar o tempo de estar em um
relacionamento mais íntimo com Deus; só assim, pode receber direções maiores e
mais importantes para o ministério. Moisés teve que atender às orientações de Jetro
para estar mais livre para ouvir a voz do Senhor, ao invés de julgar causas sem
importância no meio do povo.
15) Para se ter intimidade com Deus é necessário subir a um lugar alto, longe da
multidão: Moisés recebeu as leis e os estatutos de Deus em contato particular com
Ele no cimo do Sinai, longe da multidão, para que pudesse estar à frente da sua
missão. Quando queremos receber revelações divinas importantes, temos que nos
afastar da multidão, da presença daqueles que estão na carne e não têm nenhum
compromisso com Ele.
16) Submissão e entrega trazem as diretrizes corretas para o líder: Moisés ficou
quarenta dias e quarenta noites na presença do Senhor e podemos imaginar que
estava em jejum, com a alma e o espírito totalmente voltados para Deus, a fim de
receber Dele as diretrizes importantes para a nação. Da mesma forma, quando
somos chamados por Ele para um propósito especial, devemos nos colocar numa
posição de submissão e entrega, sem nos preocuparmos com a carne ou com outras
distrações que possam ocupar Seu lugar como Senhor da situação.
17) Falta de compromisso com Deus gera insegurança, inconstância e idolatria: é o
que podemos ver quando o povo, sem a presença do líder, pois Moisés simbolizava
a presença de Deus com eles, construiu o bezerro de ouro. Eles se sentiram afastados
67
24) Inveja entre irmãos gera pecado (lepra), feridas emocionais e isolamento: podemos
ver isso quando Miriã e Arão conspiraram contra Moisés porque invejaram a
liderança que Deus lhe tinha dado. O resultado foi que Ele confirmou Sua escolha e
ainda puniu os invejosos, mostrando claramente diante deles o seu pecado (lepra),
levando-os ao isolamento e afastando-os de Sua presença.
25) Covardia, incredulidade e fraquezas de caráter podem roubar a fé dos mais fracos
e acarretar retardo da bênção: foi o que aconteceu quando os dez espias voltaram e
contaminaram os israelitas com sua visão distorcida dos fatos. Sua covardia e sua
ação errada geraram conseqüências sérias para toda uma nação, fazendo-a
peregrinar pelo deserto por quarenta anos, portanto, retardando a posse da bênção.
Nossas fraquezas de caráter não podem de forma alguma ser pedra de tropeço para
os novos na fé, pois podem desanimar e desistir; mesmo que nos sintamos
incapazes, às vezes, nossa boca deve proclamar com fé a palavra de Deus. Dar
ouvidos a palavras mentirosas acarreta injustiças (Josué e Calebe quase foram
apedrejados pelo povo que se viu desanimado e desesperado).
26) Os que conseguem enxergar com os olhos de Deus ganham o direito de herança: ao
contrário dos dez espias, Josué e Calebe viram a Terra Prometida com os olhos de
Deus, portanto, foram os únicos daquela geração que ganharam Dele o direito à
herança de Canaã.
27) Paciência: os quarenta anos no deserto desenvolveram a paciência e a perseverança,
além do que foi um tratamento emocional e espiritual, não só para Moisés, Josué e
Calebe, mas principalmente, para aquela nação. Quarenta, na bíblia, se refere a um
tempo de aprendizado ou ao tempo de uma geração. Todos precisaram aprender a
paciência, pois não estavam prontos para receber a bênção. Três que já estavam,
tiveram que exercitá-la e aperfeiçoá-la por causa do erro dos outros. Não só a
paciência foi aperfeiçoada, como também a fé em Deus.
28) Tempo para renovar a mente e aprender a dar valor às promessas e ao sonho de
Deus: o tempo de quarenta anos no deserto não só aperfeiçoou a paciência; foi um
tempo de aprendizado para todos eles, ensinando-os a renovar a mente e a pensar,
não da maneira da carne, mas da maneira de Deus. Precisavam se enxergar como
conquistadores, não como escravos derrotados. A auto-estima ainda precisava ser
curada.
29) A ganância e a competição não fazem parte do reino de Deus e a escolha do líder é
divina, não humana: a ganância e a competição são as armas do mundo, não as
armas de Deus. Foi o que aconteceu com Coré, Datã e Abirão que cobiçaram a
liderança de Moisés e Arão. O resultado disso foi a punição do Senhor e a
confirmação da Sua escolha sobre quem estava na liderança. Não são homens que
elegem líderes, mas o próprio Deus. Ele coloca a autoridade espiritual sobre quem
Ele quer e deixa isso bem claro. Com o Senhor não há disputa de poder.
30) Desobediência é barreira à bênção e Deus nunca repete as mesmas estratégias
conosco: A desobediência de Moisés e Arão às ordens de Deus sobre falar à rocha,
não feri-la com a vara, os impediu de tomar posse da terra. Eles pensaram que o
Senhor usaria as mesmas estratégias que tinha usado no passado, mas dessa vez Ele
queria fazer diferente para mostrar a eles que é um Deus criativo e que detém todo o
poder; além disso, Suas diferentes estratégias nos colocam dependentes Dele para
que a glória sempre seja Sua e não nossa. Porém, não podemos nos esquecer que
Moisés e Arão estavam se sentindo muito pressionados pelo povo, e a fraqueza da
carne prevaleceu sobre a força do espírito.
31) O pecado gera brecha para o diabo (serpente): aqui, mais uma vez, o pecado de
rebeldia e incredulidade do povo abriu brecha para a assolação e a morte. Deus
69
ÊXODO
70
TABERNÁCULO
Josué – 9ª aula
Resumo:
Moisés tinha morrido e a liderança do povo estava agora sobre Josué. Foi chamado
por sua família de Oséias (Hoshea, הושע, ‘salvador, libertador’, Strong #1954; Nm 13:
8; 16; Dt 32: 44), mas foi Moisés quem o chamou de Josué (Yehôshua‘, יהושע, Strong
#3091, YHWH salvou). Era efraimita, filho de Num (1 Cr 7: 27).
Deus lhe disse para passar o Jordão e tomar posse da terra, garantindo a ele que todo
o lugar que pisasse a planta do seu pé seria dele. Confirmou Sua proteção e lhe renovou
a esperança de vitória, dando-lhe força e coragem para entrar em Canaã.
Como as tribos de Gade, Rúben e meia tribo de Manassés já tinham suas terras deste
lado do Jordão, o que foi combinado é que deixariam suas famílias aqui e cruzariam o
rio para ajudarem seus irmãos a tomar posse das deles; depois poderiam voltar para
casa.
Josué enviou dois espias à frente para observarem a cidade de Jericó. Eles entraram
na casa de uma prostituta chamada Raabe e ali ficaram. Sua chegada foi anunciada ao
rei de Jericó, que mandou vasculhar a casa da mulher para encontrá-los, mas ela os
escondeu bem e despistou seus perseguidores.
Todos naquela terra já tinham ouvido falar dos israelitas e do seu Deus poderoso e
tinham medo deles. Então, Raabe fez um acordo com os espias de que lhe poupassem
sua vida, assim como a de sua família, pois ela os protegera em sua casa e, por sua vez,
não denunciaria a missão dos filhos de Israel aos cidadãos dali.
Sua casa estava sobre o muro da cidade e ela os fez descer até o chão por uma corda.
Eles lhe disseram para atar um cordão escarlate à janela e, assim, toda a sua casa seria
poupada da destruição.
Os espias contaram o que viram para Josué e ficaram às margens do Jordão por três
dias. Ali, Josué instruiu o povo a passar o rio após a arca do Senhor, que seria carregada
pelos levitas, e Israel manteria, mais ou menos, uma distância de novecentos metros
dela. Ao colocar a planta dos pés dos sacerdotes no leito do rio, aconteceu que as águas
se dividiram e o rio secou como tinha acontecido ao Mar Vermelho. Os levitas ficaram
com a arca no meio do Jordão até que todo o povo passou. Um chefe de cada tribo de
Israel tomou uma pedra do seu leito e a levou ao acampamento. No lugar em que a arca
estava, também foram erguidas doze pedras em memorial ao Senhor. Quando as plantas
dos pés dos sacerdotes que levavam a arca pisaram em terra seca, as águas do Jordão
voltaram a correr como antes. Acamparam em Gilgal, do lado oriental de Jericó; as doze
pedras que foram tiradas do rio, levantou-as Josué em coluna em Gilgal em memorial ao
Senhor pela vitória.
72
Então o Senhor lhe falou para circuncidar o povo, pois este que entrava agora na
Terra Prometida tinha nascido no deserto e não fora circuncidado como seus pais.
Ficaram no arraial até que sararam. Josué novamente ouviu a voz de Deus dizendo:
“Hoje, removi de vós o opróbrio do Egito”, por isso, o nome daquele lugar se chamou
Gilgal, que quer dizer remover, revolver.
Dessa forma, o Senhor reafirmava a aliança com Seu povo. Celebraram a Páscoa no
dia quatorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó. No dia seguinte, o povo comeu das
novidades da terra de Canaã, pois cessou o maná.
Estando Josué aos pés de Jericó, levantou os olhos e viu o anjo do Senhor que lhe
confirmou a vitória sobre os inimigos e lhe deu as estratégias para tomar posse da
cidade: eles a rodeariam uma vez por seis dias consecutivos, tendo os sacerdotes à
frente carregando a arca da Aliança e tocando trombetas de chifre de carneiro e, no
sétimo dia, o fariam por sete vezes. Durante os seis dias os israelitas ficariam em
completo silêncio e no sétimo, após as trombetas tocarem, gritariam e o muro da cidade
cairia; aí a saqueariam. Não deveriam tomar para si os despojos, pois era condenado por
Deus; somente o ouro, a prata, o bronze e o ferro consagrariam ao Senhor e iriam para o
Seu tesouro. Também Raabe e sua família seriam poupados.
Tudo foi destruído quando o muro ruiu. Raabe e sua parentela foram salvos e
acamparam fora do arraial de Israel até que foram incorporados à nação, pois,
posteriormente, Raabe se casou com um dos espias, Salmom, e passou a fazer parte do
povo israelita (Mt 1: 4-5; 1 Cr 2: 11), por parte da tribo de Judá. Para fazer daquela
conquista um memorial permanente da provisão e do livramento de Deus, Josué
amaldiçoou todo o homem que tentasse levantar e reedificar a cidade, à custa da vida do
seu filho primogênito e do seu mais novo. A profecia se cumpriu em 1 Rs 16: 34.
Entretanto, Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi (NVI e na Septuaginta: Zinri), filho
de Zera, descendente de Judá, tomou das coisas condenadas que Deus tinha proibido os
filhos de Israel de tocarem.
A próxima cidade era Ai (ruína), muito pequena em relação a Jericó, por isso
estavam confiantes de que com apenas dois ou três mil homens a derrotariam, mas
foram vencidos, feridos e perseguidos pelos cidadãos de Ai.
Então, Josué se prostrou com o rosto em terra e clamou ao Senhor, pois não entendia
porque Deus os havia abandonado. Mas Ele lhe disse que Israel tinha pecado e guardado
as coisas condenadas escondendo-as na sua bagagem. Enquanto não eliminassem do seu
meio o que roubaram, o Senhor não iria com eles. Pela manhã, Deus revelou com quem
estavam as coisas condenadas e Sua punição era que o homem seria queimado, assim
como tudo o que tivesse. Acã foi achado culpado e revelou que tinha escondido uma
boa capa babilônica, duzentos siclos de prata (aproximadamente dois quilos e trezentos
gramas, considerando o siclo igual a onze gramas e meio) e uma barra de ouro de
cinqüenta siclos (quinhentos e setenta e cinco gramas) na terra, no meio de sua tenda.
Tudo foi queimado no vale de Acor conforme a sentença do Senhor, assim como Acã,
toda sua família, seu gado, sua tenda e seus pertences. E todo o Israel os apedrejou e os
queimou. Assim, limpos e purificados aos olhos de Deus, tomaram Ai de emboscada e a
saquearam. Mataram seu rei e todos os habitantes, ficando com os despojos. Josué
ergueu no Monte Ebal um altar ao Senhor e ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas,
que simbolizavam o agradecimento a Deus pela Sua vitória, como um culto de ação de
graças que fazemos hoje. Ali escreveu uma cópia da lei de Moisés e a leu para todo o
povo.
O vale de Acor (Js 7: 24-26; Is 65: 10; Os 2: 25), na fronteira de Judá (Js 15: 7), é
provavelmente o Wadi Qelt, localizado 1,6 km ao sul de Jericó. No Wadi Qelt pode-se
ver hoje um monastério do Cristianismo Bizantino, chamado de Monastério de São
73
montanhosa de Efraim), que pertencia ao seu filho Finéias, levita, o qual ficou em seu
lugar.
Deus dos israelitas e, quando eles tomaram a terra dos amorreus (Basã e Hesbom),
todos os outros moradores de Canaã começaram a temer diante de Josué. É provável
que Raabe já tivesse tomado conhecimento do Deus de Israel antes que os judeus
cruzassem o Jordão. Como ela mesma disse, o povo de Jericó estava com medo; com
certeza, teve tempo de meditar e encontrou dentro de si a ousadia para mudar
completamente de vida. De qualquer forma, o Senhor a honrou, casando-a com um
descendente de Judá, o que faria dela uma ascendente de Davi. Como aprendizado
para nós, podemos dizer que quando temos a ousadia de tomar uma nova posição em
qualquer área das nossas vidas, Deus nos honra, nos traz os recursos e nos dá a vitória
para servirmos de testemunhos vivos do Seu poder.
5) Quando temos a marca do sangue de Jesus sobre nós, somos poupados da
destruição: o cordão escarlate que Raabe pendurou na janela foi outra forma de
manifestar a proteção de Deus sobre Seu povo, como fizera no Egito com o sangue do
cordeiro nas portas das casas, quando o Destruidor veio matando os primogênitos. É a
mesma maneira do Senhor nos proteger do inimigo, quando temos sobre nós a marca
do sangue do Seu Filho.
6) Mudar a mente pode ser o passo decisivo para tomarmos posse da bênção: passar o
Jordão simboliza separar a mente do homem da mente de Deus, ser limpo da lepra,
passar pelo divisor de águas. Quando o povo passou o Jordão, pôde se ver como
conquistador e vencedor, não mais como um escravo de outras nações; em outras
palavras, só tomou posse da terra, verdadeiramente, quando teve a certeza interior de
que já não era mais escravo, e sim uma nação livre pela mão de Deus. O interessante
aqui é que os sacerdotes foram uma peça chave no plano divino, pois foram os
primeiros a ter que mostrar ousadia e coragem para colocar os pés no rio carregando a
arca, crendo na Sua palavra que as águas se abririam assim que pisassem nelas. Eles
foram à frente do povo levando a presença de Deus, simbolizada pela arca da Aliança,
e esperaram que todos passassem para saírem do leito do rio. Por isso, o nosso
pensamento deve estar sempre em obediência ao Senhor, em constante renovação e
crescimento, para termos vitórias maiores.
7) Lembrar-se do autor da conquista: assim que deixaram o Jordão, as doze pedras
que ergueram no seu leito como memorial ao Senhor ficaram lá e nunca mais foram
retiradas, assim como as que foram trazidas para o acampamento também foram
erguidas em forma de coluna como um memorial a Deus pela Sua vitória. Quando
recebemos uma bênção em nossa vida, devemos nos lembrar de quem foi o
estrategista e o autor dela e proclamar Sua glória.
8) Quando algo cessa é porque estamos prontos para o novo de Deus: no dia seguinte
à Páscoa, o maná cessou e o povo comeu dos frutos de Canaã. Eles, agora, não
precisavam do suprimento escasso de Deus, pois tinham conquistado a terra da
abundância. Não precisavam mais do alimento velho, pois tinham algo novo para
desfrutar. Além disso, comemoraram a Páscoa, que simboliza escravatura e morte,
mas também liberdade e ressurreição. Eles enterraram o passado, morreram para o
antigo, abandonaram a escravidão e os velhos hábitos para poderem ressuscitar para o
novo, para a liberdade. Conosco acontece a mesma coisa: quando entregamos para
Deus o que é velho, nós podemos experimentar o Seu novo em nossa vida; o pouco
cessa para podermos desfrutar o muito.
9) Antes da derrota definitiva do inimigo, Deus se revela a nós com a estratégia
perfeita: o anjo do Senhor apareceu a Josué quando este estava aos pés de Jericó,
provavelmente só e à noite, escondido do adversário, tentando obter informações
sobre seus pontos fracos para poder encontrar estratégias de batalha. O anjo do Senhor
o supriu com as informações que necessitava para vencer. Quando estamos frente a
77
uma batalha decisiva, devemos nos colocar em oração buscando a orientação de Deus.
Nossas estratégias são espirituais, não carnais. O anjo do Senhor aqui (Js 5: 14) era,
provavelmente, o arcanjo Miguel, uma vez que na NIV, no lugar de ‘príncipe do
exército do Senhor’ (ARA), está escrito: “Venho na qualidade de comandante do
exército do Senhor”. Se não era Miguel, era, pelo menos, um anjo de guerra. Alguns
dizem ser o próprio Jesus, o verdadeiro comandante do exército de Deus, já que a
ARA tem como título: ‘Deus aparece a Josué’, e a expressão: ‘Descalça as sandálias
dos pés, porque o lugar em que estás é santo’ foi a mesma dita pelo Senhor a Moisés
na sarça. O texto diz: 13 Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis
que se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua;
chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversários? 14
Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do Senhor e acabo de chegar [“Venho
na qualidade de comandante do exército do Senhor” (NIV). Em hebraico está escrito:
“Chefe do exército do Senhor”]. Então, Josué se prostrou com o rosto em terra, e o
adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo? 15 Respondeu o príncipe do
exército do Senhor a Josué: Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que
estás é santo. E fez Josué assim.
10) Muitas vezes, é o nosso grito de fé na promessa de Deus que nos garante a vitória:
no sétimo dia rodeando Jericó, após a sétima volta, os israelitas gritaram e esse grito
simbólico de fé na promessa divina é que fez os muros ruírem. Muitas vezes, é um
grito de ‘glória a Deus’ dado no momento certo, ou um louvor ‘do fundo de nossa
alma’ que põe um fim à nossa guerra e nos dá a vitória. Provavelmente, os cidadãos
de Jericó estavam preparados para uma investida direta dos israelitas, mas não para
trombetas tocando solitariamente por seis dias à frente de um povo mudo e passivo;
também não estavam esperando que o povo gritasse de maneira desenfreada antes de
atacar. Isso os desconcertou e colocou o poder de Deus em ação, derrubando, Ele
mesmo, a fortaleza do inimigo.
11) Lembrar-se das primícias: na lei de Moisés, o povo era orientado a trazer ao Senhor
a oferta de primícias, ou seja, o que primeiro tinha frutificado da colheita, para
garantir a bênção de Deus para toda a safra. Assim, Jericó era como uma oferta de
primícias (oferta = corbam, em hebraico, qorbãn ou qrbh = ‘aquilo que é trazido para
perto’, ‘aproximar-se de Deus’; qorbãn é praticamente um termo genérico, enquanto
outros são usados especificamente para holocausto, oferta pelo pecado e pela culpa
etc.), por isso Ele tinha orientado o povo a não tocar no despojo. Isso mostrava Sua
soberania e garantiria Sua glória sobre a primeira vitória dos israelitas em Canaã. A
partir daí, eles não seriam mais derrotados.
12) Desobedecer a Deus e tocar no sagrado traz conseqüências sérias para muita
gente: Acã não só desobedeceu a Deus, mas gerou com esse pecado uma maldição
sobre a nação, pois foram derrotados em Ai e sua família toda ‘pagou o preço’ por
seus atos de rebeldia. Segundo a tradição judaica, Acã nasceu no meio do Mar
Vermelho, quando o povo saiu do Egito, e viu a morte dos seus pais no deserto pela
sentença de Deus. Talvez, isso tenha deixado uma mágoa em seu coração ou um
desejo desesperado de posse de bens para compensar a privação do deserto. Por isso,
provavelmente, tenha agido mais no impulso carnal do que pela razão; entretanto, esse
‘esquecimento’ em relação a Deus como o Primeiro em tudo lhe trouxe a maldição e a
morte. Acã significa: o que dá trabalho, perturbador, e deriva de Acor ou Acar, em
hebraico, derivado do verbo cãkhar = afligir, perturbar, causar transtorno, atribular.
Portanto, Acar (‘ãkhar) significa: homem da tribulação. O pecado gera maldição, que
compromete outras vidas.
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13) Deus não compactua com pecado: em Js 7: 12 está escrito: “Pelo que os filhos de
Israel não puderam resistir aos seus inimigos; viraram as costas diante deles porquanto
Israel se fizera condenado; já não serei convosco, se não eliminardes do vosso meio a
coisa roubada”. E no v.13a a bíblia diz: “Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai-
vos para amanhã, porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: Há coisas condenadas no
vosso meio, ó Israel”. Deus é santo e deseja que o sejamos. Obedecendo às Suas
ordens estaremos seguros e debaixo do Seu querer.
14) O mal precisa ser extirpado, pois afeta toda a comunidade: “Aquele que for achado
com a coisa condenada será queimado, ele e tudo quanto tiver, porquanto violou a
aliança do Senhor e fez loucura em Israel” (Js 7: 15). Para não desanimar as pessoas e
não ‘contaminar’ a mente dos outros com a rebeldia, o Senhor puniu fisicamente o
pecado de Acã para extirpar o mal do meio do Seu povo. Conosco, que vivemos
debaixo da graça, não da lei, confessar nossos pecados e nos cobrir com o sangue
perdoador de Jesus é a forma de extirparmos o mal da nossa alma para que outros ao
nosso redor não sejam afetados também. Precisamos mudar nossas atitudes.
15) A promessa de Deus permanece de pé, independente da nossa disposição interior: a
promessa da parte de Deus foi cumprida dando a eles toda a terra, mas da parte deles
foi deficiente; ao longo dos anos, eles desanimaram, deixando alguns antigos
moradores junto com eles, por isso, mais tarde, arcaram com as conseqüências do
erro, pois as advertências do Senhor dadas a Moisés e Josué se realizaram, tirando
deles a soberania e fazendo com que Deus, pela idolatria do Seu povo, os entregasse
nas mãos do inimigo. Portanto, quando Ele nos promete vitória total sobre a nossa
terra, não devemos fazer o trabalho pela metade, mas perseverar até que todo o antigo
morador seja extirpado. Dessa forma poderemos habitar seguros, sem o risco de um
‘contra-ataque’. Veja novamente em Js 11: 22; Js 15: 63; Js 16: 10; Js 17: 12; Jz 1: 21;
27-36.
16) O suprimento precisa ser total: quando Acsa pediu a Calebe um campo, ele lhe deu
terra seca, todavia, ela perseverou e lhe pediu as fontes de água. Então, ele lhe deu as
fontes superiores e as inferiores, ou seja, as fontes espirituais e materiais. Quando
tomamos posse da nossa terra, devemos pedir a Deus que Ele nos dê suprimento
abundante em todas as áreas, espiritual e material, as fontes do céu e da terra, para
podermos lavrar e semear nossa terra sem escassez.
17) O conquistador tem direito à porção dobrada de unção: Josué ‘pagou o preço’ e
venceu, por isso pôde habitar na terra que pediu. Timnate-Sera ou Timnate-Heres
significa: porção dobrada, porção do sol. Ele foi o ‘primogênito’ na terra, por isso
teve o direito à bênção do primogênito, a porção dobrada do pai, a unção dobrada da
luz (sol) do Senhor sobre sua vida.
79
Resumo:
O período dos juízes (Com início em 1375 AC) compreende o período depois que o
povo entrou em Canaã e depois que morreram Josué e todos os anciãos de Israel, que
viram todas as grandes obras de Deus no meio deles (Jz 2: 7-10; 16), e se estende por
um tempo de 325 anos, mais ou menos. A outra geração que se levantou depois de
Josué ter morrido não conhecia o Senhor, tampouco as obras que fizera a Israel. Fizeram
o que era mau perante o Senhor, pois serviram os baalins (plural de Baal = Senhor,
possuidor, marido; Astarote ou Aserá era sua consorte), que eram os deuses cananeus
cultuados em cada localidade da terra. Deus já tinha se desagradado do Seu povo por
não tê-la tomado toda, deixando os antigos moradores ficarem, pois conhecia o risco
que ele corria de aderir à idolatria. Por isso, o Anjo do Senhor veio e os advertiu (Jz 2:
1-5), entretanto, não mudaram de atitude. Assim, Ele os entregou nas mãos dos seus
inimigos e não puderam resistir a eles. Deus suscitou juízes que os livraram dos seus
adversários, mas quando o juiz falecia, eles reincidiam no pecado e voltavam à condição
anterior.
Juízes que julgaram Israel e suas tribos: Otniel (Judá – Jz 3: 7-11), Eúde (Benjamim
– Jz 3: 12-30), Sangar (tribo desconhecida – Jz 3: 31; Jz 5: 6), Débora (julgava em
Ramá de Efraim – Jz 4: 1-5; Jz 5: 7; 31), Gideão (Manassés – Jz 6:1-8), Abimeleque
(Filho de Gideão com uma concubina; na verdade ele se escolheu para juiz e foi morto –
Jz 8: 31; Jz 9: 22), Tola (Issacar – Jz 10:1-2), Jair (Gileadita da tribo de Manassés – Jz
10: 3-5; Gileade foi filho de Maquir, o primogênito de Manassés, filho de José – Js 17:
1), Jefté (Manassés – Jz 11: 1-2; Jz 12: 7), Ibsã (Da cidade de Belém, provavelmente em
Zebulom, pois Belém de Judá é normalmente conhecida como Belém Efrata – Jz 12: 8-
10), Elom (Zebulom – Jz 12:11-12), Abdom (Efraim – Jz 12: 13-15) e Sansão (Dã – Jz
13: 1-5; Jz 15: 20; Jz 16: 31). Entre a morte de Jair (por volta de 1110 AC) e o exercício
de Sansão houve um período de 40 anos, quando Israel foi entregue nas mãos dos
filisteus (Jz 13: 1) e o sacerdote Eli estava como líder do Senhor sobre Seu povo, e no
período em que o profeta Samuel foi criado pelo sacerdote e cresceu em estatura perante
o Senhor (1 Sm 4: 18). Sansão nasceu por volta de 1090 AC e julgou por 20 anos: 1075-
1055 AC. Samuel (De Efraim – 1 Sm 1–25) julgou concomitantemente com Sansão.
Samuel nasceu por volta de 1105 AC e já julgava em Mispa ou Silo como profeta.
Mispa estava situada entre Efraim e Benjamim. Na verdade, alguns historiadores vêem
Sangar não como um juiz, mas como um cananeu procedente da cidade de Bete-Anate
81
do Sul, ou Bete-Anote – ARA – cf. Js 15: 59), que venceu 600 filisteus e deu alívio
temporário aos israelitas, com uma aguilhada ou aguilhão de bois (Jz 3: 31), que tinha
uma ponta de metal afiada. Partindo desse raciocínio, então, Samuel foi o 12º juiz.
1) Mesmo vendo Seu povo em pecado, Deus não o abandona, mas procura meios de
resgatá-lo: podemos ver isso por toda a Palavra, sobretudo neste livro de juízes,
onde o Senhor atentava para a opressão do Seu povo e levantava líderes para libertá-
los. A bíblia diz: “Eu, o Senhor, não mudo”, por isso, até os dias de hoje, Deus
continua atento aos que são Seus, mesmo estando eles em caminhos errados,
esperando o momento certo de resgatá-los das veredas do erro e do pecado.
2) Uma única pessoa que esteja na presença de Deus pode estimular os outros que não
estão: Débora tomou, na verdade, uma iniciativa de avivamento naquela nação. Em
Jz 5: 7 está escrito: “eu me levantei por mãe em Israel” e em Jz 5: 12, onde está
escrito a palavra “desperta” (em português), no original está escrito: “Tu te
levantaste”, ou “Levanta-te, Débora”. Assim, ela se ofereceu como instrumento de
Deus. A partir da sua atitude, Baraque foi avivado e levou consigo todo o exército e
todo o povo para destronar seus opressores. Nós também devemos nos colocar como
instrumentos nas mãos do Senhor para que Seu plano de salvação se cumpra nas
vidas de uma forma geral, assim como Seu projeto individual se cumpra naqueles
que Ele deseja trazer para o Seu reino.
3) Nem sempre Deus escolhe os mais capacitados, mas os humildes e fracos, em quem
pode despertar ousadia e coragem para envergonhar os fortes. Baraque estava
tecnicamente mais capacitado que Jael, pois era comandante militar, entretanto, o
Senhor deixou que Jael, uma mulher aparentemente frágil, recebesse a honra por
derrotar o líder inimigo. Foi o próprio Deus que, provavelmente, infundiu em Jael a
coragem para tomar a decisão que tinha que tomar usando, talvez, sua vontade
interior de ver Sua justiça prevalecer sobre as marcas deixadas pelos anos de
opressão que experimentara nas mãos de Jabim. Nós podemos nos sentir
incapacitados para certas missões ou tomadas de posição, porém, quando
reconhecemos a mão de Deus sobre o projeto, adquirimos ousadia para seguir em
frente. O importante não é ter recursos e capacidades humanas, e sim estar na
dependência Dele.
84
4) Deus é Soberano sobre toda a criação: mais uma vez na história de Israel, Deus usa
as forças da natureza para livrar Seu povo. Ele pode usar o comum, como uma
chuva de pedras, ou o improvável, como abrir as águas do mar ou do rio, pois é o
soberano sobre todas as coisas. Ainda hoje, Ele é o mesmo e pode usar de todas as
maneiras para trazer Sua bênção às nossas vidas; dessa forma, a honra e a glória pela
vitória serão exclusivamente Suas.
5) Não deixar o inimigo se esconder em nossa casa e não colocar a fidelidade aos
homens acima da fidelidade a Deus: Jael, aparentemente, deixou o inimigo entrar na
tenda dela, mas não o deixou permanecer lá, ou seja, o inimigo das nossas almas
pode até tentar deixar sua marca, todavia, cabe a nós colocá-lo para fora da nossa
terra para não incorrermos no mesmo erro de Israel quando entrou em Canaã.
Mesmo porque se nos acostumarmos com o mal dentro de nós, não poderemos
mostrar ao mundo a luz de Jesus nem viver Sua santidade, o que nos afasta da
comunhão verdadeira com Ele. Jael tomou também outra decisão importante: ela
não colocou a obediência ao seu marido ou a Jabim acima da obediência a Deus,
pois embora Héber tenha feito pactos e acordos com os heveus e cananeus, talvez
por alguma compensação pessoal, ela decidiu obedecer à voz do Senhor em seu
coração e destruir o inimigo de Israel; provavelmente, se lembrou do parentesco
longínquo existente entre os queneus e os israelitas e do quanto as duas nações
foram beneficiadas por terem se unido no projeto do verdadeiro Deus (Moisés e seu
sogro Jetro, midianita). Nós não devemos colocar nossa fidelidade aos homens
acima da nossa fidelidade ao Senhor. Pedro e os demais apóstolos entenderam essa
verdade, por isso disseram: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens”
(At 5: 29).
