OSCAR NIEMEYER A VIDA UM SOPRO

Roteiro de Fabiano Maciel

SEQUNCIA 00 LETTERINGS E LOGOMARCAS Sobre fundo preto entram os letterings e logomarcas: projeto realizado atravs das leis: LEI ROUANET LEI DO AUDIOVISUAL LEI MENDONA patrocnio cultural: ACCENTURE BNDES PETROBRAS PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO uma produo: SANTA CLARA em parceria com: FUNDAO OSCAR NIEMEYER SEQUNCIA 01 O SONHO DE CABRAL OSCAR NIEMEYER OFF Uma vez eu tive um sonho, eu sonhei que o Rio de Janeiro no tinha sido ocupado. Que a cidade tinha crescido mais junto aos morros entrando pelo interior. Ento que eu tinha chegado na janela e tinha visto o mesmo panorama que o Cabral viu quando chegou, no ? A natureza fantstica, aquilo tudo, os pssaros, os bichos. E a cidade recuada olhando isso de longe. Seria um paraso assim guardado no tempo n? Por isso que um dia o Sartre disse: quem sabe que o mundo no seria melhor sem os homens.

SEQUNCIA 02 ABERTURA lettering sobre fundo preto:

A VIDA UM SOPRO lettering sobre fundo preto: documentrio de Fabiano Maciel e Sacha. SEQUNCIA 03 EU GOSTAVA DE DESENHAR OSCAR NIEMEYER ON Eu gostava de desenhar. Eu lembro quando eu era menino, eu comeava a desenhar com o dedo assim no ar e minha me perguntava: O que que voc t fazendo? Eu dizia: T desenhando. De modo que foi o desenho que me levou pra arquitetura. SEQUNCIA 04 TEXTO EXPLICATIVO - QUANDO SURGE A IDIA OSCAR NIEMEYER ON/OFF Um momento importante da arquitetura quando surge a idia. Eu por exemplo,trabalho de uma maneira muito particular. Quando eu tenho uma idia, comeo a estudar um problema, primeiro eu verifico quais so as condies locais, a possibilidade econmica. Depois eu comeo a desenhar. E quando chego a uma idia, a uma soluo que me agrada, eu passo a escrever, a redigir um texto explicativo.

Porque se nesse texto eu no encontro argumentos, eu volto pra prancheta. Uma vez l em Braslia era noite alta e ns fomos ver a estrutura do Alvorada que estava pronta. E quando chegamos l de noite, ns ficamos espantados, como era bonita. Parecia uma escultura, uma coisa que no tinha nenhuma finalidade seno da prpria beleza. Eu disse pra eles: olha, esse o momento em que nasce a arquitetura. a forma nova, diferente , que deve criar surpresas, essa a arquitetura. SEQUNCIA 05 TEM QUE HAVER FANTASIA Entram os seguintes letterings sobre as imagens: -Palcio do Itamaraty Braslia 1962 -Capela do Alvorada Braslia 1958 -Teatro Nacional Braslia 1959 -OCA So Paulo 1951 -Congresso Nacional Braslia 1958 -Memorial JK Braslia 1980 -Palcio da Justia Braslia 1962 OSCAR NIEMEYER ON/OFF O importante pra ns em todos os sentidos a liberdade. Tem que haver fantasia, tem que haver uma soluo diferente. Isso que importante na arquitetura. O que vai ficar da arquitetura, o que ficou, no foram as pequenas casas, muito bem tratadas... Foram as catedrais, foram as "voutes", foram os grandes balanos, n? Beleza importante. Voc v as pirmides... uma coisa sem menor sentido, mas so to bonitas, so to monumentais que a gente esquece a razo das pirmides e se admira, n? Se voc ficar preocupado s com a funo, fica uma merda. SEQUNCIA 06 O ARQUITETO TEM QUE SABER DESENHAR 4

OSCAR NIEMEYER ON/OFF comum voc ver um desenho de criana colorido, podia ser um painel de to bonito. Porque criativo, coisa espontnea. Depois que ela aprende, no consegue mais fazer. Eu acho que o arquiteto tem que saber desenhar, fazer um desenho figurativo, desembaraar a mo pra trabalhar. SEQUNCIA 07 FODIDO NO TEM VEZ Depoimento do Oscar. OSCAR NIEMEYER ON Quando me pedem um prdio pblico por exemplo, como eu fiz agora, 3 em Braslia, eu procuro fazer bonito, diferente, que crie surpresa. Porque eu sei que os mais pobres no vo usufruir nada. Mas eles podem parar, ter um momento assim de prazer, de surpresa, ver uma coisa nova. o lado assim que a arquitetura pode ser til. O resto quando ela tiver um programa humano, social , a ela vai cumprir seu destino. Por enquanto s usa arquitetura quem tem dinheiro. Os outros esto fudidos a nas favelas. Aqui...meu lema esse a. Viu o homenzinho l em cima? Esse negcio vermelho... Fodido no tem vez, t escrito ali. SEQUNCIA 08 INFNCIA EM LARANJEIRAS - FAMLIA CATLICA OSCAR NIEMEYER ON / OFF Eu morava em Laranjeiras na rua Passos Manoel. Foi uma infncia tranquila. Eu estudei no Colgio Barnabita.

Depois teve um perodo assim de muita euforia, mocidade, Caf Lammas, Fluminense... Ns parecamos que estvamos na vida para se divertir, que era um passeio. Depois casei, vieram os compromissos, a minha vida no tem nada de especial. um ser humano assim insignificante,que atravessa a vida que um sopro, n ? Eu era de famlia catlica e meu av, que era ministro do Supremo Tribunal e a regalia que ele tinha era missa em casa. Ele era honesto. Ele foi ministro muitos anos e isso uma coisa que pesou muito em mim. Quando ele morreu ele deixou a casa em que ns morvamos, apenas aquilo.

SEQUNCIA 09 PRIMEIRA CASA PROJETADA E OBRA DO BERO Lettering: Obra do Bero Rio de Janeiro 1937 OSCAR NIEMEYER ON/OFF A primeira casa que eu fiz, meu primeiro projeto, eu era estudante. Fiz pra um mdico que era meu parente, fiz de graa. O sujeito riu muito. Achou impagvel a casa. Era uma casa moderna, direitinha. De modo que voc ainda tem que agradar um sujeito que s vezes impossvel agradar. A Obra do Bero foi o meu primeiro projeto. Uma diretora da Obra do Bero era minha parenta, eu tava saindo da escola ela me pediu o projeto. Eu me lembro que at isso marcou um pouco a minha posio na arquitetura. Eu fiz uma proteo com brise-soleil com umas caixas que as verticais eram inclinadas.

Eu fui pra Europa quando voltei o prdio estava pronto, mas eles acharam que era engano, que deviam ser normais a fachada. E o sol entrava no prdio. Eu me lembro que eu fiz o projeto de graa e ainda paguei a fachada nova com aqueles elementos verticais. um fato sem importncia mas que mostra que eu era idealista, que eu queria fazer arquitetura, que eu me sentia responsvel pelo que eu fazia com relao a arquitetura brasileira. SEQUNCIA 10 "A CIDADE DO RIO DE JANEIRO" DE HUMBERTO MAURO Lettering: "A cidade do Rio de Janeiro" de Humberto Mauro, 1949. NARRADOR ORIGINAL DO FILME EM OFF "A cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil. Fundada em 1565, junto ao Po de Acar, desenvolveu-se a margem da Baa de Guanabara. Contando hoje com cerca de 2 milhes de habitantes, possui todos os requisitos de uma cidade moderna. Onde se erguia o histrico Morro do Castelo, ncleo inicial da cidade, demolido a 20 anos, estende-se hoje a nova zona central do Rio de Janeiro, a Esplanada do Castelo, em ruas modernas e construes novas."

SEQUNCIA 11 LUCIO COSTA OSCAR NIEMEYER ON Eu aprendi na vida, aprendi no escritrio do Lucio Costa... Naquele perodo, quando a gente estava no meio do curso a idia, a preocupao era sempre trabalhar numa firma construtora. Eu que tava at desempregado, tava casado e com poucas possibilidades de dinheiro, eu preferi ir trabalhar com o Lucio de graa.

