Plenário Virtual - Minuta de Voto - 11/06/2021

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VOTO

O Senhor Ministro Alexandre de Moraes: Trata-se de recurso

21
extraordinário interposto por Gean Lima da Silva, com fundamento no art.

0
102, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pela 1ª Turma

6/2
Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
ementado nos seguintes termos:

0
11/
PENAL. ROUBO COM USO DE FACA. PROVA SATISFATÓRIA
DA MATERIALIDADE E AUTORIA. INCONSTITUCIONALIDADE

-
INCIDENTER TANTUM DA LEI 13.654/2018. VINCULAÇÃO DOS

to
ÓRGÃOS JUDICANTES À DECISÃO DO CONSELHO ESPECIAL.

vo
SENTENÇA MANTIDA.
1 Réu condenado por infringir o artigo 157, § 2º, inciso I, do
de
Código Penal, depois de subtrair valores de empresa de ônibus de
transporte coletivo urbano, ameaçando cobrador e motorista com faca.
ta

Foi preso pouco depois ainda em situação de flagrante, posto que


estivesse ainda na posse da faca usada no crime.
nu

2 A materialidade e autoria estão comprovadas, destacando-se os


depoimentos das vitimas diretas, as quais reconheceram o réu sem
mi

tergiversar, incluisve na audiência de instrução e julgamento.


3 O Conselho Especial do TJDFT, em arguição incidental, declarou
-

a inconstitucionalidade do artigo 4º da Lei 13.654/2018, que revogou o


al

inciso I do § 2º do artigo 157 do Código Penal (ARI 2018.00.2.005802-5,


rtu

Relatora Desembargadora Vera Andrighi, DJ-e 08/11/2018. Acórdão


integralizado em Embargos de Declaração, sendo relatora designada a
Vi

Desembargadora Carmelita Brasil, DJ-e 15/04/2019) e o artigo 927,


inciso V, do Código de Processo Civil determina que os Juízos e os
rio

tribunais observarão "a orientação do plenário ou do órgão especial


aos quais estiverem vinculados". A decisão, em princípio, só teria

efeito erga omnes se proferida pelo Supremo Tribunal Federal,


dependendo, ainda, de o Senado suspender a norma reputada
Ple

inconstitucional, ou da edição de súmula vinculante, como determina


a Constituição Federal. Mas a norma processual deriva de lei federal e
se presume constitucional, até decisão em contrário do tribunal
supremo. Assim, há que se aplicar o acórdão do Conselho Especial
deste Tribunal.
4 Apelação não provida.

No recurso extraordinário, o recorrente apontou violação aos arts. 1º,


parágrafo único, 37, caput , 58, § 2º, I, e 65 da Constituição Federal, ao
1
argumento de “não [ser] possível o controle jurisdicional em relação à
interpretação de normas regimentais das Casas Legislativas, bem como não
há vício formal capaz de infirmar a higidez constitucional da Lei nº 13.654
de 2018, razão pela qual não mais se considera como causa de aumento o

21
emprego de arma branca no crime de roubo” .

0
Em contrarrazões o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

6/2
defende o não acolhimento do extraordinário, mantendo-se “o acórdão
recorrido, pois a revogação do inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal

0
(art. 4º da Lei nº 13.654/2018) realmente foi fruto de um processo legislativo

11/
viciado, que não observou o devido processo legislativo constitucional, bem
como afrontou materialmente a Constituição Federal” . Aduz, a esse

-
respeito, que:

to
vo
“(...) embora o PLS nº 149/2015 e a Emenda Aditiva nº1 tenham
sido aprovados pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania –
de
CCJ nos exatos termos em que foram propostos, ou seja, contendo a
revogação do inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal, o Texto
ta

Final elaborado pela CCJ para ciência do plenário e publicação no


nu

Diário do Senado Federal, para fins do disposto no art. 58, § 2º, inciso
I, da Constituição Federal não correspondeu ao que efetivamente foi
mi

aprovado pela CCJ, pois não constou do Texto Final, assinado pelo
Presidente da CCJ, Senador Edison Lobão, a supressão da aludida
-

majorante.
al

A submissão de texto diverso aos membros do Senado, retirando-


lhes a oportunidade de apresentar recurso contra o artigo que previa a
rtu

revogação do inciso I do §2º do artigo 157 do Código Penal, feriu de


morte o disposto no artigo 58, § 2º, inciso I, da Constituição Federal,
Vi

bem assim os princípios da Legalidade e da Publicidade.


