Estudo Mulheres Empreendedoras

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Estudo: Acesso a

capital para mulheres


empreendedoras
brasileiras

Realização: Apoio:
Sumário
1. Introdução 2

2. Estrutura do estudo 5

3. Mapa de iniciativas de acesso a


capital para mulheres 9

4. Comparativo entre iniciativas em geral


e de acesso exclusivo para mulheres 13

5. Potenciais soluções – recomendações 16

6. Referências 19

7. Informações 20
1. Introdução
Motivação e escopo

Mulheres são mais de 50% das empresárias


ou empreendedoras brasileiras.

O empreendedorismo feminino é importante para


a sociedade e para o bem-estar das famílias.

Mulheres encontram barreiras para acesso a capital.

Estas três afirmações são consenso entre pessoas e organizações ligadas ao


empreendedorismo. São fatos confirmados por pesquisas e estudos no Brasil e no
Mundo. Dada a relevância do acesso a capital para o desenvolvimento de negócios,
nos propusemos a entender as especificidades desse mercado, mapear iniciativas
brasileiras e internacionais para responder à pergunta: mulheres precisam de
instrumentos exclusivos de acesso a capital?

Empresas são organizações complexas, que, independentemente de seu tamanho,


precisam de diferentes recursos para seu funcionamento, se manterem existindo,
crescer e serem rentáveis ao longo do tempo. Entre todos esses elementos, há dois
que, em nossa visão, são fundamentais para todos os negócios: Pessoas e Capital.
Empresas são criadas e geridas por pessoas ao redor do capital que produz por
suas receitas e do que demanda via investimento para seu crescimento. O acesso a
capital é um dos fatores-chave para o crescimento dos negócios, geração de
emprego e renda e de valor para os países.

Ao definirmos a centralidade de pessoas e capital, estamos também considerando


que existe uma interconexão entre eles, com um elemento afetando o outro.
Pessoas são diversas, tem gênero, raça, formação, conhecimentos e uma série de
características que facilitam ou dificultam o ato de empreender. Na relação com
acesso a capital isso também se mostra, nem todos conseguem crédito ou
investimento da mesma forma.

A estrutura do estudo aborda a compreensão do financiamento ao


empreendedorismo brasileiro, pesquisando a existência de uma lacuna no acesso a
capital por mulheres empreendedoras tanto no campo teórico como no da
realidade, efetuando um mapeamento exploratório de iniciativas no Brasil para
diferentes tipos e portes de negócios liderados por mulheres. Olhamos também
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para possibilidades e boas práticas em âmbito mundial para finalizarmos com
alguns caminhos potenciais para o Brasil, pensando em políticas públicas e em
organizações privadas.

O acesso a capital para empresas e empreendedores se apresenta em vários


formatos, este estudo irá concentrar-se em acesso a crédito. A escolha foi
efetuada tanto pela disponibilidade de dados, como pela amplitude no uso pelas
empresas brasileiras. Este foco não significa que este formato tenha maior
relevância para os negócios e pretendemos expandir o estudo para abarcar outras
modalidades de financiamento.

O Estudo e Mapeamento de Acesso a Capital para Mulheres foi desenvolvido a


partir de pesquisa com abordagens qualitativas (entrevistas) e quantitativas
(questionários e pesquisas na internet) visando dar visibilidade e efetuar análises
de fontes de acesso a capital para mulheres empreendedoras no Brasil. O
levantamento de dados foi efetuado entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, por
encomenda para a Rede Mulher Empreendedora.