Porque eu queria fazer uma boa arquitetura. E foi l que eu aprendi. SEQUNCIA 12 LUCIO COSTA NA UNB Lettering: Lucio Costa na Universidade de Braslia 1992. LCIO COSTA ON/OFF Eu no admitia fazer nada que no estivesse em dia com a renovao. De modo que passei uns cinco anos de quase misria. Porque eu era procurado por ter uma clientela que queria casas de estilo, renascimento, estilo ingls, estilo francs, que era a minha clientela anterior. At uma senhora uma vez me disse: eu encomendei a voc uma carruagem e voc quer me impingir um automvel? SEQUNCIA 13 PAVILHO DO BRASIL EM NOVA IORQUE Letterings: -Nova Iorque 1939 -Pavilho do Brasil na Feira Internacional de Nova Iorque projeto de Lucio Costa e Oscar Niemeyer 1939. OSCAR NIEMEYER OFF Eu me lembro que uma vez, quando ele venceu o concurso do Pavilho do Brasil em Nova Iorque, ele gostou do meu projeto. Ento me convidou pra ir com ele. E fomos. Fiquei l um ano e tal, fizemos o projeto. SEQUNCIA 14 ARQUITETURA MODERNA x ARQUITETURA NEOCOLONIAL Lettering: Entrevista para o documentrio O Risco de Geraldo Motta Filho 2003

OSCAR NIEMEYER ON/OFF Naquele tempo, havia duas tendncias na arquitetura no Brasil: Uma tendncia era fazer uma arquitetura moderna, utilizando a tcnica em sua plenitude, sem nenhuma reserva. A outra era procurar uma soluo intermediria. No tinha o menor sentido. Era fazer um prdio que colocava como enfeite uma janelinha colonial, uma coisinha, fazer uma arquitetura intermediria. Gilberto Freyre, que no entendia nada de arquitetura, s vezes se manifestavaarquitetura mais brasileira. Isso era uma babaquice total. SEQUNCIA 15 HOTEL DE OURO PRETO Letterings: -Ouro Preto Minas Gerais -Grande Hotel Ouro Preto 1939 OSCAR NIEMEYER ON/OFF De modo que quando surgiu a idia do hotel de Ouro Preto, o Leo fez um estudo dando uma idia da arquitetura antiga, as mesmas janelas, modernas, mas com influncias. E a o Rodrigo Mello Franco e o Lucio acharam que no, que tinha que ser uma coisa que criasse o contraste. E foi o que eu fiz. Eu fiz o hotel usando os elementos, mas modernos, no tinha nada com isso. A tcnica de defender os monumentos no copiar, fazer o contraste. Todo mundo gosta da arquitetura colonial. Mas a perfeitamente que ela mais portuguesa que brasileira. gente sabe

Eu quando vou a Europa e passo por uma cidade antiga eu me sinto melhor. Passar por Portugal naquelas velhas aldeias portuguesas que a gente parece estar no Brasil n ? Eu me lembro que na Europa, s vezes eles diziam: O passado arquitetnico de vocs pobre, mais portugus do que brasileiro. 9

E eu dizia: isso muito bom para ns, porque vocs vivem circulando entre monumentos, e ns estamos livres pra fazer hoje o passado de amanh. SEQUNCIA 16 MINISTRIO DA EDUCAO - DISCURSO CAPANEMA Lettering: Rio de Janeiro 1937. NARRADOR ORIGINAL DO FILME OFF Instituto Nacional do Cinema Educativo, documentando a cerimnia do lanamento da pedra fundamental do futuro edifcio do Ministrio da Educao e Sade. CAPANEMA ON O acontecimento propcio. Em primeiro lugar, porque se vai plantar na bela cidade, um grande monumento arquitetnico, cujo projeto se estudou com conscincia, pertincia, mincia e esmero. Porque com a ereo deste edifcio daremos o passo final no esforo que vem de longe, de organizao do ministrio, que tem a seu cargo soluo de tantos srios problemas do Brasil. SEQUNCIA 17 MINISTRIO - GABINETE CAPANEMA Letterings: -Gustavo Capanema e Rodrigo Melo Franco -talo Campofiorito arquiteto -Carlos Drummond de Andrade e Gustavo Capanema OSCAR NIEMEYER ON O perodo de Capanema foi como a Semana de Arte Moderna de So Paulo. Porque ele cuidou do nosso patrimnio histrico. Ele chamou o Rodrigo que foi uma pessoa fantstica, passou a vida cuidando do nosso patrimnio artstico, de Minas, desses estados todos. E cuidou da cultura, fez o Ministrio da Educao.

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TALO CAMPOFIORITO ON/OFF uma poca de ministros jovens e chefes de gabinete geniais. Ns temos Rodrigo no gabinete da educao, que trocado por Capanema, e troca o chefe de gabinete, tira Rodrigo e bota Carlos Drummond de Andrade. Uma poca privilegiada. Ns nunca vamos conhecer chefes de gabinete como estes: Os ministros sabiam escrever e os chefes de gabinete eram revolucionrios.

SEQUNCIA 18 MINISTRIO DA EDUCAO Letterings: -Ministrio da Educao e Sade Rio de Janeiro 1936. - Projeto de Oscar Niemeyer, Afonso Reidy,Jorge Moreira, Carlos Leo, Lucio Costa e Ernani Vasconcellos, segundo risco original de Le Corbusier Depoimento do Oscar no seu escritrio. OSCAR NIEMEYER ON/OFF O importante foi o projeto do Le Corbusier para o Ministrio da Educao. Porque ele mostrou pro povo, pros governantes o que era a arquitetura contempornea. A razo dos pilotis, do brise-soleil, da fachada de vidro, tudo isso. SEQUNCIA 19 HISTRIA DO PROJETO, CHEGADA DE LE CORBUSIER TALO CAMPOFIORITO ON/OFF O projeto do Ministrio, o Capanema convencido provavelmente por Carlos Drummond de Andrade, e ento ele chama Lucio Costa pra fazer o projeto. E o Lucio Costa, que que faz? Chama outros concorrentes modernos.

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Nenhum deles sabia direito como fazer aquele Ministrio realmente moderno. Todos eles estavam convencidos da modernidade mas no tinham a linguagem. SEQUNCIA 20 CHEGADA DE CORBUSIER - HISTRIA DA CARTA letterings: -Projeto de Jorge Moreira para o prdio do Ministrio -Le Corbusier -Desenhos de Le Corbusier. -Primeiro projeto de Le Corbusier TALO CAMPOFIORITO OFF / ON E o Lucio insiste na vinda de Le Corbiusier. Ele ficou aqui 15 a 20 dias, no mais do que isto. muito pouco. Neste perodo em que ele esteve aqui, nem Cristo em provncia nenhuma de Jerusalm fez tanto milagre, porque mudou a arquitetura brasileira, criou o prdio mais importante do mundo, e o Oscar virou um gnio, que no era, tanto que o Lucio no sabia. OSCAR NIEMEYER ON O RISCO O Corbusier chegou com aquela desenvoltura de chefe, viu o projeto que o Lucio tinha feito, preferiu fazer um outro, apresentou uma soluo, o Lucio aceitou. Nessa ocasio o Lucio me botou pra trabalhar com ele, pra ajudar ele no desenho. TALO CAMPOFIORITO ON/OFF O Corbusier mudou o projeto, e fez baixo longo, com o gabinete do ministro olhando pro Po de Acar. No era possvel, porque a pressa do Capanema era to grande e exigiu que ele, o Corbusier, abandonasse o que ele queria, porque aquele outro era num terreno da prefeitura e esse era do Ministrio. Na vspera de embarcar, Le Corbusier fez um croqui do prdio no terreno atual. Fez com m vontade e ainda disse na carta que assim no ia ficar bom, que ia ficar prejudicado o projeto. E vai embora. A equipe coordenada pelo Lucio trabalha, um ano e pouco e nesse meio tempo acontece a histria do papel. OSCAR NIEMEYER ON / OFF

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Eu achava que o primeiro era melhor. E um dia no sei porque eu fiz um croqui utilizando o primeiro. Peguei o primeiro projeto, atravessei no terreno, fiz a rua passar por baixo, abri. E o Leo gostou. Quando o Lucio chegou, o Leo disse: olha o Oscar fez um projeto a que eu acho que t bom. Ele pediu pra ver e eu, que no tinha a menor preocupao, nem pensava em poder influir, tinha jogado pela janela. E ele mandou buscar. A foi a primeira coisa que me impressionou no Lcio, assim, de correo, de generosidade. Ele viu achou bom e disse: vamos fazer esse. SEQUNCIA 21 MINISTRIO - CONCLUSO Lettering: -Oscar Niemeyer e Le Corbusier OSCAR NIEMEYER ON/OFF Agora a nossa arquitetura muito diferente do Corbusier. Ns caminhamos para uma arquitetura mais de acordo com o nosso clima, mais leve, mais vazada, vencendo o espao. E demos a ele a contribuio que ele nos deu. Ns tivemos influncia dele, mas nos ltimos trabalhos ele tambm teve influncia da nossa arquitetura. No sou eu que digo, quem diz isso o Ozoenfant, que foi scio dele, e que num livro de memrias a gente pode ler: Le Corbusier que durante muitos anos, proclamou as virtudes do ngulo reto, passou de um momento para o outro pensando diferente, seguindo uma arquitetura que vinha de fora com muito talento. SEQUNCIA 22 FERREIRA GULLAR - PRDIO DA ONU Lettering: -Ferreira Gullar poeta FERREIRA GULLAR ON /OFF E no h dvida alguma de que a arquitetura do Oscar, ela nasce da arquitetura do Le Corbusier nos seus elementos bsicos.

