FERTILIDADE DO SOLO - SOL 375 - MICRONUTRIENTES

(Junho 2005) 1. INTRODUO A produo agrcola de boa qualidade e com alta produtividade requer a adequao dos fatores de produo s necessidades das culturas. Nesses fatores esto includos os elementos essenciais ao crescimento das plantas: macronutrientes (C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S) e micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo, Cl). A origem dessa classificao est relacionada a aspectos quantitativos uma vez que todos so elementos essenciais e a deficincia de qualquer um deles implica em queda na produo vegetal. Mtodos de anlise de rotina dos micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, B) em solos e plantas j so disponveis para os estudos da Fertilidade do Solo. Esses estudos permitem, a partir da anlise de solos e plantas, o estabelecimento de critrios de interpretao dos resultados das anlises, visando o manejo mais eficiente da fertilizao com micronutrientes para as culturas. Com essas informaes podem ser definidas doses dos micronutrientes a serem aplicadas em determinadas condies. Entretanto, outros aspectos de grande importncia como formas de aplicao (via solo ou via planta, localizada ou a lano), tipos de fertilizante, poca de aplicao, caractersticas do solo e da cultura e comportamento dos micronutrientes no solo e na planta devem ser considerados para se utilizar, com sucesso, os micronutrientes como insumo para a produo agrcola. 2. MICRONUTRIENTES NO SOLO Entre os micronutrientes, geologicamente, o Fe considerado elemento maior, estando presente em concentraes relativamente altas em muitas rochas. Os demais ocorrem em nveis baixos de concentraes sendo o Mn considerado elemento menor enquanto Zn, Cu, Ni, B e Mo so considerados elementos-trao (Chesworth, 1991). O termo micronutriente no implica que todos esses elementos ocorram em quantidades diminutas na litosfera e nos solos, uma vez que Fe e Mn esto entre os 12 elementos mais abundantes na litosfera (Harmsen & Vlek, 1985). Em geral, o Fe est presente no solo e na crostra terrestre em concentraes acima de 1 dag/kg (10.000 mg/kg), o Mn pode alcanar 3.000 mg/kg enquanto os demais micronutrientes ficam abaixo de 300 mg/kg (Quadro 1). Os termos elementos menores ou elementos-trao so usados para elementos presentes na litosfera em concentraes menores do que 0,1 dag/kg (Harmsen & Vlek, 1985). Ao longo do texto, os termos micronutrientes e elementos-trao sero usados para designar os elementos Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo, Cl, reconhecidos como essenciais para as plantas. Com base nas formas predominantes na soluo do solo e que so preferencialmente absorvidas pelas plantas Fe, Mn, Zn, Cu, e Ni so classificados como micronutrientes catinicos enquanto B, Mo e Cl so os micronutrientes aninicos. Os aninicos B e Cl diferenciam-se dos catinicos, tambm, por serem no-metais e o aninico Mo se assemelha aos catinicos por ser metal pesado (Fontes et al., 2001). Com relao fertilidade do solo e nutrio de plantas, Ni e Cl se distinguem dos demais em alguns aspectos. O Ni o micronutriente com reconhecimento mais recente de sua essencialidade para as plantas superiores (Brown et al., 1987), o que explica a escassez de estudos de fertilidade do solo e nutrio de plantas sobre ele. Sua importncia na agricultura, no incio da ltima dcada, era relacionada apenas a reas de explorao agrcola onde problemas de toxidez poderiam existir (Asher, 1991). Quanto ao Cl, mesmo sendo um elemento essencial para as plantas, deficincias naturais desse micronutriente praticamente

2 no existem na agricultura (Harmsen & Vlek, 1985). Sob o ponto de vista prtico, a atuao do Cl diminuindo a incidncia de vrias doenas em pequenos gros , talvez, mais importante do que seu papel na nutrio de plantas (Mortvedt, 1999). Observa-se que as pesquisas com Cl, em solos e plantas, so escassas, presumivelmente, devido ausncia de problemas de deficincia desse micronutriente nas culturas de modo geral. Isso ocorre porque o nion cloreto suprido naturalmente s plantas por meio de reservas do solo, gua da chuva, e poluio atmosfrica (Marschner, 2001) e por ser aplicado aos solos juntamente com o KCl, o fertilizante potssico mais utilizado (Mortvedt, 1999). Quadro 1. Teores de micronutrientes na crostra terrestre e solos (Harmsen & Vlek, 1985; Pais & Jones Jr., 1997; Lindsay, 1979) Teores Fe Mn Zn Cu Ni B Mo Crosta terrestre Variao nos Solos Mdias nos Solos dag/kg 5 1-10 3,8 --------------------------------- mg/kg ------------------------------1000 80 70 100 10 2,3 20-3000 10-300 2-100 5-500 2-100 0,2-5 600 50 30 40 10 2

3. MICRONUTRIENTES NA PLANTA A maioria dos micronutrientes , predominantemente, constituinte de molculas de enzimas sendo, assim, requeridos como elementos essenciais para as plantas, apenas em pequenas quantidades (Marschner, 1995). Os micronutrientes atuam, principalmente, como constituintes de grupos prostticos catalizando processos de oxido-reduo por transferncia de eltrons, ligando enzimas a substratos para formar os complexos enzima-substrato, e influenciando a configurao molecular de uma enzima ou de um substrato de modo a favorecer a ao enzimtica na reao (Romheld & Marscher, 1991). Considerando as plantas em geral, o Fe o micronutriente presente em maiores concentraes na matria seca enquanto o Mo o que est presente nas menores concentraes (Quadro 2).

Quadro 2. Valores (generalizados para vrias espcies de plantas) das concentraes aproximadas de micronutrientes em tecidos de folhas maduras, distribudos com base nos requerimentos nutricionais de cada elemento (Kabata-Pendias, 2001; Kabata-Pendias & Pendias 1984; Jones Jr., 1991). Valores entre parnteses se referem aos teores mdios de micronutrientes na matria seca da parte area considerados suficientes para o crescimento adequado das plantas (Marschner, 1995). Micronutriente F Mn Zn Cu Ni B Mo Cl * Para plantas sensveis Deficincia Suficincia (Normal)* Excesso (Toxidez) ---------------------------------------mg/kg------------------------------------<50 100-500 (100) >500 15-25 20-300 (50) 300-500 10-20 27-150 (20) 100-400 2-5 5-30 (6) 20-100 -0,1-5 -10-100 5-30 10-200 (20) 50-200 0,003-0,15 0,1-2 (0,1) >100 <100 100-500 (100) 500*-1000