Agradecemos a generosidade de tempo e


compartilhamento de percepções e conhecimentos
das pessoas entrevistadas para estudo:

Alessandra G França, Fundadora – Banco Pérola


Claudia Valenzuela, Head in Brazil – UNOPS
Fabio Lespaubin, Diretor Executivo – Estímulo 2020
Helene Meusisse, Operations Officer – IFC
Jimena Serrano Pardo, Oficial de Inversiones – Gênero, Diversidad e Inclusión – IDB Invest
Juan Parodi, Lead Investment Officer – IDB Invest
Maira Moreno Machado, Head Microcredit, Superintendent – Itaú Unibanco
Mariane Cunha, Fundadora – Movimento Expansão
Marina Terepins, Especialista em crédito para mulheres
Sonia Regina Hess de Souza, Fundadora – Fundo Dona de Mim do Grupo Mulheres do Brasil

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2

Estrutura do estudo
A análise do financiamento para mulheres empreendedoras pode ser efetuada a
partir de duas dimensões:

Quantitativa: a partir de dados de volume de capital disponibilizados pelas diversas


organizações financeiras e investidoras segregados por gênero;

Qualitativa, considerando a percepção dos empreendedores e das empreendedoras


em sua relação com a captação de investimento ou tomada de empréstimos para
seus negócios.

Acesso a crédito
Na dimensão qualitativa, temos várias pesquisas que abordam o tema, utilizando perguntas
similares para homens e mulheres que empreendem.

Destacamos no quadro comparativo:


(1) Pesquisa Anual 2021 sobre Mulheres Empreendedoras efetuadas pelo Instituto Rede
Mulher Empreendedora
(2) Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil 8ª EDIÇÃO ANUAL (2013-2020),
Sebrae, 2020
(3) Gestão e desafios das mulheres empreendedoras, Sistema CNDL e Sebrae, 2022
(4) Sondagem das Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas
(FGV), 2021

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EM RELAÇÃO A CRÉDITO MULHERES GERAL

Solicitou crédito, mas Pesquisa IRME 2021 Pesquisa Sebrae 2020


teve seu pedido negado? 42% 40%

Pesquisa Sistema CNDL Sondagem Sebrae


Acha difícil conseguir
– Sebrae – 2022 – FGV 2021
crédito para sua empresa?
55% 33%

Pretende tomar crédito Pesquisa Sistema CNDL


para a empresa nos – Sebrae – 2022
próximos 6 meses? 16%

Principais dificuldades Pesquisa IRME 2021


ou desafios Venda de produtos e serviços
Acesso a recursos financeiros e
crédito

Pesquisa Sistema CNDL


– Sebrae – 2022
Capital de giro/acesso a crédito
Crises Econômicas
Vendas

Na dimensão quantitativa, existe um enorme desafio em encontrar dados segmentados


relativos ao volume de capital, pois a maioria das informações existentes são relativas a
operações de microcrédito. Outras modalidades de crédito ou não efetuam o levantamento
por gênero ou não o divulgam.

O estudo Diferenças no acesso e uso de serviços financeiros entre homens e mulheres,


elaborado pela Cidadania Financeira – Banco Central do Brasil, mostra que tanto no acesso
à conta-corrente como no acesso ao crédito, a disparidade por gênero quase não é
presente nas menores faixas de renda e nos empréstimos de menor valor. No entanto,
apresenta assimetrias tanto para faixas de renda maiores, quanto para volume de crédito,
com homens tendo acesso a valores mais relevantes. As faixas mais altas tem,
desproporcionalmente, mais homens do que teriam em uma distribuição equivalente à
populacional. Embora o estudo faça referência à pessoa física e não à pessoa jurídica, é um
dado relevante, pois, no caso das micro e pequenas empresas, muitas vezes a figura da
pessoa física do empreendedor se confunde com a da pessoa jurídica para fins financeiros.
Além disso, para outros extratos de negócios, diversos estudos com as mesmas
tendências, assim como no estudo do mesmo agente em 2021 (Relatório de Cidadania
Financeira).

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Reprodução de gráficos da página 92 e 93 do Relatório de Cidadania Financeira

PARA REFLETIR
Os dados indicam que a disparidade por gênero se torna
significativa em maiores faixas de renda e no total da
carteira de crédito.

Haveria uma correlação entre a percepção de que mulheres


são menos ousadas nos negócios e, portanto, tem empresas
menores e valor mais baixo quando acessam crédito?

