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FLUXO CONTÍNUO
Ed. 37 - Vol. 1. Págs. 132-148
ABSTRACT
The objective of this article is to demonstrate in a comprehensive and cohesive way the
contexts and factors that culminated in the increase in cases of domestic violence, and
feminicide triggered by the onset of the COVID-19 pandemic, in addition to discussing
possible solutions to the probblem in question. To this end, the concept of pandemic, the
historical context of violence against women, and violence Against women resulting from
the pandemic will be studied In the present article bibliographic and documenter research
is used, using laws, jurisprudence, scientific journals, and legal doctrines or
multidisciplinary. The basic literature will be analyzed through the production of abstracts
and records of the specific contents of the research theme, as well as any other material
Camila Lemos NICOLAU; Tereza Seabra FONSECA; Lara de Paula RIBEIRO. UMA ANÁLISE DA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER SOB A ÓTICA DO
ISOLAMENTO SOCIAL EM TEMPOS DA PANDEMIA DO COVID-19 NO BRASIL. JNT- Facit
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that is necessary for the clarification of what is proposed. Moreover, the theoretical-
doctrinal data and conducts witnessed in the research will be analyzed from a general point
of view, for the individual in order to address the question in question though the deductive
method, based on Brazilian Legislation, especially the Maria da Penha Law n. 11.340/06,
and the Law of Feminicide n. 13.104/15. In the sphere of data analysis, it will be
qualitative, seeking a from of interpretative approach, bringing light on the theme, to bring
examples of possible solutions to the problem in question.
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Conceito De Pandemia
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i i i i i i
G E Di i F i E i i
Municipais e Se i i i i
Entre as indicações, o Conselho Nacional de Saúde, através da referida
Recomendação, buscou que fossem implementadas medidas que garantissem que pelo
menos 60% da população mantivesse o distanciamento social, ou em níveis superiores a
este, tendo em vista a ocupação dos leitos, que aumentava de maneira progressiva e
efetiva.
Além disso, recomendou também a implementação de medidas de distanciamento 135
social mais restritivas, como o lockdown, que representa imposição, por parte do Estado,
de uma medida de isolamento mais severa para uma população, visando a sua segurança
(AGÊNCIA BRASIL, 2020).
Dessa forma, manter-se dentro de sua residência, com os membros que ali residem
em conjunto, mostrou-se completamente necessário na busca do controle dos índices de
contaminação. Esse cenário trouxe diversos problemas, posto que a mudança drástica de
rotina, o medo da doença e a restrição de liberdade podem causar impactos no psicológico
humano.
Neste mesmo aspecto, o cenário se agravou, quando a situação se prolongou além
do previsto, face a dificuldade de encontrar tratamento ou vacinas que fossem eficazes
contra a nova cepa do coronavírus. Apenas no dia 17 de janeiro de 2021, foi aplicada a
primeira dose de vacina contra a covid-19 no Brasil, tendo sido uma enfermeira de São
Paulo, a primeira pessoa vacinada no país (CNN BRASIL, 2021).
Isso ocorreu após a aprovação, pela Anvisa, do uso emergencial de dois
imunizantes: a Coronavac, do laboratório chinês Sinovac, em colaboração com o Instituto
Butantan, e o imunizante da Astrazeneca/Universidade de Oxford, em colaboração com a
Fundação Oswaldo Cruz (G1, 2021).
Ou seja, da descoberta do primeiro caso no país, em 26 de fevereiro de 2020 até a
aplicação da primeira dose da vacina na primeira brasileira, fato ocorrido em 17 de janeiro
de 2021, houve um enorme lapso temporal, onde a maneira mais indicada de prevenir o
contagio do covid-19 era o isolamento social.
Durante esse período o sentimento de incerteza e insegurança da população era
inevitável, e somente com a comprovação da eficácia das vacinas tal cenário poderia
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mudar. Mesmo após a descoberta e produção em massa das vacinas, o isolamento ainda era
a medida mais recomendada, tendo em vista que a eficácia dos imunizantes existentes não
correspondeu a cem por cento de imunização contra o vírus.
Apenas no dia 17 de abril de 2022, o então Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga,
decretou o fim do estado de emergência sanitária no país pela Covid-19. Nesse ínterim, os
relacionamentos interpessoais foram afetados, pois o tempo de contato de quem mora sob o
mesmo teto foi expandido, dentro de um contexto de extrema tensão e incerteza. Ante o
exposto, é importante analisar como a pandemia provocou impacto nos índices da
violência contra a mulher. 136
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A lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, criou mecanismos para
prevenir, punir e reprimir a violência doméstica e familiar contra a mulher, ancorando-se
na Constituição Federal de 1988, na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher e em outros tratados internacionais que foram
ratificados pelo Brasil.