A publicidade deficiente usurpou qualquer possibilidade de
rio

recurso por parte dos Senadores que eventualmente poderiam se opor


à revogação do inciso I do § 2º do art. 157 do CP. Tal defeito no

processo legislativo constitui nulidade absoluta por descumprir a


ordem constitucional prevista no art. 58, § 2º, inciso I, da CF/88, e, por
Ple

óbvio, nada que depois ocorra pode convalescê-lo. Não se pode negar,
ainda, a ofensa ao princípio da publicidade (art. 37, caput, da
Constituição Federal) que também rege o processo legislativo,
porquanto o Texto Final do PLS nº 149/2015, publicado no Diário do
Senado Federal na data de 10/11/2017, não correspondia, em sua
integralidade, ao que restou aprovado na 49ª Reunião Ordinária da
CCJ.”

2
Defende, ainda, “a inconstitucionalidade material do artigo 4º da Lei nº
13.654/2018, pois a retirada da majorante do emprego de arma do artigo 157
do Código Penal violou uma das faces do princípio da proporcionalidade,
que decorre da proibição do retrocesso e da proteção insuficiente de direitos

21
fundamentais” .

0
A repercussão geral foi reconhecida no Plenário Virtual, em 18/2/2021,

6/2
nos termos da seguinte ementa:

0
11/
“Recurso extraordinário. Matéria criminal. Utilização de arma
branca no roubo majorado (CP, art. 157, § 2º, inciso I). Exclusão da
causa de aumento decorrente da revogação promovida pelo art. 4º da

-
Lei nº 13.654/2018. Declaração de Inconstitucionalidade formal do

to
artigo em tela pelo Órgão Especial do TJDFT. Possibilidade de

vo
controle jurisdicional em relação à interpretação de normas
regimentais das Casas Legislativas. Relevância da matéria
de
constitucional. Existência de repercussão geral.”
ta

Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal, em parecer da


lavra do Procuradora-Geral da República, Dr. Augusto Aras, opinou pelo
nu

não provimento do recurso extraordinário, com a fixação das seguintes


mi

teses de repercussão geral:


-

“I – No âmbito da interpretação do regimento interno das Casas


al

Legislativas (ato interna corporis), é defeso ao Poder Judiciário exercer


rtu

controle jurisdicional.
II – Os atos praticados sem ou contra expressa previsão regimental
Vi

são suscetíveis de controle de constitucionalidade e de legalidade por


vício formal.
rio

III – O controle jurisdicional abstrato de constitucionalidade por


vício material somente é admissível após o encerramento da

tramitação da proposição legislativa.


IV – É passível de controle jurisdicional a violação ao princípio da
Ple

publicidade na tramitação de projeto de lei quando inviabilizar o


exercício de prerrogativa constitucionalmente assegurada aos
parlamentares, a exemplo do direito a recurso previsto no art. 58, § 2º,
I, da Constituição Federal. ”

É o breve relato.

A Constituição Federal, visando, principalmente, a evitar o arbítrio e o


desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência dos
3
Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre
eles as funções estatais para que bem pudessem exercê-las, bem como
criando mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia da
perpetuidade do Estado Democrático de Direito (MARCELO CAETANO.

21
Direito constitucional . 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. v. 1, p. 244;
NUNO PIÇARRA. A separação dos poderes como doutrina e princípio

0
constitucional . Coimbra: Coimbra Editora, 1989; JOSÉ ALFREDO DE

6/2
OLIVEIRA BARACHO. Aspecto da teoria geral do processo constitucional:
teoria da separação de poderes e funções do Estado. Revista de Informação

0
11/
Legislativa , Brasília: Senado Federal, ano 19, n° 76, p. 97, out./dez. 1982;
JOSÉ LUIZ DE ANHAIA MELLO. Da separação de poderes à guarda da
Constituição : as cortes constitucionais . 1969. Tese (Cátedra) – Fadusp, São

-
Paulo; MARILENE TALARICO MARTINS RODRIGUES. Tripartição de

to
poderes na Constituição de 1988. Cadernos de Direito Constitucional e

vo
Ciência Política , São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 3, N° 11, p. 16, abr.
/jun. 1995; MÁRCIA WALQUÍRIA BATISTA DOS SANTOS. Separação de
de
poderes: evolução até à Constituição de 1988: considerações. Revista de
Informação Legislativa , Brasília: Senado Federal, ano 29, N° 115, p. 209, jul.
ta

