LIVRO DIDÁTICO Integração de Competencia
LIVRO DIDÁTICO Integração de Competencia
LIVRO DIDÁTICO Integração de Competencia
Integração de Competências
no Desempenho da Atividade Judiciária
com Usuários e Dependentes de Drogas
2ª Edição
MJ
Brasília 2015
PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Dilma Rousseff
VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Michel Temer
MINISTRO DA JUSTIÇA
José Eduardo Cardozo
2ª Edição
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS
SOBRE DROGAS – SENAD
REVISÃO DE CONTEÚDO
Robson Robin da Silva
José Rossy e Vasconcelos Júnior
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
FACULDADES DE MEDICINA E DE DIREITO
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Erica Rosanna Siu
APOIO PEDAGÓGICO
Luis Paulo Saito
Cristiano Avila Maronna
Gabriela Arantes Wagner
Heloísa de Souza Dantas
Luciano Anderson de Souza
Maurides Melo Ribeiro
CONSULTORIA TÉCNICA
Carolina Dzimidas Haber
SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS
Aline Fernanda Pedrazzi
Keli Nunes Correa
Maria Lucilândia Alves do Nascimento Brito
Janaina Marize de Oliveira
PREFÁCIO
11
SUMÁRIO
13
INTRODUÇÃO – OS INSTRUMENTOS LEGAIS
E AS POLÍTICAS SOBRE DROGAS NO BRASIL:
ENFOQUE NA ÁREA DE SAÚDE E A GARANTIA
DE DIREITOS DOS USUÁRIOS DE DROGAS
Vitore André Zílio Maximiano
Luiz Guilherme Mendes de Paiva
15
Cada uma dessas convenções estabelece princípios básicos e
determina os caminhos pelos quais as leis dos países participantes
devem seguir como resposta ao uso problemático e ao trá co de drogas
ilícitas. Em todas elas, reconhece-se a dependência química como
problema social e de saúde pública, e que a melhor forma de combater
tal problema é de nir programas e ações integradas e coordenadas
entre os países. Entretanto, a estratégia principal das três convenções
foi claramente inibir a produção, circulação, comércio e uso de subs-
tâncias consideradas problemáticas por meio de controles rígidos de
matérias-primas e do estabelecimento de penas altas para quem
comercializa ou faz uso de tais substâncias.
16
dagem sobre o assunto. Assim, debates sobre políticas alternativas
foram realizados, e alguns países têm alterado suas regras locais para
colocar em prática novas abordagens voltadas ao usuário, que não a
simples punição criminal.
17
infração administrativa, sem a intervenção da justiça criminal – o que
se de ne como descriminalização do uso de drogas. Um terceiro
arranjo possível é a liberação do uso medicinal de alguma substância
inicialmente proibida, como ocorre com a mor na e, mais recente-
mente, com a maconha em alguns países europeus e algumas regiões
dos Estados Unidos. Finalmente, há a experiência bastante recente do
Uruguai e de algumas regiões dos Estados Unidos onde o uso recreati-
vo da maconha foi permitido. Nesse último caso se pode falar em
legalização ou regulação do uso de drogas.
18
vos, diretrizes e estratégias para que as ações de redução da oferta e da
demanda sejam realizadas de forma articulada e planejada. O docu-
mento parte da premissa de que a política nacional deve buscar a
integração das políticas públicas e a descentralização das ações para
que sejam realizadas em conjunto com estados e municípios e sempre
em estreita colaboração com a sociedade e com a comunidade cientí -
ca: trata-se da responsabilidade compartilhada. Assim, a PNAD foi
construída em cinco capítulos: (I) Prevenção; (II) Tratamento, recu-
peração e reinserção social; (III) Redução de danos sociais e à saúde,
(IV) Redução da oferta; (V) Estudos, pesquisas e avaliações.
20
de 5 a 15 anos de reclusão para as condutas de trá co, que podem ser
ainda aumentadas se car comprovada a participação em quadrilha ou
organização criminosa. Por outro lado, a lei prevê um tratamento
diferenciado ao “pequeno tra cante”: se car demonstrado que o con-
denado é réu primário, de bons antecedentes e que não se dedica a
atividades criminosas nem integra organização criminosa, a pena pode
ser reduzida.
21
De qualquer forma, é fundamental que as escolhas legislativas
sejam sempre avaliadas para que seja possível analisar seus resultados e,
se for o caso, propor alterações e correções de rota. Já é possível saber,
por exemplo, que a lei aprovada em 2006 provocou um grande aumen-
to no número de presos por crimes relacionados ao trá co de drogas:
entre 2007 e 2012, o número de pessoas presas por trá co de drogas
aumentou 111% – de 65.494 para 138.198 –, o que, por sua vez, repre-
senta mais de 25% de todos os presos brasileiros (cerca de 548.000),
contra 10,5% em 2006. Nesses seis anos, o trá co de drogas ultrapas-
sou o crime de roubo quali cado como tipo penal mais comum nas
prisões. A população carcerária feminina aumentou de cerca de 5.800
presas por trá co em 2006 para cerca de 14.900 em 2012. Hoje, a
prisão por trá co responde por 42% de toda a população carcerária
feminina.
24
tenhamos novas alterações na legislação nos próximos anos. No ce-
nário internacional, novas experiências surgem a cada momento, de
forma que é importante que a lei brasileira e o SISNAD como um todo
estejam preparados para conhecer, avaliar e, se for o caso, introduzir
novas abordagens na política nacional, sempre tendo como objetivo a
saúde e o bem-estar da comunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓ-
PICAS, 1971, Viena. Disponível em: <h p://www.unodc.org/pdf/convention_
1971_en.pdf>. Acesso em: 23/02/2015.
26
MÓDULO I
A CULTURA JURÍDICA SOBRE DROGAS
MUDANÇA DE CULTURA
JURÍDICA SOBRE DROGAS
• O que é cultura?
• Cultura jurídica
• Instituições jurídicas
• Cultura repressivo-punitiva
• Cultura restaurativa
I
MUDANÇA DE CULTURA JURÍDICA
SOBRE DROGAS
Roberto Portugal Bacellar
Nos cursos de direito se aprende que “o que não está nos autos
de processo não está no mundo”, e cabe aos aplicadores do direito
33
MÓDULO I
fazer a subsunção do fato à norma, aplicando a lei aos casos concretos.
Essa visão de holofote restrita apenas à questão jurídica de subsunção
da ocorrência aos ditames da lei é apequenada aos autos de processo e
conformada aos limites da ocorrência policial, porém não enxerga os
verdadeiros problemas e interesses que levaram esse cidadão a
procurar a droga, que para ele, dependente, integra seus valores
(fisiológicos, biológicos e psicológicos) como uma “necessidade” de
sua existência. A visão de holofote prescreve como única alternativa a
abstinência e imagina possível alcançar a ressocialização pelo encar-
ceramento ou internação.
34
UNIDADE 1
Não é possível ao Estado pretender “arrancar” a cabeça das
pessoas que descumprem a lei e “colar” outra no lugar, agora a cabeça
de pessoas ideais (que cumprem a lei e não usam drogas). A simples
subsunção do fato tido por criminoso e a norma com a consequente
aplicação da pena não modificam o comportamento dos indivíduos,
até porque estes (em causa) muito pouco participam do processo
judicial tradicional em que o Estado juiz substitui a vontade das
pessoas, que pouco ou quase nada participam dos mecanismos
oficiais de resolução de conflitos.
35
MÓDULO I
integrada das áreas da saúde e do direito permitirá a verdadeira
pacificação social, finalidade da lei, do direito e da própria existência
do Poder Judiciário.
36
UNIDADE 1
de justiça que não aplicam a lei porque “isso é um problema de saúde
pública”. O profissional que atua na área do direito formado e defor-
mado pela cultura jurídica do passado não consegue visualizar nada
além da pena.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
37
MÓDULO I
BACELLAR, R. P. Juizados Especiais: a nova mediação paraprocessual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
MALUF, D. P. et al. Drogas: prevenção e tratamento – o que você queria saber e não
tinha a quem perguntar. São Paulo: CL-A Cultural, 2002.
SCURO, P. et al. Justiça restaurativa: desafios políticos e o papel dos juízes. In:
SLAKMON, C.; MACHADO, M. R.; BOTTINI, P. C. (Org.). Novas direções na
governança da justiça e da segurança. Brasília: Ministério da Justiça, 2006, v. 1,
p. 543-567.
ZEHR, H. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. Trad. Tônia
Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2008.
38
UNIDADE 1
RESUMO DA AULA
39
MÓDULO I
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
O APRIMORAMENTO
DO PODER JUDICIÁRIO
EM RELAÇÃO AO USO
DE DROGAS
• Evolução da legislação brasileira sobre drogas
• A descarcerização
• As medidas educativas
I
O APRIMORAMENTO DO PODER JUDICIÁRIO
EM RELAÇÃO AO USO DE DROGAS
Ricardo Cunha Chimenti
43
MÓDULO I
Com a vigência da Constituição Federal de 1988, surgiu um
novo sistema legislativo penal.
I – admoestação verbal;
II – multa.
46
UNIDADE 2
posse ilícita de entorpecentes para uso próprio lavrem-se os Termos
Circunstanciados, imprescindíveis para que o usuário e o dependente
de drogas possam ser devidamente identificados, levados à presença
do Ministério Público e do Poder Judiciário, atendidos e reinseridos
na sociedade.
47
MÓDULO I
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
48
UNIDADE 2
RESUMO DA AULA
49
MÓDULO I
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
50
UNIDADE I1
3. Segundo o texto:
51
UNIDADE 3
CONSUMO DE DROGAS,
CRIME E PENAS:
UMA ANÁLISE À LUZ
DO PRINCÍPIO
DA LEGALIDADE
• Evolução histórica do proibicionismo e política
de “guerra às drogas”
I
CONSUMO DE DROGAS, CRIME E PENAS: UMA
ANÁLISE À LUZ DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Rogério Fernando Taffarello
Introdução
O tema das múltiplas e complexas interações humanas com o
que se convencionou chamar de drogas ocupa lugar central nas
preocupações políticas e sociais do Brasil e de inúmeros outros países
na contemporaneidade e, da mesma forma, ocupa lugar de destaque
nas discussões atuais no âmbito do direito penal e da Justiça Criminal
em todo o mundo.
55
MÓDULO I
política conheceu especial recrudescimento nos tempos da Guerra
Fria, quando a ideologia bélica contaminou todos os campos relevantes
da política interna e internacional, culminando, no início dos anos
1970, na resoluta declaração de “guerra às drogas” (war on drugs),
promovida pelo presidente Richard Nixon, ideário político ainda apro-
fundado na década seguinte por Ronald Reagan e George Bush.
(TAFFARELLO, 2009).
56
UNIDADE 3
de caráter penal e processual penal – de “combate” ao uso, produção e
circulação de drogas. Com efeito, e de forma muito mais compreensi-
va que o diploma legal anterior, ela contém toda uma série de
princípios que norteiam a forma como o Estado brasileiro deve Produto direto do ideário
belicista suprarreferido e
abordar a questão, e que, destarte, têm de influir na própria aplicação concebida na vigência de
regime ditatorial e em tem-
do direito nas situações concretas. po em que tanto a guerra
fria (e, portanto, a ideo-
logia da segurança nacio-
Ao passo que a Lei nº 6.368/1976 era claramente dominada nal) quanto a guerra
contra as drogas viviam seu
por dispositivos repressivos – não só nos capítulos intitulados “dos maior recrudescimento, a
Lei nº 6.368/1976 teve
crimes e penas” e “do procedimento criminal”, mas também nos cunho marcadamente au-
toritário, revelado já em
seu art. 1º, que, em vez de
outros três, intitulados “da prevenção”, “do tratamento e recuperação” apresentar os objetivos da
lei, seus fundamentos ou
e “disposições gerais” –, a atual Lei de Drogas não é uma lei voltada à princípios, desde logo im-
punha expressamente um
repressão, embora sua parte penal e processual penal seja merecedora “dever de toda pessoa física
ou jurídica colaborar na
de destaque. prevenção ou repressão ao
tráfico ilícito e uso indevido
de substância entorpecente
É importante notar que a Lei nº 11.343 institui, como se nota em ou que determine depen-
dência física ou psíquica”,
sua ementa e também em seu artigo inicial, todo um sistema nacional transferindo a cidadãos e
empresas, sob ameaça de
de políticas públicas sobre drogas, bem como estabelece medidas para reprimendas legais, atri-
buições e responsabilida-
a prevenção do uso indevido e de atenção e busca de reinserção social des próprias dos órgãos
estatais incumbidos da
de usuários de drogas, além de prescrever crimes, penas e medidas segurança pública.
57
MÓDULO I
como o da legalidade, o da razoabilidade ou proporcionalidade, o da
necessária proteção a bens jurídicos de terceiros, o da ofensividade, o
da humanidade das penas e o da intervenção mínima do direito penal,
entre outros, que pretendem limitar as possibilidades de intervenção
do Estado na esfera de liberdade individual dos cidadãos e, assim, a
legitimar essa mesma intervenção estatal, além de reduzir suas
inevitáveis consequências deletérias sob o ponto de vista individual e
social. (ZAFFARONI; BATISTA, 2003).
59
MÓDULO I
A esses princípios devem se adicionar os objetivos do Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), arrolados no
art. 5º da mesma lei, entre os quais o de contribuir para a inclusão social
do cidadão e lhe reduzir a vulnerabilidade para a assunção de
comportamentos de risco acerca do uso indevido ou da mercancia de
drogas e o de promover a socialização do conhecimento sobre drogas
no país.
66
UNIDADE 3
Com efeito, a evolução das pesquisas e estudos sobre a fenomenologia
do uso e dependência de drogas em todo o mundo tem apontado, nas
últimas décadas, para uma ineficácia do paradigma simplista
(meramente punitivista) da guerra às drogas, requerendo abordagens
mais compreensivas e interdisciplinares da questão.
68
UNIDADE 3
realização da intervenção breve com usuários, outro tema que será
objeto de análise mais detida ao longo deste curso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
70
UNIDADE 3
RODRIGUES, L. B. F.; CASTILHO, E. W. V. Tráfico de Drogas e Constituição:
um estudo jurídico-social do artigo 33 da Lei de Drogas diante dos princípios
constitucionais-penais. Brasília: Ministério da Justiça, 2009. Disponível em:
<http://www.justica.gov.br>. Acesso em: 31/08/2013.
71
MÓDULO I
RESUMO DA AULA
72
UNIDADE 3
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
73
MÓDULO I
a. Não possa ser considerado crime sem que haja uma lei
correspondente que o defina de forma prévia (à ocorrência
do fato), escrita e indeterminada;
b. Possa ser considerado crime, mesmo que não haja uma lei
correspondente que o defina de forma prévia (à ocorrência
do fato), podendo o juiz suprir eventual ausência legislativa;
c. Não possa ser considerado crime sem que haja uma lei
correspondente que o defina de forma prévia ou posterior (à
ocorrência do fato), escrita, clara e determinada;
d. Não possa ser considerado crime sem que haja uma lei
correspondente que o defina de forma prévia (à ocorrência
do fato), escrita, clara e determinada;
74
MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA, FUNDAMENTOS
E PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS*
• Introdução histórica: surgimento e fundamentos dos
Direitos Humanos
DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS HUMANOS
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade ine-
rente a todos os membros da família humana e de seus direitos
iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da
paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direi-
tos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a cons-
ciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade
de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado
como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando essencial que os direitos humanos sejam
protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja
compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão,
Considerando essencial promover o desenvolvimento de
relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirma-
ram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dig-
nidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos
dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o pro-
gresso social e melhores condições de vida em uma liberdade
mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se compromete-
ram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o res-
81
MÓDULO II
Artigo I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em rela-
ção umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo II
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qual-
quer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião polí-
tica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nas-
cimento, ou qualquer outra condição.
Artigo III
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal.
82
UNIDADE 4
Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as
suas formas.
Artigo V
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou
castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reco-
nhecida como pessoa perante a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer
distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual prote-
ção contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou
pela lei.
