Alfabetização de Adultos No Mundo Rural em Angola O Caso Do Município de Caluquembe-Cola
Alfabetização de Adultos No Mundo Rural em Angola O Caso Do Município de Caluquembe-Cola
Alfabetização de Adultos No Mundo Rural em Angola O Caso Do Município de Caluquembe-Cola
Faustino Tchitetele
Orientadora:
Julho, 2020
AGRADECIMENTOS
“Finis coronat opus” (o fim coroa a obra). Depois de tanto pestanejar para a realização do
trabalho presente, depois de muitas buscas de ideias teóricas e empíricas para a obtenção
de grau académico de Mestre, no curso de Educação e Sociedade, no tempo compreendido
em dois anos, é chegado o momento de agradecer a conjugação continuada de
personalidades que deram maior impulso neste tirocínio académico.
A Deus Uno e Trino, Autor da vida e de toda história por me ter concedido a vida, saúde e
capacidade de superação de várias dificuldades, a minha sempiterna gratidão.
Aos meus pais: Paulo Adolfo Mona (de feliz memória) e Clementina Tchiwaya, pelo amor
e carinho no incentivo da minha formação, o meu profundo reconhecimento.
À minha Orientadora Doutora Patrícia Ávila, Diretora do Doutoramento em Sociologia, que
sabiamente orientou este trabalho e incentivou-me bastante a enveredar por caminho certo e
seguro, a minha eterna gratidão.
À Coordenadora do curso, Doutora Teresa Seabra, o meu muito obrigado pelo vosso
acompanhamento incansável.
À universidade do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa, seu corpo docente, direção e
seu elenco administrativo, o meu muito obrigado por tudo.
Ao Cardeal-Patriarca Dom Manuel Clemente (Patriarcado de Lisboa), ao Conselho dos
Missionários de Nossa Senhora de La Salette em Angola, ao meu irmão Padre Avelino
Sangameya, ms, aos meus confrades da minha comunidade de Peniche e aos de Nogueira
do Cravo (Portugal), e a todos confrades da Província de Angola e de toda Congregação
Saletina no mundo, a minha elevada gratidão e que Deus vos abençoe copiosamente.
Ao Senhor José Arão Natanael Chissonde, digno Administrador de Caluquembe (Huíla),
muitíssimo obrigado por tão elevado nível de amizade e ajuda.
Ao Senhor Engenheiro Carlos João e sua esposa Maria João, o meu muito obrigado pelo
vosso apoio e incentivo, que Deus derrame sobre vós a sua bênção e não vos canseis de
fazer o bem!
À minha madrinha Severina Abias, pronta nos momentos certos que precisei de apoio, a
minha perpétua gratidão.
O meu muito obrigado estende-se a todos que direta ou indiretamente fizeram parte neste
processo da minha formação.
ii
RESUMO
iii
ABSTRACT
Angola has extremely high rates of adult illiteracy, especially in rural areas. This work aimed
to investigate how adults living in rural areas of Angola (specifically in the region of
Caluquembe-Huíla) perceive the importance of literacy and how they relate to it in their daily
lives.
The methodology followed a qualitative approach (Case Study) and semidirective
interviews were conducted with illiterate adults and with adults who did not attend literacy
programmes.
According to the research, illiteracy mainly affects the female gender, thus causing drastic
consequences for the well-being of families and creating a barrier for the sustainable
development of the angolan society and beyond. The lack of literacy among women, especially
adults, has serious implications in their daily lives, making it difficult to interpret written texts
and also to educate children.
The implementation of the Adult Literacy project in Angola, which was promoted by the
Government, partnered up with churches and other social organisations. In this context, the
Cola Mission in Caluquembe implemented the adult literacy project in 2007, in an area marked
by war and extreme poverty, in which the population is mainly dedicated to agriculture. This
project allowed many adults to take a big step in literacy and learning to read and write.
However, many others remain outside, so it is necessary to find ways to overcome the main
barriers that keep them from lifelong learning processes. Among these barriers, motivational
ones should be highlighted (studying is left for children and young people), in addition to others,
such as those which refer to the lack of equipment and teachers, as well as difficulties in
reconciling the frequency of actions with day-to-day tasks, especially in the case of women.
Keywords: adult literacy, Angola, literacy, illiteracy, lifelong learning, rural environment.
iv
ÍNDICE
Agradecimentos ...................................................................................................................ii
Resumo .................................................................................................................................ii
ABSTRACT ..........................................................................................................................iv
ÍNDICE………………………………………………………………………………………………………………………………………………v
FIGURA ...............................................................................................................................vi
GLOSSÁRIO DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................. viiii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................1
v
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DO ESTUDO
3.1. Objeto de estudo, objetivos da pesquisa e modelo de análise ................................22
3.2. Metodologia .................................................................................................................23
3.3. Careterização dos entrevistados…………………………………………………………..27
CONCLUSÃO ......................................................................................................................37
ANEXOS ..............................................................................................................................43
ANEXO I - FOTO TIRADA NO COLA/ COMUNA DO CALEPI COM O PESSOAL DA
NOSSA PESQUISA .............................................................................................................43
ANEXO II – GUIÃO DE ENTREVISTAS ..............................................................................43
ANEXOS III- DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS: DA TEORIA À INVESTIGAÇÃO
EMPÍRICA............................................................................................................................47
ANEXOS IV- GRELHAS………………………………………………………………………53
vi
FIGURA E QUADROS
vii
GLOSSÁRIO DE SIGLAS E ABREVIATURAS
- nº - Número
- orgs. – Organizadores
- P/a- para
viii
INTRODUÇÃO
1
teorias, fundamentadas em estudos aprofundados sobre a mesma temática. Assim,
elencamos alguns que achamos mais pertinentes referenciar, como é o caso de Ribeiro
(1997), que sustenta a teoria, segundo a qual o analfabetismo designa a condição daqueles
que não têm a capacidade de ler nem de escrever. Na Idade Média, Fernández (2006),
sustenta que a situação do analfabetismo que se vivia nessa época, não constituía
preocupação na sociedade.
A conferência Internacional sobre a Educação de Adultos (CONFINTEA), sublinha a
importância da alfabetização ao longo da vida, como garante do desenvolvimento sustentável.
Segundo Pepra (2012 apud Freitas 2014), a alfabetização constitui um processo de inclusão
social, massivo e prioritário. “O conceito de literacia pretende dar conta das capacidades de
cada indivíduo, quanto à utilização e interpretação de informação escrita. Remete, portanto,
para as práticas diárias, para o uso quotidiano, para as competências, e não só para os níveis
de qualificação escolares” (Ávila 2008:1). O mundo moderno depara-se com muitos desafios,
assim sendo, urge a necessidade da Literacia para dar respostas a estas situações que se
impõem todos os dias, desenvolvendo a capacidade cognitiva, garantindo competências
pessoais.
Também se salienta a questão de despertar a consciência do homem rural para perceber
o quão é importante estancar o analfabetismo, por constituir um impedimento no
desenvolvimento sustentável. A alfabetização de adultos, ao longo da vida, desempenha um
papel muito importante para o bem-estar das populações. Segundo a UNESCO (2010), a
aprendizagem e a educação de adultos representam mudança de paradigma para a vida das
pessoas.
Parte-se do pressuposto de que a população adulta das aldeias da escola missionária de
Caluquembe – Cola, não se sente incomodada pelo facto de não saber ler nem escrever.
Pensam que o estudo é só para jovens e crianças. É uma preocupação muita séria porque
vivem na sua maioria, numa consciência redondamente errónea e isto retarda o
desenvolvimento social e económico. O meu objetivo é incentivar os mais velhos das
comunidades, entidades religiosas e organizações não governamentais, no sentido de ser
feita uma campanha de sensibilização para valorização da alfabetização. Nesta investigação
far-se-á algumas consultas de obras de alguns autores que irão certamente ajudar esta
reflexão, fazendo assim uma ligação do conhecimento empírico com o teórico. O trabalho
apresenta quatro capítulos.
2
CAPÍTULO I
3
A História dos povos tem demonstrado que a capacidade para a comunicação verbal é
inata. Daqui, esperar-se-ia que se manifestasse amplamente para todos os seres humanos.
Contudo, verifica-se que as formas de linguagem parecem terem sido inventadas,
independentemente, por todo o mundo, nas múltiplas sociedades humanas. Daí que o número
de linguagens poderá ter sido proporcional ao número de tribos que existiam, num
determinado tempo histórico da humanidade. Para justificar o que foi dito, tomou-se em
consideração o facto de antes da colonização britânica na Austrália, existirem centenas de
tribos de povos aborígenes, que se movimentavam no continente Australiano, fazendo uma
vida nómada, vivendo como que uma vida pré- Neolítica, em que “cada tribo possuía a sua
própria maneira de comunicar, ou seja, tinha a sua própria linguagem” (Mlodinow 2016: 62).
Da História e Literatura da Humanidade, não existem referências relativas à existência de
tribos mudas. Logo, a linguagem falada é própria do ser humano e uma característica que
define a espécie humana já “a linguagem escrita é um traço definido da civilização humana,
e uma das suas mais importantes ferramentas” (Mlodinow 2016: 62). A oralidade possibilita a
comunicação com a vizinhança, enquanto a escrita permite a comunicação com pessoas e
comunidades distantes, tanto no espaço como no tempo. Foi graças à escrita que se
conseguiu acumular muito conhecimento cultural e científico, ao longo dos tempos, que
permitiu o grande desenvolvimento económico, social e tecnológico dos tempos
contemporâneos. A linguagem falada surgiu naturalmente. Não necessitou de ser inventada.
Já a escrita foi uma invenção do ser humano, talvez uma das maiores invenções e das mais
difíceis. “A escrita foi inventada pelos sumérios, na Mesopotâmia há cerca 5400 anos. O seu
aparecimento representou, antes de tudo, uma alteração profunda ao nível das formas de
comunicação” (Ávila 2008:43). Aqui chegados, em que a linguagem escrita atingiu, através da
literatura e, especialmente da poesia, um nível de subtileza merecedor da maior reverência,
por existirem termos adequados aos pensamentos mais nobres, aos hinos à natureza, à
elevação do amor e da vida. Enquanto os povos mais literatos podem usufruir do grande poder
comunicativo da linguagem escrita, a um nível elevadíssimo e sofisticado, existem muitos
milhões de cidadãos no mundo, principalmente nas zonas rurais de muitos países, que nem
sequer conseguem juntar duas vogais do alfabeto, por nunca lhes terem dado a oportunidade
de aprenderem. Pelo que foi dito, não existem dúvidas que a Humanidade deveria ter como
ponto de honra a ajuda à alfabetização de todos os cidadãos. Segundo Fernández (2006), a
situação do analfabetismo que se vivia na Idade Média, não constituía preocupação na
sociedade. Os ricos e pobres, reis e clérigos, nobres e vassalos, não sabiam ler nem escrever.