3 4. DEFICINCIAS DE MICRONUTRIENTES NA AGRICULTURA Mesmo sendo nutrientes requeridos em quantidades extremamente pequenas pelas plantas, deficincias de micronutrientes podem ocorrer causando limitao produo agrcola. Globalmente, deficincias de micronutrientes em plantas esto tendo importncia crescente, o cultivo extensivo de cultivares altamente produtivos, recebendo adubaes pesadas com fertilizantes N-P-K, resulta em deficincias de micronutrients em muitos pases (Cakmak, 2002). No Brasil, alguns fatores que ao longo dos anos tem contribudo para o aparecimento de deficincias de micronutrientes na agricultura so: a expanso das reas agrcolas com a incluso de solos de baixa fertilidade no sistema produtivo; a utilizao de fertilizantes mais concentrados; o uso de variedades mais produtivas e de tcnicas mais avanadas de cultivo; e a maior utilizao de fertilizantes N-P-K devido s maiores produes. Sem a devida interveno para manuteno dos teores dos micronutrientes adequados ao crescimento das plantas, via solo ou via aplicao foliar, a conseqncia desses fatores, atuando de forma continuada, a queda do rendimento das colheitas. 5. DINMICA DOS MICRONUTRIENTES NO SISTEMA SOLO-PLANTA Os elementos-trao esto presentes no solo em teores muito variveis em funo do material de origem do solo, do seu estgio de intemperismo, dos climas passado e atual e do uso e manejo do solo. Essa variao dependente, tambm, de caractersticas do solo como teor de matria orgnica, textura, potencial de xido-reduo, atividade de microrganismos e pH. Os elementos micronutrientes presentes no solo e em guas naturais existem em soluo aquosa ou associados com uma ou mais fases slidas e a maioria das reaes qumicas, bem como a absoro pelas plantas, ocorrem na soluo, envolvendo ons hidratados ou complexos aquosos (Harmsen & Vlek, 1985). Na soluo do solo, os micronutrientes esto presentes em concentraes muito baixas e suas formas solveis esto em equilbrio com a frao slida do solo. A maior quantidade de micronutrientes est presente nos materiais minerais e orgnicos da frao slida do solo. As formas solveis dos micronutrientes, presentes na soluo do solo em concentraes muito pequenas, constituem a frao que pode ser absorvida pelas razes das plantas. Essas formas solveis esto em equilbrio com as formas presentes na frao slida do solo, o que permite a sua reposio sempre que os micronutrientes so absorvidos pelas plantas. Na frao slida, os micronutrientes podem estar retidos em partculas coloidais e no coloidais. A maior quantidade est retida nas partculas coloidais de argila (formas trocveis e/ou fixadas na estrutura dos minerais) e matria orgnica (formas trocveis e/ou formando complexos e quelatos orgnicos). Nas partculas no coloidais (areia, silte e carbonatos) pode estar presente significativa proporo de alguns micronutrientes que podem ser lentamente liberados por meio do intemperismo (Sirivastava & Gupta, 1996). Na soluo do solo, as formas solveis dos micronutrientes podem se apresentar como ons individuais, complexos inorgnicos e complexos orgnicos Essas formas, passveis de serem absorvidas pelas razes das plantas, esto presentes em concentraes muito baixas e so dependentes da solubilidade dos minerais que do origem aos micronutrientes. Essa solubilidade regulada por fatores como pH do solo, condies de oxido-reduo do solo, e presena de colides onde ocorre a adsoro dos micronutrientes. (Sirivastava & Gupta, 1996). A quantidade de micronutrientes do solo passvel de ser absorvida pelas plantas vai ser dependente, de modo geral, da reteno desses elementos na frao slida do solo, das suas concentraes na soluo do solo, e dos fatores que afetam o equilbrio entre suas formas retidas no solo e as que esto presentes na soluo do solo. Quando a planta absorve um

4 micronutriente, sua concentrao na soluo do solo diminui e sua reposio feita a partir das formas que se encontram retidas na frao slida. Assim, a predio da disponibilidade dos micronutrientes para as plantas facilitada em se conhecendo sua distribuio nas diferentes fraes do solo. No Quadro 3 so apresentadas algumas formas em que os micronutrientes se apresentam no sistema solo.. Quadro 3. Formas dos elementos micronutrientes presentes no solo.

Elemento Fe Mn Zn Cu Ni B Mo Cl

Formas do solo Fe trocvel (teores muito pequenos); xidos Mn-adsorvido; Mn2O3; MnO2; Mn-matria orgnica Zn2+ (altamente adsorvido); ZnOH+; ZnCl+; Zn-matria orgnica Cu2+ (altamente adsorvido); Cu-matria orgnica Ni trocvel (pequena proporo); Ni-matria orgnica Ni-frao xidos Fe-Mn; Ni-carbonatos B-adsorvido; B-matria orgnica Mo-adsorvido; Mo-xidos; Mo-matria orgnica Cl- (adsoro desprezvel); ZnCl2

Fonte: Neves (1996)

6. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES Material de origem do solo Os elementos qumicos presentes no solo so provenientes dos diferentes tipos de rochas que constituem o material de origem dos solos. Tendo-se que as mdias dos teores dos micronutrientes nos solos so prximas s mdias dos seus teores na crosta terrestre (Quadro 1) e a distribuio dos elementos micronutrientes nas rochas gneas e sedimentares no uniforme (Quadro 4), considera-se que os solos so formados de material de origem proveniente de todas as rochas (Harmsem & Vlek, 1985).

5 Quadro 4. Abundncia de micronutrientes nas rochas gneas e sedimentares. Rochas gneas Rochas Sedimentares Granito Basalto Calcrias Arenitos Folhelhos -----------------------------------------------mg/kg----------------------------------------------Fe 27000 86000 3800 9800 47000 Mn 400 1500 1100 10 100 850 Zn 40 100 20 16 95 Cu 10 100 4 30 45 B 15 5 20 35 100 Mo 2 1 0,4 0,2 2,6 Fonte: Krauskopf (1972)

Os materiais rochosos que do origem aos solos, expostos atmosfera, esto sujeitos ao intemperismo fsico e qumico, sendo gua o agente mais importante no intemperismo qumico. Muitos dos micronutrientes esto presentes nessas rochas em minerais facilmente intemperizveis. Parte do Fe e do Mn, por exemplo, ser oxidada a xidos relativamente insolveis permanecendo retida no material intemperizado, ao invs de ser removida e carreada pela soluo, a precipitao desses xidos favorecida pelo aumento de pH resultante da hidrlise de minerais primrios silicatados. Nessas reaes, parte dos elementos Fe e Mn e traos de Cu e Zn tendem a se precipitar nas proximidades das estruturas parcialmente decompostas dos minerais silicatados de origem criando, assim, ambiente favorvel formao de complexos alumino silicatos tais como minerais de argila (Harmsem & Vlek, 1985). O material de origem dos solos influencia as quantidades de elementos-trao disponveis para as plantas e isto ocorre de forma diferenciada para os diversos elementos (Welch et al, 1991). A estabilidade relativa dos minerais (Quadro 5) tambm influencia os teores de micronutrientes no solo uma vez que as variaes desses teores so dependentes da resistncia dos minerais ao intemperismo. Cerca de 95 % da crosta terrestre formada de rochas gneas (como granito e basalto), o restante das rochas so sedimentares (Harmsen & Vlek, 1985). Nas rochas gneas esto presentes minerais primrios que do origem aos elementos qumicos do solo. Os teores de Fe, Mn, Cu e Zn tendem a serem mais elevados em rochas bsicas (como o basalto) do que em rochas cidas (como o granito), enquanto que as rochas cidas provavelmente so mais ricas em B e Mo do que as rochas bsicas (Quadro 4). Os elementos micronutrientes podem, tambm, aparecer na composio de minerais secundrios incluindo xidos, carbonatos, silicatos, boratos, e molibdatos.

6 Quadro 5. Estabilidade relativa de minerais selecionados de rochas gneas e seus micronutrientes associados. Grau estabilidade Estvel de Mineral Constituintes principais (Exceto Si e O) Ca, Mg, Fe, B, Al F Fe, Ti K, Al K, Al Ca, Mg, Fe, Al Na, Al Na, Ca, Al Ca, Na, Al Ca, al K, Ng, Fe, Al Ca, Mg, Al Mg, Fe, Ca, Al Mg, Fe Constituintes secundrios -Zn -B Cu Mn Cu Cu Cu, Mn Cu,Mn Mn, Zn, Cu, B, Mo Mn, Zn, Cu Mn, Zn, Cu Mn, Zn, Cu, Mo

Turmalina Magnetita Ilmenita Muscovita Ortoclsio Garnet Albita Oligoclsio Andesina Anortita Biotita Augita Facilmente Hornblenda Intemperizvel Olivina Fonte: Harmsen & Vlek (1985) Textura do solo

