O Oráculo de Delfos - O Ancestral Mistico
O Oráculo de Delfos - O Ancestral Mistico
O Oráculo de Delfos - O Ancestral Mistico
Vou come�ar esta hist�ria explicando como se deu o contato com o Or�culo de Delfos
sem nunca ter ido � Gr�cia, apesar de gostar muito de sua hist�ria, religi�o e
cultura.
A cultura grega � um monumento ao saber humano.
No tempo em que era uma cultura viva, todos os outros povos buscavam com seus
fil�sofos o saber tanto do corpo como do esp�rito.
Ap�s sua queda como grande na��o, os gregos ainda conservaram por muitos s�culos o
seu saber e cultura. Cultura esta que chegou at� nossos dias com um esplendor nunca
eclipsado por nenhuma outra cultura.
Diferente da cultura eg�pcia, essencialmente religiosa, a cultura grega � a mostra
do que o ser humano � capaz quando guiado pela raz�o.
O povo grego era t�o m�stico quanto o eg�pcio, mas seguiu um outro rumo em rela��o
� religi�o. Tinha um pante�o de divindades, mas deixava que cada um escolhesse o
seu deus protetor, n�o impunha uma divindade sobre as
outras, a n�o ser o deus supremo, Zeus.
Cada cidade-estado tinha seu deus ou deusa protetores, mas, no geral, respeitavam a
todo o pante�o grego.
Isto fez com que a cultura fosse a mais racional poss�vel, pois ela tinha a
ess�ncia deste pante�o, t�o diverso e t�o uno ao mesmo tempo.
A diversidade tem esta qualidade. Ela produz uma cultura universal, pois n�o �
direcionada a uma forma pre-estabelecida, mas se forma do choque de diversos modos
de pensar.
A �nica cultura que se aproxima da grega � a norte-americana, pois esta tamb�m
absorve o que o mundo tem a oferecer de melhor ao pensamento moderno.
Quando, e se isto acontecer, o poder americano declinar, sua cultura permanecer�
como mostra da grandeza do seu povo. Ainda que de forma diferente, com toda a
modernidade que se supera a todo instante, o pensamento americano permanecer� para
todo o sempre. O tempo nos mostrar� isto.
Pois � esta diversidade de pensamento que criou as condi��es para que o helenismo
se tornasse, no decorrer dos s�culos, uma corrente de pensamento cl�ssico.
O que na sua origem � fechado passa � hist�ria como algo inating�vel, mas o que �
aberto influencia muitos outros povos, que conseguem se identificar com aqueles
princ�pios, ao mesmo tempo em que conseguem passar adiante aquela forma de
manifesta��o do pensamento.
Os povos com um sistema fechado de pensamento, quando assumem grande influ�ncia
sobre a terra, trazem longos per�odos de trevas � humanidade.
Exemplo? Vamos dar dois, ainda em toda sua for�a. O cristianismo e o islamismo s�o
exemplos de como, quando com plenos poderes, sufocam o livre arb�trio ou o livre
pensar dos homens. Nestes sistemas reina o monote�smo perverso.
Tolhem ao m�ximo a liberdade dos g�nios criativos, que n�o podem expressar todo o
seu potencial.
Ainda bem que, para n�s que vivemos sob a influ�ncia do cristianismo, j� estejamos
livres do seu c�digo do sil�ncio.
N�o sem a perda de grandes g�nios que foram tolhidos no seu nascedouro.
Dentro do Ritual de Umbanda foi que encontrei o meu dom ancestral m�stico. E em uma
das manifesta��es, esta num culto em minha pr�pria casa, uma entidade at� ent�o
desconhecida se manifestou como o Or�culo.
Bem, j� fazia muito tempo que n�o tocava nos livros de hist�ria e j� havia me
esquecido do pante�o grego e do seu t�o intrigante Or�culo. Como esta palavra
adormecida voltou � mente de uma forma t�o estranha? Qual a explica��o para isto?
A timidez fazia com que eu me calasse e esperasse que, no seu devido tempo, tudo se
esclarecesse. Mas a curiosidade ati�ava a raz�o. Quem seria esta entidade que se
dizia "Or�culo"?
Pelo pouco tempo de inicia��o no Ritual de Umbanda, pouco entendia dos seus
mist�rios. B a diversidade de nomes que ocultavam as entidades fez com que eu
omitisse o Or�culo tamb�m, pois s� ouvia falar em caboclos, pretos
velhos, ou exus, nunca em "Or�culo".
Mas como todo mundo, eu tinha um segredo que ningu�m mais tinha: eu tinha um
or�culo. S� n�o sabia como era ou para que servia. Isto o tempo me responderia de
forma s�bia, era s� ter paci�ncia. E muitos livros foram lidos por mim sem nunca
ver nada escrito sobre os or�culos. At� este ponto, nada esclarecido.