6) Quando o povo de Deus deixa outros deuses reinarem no seu meio, a visão do todo
deixa de existir: aqui, podemos nos lembrar da reação das tribos em relação à
batalha. Umas aderiram e ajudaram, outras fugiram da luta, pois preferiram cuidar
de si mesmas. Nós podemos identificar muitos deuses neste texto de Juízes, como,
por exemplo: comodismo, doutrinas, egoísmo, idolatria, individualismo, conforto
material etc. Efraim e Manassés (filhos de José) ajudaram na batalha. Os
significados dos seus nomes são: ‘frutífero’ (Efraim) e ‘aquele que fez esquecer’
(Manassés) e Jacó exaltou o poder militar de José (sua bênção era profética sobre o
filho – Gn 49: 24). Benjamim também esteve ao lado de Débora e seu nome
significa ‘filho da minha mão direita’ (Gn 49: 27), o que, simbolicamente, fala de
lealdade e da disposição de ajudar. Naftali (Gn 49: 21) ajudou e seu nome significa
‘lutador’, característica necessária ao combate em Quisom. Zebulom (Gn 49: 13)
significa ‘exaltar’ e Débora exaltou sua coragem e sua capacidade de luta quando
fez seu cântico. Issacar também ajudou. Seu nome significa ‘trabalhador alugado’
(Gn 49: 14-15) e já estava acostumado com a posição de servo e carregador de
cargas. Talvez, as tribos de Judá e Simeão também ajudaram. Se olharmos, agora,
para os que não ajudaram, veremos uma característica em Rúben, descrita em Gn
49: 3 nas bênçãos de Jacó: altivez e poder que, provavelmente, causou disputa entre
os componentes da tribo, dificultando a ajuda aos irmãos. Em outras palavras, a
altivez do ego e a disputa de poder são deuses que competem com a diretriz divina
de interação e cooperação. Gileade era a terra ocupada pela tribo de Gade, a leste do
Jordão, fértil e apropriada para o gado. Gade significa ‘afortunado, boa sorte’. O
bem-estar de que esta tribo desfrutava, a abundância em que vivia, pode tê-la
desestimulado da guerra, mantendo-a no comodismo e no individualismo. Aser (Gn
49: 20) significa ‘feliz’ e a característica principal desta tribo era a prosperidade,
outro deus que pode ocupar o coração do povo do Senhor, fazendo-o se esquecer
85
dos menos favorecidos. Dã (Gn 49: 16-17) tem uma característica descrita por Jacó
parecida com a astúcia e a traição (serpente). Talvez por isso negasse ajuda quando
seus irmãos mais precisavam dela. Resumidamente: quando se goza de certo bem-
estar, mesmo sendo este bem-estar sustentado por um mau hábito, torna-se mais
difícil se identificar com os que sofrem. Por outro lado, aqueles que já estão mais
acostumados com a vida difícil ou com o trabalho árduo respondem mais
prontamente a um pedido de socorro, pois conheceram a necessidade por eles
mesmos.
7) A sabedoria de Deus gera respeito, confiabilidade e segurança: Débora tinha a
sabedoria de Deus, não a humana, por isso o que ela falava era acatado e
reconhecido como verdadeiro. Baraque confiou nela para subir ao Tabor com os dez
mil homens. Débora, como vimos, tem o significado hebraico de: “falar qualquer
coisa”. Na verdade, ela não falava qualquer coisa, ela falava com Deus e Ele era
com a boca de Débora. Ele lhe deu sabedoria para julgar e isso lhe garantiu o
respeito da nação. A sabedoria é um dom que concede à pessoa que a possui a
capacidade de agir da maneira correta e de usar os conhecimentos que tem da forma
acertada em qualquer situação.
8) Dar exemplo através das atitudes: o judeu dá muito valor ao significado do nome de
alguém, pois o nome não é só um título, mas descreve a personalidade real dessa
pessoa. Débora também significa abelha e, como uma abelha, ela agiu no meio de
Israel. Esse inseto vive em enxame, em uma comunidade com a qual se importa. Seu
trabalho produz coisas boas. A abelha trabalha fora da colméia para depois trazer o
fruto do seu trabalho para o bem da comunidade (pólen para produção de mel).
Débora, por estar na presença de Deus, foi um instrumento útil aos seus
compatriotas e o trabalho que desempenhou trouxe benefícios para todos, mesmo
para aqueles que se conservaram à margem do conflito. Ela soube usar o que tinha
de melhor com sabedoria e deu exemplo aos seus irmãos, avivou seu povo e o
lembrou da importância da união e do serviço.
9) Semelhança com Moisés e Miriã: à semelhança dos seus antepassados, que
ergueram um cântico ao Senhor após a vitória, Débora também entoou um cântico.
Naquela época o cântico era um recurso didático muito comum: ele contava uma
história, celebrava a vitória com a intenção de inspirar louvor e adoração a Deus,
reavivava a fé e o cuidado do Senhor por Seu povo e era um alívio para quem tinha
sofrido por tantos anos debaixo de jugo. Além disso, era uma forma de ensinar as
pessoas e deixar gravado na sua memória algo importante para as futuras gerações.
Débora deixou registrada a glória de Deus sobre Sísera e Jabim. Da mesma maneira
nós devemos fazer após uma vitória que o Senhor nos concede: agradecer e deixar
registradas, de alguma forma, a honra e a glória devidas a Ele.
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JUÍZES DE ISRAEL
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Resumo:
Débora julgou Israel por quarenta anos e, como sempre, o povo voltou a pecar
depois que ela deixou de liderá-los. Por isso, o Senhor entregou os filhos de Israel nas
mãos dos midianitas por sete anos. Os midianitas eram descendentes de Midiã
(‘contenda’), filho de Abraão com Quetura (Gn 25: 2), e viviam como seminômades,
habitando no deserto, nas fronteiras da Transjordânia com Moabe e Edom. Montavam
os camelos dos amalequitas, que eram nômades encontrados no Neguebe e no Sinai. Por
causa dos midianitas, os filhos de Israel abriam covas nos montes, se escondiam em
cavernas ou construíam fortificações para preservar um pouco da colheita pelo menos,
pois cada vez que semeavam os midianitas e os amalequitas vinham e destruíam tudo,
não só a plantação, mas também o rebanho e o gado. Assim, os israelitas ficavam sem
seu sustento. Eles clamaram ao Senhor.
“Então, veio o Anjo do Senhor, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra,
que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando trigo no lagar, para
o pôr a salvo dos midianitas” (Jz 6: 11). Abiezer era sobrinho de Gileade, filho de
Maquir, filho de Manassés, filho de José, filho de Jacó (1 Cr 7: 14-18). Portanto, era um
clã de Manassés e era o clã de Gideão, segundo ele o mais pobre. Sua sede era em Ofra,
a oeste do Jordão, onde se estabeleceu a segunda metade da tribo de Manassés. A
primeira metade dessa tribo tinha ficado dalém do Jordão, junto com Rúben e Gade,
quando os israelitas chegaram a Canaã. Manassés ocupou a região de Basã, Rúben a
Transjordânia e Gade, a região de Gileade.
Gideão (Gidhe‘ôn) significa: ‘lenhador, batedor’ (de trigo). O Anjo o chamou de
homem valente e disse que o Senhor era com ele e que o chamava para livrar Israel dos
midianitas. Gideão abriu seu coração e se queixou de sua condição, da pobreza de sua
família e do abandono de Deus. Mas o Anjo fortaleceu sua fé na vitória. Como um sinal
da veracidade do chamado, o Anjo consumiu com fogo o cabrito e os pães asmos que
Gideão trouxera para Ele como oferta. Gideão temeu o Senhor, pois O reconheceu no
Anjo, e ouviu Sua voz lhe falando de paz. Edificou ali um altar e o chamou de ‘o
Senhor é paz’ (YHWH Shalom). Naquela mesma noite, Deus lhe pediu que destruísse o
altar de Baal que era de seu pai, Joás, e derrubasse o poste-ídolo que estava junto a ele.
Ali ele deveria erguer outro altar, agora ao Senhor, e oferecer um boi como holocausto.
A família de Gideão misturava a adoração a Deus com a adoração a deuses falsos. Ele
sabia que tinha fracassado espiritualmente, por isso não queria aceitar a liderança que o
Senhor estava lhe dando; entretanto, justamente por ter consciência da sua incapacidade
é que Ele o estava usando. Deus via sua insegurança, mas também um líder corajoso.
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Então, Gideão, juntamente com dez dos seus servos, obedeceu às ordens, executando-o
à noite com medo dos cidadãos do lugar.
Quando descobriram o fato, foram a Joás tomar satisfação e ele lhes disse que se
Baal fosse deus que ele mesmo se defendesse. Por isso, Gideão foi chamado de
Jerubaal (yerubba‘al = Baal luta, Baal funda, que Baal dê o aumento, que Baal
contenda, Jz 6: 32). Em 2 Sm 11: 21 o nome é substituído por Jerubesete
(yerubbesheth), eliminando o abominável nome de Baal, e sendo incluída a palavra que
significa ‘vergonha’ (besete, hebr. besheth). Jerubesete significa: que a vergonha
contenda.
Como os midianitas e amalequitas se puseram contra ele, Gideão convocou também
toda a cidade e toda a tribo de Manassés, assim como a de Aser, Zebulom e Naftali para
que se encontrasse com ele. Gideão pediu novamente um sinal a Deus que confirmasse
Sua escolha a respeito dele como libertador de Israel e por duas vezes o Senhor lhe
respondeu (prova com a lã). Trinta e dois mil homens estavam com ele, mas para que
não se gloriassem em sua força, o Senhor lhe disse para mandar de volta para casa os
medrosos e tímidos. Assim, voltaram vinte e dois mil, ficando apenas dez mil com
Gideão. Para Deus ainda era povo demais e fez os homens descerem às águas da fonte
de Harode. Apenas os que lamberam a água levando a mão à boca foram escolhidos; os
que se ajoelharam foram dispensados. Ficaram então trezentos homens. No vale abaixo
deles estavam os midianitas. Antes de descer contra eles por ordem de Deus, desceu
Gideão com seu escudeiro para inspecionar o arraial do inimigo. Ouviu um deles
contando a outro soldado o sonho que tivera e que era, na verdade, a confirmação que
Gideão precisava para entender que o Senhor já estava lhe dando vitória. Desceu contra
eles com trombetas na mão direita e com cântaros com tochas acesas na esquerda. Era
noite. Ao quebrar os cântaros e soar as trombetas os inimigos se assustaram e, por
maneira milagrosa de Deus, mataram-se uns aos outros. Os restantes que fugiram foram
perseguidos pelos homens de Naftali, Aser e Manassés que foram convocados. Quando
Gideão convocou os homens de Efraim eles desceram contra os midianitas e mataram
dois príncipes deles, mas reclamaram com Gideão pelo fato de não terem sido chamados
antes quando o acampamento deles foi atacado. Efraim tinha um grande poder militar e
se sentiu desprezado por Gideão. Com diplomacia, ele os acalmou. Passou o Jordão
com os trezentos homens e pediu alimento aos cidadãos de Sucote; entretanto, eles lho
negaram. Os homens de Penuel (Peniel) fizeram o mesmo que os de Sucote. Todos os
que restaram dos midianitas eram quinze mil soldados liderados por Zeba e Salmuna
(Zalmuna). Os outros cento e vinte mil já tinham morrido. Gideão foi contra eles e os
destruiu, sendo que os dois príncipes fugiram. Gideão os alcançou e os prendeu.
Mostrou-os aos cidadãos de Sucote que lhe tinham negado ajuda e puniu com a morte
os setenta e sete anciãos responsáveis, usando chicotes feitos de espinhos do deserto e
abrolhos. Derrubou a torre de Penuel e matou os homens da cidade, pois também lhe
tinham negado auxílio com alimento para seu exército. Executou Zeba e Zalmuna por
terem matado seus irmãos (sua família de origem) em Tabor, entretanto, tomou para si
os ornamentos em forma de meia-lua que estavam no pescoço dos seus camelos.
Gideão se recusou a ser rei sobre Israel; disse que o Senhor os dominaria, não ele
nem seu filho (Jéter, o primogênito). Pediu ao povo as argolas de ouro do despojo dos
ismaelitas no peso de mil e setecentos siclos de ouro (1 siclo = 11, 5 g, portanto,
dezenove quilos, quinhentos e cinqüenta gramas), além dos ornamentos e vestes dos reis
midianitas e dos ornamentos dos camelos. Com o metal, fez uma estola sacerdotal (que
normalmente era usada apenas pelo sumo sacerdote) e a pôs na sua cidade, em Ofra.
Isso foi mau aos olhos do Senhor, pois para o povo se tornou objeto de idolatria, sendo
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um laço a Gideão e à sua casa. Ele transformou aquilo num culto pagão. Nos dias de
Gideão (1162–1122 AC), a terra ficou em paz por quarenta anos.
Ele tinha setenta filhos, pois possuía muitas mulheres. Sua concubina lhe deu um
filho, que foi chamado Abimeleque (“Meu pai é rei”), que mais tarde se tornou também
juiz de Israel matando sessenta e oito dos seus irmãos para ficar com o poder. Apenas
Jotão (69º) escapou e lançou maldição sobre Abimeleque pelo seu pecado de traição. A
maldição se cumpriu e este foi morto por uma pedra na cabeça e pela espada do seu
escudeiro ao tentar entrar em Tebes. Tebes (Jz 9: 50) é a Moderna cidade de Tubas,
situada a 20,9 km ao norte de Siquém. O nome da cidade, ‘Tubas’, é derivado da
palavra Cananita ‘Tuba Syoys’, que significa ‘estrela iluminada’.
Gideão faleceu com idade avançada e foi sepultado em Ofra.
1) Deus ouve o clamor dos aflitos e dos oprimidos: sempre que Seu povo esteve sob
jugo e sempre que se arrependeu dos seus pecados e clamou ao Senhor, Ele o
atendeu e o livrou das mãos do inimigo. Nesta passagem, Ele agiu enviando o Seu
Anjo e lhes dando um libertador. Conosco é a mesma coisa. Quando nos sentimos
sozinhos, abandonados e oprimidos, por causa de pecado ou não, podemos ter a
certeza de que seremos ouvidos e Ele nos enviará socorro e livramento. Deus não só
nos envia socorro como fortalece em nós a coragem. Ele chamou Gideão de homem
valente numa situação em que a coragem parecia ser a última qualidade nele.
2) Deus não vê as aparências, mas o interior: a insegurança gerada pelo pecado e
pelas circunstâncias à sua volta estava estampada na atitude de Gideão, mas Deus
via nele um líder corajoso. Gideão estava com a auto-estima baixa e não conseguia
se ver com bons olhos, porém, o Senhor já estava enxergando o que seria realizado
por meio dele. Ele mesmo colocaria no coração do Seu escolhido a ousadia
necessária para liderar. Quando nos sentimos incapazes de realizar a missão que o
Senhor nos coloca nas mãos, Ele nos mostra que nos vê com bons olhos. Ele não
leva em conta as nossas fraquezas; Ele vê a força do Seu Espírito agindo em nós e
aprimora as qualidades positivas da nossa personalidade para nos trazer vitória.
3) Deus não deixa dúvidas em relação ao Seu chamado nem às Suas revelações: a paz
se instala no nosso coração como um sinal de que estamos fazendo a escolha certa.
Quando o Anjo falou com Gideão debaixo do carvalho de Ofra, consumiu o
holocausto com fogo para dar a ele a certeza do Seu chamado e da revelação que
tinha lhe dado. Por isso, Gideão sentiu paz e ergueu um altar ao Senhor, chamando-
o: “o Senhor é paz”. Quando respondemos ao chamado de Deus para nós, sentimos
Sua paz em nosso coração e Ele não deixa nenhuma dúvida quanto àquilo que nos
revelou. Quando Ele fala, temos a certeza que foi Ele que falou, não o nosso
coração.
4) Deus não compactua com a idolatria nem divide Sua glória com outros; Ele não
aceita adoração dividida: a primeira providência que o Senhor tomou antes de
dirigir Gideão à batalha foi deixar bem claro a ele quem era o Deus a quem ele
servia, orientando-o a destruir os falsos altares. Assim, Deus fechava a brecha
deixada pelo pecado dos seus antepassados para que ele pudesse sair ileso e
fortalecido da luta. Além disso, deixava bem claro aos olhos de todos que Ele,
YHWH, o EU SOU, era o Deus da vitória, não Baal.
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podemos ter certeza da vitória e seguir com segurança as estratégias que Ele nos dá,
por mais absurdas que possam parecer. A sabedoria de Deus, diz a bíblia, é loucura
para os homens.
11) Um bom líder não deixa seus liderados humilhados: mesmo dispensando os
medrosos da batalha mais difícil, Gideão fez com que se sentissem importantes e
participantes da vitória, ao fazê-los perseguir os midianitas quando estavam fugindo,
pois puderam se sentir úteis apesar das suas fraquezas anteriores. Por isso, não
devemos desprezar os mais fracos, mas incentivá-los a usar o que têm de positivo
para se sentirem participantes da vitória. Cada um vai servir a Deus com o que tem,
não com o que não tem. A Palavra diz: “Porque, se há boa vontade, será aceita
conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem” (2 Co 8: 12).
12) Existe conseqüência na traição: os cidadãos de Sucote e de Penuel preferiram
manter boas relações com os midianitas por medo das retaliações e negaram ajuda
aos seus próprios irmãos. Eles acharam que Gideão não tinha chance alguma de
vencer e escolheram ficar do lado mais forte. Resolveram ficar do lado do inimigo e
isso era traição. O resultado foi a morte, pois Gideão voltou vitorioso e os matou.
Da mesma forma, quando traímos a confiança de Deus ou dos nossos irmãos em
Cristo poderemos sofrer as conseqüências do nosso pecado de traição e covardia,
que é nos sentirmos afastados da comunhão com Seu Espírito.
13) As heranças familiares precisam ser totalmente extirpadas: Gideão, por um ato de
humildade, se recusou a governar sobre o povo, dizendo que só Deus poderia
governar sobre ele, mas cometeu em seguida um erro grave que foi um laço à sua
vida: fez a estola de ouro como um altar de adoração; isso foi um ato de idolatria.
Gideão ainda não tinha sido tratado totalmente da idolatria e da insegurança no seu
relacionamento com o Senhor; não conseguiu se libertar dos sinais visíveis que
pedia, nem dos costumes da falsa adoração ou da mistura de deuses que aprendera
com seu pai. Esse costume familiar ainda estava nele. Por isso, para servirmos a
Deus de uma maneira sincera e verdadeira devemos procurar extirpar os velhos
costumes da nossa natureza, mudando totalmente nossa maneira de pensar e agir.
Em Cristo somos novas criaturas.
14) Querer reinar pelas próprias forças, sem a bênção de Deus leva à punição:
Abimeleque não tinha sido escolhido por Deus para juiz sobre Israel. Ele matou seus
irmãos; não levou em conta os atos positivos de Gideão, seu pai, e ainda foi punido
pelo Senhor por ter ‘usurpado um trono’ que não era seu. O que conseguimos pelas
nossas forças, nós podemos perder, mas o que Deus nos dá, nós não perdemos mais,
pois é decorrente de Sua bênção.
92
Resumo:
ombreiras e a tranca, levando-a para Hebrom. Essa foi uma das maiores humilhações
que os filisteus poderiam sofrer, pois a porta da cidade era símbolo do poder nacional.
Pela quarta vez, Sansão violou os votos de Nazireado ao se apaixonar por Dalila,
mulher filistéia que morava no vale de Soreque, perto de Timna. Os príncipes dos
filisteus a persuadiram a fazer com que Sansão lhe contasse o segredo de sua força. Por
três vezes ele a enganou e os inimigos não puderam pegá-lo, até que ele lhe falou sobre
seu voto de Nazireado (Jz 16: 17) e sobre a força que estava ligada ao comprimento do
seu cabelo. Com isso, ela o traiu recebendo mil e cem siclos de prata (aproximadamente
doze quilos, seiscentos e cinqüenta gramas) de cada príncipe dos filisteus. Eles vazaram
os olhos de Sansão e o colocaram para virar um moinho no cárcere. Seu cabelo
começou a crescer de novo e, durante este período, teve tempo também de deixar vir o
arrependimento ao seu coração.
Os príncipes dos filisteus se reuniram para oferecer um grande sacrifício ao seu
deus Dagom e para se alegrarem pela vitória sobre Israel por prenderem Sansão. Este
foi chamado do cárcere para diverti-los. Três mil homens e mulheres estavam no templo
de Dagom. Sansão clamou ao Senhor para que pela última vez lhe desse força para se
vingar dos filisteus. O Senhor lho concedeu e ele, se agarrando às duas colunas que
sustentavam a casa, a derrubou, matando os filisteus que lá estavam e morrendo também
com eles. Foi sepultado no sepulcro de Manoá, seu pai.
1) Como já foi falado sobre as proibições pertinentes ao voto de Nazireado, Deus nos
orienta a nos abster das paixões da carne, estar debaixo do domínio do Seu Espírito
e não tocar mais naquilo que não nos traz mais vida, ou seja, no pecado e no que já
ficou para trás.
2) Deus pode tornar fértil aquilo que era estéril quando tem um grande projeto a ser
cumprido: a esposa de Manoá não foi a primeira mulher estéril na bíblia a conceber
depois da visitação do Senhor. Ele tinha um projeto para a vida deles através de
Sansão, por isso transformou a maldição em bênção fazendo a mulher gerar um filho
que, desde o ventre já seria consagrado a Deus. Há uma semelhança muito grande
entre o caso de Sansão e sua mãe e o caso de Samuel e João Batista, que foram
Nazireus por voto vitalício e nasceram de mulheres estéreis transformadas em férteis
pelo Senhor: Ana e Isabel. Da mesma forma na nossa vida, quando Ele tem um
grande projeto, pode transformar algo que aparentemente estava seco e sem vida em
algo frutífero para que o Seu poder seja manifestado.
3) O que Deus projeta para nossa vida sempre é luz: Sansão significa: pequeno sol e,
pela maneira milagrosa como foi gerado, por ser sua mãe estéril, foi um projeto
ousado de Deus para livrar Seu povo do cativeiro, pois tinha pecado novamente e
feito o que era mau aos Seus olhos. Sansão foi projetado por Deus para ser uma
pequena luz para aquela geração. Da mesma forma, o apóstolo João fala sobre João
Batista em Jo 1: 6-9: “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João.
Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos
virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da
luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem”. Paulo
fala em alguma das suas epístolas que nós, que somos da luz, devemos andar como
filhos da luz (Ef 5: 8). Jesus também disse que nós somos a luz do mundo (Mt 5: 14-
16) e que as nossas boas obras devem ser vistas pelos homens para que glorifiquem
95
ao Pai que está no céu. Por isso, quando Deus nos escolhe e nos chama para sermos
Seus, passamos a ser pequenos sóis para que o mundo o conheça.
4) Levar a sério a escolha e o compromisso com Deus: Sansão sabia de sua separação
desde o ventre materno como Nazireu e, provavelmente, foi criado na disciplina do
Nazireado como tinha sido orientado a Manoá. Entretanto, não levou a sério aqueles
votos e por quatro vezes deixou sua carne ser levada por suas paixões; abandonou o
compromisso com o Senhor, o que lhe custou a visão e a vida, pois o Espírito de
Deus tinha se retirado dele. Ao desvendar o seu segredo para Dalila, ele rompeu
completamente seu voto e sua aliança e o Senhor o abandonou (Jz 16: 4-20). Isso
quer dizer que romper o relacionamento com Deus acarreta perda de força, pois a
chama do Espírito vai se apagando, enquanto a carne prevalece. Isso é uma escolha
consciente, um exercício do nosso livre-arbítrio. Pode ser que, em alguns casos, por
esgotamento espiritual depois de uma luta muito prolongada, a sensibilidade
espiritual fique temporariamente embotada, como aconteceu com Elias depois que
destruiu os profetas de Baal e se confrontou com Acabe, e até pode parecer que o
Espírito de Deus tenha se retirado; entretanto, no caso de Sansão, sua fraqueza
humana sobrepujou o compromisso do seu espírito. Podemos tirar, também, outra
conclusão das experiências de Sansão, no caso da luta com o leão novo que veio ao
seu encontro: na bíblia, leão significa: poder, liderança, além da manifestação de
poderes ou influências sobre nós. Ele tinha se envolvido com uma mulher não
israelita, o que era mau para Deus. Relegou a Sua orientação e a orientação dada
pelos pais, a fim de obedecer às suas próprias paixões, o que o deixou suscetível a
influências, como vimos a partir da sua festa de casamento. Embora esta fraqueza
tenha sido permitida pelo Senhor para realizar Seus planos contra os filisteus, o que
podemos perceber é que as paixões carnais tornam o homem sujeito às más
influências e, se ele não reagir e destruí-las, não conseguirá se livrar delas. Sansão
destruiu o leão pelo poder do Espírito sobre ele. É o poder de Deus que destrói
nossos inimigos.
5) Quando Deus destrói o que nos era prejudicial, podemos desfrutar de Sua
abundância: Sansão destruiu o leão e pôde comer o mel. Assim, quando passamos
por uma luta, mas conseguimos sair vitoriosos, podemos saborear o gosto da nossa
recompensa. Aquilo que parecia invencível e destrutivo já não existe e Deus coloca
Sua bênção no lugar.
6) Se esconder no coração de Deus: Etã significa: firme, fortaleza, lugar de feras.
Depois que Sansão destruiu a seara dos filisteus com as raposas e se vingou deles
por terem matado sua esposa e seu sogro, se refugiou na fenda de uma rocha em Etã.
Quer dizer que após uma luta, quando precisamos refazer nossas forças, ou quando
pecamos e precisamos de perdão, devemos buscar o abrigo no Senhor. É no coração
de Deus que encontramos não só o perdão que precisamos, mas a proteção contra os
que querem nos destruir.
7) Quando clamamos, Ele nos responde: podemos ver uma ação semelhante de Deus
suprindo Sansão, quando o dessedentou fazendo jorrar água da rocha em En-
Hacoré. A Rocha em nossa vida é Jesus, e Seu Espírito é a água que mata nossa
sede, nos fazendo recobrar alento e nos enchendo de vida. Sansão clamou e Deus o
ouviu e o socorreu.
8) O arrependimento nos coloca novamente debaixo da proteção do Senhor, como
aconteceu quando o cabelo de Sansão começou a crescer novamente e ele pôde, pela
última vez, se vingar dos filisteus. Não teve vitória por causa do cabelo, mas,
provavelmente, porque sem a visão física que lhe acarretava concupiscência, teve
96
tempo para olhar para dentro de si e se arrepender do seu pecado. Aí, Deus o cobriu
novamente com Seu manto e com Sua força.
97
Resumo:
O tempo dos Juízes foi uma época bastante conturbada para o povo judeu. Josué já
havia morrido e as gerações posteriores não conheceram o Senhor nem as obras que Ele
fizera a favor de Israel (Jz 2: 10; 16-19). Nessa época em que a fome material e
espiritual reinava é que Noemi (meu deleite, deleitosa, ditosa, amável, formosa) e
Elimeleque (Meu Deus é rei) se mudaram para Moabe com seus filhos, Quiliom e
Malom.
Moabe era o nome da terra do descendente de Ló (Gn 19: 37), de seu
relacionamento incestuoso com a filha mais velha. Moabe significa: desejo, família de
um pai. Era irmão de Ben-Ami ou Amom, descendente do incesto de Ló com a filha
mais nova e significa: filho de meu povo (Ben-Ami) e artesão (Amom). Eram, portanto,
povos aparentados com Israel. O casamento entre Moabitas e judeus não era proibido
pelo Senhor; apenas, os Moabitas e amonitas eram proibidos de entrar no tabernáculo
(Dt 23: 3-4), não propriamente pelo pecado de incesto dos seus ancestrais, mas porque
alugaram Balaão para amaldiçoar os israelitas (Nm 22: 1-6).
Quiliom (definhamento; ansiedade; consumpção – como numa doença debilitante;
ruína acabada) se casou com Orfa, moabita, cujo nome significa: vigor juvenil, entre
outros (pescoço, juba, gazela); aparentemente alguém que compensaria seu espírito
definhado e arruinado. Malom (adoentado, franzino, doença) se casou com Rute
(amiga, companheira, fiel, vistosa). Após a morte de Elimeleque, Quiliom e Malom,
Noemi resolveu voltar para Belém de Judá. Orfa era fiel, mas sua fidelidade era apenas
humana, portanto, no meio do caminho cedeu às insistências de Noemi e voltou a
Moabe, àquilo que ela conhecia. Rute, ao contrário, seguiu Noemi. Chegando a Belém,
porém, Noemi trouxe uma marca de amargura em seu coração (Rt 1: 20-22): “Porém ela
lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem
dado o Todo-Poderoso. Ditosa eu parti, porém o Senhor me fez voltar pobre; por que,
pois, me chamareis Noemi, visto que o Senhor se manifestou contra mim e o Todo-
Poderoso me tem afligido? Assim, voltou Noemi da terra de Moabe, com Rute, sua
nora, a moabita; e chegaram a Belém no princípio da sega de cevada”. Ela trouxe essa
amargura pelas circunstâncias extremamente contrárias e cheias de roubo, perda,
desolação e opressão espiritual que a envolveram em terra estranha impedindo-a de
manter sua característica original de feliz, ditosa e venturosa.
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respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, pois tu és
resgatador”. A transliteração hebraica é: “vayyo'mer miy-'âttvatto'mer 'ânokhiy Ruth
'amâthekha uphârastâ khenâphekha `al-'amâthkhakiy gho’êl 'âttâh”. Goel (gho’êl) é um
termo hebraico que vem do verbo ga’al (‘redimir’), portanto, gho’êl significa
resgatador, o que na bíblia e na tradição rabínica denota uma pessoa que, como parente
mais próximo de outra, está encarregado do dever de restaurar seus direitos e vingá-la
dos danos causados a ela. Outros nomes usados para o resgatador são: ‘parente redentor’
e ‘vingador’. Assim, quando ela diz: “Estende a tua capa sobre a tua serva, pois tu és
resgatador” (Rt 3: 9 b), ela quer dizer: “Estende as tuas asas” ou “Toma-me sob tua asa
de proteção”, mostrando-nos também a força que tem um compromisso de casamento
para um judeu. A mulher recebe a proteção do homem e ele a recebe como um bem
precioso, não no sentido pejorativo de posse de um objeto material apenas, como se
interpreta hoje. Um se torna um complemento para o outro. Boaz declara que ele está
disposto a redimi-la através do casamento, mas informa a ela que há outro parente do
sexo masculino que tem o primeiro direito de resgate. Ele também usou o mesmo termo
anteriormente, quando disse que Rute confiava em Deus ao buscar refúgio sob suas asas
(Rt 2: 12) ou manto. Espiritualmente, manto significa: unção, proteção, cobertura do
sangue da aliança sobre nossa vida. É aquele momento de decisão em que vamos
ocupar lugares espiritualmente mais altos, em que precisamos de uma maior proteção,
uma unção maior e capacitação do Espírito Santo. Talvez esse casamento esteja se
referindo ao batismo no Espírito Santo ou a um derramar maior Dele.
Boaz não decepcionou Rute; pelo contrário, tomou o seu manto e o encheu com
suprimentos e a mandou de volta à cidade. Ao voltar para casa e contar para Noemi, sua
incentivadora no projeto, ela recebeu a confirmação da determinação e do caráter
perseverante de Boaz (Rt 3: 18: “Então, lhe disse Noemi: Espera, minha filha, até que
saibas em que darão as coisas, porque aquele homem não descansará, enquanto não se
resolver este caso ainda hoje”).
Na verdade, o casamento deveria ser com Noemi, não com Rute, pois ela era a viúva
de Elimeleque e a terra era dela (Rt 4: 3: “Disse ao resgatador: Aquela parte da terra que
foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos Moabitas, a tem para
venda”), mas Noemi já não tinha possibilidade de ter filhos para suscitar descendência;
portanto, coube a Rute ocupar o lugar de matriarca da família. Deus a abençoou e ela,
que era estéril, gerou um filho que daria continuidade à linhagem dos resgatadores na
família, além do que foi um meio de restaurar a alegria a Noemi e tirar a amargura do
seu coração, pois ela se viu restituída e justificada. O nome do bebê foi Obede que tem
vários significados: servo de Deus, adorador e Ele restaurou. Através do crescimento e
do testemunho de Rute, Noemi foi novamente restaurada e curada.
escasso e detido por alguns sacerdotes apenas, mas o povo não tinha acesso a ele e
vivia na idolatria. Quando o suprimento físico e material faltam, principalmente na
área da alimentação, é óbvio o quadro de desnutrição protéico-calórica que se
instala, inclusive afetando o aprendizado e a inteligência. Mas quando o suprimento
de fé, paz, amor e compreensão faltam pela escassez e pelo desconhecimento da
palavra de Deus, as conseqüências emocionais e espirituais podem ser trágicas,
deformando o caráter, matando os sonhos, dificultando os relacionamentos sadios,
destruindo a família e gerando todo o tipo de deformação da personalidade que abre
brechas espirituais para a assolação e a destruição. Só o amor verdadeiro poderá
trazer cura, libertação e resgate.
2) A maldição impede o relacionamento com Deus: aqui eu me refiro aos Moabitas.
Note bem que o Senhor não os proibiu de entrar no Seu santuário, ou seja, em Sua
presença, pelo pecado da carne deles, mas por terem amaldiçoado o povo que Ele
tinha abençoado. Isto significa que todas as vezes que amaldiçoamos os ungidos e
os escolhidos de Deus somos impedidos por esse nosso pecado de entrar em Sua
presença. Então, nos sentimos afastados e tristes, pois não podemos gozar de Sua
bênção sobre nós. Essa comunhão só pode ser restaurada quando reconhecemos
nosso pecado e pedimos perdão ao Senhor; a partir daí, nossa responsabilidade passa
a ser a de quebrar com a nossa própria boca as maldições por nós proferidas.