A textura do solo influencia a disponibilidade dos micronutrientes para as plantas uma vez que esses elementos podem ser adsorvidos fase slida do solo (Quadro 3) como por exemplo aos minerais de argila. Esses minerais so importantes em dois aspectos em particular. Primeiro, devido substituio isomrfica, esses minerais contem em suas estruturas elementos como Fe, Zn e Cu que podem ser liberados com a sua decomposio ou transformao, ficando, assim, disponveis para as plantas. Segundo, os micronutrientes podem ser adsorvidos aos minerais de argila, o que previne sua lixiviao juntamente o movimento da gua em profundidade no perfil do solo. Adicionalmente, devido reversibilidade dessa adsoro, esses ons adsorvidos formam um importante reservatrio de micronutrientes disponveis para as plantas (Harmsen & Vlek, 1985). A energia com a qual os micronutrientes ficam associados fase slida do solo varia entre os elementos qumicos o que implica em mobilidade diferencial entre os micronutrientes no sistema-solo. Zinco e Cu possuem mobilidade muito baixa enquanto B extremamente mvel no perfil do solo (Neves, 1996). A alta mobilidade do B se deve sua presena no solo na forma de molcula no ionizada. Como reflexo disso, o Zn transportado no solo por difuso enquanto o B suprido s plantas pelo mecanismo de fluxo em massa. Para o Cu, micronutriente de menor mobilidade no solo, a maior proporo de seu suprimento s plantas ocorre pelo mecanismo da interceptao de razes (Moraghan & Mascagni, 1991). A mobilidade dos micronutrientes no solo importante no que diz respeito compreenso de sintomas de deficincia de Zn e Cu, por exemplo, freqentemente verificados em pocas secas (Neves, 1996). A difuso do Zn no solo requer, alm da necessidade do estabelecimento de um gradiente de concentrao, um bom teor de umidade no solo. Para o B, o transporte por fluxo em massa requer um gradiente de potencial hdrico resultante da transpirao das plantas que decresce nas pocas secas. Essas observaes explicam porque comum o desaparecimento dos sintomas de deficincia desses dois micronutrientes aps as primeiras chuvas. Entretanto, em condies de chuvas intensas pode haver recorrncia dos sintomas de

7 deficincia de B devido possibilidade de sua lixiviao no perfil do solo, fato que para o Zn no deve ocorrer (Neves, 1996). pH do solo Os teores trocveis de Fe, Mn, Zn e Cu so afetados de forma similar pela variao do pH do solo (Mortvedt, 1999). A disponibilidade desses micronutrientes torna-se menor com o aumento do pH do solo e uma das causas a diminuio da solubilidade dos mesmos com o aumento da alcalinidade do solo. Compostos orgnicos e minerais desses elementos tm baixa solubilidade em pH elevado, da o aparecimento de deficincias em solos com pH alcalino. Para o Ni, sua mobilidade no solo aumenta com a diminuio do pH, sendo este o fator mais importante na sua distribuio entre soluo e fase slida do solo (McGrath & Smith, 1993). A disponibilidade de B para as plantas diminui, notadamente, em pH elevado (Gupta, 1993). A deficincia de B em culturas sensveis mais comum em solos com pH acima de 6,5 que receberam calagem recente (Morangan & Mascagni, 1991). A relao entre o pH do solo e o B absorvido pelas plantas no mostra uma variao definida em pH do solo menor do que 6,5 (Gupta, 1993). A disponibilidade de B mais alta entre pH 5,5 e 7,5, diminuindo em valores abaixo e acima dessa faixa devido, principalmente, s reaes pH dependentes (Mortvedt, 1999). A disponibilidade de Mo no solo fica maior com o aumento do pH devido maior solubilidade de compostos de Mo em pH elevado e menor adsoro de Mo aos xidos hidratados de Fe quando a acidez do solo diminui (Mortvedt, 1999). A prtica da calagem para correo da acidez do solo pode ocasionar decrscimo acentuado na disponibilidade dos micronutrientes, exceo para o Mo uma vez que a adio de calcrio ao solo geralmente aumenta a absoro de Mo pelas plantas (Moraghan & Mascagni, 1991). Em solos onde se faz uso de elevadas doses de insumos agrcolas, a calagem excessiva pode causar a super-calagem que diminui a disponibilidade dos micronutrientes para as plantas, com exceo do Mo. Exemplo dessa situao a deficincia de Mn na cultura da soja, observada em latossolos de textura mdia em regies de Minas Gerais onde se utilizam altas quantidades de calcrio (Neves, 1996). Considerando-se aspectos tcnicos, operacionais e econmicos, a correo do problema gerado pela supercalagem mais difcil do que a rotineira correo da acidez do solo. Desequilbrios nutricionais nas plantas devido carncia de micronutrientes, causada pela aplicao de doses elevadas de corretivos da acidez, pode levar queda na produtividade das culturas (Neves, 1996). Matria orgnica do solo A habilidade que tem a matria orgnica do solo (MOS) de complexar e reter os micronutrientes por um tempo considervel, e liber-los quando necessrio paras as culturas, um benefcio importante para as plantas. Os teores de matria orgnica do solo podem ser alterados em condies adequadas de temperatura, umidade, aerao e ao otimizada dos microrganismos, o que resulta no favorecimento da mineralizao da matria orgnica com liberao dos micronutrientes. A atividade dos microrganismos pode alterar a disponibilidade dos micronutrientes uma vez que atuam na mineralizao da MOS e nas reaes de complexao de micronutrientes pelos compostos orgnicos. De modo geral, a matria orgnica do solo protege os micronutrientes contra perdas por lixiviao. Ela tambm capaz de suprir a soluo do solo com agentes ligantes solveis que previnem a fixao dos elementos-trao permitindo que eles fiquem disponveis para as plantas (Srivastava & Gupta, 1996). As reaes dos micronutrientes com a MOS afetam significativamente a disponibilidade de Fe, Mn, Zn e Cu para as plantas. Em alguns casos, o complexo entre o micronutriente e a matria orgnica to estvel que pode acarretar a deficincia do elemento

8 para as plantas. O Fe pode formar complexos com a MOS mas sua disponibilidade para as plantas mais afetada pelo pH do que pela MOS. O Mn tambm forma complexos estveis com a MOS e a estabilidade desses complexos faz com que a incidncia de deficincia de Mn em pH acima de 6,5 seja bem menor em solos com teores considerveis de MOS em comparao com solos com baixos teores. As reaes do Zn com a MOS tambm so importantes como fator de favorecimento maior disponibilidade desse elemento. Para o Cu, os complexos Cu-MOS so muito estveis, principalmente com grupos carboxlicos e fenlicos, sendo que a estabilidade elevada de alguns desses complexos explica porque que a maioria dos casos de deficincia de Cu est associada a solos orgnicos (Mortvedt, 1999). O B tambm pode ser complexado pela matria orgnica do solo (Figura 1), o que dificulta a lixiviao desse micronutriente (Srivastava & Gupta, 1996). A maior parte do B disponvel no solo encontrada na matria orgnica e as condies de solo que favorecem a decomposio da MOS resultam em aumento na disponibilidade de B para as plantas (Mortvedt, 1999). Para o Mo, a MOS parece ter um efeito muito menor em sua disponibilidade do que o pH do solo, entretanto, h evidncias de que o Mo fixado pela MOS (Moraghan & Mascagni, 1991). Considera-se que todas as prticas de manejo e conservao do solo que resultem na manuteno dos teores MOS tero aspectos positivos para a disponibilidade de micronutrientes para as plantas.