Artigo IX
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf
83
MÓDULO II
Os Direitos Humanos são um conjunto de princípios e direi-
tos que juntos representam a defesa e a promoção da vida digna para a
pessoa humana. Isso implica considerar a universalidade do ser huma-
no e também as especificidades de cada pessoa, ou seja, a prática dos
Direitos Humanos deve considerar que o direito à vida digna é um
princípio que rege todas as políticas públicas diante da especificidade
de cada grupo e de cada segmento social. Segundo Rodrigues (2007,
p. 11):
84
UNIDADE 4
um marco legal abrangente (mundial, regional e local) e de um marco
teórico atualizado, multidisciplinar, que considere novas compreen-
sões e as culturas instituintes dessas realidades, e, sobretudo, pautan-
do a proposição de políticas públicas diversificadas e inclusivas.
85
MÓDULO II
Esse conjunto dinâmico e qualificado de instituições e sujeitos
políticos pode fazer a diferença em contextos de luta pela garantia de
direitos. Ao olharmos para a História, percebemos as muitas conquis-
tas e mudanças, mas também o quanto ainda precisa ser feito. Talvez
estejamos somente iniciando a nossa tarefa, pois:
86
UNIDADE 4
para consolidar novas práticas culturais. Sem dúvida, é um caminho
longo a se percorrer.
Na esfera internacional:
87
MÓDULO II
• Declaração sobre Educação para Todos (2000);
Na esfera nacional:
88
UNIDADE 4
• Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (2009);
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
89
MÓDULO II
RESUMO DA AULA
90
UNIDADE 4
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
a. Do ser humano;
b. Do acesso à saúde;
c. Da dignidade humana;
d. Do acesso à educação;
e. Todas as alternativas.
91
UNIDADE 5
SUJEITOS E ATUAÇÃO
EM DIREITOS HUMANOS*
• Sujeitos e dimensões dos Direitos Humanos: o
homem como indivíduo, como sujeito social e político
e como ser coletivo
95
MÓDULO II
Historicamente, os Direitos Humanos vêm se transformando e
ampliando sua abordagem diante das conquistas sociais e transforma-
ções culturais. A princípio, se referiam ao homem enquanto indivíduo
(direitos de liberdade); em seguida, observavam uma compreensão
de homem como sujeito social e político (direitos de igualdade),
aspecto que amplia o campo dos direitos para essas dimensões; atual-
mente, a abordagem dos Direitos Humanos é bem mais ampla, na
medida em que se compreende o homem como um ser coletivo (direi-
tos de fraternidade e solidariedade), que existe em um mundo em inte-
ração, complexo, quase sem fronteiras, que – graças aos avanços tecno-
lógicos – amplia infinitamente as possibilidades de trocas, de constru-
ção de conhecimento e de acesso à informação.
96
UNIDADE 5
97
MÓDULO II
Sujeito Ativo:
98
UNIDADE 5
Sujeito Passivo:
Mas ele não fica sozinho no polo passivo dos direitos fun-
damentais. Quanto às liberdades e aos direitos de solidariedade,
todos estão adstritos a respeitá-los. No tocante a direitos sociais
específicos, a Constituição, por exemplo, inclui no polo passivo
do direito à educação da família, ao lado do Estado (art. 205),
quanto ao direito à seguridade, inclui a sociedade (art. 195).
100
UNIDADE 5
Na concepção do autor, os princípios-direitos que fundamen-
tam a democracia e o exercício da cidadania são os mesmos instituin-
tes dos Direitos Humanos. Essa aproximação, essa organicidade, é fun-
damental quando entendemos que os Direitos Humanos se concreti-
zam em espaços, tempos e condições concretas da vida das pessoas,
das sociedades e, principalmente, na relação com o Estado. Sabemos
que a existência da lei não é o suficiente para garantir a existência de
novas realidades, mas é fundamental para promover e garantir novas
condutas. Precisamos de políticas, práticas, pessoas e instituições com-
prometidas com a promoção de novas perspectivas políticas quando a
temática é o bem-estar de todos.
101
MÓDULO II
No campo das práticas democráticas, almejamos avançar do
modelo de democracia de baixa intensidade – caracterizado por meca-
nismos de representação (eleições, voto) – para o modelo de democra-
cia de alta intensidade, cuja tônica busca articular mecanismos de
representação e participação, procedimento que tende a potencializar
a qualificação do regime democrático naquilo que diz respeito não
somente à representatividade, mas também à diversidade, ao alcance e
à transparência dos governos e da gestão das políticas públicas.
102
UNIDADE 5
A governabilidade política do país é constituída por meio da relação
do Poder Executivo com o Legislativo – democracia representativa –,
mas, no atual mandato presidencial, ganha importância a relação do
estado com a sociedade-democracia participativa. Ambas se comple-
mentam, fortalecendo a democracia de um modo geral.
Por outro lado, adotou, na gestão pública, o diálogo social com as enti-
dades da sociedade civil e o fortalecimento e consolidação dos espaços
de participação social como forma de elaboração, aperfeiçoamento e
acompanhamento das políticas públicas, sempre reconhecendo a
importância das entidades da sociedade civil e respeitando sua repre-
sentatividade e autonomia.
103
MÓDULO II
A participação social ganha centralidade na promoção da cul-
tura de paz, dos Direitos Humanos. É pela participação que profissio-
nais e cidadãos vão se constituindo agentes da democracia e sujeitos de
direitos. É uma conquista, um aprendizado. Essa participação pode se
dar em diversos níveis (global, regional e local) e ter qualidades dife-
rentes, uma vez que podemos assumir papéis diferentes em situações
diferentes (atuar na proposição, na execução ou no monitoramento
das políticas). O importante é garantir a formação de uma rede capaz
de agir e de incidir nas mais diversas situações.
Considerações finais
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil:
104
UNIDADE 5
As lutas travadas no campo dos direitos, assim como as con-
quistas oriundas de tais lutas, possibilitam perceber melhor o que tem
sido feito e o que ainda é necessário fazer quando o assunto é o papel
do Estado diante dos desafios da garantia dos Direitos Humanos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
105
MÓDULO II
________. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 11/02/2015.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações
Unidas, 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/wp-
content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 11/02/2015.
106
UNIDADE 5
RODRIGUES, M. L. A. et al. Formação de Conselheiros em Direitos Humanos.
Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007.
107
MÓDULO II
RESUMO DA AULA
109
MÓDULO II
110
MÓDULO III
DROGAS
DROGAS
CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS
NO ORGANISMO
• Definição do termo “droga”
III
DROGAS: CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS
NO ORGANISMO
Sérgio Nicastri
O que é droga?
“Droga”, segundo a definição da Organização Mundial da
Saúde (OMS), é qualquer substância não produzida pelo organismo
que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas
causando alterações em seu funcionamento.
115
MÓDULO III
A lista de substâncias na Classificação Internacional de
Doenças, 10ª Revisão (CID-10), em seu capítulo V (Transtornos
Mentais e de Comportamento), inclui:
• álcool;
• canabinoides (maconha);
• cocaína;
• alucinógenos;
• tabaco;
• solventes voláteis.
Tais medicamentos, • São aquelas comercializadas de forma • São as proibidas por lei.
quando utilizados fora legal, podendo ou não estar submetidas a
do contexto clínico, algum tipo de restrição, como o álcool,
caracterizam consumo cuja venda é proibida a menores de 18
indevido. anos, e alguns medicamentos que só
podem ser adquiridos por meio de
prescrição médica especial.
116
UNIDADE 6
Existe uma classificação – de interesse didático – que se baseia
nas ações aparentes das drogas sobre o sistema nervoso central
(SNC) conforme as modificações observáveis na atividade mental ou
no comportamento da pessoa que utiliza a substância:
• Álcool
O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos
(açúcares) presentes em vegetais, como a cana-de-açúcar, a uva e a
cevada.
117
MÓDULO III
Processo anaeróbico de tiveram alguma experiência com sua utilização. Droga lícita, o álcool
transformação de uma
substância em outra, é, sem dúvida, a substância psicotrópica de uso e abuso mais ampla-
produzida a partir de
micro-organismos, como mente disseminados em grande número de países na atualidade.
bactérias e fungos, cha-
mados, nesse caso, de
fermentos. A fermentação produz bebidas com concentração de álcool
de até 10% (proporção do volume de álcool puro no total da bebida).
São obtidas concentrações maiores por meio da destilação. Em
Processo em que se vapo- doses baixas, o álcool é utilizado, sobretudo, por causa de sua ação
riza uma substância líqui-
da e, em seguida, se con-
densam os vapores resul-
euforizante e da capacidade de diminuir as inibições, o que facilita a
tantes para obter de novo
um líquido, geralmente
interação social.
mais puro.
Os efeitos do álcool estão relacionados com os níveis da
substância no sangue, variando conforme o tipo de bebida ingerida, a
velocidade do consumo, a presença de alimentos no estômago e
possíveis alterações no metabolismo da droga por diferentes
condições – por exemplo, na insuficiência hepática, em que a degra-
dação da substância é mais lenta.
Efeitos
São efeitos da principal ação farmacológica dos barbitúricos:
• diminuição da capacidade de raciocínio e concentração;
• sensação de calma, relaxamento e sonolência;
• reflexos mais lentos.
Tolerância e abstinência
Os barbitúricos causam tolerância, sobretudo quando o
indivíduo utiliza doses altas desde o início e síndrome de abstinência
quando retirados, o que provoca insônia, irritação, agressividade,
ansiedade e até convulsões.
Uso clínico
Em geral, são utilizados na prática clínica para indução
anestésica (tiopental) e como anticonvulsivantes (fenobarbital).
• Benzodiazepínicos
Esse grupo de substâncias começou a ser usado na medicina
nos anos 1960 e possui similaridades importantes com os barbitúri-
cos em termos de ações farmacológicas, com a vantagem de oferecer
maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica (aquela que
produz efeitos prejudiciais à saúde) é muitas vezes maior que a dose
terapêutica (aquela prescrita no tratamento médico).
Substância química
produzida pelos Efeitos
neurônios, as célu-
las nervosas, por
meio das quais se Os benzodiazepínicos potencializam as ações do GABA (ácido
enviam informações
a outras células. gama-amino-butírico), o principal neurotransmissor inibitório do
SNC. Como consequência, os benzodiazepínicos produzem:
120
UNIDADE 6
• diminuição da ansiedade;
• indução do sono;
• relaxamento muscular;
• Opioides
Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula do
oriente (Papaver somniferum), sintéticas e semissintéticas, obtidas a
partir de modificações químicas em substâncias naturais.
121
MÓDULO III
As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a
heroína e a codeína, além de diversas substâncias totalmente sinteti-
zadas em laboratório, como a metadona e a meperidina.
Efeitos
Os opioides causam os seguintes efeitos:
• torpor e sonolência.
Abstinência
A abstinência provoca:
• náuseas; • piloereção (arrepio), com
• lacrimejamento; duração de até 12 dias;
• corrimento nasal; • câimbra;
• vômitos; • diarreia.
• cólicas intestinais;
122
UNIDADE 6
Uso clínico
Os medicamentos à base de opioides são receitados para
controlar a tosse e a diarreia e como analgésicos potentes.
• Solventes ou inalantes
Atualmente, esse grupo de substâncias depressoras não possui
utilização clínica alguma, embora o éter etílico e o clorofórmio
tenham sido bastante empregados como anestésicos gerais no
passado.
Efeitos
123
MÓDULO III
O uso crônico de tais substâncias pode levar à destruição de
neurônios, causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como
lesões no fígado, rins, nervos periféricos e medula óssea.
Tolerância e abstinência
Embora haja tolerância, até hoje não há uma descrição
característica da síndrome de abstinência relacionada a esse grupo de
substâncias.
• Tabaco
É um dos maiores problemas de saúde pública em diversos
países e uma das mais importantes causas potencialmente evitáveis de
doenças e morte.
Efeitos
O consumo de tabaco (droga lícita) pode causar:
Acidente vascular
encefálico. • doenças cardiovasculares (infarto, AVE e morte súbita);
124
UNIDADE 6
• doenças respiratórias (enfisema, asma, bronquite crônica,
doença pulmonar obstrutiva crônica);
Fumantes passivos
Tolerância e abstinência
125
MÓDULO III
• Cafeína
É uma droga lícita classificada como estimulante do SNC
menos potente que a cocaína e as anfetaminas.
• Anfetaminas
São substâncias sintéticas, ou seja, produzidas em laboratório.
Existem várias substâncias sintéticas que pertencem a esse grupo.
126
UNIDADE 6
São exemplos de drogas “anfetamínicas”: femproporex
® ® ®
(Desobesi – M ), metilfenidato (Ritalina ), mazindol (Dasten ;
® ® Muitos dos medicamentos
AbstenS ; Moderine ), metanfetamina (Pervitin) e dietilpropi-
®
citados foram retirados do
ona ou anfepramona (Dualid; Inibex; Hipofagin ). mercado.
Efeitos
São efeitos do uso de anfetaminas:
• fala acelerada;
• taquicardia;
Tolerância e abstinência
Uso clínico
• Cocaína
É uma substância extraída de uma planta nativa da América do
Sul, popularmente conhecida como coca (Erythroxylum coca).
128
UNIDADE 6
Efeitos
• estado de excitação;
• hiperatividade;
• insônia;
• falta de apetite;
Tolerância e abstinência
129
MÓDULO III
Fator de risco de infarto e acidente vascular encefálico (AVE)
130
UNIDADE 6
• Maconha
É o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. Suas folhas e
inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o
haxixe, pasta semissólida obtida por meio de grande pressão nas
inflorescências, com maiores concentrações de THC (tetraidrocana-
binol), que é uma das diversas substâncias produzidas pela planta,
principal responsável por seus efeitos psíquicos.
Efeitos psíquicos
• Agudos
Esses efeitos podem ser descritos, em alguns casos, como
sensação de bem-estar, acompanhada de calma e relaxamento, menos
fadiga e hilaridade, em outros, como angústia, atordoamento, ansie-
dade e medo de perder o autocontrole, com tremores e sudorese.
• Crônicos
O uso continuado interfere na capacidade de aprendizado e
memorização. Pode induzir um estado de diminuição da motivação,
131
MÓDULO III
por vezes chegando à síndrome amotivacional, ou seja, a pessoa não
sente vontade de fazer mais nada, tudo parece ficar sem graça, perder a
importância.
Efeitos físicos
• Agudos
Observam-se hiperemia conjuntival (os olhos ficam averme-
lhados), diminuição da produção da saliva (sensação de secura na
boca) e taquicardia, com frequência de 140 batimentos cardíacos por
minuto ou mais.
• Crônicos
Problemas respiratórios são comuns, uma vez que a fumaça
produzida pela maconha é muito irritante, além de conter alto teor de
alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele existir benzopireno, um
conhecido agente cancerígeno.
• Alucinógenos
Designação dada a diversas drogas que podem provocar uma
série de distorções do funcionamento normal do cérebro, trazendo
como consequência várias alterações psíquicas, entre as quais aluci-
nações e delírios, sem que haja estimulação ou depressão da atividade
cerebral. Fazem parte deste grupo a dietilamida do ácido lisérgico
(LSD) e o ecstasy, drogas ilícitas.
133
MÓDULO III
Efeitos
O uso de LSD causa os seguintes efeitos:
Delírios Exemplos
134
UNIDADE 6
o indivíduo volta a apresentar repentinamente todos os efeitos
psíquicos da experiência, sem ter voltado a consumir a droga. As
consequências são imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam
sendo procurados ou esperados e podem surgir em ocasiões bastante
impróprias.
Tolerância e abstinência
O fenômeno da tolerância se desenvolve muito rapidamente Sintomas desagradáveis
que ocorrem com a redu-
com o LSD, mas também logo desaparece com a interrupção do uso. ção ou com a interrupção
do consumo da substân-
Não há descrição de síndrome de abstinência se um usuário crônico cia.
Importante
135
MÓDULO III
• Ecstasy (3,4-metilenodioximetanfetamina
ou MDMA)
É uma substância alucinógena ilícita que guarda relação
química com as anfetaminas e também apresenta também proprieda-
des estimulantes. Seu uso é frequentemente associado a certos
grupos, como os jovens frequentadores de baladas ou boates.
Aumento excessivo da
temperatura corporal. Há relatos de casos de morte por hipertermia maligna em
que a participação da droga não é completamente esclarecida.
Acredita-se que o ecstasy estimula a hiperatividade e aumenta a sen-
sação de sede, podendo induzir um quadro tóxico específico.
