A Producao Textual No Livro Didatico Mul
A Producao Textual No Livro Didatico Mul
A Producao Textual No Livro Didatico Mul
Milenne Biasotto
(UFGD)
[email protected]
Hipertextus Revista Digital (www.hipertextus.net), v.18, Junho
collection (three volumes composed by digital books and
printed books): “Português – Linguagens em Conexão”
(Brazilian High School). The main objective is to describe
by a synopsis (CORDEIRO, 2015), the collection’s written
production activities; and more specifically, to investigate
the language conception subjacent in multimodal textual
production, as if teaching objects from Axis 3 (Written and
Oral Production) contribute for multiples literacies, cultural
and semiotics activities (ROJO, 2009). As a result, we
realized that: a) the collection’s language conception can
be classified as interactionist approach; b) the written is
seeing as a process and the rewritten as one more step of
this process; c) the interdisciplinarity is explored in the
proposes themes; and finally, d) the multiples literacies
are implied in social interactionist language conception
(that includes numerous social practices and several
medias).
0 Introdução
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Para fomentar o uso das TIC no âmbito escolar, Rojo (2009) defende
atividades de ensino-aprendizagem que promovam os multiletramentos e os
letramentos multissemióticos. A autora compreende que, para desenvolver os
multiletramentos, não se pode ignorar ou apagar os letramentos das culturas locais
dos agentes da escola (professores, alunos, comunidade escolar), mas sim “colocá-
los em contato com os letramentos valorizados, universais e institucionais” (2009, p.
107). Em relação aos letramentos multissemióticos, exigidos pela
contemporaneidade, estes são consequências da necessidade de desenvolver
novas capacidades linguageiras, as quais envolvam além do verbal, outras
semioses, tais como som, imagem, cores, design, etc. (ROJO, 2009).
Assim, o Ministério da Educação lançou, nos últimos anos, algumas frentes
de trabalho na tentativa de apresentar aos docentes da Educação Básica
possibilidades de trabalho com tecnologias/mídias digitais. Dentre estas ações,
podemos citar: a) a criação do Portal do Professor; b) o projeto UCA (um
computador por aluno); c) a criação de um banco de dados internacional com
objetos educacionais; d) a distribuição de tablets; e) o lançamento do Edital de
convocação 01/2013 (CGPLI-MEC) – que, pela primeira vez, abriu inscrições para
que editoras pudessem apresentar obras multimídia compostas de livros digitais e
livros impressos, denominados Objetos Educacionais Digitais (OEDs). As editoras
poderiam submeter livros de dois tipos: 1) obra multimídia composta de livros digitais
e livros impressos; 2) obra impressa composta de livros impressos e PDF (Cf.
BRASIL, 2013).
A partir do lançamento do Edital em 2013, chegou às escolas, em 2015, a
única coleção do tipo 1 aprovada. A obra é intitulada “Português – Linguagens em
Conexão”, de autoria de Maria das Graças Leão Sette; Márcia Antônia Travalha e
Maria do Rozário Starling de Barros. Em decorrência do ineditismo desta ação
governamental, nossas questões de pesquisa são: a) Que concepção de linguagem
está subjacente às atividades de produção de textos multimodais da coleção? b)
Diante da multiplicidade cultural e semiótica da sociedade contemporânea, como os
gêneros discursivos didatizados na coleção promovem a diversidade cultural e
semiótica?
Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa constitui-se em: descrever, por
meio de uma sinopse (ferramenta teórico-metodológica de compilação de dados
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orais e escritos), o resumo da sequência didática das atividades de produção textual
escrita da coleção “Português: Linguagens em Conexão”. Nesse sentido, os
objetivos específicos pautam-se em: i) Investigar a concepção de linguagem (como
reflexo do pensamento, como instrumento de comunicação e/ou como forma de
interação) inferida das atividades de produção textual escrita; ii) Analisar como os
objetos de ensino (os do eixo da produção escrita) procuram desenvolver as
atividades que visam aos multiletramentos, ao mesmo tempo multiculturais e
multissemióticos.