= C - OH
+

HO B HO OH

=C

O B OH

= C - OH

=C =C

Figura 1. Esquema representativo da formao do complexo B-matria orgnica. Fonte: Srivastava & Gupta (1996).
Potencial de xido-reduo do solo As reaes de oxido-reduo so muito comuns nos solos e afetam a disponibilidade de alguns micronutrientes. O potencial de xido-reduo do solo dependente do pH, umidade, aerao e atividade microbiana do solo. Alteraes nesse potencial do origem a diferentes formas qumicas de Fe e Mn devido variao dos seus nmeros de oxidao e isso reflete em suas disponibilidades para as plantas. A forma reduzida do Fe (Fe2+) encontrada em condies de solos alagados enquanto a forma oxidada (Fe3+) encontrada em condies de maior aerao. O Mn do solo encontra-se, de modo geral, em 3 estados de oxidao (Mn2+, Mn3+, Mn4+) (Figura 2). A forma reduzida (Mn2+) predomina em soluo aquosa, enquanto as formas Mn3+, Mn4+ tendem a precipitar formando xidos de baixa solubilidade. As formas reduzidas de Fe e Mn (Fe2+ e Mn2+), presentes na soluo do solo, so preferencialmente absorvidas pelas plantas. Na prtica observa-se que em plantas cultivadas em reas de baixada (vrzeas midas) h grande possibilidade de ocorrncia de toxicidade de Fe e Mn devido predominncia das formas reduzidas. No caso da cultura de arroz, essa toxicidade pode ser minimizada pois suas plantas possuem uma estrutura chamada arnquima, que possibilita a conduo do oxignio da parte area para as razes. Na cultura do arroz, em condies de campo, comum a observao de colorao marron-avermelhada na superfcie das razes, o que indica a presena de Fe na forma oxidada (Fe3+). Neste caso, provavelmente, o Mn tambm passou para as

9 formas oxidadas que no representam risco de toxicidade. Para as culturas de modo geral, o cultivo sob condies de baixo potencial redox e, pricipalmente, em ambientes redutores acarreta em grande possibilidade de ocorrncia de toxicidade de Fe e Mn (Neves, 1996). Microrganismos podem atuar no no ciclo de xido-reduo do Mn no solo alterando sua disponibilidade que diminuda quando h oxidao do Mn2+ (Figura 2). A variao do pH do solo importante nesse processo, uma vez que a oxidao biolgica do Mn maior entre pH 6,0 e 7,5, faixa em que a atividade dos microorganismos que oxidam o Mn maximizada. (Soluo do solo)

Mn2+(disponvel) Mn4+
(MnO2.nH2O)

(Mn2O3.nH2O)

Mn3+

(no disponveis)
Figura 2. Ciclo de oxidao e reduo do Mn no solo; identificao da forma disponvel e formas no disponveis para as plantas; equilibrio entre Mn2+ (soluo do solo) e xidos Mn2O3 e MnO2 formados devido precipitao. Uso e manejo dos solos Com referncia ao uso e manejo do solo, alm dos fatores j abordados, deve-se dar ateno formao de camadas compactadas que pode ocorrer em reas com intensa explorao agrcola. A mecanizao agrcola inadequada, o tipo de preparo do solo e a aplicao de doses elevadas e repetidas de calcrio e outros insumos so responsveis por boa parte dos problemas de compactao observados (Neves, 1996). Nas camadas compactadas pode ocorrer a diminuio do potencial de xido-reduo do solo a nveis que poderiam resultar em toxicidade devido ao excesso de Mn2+. A diminuio da aerao do solo, devido compactao que diminui os espaos entre as partculas, favorece a reduo do Mn do solo (Figura 2) que d origem forma disponvel para a absoro pelas plantas.

7. AVALIAO DA DISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES Os teores de micronutrientes no solo dependem da composio de seu material de origem. A distribuio dos elementos-trao no perfil e a associao com os componentes do solo tem influncia em sua disponibilidade para as plantas (Sirivastava& Gupta, 1996). A relao entre os teores disponveis para as plantas e os teores totais de micronutrientes no solo complexa e difere entre os micronutrientes. Os teores totais refletem a influncia do material de origem e dos fatores de formao do solo e so relativamente estveis com o tempo. J os teores disponveis so dinmicos e dependem das condies do solo e do clima durante o crescimento das plantas e podem variar com o tempo, com a profundidade do solo, com as caractersticas do solo e outros fatores (Vlek, 1985; Srivastava & Gupta, 1996). Do ponto de vista agronmico, os teores de micronutrientes disponveis para as plantas so mais importantes do que os teores totais no solo (Vlek, 1985). Considerando-se os micronutrientes como componente dos fatores de produo solo, a manuteno de seus teores disponveis s plantas em nveis adequados, indispensvel para que se tenha alta produtividade agrcola e produtos de boa qualidade. A utilizao dos micronutrientes como insumo no sistema solo-planta deve se basear em critrios cientficos

10 para que se garantir ganho econmico, conservao do ambiente e boa qualidade do produto agrcola. Estudos de avaliao da fertilidade do solo auxiliam na definio desses critrios. Nesses estudos, em lugar da quantidade total do elemento, o extrator deve remover do solo a quantidade correspondente ao que est prontamente disponvel para absoro pelas razes das plantas. Assim, no extrato de solo ser quantificado o teor do elemento representativo do que est disponvel, efetivamente, para as plantas. Um bom mtodo de determinao da disponibilidade de um elemento no solo deve incluir a extrao de quantidades que se correlacionem com as quantidades do elemento que as plantas absorvem (Sims, 1996). possvel fazer a avaliao da disponibilidade dos micronutrientes por meio da anlise qumica do solo utilizando-se extratores adequados, o que deve ser precedido pela amostragem criteriosa da rea a ser cultivada. Essas anlises, juntamente com os estudos de calibrao, embora ainda pouco freqentes para os micronutrientes, permitem o estabelecimento de classes de fertilidade que devem norteiar a recomendao de fertilizantes de micronutrientes para as culturas. Determinaes das disponibilidades de Fe, Mn, Zn, Cu por extraes com DTPA e do B por extrao com gua quente so utilizadas para a recomendao de adubao no Estado de So Paulo (Raij et al., 1996). Em Minas Gerais, a primeira aproximao para interpretao dos resultados da anlise de micronutrientes em solos inclui classes de fertilidade para Fe, Mn, Zn e Cu, extrados com Mehlich-1, e para B, extrado com gua quente (Alvarez V. et al., 1999). Para o Mo ainda no h informaes suficientes para se estabelecer um mtodo de determinao que seja utilizado, rotineiramente, na recomendao de adubao. Embora Cl seja um micronutriente essencial, sua deficincia to rara que para ele a anlise de solo desnecessria (Lindsay & Cox, 1985). Em relao ao Ni, as anlises que aparecem na literatura so mais relacionadas diagnose de toxidez, o acetato de amnio pode ser utilizado para extrao de Ni do solo visando identificar teores possveis de causar fitotoxidez (Sirivastava & Gupta, 1996). 8. FONTES DE MICRONUTRIENTES E SUAS CARACTERSTICAS As fontes de micronutrientes variam consideravelmente com o estado fsico, a reatividade qumica, a concentrao dos elementos, a solubilidade dos produtos (importante para a disponibilidade do micronutriente para as plantas) e o custo dos produtos (Mortvedt, 1991; Neves, 1996). Existem trs classes principais de fontes de micronutrientes: os inorgnicos (Quadro 8), os quelatos sintticos, e os complexos orgnicos naturais (Quadro 9). Existem tambm os produtos comerciais chamados fritas (fritted trace elements) (Quadro 10). As fritas, oxi-silicatos obtidos pela fuso de silicatos ou fosfatos com um ou mais micronutrientes a altas temperaturas, so considerados como fontes para a manuteno dos teores de micronutrientes no solo, entretanto, so consideradas menos eficientes para a correo de deficincias (Mortvedt, 1991).

11 Quadro 8. Fertilizantes inorgnicos de micronutrientes. Elemento Fonte Solubilidade (gua) Teor do elemento (g/L) ---------g/kg----------Fe Fe SO4.7 H2O Fe2(SO4)3.9 H2O Mn SO4.3 H2O MnO Oxi-Sulfato de Mn Zn SO4.7H2O Complexo Zn SO4-NH3 ZnO Oxi-sulfato de Zn ZnEDTA CuSO45 H2O CuO H3BO3 (cido brico) Na2B4O7.5H2O (borato 46) Na2B4O7.10 H2O (brax) NaCaB5O9.8 H2O (Ulexita) Ca2B6O11.5 H2O Na2B8O13.4H2O (solubor) 156 4400 742 Insolvel Varivel 965 Solvel Insolvel Varivel Solvel 316 Insolvel 63 226 20 Levemente Solvel Insolvel 97 562 430 Solvel 1 200 200 260-280 410-680 300-500 230 100-150 600-780 180-500 60-140 250 500-750 170 150 110 100 100 20 390 540 490 660

Mn

Zn

Cu

Na2MoO4.2H2O (NH4)6Mo7O24.4H2O (NH4)2MoO4 MoO3 Fonte: Motvedt (2001).