3) Quando falta o suprimento espiritual verdadeiro e os relacionamentos são
insatisfatórios, doentes ou pecaminosos, os resultados são: morte, esterilidade,
assolação, privação e perda de sonhos; o crescimento é impedido pelas prisões e
cadeias do diabo. Quiliom se casou com Orfa, moabita, cujo nome significa: vigor
juvenil, entre outros; aparentemente, alguém que compensaria seu espírito
‘definhado e arruinado’. Malom (adoentado) se casou com Rute que, nos dez anos
em que viveu com Malom, não teve filhos, o que nos leva a pensar que era estéril
(Rt 1: 4; Rt 4: 10), embora não se possa descartar a possibilidade da esterilidade ser
de Malom, pois o ‘adoentado’ era ele. Com certeza, o contato constante com uma
pessoa adoentada, estéril e pessimista deve tê-la afetado também ou, na melhor das
hipóteses, deve tê-la feito meditar na sua própria vida e nas suas circunstâncias para
levá-la, mais tarde, a tomar a decisão de conhecer o verdadeiro Deus, o Deus de
Noemi, se ver livre dessa contaminação e ter uma nova chance de ser feliz.
4) Fidelidade, lealdade e aliança na carne: Orfa era fiel, mas sua fidelidade era apenas
humana, portanto, voltou a Moabe, àquilo que ela conhecia. Quem é fiel apenas à
carne, mas não tem aliança no espírito, em outras palavras, quem só ama com o
amor humano tem ponte com o passado e fica com a alma comprometida com
aquilo de onde foi tirada.
5) Aliança espiritual: Rute, ao contrário de Orfa, fez com Noemi e com o Deus de
Noemi uma aliança espiritual e sua declaração em Rt 1: 16-17 foi uma verdadeira
conversão, pois deixou a velha vida, sua família e arriscou uma nova história e uma
nova família: “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a
não seguir-te; porque, aonde quer que fores irei eu e, onde quer que pousares, ali
pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que
morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe
aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti”. Portanto, tomou a
decisão e não voltou atrás. Ficou firme e destruiu a ponte com o passado. É assim
que acontece com quem tem verdadeira aliança espiritual com Jesus.
6) Deus tem um objetivo para nós e um prêmio pela nossa fidelidade: respigar era uma
maneira zombeteira de expressar dependência da provisão divina. Rute estava,
literalmente, vivendo pela fé. Rebuscava as espigas e as ajuntava entre as gavelas,
101
nome dado ao feixe de espigas. Ela era uma simples ‘catadora de canto’, mas a
providência divina já a tinha colocado no campo de Boaz, o resgatador de Noemi.
Boaz, como vimos, significa: força, firmeza e é a figura de Jesus. Ele não a queria
como uma ‘catadora de canto’, mas como ‘a dona do campo’. Assim, quando
obedecemos às Suas orientações, Ele tem um prêmio pela nossa fidelidade e nos
coloca em posição de ‘cabeça’.
7) Temos um resgatador: o resgatador era um parente não tão distante, influente, a
quem a família podia em geral recorrer quando a sua linhagem ou os seus bens
corressem o risco de ser perdidos. Cristo é o nosso parente próximo que nos veio
comprar de volta para a família de Deus. No NT, este conceito se revela nos vários
sinônimos de resgatar, que transmite a idéia de pagar um resgate, fazer uma
aquisição ou reaver o que se perdeu. Nós, os gentios, ao sermos enxertados na
árvore genealógica de Jesus através da nossa conversão, passamos a tê-lo como
nosso resgatador.
8) Há um tempo para a cura: após sua conversão, Rute estava passando por uma cura
através do Espírito, fortalecendo-a para ocupar o lugar que Deus já tinha
determinado para ela e preparando-a para assumir uma aliança com o resgatador.
Vejo também que, todo o tempo em que rebuscou espigas, Rute foi trabalhada e
liberta do espírito de pobreza e miséria, da idolatria e das distorções da sua auto-
imagem, que poderiam impedi-la de assumir sua posição de honra naquela
sociedade. A bíblia não conta os detalhes emocionais que aconteceram na vida de
Rute nesse tempo de adaptação, mas podemos imaginar pelo nosso próprio
crescimento com Deus, que não foi fácil esquecer e mudar os hábitos de origem,
lidar com suas heranças familiares e espirituais e deixar para trás as lembranças
ruins da velha vida. Da mesma forma, quando nos entregamos a Jesus, Ele começa
um processo de cura, restauração e resgate em nossas vidas, nos fazendo pensar,
sentir, agir e falar de uma maneira diferente daquela que tínhamos no mundo.
Somos agora novas criaturas.
9) Quando buscamos a Deus com sinceridade, Ele não nos decepciona: Em Rt 3: 7-8;
13-14, a bíblia fala que Rute se deitou aos pés de Boaz, o que significava um pedido
cerimonial de casamento e lhe pediu que estendesse a capa sobre ela.
Espiritualmente, manto significa: unção, proteção, cobertura do sangue da aliança
sobre nossa vida. É aquele momento de decisão em que vamos ocupar lugares
espiritualmente mais altos, quando precisamos de uma proteção, de uma unção e de
uma capacitação maior do Espírito Santo. Talvez, esse casamento esteja se referindo
ao batismo no Espírito Santo ou a um derramar maior Dele. Boaz não decepcionou
Rute; pelo contrário, tomou o seu manto e o encheu com suprimentos e a mandou de
volta à cidade. É o que Jesus faz por nós, quando, pela fé, assumimos o
compromisso com Ele e Lhe pedimos ajuda. Ele não só nos confirma Sua promessa
como nos aumenta a unção, pois vencemos mais um desafio para chegar até Ele e
até a nossa bênção. Vejo algo além de um pedido de casamento ou proteção no fato
de Rute se deitar aos pés de Boaz; vejo submissão e entrega à sua vontade, pois ela e
Noemi sabiam que havia um resgatador mais próximo que poderia ocupar o lugar de
Boaz nas negociações (Rt 4: 1-10), mas resolveram confiar nele e em Deus. Esse
resgatador, figuradamente, é o pecado que tenta nos prender de volta nas suas
tramas, nossas heranças familiares que tentam nos trazer de volta à origem; em
resumo, tudo o que tenta nos manter presos a Satanás e à lei ao invés da graça.
10) Deus não descansa até terminar Sua obra em nós: quando fazemos nossos pedidos
a Jesus e Lhe confiamos nossa causa, Ele não descansa até que Seu trabalho em nós
se complete para recebermos o que nos pertence (Rt 3: 18: “Então, lhe disse Noemi:
102
Espera, minha filha, até que saibas em que darão as coisas, porque aquele homem
não descansará, enquanto não se resolver este caso ainda hoje”). Também trabalha
nas circunstâncias ao nosso redor para que o mais breve possível tudo possa estar
clareado, pois viu em nós fé e determinação.
11) Ele a tudo restaura e transforma: o nome do bebê foi Obede, que tem vários
significados: servo de Deus, adorador e Ele restaurou. Em outras palavras, quando
entregamos nossa vida para Jesus e buscamos uma mudança real de vida, aquilo que
era estéril se torna fértil, o que é amargo se torna doce, o que era assolação e
fracasso se transforma em realização e o que era escasso e insuficiente se transforma
em abundância. Rute, de ‘catadora de canto’ se transformou na ‘dona do campo’,
porque se casou com seu proprietário. Ao casarmos emocional e espiritualmente
com Jesus, toda a Sua seara, todo o Seu reino, passam a ser nossos por herança.
Muito provavelmente, o sonho de Rute era ser feliz, ter uma nova família e ser mãe,
ser restituída, honrada e amada, ser acolhida na sociedade mesmo sendo estrangeira,
em resumo, fazer parte do grupo. O sonho do nosso coração pode ser: ter filhos,
biológicos ou espirituais, a realização profissional ou ministerial ou nos sentirmos
um ser humano útil a Deus e à sociedade, sermos aceitos e amados, termos de volta
o que perdemos ou termos aquilo que nunca tivemos. Quando isso é conquistado
com a ajuda de Jesus, acontece o que aconteceu com Rute: geramos um Obede, ou
seja, nós e nosso sonho passamos a ser servos de Deus, instrumentos de Deus aqui
na terra, por isso podemos ser verdadeiros adoradores porque Ele nos restaurou.
12) Em nós existe uma Rute e uma Noemi: não há lugar para a amargura (Mara – Rt 1:
20) e para a frustração quando a bênção de Deus chega plena e completa sobre
nossas vidas. Também o inverso é verdadeiro; não podemos ter uma bênção grande
de Deus com amargura e frustração no coração. Por isso, o enfoque da história foi
sobre Rute, pois através do seu crescimento e do seu testemunho Noemi foi
restaurada e curada. É interessante perceber que dentro de nós podemos ter uma
Rute e uma Noemi; Noemi, uma velha criatura (nossa carne) que foi privada de
amor, alimento, compreensão, luz de Deus, de uma vida mais leve e que foi
assolada, destituída, enviuvada, frustrada e que acabou por se amargurar. E
podemos, também, ter uma nova criatura dentro de nós, uma Rute, o nosso espírito,
que decidiu nascer de novo, fazer a vontade de Deus e ter força para recuperar o que
foi perdido. É com o nosso espírito que Jesus faz aliança, e através dele, nossa
carne, nossa Noemi, passa ser mudada e curada das feridas do passado.
103
Resumo:
Um homem de Efraim chamado Elcana (hebr. Elkaná, Deus consolou) tinha duas
mulheres: Ana (Hannâ, cheia de graça) e Penina (coral). Penina tinha filhos; Ana, não.
Elcana era de linhagem levítica, mas não pertencia à linhagem de Anrão (1 Cr 6: 18; 27;
33-38), pois descendia do irmão deste: Isar. A bíblia escreve em 1 Sm 1: 1 a linhagem e
a origem de Elcana com a genealogia Levítica descrita acima no livro de Crônicas.
Elcana era filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efraimita. Em 1 Cr
6: 34-35, o nome Eliel pode se referir à mesma pessoa de 1 Sm 1: 1 (Eliú); Toú em 1
Sm 1: 1 pode ser a mesma pessoa que Toá (1 Cr 6: 34); Zufe (1 Sm 1: 1) é confirmado
em 1 Cr 6: 35. Zufe, provavelmente, era um levita que habitava na terra de Efraim.
Elcana morava na região montanhosa de Efraim, na cidade de Ramataim-Zofim,
conhecida também como Ramá, a cidade de Samuel (1 Sm 7: 17). Havia em Israel mais
duas cidades chamadas Ramá: uma em Benjamim (Js 18: 25), outra em Naftali (Js 19:
36).
Quando Elcana, uma vez por ano, em Siló, oferecia seu sacrifício ao Senhor, dava
porções deste a Penina, a Ana e a seus filhos. Porém, dava a Ana porção dobrada porque
a amava. Ana era estéril e Penina a provocava até irritá-la; assim Ana chorava e não
comia. Elcana procurava consolá-la, tentava suprir com seu amor a necessidade que Ana
tinha de ter filhos. No templo em Siló, Ana orou ao Senhor e chorou abundantemente
derramando perante Ele sua alma e fez um voto de que se Ele lhe desse um filho homem
ela o consagraria a Deus como Nazireu por toda a sua vida. Ana se demorou na
presença do Senhor e o sacerdote Eli (hebr. = Meu Deus; aramaico = altura) viu que ela
movia os lábios, mas não saía deles som algum e achou que estava embriagada. Ana lhe
contou sua aflição e ele a despediu em paz, abençoando-a e desejando que Deus lhe
concedesse o que pedira.
Ana voltou sem tristeza para sua casa em Ramá. Ela concebeu e teve um filho a
quem chamou Samuel, pois dizia: Do Senhor o pedi. Samuel (Shemü’el, ‘nome de
Deus’, ‘pedido de Deus’, ‘ouvido por Deus’) nasceu por volta de 1105 AC.
Um ano após ter orado no templo pedindo um filho, Ana não subiu junto com
Elcana para oferecer seu sacrifício anual, mas disse ao marido que, quando o menino
fosse desmamado, com mais ou menos dois anos de idade, ela o levaria para ser
apresentado ao Senhor e para lá ficar para sempre. Depois do desmame ela o levou a
Eli, o sacerdote, e ali o deixou. Ana entoou um cântico de louvor e exaltação a Deus e
voltou a Ramá.
Os filhos de Eli, Hofni (‘pugilista’ ou ‘pertencente ao punho’) e Finéias (‘negro’)
eram homens pervertidos, indignos (“filhos de Belial” – Belial na bíblia pode se referir
104
1) Jesus nos dá porção dobrada: Elcana é a figura de Jesus e, como amava Ana, dava-
lhe porção dupla de alimento para compensá-la por sua aflição. Assim, somos
escolhidos e amados do Senhor e Ele sempre tem para nós a porção dobrada das
Suas bênçãos para nos consolar na nossa aflição e na nossa carência.
2) Ceder às provocações do inimigo tira a nossa força e nos faz rejeitar a graça de
Deus: as provocações de Penina irritavam Ana e esta chorava e não comia. Ela
rejeitava o consolo e o suprimento de Elcana porque dava atenção à sua rival; suas
lágrimas embaçavam seus olhos e sua tristeza impedia de receber alimento e força
para lutar. Da mesma forma, quando deixamos o adversário tirar nossa paz e nossa
comunhão com Deus, não conseguimos usufruir o Seu melhor, pois nossa visão
espiritual fica embaçada, da mesma forma que o choro nos tolda a visão física.
3) Perseverar no pedido e derramar o coração perante Deus traz solução: a bíblia fala
que Ana se demorou na presença do Senhor, orando, o que chamou a atenção de Eli.
Mesmo enfraquecida pelas provocações que ouvia, Ana derramou a amargura de sua
alma diante do altar, se demorou ali, buscando a solução definitiva para seus
problemas no trono de Deus. Por isso, voltou para casa justificada e satisfeita. A
bíblia fala que seu semblante já não era triste. Nós devemos perseverar no nosso
caminho, não abrindo mão dos nossos pedidos (sonhos), mesmo que tenhamos que
chorar nossa aflição e nossa amargura diante do Senhor. O importante é crer que
Nele está a solução para o que buscamos e Ele nos ouve.
4) Quando Deus é o autor do milagre, a honra é totalmente Sua: Deus foi o autor do
milagre na vida de Ana, portanto, ela Lhe deu ‘as primícias’ da sua bênção, que foi
Samuel. Este foi consagrado ao Senhor como Nazireu por toda a vida. Podemos ver
uma semelhança com mais duas situações onde o filho teve consagração de
Nazireado vitalício: Sansão, cuja mãe foi resgatada da esterilidade, e João Batista,
pois Isabel também era estéril. Nas três situações de impossibilidade humana
(esterilidade), Deus fez o milagre e Lhe foi tributada a honra por isso; os filhos
representaram as ofertas de primícias que Lhe foram dadas.
5) Deus consola aqueles que o buscam e honram: o Senhor conhecia o coração de
Elcana e Ana e, como foi honrado por eles no seu voto, Ele os consolou dando-lhes
aquilo que mais desejavam. Quando o colocamos em primeiro lugar em nossa vida,
Ele nos consola, manifestando a Sua promessa.
6) Quando fazemos um voto devemos cumpri-lo e as primícias para Deus nos
garantem novos frutos: o voto de Ana foi totalmente cumprido, por isso o Senhor a
abençoou muito mais. Ela não só cumpriu o voto em si, mas Lhe deu o que primeiro
frutificou em sua vida, por isso foi abençoada com novos filhos e filhas. Sua
fidelidade não só gerou bênçãos para si, mas para a sua descendência, pois por seu
intermédio Samuel foi também abençoado. Nossa fidelidade a Deus é preciosa e
uma porta para que Sua abundância esteja sobre nós e não cesse mais.
7) Quando servimos ao Senhor de coração Sua unção vai aumentando: Samuel servia
ao Senhor no templo e a cada ano Ana Lhe trazia uma túnica nova; isso significa
que, a cada ano, Deus acrescentava ao Seu escolhido mais unção, mais
conhecimento Dele e mais intimidade com Ele. Se formos constantes na nossa busca
e no nosso crescimento espiritual, Deus nos honra aumentando a cada dia a unção
do Seu Espírito, pois através Dele, poderemos ter mais intimidade e mais
conhecimento da verdade. Assim, Ele nos capacita com poder para realizarmos o
Seu propósito aqui na terra.
106
Resumo:
Quando Samuel estava velho e constituiu seus filhos juízes sobre Israel, o povo viu
que o procedimento deles não era digno, portanto, pediu um rei que os governasse.
Samuel orou a Deus e Ele concedeu o desejo do povo, orientando-o a ungir Saul
(shã’ül, pedido, suplicado, desejado, implorado), benjamita, filho de Quis (qïsh, arco,
poder). Saul tinha um porte majestoso e a aparência de um rei. Naquele momento, Saul
estava em busca das jumentas do pai que tinham se extraviado. Ele e seus servos
chegaram à terra de Zufe, onde Samuel estava com o povo para oferecer sacrifícios no
alto (nos lugares altos como, por exemplo, os montes). Convidou Saul para jantar com
eles e lhe deu uma porção especial; no dia seguinte o ungiu (1 Sm 10: 1) secretamente
como rei sobre Israel. Comunicou a ele que não se preocupasse mais com as jumentas
do pai, pois tinham sido achadas. Depois, em Mispa, (1 Sm 10: 17-25) Saul foi ungido
publicamente, num episódio singular onde, por meio de sortes, o povo ficou sabendo da
escolha de Deus sobre seu rei que, porém, foi achado escondido no meio da bagagem.
Saul confirmou sua eleição como rei vencendo Naás, rei dos amonitas em Jabes-
Gileade. Naás fizera um acordo de paz bem cruel com os israelitas, prometendo vazar o
olho direito dos cidadãos que, por sua vez, pediram auxílio a Saul. Ele venceu os
inimigos e ficou confirmado como rei sobre eles. Uma cerimônia religiosa em Gilgal
confirmou sua nomeação como monarca (1 Sm 11: 14-15).
Durante os anos que se seguiram à sua nomeação, Saul agiu como um guerreiro
destruindo os inimigos de Israel, mas na batalha contra os filisteus, vendo que Samuel
demorava a chegar e o povo começava a desistir de lutar, ofereceu sacrifício sacerdotal
em Gilgal sem ser sacerdote, ou seja, tomou para si os ofícios de sacerdote sem sê-lo.
Quando Samuel chegou, repreendeu-o severamente (1 Sm 13: 8-14) e lhe falou que
tinha sido rejeitado por Deus como rei. Saul soube que, na mente do Senhor, já havia
um homem segundo o Seu coração para substituí-lo. Jônatas, filho de Saul, iniciou o
ataque contra o acampamento dos filisteus, e assim os israelitas puderam derrotá-los.
Durante seu reinado houve forte guerra contra os filisteus. Deus, novamente, enviou
Samuel ao rei lhe comunicando que entregaria Amaleque em suas mãos (1 Sm 15: 1-
35), mas que tanto o rei como toda a nação amalequita deveriam ser destruídos; nada
deveria ficar deles, pois o Senhor já os tinha amaldiçoado. Saul desobedeceu às ordens
de Deus e poupou seu rei, Agague, e parte do gado. Foi novamente repreendido por
Samuel, que lhe disse que a obediência era melhor para Deus do que sacrifícios e
108
holocaustos e que, por causa dessa segunda desobediência às orientações divinas, Ele o
destituiria do seu cargo, dando-o a outro. Assim, Samuel cortou suas relações com Saul,
pois o Senhor o rejeitara.
O profeta foi instruído por Ele a ir a Belém para ungir um filho de Jessé, pois ali
seria escolhido o sucessor de Saul. Samuel chegou a Belém e os habitantes se
perturbaram com tão ilustre visita. Ele lhes disse que tinha vindo para sacrificar ao
Senhor. Chegou à casa de Jessé e, depois de ter passado por ele seus sete filhos sem,
entretanto, nenhum deles ser escolhido por Deus, ele chamou o último que estava
pastoreando suas ovelhas. Seu nome era Davi (Dãwidh ou Dãwïdh tem raiz e
significados duvidosos; talvez como Dawïdum, chefe, do babilônico antigo. A raiz
hebraica ‘dod’ ou ‘dud’ significa ‘amor’). O significado mais conhecido por todos (“O
amado de Deus”), possivelmente é uma descrição do papel de Davi como escolhido do
Senhor para líder do Seu povo (como Seu amado, que fez toda a Sua vontade), ao invés
do significado propriamente dito do seu nome. Em 1 Sam. 16: 12-13 está escrito:
“Então, mandou chamá-lo e fê-lo entrar. Ele era ruivo, de belos olhos e boa aparência.
Disse o Senhor: Levanta-te e unge-o, pois este é ele. Tomou Samuel o chifre do azeite, e
o ungiu no meio dos seus irmãos; e daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se
apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá”. ‘Ruivo’ (em hebraico,
admoni, )אדמוניnão significava exatamente a cor dos seus cabelos. Em hebraico,
significa: ‘avermelhado’, ‘corado’ (sadio). Talvez, isso possa se referir à destreza física
dele; portanto, a melhor tradução poderia ser: ‘coberto de sangue’ ou ‘guerreiro’. No
AT, apenas Davi e Esaú receberam essa qualificação (‘ruivo’). Isso significa que era
corajoso, acreditava no bem, na justiça de Deus sobre sua vida e era sincero,
transparente e de coração puro. Em hebraico, a locução ‘se apoderou’ ou ‘se apossou’
significa ‘apressou-se sobre’, ou seja, o Espírito de Deus veio rapidamente sobre ele.
Então disse o Senhor: “Levanta-te e unge-o, pois este é ele”. Samuel tomou do chifre de
azeite e o ungiu perante seus irmãos e voltou para Ramá.
Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte Deste um espírito maligno
o atormentava. Seus servos lhe sugeriram que se buscasse um homem que soubesse
tocar harpa para que, ao tocá-la, quando o espírito imundo viesse, ele saísse da presença
do rei. Então, um dos servos, conhecendo Davi e sabendo que louvava ao Senhor com
toda a sua alma, sugeriu que o trouxessem a Saul. Davi ficou perante o rei (a tradução
original sugere que “estar perante” não significava permanecer eternamente ali, mas
“estar a serviço de alguém”) e, sempre que era chamado, tocava para ele para acalmá-
lo. Os filisteus não desistiam de guerrear contra Israel e, um dia, saiu do seu arraial um
guerreiro que, por quarenta dias, pela manhã e à tarde, gritava para o exército de Saul,
desafiando Israel. Em 1 Sm 17: 4-10; 16 está escrito: “Então, saiu do arraial dos filisteus
um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados (1
côvado = 45 cm) e um palmo (20 cm). Trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia
uma couraça de escamas cujo peso era de cinco mil siclos de bronze (1 siclo = 11, 5
gramas). Trazia caneleiras de bronze nas pernas e um dardo de bronze entre os ombros.
A haste de sua lança era como o eixo do tecelão [NVI, “era como uma lançadeira de
tecelão”], e a ponta da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o
escudeiro. Parou, clamou às tropas de Israel e disse-lhes: Para que saís, formando-vos
em linha de batalha? Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul? Escolhei dentre vós um
homem que desça contra mim. Se ele puder pelejar comigo e me ferir, seremos vossos
servos; porém, se eu o vencer e o ferir, então, sereis nossos servos e nos servireis. Disse
mais o filisteu: Hoje, afronto as tropas de Israel. Dai-me um homem, para que ambos
pelejemos... Chegava-se, pois o filisteu pela manhã e à tarde; e apresentou-se por
quarenta dias”.
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Assim, Golias tinha a altura de dois metros e noventa centímetros, sua lança pesava
sete quilos e duzentos gramas, e sua armadura, cerca de sessenta quilos. Olhando pelos
olhos humanos, portanto, era impossível que um garoto o vencesse, mas Davi aceitou o
desafio, sabendo que o prêmio para quem o derrotasse seria a mão da filha do rei por
esposa e a isenção de impostos para toda a casa de seu pai. Chegou-se a Saul e se
apresentou como guerreiro para lutar contra o filisteu. Saul viu diante de si apenas um
menino que não tinha, aparentemente, condições de lutar contra um soldado
experimentado como Golias e lhe ofereceu sua armadura. Em 1 Sm 17: 39-40; 50 nós
podemos ler: “Davi cingiu a espada sobre a armadura e experimentou andar, pois jamais
a havia usado; então, disse Davi a Saul: não posso andar com isto, pois nunca o usei. E
Davi tirou aquilo de sobre si. Tomou o seu cajado na mão, e escolheu para si cinco
pedras lisas do ribeiro, e as pôs no seu alforje de pastor, que trazia, a saber, no surrão; e,
lançando mão da sua funda, foi-se chegando ao filisteu... assim, prevaleceu Davi contra
o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e o feriu, e o matou; porém não havia
espada na mão de Davi”. Davi tomou a espada do gigante e com ela lhe cortou a cabeça,
levando-a a Saul. Davi foi de encontro a Golias com a simplicidade e a fé da entrega a
Deus, não com a armadura de Saul nem com espada. Também foi com a autoridade
(cajado) e a reverência a Ele, pois se incomodou com a afronta do gigante ao povo do
Senhor. Assim, vencendo o inimigo da nação, foi nomeado escudeiro de Saul. Ele se
transformou num herói nacional. Quando Israel voltava da vitória sobre os filisteus, pois
depois de derrotado o gigante os israelitas perseguiram os inimigos e os venceram, as
mulheres cantaram e engrandeceram os atos heróicos de Davi, o que gerou ciúmes no
coração de Saul. Em contrapartida, Jônatas (yehônãthân ou yônãthân, YHWH nos deu,
dádiva de Deus, YHWH tem dado), filho de Saul, amou Davi assim que o viu e fizeram
uma aliança. Passaram a ser bons amigos.
Todas as vezes que o espírito maligno se apossava de Saul, Davi tocava sua harpa e
o espírito se retirava. Numa dessas crises de raiva, Saul tentou encravar Davi na parede
com uma lança e este se desviou dele por duas vezes (1 Sm 18: 11). Saul não via Davi
com bons olhos, pois o ciúme e a inveja tinham se apossado dele. Então, planejou uma
nova maneira de matá-lo. Como tinha prometido a mão de sua filha àquele que vencesse
o gigante, pediu como dote cem prepúcios dos filisteus; dessa forma, se Davi morresse
pelas mãos do inimigo, Saul não seria responsável direto (1 Sm 18: 21). A primeira filha
de Saul se chamava Merabe, mas acabou se casando com outro, e Mical foi dada a Davi
(1 Sm 18: 17; 21; 25). Entretanto, Davi saiu vitorioso e trouxe a Saul duzentos
prepúcios dos filisteus, o dobro do que tinha pedido (1 Sm 18: 27). As vitórias de Davi
começaram a engrandecê-lo perante o povo e, novamente, houve batalha contra os
filisteus. Eles foram derrotados pelo ungido do Senhor mais uma vez e, à noite, quando
o espírito maligno se apossou de Saul estando Davi tangendo sua harpa para acalmá-lo,
o rei tentou encravá-lo na parede com sua lança. Davi fugiu para sua casa e quando Saul
enviou guardas para prendê-lo, já não o encontraram lá porque Mical (mïkhal = quem é
como Deus), segunda filha de Saul e esposa de Davi, o havia ajudado a escapar do pai.
Mais tarde, Saul deu Mical para Palti (Paltiel) como esposa (1 Sm 25: 44): “porque Saul
tinha dado sua filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim”.
Quando Davi se tornou rei, ele a mandou buscar de volta para ele (2 Sm 3: 14-16):
“Também enviou Davi mensageiros a Is-Bosete filho de Saul, dizendo: Dá-me de volta
minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus. Então, Is-Bosete
mandou tirá-la a seu marido, a Paltiel, filho de Laís. Seu marido a acompanhou,
caminhando e chorando após ela, até Baurim. Disse Abner: Vai-te, volta. E ele voltou”.
A partir daí, Davi tornou-se um fugitivo. O primeiro lugar onde se refugiou foi com
Samuel, na casa dos profetas, na província de Ramá (1 Sm 19: 18- 24). Saul enviou três
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delegações para poder resgatar Davi das mãos do homem de Deus, mas as três foram
tomadas pelo espírito de profecia. Quando ele, em pessoa, também foi até lá, começou a
profetizar como os outros.
Davi pediu ajuda a Jônatas e, depois, fugiu para Nobe, para o sacerdote Aimeleque.
Estava com fome e conseguiu do sacerdote que comesse os pães da proposição que
estava no Lugar Santo, onde só os levitas poderiam entrar. Tomou a espada de Golias
que estava com Aimeleque e tornou a fugir. Quando Saul soube, matou o sacerdote e
seus filhos. O único deles a escapar foi Abiatar, que mais tarde veio a ser sacerdote de
Davi (1 Sm 22: 20-23; 2 Sm 8: 17; 2 Sm 20: 25; 1 Cr 18: 16).
Procurando um lugar seguro, longe de Saul, Davi se refugiou na terra dos filisteus,
pois sabia que seria o último lugar que Saul iria procurá-lo. Fez-se de louco para que o
rei Aquis não o matasse e, expulso dali pelo próprio rei, dirigiu-se para a caverna de
Adulão. Ali já havia quatrocentos homens com ele e a sua própria família. Podemos ver
que a princípio era uma coleção heterogênea de fugitivos; posteriormente, uma força
armada que atacava invasores estrangeiros, protegia as colheitas e rebanhos das
comunidades israelitas das fronteiras e que vivia da generosidade das mesmas. O
Senhor estava treinando Davi para ser rei, não só capacitando-o na guerra, mas
trabalhando interiormente a alma dele. Não ficou muito tempo ali; passou a se refugiar
no bosque de Herete, depois em Queila, no deserto de Zife, em Horesa, passando a En-
Gedi, depois ao deserto de Parã (ou Maom, o que é o mais correto, e ficava nas terras
altas da tribo de Judá – Js 15: 55; 1 Cr 4: 41; 1 Sm 23: 24. No texto Massorético foi
escrito erroneamente ‘deserto de Parã’, pois Parã (Hc 3: 3) é um deserto situado na
região centro-oriental da península do Sinai, a nordeste do Monte Sinai e a sudoeste de
Cades, com a Arabá e o Golfo de Aqaba em sua fronteira oriental), até que se refugiou
na terra dos filisteus, Gate (aqui já tinha seiscentos homens consigo: 1 Sm 23: 13; 1 Sm
27: 2). En-Gedi (‘en-gedhï, ‘fonte da cabra’) é uma fonte de água fresca a oeste do Mar
Morto, na terra de Judá. A fertilidade dessa área, em meio a uma região tão estéril,
tornava-a local ideal para os fora-da-lei, para encontrar alimento e como lugar de
esconderijo, por isso Davi foi para lá (1 Sm 23: 29; 1 Sm 24: 1-3). Seu antigo nome era
Hazazom-Tamar, ‘fendas das palmeiras’ (Gn 14: 7; 2 Cr 20: 2), porque era banhada por
uma quente e constante corrente, e foi outrora célebre pelas suas palmeiras e vinhas (Ct
1: 14).
Este é um resumo da rota de fuga de Davi, que durou anos até Saul morrer e ele
poder substituí-lo no trono de Israel. Voltando à atividade que Davi realizava para o seu
povo, protegendo-o dos inimigos, houve um episódio relatado em 1 Sm 25: 2-44,
quando se deparou com um rico criador de ovelhas, chamado Nabal (louco,
desvairado), no deserto de Maom. Este se recusou a reconhecer sua dívida de gratidão
para como ungido de Deus. A esposa de Nabal, Abigail, interveio a favor de Davi; o
Senhor matou seu louco marido e ela passou a ser mulher de Davi.