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"As instituições financeiras e os
bancos não precisam
necessariamente mudar seus
produtos para atender melhor as
" Pesquisas mostram que as mulheres; o que precisam é mudar
mulheres são clientes leais e que a formar de fazer esses produtos
precisam de informações completas chegarem até as mulheres através
para decidir tomar crédito para seus de uma abordagem comercial
negócios. A construção de diferenciada que considere o ciclo
estratégias apropriadas para o de vida da mulher, sua dupla
atendimento e apoio a mulheres jornada, suas características, e que
empreendedoras representa uma inclui escuta ativa, venda
enorme oportunidade para as consultiva e apoio técnico ao
instituições financeiras." negócio dela por parte dos bancos.
Consequentemente, as mulheres
Jimena Serrano Pardo, Oficial de se sentirão mais empoderadas para
Gênero, Diversidad e Inclusión – buscar e negociar o crédito que
IDB Invest elas precisam, e por sua vez, o
crédito concedido se tornará mais
impactante e transformador para as
empreendedoras e seus negócios.
Isso é chave para aumentar a
concessão de crédito para
empresas lideradas por mulheres."

Helene Meusisse, Operations Officer


– IFC

" Quando falamos de acesso a


capital, a discussão de gênero
ainda está mascarada por outros
temas. É fundamental o
desenvolvimento de ações
específicas que apoiem o
desenvolvimento do
empreendedorismo feminino e
das minorias."

Claudia Valenzuela, Diretora e


Representante do UNOPS no Brasil

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Mapa de iniciativas de acesso


a capital para mulheres
O mapeamento de iniciativas que disponibilizam capital específico para mulheres
empreendedoras brasileiras contribui para o entendimento de duas questões
fundamentais do tema:

1 – Qual a distribuição do capital nos Estados e Regiões do país?


2 – Em quais perfis de público e negócio existem iniciativas?

Além dos objetivos próprios deste estudo, o mapa é uma ferramenta de apoio às
empreendedoras, facilitando a busca de capital ao dar visibilidade e apresentar
diferentes possibilidades por estágio e geografia. Capital para mulheres em
vulnerabilidade é distinto de capital para startups, e um negócio presente na região
norte dificilmente conseguirá crédito de uma instituição que só está presente na Região
Sul, por exemplo.

A metodologia para a construção da 1ª versão do mapa de acesso a capital se


estruturou a partir da coleta de informações efetuada por pesquisa primária de dados na
internet e pesquisa de dados secundária, como informações divulgadas pela mídia e
relatórios gerados por diferentes organizações públicas e privadas. Também efetuamos
a aplicação de chamada às organizações divulgada pela RME em suas mídias sociais. As
entrevistas, semiestruturadas efetuadas para análise, foram fonte relevante de
indicação das organizações presentes no mapa.

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Os critérios para inclusão de um projeto no mapa foram:

- Atuação no território brasileiro;


- Ter um programa ou linha de acesso a crédito 100% dedicado para mulheres
empreendedoras;
- Disponibilizar diretamente capital para empreendedoras via crédito ou participação
acionária (Equity);
- Canal de comunicação operando por site ou redes sociais;
- Com ações ativas em 2022, no momento de realização da pesquisa.

O mapa não pode ser considerado uma listagem completa de opções de acesso a
capital, nem uma validação ou recomendação de qualquer programa, visto que não
foram efetuadas avaliações de qualidade ou pertinência deles. Deve ser considerado um
levantamento exploratório, a ser complementado.

Onde estão?
As 44 organizações listadas no mapa encontram-se em 16 estados brasileiros,
abarcando todas as regiões do país.

A única região que tem iniciativas em todos os seus Estados é o Sudeste. A cobertura
das demais regiões encontra-se entre 67% na região Sul e 43% na região Norte.

Os estados sem organizações listadas são Acre, Amapá, Bahia, Maranhão, Mato Grosso
do Sul, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe, além do Distrito
Federal.

Centro-Oeste
4%
Norte
13% Nordeste
26%

PRESENÇA
EM TODOS
OS ESTADOS?