Mo

12 Quadro 9. Quelatos comerciais utilizados como fontes de micronutrientes. Principais quelatos comerciais fornecedores de micronutrientes Elemento Fonte Frmula Teor do elemento --------dag/kg-----Fe Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato natural Quelato natural Metoxifenil propano Quelato sinttico Quelato natural Metoxifenil propano Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato natural Quelato natural NaFeEDTA NaFeHEDTA NaFeEDDHA NaFeDTPA Poliflavonides Lignossulfonatos FeMPP MnEDTA Poliflavonides MnMPP Na2ZnEDTA NaZnEDTA NaZnHEDTA Poliflavonides Lignossulfonatos CuC2O4.5H2O Na2CuEDTA NaCuEDTA Poliflavonides 5 14 59 6 10 9 10 58 5 12 8,5 10 12 14 13 9 10 5 40 13 9 57

Mn

Zn

Oxalato Quelato sinttico Quelato sinttico Quelato natural Fonte: Malavolta (1981)

Cu

Quadro 10. Fritas comercializadas no Brasil e seus teores de micronutrientes. Micronutriente Produto Fe Mn Zn Cu B Mo Garantia (%) FTE-Br-8 5,0 10,0 7,0 1,0 2,5 0,1 FTE-Br-9 6,0 3,0 6,0 0,8 2,0 0,1 FTE-Br-10 4,0 4,0 7,0 1,0 2,5 0,1 FTE-Br-12 3,0 3,0 9,0 0,8 1,8 0,1 FTE-Br-13 2,0 2,0 7,0 2,0 1,5 0,1 FTE-Br-15 --8,0 0,8 2,8 0,1 FTE-Br-16 -0,4 3,5 3,5 1,5 0,2 FTE-Br-18 --18,0 1,6 3,6 0,2 FTE-Br-24 6,0 4,0 18,0 1,6 3,6 0,2 FTE oeste-baiano 2,0 8,0 5,0 4,5 2,0 0,1 FTE Centro-oeste -10,0 15,0 2,0 2,0 -FTE Cerrado -4,0 15,0 1,6 2,0 0,2 Fonte: Malavolta (1986)

Co --0,1 ----------

13 9. RECOMENDAO DE ADUBAO COM MICRONUTRIENTES Para que se possa usar de forma mais eficiente e balanceada os fertilizantes de micronutrientes h que se ter critrios seguros e extrapolveis, concernentes ao nvel de fertilidade do solo e ao estado nutricional das plantas. Para isso, h que se valer de um processo integrado onde se consideram parmetros diretos (anlises de solo e de plantas, testes bioqumicos, sintomas visuais de deficincias e excessos) e indiretos (pH do solo, potencial redox do solo, contedo volumtrico de gua, teor de matria orgnica, histrico do uso da rea) de solo e de planta (Neves, 1996). Marschner (1995), faz uma comparao entre a anlise de solos e a anlise de plantas, indicando que, em princpio, a combinao das duas fornece um melhor embasamento para as recomendaes de adubao. Ele ressalta, entretanto, que para espcies florestais e frutferas, ou seja, plantas perenes, a anlise foliar mais til do que anlise do solo, o mesmo ocorrendo para as pastagens devido sua importncia para a nutrio animal, entre outros fatores. Com relao as culturas anuais ele considera que a anlise da planta apresenta severas limitaes para servir de base para recomendaes de adubao. Mortvedt (1991) chama a ateno para duas filosofias referentes aos mtodos de adubao a serem consideradas nas prticas de fertilizao com micronutrientes. Em uma delas, a aplicao de todos os micronutrientes, no solo ou via foliar, feita independentemente se h deficincias ou no, como se fosse uma adubao de manuteno, e na outra, a adubao baseada em resultados de anlises que determinam qual (ou quais) micronutriente(s) deve(m) ser aplicado(s). Essa ltima, denominada filosofia da prescrio (Lopes & Souza, 2001), se baseia em anlise de solos e plantas juntamente com outras avaliaes que ajudem na recomendao e tem a mesma fundamentao do processo em que se utilizam parmetros diretos e indiretos de solo e de planta. O autor comenta que a primeira filosofia de adubao aconselhvel quando se tem cultura de alto retorno sendo citados, como exemplos, o cafeeiro, as hortalias e algumas fruteiras e amendoeiras. Para a maioria das culturas, principalmente aquelas que tem baixo retorno econmico, o autor indica a adubao baseada nas anlises, isto , aplicar apenas os micronutrientes necessrios para as culturas. Considerando-se a recomendao de adubao baseada em resultados de anlise e outras avaliaes dos fatores de produo, h um aspecto que passa a ser inerente ao processo, o uso da adubao visando o retorno econmico mas ao mesmo tempo garantindo a sustentabilidade na explorao do solo. Nas prticas de adubao deve-se ter a preocupao de se contribuir para o mximo retorno econmico com o mnimo impacto negativo para o solo e para as culturas ou, em sentido mais amplo, para o sistema sologua-planta. Martens e Westermann (1991) chamam a ateno para o fato de que fitotoxidez devido a aplicao indevida da maioria dos micronutrientes existe porque a lixiviao pequena (exceo para B), a necessidade das plantas pequena, e a reverso de formas disponveis relativamente lenta. A fitotoxidez causa queda na produo e qualidade do produto, a correo pode ser difcil e h possibilidade de entrada do elemento qumico na cadeia alimentar. Nesse aspecto, as fontes de micronutrientes compostas por quelatados tem maior potencial para fitotoxidez do que as inorgnicas enquanto que aplicaes foliares de quelatados, tem maior potencial de fitotoxidez do que as aplicaes localizadas no sulco de plantio. O menor potencial quando se faz a aplicao a lano (Marteen e Westermann, 1991). Nas prticas de adubao, os micronutrientes podem ser fornecidos via solo ou atravs de pulverizaes foliares. A aplicao direta no solo pode ser feita juntamente com a adubao bsica com fertilizantes N-P-K o que permite uma melhor distribuio dos

14 produtos em uma s operao, com menores custos e maior uniformidade de distribuio dos nutrientes. A aplicao do adubo contendo micronutrientes no sulco de plantio deve ser cuidadosa uma vez que o contato fertilizante-semente pode levar toxidez na fase inicial de desenvolvimento das plantas, especialmente quando se aplica o boro. J existem, em alguns estados do Brasil, manuais de recomendao para orientar os agricultores sobre o uso de corretivos e fertilizantes de modo a possibilitar a utilizao da filosofia de prescrio. Nesses manuais esto disponveis informaes sobre doses, pocas, e fontes de alguns micronutrientes a serem aplicados para algumas culturas. Alguns descrevem os extratores qumicos utilizados, relacionando os nveis crticos dos micronutrientes no solo (Quadro 6) assim como os seus teores foliares usados como referncia para diversas culturas (Quadro 7). Esses nveis crticos dos micronutrientes em solos e plantas para as diversas culturas, resultado dos estudos de calibrao e correlao, permitem uma informao mais completa para orientar o agricultor na adubao com micronutrientes (Fontes, 1997). Quadro 6. Nveis crticos de alguns micronutrientes no solo. Micronutriente disponvel Fe Mn Zn Cu B Fonte: Alvarez V. et al. (1999) Extrator Mehlich-1 Mehlich-1 Mehlich-1 Mehlich-1 gua quente Nvel Crtico -------------mg/dm3---------30,0 8,0 1,5 1,2 0,6

