352-Texto Do Artigo-768-1-10-20200325
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Clecio Bunzen
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
[email protected]
1 Agradecimento às colegas Maria do Socorro Macedo Nunes (UFSJ) e Liane Araújo (UFBA) pelos comen-
tários e diálogo ao longo da produção do texto.
2 Não há espaço aqui para desenvolver como o conceito ‘literacia’ é utilizado em Portugal, mas podemos
indicar que há diferenças e conflitos, como acontece com o termo ´letramento´ no Brasil. A tentativa de
não demonstrar os conflitos dos conceitos faz parte dos documentos curriculares, diferenciando-se do
discurso científico. Como sugestão de leitura, indico uma entrevista com a prof. Maria de Lourdes Dionísio
da Universidade do Minho (cf. DIONÍSIO, 2007) em que a autora demonstra claramente a diferença entre
ver o letramento como um “um conjunto de capacidades para usar o escrito” ou como “um conjunto de
práticas sociais que envolvem o texto escrito”. Em investigações futuras, pretendo aprofundar melhor o
uso dos termos ´literacia´, ´literacia emergente´ e ´literacia familiar´ em Portugal e na PNA.
10. Para finalizar, reafirmo que o uso de ´literacia´ na PNA não é neutro.
Ele é acompanhado de comentários metadiscursivos sobre o fato de o
termo ser “usado comumente em Portugal em outros países lusófonos”,
esquecendo do profundo diálogo estabelecido no Brasil com diferentes
pesquisadores internacionais e o uso mais consolidado de termos como:
“letramento”, “alfabetismo” ou “alfabetização” entre nós. Outro argumento
bastante perverso, violento e colonial é aceitar que tal apagamento é
natural, uma vez que apresenta “diversas vantagens”. Nas palavras do
documento: “é uma forma de alinhar-se à terminologia científica consolidada
internacionalmente”. Ao dizer isso, assume-se explicitamente que não
temos no Brasil uma terminologia científica adequada e não estamos
“alinhados” aos discursos internacionais. Isso não é verdade. Não podemos
dizer que não existe uma terminologia no Brasil adequada para lidar com
tais questões de meras “habilidades de leitura e escrita”, nem podemos
acreditar que o melhor para uma política séria de alfabetização seja nos
alinharmos com uma tradução do português europeu, desconsiderando
Referências
BLOOME, David et alli (Orgs.) Re-theorizing literacy practices: complex social and
cultural contexts. Routledge, London, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA: Política Nacional de
Alfabetização, 2019.
BOTO, Carlota. Entrevista Carlota Boto: entre o político e o pedagógico, 2019. Disponível em
https://www.cenpec.org.br/tematicas/carlota-boto-alfabetizacao-entre-o-politico-e-o-
pedagogico
BUNZEN, Clecio. Formação continuada: divulgação e didaticidade do conceito de letra-
mento. In:
Anais do XV ENDIPE, Belo Horizonte, 2010.
CASTANHEIRA, Maria Lúcia. Ideologies Languaged into Being: examiingin conversations on
Schooled and Religious Literacies Ideologies. In: David Bloome et alli (Orgs.) Re-theorizing
literacy practices: complex social and cultural contexts. Routledge, London, 2019.
DIONÍSIO, Maria de Lourdes. Educação e os estudos atuais sobre letramento. In:
PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 25, n. 1, 209-224, jan./jun. 2007.
GOULART, Cecília. Práticas de letramento na Educação Infantil: o trabalho pedagógico
no contexto da cultura letrada. In: TEIAS: Rio de Janeiro, ano 7, nº 13-14, jan/dez 2006.
KALMAN, Judith. Literacies in Latin America. In: Literacy Volume of the Encyclopedia
of Language and Educacion, 3rd edition. Stephen May (Ed.) & Nancy Hornberger, 2014.
KALMAN, J. & STREET, B. Literacy and Numeracy in Latin America: local perspectives
and beyond. Routledge, 2013.
KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática,
1986.
KLEIMAN, Angela B. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a
escrever?
4 https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/518132