Assim a Idade Média, foi marcada por muito tempo como sociedade iletrada. O caminho da
Alfabetização à Literacia foi muito longo e continua a ser uma tarefa importantíssima para
sociedade por causa do seu aspeto promocional e do desenvolvimento. Desta feita, urge a
necessidade de alfabetizar o adulto já que:
4
A educação de adultos é crescentemente vista como uma ferramenta importante para
reparar a desigualdade social e económica, para reduzir a pobreza, para preparar a sociedade
mundial para novos paradigmas de produção e consumo sustentável, para preparar mão-de-
obra qualificada para as economias competitivas, para criar base para uma cultura de paz e de
boa convivência, para estabelecer relações mais harmoniosas entre os ambientes humano e
natural, para desenvolver o potencial de todas as pessoas (Ireland 2014:54).
A alfabetização constitui um campo muito vasto de ação. Assim, estudar-se-ão alguns
conceitos teóricos relacionados com alfabetização, para que se torne mais compreensível
este trabalho. Desta forma, temos o caso da educação de adultos que é uma área da
pedagogia muito abrangente, nas diferentes metodologias que podem ser aplicadas, não se
confinando, pura e simplesmente, a um único método.
Educação de adultos denota o conjunto de processos educacionais organizados, seja, qual for
o conteúdo, nível e método, quer seja formais ou não, quer prolonguem ou substituam a educação
inicial nas escolas, faculdades e universidades, bem como estágios profissionais, por meio dos
quais pessoas consideradas adultas pela sociedade aqui pertencem desenvolvem suas
habilidades, enriquecem seus conhecimentos melhoram suas qualificações técnicas ou
profissionais ou tomam uma nova direção e provocam mudanças em suas atitudes e
comportamento na dupla perspetiva de desenvolvimento pessoal e participação plena na vida
social económica e cultural, equilibrada e independente (UNESCO 1976 apud UNESCO 2010:13).
Ainda na mesma senda de conceitos relacionados apontamos também aprendizagem de
adultos que acarreta consigo um conjunto de educação formal, não formal e informal.
“Aprendizagem de adultos engloba a educação formal e continuada, a aprendizagem não
formal e a gama de processos de aprendizagem informais e incidentais disponíveis numa
sociedade de aprendizagem multicultural, onde as abordagens baseadas na teoria e na
prática são reconhecidas”. (UIE 1997 apud UNESCO 2010:13).
Segundo a UNESCO (2010), a educação não formal não é fornecida por uma instituição de
educação e, por isso, normalmente, não garante certificação. “A educação não formal pode
5
ocorrer no local de trabalho e através de atividades de organizações ou grupos da sociedade
civil” (Aníbal 2010:184). Entretanto, é estruturada do ponto de vista dos objetivos que
permitem aprendizagem. Segundo Morand-Aymon (2007), este afirma que a educação não
formal é vista como organização de uma atividade social e que tem sempre uma intenção
educativa que facilita a aprendizagem.
Aprendizagem não formal: decorre em paralelo aos sistemas de ensino e formação e não
conduz, necessariamente, a certificados formais. A aprendizagem não formal pode ocorrer no local
de trabalho e através de atividades de organizações ou grupos da sociedade civil (organizações
de juventude, sindicatos e partidos políticos). Pode ainda ser ministrada através de organizações
ou serviços criados em complemento aos sistemas convencionais (aulas de arte, música e
desporto ou ensino privado de preparação para exames) (Morand-Aymon 2007:11).
Por sua vez a aprendizagem informal acontece no dia-a-dia da vida das pessoas, e pode
não ser intencional. A sociedade pode oferecer oportunidade variadas para esta
aprendizagem informal, seja por meio de conversas entre pessoas, troca de experiências ou
transmissão de valores culturais. Segundo Morand-Aymon (2004-2007), a aprendizagem
informal consiste no conhecimento contínuo que ocorre na vida quotidiana não
necessariamente intencional e, às vezes, não é reconhecida a forma como enriquece os
conhecimentos e aptidões.
6
caso de Angola, e em particular o mundo rural, em que a mulher nem sempre é considerada
com a amplitude da dignidade a que tem direito, assim como, da sua real liberdade social.
A educação de jovens e adultos permite que os indivíduos, especialmente as mulheres,
possam enfrentar múltiplas crises sociais, económicas e políticas, além de mudanças
climáticas. Portanto, reconhecemos o papel fundamental da aprendizagem e educação de
adultos na consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio da Educação para
Todos (EPT) e da agenda das Nações Unidas pelo desenvolvimento humano, social,
econômico, cultural e ambiental sustentável, incluindo a igualdade de gênero (CEDAW e a
Plataforma de Ação de Pequim) (UNESCO 2010: 265).
7
Foram estes cidadãos que pensaram e trabalharam toda a sua vida, para deixar este legado
colossal à Humanidade.
A literacia é fundamental no dia-a-dia, seja nas cartas que todos recebem para o
pagamento do consumo da água e energia elétrica, seja para interpretar outros textos escritos
que circulam na sociedade. Têm sido diferenciadas três dimensões de literacia que são:
prosa, documental e quantitativa, esta distinção foi feita segundo Ávila (2009), e está presente
em alguns estudos internacionais como é o caso de IALS, International Adult Literacy Survey.
No entanto, nesta tríplice dimensão de literacia cada elemento desempenha uma função. Isto
é, a literacia em prosa segundo Ávila (2009), está estritamente relacionada com o texto corrido
(notícia de um jornal, um artigo de uma revista, um livro); a documental prende-se com a
informação escrita de forma estruturada e organizada ao passo que a literacia quantitativa
que atualmente tem a designação de numeracia realiza-se em processamento da informação
quando exige operações de cálculos. Dizer que existe uma abrangência no conceito de
numeracia com relação o de literacia quantitativa.
8
educativas como da formação. Neste contexto, os processos de aprendizagem têm de se
adaptar às novas necessidades contextuais. Neste novo paradigma de aprendizagem ao
longo da vida as aprendizagens não formais, assim como as não formais e informais passam
a ter uma credibilidade mais valorada, inclusive ao nível de certificação de conhecimentos.
Aqui as aprendizagens informais ganham um novo relevo pois que embora não fossem
completamente negligenciadas eram, no entanto, pouco consideradas e valorizadas.
Aprendizagem de adultos engloba a educação formal e continuada, a aprendizagem não formal
e a gama de processos de aprendizagem informais e incidentais disponíveis numa sociedade de
aprendizagem multicultural, onde as abordagens baseadas na teoria e na prática são reconhecidas
(Extraído da Declaração de Hamburgo, UIE. 1997: 1).
9
Analfabetismo caracterizado pela incapacidade de ler, escrever e contar, pode também juntar-se
uma forma analfabetismo dita técnica, cultural e política (Viehof,1982 apud UNESCO 1990:134).
Pelo exposto, pode-se inferir que o analfabetismo é um conceito que corresponde a
situações de iliteracia experimentada ou vivida por milhões de indivíduos que vivem em
diferentes partes do mundo. Como se viu, não é fácil apresentar uma definição exata do
conceito, pois encontram-se tantas variáveis contextuais, espaciais e temporais, que se torna
muito difícil dar uma definição de caráter universal.
10
regenerar o saber popular presente no senso comum (…) e em segundo lugar, reconstruir a
linguagem da alfabetização de maneira a que ela possa acolher e valorizar os saberes de que se
reclamam os grupos «inferiores» (Canário 2013:54).
As estratégias de alfabetização em massa envolvem grandes recursos financeiros,
elevadas capacidades didáticas e sociais e, acima de tudo, uma atitude muito séria no que
concerne a equidade na distribuição dos bens e dos recursos, nunca esquecendo que um
analfabeto também é possuidor da dignidade humana e cultura. Embora esta afirmação
pareça sentimentalista, quando se propõe uma campanha para erradicar um problema, como
é o caso do analfabetismo, deve ter-se em consideração que esta não deve ser orientada
contra os analfabetos, mas sim contra as condições que estão na base da base da pobreza,
exclusão social e impedem o exercício pleno da cidadania. Neste contexto, o analfabeto tem
de ser encarado e entendido como ele e as suas circunstâncias sociais e pessoais.
Com base em experiências feitas nas últimas décadas, no sentido de alfabetizar, Martim
(1988 apud canário 2013:50), define as linhas mestras de estratégias de alfabetização
fundamentadas em quatro princípios de base, os quais merecem o consenso dos
especialistas nesta matéria. Por se tratar de um assunto bastante complexo e longo que não
cabe no âmbito deste pequeno estudo, são apresentados os respetivos princípios
sistemáticos sem, contudo, serem desenvolvidos em pormenor os respetivos conteúdos. São
eles: “O primeiro princípio diz respeito à funcionalidade de alfabetização. O segundo princípio
consiste na valorização da participação dos destinatários dos programas de alfabetização. O
terceiro princípio refere-se à inserção dos programas de alfabetização no quadro da política
mais vasta. O quarto princípio o da diversificação tem como base o reconhecimento da não
existência de um modelo único de alfabetização”.
Portugal também sofreu e ainda sofre, no contexto cultural, social e económico, assim
como da cidadania os efeitos dos altos níveis de analfabetismo que perduraram no país
durante o século XX, nomeadamente até ao 25 de Abril de 1974. Este acontecimento abriu
um período (1974-1976) em que houve um grande investimento na educação, especialmente
na educação de adultos. Neste processo foram determinantes a iniciativas como a da
chamada educação popular a iniciativa (Melo e Benavente, 1978 apud canário 2013:56).
Estas ações propunham-se valorizar e estimular as manifestações culturais populares, e mais
serviram de base para a conceção do plano nacional de alfabetização e educação de adultos.
Seguiram-se outros planos e iniciativas, mas a educação de adultos ocupou quase um lugar
periférico nas políticas educativas, “o défice de qualificação de população adulta foi
reconhecido pelos diferentes governos como um problema, mas nunca constituiu uma
verdadeira prioridade política” (Araújo 2014:390). Ainda assim, nas últimas décadas a taxa de
analfabetismo diminuiu significativamente no país sobretudo devido ao crescente alargamento
da escolaridade entre a população mais jovens.
11
CAPÍTULO II
12
parte da população vivia aterrorizada e na mais extrema pobreza, tinha imensas dificuldades
em sobreviver. A fome instalou-se e a população assistia, diariamente à destruição das vias
e dos meios de comunicação terrestre, à destruição das estruturas agrícolas, assim como, à
morte e mutilação de muitos angolanos, apanhados no fogo cruzado dos beligerantes.