15 Quadro 7. Nveis foliares adequados dos micronutrientes para diversas culturas. Cultura Fe Mn Zn Cu B Mo

-----------------------------------mg.kg-1 -----------------------------------Abacate Alho Ameixa,Caqui,Figo, Nectarina,Nespereira, Pssego Feijo Arroz Banana Prata Batata Cacau Caf Cana de acar (Planta) Cana de acar (Soca) Laranja/Limo Macadamia Mamo Mandioca Maracuj Milho Morango Quiabo Repolho Couve flor Seringueira Tomate Uva FONTE: Prezotti (1992). Outro aspecto importante a relao dos micronutrientes com a manifestao de doenas em plantas. A manuteno da fertilidade do solo, um dos fatores responsveis pelo fornecimento de todos os nutrientes essenciais s plantas, imprescindvel para a boa nutrio das plantas. Uma nutrio adequada com micronutrientes deveria ser considerada como um componente essencial de qualquer programa integrado para proteo de plantas devido ao baixo requerimento dos mesmos e ao longo efeito residual de alguns deles o que faz seu custo de utilizao ser barato (Graham e Webb, 1991). Embora resistncia e tolerncia sejam fatores geneticamente controlados, eles podem ser consideravelmente influenciados pela nutrio mineral de plantas que seria considerada como um fator ambiental que pode ser manipulado com relativa facilidade (Marschner, 1995). Sob o ponto de vista bioqumico, os micronutrientes podem estar relacionados a etapas 100-200 190 100-450 70-300 8-360 800-1000 150-200 100-130 200-500 80-150 60-120 >20 291 120-140 120-200 50-250 700 70 150 70-90 500-700 50-200 100 100-150 30-300 30-60 20-200 150 80-100 100-250 50-125 25-100 100 50-120 400-600 50-150 65 55 35 615-40 250-400 40-100 10-15 75 30-40 20-100 20-150 20-50 50-70 15-20 25-30 25-100 15 43 30-60 25-40 15-20 60 60 30 20-30 60-70 25-40 9-12 28 10-20 5-20 6-30 5-8 10-15 11-14 8-10 8-10 5-16 4,5 11 6-10 10-20 6-20 14 20 15 5 10-15 10-15 15 30-40 55 40-60 30-60 20-100 10-25 40-50 30-40 50-60 15-50 36-100 75 15 30-60 40-50 15-20 45 107 40 20-70 50-70 30-40 0,5-2,0 0,5-1,0 0,10-0,15 0,15-0,30 0,1-1,0 0,15-0,20 6,5 1,5-2,0 -

16 especficas nas rotas bioqumicas que participam na defesa da planta contra patgenos (Graham e Webb, 1991). Thongbai et al. (1993) reduziram a incidncia de uma doena causada pelo fungo Rhizoctonia solani de 42% para 21%, na cultura de cevada atravs da correo da deficincia de zinco no solo. Os autores relatam, tambm, que a elevao do teor de zinco na matria seca em plantas de trigo para 20 mg/kg diminuiu drasticamente os danos causados pelo Rhizoctonia solani no sistema radicular das plantas de trigo. O efeito do boro ajudando a reduzir a infeco da podrido radicular de Roselnea em soja (Yamada e Castro, 1996) outro exemplo da atuao dos micronutrientes. 10. FERTILIZAO COM MICRONUTRIENTES Aps estabelecimento da necessidade de aplicao de micronutrientes para produo agrcola esta pode ser feita: 1) via solo (misturados s misturas de grnulos NPK; incorporados s misturas granuladas, fertilizantes granulados e fertilizantes simples; como revestimento dos fertilizantes NPK; e em aplicaes via adubao fluida e fertirrigao); 2) via adubao foliar; 3) pelo tratamento das sementes; e 4) pela aplicao em razes e mudas A adubao fluida e a fertirrigao constituem-se, ainda, em alternativas pouco estudadas no Brasil. A adubao foliar, o tratamento de sementes e a aplicao em razes e mudas so outras modalidades de aplicao de micronutrientes com resultados amplamente positivos para certas condies especficas (Lopes & Souza, 2001). Recomendaes para a aplicao de doses de micronutrientes, via solo e via foliar, com inferncia localizao da adubao no solo, so exemplificadas com as culturas de arroz e de milho no Quadro 11. Nesse exemplo deve-se observar que as deficincias de Fe e Mn so comuns apenas em solos com reao alcalina ou pH prximo de 7, e que a deficincia de Mo pode ocorrer em solos com pH muito baixo, podendo ser controlada com a correo da acidez (Fagria, 1997). Na fertilizao com micronutrientes devem ser consideradas as caractersticas das fontes utilizadas e nas aplicaes via solo considerar, tambm, a localizao dessa aplicao, a qual depende da mobilidade do elemento no solo. Outro aspecto a dose do micronutriente a ser aplicada, uma vez que nutrientes requeridos em quantidades muito baixas como por exemplo o Mo, tem sua incorporao ao solo dificultada o que pode resultar em m uniformidade na aplicao. No caso do Mo a incorporao/peletizao de sementes freqentemente usada com bons resultados. As aplicaes via foliar tem limitaes considerando que os micronutrientes, em sua maioria, tem baixa mobilidade nas plantas, o que exige repetidas aplicaes ao longo do tempo. Por outro lado, nas aplicaes via solo, os micronutrientes ficam sujeitos `a lixiviao, como acontece para o B aplicado em pocas muito chuvosas a solos com baixos teores de matria orgnica e/ou elevada permeabilidade; ou para Zn e Cu devido aos processos de precipitao/adsoro (Neves, 1996). A publicao Recomendaes Tcnicas para a Cultura da Soja na Regio Central do Brasil 1996/97 (1996) sugere uma adubao preventiva com micronutrientes, recomendando as seguintes dosagens para aplicao: Zn = 4,0 a 6,0 kg/ha; B = 0,5 a 1,0 kg/ha; Cu = 0,5 a 2,0 kg/ha; Mn = 2,5 a 6,0 kg/ha; Mo = 50 a 250 g/ha; Co = 50 a 250 g/ha. Nessas dosagens, de acordo com a recomendao, a aplicao a lano tem um efeito residual de pelo menos cinco anos devendo-se fazer anlises foliares para avaliar a necessidade de reaplicao. Para aplicao no sulco recomendam-se doses com da quantidade aplicada a lano, distribudas em 4 anos consecutivos. Para Mo e Co, recomenda-se o tratamento das sementes com 12 a 25 g/ha, respectivamente. Em solos de Londrina, Medianeira e Ponta Grossa, PR, a aplicao de Mo via foliar ou via semente aumentou a produo de gros de soja, quando comparado com

17 tratamento que no recebeu Mo (Sfredo et al, 1995). Nesse trabalho os autores chamam a ateno para o fato de que indcios de deficincias de micronutrientes, entre eles o Mo, esto aparecendo em solos do Paran e associam isto maior retirada dos micronutrientes com as colheitas, cada vez maiores devido s variedades mais produtivas. Segundo os autores, devido presena natural de micronutrientes nos solos do Estado do Paran, no era comum a adubao com fertilizantes desses elementos no preparo do solo para a cultura da soja, que foi introduzida no estado no incio dos anos 70. As Recomendaes Tcnicas para a Cultura da Soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Costa e Thomas, 1995) mostram a ocorrncia de respostas significativas no rendimento de gros de soja com a aplicao de Mo, junto s sementes, na dosagem de 8 a 10 kg/ha em solo Podzlico Vermelho-Amarelo na regio de So Pedro, RGS. Com relao aplicao de Zn, Cu, B, Fe, Mn e Co o trabalho indica que s justificada quando for constatada deficincia pela anlise de solos e/ou tecido vegetal. Quadro 11. Doses micronutrientes para aplicao via solo (micronutriente) e via foliar (produto com o micronutriente) nas culturas de arroz e de milho (Fagria, 1997). Micronutriente Via solo kg/ha Fe Mn Zn Cu B Mo 30 100 5 30 13 15 15 0,20 0,50 Mtodo de aplicao Via foliar (fonte) g/L 20 (FeSO4) ou 0,2 0,5 (quelato de Fe) 1 2,5 (MnSO4) 1 5 (ZnSO4) 1 2 (CuSO4) 1 2,5 (brax) 0,7 1 (NH4)2MoO4.2H2O)

