Gestão Pública Na Região Amazônica - Volume 1

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G393

Gestão pública na Região Amazônica - Volume 1 / Organizadores


Juliano Milton Kruger, Anderson Lincoln Vital da Silva, Geymeesson
Brito da Silva, et al. – São Paulo: Pimenta Cultural, 2023.

Outra organizadora: Mariana Faria Filard

Livro em PDF

ISBN 978-65-5939-612-2
DOI 10.31560/pimentacultural/2023.96122

1. Administração pública. 2. Amazônia. I. Kruger, Juliano Milton


(Organizador). II. Silva, Anderson Lincoln Vital da (Organizador).
III. Silva, Geymeesson Brito da (Organizador). IV. Título.

CDD 351

Índice para catálogo sistemático:


I. Administração pública
Janaina Ramos – Bibliotecária – CRB-8/9166
Copyright © Pimenta Cultural, alguns direitos reservados.
Copyright do texto © 2023 os autores e as autoras.
Copyright da edição © 2023 Pimenta Cultural.

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Potira Manoela de Moraes
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Organizadores Juliano Milton Kruger
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Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
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Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
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Universidade Federal de Pelotas, Brasil Universidade de Brasília, Brasil
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Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil
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Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Universidade Federal da Paraíba, Brasil
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Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Hebert Elias Lobo Sosa Lucila Romano Tragtenberg
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Universidad Internacional Iberoamericana del Mexico, México
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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
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Mônica Tavares Orsini Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
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Patricia Flavia Mota Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
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Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
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Rodrigo Sarruge Molina Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
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Rosane de Fatima Antunes Obregon Instituto Federal de Alagoas, Brasil
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Yan Masetto Nicolai
Samuel André Pompeo Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil
PARECERISTAS E REVISORES(AS) POR PARES
Avaliadores e avaliadoras Ad-Hoc

Alessandra Figueiró Thornton Jacqueline de Castro Rimá


Universidade Luterana do Brasil, Brasil Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Alexandre João Appio Lucimar Romeu Fernandes
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Instituto Politécnico de Bragança, Brasil
Bianka de Abreu Severo Marcos de Souza Machado
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Eduardo Damian Leite Michele de Oliveira Sampaio
Universidade de São Paulo, Brasil Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Catarina Prestes de Carvalho Pedro Augusto Paula do Carmo
Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, Brasil Universidade Paulista, Brasil
Elisiene Borges Leal Samara Castro da Silva
Universidade Federal do Piauí, Brasil Universidade de Caxias do Sul, Brasil
Elizabete de Paula Pacheco Thais Karina Souza do Nascimento
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil Instituto de Ciências das Artes, Brasil
Elton Simomukay Viviane Gil da Silva Oliveira
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Universidade Federal do Amazonas, Brasil
Francisco Geová Goveia Silva Júnior Weyber Rodrigues de Souza
Universidade Potiguar, Brasil Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Brasil
Indiamaris Pereira William Roslindo Paranhos
Universidade do Vale do Itajaí, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

PARECER E REVISÃO POR PARES


Os textos que compõem esta obra foram submetidos para
avaliação do Conselho Editorial da Pimenta Cultural, bem
como revisados por pares, sendo indicados para a publicação.
Sumário

Prefácio........................................................................................... 16

Apresentação.................................................................................. 20

Capítulo 1

Processo transferência de bens


móveis nas autarquias públicas federais:
uma proposta para o Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia
de Roraima - IFRR............................................................................ 22
David Ricardo de Souza Silva
Murilo Roberto Jesus Maganha

Capítulo 2

Transparência dos Recursos


Públicos no município
de Rorainópolis – Roraima............................................................. 40
Jonas Darc do Nascimento Araújo
Luciléia Silva Vasconcelos
Luciana Silva de Souza

Capítulo 3

Clima Organizacional:
uma análise em uma prefeitura
municipal do Estado de Roraima...................................................... 63
Márcia Vanzo Fileski
Ronilson Moura Cavalcante
Harllesson Galucio de Almeida
Capítulo 4

Combate à criminalidade:
um estudo da atuação da guarda
municipal de Boa Vista – RR............................................................. 79
Marivone da Silva Magalhães
Paulina da Silva Magalhães
Maria Marclane Bezerra Vieira

Capítulo 5

A Guarda Civil Municipal


e o policiamento ostensivo
no município de Boa Vista – RR................................................... 100
Nélio Reis Biá Nascimento
Elaine Gonçalves Weiss de Souza

Capítulo 6

Análise da Rede Cidadania


Melhor Idade no município
de Boa Vista/RR............................................................................ 127
Anderson Rômulo Garcia Braz
Luciana Silva de Souza

Capítulo 7

Gestão Urbana: uma revisão


bibliográfica sobre a importância
do Plano Diretor Municipal............................................................. 153
Adriana da Silva Moura
Sellys Nara da Silva Araújo
Murilo Roberto Jesus Maganha
Capítulo 8

Gestão Pública e Meio Ambiente:


análise das ações governamentais
realizadas pela Prefeitura Municipal
de Boa Vista-RR no âmbito da gestão
ambiental entre os anos de 2017 e 2020........................................ 176
Juliana Marques Leitão
Thomé Bayma Oestreicher
Geymeesson Brito da Silva

Capítulo 9

Planejamento governamental municipal:


uma análise do Plano Plurianual
2018-2021 das demandas de saúde
pública no Município de Boa Vista-RR............................................ 201
Elida Kayze Nunes Rodrigues
Luciana Silva de Souza

Capítulo 10

Política de assistência social:


dificuldades de acesso e a importância
do auxílio emergencial para brasileiros
e venezuelanos no extremo norte do Brasil.................................... 227
Eliane Silva de Oliveira
João Victor Rocha Vitoriano
Murilo Roberto Jesus Maganha
Ananias Noronha Filho