No que tange ao aporte teórico, nosso trabalho encontra-se inserido no
campo da Linguística Aplicada (LA), estando a investigação informada pela
metodologia qualitativa de base documental.
Por fim, o artigo em tela está dividido em três partes: breve revisão de
literatura acerca das concepções de linguagem e multiletramentos; apresentação da
sinopse; discussão dos resultados e considerações finais.
1 Linguagens e Multiletramentos
Com base nos estudos dos linguistas João Wanderley Geraldi e Luiz Carlos
Travaglia, Perfeito (2010, p. 10) elucida que a “a articulação metodológica entre uma
concepção de linguagem e sua correlação com a postura educacional” estão
subjacentes ao ensino da língua materna. A partir desse pressuposto, os teóricos
mencionados dividem a concepção de linguagem em três vertentes: i) como
expressão do pensamento; ii) como instrumento de comunicação e iii) como forma
de interação.
A concepção de linguagem como expressão do pensamento – herança da
tradição gramatical grega, perpetuada pelos latinos e disseminada nas Idades Média
e Moderna – perdurou até a eclosão das ideias estruturalistas, no início do século
XX. Tal concepção se fundamenta no pressuposto de que a natureza da linguagem
é racional, justificando que o pensamento humano é regido por regras universais de
classificação e divisão, como por exemplo, certo e errado. A linguagem é
compreendida, nessa vertente, como uma tradução do pensamento.
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Essa concepção moldou o ensino de língua materna no Brasil até os anos
1960, porém, seus resquícios normatizadores se perpetuam até hoje. Sob essa
ótica, os itens gramaticais são o eixo norteador curricular e didático, logo, a leitura é
ensinada como um ato mecânico (memorização e decodificação), detentora de um
sentido único. Já a produção textual privilegia a imitação dos clássicos e o estudo de
regras gramaticais e eruditas, além da preocupação com a forma, considerada
inerente à arte do bem escrever (PERFEITO, 2010).
Na concepção a-histórica da linguagem como instrumento de
comunicação, a língua é vista como um código, que transmite uma mensagem de
um emissor a um receptor. Com base nas ideias de sistema de Saussure,
estudiosos do Círculo de Praga atribuíram à organização interna da língua o nome
de estrutura. Posteriormente, a dicotomia saussureana (langue/parole ou língua/fala)
recebeu empréstimos da teoria da Comunicação/Informação, sendo analisada como
código-mensagem com função informativa.
No que tange à gramática, o enfoque ainda é tradicional, sobressaindo-se o
estudo dos fatos linguísticos mediados por exercícios estruturais morfossintáticos. A
leitura é concebida como decodificação indutiva e linear, ou seja, a interpretação do
leitor (universal) deve ser a mesma do autor (os vestibulares e os concursos públicos
são exemplos dessa perspectiva tecnicista). Consequentemente, no âmbito da
produção textual, perpetua-se as técnicas de redação e as estruturas modulares
(siga o modelo), permeadas pela tipologia tradicional da tríade narração, descrição e
dissertação (PERFEITO, 2010).
Sob a perspectiva da linguagem como (forma de) interação – defendida
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa (BRASIL,
1998) – a linguagem não pode ser dissociada da sua natureza sócio-histórica. Os
fenômenos linguísticos passam a ser orientados pelo discurso, gênero e texto e não
somente pelo aspecto frasal. Busca-se analisar a linguagem consoante às situações
de uso. As principais teorias que corroboram a linguagem como interação são a
Teoria da Enunciação de Benveniste, a Análise do Discurso, a Sociolinguística, a
Linguística Textual e a Enunciação Dialógica de Bakhtin.
Perfeito (2010, p. 37) explicita, retomando os pressupostos bakhtinianos, que
“na concepção interativa de linguagem, o discurso, quando produzido, se manifesta
por meio de textos e todo o texto se organiza dentro de determinado gênero”. Assim,
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consoantes aos PCN, os gêneros são o objeto de ensino – catalisadores da
articulação curricular – e o texto, a unidade de ensino não artificial. Nessa ótica, a
leitura é coprodutora de sentidos e o leitor, coautor do texto. Logo, a leitura é
entendida como interação, permeada por aspectos que vão além do âmbito
exclusivamente linguístico, como o contexto e o conhecimento de mundo do leitor
(elementos não-linguísticos).