Logo após ter deixado Adulão, Davi livrou a Queila, entretanto, seus habitantes o
traíram denunciando-o a Saul. Foi quando Davi se mudou para o deserto de Zife. Ali, os
zifitas revelaram ao rei seu esconderijo (1 Sm 23: 19-29) e Saul foi ao seu encontro,
apenas se livrando, de última hora, quando o rei ficou sabendo de outro ataque dos
filisteus, tendo que deixar sua perseguição para depois. Num prazo de alguns anos que
se seguiram, Davi poupou por duas vezes a vida de Saul, na primeira, chegando a cortar
a orla da túnica do rei (1 Sm 24: 4) e na segunda, removendo a lança e a bilha de água
no acampamento daquele (1 Sm 26: 11). Houve um período de tempo entre os dois
episódios, nos mostrando diferentes traços na personalidade de Davi. No primeiro, ele
foi respeitoso; no segundo, desafiador, pois já estava cansado das perseguições insanas
de Saul.
111
Davi voltou a se refugiar na terra dos filisteus, na corte de Aquis, em Gate. Este o
permitiu residir em Ziclague (1 Sm 27: 1-12); mesmo servindo a um filisteu, Davi ainda
ajudava os israelitas atacando os que os hostilizavam. Obteve a confiança de Aquis, mas
não dos seus comandantes. Quando eles planejaram um grande ataque contra Israel,
objetaram quanto à presença de Davi nas suas fileiras, pois temiam que, de última hora,
ele se bandeasse para o lado de Saul (1 Sm 29: 1-11). Então, ele retornou a Ziclague,
que havia sido pilhada pelos amalequitas. Atacou o inimigo e retomou tudo o que era
seu e destruiu os assaltantes. Foi quando teve notícia da morte de Saul e Jônatas pelos
filisteus no Monte Gilboa. Por orientação de Deus, voltou a Judá, a Hebrom, e ali sua
tribo o ungiu rei sobre Judá, onde reinou por sete anos e meio. Nos dois primeiros anos
do seu reinado em Hebrom, houve guerra civil quando Abner, comandante do exército
de Saul, ungiu o descendente deste, Isbosete (‘Homem da vergonha’ ou ‘Homem de
Baal’; também chamado Esbaal – ‘fogo de Baal’ – ou Isvi – ‘igual’) como rei em
Maanaim (2 Sm 2: 8). Joabe, comandante militar de Davi assassinou Abner por ter
matado seu irmão Asael em combate. Isbosete morreu nas mãos de dois homens de
Israel, que foram executados por Davi.
Depois dessa vitória, foi ungido rei sobre as doze tribos em Hebrom. Davi começou
a reinar com 30 anos de idade e reinou 7 anos em Hebrom (2 Sm 5: 4-5; 1 Cr 29: 27-
28). Depois, transferiu sua capital para Jerusalém (Jebus), tomando-a das mãos dos
jebuseus. Ali, reinou por trinta e três anos (2 Sm 5: 6-10; 1 Cr 11: 1-9). Deu início a um
programa de reconstrução do reino, auxiliado por Hirão, rei de Tiro (2 Sm 5: 10-12).
Davi prosseguiu em suas campanhas militares de conquista da terra de Israel e teve
vitórias sobre muitos povos (cananeus, moabitas, amonitas, arameus e siros,
amalequitas e edomitas) expandindo, assim, o reino.
Ele se preocupou também com a restauração da vida religiosa. Ordenou que a arca
da Aliança fosse trazida da casa de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, onde estava há mais
ou menos vinte anos, desde os tempos de Samuel (1 Sm 7: 1) para Jerusalém (2 Sm 6:
1-11). Entretanto, procurou trazê-la da maneira errada, sobre um carro de bois e, quando
alguém tocou nela tentando impedir que caísse ao chão, o Senhor interveio e matou o
homem (Uzá). Davi ficou com medo da ira do Senhor e deixou a arca por três meses na
casa de Obede-Edom, o geteu, tornando a buscá-la, trazendo-a para Jerusalém. Desta
vez, ele o fez da maneira correta, carregada pelos levitas, e teve sucesso (2 Sm 6: 12-
23), mas, ao chegar dançando à sua cidade, Mical o desprezou por achar que sua atitude
não era digna de um rei. Davi, por sua vez, a repreendeu e continuou seu plano de
governo, pensando na edificação de um templo onde a arca da Aliança pudesse ficar no
meio do seu povo. Todavia, Natã, o profeta, lhe disse que isso estaria reservado para o
seu filho (2 Sm 7: 1-29).
Davi também honrou seu pacto com Jônatas procurando Mefibosete (‘vergonha
destruidora’; ‘beseth’ ou ‘besheth’ significa ‘vergonha’. Outra tradução para
‘Mefibosete’ é ‘Aquele que tirou minha vergonha’), seu único filho sobrevivente e lhe
restaurou as propriedades da família, tratando-o como um dos seus filhos (2 Sm 9: 1-
13). Por este tempo, as lutas no reino já tinham diminuído e Davi já não ia à batalha
com seu exército. Num desses dias, viu pela janela do seu palácio uma mulher chamada
Bate-Seba, esposa de um dos seus fiéis oficiais, Urias, o heteu, e se agradou dela.
Trouxe-a para o palácio e teve relações com ela. Como Joabe, seu comandante estava
realizando o cerco sobre Rabá e Urias estava também participando da luta, Davi viu que
havia um único meio de ficar com Bate-Seba: colocar Urias na frente de batalha para
que fosse morto. Conseguiu seu intento e se casou com Bate-Seba; também foi vitorioso
sobre Rabá e seus cidadãos amonitas acabaram sendo sujeitos a trabalhos forçados.
Natã, o profeta, repreendeu Davi pelo seu pecado e lhe disse que Deus o perdoava, mas
112
mataria o filho dessa união pecaminosa; além disso, da parte de Deus, lhe foi feita uma
profecia que, por causa daquele ato infame, a espada não se apartaria de sua casa (2 Sm
12: 7-12, com enfoque no v. 10). Realmente, o filho morreu e o pecado de Davi veio a
gerar desordens familiares que se estenderam às futuras gerações: Amnom, seu filho,
cometeu pecado de incesto com Tamar, sua meia-irmã, também filha de Davi; e o outro
filho, Absalão, para compensar o primeiro crime, cometeu mais um que foi matar
Amnom. Depois disso, fugiu e não pôde comparecer à presença de Davi por muito
tempo, até que foi readmitido na corte. Entretanto, a semente da revolta e da rebeldia
existia no seu coração e se rebelou contra o próprio pai para tirar dele o reino. Com a
revolta de Absalão, Davi fugiu; Joabe matou Absalão e o reino foi restituído a Davi.
Nesse processo todo, Aitofel, um dos conselheiros de confiança do rei se voltou para
Absalão, mas ciente da sua traição, cometeu suicídio. Outro conselheiro, Husai,
permaneceu fiel a Davi. Mais uma conseqüência daquele pecado foi a disputa entre
Adonias e Salomão pelo trono. Com a maldição se estendendo por várias gerações, a
casa de Judá foi quase exterminada no reinado de Atalia, sendo preservado um único
neto dela: Joás.
Depois de pouco tempo da revolta de Absalão, o rei teve que abafar outra revolta no
reino, dessa vez por parte de Seba, benjamita, mas que foi decapitado por alguns dos
seus próprios seguidores (2 Sm 20: 1-26).
Um dos últimos atos no reinado de Davi foi o levantamento do censo por ele
decretado para saber sobre sua força militar. Ficou sabendo que tinha com ele oitocentos
mil homens no seu exército, mas o Senhor não se agradou dessa atitude e lhe apresentou
três alternativas como punição: três anos de fome, três meses de derrota pelos seus
inimigos ou três dias de peste na terra; Davi se entregou à escolha de Deus (1 Cr 21: 11-
13). A peste foi enviada por três dias sobre o povo e Davi, se arrependendo, pediu
perdão ao Senhor e levantou um altar na eira de Araúna (Ornã), no mesmo lugar onde
Abraão tinha oferecido Isaque em sacrifício (Moriá). Ali, mais tarde, foi construído o
templo por Salomão (2 Cr 3: 1), que foi o primeiro filho de Bate-Seba, depois que o
‘filho do pecado’ morreu e Davi a consolou.
No final de seus dias, estando já velho, teve que se envolver na luta entre Salomão e
Adonias pela sucessão do trono. Isso ainda era o legado do derramamento de sangue
dentro do próprio seio da família predito por Natã.
Davi morreu e Salomão reinou em seu lugar. Adonias, seu outro filho, foi morto no
início do reinado de Salomão por Benaia, chefe da guarda pessoal de Davi.
1) Diferença entre dom e herança: seria outra maneira de dizer que existe diferença
entre carne e espírito, entre buscar a bênção e buscar o abençoador. Aqui, vemos o
perfil psicológico e espiritual de três homens: Saul, Davi e Absalão. Deus deu dons
espirituais a Saul, mas como ele não era segundo o coração de Deus, não pôde ter a
herança divina, ou seja, conhecer o Senhor e ter tudo o que Ele tinha para lhe dar.
Não teve a aprovação de Deus sobre sua vida até o fim. Saul lutava na carne, vivia
na carne e, apesar do derramar do Espírito Santo capacitando-o para reinar, ele não
cresceu espiritualmente porque não se entregou ao Senhor como fez Davi. Tinha
pouco contato com Deus. Houve uma grande diferença na escolha divina com Saul e
Davi. Saul foi como que ungido de última hora para satisfazer aos rogos do povo,
por isso não teve tempo de ser treinado pelo Senhor. Não tinha mentalidade para ser
113
rei: escondeu-se no meio da bagagem para não ser achado nem assumir a
responsabilidade de rei. Como todos os que andam na carne, Saul andava atrás de
coisas velhas, empacadas, não passíveis de mudança (jumentas); apenas sabia ser
guerreiro, obedecendo aos seus instintos, não às ordens de Deus (não esperou por
Samuel, ofereceu sacrifício sem ser sacerdote e não destruiu completamente os
amalequitas como o Senhor havia determinado). Não controlava as emoções e era
capaz de matar alguém, como no caso de Davi, simplesmente, porque não o
agradava ou porque sentia ciúmes ou inveja do seu sucesso, como muitas pessoas,
hoje, buscam apenas as bênçãos, mas não o abençoador. Davi tinha o dom e a
herança porque era segundo o coração de Deus. Apesar de ser homem falho e,
muitas vezes, até tomado pelas suas emoções e pelos desejos da carne, sempre se
arrependia e se voltava para Ele porque o temia e reconhecia Sua soberania sobre
sua vida. Sabia respeitar Seus ungidos e esperava pela justiça e pela Sua resposta no
tempo certo. Sabia que Deus o colocaria no lugar que tinha reservado para ele, sem
ter que usar de astúcia ou força para conquistá-lo. Absalão era o terceiro tipo: não
tinha nem o dom nem a herança porque não tinha sido escolhido por Deus; resolveu
escolher a si mesmo e caiu. Não sustentou o poder sem a aprovação do Senhor. Não
tinha intimidade alguma com Ele.
2) Obedecer é melhor que sacrificar (1 Sm 15: 22-23): foi o que Samuel disse a Saul
quando pecou contra as ordens do Senhor. Deus não se agrada de desobediência,
nem de idolatria, nem de religiosidade, nem de teimosia. Saul cometeu os quatro
erros e foi desqualificado por Ele. A única coisa que Deus pede de nós, ainda hoje, é
a rendição à Sua vontade e o amor a Ele.
3) O homem vê o exterior, o Senhor, porém, o coração (1 Sm 16: 7): em hebraico, a
palavra coração (lebab), neste texto, significa: coragem; isso quer dizer que o
homem vê as coisas externas, as aparências, mas Deus vê o interior do homem, não
só os seus sonhos, intenções e desejos, como também sua coragem de lutar pelas
Suas coisas e pelos Seus projetos. Davi tinha o coração limpo e transparente; além
disso, tinha coragem para lutar por aquilo que acreditava e Deus o honrou. Ele quer
ver algo em nosso coração que o agrade, não as máscaras, mas a essência do nosso
ser.
4) Vencer os gigantes da alma na força de Deus: Davi foi contra Golias na força de
Deus, na sua fé Nele, não na força humana, tanto é que recusou a armadura de Saul;
era pesada demais para ele. Podemos escrever esse pensamento em outras palavras:
braço da carne x braço de Deus, guerrear na carne x guerrear no espírito,
violência do inimigo x sabedoria de Deus. Golias era a expressão da força bruta, da
força carnal que leva em conta seus próprios dotes, se necessário, usando até da
violência. Davi usava a força espiritual, a força de Deus, o poder da Sua palavra lhe
garantindo a vitória, pois ele não conhecia o Senhor superficialmente, de maneira
religiosa como os outros; ele o conhecia de maneira mais profunda, tinha intimidade
com Ele; tinha-o conhecido nas madrugadas no deserto da Judéia onde apascentava
as ovelhas de seu pai, onde no silêncio da noite e olhando a amplitude do céu, podia
ouvir Sua voz e sentir Seu coração. Davi tinha experimentado a força do Senhor
quando lutava com ursos e leões para defender suas ovelhas. Deus o protegia e o
inspirava. Hoje, nós podemos ter ainda muito mais do que ele tinha, pois temos o
Espírito Santo conosco todos os dias nos ensinando a lutar contra os nossos inimigos
invisíveis e nos livrando, através da Sua sabedoria, dos nossos inimigos físicos.
Hoje, temos conosco as armas da cruz.
5) Louvor, arma poderosa contra o adversário: quando Davi tocava sua harpa o
espírito maligno se retirava de Saul, pois seu louvor trazia o poder de Deus. Ainda
114
influenciou, mas não foi influenciado por ninguém nas suas decisões. Dispôs-se a
ser trabalhado pelo Senhor e ser um canal de transformação e cura na vida dos que
estavam com ele. Não se importou com os comentários nem com as sugestões
afoitas e carnais dos seus liderados (1 Sm 24: 4: “Então, os homens de Davi lhe
disseram: Hoje é o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego nas mãos o teu
inimigo, e far-lhe-ás o que bem te parecer”), pelo contrário (embora tenha cortado a
orla do manto de Saul), seu comportamento conteve os ímpetos e aumentou o
respeito de todos à sua capacidade de liderança [“E disse aos seus homens: O
Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a
mão contra ele, pois é o ungido do Senhor. Com estas palavras, Davi conteve os
seus homens e não lhes permitiu que se levantasse contra Saul; retirando-se Saul da
caverna, prosseguiu seu caminho” (1 Sm 24: 6-7)]. A expressão ‘ungido do Senhor’
é usada nos livros de Samuel como sinônimo de ‘rei’. Quem quer ser segundo o
coração de Deus não pode ouvir nem aceitar qualquer sugestão, não pode ser
dirigido, mas aprender a dirigir, não pode ter medo do trabalho nem do tamanho
dele.
9) Mesmo o pecado perdoado tem suas conseqüências: podemos ver isso no caso de
Urias, onde Deus perdoou o pecado de Davi, mas as conseqüências perduraram por
gerações, chegando até a descendência de Salomão, em Roboão, quando o reino de
Israel foi novamente dividido, ficando apenas duas tribos, Judá e Benjamim, com a
casa de Davi, por ordem divina. As demais tribos constituíram o reino do norte e
tiveram um rei para si. A espada não se afastou da casa de Davi: rivalidade entre
Absalão e Amnom, a morte de Absalão após tentar tirar o trono do pai (Davi),
Adonias e Salomão competindo pelo trono, Roboão (neto de Davi que não soube
governar com misericórdia e sabedoria) etc. Outra conseqüência de pecado de Davi
foi a peste decorrente do censo que mandou realizar sem a aprovação de Deus. O
povo pagou pelo seu erro, até que o rei se arrependeu e pediu perdão ao Senhor. O
Anjo do Senhor colocou a espada na bainha, mas a peste tinha destruído muitos
israelitas. Devemos pensar nisso. Sempre que cometemos um pecado, Deus nos
perdoa, porém, as conseqüências dele podem perdurar até serem quebradas
verdadeiramente. É o que ocorre com as maldições hereditárias decorrentes de
pecados ocorridos lá atrás por quem nós nem chegamos a conhecer, mas que podem,
ainda hoje, estar atuando em nossas famílias, até que as quebremos realmente pelo
poder de Deus e pela nossa fidelidade a Ele, mudando nossas atitudes. Na bíblia,
podemos ver outros exemplos semelhantes nos livros de Reis, onde alguns foram
fiéis, outros não, gerando problemas para seus descendentes.
10) Carregar a presença de Deus (arca) não pode ser de qualquer jeito,
displicentemente: da primeira vez que Davi tentou trazer a arca, ele o fez na força
humana (carro de bois) e sem respeitar a santidade de Deus (Uzá foi morto por tocar
na arca). Só depois se lembrou que os únicos que poderiam carregar a arca eram os
levitas (talvez, só naquele momento pôde ter informações dos sacerdotes a respeito
da Lei, o que é de se estranhar, pois na Lei estava escrito que os reis deveriam ter
um traslado da Torá para poder governar: Dt 17: 18-20). Aí sim, a arca foi trazida
para Jerusalém. Davi mesmo reconheceu seu erro (1 Cr 15: 13), pois da primeira vez
os levitas não só não estavam lá para carregar a arca, e sim o povo de Judá (2 Sm 6:
2), como também não estavam santificados para transportar a arca (1 Cr 15: 12). A
bíblia não deixa claro que Uzá e Aiô eram mesmo sacerdotes, pois em 1 Sm 7: 1 ela
diz que os homens de Quiriate-Jearim (em Judá) consagraram Eleazar, irmão
daqueles dois e filho de Abinadabe, para guardar a arca. Isso significa que não
conseguimos nossos objetivos espirituais pela força da carne, mas pelo Espírito de
116
Deus e pelo louvor, pois o louvor libera Seu poder em nosso favor. Além disso, o
louvor faz fluir a alegria e o Espírito Santo começa a agir.
11) Manter a inocência e a espontaneidade diante de Deus: Davi, mais uma vez,
quebrou a religiosidade e manifestou sua liberdade para expressar o louvor a Deus
quando trouxe a arca para Jerusalém por meio dos levitas. 2 Sm 6: 14-16; 20-23 diz:
“Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido duma
estola sacerdotal de linho. Assim Davi, como todo o Israel, fez subir a arca do
Senhor, com júbilo, e ao som de trombetas. Ao entrar a arca do Senhor na cidade de
Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela, e, vendo ao rei Davi, que ia
saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração... Voltando Davi
para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele, lhe disse:
Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus
servos, como, sem pejo, se descobre um vadio qualquer! Disse, porém, Davi a
Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai e a toda a
sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel,
perante o Senhor me tenho alegrado. Ainda mais desprezível me farei e me
humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado.
Mical, filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua morte”. Anos tinham se
passado desde que Davi fora ungido por Samuel, mas agora, um adulto e rei de
Israel, ainda mantinha suas características da juventude: a inocência e a
espontaneidade diante de Deus. A estola sacerdotal era uma veste curta e sem
manga, na altura das coxas, entretanto, não era indecente, por isso o comentário de
Mical não era pertinente. Mical simboliza: falsa moral, religiosidade, inveja,
hipocrisia. O significado do seu nome em hebraico é: Quem é como Deus? Isso
quer dizer que a religiosidade procede do diabo (Saul) e, quando Deus nos liberta
das suas garras, não há mais motivo para adorarmos o Senhor vestidos com ela. Ela
não faz mais parte da nossa vida, do reinado que Deus nos deu. A religiosidade traz
uma falsa reverência e um falso temor ao Senhor. Atua na sociedade através de
normas, regras, etiquetas, ‘fachadas’ e aparências, que destroem a espontaneidade e
a alegria verdadeira. Convém ressaltar que Mical não só morreu guardando essa
amargura e essa inveja, mas morreu estéril. Nunca teve filhos, de Davi ou de
ninguém. A religiosidade gera esterilidade, não produz descendência.
12) Semear para a descendência: “Eis que, com penoso trabalho, preparei para a casa
do Senhor cem mil talentos de ouro e um milhão de talentos de prata, e bronze e
ferro em tal abundância, que nem foram pesados; também madeira e pedras
preparei, cuja quantidade podes aumentar. Além disso, tens contigo trabalhadores
em grande número, e canteiros, e pedreiros, e carpinteiros, e peritos em toda sorte de
obra, de ouro, e de prata, e também de bronze, e de ferro, que não se pode contar.
Dispõe-te, pois, e faze a obra, e o Senhor seja contigo!... Disponde, pois, agora o
vosso coração e a vossa alma para buscardes ao Senhor, vosso Deus; disponde-vos e
edificai o santuário do Senhor Deus, para que a arca da Aliança do Senhor e os
utensílios sagrados de Deus sejam trazidos a esta casa, que se há de edificar ao nome
do Senhor” (1 Cr 22: 14-16; 19). “Quando os teus dias se cumprirem e descansares
com teus pais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de
ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa em meu nome, e eu
estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (2 Sm 7: 12-13). Davi sabia que não
construiria o templo, mas ajuntou tudo o que era necessário para ele, guardando para
que seu filho construísse o melhor para Deus. Assim devem ser nossas ações; da
mesma forma que o pecado pode gerar conseqüências sérias para nossos filhos, os
bons atos também geram bênção para a descendência.
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13) Ser servo: uma das características que sempre se manteve intacta no coração de
Davi foi o desejo de servir, ou seja, sua disposição ao serviço a Deus e aos outros.
Ele não só se colocou como servo de Saul, como súdito que era (“Teu servo
apascentava as ovelhas de seu pai”), como também um servo do povo de Deus. Ele
se incomodou com as afrontas de Golias ao exército de Israel e se dispôs a lutar por
ele. Também servia suas próprias ovelhas, defendendo-as dos ataques dos animais.
No Antigo Testamento, a palavra pastor era usada para indicar um cargo de
liderança, como o rei. Servir tem a ver conosco, o homem e a mulher segundo o
coração de Deus, com o amor incondicional que devemos exercitar diariamente com
aqueles que o Senhor coloca em nosso caminho. Devemos ter em nosso coração a
mesma disposição de servir que tinha no coração de Davi.
14) O perdão está presente na vida do cristão: Davi experimentou o perdão de Deus por
várias vezes e liberou o perdão na sua vida para muitas pessoas, várias vezes
também, por isso Deus se manteve fiel a ele e cumpriu todas as Suas promessas,
inclusive libertando-o de todos os seus inimigos. O perdão precisa fazer parte da
nossa vida, mesmo que nos custe, pois assim o Senhor garante Sua mão de proteção,
poder, bênção e livramento sobre nós. O ódio gera laços, o perdão os desata.
15) Não se acomodar: Davi, mesmo proclamado rei, não se acomodou, mas expandiu o
reino. Continuou a pelejar as batalhas do Senhor, para que o reino se tornasse unido.
Em 2 Sm 6: 1-4, a bíblia fala das diversas vitórias de Davi. No capítulo 10, fala da
vitória contra os amonitas e os siros. No capítulo 12, fala da conquista de Rabá; nos
capítulos seguintes Davi luta para manter unido o reino na revolta de Absalão e no
capítulo 22, mais quatro gigantes são mortos pelos valentes de Davi. Finalmente, no
livro de 1 Reis, Davi não descansa até passar seu reino a Salomão. O importante no
homem e na mulher que são segundo o coração de Deus é que não se acomodam
com os louros das vitórias passadas, mas aceitam desafios maiores para que o reino
de Deus seja implantado. Os ‘Davis’ têm dentro de si o desejo de melhorar e
aperfeiçoar cada dia mais seu trabalho para agradar ao Senhor. Não desanimam nem
buscam desculpas para seus fracassos, porém, realizam seu trabalho reconhecendo
seu próprio limite e confiando no poder ilimitado de Deus. Buscam novos incentivos
e aceitam os desafios para seu crescimento. Outra característica importante para os
‘Davis’ que querem continuar trabalhando na obra é querer sempre mais de Deus.
Não há nada que Deus não possa nos dar. Ele é dono de tudo e qualquer sonho é
possível para Ele, portanto, podemos Lhe pedir o que quisermos sabendo,
entretanto, que a bênção que estamos pedindo será também para abençoar outros
filhos Seus. Davi, quando foi ungido por Samuel, ainda era inexperiente, não tinha a
mentalidade de um rei. O Senhor o forjou dia após dia, semana após semana, mês
após mês, ano após ano, até ele estar pronto para reinar e não mais perder o trono.
Para Davi foi uma grande responsabilidade, pois da sua descendência nasceria o
Messias, mesmo que isso estivesse oculto a ele. Ele se entregou nas mãos de Deus e
se deixou ser conduzido. Entregou-se, foi conduzido e venceu.
118
119
Nota:
Não descreverei todos os reis, mas alguns que são mais conhecidos como: Salomão,
Asa, Acabe, Josafá, Ezequias e Josias. No final do texto há uma tabela sobre todos.
Salomão:
Resumo:
Salomão foi coroado rei por todo o Israel, agora em cerimônia formal (1 Cr 29: 22 b-
25), não mais de emergência.
Adonias recorreu a Bate-Seba tentando uma estratégia para não perder a chance de
se sentar no trono: ele lhe pediu a mão de Abisague, a sulamita (concubina de Davi), em
casamento; Salomão, por precaução, para preservar seu reinado, mandou matar
Adonias. Expulsou Abiatar, o sacerdote, para não oficiar mais diante do trono. Mandou-
o de volta ao seu campo em Anatote (1 Rs 2: 26). Zadoque ficou em seu lugar. Joabe,
com medo, se refugiou no tabernáculo do Senhor e pegou nas pontas do altar (que
significava asilo para um acusado até que fosse provada sua inocência ou sua culpa).
Salomão, que já tinha sido instruído por Davi quanto ao seu comandante de exército,
mandou Benaia executá-lo. Este o substituiu no comando das tropas.
Quanto a Simei, filho de Gera, o benjamita, aparentado de Saul que tinha
amaldiçoado a Davi na revolta de Absalão, foi inicialmente tratado com indulgência por
Salomão, mas este mandou executá-lo depois de três anos pelo que fez ao seu pai.
Salomão, por razões políticas, se casou com a filha de Faraó, rei do Egito. Este foi
um dos inúmeros casamentos que contraiu para manter as relações políticas de interesse
para o seu reino.
A tenda da congregação se achava em Gibeão (1 Cr 16: 39; 1 Cr 21: 29; 2 Cr 1: 3-
5), enquanto a arca estava em Jerusalém, numa tenda que Davi construiu para ela (1 Cr
15:1; 1 Cr 16:1; 37-39; 2 Cr 1: 3-5; 1 Rs 3: 4; 15). Ali em Gibeão o Senhor apareceu a
Salomão num sonho, e lhe perguntou o que queria que Ele lhe desse. Salomão pediu
sabedoria para reinar e isso agradou ao Senhor, que não só lhe deu o que tinha pedido,
mas também riquezas e honra. Veio a Jerusalém e ofereceu holocaustos perante a arca
da Aliança do Senhor (1 Rs 3: 15).
A sabedoria do rei se evidenciou quando julgou o caso de duas mulheres que
disputavam um bebê, ambas dizendo ser sua mãe; entretanto, uma delas mentia.
Salomão julgou sabiamente e o povo o respeitou.
Uma das atividades de Salomão era manter e controlar o extenso território deixado
por Davi. As tribos foram transformadas em distritos administrativos controlados pelo
governo central. Pagavam uma taxa e eram obrigados a prover sustento para a corte
durante um mês por ano, cada um deles de uma vez. Quando os trabalhadores cananeus
se tornaram insuficientes para os enormes projetos de construção de Salomão, o rei foi
compelido a organizar uma força de trabalhadores israelitas, aos quais impôs trabalho
forçado (1 Rs 5: 13-18 cf. 1 Rs 12: 1-4). Essas medidas foram impopulares.
Salomão tinha uma força militar defensiva: um anel de cidades estrategicamente
localizadas perto das fronteiras de Israel e guarnecidas com companhias dotadas de
carros de combate e 4.000 estábulos para cavalos, 4.000 cavalos (não 40.000; foi erro de
tradução), 1400 carruagens, 12.000 cavaleiros (2 Cr 1: 14; 2 Cr 9: 25; 1 Rs 4: 26; 1 Rs
10: 26).
Deus deu a Salomão sabedoria, entendimento e larga inteligência. A afirmação que
ele discorreu sobre as árvores, os animais etc. (1 Rs 4: 33) provavelmente se refere ao
emprego que fez dos reinos vegetal e animal em seus provérbios; Salomão observou a
natureza para escrever seus poemas. São da autoria de Salomão os Salmos 72 e 127,
assim como Provérbios, Eclesiastes e Cânticos, embora Eclesiastes não mencione seu
nome, apenas sugira (Ec 1: 1; 12). Compôs 3.000 provérbios e 1.005 cânticos (1 Rs 4:
32).
Salomão fez aliança com Hirão, rei de Tiro, cidade da Fenícia, num período de 969
a 963 AC (o reinado de Hirão foi de 979 a 945 AC). Ele tinha sido amigo de Davi e
agora, havendo paz no reinado de Salomão, era o tempo certo para se construir o templo
do Senhor. Hirão (Hïrãm, Hïrõm ou Hurõm, no fenício, provavelmente abreviação de
121
Airão = meu irmão é o (deus) exaltado, irmão do que é exaltado, consagração) tinha
condições para isso (as reservas naturais de sua terra). Enviou a Salomão madeiras de
cedro e de cipreste, que eram levadas do Líbano até o mar e, por jangadas, chegavam a
ele (2 Cr 2: 16). Este, em troca, lhe dava provisões: trigo e azeite anualmente. Entre eles
houve aliança de paz.
Para edificar o templo, Salomão recrutou muitos trabalhadores, inclusive israelitas,
como já foi dito anteriormente, que lavravam as pedras para fundá-lo; preparavam a
madeira e as pedras para se edificar a casa. Salomão começou a edificar o templo no
quarto ano do seu reinado, por volta de abril-maio. A casa tinha mais ou menos 31,08 m
de comprimento por 10,36 m de largura e 15,54 m de altura (1 Rs 6: 2; 2 Cr 3: 1-9).
Aqui foi usado como padrão de medida o côvado primitivo (2 Cr 3: 3) também referido
por Ezequiel e que correspondia a 51,8 cm (maior que o côvado comum que media 44, 4
cm) e era usado para fins sacros. Também era conhecido como côvado Mosaico. O
pórtico diante do templo tinha 10,36 m de largura e 5,18 m de profundidade. As
câmaras ao redor do Santo dos Santos, para os sacerdotes, foram construídas em três
andares. No mais interior da casa, preparou o Santo dos Santos (Debir) para colocar a
arca da Aliança do Senhor. O Debir tinha 10,36 m de comprimento por 10,36 m de
altura por 10,36 m de largura, um cubo perfeito, e era coberto de ouro puro. Salomão
levou sete anos para construir a Casa, terminando no mês de outubro-novembro.
Salomão também construiu palácios reais num período de treze anos (1 Rs 7: 1). A
Casa do Bosque do Líbano (1 Rs 10: 17; 2 Cr 9: 16; 20) era a casa real que Salomão
havia construído para si com a madeira do Líbano (1 Rs 7: 2) e onde se guardavam os
escudos de guerra e outros armamentos. Ali havia um arsenal (1 Rs 10: 16-17; 2 Cr 9:
15-16; 25; 2 Cr 1: 14).
Os sacerdotes puseram a arca da Aliança no seu lugar e, tendo saído do santuário, a
nuvem da presença do Senhor encheu o recinto. Em 1 Rs 8: 11 está escrito que a glória
do Senhor encheu a casa. A palavra bíblica para glória do Senhor é kãbhôdh (hebr.) ou
doxa (Septuaginta, a versão grega do AT) = peso ou dignidade, e que pode ser
entendida como a manifestação do poder de Deus onde é preciso, vitória, proteção,
abundância, riqueza, dignidade, reputação. É o equivalente judaico do Espírito Santo. A
conhecida palavra Shekïnâ, traduzida como ‘resplendor, presença de Deus habitando
entre o Seu povo’, não aparece nem no AT nem no NT. Ela deriva do verbo Shãkhan
( = שכןhabitar, fazer morada), o qual aparece em versículos como: Gn 9: 27; Gn 14: 13;
Jr 33: 16. Também aparece em Êx 40: 35: “Moisés não podia entrar na tenda da
congregação, porque a nuvem permanecia [Shãkhan] sobre ela, e a glória do Senhor
[kãbhôdh] enchia o tabernáculo”. Shekiná (Shekhinah, Shekïnâ), na verdade, é um
conceito cabalístico, místico, que a considera como a face feminina da Presença Divina.
Segundo a Cabala, Shekiná é uma energia cósmica poderosíssima em si mesma e que
habita no interior do Universo, vivifícando-o e sendo a sua alma ou espírito.