Dessa forma, a lei n. 11.340, em seu art. 5º, caput, estabelece que se configura
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero, no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família e em qualquer relação
íntima de afeto. 137
É importante ressaltar que a violência de que se trata na lei Maria da Penha está
baseada no gênero, tendo em vista que toda violência de gênero é uma violência contra a
mulher, mas nem toda violência contra a mulher é uma violência de gênero.
Nesse contexto, dentre as mais diversas formas de violência contra a mulher, é
possível citar a violência física, a psicológica, a moral, a sexual, e a patrimonial, que se
encontram elencadas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Maria Da
Penha, que foi recentemente atualizada no ano de 2021.
Dessa forma, mais que uma violação dos direitos inerentes ao ser humano, essas
formas de violência são complexas, estando sujeitas a diversos requisitos, são carregadas
de perversidade, e não ocorrem de forma isolada, sempre ocasionando graves
consequências para a vítima.
Estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher na Lei
Maria da Penha, destacadas no Capítulo II, art. 7º, incisos I, II, III, IV e V, onde tratam
respectivamente da violência física, da violência psicológica, da violência sexual, da
violência patrimonial, e da violência moral.
Violência Física
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exemplo, podemos citar espancamento, estrangulamento, lesões com objetos cortantes, e
tortura.
Violência Psicológica
Violência Moral
A violência moral é definida pela Lei Maria da Penha n.11.340/06, art. 7º, V como:
―Q q q ig i i i j i ‖ (BRASIL, 2006).
Esse tipo de violência tem previsão no Código Penal, nos artigos 138,
139 e 140, in verbis:
Art.138 -Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime;
Art. 139 -Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação;
Art. 140 -Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro
(BRASIL, 1940).
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Violência Sexual
Violência Patrimonial
Por fim, a violência patrimonial se configura por qualquer ato que vise reter,
subtrair, ou destruir bens da vítima, sejam eles instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, valores, direitos, ou recursos econômicos.
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íi ― i i i í q i
i i i i x ‖ B A IL
Nesse sentido, há possibilidade de ser considerada violência doméstica, aquela
i ― q q i i q g i h
i i i i i ‖ B A IL
Do artigo 5º da Lei 11.340/2006 é possível extrair os requisitos necessários a serem
preenchidos, para ser possível aplicação dos institutos penalizadores da lei. Desta forma, se
visualiza a violência doméstica como sendo ação ou omissão baseada no gênero.
Fernandes conceitua gênero através de alguns elementos que integram seu conceito: 140
a) relacional: gênero refere-se ao modo como homens e mulheres estabelecem relações; b)
assimetria: há uma relação de poder desigual entre os envolvidos; c) dominação e
submissão: como consequência da disparidade de poderes, existe a dominação do homem e
a submissão da mulher; d) naturalização da desigualdade e (transgeracionalidade): as
diferenças entre homens e mulheres são incorporadas pela sociedade como se decorressem
da diferença de sexos, bem como são repassadas nas gerações de família (FERNANDES,
2013, p. 56).
Por consequência, qualquer ação ou omissão, baseada no gênero, ocorrida dentro do
ambiente doméstico ou em decorrência de relação de afeto e convivência que ocasione
lesão, sofrimento físico, psicológico, sexual, dano moral, patrimonial ou a morte,
enquadra-se na Lei Maria da Penha.
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seio familiar, o que consequentemente implicaria num maior alcance do conteúdo disposto
na Lei.
O crime de Feminicídio surge quase como uma consequência da violência física, há
uma evolução, onde não mais é satisfatório ao agressor desferir somente socos, chutes e
tapas, tem a necessidade de utilizar outros objetos com o intuito de ofender a integridade
corporal de sua companheira e, muitas das vezes, levá-la a óbito.
Sendo assim, visando a sanar tal lacuna e assegurar uma maior punibilidade, foi
sancionada a Lei 13.104/2015, a qual instituiu o Feminicídio como qualificadora do crime
de homicídio. Incluindo no §2º, do artigo 121, do Código Penal, o inciso VI, ficando a 141
seguinte redação: ―§ º h i í i i : [ ] VI – contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino‖ B A IL 9
Conforme preceitua Nucci (2021) o crime de homicídio trata-se de retirar a vida de
qualquer ser humano, porém ao longo dos anos verificou-se a necessidade de editar leis
q i i h i ― i
a mulher é inferiorizada sob diversos pri ‖
Portanto, viu-se no Feminicídio uma forma de continuidade da proteção especial
conferida à mulher na Lei Maria da Penha. Além disso, considera-se o crime de homicídio
contra a mulher, valendo-se da condição do sexo feminino, como crime hediondo (NUCCI,
2021).