Perante os constantes ataques, a população rural fugia das suas terras, na tentativa de evitar
o terror da guerra. Como consequência, ainda hoje, as zonas rurais apresentam um
povoamento muito disperso e com pouca população. A taxa de alfabetização das populações
dos meios rurais é muito baixa, comparada com a taxa de alfabetização das zonas urbanas.
O meio rural encontra-se despovoado, vivendo um
“estilo de vida simples, à margem das tecnologias e do mundo literato; com recurso a
ferramentas tradicionais e obsoletas; atividade produtiva ligada à agricultura de subsistência e
pastorícia; povoações dispersas (…) com limitadas condições básicas de vida” (Silva, 2011 apud
Freitas 2014:11-12).
13
analfabetismo é ainda mais baixa, situando-se nos 24%”. Tendo em conta os resultados
alcançados no quadro do novo exercício de governação para Quinquénio 2018-2022, aprovou-
se o Plano de Desenvolvimento Nacional que traça linhas mestras para o combate ao
analfabetismo e a redução do atraso escolar entre a população jovem e adulta, mormente para
as mulheres e as meninas das zonas rurais. No entanto, ao constatar o que diz a ministra da
Educação em janeiro (2020), a situação de iliteracia continua muito preocupante já que a taxa
de alfabetização atualmente em Angola é de 77% da população. A ministra afirmou estar muito
preocupada com a situação de alfabetização, assim como, do abandono escolar que se
manifesta em todo o país, o que em nada favorece a situação muito precária do alfabetismo
atual em Angola.
O “Ministério da Educação prevê reduzir a taxa de analfabetismo no país a 18 por cento
até 2022”, afirmou a ministra Ana Paula Tuvanje Elias em janeiro de 2020. Com o propósito de
se inverter esta situação de quase flagelo, o ministério lançou oficialmente, em setembro de
2019, um plano de ação para intensificar a alfabetização e educação dos jovens e adultos
denominado “EJA- Angola 2019-2022”. Este instrumento tem como objetivo a
operacionalização das políticas do governo, a fim de serem alcançados os objetivos do plano
do desenvolvimento nacional (PDN 2018-2022). No que diz respeito à educação de jovens e
adultos. “Segundo a ministra de Estado o que se pretende é a redução do índice de
analfabetismo literal e funcional dos jovens e adultos e, especialmente das mulheres das zonas
rurais”. Espera-se que com todos estes projetos o problema da literacia seja parcialmente
ultrapassado, para bem dos cidadãos de Angola e da Nação no seu todo.
14
com o projeto, a estrutura do Ensino Primário tem 3 níveis ou ciclos de aprendizagem. O 1º
ciclo do Ensino Secundário abrange três classes, 7º, 8º e 9º anos. O 2º ciclo do Ensino
Secundário sofreu a extensão de dois para quatro cursos denominados Áreas de
Conhecimento, sendo que cada área é formada por três componentes; geral, específica e
opções. Também foi criada a Formação Média Técnica que tende a preparar os alunos para a
vida ativa especializada, que não exija formação superior. Este ensino é ministrado nas escolas
técnicas públicas e privadas. A formação de professores também foi acautelada. Segundo Zau
(2012), o Ministério de Educação, através do seu Instituto Nacional de Formação de Quadros
(INFQ) elaborou em 2007 um Plano Mestre de Formação de Professores (PMFP), “tendo em
conta os grandes desafios de uma educação de qualidades para todos” (Cazalma 2014:75).
Segundo o Diário da República (2019), O governo angolano procura garantir até 2022 que as
instituições públicas e privadas não tenham funcionários iletrados e com escolaridade inferior
ao Ensino Primário. É interessante verificar esta evolução no Sistema Educativo de Angola, ao
nível do projeto, mas, a implementação no terreno de todos estes avanços plasmados na
legislação educacional só será possível com “(…) a existência de professores dedicados e
comprometidos faz a diferença na vida dos seus alunos e das suas comunidades, pela sua
capacidade de proporcionarem oportunidades de aprendizagem importantes e relevantes”
(UNESCO, 2004). Portanto, segundo a UNESCO (2010), o investimento na formação de bons
professores, também se reveste de importância capital para o sucesso da reforma educativa.
Segundo o Diário da República de Angola (2019), define uma tríplice meta por alcançar:
1- Atingir pelo menos 82,8% até 2022 da taxa de alfabetização de jovens e adultos sobretudo
os maiores de 14 anos para permitir a redução dos índices de analfabetismo para 17,2%.; 2-
No Ensino Primário de Adultos diminuir o índice de alunos com atraso escolar no Subsistema
do Ensino Primário, de 27,2% para 17,6% em 2022; 3 – No Ensino Secundário prevê-se
generalizar o Ensino Secundário de Adultos a todo território nacional para a redução do atraso
escolar de 42% para 28,8% em 2022.
15
sistema educativo de Angola apela à escolarização de todas as crianças em idade escolar e,
pretende também, reduzir o analfabetismo dos jovens e adultos, promovendo a igualdade de
género, eliminando assim o fosso que ainda existe relativamente às desigualdades de género.
Numa fase de grande desenvolvimento do sistema escolar, (…) a expansão da doutrina da
modernização pela qualificação dos recursos humanos, transforma a questão do ensino
recorrente, para adultos ativos e a da formação pós-escolar de trabalhadores, em eixos centrais
da convergência das políticas educativas e de mão-de-obra”. (Silva 1990 apud Aníbal 2010:180).
O índice de pobreza nas zonas rurais de Angola é muito elevado, onde as mulheres e as
crianças são as mais afetadas. Na cultura tradicional destas zonas compete à mulher realizar
as tarefas mais pesadas, desde o transporte da água à recolha da lenha, ao trabalho nas
hortas, cozinhar, cuidar dos filhos, do marido e da casa, tarefas que todos os dias esgotam
física e psicologicamente as mulheres. Estudos da UNICEF revelam que as mulheres dos
países subdesenvolvidos têm enormes probabilidades em morrer de parto ou por
complicações durante a gestação. Os poucos recursos financeiros dos povos que habitam os
meios rurais, a sua dispersão e o facto de viverem longe das escolas mais próximas, assim
como, os conceitos negativos que as famílias percecionaram relativamente à escola e aos
seus objetivos, tornam muito difícil o acesso à escola, tanto das crianças como dos jovens
adultos. As crianças, principalmente as meninas, não são incentivadas a frequentar as escolas
porque os pais, principalmente as mães, sentem falta delas em casa para as ajudar nas suas
tarefas domésticas. Desta maneira, as mulheres ficam muito limitadas fisicamente às suas
casas e à família, sendo muito socializadas na preservação dos seus valores culturais
tradicionais que na perspetiva de igualdade de géneros são muito discriminatórios. As
meninas são socialmente formatadas, pelas suas culturas, para serem donas de casa e
procriarem. As mulheres são as mais afetadas na questão da baixa escolaridade e, nestas
situações, segundo Arsénio (1993 apud Duarte 1997:20), o baixo nível de alfabetização ou o
analfabetismo provoca um baixo nível de autoestima, desvalorizando o seu papel social,
assim como, dos muitos saberes que as mulheres são capazes de transmitir às jovens e à
sociedade. Contudo, o analfabetismo feminino é 1,5 vezes mais elevado do que no sexo
masculino.
A formação social tradicional das crianças e jovens é orientada no sentido da manutenção
dos seus usos e costumes, assim como, na manutenção das suas crenças tradicionais. Neste
contexto, a formação dos jovens e adultos do mundo rural é orientada no sentido de
continuarem a viver com os seus familiares, assim como, no meio do seu povo, fazendo parte
dele. Neste aspeto as mulheres são as figuras mais importantes no processo educativo e da
socialização na vida comunitária e na sua casa. “A mulher é a agricultora – mãe – esposa –
dona de casa – doadora de sangue – linhagem” (Altuna 1993: 165 e 256). Apesar de todas
as dificuldades, o Ministério de Educação de Angola tem desenvolvido muitos esforços para
16
expandir o principal objetivo da sua política educativa que é o acesso universal à escola, o
que, de certa maneira, tem conseguido desde que o país entrou em paz. No entanto, no
processo de escolarização global os meios rurais estão muito desfavorecidos. Por um lado,
por se encontrarem longe dos poderes de decisão, onde muitos decisores desconhecem, em
toda a sua extensão, a penosa vida das gentes do interior e dos seus problemas quotidianos.
Por outro lado, existe uma grande escassez de investimento em infraestruturas, além de
estradas, também em escolas e unidades de saúde. Nestas populações dispersas pelo interior
do país, a influência da educação escolar, oferecida pelo Estado, é desvalorizada
relativamente à supremacia da educação tradicional, que para essas comunidades, é de
aplicação e vivência imediata.
17
O projeto de alfabetização de adultos apesar da escassez do material e também muitas
vezes dos professores continua a existir e proporciona uma nova conceção relativamente com
aos assuntos que se prendem com a vida do dia-a-dia. Salienta-se que desde que o projeto
de alfabetização tomou o seu rumo, muitos e muitas já são capazes de ler e escrever e fazer
contas simples. Normalmente, começam por aprender os seus próprios nomes, devido o
imperativo das assinaturas que são exigidas em determinados documentos ou quando
requere apadrinhar alguém. Segundo Barreto (2016), a existência das escolas, além de ser
essencial instrumento de inclusão educativa nas comunidades rurais também está a promove
a cultura de participação social.
A faixa etária dos que aderem a alfabetização na fase adulta é compreendida entre 30 e
65 anos de idade. Pela constatação feita, as pessoas que mais participam no projeto de
alfabetização são as mulheres que na sua infância por causa do conflito armado e situações
de vária ordem, não tiveram oportunidade de estudar. Os homens aparecem de maneira
ínfima. O governo angolano desde sempre considerou a Igreja Católica, como seu parceiro
para a promoção da pessoa humana e do combate ao analfabetismo. Nesta senda, a Escola
Missionária do Cola, abraçou a causa com um projeto paralelo de alfabetizar os adultos e por
falta de estruturas para o efeito, usam-se muitas vezes as capelas religiosas. Os professores
eram na sua maioria voluntários e que ensinavam a custo zero e outros eram provenientes da
Direção Municipal da Educação.
18
também tem as suas ações no campo social, criando internatos (feminino e masculino) e a
mesmo tempo promovendo aulas de alfabetização de adultos com mais intensidade a partir
de 2007 em consonância com as políticas educativas do Governo de Angola.
No passado recente, quando as pessoas falavam de missões, o que eles tinham em
mente eram as escolas das missões. Igualmente, para muitos missionários, as escolas das
missões eram as instituições mais importantes. (…) as escolas podiam bem ser usadas como
o barómetro de África (Baur 1994:439). É de caráter muito importante sublinhar o trabalho
valioso desenvolvido pelos Jesuítas. No momento difícil da evangelização deram-se conta
que era muito importante ensinar o africano ler, escrever e contar para que entendam melhor
o conteúdo do evangelho e consequentemente façam a conversão de forma livre e consciente.