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Porque ningum inventa nada de nada, de zero. No existe isso. A cultura herana e transformao. O que extraordinrio que ele aprende a lio do Le Corbusier e em seguida, ele j faz uma coisa que a negao dos dados fundamentais daquela arquitetura. E todo mundo conhece o caso do prdio da ONU, que na verdade quem ganhou o concurso do prdio da ONU foi ele, no foi Le Corbusier. A sede do ONU em Nova Iorque, foi o Oscar que ganhou. O prdio, o projeto do Oscar. Isso no quer dizer nada, no diminui o Le Corbusier. Isso mostra o talento criativo do Oscar, que no foi com projeto pra l, que fez no hotel, porque o presidente da comisso que ia julgar os projetos falou: voc tem que apresentar um projeto. Ns no vamos aceitar que voc venha pra c e no apresente um projeto. A ele foi pro hotel e bolou o projeto. SEQUNCIA 23 PRDIO DA ONU Lettering: -Sede da ONU em Nova Iorque 1947. OSCAR NIEMEYER ON/OFF O edifcio da ONU, eles escolheram o meu projeto. No livro que eu publiquei tem uma fotografia de todos me abraando. Era um projeto assim: o projeto do Corbusier tinha um bloco aqui, alto e o prdio era aqui, e dividia o terreno em dois. No meu projeto, eu botei o bloco aqui, separei os Conselhos da Grande Assemblia, botei os Conselhos aqui e botei a Grande Assemblia aqui. Eu quis criar a praa das Naes Unidas. O meu projeto foi o escolhido, mas o Le Corbusier no dia seguinte me procurou e me pediu pra botar esse prdio aqui. Acabava com a praa. Mas eu senti que ele gostaria de fazer o projeto dele. E ele era o mestre. Eu disse: Est bem. No me arrependo. Ento, o projeto dele era o 23, o meu era o 32 e ns apresentamos o projeto 23-32. Quer dizer, isso que t l construdo. Houve depois

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pequenas modificaes, mas se voc olhar a planta, o projeto que eu fiz com a modificao do Corbusier a soluo adotada. SEQUNCIA 24 LE CORBUSIER

LE CORBUSIER ON Pela primeira vez, desde um perodo histrico, estamos reunidos em um projeto cuja realizao nos permitir apresentar ao mundo uma soluo arquitetnica clara e otimista.Temos idades diferentes. Os jovens do ateli de desenho, seus mestres contramestres, formam uma conjuno nica e excepcional. SEQUNCIA 25 PROJETO DA ONU OSCAR NIEMEYER ON/OFF Mas eu olho pra trs e acho que foi bom, eu era jovem, fui generoso. Tempos depois, eu almocei com ele no apartamento dele e ele ficou me olhando e disse: Voc generoso. Eu pensei: esse cara t se lembrando daquela manh, que eu concordei em mudar a posio do bloco. SEQUNCIA 26 PAMPULHA - O COMEO Letterings: -Iate Clube da Pampulha Belo Horizonte 1940 -Cassino da Pampulha Belo Horizonte 1940 -Casa de Baile Belo Horizonte 1940 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Quando eu fui fazer Pampulha, eu fui falar com o JK. E ele me disse que ia fazer um bairro novo em Belo Horizonte. Um bairro com uma igreja, com um cassino, um clube e um restaurante.

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Quando acabou a conversa ele me disse: olha, eu preciso do projeto do Cassino pra amanh. Mas eu era jovem, n? Eu tava comeando, praticamente era o meu primeiro trabalho. Eu tinha que atender. Fui pro hotel e fiz, trabalhei a noite inteira e no dia seguinte compareci. E ele compreendeu que comigo ele podia correr, no ? E por isso fomos juntos... Pampulha foi o incio de Braslia. SEQUNCIA 27 PAMPULHA - IGREJA Lettering: -Igreja So Francisco de Assis Belo Horizonte 1940. OSCAR NIEMEYER ON/OFF E em Pampulha minha idia j era fazer uma arquitetura diferente. Naquele tempo a arquitetura era muito no compreendia nem representava bem o concreto armado. Ela era rgida como se fosse feita com estrutura metlica. E o concreto, ao contrrio sugeria um novo campo de experincias e invenes. Eu ento procurei introduzir a curva na arquitetura.Ns queramos impor a curva que a soluo natural do concreto. Quando voc tem um espao grande assim, a soluo natural a curva no a linha reta. Ento eu cobri a igreja de curvas. E a arquitetura se fez diferente. Se fez mais ligada ao nosso pas, mais leve, mais vazada, mais prxima das velhas igrejas de Minas Gerais. SEQUNCIA 28 PAMPULHA - CASA DO BAILE OSCAR NIEMEYER ON/OFF A Casa do Baile, que era uma construo, eu fiz a marquise em curva tambm. Ento eu fiz com que a arquitetura se fizesse mais plstica, uma novidade, uma inveno como dizia Le Corbusier. Ento essa arquitetura diferente criou uma srie de dvidas e discusses no ? Mas em pouco tempo eles tinham compreendido que o concreto armado era o material da poca e nele nos devamos deter.

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Foi no tempo em que um francs muito inteligente, que trabalhou com o Corbusier disse que "Il faut fair chanter les points d'apui". Quer dizer: preciso fazer cantar os pontos de apoio. E eu dei mais nfase s estruturas. SEQUNCIA 29 PAMPULHA - FILME AMERICANO NARRADOR AMERICANO OFF Em torno da Lagoa da Pampulha, a alguns minutos de carro, do centro da cidade, um novo bairro residencial est sendo construdo, no estilo tradicional "mineiro". Conforme o planejado. O Iate Clube j est funcionando, com sua magnfica piscina. Do outro lado da Lagoa, no Cassino da Pampulha, os mineiros podem jantar, danar e assistir a shows. Se preferirem, podem ir a um baile mais popular, jantar e danar no pavilho aberto. SEQUNCIA 30 TALO CAMPOFIORITO FALA DA PAMPULHA TALO CAMPOFIORITO ON/OFF O Cassino tem um "que" de Corbusier, a igreja completamente brasileira e um pouco barroca e a coisa mais importante do mundo o pequeno baile popular. Porque o Oscar achou de botar no programa do Juscelino, um cassino pra rico, a igreja igreja e no iam aceitar por muitos anos, o clube era pra burguesia. Ento ele quis fazer um baile, uma ilhazinha, ficou parecendo uma serpentina que voc joga no ar,que faz assim... ento ficou brasileiro, carnaval, povo, barroco, e esse diabo desse prdiozinho que transformou a imagem da arquitetura brasileira no mundo, eu acho. O pequeninho. SEQUNCIA 31 CHICO BUARQUE A MSICA DO TOM A CASA DO OSCAR

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Lettering: -Chico Buarque compositor CHICO BUARQUE ON A Casa do Oscar era o sonho da famlia. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o ante-projeto, presente do prprio. Havia a promessa de que um belo dia iramos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impacincia, porque me pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Pois bem, internaram-me num ginsio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casaro do Oscar, achei pouco. Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha msica sai boa penso que parece msica de Tom Jobim. Msica do Tom na minha cabea casa do Oscar. SEQUNCIA 32 POEMA DA CURVA letterings: -Escola Milton Campos Belo Horizonte 1954 -Parlamento Latino-Americano So Paulo 1991 -Anexo Supremo Tribunal Braslia 1998 -Ponte Asa Sul Braslia 1967 -Terminal Hidrovirio Niteri 2004 OSCAR NIEMEYER OFF No o ngulo reto que me atrai, Nem a linha reta, dura, inflexvel criada pelo o homem. O que me atrai a curva livre e sensual. A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do cu, no corpo da mulher preferida.

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De curvas feito todo o universo, O universo curvo de Einstein. SEQUNCIA 33 CANSADO DE FALAR DE ARQUITETURA - O IMPORTANTE PROTESTAR Lettering: -Edifcio Niemeyer Belo Horizonte 1954. OSCAR NIEMEYER ON/OFF A minha arquitetura no uma soluo pra arquitetura, a minha arquitetura. Assim como na pintura a gente t de acordo de que no existe a pintura antiga e moderna, existe a boa e a m pintura. Na arquitetura a mesma coisa. O ideal cada um procurar o seu caminho e fazer o que gosta. Eu confesso a voc que eu t um pouco cansado de falar de arquitetura. Porque as coisas se repetem, a conversa a mesma, as perguntas so as mesmas. Mais importante do que a arquitetura estar pronto pra protestar e ir na rua, isso que importante, o sujeito se sentir bem, sentir que no um merda, que ele t ali pra ser til... O sujeito tem que pensar na poltica, a poltica importante, prpria vida, pensar na misria, procurar colaborar e quando ele sentir que a coisa t ruim demais e a esperana fugiu do corao dos homens, a a revoluo. SEQUNCIA 34 PRMIO LENIN FILME ARQUIVO 31 NARRADOR ORIGINAL OFF O arquiteto Oscar Niemeyer recebe em solenidade o prmio Lnin da paz, que lhe foi conferido pelo governo sovitico. O embaixador da Rssia fez a entrega do prmio enaltecendo a obra de Niemeyer e o artista recebe as insgnias das mos de uma representante russa como homenagem a cultura de nosso pas. SEQUNCIA 35 ENTRADA PRO PARTIDO COMUNISTA 19