/set. 1999).
nu

Assim, apesar de independentes, os Poderes de Estado devem atuar de


mi

maneira harmônica, privilegiando a cooperação e a lealdade institucional e


afastando as práticas de guerrilhas institucionais, que acabam minando a
-

coesão governamental e a confiança popular na condução dos negócios


al

públicos pelos agentes políticos. Para tanto, a Constituição Federal consagra


rtu

um complexo mecanismo de controles recíprocos entre os três poderes, de


forma que, ao mesmo tempo, um Poder controle os demais e por eles seja
Vi

controlado. Esse mecanismo denomina-se teoria dos freios e contrapesos


(WILLIAM BONDY. The separation of governmental powers. In: History
rio

and theory in the constitutions . New York: Columbia College, 1986; JJ.
GOMES CANOTILHO; VITAL MOREIRA. Os poderes do presidente da

república . Coimbra: Coimbra Editora, 1991; DIOGO DE FIGUEIREDO


MOREIRA NETO. Interferências entre poderes do Estado (Fricções entre o
Ple

executivo e o legislativo na Constituição de 1988). Revista de Informação


Legislativa , Brasília: Senado Federal, ano 26, n° 103, p. 5, jul./set. 1989;
JAVIER GARCÍA ROCA. Separación de poderes y disposiciones del
ejecutivo com rango de ley: mayoria, minorías, controles. Cadernos de
Direito Constitucional e Ciência Política , São Paulo: Revista dos Tribunais,
ano 7, n° 7, p. 7, abr./jun. 1999; JOSÉ PINTO ANTUNES. Da limitação dos
poderes. 1951. Tese (Cátedra) – Fadusp, São Paulo; ANNA CÂNDIDA DA
CUNHA FERRAZ. Conflito entre poderes : o poder congressual de sustar

4
atos normativos do poder executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
p. 2021; FIDES OMMATI. Dos freios e contrapesos entre os Poderes. Revista
de Informação Legislativa , Brasília: Senado Federal, ano 14, n° 55, p. 55, jul.
/set. 1977; JOSÉ GERALDO SOUZA JÚNIOR. Reflexões sobre o princípio da

21
separação de poderes: o “parti pris” de Montesquieu. Revista de
Informação Legislativa , Brasília: Senado Federal, ano 17, n° 68, p. 15, out.

0
/dez. 1980; JOSÉ DE FARIAS TAVARES. A divisão de poderes e o

6/2
constitucionalismo brasileiro. Revista de Informação Legislativa , Brasília:
Senado Federal, ano 17, n° 65, p. 53, jan./mar. 1980).

0
11/
Feitas as considerações acima, como se vê, amparado no incidente de
inconstitucionalidade 2018.00.2.005802-5, instaurado no Conselho Especial

-
do TJDFT, que declarou a inconstitucionalidade formal da Lei 13.654/2018 ,

to
na parte em que revogou o art. 157, § 2º, I, do Código Penal, por vício de

vo
tramitação do projeto de lei no Senado Federal, o aresto ora recorrido
replicou tal entendimento. O TJDFT detectou vício formal de
de
inconstitucionalidade em temáticas estranhas ao procedimento legislativo
constitucionalmente previsto na Seção VIII (arts. 59 a 69) da CARTA
ta

MAGNA, circunstância em que estaria o Poder Judiciário legitimado para


nu

examinar a lisura jurídico-constitucional de seu trâmite pelas Casas


Legislativas.
mi

Quanto à aplicabilidade do entendimento firmado pelo Conselho


-

Especial do TJDFT, o aresto impugnado dispôs da seguinte maneira:


al
rtu

No tocante à constitucionalidade da Lei 13.654/2018, o Conselho


Especial do TJDFT, em arguição incidental, declarou a
Vi

inconstitucionalidade do art. 4º da Lei 13.654/18, que revogou o artigo


157, § 2º, inciso I, do Código Penal (ARI 2018.00.2.005802-5, Relatora
rio

Desembargadora Vera Andrighi, DJe 08/11/2018. Acórdão


integralizado em Embargos de Declaração, sendo relatora designada a

Desembargadora Carmelita Brasil, DJe 15/04/2019).