As missões protestantes têm um grande destaque também no campo educativo de
Angola. Apercebendo-se da situação crítica da falta de quadros que tivessem ensino superior
para fazer face ao desenvolvimento sustentável de África de modo peculiar de Angola,
desencadearam um processo de envio de alguns angolanos para o exterior do país com
finalidade de adquirir conhecimentos superiores. Assim sendo, a sua “importância advém do
fato proporcionado aos angolanos (sobretudo negros) para a realização da formação superior”
(Henderson 1990 apud Liberato 2012:13).
19
No meio rural a educação escolar estatal ainda não encontrou, eficazmente, pontos de
convergência abrangentes, com as práticas educativas não escolares que possam, de alguma
maneira, ter interesse nas vidas comunitárias locais, numa relação de entendimento com a
tradição. Segundo Pinto (1985), a escola é muito importante porque ela cria situações de
progresso dos elementos culturais indispensáveis à criação da relação salarial que sustem a
produção capitalista. Pinto (1985), afirma que a escola ajuda o acesso dos filhos dos
labutadores rurais à condição de operários. O mundo rural é muito pobre e simples, mas onde
as necessidades da população são satisfeitas, de acordo com o seu mundo e exigências do
quotidiano, vivendo em sintonia com a natureza, deixando poucas pegadas ecológicas
negativas. Já a colonização, através da assimilação, tentou impor o seu modo de vida aos
povos colonizados de África, onde Angola não foi exceção. No entanto, o conhecimento e as
culturas tradicionais continuaram a ser transmitidas às gerações mais novas através dos rituais
de iniciação e todos os outros procedimentos de natureza tradicional.
A colonização tentou descaracterizar as culturas tradicionais nos diferentes países
africanos, mas, a independência de alguns desses países, incluindo Angola, teve como base
ideologias marxistas que no impulso de forçar os povos a seguirem as suas ideologias,
combateram de uma maneira forçada os valores culturais tradicionais, por terem entendido que
as suas práticas eram retrógradas e antirrevolucionárias. Finalmente, o governo de Angola
reconheceu a importância das culturas tradicionais, vindo a adotar políticas que pretende o
resgate do grande tesouro da riqueza cultural que as aldeias ainda conservam. A alfabetização
de adultos no meio rural tem, finalmente, de ter sucesso relativo, entendendo por alfabetização,
não só o saber ler, escrever e contar mas, também a socialização, segundo Duarte (1997), o
mal-estar decorrente do alargamento das franjas em situação de exclusão social impõe rever
alguns objetivos e estratégias de desenvolvimento e o respeito pelos valores democráticos e
de cidadania; deve ter sucesso ao longo do tempo, pois que os processos educativos integram
a promoção das tradições culturais locais e regionais, que certamente serão do agrado de
todos, inclusive dos mais velhos. Contudo, no que diz respeito à escolarização das raparigas,
o processo será muito mais demorado, já que, os valores culturais tradicionais, principalmente
ao nível das comunidades locais, não contemplam muito tempo à escolarização das meninas,
pois a preparação para o casamento e a maternidade continua a ser a prioridade, assim como,
a sua relação privilegiada com a casa e a vida doméstica.
20
como ao nível superior, foram bastante ambiciosas, relativamente aos objetivos propostos. A
sua aplicação, no aspeto prático, é bastante difícil, atendendo à especificidade cultural dos
seus cidadãos, às feridas sociais da guerra que ainda estão longe de serem completamente
sanadas. O contexto político e a falta de equidade na distribuição, da enorme riqueza de
Angola, tiveram e têm muita influência, na exequibilidade dos programas incluídos nas
respetivas reformas.
Os investimentos reais na educação de adultos ficaram muito aquém do que seria
necessário para o desenvolvimento dos projetos considerados. Os meios financeiros alocados
para a formação de professores têm sido manifestamente insuficientes para as necessidades
reais do país, principalmente, no que diz respeito ao mundo rural. Nestas zonas ainda existem
muitos cidadãos a dar aulas, com um nível de escolaridade ao nível da 4ª classe, ou seja, o 1º
ciclo do ensino básico e, até estes deixam muitas vezes de ensinar, por falta de remuneração
por parte da entidade empregadora que, neste caso, é o próprio Estado, deixando assim, os
alunos sem aulas, durante longos períodos, uma vez que não têm professores. Neste trabalho
referimo-nos, essencialmente ao ensino básico, pois este era e ainda é, um dos grandes
objetivos da educação/instrução em Angola, alfabetização e educação de adultos. Enquanto o
governo de Angola, além de outras variáveis a considerar no processo educativo, não acautelar
a construção de infraestruturas, providenciar material escolar, formar professores em número
proporcional à população que pretende alfabetizar, pagando-lhes aquilo a que têm direito, e
em tempo oportuno, nunca haverá êxito em qualquer reforma que tente fazer. E assim, a
pobreza aumenta “especificamente as pessoas que apresentam desvantagens noutros
aspetos das suas vidas apresentam maiores hipóteses de serem pobres” (Giddens 2013:550).
21
CAPÍTULO III
METODOLOGIA DO ESTUDO
O objeto de estudo que se propõe tratar tem o seu centro na constatação de uma realidade
do dia-a-dia que envolve os adultos não alfabetizados, na zona rural do Cola. Esta realidade
consiste na fraca participação de pessoas analfabetas no processo da sua formação ao longo
da vida. Tendo decorrido um projeto de alfabetização de adultos na área do Cola,
desenvolvido pela Missão católica do Cola, constatou-se que o mesmo não teve muita
participação. Assim, urge a necessidade de fazer um estudo mais aprofundado do caso. O
estudo é dirigido à população adulta, particularmente àqueles que, por razões alheias a sua
vontade, não tiveram oportunidade de ter, pelo menos, a escolaridade que a constituição do
país consagra como obrigatória. Como foi aludido na introdução, o presente trabalho, procura
saber qual é a relação dos adultos do mundo rural com a alfabetização e aprendizagem ao
longo da vida.
O foco da questão consiste em perceber:
- De que modo percecionam a importância da alfabetização e da literacia para a sua vida
pessoal, social e profissional e ainda para a família;
- Perceber se têm participado em processos de alfabetização (na vida adulta) e, se não
participam, procurar-se-á saber o porquê.
Basicamente esta é a questão que constitui o horizonte do trabalho presente que se pode
refletir em modelo de análise com suporte da metodologia e técnicas adequadas. Segundo
Sousa (2014), o modelo de análise é sempre referente ao esquema teórico que representa
um fenómeno ou conjunto de fenómenos. É uma representação da realidade que é foco de
investigação.
22
Figura 1. Modelo de análise
- Modelos/ oportunidades de
alfabetização ao longo
Relação com a literacia
da vida
Importância da alfabetização
3.2. Metodologia
O tipo de investigação enquadra-se num Estudo de Caso. Segundo Sousa (2011), os Estudos
de Caso visam a exploração de um fenómeno, que se limita no tempo e na ação onde o
investigador recolhe informações detalhadas de uma entidade definida e bem localizada, um
caso que é único, específico, diferente e complexo. É um estudo intensivo e detalhado. Este
Estudo de Caso foi desenvolvido na área da Missão Católica do Cola, na Arquidiocese do
Lubango, no município de Caluquembe. O objetivo específico da investigação é averiguar
como os adultos percecionam a alfabetização. Como é sabido, “o método da pesquisa de
23
terreno supõe, genericamente, presença prolongada do investigador nos contextos sociais em
estudo e contato direto com as pessoas e as situações”. (Costa 2014:129).
A pesquisa qualitativa admite perceber a maneira como os sujeitos “estruturam o mundo
social em que vivem” (Psathas 1994 apud Seabra 2016:62). Na estratégia de recolha de dados
utilizou-se a entrevista, que segundo Quivy (1998 apud Luinda 2015:25), é prática que se
inscreve na pesquisa qualitativa, por consentir maior interação, uma ocasião de comunicação
aberta, e recolha de informação pormenorizada entre as duas partes (entrevistador e
entrevistado). -A entrevista semidiretiva, segundo Sousa (2014), consiste num conjunto de
tópicos, um guião com perguntas a tratar na entrevista. Tem alguma liberdade, mas é uma
liberdade que não admite ao entrevistado fugir muito do tema. Recorreu-se a esta técnica,
porque “as entrevistas visam um objetivo específico: o de chegar a compreensão de uma certa
realidade, de um certo fenómeno, sendo esta intenção a do investigador” (Pauzé 1984 apud
Gauthier 203:280).
Para o levantamento de dados, foram utilizadas entrevistas que serviram como trampolim
no sentido de catapultar o objetivo principal de analisar a perceção que os adultos têm face à
alfabetização e sua relação com a literacia. Desta feita, utilizou-se um guião (ver anexo II) que
em termos gerais, incidiu sobre os temas da perceção do papel que alfabetização
desempenha nas múltiplas dimensões da vida (pessoal, profissional, familiar) e percecionar
as barreiras que constituem empecilho nas ações de alfabetização, mormente na zona rural
do Cola e destacou também a questão da situação do analfabetismo se constitui um problema
na vida adulta ou não. O mesmo procurou colocar um dos temas que se prende com um olhar
sobre a posição da Direção da Escola Missionária, Formadores Direção Municipal da
Educação de Caluquembe face ao analfabetismo. Com este tema, o escopo do mesmo, tem
a sua incidência na busca do parecer sobre a questão de alfabetização de adultos, sobretudo
em perceber a estratégia da Direção Municipal da Educação para minimizar o analfabetismo
na idade adulta. O guião apresenta 20 questões de forma semidiretiva divididas em duas
dimensões.
Para a concretização das entrevistas foi preciso fazer um agendamento que permitisse a
realização das mesmas. Foram 20 entrevistas dirigidas a pessoas adultas. As entrevistas
foram personalizadas com o tempo compreendido, para cada uma, entre os 37 a 40 minutos
no máximo, e foram realizadas nas diversas localidades (aldeias) e em horas diferentes.