Lettering: -Luis Carlos Prestes e Oscar Niemeyer OSCAR NIEMEYER ON/OFF Eu entrei pro partido em 45. Quando o pessoal saiu da priso, o Prestes foi l pro meu escritrio, alguns companheiros, ajeitei uns quinze l no meu escritrio, fiquei ouvindo aquela conversa, aquela luta, aquele entusiasmo, aquela abnegao pela idia. Emprestei a casa ao Prestes, ele criou l o Comit Metropolitano. E foi indo. SEQUNCIA 36 ARQUITETURA SOVITICA Lettering: -Bulgria anos 70 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Eu me lembro que quando eu fui a Moscou, h muitos anos atrs, no tempo do stalinismo e um professor me perguntou: Dr. Niemeyer o senhor o que que acha da arquitetura sovitica? Eu disse: olha, estou com vocs, problema poltico, de paz, essa coisa toda, mas no encontro resposta pra isso, acho muito ruim. Ento o senhor apresente suas crticas. Eu disse: no vim aqui pra criticar, mas se vocs perguntam: as colunas aqui so prximas demais, so gordas demais pro espao que as separam, a circulao ruim, a ventilao ruim. De modo que a gente nesse contato com a esquerda a gente tinha que ser fraternal, mas dizer a verdade. SEQUNCIA 37 BIENAL E DEPOIMENTO DE EDUARDO GALEANO Letterings: -Marquise do Parque Ibirapuera So Paulo 1951 -Pavilho da Bienal So Paulo 1951 -Montevidu Uruguai -Eduardo Galeano escritor EDUARDO GALEANO ON

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 sabido que Oscar Niemeyer odeia o capitalismo e odeia o ngulo reto. Contra o ngulo reto, que ofende o espao, ele tem feito uma arquitetura leve como as nuvens, livre, sensual, que muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro, so montanhas que parecem corpos de mulheres deitadas, desenhadas por Deus no dia em que Deus achou que era Niemeyer. SEQUNCIA 38 CASA DAS CANOAS Lettering: -Casa das Canoas Rio de Janeiro 1952 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Depois eu fiz essa casa. A, eu procurei um terreno que tivesse vista, eu queria uma casa simples, pequena, que se adaptasse bem na natureza. Eu fiz a casa como eu queria, simples como a minha maneira de viver. E ela t bem integrada no terreno. Eu no mexi no terreno.Fiz os quartos embaixo. Em cima tem a sala, a cozinha. Um amigo meu, me deu umas mudas de plantas e foram crescendo assim como coisa da natureza, sem muito controle, no ? Quando a casa tava pronta, um dia o Gropius apareceu aqui. E eu mostrei a casa. E quando ele saiu, ele me disse: A casa bonita, mas no multiplicvel. Eu achei graa, uma besteira to grande na boca de um sujeito to ilustre, no ? Porque no tinha nada a ser multiplicado. O terreno diferente. A casa foi feita pro terreno, se adapta ao terreno, como ela pode ser multiplicada? Mas eu achei graa, porque besteira sempre se disse. No s de hoje no. No fomos ns que inventamos a bobagem, no ? Ela sempre existiu.

SEQUNCIA 39 BAUHAUS OSCAR NIEMEYER ON Bauhaus foi o paraso da mediocridade, como dizia o Le Corbusier. O sujeito aprendia a desenhar um aparelho qualquer, de jantar, qualquer

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coisa, e aquilo se estabelecia com uma srie de regras que eles eram obrigados a seguir. E a arquitetura no nada disso, a arquitetura inveno. Pelo contato que eu tive com o Corbusier o mais importante foi o dia que ele me disse: olha arquitetura inveno. Isso depois eu compreendi lendo em diversos livros, quando eu li o...o poeta francs o... no me lembro o nome agora, ele dizia que a inveno, o espanto a caracterstica principal da obra de arte. De modo que na minha arquitetura, o que eu fao, a preocupao inicial que seja diferente, que o povo pare surpreso de ver uma coisa nova ...Baudelaire. SEQUNCIA 40 ARTES PLSTICAS Letterings: -Hospital da Lagoa Rio de Janeiro 1952 -Banco Boavista Rio de Janeiro 1946. -Painel de Paulo Werneck -Teatro Nacional Braslia trabalho de Athos Bulco -Azulejos de Portinari Pampulha 1940 -Interior do Itamaraty Braslia 1962 Trabalho de Athos Bulco -Azulejos de Athos Bulco -Capela Nossa Senhora de Ftima Braslia 1958 FERREIRA GULLAR ON/OFF Uma das definies bsicas da nova arquitetura, do comeo do sculo 20 exatamente a excluso das outras artes. A parede, o painel, o interior de um prdio ele belo em si mesmo na sua proporo e na sua funcionalidade. No precisa botar nada ali. E nisso, o Oscar vem e bota azulejo, e bota mural. Ento inclui o artista, o pintor, o escultor, o que uma rebeldia dele tambm. OSCAR NIEMEYER ON No meu trabalho eu sempre convoquei os artistas, os pintores, os escultores. Mesmo no meu primeiro trabalho de Pampulha eu fiz isso. A arquitetura no pode ser vista como uma coisa isolada. Porque quando o arquiteto faz um projeto, quando ele est traando uma parede, ele est 22

j imaginando se ela vai ser uma pintura, uma caiao, uma parede de pedra, se deve ser uma escultura, n? O artista no vem depois pra colocar o quadro onde ele quer. SEQUNCIA 41 ESQUECIMENTO Oscar fala. OSCAR NIEMEYER ON lgico que h influncias. Houve influncia at na literatura. Tem o sujeito que escreveu o... o..a influncia do.... Vou desistir de falar hoje. Esquecer o Cames, porra. Oscar e talo Campofiorito conversam no MAC. OSCAR ON Eu t esquecendo os nomes... TALO CAMPOFIORITO ON Ah, mas isso normal OSCAR ON Mas eu t esquecendo at o nome do sujeito que t ao meu lado. Outro dia falando com eles eu no me lembrava do Mies van der Rohe. TALO CAMPOFIORITO ON A no pode OSCAR ON Uma vez eu tava fazendo noite de autgrafo, chegou um engenheiro que foi prefeito do Rio.No me lembro o nome dele. TALO CAMPOFIORITO ON Passos... OSCAR ON No, da nossa idade, do nosso tempo. TALO CAMPOFIORITO ON Tamoio. OSCAR ON No. E ele veio com o livro e eu disse: esqueci seu nome. Ele ficou puto. Ele disse, fulano de tal.

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SEQUNCIA 42 BRASLIA - ARQUIVO JEAN MANZON NARRADOR ORIGINAL OFF O Homem brasileiro no mais arranha as praias como os caranguejos. Braslia, um plo magntico em Gois, afinal a resposta a essa prtica de dois sculos. j uma cidade provisria de dez mil habitantes, construda por iniciativa particular, com inverses superiores a quinhentos milhes de Cruzeiros, estende-se ao lado das grandes obras do governo. SEQUNCIA 43 OSCAR FALA SOBRE O COMEO DE BRASLIA OSCAR NIEMEYER ON O Juscelino passou por aqui, me chamou, descemos juntos pra cidade e ele me disse: Olha, eu quero fazer uma capital. Uma capital diferente. No quero uma capital provinciana, quero uma coisa bonita, que mostre a importncia do pas. E foi bom, comeamos a trabalhar. Eu achei Braslia longe demais, mas depois eu me acostumei com a idia.Que a determinao de Juscelino era tanta que ns passamos a achar que tudo ia correr bem. E Braslia foi assim uma aventura, cheia de problemas e desencontros, desconforto... a gente mal alojado. Mas havia determinao do JK, e a coisa prosseguiu. SEQUNCIA 44 CARLOS HEITOR CONY FALA SOBRE BRASLIA lettering: -Carlos Heitor Cony escritor CARLOS HEITOR CONY ON/OFF Juscelino muitas vezes terminava o expediente dele aqui no Catete, aqui do lado, terminava s seis horas, tomava o avio aqui no Santos Dumont, chegava por volta da meia noite em Braslia, fazia as inspees de obras, seis horas da manh voltava, as dez horas da manh estava no Catete outra vez.