Acrescente-se que o artigo 927, inciso V, do Código de Processo
Ple

Civil determina que os Juízos e os tribunais observarão "a orientação


do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados",
decisão que, em princípio, só teria efeito erga omnes se proferida pelo
Supremo Tribunal Federal, dependendo, ainda, de o Senado
suspender a norma reputada inconstitucional, ou da edição de súmula
vinculante, como determina a Constituição Federal. Mas a norma
processual deriva de lei federal e se presume constitucional, até
decisão em contrário do tribunal supremo. Assim, ressalvado
entendimento pessoal sobre o tema, há que se aplicar o acórdão do
Conselho Especial deste Tribunal.
5
O referido incidente de inconstitucionalidade julgado pelo Conselho
Especial do TJDFT foi assim ementado:

21
“ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 4º DA LEI

0
13.654/18. PROCESSO LEGISLATIVO. VÍCIO NA TRAMITAÇÃO DO

6/2
PROJETO DE LEI NO SENADO FEDERAL.
I - Da análise da tramitação do projeto de lei que deu origem à Lei

0
13.654/18, constata-se que houve vício procedimental no Senado

11/
Federal, especificamente quanto ao erro na publicação do texto final
do PLS nº 149/15 aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e

-
Cidadania, que não permitiu o conhecimento da matéria pelos demais

to
Senadores e a eventual interposição de recurso para apreciação do
Plenário.

vo
II - A supressão de uma fase do processo legislativo quanto à
revogação do inc. I do § 2º do art. 157 do Código Penal causa de
de
aumento da pena para o crime de roubo com o emprego de arma que
não seja arma de fogo - configura a inconstitucionalidade formal do
ta

art. 4º da Lei 13.654/18, por manifesta violação aos arts. 58, § 2º, inc. I,
nu

da CF e 91 do Regimento Interno do Senado Federal.


III - Arguição de inconstitucionalidade julgada procedente. Efeitos
mi

inter pars e ex nunc. Maioria.”


(ARI nº 2018.00.2.005802-5, Relatora Desembargadora Vera
-

Andrighi, DJe de 8/11/18)


al
rtu

Ora, a rigor, as particularidades apontadas no referido Incidente de


Inconstitucionalidade versam sobre temáticas interna corporis , mais
Vi

precisamente sobre normas regimentais intrínsecas ao âmbito de atuação de


cada uma das respectivas Casas Legislativas. Imunes estão, portanto, do
rio

crivo judicial, pois não concernentes ao processo legislativo estatuído na


CONSTITUIÇÃO FEDERAL, o que permitiria ao Poder Judiciário revisar os

todos os atos praticados pelo Parlamento com base em seus próprios


Ple

normativos; ocorre que esse expediente é repelido pela jurisprudência desta


CORTE (MS 2.588-AgR, Rel. Min. MENEZES DE DIREITO, DJe de 8/5/2009;
MS 23.388, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, PLENO, DJ de 20/4/2001; ARE
1.219.094, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJe de 6/8/2019).

Nessa ordem, manifestei-me no MS 36.662-AgR, cuja ementa transcreve-


se:

6
“CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE
SEGURANÇA. ALEGAÇÃO DE ILEGALIDADE ATRIBUÍDA AO
PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. INOCORRÊNCIA.
INTERPRETAÇÃO DE NORMAS DO REGIMENTO INTERNO DA
CÂMARA DOS DEPUTADOS. IMPOSSIBILIDADE. ASSUNTO

21
INTERNA CORPORIS . SEPARAÇÃO DOS PODERES.

0
INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO DE

6/2
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Não é possível o controle jurisdicional em relação à

0
interpretação de normas regimentais das Casas Legislativas, sendo

11/
vedado ao Poder Judiciário, substituindo-se ao próprio Legislativo,
dizer qual o verdadeiro significado da previsão regimental, por tratar-
se de assunto interna corporis , sob pena de ostensivo desrespeito à

-
Separação de Poderes, por intromissão política do Judiciário no

to
Legislativo.

vo
2. É pacífica a orientação jurisprudencial desta SUPREMA CORTE
no sentido de que, a proteção ao princípio fundamental inserido no
de
art. 2º da CF/1988, segundo o qual, são Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
ta

