O Prazer de Ler Freud - Cap. 1 e 2 - CIBELLY

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O Prazer de Ler Freud

J. D. Nasio
Cap. 1 Como ler Freud?
O livro apresenta-se como um manual dos
fundamentos essenciais da teoria Freudiana.
Para sua construção foi necessário voltar ao
que já foi dito, isto é, aos escritos de Freud, e
muitas vezes essa busca aos fundamentos
pode conduzir-nos a algo novo e inesperado.
A princípio, é válido ressaltar que a psicanálise...

Não progride como as demais ciências: ela não acompanha os avanços


científicos e sociais.

Ocupar-se com as coisas simples, porém complicadas e atemporais: o amor e o


ódio, os desejos e as leis, o sofrimento e o prazer, presentes nos nossos atos,
falas e sonhos.

É tecida por um fio inalterável que atravessa séculos, ordena e assegura o rigor
das teorias psicanalíticas e evidencia a genialidade freudiana: a maestria de
Freud em impor ao analista que para apreender as causas secretas que movem
um ser, é preciso, primeiro e acima de tudo, descobrir essas causas em si
mesmo: voltar a si.
"Essa genialidade freudiana é o salto que todo
analista é conclamado a realizar em si mesmo,
todas as vezes que empresta seu eu para escutar
verdadeiramente seu analisando."

— J. D. Nasio
Cap. 2 Esquema da lógica do
funcionamento psíquico
Para captar a doutrina psicanalítica de Freud é
necessário compreender o essencial do
funcionamento mental, tal como é visto pela
psicanálise e tal como se confirma na
realidade concreta de uma análise. Desse
modo, obtém-se o prazer em ler Freud por
intermédio da compreensão do nosso
funcionamento psíquico.
Para tal, é imprescindível o conhecimento a respeito do
esquema da lógica do funcionamento psíquico...
Este, é composto pela conceituação dos seguintes fundamentos: o
inconsciente, o recalcamento, a sexualidade, o complexo de Édipo, as três
instâncias psíquicas que são o eu, o isso e o supereu, o conceito de
identificação e, finalmente, a transferência no tratamento analítico.
Em primeiro plano, conceitua-se a respeito do
esquema básico...
Esse, é uma versão adaptada de um modelo conceitual já clássico, utilizado pela neurofisiologia do século XIX para explicar
a circulação do influxo nervoso, e batizado de esquema do arco reflexo: um paradigma ainda fundamental da neurologia
moderna.
"De certo, o psiquismo tenta obedecer ao mesmo
princípio, porém não tem êxito, pois na vida
psíquica a tensão nunca se esgota. Estamos,
enquanto vivemos, sob constante tensão."
— J. D. Nasio Esse princípio de redução da
tensão leva, em psicanálise, o
nome de Princípio de
desprazer-prazer...
Agora retomemos as duas extremidades do arco
reflexo, mas imaginando, desta vez, que se trata
dos dois pólos do próprio aparelho psíquico...
A fronteira do aparelho, portanto, separa um interior de um
exterior que o contém...
Pólo Esquerdo
A excitação é sempre de origem interna, e
nunca externa: uma marca, uma idéia, uma
imagem, ou, para empregar o termo
apropriado, um representante ideativo
carregado de energia, também chamado
representante das pulsões.

Esse representante, depois de carregado uma


primeira vez, tem a particularidade de
continuar permanentemente excitado e de
funcionar como uma chaleira que fervesse
eternamente, de tal maneira que o aparelho
psíquico permanece constantemente
excitado.
Essa tensão elevada vivenciada pelo sujeito roga
constantemente por uma descarga que nunca chega,
verdadeiramente, a acontecer: isso é denominado por Freud
como desprazer. Inversamente, temos um estado hipotético
de prazer absoluto, que seria obtido se o aparelho
conseguisse escoar imediatamente toda a energia e eliminar
a tensão. Esclareçamos bem o sentido de
cada uma dessas duas palavras:
— J. D. Nasio desprazer significa manutenção
ou aumento da tensão, e prazer,
supressão da tensão.
Esse prazer e desprazer
absoluto se mantém
constante por três razões:
1. A fonte psíquica da excitação é inesgotável, o
que leva a tensão ser eternamente reativa.

2. O pólo direito do nosso sistema não funciona 3. Esta terceira razão explica por que o psiquismo
como o nosso sistema nervoso que resolve a está em constante tensão e é denominada por
excitação através de uma resposta motora, muito Freud de recalcamento, pois entre o
pelo contrário, no caso do psiquismo a excitação representante-excitação (pólo esquerdo) e o
é aliviada por intermédio de uma metáfora da representante-ação (pólo direito) estende-se uma
ação, uma imagem, um pensamento ou uma fala rede de muitos outros representantes, esses são
que represente a ação, e não a ação concreta, os chamados de representantes intermediários e
que permitiria a descarga completa da energia. a energia pode fluir de diferentes modo entre
eles.
Se desenharmos o recalcamento como uma
barra que separa nosso esquema em duas
partes...
Enquanto o princípio que rege
esse grupo majoritário de
representantes chama-se
Princípio de prazer-desprazer,
aquele que governa o segundo
grupo minoritário de
representantes se chama
Princípio de realidade.

Instaura-se, portanto, um conflito entre esses dois grupos: um deles, o da esquerda, que quer de imediato
o prazer de uma descarga total — o prazer é aqui soberano —; e outro grupo, o da direita, que se opõe a
essa loucura, lembra as exigências da realidade e incita à moderação — a realidade é aqui soberana.
“representações inconscientes” ou “representações de coisa”

O primeiro grupo constitui o sistema


inconsciente, que tem por missão,
portanto, escoar a tensão o mais
depressa possível para tentar atingir a
descarga total e, implicitamente, o
prazer absoluto.
As representações de coisa são de natureza
principalmente visual e fornecem a matéria
com que se moldam os sonhos e, em
especial, as fantasias.
"representações pré-conscientes e representações
conscientes”
Esse grupo busca igualmente o
prazer, mas, diferindo do MAÇA
inconsciente, tem por missão
redistribuir a energia — energia ligada
— e escoá-la lentamente, seguindo as
indicações do Princípio de realidade.
A imagem acústica de uma palavra, por
exemplo “maçã”, associa-se à representação
visual da coisa (o fruto maçã) para lhe conferir
um nome, marcar sua qualidade específica e,
assim, torná-la consciente.
"A representação de coisa é inconsciente —
como dissemos — quando não há representação
de palavra que se associe a ela e designe a
coisa; e é consciente quando, ao contrário,
uma representação de palavra vem se ligar a ela."
— J. D. Nasio
O que é o recalcamento, isto é, o que é essa barra vertical
que separa os dois grupos?
O recalcamento é um adensamento de energia, uma chapa energética que
impede a passagem dos conteúdos inconscientes para o pré-consciente.

Ora, essa barreira não é infalível: alguns conteúdos inconscientes e recalcados


vão adiante, irrompem abruptamente na consciência, sob forma disfarçada,
surpreendem o sujeito, incapaz de identificar sua origem inconsciente.

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