Usou-se a estratégia de gravação em registo áudio. Assim sendo, para o sucesso das
entrevistas o pessoal-alvo foi avisado com um mês de antecedência e a escolha do mesmo,
obedeceu a proximidade que se tem com o pessoal e do conhecimento que se tinha sobre o
mesmo, na participação ou não, em ações de alfabetização. E isto, permitiu a capacidade de
se estar à vontade na colocação das questões. Os contactos foram feitos pelo Pároco e
Superior da Missão do Cola antes da nossa chegada no terreno que na sua disponibilidade
24
solicitou o pessoal para o efeito e este foi contactado pela via telefónica. E para as direções
(Escola Missionária do Cola, Direção Municipal da Educação e Formadores), fez-se um
documento de pedido para as devidas entrevistas. As entrevistas na sua maioria ocorreram
no recinto da igreja e as outras, foi preciso trilhar alguns caminhos tortuosos para se chegar
aos visados nas aldeias e estas entrevistas foram realizadas nas suas próprias casas. E para
as direções aludidas, as entrevistas foram feitas nos seus próprios gabinetes. Foram
necessários 48 dias de trabalho de entrevistas, tendo o seu início no mês de janeiro e o seu
fim no mês de fevereiro.
Foram realizadas entrevistas semidiretivas a adultos não alfabetizados (10) e a, adultos
recém alfabetizados (na idade adulta, no âmbito dos processos desenvolvidos no quadro da
Missão Católica do Cola) (5). Foram ainda realizadas entrevistas complementares a
formadores (4), corpo diretivo da Escola Missionária do Cola (1), Direção Municipal da
Educação de Caluquembe (1). Também foi desenvolvida Observação Participante, enquanto
“(…) técnica de investigação qualitativa adequada ao investigador que pretende compreender,
num dado meio social, um fenómeno que lhe é exterior e que lhe vai permitir integrar-se nas
atividades/vivências das pessoas que nele vivem, realizando desta forma o trabalho de
campo” (Sousa 2014:89). “A observação participante implica, pois, que o observador se
misture, mais ou menos, na vida do grupo, que se insira nas suas atividades. (…) pode ir até
uma permanência de meses e anos junto do grupo”. (Fernandes 1994:117).
Para o efeito, o autor desta dissertação esteve 48 dias no terreno, conversando com o
público-alvo, no sentido de se perceber de toda extensão da problemática em questão, assim
como, criar um clima de confiança para as pessoas pudessem responder aos inquéritos, sem
muitas reservas.
No percurso da pesquisa presente, houve muitas dificuldades relacionadas com a
deslocação para a área de entrevistas (Cola-Angola). O acesso foi muito difícil por causa do
mau estado da via. Outro obstáculo consistiu em passar por aldeias que na sua maioria
possuem caminhos tortuosos e ainda, na mesma senda, salienta-se a questão de pedir a
pessoa visada para conceder um tempo de entrevistas e, neste contexto foi muito difícil devido
as suas ocupações (trabalho agrícola). Entretanto, por ser uma pessoa conhecida como -
professor que por longos anos trabalhou na escola missionária do Cola e como missionário
(sacerdote), que assistiu o povo da Missão do Cola nas suas várias aldeias, foi possível
superar essas barreiras, atendendo à amizade de pastor e confiança.
25
estas idades são compreendidas entre os vinte e nove e os sessenta e três anos. Quanto ao
sexo, dos entrevistados dez são do feminino e cinco do masculino. No que tange ao estado
civil, sete são solteiros e oito são casados. No que diz respeito às profissões, onze trabalham
na agricultura, as quatro que não trabalham na agricultura ainda que às vezes o façam, a
primeira é lavadeira, a segunda é doméstica, a terceira é cozinheira e a quarta é de limpeza.
No que se refere aos filhos, dos entrevistados maior parte tem filhos, o número varia entre os
três a dez filhos. No tocante a participação em ações de alfabetização, dez não participam e
muito deles nunca frequentaram a escola enquanto criança e alguns que frequentaram foi por
pouco tempo, não conseguindo aprender a ler e a escrever. E em contrapartida cinco
participam porque sentiram a necessidade de aprender a ler e a escrever.
26
Quadro 1- Caracterização dos entrevistados
27
CAPÍTULO IV
28
melhor dos entrevistados provocando consequências nefastas no mudo rural (Caluquembe-
Cola).
(…) a guerra impediu-me a estudar, se não fosse essa situação hoje seria alguém prestável
na sociedade, daria o meu melhor na busca do desenvolvimento do país e do nosso Caluquembe-
Cola (Inês, 42 anos).
De salientar que as aldeias eram palco de grandes combates de guerra fratricida. Para
dizer que era muito difícil estudar nas localidades rurais, dada a situação de guerra que se
impunha, ao passo que, em zonas urbanas havia escolas estáveis. Muitos preocupavam-se
mais com o trabalho agrícola para mitigar a fome e colocava-se de parte a questão dos
estudos. Os pais eram demasiado pobres, não os podiam ajudar, e os filhos começaram a
trabalhar muito novos para ajudar os pais e os irmãos mais novos. Tal situação desembocou
no analfabetismo.
(…) os meus pais não tinham condições que possibilitassem ir à escola estudar, tal é assim,
que comecei a trabalhar muito cedo, ajudando os meus pais no trabalho agrícola. Queria tanto
estudar, mas não tinha como fazê-lo. A situação da pobreza fez com que não tivesse estudo e
como consequência passo à vida a trabalhar a terra e os outros que tiveram oportunidade de
estudar, atualmente estão bem posicionados na sociedade (Teresa, 62 anos).
Havia escolas na zona rural do Cola, mas as oportunidades de ingresso nas mesmas,
dependiam da capacidade financeira de cada família. Muitos responderam que têm na família
algumas pessoas alfabetizadas e poucos que não têm qualquer elemento. Muitos pais
manifestam a opinião segundo a qual, a escola constitui um fator muito importante em todas
as dimensões da vida, mas alguns (poucos) dizem ser indiferentes porque para o trabalho
agrícola não interessa saber ler ou escrever, o que interessa é o trabalho.
29
o desejo de se instruírem. A literacia é “um direito do homem uma ferramenta de capacitação
pessoal e um meio para desenvolvimento social humano” (UNESCO apud Pereira 2013:41).
Os adultos, das áreas não urbanas em Angola, deparam-se com muitas dificuldades,
no campo da saúde, da aquisição de emprego, de enviar os filhos para o prosseguimento
dos estudos para outros níveis académicos. Desta feita, constatando-se a precária situação
da alfabetização, parece que garantindo a educação para adultos poder-se-ia surtir efeitos
positivos na comunidade, incentivando os pais e as crianças no amor à sabedoria e ao
estudo. Segundo Gonçalves (2014:446), as famílias podem proceder de forma individual
quando se dedicam aos seus educandos existindo assim uma implicação paternal.
Entretanto, também podem fazê-lo de forma coletiva participando naquilo que são os ideais
da escola. Segundo Gonçalves (2014:446), os pais participam da educação académica em
casa tendo presentes atividades que ajudam a estudar a fazer trabalhos de casa, definição
de normas e horários de estudos. No caso dos adultos não alfabetizados do Cola, essa
situação não acontece. A prova disto é que os pais que não têm nenhuma formação básica
incentivam pouco os filhos, ou tal incentivo não tem muita consistência, não existe
prolongamento entre escola-casa, é uma incompatibilidade e por esta razão abraçam o
indiferentismo no processo do acompanhamento académico dos filhos de uma maneira
acutilante.
(…) incentivo os meus filhos naquilo que posso, porque também careço de bagagem
intelectual. Em casa não consigo os ensinar nas suas tarefas escolares porque também não
percebo nada (Maria, 63 anos).
É por isso que “na explicação do insucesso escolar é frequentemente evocado
especialmente pelos docentes, o desinteresse ou a indiferença das famílias em relação à
escola nomeadamente o reduzido apoio prestado à escolaridade e à falta de ambições
escolares” (Seabra 2010:200-201), as quais não investem muito na educação dos seus
filhos, como se pode provar aquando das entrevistas. Não se envolvem ativamente na
aprendizagem dos seus filhos e muitas vezes as crianças são vítimas do trabalho infantil.
Segundo Monteiro (2005:131), os profissionais da educação devem incentivar os adultos a
participar no processo de aprendizagem dos filhos para que as crianças não sejam vítimas
de outros trabalhos que possam ofuscar o aproveitamento escolar. Porém, nos contextos
culturais e sociais distantes do universo escolar, são muitos os obstáculos a essa
participação.
Os filhos das famílias rurais quando terminam o ensino básico já não avançam para
outros níveis académicos. Segundo Zanten (1990 apud Seabra 2010:201), afirma que as
famílias das zonas urbanas têm aspirações mais elevadas do que as rurais e manifestam
espírito de revolta quando se trata de desespero face ao insucesso escolar. Segundo
Queiroz (1991 apud Seabra 2010:201), estas famílias asseguram o prosseguimento com o
30
trabalho escolar ao passo que as famílias carenciadas economicamente vivem o sentimento
de não conseguir dominar o universo escolar. Têm problemas sérios na interpretação de
documentos simples (receita médica, certidão), portanto, não conseguem ajudar muito os
seus filhos. Por isso, existe uma precariedade de relação com a literacia no que tange às
famílias no meio rural.
31
Outros afirmam que não conseguem aprender, pois o ensino é ministrado em Português,
que é diferente do seu dialeto que é utilizado na comunicação do quotidiano. Quando precisam
de ler o conteúdo de qualquer documento recorrem a quem lhes está próximo e sabe ler e
escrever, assim como, aos elementos da Missão católica.
Os entrevistados na sua maioria dizem que a alfabetização tem uma grande relevância
na sua vida porque permite a comunicação não só com o pessoal de perto, mas também com
o de longe através de missivas. Eles percebem que a alfabetização é um garante para a
melhoria das condições de vida, pois desperta a mente da pessoa e muda a sociedade.
Segundo Mandela (2003), a educação é a arma mais poderosa que a pessoa pode usar para
mudar o mundo. Os entrevistados percebem que para melhorar as condições de vida é
indispensável a questão da alfabetização. “A competência da leitura e da escrita é
incontestável devem ser dominadas por todos, de modo a garantir o acesso a bem essenciais”
(Pereira 2013:41). Os entrevistados percecionam muito bem a importância com que a
educação de adultos se reveste, apesar dos constrangimentos no seu acesso.
(…) acredito que a educação de adultos é muito importante porque me pode tirar de uma visão
míope das coisas, elimina a pobreza e é um meio facilitador na comunicação com os outros (Luísa,
43 anos).
Segundo a opinião de muitos adultos questionados, principalmente os recéns
alfabetizados, o saber ler e escrever tornou-os como que “outras pessoas”, mais
independentes, com mais autoestima e, de uma maneira geral, mais felizes.
Ao longo desta pesquisa foi notória a existência de muitas barreiras concernente aos
adultos não alfabetizados. Como sublinha o relatório da UNESCO (2010), existem barreiras
institucionais, situacionais e disposicionais. Tendo presente esta realidade foi possível
constatar os três aspetos aludidos. Segundo a UNESCO (2010), as barreiras institucionais
envolvem práxis e procedimentos institucionais que desmoralizam ou impedem a participação
dos adultos na alfabetização, sobretudo os que vivem situação de penúria. Assim sendo, os
entrevistados do Cola manifestaram o número de professores que é ínfimo e, como se não
bastasse, faltam muito, alegando a questão de remuneração monetária que não é pontual.