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Foi um perodo muito difcil. Braslia no era bem vinda. A imprensa nacional inteira, no s So Paulo como a do Rio eram contras. O Rio de Janeiro vai acabar...vai esvaziar o Rio de Janeiro. Vamos para Braslia! Era uma ameaa. No vou para Braslia, nem eu nem minha famlia, embora vivendo cheio grana, no quero deixar Copacabana . Porque para incentivar a ida Braslia, no s dos funcionrios mas de outras pessoas, para ocupar o espao de Braslia, havia as dobradinhas: funcionrio que ia para Braslia ganhava em dobro, ento o Billy Blanco saiu com essa .. Mesmo que seja para viver cheio de grana quero ser pobre sem deixar Copacabana... SEQUNCIA 45 EDFICIO DO IAPI NARRADOR ORIGINAL OFF Em um dos edifcios do IAPI j est pronto um apartamento piloto com todos os requisitos do conforto moderno. Como este sero todos os demais em construo. SEQUNCIA 46 COMEO DE BRASLIA - HELICPTERO OSCAR NIEMEYER ON/OFF s vezes eu ia de avio, DC-3. Podia parar em qualquer lugar. A levava trs horas. Me lembro que um dia eu tava almoando com ele durante as obras, no ? Ele me disse: olha, quando acabar o almoo, voc vai viajar comigo de helicptero para ver as obras, seno eu mando te encanar. E samos. Eu peguei o helicptero com ele, corremos a cidade e eu fiquei muito tranquilo. Porque diziam que o o helicptero quando tem qualquer problema, ele desce naturalmente com aquela hlice de controle. Mas depois que eu cheguei em terra, o piloto conversando comigo disse: ah, o outro muito mais seguro, esse cai mesmo se for preciso. SEQUNCIA 47 LEVEI OS AMIGOS QUE ESTAVAM NA MERDA OSCAR NIEMEYER ON

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Eu me lembro que quando eu fui pra l, eu... eu levei quinze arquitetos, mas levei um mdico, levei um engenheiro, levei dois jornalistas, levei cinco amigos meus que estavam na merda e precisavam trabalhar e que eu senti que era a oportunidade de ajud-los. Eu queria que a conversa em Braslia fosse mais variada , que no falasse s de arquitetura, que e a vida ficasse mais fcil, mais divertida. A gente se divertia, a gente saa em grupo, no levava a coisa a srio. A gente tinha coisa pra contar, a turma era alegre, divertida... Porque eu acho que a vida assim. A gente tem que separar as coisas. A vida chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos de tranqilidade e brincar um pouco. Depois, os outros agentar. A vida um sopro n? SEQUNCIA 48 A SOCIEDADE IRIA MELHORAR - NELSON PEREIRA DOS SANTOS Lettering: Nelson Pereira dos Santos cineasta. OSCAR NIEMEYER OFF Eu me lembro a gente trabalhando l, freqentando as boates no meio daqueles operrios, tudo vestido igual. A gente tinha at a impresso que a sociedade ia melhorar, que os homens seriam mais iguais n? NELSON PEREIRA DOS SANTOS ON Se o brasileiro fosse capaz de construir a nova capital, e uma capital com caractersticas especiais, originais, pela obra de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, com um pensamento esttico, um pensamento urbanstico completamente diferente, moderno, renovador... Poxa ento podemos fazer tudo que for preciso para que o Brasil mude. Mudar a capital para Braslia, significava mudar o Brasil. OSCAR NIEMEYER UDIO OFF Mas no, quando inaugurou a cidade, vieram os polticos, vieram os homens de negcios, era a mesma merda, a diferena de classes, a imposio do dinheiro, dos negcios, tudo que at hoje anda por a . E o final com JK, o desejo dele, como ele dizia, era levar o progresso pro interior e isso foi feito.

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SEQUNCIA 49 INAUGURAO DE BRASLIA Lettering: O Candango da Belacap de Roberto Farias 1961 "alegria de candango ver Braslia inaugurada presidente no alvorada sorrindo pra candangada eu sou feliz no meio da candangaria me esbaldo me acabo noite e dia"

SEQUNCIA 50 BRASLIA - ARQUITETURA E ESTRUTURAS Letterings: -Ministrios Braslia 1958 -Congresso Nacional Braslia 1958 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Eu procurei dar arquitetura, s estruturas maior relevo. Eu valorizei o trabalho do engenheiro. E l em Braslia quando uma estrutura se conclua, a arquitetura tava presente. Quer dizer, a arquitetura e a estrutura como uma coisa que nascem juntas e juntas devem se enriquecer. Quando o Congresso ficou pronto, a estrutura, a arquitetura j estava l.Os pequenos detalhes ficaram para plano secundrio. um projeto que eu gosto muito. muito simples. Ele reala o que preciso realar, onde o trabalho mais importante, quer dizer a cmara e o senado. Eu quis fazer o teto no nvel das avenidas. E fcil explicar: eu queria que quando a pessoa chegasse, visse a Praa dos Trs Poderes da qual o Congresso faz parte. 27

SEQUNCIAS 51/52 BRASLIA- PRAA DOS 3 PODERESTANGENTE DA CMARA/unidade na arquitetura Letterings: -Praa dos Trs Poderes 1958. - Palcio do Planalto Braslia 1958 - Supremo Tribunal Federal Braslia 1958. OSCAR NIEMEYER ON/OFF Porque comum, quando voc quer realar a arquitetura numa praa deixar a praa limpa, sem nada. Ento voc olha e v os diversos edifcios, voc v a relao que tem um com o outro, voc sente a importncia da praa. E no Brasil s vezes o lado medocre das pessoas, ficam reclamando: mas por que a Praa Trs Poderes no tem vegetao? por que tanto sol? E a gente tem que explicar isso, que to intuitivo porque ali uma praa cvica, diferente, tem que valorizar a arquitetura.... Imagina voc na Praa de So Marcos se enchssemos ela de rvores? O que acontecia? Tinha mais sombra, mas tinha desaparecido. uma coisa de arte. Tudo tem que dar uma explicao. Mediocridade ativa uma merda! E discutimos muito apesar do tempo curto. Eu me lembro que um dia o Cardoso, que era poeta, um sujeito muito inteligente, me telefonou:Oscar: encontrei a tangente que vai permitir que a cpula da Cmara parea apenas tocando o cho. Ento eu procurei fazer os palcios como que apenas tocando o cho. As colunas finas. No Palcio do Planalto, por exemplo, eu fiz as colunas assim. E como eu queria que as pessoas passando entre elas e o prdio se sentissem protegidas, eu fiz as colunas sempre assim. O outro prdio, eu fiz as colunas parecidas. Um pouco mais baixas. Aqui so 3 metros, aqui um metro s. Ento elas ficaram assim. Eu me lembro a incompreenso das coisas... uma vez uma jornalista de So Paulo perguntou:

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Dr. Niemeyer, o senhor que fala sempre em arquitetura diferente, por que o senhor fez essas colunas parecidas com aquelas? Eu disse: se voc conhecesse o que unidade, voc no fazia essa pergunta. Antigamente nas cidades havia uma relao. Voc vai em Paris as alturas so as mesmas, as janelas gradeadas so as mesmas, isso o que se chama unidade. Unidade na arquitetura quando os elementos que compem um conjunto se ligam plasticamente. SEQUNCIA 53 BRASLIA - COLUNAS E CATEDRAL Lettering: -Palcio da Alvorada Braslia 1957 - Catedral Braslia 1958 OSCAR NIEMEYER ON / OFF O Alvorada. Eu procurei uma coluna diferente. Eu no queria um peitoril, que a pessoa ficasse aqui grudada no peitoril, eu queria que as colunas fossem seguindo num ritmo diferente. De modo que a pessoa tava ou em cima ou embaixo da coluna. E a coluna funcionou bem. Eu encontro essa coluna em muito lugar, encontrei na Grcia. Um dia eu saa numa praia e quando eu cheguei assim na areia, eu tava tomando banho de mar, vi um prdio com as colunas do Alvorada. Difundiu bem a arquitetura brasileira, n? Depois vieram os outros prdios. Por exemplo, a Catedral. Eu no queria uma catedral como as antigas catedrais.Eu queria uma catedral que exprimisse o concreto. E mesmo no sendo catlico eu me preocupei que quando a pessoa estivesse na nave visse o espao infinito. Quer dizer, eu procurei uma ligao que para os catlicos importante, a ligao da nave, da terra com o cu. Eu me lembro que veio um representante do Papa e se espantou: que idia boa! E depois botamos os vitrais que so muito bonitos, mas sempre deixando um espao para que a vista pudesse subir. SEQUNCIA 54 BRASLIA - MARECHAL LOTT Lettering: -Quartel General do Exrcito, Braslia 1968.

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OSCAR NIEMEYER ON A primeira vez que eu fui Braslia de avio e a gente foi com os militares, eu sentei ao lado do Marechal Lott e no caminho ele me perguntou: Niemeyer, o nosso edifcio vai ser clssico, n? Eu at disse sorrindo pra ele: o senhor numa guerra o que vai querer? Arma antiga ou moderna? SEQUNCIA 55 DEPOIMENTO ERIC HOBSBAWN Letterings: -Eric Hobsbawm historiador - Cenrio de Oscar para a pea Orfeu do Carnaval 1956 -Oscar, Vincius de Moraes, Lila Bscoli e Tom Jobim 1956 ERIC HOBSBAWN ON/OFF Acho que Niemeyer pertence a uma gerao extramamente importante no Brasil. Que at certo ponto reconstruiu tanto em sua prpria mente, quanto em benefcio pblico a idia do que o Brasil poderia ser, o novo Brasil. Esta gerao que extraodinariamente interessante, teve grandes influncias na literatura, na no-fico e na criao de uma imagem na histria do Brasil. Que tambm comea a ter influncia na msica e na arquitetura. Todas essas coisas se interligavam. Tom Jobim, por exemplo, comeou como arquiteto e desistiu para se tornar msico. De certa forma, a imagem que as pessoas fazem do que seu novo pas poderia ser, o Brasil do futuro, a imagem criada pela gerao da dcada de 30. SEQUNCIA 56 CHICO BUARQUE CHICO BUARQUE ON/OFF A gente se freqentava, os msicos, os cineastas, o pessoal de teatro. Era tudo uma patota s. Frenquentava os mesmos lugares.E a arquitetura estava nisso tambm. E voc v, o Vincius chamou o Oscar para fazer o cenrio do Orfeu.O Vinicius com o Tom estiveram em Braslia, compuseram a Sinfonia de Braslia. Tava tudo junto, a musica, a poesia e a literatura.Tudo estava acontecendo na mesma poca.