• Anticolinérgicos
São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em
laboratório que têm a capacidade de bloquear as ações da acetilcolina,
um neurotransmissor encontrado no SNC e no sistema nervoso
periférico (SNP).
Efeitos psíquicos
Os anticolinérgicos causam alucinações e delírios. São comuns
as descrições de usuários intoxicados em que eles se sentem persegui-
dos ou têm visões de pessoas ou animais. Esses sintomas dependem
bastante da personalidade do indivíduo, assim como das circunstân-
cias ambientais em que ocorreu o consumo dessas substâncias.
136
UNIDADE 6
Os efeitos são, em geral, bastante intensos e podem durar até
dois ou três dias.
Efeitos somáticos
Essas substâncias também provocam:
• boca seca;
• Esteroides anabolizantes
São drogas lícitas sintetizadas em laboratórios farmacêuticos
para substituir o hormônio masculino testosterona, produzido pelos
testículos. São usados como medicamentos para tratamento de pacien-
tes com deficiência na produção desse hormônio.
137
MÓDULO III
Embora seus efeitos sejam descritos como euforizantes por
alguns usuários de tais substâncias, essa não é, geralmente, a principal
razão de sua utilização.
Efeitos
Essas substâncias podem causar:
138
UNIDADE 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MASUR, J.; CARLINI, E. A. Drogas: subsídios para uma discussão. São Paulo:
Brasiliense, 1989.
139
MÓDULO III
RESUMO DA AULA
140
UNIDADE 6
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
141
MÓDULO III
2. As bebidas alcoólicas possuem etanol, um tipo de álcool produzido
por meio da fermentação ou destilação da cana-de-açúcar. Essas
bebidas são utilizadas para consumo humano, porém sabe-se que o
álcool é um depressor do sistema nervoso central (SNC), com alto
potencial de abuso, responsável por uma série de efeitos deletérios,
entre eles a dependência. Assim, assinale a alternativa correta:
e. N.D.A.
( ) São sintéticas.
( ) Induzem tolerância.
142
UNIDADE 6
4. Um indivíduo foi julgado por portar determinada quantidade de
uma droga. De acordo com algumas testemunhas, nos últimos meses,
ele se apresentava excitado, hiperativo, com insônia e sem apetite,
além de estar cometendo pequenos delitos para comprar droga. Sua
família declarou que há poucos meses precisou procurar um
cardiologista, devido a uma angina. É possível sugerir que a droga em
questão seja:
a. A maconha.
b. Um opiáceo.
c. Um anfetamínico.
d. A cocaína.
e. N. D. A.
e. N. D. A.
143
UNIDADE 7
EXPERIMENTAÇÃO, USO,
ABUSO E DEPENDÊNCIA
DE DROGAS*
• Evolução histórica dos conceitos relacionados ao uso
de drogas e sistemas classificatórios de transtornos mentais
Introdução
O uso de drogas que alteram o estado mental, aqui chamadas
de substâncias psicoativas, acontece há milhares de anos e muito
provavelmente vai acompanhar toda a história da humanidade. Seja
por razões culturais ou religiosas, seja por recreação ou como forma de
enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como
meio de socialização ou para se isolar, o ser humano sempre se
relacionou com as drogas.
147
MÓDULO III
dados e discutidos nos últimos dois séculos, predominando, antes
disso, visões preconceituosas dos usuários, vistos muitas vezes como
“possuídos por forças do mal”, portadores de graves falhas de caráter
ou totalmente desprovidos de “força de vontade” para não sucum-
birem ao “vício”.
149
MÓDULO III
do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez mais
estereotipado à medida que a dependência avança.
PADRÕES DE CONSUMO
+ Problema + Problema
PROBLEMA
- Dependência + Dependência
USUÁRIO DEPENDENTE
PROBLEMA
- Problema DEPENDÊNCIA
- Dependência
USUÁRIO CLINICAMENTE
SOCIAL NÃO EXISTE
152
UNIDADE 7
Abuso de drogas
Pode ser entendido como um padrão de uso em que aumenta o
risco de consequências prejudiciais para o usuário.
DSM-IV CID-10
Dependência
A Tabela 2 apresenta uma comparação entre os critérios de
dependência referidos no DSM-IV e na CID-10. Esses dois sistemas
de classificação facilitam identificar o dependente de substância
psicoativa.
153
MÓDULO III
Tabela 2: Comparação entre os critérios para dependência
de substância psicoativa do DSM-IV e da CID-10
DSM-IV CID-10
Padrão mal adaptativo de uso, levando a Três ou mais das seguintes manifestações
prejuízo ou sofrimento clinicamente ocorrendo conjuntamente por pelo menos
significativos, manifestados por três ou 1 mês ou, se persistirem por períodos
mais dos seguintes critérios, ocorrendo a menores que 1 mês, devem ter ocorrido
qualquer momento no mesmo período juntas de forma repetida em um período de
de 12 meses: 12 meses:
1. Tolerância, definida por qualquer um 1. Forte desejo ou compulsão para
dos seguintes aspectos: consumir a substância.
a) necessidade de quantidades 2. Comprometimento da capacidade de
progressivamente maiores para adquirir a controlar o início, término ou níveis de
intoxicação ou efeito desejado; uso, evidenciado pelo consumo frequente
b) acentuada redução do efeito com o em quantidades ou períodos maiores que o
uso continuado da mesma quantidade. planejado ou por desejo persistente ou
2. Abstinência, manifestada por esforços infrutíferos para reduzir ou
qualquer um dos seguintes aspectos: controlar o uso.
a) síndrome de abstinência característica 3. Estado fisiológico de abstinência
para a substância; quando o uso é interrompido ou reduzido,
b) a mesma substância (ou uma como evidenciado pela síndrome de
substância estreitamente relacionada) é abstinência característica da substância ou
consumida para aliviar ou evitar sintomas pelo uso desta ou similar para aliviar ou
de abstinência. evitar tais sintomas.
3. A substância é frequentemente 4. Evidência de tolerância aos efeitos,
consumida em maiores quantidades ou necessitando de quantidades maiores para
por um período mais longo do que o obter o efeito desejado ou estado de
pretendido. intoxicação ou a redução acentuada desses
4. Há um desejo persistente ou esforços efeitos com o uso continuado da mesma
malsucedidos no sentido de reduzir ou quantidade.
controlar o uso. 5. Preocupação com o uso, manifestada
5. Muito tempo é gasto em atividades pela redução ou abandono de atividades
necessárias para a obtenção e utilização prazerosas ou de interesse significativo por
da substância ou na recuperação de seus causa do uso ou do tempo gasto em
efeitos. obtenção, consumo e recuperação dos
6. Importantes atividades sociais, efeitos.
ocupacionais ou recreativas são 6. Uso persistente, a despeito de
abandonadas ou reduzidas em razão evidências claras de consequências
do uso. nocivas, evidenciadas pelo uso continuado
7. O uso continua, apesar da quando o sujeito está efetivamente
consciência de ter um problema físico consciente (ou espera-se que esteja) da
ou psicológico persistente ou recorrente natureza e extensão dos efeitos nocivos.
que tende a ser causado ou exacerbado
pela substância.
Considerações finais
Os transtornos por uso de substâncias psicoativas, com todas
as suas características e consequências biopsicossociais, apresentam-
se, atualmente, como um grave problema de saúde pública.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
155
MÓDULO III
American Psychiatric Association (APA). DSM 5 - Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlington, VA: American Psychiatric
Association, 2013.
BABOR, T. F. Social, scientific, and medical issues in the definition of alcohol and drug
dependence. In: EDWARDS, G., LADER, M. (Ed.). The nature of drug dependen-
ce. Oxford: Oxford University Press, 1990.
MASUR, J.; CARLINI, E. A. Drogas: subsídios para uma discussão. 4. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1993.
156
UNIDADE 7
RESUMO DA AULA
157
MÓDULO III
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
158
UNIDADE 7
b. A síndrome de abstinência é um conjunto de sinais e sin-
tomas desagradáveis, tanto físicos como psicológicos, que
ocorrem mesmo sob o efeito da droga. A tolerância se refere à
administração da dose. Indivíduos dependentes necessitam
de doses menores para obter o efeito desejado.
e. N. D. A.
159
UNIDADE 8
EPIDEMIOLOGIA
DO USO DE SUBSTÂNCIAS
PSICOTRÓPICAS NO BRASIL:
DADOS RECENTES
• Conceito de epidemiologia e terminologias do uso
de substâncias psicotrópicas
III
EPIDEMIOLOGIA DO USO DE SUBSTÂNCIAS
PSICOTRÓPICAS NO BRASIL: DADOS RECENTES
José Carlos Fernandes Galduróz
Conceitos fundamentais
Epidemiologia
A palavra vem do grego epideméion (aquele que visita): epí
(sobre), demós (povo), logos (palavra, discurso, estudo).
Prevalência
É a proporção de casos existentes de certa doença ou
fenômeno em uma população determinada e em um tempo determina-
do. Por exemplo: “Quantos fumantes havia entre os moradores da
cidade de São Paulo em 2001?”. Casos existentes: fumantes; população
determinada: moradores de São Paulo; tempo determinado: o ano de
2001.
Incidência
É o número de casos novos de certa doença ou fenômeno em
uma população determinada, em um tempo determinado. Por
exemplo: “Em 2001, quantos casos novos de fumantes houve entre os
moradores da cidade de São Paulo?”.
163
MÓDULO III
Definições importantes
Uso na vida
Uso no ano
Uso no mês
Uso frequente
Uso pesado
Uso abusivo
Dependência
164
UNIDADE 8
Objetivos dos estudos epidemiológicos
na área de drogas
• Diagnosticar o uso de drogas em determinada população;
Tipos de estudos
Levantamentos epidemiológicos
Fornecem dados diretos do consumo de drogas. Podem ser:
Indicadores epidemiológicos
Fornecem dados indiretos do consumo de drogas de determi-
nada população. Podem ser:
• prisões de traficantes.
167
MÓDULO III
9.109.000 pessoas. Em pesquisa semelhante realizada nos EUA, em
2004, essa porcentagem atingiu 45,4%.
168
UNIDADE 8
Em relação à cocaína, 2,9% dos entrevistados declararam ter
feito uso na vida, no levantamento realizado em 2005. Em compara-
ção com os dados de 2001 (2,3%), houve, portanto, um aumento de
0,6% no número de pessoas utilizando esse derivado de coca.
Diminuiu o número de entrevistados de 2005 (1,9%) em
relação ao de 2001 (2,0%) relatando o uso na vida de xarope à base
de codeína.
Álcool
A Figura 1 mostra as porcentagens de entrevistados de ambos
os sexos que preenchiam os critérios de dependência do álcool.
19,5
17,1
20
18
16 12,3
14 11,2
12
6,9
% 10 5,7
8
6
4
2
0
TOTAL Masculino Feminino ano2001
ano2005
Tabaco
Nas faixas etárias estudadas, mais homens relataram uso na
vida que as mulheres em ambos os levantamentos, como consta na
Figura 2.
169
11,3
MÓDULO III
10,1
10,1
12 9,0
9,0 7,9
10
8
%6
4
2
0
TOTAL Masculino Feminino
ano2001
ano2005
8
6,9
7
ano2001
6,1
6 5,8 ano2005
5,6
5
% 4,3
4,1
4
3,3 3,2
2,9
3
2,3
2,0 1,9
2
1,5 1,4 1,3
1,1 1,1
0,9
1 0,7 0,7
0,5 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,2 0,1 0,09
0
ha es os os na a) es os os os os ac
k es la na
on
t
en ni
c aí ín t ce gi
c en ric cr nt er oí
en g í c e an á r g tú a m r
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s or ia s( tim ol uc ba
r
ab
d
op
e es ic al n
n zo r a nt sa
be xa de
roi
te
es
Figura 3 – Comparação entre os Levantamentos Domiciliares sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil de 2001 e 2005, segundo o uso na vida de drogas, exceto álcool e
tabaco.
Fonte: SENAD e CEBRID – UNIFESP.
170
UNIDADE 8
Outro importante levantamento, publicado em 2007 pela
SENAD em parceria com a UNIAD – UNIFESP, investigou os
Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira. O estudo
foi realizado em 143 municípios do país e detectou que 52% dos
brasileiros adultos (acima de 18 anos) haviam feito uso de bebida
alcoólica pelo menos uma vez no ano anterior à pesquisa. Do conjunto
dos homens adultos, 11% relataram beber todos os dias e 28% de
uma a quatro vezes por semana. Esse levantamento, que utilizou uma
metodologia de pesquisa diferente dos anteriores, constatou que 9%
da população brasileira apresentava dependência de álcool, o que
representou diminuição nos percentuais apresentados anteriormente.
171
MÓDULO III
Populações específicas
Em 2004, dando sequência à pesquisa com estudantes do
ensino fundamental e médio, foi realizado, também pela SENAD em
parceria com o CEBRID – UNIFESP, o V Levantamento Nacional
sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública das 27 Capitais Bra-
sileiras. Esse estudo indicou que o primeiro uso de álcool se dava por
volta dos 12 anos de idade e predominantemente no ambiente
familiar. No entanto, as intoxicações alcoólicas ou mesmo o uso
regular de álcool raramente ocorriam antes da adolescência. A
pesquisa demonstrou, ainda, que 65,2% dos jovens já haviam
ingerido álcool alguma vez na vida, 63,3% haviam feito algum uso no
último ano e 44,3% haviam consumido alguma vez no último mês.
Outros dados preocupantes se referiram à frequência do uso dessa
substância: 11,7% faziam uso frequente (seis ou mais vezes no mês) e
6,7%, uso pesado (20 ou mais vezes no mês). Embora não sejam
drogas psicotrópicas, o uso na vida de energéticos por estudantes foi
expressivo em todas as capitais: 12,0% no total. Essas substâncias
merecem atenção especial, pois, segundo vários estudos, podem
prolongar o efeito excitatório do álcool.
173
MÓDULO III
Indicadores epidemiológicos
Como mencionado, os indicadores epidemiológicos forne-
cem dados indiretos sobre o comportamento da população em
relação ao uso de drogas psicotrópicas. Dados sobre internações
hospitalares para tratamento da dependência mostram que uma
análise de séries temporais de 21 anos – 1988-2008 – indicou redução
do total de internações no período (de 64.702 internações, em 1988,
para 24.001, em 2008). A redução parece ter acompanhado as ações
adotadas nos últimos anos no Brasil, com destaque para a criação, a
partir de 2002, dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
(CAPS AD). Por outro lado, ao serem analisadas as apreensões de
drogas feitas pela Polícia Federal no período de 2004 a 2008,
constatou-se que a quantidade de apreensões tanto de cocaína como
de maconha se manteve estável, havendo, entretanto, diminuição das
apreensões dos frascos de “lança-perfume” e aumento da quantidade
de comprimidos de ecstasy em 2007 e 2008.
174
UNIDADE 8
Considerações finais
Pode parecer estranho que, para uma mesma droga, apareçam
porcentagens diferentes. Isso ocorre porque cada tipo de levanta-
mento estuda determinada população com particularidades próprias.
A Tabela 1 ilustra esse aspecto. É possível notar, por exemplo, que na
pesquisa domiciliar (incluindo pessoas de 12 a 65 anos de idade) o
uso na vida de solventes foi relatado por 5,8% dos entrevistados,
enquanto entre jovens (estudantes, universitários e crianças e adoles-
centes em situação de rua) a porcentagem foi bem maior. Isso signi-
fica que, quando se pretende aplicar um programa preventivo ou uma
intervenção, é importante conhecer antes o perfil daquela população
específica, pois suas peculiaridades são relevantes para um planeja-
mento adequado.
Levantamentos
Estudantes Crianças
Drogas Domiciliar do Ensino e adolescentes Universitários
Fundamental em situação
e Médio de rua
Maconha 6,9% 7,6% 40,4% 26,1%
Solventes 5,8% 13,8% 44,4% 20,4%
Cocaína 2,3% 2,0% 24,5% 7,7%
EMCDDA – European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Disponível
em: <http://www.emcdda.eu.int>. Acesso em: 01/01/2011.
NIDA – National Institute on Drug Abuse. High School and youth trends.
Disponível em: <http://www.drugabuse.gov/infofacts/hsyouthtrends.html>. Acesso
em: 01/01/2011.