Devia a esta situação muitos desistiram. A outra questão são as estruturas que não oferecem
condições próprias. Relativamente as barreiras situacionais a UNESCO (2010), afirma que
são barreiras que tem a ver com a situação pessoal dos indivíduos, por exemplo relacionadas
à família ou ao trabalho. Estas têm mais presença no princípio e meados da vida adulta
atingindo de forma peculiar as mulheres. No trabalho de campo que se fez, notou-se que o
trabalho agrícola e o cuidado de casa (família) formaram uma grande barreira e, muitos não
tiveram apoio para conciliar a vida familiar e a alfabetização e alfabetização. No tocante às
barreiras disposicionais, a UNESCO (2010), afirma que essas barreiras estão presentes
sobretudo entre os mais pobres, os menos alfabetizados ou os idosos. E esses têm
32
reminiscências da educação e formação inicial pensado que já não são capazes de enfrentar
a alfabetização na fase adulta. Ora, muitos adultos da zona rural do Cola, muitos pensam
dessa forma. Para eles, o tempo estudar já passou, já não existe tal disposição e têm
memórias negativas dos tempos passados de escola que não lhes proporcionaram bom
aproveitamento.
33
leio o que os professores lhes enviam. A alfabetização está a mudar a minha vida paulatinamente
(Teresa, 52 anos).
A alfabetização constitui um meio facilitador na aquisição de emprego para alguns.
Todos concordam que a alfabetização eleva o estatuto da pessoa na família e na comunidade.
Para os recém-alfabetizados a alfabetização faz bem e promove a pessoa para melhores
condições de vida (profissional, social, pessoal).
A alfabetização faz bem, porque vê-se que as pessoas com formação académica são
chamadas para o emprego e quem não a tiver é como se fosse uma carta fora do baralho
(excluída). Com a alfabetização sinto-me melhor e, é muito importante para sociedade (Anelito,
46 anos).
As razões que levaram os adultos a participarem em ações de alfabetização, foram a
necessidade que sentiam de aprender a ler, escrever e contar. E foram motivados por diversas
personalidades da sociedade. Com exceção de um que foi por iniciativa própria, os outros
viram-se influenciados pela família, amigos e pelos senhores padres que trabalham na
referida Missão. Os mesmos afirmam que existem algumas dificuldades que ofuscam muitas
vezes a participação na alfabetização, como a vida de casa, a agricultura, a pastorícia, a
alimentação e o vestuário dos filhos, as doenças nos agregados familiares que tornam a vida
muito difícil para se poder frequentar a escola de adultos.
Apesar disso, superam essas barreiras com muita dedicação, conseguindo conciliar o
tempo de atividades que naturalmente os podiam impedir. Sentem-se felizes porque a
alfabetização produziu efeitos positivos, no sentido do relacionamento com outras pessoas,
no que se refere à leitura e à escrita, à capacidade da interpretação de alguns documentos
simples e na forma de mais vontade na aprendizagem.
34
dentro daquilo que são as suas possibilidades. Tem-se consciência que não é fácil alfabetizar a
pessoa na fase adulta, mas com persistência e sensibilização pode surtir efeitos positivos
(Salomão, 42 anos).
A formação tem sido sempre uma grande preocupação da Missão. A Missão já está
envolvida no processo de educação de adultos, alfabetização, desde 2007 de cidadãos que
vivem na área geográfica onde esta se situa. O projeto da Missão conta com quatro
formadores que, ao serem questionados sobre as dificuldades de implementação do projeto,
argumentam que é difícil aliciar os cidadãos a frequentar a escola de adultos, porque estes
vivem num ambiente de grande pobreza, dado que vivem da agricultura de subsistência e
com a responsabilidade de alimentar um elevado número de filhos. Nota-se pouca
envolvência das pessoas letradas na mobilização das comunidades para as tarefas da
alfabetização, salienta-se também o abandono das populações das zonas de origem por
razões da prática do cultivo e transumância. Afirmam que existe um fraco envolvimento do
Estado na mobilização comunitária para a alfabetização.
Muitas famílias não são fixas nas aldeias, procuram sempre terras férteis para o cultivo e às
vezes mudam-se por causa da pastorícia. E isto, dificulta muitas vezes a alfabetização de adultos
e não só (Salomão, 42 anos).
Não existem muitas ajudas desejáveis da parte do Estado. Os professores faltam e não
estão motivados por terem salários muito baixos, não na Missão, mas em geral. Os
formadores são da opinião que a Província de Huila é uma das que tem mais analfabetos e,
ter-se-á de reverter esta situação, o mais rápido possível. Todos os formadores questionados
dizem que gostam de formar adultos, contudo, referem que é mais fácil ensinar as crianças.
No entanto, uns referem que quando se encontram adultos motivados também gostam muito
de os ensinar porque esses estão decididos a aprender e não brincam nas aulas.
(…) a Província de Huíla, é uma das que tem o maior número de analfabetos a nível do
país, por isso, é preciso um esforço redobrado para minimizar a situação em causa para o bem
da população, mormente a rural. Como professor gosto muito de acompanhar os adultos na sua
alfabetização, embora exija muita paciência e tempo (Pilartes, 48 anos).
Relativamente as entrevistas feitas à Direção Municipal de Educação, quanto à
estratégia de sensibilização para minimizar o analfabetismo na fase adulta, na sua jurisdição,
respondem com uma infinidade de itens do que já fizeram e que querem continuar a fazer,
para tentarem alfabetizar o maior número de cidadãos possível. Assim, respondem que têm
promovido campanhas de sensibilização. Que pretendem sensibilizar as autoridades
tradicionais, administrativas, comissões de moradores, Igreja e autoridades locais para a
solução do problema do elevadíssimo número de analfabetos que residem na área municipal.
(…) na verdade, o trabalho é árduo no que se refere à alfabetização de adultos, temos
tentados articular com vários parceiros da sociedade (Igrejas, Organizações não
35
Governamentais e outras Associações), para a sensibilização de jovens e adultos de modo à
aderirem em ações de alfabetização (Benvinda, 32 anos).
Referem que querem implementar uma política remuneratória para os alunos que
frequentarem os cursos. Também prometem adquirir materiais para suporte pedagógico,
assim como, criarem turmas que possam fazer as suas aprendizagens por módulos. Nesta
área municipal existem 61000 alunos do pré-escolar até ao ensino médio. A percentagem de
analfabetos é de 65% da população, embora já existam muitos jovens que concluíram o
ensino médio.
36
CONCLUSÃO
A elaboração deste trabalho, assim como, a análise das informações recolhidas, permite
percecionar, com mais clareza, a problemática da relação das famílias do mundo rural de
Angola, do Município de Caluquembe, com a literacia. Na realidade, verificou-se, pelas
respostas obtidas, que os cidadãos recém-alfabetizados e analfabetos mais velhos na sua
maioria, reconhecem a importância da alfabetização na fase adulta e não só. No entanto,
embora reconheçam a utilidade da alfabetização, não estão muito motivados para aderirem
ao processo. Alegam muitas razões de contexto familiar e de trabalho, algumas muito válidas,
mas, acima de tudo, pensam que já não conseguem aprender, e que, para a sua vida, já não
faria muita diferença serem alfabetizados. Ficam assim bem evidentes as barreiras
disposicionais e situacionais, mesmo quando existe ofertas de ações de alfabetização no
terreno. Por isso, o Governo deve assegurar a metodologia traçada em 2001 que é do
acesso da população adulta à educação, possibilitando-lhes a aquisição de competências técnico-
profissionais para o crescimento económico e o progresso social do meio que a rodeia, reduzindo
as disparidades existentes em matéria de educação entre a população rural e a urbana numa
perspetiva do género (Lei de Bases nº 13/01).
Relativamente aos mais jovens, estes são da opinião que devem aprender, porque só
assim, terão possibilidades de passar de agricultores de subsistência a operários. No que diz
respeito aos motivos de não terem frequentado a escola, enquanto crianças, as causas
mencionadas têm, essencialmente, a ver com a guerra civil muito prolongada e as suas
consequências ao nível familiar, social e de pobreza absoluta, que não permitia mais do que
lutar pela subsistência fisiológica. Muitos dos mais novos, ou não frequentaram a escola ou
se a frequentaram foi por pouco tempo, não obtendo qualquer certificação formal,
essencialmente devido à pobreza.
Este estudo, e os seus resultados, evidenciam a necessidade de uma ação muito robusta
e, essencialmente, muito bem sistematizada com a alocação de meios financeiros e humanos,
para poder dar resposta às necessidades mínimas de funcionamento das unidades escolares,
que possam garantir o ensino nas zonas rurais, neste caso, na província de Huíla, de acordo
com o que a Constituição de Angola determina, relativamente ao ensino no País.
No que diz respeito aos resultados obtidos do projeto, pode dizer-se que foram alcançados,
tanto o objetivo geral como os objetivos específicos propostos. O estudo intensivo que se
escolheu para esta dissertação, proporcionou vantagens mormente no acesso de forma direta
à experiência dos indivíduos entrevistados. Obteve-se conteúdos ricos em pormenor e em
narrações. Esta técnica possibilitou perceber bem o estudo em causa, houve muita abertura
nas questões respondidas pelo público-alvo, portanto, permitiu grande interação entre o
37
entrevistador e o entrevistado, embora com algumas limitações, de entre as quais se destaca
o universo restrito dos indivíduos em estudo. Esta situação não permite, estatisticamente,
fazer extrapolações mais extensivas, tanto para os indivíduos como para os territórios. Outra
limitação, consiste em não haver equidade numérica entre os indivíduos do sexo feminino e
do sexo masculino questionados, porque os homens se recusam serem entrevistados e
acham humilhante apresentar-se na fase adulta como os que não sabem ler nem escrever
(analfabetos), o que não permite tirar qualquer ilação relativamente às diferenças
fundamentais das opiniões e vivências entre sexos.
Na realização de investigação deste trabalho, houve algumas dificuldades que tentaram
ofuscar o caminho traçado, contudo, foram superadas. Trata-se do acesso para se chegar ao
local de investigação. Não foi uma tarefa fácil, porquanto, a estrada encontra-se muito
degradada, foi preciso fazer muito tempo de viagem para se chegar à área de investigação.