Na concepção interativa, propõe-se a análise linguística como:
2 Resultados e Discussões
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CAPÍTULO/ PROPOSTA DE PRODUÇÃO
TÍTULO
aconteceram; 3- Nos parágrafos seguintes, a história deve ser narrada por meio do
turma
diálogo entre as personagens; 4- Por meio das falas das personagens, o leitor deverá
ser informado sobre quem são elas, como são, o que sentem, como tentam resolver a
complicação e como se dá o desfecho; 5- As falas devem vir entre aspas ou
separadas por travessões; 6- A linguagem deve estar adequada à situação vivenciada
e à faixa etária das personagens; 7- Pense em como usar os recursos da ironia, do
exagero, do duplo sentido das palavras, dos acontecimentos inesperados; 8-
Dependendo da situação e do contexto, você pode também usar gírias e expressões
coloquiais; 9- Como se trata de uma situação informal da fala, use expressões para
indicar dúvida, concordância, discordância, hesitação, interrogação etc.; e 10- Use as
marcas próprias da modalidade escrita. Após, são mencionados alguns critérios para
o próprio escritor refletir acerca do seu texto, revisá-lo (ou solicitar que um colega
revise) e reescrevê-lo se necessário.
Apresentação: Conceitua o gênero debate e traz à tona alguns questionamentos
sobre o uso da internet e os relacionamentos sociais, além de dois textos (“Sim, é
preciso ter muita cautela”, de Cinthya Oliveira e “Redes sociais: virtudes e efeitos
colaterais na nova comunicação digital”, de Filipe Menezes) como bagagem à
construção argumentativa, seguidas de questões interpretativas e de análise
linguística.
30) Debate de opinião
usuários?
Comando: A seção se inicia com um fragmento de um texto de Sergio Fausto,
publicado no jornal “O estado de São Paulo”, o qual versa acerca do respeito no
debate. A orientação à elaboração do debate regrado se divide em três partes: 1-
Preparação: formem grupos, definam previamente algumas regras do debate, releiam
os textos, retomando as opiniões dos especialistas; registrem o que considerar
importante, mencionando a fonte; 2- Discussão em grupo: definir o posicionamento do
grupo, escolher o relator; organizar e conferir os argumentos da exposição e
conclusão sobre o tema; 3-Socialização: apresentar os argumentos de forma objetiva
e sintética, ouvir (e respeitar) as ideias divergentes dos demais grupos. O livro didático
(daqui por diante, LD) do Professor, sugere a gravação do debate para auxiliar no
processo avaliativo.
Apresentação: Após conceituar carta ao leitor, traz algumas perguntas referentes ao
texto notícia (definida como relato jornalístico), seguida da notícia “Tsunami arrasa
nordeste do Japão e leva a alerta nuclear” (do jornal Folha de São Paulo online), de
uma imagem do local afetado e de questões relacionadas ao acontecimento noticiado.
31) Carta de leitor
“Xilogravuras japonesas – a onda”, de João Montanaro e outras duas sem título, dos
chargistas Jean e Angeli, todas publicadas pela Folha de São Paulo online. Apresenta
também uma pequena biografia dos chargistas, acompanhada de questões acerca do
tema das charges, bem como a xilogravura “A grande onda de Kanagawa”, de
Katsushika Hokusai (1829-1833), indagando se há intertextualidade entre esta
xilogravura e a charge de Montanaro. Considerada polêmica, esta charge acarretou
uma série de cartas de leitores. Quatro delas, reproduzidas pelo LD, são exploradas
para mostrar como são construídos os argumentos que alicerçam os diferentes pontos
de vista. Antes da atividade de produção textual, há ainda um texto da ombudsman da
Folha na época, Suzana Singer, discorrendo sobre os argumentos dos leitores
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contra/a favor da charge.
Tema: Livre.