176
UNIDADE 8
NOTO, A. R. et al. Analysis of prescription and dispensation of psychotropic
medications in two cities in the state of São Paulo, Brazil. Revista Brasileira de
Psiquiatria, v. 24, n. 2, p. 68-73, 2002.
177
MÓDULO III
RESUMO DA AULA
178
UNIDADE 8
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
a. Incidência.
b. Risco atribuível.
c. Risco relativo.
d. Prevalência.
179
UNIDADE 9
CRACK
UMA ABORDAGEM
MULTIDISCIPLINAR
• Informações gerais sobre o crack
(o que é e epidemiologia do uso)
• Consequências sociais
III
CRACK:
UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR
Marcelo Santos Cruz
Renata Werneck Vargens
Marise de Leão Ramôa
Introdução
183
MÓDULO III
Em muitos aspectos, o uso e os problemas relacionados ao con-
sumo de crack não são diferentes dos que acontecem com outras dro-
gas. Porém, essas diferenças existem. Para que as ações empreendidas
sejam efetivas, há a necessidade de conhecer de forma mais profunda
os problemas relacionados ao uso do crack. A necessidade de conhe-
cimento se estende à importância de capacitar os profissionais que
lidam no dia a dia com pessoas que usam crack e seus familiares.
O que é crack?
O crack é uma forma distinta de levar a molécula de cocaína ao
cérebro. Sabe-se que a cocaína é uma substância encontrada em um
arbusto originário da região dos Andes, sendo a Bolívia, o Peru e a
Colômbia seus principais produtores. Os nativos destas regiões mas-
cam as folhas de coca há muito tempo, desde antes da chegada dos con-
quistadores espanhóis no século XVI. No século XIX, a planta foi le-
vada para a Europa onde se identificou qual era a substância que pro-
vocava seu efeito. Esta foi, então, chamada de cocaína.
184
UNIDADE 9
A partir daí, processos químicos passaram a ser utilizados para
separar a cocaína da folha de coca, gerando um pó branco denomina-
do cloridrato de cocaína. Desde o século XIX, o cloridrato de cocaína
é utilizado por meio de inalação nasal ou dissolvido em água para inje-
ção. Utilizando diferentes processos de fabricação, além do pó bran-
co, é possível produzir formas que podem ser fumadas. São elas a mer-
la, a pasta de coca e o crack.
185
MÓDULO III
Epidemiologia
O surgimento do uso do crack no Brasil foi detectado por redu-
tores de danos (profissionais que compõem o programa de Redução
de Danos) que trabalhavam com usuários de drogas injetáveis no iní-
cio da década de 1990.
186
UNIDADE 9
uma vez na vida, sempre menores que 3,6%. No entanto, no I
Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas
entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, se somados os percen-
tuais de uso de cocaína, merla e crack na vida, a prevalência é de 9,7%.
187
MÓDULO III
dependência. Com isso, os efeitos aparecem muito mais rápido do que
por outras vias. Entre 10 e 15 segundos os primeiros efeitos do crack já
ocorrem, enquanto os efeitos após cheirar a cocaína em pó acontecem
após 10 a 15 minutos, e após a injeção, entre 3 e 5 minutos. Essa carac-
terística faz do crack uma droga “poderosa” do ponto de vista do usuá-
rio, já que o prazer acontece quase que instantaneamente após seu uso.
Córtex pré-frontal. Há outra região do cérebro que também é atingida pelo crack.
Essa região é responsável por atividades relacionadas à solução de pro-
188
UNIDADE 9
blemas, à flexibilidade mental, ao julgamento moral e à velocidade de
processamento de informações. É onde o cérebro integra as informa-
ções e avalia as diversas decisões que pode tomar. Assim, é possível que
antes de se tornar dependente o indivíduo consiga suprimir a urgência
originada nas áreas relacionadas à satisfação e à memória do prazer,
escolhendo se quer ou não usar a droga e que, uma vez dependente, sua
capacidade de julgamento fica prejudicada, tornando-se mais propen-
so a seguir os estímulos de urgência que levam ao uso da droga.
Danos físicos
Intoxicação
Os efeitos do crack aparecem quase imediatamente depois de
uma única dose. Estes efeitos incluem aceleração do coração, aumento
da pressão arterial, agitação psicomotora, dilatação das pupilas,
aumento da temperatura do corpo, sudorese e tremor muscular. A
ação no cérebro provoca sensação de euforia, aumento da autoestima,
indiferença à dor e ao cansaço, sensação de estar alerta especialmente a
estímulos visuais, auditivos e ao toque. Os usuários também podem
apresentar tonturas e sensação de perseguição (síndrome paranoide).
Abstinência
Como para outros aspectos, a abstinência de cocaína inalada é
mais estudada do que a do crack, no entanto, nada faz supor que have-
189
MÓDULO III
ria diferenças importantes nos sintomas apresentados, mas sim em sua
intensidade. A experiência clínica sugere que o início dos sintomas de
abstinência do crack seja mais rápido e os sintomas mais intensos do
que os da abstinência da cocaína inalada, ou seja, os sintomas da absti-
nência do crack seriam mais intensos e de surgimento mais rápido do
que os da abstinência de cocaína.
190
UNIDADE 9
Overdose
Pode ser definida como a falência de um ou mais órgãos decor-
rente do uso agudo da substância e consequente aumento da estimula-
ção central simpática.
Vias aéreas
O pulmão é o principal órgão exposto aos produtos da queima
do crack. Os sintomas respiratórios agudos mais comuns são: tosse
com produção de escarro enegrecido; dor no peito com ou sem falta
de ar; presença de sangue no escarro; agravamento de asma. A tosse é o
sintoma mais comum, estando presente em até 61% dos casos, e a pre-
sença de sangue no escarro foi relatada em até 26% dos pacientes. O
escarro escuro é característico do uso de crack e é atribuído à inalação
de resíduos de carbono de materiais utilizados para acender o cachim-
bo com a droga. Atenção especial deve ser dada ao tratamento de paci-
entes com tuberculose. Muitas vezes estes pacientes convivem em
ambientes fechados, dividem os instrumentos de consumo da droga e
apresentam baixa adesão ao tratamento, favorecendo, desta forma, a
disseminação do bacilo da tuberculose.
191
MÓDULO III
Coração
O uso do crack provoca o aumento da frequência cardíaca e da
pressão arterial, podendo ocorrer isquemias e infartos agudos do cora-
ção. A ocorrência de isquemia não está relacionada à quantidade con-
sumida, à via de administração ou à frequência de uso. Ainda há risco
de arritmias cardíacas e problemas no músculo cardíaco.
Sistema nervoso
O uso de crack pode resultar em uma variedade de manifesta-
ções neurológicas, incluindo acidente vascular cerebral (derrames
cerebrais), dor de cabeça, tonturas, inflamações dos vasos cerebrais,
atrofia cerebral e convulsões.
Trato digestivo
Os sintomas mais comuns são náusea, dor abdominal e perda
de apetite.
192
UNIDADE 9
usuárias de outras drogas e têm mais chance de se envolverem com
este tipo de atividade que os homens, se expondo a riscos com maior
frequência. Deve ser levada em consideração a vulnerabilidade social a
que muitas delas estão expostas. Vale ressaltar que existe possibilidade
de transmissão de HIV através de lesões orais causadas pelos cachim-
bos. O uso de crack também tem sido associado diretamente a outras
DSTs, como gonorreia, sífilis e HTLV-1 (vírus pertencente à mesma
família do HIV), entre outras.
SAIBA MAIS
Um estudo anterior realizado em Salvador havia mostrado
que a prevalência de HIV entre usuárias de crack era de 1,6%, per-
centual maior que a prevalência brasileira (0,47%), porém menor
que em estudos realizados com usuários de drogas não injetáveis
na cidade de São Paulo (11%). Esse estudo atribuiu esse achado às
ações de redução de danos que ocorrem nas proximidades do local
de seleção das entrevistadas. Esse mesmo estudo apontou que
cerca de um terço das entrevistadas já haviam tido relações sexuais
em troca de dinheiro ou droga.
193
MÓDULO III
Fome, sono e sexo
O uso de crack pode diminuir temporariamente a necessidade
de comer e dormir. Muitas vezes os usuários saem em “jornadas” onde
consomem a droga durante dias seguidos. Frequentemente, a alimen-
tação e o sono ficam prejudicados, ocorrendo um processo de emagre-
cimento e esgotamento físico. Os hábitos básicos de higiene também
podem ficar comprometidos. O crack pode aumentar o desejo sexual
no início, porém, com o uso continuado da droga, o interesse e a
potência sexual diminuem.
194
UNIDADE 9
Intoxicação por metal
Quando o consumo de crack é feito em latas, além do vapor da
droga, o alumínio se desprende com facilidade da lata aquecida e tam-
bém é aspirado. O alumínio é um metal que se espalha pela corrente
sanguínea e é capaz de causar danos ao organismo decorrentes da into-
xicação pelo metal.
Outros
Várias situações já foram relacionadas ao uso de crack, como
lesões do fígado, dos rins, dos músculos, infecções oculares, lesões de
córnea e queimaduras nas mãos, na boca, no nariz e no rosto.
Danos psíquicos
Alterações cognitivas
O crack afeta o cérebro de diversas maneiras. A ação vasocons-
trictora (contração dos vasos sanguíneos) diminui a oxigenação cere-
bral alterando-o tanto estruturalmente quanto funcionalmente. O uso
do crack pode prejudicar as habilidades cognitivas envolvidas especi-
almente com a função executiva e com a atenção. Este comprometi-
mento altera a capacidade de solução de problemas, a flexibilidade
mental e a velocidade de processamento de informações.
Quadros psiquiátricos
As complicações psiquiátricas são o principal motivo de busca
por atenção médica e podem decorrer tanto da intoxicação aguda
quanto da abstinência. A prevalência de transtornos mentais é maior
entre usuários de crack se comparada a usuários de cocaína inalada.
Consequências sociais
Em São Paulo, um estudo com trabalhadoras do sexo que usam
crack, mostrou que a maioria destas mulheres é jovem, mãe, com baixa
196
UNIDADE 9
escolaridade, vive com familiares ou parceiros e se sustenta sozinha. A
maioria trocava sexo por crack diariamente (de um a cinco parceiros
por dia), não escolhia o parceiro, o tipo de sexo nem exigia o uso da
camisinha. Outro estudo sobre mulheres trabalhadoras do sexo em
Santos mostrou a associação entre uso do crack, uso de cocaína injetá-
vel e positividade para o HIV.
Abordagens terapêuticas
O tratamento da dependência do crack reside, em sua maior
parte, em abordagens psicoterápicas e psicossociais. Os resultados de
pesquisas sobre o uso de medicações no tratamento da dependência
do crack são apresentados a seguir, tornando clara sua pouca eficácia,
pelo menos até o momento. Além disso, a hospitalização, quando
necessária, não é suficiente no tratamento destes quadros. Deve ser
feita uma avaliação abrangente, considerando a motivação do paciente
para o tratamento, seu padrão de uso da droga, comprometimentos
funcionais e problemas clínicos e psiquiátricos associados.
Informações de familiares e amigos podem ser acrescentadas.
Condições médicas e psiquiátricas associadas devem ser tratadas de
maneira específica.
197
MÓDULO III
Farmacoterapia
Apesar de grande quantidade de estudos científicos ter pesqui-
sado os tratamentos farmacológicos para dependência de cocaína,
incluindo estudos recentes específicos para a dependência de crack,
até o momento não existe qualquer medicação aprovada especifica-
mente para o tratamento da dependência de cocaína seja em pó ou sob
forma de crack.
Abordagem psicossocial
A revisão dos estudos científicos realizada pela Agência
Nacional para Tratamento do Uso Prejudicial de Substâncias da Grã
198
UNIDADE 9
Bretanha em 2002, já enfatizava que há evidências de tratamentos efi-
cientes para dependência do crack. De fato, os autores afirmam que tra-
tar a dependência de crack não é difícil nem necessariamente implica
em habilidades totalmente novas.
201
MÓDULO III
de rua não se dá via espaço físico, no sentido de um estabelecimento,
como o manicômio. A desinstitucionalização do espaço urbano pode
ser compreendida a partir de Saraceno (1999), que afirma que o mani-
cômio e sua lógica não estão nas arquiteturas dos espaços ou em luga-
res abertos ou fechados, mas na forma como os sujeitos se posicionam.
202
UNIDADE 9
passa a se constituir enquanto espaço para os “desfiliados”. Estes não
contam mais com estruturas sociais como família, comunidade e
pátria.
203
MÓDULO III
de doença. Por isso, os recursos usados na atenção também precisam ir
muito além dos recursos medicamentosos, com atividades em grupos,
atendimentos individuais, oficinas de geração de renda, entre outros, o
que justifica a lógica da redução de riscos e danos presente em tais dis-
positivos de saúde.
Conclusão
Para concluirmos este capítulo sobre o crack em uma perspecti-
va psicossocial é importante reforçar que a abordagem ao usuário deve
considerar não somente os sintomas e os efeitos da droga em seu corpo
e psiquismo, mas também os fatores sociais e culturais presentes em
seu contexto, que, em algumas situações, podem se configurar como
fatores de risco ou, em outras, como fatores de proteção para o uso de
crack. O desafio dos profissionais da área de saúde se situa na capaci-
dade de olhar o usuário de forma integral, compreendendo seu con-
texto social e identificando as situações de vulnerabilidade a que este
está exposto, para que, assim, seja possível otimizar as potencialidades
e minimizar os riscos.
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207
MÓDULO III
RESUMO DA AULA
d. Todas as anteriores.
e. N. D. A.
209
MÓDULO III
c. Não prejudica a adesão dos pacientes ao tratamento propos-
to e a elaboração de estratégia de enfrentamento de situações
de risco.
e. N. D. A.
210
MÓDULO IV
TRATAMENTO DO USO PREJUDICIAL DE DROGAS
MODELOS DE TRATAMENTO
• Princípios gerais do tratamento das dependências químicas
• Manejo psiquiátrico
• Tratamentos específicos
• Regime de tratamento
IV
MODELOS DE TRATAMENTO
Sandra Scivoletto
Rogerio Shigueo Morihisa
Introdução
Em razão de sua etiologia multifatorial, envolvendo aspectos
individuais, biológicos, psicológicos, sociais e culturais, os transtor-
nos por uso de substâncias psicoativas apresentam ampla variedade
de propostas de tratamento.
215
MÓDULO IV
Princípios gerais do tratamento das dependências
químicas
O tratamento de indivíduos com abuso e dependência de
drogas inclui a realização de uma avaliação completa, o tratamento
dos sintomas de intoxicação e da abstinência quando necessário, a
avaliação da presença de comorbidades psiquiátricas e das condições
médicas gerais e o desenvolvimento e implementação de um plano de
tratamento. As metas do tratamento dependem da faixa etária do
indivíduo e do grau de comprometimento. Podem variar desde a
abstinência completa de qualquer psicotrópico (especialmente para
os mais jovens, que ainda estão em fase de desenvolvimento neuroló-
gico e cognitivo), passando pela redução do consumo e dos efeitos de
tais substâncias, assim como da frequência e da gravidade da recaída,
até a melhora no funcionamento psicológico e social.
216
UNIDADE 10
tratamento, é importante estar disponível quando eles sinalizam estar
prontos para tal. Candidatos potenciais ao tratamento podem perder
a oportunidade de iniciá-lo caso o serviço não esteja disponível ou não
seja acessível com facilidade.
217
MÓDULO IV
promover um progresso mais rápido para a recuperação. Visto que os
pacientes abandonam o tratamento prematuramente, os programas
deveriam incluir estratégias que mantenham os indivíduos compro-
metidos com o tratamento.
218
UNIDADE 10
8. Indivíduos com abuso ou dependência de drogas
em comorbidade com outros transtornos mentais devem
ser tratados de maneira integrada.
Visto que o abuso ou dependência de drogas e os transtornos
mentais frequentemente ocorrem simultaneamente em um mesmo
indivíduo, ambos devem ser avaliados e tratados conjuntamente.
Muitos só conseguirão manter a abstinência se a outra patologia estiver
tratada adequadamente.
219
MÓDULO IV
readequadas às mudanças no estilo de vida do paciente. O monitora-
mento objetivo do uso de drogas, incluindo, se necessário, testes
toxicológicos, em geral auxilia o indivíduo a se manter abstinente
durante o processo de tratamento. Tal supervisão pode, ainda, pro-
porcionar evidências precoces do consumo de drogas, possibilitando
a reavaliação da proposta de tratamento.