Dessa forma, foi instituído ao artigo 121 do Código Penal o §7º, o qual prevê causa
de aumento quando o delito é praticado: contra gestante ou nos três meses posteriores ao
parto; contra menor de 14 anos ou maior de 60, pessoa com deficiência ou portadora de
doença limitante ou que cause condição de vulnerabilidade; na presença física ou virtual de
descendente ou ascendente da vítima; ou em descumprimento das medidas protetivas de
urgência (BRASIL, 1940).
Da análise infere-se que as duas primeiras causas de aumento de pena estão ligadas
ao fato de que dentre as mulheres há aquelas que estão em situação de maior
vulnerabilidade, portanto necessitam de uma maior proteção, e consequentemente, o crime
praticado contra elas deve ser punido com mais veemência.
No caso de Feminicídio praticado na presença de ascendente ou descente da vítima,
importa salientar que a presença se deve a visualização da conduta praticada, podendo
ocorrer por meio virtual em tempo real. Ou seja, o ascendente ou descente assiste o ato,
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não importando se ele presenciou o momento que ocorreu o óbito da vítima, bastando que
vislumbre a conduta que deu causa (NUCCI, 2021).
A Lei 13.771/2018 acrescentou ao §7º o inciso IV que aumenta a pena do
Feminicídio quando o autor descumpre medida protetiva de urgência anteriormente
decretada. Há uma grande importância na elaboração desse inciso, posto que, muitas vezes
a vítima busca auxílio jurisdicional, e com isso, é concedida a medida protetiva de
urgência. Pretende-se, então, com esse instituto, diminuir as intimidações do autor em face
da vítima (BRASIL, 2018).
Não obstante a dura realidade vivida por inúmeras mulheres brasileiras, no ano de 142
2019 teve início o que viria a ser uma das maiores crises sanitárias do mundo, cenário que
prejudicou ainda mais a situação de milhares de brasileiras vítimas de violência doméstica,
que passaram a conviver em tempo integral com seus agressores e como consequência
direta observou-se um aumento significativo nos índices de Feminicídio no país.
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Ademais, houve alterações bruscas em nossa realidade, como o aumento do
desemprego no país, o consumo excessivo de álcool nesse período, as crianças foram
afastadas do ambiente escolar e direcionadas para o ensino remoto, o acesso a atividades
em grupo e esportes foi restrito, necessidade de conciliação de rotinas e sobrecarga de
trabalho, preocupação recorrente sobre ser infectado, dentro de um contexto de apreensão,
incertezas e diversos outros fatores estressantes que agravam a situação de violência
doméstica.
Deve-se levar em consideração que a violência doméstica é um fenômeno social,
complexo e multifatorial, entendido com um problema de saúde pública. Essa situação 143
estabelecida que já é grave por si só, acaba sendo agravada pelo contexto pandêmico.
Na ocasião da pandemia do COVID-19, os indicadores de países como a China,
Espanha e Brasil evidenciaram que os casos de violência doméstica que já aconteciam se
agravaram e, simultaneamente, novos casos surgiram.
Na China, os índices indicadores de violência doméstica cresceram o triplo, na
França as denúncias cresceram em uma porcentagem de 30%, enquanto no Brasil, estima-
se que as denúncias tenham sofrido um aumento de até 50% (CAMPBELL, 2020).
Os fatores responsáveis pelo aumento do risco de violência contra a mulher durante
a pandemia do COVID-19 são muitos, entre eles podemos citar a diminuição ou extinção
do tempo de contato da mulher com sua rede socioafetiva, o estresse em conjunto com a
convivência conflituosa ou violenta, e o acesso restrito aos serviços de saúde que acabam
por dificultar o afastamento do agressor e o rompimento do ciclo da violência.
Realizando uma comparação entre os anos de 2019 (antes da pandemia da covid-19
no Brasil) e 2020 (auge da pandemia de covid-19 no Brasil), baseando-se nos dados oficias
do 15o Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, verifica-se o aumento dos índices da violência contra a mulher em
diversos aspectos (ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020).