Salomão falou ao povo que naquele dia estava se cumprindo a promessa de Deus
feita a Davi (a construção do templo) e orou a Ele consagrando aquele lugar para
morada do Senhor no meio do Seu povo. Em seguida, abençoou os presentes,
oferecendo sacrifícios no altar. No oitavo dia da festa, despediu a todos para suas casas.
Deus tornou a aparecer a Salomão e respondeu à oração que ele fizera no templo,
confirmando Sua bênção sobre aquele lugar. Também renovou Sua aliança com o rei
como tinha feito com Davi.
No 24º ano de seu reinado, Salomão tinha terminado tanto o templo como seus
palácios reais. Salomão empenhou vinte cidades da Galiléia a Hirão como garantia pela
ajuda financeira recebida (1 Rs 9: 10), o que aumentou sua impopularidade e o
ressentimento no coração dos israelitas. O preço das suas realizações era a boa vontade
122
e a lealdade do seu povo. Salomão deu a Hirão essas cidades como pagamento, mas
parece que Hirão não as considerou suficientemente valiosas para cobrir o débito. Ele as
devolveu a Salomão que, por fim, as reconstruiu (2 Cr 8: 2).
O comércio era o ponto forte do governo de Salomão. Ele mantinha o controle das
caravanas na linha Norte–Sul do reino. Sua ligação com Hirão pôs à sua disposição
frotas que o capacitaram a assumir igualmente o monopólio das rotas marítimas.
Quando lemos no texto o termo “navios de Társis”, podemos traduzi-lo por “navios de
refinação ou mineração”, navios equipados para transportar minério derretido (carga de
ouro, prata), madeiras duras, jóias, marfim e variedades de macacos (1 Rs 9: 26-28; 1
Rs 10: 22. A palavra traduzida como pavões pode se referir a babuínos). Társis é de
localização incerta, provavelmente na atual Espanha.
A rainha de Sabá (atual Iêmen) veio também a Salomão, pois ouviu a sua fama com
respeito ao nome do Senhor. Salomão deixou bem claro que seu sucesso era resultado
das bênçãos de Deus. Ela louvou ao Senhor e reconheceu Seu eterno amor por Israel.
Salomão amou muitas mulheres estrangeiras (provavelmente acordos políticos):
setecentas esposas e trezentas concubinas. Sendo já velho, suas mulheres lhe
perverteram o coração. O casamento com mulheres estrangeiras trouxe para Israel
religiões estrangeiras, portanto, o rompimento da aliança com Deus. Seu coração já não
era mais tão fiel para com YHWH. Edificou santuários a seus deuses. Isso contribuiu
para queda do seu reinado.
A sabedoria de Salomão não falhou no final da sua vida, apenas ele deixou de
segui-la. Não a aplicou corretamente, por isso caiu. Talvez, o livro de Eclesiastes, onde
o autor questionou a vaidade e o significado da vida, se refira a ele por ter perdido a
devoção a Deus.
O Senhor não deixou impune o pecado de idolatria. Falou (1 Rs 11: 9-13) que
tiraria o reino da sua mão (nos dias de seu filho) e o daria a um servo de Salomão (1 Rs
11: 26 – Jeroboão, filho de Nebate, efraimita). Falou também que, por amor a Davi,
manteria nas mãos da sua descendência (Judá) apenas uma tribo (Judá; depois
Benjamim se juntou à outra: 1 Rs 11: 13; 1 Rs 11: 32; 36; 1 Rs 12: 21; 23; 2 Cr 14: 8).
Então, o Senhor levantou adversários para ele combater, como Hadade (edomita);
nos tempos de Davi, ele conseguiu fugir para o Egito, que o acolheu. Ouvindo falar que
Davi estava morto, resolveu voltar para Edom.
Outro adversário foi Rezom que tinha fugido de Hadadezer, rei de Zobá, e que tinha
ido para Damasco para escapar de Davi. Ali, os habitantes o proclamaram rei da Síria.
Durante o resto do reinado de Salomão, pelejaram contra ele.
Jeroboão (efraimita), escolhido por Deus para reinar sobre as dez tribos, tinha sido
perseguido por Salomão, por isso, estava no Egito. Voltou após a morte de Salomão.
Este reinou quarenta anos e Roboão, seu filho, reinou em seu lugar. Por volta de 930
AC, o reino foi dividido, confirmando a palavra do Senhor a Salomão.
123
Resumo:
Asa (’ãsã, médico, aquele que sarará – no sentido de ser o agente da cura, o
curador) era filho de Abias, portanto, neto de Roboão e bisneto de Salomão. A mãe de
Abias era filha (descendente) de Absalão e seu nome era Maaca. No reinado de Asa o
reino ficou em paz por dez anos. [Nota: ‘Asa’ também é um nome Japonês com o
significado original de ‘manhã’. ‘Asa’ (pronunciado: ‘asha’) é um nome Nigeriano com
o significado de ‘gavião’, ‘falcão’, ou ‘pequeno falcão’].
Ele fez o que era reto perante o Senhor. Edificou cidades fortificadas em Judá, pois
havia paz na terra. Seu exército era de trezentos mil homens de Judá que traziam lança e
pavês (escudos grandes que cobriam o corpo inteiro) e duzentos e oitenta mil de
Benjamim que traziam escudo e atiravam com arco (2 Cr 14: 8).
Zerá, o etíope, fez guerra contra Asa com um exército de um milhão de homens e
trezentos e vinte carros, no vale de Zefatá, perto de Maressa, no território de Judá. Asa
clamou ao Senhor e teve vitória. Os despojos foram trazidos para Jerusalém.
O profeta Azarias foi enviado por Deus para lembrar Asa de manter a fidelidade a
Ele, pois naqueles dias haviam retornado as guerras contra Israel. Asa recobrou ânimo e
iniciou as reformas religiosas no 15º ano do seu reinado, removendo o altar que estava
diante do pórtico do Senhor. Ali, sacrificaram a Deus, que lhes deu paz novamente.
Entretanto a reforma religiosa foi parcial. Aboliu a prostituição religiosa e depôs sua
mãe (na verdade sua avó) Maaca, destruindo a imagem que ela fizera para Aserá.
Removeu certos lugares altos de origem inteiramente pagã, mas outros, Asa permitiu
que permanecessem. Não houve guerra até o 35º ano do seu reinado (2 Cr 15: 19). No
36º ano, subiu Baasa, rei de Israel contra Judá e edificou a Ramá (2 Cr 16: 1 cf. 1 Rs 16:
8). Asa apelou à Síria para que o ajudasse contra as ameaças de Baasa, de Israel. Isso foi
um ato de incredulidade que recebeu censura profética (2 Cr 16: 7), principalmente
porque antes recebera uma vitória sobre o vasto exército de Zerá, o etíope. Hanani,
outro profeta do Senhor, o repreendeu por ter confiado no rei da Síria ao invés de ter
confiado em Deus e predisse que haveria outras guerras contra ele. Asa o lançou no
cárcere e oprimiu alguns do povo. No 31º ano do seu reinado, Onri começou a reinar
sobre Israel e reinou doze anos, sendo que Acabe, seu filho, ocupou o seu lugar.
No 39º ano de Asa, teve ele uma doença grave nos pés; não recorreu ao Senhor,
mas confiou nos médicos. Morreu dois anos depois e Josafá, seu filho, foi seu sucessor.
Resumo:
Acabe [’ah’ãbh, do hebraico, e ahãbu, do assírio, ‘o irmão (divino) é pai’] foi filho
e sucessor de Onri e reinou por 22 anos. Casou-se com Jezabel, filha de Etbaal, rei de
Sidom e sacerdote de Astarte.
124
Resumo:
Josafá (Yehôshãphãt, YHWH tem julgado) era filho de Asa. Nos primeiros anos do
seu reinado tomou providências para assegurar a segurança de seu reino contra
agressões externas. Fortaleceu as defesas na fronteira entre Israel e Judá; também
edificou fortalezas e cidades armazéns em Judá. Depois, resolveu pôr fim à longa
inimizade com Israel, casando sua casa com a casa de Onri. Essa aliança foi muito
vantajosa para Acabe, mas não para Josafá, pois o casamento de seu filho Jeorão com
Atalia, filha de Acabe e Jezabel (2 Rs 8: 16-19), produziu maus anos posteriores e levou
a linhagem de Davi à beira da extinção (2 Rs 11: 1-3): Atalia destruiu a descendência
real depois da morte de seu filho Acazias, ficando apenas seu neto Joás, que foi
escondido da avó pela tia Jeoseba (Jeosabeate). Na terra de Judá, Josafá foi hábil
administrador e zeloso pelas coisas de Deus. Expurgou a adoração pagã (2 Cr 17: 6 cf. 1
Rs 22: 43). Tomou passos positivos para assegurar que a lei mosaica se tornasse
125
Resumo:
Jeorão não andou nos retos caminhos de Josafá, mas imitou a casa de Israel (seu
sogro Acabe) e cedeu à idolatria. O Senhor o puniu com uma enfermidade nos intestinos
e puniu com maldição sua descendência. Seu filho mais moço Acazias foi feito rei em
seu lugar e reinou apenas um ano, pois sua mãe Atalia e os conselheiros da casa de
Acabe o aconselharam a proceder iniquamente. Foi morto por Jeú, a quem o Senhor
tinha ungido para desarraigar a casa de Acabe. Atalia, vendo que o filho estava morto,
destruiu toda a descendência real da casa de Judá. O único sobrevivente foi Joás (salvo
pela tia) que, posteriormente, com a ajuda do sacerdote Joiada subiu ao trono com sete
anos de idade e reinou por quarenta anos. Como levou o povo à idolatria e matou
Zacarias, o sacerdote, filho de Joiada, Deus também puniu sua casa, que foi destruída
pelos seus próprios servos. Amazias, seu filho, reinou em seu lugar e fez o que era mau
aos olhos do Senhor, idolatrando os deuses edomitas. Seu filho Uzias ocupou o trono e,
nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar; mas, tornando-se forte, seu
coração se exaltou e ele cometeu o mesmo pecado que Saul cometeu: quis assumir uma
função sacerdotal que não tinha e queimou incenso no altar. Deus o puniu com lepra.
Assim morreu e seu filho Jotão reinou em seu lugar. Ele fez o que era reto diante de
Deus. Ao morrer, seu filho Acaz subiu ao trono de Judá. Entretanto, não procedeu como
Davi, seu antepassado, e fez imagens fundidas a baalins. O Senhor o entregou nas mãos
dos siros. Pediu socorro aos assírios, mas estes o oprimiram. Procurou socorro nos
deuses de Damasco e isso foi ruína sobre Judá e Israel. Queimou incenso aos deuses
126
pagãos, queimou seus próprios filhos a eles e provocou à ira o Senhor. Morreu e
Ezequias, seu filho, reinou em seu lugar.
Resumo:
Ezequias se perturbava pelo jugo assírio. Ao preparar-se para a invasão, ele edificou
as defesas de Jerusalém (2 Cr 32: 3-5) e salvaguardou o suprimento de água da cidade
construindo o túnel de Siloé (2 Rs 20: 20; Is 22: 9). Siloé (Shilôah, em hebraico:
enviado) era uma das principais fontes de suprimento de água de Jerusalém, ligada à
fonte de Giom, a sudeste de Jerusalém e que, por sua vez, despejava água na cidade por
meio de um canal aberto. Da fonte de Siloé, o canal desaguava no poço antigo ou de
baixo (Birket el-Hamra). Quando Ezequias se viu diante da ameaça de Senaqueribe,
tapou todas as fontes, todos os riachos e canais subsidiários que conduziam ao ribeiro
que corria pelo meio da terra (2 Cr 32: 3-4). O rei em seguida enviou as águas do Giom
superior por meio de um conduto ou túnel de dois metros de altura até uma cisterna ou
poço superior (Birket Silwãn) no lado oeste da cidade de Davi (2 Cr 32: 30). Defendeu a
nova fonte de suprimento com uma rampa (2 Cr 32: 30).
Ezequias ficou muito doente e foi advertido pelo profeta que iria morrer. Mas,
quando soube, orou ao Senhor, com lágrimas, pedindo a cura. Deus o atendeu e falou ao
profeta, que já estava quase saindo do palácio, para voltar e dar as boas novas de cura ao
rei, mandando-o colocar uma pasta de figos sobre a úlcera para que fosse sarada. Como
um sinal a Ezequias, Deus realizou um milagre, fazendo retroceder em dez graus a
sombra lançada pelo sol declinante no relógio de Acaz, seu pai (2 Rs 20: 1-11).
O rei da Babilônia enviou cartas e um presente a Ezequias porque soube que estivera
doente. O rei de Judá, em contrapartida, mostrou aos mensageiros estrangeiros a riqueza
de Jerusalém. Provavelmente, era interessante ao rei da Babilônia ter Judá como aliado
político contra a Assíria, e Ezequias achou conveniente aquela perspectiva temporária
de paz e segurança, embora mais tarde tenha considerado insensato o seu ato de mostrar
suas riquezas ao rei da Babilônia (por causa da repreensão do profeta Isaías). Ele não
pensou no provável horror que sua descendência sofreria nas mãos dos babilônios;
apenas agradeceu a Deus por ter paz no seu reinado. Ezequias faleceu e Manassés, seu
filho, reinou em seu lugar. Manassés foi substituído por seu filho Amom e este, por seu
filho Josias.
Resumo:
Josias (yõ’shiyyãhü, YHWH sustenta, YHWH protege) subiu ao trono com oito anos
de idade e andou retamente diante de Deus. No 12º ano do seu reinado iniciou uma
reforma religiosa (2 Cr 34: 3) e no 18º ano dirigiu os trabalhos de restauração do
templo. Levou seis anos purificando a Casa do Senhor (2 Cr 34: 8), destruindo a
idolatria dos seus antecessores. Hilquias, o sumo sacerdote, achou o Livro da Lei no
templo e esse episódio pode ser considerado como o ápice da reforma religiosa de
Josias, pois a partir daí o povo e os levitas foram conscientizados dos seus pecados e foi
celebrada a Páscoa (2 Cr 35: 18-19). A Páscoa de Josias fala de sarar a alma, do
ministério Levítico e de revelação da Palavra (Livro da Lei foi encontrado). A própria
reforma foi mais completa que a de Ezequias (2 Rs 23: 13) e mais extensa. Josias não
somente destruiu todos os lugares altos em Judá e Benjamim, mas seu zelo reformador o
levou a atravessar Efraim e Benjamim tendo chegado tão ao norte como Naftali, na
Galiléia. Por toda a parte, ele extirpou cada vestígio de adoração pagã (2 Rs 23: 19-20; 2
Cr 34: 6-7). A celebração da Páscoa foi maior do que a de Ezequias, não tendo paralelo
128
desde os dias de Samuel (2 Cr 35: 18). Entretanto, por mais completa que a reforma
tenha sido, nunca efetuou qualquer alteração real nos corações do povo, o que fica claro
pelas profecias de Jeremias (Jr 1: 1-3), que pertencem a esse período, como pela
reversão quase imediata à idolatria depois do falecimento de Josias.
Em 609 AC, Neco II do Egito subiu para levar auxílio à Assíria. Josias não quis dar
passagem ao seu exército por medo da terra de Judá ficar pressionada pelas duas
superpotências. Morreu flechado (2 Rs 23: 29) na batalha de Megido pelos soldados de
Neco. Jeoacaz reinou em seu lugar.
Podemos dizer que os aprendizados mais importantes com os reis de Israel e Judá
se firmam em dois ensinamentos encontrados na bíblia nos livros de Deuteronômio e
Ezequiel no que diz respeito ao comportamento correto de um rei e à escolha pessoal
dada por Deus a cada filho, ou seja, o livre-arbítrio. No livro de reis temos um
exemplo do que acontece, por exemplo, numa família, onde pais e filhos se comportam
de maneira diferente, obedecendo às suas escolhas pessoais que sobrepujam as
transmissões de tendências hereditárias, pois cada personagem deste livro da bíblia é
membro de uma grande família, a família real de Deus. Podemos ver aqui os erros e os
acertos dos ungidos do Senhor, tanto em relação à liderança política quanto ao
comportamento espiritual diante dos Seus mandamentos. Seus erros e acertos geraram
conseqüências às respectivas descendências, pois liberaram tanto a bênção quanto a
maldição de Deus sobre suas vidas.
No livro de Dt 17: 14-28, podemos perceber as ordens divinas quanto à escolha de
um rei. Este deveria ser escolhido por Ele, não deveria multiplicar para si cavalos (para
fazer o povo errar e voltar ao Egito, pois o Senhor disse que jamais voltariam por aquele
caminho), nem mulheres, nem prata nem ouro. Em primeiro lugar, o fato de Deus dizer
que o rei deveria ser escolhido por Ele significa que não se deve confiar no mundo para
escolher um dirigente, mas na Sua sabedoria. Israel não deveria escolher seu rei, como
fez mais tarde com Saul, e sim confiar na escolha divina, usando o profeta enviado por
Ele. É óbvio que um país necessitava de cavalos como um equipamento necessário para
sua defesa em caso de guerra ou para uso do governo, mas o que Deus falava em Dt 17:
16 era para não multiplicar cavalos, levando o rei a cometer certos erros como, por
exemplo: o aumento do intercâmbio com nações estrangeiras (especialmente o Egito), o
estabelecimento de um despotismo militar, ostentação de poder do rei e seu exército
perante os súditos (paradas militares) e até uma dependência do Egito em tempo de
guerra, deixando de lado a confiança em Deus. Na época, Israel não tinha cavalos, só
mulas, e o Egito era o maior exportador deles. Davi não poderia ter vitória em suas
campanhas militares apenas com mulas. Jesus, como os antigos patriarcas e reis e
profetas, entrou em Jerusalém montado num jumento. O texto de Dt 17: 17 também dá
outras orientações a um rei: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu
coração se não desvie; nem multiplicará muito para si prata ou ouro”. Isso seria para não
imitar a prática da poligamia dos países vizinhos, cujos reis tinham numerosos haréns.
Um rei deveria conter suas paixões, diferentemente de um homem comum do povo. A
bíblia escreve “para que o seu coração se não desvie”, isso porque a mulher tem um
grande poder de influência sobre o homem; muitas mulheres influenciariam
negativamente um rei no exercício de suas funções. E a orientação para não multiplicar
para si muita prata ou ouro significa que os reis foram proibidos de acumular dinheiro
para fins privados. Isso demonstraria que ele também tinha um comportamento diferente
129
de um homem perverso, que era ganancioso; se usasse mal seu dinheiro, poderia ser um
mau exemplo para os súditos.
Metaforicamente falando: O termo cavalos significa que um rei não deveria se
firmar na força humana. Na época, Israel não tinha cavalos, só mulas, e o Egito era o
maior exportador deles. Deus não queria que Israel fizesse aliança novamente com o
Egito, do qual Ele os resgatara, mas queria que Seu povo confiasse apenas Nele, não em
sua própria força. Cavalo é símbolo de guerra, pressa, atitudes diante do nosso
próximo. O rei não deveria multiplicar para si mulheres, o que quer dizer que não
deveria ficar debaixo de influências, pois a mulher simboliza influência. O exemplo
mais claro disso foi Salomão que, com setecentas mulheres e trezentas concubinas
terminou seu reinado na idolatria, debaixo do desgosto de Deus. O rei também não
deveria multiplicar para si nem ouro nem prata, o que quer dizer que não deveria ficar
debaixo dos valores do mundo. O que o Senhor nos dá é para abençoar outras pessoas,
pois é Ele a fonte de suprimento, não para ser usado para fins egoístas.
Por aí, já podemos ver que os reis de Israel e Judá depois de Davi não cumpriram,
em grande parte, essas orientações, pois dependeram das coligações políticas com
nações estrangeiras para socorrê-los contra os ataques dos invasores; não mantiveram
sua fidelidade a Deus como deveriam e, com isso, fizeram o povo pecar ainda mais e
cair na idolatria (voltar ao Egito). Eles não confiaram Nele para resolver seus problemas
particulares, deixaram os interesses próprios pelo poder sobrepujarem Sua escolha e Seu
projeto, o que mereceu repreensão profética muitas vezes. Deixaram-se levar pelas
muitas influências ao seu redor, ao invés de olhar apenas para o Senhor e seguir apenas
suas diretrizes. Ser rei como Davi foi é muito difícil, pois apesar de toda a luta e intriga
que o envolveu, ele nunca deixou de ser conforme o coração de Deus, ou seja, resistiu
às influências que o cercaram e não se desviou do projeto divino para ele nem para a
nação. Ele colocou o amor a Deus e à Sua obra acima dos interesses pessoais, por isso
não houve rei que fosse como ele, até hoje um modelo para a nação israelita. Nem seu
filho conseguiu repetir seus feitos ou ter a pureza de coração do pai. Em todos os reis
descritos nesses livros de Reis e Crônicas, podemos reconhecer que as fraquezas da
carne abriram brecha para a desobediência e pecados maiores.
Podemos ver outros textos bíblicos que também têm importância sobre os reis em
particular e que estão em Ez 18: 19-20 (cf. 1 Rs 9: 4-9, quando o Senhor conversa com
Salomão), Êx 20: 5-6; Nm 14: 18; Dt 24: 16; 2 Cr 25: 4 b; Jr 31: 30 e falam sobre a
responsabilidade ser pessoal, ou seja, sobre o livre-arbítrio de Deus para Seus filhos e
que podem ser resumidos em poucas palavras: “Os pais não serão mortos em lugar dos
filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada qual será morto pelo seu pecado”. Assim,
podemos dizer que Deus nos castiga pelos pecados que de fato cometemos. Em nenhum
lugar da bíblia, o crente justificado paga eternamente pelos pecados dos pais. Cada um
morrerá pelo seu próprio pecado. Isso não significa dizer, entretanto, que nada passa
adiante na árvore genealógica. Os padrões de comportamento pecaminoso são, muitas
vezes, transmitidos para os membros da família. Entretanto, os filhos responderão a
Deus pela vida deles, não pela dos pais. Ezequias, filho do perverso Acaz, desfez o ciclo
quando se voltou para o Senhor, assim também como Josias, filho do tirano Amom.
Sempre que os filhos contrariam o padrão estabelecido pelos pais pecadores, podem
receber as bênçãos de Deus. Em outras palavras, alguns reis como Asa, Josafá, Ezequias
e Josias fizeram reformas religiosas, isto é, tiveram coragem para realizar mudanças e
corrigir os erros dos antepassados e, com isso, quebraram a maldição familiar e o juízo
divino sobre a descendência. É pena que muitos deles tivessem filhos que não seguiram
seus passos piedosos e voltaram ao pecado dos avós, tornando a provocar a ira do
Senhor sobre os que vieram depois deles.
130
Uma coisa boa que podemos aprender com os reis é que muitos deles fortificaram
suas cidades, ou seja, ergueram defesas contra os inimigos: Salomão, Asa, Josafá,
Ezequias (2 Cr 32: 5) e Acabe. Isso significa que devemos nos preocupar em erguer
nossos muros, ou seja, curar nossa alma.
Outro aprendizado importante são as reformas religiosas que Asa, Josafá, Ezequias e
Josias fizeram como uma forma de restaurar a adoração a Deus, e que simbolizaram sua
tentativa de realizar mudanças nos padrões impostos pelos seus antecessores. Ezequias e
Josias restabeleceram a Páscoa como um sinal de cura, liberação da palavra de Deus,
reavivamento da aliança com o Senhor e um despertar do ministério sacerdotal. Isso
quer dizer que, quando nos dispomos a restaurar nossa vida espiritual e nosso
relacionamento com Ele com o intuito de quebrar as maldições do passado, podemos
desfrutar do Seu melhor para nós, ou seja, podemos experimentar uma Páscoa pessoal,
que simboliza cura, avivamento e libertação de todo o cativeiro que nos assolou.
131
REIS DE ISRAEL
Jeroboão II (41 a)
- Mesma idolatria de Jeroboão,
(3ª geração de Jeú) filho de Nebate.
- Reconquistou Damasco e
Hamate, segundo a profecia de
Jonas.
REIS DE JUDÁ
Sisaque, rei do Egito, subiu Roboão (17 a) - Sua mãe (Naamá) era amonita.
contra Jerusalém e levou os - Fortificou cidades em Judá.
- Sacerdotes e levitas de todo
tesouros do templo, da casa Israel recorreram a Roboão por
do rei e os escudos de ouro causa de Jeroboão, de Israel.
que Salomão tinha feito. - Em todo o seu reinado houve
135
Abias (3 a) - Idolatria.
- Sua mãe, Maaca, era filha de
Absalão. Não era o primogênito,
mas foi colocado no trono
porque seu pai amava mais a
Maaca do que sua primeira
esposa (Maalate), filha de
Jerimote, filho de Davi e meio-
irmão de Absalão. Teve 14
mulheres que lhe deram 22
filhos e 16 filhas (2 Cr 13: 21).
- Guerras contra Jeroboão.
Asa (41 a)
- Tirou os prostitutos cultuais e
removeu os ídolos. Aboliu os
cultos nos altos e cortou os
postes-ídolos.
- Destituiu a avó Maaca do posto
de rainha-mãe.
- Edificou cidades fortificadas
em Judá e teve vitória sobre os
etíopes (Zerá).
- Aliou-se com Ben-Hadade
(filho de Tabrimom, filho de
Heziom), rei da Síria contra
Baasa, rei de Israel, dando-lhes a
prata e o ouro da Casa do Senhor
e dos tesouros da casa do rei.
Lançou o profeta Hanani no
cárcere por tê-lo repreendido em
relação à aliança com Ben-
Hadade e por não ter confiado no
Senhor.
- Teve uma doença nos pés e
recorreu aos médicos, não ao
Senhor, por isso morreu.
Jeorão (8 a)
- Andou nos caminhos dos reis
de Israel, pois se casou com a
filha de Acabe (Atalia).
- Seduziu o povo à idolatria.
- Seus irmãos mais novos (filhos
de Josafá) eram: Azarias, Jeiel,
Zacarias, Azarias, Micael e
Sefatias (2 Cr 21: 2) e foram
todos mortos à espada por
Jeorão.
- Por castigo de Deus teve
enfermidade mortal no intestino
(carta de Elias, profeta do Norte:
2 Cr 21: 12, 15, 18-19).
Atalia, sua mãe, usurpa o Acazias (1 a) (também - Andou nos caminhos de Acabe.
trono, sabendo da morte do conhecido como Jeoacaz) - Foi com o sogro, Jorão, a
Ramote-Gileade contra Hazael,
filho. rei da Síria, que feriu Jorão
gravemente.
- Ambos foram mortos por Jeú,
rei de Israel em Jezreel.
Ficou gravemente enfermo Joás (40 a) - Foi fiel a Deus enquanto Joiada
após a invasão dos siros e o conduziu.
foi morto por dois servos – - Deu as coisas do templo para
2 Rs 12; 21; 2 Cr 24: 25- Hazael, rei da Síria para livrar
27: [Jozacar (ou Zabade) e Jerusalém.
- Assassinou Zacarias, filho e
Jozabade (ou Jeozabade)], sucessor de Joiada (morreu com
que colocam seu filho no 130 anos). Zacarias foi
lugar dele. apedrejado.
Deus enviou contra Judá a Jotão (16 a) - Sua mãe (Jerusa) era
Rezim (rei da Síria) e Peca, descendente de Zadoque
(sacerdote de Davi).
filho de Remalias. - Caminho reto, embora os altos
ainda permanecessem.
- Fez obras em Jerusalém e teve
vitória sobre Amom.
- Edificou cidades na região
montanhosa de Judá.
Rezim e Peca sobem contra Acaz (16 a) - Caminho mau, queimando seus
Jerusalém. Rezim é morto filhos em sacrifício.
por Tiglate-Pileser, rei da - Grandes atos de idolatria.
- Derrotado pelos Edomitas e
Assíria. Zicri (Efraimita) Filisteus
mata Maaséias (filho do - Pede socorro aos assírios
rei) e mais dois oficiais do (Tiglate Pileser III) contra Rezim
palácio. (Síria) e Peca (Israel), dando o
ouro e a prata da Casa do Senhor
para a Assíria.
- Em Damasco vê um altar e
pede ao sacerdote Urias que faça
um altar igual em Judá. Alterou
os utensílios do templo em favor
do seu altar.
138
Siloé
As colunas eram soltas e não suportavam o teto do pórtico, mas estavam diante dele como parte
dos móveis, não do edifício do templo. Os nomes podem ser as primeiras palavras dos oráculos
(= o que estava escrito) que davam poder à dinastia Davídica: “YHWH estabelecerá (Jaquim -
Yakhin – a da direita – sul) teu trono para sempre” e “na força (Boaz – be'õz – a da esquerda –
norte) de YHWH o rei se regozijará” (1 Rs 7: 15-22 e 2 Cr 3: 15-17 cf. Jr 52: 21). A altura de
cada uma delas era de 18 côvados (nove metros e trinta e dois centímetros), afora os capitéis
sobre elas, de 5 côvados (dois metros e cinqüenta e nove centímetros) e a sua circunferência de
12 côvados (seis metros e vinte e um centímetros). 1 côvado ‘primitivo’, aqui, usado para fins
sacros, correspondia a 51, 8 cm.
144
Resumo:
Elias (’lïyyâhü e ’elïyyâ, do hebraico; Eleiou (Septuaginta) e Eleias, gr. NT, YHWH
é Deus) foi o profeta do reino do Norte.
O local do nascimento de Elias é incerto; a bíblia fala sobre Tisbe, em Gileade,
treze quilômetros ao Norte do Ribeiro de Jaboque.
Nesta aula pretendo dar enfoque ao episódio de Elias contra os profetas de Baal,
entretanto, falarei sobre todos os episódios importantes do seu ministério:
1) Sua predição de seca e sua fuga subseqüente para a torrente de Querite e para
Sarepta.
2) A luta no Monte Carmelo (três anos depois do 1° acontecimento – 1 Rs 18: 1).
3) A fuga para Horebe.
4) O incidente de Nabote.
5) O oráculo de Acazias.
6) Seu arrebatamento.
Quando a bíblia fala das suas lutas contra Baal, se refere a Baal-Melcarte, a
divindade oficial protetora de Tiro, que estava ligada à natureza.
Elias veio ao rei Acabe e predisse uma seca. Depois, segundo a orientação do
Senhor, fugiu para o lado do Jordão, junto à torrente de Querite. Assim, quando a nação
estava com fome e sede, Elias tinha a água da torrente e os corvos lhe traziam alimento
(pão e carne), de manhã e ao anoitecer. Com o passar do tempo, por não chover, a
torrente também secou. Então, o Senhor enviou Seu profeta a Sarepta, no território de
Sidom, fora dos limites de Israel e ali, por milagre, uma viúva o sustentou, pois creu na
sua palavra profética de que não faltaria alimento a ele, nem a ela, nem ao filho. Por
muito tempo, eles viveram esse milagre (1º) de suprimento de Deus; enquanto isso, a
nação morria por seu pecado de ter se afastado do Senhor. Então, o filho da viúva
faleceu. Deus usou mais uma vez Seu profeta, que fez o segundo milagre (2º) diante da
mulher, ressuscitando-lhe o filho. Ela teve sua fé reforçada no Senhor e creu que a Sua
palavra na boca de Elias era verdade. Embora sendo estrangeira, confiou no Deus de
Israel.
Três anos depois do início da seca, o Senhor ordenou a Elias que voltasse para
Israel e se apresentasse diante de Acabe, pois haveria chuva sobre a terra. Jezabel,
mulher do rei, tinha exterminado todos os profetas verdadeiros, mas seu mordomo
Obadias, que era temente a Deus, escondeu cem deles e os sustentou com pão e água.
145
Depois disso, houve o incidente com Nabote, descrito na aula sobre Reis, quando
Acabe anexou a vinha do seu súdito aos terrenos do palácio real (1 Rs 21: 19). Segundo
o pensamento israelita, a terra possuída por uma família ou clã era entendida como um
dom vindo de Deus e todos deveriam respeitar esse direito. Por isso, esse incidente foi
considerado uma violação de direito, movendo Elias mais uma vez até Samaria por
ordem do Senhor para profetizar a sorte de Acabe, de Jezabel e de sua descendência (1
Rs 21: 17-29). Acazias, filho de Acabe, reinou em seu lugar. Acazias dependeu do deus
da vida sírio, Baal-zebul, ou Belzebu (senhor ou mestre, o príncipe), a quem o povo de
Deus ridicularizava chamando de Baal-zebube (o senhor das moscas), para saber se
viveria ou morreria, pois estava doente por ter caído pelas grades de um quarto alto em
Samaria. Elias foi enviado por Deus para repreender o rei e confirmar sua morte.