220
UNIDADE 10
Recomendações da Associação Americana
de Psiquiatria
Os programas de tratamento eficazes para abuso e dependên-
cia de drogas tipicamente incorporam muitos componentes, cada um
direcionado a um aspecto particular da doença e suas consequências.
1. Elementos da avaliação
A avaliação completa é essencial para guiar o tratamento do
indivíduo com abuso ou dependência de drogas.
A avaliação inclui:
2. Manejo psiquiátrico
f) prevenir a recaída;
222
UNIDADE 10
O manejo psiquiátrico é frequentemente associado a outras
abordagens, como comunidades terapêuticas, clínicas, programas de
desintoxicação e tratamentos ambulatoriais e de internação.
3. Tratamentos específicos
As abordagens farmacológica e psicossocial são geralmente
aplicadas em programas que combinam diferentes modalidades de
tratamento.
• Tratamentos farmacológicos
A abordagem farmacológica é benéfica para determinados
indivíduos com transtornos por uso de substâncias psicotrópicas,
sendo indicada para tratamento de outras patologias associadas ou
sintomas importantes causados pela dependência, como depressão,
ansiedade ou quadros psicóticos. Entretanto, medicações específicas
para diminuir a vontade de usar a droga ou controlar o impulso de
consumi-la ainda estão em fase de desenvolvimento, com resultados
controversos.
• Tratamentos psicossociais
São um componente essencial no programa de tratamento dos
transtornos por uso de drogas. Os tratamentos psicossociais baseados
em evidência científica incluem: terapia cognitivo-comportamental
(prevenção de recaída, treinamento de habilidades), entrevista
motivacional, técnica dos Doze Passos, terapia psicodinâmi-
ca/interpessoal, grupos de ajuda mútua, intervenções breves, terapia de
grupo, terapia de casal e terapia familiar.
a) manejo psiquiátrico;
224
UNIDADE 10
A duração do tratamento deve ser definida de acordo com as
necessidades de cada indivíduo e pode variar de poucos meses a vários
anos. É importante intensificar o monitoramento do uso de drogas nos
períodos em que o indivíduo possa estar sob maior risco de recaída,
como nos estágios iniciais do tratamento, nos períodos de transição
para níveis de cuidado menos intensivo e no primeiro ano após o
tratamento ativo ter cessado.
5. Regime de tratamento
225
MÓDULO IV
psiquiátricas, fatores relacionados ao gênero, idade, condição social e
de moradia, fatores culturais e características familiares. Dada a alta
prevalência de abuso e dependência de drogas em comorbidade com
outros transtornos psiquiátricos, é importante distinguir os sintomas
do uso de substâncias psicotrópicas daquelas relacionadas a outros
transtornos, providenciando tratamento específico, tanto farmacoló-
gico como psicoterápico, para o quadro comórbido .
2. Entrevista motivacional
Essa técnica postula que a aderência ao tratamento depende
da motivação do indivíduo. A motivação não deve ser vista como
um problema de personalidade ou um traço que a pessoa carrega
consigo quando procura o terapeuta, e sim como um estado de
prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos
em tempos ou de uma situação a outra. Segundo esse conceito de
motivação, Prochaska e DiClemente (1982) descreveram uma
série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modifi-
cação de um problema, aplicáveis tanto à automudança como à
mudança assistida por terapeuta.
Saída permanente
Recaída
Manutenção
Contemplação
Ação Pré-contemplação
Determinação
228
UNIDADE 10
Por fim, se a recaída ocorre, o indivíduo deve recomeçar o
processo, em vez de ficar preso a esse estágio. Deslizes e recaídas são
normais e a tarefa do terapeuta é ajudar a pessoa a evitar o desânimo e
a desmoralização, continuar a contemplar a mudança, renovar a de-
terminação e retomar a ação e a manutenção de esforços.
229
MÓDULO IV
• O terapeuta não assume papel autoritário; a responsabilida-
de pela mudança é deixada para o indivíduo;
3. Terapia cognitivo-comportamental
Nesse modelo, a dependência é vista como um comportamen-
to apreendido, passível de ser mudado com a participação ativa do
indivíduo no processo de mudança.
b) Crenças subjacentes
São:
c) Pensamentos automáticos
São os pensamentos que não são percebidos conscientemente,
pois acontecem de maneira rápida, involuntária, automática. Eles são
231
MÓDULO IV
específicos para cada situação, podendo ser ativados por eventos
externos ou internos. São as cognições mais fáceis de acessar e
modificar, porém podem não ocorrer na forma de pensamento, mas
de imagens.
Pensamentos
automáticos
Crenças subjacentes
(pressupostos e regras)
Crenças nucleares
(esquemas)
232
UNIDADE 10
O principal objetivo dessa terapia é sinalizar ao indivíduo a
relação entre seus pensamentos, emoções e ações em relação às
drogas, identificando as diferentes funções das substâncias psicotró-
picas em sua vida. A compreensão e as atribuições sobre o uso de
drogas são fundamentais para o tratamento. Ao terapeuta cabe:
• Identificar as crenças;
• Modificar os pensamentos automáticos;
• Sinalizar a relação entre cognição, emoção e comportamentos.
4. Prevenção de recaída
A prevenção de recaída consiste em ajudar a pessoa a se tornar
ciente de situações de risco, identificar sinais preliminares de recaída e
desenvolver planos explícitos para lidar com as situações de risco. É
importante explorar com o indivíduo as expectativas relacionadas a
futuros problemas e trabalhar todas as que forem irrealistas, pois
muitos criam expectativas de nunca mais encontrar dificuldades
(“imunidade existencial”).
5. Psicoterapia familiar
O abuso ou dependência de drogas geralmente representa um
impacto profundo sobre toda a família, desestruturando-a e
“adoecendo-a”, e as abordagens psicológicas reconhecem a impor-
tância do papel da família tanto na prevenção como no tratamento
dos dependentes de drogas. Segundo os pressupostos cognitivos e
sistêmicos, o hábito do uso de drogas é circular, repetitivo e reforçado
pela expectativa em relação aos efeitos imediatos da substância. A
teoria sistêmica da família enfatiza que a pessoa, apesar de suas
características individuais, não está isolada do contexto sociofamiliar.
É na família que as experiências são construídas, transformadas ou
repetidas, dependendo da qualidade das interações.
Alcoólicos Anônimos
Surgiu nos EUA em 1935, propondo o tratamento para a
dependência de álcool. Esse modelo visa à total abstinência do álcool,
oferecendo um programa no qual as pessoas que a ele aderem têm a
chance de revisar seus valores e seu estilo de vida. O grupo é formado
por indivíduos dependentes dispostos a compartilhar experiências,
forças e esperanças para a manutenção da sobriedade, e o anonimato é
seu alicerce principal.
1) Assumir a dependência;
236
UNIDADE 10
4) Educar a população;
237
MÓDULO IV
das pessoas portadoras de transtornos mentais. Esse recurso se aplica
especialmente aos adolescentes, que ainda não estão aptos a escolher
o que é melhor para garantir sua saúde, habilidade que geralmente
está mais comprometida pelo uso de drogas.
Conclusão
Ainda que existam várias formas de tratamento nos dias atuais,
nenhuma intervenção se mostrou mais efetiva que outra, pois a
efetividade do tratamento depende de sua indicação adequada.
Considerando que o quadro clínico e as consequências advindas da
dependência de álcool e drogas dependem de quem usa (indivíduo e
fase de vida), em que contexto se usa, do tipo de droga consumida, da
quantidade e da frequência de uso, a indicação de tratamento depen-
derá da avaliação minuciosa inicial. Como essas consequências
variam muito, a diversidade de tratamentos existentes é benéfica, uma
vez que torna possível atender a diferentes demandas de indivíduos
distintos ou de um mesmo indivíduo em outra fase dessa doença
crônica.
238
UNIDADE 10
Exemplo prático (caso clínico)
E.F.B., masculino, 18 anos, solteiro.
2)Regime de tratamento:
6) Orientação profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
241
MÓDULO IV
MARLATT, G. A.; GORDON, J. R. Prevenção de recaída: estratégias de
manutenção no tratamento de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1993.
242
UNIDADE 10
RESUMO DA AULA
243
MÓDULO IV
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
b. Contexto.
c. Tipo de droga.
d. Quantidade de droga.
e. N. D. A.
244
UNIDADE 10
3. Sabe-se que o regime de tratamento varia de acordo com a
disponibilidade de modalidades específicas de tratamento, o grau de
restrição de acesso às drogas, a disponibilidade de cuidados médicos
gerais e psiquiátricos e a filosofia do tratamento a ser indicado. Assim,
as principais decisões a serem tomadas em relação a esse tratamento
devem ser baseadas principalmente:
b. Na ineficiência da terapia.
e. N. D. A.
245
UNIDADE 11
ENTREVISTA MOTIVACIONAL
E INTERVENÇÃO BREVE
PARA USUÁRIOS DE DROGAS
• Intervenção breve (IB)
IV
ENTREVISTA MOTIVACIONAL E INTERVENÇÃO
BREVE PARA USUÁRIOS DE DROGAS
Denise De Micheli
249
MÓDULO IV
A técnica de IB foi proposta por pesquisadores canadenses, em
1972, como abordagem terapêutica para usuários de álcool. Refere-se
a uma estratégia de intervenção bem estruturada, focal e objetiva, que
usa procedimentos técnicos específicos, permitindo estudos sobre
sua efetividade. Um de seus principais objetivos é promover o desen-
volvimento da autonomia das pessoas, atribuindo-lhes a capacidade
de assumir a iniciativa e a responsabilidade por suas escolhas.
250
UNIDADE 11
identificar a presença do problema e mostrar os efeitos e consequên-
cias do consumo abusivo, o passo seguinte é motivar a pessoa a mudar
seu hábito de uso.
atenção deve ser dada para o fato de que a IB não deve ser substituída
por um tratamento especializado; mas, em casos graves, pode e deve
ser utilizada como um recurso de motivação para o usuário.
252
UNIDADE 11
identificação de problemas relacionados ao uso de álcool”, também é
amplamente utilizado. Tanto o CAGE como o AUDIT foram
desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com o
objetivo de identificar a dependência de álcool. Já o ASSIST (Alcohol,
Smoking and Substance Involvement Screening Test, ou “questionário de
triagem de álcool, tabaco e outras substâncias”), também criado pela
OMS, avalia o uso de álcool e outras drogas, bem como problemas
relacionados. Para a triagem da população adolescente, o DUSI (Drug
Use Screening Inventory ,ou “inventário de triagem de uso de drogas”) e
o Teen-ASI (Addiction Substance Index ou “escala de gravidade de
dependência”), ambos validados por pesquisadores brasileiros,
analisam o uso de álcool e outras drogas.
253
MÓDULO IV
ou de uma situação para outra. Esse é um estado interno, mas pode
ser influenciado (positiva ou negativamente) por fatores externos
(sejam pessoas ou circunstâncias).
1. Estágio de pré-contemplação
O usuário não encara seu uso como problemático ou causador
de problemas, tampouco considera algum tipo de mudança. Em geral,
não busca tratamento voluntariamente, e sim por causa dos pais,
família, escola, trabalho ou por encaminhamento judiciário. O indiví-
duo nesse estágio:
2. Estágio de contemplação
O indivíduo se mostra ambivalente em relação a seu uso. Em
geral, reconhece o problema, mas procura justificar ou minimizar
seu comportamento. Por exemplo, à pergunta “Você percebe que seu
254
UNIDADE 11
consumo está bastante elevado e que isso pode estar relacionado aos
problemas que vem apresentando no trabalho?”, ele responde: “Sim,
percebo; mas não é sempre que isso acontece/não é bem assim”. Isso
reflete que parte dele quer mudar, mas outra parte não. Muitos usuá-
rios ficam bastante tempo nesse estágio.
3. Estágio de ação
Para atingir esse estágio, é necessário que o indivíduo:
4. Estágio de manutenção
É o estágio de mudança mais importante, mas também o mais
difícil. Para permanecer nele, muitas vezes o indivíduo tem de
reorganizar seu estilo de vida, desenvolver habilidades de enfrenta-
mento de dificuldades e procurar se engajar em outras atividades
sociais e recreacionais. Isso, muitas vezes, não é fácil, pois requer que
ele parta para outro grupo de amigos, outro modo de vida, ou seja,
comece tudo de novo.
5. Recaída
255
MÓDULO IV
vezes, a recaída acontece porque a pessoa está confiante e acha que
já pode “controlar” o uso. Ao tentar fazer esse “uso controlado”, é
comum perder o controle e recair. É importante salientar que alguns
deslizes e recaídas são normais e até esperados quando o usuário está
tentando mudar seu padrão de comportamento.
256
UNIDADE 11
R (responsibility ): Responsabilidade e metas
A (advice ): Aconselhamento
257
MÓDULO IV
problemas relacionados ao uso também diminuirá. Isso pode levá-lo a
perceber os riscos que envolve seu uso de drogas e servir como razão
para considerar a mudança de comportamento. Peça ao usuário que
liste as vantagens e desvantagens do uso de drogas e comente sobre
elas. É importante fornecer orientações claras, livres de qualquer
preconceito e, sempre que possível, ter em mãos materiais informati-
vos sobre drogas para dar ao usuário.
M (menu
menu of options
options): Menu de opções de estratégias para
modificação do comportamento (reduzir ou parar o consumo)
Nessa etapa, busca-se identificar, com o usuário, as situações
de risco que favorecem o consumo de substâncias, como onde ocorre
o uso, em companhia de quem ou em quais situações (sociais ou de
sentimentos pessoais). Com tal identificação, é possível orientá-lo no
desenvolvimento de habilidades e estratégias para evitar ou lidar de
outra maneira com essas situações de risco. Pergunte ao usuário onde
ocorria o consumo e em companhia de quem. Não pergunte o nome
das pessoas que faziam uso com ele, mas apenas que tipo de relaciona-
mento mantêm (ou mantinham) entre si: se são (eram) amigos,
namorados, primos etc. Em seguida, peça-lhe que conte em que
situações usava (onde estava, com quem e o que estava sentindo
antes de usar). Procure entender se as situações de maior risco eram
ocasiões sociais (por exemplo, estar com amigos no bar, em festas, na
saída do trabalho) ou situações em que ele se sentia triste, aborrecido,
deprimido, contrariado (sentimentos pessoais). Desse modo, você
identificará algumas das situações de risco que o levaram (ou levam)
a usar drogas e, então, poderá orientá-lo sobre o que fazer para evitar
essas situações. Lembre-se de que fornecer alternativas de estratégias
e escolhas pode ajudá-lo a sentir que tem o controle e a responsabili-
dade de realizar a mudança, aumentando sua motivação. É importan-
258
UNIDADE 11
te tentar fazer com que o próprio usuário pense nas estratégias, mas,
caso ele tenha dificuldades, você pode sugerir algumas. Veja alguns
exemplos de opções e estratégias:
259
MÓDULO IV
E (empathy ): Empatia
É fundamental evitar o comportamento confrontador ou
agressivo. O usuário deve se sentir à vontade para falar de seus
problemas e dificuldades. Demonstre a ele que você está disposto a
ouvi-lo e que entende seus problemas, até mesmo a dificuldade de
mudar.
S (self-efficacy ): Autoeficácia
O objetivo é aumentar a motivação do usuário para o processo
de mudança, auxiliando-o a ponderar os prós e contras associados ao
uso de substâncias. Encoraje-o a confiar nos próprios recursos e a ser
otimista em relação à sua habilidade para mudar o comportamento,
reforçando os aspectos positivos.
2. Desenvolver discrepância
Um dos princípios da entrevista motivacional é mostrar ao
usuário a discrepância entre o comportamento que ele tem e suas
metas pessoais e o que pensa que deveria fazer. Um bom modo de
ajudá-lo a compreender esse processo é fazer uma comparação,
exemplificando com a discrepância, que muitas vezes existe, entre
onde se está e onde quer ou gostaria de estar. Muitas vezes, pergun-
tar ao usuário como ele se imagina daqui a algum tempo (dois ou três
anos, por exemplo) e o que ele está fazendo para atingir sua meta
poderá ajudá-lo a entender essa discrepância.