A curiosidade adormeceu, pois os deveres desviaram-me para outros assuntos. S�
adormeceu, n�o morreu. E quando tive o prazer de conhecer um grande vidente,
perguntei a ele como era o Or�culo.
� S� uma fuma�a. Nem de cor cinza, nem azul. Uma mescla das duas.
Ap�s esta minha descoberta sobre ele, o Or�culo me intrigou mais ainda, pois
transmitiu-me o seu local de origem: Delfos.
Nova procura. Onde ficava Delfos? O que representou para a civiliza��o grega?
Poucas respostas, mas n�o a esperada. Mas tinha agora uma certeza: o or�culo era
dado num momento em que a sacerdotisa estava incorporada por
uma entidade invis�vel.
Rubens Saraceni
INTRODU��O
NEEMA
or�culo a outros?
�, mas o que eu faria com um tesouro? Teria que ocult�-lo de todos, sen�o me
roubariam.
Mas tamb�m poderiam me matar para se apossarem
do tesouro. N�o, isto eu n�o queria. E como eu n�o tinha pai
vivo, nem irm�os, s� tinha m�e, para que um tesouro?
Minha mente tentava achar uma utilidade para o
tesouro. N�o achava nenhuma. Tudo o que eu imaginava
n�o me servia. O tesouro teria de ser ocultado at� que eu
crescesse. A�, sim, eu saberia o que fazer com ele.
Quando sa� de minha abstra��o, vi que ele sorria. Senti
vergonha de mim. Sim, se eram deuses, deviam ter ouvido
meus pensamentos.
Nisto fui interrompido pelo esp�rito da fonte.
� N�o pense crian�a, s� ou�a. O tesouro que temos
guardado � de tal grandeza que voc� poder� dar um pouco a
todos os que vierem � sua frente por toda a sua vida e, ainda
assim, ao morrer, voc� s� ter� aumentado o seu valor.
� Mas que tesouro � este, deus Meon? � perguntei
eu na minha ignor�ncia.
� Primeiro, eu n�o sou deus Meon. Sou o esp�rito
Meon, est� bem?
� Sim, esp�rito Meon. Mas que tesouro � este?
� E o saber que pertence aos deuses, crian�a.
A HIST�RIA DO ANCI�O
� N�o.
� N�o.
o saber.
� Sim, � isto mesmo. Meon quer dizer "saber na
origem". Este � o significado do seu nome.
� Ent�o meu or�culo sobre voc� n�o foi claro desta
vez.
� E o que disse o seu or�culo sobre mim?
�Disse que voc� � o guardi�o da fonte eterna e, se eu
quiser saciar minha sede, terei de beber de sua �gua.
�Bem, ent�o vou saciar um pouco dela agora. Quando
voltei, na tarde seguinte, o esp�rito Meon j� me aguardava,
s� que n�o estava sozinho, junto dele havia um grupo de
esp�ritos.
� E como eram eles, anci�o?
� Eu lhe falo deles no desenrolar de minha hist�ria.
Voc� conhecer� cada um deles no tempo certo.
Logo eu estava diante de um trono. N�o conseguia fix�-lo com os olhos. A luz que
ca�a dele era como um sol. S�
que n�o estava longe e sim a poucos passos de mim. Eu
sentia sua luz atravessar meu esp�rito. Mantive os olhos
abaixados.
eu sou voc�.
Quando ela voltou, chorava. Sim, todos choram quando t�m o encontro com seu
ancestral m�stico.
� Como foi seu encontro, Neema? � perguntou o anci�o.
� Era como eu imaginava, anci�o. Mas agora pe�o que me deixe sozinha, pois quero
derramar o meu pranto sem incomodar a ningu�m.
o anci�o acariciou sua cabe�a e lhe desejou uma boa noite. N�o compreendeu o olhar
dela ao lhe dirigir a palavra.
Sim, se tivesse visto, n�o lhe teria desejado uma boa noite, diria outras palavras.
Tamb�m n�o notou que o esp�rito da
fonte, o iniciado Meon, tamb�m chorava quando voltou com
o esp�rito de Neema. Se tivesse visto isto, talvez n�o
conseguisse dormir naquela noite.
No dia seguinte, o anci�o foi caminhar logo cedo. N�o
queria perguntar nada a Neema. Preferia que ela mesma
falasse de sua experi�ncia.
Quando voltou, j� era tarde. Neema estava
descansando. N�o quis acord�-la. Sabia que ela andava
cansada. Melhor esperar ela procur�-lo. Talvez sua prova
fosse muito dif�cil e ela n�o quisesse comentar nada.