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SEQUNCIA 57 BRASLIA - CINE JORNAL JEAN MANZON - LUCIO COSTA Letterings: -Lucio Costa. UDIO FILME JEAN MANZON OFF Os arquitetos Lcio Costa e Oscar Niemeyer. Ao primeiro coube projetar e orientar as obras de urbanismo. Ao segundo, as obras de arquitetura. Os dois tcnicos e artistas, justamente admirados em todo o mundo, compem com linhas, volumes e espaos a sinfonia de Braslia. LUCIO COSTA ON Braslia nasceu do gesto primrio de quem assinala um lugar e dele toma posse. Ou seja, o prprio sinal da cruz. SEQUNCIA 58 BRASLIA - PLANO PILOTO OSCAR NIEMEYER OFF A cidade de Braslia baseada na carta de Atenas. O mesmo sistema de reas isoladas: trabalho, habitao ... que apresenta vantagens e desvantagens. Mas o Lcio fez a coisa com tanto sentimento assim... Ele conseguiu uma coisa muito difcil: manter na parte habitacional uma arquitetura mais simples, mais acolhedora, mas criou a parte monumental como uma capital exige, com aquele eixo. SEQUNCIA 59 BYE BYE BRASIL Lettering: -Bye, Bye Brasil de Cac Diegues 1979. UDIO ORIGINAL DO FILME Um milho de habitantes. Mais de um milho de habitantes. Cabe mais algum? No cabe. E, no entanto, continua a chegar gente como vocs, do Brasil inteiro. E justo. O futuro est aqui, no Planalto Central.

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Agora ns da assistncia social, ns cuidamos, ns orientamos vocs. Ns abrigamos toda a famlia. Bem, no d pra ser aqui no centro da cidade...

SEQUNCIA 60 BRASLIA DEVIA PARAR DE CRESCER Lettering: -Catetinho 1956 OSCAR NIEMEYER ON Braslia devia parar. Braslia chegou a um ponto assim de densidade demogrfica que no devia se acrescentar mais nada. Em Braslia no devia fazer mais nenhum bloco de apartamentos. E a presso imobiliria, eles querem aumentar gabarito e vai ser o caos.Se fizerem esses prdios maiores, se criarem novos pontos de habitao, ela vai entrar nessa degradao de Rio e So Paulo. As ruas entupidas de gente, o povo aflito sem poder se movimentar, o desemprego. As cidades no deviam crescer espontaneamente, sem controle.Elas deviam parar e se multiplicar. Isso que o ponto de vista certo do urbanismo.E Braslia est nesse ponto. Ela devia parar. Ela devia ter um cinturo verde em volta. E depois, outras cidades que j esto crescendo, iam se formando em volta dela, todas com essa idia de que a coisa no deve crescer indefinidamente, que o mal da grande cidade. SEQUNCIA 61 CERIMNIA NO ITAMARATY - GOLPE CINEJORNAL OFF Ao Palcio dos Arcos em Braslia, obra monumental de Niemeyer, chegam convidados para uma festa brilhante. Em mesas ornamentadas por Burle Marx, mais de mil convidados cercam dona Yolanda Costa e Silva, presidente da LBA, que patrocina o desfile de moda do costureiro francs Pierre Cardin. Cardin obteve o xito esperado e afirmou imprensa que no deseja ser costureiro apenas das elites, mas criar para o povo e at para os homens. E Braslia, nesta noite encantadora, transforma-se tambm em capital da moda.

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SEQUNCIA 62 EXLIO OSCAR NIEMEYER ON/OFF Chegou num tempo em que eu tinha que optar. Tinha vindo a revoluo, eles comearam a me sacanear. Eles queriam que eu pedisse demisso. Eu sabia que eu no podia mais trabalhar, eles no tiveram coragem de me demitir. E eu resolvi ir embora. E foi um favor que eles me fizeram. Eles queriam me calar, mas com a minha sada, eles me permitiram mostrar no exterior a minha arquitetura. SEQUNCIA 63 ARGLIA - CHEGADA Letterings: -Argel Arglia -Universidade de Cincias Argel Arglia, 1968. OSCAR NIEMEYER OFF Fui trabalhar na Arglia. E fui muito feliz, porque eu senti que em todo mundo h solidariedade. O homem bom em geral. Quando eu cheguei na Arglia, o Boumedienne era o presidente e ele estava naquela euforia da vitria, da revoluo, no ? Ento, ele me disse: olha, voc vai ser o meu consultor de arquitetura. E trabalhei l, fiz um estudo pra Argel, fiz a Universidade de Constantine. SEQUNCIA 64 ARGLIA - COSTANTINE Letterings: -Constantine, Arglia - Universidade Constantine Arglia 1969 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Constantine, por exemplo, era uma universidade. Tinha vinte e trs prdios e eu propus sete. Tinha o terreno, eu fiz o prdio de classes, eu fiz o prdio de cincia, eu fiz a biblioteca, eu fiz o auditrio, eu fiz o restaurante e eu fiz o prdio da administrao que era um prdio alto, no ? Ento eu transformei uma universidade de vinte e dois edifcios em seis. E funciona muito bem. Os espaos ficaram mais generosos. Eu procurei fazer a coisa bem radical. 33

Esse prdio, por exemplo, um prdio comprido, ele tem trezentos metros e as colunas so afastadas de cinqenta em cinqenta metros. Ento essa parede aqui tem que ser mais forte pra agentar esses vos, no ? Eu me lembro que o escritrio francs quando examinou o projeto disse: t timo, mas essa parede que t em cima das colunas vai ter 1 metro e 50 e o engenheiro nosso fez com 30 centmetros. SEQUNCIA 65 ARGLIA - BRUNO CONTARINI Lettering: -Bruno Contarini, engenheiro BRUNO CONTARINI ON/OFF Os franceses tinham falado que era inexequvel a obra, a palavra correta foi essa: inexequvel. A eu peguei o projeto, fiz um estudo e apresentamos uma soluo para aquele inexequvel entre aspas. E os franceses em reunio disseram: "Isso a ns fazemos." A os argelinos: "Como que vocs fazem? Vocs falam que inexequvel, de repente chega um brasileiro aqui, apresenta uma soluo e vocs falam que fazem?"Moral da histria: o argelino falou: "Quem vai fazer o brasileiro." OSCAR NIEMEYER OFF De modo que ns corremos a Europa mostrando que o Brasil sabe, que ns no somos ndios, que a Amrica Latina tem que se impor, que ns sabemos das coisas. SEQUNCIA 66 ARGLIA - MESQUITA Lettering: -Mesquita de Argel projeto no realizado 1969 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Com o tempo, trabalhando, a gente vai criando uma srie de principiozinhos prprios, que a gente obedece. E a gente pensa sempre diferente dos outros. De modo que o trabalho pessoal. O sujeito senta e chega a uma soluo. s vezes, nem precisa pensar muito.

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Eu me lembro que eu tinha que fazer a mesquita l na Arglia e eu tava na cama j pra dormir pensando na mesquita. Comecei a imaginar, a mesquita podia ser uma forma circular e fui pensando. Levantei e desenhei. E foi isso, foi feita assim quase dormindo, no ? SEQUNCIA 67 PARTIDO COMUNISTA FRANCS Letterings: -Paris Frana -Sede do Partido Comunista Paris Frana 1965 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Depois ns fomos pra Paris. Prdio do partido, por exemplo. Eu fiz um prdio em curva. Mas eu queria estar pronto a responder qualquer pergunta. Ento aqui pra no parecer o espao vazio, aqui so os acessos. Tinha o auditrio, uma grande cpula. Eu no queria que a cpula ocupasse mais o terreno. Ento, o prdio assim, o terreno t aqui, e eu fiz a cpula embaixo, aparecendo s uma parte dela. Ento eu explicava pra eles uma coisa que eles estavam esquecendo um pouco: que importante essa relao de volumes - espaos livres na arquitetura, que fundamental.

SEQUNCIA 68 LE HAVRE Lettering: -Espao Oscar Niemeyer Le Havre Frana 1972 OSCAR NIEMEYER ON O Havre engraado que uma praa muito grande. Uma praa de quatrocentos por quatrocentos e eu cheguei e disse: olha eu quero rebaixar a praa. Eles disseram: rebaixar a praa? Complicado n? Mas eu expliquei: eu quero que a pessoa de cima veja a praa, eu quero proteger a praa dos ventos. E eles compreenderam e o servio foi feito. Ento na praa eu criei uma srie de edifcios: um teatro, um edifcio cultural.