261
MÓDULO IV
3. Evitar a confrontação direta
Em todo momento você deve evitar confrontar diretamente o
usuário. Abordagens desse tipo nada mais fazem do que tornar o indiví-
duo resistente à intervenção. Coloque seus argumentos de modo claro,
mas sempre convidando-o a pensar sobre o assunto.
5. Fortalecer a autoeficácia
262
UNIDADE 11
3. Culpa e responsabilidade
Muitas vezes o indivíduo quer discutir sobre “de quem é a
culpa” quanto a seu consumo. O profissional deve entender e
esclarecer à pessoa que eles não estão ali para decidir quem é o
culpado, mas o que pode ser mudado e os benefícios dessa mudança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
264
UNIDADE 11
CHISHOLM, D. et al. Reducing the global burden of hazardous alcohol use:a
comparative cost-effectiveness analysis. Journal of Studies on Alcohol, v. 65, n. 6,
p. 782-793, 2004.
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Screening Inventory (DUSI). Addictive Behaviors, v. 25, n. 5, p. 683-691, 2000.
265
MÓDULO IV
OCKENE, J. K. et al. A residents’ training program for the development of smoking
intervention skills. Archives of Internal Medicine, v. 148, n. 5, p. 1039-1045, 1988.
266
UNIDADE 11
RESUMO DA AULA
267
MÓDULO IV
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
268
UNIDADE 11
3. Os estágios de mudança podem ser enumerados na seguinte
ordem:
269
MÓDULO V
PREVENÇÃO DO USO DE DROGAS
E REDUÇÃO DE DANOS
FAMÍLIA
USO E ABUSO DE DROGAS –
ENTRE O RISCO E A PROTEÇÃO
V
FAMÍLIA: USO E ABUSO DE DROGAS –
ENTRE O RISCO E A PROTEÇÃO
Eroy Aparecida da Silva
Denise De Micheli
275
MÓDULO V
o modelo de família passou por profundas modificações socioculturais
e afetivas. A inserção da mulher no mercado de trabalho, o advento da
pílula anticoncepcional, a diminuição do número de filhos, a valoriza-
ção da criança como um ser de direito, os movimentos políticos e a
contracultura influenciaram diretamente a constituição da família,
transformando, assim, as relações de poder e tornando os papéis e
tarefas do homem e da mulher mais igualitários, embora ainda hoje
prevaleçam “resquícios culturais” da supremacia do sexo masculino
sobre o feminino, mas que apontam uma mudança significativa para
maior equilíbrio entre os gêneros.
276
UNIDADE 12
colaborando para que pessoas lancem mão de substâncias psicoativas
de maneira abusiva com diversas funções no próprio ambiente familiar.
277
MÓDULO V
mente, destacando-se bebidas alcoólicas, cigarro, muitos medicamen-
tos e alguns solventes, como cola de sapateiro, acetona e tíner.
278
UNIDADE 12
alcoólicas, cigarros ou medicamentos –, bem como à forma de lidar
com as dificuldades e com a ansiedade na própria família.
279
MÓDULO V
competência de crianças e adolescentes. Os pais, embora busquem “o
melhor para seus filhos”, não raras vezes também necessitam de
orientações e informações adequadas para conseguir desempenhar
seus papéis de formadores.
280
UNIDADE 12
ampliam os cuidados em relação à família para além das políticas
públicas de assistência, com a participação direta dos sistemas
familiares na construção de programas voltados para a saúde física,
mental e social das famílias. Estão orientadas para a construção de
redes de sustentação das relações familiares no decorrer do tempo,
ajudando as famílias a resgatar sua autoestima e agir com responsabili-
dade diante de situações adversas. Dessa perspectiva, a família deixa de
ser considerada mera destinatária passiva de intervenção e passa a ser
encarada como sistema ativo, participante e responsável na constru-
ção proposta, tanto de prevenção como de tratamento para uso, abuso
e dependência de drogas.
282
UNIDADE 12
É possível observar que as porcentagens de consumo dobram
na faixa etária inicial de transição para a adolescência (entre 10 e 13
anos) em praticamente todos os padrões de consumo, bem como ta-
xas de consumo expressivas entre os adolescentes e em idades bastan-
te precoces. Nesse sentido, vale lembrar que muitos estudos relacio-
nam a precocidade do uso ao desenvolvimento de dependência – ou
seja, quanto mais cedo o jovem inicia o uso de substâncias, maiores as
chances de ele se tornar dependente.
283
MÓDULO V
conseguir drogas. A curiosidade é um dos fatores que os impulsio-
nam a buscar novas sensações.
284
UNIDADE 12
inabilidades de enfrentamento, baixa autoestima e insegurança. No
que se refere às habilidades de enfrentamento, vale mencionar que
não são todas aprendidas na adolescência. Muitas delas têm origem e
são desenvolvidas ao longo da infância e nas fases iniciais da adoles-
cência. Assim, o afeto, a atenção e o cuidado dos pais/responsáveis
desenvolvem sentimentos de segurança na criança, os quais perdura-
rão ao longo da adolescência, habilitando o indivíduo a enfrentar
situações desagradáveis. Esses sentimentos de segurança, de cuidado
e de conexão com a família têm sido apontados como fatores de
resiliência em situações estressantes, de mudanças e de frustrações.
Termo utilizado original-
Muitos pesquisadores da área de psicologia do desenvolvi- mente pela física, cujo
significado é “resistência ao
mento pontuam a possibilidade de o uso de drogas em fases iniciais da choque”, ou seja, pro-
priedade pela qual a energia
adolescência comprometer o desenvolvimento e aprimoramento das armazenada em um corpo
deformado é devolvida
habilidades de enfrentamento, uma vez que pode alterar o funciona- quando cessa a tensão causa-
dora da deformação elástica.
mento normal de regiões corticais do cérebro responsáveis por tais Essa ideia foi adaptada às
ciências da saúde, incluindo a
atividades. Segundo Nowinski (2003), estratégias de enfrentamento psicologia, como o processo e
a capacidade de adaptação
como solução de problemas e assertividade fazem parte das funções bem-sucedida de uma pessoa
em circunstâncias desafia-
cognitivas que são desenvolvidas e aprimoradas na adolescência. doras, ameaçadoras – por
exemplo, situações de risco e
Portanto, adolescentes que usam drogas para aliviar e/ou evitar adversidades crônicas (MAS-
TEN; GARMEZY, 1985).
No estudo com a família, as
situações desagradáveis provavelmente não desenvolveram essas expressões “resiliência fami-
liar” e “família resiliente” se
habilidades nem as desenvolverão com a manutenção do uso. referem à família que, mes-
mo diante de sérios proble-
mas e adversidades, demons-
tra flexibilidade na capacida-
de de adaptação, apresen-
tando resultados produtivos,
como coesão, comunicação
aberta, busca de resolução
dos problemas de maneira
A família compartilhada e sistema de
crenças positivas para seu
A família pode ser considerada fator de risco ou de proteção bem-estar (WALSH, 1996).
285
MÓDULO V
decisões, lembrando que a continência familiar é fundamental para a
formação de um jovem seguro e autoconfiante. Além disso, destaca-
se a importância do papel familiar na formação do adolescente. Cabe
à família proporcionar que a criança aprenda a lidar com limites e frus-
trações. Crianças que crescem em um ambiente com regras claras e
limites geralmente são mais seguras e sabem o que podem e devem
ou não fazer. Quando deparam com um limite, sabem lidar com a
frustração.
Conclusões
Este texto priorizou o papel da família na prevenção do uso de
drogas e na promoção da resiliência. Como observado, o problema
do uso de drogas não pode ser reduzido ao contexto individual. A
pessoa está inserida em uma rede de relações que tem (ou deveria
ter) início na família e vive em um contexto sociocultural e histórico.
Assim, a família desempenha um importante papel como mantene-
dora de cuidados materiais e emocionais, além de possuir maiores
chances de promover condições e possibilidades para o desenvolvi-
mento de práticas fundamentais de preservação da saúde e da vida
entre crianças e adolescentes. Por isso, os programas de prevenção
de uso de drogas devem contemplar e disseminar as práticas de
orientação familiar e valorizar as competências das famílias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANDURA, A. Social learning theory. New York: General Learning Press, 1971.
289
MÓDULO V
BARROS, M. A.; PILLON, S. C. Programa Saúde da Família: desafios e
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n. 1, p. 87-100, 2002.
290
UNIDADE 12
ILANUD – Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do
Delito e Tratamento do Delinquente. Ato infracional atribuído ao adolescente –
2000 a 2001. Disponível em: <http://www.promenino.org.br/TabId/77/
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em: 01/02/2011.
291
MÓDULO V
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Saúde Coletiva, v. 10, n. 3, p. 707-717, 2005.
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SUDBRACK, M. F. O. et al (Org.). Adolescentes e drogas no contexto da Justiça.
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TARTER, R. E.; SAMBRANO, S.; DUNN, M. G. Predictor variables by developmental
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WALSH, F. The concept of family resilience: crisis and challenge. Family Process, v. 35,
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WIDOM, C. S. The cycle of violence. Science, v. 244, n. 4901, p. 160-166, 1989.
292
UNIDADE 12
RESUMO DA AULA
293
MÓDULO V
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
a. Unidas.
b. Despreparadas.
c. Resilientes.
d. Informadas.
e. Prevenidas.
b. É uma democracia.
294
UNIDADE 12
3. A adolescência é um período marcado por maior experimentação
de comportamentos de risco, porque:
e. Todas as anteriores.
295
UNIDADE 13
REDES SOCIAIS*
• Definição de rede e identidade social
300
UNIDADE 13
Acolhimento Cooperação
Respeito às diferenças
Disponibilidade
Generosidade
Fonte: o autor
Tolerância
301
MÓDULO V
A rede é, ao mesmo tempo, uma proposta de ação e um modo
espontâneo de organização, por meio do qual torna-se possível criar
novas formas de convivência entre as pessoas.
302
UNIDADE 13
construção de redes sociais, tendo em vista que este deixa de focalizar
exclusivamente os profissionais e inclui a participação de toda a
comunidade.
303
MÓDULO V
O trabalho comunitário pode ser definido segundo três
dimensões:
304
UNIDADE 13
cidadãos. Cada pessoa tem um papel a desempenhar e uma compe-
tência a oferecer para o objetivo comum de articular e sustentar a rede
social. Assim, inicia-se um processo de construção de um novo saber.
O saber popular junta-se aos saberes acadêmico e político para
construir um saber comum a todos.
Conhecimento da rede
O conhecimento dos recursos da comunidade é o maior
aliado do profissional. A identificação, a análise e a eleição do recurso
305
MÓDULO V
adequado aumentam as chances de o usuário e/ou familiares terem
acesso à melhor alternativa e se beneficiarem dela.
306
UNIDADE 13
Experiências de trabalho em rede
Inúmeras experiências demonstram ser possível o trabalho em
rede. Apresentam-se, a seguir, algumas instituições, organizações,
associações, projetos e programas que realizam esses trabalhos com a
intenção de solucionar ou amenizar os problemas causados pelo uso
abusivo de álcool e outras drogas.
307
MÓDULO V
em termos de inserção social de jovens/adolescentes em situações de
risco. Reconhecendo a excelência desses programas e buscando um
efeito multiplicador de experiências bem-sucedidas, a Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) financiou a sistemati-
zação da metodologia Lua Nova com o objetivo de disseminá-la em
outros municípios brasileiros.
Terapia Comunitária
Criada pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto,
professor da Universidade Federal do Ceará, a metodologia da terapia
comunitária (TC) tem como fundamento o reconhecimento do
potencial e das competências presentes em cada pessoa, nos grupos e
na comunidade para o enfrentamento dos problemas cotidianos.
Projeto Pracatum
309
MÓDULO V
responsabilidade social e inserção dos jovens da comunidade no
mercado de trabalho. O lugar é um centro de referência em cursos de
formação profissional em moda, costura, reciclagem, idiomas e oficinas
de capoeira, música, dança e temáticas ligadas à cultura afro-brasileira,
além de uma escola infantil.
310
UNIDADE 13
e Português. Na área de saúde, o projeto Pró-Saúde objetiva educar e
informar a população sobre a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis. O grupo realiza, ainda, campanhas de limpeza urbana
que visam a manter a comunidade limpa e reaproveitar parte do lixo
como material reciclável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
312
UNIDADE 13
RESUMO DA AULA
313
MÓDULO V
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
e. N. D. A.
e. N. D. A.
314
UNIDADE 14
POLÍTICAS DE SAÚDE
PARA A ATENÇÃO INTEGRAL
A USUÁRIOS DE DROGAS
• Princípios doutrinários e diretrizes organizativas
do Sistema Único de Saúde (SUS)
• Lei nº 11.343/2006
V
POLÍTICAS DE SAÚDE PARA A ATENÇÃO
INTEGRAL A USUÁRIOS DE DROGAS
Telmo M. Ronzani
Daniela C. Belchior Mota
319
MÓDULO V
quais, na maioria das vezes, eram excludentes e desumanizados. Mais
tarde, graças a experiências exitosas que aconteceram no Brasil, foi
possível a formulação da Política de Saúde Mental do Ministério da
Saúde.
320
UNIDADE 14
Desse modo, há a superação do modelo moralizante do
cuidado e o resgate da cidadania dos usuários como sujeitos com
plenos direitos, inclusive o de se cuidar. Da perspectiva teórico-
prática, a política do Ministério da Saúde se baseia nos princípios de
redução de danos, tendo em vista o rompimento com as metas de
abstinência como única possibilidade terapêutica.
321
MÓDULO V
importante é articular o setor judiciário com o de saúde para que o
usuário tenha um cuidado integral, de acordo com suas necessidades e
problemas.
322
UNIDADE 14
O aparato organizativo pensado para implementar a política e
promover a Reforma Psiquiátrica foram os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), a fim de substituir de maneira organizada e
gradual o modelo hospitalocêntrico.
As atividades e responsabilidades dos CAPS para a organização
da política de saúde mental são:
• Direcionamento local das políticas e programas de saúde
mental, desenvolvendo projetos terapêuticos e comunitários;
• Dispensação de medicamentos, encaminhamento e acompa-
nhamento de usuários que moram em residências terapêuti-
cas, as quais são alternativas de moradia para os portadores
de transtornos mentais que não contam com suporte familiar
e social suficiente;
• Assessoramento e apoio ao trabalho dos agentes comunitá-
rios de saúde e equipes de saúde da família no cuidado
domiciliar;
• Promoção de saúde e de cidadania das pessoas com sofri-
mento psíquico;
• Atendimento em regime de atenção diária;
• Gerenciamento de projetos terapêuticos oferecendo cuida-
do clínico eficiente e personalizado;
• Promoção da inserção social dos usuários por meio de ações
intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte,
cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrenta-
mento dos problemas;
• Organização da rede de serviços de saúde mental do terri-
tório;
• Suporte e supervisão da atenção à saúde mental na atenção
primária à saúde;
• Regulação da porta de entrada da rede de assistência em
saúde mental da área de abrangência do CAPS;
323
MÓDULO V
• Coordenação com o gestor local as atividades de supervisão de
unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no território;
• Atualização da listagem dos pacientes da região que utilizam
medicamentos para a saúde mental.
324
UNIDADE 14
Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, Álcool e Drogas
(CAPS AD) ou Infantojuvenil (CAPSi). A implantação desses
serviços é definida de acordo com o porte do município:
• Municípios com até 20.000 habitantes: rede básica com
ações de saúde mental;
• Municípios com 20.000 a 70.000 habitantes: CAPS I e rede
básica com ações de saúde mental;
• Municípios com mais de 70.000 a 200.000 habitantes: CAPS
II, CAPS AD e rede básica com ações de saúde mental;
• Municípios com mais de 200.000 habitantes: CAPS II,
CAPS III, CAPS AD, CAPSi e rede básica.
325
MÓDULO V
• Proporcionar condições para o repouso e desintoxicação
ambulatorial de usuários que necessitem de tais cuidados;
• Oferecer cuidados aos familiares dos usuários dos serviços;
• Promover, mediante diversas ações de esclarecimento e
educação da população, a reinserção social dos usuários,
utilizando recursos intersetoriais;
• Trabalhar, com usuários e familiares, os fatores de proteção
para uso e dependência de substâncias psicoativas, buscando
minimizar a influência dos fatores de risco para tal consumo;
• Visar à diminuição do estigma e preconceito relativos ao uso
de substâncias psicoativas, mediante atividades de cunho
preventivo e educativo.
