ABRANCHES ET ALL - Política Social e Combate À Pobreza
ABRANCHES ET ALL - Política Social e Combate À Pobreza
ABRANCHES ET ALL - Política Social e Combate À Pobreza
Nas situações em que houver abundância plena de recursos e não se tenha atingido um
patamar significativo de justiça distributiva, a realização de objetivos de acumulação
envolve sacrifícios no consumo individual, no consumo coletivo e pode, dependendo da
correlação de poder vigente, impor pesadas privações aqueles destituídos de recursos
próprios de defesa.
Nas políticas o mais comum é que gerem controvérsia, suscitem oposição ideológica ou
substantiva e tenham algum impacto redistributivo. Conformam, portanto, um
determinado perfil de políticas no qual as inovações geralmente emergem lentamente;
requerem muita pesquisa de demonstração, seja para comprovar a existência de
necessidades a serem supridas, seja para justificar alternativas, com base em fatos e
dados. As opções possíveis dependem, para serem implementadas, de muita persuasão
tanto junto ao grupo decisório e seus superiores quanto externa a ele, na busca de
parceiros e aliados... É por essa razão que as inovações tendem a emergir de processos
decisórios atentados e tortuosos, que incluem muita “conspiração interburocrática” e
dependem, frequentemente, de “empreendedores”;
Escolhas políticas, mesmo quando solidamente apoiadas em avaliações técnicas, sempre
envolvem julgamento de valor.
Muitas dessas situações implicam a incapacidade de “ganhar a vida por conta própria” e
independente da vontade individual – ao contrário do que prevê a teoria da justiça. P.14
Interseção entre a política social como garantia universal de padrões mínimos de vida e
a política de redução da pobreza que objetiva retirar da condição de miséria aqueles que
sequer conseguiram alcançar esse piso básico, destituídos que são dos meios mais
elementares de sobrevivência.
A política social como obrigação permanente do Estado tem duas faces distintas. A
primeira, voltada para aquelas vicissitudes que determinam a redução da capacidade das
pessoas de obter renda suficiente, de forma quase sempre definitiva e insanável: a
velhice e a invalidez, por exemplo. A segunda contempla circunstâncias transitórias,
coletivas ou individuais. Coletivas seriam aquelas decorrentes de problemas associados
aos ciclos econômicos, como o desemprego temporário. Individuais, aquelas oriundas
de incapacidade pessoal temporária, causada por doença ou acidente, entre outras.
É importante notar, ainda, que a política social deve ter como meta a universalização. É
a instrumentalização de direitos assegurados pelo Estado a qualquer cidadão que venha
a sofrer os efeitos negativos daquelas contingências por ela contempladas. As políticas
de eliminação da pobreza absoluta são seletivas.
Ser pobre significa, em termos muito simples, consumir todas as energias disponíveis
exclusivamente na luta contra a morte; não poder cuidar senão da mínima persistência
física, material. São politicamente mais fracas e mais dependentes. Sua existência, nessa
condição, debilita toda a nação. Porque nas comunidades em que parcela de seus
membros permanece sem direitos e sem liberdade, o direito e a liberdade de todos estão
sob ameaça.
Pobreza e desigualdade
Pode-se reduzir a desigualdade, transferindo-se renda dos setores mais ricos para os
grupos de renda média e até mesmo para aqueles que tangenciam a linha de pobreza,
sem com isso afetar-se, necessariamente, a medida da pobreza.
A política social não pode ficar circunscrita apenas aos chamados problemas sociais.
Ela requer uma nova política econômica, capaz de induzir mudanças que permitam, de
um lado, elevar o patamar de renda das populações pobres e, de outro, redirecionar, em
parte, o padrão de produção/consumo, de modo a assegurar melhores condições de
acesso da população ao conjunto de bens e serviços essenciais. Ou seja, uma política
social consistente e que objetive resultados permanentes, requer políticas industriais,
agrícolas e de abastecimento em sintonia com esses objetivos e, sobretudo, orientadas
por esses objetivos.
Por outro lado, dessas mudanças econômicas dependem de ações em dimensões não
econômicas, que a elas combinadas conferem eficácia e viabilidade e toda a estratégia.
Exemplo, os incentivos à ampliação da geração de emprego na sociedade devem ser
complementados por programas de treinamento e qualificação de mão-de-obra,
seletivamente voltados para os segmentos aos quais se pretende dar melhores condições
de acesso e mobilidade. Em segundo lugar, medidas de curto e médio prazo, que
redirecionem o processo econômico no sentido da ampliação das condições de acesso
aos bens essenciais e oportunidades de inserção no mercado de trabalho, antes mesmo
da consolidação de mudanças mais estruturais.