Sudeste
35%
Sul
12%

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Quais os tipos de organizações?
Entre as iniciativas levantadas, temos 24 lideradas por organizações públicas e 20 por
organizações privadas.

A grande maioria das iniciativas tem como foco a concessão de crédito, com apenas
14% oferecendo capital via participação acionária nas empresas investidas e 7%
oferecem fundos não reembolsáveis para mulheres empreendedoras.

Capital de fomento 1
Cartão de crédito 0
Crowdfunding 1
Edital 2
Emprestimo/financiamento 26
Incubadoras e aceleradoras 0
Microcrédito 9
Crédito Pessoal 0
Venture Capital 5

Em que estágio?
A categorização do estágio ou porte das empresas atendidas pelas iniciativas é
desafiadora, visto que os critérios de participação nos programas não seguem
exatamente a classificação em microempresa, empresa de pequeno médio ou grande
porte.

De toda forma, vemos que uma parte expressiva das iniciativas se descreve como
operações de microcrédito, com valores de empréstimo entre R$ 1 mil e R$ 25 mil.

Informal
2%
Média Empresa
5%
Microempresa
Pequena 59%
Empresa
34%

Grande Empresa 0%
Startup 0%

ESTÁGIO / PORTE

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A participação por porte de empresa, na carteira de empréstimos para Pessoa Jurídica no
Brasil, traz uma distribuição distinta da que vemos em nosso levantamento de produtos
direcionados para empreendedoras.

O estudo Desempenho do Crédito para as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) na Pandemia


efetuado pela FEBRABAN mostra que em 2021, 5,3% da carteira de crédito era destinada a
Micro Empresas, 14,4% para pequenas empresas e 26,6% para empresas de porte médio.

Embora nosso estudo não seja exaustivo, vemos uma desproporção significativa, com mais de
60% das iniciativas mapeadas sendo destinadas ao microcrédito.

Ou seja, quando comparamos a participação na carteira de financiamento de pessoas


jurídicas em geral, pelas entidades bancárias brasileiras, vemos que, no caso de empréstimos
para mulheres, os valores são direcionados para empresas muito pequenas. Entendemos que
seria interessante efetuar um estudo aprofundado para explorar a conexão destes dados com
as metodologias de análise de score de crédito e com o setor de atuação dos negócios.
Sabemos que mulheres tendem a empreender nos setores de serviços, que, em geral,
oferecem menos garantias reais para empréstimos, sendo sujeitas a percepção de menor
potencial de crescimento.

Crédito Crowdfunding Capital de fomento


BR - Itaú Mulher Empreendedora BR – Wishe BR - Elas Fundo de Investimento Social
BR - Caixa para elas
BR - Fundo Agbara
BR - Banco Daycoval
SP - Bolsa Empreendedor
BR - Estimulo 2020
BR - PRONAMPE
BR - Brasil para elas
Microcrédito
Mapa de
BR - PRONAF Mulher
BR - Sicredi - Linha Mulheres Empreendedoras

iniciativas
BR - Movimento Black Money BR - Fundo Dona de Mim
Nordeste - CrediAmigo Delas BR - Sicredi Campos Gerais

exclusivas
PB - Empreender Mulher RS - Microcrédito Mulher
PE - Instituto Banco Palmas PR - Banco da Mulher Paranaense
PE - Linha de credito no ambito do Retomada
PI - Fomento Mulher para mulheres MT - Desenvolve MT - Mulher Empreendedora
CE - Mulher empreendedora - Fortaleza
Sul - BRDE Empreendedoras do Sul MG - Empreendedoras de Minas
RS - Mulheres Empreendedoras
PR - Banco da Mulher Paranaense
SP - Accredito
SP - Empreenda Mulher Investimento Anjo
SP - Banco do Povo (SP) e Venture Capital
RJ - Elas em foco
ES - Linha de Crédito para Mulheres BR - Black Win
MG - Empreendedoras de Minas BR - Sororité
AM - Credito Rosa BR - We Impact
RR - Potencializando mulheres BR - We Ventures
TO - Mulher FomenTO BR - EquWOW Ventures

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4

Comparativo entre iniciativas


em geral e de acesso exclusivo
para mulheres
Um dos pontos relevantes para responder à pergunta que origina este estudo, é
entender como se comportam homens e mulheres em seu relacionamento com
instituições de crédito com linhas exclusivas para mulheres e instituições que oferecem
crédito para empreendedores independentemente de seu gênero. O mapa nos mostrou
que ainda são poucas as iniciativas de acesso a capital exclusivas para mulheres, com a
maioria das empresas tendo que buscar financiamento em programas não específicos.