Comando: Exige uma pesquisa nos veículos de comunicação (impressos e digitais)
em busca de um tema interessante. Os critérios (alguns deles também exigidos pela
Folha de São Paulo) à escrita da carta são os seguintes: 1- Siga a orientação de uma
carta formal (local, data; vocativo, com forma de tratamento como “Caro senhor”,
“Prezada senhora”, etc.; desenvolvimento do assunto; fecho, com expressão cortês de
despedida; nome completo, número do RG, endereço); 2- No desenvolvimento,
apresente seu posicionamento, sustentado por informações confiáveis e argumentos
consistentes; 3- Escreva de forma concisa, clara e objetiva; 4- Use linguagem formal;
5- Evite a repetição de ideias; 6- Siga as orientações dadas na “seção de cartas” do
veículo de comunicação escolhido; 7- Fique atento às normas da variedade padrão:
pontuação, grafia, concordância, etc. Por fim, sugere a troca dos textos entre pares de
colegas para revisão e propõe que a carta seja enviada (por e-mail ou correio) ao
veículo de comunicação fonte.
Apresentação: Explicita a diferença entre o debate de (re)solução de problemas e o
debate de opinião e traz algumas questões para reflexão e quatro textos/fragmentos
de textos (“Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988”; “Sobre ética e
32) Debate de solução de problemas
Santo Graal” (de autoria desconhecida, publicada por Heitor Megale), seguida da
reprodução de uma iluminura do século XV (“A Távola Redonda e o Santo Graal”, do
Romance de Tristão) e da resenha crítica do filme “Excalibur” (1981), escrita por
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Carlos Eduardo Corrales; além de exercícios de interpretação, análise linguística e
reflexão sobre o gênero.
Tema: Resenha crítica do filme “Indiana Jones e a última Cruzada” (Direção de
Steven Spielberg, EUA, 1989).
Comando: Estabelece que os alunos assistam ao filme e registrem aspectos sobre: a)
Enredo, personagens, figurino, cenário, costumes, atuação dos atores, efeitos
especiais; b) Passagens que remetam a elementos de uma novela medieval de
cavalaria; trechos que se enquadram como heroísmo, idealismo e busca do cálice
sagrado; c) Características das novelas de cavalaria medieval. Ademais, sugere o uso
de uma linguagem conforme o público-alvo e propõe um passo a passo: 1- Na
introdução, apresente o tema, o resumo da obra e sua estrutura organizacional
(personagens e atores que os representam); 2- Dê sua opinião (pontos positivos e
negativos, destaque da obra, momentos mais interessantes, atuação dos atores,
cenário e figurino); 3- Cite alguma curiosidade a respeito do filme, momentos mais
emocionantes, destaques, etc.; 4- Na conclusão, retome e reforce sua opinião; 5- Dê
um título à sua resenha. Também recomenda que os colegas leiam os textos um dos
outros e que, com base na avaliação do colega e na orientação do professor, façam
as alterações ou ajustes necessários. O LD do Professor indica uma avaliação coletiva
dos textos dos alunos, analisando semelhanças e diferenças na sua construção, como
aspectos sintáticos, morfológicos e semânticos que devem ser retomados nas
próximas produções.
Apresentação: Após conceituar exposição oral e entrevista, apresenta um excerto de
uma entrevista com Ariano Suassuna, ator da peça teatral “O auto da Compadecida”,
seguida de questões interpretativas.
Tema: Exposição oral – O auto da Compadecida, o Barroco e os autos medievais.
35) Exposição oral: O auto
filme e do diretor; 2- Data e país de origem; 3- Nome dos atores principais; 4- Duração
do filme; 5- Gênero ou subgênero (terror, comédia, suspense, ficção científica); além
de um resumo orientado por perguntas referentes aos: a) personagens (heróis ou anti-
heróis), b) comportamentos criticados pelos autores barrocos e pelos autos, c)
finalidade dos diálogos, d) críticas sociais, e) interpretação dos atores. Ademais,
propõe que os alunos se reúnam em grupos e consultem outras fontes, como
resenhas críticas do filme, entrevistas com os atores e outros textos de Gregório de
Matos e do Padre Antônio Vieira. A seguir, cada grupo deve escolher um relator para
apresentar oralmente sua conclusão. Com o término das exposições, os alunos
podem se inscrever com o professor para fazer perguntas, comentários, críticas. Para
concluir, é sugerida uma autoavaliação, pautada na objetividade das exposições e no
aprendizado adquirido.