A outra dimensão constrangedora desta investigação prende-se com a mobilização dos
inquiridos, devido às suas ocupações do dia-a-dia, não foi possível realizar o pretendido no
tempo certo, procurou-se passar por caminhos tortuosos ir às aldeias dos visados e esperar
até que voltassem das suas atividades laborais. Para que aceitassem a proposta das
entrevistas, primou-se pela explanação daquilo que seria o conteúdo das entrevistas e
consequentemente daquilo que seriam os benefícios sobre a contribuição da reflexão do
fenómeno em causa. E esclareceu-se que a contribuição dos visados sobre o assunto
desempenharia um papel importantíssimo por ser um contributo valioso e por ter exemplos
concretos daquilo que é a realidade no mundo rural do Cola sobre a situação da alfabetização
na fase adulta. Também se salienta o outro aspeto constrangedor que é o de fazer
investigação numa área sem internet, sem estradas aceitáveis e sem transporte público. É
uma experiência que fica na nossa história como estudantes do Mestrado e que é muito
valiosa. A nossa estada na área de investigação com o tempo compreendido em quase dois
meses, criou proximidade e familiaridade com o público-alvo apesar de que já éramos
conhecidos.
Para instar o pessoal entrevistado, procurou-se falar com o Pároco da Missão Católica do
Cola, com a Administradora Comunal e com outro pessoal da zona, que de certa maneira,
facilitaram a interação com o público-alvo. O contacto com essas entidades e pessoal da zona,
também foi complicadíssimo, visto que, a área não tem rede de comunicação telefónica. Usou-
se o pedido por escrito em documento físico que foi enviado ao pessoal supracitado e estes
fizeram todas as diligências de solicitar o público-alvo que ouvindo a solicitação respondeu
positivamente.
O tema escolhido de alfabetização de adultos no mundo rural, tem se debatido várias vezes
em Angola, como suporte para o desenvolvimento sustentável da sociedade, porém, esses
debates são desconhecidos na sua maioria por aqueles que mais os precisam (pessoas do
38
mundo rural). Tal é assim que foi difícil falar do tema porque, para o mundo rural, o ato de
estudar é associado à fase inicial da vida (infância), porque a fase adulta acarreta consigo
muitos constrangimentos. Os incentivadores da alfabetização (Governo, Igrejas e
Organizações não Governamentais), nem sempre chegam às zonas mais recônditas do país.
Desta feita, a realidade do fenómeno do analfabetismo que retarda o desenvolvimento para
as suas vidas é menos conhecida.
O trabalho foi elaborado com o rigor possível, e mesmo com algumas limitações, espera-
se que possa contribuir para futuros trabalhos, na área da educação e combate ao
analfabetismo, com maior incidência nas zonas rurais de Angola, especialmente na província
de Huíla, para bem da libertação intelectual dos cidadãos, para o seu desenvolvimento e bem-
estar, vivendo com a dignidade a que têm direito. Conhecendo o povo da área, onde o estudo
foi realizado, assim como, as circunstâncias das suas vivências, sugeria-se que o Ministério
de Educação, em colaboração com o Ministério da Saúde, construíssem pequenas estruturas
físicas, onde pudessem funcionar salas de aula, com um pequeno gabinete de enfermagem,
onde, pelo menos, duas vezes por semana, os habitantes dos aglomerados circundantes,
assim como, os alunos pudessem dispor de um serviço de enfermagem que providenciasse
assistência na saúde e também sanitária. Talvez fosse uma estratégia que, além de muito útil,
seria mobilizadora e atrativa para sensibilizar os jovens no processo da educação de adultos.
Também poderia ser apelativo que os jovens analfabetos pudessem ser contemplados, com
uma pequena ajuda financeira, enquanto frequentassem as aulas de alfabetização. É dever
institucional e moral, do governo Angolano, proporcionar os meios técnicos e financeiros
adequados, para garantir aos seus cidadãos a educação e a boa saúde a que têm direito. É
da mais elementar justiça que não sejam esquecidas as populações rurais, muitas vezes
deixadas ao abandono, depois de lhes ter sido destruído quase tudo, incluindo a morte de
muitos dos seus familiares e amigos, atirando-os para a pobreza.
Espera-se que a leitura deste trabalho vá ao encontro das expetativas daqueles que se
dedicam à investigação e possa ser um contributo incentivando a prosseguir o estudo dos
comportamentos sociais e educativos, especialmente, dos povos que vivem nas periferias
urbanas e dos grandes interesses de quem os governa.
39
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FONTES LEGISLATIVAS
42
ANEXOS
A
43
- De que modo percecionam a importância da alfabetização e da literacia para a sua vida
pessoal, social e profissional e ainda para a família.
- Perceber se têm participado em processos de alfabetização (na vida adulta) e, se não
participam, saber o porquê.
Desta feita, peço encarecidamente que me responda as questões que te vou colocar com
maior rigor possível e dizer que existe confidencialidade nos dados que são recolhidos.
44B
a) Questão para Direção da Escola Missionária do Cola
- Qual é o vosso parecer sobre a questão de alfabetização de adultos?
- Há quantos anos existe o projeto?
- A quem se dirige?
- Quantas pessoas participam atualmente?
- Quantos formadores integram o projeto?
- Quais as principais dificuldades?
D 45
Anexo III
1. Idade
1. A esta questão, maior parte dos inquiridos, sabe as suas idades. E estas idades são
compreendidas entre os vinte e nove e os sessenta e três anos.
2.Sexo
2. Dos entrevistados sete são do sexo feminino e três são do sexo masculino.
3. Estado civil
3. Dos inquiridos seis são solteiros e quatro são casados.
4. Se tem filhos
4.Dos entrevistados maior parte tem filhos. A-3, B-4, C-10, D-0, E-8, F-8, G-7, H-9, I-6, J-2.
5. Número de filhos
5. Cinquenta e nove filhos. O número é diversificado entre as famílias. A família mais extensa
tem dez filhos e a menos extensa tem dois filhos.
6. Profissão
6. Relativamente às profissões, maior parte dedica-se ao trabalho da agricultura,
excetuando uma lavadeira, sendo que esta também trabalha na agricultura.
7. Porque nunca frequentou a escola enquanto criança
7. Muitos dos inquiridos nunca frequentaram a escola enquanto criança e alguns que
frequentaram foi por pouco tempo, não conseguindo aprender a ler e a escrever.
8. Alguém da sua família frequentou a escola enquanto criança
8. Nesta questão muitos responderam que tem na família pessoas alfabetizadas e
poucos que não têm qualquer elemento.
9. Para si qual a importância da alfabetização
9. Nesta questão. Muitos responderam que é muito importante e poucos dizem ser
indiferentes porque para o trabalho agrícola não interessa saber ler ou escrever. O que
interessa é o trabalho.
10. Já tentou frequentar a escola para adultos
10. Nesta questão metade disse que nunca tentou entrar na escola por causa do trabalho
agrícola e de tratar dos filhos. E outra metade dos inquiridos disse que já tentou frequentar a
escola, mas houve desistências por falta de condições e, outros sublinham a questão da
assimilação que era muito difícil.
11. O que o impediu de aprender a ler e a escrever em criança
46 F
11. Nesta questão a maioria respondeu que os pais eram demasiado pobres, não os
podiam ajudar e começaram a trabalhar muito novos para ajudar os pais e os irmãos mais
novos. Também todos mencionaram que a guerra também os impedia de frequentar a escola.
12. O que pensa sobre a alfabetização
12. Nesta questão muitos dizem que é muito importante e poucos dizem não ser
importante. Os que dizem ser muito importante justificam dizendo que a alfabetização os podia
tirar da pobreza e a comunicar melhor com os outros.
13. Se tem filhos que relação tem com a escola que os seus filhos frequentam
13. A maioria respondeu que gosta muito que os filhos andem na escola e aprendam.
Dizem que incentivam os filhos a estudar para terem uma vida melhor que eles tiveram.
Também afirmam, uma vez que são analfabetos ao menos que os seus filhos o não sejam.
14. Acha que a alfabetização contribui para o desenvolvimento da sociedade
14. A este objetivo todos responderam que o processo de alfabetização, se tiver sucesso,
será muito importante para o desenvolvimento das comunidades por permitir uma melhor
comunicação e informação das orientações das municipalidades.
15. O analfabetismo constitui um problema na sua vida diária
15. A esta questão muitos responderam que faz muito transtorno não saber ler nem
escrever uma pequena carta para os familiares e amigos que vivem noutras terras. E poucos
responderam que não faz diferença.
16. Se sim, exponha os problemas
16. Nesta questão muitos disseram que lhe faz muita diferença na vida porque estão muito
limitados na sua comunicação. Alguns dizem também que lhe causa uma grande tristeza e
que agora já é muito tarde para aprender com as condições de pobreza que têm. 10% dizem
que não lhes faz grande diferença e que não se sentem motivados a aprender por já serem
velhos. Alguns referem também que sentem uma grande tristeza e vergonha, perante os
filhos.
Sistematização da informação recolhida e conclusões
Alfabetizados
1. Idade e sexo
1.Relativamente ao objetivo da questão número um, saber a idade e o sexo dos cinco
indivíduos inquiridos, três são do sexo feminino, e dois do sexo masculino. As suas idades
estão compreendidas entre os quarenta e três e sessenta e dois anos.
2. Profissão
2.No que diz respeito às profissões, três trabalham na agricultura, uma em limpeza e a outra
é cozinheira.
3. Tem filhos
47
G
3. Quanto aos filhos, todos os questionados têm filhos distribuídos de A para E, do
seguinte modo, A – 7, B – 4, C - 6, D – 7 e E – 8. Na totalidade o número de filhos dos
indivíduos entrevistados é de 32.
4. 4. Porque não frequentou a escola enquanto criança
A esta questão todos responderam que foi por causa da guerra e da pobreza que os impediu
de ir à escola enquanto crianças.
5. Alguém da família frequentou a escola enquanto criança
5.A esta questão todos responderam que têm alguém na família que frequentou a escola
enquanto criança.
6. Aldeia onde vive
6. Relativamente às aldeias onde vivem, dois responderam que vivem na mesma aldeia
e os outros três em aldeias vizinha diferentes, mas todos do mesmo município.
7. Estado civil
7. No que se refere ao estado civil dos entrevistados, 4 são casados, e um solteiro.
8. A importância da alfabetização na tua vida
Todos os entrevistados dizem que a alfabetização teve uma grande importância na
sua vida já que se sentem mais respeitados, comunicam melhor com os filhos e com
os amigos e familiares, que vivem à distância, escrevendo cartas e missivas. Facilitou
o emprego para alguns. Já podem ler nos livros dos filhos, enviar missivas para os
professores, e ler o que os professores lhes enviam. Todos concordam que a
alfabetização eleva o estatuto da pessoa na família e na comunidade.
9. Porque entrou no projeto de alfabetização
9.A esta questão todos responderam que foi pela necessidade que sentiam de aprender a ler
e a escrever.