A análise de casos reais nos permite complementar os estudos teóricos e examinar


situações concretas. Podemos assim entender melhor as nuances e as complexidades
do tema, assim como identificar fatores relevantes para a proposição de instrumentos
de crédito que considerem as diferenças de gênero. Os exemplos práticos ilustram
conceitos teóricos e dados estatísticos de forma mais direta e acessível.

O Banco Perola é uma associação de crédito que leva recursos para pessoas com
dificuldade de acesso a capital, no sistema financeiro tradicional, e queiram montar seu
negócio. Criado em 2009 por Alessandra França como um negócio social, inclui apoio e
educação financeira para que a captação e uso de recursos pelos empreendedores seja
mais eficaz e sustentável. O Perola opera diferentes instrumentos de crédito, a maioria
sem distinção de gênero entre os empreendedores. Em 2020, começou a gerir o Dona
de Mim, um fundo de crédito idealizado por mulheres do Grupo Mulheres do Brasil com
o objetivo único de impulsionar microempreendedoras individuais (MEI) especialmente
impactadas pela crise econômica e social provocada pela pandemia do vírus covid-19.
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Embora ainda seja prematuro efetuar uma análise estatística de resultados e indicadores
entre os fundos gerais e o fundo específico para mulheres, a soma dos dois anos de
operação do Dona de Mim aliados aos quase quinze anos operando com microcrédito
para empreendedores traz uma série de percepções em relação a diferenças entre
homens e mulheres na lida com a tomada de crédito.

Mulheres solicitam Muitas A falta de cidadania


crédito em número empreendedoras, ou digital e financeira
igual ou superior ao aspirantes a ter seu básica faz com que
dos homens, mas próprio negócio, não seu score de crédito
tendem a abandonar estão incluídas no seja pior e que
mais o processo sistema financeiro ou recebam menos
quando entendem os no mundo digital, não crédito que os
requisitos e a tem conta-corrente ou homens.
documentação e-mail próprio;
necessária;

Iniciativas como o Fundo Dona de Mim tendem a mitigar esses problemas, apoiando em
todo o processo, mas trazendo com isso um custo de operação maior. Outra percepção
na operação do Perola é que, quanto maior e mais estruturado é o instrumento de
crédito, mais este é buscado e obtido por homens.

O Estímulo 2020 é um fundo social que oferece apoio financeiro e capacitação para
pequenos empreendedores. Também nasceu durante a pandemia do covid, em maio de
2020, e, assim como o Fundo Dona de Mim, se mantem ativo e com o propósito de
perenidade como opção de crédito para negócios. A oferta é efetuada indistintamente
para empreendedores e empreendedoras, possibilitando a análise de comportamentos
de tomada de crédito e da jornada da empresa pós-acesso ao capital segregadas por
gênero ao longo dos próximos anos. Mais de 53% das empresas impactadas pelo
Estímulo tem participação feminina, com quase 23% sendo exclusivamente lideradas por
empreendedoras. O que já aparece é uma diferença na taxa de inadimplência menor
entre as mulheres, em média 7,4% para homens e 6% para empresas com participação
feminina, em todos os perfis de crédito medidos por score. Por outro lado, a solicitação
de crédito é desproporcionalmente efetuada por homens, com as mulheres liderando
40% dos pedidos quando temos 53% das empresas com participação feminina.