Apresentação: Após conceituar artigo de opinião, traz algumas questões reflexivas,
seguidas do artigo “Saudade para quê?”, de Sergio Groisman, publicado pela Revista
Veja; além de uma pequena biografia do autor e de questões de análise linguística e
sobre o gênero (por exemplo, acerca da tese defendida pelo autor). Na sequência,
segue outro artigo de opinião, “Os baderneiros de lá podem estar aqui”, de Jairo
36) Artigo de opinião
Bouer, e um fragmento da notícia que motivou tal artigo: “Violência no Reino Unido”,
publicado no site Terra, bem como, exercícios que exploram a interpretação e a
(p.386- 391)
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Fonte: Elaborado pelos autores.
O Eixo 3 do volume 1 possui oito capítulos, sendo que seis deles (30, 31, 32,
34, 35 e 36) são interdisciplinares (com Arte, História, Geografia, Sociologia,
Filosofia). A interdisciplinaridade é marcada pelo ícone de um quebra-cabeça no
início do capítulo, seguido do nome da disciplina. A maioria dos capítulos dialoga
com múltiplas semioses e culturas: pintura, iluminura, xilogravura, filmes, etc. Todos
os textos (escritos ou imagéticos) retirados da internet têm, na sequência, os
endereços eletrônicos e a data do acesso referenciados.
O volume 1 explora igualmente as duas modalidades: metade dos capítulos
tem como proposta de produção textual a modalidade escrita e a outra metade, a
oral. No que tange à divulgação das produções dos alunos, em geral, sugere-se a
afixação no mural da classe, sua publicação em sites e blogs da turma/escola, a
organização de uma antologia encadernada para ser doada à biblioteca da escola,
ou mesmo a escolha das melhores propostas para serem enviadas aos veículos de
comunicação da comunidade, impressos ou digitais.
Entretanto, o conteúdo digital é pouco explorado: apenas três capítulos (29,
34 e 36) disponibilizam material digital – composto por fichas, uma atividade, guia
didático e soluções (apenas mudou-se o suporte, do papel para o digital).
Por questões espaciais, vamos suprimir as sinopses dos volumes 2 e 3 da
coleção, porém, mantemos neste artigo, os comentários tecidos sobre cada uma
delas.
No volume 2, os capítulos trazem, assim como no volume 1, textos de
gêneros distintos que falam sobre o mesmo tema para ampliar o repertório dos
alunos e alicerçar a produção escrita/oral. Este volume também explora igualmente
as duas modalidades (oral e escrita): metade dos capítulos tem como proposta de
produção textual a modalidade escrita e a outra metade, a oral. Quanto à
interdisciplinaridade, esta aparece em quatro capítulos, os quais dialogam com as
disciplinas de história, geografia, biologia, sociologia, filosofia e artes.
Em relação à sequenciação dos gêneros abordados na coletânea, cabe
pontuar que a proposta de ficha de leitura (Cap. 35 do volume 2), a nosso ver,
deveria aparecer já no primeiro volume, pois prepararia melhor o aluno para as
diversas pesquisas exigidas em produções anteriores. O mesmo acontece com a
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proposta de resumo escolar (Cap. 27 do volume 3), a qual deveria constar também
no volume 1, pois é fundante para outros tipos de produção textual, como por
exemplo, a resenha crítica (Cap. 34 do volume 1).
Por outro lado, voltando ao volume 2, a produção oral do capítulo 32-
Seminário (Romance do Romantismo brasileiro e do Romantismo português) é uma
atividade versátil que alia Literatura e produção textual. Assim, constitui-se como
uma opção interessante para ser trabalhada com a disciplina de Literatura
incorporada à de Língua Portuguesa, como acontece no estado de Mato Grosso do
Sul desde 2017. Em MS, a Literatura deixou de ser uma disciplina independente nas
escolas da Rede Pública.