Via solo (para cada elemento): aplicao da dose maior no sulco e da dose menor a lano. Via foliar: aplicaes das misturas dos produtos na proporo 400 L/ha. Um aspecto a ser considerado na adubao com os micronutrientes a natureza das curvas de resposta das plantas adio de nutrientes. Para os macronutrientes, a regio teto da produo em resposta sua adio bastante extensa, implicando em baixo risco de um eventual excesso causar decrscimo na produo fsica das plantas. J para os micronutrientes, notadamente para o B, a transio entre as regies de deficincia e de toxicidade muito abrptica. Assim, um excesso de B, ou da maioria dos outros

18 micronutrientes, adicionado via fertilizantes poder causar grandes prejuzos produo fsica e, obviamente, ainda mais produo econmica (Neves, 1996). 10. MICRONUTRIENTES NO SISTEMA SOLO-PLANTA FERRO (Fe) O Fe apresenta-se no solo nas formas Fe2+ (forma solvel) e Fe3+ (baixa solubilidade), sendo absorvido pelas plantas como Fe2+. A baixa solubilidade dos compostos de Fe3+ limita severamente a disponibilidade desse on para as plantas, entretanto, ele pode ser transportado para a regio das razes como quelatos de Fe3+. Os fatores que favorecem a prevalecncia da forma Fe2+ (forma solvel) aumentam a disponibilidade de Fe para as plantas. A solubilidade do Fe na soluo do solo muito dependente do pH, o acrscimo de uma unidade no pH diminui em 100 vezes a solubilidade do Fe2+. Alguns complexos orgnicos solveis formam quelatos com o Fe da soluo do solo o que proporciona uma maior solubilidade desse micronutriente no solo em comparao ao que ocorreria se existissem apenas os compostos inorgnicos. As substncias orgnicas capazes de quelatar o Fe originam-se dos exsudados das razes, da matria orgnica, da atividade microbiana e de fertilizantes especficos. Reaes de oxi-reduo, dependentes do contedo de gua do solo, influenciam a concentrao de Fe na soluo do solo de tal modo que a forma de baixa solubilidade (Fe3+) predomina em solos bem drenados enquanto a forma solvel (Fe2+), disponvel para as plantas, predomina em condies de maior umidade (correspondente a maior dficit de O2 no solo). Assim, o aumento do pH do solo reduz a disponibilidade de Fe para as plantas enquanto a matria orgnica pode aumentar sua disponibilidade devido maior solubilidade do Fe na forma de quelatos. O Fluxo em Massa e a Difuso so os mecanismos responsveis pelo movimento do Fe do solo para as razes. A difuso citada como mecanismo predominante no transporte de Fe no solo. Existem plantas eficientes na absoro e translocao de Fe o que lhes permite tolerar e se adaptar carncia de Fe. Alguns dos mecanismos que atuam nessas plantas so: excreo de H+ pelas razes que resulta em acidificao do solo; excreo de substncias redutoras pelas razes; transporte mais eficiente do Fe das razes para parte rea; aumento na taxa de reduo de Fe3+ a Fe2+ na seiva das razes; menor acmulo de P nas razes e parte area; excreo de radicais orgnicos que quelatam o Fe2+. MANGANS (Mn) O Mn na forma solvel (soluo do solo) a forma disponvel para as plantas e est em equilbrio com as outras formas desse micronutriente no solo (Figura 3). Os fatores que favorecem a prevalecncia dessa forma aumentam a disponibilidade de Mn para as plantas.

Figura 3. Esquema representativo dos equilbrios entre as formas de Mn no solo

19 O potencial de xido-reduo do solo, dependente de seu contedo de gua, influencia a concentrao de Mn na soluo do solo de tal modo que a forma solvel (Mn2+) predomina em solos com maior contedo de umidade (correspondente a maior dficit de O2 no solo), enquanto em solos bem drenados h tendncia de se formarem xidos de Mn que so formas pouco solveis, sendo assim indisponveis para as plantas (Figura 4). Solos submersos ou com excesso de H2O tem seu potencial redox reduzido o que resulta em maior quantidade de Mn2+ solvel. Isto acontece principalmente em solos cidos com alto teor de Mn. O acmulo de CO2 nas razes ou outros stios do solo causa aumento no Mn disponvel. O Aumento do pH do solo acarreta queda na disponibilidade de Mn uma vez que o acrscimo de uma unidade no pH diminui em 100 vezes a concentrao de Mn2+ na soluo do solo. Isso ocorre porque com o aumento do pH h uma tendncia do Mn2+ ser oxidado a Mn3+ ou Mn4+ que formam xidos de baixa solubilidade, no disponveispara as plantas. Adicionalmente, a atividade dos microrganismos que oxidam o Mn2+ atinge seu mximo em pH prximo de 7,0. Embora a matria orgnica forme complexos estveis com o Mn no solo, podendo contribuir para diminuio da deficincia de Mn em pH acima de 6,5 (Mortvedt, 1999), possvel que altos teores de matria orgnica em solo de pH elevado resulte na queda da disponibilidade de Mn devido elevada estabilidade dos quelatos. A adio, ao solo, de fertilizantes nitrogenados que o acidificam resulta em aumento na disponibilidade do Mn. Em solos muito cidos a solubilidade do Mn pode ser alta o suficiente para causar toxidez em plantas sensveis.

Mn2+

Mn3+

Mn4+

Solubilidade e disponibilidade diminuem nesse sentido Figura 4. Mangans no solo: representao esquemtica do equilibrio entre a forma disponvel para as plantas, Mn2+ (soluo do solo), e os xidos Mn2O3 e MnO2 (baixa solubilidade) formados a partir de Mn3+ e Mn4+, formas no disponveis.

A difuso o mecanismo de transporte de nutrientes do solo considerado mais importante para a movimentao de Mn2+ do solo para a regio das razes. O desbalanceamento de ons no solo, principalmente de metais pesados, devido aos altos nveis de Cu, Fe, Zn, por exemplo, dificulta a absoro de Mn pelas plantas Quanto aos fatores relacionados s plantas, a exemplo do Fe, existem plantas eficientes na utilizao do Mn. possvel que os fatores que atuam nessas plantas eficientes para Mn sejam semelhantes aos observados para o caso do Fe.

20 ZINCO (Zn) As formas de Zn no solo so: Zn2+ trocvel; Zn2+ solvel em H2O; Zn adsorvido (argila, matria orgnica, xidos minerais, carbonatos); Zn complexado organicamente. Na soluo do solo o Zn encontrado como Zn2+, forma em que absorvido preferencialmente pelas plantas. A sua movimentao no solo se d por difuso (mecanismo responsvel pelo transporte de Zn para a regio das razes). As condies de solo mais associadas com a deficincia de zinco so: solos arenosos e cidos com baixo teor de Zn; solos neutros ou bsicos; solos com alto teor de argila e de silte; solos com alto teor de P disponvel; e alguns solos orgnicos. Um dos fatores que mais afetam a sua disponibilidade o pH do solo, a deficincia de Zn ocorre geralmente na faixa de pH entre 6 e 8 e, principalmente, em solos calcrios. Observa-se que a solubilidade do Zn diminui de 100 vezes com o acrscimo de uma unidade no pH. Outro fator importante a adsoro do Zn s partculas coloidais do solo como, por exemplo, a xidos de minerais argilosos como os xidos de Fe e Al (Figura 5). Em solos muito argilosos, dependendo do tipo de argila, a adsoro intensa do Zn pode dificultar sua liberao para a soluo do solo, resultando em problemas de deficincia para as plantas.