Paci�ncia, tinha cumprido sua parte. Levou Neema at� o
iniciado Meon, e este tinha levado ela at� seu ancestral
m�stico. Tinha cumprido sua miss�o ali. Sim, mais uma estava
cumprida; j� n�o se lembrava mais de quantos havia iniciado
nos mist�rios. Mas a todos ele iniciou com amor � miss�o.
No dia seguinte, o anci�o observou Neema durante a
emiss�o dos or�culos. Como estava abatida!
� tarde, ia partindo quando foi chamado por ela.
� Aonde vai a esta hora, anci�o?
� Vou-me embora, Neema. J� fiz tudo o que podia
fazer por voc�. Agora j� conhece o iniciado Meon.
Mas eu vou ter de preparar outras pitonisas e sozinha
vai ser muito dif�cil.
� Voc� quer minha ajuda?
� Sim, com voc� me ajudando ser� muito mais f�cil
cumprir uma parte de minha prova.
� Qual a sua prova, Neema?
� Divulgar o culto � natureza e ensinar a todos sobre
os guardi�es dos mist�rios, de forma aleg�rica, tal como voc�
me falou.
� Ent�o eu vou ajud�-la. J� n�o ou�o ningu�m
procurando por mim mesmo.
� Ent�o aqui � um lugar igual a qualquer outro para
se viver, n�o?
� Sim, era isto mesmo que eu ia dizer.
� Pensei que talvez fosse porque gosta de minha
companhia.
� Sim, isto tamb�m. Voc� � uma �tima companhia.
Talvez a melhor que j� tive at� hoje, com exce��o de minha
m�e.
A HIST�RIA DE DELFOS
vem fazendo?
� O que � certo, Neema?
�Voc� se faz de desentendido quando lhe falo, Delfos.
� como se eu n�o lhe tivesse ensinado nada. Age unicamente
movido pelo desejo.
antes.
A QUEDA DE DELFOS E O
ENCONTRO COM ATENAS.
pastor.
� E o que � ser um bom pastor, estranho?
� N�o sendo como eu, j� se � um bom pastor.
� N�o, Atenas, obrigado. Eu lhe prometi que n�o vou entrar em sua casa.
Ele n�o sabia porque Neema chorava, mas n�o interrompeu seu pranto. Aprendeu com
Atenas que, quando algu�m chora a l�grima contida, � porque sua alma est� nascendo.
E n�o ia interromp�-la agora, pois sabia que Neema tamb�m era infeliz. Abra�ou-a
forte e acariciou-lhe os longos cabelos.
E Delfos partiu.
Quando chegou � aldeia, foi direto � choupana de
Atenas. A comitiva que o acompanhava ficou descansando,
enquanto ele partia a cavalo. Levava um para trazer Atenas
tamb�m.
Sim e n�o. Sim, porque quem n�o luta por um mist�rio n�o vive de verdade. E n�o,
porque um dia voc� me libertar� do encanto do G�nio do Or�culo. A�, neste tempo,
poderemos viver em paz na luz do nosso ancestral m�stico.
� Isto se ele n�o nos lan�ar em nova senda, n�o?
� Isto ele o far� com certeza. N�o separados, mas unidos para todo o sempre.
� Como pode saber disto, se voc� mesma disse que ningu�m pode prever qual � a prova
de um ancestral m�stico?
� Eu posso n�o saber disto, mas o G�nio do Or�culo � um dom original, e como eu sou
sua sacerdotisa, consultei sobre isto e tenho a resposta.
� E o que dizia o or�culo emitido?
� Quer saber mesmo, Delfos?
� Sim, Neema. Isto eu quero saber.
� Pois eis o or�culo emitido: "Eu sou voc�s, e voc�s s�o parte de mim. Eu os amo
por inteiro, e voc�s amam parte de mim. Eu os quero por inteiro, e voc�s querem
parte de mim. Portanto, s� quando voc�s me quiserem por inteiro, eu os unirei."
� Mas como e quando isto se dar�, Neema?
� N�o sei, mas � melhor n�s n�o nos preocuparmos com isto agora, Delfos. A jornada
ser� muito longa para que comecemos a nos preocupar com o seu final. Melhor
cuidarmos desta parte do caminho agora, para que o pr�ximo
trecho n�o seja t�o dif�cil, n�o?
� Sim, voc� tem raz�o. Ao menos este n�s j� conhecemos, certo, Neema?
� Sim, Delfos.
Neste instante, tiveram a n�tida impress�o de ouvirem uma voz a lhes sussurrar:
"Eu sou voc�s e voc�s s�o parte de mim, por isto eu os amo. Eu sou o vosso
ancestral m�stico!"
FIM