Acazias enviou a Elias duas companhias de soldados, mas Deus usou novamente Seu
profeta com fogo do céu, matando cento e dois deles (6º milagre de Deus através de
Elias). A terceira tropa foi enviada; então, o Senhor ordenou ao profeta que fosse com
eles. Acazias morreu, segundo tinha sido profetizado, e Jorão, seu irmão, reinou em seu
lugar, pois Acazias não tinha filhos.
Elias não morreu, mas foi arrebatado por Deus num redemoinho. Antes de cruzar o
Jordão feriu as águas com seu manto e o rio se abriu (7º milagre de Elias). Eliseu o
sucedeu como profeta de Israel.
1) Existe um tempo de Deus para nosso refúgio e para sermos alimentados: Elias tinha
feito a predição de seca e Deus sabia que isso iria trazer um período de dificuldade,
tanto à sua vida quanto à da nação como um todo, e que Seu profeta precisava estar
forte para enfrentar a luta. Por isso, o orientou a sair de Samaria e ir para o Jordão,
para a torrente de Querite onde os corvos (simbolizando os anjos do Senhor) o
alimentariam e onde ele beberia das águas da torrente. Isso era um privilégio, pois
quando os demais israelitas sofriam os efeitos da seca, o ungido de Deus estava
suprido. As águas simbolizam a Palavra e o Espírito. Isso para nós quer dizer que
quando estamos debaixo da vontade do Senhor para nós, Ele providencia o nosso
sustento, mesmo que os demais à nossa volta não o tenham. Em segundo lugar, Ele
separa um tempo para que nos fortaleçamos na Sua palavra, nos enchendo do Seu
Espírito, para podermos realizar obras maiores depois. Ele envia Seus mensageiros,
Seus ungidos (anjos, em hebraico, significa: mensageiros, nome este pelo qual
também eram conhecidos os profetas), para nos dessedentar e nos purificar com a
Sua palavra. Ele também aumenta em nós a Sua força (pão e carne).
2) Quando algo cessa, é chegada a hora de experimentar o novo: quando a torrente de
Querite secou devido à falta de chuva, Deus enviou Elias para Sarepta até a casa da
viúva. Elias teria, agora, outra fonte de alimento. Devemos estar sempre livres nas
mãos de Deus para sermos levados aonde Ele quer e depender Dele para o nosso
sustento.
3) Quando já fomos alimentados pelo Senhor, temos condições de alimentar outras
pessoas com a Sua palavra: Elias já tinha sido alimentado por Deus na torrente de
Querite. Figuradamente, ele estava cheio do Espírito, por isso estava pronto para
transbordar desse Espírito sobre os carentes de vida. Elias foi enviado a uma viúva
em Sarepta. Em hebraico, no AT, viúva tinha o significado de silêncio, enquanto, no
NT, significa: destituída. Isso quer dizer que aquela mulher estava em “silêncio”,
147
não tinha ouvido ainda a Palavra, portanto, estava “destituída de vida”. O profeta
estava sendo enviado pelo Senhor para resgatar aquela alma, além do que Ele
também a estaria usando para dar uma lição de fé ao Seu povo, pois ela morava em
Sarepta, na Filístia, região fora de Israel; era uma estrangeira, prefigurando o que
Jesus veio fazer na terra, trazendo Sua salvação para nós, os gentios. No NT está
escrito (At 10: 34-35): “... reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de
pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe
é aceitável”. A mulher acreditou na palavra profética liberada por Elias e
experimentou o milagre de Deus. Assim como o centurião, cujo servo foi curado por
Jesus e foi elogiado por sua fé maior da que a dos israelitas, o testemunho dessa
viúva foi um exemplo de fé para Israel, que tinha abandonado a aliança com o seu
Deus.
4) Deus é verdadeiro e fiel à Sua palavra; Sua verdade sempre vence a mentira:
podemos ver isso quando Deus respondeu à oração de Elias mandando fogo do céu
para destruir o altar a Baal, erguido pelos seus profetas. Isso quer dizer que a luz da
Palavra vem destruindo toda mentira de Satanás, quebrando as correntes da idolatria
e da religiosidade. Jesus disse: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Essa palavra estava agindo através de Elias, mostrando ao povo quem era o
verdadeiro Deus.
5) Crer para ver: quando Elias subiu ao topo do Carmelo e mandou seu moço observar
o céu para ver se já vinha a chuva, tanto ele como o rapaz tiveram que crer no
milagre antes de vê-lo concretizado. O moço subiu sete vezes; só na sétima é que ele
viu uma nuvem tão pequena quanto a mão de um homem. Mais uma vez, teve que
exercitar a fé para crer que, de uma nuvem daquele tamanho, poderia se formar uma
chuva copiosa. Assim, nós precisamos continuar observando o céu, ou seja,
continuar olhando para Deus, até que possamos reconhecer os recursos visíveis que
Ele coloca no nosso caminho e que vão se transformar em grandes bênçãos. Jesus
disse: “Se fores fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”. Isso quer dizer que
quando cremos no que o Senhor nos prometeu e no aparentemente pequeno que Ele
nos mostra, poderemos vê-lo transformar aquilo em algo grande e abundante.
6) Receber a unção da fortaleza do Senhor nos faz realizar o impossível: Elias recebeu
uma unção especial de fortaleza (Is 11: 2) para correr junto com o carro de Acabe e
chegar antes dele em Jezreel. Isso significa que, quando Deus nos capacita com a
Sua força, podemos realizar o que parece impossível aos homens; na Sua força,
podemos realizar algo maior do que a força humana (cavalos) pode realizar.
7) Estar atento ao esgotamento espiritual que pode ocorrer após uma grande batalha:
Elias tinha realizado grandes feitos, mas era humano, e seu corpo sentiu os efeitos
da guerra espiritual que tinha travado. Por isso, fugiu quando ouviu a ameaça de
Jezabel e teve aquela reação semelhante a um quadro depressivo, pedindo a Deus
para matá-lo ali mesmo no deserto, debaixo do zimbro. Sua visão, agora humana,
estava distorcida pelo cansaço. Quando saímos de uma grande luta espiritual, nosso
corpo vai sentir os efeitos da batalha; por isso, devemos estar atentos para não cair
no jogo sujo do inimigo, ouvindo suas palavras mentirosas, pois ele é oportunista.
Mesmo sabendo que perdeu a luta, vai ainda tentar se valer da nossa fraqueza para
roubar de nós o que foi conquistado. Elias não teve uma depressão; sofreu os efeitos
do esgotamento físico, emocional e espiritual. Por isso, Deus não brigou com ele
nem o criticou, mas enviou Seu anjo para alimentá-lo com pão e água para que
pudesse recuperar suas forças e continuar seu ministério. O Senhor também o
deixou dormir para se equilibrar novamente.
148
8) Não ter medo de dizer a verdade a Deus, de confessar nossa fraqueza: Elias
respondeu a Deus uma ‘meia-verdade’ quando Ele lhe perguntou o que fazia
escondido na caverna. O profeta Lhe falou sobre sua fidelidade, sobre a idolatria do
povo e sobre a ameaça do inimigo, mas não foi capaz de confessar ao Senhor sua
fraqueza, seu medo e sua dúvida naquele momento abalando sua fé. Não devemos
dar a Ele respostas ou justificativas religiosas, porém devemos abrir nosso coração,
falando com sinceridade; assim, Ele vai corrigir nossos caminhos e nos fortalecer
novamente. Vai tirar nossa visão distorcida dos fatos e colocar no lugar a visão
correta.
9) Sair da caverna ou sair da tenda para ver o verdadeiro projeto de Deus: o Senhor
disse a Elias algo muito parecido com o que disse a Abrão: — “sai da tenda,
Abrão”; “sai da caverna, Elias”. Abrão teve que sair da tenda e olhar para as estrelas
e poder entender a promessa divina; teve que sair da sua visão limitada e humana
para ter a visão ampla de Deus. Elias, igualmente, estava com sua visão distorcida e
embaçada pelo cansaço da luta. Por isso, Deus o mandou sair da caverna para que
pudesse ter a visão ampla Dele e do Seu projeto. É interessante lembrar também que
esta situação foi semelhante à de Moisés. Elias estava no mesmo monte que Moisés
estava quando pediu a Deus para ver Sua glória, pois precisava ter sua fé aumentada.
O Senhor o colocou numa fenda da rocha e satisfez seu desejo. Elias estava,
igualmente, numa fenda da rocha (símbolo do aconchego do coração de Deus) e
tudo o que tinha a fazer era sair da sua limitação para olhar para a manifestação do
poder divino e ouvir Sua voz.
10) Deus consola: Ele não precisa de grandes manifestações para aparecer a um filho,
nem fala de modo aterrador, nem ameaçador, mas mansa e tranqüilamente. Foi o
que aconteceu a Elias, depois que passaram o furacão, o terremoto e o fogo. Veio
um cicio suave e nele Deus falou com Seu filho. Ele quer nos falar de maneira
consoladora e mansa para que nosso coração possa se acalmar depois de tanta luta e
sofrimento, quando a alma parece se amedrontar com qualquer coisa. Sua voz traz
restauração, cura e um novo tempo em nossas vidas.
11) Deus preserva os que são Seus; nós não estamos sós: Elias tinha feito algo ousado e
desafiador, enfrentando sozinho os profetas de Baal, sem ajuda de mais ninguém a
não ser de Deus. Por isso se sentia sozinho em suas convicções. Parecia que
ninguém mais pensava como ele. Então, o Senhor o consolou e lhe revelou que
ainda havia outros que Ele mesmo havia preservado com vida e que não se tinham
dobrado à idolatria. Sete mil em Israel continuavam fiéis à aliança com Ele.
12) As atitudes inusitadas de Deus são para gerar fé no povo: a maneira diferente de
Deus de tomar Elias para Si, num redemoinho, ao invés de tê-lo deixado morrer
como qualquer mortal teve o objetivo de gerar fé no coração dos israelitas e evitar
também que o túmulo do profeta se tornasse objeto de adoração pagã. Ele fez algo
semelhante com Moisés, outro grande homem, que foi sepultado secretamente pelo
próprio Deus para evitar a idolatria de Israel. Elias foi símbolo da profecia, e
Moisés, também profeta, representou a Lei (cf. a transfiguração de Jesus: Mc 9: 2-
8).
149
Resumo:
com Ele e Suas leis. O insulto deles não era, na verdade, uma zombaria contra a calvície
de Eliseu, mas uma zombaria contra o Deus que o profeta representava; uma rejeição de
sua autoridade profética. Foi a 3ª atitude miraculosa ocorrida no seu recente ministério
(2 Rs 2: 23-25).
Moabe pagava tributo ao rei de Israel. Quando Acabe morreu e Jorão, seu filho,
subiu ao trono, o rei dos Moabitas se revoltou, portanto, Jorão pediu ajuda a Josafá, rei
de Judá, e com eles se aliou o rei de Edom (2 Rs 3: 1-7). Após sete dias de marcha,
faltou água para o exército e para o gado deles. O rei de Israel murmurou, mas Josafá
indagou por um profeta que se pudesse consultar em nome do Senhor. Um dos servos
de Jorão lhe falou sobre Eliseu, filho de Sefate e os três reis foram até ele. Eliseu se irou
contra o rei de Israel, porém por causa de Josafá, pediu que viesse um tocador de harpa.
A música trouxe o poder de Deus sobre Eliseu, e ele profetizou que eles deveriam fazer
muitas covas no vale e o Senhor as encheria de água, não só para matar sua sede e a do
gado, como também entregaria Moabe em suas mãos. Na manhã seguinte as águas
vieram (2 Rs 3: 20) pelo caminho de Edom (4º milagre de Eliseu), águas que
provavelmente foram decorrentes de uma forte chuva que o Senhor mandara sobre as
montanhas edomitas e que fluíram para Moabe. Os Moabitas esperavam encontrar
tanques d’água e confundiram o reflexo vermelho do sol da manhã com sangue (2 Rs 3:
22). Pensaram que os reis tivessem se destruído uns aos outros e foram ao arraial de
Israel. Ali os israelitas os derrotaram perseguindo-os até suas cidades, que também
foram destruídas segundo a profecia de Eliseu. O rei de Moabe, vendo que não poderia
vencer, tomou seu filho primogênito e o ofereceu em holocausto sobre o muro da
cidade. Isso fez com que os Moabitas lutassem com maior intensidade e fúria, levando
os israelitas a se retirarem, pois estes já tinham conseguido seu objetivo.
Com Eliseu, aconteceu milagre semelhante ao que fez Elias com a viúva de Sarepta
(1 Rs 17: 8-16). Dessa vez, foi com uma mulher também viúva dos discípulos dos
profetas (2 Rs 4: 1-7), que estava endividada e temia que os credores levassem seus
filhos como pagamento (seriam escravos). Eliseu lhe deu instruções detalhadas sobre
como levantar recursos colocando óleo em vasilhas. Ela obedeceu às ordens, viu o
milagre de Deus (5º por meio do Seu profeta), pagou sua dívida e sua fé no Senhor
aumentou.
Havia uma cidade na região ocupada pela tribo de Issacar, ao norte de Israel, e no
NT correspondente à Galiléia, chamada Suném (shünem, lugar de repouso). Ali morava
uma mulher rica que lhe ofereceu pão. Todas as vezes que o profeta passava por lá,
entrava em sua casa para comer. Foi ela que sugeriu ao seu marido que lhe fizesse um
pequeno quarto, mobiliado de maneira simples para que, quando o profeta voltasse,
pudesse se abrigar nele. Assim aconteceu. O moço de Eliseu se chamava Geazi e o
profeta lhe perguntou o que ele poderia fazer pela mulher para retribuir sua
hospitalidade. Geazi sugeriu que, talvez, Deus pudesse fazer um milagre de lhe dar um
filho, já que ela não tinha nenhum e seu marido já era velho. Eliseu a chamou
novamente e lhe disse que dali a um ano lhe nasceria um filho. E o milagre aconteceu
como ele tinha predito (2 Rs 4: 15-17, o 6º milagre de Deus por seu intermédio). O
menino cresceu e um dia adoeceu e morreu. A mãe o colocou sobre a cama de Eliseu e
foi procurá-lo. Encontrou-o no Monte Carmelo. Contou ao profeta sobre sua dor e ele
mandou Geazi colocar seu bordão (o de Eliseu) sobre o rosto do menino. A mãe não
queria ninguém mais além do profeta, portanto, ele a acompanhou. Geazi até colocou o
bordão como lhe fora orientado, mas nada aconteceu. Então, Eliseu orou ao Senhor e se
deitou sobre o menino (seus olhos, sua boca e suas mãos sobre os do morto); o garoto
espirrou sete vezes e abriu os olhos (7º milagre). Eliseu tomou o menino e o apresentou
à sua mãe. Mais tarde, houve um período de fome na nação e a Sunamita buscou alívio
151
na Filístia, perdendo todos os seus bens. Após sete anos voltou e seus bens foram
restaurados (2 Rs 8: 1-6). Estou descrevendo agora esse episódio para mostrar que o
relacionamento de Eliseu com a Sunamita não terminou ali com a ressurreição do seu
filho.
Após ter ressuscitado o menino, outro episódio que é colocado em seqüência
também parece estar relacionado ao período de sete anos de fome em Israel, descrito em
2 Rs 8. Esse episódio trata da fraternidade dos profetas em Gilgal. Eliseu disse a Geazi
para colocar a panela grande no fogo e fazer um cozido para os profetas. Algo no
alimento, entretanto, não agradou aos homens; provavelmente estivesse envenenado
pelas ervas que foram ali colocadas. Eliseu colocou farinha na panela e tornou o
alimento saudável. Foi seu 8º milagre. O 9º milagre antecipa o milagre da primeira
multiplicação de pães e peixes feito por Jesus (Mc 6: 35-44). Aqui, Eliseu multiplicou
vinte pães de cevada e espigas verdes para alimentar cem homens.
Em 2 Rs 5: 1-27, a bíblia descreve a história de Naamã, que não tem data precisa.
Talvez, tenha ocorrido num período em que os assírios tentaram dominar a Síria; quem
sabe, um período de trégua entre a Síria e Israel. Naamã era comandante do exército do
rei da Síria e estimado pelo seu senhor. Através dele, Deus dava vitória ao seu povo,
mas Naamã supunha que isso vinha de sua habilidade militar. Era um herói de guerra,
porém, leproso. As tropas da Síria tinham feito prisioneira uma menina israelita que
ficou a serviço da mulher de Naamã. Foi ela que falou à sua senhora sobre Eliseu, que
estava em Samaria, e que era capaz de curar Naamã da lepra. Ele falou com seu rei, que
o enviou a Israel. Parou na porta da casa do profeta, que lhe mandou um mensageiro
com a instrução de Naamã mergulhar sete vezes no Jordão para ser curado. Naamã se
enfureceu, pois esperava outra resposta e outra maneira de ser curado. Cedendo ao
conselho dos seus oficiais, fez o que o profeta tinha mandado e ficou livre da lepra (10º
milagre). Naamã quis recompensar Eliseu, mas este rejeitou o presente. Então, Naamã
lhe pediu que pudesse levar um pouco de terra de Israel para a Síria, pois estava
disposto a adorar somente o Senhor, a partir daquele momento. O profeta o despediu em
paz. Geazi não entendeu a recusa de Eliseu e achou justo receber do oficial sírio uma
recompensa; mentiu-lhe, falando-lhe em nome do seu mestre. Naamã lhe deu dois
talentos de prata e duas vestes festivais. Quando o homem de Deus lhe pediu contas de
onde tinha ido, Geazi mentiu novamente. O profeta o repreendeu e lhe disse que a lepra
de Naamã ficaria, agora, nele e na sua descendência para sempre.
O próximo milagre de Eliseu (11º) diz respeito a ele ter feito flutuar um machado (2
Rs 6: 1-7), o que, provavelmente, ocorreu na mesma época dos outros milagres nas
habitações dos profetas.
Eliseu teve uma notável participação política, principalmente, nas guerras entre a
Síria e Israel (2 Rs 6: 8-24). Avisou o rei de Israel sobre o acampamento do inimigo por
várias vezes, livrando a nação de um desastre (2 Rs 6: 10) e isso perturbou o rei
inimigo, que pensou haver um espião no seu meio. Informado sobre a existência do
profeta, tentou prendê-lo, mas Deus desviou as tropas para Samaria em direção ao
exército de Israel (12º milagre). Entretanto, por ordem de Eliseu, o rei de Israel lhes
ofereceu um banquete e os mandou de volta ao seu senhor. As investidas sírias
cessaram.
Algum tempo depois, voltou Ben-Hadade, rei da Síria, para sitiar Samaria (2 Rs 6:
24-25). Era o período de fome de sete anos predito por Eliseu à sunamita (1 Rs 8: 1) e
descrito anteriormente. Vendia-se cabeça de jumento e esterco de pomba. O estado de
Israel era tão crítico que até canibalismo de crianças era praticado. Isso indignou o rei
Jorão que se voltou contra Eliseu para ter a quem acusar por aquela situação. Mandou-
lhe um mensageiro, mas Eliseu profetizou que no dia seguinte haveria suprimento. O
152
capitão que tinha sido enviado pelo rei como emissário ao profeta duvidou da profecia e
recebeu mais uma palavra dele de que ele veria a profecia se cumprir, porém, não ficaria
vivo para comer do alimento. A profecia se cumpriu (13º milagre) quando quatro
homens leprosos que estavam à porta da cidade resolveram arriscar suas vidas para
procurar comida no arraial dos siros. Ao anoitecer daquele dia, puseram seu plano em
prática, mas quando chegaram lá encontraram o acampamento vazio, pois Deus fizera
os siros ouvirem ruído de um exército e de carros de guerra, e pensaram que Jorão tinha
pedido ajuda ao Egito e aos heteus; entraram em pânico e fugiram deixando tudo. Os
leprosos comeram e beberam e viram as vestes e o ouro. Esconderam os despojos e
voltaram a Samaria para contar ao rei e aos cidadãos o milagre do Senhor. O rei Jorão
duvidou a princípio; depois, enviou soldados para confirmar. Constatando o milagre,
saqueou o arraial inimigo. Assim, se cumpriu a profecia de Eliseu. O capitão do rei que
duvidou das palavras do profeta foi atropelado pelo povo e morreu na porta da cidade
como o homem de Deus havia dito.
Ben-Hadade adoeceu e Eliseu foi a Damasco. O rei siro perguntou ao homem de
Deus, através de um mensageiro, se ele sararia. O mensageiro e assistente do rei era
Hazael, que tinha sido ungido por Elias a mando do Senhor para exterminar a casa de
Acabe. Quando Eliseu o viu, chorou, pois Deus lhe mostrou que ele mataria o rei da
Síria e dizimaria a nação Israel. No dia seguinte, Hazael matou Ben-Hadade e ocupou o
trono. Por ordem de Eliseu, um dos discípulos dos profetas foi até Jeú, capitão do
exército Israelita que estava em Hamote-Gileade, e o ungiu rei, pois Jorão, rei de Israel,
tinha se unido com Acazias, rei de Judá, contra Hazael, rei da Síria, e voltara ferido para
Jezreel.
Como o Senhor ordenara, Jeú dizimou a casa de Acabe matando Jorão, rei de Israel,
e Acazias, rei de Judá. Jezabel, mãe de Jorão e mulher de Acabe, foi jogada da janela do
palácio e também morreu, como o Senhor havia dito por boca do profeta Elias. Jeú
matou também os setenta filhos de Acabe, assim como todos os seus conselheiros,
sacerdotes e todos os seus conhecidos. Todos os sacerdotes de Baal foram
exterminados.
Estando Eliseu enfermo, Jeoás (filho de Jeoacaz, filho de Jeú), rei de Israel, veio
para visitá-lo. O profeta fez a ele uma promessa de vitória sobre os siros; infelizmente,
ele não deu muito crédito a ela.
Eliseu morreu com, mais ou menos, oitenta e cinco a noventa anos e o sepultaram.
Bandos de Moabitas costumavam invadir a terra. Quando os israelitas que estavam
enterrando um homem os viram, lançaram o corpo na sepultura de Eliseu e, quando o
cadáver tocou os ossos do profeta, ressuscitou. Em relação a Eliseu, este foi o 14º
milagre realizado por Deus e que, embora não tenha sido efetuado pelo poder Dele
sobre o profeta ou sobre seus ossos, serviu como um sinal de que o Deus de Eliseu
vivia.
Podemos ver com tudo isso que Elias realizou sete milagres ao longo do seu
ministério. Eliseu tinha lhe pedido porção dobrada e realizou quatorze milagres.
seguiu. Assim também foi com os discípulos de Jesus. A bíblia fala que eles
deixaram o que estavam fazendo e o seguiram. A velha vida foi deixada para trás e
uma nova começava com Jesus. Outra semelhança com o ministério de Jesus e que
aconteceu na vida de Eliseu foi a ressurreição do filho da sunamita. A primeira
semelhança diz respeito à confiança dela no profeta, não especificamente em sua
autoridade através de outra pessoa. Quando ele enviou seu moço Geazi e o orientou
a estender o bordão sobre o rosto o menino e nada aconteceu, a mulher não se
apartou de Eliseu, ou seja, ela achava que ninguém mais poderia ressuscitar seu
filho, que não fosse o profeta. Esse episódio foi muito parecido com aquele que
Jesus curou o menino que tinha epilepsia (por causa de demônio), mas que não pôde
ser curado por Seus discípulos porque o pai achava que só o Senhor poderia curá-lo.
Quando Jesus foi até ele, não se importou de início com o menino possesso, e sim
com o pai, restaurando-lhe a fé, não só na Sua presença física ali, como lhe
mostrando que Ele era a palavra viva e estava também na boca de Seus seguidores
para realizar os milagres que fossem necessários. Assim como a fé do pai teve que
ser trabalhada, a fé da mulher também foi trabalhada por Eliseu. Mais um episódio
onde podemos encontrar fatos parecidos com o evangelho é o relacionamento mais
íntimo e prolongado com a sunamita, pelo fato de Eliseu voltar ali amiúde e até ter
um quarto construído para si onde se abrigar. Eliseu, primeiro, conquistou a amizade
da mulher e do marido, passou a ser como se fosse um membro da família e, com
certeza, falava sobre o Deus de Israel com eles, ministrava a eles a palavra do
Senhor; só depois realizou o milagre da ressurreição do filho deles. Seu
relacionamento com essa família não terminou por aí, mas continuou quando, após
sete anos de seca, os bens da sunamita foram restaurados porque Geazi intercedeu
por ela junto ao rei. Jesus, da mesma forma, foi amigo íntimo de Lázaro, Marta e
Maria; freqüentou sua casa e se hospedou lá, teve várias oportunidades de estar com
eles ministrando a Palavra e ressuscitou Lázaro para mostrar a eles que era
verdadeiramente seu amigo de todas as horas. Quando ele foi crucificado e passou
três dias no túmulo, foi uma semelhança com o período de seca enfrentada pela
sunamita, pois se sentiu afastada da fonte de águas vivas vindas do profeta. Lázaro,
Marta e Maria ficaram sem a “Água da Vida” ali com eles, mas foram restituídos da
sua esperança quando Jesus ressuscitou e voltou para eles, até subir ao céu depois de
quarenta dias. O mesmo acontece conosco: Jesus nos chama para Ele e começa a
nos encher com Sua palavra e, de repente, por alguma tribulação na nossa vida, nos
sentimos secos e mortos, parecendo que Ele se afastou justo no momento da nossa
assolação e solidão; entretanto, depois do nosso aprendizado com essa situação, Ele
volta a ressuscitar nossa esperança, nos restituindo daquilo que nos foi roubado.
Outro milagre de Eliseu que teve semelhança com o de Jesus foi a multiplicação dos
vinte pães de cevada e das espigas para cem homens, semelhante com a
multiplicação dos pães e peixes para cinco mil e quatro mil homens (dois milagres
de multiplicação de pães e peixes). O episódio ocorrido após a morte de Eliseu,
quando o cadáver do homem que tinha sido jogado no seu túmulo passou a ter vida
ao tocar seus ossos, pode ser outra forma de mostrar o poder ressuscitador de Jesus
sobre todas as coisas mortas. Quando Jesus morreu e ressuscitou, não só tirou as
chaves da morte das mãos do diabo, como pregou aos espíritos em prisão (1 Pe 3:
19), ou seja, os mortos do AT. Quando morreu na cruz, a bíblia diz que muitos
mortos ressuscitaram e passaram a andar pela cidade (Mt 27: 52-53). O milagre
realizado por Deus com o caso dos ossos de Eliseu foi para mostrar ao Seu povo que
o Deus de Eliseu estava vivo; jamais morreria e tinha o poder da vida e da morte
154
consigo. O fato de Jesus ressuscitar nos passa a mesma mensagem: Ele vive
eternamente, assim como todos aqueles que crêem e tocam Nele.
2) O profeta precisa superar todas as provas colocadas em seu caminho para ser
reconhecido como uma autoridade vinda de Deus: foi o que aconteceu com Eliseu
um pouco antes de ser sucessor de Elias. Primeiro, ele seguiu o mestre até Betel, que
significa ‘a casa de Deus’. Isso quer dizer que o profeta deve estar sempre na
presença de Deus para ter revelação e autoridade. Em segundo lugar, Eliseu o seguiu
até Jericó. Isto significa que as muralhas das impossibilidades devem ser vencidas
para conquistar a unção profética. É um ato de fé colocada em ação para que o
profeta descubra a força da palavra de Deus em sua boca. O terceiro passo é ir para
o Jordão, que simboliza a mudança de mente, o divisor de águas, ou seja, a
separação da mente de Deus da mente do homem. O profeta deixa o Espírito vir
separando a mente dele da de Deus para que possa ter um grau maior de fé e uma
visão mais elevada das situações e, assim, possa ser um canal de milagres para o
Senhor. Eliseu superou todas essas provas para poder conquistar a porção dobrada
de Elias.
3) Olhar para o espiritual, não para o natural: Elias disse a Eliseu que ele teria o que
tinha pedido se pudesse ver o momento exato do seu arrebatamento, o que foi uma
experiência espiritual. Os cavalos e carros de fogo, símbolo de autoridade de Deus
no mundo espiritual, eram a visualização dos anjos trazendo a glória e o poder de
Deus ao tomar Seu ungido. O Senhor estava fazendo algo insólito, pois ninguém
teve esse tipo de morte, a não ser Enoque, antes de Elias. Todos os Seus servos,
inclusive Moisés, foram enterrados como todos os mortais. Assim, o que estava
acontecendo era algo espiritual que mostrava a Eliseu que, para ele ter o manto
profético e o poder de Deus que desejava para dirigir a nação, era preciso aprender a
olhar sempre com os olhos espirituais, não com os naturais. Se ele não estivesse ‘em
espírito’ naquele momento, não poderia ter visto o que viu. Os olhos naturais dos
homens não os permitiam ver o milagre. Isso significa que o profeta precisa ter os
olhos voltados para o alto, para as coisas espirituais, não para as da carne.
4) Os que desprezam e invejam vão ter que reconhecer a autoridade de Deus sobre
Seus ungidos: os discípulos dos profetas que antes haviam tentado atrapalhar e
dissuadir Eliseu de seguir Elias tiveram que reconhecer a autoridade de Deus sobre
Seu escolhido, quando viram o profeta voltar sozinho do outro lado do Jordão e
depois de procurarem por Elias em vão, sem achá-lo.
5) A nova aliança traz vida e bênção: o episódio que Eliseu pede um prato novo e
coloca sal para tornar saudáveis as águas de Jericó exemplifica isso. O prato
simboliza o nosso espírito. O sal simboliza aliança (Lv 2: 13 e Nm 18: 19),
fidelidade da promessa, natureza não perecível do pacto, o amor imutável de Deus,
sinal de purificação e santidade. Ao fazer Eliseu jogar o sal no prato novo, o Senhor
estava mostrando com isso que Sua promessa não tinha morrido e Ele estava
disposto a fazer uma nova aliança com Seu povo. Nada pode continuar estéril com
Ele por perto. Outra característica interessante do sal é que ele derrete o gelo. Isso
significa que a palavra verdadeira de Deus derrete os corações frios e endurecidos
pelo pecado e pelas barreiras humanas.
6) Os mandamentos imutáveis de Deus prevalecem sobre a irreverência e a falta de
temor: quando Eliseu foi ridicularizado pelos quarenta e dois rapazes por causa de
sua calvície, na verdade, era Deus que estava sendo zombado e desprezado pelo
povo de Israel. Duas ursas saíram do mato e os destruíram. O urso é um animal que
tem maior força que o leão e suas ações são menos previsíveis. Como vimos na aula
sobre Sansão, o leão representa a ação de forças e poderes espirituais sobre nós.
155
Assim, podemos imaginar que o urso também é uma força dessas, porém, maior,
como a força de Deus, que é capaz de realizar justiça contra tudo o que afronta Sua
santidade e Sua palavra, e pode pegar o inimigo de surpresa em qualquer situação. O
número dois para os israelitas simbolizam a Lei e os Mandamentos inscritos nas
duas tábuas que Moisés trouxe do Sinai; em outras palavras, simboliza a aliança
imutável de Deus com Seu povo. Com esse ato de juízo de Deus sobre a
desobediência e falta de temor, realizado através de Eliseu, Ele quis mostrar que o
Seu poder é maior para destruir todo o pecado e opressão. Sua palavra continua
sendo fiel.
7) O louvor traz a presença de Deus: na guerra dos três reis contra Moabe, Eliseu
pediu um tangedor. Quando a música trouxe a presença de Deus sobre ele, pôde
profetizar e revelar as estratégias divinas ao Seu povo. Assim, o louvor nos
aproxima do Seu trono e nos faz conhecer Seus segredos. Além disso, como
aconteceu com Josafá na guerra contra os moradores de Seir, o louvor faz com que
Deus guerreie por nós contra o que não podemos resolver e nos traz livramento.
8) Abrir espaço para Deus agir: quando o Senhor orientou que fizessem covas no vale
para que Ele enchesse com água, isso queria dizer para abrir espaço (covas) no
coração para que as situações aparentemente antigas e sem solução (vale) possam
ser inundadas pela Sua vida e pela Sua palavra. Seu sangue (cor vermelha da água
sob o reflexo do sol da manhã, vista pelos Moabitas) afasta o inimigo e traz vitória e
renovação.