Judiciário, afasta a possibilidade de ingerência do Poder Judiciário nas


questões de conflitos de interpretação, aplicação e alcance de normas
nu

meramente regimentais.
3. Recurso de agravo a que se nega provimento.”
mi

(MS 36.662 AgR, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal


Pleno, DJe de 7/11/2019).
-
al

Nesse julgado, conforme já afirmara anteriormente, não é possível o


rtu

controle jurisdicional em relação à interpretação de normas regimentais das


Casas Legislativas, sendo vedado ao Poder Judiciário, substituindo-se ao
Vi

próprio Legislativo, dizer qual o verdadeiro significado da previsão


regimental, por tratar-se de assunto “ interna corporis” , sob pena de
rio

ostensivo desrespeito à Separação de Poderes, por intromissão política do


Judiciário no Legislativo ( Direito constitucional . 33. Ed. São Paulo: Atlas,

2017. p. 763).
Ple

Efetivamente, trata-se de posicionamento pacificado no SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, que, em proteção ao princípio fundamental inserido
no artigo 2º da CONSTITUIÇÃO, segundo o qual, são Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, afasta a possibilidade de ingerência do Poder Judiciário nas
questões de conflitos de interpretação, aplicação e alcance de normas
meramente regimentais (MS 33.558 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, DJe de 21/3/2016; MS 34.578, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWISKI, DJe de 10/4/2017; MS 26.062 AgR, Rel. Min. GILMAR
7
MENDES, Tribunal Pleno, DJe de 4/4/2008; MS 30.672 AgR, Rel. Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Pleno, DJe de 17/10/2011; MS 26.074, Rel.
Min. JOAQUIM BARBOSA, DJ 13/9/2006; MS 34.406, Rel. Min. EDSON
FACHIN, DJe de 26/6/2017; MS 21.374, Rel. Min. MOREIRA ALVES, Pleno,

21
DJ de 2/10/1992).

0
Sublinhe-se ainda que, até que se declare a inconstitucionalidade de

6/2
determinado lei editada pelo Poder Legislativo pátrio de modo
devidamente fundamentado, o ato normativo goza de presunção de

0
constitucionalidade quando inserto no nosso ordenamento jurídico (Cf,

11/
dentre outros precedentes: ADI 4.758, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJe de 6
/3/2020; RE 626.717-AgR-ED-ED, Rel. Min. ROSA WEBER, DJe de 20/9/2019;

-
RE 116.622-AgR; e ADI 4.143, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, DJe de 6/9

to
/2019).

vo
À vista disso, esta SUPREMA CORTE vem chancelando a aplicação
de
pelas instâncias jurisdicionais ordinárias do preceito federal ora em exame
aos casos em que indicada a incidência da “ novatio legis in mellius” , para
ta

os fins de exclusão da causa de aumento de pena constante do art. 157, § 2º ,


I, do Código Penal, revogado pela Lei 13.654/2018. Nesse sentido: RHC
nu

181.889, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, DJe de 12/3/2020; RHC 176.362,


mi

Rel. Min. LUIZ FUX, DJe de 6/2/2020; e RHC 179.668, Rel. Min.
ALEXANDRE DE MORAES, DJe 14/2/2020.
-

À propósito, no citado RHC 179.668 salientei que, com a edição da Lei


al

13.654/18, “ não mais se considera como causa de aumento o emprego de


rtu

arma branca no crime de roubo” , sendo possível, todavia, valorar essa


circunstância na primeira fase da dosimetria da pena visando à majoração
Vi

da pena-base, haja vista não se tratar de um indiferente penal.


rio

Na mesma linha de entendimento, tive a oportunidade de me


manifestar, monocraticamente, nos seguintes feitos: RE 1.267.124 (DJe de 18

/6/2020); RE 1.268.661 (DJe de 1º/6/2020); RE 1.266.942 (DJe de 21/5/2020); RE


Ple

1.241.422 (DJe de 27/3/2020); e RE 1.261.502 (DJe de 26/3/2020).

Por fim, cito, em acréscimo, precedentes recentes da Primeira Turma


desta CORTE no mesmo sentido: RE 1.239.632 AgR, Relator Min. ROBERTO
BARROSO, DJe de 18/6/2020; RE 1.258.265 AgR, Relator Min. LUIZ FUX,
DJe de 18/6/2020; e ARE 1.234.080 AgR, Relator Min. ALEXANDRE DE
MORAES, DJe de 21/5/2020.

Diante do exposto, ACOMPANHO INTEGRALMENTE o Relator,


dando provimento ao recurso extraordinário para cassar o acórdão
8
recorrido na parte em que reconheceu como inconstitucional o art. 4º da Lei
13.654/2018, a fim de que o Tribunal de origem recalcule a dosimetria da
pena imposta.

No que diz respeito à tese, também ACOMPANHO o eminente Relator,

21
Min. DIAS TOFFOLI, acolhendo a redação proposta por Sua Excelência, in

0
verbis :

6/2
“Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no

0
art. 2º da Constituição Federal, quando não caracterizado o

11/
desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo
legislativo, é defeso ao Poder Judiciário exercer o controle
jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance de

-
to
normas meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar
de matéria interna corporis .”

É como voto.
vo
de
ta
nu
-mi
al
rtu
Vi
rio

Ple

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