Primeiramente, os dados mostraram que, em 2020, o país registrou crescimento na
quantidade de denúncias de violência doméstica feitas à Polícia Militar pelo telefone 190,
sendo que neste ano a corporação atendeu 694.131 ligações de mulheres violentadas, o que
representa 16,3% a mais do que no ano anterior, quando a PM contabilizou 596.721
chamadas (ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020).
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Ainda segundo o anuário, o número de medidas protetivas concedidas pela Justiça a
mulheres vítimas de violência também sofreu um grande aumento, com o número de
294.440 mulheres tendo sido contempladas com este direito em 2020, enquanto em 2019 o
número foi de 281.941, o que representou 3,6% (três vírgula seis por cento) de diferença
(ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020).
Para Guilherme de Souza Nucci, jurista e magistrado brasileiro, conhecido por sua
obra voltada ao direito penal e ao direito processual penal, com a lei no 13.104, de 2015
houve uma evolução da tutela especial que abarcava a Lei Maria da Penha com o objetivo
de tutelar de forma mais eficiente a condição do sexo feminino (JUS, 2018). 144
Segundo o anuário, os casos de Feminicídio passaram de 1.330 em 2019 para 1.350
em 2020, sendo este o maior número de Feminicídio registrados em um único ano no
Brasil desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a contabilizar as
estatísticas referentes ao crime no país, o que ocorreu no ano de 2016.
Outro quesito importante deve ser abordado: o fato de que a pesquisa demonstra
que em 81,5% dos casos de Feminicídio, o responsável pelo crime foi o companheiro ou
ex-companheiro da vítima. Esses dados demonstram que na maioria dos casos existe o
fator da coabitação entre a vítima e o agressor e de tal forma, o contexto pandêmico
agravou a situação, trazendo perceptíveis mudanças nas estatísticas.
Conforme dados divulgados no Fórum Brasileiro de Segurança, um total de
694.131 mulheres buscaram ajuda através do telefone 190 no ano de 2020, uma quantidade
16% maior do que em 2019.
Vale ressaltar que a situação referente aos índices de crimes de violência praticada
contra a mulher já era considerada alarmante antes mesmo da pandemia de COVID- 19,
tendo em vista que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de
2013 o Brasil já ocupava o 5° lugar, em um ranking de 83 países onde mais se matam
mulheres, portanto, buscar maneiras rápidas e eficientes de acabar ou amenizar este
problema era uma questão urgente.
Referente a esta problemática, a ONU – Organização das Nações Unidas
estabeleceu uma série de recomendações aos países, entre elas, podemos citar: o aumento
do investimento em serviços online e em organizações da sociedade civil, assegurar que os
agressores sejam processados e julgados, estabelecer sistemas de alerta de emergência em
lugares públicos, entre outros.
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O secretário-geral da ONU, Antonio Gutierrez (2020), em um comunicado oficial,
falou sobre a questão:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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do Estado quanto pela sociedade em geral, com objetivo principal de conscientizar as
vítimas de violência doméstica e familiar.
No mesmo aspecto, é importante investir também em canais de denúncia, que
facilitem a exposição do agressor ao sistema penal brasileiro, para que assim as
circunstâncias sejam apuradas e as penas devidamente aplicadas, tratando o crime de
violência doméstica de forma repressiva.
No que tange a forma preventiva de tratar este tipo penal, deve haver investimento,
por parte do Estado, em políticas públicas de combate à violência doméstica e de
conscientização de toda a sociedade, com palestras, programas de apoio psicossocial e 146
programas de capacitação profissional, visando a independência emocional e financeira das
vítimas.
Os resultados deste artigo não extinguem as possibilidades de estudos posteriores,
mas contribuem para aprofundar o conhecimento deste sério problema no Brasil e
incentivar pesquisadores, para que realizem novos estudos dedicados a investigar aspectos
relevantes na área.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL, Agência Brasil explica: entenda o que é o lockdown. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-05/agencia-brasil-explica-entenda-o-
que-e-o-lockdown. Acessado em 10/04/2022
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BRASIL. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de
julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm. Acesso em: 19
abr. 2022.
CERQUEIRA, Daniel Atlas da Violência 2021 / Daniel Cerqueira et al., — São Paulo:
FBSP, 2021. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes Acesso
em: 01 mai. 2022.
FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: o processo penal no caminho
da efetividade. São Paulo: Atlas, 2015.
LEITE, Gisele. Feminicídio na Pandemia. JORNAL JURID. Bauru, 19 ago. 2020. Gisele
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NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. São Paulo: Grupo GEN. 2021. E-
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