9) Milagre de suprimento vem de Deus e não dos homens: podemos ver isso no caso da
viúva endividada que estava prestes a entregar seus filhos como escravos para poder
saldar o que devia. Com este pensamento e com esta atitude, ela estava lançando
mão da solução humana, ou seja, vender o que se tem para pagar dívidas. Na
verdade, ela estava mais do que vendendo algo para se ver livre da cobrança; ela
estava dando ‘de mão beijada’ na mão do inimigo o que ela tinha de mais precioso
que era seus filhos. Filho representa o sonho. Dessa forma, quando nos vemos
pressionados pelo adversário, temos a tendência a entregar a ele o que é precioso
para nós, a ponto de vendermos nossos bens materiais e até abrir mão dos nossos
sonhos porque achamos nessa solução humana o socorro imediato para nossa
situação de miséria. Quando damos ouvidos à palavra de Deus (representada aqui
por Eliseu) e a acolhemos com fé no nosso coração, podemos ver que Ele tem uma
solução espiritual, que é mais eficaz do que a que temos. As vasilhas somos nós, os
vasos capazes de comportar a unção do Senhor; portanto, quando nos encontramos
numa situação de carência e falta de suprimento em qualquer área da nossa vida,
Deus nos fala para pedirmos a Ele que nos traga vasilhas (Seus filhos) para que Ele
possa encher e realizar, através deles, o milagre que precisamos. Quanto mais forem
as vasilhas, mais unção de Deus vai ser derramada, e maior vai ser a vitória. Outro
aprendizado aqui visto sob o prisma divino é que nós, quando pensamos que não
temos mais nada, ainda temos uma porção da Sua unção para ser derramada sobre
outros e multiplicar Sua palavra de salvação na terra. Outros precisam ser cheios
com o Seu poder.
10) Se encher com o Espírito: voltando ao caso da ressurreição do filho da sunamita,
podemos ver alguns tópicos de importância. Muitas vezes, não só a Palavra cura,
mas a visão e a ação corretas (conjuntamente): ‘boca, olhos, mãos’. Por isso, Jesus
tocava algumas pessoas. Espirrar, aqui no texto, simboliza uma ação libertadora
divina perfeita (sete vezes) sobre o espírito do menino. Em Gênesis, está escrito que
o sopro de vida de Deus (O Espírito) foi colocado no homem (Adão). Quando Eliseu
colocou seus olhos, sua boca e suas mãos sobre o menino, o Senhor estava
156
Eliseu; mentira, porque falou em nome de Eliseu a Naamã quando o profeta nada
tinha lhe dito, além do que mentiu para seu próprio senhor não dizendo aonde tinha
ido; e orgulho, porque queria receber uma honra que não era sua, queria receber de
Naamã uma recompensa que, teoricamente, pertencia a outro. Como conseqüência
desses pecados, a maldição de Deus se manifestou nele e na sua descendência. A
mancha (lepra) deixada pelo pecado o marcou para sempre, assim como aos seus
filhos. Podemos ver aqui uma semelhança tremenda com o que aconteceu no Éden
com Adão e Eva. O pecado de orgulho, querendo se colocar no lugar de Deus,
detendo Sua sabedoria e querendo Sua glória, acarretou ao homem a maldição
divina, deixando nele uma marca, uma mancha, que era a natureza pecaminosa do
diabo em sua carne.
14) É necessário saber localizar o erro: o machado que estava na mão do discípulo dos
profetas tinha caído no rio. Mas ele teve que dizer exatamente o lugar onde isso
tinha ocorrido para Eliseu jogar o pedaço de madeira e o fazer flutuar. Isso significa
que quando oramos com sinceridade ao Senhor, colocando diante Dele o que nos
aflige e Lhe dizendo exatamente onde nos sentimos incomodados, Ele nos traz uma
palavra libertadora que traz à tona o problema e o remove de uma vez por todas.
Outro ensinamento que podemos tirar dessa situação é que quando não temos mais
recursos para nossos problemas, a palavra de Deus vem encontrando o que parecia
estar perdido e trazendo luz e solução. Machado é um instrumento que decepa e que
corta, o que quer dizer que a Palavra é um machado que não devemos deixar perdido
dentro de nós, mas sempre atuante para cortar as malignidades das nossas vidas e
separar o que é de Deus para nós e o que não é.
15) Pagar o mal com o bem para cessar a guerra: quando o exército dos siros foi
desviado por Deus para Samaria e o rei queria matá-los, o profeta lhe deu uma
ordem que pareceu absurda: servir a eles um banquete e devolvê-los ao seu rei. A
estratégia surtiu efeito e os ataques cessaram. É o mesmo ensinamento que Jesus nos
deu para que o inimigo não tenha do que nos acusar.
16) Não ter apegos nem medos nos garante a conquista da bênção: os leprosos não
tinham nada a perder no caso da fome que reinou em Samaria, não tinham apegos;
também tiveram ousadia de arriscar a procurar alimento no território do inimigo. Por
isso Deus os ajudou e conseguiram a vitória. Os medrosos e ‘prudentes’ ficaram
apenas olhando, não tiveram a primogenitura da bênção. Como eles tomaram uma
atitude de coragem, foram os primeiros a provarem do despojo. Deus espera de nós
uma atitude pró-ativa, não passiva, pois essa atitude de coragem e determinação nos
torna conquistadores e reis, não coitados ou impotentes.
158
Resumo:
Ester (Istar, em persa, ‘tão bela como a lua’, nome relacionado à deusa babilônica
do amor e da fertilidade: Ishtar; Stara, em persa, estrela; Hadassa, em hebraico, murta)
casou-se com Assuero (Achashverosh = hebr.: príncipe, chefe, cabeça, leão;
equivalente hebraico do persa Khshayarshan = rei leão; Xerxes em grego, belicoso,
grande guerreiro, leão; Xerxes é uma transliteração grega do seu nome persa depois de
sua ascensão, Jshāyār Shah, que significa ‘governante de heróis’), que reinou em 486–
465 AC e foi sucessor de Dario I (522–486 AC), em cujo reinado se deu a restauração
do templo de Jerusalém (516 AC). A História fala sobre a esposa de Assuero ou Xerxes,
Amestris, identificando-a como Vasti, uma mulher despótica. Wilson, o historiador que
identificou Xerxes com Assuero e Vasti com Amestris sugeriu que tanto Amestris como
Ester são nomes persas que derivam das palavras Acadianas: Ammi-Ishtar ou Ummi-
Ishtar. Hoschander, outro historiador, sugeriu alternativamente como origem dos dois
nomes a expressão Ishtar-udda-sha (“Ishtar é tua luz”), com a possibilidade de -udda-
sha estar ligada com a similaridade sonora do nome hebraico Hadassah. Por isso, a
bíblia diz que Ester e Hadassa, os dois nomes, estão relacionados à mesma pessoa.
Nota: Suméria era uma das designações dadas à metade sul do Iraque, mais ou menos de
Bagdá para o sul, em contraste com o norte, que era conhecido como Acade, por isso o
termo acima: ‘acadiana’. Outro significado hebraico para Ester é ‘secreta’, ‘escondida’.
Ester subiu ao trono em 479 AC (Et 2: 16).
No terceiro ano do seu reinado, Assuero deu um banquete na cidadela de Susã
(Atual sítio arqueológico nas proximidades de Shush, uma cidade da província sudoeste
do atual Irã, chamada Khuzistão ou Cuzistão) a todos os seus príncipes e servos.
Também a rainha Vasti deu um banquete às mulheres na casa real. No último dia da
celebração o rei solicitou a presença da rainha Vasti, com a coroa real, para mostrar sua
formosura aos povos e aos príncipes, pois era em extremo formosa. Porém, a rainha
Vasti recusou vir e o rei se enfureceu muito. Por orientação dos sábios do reino foi,
então, promulgado um edito real inscrevendo na lei que Vasti não mais poderia entrar
na presença do rei Assuero e que seu lugar seria dado a outra. Vasti talvez tivesse
motivos políticos para não aparecer no banquete do rei, ou tivesse previsto uma situação
desagradável. De acordo com os historiadores judeus, Vasti deveria aparecer vestindo
somente a coroa, sem roupa alguma, e a possibilidade de ser cobiçada por uma massa
embriagada, certamente, explica sua relutância, independentemente do que tivesse de
vestir.
Depois de algum tempo, o rei se lembrou de Vasti e os jovens que o serviam
sugeriram que fossem trazidas virgens de boa aparência e formosura para Susã e a que
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caísse no agrado do rei reinasse em lugar da que fora deposta. O rei concordou. Na
cidadela de Susã havia um homem chamado Mordecai ou Mardoqueu (‘homem
pequeno’), da tribo de Benjamim, descendente de Quis, o que o ligava à tribo e à família
do rei Saul. Isso explica o conflito entre Mordecai e Hamã, o agagita, amigo do rei
Assuero e que era descendente de Agague, rei amalequita que foi poupado por Saul
contra as ordens de Deus e depois morto pelo profeta Samuel. Os antepassados de
Mordecai tinham sido exilados de Jerusalém para a Babilônia, após a queda de Judá sob
domínio de Nabucodonosor. Mordecai nasceu na Babilônia. Em Et 2: 5-6 ocorreu,
provavelmente, um erro na tradução e na data ao referir que Mordecai foi feito cativo
em 597 AC (com Joaquim, a bíblia fala ‘Jeconias’, rei de Judá). Provavelmente, foi seu
bisavô que foi exilado junto com Joaquim, rei de Judá, em 597 AC (2ª etapa do exílio de
Israel). A História descreve três etapas de exílio de Judá: 605, 597 e 586 AC. Sua prima
Hadassa, conhecida entre os persas por Ester, fora criada por ele como filha, quando
morreram seus pais. Ester nasceu na Babilônia (já sob domínio persa).
Foram ajuntadas muitas moças na cidadela de Susã, entre elas Ester, levada à casa
do rei sob os cuidados de Hegai, guarda das mulheres. Ester alcançou favor perante
Hegai, que se apressou em dar-lhe os ungüentos e os devidos alimentos, como também
às sete jovens escolhidas da casa do rei.
Na Antiguidade, a porta da cidade era o centro das atividades comerciais e
jurídicas. Provavelmente Mordecai tinha um cargo a serviço do rei que o obrigava a
ficar na porta. Registros antigos mostram que havia um oficial secundário na
administração de Assuero com o nome de Mardukaya.
Mordecai proibiu Ester de declarar sua nacionalidade, pois queria preservá-la da
hostilidade contra os judeus. Todos os dias, Mordecai passeava diante do átrio da casa
do rei e perguntava aos guardas sobre Ester. As mulheres foram tratadas por doze meses
para seu embelezamento, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e
com os perfumes e ungüentos. Depois, elas poderiam vir ao rei, sendo-lhes permitido
levar consigo o que desejassem da casa das mulheres para a casa dele. Em seguida,
voltariam para a casa das concubinas e só voltariam à presença do rei se ele assim o
desejasse.
Quando chegou a vez de Ester, ela nada pediu; alcançou favor de todos quantos a
viram. Foi levada ao rei no sétimo ano do seu reinado, no décimo mês (dezembro-
janeiro), o mês de Tebete. A bíblia fala que o rei amou Ester mais do que todas as
mulheres e foi coroada rainha no lugar de Vasti.
Num daqueles dias, estando Mordecai sentado à porta da casa do rei, dois eunucos,
Bigtã e Teres [Et 2: 21; Et 6: 2 (a palavra hebraica traduzida por eunuco pode significar:
oficial, homem castrado ou as duas coisas)], guardas da porta do palácio de Assuero,
tramaram matar o monarca. Mordecai ficou sabendo, o revelou a Ester que, por sua vez,
disse ao rei, em nome de Mordecai. O caso foi investigado, confirmado e os dois foram
enforcados.
Depois desses acontecimentos, Assuero engrandeceu a Hamã e o exaltou sobre
todos os príncipes do reino, e todos os servos do rei que estavam à porta da sua casa se
inclinavam e se prostravam perante ele; Mordecai, porém, não se inclinava nem se
prostrava. Hamã se enfureceu com isso e, sabendo que Mordecai era judeu, intentou
também contra todo o povo de Deus em todo o reino de Assuero. No 12º ano do seu
reinado se lançou o Pur, isto é, sorte, perante Hamã, desde o 1º (nisã, março-abril) até o
último mês do ano (adar, fevereiro-março). Dados eram lançados em sorte para
determinar a data de acontecimentos importantes do ano no antigo Oriente Médio.
Hamã lançou os dados para marcar o dia em que gostaria que os judeus do reino fossem
executados. Subornou o rei com uma alta quantia (Dez mil talentos de prata; trezentas e
160
quarenta toneladas). Assuero não fez caso do suborno e entregou seu anel (sinal de sua
autoridade real) a Hamã, e os judeus sob sua jurisdição para fazer deles o que ele bem
entendesse. Foi, então, sorteado o dia 13 do mês de Adar para a execução de todos os
judeus do reino. O decreto era irrevogável, pois tinha sido selado com o anel do rei.
Mordecai demonstrou profundo desgosto com o decreto, assim como todos os do
seu povo.
Ester também ficou sabendo e Mordecai pediu a ela que intercedesse junto ao rei
pela vida do povo de Deus. Ester teve medo, pois sabia que não poderia aparecer diante
do rei sem ser chamada, mas por insistência de Mordecai, apregoou jejum entre os
judeus por três dias; passado este tempo, ela iria ter com o rei, a lei permitindo ou não.
Passados os três dias, Ester foi ao rei, que estendeu para ela o cetro de ouro. Ester
tocou a ponta do cetro e ele perguntou a ela o que ela queria. Ela, então, convidou o rei
e Hamã para um banquete. À noite, durante a festa, o rei perguntou novamente a ela o
que ela desejava. Ela o convidou novamente para um segundo jantar. Hamã, com ódio
de Mordecai, tinha mandado erguer uma forca de 50 côvados de altura, ou seja, vinte e
três metros, sobre o muro (símbolo de exaltação pessoal e demonstração aberta de
poder) com o intuito de enforcá-lo nela. Na noite anterior ao segundo banquete, o rei
não pôde dormir e mandou trazer o livro onde estavam registrados os feitos memoráveis
do reino e nele se achou escrito que Mordecai é quem tinha denunciado a conspiração
contra Assuero. O rei estranhou que não tivesse sido dada nenhuma honra a Mordecai
por isso. Hamã estava no pátio, pronto para falar-lhe sobre a forca. O rei lhe perguntou
o que se deveria fazer a quem o rei desejasse honrar. Hamã, pensando que era dele que
se tratava, sugeriu ao rei que colocasse sobre o homem as vestes reais e a coroa real e o
montasse no cavalo do soberano. Então, o rei mandou chamar Mordecai e lhe fez como
Hamã dissera. Assim vestido, foi levado a um passeio pela cidade e apregoado diante
dele a honra que lhe fora dada por Assuero.
Hamã, furioso, voltou para sua casa e, mais tarde, compareceu ao segundo banquete
de Ester. Assuero lhe perguntou novamente o que ela queria e ela lhe pediu que ele
poupasse sua vida e a vida do seu povo. Assim, revelou sua nacionalidade diante de
todos e lhe contou sobre o decreto de Hamã. Ele foi preso e enforcado na mesma forca
que tinha preparado para Mordecai.
Naquele mesmo dia, o rei deu a Ester a casa de Hamã e seu anel real a Mordecai,
colocando-o como o segundo no reino (chanceler); acima dele só era válida a autoridade
do rei. O decreto anterior em relação aos judeus não poderia ser revogado, segundo a lei
dos persas. Então, o rei deu autorização a Mordecai que emitiu um segundo decreto em
nome do rei no qual ele concedia aos judeus que lutassem pela sua vida, matando seus
opressores. A carta foi enviada aos judeus de todas as províncias do reino. No dia 13 do
mês de Adar, em que se cumpriria o decreto de Hamã, os judeus lutaram contra seus
inimigos e prevaleceram. Foram mortos os dez filhos de Hamã, mas não se tocou no
despojo, pois era uma guerra santa. Ester pediu ao rei que pendurassem os cadáveres
numa forca. Assim se fez. Isso significava um sinal de vingança da parte do Senhor e
que a maldição divina contra os amalequitas havia sido cumprida pelos descendentes de
Saul.
No dia 14 descansaram e fizeram festa. Foi dia de alegria. Em Susã os judeus
fizeram festa no dia 15. Assim, Mordecai ordenou que os dias 14 e 15 do mês de Adar
(Fevereiro-Março) fossem comemorados todos os anos para lembrar o povo da vitória
sobre seus inimigos. Chamaram àqueles dias de Purim, por causa do nome Pur (sorte).
Mordecai manteve sua autoridade como segundo no reino e trabalhou pelo bem-estar do
seu povo.
161
1) Preparo para reinar: Ester foi preparada segundo o costume persa com óleo de
mirra por seis meses e com outras especiarias e ungüentos por mais seis meses para
o seu embelezamento, antes de ser levada ao rei. Mirra simboliza unção de cura e
resgate, fortalecimento interior, tempo de preparo, purificação e mudança de vida.
Depois, foi completado seu embelezamento com outras especiarias. Isso significa
que para podermos ocupar nosso lugar como reis e sacerdotes nós precisamos ser
preparados, recebendo a cura de Jesus, o fortalecimento interior e uma
transformação real de vida através da mudança da nossa maneira de pensar. Depois
da mirra, Ester foi preparada com especiarias e ungüentos, que significam dons que
o Espírito Santo derrama sobre nós após termos sido sarados; para que agora na Sua
força, possamos exercer nosso chamado e exercitar Sua autoridade na terra.
2) Nossos bons atos ficam registrados no livro do Rei (Jesus) e a recompensa vem na
hora certa: assim como a atitude de Mordecai denunciando a conspiração contra
Assuero ficou registrada nos livros do reino e teve, no momento certo, a recompensa
por parte do rei, nossas atitudes de fé, perseverança e dedicação ao Senhor são
registradas no Seu altar e, no momento certo, Ele nos exaltará diante do inimigo.
Mordecai, assim como José e Daniel, teve uma autoridade somente inferior à do rei
(Dn 6: 2; Gn 41: 41-44).
3) Justiça divina e restituição: Hamã foi enforcado na mesma forca que tinha
preparado para Mordecai. A restituição de Deus veio sobre Ester. Isso significa que,
mesmo que o inimigo tente colocar ciladas no nosso caminho, Deus as desfaz e o
enforca com sua própria corda. O Senhor nos traz a restituição e nos devolve o que
era nosso. Hamã significa, em hebraico: fortaleza e, em persa (Hamayun),
magnificente, ilustre, bem disposto. Há outro significado originado da palavra persa
heymun: barulho, tumulto. Ao dar a casa de Hamã a Ester, Deus estava,
simbolicamente, devolvendo a ela a fortaleza, a magnificência e o poder, o bem-
estar e a disposição, pois não mais se sentiria ameaçada nem pressionada pelo
inimigo, mas gozaria do seu status de rainha.
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4) Jesus quebra o decreto de Satanás sobre nossas vidas: Mordecai é a figura de Jesus
(protetor de Ester) e foi ele que emitiu um novo decreto impedindo o massacre dos
judeus. Da mesma forma, Jesus nos toma para Ele e quebra o decreto de morte sobre
nossas vidas, nos dando um novo decreto de vida eterna e direito à Sua herança.
5) Maldição se transforma em bênção quando estamos debaixo da vontade do Senhor:
a mão de Deus estava sobre Ester, Mordecai e sobre Seu povo, portanto, o dia 13 do
mês de Adar, que fora separado para morte dos judeus, se transformou em dia de
bênção, alegria e júbilo, pois o Senhor os livrou. Da mesma forma, quando algo
parece ser uma maldição nas nossas vidas, Deus o transforma em bênção, pois
estamos debaixo da Sua orientação e temos certeza que tudo Lhe pertence e está
debaixo do Seu governo.
6) Semelhança entre o que aconteceu antes da criação do homem, entre Deus e
Satanás: se observarmos os relatos bíblicos sob a ótica espiritual e sobre o
simbolismo dos personagens, podemos notar certa semelhança com o que aconteceu
no mundo espiritual antes da criação do homem, quando Satanás se exaltou acima
de Deus e foi derrubado. Ao querer o louvor e a honra para si, causou sua própria
queda (Ez 28: 11-19; Is 14: 12-15). Is 37: 29 pode ser uma referência velada a esse
tema também. Mordecai é a figura de Jesus e Hamã, a figura do inimigo. Hamã
tentou ter para si a glória que era de Mordecai, mas acabou caindo, assim como
Satanás caiu. Hamã significa: fortaleza, bem disposto. É uma forma de dizer que
queria para si uma qualidade que pertence a Jesus. Os nomes dos seus filhos são
outra maneira de ele dizer que seus frutos, seus sonhos, suas sementes são tão bons
quanto os de Deus:
Dalfom = esforçado. Isso poder ser interpretado como determinação, perseverança,
que são qualidades concedidas por Deus e pertencentes a Ele.
Parsandata = nascimento nobre, o que significa para nós: ser filho de rei.
Aspata = cavalo, símbolo de força e poder militar. A bíblia diz que Deus é
conhecido também como o Senhor dos exércitos, o Senhor da guerra.
Adalia = nobreza, nobre. A bíblia diz que nós somos reis.
Porata = que tem muitos carros e ornamentos, o que fala de riqueza e sinal de
poder. O dono do ouro e da prata é Deus (Ag 2: 8).
Aridata = nascimento nobre. Como dissemos: ser filho de rei.
Farmasta = muito grande. Quem pode ser maior do que Deus?
Arisai = semelhante a um leão. Jesus é o leão de Judá e símbolo de liderança, força
e poder.
Aridai = grande, brilhante. Jesus é a luz. A luz e o brilho pertencem aos reis.
Vaizata = forte como o vento, ou seja, símbolo de poder e força espiritual. Vento
(Ruach) = Espírito, em referência ao Espírito Santo.
163
Jó – 20ª aula
Resumo:
Jó tinha grande riqueza e alta posição social, mas não era rei. Oferecia sacrifícios a
Deus em favor dos filhos. Tinha sete filhos e três filhas.
O livro de Jó é um livro que aborda o sofrimento humano e o que acontece fora do
nosso conhecimento, mesmo com os que são justos e que, muitas vezes, são
incompreendidos até pelos amigos, cuja sabedoria carnal, limitada, também não
compreende a razão do seu sofrimento, levando-os a agir de duas maneiras: aceitando
sem contestar e ajudando o outro a superar a prova ou agindo como juiz, como foram os
164
amigos de Jó, acusando o irmão de pecado, sem reconhecer sua própria ignorância no
assunto. Para a mentalidade da época, quando alguém sofria era sinal da ira de Deus
sobre ele por haver pecado; não entendiam os diferentes caminhos do Senhor e que
alguém pode sofrer, mesmo não tendo nenhuma condenação divina sobre si. Para Elifaz,
Bildade e Zofar o caso de Jó era um caso diferente de tudo o que já tinham visto. Aqui,
o que estava em oculto era o ataque de Satanás contra o próprio Deus usando Jó como
arma. Mostrou a Deus que Jó era fiel porque tinha tudo; se Ele tirasse dele a Sua mão e
todas as coisas que tinha, ele (Satanás) duvidava que Jó continuasse sendo leal.
Assim, Jó perdeu bens e filhos num só dia. A princípio, se conformou com o juízo
de Deus e não pecou contra Ele. Não satisfeito com a situação, Satanás exigiu de Deus
também a saúde de Jó e Ele permitiu que fosse tocado em seu corpo para ter mais um
motivo, no final, para envergonhar o adversário. Deus permitiu todas as coisas para
mostrar que a fidelidade entre Ele e Jó não se quebraria nunca nem por coisa alguma.
A bíblia fala dos três amigos de Jó: Elifaz o temanita, Bildade o suíta, Zofar o
naamanita e Eliú, filho de Beraquel, o buzita. Temã era filho de Elifaz, o primeiro filho
de Esaú e Ada (Gn 36: 11; 1 Cr 1: 36) e talvez tenha dado seu nome ao distrito ao norte
de Edom (Jr 49: 20; Ez 25: 13; Am 1: 12; Ob 9). Seus habitantes eram famosos por
causa de sua sabedoria (Jr 49: 7; Ob 8 e seg.). Embora a localização exata de Temã
permaneça desconhecida, há fortes evidências a favor da cidade Jordaniana de Ma‘ãn.
Havia muitas nascentes de água na região, e isso a tornava atraente para as caravanas
entre a Península Arábica e o Levante (um termo geográfico que se resume à Síria,
Jordânia, Israel, Palestina, Líbano e Chipre). Quanto a Bildade, o suíta, nós podemos
dizer que a tribo dos suítas (Gn 25: 2; 6) eram os descendentes de Suá, filhos de Abraão
e Quetura, e que habitaram ao oriente, na Arábia Deserta. E os naamatitas localizavam-
se nas terras do leste, região de homens sábios (cf. 1 Reis 4: 30). Zofar, o naamatita,
pode ter vindo de Naamã, uma área montanhosa no noroeste da Arábia Deserta. Em Jó
32: 2 é mencionado Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão. É provável que
ele fosse descendente de Buz, o 2º filho de Naor, irmão de Abraão (Gn 22: 20-21); ou
tivesse vindo da cidade de Buz, mencionada junto com Dedã e Tema (ou Temá; Jr 25:
23), lugares em Edom ou na Iduméia. Quanto a Rão, muito provavelmente se refere a
Arã (Gn 22: 21), filho de Quemuel, irmão de Buz, filho de Naor.
Jó amaldiçoou o dia do seu nascimento e sua mulher lhe disse para amaldiçoar a
Deus e morrer. A princípio, seus três amigos se sentaram junto com ele para consolá-lo
e se condoerem da sua dor; por sete dias e sete noites fizeram isso. Até que seu amigo
Elifaz o lembrou que ele era um exemplo para o povo e deveria buscar a Deus.
A história continua com os amigos começando acusá-lo, dizendo que seus
sofrimentos eram causados por pecado. Ao distorcerem a verdade, só fizeram aumentar
sua dor.
A narrativa prossegue numa seqüência quase que interminável de queixas contra
Deus e embates de palavras e conhecimentos teológicos entre Jó e seus amigos. Ele
ainda mantinha momentos de fé e confiança em Deus, mesmo não entendendo o que
estava acontecendo, mesmo se revoltando contra o que acontecia, exigindo uma
explicação do Senhor e mesmo sendo acusado falsamente pelos seus amigos de ter
pecado. Começou a lembrar do seu primeiro estado feliz e declarou sua integridade. Em
nenhum momento Jó começou a achar que tinha pecado ou culpa de alguma coisa; não
se deixou seduzir pelas acusações dos seus amigos, pois sabia como andava diante de
Deus.
A partir de certo momento, entra em cena mais um personagem: o jovem Eliú, que
repreende tanto Jó quanto os outros três e justifica a Deus tentando explicar todas as
Suas atitudes para com os homens. Jó começa a buscar revelação Nele. Depois disso, o
165
Senhor o repreende, o que vai trabalhando sua amargura interior e esclarecendo muitas
coisas, terminando por apoiá-lo e repreendendo seus amigos porque não disseram dEle
o que era reto. Jó intercede por eles e os perdoa por tê-lo acusado falsamente. Deus o
restitui em dobro tudo o que perdeu. Entretanto, lhe deu o mesmo número de filhos: sete
homens e três mulheres. Aparentemente, Jó lidava bem com a riqueza e ela nunca
prejudicou seu relacionamento com Deus, por isso o Senhor o restituiu em dobro,
materialmente falando. Com isso quis mostrar que os bens materiais podem ser
restituídos, mas não os filhos.
A bíblia fala sobre as filhas de Jó, mas não sobre os filhos. Falar das belas filhas de
um herói era sinal da bênção divina. Seus nomes eram: Jemima (pombo), símbolo da
paz; Quezia (canela), símbolo da restauração das coisas pessoais, não voltar a cometer
os erros do passado, temor de Deus e resgate; Quéren-Hapuque (Pükh = brilho de
cores, fonte de beleza), símbolo de cor, alegria, vida, luz, entendimento.
1) Deus permite tudo por um propósito: Deus permitiu todas as coisas para mostrar a
Satanás e aos homens que Sua fidelidade é imutável e que existem filhos Seus que
são capazes de suportar tudo para mantê-la também de pé, mesmo não o conhecendo
inteiramente ou mesmo tendo uma visão limitada e distorcida a Seu respeito.
Também mostra que o relacionamento sincero com Ele jamais pode ser quebrado
por coisa alguma. Outra razão para permitir algo pode não ser a que aconteceu com
Jó, por causa da reivindicação de Satanás, mas para mostrar aos homens que não
conhecem nem entendem todas as coisas; que Ele é o Senhor agindo como quer para
manifestar propósitos diversos no meio do Seu povo e para mostrar que Sua criação
é infinita e diferente, não se repetindo nunca em nenhum filho Seu. Outra razão é
despertar no homem atitudes que podem estar adormecidas como: o amor, a
tolerância e o respeito pelos seus semelhantes, deixando o julgamento para Deus.
Isso é trabalhar o orgulho, o preconceito e a soberba humana que, muitas vezes,
impedem as revelações e o trabalho puro do Espírito.
2) Ouvir falsas sabedorias, acusações e pareceres humanos pode nos levar a
interpretar erradamente os motivos de Deus, até que nos viremos contra Ele: uma
das estratégias que o diabo usa é a distorção da verdade, buscando tornar Deus mau
e ele, bom. Tudo que acontece de mau passa a ser atribuído a Deus e tudo o que traz
prazer e alegria passa a ser atribuído ao diabo. Não podemos nos esquecer que o
diabo mente; ele é o pai da mentira, como disse Jesus. Só o que importa é sabermos
que Ele sabe de todas as coisas e Sua justiça existe, assim como o Seu amor e Sua
misericórdia. Jó, até certo ponto, não se deixou impressionar pelas acusações falsas
dos amigos sobre ter ele pecado, mas foi influenciado por um sentimento de
animosidade contra Deus.
3) Luta solitária contra as evidências apresentadas pelos de fora: Jó se sentiu só
diante de todas as evidências contra ele e diante de todas as maneiras de pensar,
diferentes da sua; tudo ao seu redor parecia querer provar que todos estavam certos e
que ele era o errado. Quando ele se lembrava de exaltar o Senhor, sua força parecia
se renovar dentro dele.
4) Abandonar a revolta e as justificativas; buscar a verdade e a revelação de Deus:
Depois que Jó buscou verdadeiramente a presença de Deus, pôde ouvi-lo e conhecer
interiormente o que estava acontecendo com ele. O Senhor não lhe falou sobre
166
Satanás, pois o alvo do inimigo era Ele mesmo, mas revelou a Jó Sua soberania e
Sua justiça sobre todas as coisas. Com isso, diminuiu a força do mal dentro dele e
exaltou Sua força benigna no coração do Seu filho. Por isso, enchermos nossa mente
com as explicações sobre o diabo e sobre o que lhe diz respeito profana nosso
templo, pois deixamos de exaltar o nome e o poder de Deus. Não devemos dar
ouvidos às explicações dos outros, quando o ‘dono das explicações’ já se encontra
dentro de nós. Quando Deus apoiou Jó e repreendeu seus amigos por tê-lo acusado
falsamente, restaurou a fé de Jó e o seu relacionamento com Ele. A partir daí,
vieram o entendimento e a revelação e Jó pôde declarar que, agora, conhecia o
Senhor não só de ouvir falar, mas de vê-lo na Sua essência. Quando a bíblia fala:
“Me arrependo e me abomino na cinza e no pó”, quer dizer que Jó estava se
retratando de sua falta de conhecimento e sabedoria.
5) Perdão e intercessão completam a cura: quando Jó perdoou seus amigos e
intercedeu por eles, sua cura foi completada, pois viu aí a aprovação de Deus
recebendo sua oração. Sentiu-se exaltado por Ele.
6) A glória da segunda casa é maior do que a da primeira: Deus trabalhou a alma e o
espírito de Jó e lhe restituiu dobrado, não só o espiritual como o material. Seu
conhecimento Dele cresceu, assim como teve, materialmente, mais do que tinha
antes. Quando Jó se lembrou do que tinha no passado, jamais poderia imaginar que
o Senhor lhe daria muito mais.
7) Bênçãos representadas pelas filhas: Jemima (pombo) simboliza a restituição
dobrada da paz sobre sua vida; Quezia (canela) simboliza a restauração das coisas
pessoais, não voltar a cometer os erros do passado, temor de Deus e resgate;
Quéren-Hapuque (chifre de pintura para olhos, brilho de cores) simboliza que não
mais sua vida seria cinza, sem vida, mas colorida com a alegria, a verdadeira vida de
Deus, uma visão diferente das coisas e a luz do entendimento divino.