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E como so prdios que podem ser fechados, quase cegos, ficou uma arquitetura diferente, assim mais escultural. E eu queria era no criar uma competio com a arquitetura da cidade que simples, mas importante. SEQUNCIA 69 MONDADORI - HUMANIT Letterings: -Editora Mondadori Milo Itlia 1968 - Jornal LHumanit Paris Frana 1987 OSCAR NIEMEYER ON Depois eu fui pra Itlia, trabalhei com George Mondadori, outra figura Ele queria fazer um prdio bonito, diferente. Ele fez um palcio, no ? um palcio e os arcos so diferentes. Na arquitetura, quando a gente faz um arco, no s o arco que importante. o espao interno do arco.De modo que, feito o Rilke que dizia: quando voc v um arvoredo, o importante no so apenas as rvores, mas o espao entre as rvores." Ento eu fiz aqueles arcos com espaos diferentes. Com um vo de 15, o outro de 9, o outro de 6mts e a por diante. Era uma coisa assim, um pouco musical, no ? Eu me lembro que um engenheiro italiano me disse: no se pode fazer tudo com 8 metros? eu disse: no. Esse negcio da razo inimiga da imaginao, isso fantstico. A gente no quer uma arquitetura certinha, que funciona bem. Funcionar bem toda arquitetura tem que funcionar. Quando eu fiz a sede de Mondadori, um palcio... Ele quis fazer um prdio no centro de Milo, ele veio me procurar. Se a sede no funcionasse bem ele no vinha. Quando eu fiz a sede do partido, passaram-se dez anos, resolveram fazer o jornal Humanit, eles vieram me pedir. Voc acha que se funcionasse mal eles me queriam? Ningum cretino n?

SEQUNCIA 70 POEMA DO EXLIO

OSCAR NIEMEYER ON

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Um dia eu tava no exterior, chateado longe de tudo. Pensava no Brasil, nos amigos, na famlia. Tava to revoltado que eu fiz um verso preguei na parede, assim: Estou longe de tudo De tudo que eu gosto Dessa terra to linda Que me viu nascer. Um dia eu me queimo Meto o p na estrada a no Brasil que eu quero viver. Cada um no seu canto Cada um no seu teto A brincar com os amigos Vendo o tempo correr. Quero olhar as estrelas Quero sentir a vida a no Brasil que eu quero viver. Estou puto da vida Essa gripe no passa De ouvir tanta besteira No me posso conter. Um dia eu me queimo Largo e isso tudo a no Brasil que eu quero viver. Isso aqui no me serve No me serve de nada A deciso t tomada Ningum vai me deter. Que se foda o trabalho Esse mundo de merda a no Brasil 37

Que eu quero viver.

SEQUNCIA 71 LAPA CASA DA FUNDAO OSCAR NIEMEYER ON/OFF Tinha uma casa na rua Conde de Lage que tinha uma poro de quartos. Durante muito tempo, a casa foi o meu escritrio. Mas com o tempo a coisa mudou, aquilo virou uma zona de mulher, no ? E a casa virou um puteiro, como tinha que ser. Eu me lembro que quando eu era garoto eu andava por ali tambm. Achava bom aquele mulherio desenvolto, andando pelas ruas, quase nuas. O bar da esquina, o sujeito tocando o violo... a gente ficava ali tomando um chope. Meu escritrio foi sempre assim, um escritrio de muita boemia, mas que no prejudicava o trabalho. A gente era jovem. s vezes at a gente fechava o escritrio e fazia feito uma Semana de Arte Moderna l. Brincava um pouco. SEQUNCIA 72 RIO ANTIGO - BARRA Lettering: Barra da Tijuca Rio de Janeiro OSCAR NIEMEYER ON/OFF O Rio foi muito sacrificado. A natureza que rebelde, aceita tudo no ? Porque se tivessem feito a Barra em vez de aumentar o centro da cidade, deixar o Rio antigo... O Rio antigo, no passadismo no, o Rio antigo era melhor, a gente ia pra l, passeava, Rua do Ouvidor, Gonalves Dias. Tinha o bonde, voc ia sentado no bonde lendo jornal. Tinha a Lapa, voc ia l brincar um pouco. Era diferente, mas era mais humano... E o centro era agradvel. Eu tenho vergonha de ir Barra. A sacanagem que o poder imobilirio influenciou. Ento os prdios so cheios de varanda que ningum vai na varanda quase porque venta muito.

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Mas pra vender tinha que ter varanda. Ento os prdios so horrveis, quadrades enormes, uns contra os outros. Miami. Subrbio de Miami. Puseram at uma Esttua da Liberdade. Quer dizer, a gente chega na Barra e ainda v essa ligao, essa presso dos americanos contra a gente. Esse Bush um bom filho da puta. Disse que podia trocar metade da dvida brasileira pela Amaznia. E a gente escuta isso e ningum protesta. SEQUNCIA 73 PROTESTOS - SEM -TERRA Letterings: - manisfestao dos sem-terra em braslia 1997. OSCAR NIEMEYER OFF O que hoje nos entusiasma no Brasil o movimento dos sem-terra e dos sem-teto, lutando, correndo pelas estradas defendendo uma terra que h muito tempo lhes devia pertencer. SEQUNCIA 74 MONUMENTOS DE PROTESTO Letterings - Monumento aos Operrios, Volta Redonda, 1989 OSCAR NIEMEYER ON/OFF Voc sabe eu fiz alguns monumentos, todos de protesto n? Primeiro foi pro Tortura nunca mais. Eu fiz um monumento, com a figura humana presa aqui. Depois eu fiz o monumento para os trs operrios assassinados pelos militares em Volta Redonda. Fizemos o monumento, no dia da inaugurao eles foram l e explodiram. Voltei l, refizemos o monumento, deixamos as cicatrizes, os operrios ficaram l trs dias tomando conta e ele t l. SEQUNCIA 75 VISTO NOS EUA OSCAR NIEMEYER ON

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Fui convidado pra fazer um trabalho grande nos Estados Unidos. Ento eu fui no consulado e a mulher me disse: olha, tem visto no. -Por qu? pessoal? - pessoal. Eu virei e disse: olha sabe que eu t contente. Porque se depois de vinte anos voc me nega o visto, sinal de que eu no mudei. SEQUNCIA 76 JOS SARAMAGO Lettering: - Jos Saramago escritor. JOS SARAMAGO ON/OFF Trata-se de ser fiel a princpios, e no a tticas, estratgias de poltica, conquista de poder, no tem nada que ver com isso. Trata-se de princpios e no podemos renunciar a eles. Oscar Niemeyer no renunciou e eu no o felicto.No felicto o Oscar por no ter renunciado. No lhe agradeo porque simplesmente uma expresso de sua prpria humanidade. Eu creio que uma pessoa que est em paz consigo mesmo. E estar em paz consigo mesmo no fcil. Porque vivemos num mundo de contradies, de tenses. No fundo vivemos num temporal. E manter o rumo no meio deste temporal, com ventos que sopram de todos os lados, isso o Oscar conseguiu. SEQUNCIA 77 O OTIMISMO RIDCULO OSCAR NIEMEYER ON/OFF Eu acho o otimismo uma coisa ridcula, uma coisa que no leva a nada. Ns no queremos o nilismo as queremos uma vida realista, dentro do que existe. duro, mas o que existe. Basta lembrar o Sartre, que era o mais pessimista. Dizia que toda a existncia um fracasso. Mas lutou a favor de Cuba, se interessava, era um grande escritor, gostava da vida. Nos dizia, l em Paris, que ele tinha dinheiro no bolso s pra dar de esmola. Ento, isso, a vida.

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SEQUNCIA 78 SARTRE NO BRASIL Letterings: Sartre em So Paulo 1960. SARTRE ON -Cr segundo crculos em todo o mundo, que Fidel Castro teria desvirtuado a finalidade da revoluo cubana? -O Jean Paul Sartre far uma conferncia coletiva hoje para os telespectadores...ele est muito fatigado. sartre fala em francs -Jean Paul Sartre acha que a revoluo cubana segue naturalmente o rumo que deveria seguir e somente esse rumo que deve ser dado. E tudo que Fidel Castro est fazendo exatamente correto. -Salve a Revoluo Cubana! -Palavras de Jean Paul Sartre, ao chegar a So Paulo, no aeroporto de Congonhas, sendo saudado por membros da intelectualidade bandeirante e ainda por membros da nova gerao. SEQUNCIA 79 CRIOULINHO OSCAR NIEMEYER ON Uma vez, uma das vezes que eu fui depor, eles me perguntaram: Dr. Niemeyer ... me puseram numa sala escura, uma sala fechada, um material absorvente, eu fiquei respondendo as perguntas, um criolinho batendo mquina, e num certo momento ele me perguntou: Mas, Dr. Niemeyer, afinal, o que que vocs querem? Eu penso em mudar a sociedade. Ento, ele disse: escreve a, mudar a sociedade. E o criolinho, que devia querer ter uma vida melhor virouse pra mim e disse: vai ser difcil, hein! SEQUNCIA 80 SAMBDROMO - CIEPS Letterings: -Passarela do Samba Rio de Janeiro 1983 - Centro Integrado de Educao Pblica Rio de Janeiro 1984

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OSCAR NIEMEYER ON/OFF O espetculo do sambdromo bonito, formidvel. E as mulheres so bonitas, danam, rebolam... timo. Voc sabe que aquela obra tinha coisas boas. Por exemplo, o Darcy fez embaixo das arquibancadas, ele fez as escolas.Quando teve aqui o Jack Lang, Ministro da Cultura da Frana, e ele viu as escolas debaixo das arquibancada, ele disse: escola embaixo da arquibancada? Nunca vi isso, que idia. Ele ficou entusiasmado. E isso foi criticado. A eu tive que trabalhar com a pr-fabricao, os acabamentos so muito simples, tambm de muita corrida no ? Um projeto que leva o ensino pelo estado inteiro, precisa ser muito calhorda pra criticar.