As percepções advindas dos cases estudados são consistentes com os estudos


teóricos, que analisam o gap de acesso a finanças por mulheres e ocorrem por diversas
razões, tais como:

Desigualdade salarial - mulheres ainda ganham menos que os homens em muitos


setores, o que pode afetar sua capacidade de garantir empréstimos;

14
Falta de garantias financeiras - muitas mulheres são responsáveis pela gestão
financeira da família, mas não tem propriedade de ativos que possam ser usados
como garantia para um empréstimo;

Tempo fora do mercado de trabalho - mulheres podem precisar se ausentar do


trabalho por motivos relacionados à maternidade ou cuidados com a família, o que
pode afetar negativamente sua história creditícia e sua capacidade de obter
empréstimos;

Falta de educação financeira - muitas mulheres não receberam uma educação


financeira adequada, o que pode dificultar a compreensão de como obter
empréstimos e gerenciar dívidas.

Estes pontos são consistentes com as barreiras mapeadas por Auguste e Galetto, e
citadas no estudo Caracterização das MPMEs brasileiras e os entraves do acesso ao
crédito sob a perspectiva de gênero (BID, pg 37)

Fatores institucionais – relacionados a características e incentivos existentes na


estrutura operacional das instituições financeiras;

Fatores econômico-financeiros – ligados aos tipos de negócios que mulheres


operam e utilizados na construção de scores de risco de crédito;

Fatores psicológicos- sociais – mostram as diferenças na relação de mulheres


com o sistema financeiro.

“É urgente olhar para as mulheres que estão empreendendo, o apoio e


crédito traz autonomia e independência. Além do crescimento do
negócio, contribui com a diminuição da violência contra a mulher.”
Sonia Regina Hess de Souza, fundadora do Fundo Dona de Mim
do Grupo Mulheres do Brasil

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5

Potenciais soluções
– recomendações
Os desafios para destravar o acesso a capital para mulheres são diversos. Existem
fatores institucionais, econômico-financeiros e psicológicos-sociais que precisam ser
endereçados. Diferentes momentos na jornada empreendedora demandam ênfases
distintos. Enquanto, mulheres de baixa renda ou da base da pirâmide precisam de
inclusão digital e financeira e orientação básica relativa à organização de seus negócios,
mulheres empreendedoras com negócios em crescimento podem se beneficiar de
modelos de score atualizados e que incluam novas dimensões comportamentais de
análise.

A intencionalidade de políticas de inclusão de mulheres nos diferentes meios de


financiamento necessita ser considerada fator central e definidor nas decisões de
concessão de capital. O que não significa a proposta de diminuição na sustentabilidade
das organizações, mas a reorganização de seus critérios de avaliação e compreensão
de mérito e capacidade que contemple públicos mais diversos.

Apresentamos propostas cuja implementação é viável e com grau de complexidade


intermediário e que, em nossa visão, são relevantes para aumentar o acesso de
mulheres ao financiamento de seus negócios de forma sustentável e que contribua para
o crescimento destes.

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ORGANIZAÇÕES DE FOMENTO E GOVERNOS
- USO DE CAPITAL CATALÍTICO OU FILANTROPICO:
Investimento com capital catalítico ou filantrópico em organizações da sociedade civil,
que tenham como foco a capacitação financeira e em negócios para mulheres, quando
associadas a concessão de crédito ou financiamento para mulheres em situação de
vulnerabilidade social, da base da pirâmide e em estágio inicial como empreendedoras.
A inserção de programas de apoio e capacitação diretamente no custo das
organizações financeiras não é viável e poderia levar a um aumento de taxa de juros ou
outros custos repassados diretamente as empreendedoras.

- USO DE CAPITAL CATALÍTICO E INCENTIVO AO CAPITAL FINANCEIRO


Aumento de linhas de crédito e financiamento associadas ao apoio e capacitação, que
atendam todos os perfis, segmentos e tamanhos de empresas

EMPRESAS FINANCEIRAS E FINTECHS


– CONSTRUÇÃO DE NOVOS CRITÉRIOS DE SCORE DE CRÉDITO
Modelar um novo sistema de score de crédito é um processo complexo e multifacetado
que envolve vários passos. A partir da compreensão da finalidade de um novo critério,
que contemple o comportamento das mulheres frente ao crédito, podem ser definidas
variáveis complementares às tradicionais no estabelecimento do score de crédito. As
organizações que tem concedido crédito em novas modalidades podem ser uma fonte
de dados relevante, com informações segmentadas por gênero vindas das instituições
financeiras tradicionais. O teste e validação do modelo pode usar as mesmas fontes de
dados históricos para testar sua capacidade de previsão.