Ao fim de cada produção é sugerida sua veiculação, seja no âmbito escolar
(mural da classe, blog da turma e biblioteca da escola) ou extraescolar (sites de
comunicação do bairro, da comunidade ou cidade). O LD recomenda a gravação da
Mesa-redonda (Cap. 31 do volume 2) e, se houver condições (por parte da escola,
do professor ou de algum aluno), a produção de um documentário e posterior
distribuição à turma e à biblioteca da escola; além da publicação na internet, em
sites e blogs que falam sobre ecologia, meio ambiente e economia sustentável.
No que tange ao conteúdo digital, no volume 2, quatro capítulos (30, 31, 33 e
35) disponibilizam material digital, composto por fichas, guia didático, soluções e
duas animações.
Já em relação ao volume 3, é relevante mencionar que a coleção,
principalmente neste volume, se preocupa em abordar, além dos gêneros
tradicionais, novos gêneros, como o microconto, a nuvem de palavras e o poema
visual. Nos oito capítulos, são propostas doze produções, sendo oito escritas e
quatro orais. Uma sugestão seria incluir o gênero infográfico, o qual ganhou forte
presença nos meios jornalísticos impressos e digitais. É um gênero contemporâneo
que articula linguagem visual e verbal, podendo constituir-se em uma ferramenta de
mediação de saberes diversos.
Entretanto, a proposta de produção de uma nuvem de palavras (Cap. 28)
poderia propor a reflexão e a digitação das palavras relacionadas ao tema escolhido
diretamente no editor de textos Word, sem a necessidade de grafá-las no papel e
depois digitá-las, como é sugerido no comando. Essa conduta revela que, apesar de
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o discurso mostrar-se atualizado com o letramento digital, ainda permanecem traços
da bidimensionalidade representada pelo papel (SIGNORINI, 2012).
Já no capítulo 24 (produção de conto sobre o ambiente urbano), o livro
didático propõe que, caso o aluno ou a comunidade sejam rurais, podem ser
retomados aspectos de uma visita a zona urbana. Porém, tal proposta se daria de
maneira artificial, pois a intenção do comando é a de que o aluno absorva, pela
escrita, suas impressões da vida urbana. Dessa forma, para tornar a proposta
contextualizada, poderia trazer um tema extra, baseado nos aspectos da vida rural.
No que tange ao conteúdo digital, no volume 3, ele é ainda mais escasso do
que nos anteriores: apenas os capítulos 22 e 25 possuem conteúdo digital,
composto por fichas e exclusivo para o professor. Já a interdisciplinaridade se
mantém: quatro dos capítulos dialogam com outras disciplinas: artes, língua inglesa,
história, sociologia, filosofia. Neste volume, a veiculação do texto também é
sugerida, seja no âmbito escolar (mural da classe, blog da turma e biblioteca da
escola) ou extraescolar (publicação no Youtube, Twitter, Facebook).
Para finalizar, organizamos, no quadro abaixo, a relação das vinte e sete
produções textuais propostas ao longo dos três volumes:
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Conforme o quadro, o tipo argumentativo (artigo de opinião, carta de leitor,
resenha crítica, debate de opinião, júri simulado, debate de solução de problemas)
se destaca nas produções escritas e orais dos três volumes. Podemos afirmar que
há uma preocupação da coleção em desenvolver os gêneros que exploram a
argumentação e, consequentemente, a defesa de uma tese. Dessa forma, um dos
textos argumentativos mais cobrados em concursos, o artigo de opinião, é o único
gênero que aparece em todos os volumes.
Entre os textos orais, repetem-se o debate de solução de problemas, a mesa-
redonda, a exposição oral e o seminário. Tais gêneros perpassam a descrição:
podem ser argumentativo-descritivos. Ademais, são gêneros de prestígio, comuns
no âmbito acadêmico e publicitário.
Por fim, devemos pontuar que apesar de os gêneros mais formais – os ditos
acadêmicos – predominarem, a coleção também abarca a produção de textos
lúdicos, como o recital, e os novos gêneros (microconto e nuvem de palavras). Essa
constatação demonstra que, embora o foco recaia sobre os gêneros de prestígio, os
menos prestigiados (ou emergentes) não deixam de ser abordados.
Considerações Finais
Referências
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