326
UNIDADE 14
Em situações de urgência decorrentes do consumo indevido
de álcool e outras drogas para as quais os recursos extra-hospitalares
disponíveis não tenham sido bem-sucedidos, está previsto o suporte
hospitalar à demanda assistencial por meio de internações de curta
duração em hospitais gerais (Portaria 2.629, de 28 de outubro de
2009), evitando a internação de usuários de álcool e outras drogas em
hospitais psiquiátricos.
327
MÓDULO V
Assim, as comunidades terapêuticas podem se constituir uma
modalidade de suporte aos usuários, dado que a maioria delas é de
natureza filantrópica. Tendo em vista a necessidade de atender às
demandas de estruturação e fortalecimento da rede de serviços, a
SENAD, em parceria com o Ministério da Saúde, disponibiliza, por
meio de editais públicos, apoio financeiro a municípios para a
utilização de leitos por usuários de álcool e outras drogas em comuni-
dades terapêuticas. É importante que o operador do direito saiba que
esse pode ser mais um dispositivo assistencial integrado às redes locais
para prover o acolhimento aos usuários de álcool e outras drogas.
328
UNIDADE 14
Conclusão
Como você pôde observar, existem pressupostos e princípios
da política de saúde brasileira que precisamos resguardar não só como
cidadãos, mas como profissionais de diversas áreas, para que a
população tenha acesso à saúde universal e de qualidade, como
assegura a Constituição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRENK, J. Dimensions of health system reform. Health Policy, n. 27, p. 19-34, 1994.
330
UNIDADE 14
RESUMO DA AULA
332
UNIDADE 14
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
d. Atender a comunidade.
e. N. D. A.
333
UNIDADE 15
ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO
DE DANOS PARA PESSOAS
COM PROBLEMAS COM
DROGAS NA INTERFACE DOS
CAMPOS DE ATUAÇÃO
DA JUSTIÇA E DA SAÚDE
• Contexto histórico, econômico e político das drogas
V
ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE DANOS
PARA PESSOAS COM PROBLEMAS
COM DROGAS NA INTERFACE DOS CAMPOS
DE ATUAÇÃO DA JUSTIÇA E DA SAÚDE
Marcelo Santos Cruz
Introdução
As estratégias de Redução de Danos constituem um conjunto
de princípios e ações para a abordagem dos problemas relacionados ao
uso de drogas utilizado internacionalmente e apoiado pelas instituições
responsáveis pela formulação da Política Nacional sobre Drogas. Os
problemas com as drogas apresentam múltiplas dimensões, incluindo
seus aspectos jurídicos e de saúde, em situações frequentes que podem
ter graves consequências para os indivíduos e para a coletividade.
Conhecer as estratégias de Redução de Danos, seus alcances, limi-
tações e o debate que as envolve permitirá ao profissional do campo
jurídico formular sua compreensão e contribuir para a definição das
melhores alternativas para a questão das drogas em nosso país.
337
MÓDULO V
O que são as estratégias de Redução de Danos?
Para saber o que são essas estratégias, é importante conhecer o
contexto em que surgiram e, para isso, deve-se saber um pouco de sua
história.
O proibicionismo
Mas de que maneira surgiu o modo como a atual sociedade
brasileira classifica as drogas como lícitas ou ilícitas? A legislação vem
sendo modificada ao longo de muitas décadas, como resultado de
339
MÓDULO V
tratados internacionais e da compreensão social sobre os perigos
associados ao uso de cada droga. Até o início do século XX, drogas
hoje ilícitas, como a cocaína, eram legalmente comercializadas no
Brasil, como parte da formulação de remédios. Entre o final do século
XIX e o começo do XX, um conjunto de forças sociais, que envolvia
interesses políticos, econômicos, preocupações morais e com a saúde,
deu origem a uma série de tratados internacionais proibindo a
produção, venda e consumo dessas substâncias e criando um rígido
controle sobre a produção, venda e consumo de outras, entre elas os
opioides. Autores como Lima (2009) sugerem que a preocupação
com a saúde foi uma motivação secundária, sendo a importância
política e econômica a verdadeira razão da proibição. A relevância da
influência de parcelas intensamente moralistas de algumas religiões,
especialmente na sociedade norte-americana, também é descrita
como indissociável da preocupação de que o uso de drogas produzis-
se a degeneração da sociedade. Nos Estados Unidos, a conjugação
dessas forças culminou na criação da Lei Seca, que, na década de
1930, proibia a produção, venda e consumo de bebidas alcoólicas. O
resultado foi o surgimento de um lucrativo comércio ilegal do álcool
comandado pela máfia, com grande aumento da criminalidade e da
violência.
341
MÓDULO V
entre si. Usam drogas específicas de formas distintas, têm característi-
cas ou problemas psicológicos diversos e histórias de vida particulares.
Veremos adiante, de maneira mais detalhada, o impacto do proibicio-
nismo na assistência ao tratamento e as alternativas propostas pela
abordagem de Redução de Danos.
343
MÓDULO V
dissociar o uso do álcool da direção de veículos. A legislação sobre a
direção de veículos é compreendida como uma prática de Redução de
Danos, pois ela não proíbe a venda, produção ou mesmo o consumo do
álcool, mas define uma situação em que o uso do álcool não é
permitido, que é a direção de veículos. Nesse caso, a restrição não
invade o direito individual, pois a licença para dirigir é uma concessão
pública.
345
MÓDULO V
Com a ampliação e disseminação dos princípios e das práticas
de Redução de Danos, tal abordagem se expandiu de ações dirigidas à
prevenção para atividades de tratamento.
347
MÓDULO V
põem tratamentos baseados unicamente no afastamento da droga
por meio de internações (muitas vezes prolongadas) ou apenas na
administração de medicações.
349
MÓDULO V
A sentença de encaminhamento para tratamento compulsório
podia ser respaldada pelo genuíno interesse em propiciar ajuda.
Entretanto, será que em muitos casos não era justificada por uma
compreensão moral ou pela ideia de que o mero afastamento da droga
ou outra forma de imposição da abstinência seria suficiente? Nesses
casos, em geral, os pacientes se colocavam em oposição passiva ao
tratamento, cumprindo burocraticamente o que lhes era imposto. Ao
final do tratamento compulsório, pessoas encaminhadas dessa ma-
neira não haviam mudado sua disposição para voltar a usar drogas.
Receber esse tipo de encaminhamento, com frequência, gerava
constrangimento nos profissionais de Saúde, que se sentiam obriga-
dos a realizar um trabalho em que não acreditavam.
350
UNIDADE 15
Após a nova Lei de Drogas, as entrevistas realizadas com
profissionais de Saúde de serviços especializados na assistência a
usuários de drogas evidenciam uma percepção favorável à mudança
na forma de encaminhamento de pessoas com problemas com drogas
por serviços da Justiça para essas instituições de saúde. Eles destacam
que a aproximação dos serviços da Saúde e da Justiça é bem-vinda,
pois permite melhor compreensão de parte a parte, a diminuição de
expectativas exageradas e, principalmente, a redução dos encaminha-
mentos para tratamentos compulsórios, “nos moldes da Justiça
Terapêutica” .
351
MÓDULO V
tas pelos terapeutas tomando-as como questões para si, ou seja,
produzindo novas formas de pensar sobre si mesmo, suas escolhas e
seus comportamentos. Mais do que isso, um paciente engajado no
tratamento propõe questões sobre si e as leva ao terapeuta, está atento
às respostas deste e observa de que maneira as experiências e os
modos de agir descritos por outros pacientes, companheiros de
grupo, são semelhantes aos seus. Ele percebe o tratamento não como
algo imposto por outro, mas como uma ferramenta sua para encon-
trar formas mais satisfatórias de viver. As mudanças no comporta-
mento, como a melhora no relacionamento com a família, o
afastamento de pessoas com quem usava drogas e o interesse em
atividades produtivas (por exemplo, educação ou trabalho), são
consequências das mudanças psíquicas, da melhora do bem-estar
emocional e também (mas não exclusivamente) da interrupção do
uso de drogas. Esse cuidado é importante, inclusive, porque há
pessoas que, mesmo estando abstinentes há muitos anos, continuam
tendo a vida girando em torno da droga.
352
UNIDADE 15
exigir abstinência e todas as mudanças de conduta ou, de outro lado,
simplesmente aguardar que cada paciente tome todas as decisões, são
equivocadas e improdutivas. Então, como sair desse impasse?
Para responder a tal pergunta, estudiosos de diferentes linhas
teóricas têm se dedicado a investigar e propor técnicas para ajudar os
pacientes que não estão plenamente motivados para o tratamento a se
aproximar desse estágio. Estudiosos da Psicologia Cognitivo-
-comportamental e da Psicanálise se dedicam a investigar o que
denominam, respectivamente, de “motivação para a mudança” e
“constituição da demanda de tratamento”.
353
MÓDULO V
A ambiguidade apresentada por usuários de drogas também
deve ser compreendida como um fenômeno que tem determinação
tanto biológica como psicológica. Para que essa descrição seja com-
preendida de maneira empática por pessoas que não têm problemas
com drogas nem experiência na atenção a esses problemas, é interes-
sante pensar como todos os indivíduos se encontram em ambiguida-
de em algumas situações da vida. São exemplos corriqueiros: diminuir
ou não a ingestão de alimentos saborosos contraindicados porque
aumentam o colesterol ou acrescentam alguns centímetros à cintura,
começar ou não a fazer exercícios, telefonar ou não para aquela(e)
namorada(o) que já provocou tantos problemas, fazer ou não fazer só
mais esta “comprinha” etc.
354
UNIDADE 15
equipe que o atende. Tal laço se desenvolve lentamente, pois geral-
mente os pacientes têm receio de ser enganados ou abandonados. O
vínculo também não tem desenvolvimento linear e sofre altos e baixos
de acordo com os sentimentos e acontecimentos que surgem no
tratamento. Porém, pouco a pouco esse vínculo se desenvolve,
propiciando a construção de confiança e facilitando o engajamento
do paciente. O conceito psicanalítico de “transferência” se refere a
certa forma de vínculo do paciente com o terapeuta que é considerada
ferramenta fundamental para as mudanças ocorridas em análise.
357
MÓDULO V
Universidade Federal do Rio de Janeiro, recebia encaminhamentos
da Justiça para tratamento e os profissionais percebiam os resultados
como desanimadores. Com o advento da Lei nº 11.343/2006, o 9°
Juizado Especial Criminal (Jecrim) da Barra e o PROJAD estabelece-
ram uma parceria para o encaminhamento de pessoas envolvidas com
drogas. Os profissionais (juiz e assistente social do Jecrim) estiveram
na reunião de equipe do PROJAD para esclarecer as mudanças da lei e
as penalidades previstas. A convite da equipe do Jecrim, profissionais
do PROJAD (médica, psicóloga, terapeuta de família e assistente
social) passaram a frequentar periodicamente as audiências prelimi-
nares dos detidos com drogas. Essas audiências são coletivas (vários
noticiados por envolvimento com drogas são convocados) e
compõem-se de duas partes: uma informativa geral e outra mais
específica e individual, que discute com o noticiado medidas e penas
adequadas à situação. Na primeira parte, o juiz explana sobre as
consequências jurídicas dos atos (portar ou consumir droga) e as
penalidades previstas e esclarece que, em alguns casos, a diferença
jurídica entre aquele que é julgado como usuário de drogas e o
traficante pode ser tênue e não definida por critérios puramente
objetivos. A seguir, a equipe do PROJAD fala de estratégias (Redução
de Danos ou abstinência) e modalidades de tratamento oferecidas
pela rede pública de assistência. Essa explanação propõe mostrar que
a questão das drogas envolve Justiça, Saúde e dimensões sociais e
culturais, bem como demonstrar a disposição da equipe do PROJAD
para o engajamento do sujeito desde o início de seu tratamento. Na
segunda parte da audiência, enquanto juiz e promotor se reúnem com
cada autor do fato que motivou sua detenção para estabelecer de
maneira consensual uma sanção penal adequada a ser aceita pelo
usuário, a equipe do PROJAD se reúne com os demais detidos e
familiares que porventura tenham comparecido à audiência para
discutir sua situação.
358
UNIDADE 15
Essa audiência é, para alguns envolvidos, a própria pena de ad-
vertência, ficando sanadas as questões judiciais no momento dela.
359
MÓDULO V
Comunicações pessoais informam que outras experiências
interessantes têm sido desenvolvidas nessa nova interlocução entre
profissionais da Justiça e da Saúde.
Desafios
Ainda existem grandes desafios para que os problemas com as
drogas encontrem soluções mais satisfatórias. Entre esses desafios
enfrentados pelos profissionais da Justiça e da Saúde inclui-se a
situação do risco sem demanda de ajuda, aquela em que o indivíduo,
por conta de seu envolvimento com drogas, está colocando sua vida
em risco ou oferecendo risco de vida para os demais e, apesar disso,
não percebe a necessidade de tratamento ou não a aceita. Nessa
situação, é importante diferenciar o que é risco imediato, concreto e
grave e o que é risco suposto de longo prazo ou menos provável. Um
caso exemplar de risco suposto de longo prazo é o das pessoas que
fumam tabaco. Sabe-se da grande chance de morte produzida pela
droga (50% das pessoas que fumam morrem de doença associada ao
fumo, segundo a Organização Mundial da Saúde) e, no entanto, não
se cogita tratamento compulsório para fumantes. Por outro lado, um
jovem que usa uma droga e se coloca continuamente em risco sem
perceber a necessidade de tratamento pode precisar receber alguma
forma de controle externo para preservação de sua vida ou dos demais.
Como dito anteriormente, o controle da vontade pode ser
inconstante para algumas pessoas. De maneira geral, seus entes mais
próximos (familiares, amigos e colegas ou chefia de trabalho) podem
ajudá-las a restabelecer seu controle da vontade e, para isso, precisam
exercer alguma pressão, constituindo um controle externo provisório.
Em casos mais graves, ou quando os familiares não conseguem
funcionar como essa instância de controle externo, a intervenção da
360
UNIDADE 15
Justiça é necessária. Mesmo em situações menos graves, como
aquelas em que uma pessoa encaminhada aos juizados por porte de
maconha vai ao serviço de saúde cumprir a exigência legal de
comparecimento e depois pede tratamento, observa-se como a
função de controle externo (nesse caso, exercido pela Justiça) pode
ser produtiva. O problema é que devem ser levadas em conta a
complexidade das questões e a particularidade da situação diversa de
cada um dos envolvidos. O que funciona muito bem para um pode ter
resultados desastrosos para outro.
361
MÓDULO V
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de drogas injetáveis e HIV/AIDS no Rio de Janeiro. Parte I: “Rumo a uma epidemia
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362
UNIDADE 15
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Psiquiatria da UFRJ sobre as estratégias de redução de danos na abordagem dos
problemas relacionados ao uso indevido de álcool e outras drogas. Jornal Brasileiro
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TOSCANO JR., A. Um breve histórico sobre o uso de drogas. In: SEIBEL, S. D.;
TOSCANO JR., A. (Ed.). Dependência de drogas. São Paulo: Atheneu, 2001. p.
181-190.
363
MÓDULO V
RESUMO DA AULA
364
UNIDADE 15
No que se refere ao tratamento de pessoas com abuso ou
dependência de drogas, as concepções que deram origem ao proibi-
cionismo também produzem impasses com frequência. Uma compre-
ensão equivocada que privilegie os aspectos biológicos ou morais do
uso de substâncias produz formas de tratamento inadequadas e inefi-
cazes. De maneira geral, posturas extremas, como impor o tratamento,
exigir abstinência e todas as mudanças de conduta ou, de outro lado,
simplesmente aguardar que cada paciente tome todas as decisões, são
igualmente equivocadas e improdutivas. No tratamento baseado em
Redução de Danos, os objetivos, as metas intermediárias e os proce-
dimentos são discutidos com o paciente e não impostos. A interrupção
do uso de drogas quase sempre é um dos objetivos, mas outros avanços
são valorizados, como evitar colocar-se em risco, melhorar o relacio-
namento familiar e recuperar a atividade profissional. A participação
do paciente nas escolhas das metas e etapas do tratamento valoriza e
aumenta sua motivação e engajamento.