Figura 5. Esquema representativo do equilibrio entre Zn2+ (soluo do solo), disponvel para as plantas, e Zn adsorvido a xidos de Fe. Fonte: Quirk and Posner (1975)

COBRE (Cu) O Cu2+ (inico ou quelatado) presente na soluo do solo a forma desse micronutriente preferencialmente absorvida pelas plantas. Adicionalmente, o Cu do solo pode-ser encontrado na forma trocvel (adsorvido argila e M.O.), especificamente adsorvido a xidos de Fe, Al, Mn), e ligado a compostos orgnicos. A disponibilidade de Cu para as plantas influenciada pela textura do solo (maior teor de argila est associado maior reteno de Cu2+ no solo); pelo pH do solo (para uma unidade de acrscimo no pH a solubilidade do Cu2+ diminui 100 vezes); e pela matria orgnica do solo que complexa o elemento. A concentrao de Cu2+ na soluo do solo muito baixa sendo controlada pelos mecanismos de adsoro de Cu2+ a superfcies de xidos de Fe, Al e Mn e pela sua ligao com a matria orgnica do solo. Na matria orgnica, o Cu2+ se liga diretamente a grupos funcionais como carboxlicos, carbonlicos, fenlicos, formando complexos de alta estabilidade, como exemplificado na Figura 6. A alta estabilidade desses complexos, principalmente com grupos carboxlicos e fenlicos, explica porque que a maioria dos casos de deficincia de Cu est associada a solos orgnicos (Mortvedt, 1999).

21 Devido imobilidade do Cu no solo, a sua chegada s razes das plantas ocorre, principalmente, pelo mecanismo de interceptao de razes. Alguns mecanismos explicam diferenas observadas entre espcies na utilizao do Cu pelas plantas. A capacidade de absoro de Cu maior em algumas plantas que exploram maior volume de solo atravs de um sistema radicular mais longo (mais razes por planta ou por unidade de rea); que tem o sistema radicular com maior contato com o solo, devido a plos radiculares mais longos; que liberam exsudados (pelas razes), que aumentam a mobilizao do Cu na rizosfera aumentando sua disponibilidade; que acidificam o solo na regio das razes aumentando a solubilidade de compostos de Cu.

O
(a ) (b )

O C

O Cu

C C O

Cu

ou
C

C C

F ig u ra 6 . E s q u e m a re p re s e n ta tiv o d a fo rm a o d e q u e la to d e C u c o m a m a t ria o rg n ic a : (a ) C u lig a d o a 2 g ru p o s c a rb o x lic o s a d ja c e n te s ; (b ) C u lig a d o a 1 g ru p o c a rb o x lic o e 1 g ru p o fe n lic o -O H a d ja c e n te . N o s d o is c o m p le x o s 1 to m o d e o x ig n io d e c a d a g ru p o fo r m a u m a lig a o s im p le s c o m C u 2 + . F o n te : B o y d e t a l.(1 9 8 1 ); P ic c o lo & S te v e n s o n (1 9 8 2 ).

BORO (B) O B absorvido pelas plantas na forma de H3BO3 no dissociado que predomina na soluo do solo na faixa de pH adequada para a agricultura. Em pH elevado formado o nion B(OH)-4 (borato) na soluo do dolo. O B pode ser adsorvido a xidos hidratados de Fe e Al (Figura 7) com a mxima adsoro ocorrendo a pH 9 para os xidos de Fe e a pH 7 para os xidos de Al. Ele pode estar, tambm, complexado por molculas orgnicas no solo (Figura 1). O transporte de B do solo para a regio das razes ocorre preferencialmente por fluxo em massa. Os fatores do solo que afetam sua disponibilidade so: textura, quantidade e tipo de argila, pH do solo e calagem (a calagem de solos cidos pode induzir carncia temporria de B em plantas sensveis), teor de matria orgnica, umidade do solo. A deficincia de B associada a clima e condies de baixa umidade do solo. Nas plantas, existe uma estreita margem entre os nveis suficientes e nveis txicos de B, sendo a sensibilidade das culturas ao excesso de boro aspecto importante. Diferenas genticas contribuem para variaes na absoro e na concentrao de B entre plantas de diferentes culturas. A sensibilidade das culturas a B varivel como se v em alguns

22 exemplos: pssego, uva, feijo, soja e trigo so mais sensveis; tomate, tabaco, milho e batata so semi tolerantes; beterraba, algodo e nabo so mais tolerantes.

H O M O M

H O
+

HO B HO

O M OH OH

H O M O

O B O

O
+ 2H2O

O H

OH

Figura 7. Esquema representativo do equilibrio entre H3BO3 (soluo do solo), forma disponvel, e H3BO3 adsorvido a xidos de Fe e Al (representados por M). Fonte: Ellis & Knezek (1972).

Aps movimentar-se na planta via fluxo da transpirao o boro se deposita nos tecidos, tendo sido considerado, ao longo dos anos, imvel no floema das plantas. Estudos recentes com espcies de plantas que transportam o sorbitol, um acar que complexa o boro, em seu floema, tem levantado dvidas sobre a imobilidade do boro para todas as culturas. Brown e Hu (1996) verificaram que em espcies ricas em sorbitol (castanheira, macieira e nectarina) houve transporte do boro aplicado na forma de istopo, das folhas que receberam pulverizao, para tecidos adjacentes e tecidos dos frutos. Entretanto, em espcies pobres em sorbitol (figueira, nogueira e pistachio) no houve nenhum movimento do B aplicado nas folhas para outras partes da planta. Em um experimento com mudas de ma eles demonstraram a eficcia da aplicao foliar com cido brico para a cultura da ma. Os autores comentam que a alta mobilidade do B em espcies produtoras de sorbitol resulta em importante implicaes para o manejo de B nessas espcies. Em uma avaliao desses novos rumos da pesquisa com boro, comentado que outras culturas como coqueiro e videira podem ter o sorbitol como o principal produto primrio da fotossntese e que esses estudos indicam que a utilizao de pulverizaes foliares para fornecimento de B s plantas deve ser avaliada com um novo enfoque que considere a presena de sorbitol nas plantas e sua atuao no transporte de boro nas diversas espcies (Boron in Agriculture, 1996).

MOLIBDNIO (Mo) As formas de Mo comumente encontradas no solo so: MoO42- na soluo do solo (forma absorvida pelas plantas), Mo complexado organicamente e Mo adsorvido a xidos hidratados de Fe e Al (Figura 8). Sua concentrao na soluo do solo extremamente baixa o que reflete o baixo contedo de Mo encontrado em plantas. A mobilizao de Mo no solo pode ser feita por fluxo em massa ou por difuso, o que depende das condies do solo (Lavy & Barber, 1964), concentraes maiores na soluo do solo favorecem o fluxo em massa. O Mo tem sua disponibilidade aumentada com o aumento do pH do solo, o acrscimo de uma unidade no pH resulta em aumento de 10 vezes na atividade do MoO42-. A adsoro de MoO42- a xidos de Fe e Al do solo (Figura 8) retira o Mo da soluo do solo diminuindo a concentrao disponvel absoro pelas plantas. Essa adsoro semelhante do fosfato e do sulfato. Em condies de seca, com a baixa umidade do solo, h diminuio do transporte

23 de Mo por difuso ou fluxo de massa o que resulta em deficincia mais severa de Mo em plantas. O excesso de Mo em pastagens motivo de preocupao uma vez que o excesso de Mo txico para o gado e outros rebanhos, podendo causar problemas nutricionais devido ingesto, pelos animais, das plantas com teores elevados deste micronutriente. O excesso de Mo, particularmente nos ruminantes, pode causar a molibdenose, doena relacionada ao desbalanceamento nutricional de Cu nos animais (Marschner, 1995).

2Figura 8. Esquema representativo do equilibrio entre MoO42- (soluo do solo), disponvel para as plantas, e MoO42- adsorvido a xidos de Fe.

Nquel (Ni) O Ni o micronutriente reconhecido mais recentemente elemento essencial para as plantas superiores. A evidncia de atuao do nquel na urease em plantas superiores, o requerimento de nquel em leguminosas, independentemente do tipo de nutrio nitrogenada, e a essencialidade do nquel para no leguminosas (Dixon et al., 1976; Eskew et al., 1984; Brown et al., 1987) foram estudos que levaram ao reconhecimento do Ni como elemento essencial para as plantas superiores (Marschner, 1995). De acordo com os estudos, as plantas no podem completar seu ciclo de vida sem a presena de um adequado suprimento de nquel. Marschner (1995) ressalta que ainda no h evidencia de deficiencia de nquel para plantas cultivadas em solo e cita trabalhos salientando que a maior preocupao com sua toxicidade, principalmente em solos que recebem adies de lodo de esgoto.

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