167
Resumo:
Saulo (Shã’ül, Saul, o nome judaico do apóstolo, mas que, em português, toma a
forma de Saulo, significa: pedido de Deus, desejado de Deus) tem o nome greco-
romano de Paulo (pequeno; At 13: 9). Era da tribo de Benjamim (Rm 11: 1; Fp 3: 5) e
zeloso membro do partido dos fariseus (At 23: 6; At 26: 5; Fp 3: 5). Nasceu em Tarso,
na Cilícia, como cidadão romano (At 16: 37; At 21: 39; At 22: 25). Tarso era um centro
de cultura onde Paulo se familiarizou com as diversas filosofias gregas e cultos
religiosos durante sua juventude. Foi educado em Jerusalém aos pés do rabino Gamaliel
(At 22: 3; At 26: 4-5). Quando ainda jovem (At 7: 58; Gl 1: 13; At 22: 5; 1 Co 15: 9),
Paulo recebeu autoridade oficial para dirigir a perseguição contra os cristãos e
autoridade na sinagoga ou concílio do Sinédrio, conforme ele mesmo escreve: “contra
estes [ele se referia aos santos] dava o meu voto, quando os matavam” (At 26: 10b).
Outras referências a isso estão em At 8: 3; At 9: 13-14; At 26: 11; At 8: 1 (em relação a
Estêvão).
Em At 9: 1-18; At 22: 4-21; At 26: 9-18 a bíblia fala da conversão de Paulo. Ele
vinha com ordens das autoridades de Jerusalém para abafar as manifestações dos
cristãos em Damasco quando, no meio da estrada viu uma luz muito forte e, do meio
dela, Jesus lhe falou e o chamou para ser Seu discípulo. Os demais que estavam com ele
viram a luz, mas não reconheceram o significado da voz (em outro trecho, a bíblia fala
que ouviram a voz e viram a luz, porém, não viram ninguém nem entenderam o que
aquilo significava e ficaram aterrados). Paulo, como resultado do encontro, ficou cego
por três dias e foi levado para a casa de Judas, na cidade de Damasco. Após três dias,
Deus enviou seu servo Ananias que, impondo as mãos sobre os olhos de Paulo,
restituiu-lhe a visão. Paulo foi batizado, se fortaleceu e passou a pregar sobre Jesus na
Arábia e em Damasco nos três anos seguintes à sua conversão (Gl 1: 17-18; At 9: 19-
20). Por causa dos judeus que queriam matá-lo (2 Co 11: 32), foi amarrado a uma corda
e, descido pelo muro da cidade, fugiu para Jerusalém onde Barnabé, um dos discípulos,
o apresentou aos apóstolos. Depois de alguns dias com os irmãos (Gl 1: 18-24; At 9: 20-
30), levaram-no para Cesaréia, de onde embarcou de volta para Tarso. Paulo ficou por
dez anos em Tarso, um período de silêncio no seu ministério, talvez sendo instruído
pelo próprio Deus a respeito do evangelho. Barnabé, então, solicitou que viesse para
Antioquia para ajudá-lo numa missão entre os gentios (At 11: 20-26) e, um ano após,
voltou para Jerusalém (46 DC – At 11: 29-30), o que coloca a sua conversão e o início
do seu ministério por volta de 35 DC, de acordo com a data histórica (livros apócrifos)
da morte de Estêvão – entre 33-36 DC, com mais freqüência colocada em 34 DC.
168
Vamos analisar um pouco o que foi escrito acima: “passou a pregar sobre Jesus na
Arábia e em Damasco nos três anos seguintes à sua conversão (Gl 1: 17)”.
A Arábia à qual a bíblia se refere aqui não é o que conhecemos hoje por Arábia
Saudita, na Península Arábica. Nos tempos de Paulo, Arabia Petraea (em Latim) ou
Arábia Petréia, Província Arábia (Provincia Arabia) ou simplesmente Arábia era uma
faixa de terra que incluía o reino Nabateu, a Península do Sinai e o Noroeste da
Península Arábica. Mais tarde foi incorporada pelo Império Romano no início do século
II em 106 DC, no governo de Trajano. Sua capital era Petra. Sua fronteira norte era a
Síria; Egito e Judéia, a oeste, e que mais tarde em 135 foi fundida à Síria para formar a
Síria Palestina pelo imperador Adriano. Ao sul e a leste, se limitava com a chamada
‘Arábia Deserta’ (região ocupada pelo deserto interior da Península Arábica) e pela
‘Arábia Feliz’ (em latim: Arabia Felix ou Fertile Arábia), denominação dada à parte sul
da Península Arábica, correspondente aos atuais Estados do Iêmem e Omã. A região era
ocupada por tribos sedentárias de economia agrícola e mercantil nas regiões litorâneas
da Península. Atualmente, a Península Arábica é ocupada por sete países: Arábia
Saudita, Bahrein (um arquipélago), Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Kuwait, Omã e
Catar. Parte do Iraque e da Jordânia fazem parte da península.
A primeira viagem missionária de Paulo (At 13–14 – 46-48 DC) começou em
Chipre, levando-o para as cidades de Salamina (onde o procônsul Sérgio Paulo foi
convertido), Pafos; depois para o sul da Galácia, Antioquia da Psídia, Icônio, Listra
(onde curou um paralítico e onde foi apedrejado*), Derbe e Perge da Panfília.
(*) Quanto ao fato relatado em At 14: 19-20: “Sobrevieram, porém, judeus de
Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para
fora da cidade, dando-o por morto. Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e
entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para Derbe”, fica um pouco
difícil afirmar categoricamente que Paulo morreu e foi ressuscitado, pois nem ele
mesmo sabe, como escreve em 2 Co 12: 1-4: “Se é necessário que me glorie, ainda que
não me convém, passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em
Cristo [ele estava falando dele mesmo] que, há catorze anos, foi arrebatado até ao
169
terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem
(se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu
palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”. O que podemos dizer, com
certeza, que houve uma poderosa restauração física de Deus no corpo do apóstolo, um
milagre, pois dificilmente uma pessoa sobrevivia a um apedrejamento; era uma sentença
prevista na lei para punição de certos crimes, como heresia e adultério.
Os judeus tinham uma linguagem própria ao falar do céu: o 1º céu se refere ao que
nós vemos, onde voam os pássaros, ou seja, a atmosfera da Terra. O 2º céu dizia
respeito ao espaço sideral, com o sol, a lua e as estrelas; e o 3º céu se refere ao céu
espiritual, ao Paraíso, onde está o trono do Senhor, e para onde muitos profetas foram
arrebatados ou tiveram uma experiência de êxtase e receberam visões e revelações do
próprio Deus.
Paulo voltou a Jerusalém, quatorze anos depois de ter conhecido Pedro pela
primeira vez (Gl 2: 1), para a Conferência de Jerusalém (50-51 DC), antes da sua
segunda viagem.
Havia um grande fator de dissensão entre o ministério de Paulo e o de Pedro; entre
os crentes, se levantava a discussão no meio dos judeus cristãos que insistiam que os
gentios fossem circuncidados. Paulo se opôs e repreendeu a Pedro publicamente (Gl 2:
11-21, com ênfase no v. 14). Tiago tomou uma posição em relação aos gentios (At 15:
19-22) que foi acatada pelo concílio de Jerusalém e enviada a Antioquia uma carta onde
as únicas recomendações para os gentios é que não comessem carne de animais
sufocados, nem consagrada a ídolos e se abstivessem de relações sexuais ilícitas.
Na segunda viagem missionária (50-53 DC), Paulo teve Silas por companheiro (At
15: 40 até At 18: 22), no lugar de Barnabé. Este ficou como companheiro de João
Marcos, que havia se desentendido com Paulo na viagem anterior. De Antioquia,
viajaram para o sul da Galácia e daí para Listra onde encontrou Timóteo, filho de uma
judia e de pai grego e que passou a ser seu discípulo. Para evitar discussões na sinagoga,
Paulo o circuncidou (At 16: 3). Eles foram, então, para o Norte da Galácia, daí para
Trôade e para a Grécia (Macedônia), estabelecendo missões em Filipos, onde Lídia se
converteu e foi batizada (At 16: 14-15) e uma jovem adivinhadora foi liberta (At 16: 16-
18), sendo que este último episódio levou Paulo e Silas para a prisão. Mas Deus usou
também este fato para converter mais algumas vidas, entre elas o carcereiro e sua
família (At 16: 19-34). Depois de saírem dali se encaminharam para Tessalônica, Beréia
e para a Acaia, no sul da Grécia. Ali visitaram as cidades de Atenas e Corinto. Nesta
cidade Paulo ficou quase dois anos, fundando ali uma comunidade cristã. Em Corinto
conheceu Priscila e Áquila e os instruiu, deixando-os ali em seu lugar quando partiu
para Éfeso. Em Éfeso ficou por pouco tempo, voltando para Antioquia, passando por
Jerusalém.
Logo depois, já iniciou sua terceira viagem (53-57 DC), seguindo para Éfeso e teve
o ensejo de evangelizar toda a Ásia. Em Éfeso, enfrentou conflitos com os seguidores de
Diana. Permaneceu na Ásia por três anos (54-57 DC – At 20: 31), voltando para Trôade,
na Macedônia. Na Macedônia, Paulo escreveu sua segunda epístola aos Coríntios. De
Trôade foi para Corinto, onde escreveu a carta aos romanos e daí para Mileto e
Jerusalém.
Tinha voltado para Jerusalém com o intuito de passar lá o Pentecostes, mas
enfrentou uma acusação de haver violado o templo (At 21: 20- 29, não cumprindo os
rituais de purificação e, talvez, por andar com os gentios como Trófimo que,
provavelmente, foi visto com Paulo lá dentro). Os judeus incitaram a multidão à
desordem. Paulo foi preso (por volta de 57 ou 58 DC), mas permitido de falar à
multidão e ao Sinédrio. Não entendido nem apoiado ali, pelo contrário, ameaçado de
170
morte, foi removido para Cesaréia, onde encontrou Marco Antônio Félix, o governador
romano (Félix governou de 52 a 60 DC), e ficou preso por dois anos (58-60 DC – At 23:
26-35; At 24–25). O sucessor de Félix foi Pórcio Festo (60-62 DC; governou a
província romana da Judéia na condição de procurador), e indicou que poderia entregar
Paulo aos judeus para ser julgado por eles (At 25: 9). Como já conhecia o seu povo, na
qualidade de cidadão romano Paulo apelou para César (At 25: 11). Antes de ser levado a
Roma, ainda em Israel (na cidade de Cesaréia), com Festo e sua esposa Drusila, Paulo
esteve na presença do governador e seus hóspedes: o rei Agripa e sua irmã Berenice.
Por pouco, diz Agripa, ele não se tornou cristão, depois de ter ouvido o discurso de
Paulo. Se ele não tivesse apelado para César, poderia ser solto, pois não viram nele nada
que pudesse incriminá-lo. Entretanto, estava se cumprindo a palavra que o Senhor lhe
dera numa visão de que era necessário que comparecesse diante de César. Assim, Paulo
foi enviado a Roma sob escolta.
A viagem marítima foi tempestuosa, terminando num naufrágio, obrigando-o a
passar o inverno na ilha de Malta (At 28: 11). Isso ocorreu por volta de 60-61 DC.
Chegou a Roma na primavera e passou os próximos dois anos (61-63 DC) sob escolta
em sua própria casa alugada (pois chegou como prisioneiro herói), onde ensinava sobre
Jesus sem impedimento algum (At 28: 16; 30-31). Paulo foi morto pelos romanos no
governo de Nero (63 DC), decapitado.
Em 2 Co 11: 22-27, o apóstolo fala dos seus sofrimentos: cinco vezes açoitado, três
vezes fustigado com varas, uma vez apedrejado, três vezes enfrentou naufrágio, uma
noite e um dia na voragem (turbilhão ou qualquer abismo) do mar; muitas vezes, em
jornada, perigos de rios, perigos de salteadores, perigos nas mãos dos judeus, perigos
entre gentios, perigos na cidade e no deserto, perigos no mar e entre falsos irmãos; em
trabalhos e fadigas, em vigílias; em frio e nudez; além disso, a preocupação com as
igrejas que tinha fundado e que não se comportaram como ele esperava.
Podemos ver que alguns pontos são relevantes no ensino de Paulo:
1) Ele defendia a sua convicção em Cristo e a vida pela graça, ao invés das obras e
dos rituais da Lei (Gl 2: 16; Gl 6: 12-15; Ef 2: 8-9; At 13: 38-39), o que dava o direito a
uma nova vida (Rm 6: 3-4; 14), fazendo do crente uma nova criatura. Ele pregava sobre
Jesus e a ressurreição, basicamente (At 9: 20; At 13: 30; At 17: 31; At 23: 6; At 26: 8).
2) Ia contra a idolatria, mostrando que a verdade estava em Cristo: Cl 2: 8; 14-15;
At 17: 16; At 17: 18; 24-31.
3) Reforçou a lei do amor pregada por Jesus: Rm 13: 8-10, até exortando os
crentes a dilatarem sua maneira de amar, pois esta estava limitada neles (2 Co 6: 11-13).
4) Deu o exemplo de ter a capacidade de entrega e a ousadia de passar por cima de
qualquer coisa para levar o evangelho: 1 Co 9: 19-23.
Colaboradores de Paulo:
Maria: Rm 16: 6
Mnassom: At 21: 16
Narciso: Rm 16: 11
Nereu e sua irmã: Rm 16: 15
Ninfa: Cl 4: 15
Olimpas: Rm 16: 15
Onésimo: Cl 4: 9; Fm 10
Onesíforo: 2 Tm 1: 16; 2 Tm 4: 19
Pátropas: Rm 16: 14
Pérside: Rm 16: 12
Prudente: 2 Tm 4: 21
Quarto: Rm 16: 23
Rufo e sua mãe: Rm 16: 13 (filho e esposa, respectivamente, de Simão, o Cirineu, que
carregou a cruz de Jesus no caminho para o Calvário: Mc 15: 21)
Secundo: At 20: 4
Silas: At 15: 40; At 16: 19-40; At 17: 4 e 10-15; At 18: 5
Silvano: 1 Ts 1: 1; 2 Ts 1: 1; 1 Pe 5: 12 (Silvano pode ser a variante grega de Silas)
Sópatro (filho de Pirro): At 20: 4
Sosípatro: Rm 16: 21
Sóstenes (provavelmente quem escreveu a epístola de 1 Coríntios para Paulo): 1 Co 1: 1
Tércio (escreveu a epístola de Romanos para Paulo): Rm 16: 22
Tício Justo: At 18: 7
Timóteo: At 16: 1-5; At 18: 5; At 20: 4; Rm 16: 21; 1 Co 4: 17; 1 Co 16: 10; 2 Co 1: 1;
Fp 1: 1; Fp 2: 19; Cl 1: 1; 1 Ts 1: 1; 1 Ts 3: 2; 1 Ts 6; 2 Ts 1: 1; 1 Tm 1: 2; 2 Tm 1: 2;
Fm 1; Hb 13: 23
Tíquico: At 20: 4; Ef 6: 21; Cl 4: 7; 2 Tm 4: 12; Tt 3: 12
Tito: 2 Co 2: 13; 2 Co 6: 6; 13-14; 2 Co 8: 16-24; Gl 2: 3; 2 Tm 4: 10; Tt 1: 4
Trífena e Trífosa: Rm 16: 12
Trófimo: At 20: 4; At 21: 29; 2 Tm 4: 20
Urbano: Rm 16: 9
Zenas: Tt 3: 13 (intérprete da Lei)
1) Entrega e coragem para suportar qualquer obstáculo pela obra: foi ele mesmo que
descreveu nas suas epístolas todos os perigos que passou (2 Co 11: 22-27) e o que se
dispôs a fazer (1 Co 9: 19-23) para levar à frente a missão que o Senhor havia lhe
dado. Teve intrepidez e ousadia para entrar em lugares que outros ainda não tinham
entrado para levar a verdade da Palavra, depondo todo falso conhecimento que se
opunha a Cristo (podemos ver Paulo entre os gentios enfrentando esse tipo de
situação); por exemplo, em Éfeso, no caso dos devotos de Diana, e em muitos outros
lugares da Ásia onde a idolatria imperava. Mais do que isso, teve coragem para
suportar a rejeição dos seus próprios compatriotas que o criticaram pela inovação
que estava trazendo. Teve coragem, pois tinha certeza do seu chamado e da força do
amor de Deus por ele. Assim também acontece conosco, quando o Senhor nos dá
um chamado para a Sua obra; devemos estar prontos para enfrentar todo e qualquer
tipo de dificuldade e oposição.
2) Fidelidade e perseverança para conquistar a vitória: em 2 Tm 4: 6-8, Paulo fala
que combateu o bom combate da fé e que tinha certeza da coroa que estava
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reservada para ele pela sua luta e pela sua vitória. Também fala, em 2 Tm 4: 17, que
sua força veio do próprio Deus para cumprir seu ministério e que foi Ele que o
livrou várias vezes até a missão estar completa. A fidelidade ao Senhor é importante
para não cedermos às tentações e seduções do inimigo, e a perseverança nos levará a
conquistar a vitória.
3) Revelação poderosa de Deus: uma vez Paulo fala sobre si mesmo, quando descreve
seu apedrejamento e a revelação poderosa que recebeu de Deus (2 Co 12: 1-6), mas
que não podia ainda ser passada aos homens, pois ainda não estavam preparados
para recebê-la. Muitas vezes, relatou as visões e os aprendizados que teve do próprio
Jesus orientando-o para onde ir e lhe dando estratégias para levar o evangelho aos
gentios. Todo aquele que tem um chamado do Senhor para uma missão precisa ter
alguma revelação importante que seja, por assim dizer, um marco a partir do qual
uma nova estrutura vai ser erguida. Essa revelação é única e particular, não vem
para outros, só para quem Deus separou para tê-la.
4) Edificou onde não havia sido ainda edificado (Rm 15: 20-21): Paulo não edificou
seu ministério sobre o que Pedro e os demais apóstolos fizeram, isto é, entre os
judeus, porém, entre os gentios para que algo novo pudesse surgir onde havia
necessidade de luz. Dessa forma, buscou o novo, seguindo a direção do Espírito
Santo nele, “não consultando carne e sangue”; não copiou o que já havia, mas
deixou que Deus o usasse num novo avivamento criando coisas inovadoras e que,
graças à sua intrepidez e fidelidade a Jesus, trouxe um grande benefício posterior
para a humanidade. Ele “viu longe” e de maneira diferente dos outros, por isso teve
sucesso no que fez. Deus está constantemente criando e usando Seus filhos de
maneira diferente uns dos outros para poder abranger todas as necessidades
existentes nos corações daqueles que ainda não o conhecem.
5) Não temeu a responsabilidade nem teve medo de usar os dons espirituais que Deus
tinha colocado nele, nem recusou usar a autoridade que lhe fora dada do céu:
Paulo foi uma testemunha viva da palavra dada por Jesus em Jo 14: 12 aos Seus
discípulos, quando disse que quem Nele cresse faria obras iguais e maiores do que
as que Ele tinha feito. O ministério de Paulo foi geograficamente maior do que o de
Jesus e pode ser comparado ao Dele em milagres realizados, o que, com certeza,
impactou aquela geração. Testemunhou do Senhor, realizou curas e milagres (até
mostrou-os em si mesmo: por exemplo, nada aconteceu a ele quando foi picado por
uma cobra na ilha de Malta), ressuscitou mortos (caso de Êutico), expulsou
demônios, converteu muitos a Jesus e derrubou uma tradição de séculos ao mostrar
a simplicidade do evangelho de Cristo, destronando as obras mortas geradas pela
religiosidade. É o que Jesus espera da Sua Igreja.
6) Foi transformado de um “zeloso religioso” em um “zeloso real” da obra: o amor e
a misericórdia de Deus aliados à Sua escolha soberana fizeram de Paulo um homem
zeloso das coisas do Senhor, mas completamente livre do jugo que, anteriormente,
pesava sobre ele; seu caráter foi transformado e o peso do tradicionalismo, das
regras, das leis, das acusações e do perfeccionismo pessoal, gerados pelos seus
pecados do passado foi transformado por Jesus em uma força dinâmica, viva,
amorosa e determinada a mudar as estruturas e avivar o coração dos filhos de Deus
daquela geração, visando a lançar uma semente poderosa para todos os crentes da
geração vindoura. Que nossos corações possam ser profundamente transformados e
nossas sementes sejam deixadas para nossa descendência.
174
A 2ª viagem de Paulo
175
A 3ª viagem de Paulo
• O siclo, a mina e o talento eram peças ou barras de metal (prata, ouro) usadas como
meio de pagamento (2 Rs 18: 14).
• Como moeda, aparece o darico, que pesava 8,4 gr. (1 Cr 29: 7; Ed 8: 27; Ed 2: 69; Ne
7: 70) na nossa versão, embora em Ed 2: 69; Ne 7: 70, ‘ouro’ seja traduzido para o
hebraico como ‘dracma’.
• A peça de dinheiro (Gn 33: 19; quesita) é de valor ignorado.
* Em Jo 12: 5 o valioso ungüento valia 300 denários (pence, plural de penny, em inglês,
que significa centavos, quantia insignificante), mas que seria o salário médio para 300
dias de trabalho (quase o que um trabalhador mediano ganharia em um ano).
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** Sabe-se que durante o século I, um asse (Mt 10: 29; Lc 12: 6) comprava o
equivalente a meio quilo de pão ou um litro de vinho barato, ou 2 pardais (Mt 10: 29).
Asse – foi uma moeda romana de bronze e depois cobre.
Em Inglês, a palavra usada para Asse foi traduzida na KJV por ‘farthing’ (ceitil), uma
moeda portuguesa criada no reinado de D. Afonso V (1438-1477 e 1477-1481), rei de
Portugal e Algarves. A sua designação tem origem no nome sextil, ou seja, um sexto.
*** 3 meses de salário ou ½ kg. Prata.
• Lepton (Mc 12: 42) – hoje (lepto) é 1/100 de todas as moedas gregas.
• Em Mt 26: 15 – ‘30 moedas de prata’ – a palavra não é dracma, e sim ‘argurion’
(ἀργύριον – Strong #g694), que significa ‘prata, uma peça de prata, um siclo; dinheiro
em geral’, especialmente prateado (ou seja, dracma ou shekel).
Alqueire ou seá (2
Rs 7: 1), chaliche 1/3 do efa 1/3 5, 87 litros
(Is 40: 12) e
medida* (Gn 18: 6)
* Outros consideram a metreta (Jo 2: 6) também igual ao bato, mas é mais provável
que a metreta tivesse 30 a 40 litros.
** Outros entendem que o bato tinha entre 30 e 34 litros.
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* Quatro dedos é a medida da palma da mão (Êx 37: 12; Êx 25: 25; 1 Rs 7: 26; 2 Cr 4:
5) na base dos quatro dedos.
** Palmo (Êx 28: 16; Êx 28: 16; 1 Sm 17: 4; Ez 43: 13; Is 40: 12) é a distância entre a
ponta dos dedos extremos com a mão espalmada.
*** Côvado (Hebr.: amá) é a distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio. O
côvado em Ezequiel (43: 13) equivale a 51,8 cm, pois soma um côvado mais quatro
dedos. Em conseqüência, a cana (Ez 41: 8) equivale a 3,11 m, pois é igual a 6 côvados
de Ezequiel.
MEDIDAS DE DISTÂNCIA
* Isto foi baseado em Êxodo 16: 29b (“Ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”)
porque o Senhor não permitiu viagens excessivas no dia de sábado de descanso. Uma
exceção foi autorizada para o propósito de adorar no tabernáculo; também 2.000
côvados era o espaço prescrito para ser mantido entre a arca e as pessoas, bem como a
extensão dos subúrbios das cidades Levíticas nos quatro pontos cardeais (Nm 35: 5);
dessa forma, esta medida foi adotada para o comprimento do caminho de um dia de
sábado a partir da frente do muro da cidade em que o viajante vivia. Legisladores
judaicos determinaram que a jornada do dia do sábado fosse de 2.000 côvados ou cinco
estádios (925 metros)
** Jornada de um dia: foi a distância que uma pessoa poderia viajar normalmente em
um dia, mais ou menos, 30–40 quilômetros, mas ao viajar com muita companhia
(mulheres e crianças), apenas 10.600 quilômetros. Ver também Gn 30: 36; Êx 3: 18; Êx
5: 3; Nm 10: 33; Nm 11: 31; Nm 33: 8; 1 Rs 19: 4; 2 Rs 3: 9; Jn 3: 3; Lc 2: 44.
• Milha americana = 1.609,34 metros.
MEDIDAS DE ÁREA
Jeira: Área que uma junta de bois pode arar em um dia, mais ou menos um quarteirão
quadrado com 50 m de lado, o que equivale a 2, 750 m2 (1 Sm 14: 14).
MEDIDAS DE TEMPO
Hora: a extensão da hora variava de acordo com a estação do ano. As horas do dia eram
contadas a partir do nascer do sol (6: 00 h) e as da noite, a partir do pôr-do-sol (18: 00 h
– Mt 20: 3).
Vigília: Os israelitas dividiam a noite em três vigílias, sendo cada uma de quatro horas
(Jz 7: 19); os romanos a dividiam em quatro vigílias, com 3 horas cada uma (Mt 14: 25).
Noite: 12 horas, do pôr-do-sol até o seu nascer (Gn 7: 4).
Dia: 12 horas, do nascer ao pôr-do-sol (Gn 7: 4); 24 horas, de um pôr-do-sol até outro
(Êx 20: 8-11).
Mês: 29–30 dias, iniciando com a lua nova (Nm 28: 11; 14; 1 Sm 20: 5; 18; 24; Is 66:
23; 2 Cr 8: 13).
Ano: 12 meses lunares (354 dias; 1 Cr 27: 1-5). De três em três anos acrescentava-se
um mês (pela repetição do último mês) para tirar a diferença entre os 12 lunares e o ano
solar.
OUTRAS INFORMAÇÕES
• Calendário Romano: alternava anos de 12 meses com 365 dias e anos de 13 meses
com 377 dias. Dessa forma divergia em relação às estações do ano. Por isso, Júlio
César, em 45 ou 46 AC, fez algumas alterações, como se vê abaixo:
• Calendário Juliano:
Reforma do calendário romano introduzido por Júlio César (102-44 AC) no ano de 45
ou 46 AC no qual em cada quatro anos há um bissexto, de 366 dias. Além disso, o ano
Juliano era de 12 meses (365 dias) a começar em 1º de janeiro. Os meses eram de 30
dias, intercalados com meses de 31 dias, sendo que em julho/agosto os 31 dias se
repetiam em homenagem aos imperadores romanos (Júlio e Augusto). O calendário
Juliano vigorou por mais ou menos 1.600 anos.
• Calendário Gregoriano:
Resultante da reforma do calendário Juliano introduzido pelo Papa Gregório XIII
(1502–1585) no dia 24/02/1582 e no qual a cada quatro anos há um ano (solar) bissexto,
com exceção dos anos seculares, em que o número formado pelos algarismos das
centenas e dos milhares não é divisível por quatro. Omitiram-se 10 dias (5–14 de
outubro de 1582), corrigiu-se a medição do ano solar estimando-se que este durava 365
dias solares, 5 horas, 14 minutos e 12 segundos. Acostumou-se a começar o ano em 1º
janeiro.
GENEALOGIAS
Os filhos de Quenaz (1 Cr 1: 36) se juntaram aos judeus pela tribo de Judá. Seu
descendente foi Jefoné, o quenezeu, que gerou Calebe (Nm 32: 12; Js 14: 6; 14; 1 Cr 4:
13-15). Amaleque foi o pai dos Amalequitas.
A família de Coate cuidava dos utensílios do tabernáculo, após Arão e seus filhos os
cobrirem; aí eles os carregavam, inclusive a arca da Aliança. Arão e seus filhos
cuidavam do sacerdócio propriamente dito, de servir no Santo dos Santos e no Lugar
Santo, portanto, cuidavam dos objetos sagrados, do Lugar Santo e do Santo dos Santos
(A liderança era de Eleazar, 1º filho de Arão: Nm 3: 31; Nm 4: 3; Nm 4: 16-20). A
família de Gérson cuidava de carregar as cortinas e os reposteiros, assim como os
demais utensílios da tenda da congregação, que não os objetos sagrados; e a família de
Merari era responsável pelos objetos, pelas estacas e por tudo o mais que estava no
pátio externo da tenda da congregação. Essas duas últimas famílias estavam debaixo do
comando de Itamar, 2º filho de Arão: Nm 3: 25-26; 36-37; Nm 4: 21-28; Nm 4: 29-33.
Um dos descendentes de Eleazar deu seu nome à oitava dentre as vinte e quatro turmas
de sacerdotes (1 Cr 24: 10), das quais Zacarias (Lc 1: 5), pai de João Batista, fazia
parte.
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Jair [um descendente de Manassés – 1 Cr 2: 21-22; também tomou a terra dos amorreus
(Gileade) – Nm 32: 41; Dt 3: 14, assim como os filhos de Maquir: Nm 32: 40].
Noba [um descendente de Manassés; igualmente tomou a terra dos amorreus, junto com
seus irmãos, a saber, a terra de Seom, rei dos amorreus e de Ogue, rei de Basã: Nm 32:
33-42].
Descendentes de Dã:
Husim → gerações → Aisamaque → Aoliabe (Êx 35: 34) → gerações → Manoá (Jz
13: 2) x ♀ (nome desconhecido) → Sansão
Abias → Asa → Josafá → Jeorão (Jorão) → Acazias → Joás → Amazias (esses três
últimos não foram contados em Mt 1: 1-17) → Azarias (Uzias) → Jotão → Acaz →
Ezequias → Manassés → Amom → Josias → Joanã, Jeoaquim, Zedequias, Salum (1
Cr 3: 10-16 ou Joacaz: 2 Cr 36: 1).
• Dario I (cunhado de Cambises II): 522–486 AC. No seu reinado começou a ser
reconstruído o templo (520–516 AC). Tinha iniciado em 536 AC (2º ano do reinado de
Ciro na Babilônia e parado até 520 AC – 2º ano Dario I).
• Xerxes I (Assuero – )אחשורש: 465– 486 AC (filho de Dario I). Xerxes é uma
transliteração grega do seu nome persa depois de sua ascensão, Jshāyār Shah, que
significa ‘governante de heróis’. Na bíblia é chamado de Assuero (em hebraico –
)אחשורש, escrito como Ahashuerus, em caldeu; transliterado para o grego como
Axashverosh.
• Artaxerxes I: 465–424 AC (filho de Xerxes I, mas não o primogênito). Houve um 2º
retorno de exilados a Jerusalém com Esdras em 458 AC para ministrar no templo
reconstruído. Reconstrução das muralhas de Jerusalém: 445 AC (3º retorno: Neemias).
• Xerxes II (filho de Artaxerxes I) e que reinou 1 ½ mês e foi assassinado por seu irmão
Secydianus ou Sogdianus (a forma do nome é incerta). Este, por sua vez, foi morto por
Ochus, sátrapa da Hircânia (região ao sudeste do Mar Cáspio, no atual Irã), que subiu ao
poder e adotou o nome de Dario II.
• Dario II (Ne 12: 22) governou a Babilônia e a Pérsia (424–404 AC); era chamado
Dario, o persa. Seu nome de nascimento era Ochus; depois, adotou o nome de Dario
(persa: Dārayavahuš, por isso, as fontes gregas o chamam de Dario Nothos, ‘Bastardo’).
• Artaxerxes II Mnemon, que significa: ‘cujo reino é através da verdade’ (404–358 AC).
Era filho de Dario II.
• Artaxerxes III ou Ochus (3º filho de Artaxerxes II): 358–338 AC.
• Artaxerxes IV ou Arses (filho mais novo de Artaxerxes III): 338–336 AC
• Dario III (bisneto de Dario II e primo de Arses): 336–330 AC quando Alexandre, o
grande, o derrotou na Macedônia. Originalmente chamado de Artashata; em latim:
Codomannus, e em grego antigo: Kodomanos (Κοδομανός) foi o último rei da Dinastia
Aquemênida da Pérsia. Dario (Dārayavahuš, em persa) foi o nome que ele adotou após
subir ao trono.