SEQUNCIA 81 REUNIO DE SOCIEDADE ESCULTURAS DO LEME Lettering: -Esculturas na praia do Leme Rio de Janeiro 2000 OSCAR NIEMEYER ON Eu no vou a lugar nenhum, mas fui numa reunio a de sociedade. E sentei l, daqui a pouco a sala se encheu de gente. Ento aquele pessoal todo elegante, mulheres bonitas, cheias de jias, todo mundo fazendo uma onda danada na sala, falar alto, cada um querendo se mostrar mais que o outro... Achei uma merda e fui embora. Deixei um bilhete pro meu amigo. Tem que haver momentos de prazer, de alegria. Mas essa burguesia brasileira muito ignorante. Essa tendncia de ver a vida s pelo lado alegre, mesmo no carnaval. Eles esto cagando pro pessoal da favela, mas quando eles vm pra rua, vm para dar alegria burguesia. SEQUNCIA 82 MRIO SOARES Lettering: - Mrio Soares ex-presidente de Portugal

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MRIO SOARES ON/OFF Sempre que vou ao Brasil e passo pelo Rio de Janeiro, certo que vou jantar com o Aparecido de Oliveira e com o Oscar Niemeyer num restaurante ali perto de Copacabana. Numa das ltimas vezes que eu fui h alguns anos, eu fui ao outro lado do Rio, em Niteri. E o prefeito de Niteri disse-me uma coisa extraordinria: Foi o Oscar Niemeyer que escolheu o stio onde ia plantar esse museu e disse: "Eu quero que o museu fique aqui." O prefeito ficou hesitante: "mas acha bem que este stio?" "No, aqui, no se discute mais, aqui." Foram todos para uma churrascaria e no prprio papel que estava em cima da mesa, ele tirou a caneta e fez ali um desenho rpido que o museu que est l. Que essa obra-prima que todo mundo conhece como MAC. Ele fez aquilo assim: quatro traos

SEQUNCIA 83 MAC Lettering: - Museu de Arte Contempornea, Niteri, 1991 OSCAR NIEMEYER ON/OFF A eu fiz o museu de Niteri. Era um lugar bonito, o prefeito queria uma coisa espetacular. Era um morro, no ? Assim avanando, um terreno assim. Ento, por incrvel que parea, um projeto simples, porque o prdio seria aqui, o mar tava aqui, ele ia avanar ngua, ele devia ser uma coisa mais leve, pra no perturbar a natureza n? Ento eu fiz o museu assim. E o Po-de-Acar, a natureza toda por baixo do museu. Agora, um museu bem pensado, ele circular. Mas eu deixei uma varanda em volta dele. Em volta um espetculo magnfico no ? De modo que daqui o sujeito t vendo a vista e o museu aqui. E o museu teve sucesso porque nesse museu eu queria evitar que o sujeito visse o quadro preso no painel. O sujeito aqui e vendo o quadro 43

aqui.Eu queria voltar ao museu antigo, que o quadro na parede, d mais importncia pintura no ? De modo que no tem painis soltos no museu. a prpria parede que se desenvolve de modo que a pintura e a escultura possam ser utilizadas numa maneira inteligente. Depois eu fiz uma rampa, uma rampa que feito um passeio na arquitetura. A rampa vem assim, vem assim e volta. SEQUNCIA 84 INFLUNCIAS Letterings: -Centro Cultural Banco do Brasil Braslia 1986 - Edifcio COPAN So Paulo 1951 FERREIRA GULLAR ON O Oscar que um homem militante, engajado a sua vida inteira na luta pela igualdade social, pela transformao da sociedade, no entanto ele como arquiteto, quando ele faz a sua arquitetura, o que ele quer dar as pessoas beleza, a alegria da forma bela, isso que ele quer dar as pessoas. Porque ele sabe da importncia que a beleza e a maravilha. Ele no diz: "Eu quero que as pessoas se espantem"

ITALO CAMPOFIORITO ON/OFF Todo mundo v a esttua da liberdade e diz: "Nova Iorque", mas ela no bonita por isso. A Torre Eiffel bonita, mas voc diz Paris, so formas emblemticas. O Cristo Redentor o Rio, mas no uma obraprima de escultura, mas o Oscar consegue fazer uma obra-prima que tem, que adquire, que adere ela essa fora emblemtica que tem certas formas. De modo que voc identifica a cidade, o pas, a alma, o momento, a histria com a forma dele. E eu digo o seguinte: quando a novela da Globo, no tempo que eu via novela, quando um captulo que passa no Rio, o Cristo, quando pra mostrar que agora o captulo em So Paulo, o helicptero sobrevoa o COPAN. o Oscar que tem essa capacidade filha da puta de criar uma forma, e aquela forma se transforma em emblema do lugar.

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SEQUNCIA 85 GENTICA Lettering: -Residncia Leonel Miranda Rio de Janeiro 1952 OSCAR NIEMEYER ON Todos temos dentro de ns um ser oculto, que nos leva pra um lado ou pra outro. O meu esse: ele gosta das coisas, ele gosta de mulher, gosta de se divertir, gosta de chorar, se preocupa com a vida. um sujeito complicado, no ? E ns no somos responsveis em parte pelas nossas qualidades e defeitos. O sujeito nasce branco, preto, amarelao, azul, rico, pobre, inteligente. Ento a gente tem que aceitar as pessoas como elas so. De modo que quando eu vejo uma pessoa, eu sempre digo: feito uma casa, uma casa que a gente pode pintar, consertar o telhado, as paredes, mas se o projeto for ruim, fica sempre a deficincia. SEQUNCIA 86 MEDO DE FICAR SOZINHO - CAMINHO NIEMEYER Lettering: -Caminho Niemeyer Niteri 2000 em construo OSCAR NIEMEYER OFF Eu fico muito aflito de ficar sozinho. Eu quero estar ocupado, eu escrevo, eu desenho...eu vou fazendo qualquer coisa. Eu no sei ficar parado. E sou curioso, quero saber das coisas, importante. Tudo se entrelaa hoje. SEQUNCIA 87 VELHO PESSIMISTA - MUSEU DE CURITIBA Lettering: - Museu Oscar Niemeyer Curitiba 2002. OSCAR NIEMEYER ON/OFF Eu sou pessoalmente pessimista. Eu t na linha dos velhos pessimistas. Eu acho que a vida um minuto. O ser humano completamente desprezado, nasce e morre. Ento o sujeito tem que olhar pro cu e sentir que pequenino, que tem ser modesto, que nada importante. A vida um sopro, um minuto. Ento no h razo pra esse dio todo.

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Eu acho que tudo vai desaparecer. O tempo csmico muito curto. Me perguntaram outro dia: o senhor no tem prazer em saber que mais tarde o sujeito vai passar e ver o trabalho que voc fez? Ah, mais tarde o sujeito vai desaparecer tambm. a evoluo da natureza. Tudo nasce e acaba. O tempo que isso vai perdurar relativo. Eu sou otimista que o mundo pode melhorar, mas o ser humano no. Acho que a gente tem que se adaptar ao mundo em que a gente vive. rir e chorar o tempo todo. SEQUNCIA 88 BOM MESMO MULHER OSCAR NIEMEYER ON/OFF O resto lutar para o mundo ser melhor, a preocupao de uma igualdade, a vida se fazer mais decente para todos. Esse que deve ser o pensamento de uma pessoa normal. Agora, diante da vida, voc olha pro cu e fica espantado. um universo fantstico que nos humilha e a gente no pode usufruir nada. A gente fica espantado com a fora da inteligncia do ser humano, que nasceu feito um animal qualquer, e hoje pensa, daqui a pouco est andando pelas estrelas, conversando com os outros seres humanos que esto por essas galxias a. Mas no fim, a resposta de tudo isso isso: nasceu, morreu: fudeu-se. O diretor pergunta para Oscar: FABIANO OFF O que d prazer ao sr hoje? OSCAR NIEMEYER ON O importante mulher n? O resto brincadeira. Acabou a entrevista. No isso? No acham? ENTRA CARTELA COM FRASE No final de 2006, aos 99 anos de idade, Oscar Niemeyer casou-se pela segunda vez. FIM

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