10.Quem o incentivou a entrar no projeto
10. Nesta pergunta dois responderam que foi por iniciativa própria, dois por influência da
família e amigos e um por influência dos senhores padres.
11. Como soube da existência do projeto de alfabetização
11. Nesta questão todos responderam que foi através da Igreja, Missão de Cola, e, também,
e pela feita pelo governo provincial.
12.A sua alfabetização tem ajudado na vida do dia a dia a ler, escrever e a interpretar a
leitura.
12. Nesta questão todos responderam que sim, tanto a nível das relações da
comunicação como a nível pessoal. Alguns respondem que se sentem como outras pessoas
“pareço outra pessoa”
13.Em que situações e com que frequência lê e escreve
48
H
13. A esta questão quatro responderam que leem na Igreja, fazendo a leitura das
Sagradas Escrituras, escrevem cartas para os seus familiares que vivem em outras terras,
leem livros de alfabetização e ensinam os seus filhos e familiares a ler.
14.Que tipo de leitura ou documentos costuma ler ou escrever
14. Nesta questão quatro responderam que leem livros da Igreja, a Bíblia, Salmos,
Catecismo e livros de alfabetização. Um responde que lê livros de alfabetização e os livros
dos filhos.
15.Tem sido difícil estudar na fase adulta. Quais são as maiores dificuldades
15. A esta questão todos responderam que foi muito difícil porque a vida da casa, a
agricultura, a pastorícia, a alimentação e o vestuário dos filhos, as doenças nos agregados
familiares tornam a vida muito difícil para se poder frequentar a escola de adultos.
16.Os teus amigos e familiares são a favor da alfabetização
16. A esta questão todos responderam que uns são a favor outros não. Os que dizem ser
a favor consideram que a alfabetização é um bom projeto. Os que dizem que não argumentam
que já são muito velhos para aprender e que as crianças é que devem ser instruídos.
17.Os teus filhos incentivam-te a estudar
17. A esta questão todos responderam que os filhos gostariam que eles aprendessem
mais. Alguns dizem que os filhos ficam muito contentes quando eles leem nos seus livros.
18. Incentivas os teus filhos a estudar. Se sim, diz como
18. A esta questão todos responderam que incentivam os filhos no que podem, ora dando
exemplos ora falando-lhes sobre o futuro. Alguns referem que falam com os filhos sobre as
vantagens de estudarem.
19. Qual a tua opinião sobre aqueles que não se querem instruir
19. A esta questão todos responderam que deveriam fazer um esforço para aprenderem,
pelo menos a ler e a escrever para os libertar da pobreza do analfabetismo. A aprendizagem,
segundo os inquiridos torna os indivíduos mais respeitados e felizes.
20. Quais os pontos fortes e fracos do projeto de alfabetização
20. A esta questão todos concordam que a alfabetização contribui para a valorização
individual e coletiva das comunidades. Segundo outros a alfabetização liberta as pessoas da
cegueira do analfabetismo. Também todos concordam que a alfabetização pode contribuir
muito para o desenvolvimento das populações. Também afirmam que, dada a pobreza em
que a maior parte das famílias vive, a sua dispersão e isolamento, a falta de informação do
governo, assim como, a não existência de apoios financeiros torna difícil a adesão ao projeto
de alfabetização. Este facto leva a que muitos se inscrevam e facilmente desistem por se
sentirem muito perdidos na comunicação.
3.4. Descrição das entrevistas com a Missão, formadores e o Município
I
49
O responsável da Missão pela educação de adultos, ao ser questionado acerca da sua
opinião, relativamente à alfabetização de adultos, respondeu que é indispensável que se
acelere todo o processo para que seja possível elevar o nível de escolarização, do mundo
rural de Angola e, particularmente, na zona onde se situa a Missão. Continua a afirmar que a
escola missionária tem uma grande preocupação com a formação integral do homem e que
tudo fará, em parceria com o Estado para alfabetizar, por meio da escola de adultos, o maior
número de cidadãos possível, dentro das suas possibilidades físicas, académicas, humanas
e monetárias.
A formação tem sido sempre uma grande preocupação da Missão. A Missão já está
envolvida no processo de educação de adultos, alfabetização, desde 2007 a cidadãos que
vivem na área geográfica onde esta se situa. O projeto da Missão conta com quatro
formadores que, ao serem questionados sobre as dificuldades de implementação do projeto,
argumentam que é difícil aliciar os cidadãos a frequentar a escola de adultos, porque estes
vivem num ambiente de grande pobreza, dado que vivem da agricultura de subsistência e
com a responsabilidade de alimentar um elevado número de filhos. Afirmam que existe um
fraco envolvimento do Estado na mobilização comunitária para a alfabetização. Não existe
ajudas do Estado. Os professores faltam e não estão motivados por terem salários muito
baixos, não na Missão, mas em geral. Os formadores são da opinião que a Província de Huila
é uma das que tem mais analfabetos e, ter-se-á de reverter esta situação, o mais rápido
possível. Todos os formadores questionados dizem que gostam de formar adultos, contudo,
referem que é mais fácil ensinar as crianças. No entanto, uns referem que quando se
encontram adultos motivados também gostam muito de os ensinar porque esses estão
decididos a aprender e não brincam nas aulas.
Relativamente ao questionário feito à Direção Municipal de Educação, quanto à estratégia
de sensibilização para minimizar o analfabetismo na fase adulta, na sua jurisdição, respondem
com uma infinidade de itens do que já fizeram e que querem continuar a fazer, para tentarem
alfabetizar o maior número de cidadãos possível. Assim, respondem que têm promovido
campanhas de sensibilização. Que pretendem sensibilizar as autoridades tradicionais,
administrativas, comissões de moradores, Igreja e autoridades locais para a solução do
problema do elevadíssimo número de analfabetos que residem na área municipal. Referem
que querem implementar uma política remuneratória para os alunos que frequentarem os
cursos. Também prometem adquirir materiais para suporte pedagógico, assim como, criarem
turmas que possam fazer as suas aprendizagens por módulos. Nesta área municipal existe
61000 alunos do pré-escolar até ao ensino médio. A percentagem de analfabetos é de 65%
da população, embora já exista muitos jovens que concluíram o ensino médio.
50J
ANEXO IV- GRELHAS
No eixo do XX estão representados, por letras de A a J os indivíduos questionados
No eixo dos YY estão representados por números de 1 a 17 as questões colocadas
As quadrículas foram preenchidas com as palavras-chave das respostas
A B C D E F G H I J
2 Masculino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino
3 Solteiro Casada Casada Solteira Solteiro Solteira Solteira Solteira Casado Casada
4 Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
5 3 filhos 10 filhos 4 filhos 0 filhos 8 filhos 10 filhos 7 filhos 9 filhos 6 filhos 2 filhos
8
Sim Sim-primos Sim primos Sim irmãos Sim família Sim Sim Ninguém Sim Sim
9
Não É muito
Tem muita Para ensinar Muito importante É Ler é important É muito
importância filhos importante trabalho É importante importante importante É importante e importante
10
Não por causa Não por causa Não por causa Tentei não Não falta
trabalho trabalho trabalho aprendi Nunca tentei Sim desisti Sim desisti Sim desisti meios Sim desisti
11 Doença
Doença falta de Falta tempo e Falta tempo e difícil Pobreza e Pobreza e Pobreza e Pobreza e Pobreza e Pobreza e
meios meios meios aprender tempo tempo tempo tempo tempo tempo
13 Gosto de
Não tem acompanhar Incentiva os Incentiva Incentiva os Incentiva Incentiva os
Boa relação Gosto muito Gosto muito filhos filhos filhos os filhos filhos os filhos filhos
16
Faz muita Tristeza e Não Sim não sei Frustração Sim não
Não consigo ler Faz muita falta falta Não vergonha Muita pena consigo ler votar e triste consigo ler
17 Amigas-
Vizinhos Amigos Amigas Igreja Amigos Amigos Vizinhos Igreja Amigas-Igreja Vizinhos Amigos
51
L
Explicação da metodologia utilizada na elaboração desta grelha
A B C D E
3 7 4 6 7 8
8 Muito Muito Muito importante Muito importante Muito importante, eleva a pessoa
importante importante facilita facilita
facilita facilita comunicação comunicação
comunicação comunicação ensinar os filhos
9 P/a aprender a P/a aprender Porque queria P/a aprender a ler P/a aprender a ler e a escrever e combater a pobreza
ler e a escrever a ler e a saber ler e escrever e a escrever
escrever cartas
10 Foi por minha Foram os Minha mulher e Amigas e irmão Vontade própria, necessidade e vergonha
iniciativa senhores amigos
padres
11 Através da Através da Através da Missão Através da Igreja Através governo província e Missão
Igreja e amigos Igreja de Cola e amigas
12 Tem ajudado Tem ajudado Tem ajudado muito Ajudado. Sou Escrevo e leio pareço outra pessoa
muito vida muito vida vida outra pessoa.
Escrevo e leio
Igreja
13 Faço leituras Na Igreja. Na Na Igreja e escola Leio na Igreja, Comunico com os amigos por carta, amigos, familiares
em Igreja, leio escola ensino de alfabetização ensino os meus
escrevo cartas criança filhos
14 Catecismo, Livro de Livros da Igreja e de Catecismo, Bíblia Livros de alfabetização e livros dos filhos
livros e Bíblia Salmos e alfabetização e de alfabetização
Bíblia
52
M
15 Difícil por causa Difícil por Difícil trabalho Difícil, doenças, Difícil trabalho dia a dia e filhos
do trabalho e doenças, cuidar dos filhos e óbitos e trabalho
dos filhos trabalho, animais
óbitos de
familiares
16 Alguns sim, Alguns sim, Alguns sim, outros Alguns sim, Alguns sim, outros não, escola p/a crianças
outros não, outros não, não, escola p/a outros não,
escola p/a escola p/a crianças escola p/a
crianças crianças crianças
17 Sim, bastante Sim, bastante Sim, bastante Sim, querem que Sim, querem que estude mais
estude mais
18 Muito, porque Incentivo Incentivo e digo as Incentivo e dou Incentivo, senão são sempre pobres
assim pode ter para vantagens exemplos
melhor vida progredir
19 Estudar p/a se Estudar p/a Estudar mais p/a se Estudar mais, ter Sim p/a experimentar alfabetização
valorizarem se sentirem melhor mais respeito
valorizarem
20 Fortes porque Fortes, Forte-Saber ler e Forte-Saber tira Forte - Valoriza pessoa Fraco - Mais informação e ajuda, governo
muitos conseguem escrever - fraco- cegueira fraco -
aprendem, ler e escrever Língua Portuguesa desistência L.P.
fracos, na igreja, desistências
desistência e fracos a
Língua língua falta e
Portuguesa falta de
professores
N
53
O