A Questão Ética em Hannah Arendt PDF
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RESUMO
Abordagem terico-conceitual
sobre a existncia de uma tica no
pensamento da filsofa contempornea, Hannah Arendt, mediante suas
reflexes polticas frente ao terror ideolgico do totalitarismo nazista.
Palavras-chave:
nazismo.
ABSTRACT
Theoretician-conceptual approach on the existence of ethics in the thought
of the contemporaneous philosopher, Hannah Arendt by means of her
political reflexions front to the ideological terror ofthe nazi totalitarianism.
Key words:
Nazism.
1 INTRODUO
Buscar evidenciar uma tica
em Hannah Arendt (1906-1975) ,
antes de tudo, trazer tona, mesmo
que de modo genrico, suas reflexes sobre as condies que levam
o homem ao relacionamento consigo mesmo, com os outros e com o
mundo, na significao de sua existncia.
Em sua obra, A Condio Hu
*
**
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Contudo,
como
escreve
Sontheimer (1999, p. 9) na introduo do livro de Arendt - O Que
Poltica? - necessrio ainda observar que:
A compreenso da poltica para
qual Hannah Arendt quer abrir nossos oLhos [...] est muito acima da
compreenso usual e mais burocrtica da coisa poltica, que reala
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No caso especfico do nazismo I,com o fim da II Guerra, o mundo tomou conscincia dos horrores
promovidos por aquele regime totalitrio. Os campos de concentrao no se destinavam, apenas, ao
extermnio de pessoas, mas eram,
tambm, verdadeiras fbricas de
aniquilamento sistemtico da dignidade humana, ou seja, antes do
assassinato propriamente dito, a
dignidade humana da vtima era
totalmente destruda. Desprovidos
de bens, de familiares e de seus prprios nomes, tais vtimas quando
no eram horrendamente tatuadas,
em seus braos, com nmeros de
identificao, viam suas identidades
reduzidas a smbolos (como a estrela de Davi), ou a cores (como a
vermelha, para comunistas e a
rsea, para homossexuais). J no
existia, assim, o sujeito singular e
aqueles corpos de homens, mulheres e crianas eram tangidos debaixo de berros, surras e ladridos de
ces ferozes a trabalhos forados,
Cad. Pesq., So Lus,
v. 14,
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ram inadequadas [no s] para fornecerem regras para a ao - problema clssico colocado por Plato
- ou para entenderem a realidade
histrica e os acontecimentos que
criam o mundo moderno - que foi
a proposta hegeliana - mas, tambm, para inserirem as perguntas
relevantes no quadro de referncias da perplexidade contempornea.
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PENSAR
Hannah Arendt empregou a
expresso "banalidade do mal", por
ocasio do relato que fez revista
New Yorker sobre o julgamento de
Adolf Eichmann, ocorrido em
1961,
em Jerusalm.
Ora,
Eichmann havia sido chefe da Seo de Assuntos Judaicos, no Terceiro Reich e um dos principais responsveis pela concentrao e evacuao dos judeus da Alemanha,
ustria e Tchecoslovquia, tendo
sido capturado em Buenos Aires,j
no ano de 1960 e levado a responder por seus crimes, na Corte de Israel, que o condenou morte por
enforcamento.
Em meu relato, mencionei a "banalidade do mal". Por trs desta
expresso no procurei sustentar
nenhuma tese ou doutrina, muito
embora estivesse vagamente consCad. Pesq .. So Lus. v. 14. n. 2. p./09-118.
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o Totalitarismo
revelar-se-ia como
um mal poltico capaz de espraiarse por uma massa de cidados inaptos a penetrarem num dilogo interno, em busca de suas prprias
doxai, a refletirem sobre eventos, a
inquirirem sobre o significado dos
acontecimentos e acerca de seus
prprios atos.
v. 14,
Na prtica, pensar significa que temos que tomar novas decises cada
vez que somos confrontados com
alguma dificuldade.
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o convvio de diferentes, no de
iguais. Distinguindo-se da interpretao geral comum do homem enquanto zoon politikon (Aristteles),
em conseqncia da qual o poltico seria inerente ao ser humano,
Arendt acentua que a poltica surge no no homem, mas sim, entre
os homens, que a liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens so pressupostos necessrios
para o surgimento de um espao
entre os homens, onde s ento se
toma possvel a poltica, a verdadeira poltica [pois] "o sentido da
poltica
a
liberdade"
(SONTHEIMER 1999, p. 8-9).
o milagre
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REFERNCIAS
AGUIAR, O. A. tica e Dissenso
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v. 14,
n. 2, p.109-118,jul./dez.
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