- RELACIONAMENTO COM O CLIENTE


Fortalecimento de políticas de igualdade de gênero no atendimento a clientes nas
organizações e capacitação deles para a criação de relacionamento, e entendimento
das necessidades e especificidades das empreendedoras. Considerar e avaliar os
potenciais vieses de gênero no atendimento, tanto efetuado por pessoas quanto nos
automatizados.

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Um dos grandes desafios das mulheres empreendedoras é acesso a capital /
recursos financeiros o que muitas vezes é questão de vida ou morte para os
negócios. Ter um estudo como este que mostra as barreiras culturais, sociais e
sistêmicas é fundamental para mudarmos esta realidade . Importante destacar
que as mulheres já representam metade dos pequenos negócios no Brasil e são
uma força econômica e social importante, as pesquisas mostram que quando
uma mulher dá certo, ela investe em melhorar o bem estar da família, a
educação dos filhos e criam um ciclo positivo no entorno onde elas vivem.

Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME

"Se ter o seu próprio negócio não é tarefa fácil para ninguém, quando se é
mulher os desafios são ainda maiores. Para muitas mulheres, empreender é
autonomia e liberdade. Uma jornada que vai além dos ganhos financeiros. No
Brasil, o segmento bancário oferece serviços de baixa qualidade e custos
muito elevados, e isso acaba prejudicando ainda mais as mulheres, que já não
são priorizadas em políticas públicas. Ao apoiar este estudo da Rede Mulher
Empreendedora, a Cora busca compreender o caminho que as
empreendedoras brasileiras enfrentam à frente de seus negócios e reforça seu
compromisso em simplificar a vida financeira e ser a parceira de gestão das
PMEs."

Flávia Rosário, CMO da Cora

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6
Referências
Gestão e desafios das mulheres empreendedoras, Sistema CNDL e Sebrae, 2022

Rodrigo Pereira Porto, Karina Azar Barros, Flávia Carvalho de Moraes e Silva, Luciana
Portilho, Caracterização das MPMEs brasileiras e os entraves do acesso ao crédito sob a
perspectiva de gênero, BID 2022

Diferenças no acesso e uso de serviços financeiros entre homens e mulheres, Cidadania


Financeira – Banco Central do Brasil, 2018

Relatório de Cidadania Financeira 2021, Banco Central do Brasil

Desempenho do Crédito para as Micro e Pequenas Empresas ( MPEs ) na Pandemia,


Febraban, 2022

Mulheres empreendedoras pesquisa anual, Instituto Rede Mulher Empreendedora, 2021

Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil 8ª EDIÇÃO ANUAL (2013-2020), Sebrae,


2020

Estímulo 2020, Relatório de transparência 2021, maio de 2022

Hal Salzman, Signe-Mary McKernan, Nancy Pindus and Rosa Maria Castañeda, Capital
Access for Women: Profile and Analysis of U.S. Best Practice Programs, THE URBAN
INSTITUTE, 2006

BRAZIL GENDER ENTREPRENEURSHIP AND INVESTMENT REPORT, Girls who venture, 2018

Michael S. Barr, Minority and Women Entrepreneurs:Building Capital, Networks, and Skills,
2015

Understanding the Landscape: Access to Capital for Women Entrepreneurs, National


Women’s Business Council, 2018

Women Entrepreneurs and Access to Finance, IFC

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7
Informações
Maria Rita Spina Bueno
Atua em Conselhos de Organizações ligadas ao ecossistema empreendedor, como Anjos
do Brasil, Artemísia e Rede Mulher Empreendedora. Profundamente conectada aos temas
de Diversidade e Investimento de Impacto, fundou em 2013 o MIA – Mulheres Investidoras
Anjo, movimento no qual promove a maior participação feminina no investimento em
startups. É cofundadora e Conselheira do Dínamo, movimento que atua na formulação de
políticas públicas para empreendedorismo e investimento em startups, além de participar
de diversos Comitês governamentais ligados ao tema. Ministra cursos de investimento e
inovação na pós-graduação da FGV e é membro da Comissão de Startups do IBGC.