365
MÓDULO V
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
366
UNIDADE 15
2. Com relação aos princípios que norteiam as estratégias de Redução
de Danos, é correto afirmar que:
367
MÓDULO VI
A JUSTIÇA RESTAURATIVA E AS BOAS PRÁTICAS
NOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E VARAS
DE INFÂNCIA
O último módulo do curso aborda a Justiça Restaurativa
e as possibilidades práticas de sua aplicação, por meio de casos
concretos, no contexto dos Juizados Especiais Criminais e das
Varas de Infância e Juventude. Ele é dividido em:
O MODELO RESTAURATIVO
PARA A SOLUÇÃO ADEQUADA
DE CONFLITOS,
NO CONTEXTO DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CRIMINAIS E DAS
VARAS DE INFÂNCIA
E JUVENTUDE
• Política criminal humanista e Juizados Especiais
Criminais (Jecrims)
• Experiências no Brasil
VI
O MODELO RESTAURATIVO PARA A SOLUÇÃO
ADEQUADA DE CONFLITOS, NO CONTEXTO
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
E DAS VARAS DE INFÂNCIA E JUVENTUDE
Roberto Portugal Bacellar
Joaquim Domingos de Almeida Neto
373
MÓDULO VI
Como alerta Maria Lúcia Karam (2006),
374
UNIDADE 16
Nesse sentido, pode-se visualizar graficamente a questão:
Fonte: o autor
375
MÓDULO VI
alterações importantes e modifica conceitos arraigados de nosso
sistema jurídico. Estabelece para o crime de posse de drogas para uso
próprio penas e medidas diversas da privação da liberdade, além de
trazer para o próprio sistema de fixação das penas o consenso e a visão
interdisciplinar. Isso torna inegável a adoção do conceito de Justiça
Restaurativa pelo Direito Penal brasileiro.
377
MÓDULO VI
O figurino legal do processo penal dificilmente serve para
revelar o interesse real das partes. A lide processual encobre a lide real
(sociológica) da vida. Ao juiz é entregue um caderno processual
(quod non est in actis non est in mundo) que compreende as provas e
descreve o litígio jurídico: é a parte visível do iceberg do litígio real
humano.
A Justiça Restaurativa ou reparadora pretende substituir o Direito
Penal, ou pelo menos a punição, por uma reparação na qual, de um
lado, a vítima (e também a comunidade) desempenharia um papel
central na resposta ao delito e na pacificação social, ao passo que, de
outro, se prescindiria em maior ou menor grau da retribuição como
eixo de uma justiça com sintomas de esgotamento. Esta nova Justiça
contribui para que cada parte assuma a responsabilidade por sua
conduta e para proteger a dignidade das pessoas. A mediação seria
sua expressão mais extensa porque implica na possibilidade de
produzir a reintegração social dos delinquentes e em responder às
necessidades das vítimas de acordo com os valores da comunidade
(SAMANIEGO, 2007, p. 76).
378
UNIDADE 16
restaurativo, ou seja, um acordo objetivando suprir as necessidades
individuais e coletivas das partes e se lograr a reintegração social da
vítima e do infrator.
379
MÓDULO VI
2. Vítima e agressor devem ser livres de participar ou não
no processo;
380
UNIDADE 16
Essas novas soluções passam pela ideia fundamental da inter-
disciplinaridade e caberá aos operadores do direito vencer precon-
ceitos e implementar nos Jecrims ideias de mediação, intervenção
breve, reconstrução de relacionamentos, restauração de redes fami-
liares, formação de redes sociais, segundo uma nova visão sistêmica.
381
MÓDULO VI
(Juventude), as ideias de solução das questões de fundo com a aplicação de
ferramentas de mediação, de intervenção breve, procurando a reconstrução
de relacionamentos, a restauração de redes familiares, a formação de redes
sociais, de acordo com uma visão holística, global e eslética.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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national report. Washington, DC: U.S. Department of Justice, 1992.
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Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
382
UNIDADE 16
MARTINS, N. B. Resolução alternativa de conflitos: complexidade, caos e
pedagogia. Curitiba: Juruá, 2006.
MESSNER, C. Ermete ovvero sul ruolo delle sanzioni alternative nella politica penale
minorile e l’idea della mediazione. Minorigiustizia, n. 1, p. 76, 1996.
RAWLS, J. Uma teoria da Justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita Maria R. Esteves.
São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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MÓDULO VI
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governança da justiça e da segurança. Brasília: Ministério da Justiça, 2006. v. 1,
p. 543-567.
ZOLO, D.; COSTA, P. O Estado de direito: história, teoria, crítica. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
384
UNIDADE 16
RESUMO DA AULA
385
MÓDULO VI
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
e. Pena de morte.
386
UNIDADE 17
PREVENÇÃO
AO USO DE DROGAS
NOS JUIZADOS
ESPECIAIS CRIMINAIS
• Uso de drogas e política criminal
VI
PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS
NOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
Roberto Portugal Bacellar
Adriana Accioly Gomes Massa
Introdução
O consumo de drogas é, sem dúvida, um fenômeno de preocu-
pação sociopolítica e de saúde pública que afeta os mais variados
sistemas sociais, como a família, as escolas, a polícia e o governo.
389
MÓDULO VI
mundo da ilegalidade, ou seja, é comum que esse indivíduo, depen-
dente ou não, passe a cometer crimes para a manutenção do uso.
390
UNIDADE 17
Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), atual Conselho
Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD). Nos estados e
municípios, havia um desdobramento dessas ações na forma de
Conselhos Estaduais e Municipais de Entorpecentes.
391
MÓDULO VI
Nessa mesma linha, a Política Nacional sobre Drogas (PNAD),
de 2005, manteve a estratégia de tratar da prevenção, do tratamento,
da recuperação, da reinserção social e da redução dos danos.
394
UNIDADE 17
medidas despenalizadoras dos Juizados Especiais constantes na Lei
nº 9.099/1995 (LJE), conforme o procedimento que será explicado a
seguir.
395
MÓDULO VI
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
399
MÓDULO VI
• Promover ações político-sociais voltadas ao enfrentamento
do uso de substâncias psicoativas.
402
UNIDADE 17
e comunidade, com o intuito de buscar soluções que promovam
reparação, reconciliação e segurança.
403
MÓDULO VI
Apesar dos mais variados modelos de prevenção no sentido
restaurativo, o mais efetivo é o da educação afetiva, que enfatiza o
desenvolvimento inter e intrapessoal, a autonomia e a ampliação da
rede social, sendo as drogas mais um assunto a tratar.
Considerações finais
Esta unidade procurou demonstrar a eminente necessidade de
novos paradigmas sociojurídicos para o enfrentamento e realinhamen-
to das políticas criminais concernentes ao uso de drogas, tendo em
vista as consequências desse fenômeno no contexto social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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mesmo. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
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MÓDULO VI
MINAYO, M. C. S. Sobre a toxicomania da sociedade. In: BAPTISTA, M.; CRUZ, M.
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governança da Justiça e da segurança. Brasília: Ministério da Justiça, 2006. v. 1,
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
ZEHR, H. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a Justiça. Trad. Tônia
Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2008.
406
UNIDADE 17
RESUMO DA AULA
407
MÓDULO VI
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
408
UNIDADE 18
VI
INTERFACE ENTRE DROGAS, CRIMINALIDADE
E ADOLESCÊNCIA: NOTAS PARA COMPREENSÃO
DO MODELO LEGAL VIGENTE
Flavio Américo Frasseto
Luciene Jimenez
Introdução
O uso de drogas tem sido discutido em diferentes instâncias e
tematizado em inúmeras pesquisas abordando suas múltiplas
dimensões. Busca-se desde a compreensão dos motivos que levam ao
uso até formas de prevenção e tratamento eficazes.
411
MÓDULO VI
adversidade que condenaria os adolescentes a um final rápido e
infeliz. Tudo isso sem que se disponha de instrumentos técnicos e
jurídicos orientando políticas públicas eficientes para enfrentar e
“vencer” o problema.
Drogas
A palavra “droga”, do holandês antigo “droog”, significa “folhas
secas”, evidenciando sua relação com o uso de plantas medicinais. Na
Grécia Antiga, utilizava-se “pharmakon” para se referir tanto a
remédio como veneno, mostrando a dubiedade histórica presente no
termo.
Adolescência
A puberdade – que não se confunde com adolescência – é uma
fase do ciclo vital caracterizada por mudanças físicas, tais como
aumento da massa corporal, surgimento das características sexuais
secundárias e maturação sexual, decorrentes do aumento da produ-
ção de alguns hormônios. A puberdade é um evento orgânico,
biológico, o que quer dizer que suas manifestações, de modo geral,
independem de fatores sociais ou subjetivos e acontecem de modo
relativamente similar para todos os indivíduos.
416
UNIDADE 18
adulto, nunca se completou plenamente apenas a partir das mudanças
biológicas ou orgânicas e sempre precisou de rituais presentes em
todas as sociedades (BIRMAN, 2009).
418
UNIDADE 18
uso na vida e ano, porém os de escola pública apresentam maiores
índices de uso pesado, quando comparados os de escolas particulares.
[...] Vale destacar que os estudantes brasileiros não figuram entre os
que mais consomem drogas quando comparados com estudantes da
América do Sul, Europa e América do Norte. No comparativo
internacional, o Brasil apresenta índices baixos de consumo de
tabaco, crack e maconha, porém, aparece como um dos maiores
consumidores de inalantes. (CARLINI et al., 2010, p. 413).
Adolescência e criminalidade
Cesar (2005) lembra como a ideia de adolescência esteve,
desde seu início, relacionada à delinquência e a seu contramodelo
idealizado. Para os rapazes, o risco do vício, dos pequenos furtos, da
ociosidade; para as moças, o desregramento sexual. A partir do século
XX, o discurso da Psicologia legitimou esta fase da vida como um
momento de crise, conflito e desajuste, marcado pela transgressão e
testagem dos limites. A crítica aos padrões estabelecidos, como marca
da adolescência e da juventude, pôs esses grupos etários a serviço de
revoluções e contestações – não raramente violentas – da ordem
vigente. Essa mesma tendência transgressora estaria por trás de certa
vulnerabilidade maior desse grupo etário a comportamentos
criminosos. A imaturidade, inconsequência, influenciabilidade e
deficitária consciência moral também explicariam a ideia de certa
onipresença de violações penais nessa faixa etária.
419
MÓDULO VI
são os responsáveis pela maior parte dos crimes, são autores dos
crimes mais graves e não são punidos pela lei. Estudos mostram que as
duas primeiras ideias não são comprovadas estatisticamente: a
participação de adolescentes nos delitos ficaria em torno de 10%, e a
maioria das transgressões são de pequeno potencial ofensivo. Já a
terceira ideia tem relação com as características peculiares do sistema
oficial de respostas à infração na adolescência, conforme trataremos
posteriormente. As duas primeiras ideias, ainda que não confirmadas,
tem forte impacto na configuração do sistema de respostas.
422
UNIDADE 18
A literatura existente é tanta, e os métodos utilizados para abordar o
problema da relação droga-delinquência são tão variados, que é
difícil identificar o que se conhece. Essa relação varia em função de
fatores como idade e sexo dos sujeitos investigados, tipo de droga,
padrão de consumo, como se define delinquência, qual método de
pesquisa utilizado. O único consenso existente é que a relação existe,
mas a natureza da vinculação permanece inespecífica e controversa.
Não é possível responder o quê causa o quê.
424
UNIDADE 18
tipo de criminalidade, responsável pela morte violenta de grande
contingente de adolescentes, não se pode dizer que ela decorra
diretamente da droga. Ela é inerente a todo tipo de mercado ilegal
com forte pressão de demanda. Em uma palavra esse tipo de crime
não é promovido pela droga em si, mas por sua proibição. Aqui, para
além da simples declaração de “guerra às drogas”, trazer o uso ou
comércio de pelo menos parte delas à legalidade poderia reduzir o
problema.
425
MÓDULO VI
Ato infracional de tráfico de drogas e a medida
socioeducativa de internação
Salta aos olhos, como primeira questão emergente, a grande
quantidade de adolescentes no Brasil que cumprem medida socio-
educativa de internação pela prática de ato infracional equiparado a
tráfico de drogas. Dados recentes do Conselho Nacional de Justiça
apontam que, na região Sudeste, um terço (32%) dos internos
cumpre medida pelo cometimento desse tipo de infração (CNJ,
2012), perdendo apenas para o roubo.
426
UNIDADE 18
Em relação a este último aspecto, vale lembrar que o Estatuto
da Criança e do Adolescente veda a aplicação de internação como
primeira medida a adolescentes autores de ato infracional equiparado
a tráfico de drogas. O art. 122 dessa lei prevê o cabimento de tal
medida apenas diante de ato infracional praticado mediante violência
ou grave ameaça à pessoa ou na reiteração da prática de outras
infrações graves. Tráfico de drogas não é crime praticado mediante
violência e, quando se trata de uma primeira infração do adolescente,
não se pode cogitar a reiteração.
427
MÓDULO VI
proteção essa decidida conforme percepção subjetiva de cada
julgador. Com o advento do ECA, o foco se dá na proteção de direitos,
entre eles o direito de não ser institucionalizado (internado ou
abrigado) senão em último caso.
431
MÓDULO VI
A resposta não é unívoca. A regra geral do ECA, quando
convertido o uso problemático em transtorno psiquiátrico, estaria
À luz, por exemplo, dos
critérios presentes na Clas-
ditada no art. 112, §3º:
sificação Internacional de
Doenças, em F19, para Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental (que
Transtornos mentais e
comportamentais devidos praticarem atos infracionais) receberão tratamento individual e
ao uso de múltiplas drogas
e ao uso de outras subs- especializado, em local adequado às suas condições.
tâncias psicoativas.
Os termos genéricos da expressão “local adequado” abriram
grande margem para especulações interpretativas, algumas susten-
tando que o prejuízo na saúde mental impossibilitava a aplicação de
medidas socioeducativas, cabendo apenas as medidas protetivas do
art. 101, V e VI, outras propondo o perfeito cabimento da medida
socioeducativa mais compatível com o tratamento necessário ao
adolescente, e outras ainda defendendo a aplicação de medida
socioeducativa, pela infração, assim como a proteção, diante da
toxicomania, para usar os termos da lei (art. 112, VII, 113 e 99 do
ECA).
433
MÓDULO VI
Ressalta-se que, não obstante tal posição, o legislador reforçou
também a excepcionalidade da internação, de modo que seguem as
medidas em meio aberto como as mais indicadas mesmo para casos
de adolescentes autores de ato infracional com uso problemático de
drogas.
Conclusão
Apresentando uma visão panorâmica das relações entre
drogas, adolescência, ato infracional e sistema socioeducativo, esta
unidade teve como escopo oferecer um ponto de vista mais crítico aos
profissionais que operam com essas imbricadas intersecções, de
modo a prevenir alguns equívocos que pouco têm contribuído para os
ideais de garantir os direitos dos adolescentes à saúde e responder, ao
mesmo tempo, aos justos reclamos sociais por menos crimes.
437
MÓDULO VI
• não superestimem a importância do uso de drogas no envol-
vimento infracional: patologizando a delinquência e o uso,
tirando a responsabilidade dos infratores, familiares, socie-
dade e estado e condicionando o encerramento da medida
socioeducativa ao sucesso do tratamento;
438
UNIDADE 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______ Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_
2001/l10216.htm>. Acesso em: 30/09/2014.
439
MÓDULO VI
______ Ministério da Saúde. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Portaria nº 3.088, de 23
de dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.politicaspublicas.crppr.org.br/
wp-content/uploads/2012/12/PORTARIA-N%C2%BA-3088-11.pdf>. Acesso
em: 30/09/2014.
OLMO, R. del. Violencia juvenil y consumo de drogas. OPTAR, Boletim Foro, 34.
1999. Disponível em: <http://www.fad.es/sala_lectura/CongresoViolencia.pdf>.
Acesso em: 12/04/ 2014.
441
MÓDULO VI
ZINBERG, N. Drug, set and setting: the basis for controlled intoxicant use. New
Haven: Yale University Press, 1984.
442
UNIDADE 18
RESUMO DA AULA
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MÓDULO VI
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
a. maconha e cocaína
d. solventes e aerossóis
978-85-5506-008-3
9 788555 060083