Graduada e Mestre em filosofia pela FFLCH-USP, Maria Rita possui mais de 35 anos de
anos de experiência profissional, com sua carreira tendo sido construída nas áreas de
finanças e operações de empresas familiares e como Diretora Executiva da Anjos do Brasil
por 11 anos.

Sobre a RME
Primeira e maior rede de apoio a empreendedoras do Brasil, a Rede Mulher
Empreendedora – RME existe desde 2010 e já impactou mais de 10 milhões de pessoas.
Criada pela empreendedora social, Ana Fontes, visa apoiar as mulheres na busca por
autonomia econômica e geração de renda, por meio de capacitações, conteúdo
qualificado, conexões, mentorias, acesso ao mercado via marketplace, programas de
aceleração e acesso a capital.

A RME promove eventos anuais como a Mansão das Empreendedoras e o Fórum RME;
eventos mensais como Café com Empreendedoras e Mentorias; também conta com um
programa de aceleração, o RME Acelera, cursos intensivos para quem quer empreender,
trilhas de conhecimento online e o programa RME Conecta, que faz a ponte entre negócios
de mulheres com grandes empresas para negociação e fornecimento B2B. Em 2017, Ana
Fontes resolveu ampliar seus objetivos e criou o Instituto Rede Mulher Empreendedora,
focado na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade.

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Sobre a Cora

A Cora é um banco digital criado exclusivamente para apoiar e simplificar a vida de


pequenas e médias empresas (PMEs). Ela oferece serviços bancários gratuitos e produtos
financeiros e de crédito baseados em tecnologia e desenhados especificamente para
atender as necessidades dessas companhias. A Cora reduz a burocracia e a complexidade
da gestão financeira das PMEs, permitindo que elas se concentrem em seu próprio negócio
e contribuam com o desenvolvimento econômico e social do país.

A fintech, que hoje já conta com mais de 950 mil clientes em todos os estados do Brasil, foi
criada em 2019 e é uma instituição financeira registrada pelo Banco Central do Brasil sob o
número 403. A Cora conta com a participação e apoio de alguns dos mais importantes
fundos de investimento em empresas de tecnologia do país e do mundo, incluindo Kaszek,
Ribbit Capital, GreenOaks, Tiger Global, QED e Tencent.

Sobre Lab IRME


O LAB - IRME - Laboratório de Gênero e Empreendedorismo visa fomentar de forma
estruturada estudos, debate público e políticas públicas sobre temas relacionados à
missão do Instituto RME que é a de apoiar e dar respaldo a projetos e iniciativas que
empoderem empreendedoras, garantindo independência financeira e de decisão pessoal
além de ficar responsável pela já tradicional pesquisa anual do Instituto.

Eixos de Atuação: Geração de Renda: Estudar cada vez mais como podemos contribuir
para a geração de renda para mulheres no Brasil; Empreendedorismo Feminino: Realizar
pesquisas que tragam informações sobre a situação das mulheres que lideram seus
negócios; Direito das Mulheres: Acompanhar e dar visibilidade aos direitos e garantias
respaldados por lei.

21
Elaboração: Maria Rita Spina Bueno
Colaboração: Ana Fonte e Célia Kano
Produção gráfica: Debora Oliveira

As informações desse material fazem parte do “Estudo de


acesso a crédito para mulheres”, elaborado por Maria Rita Spina
Bueno por encomenda da Rede Mulher Empreendedora.

Reprodução permitida desde que citada a fonte de origem.

Realização: Apoio:

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