Capítulo 11

Planejamento Participativo
na Estratégia Saúde da Família (ESF):
Estudo de caso da aplicabilidade
do Método MAPP na UBS São Vicente
no Município de Boa Vista/RR........................................................ 255
Maria da Conceição Theodocello Sant’Anna
Juliano Milton Kruger
Capítulo 12

O cenário da Educação Infantil


diante a Pandemia da Covid-19:
Um estudo sobre as tomadas
de decisões no ensino remoto
na Escola Municipal Prof. James
Macellaro Thomé em Boa Vista – RR.............................................. 285
Vania Maria Moreira Leite
Daniel Soares de Souza

Capitulo 13

Avaliação dos processos


de gestão e fiscalização
de contratos administrativos
de uma Sociedade de Economia
Mista da Administração Indireta.................................................. 308
José Aparecido de Sousa
Michele Tancman Cândido da Silva
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 14

A atuação dos fiscais de transportes


coletivos do IMMU (Instituto Municipal
de Mobilidade Urbana) nos Terminais
de Integração da cidade de Manaus........................................... 329
Ilca Regina Ferreira Maia
Estela Mari Santos Simões da Silva

Capítulo 15

Um olhar sobre o município


de Horizonte/CE enquanto Cidade Educadora........................... 350
Glauber dos Santos Guedes
Nayara de Paula Faleiros
Capítulo 16

Aquisições da Agricultura
Familiar Indígena e Quilombola
no Fornecimento da Merenda Escolar........................................ 373
Flaviane dos Santos Pedreno
Fernando Thiago
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 17

Análise da estrutura do controle


interno da Câmara Municipal
de Presidente Figueiredo-AM...................................................... 393
Maria Andreia Bezerra dos Santos
Fernando Thiago
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 18

O regime de teletrabalho pós-pandemia:


desafios e perspectivas
na implementação do Programa
de Gestão e Desempenho (PGD)................................................... 415
Karina Onety de Barros
Nayara de Paula Faleiros

Capítulo 19

Análise da implementação
de acesso à internet nas escolas
públicas da zona rural do município
de Barreirinha, Amazonas............................................................ 433
Márcio Rogério Tavares Reis
Fernando Thiago
Marcelo Hideki Togo
Capítulo 20

Gestão Participativa:
um estudo dos Planos Diretores
nos Municípios de Itacoatiara,
Iranduba e Presidente Figueiredo................................................... 459
Deizielhe Oliveira Félix
Alex Santiago Nina
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 21

Transtorno do Espectro Autista:


direito de acesso ao trabalho
no serviço público.......................................................................... 477
Juliana Rafaela de Souza da Silva
Fernanda Brusa Molino

Capítulo 22

Utilização do quesito raça/cor


na caracterização do público
atendido pelo INSS...................................................................... 505
Thiala Cristine Mendes Barro
Michele Tancman Cândido da Silva

Capítulo 23

O serviço público e o atendimento


ao cliente: uma perspectiva
a respeito da qualidade e satisfação
da sociedade diante dos serviços públicos.................................... 526
Suziane Nascimento Bandeira
Michéle Tancman Cândido da Silva
Marcelo Hideki Togo
Capítulo 24

A Importância da cogestão
em unidades de conservação:
o caso do Parque Estadual Sumaúma
em Manaus – AM........................................................................... 550
Erick Alves de Brito Coelho
Alex Santiago Nina
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 25

Análise dos critérios de seleção


de pessoal de uma Fundação
Pública Federal............................................................................. 569
Caroline Araújo Nascimento
Fernando Thiago

Capítulo 26

Política pública educacional


de transporte escolar no Polo II
do Município de Itacoatiara – AM................................................ 587
Clauder Felipe Souza Silva
Michele Tancman Candido da Silva
Marcelo Hideki Togo

Capítulo 27

Os processos de aplicar e recompensar


na gestão de pessoas: um estudo
de caso acerca das promoções
e progressões em um campus do IFAM......................................... 607
Elaine Lima de Sousa
Estela Mari Santos Simões da Silva
Capitulo 28

Aplicação do Planejamento
Estratégico Situacional na Central
de Abastecimento Farmacêutico
em um hospital público de médio
porte no interior do Amazonas.................................................... 634
Samara Motter Detoni da Silva
Juliano Milton Kruger

Capitulo 29

Financiamento da Atenção
Primária à Saúde: uma análise
dos repasses financeiros realizados
pelo SUS no período de 2012 a 2022
ao município de Itacoatiara-AM...................................................... 669
Rodrigo Luiz Pereira da Silva
Nely Cristina Medeiros Caires

Capítulo 30

Internet das Coisas no ambiente


hospitalar: aspectos tecnológicos
e administrativos............................................................................ 692
Joseilson Gonçalves da Cunha
Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa

Sobre os organizadores e a organizadora.................................. 711

Sobre os autores e autoras.......................................................... 713

Índice Remissivo.......................................................................... 731


Prefácio

Caro leitor,

Sinto-me honrado em prefaciar a coletânea “Gestão Pública na


Região Amazônica”. Não nasci na região do tambaqui e do cupuaçu,
porém, me considero aqui naturalizado e vivo cotidianamente as pro-
blemáticas e oportunidades nesta terra tão vasta e ao mesmo tempo
intrigante do ponto de vista demográfico, político, ambiental e social.

SUMÁRIO Peço licença para contextualizar a Gestão Pública já que não


posso presumir que você esteja completamente familiarizado com a
área. Com isso aproveito para destacar alguns pontos que você irá
encontrar nesta coletânea de trabalhos.

O estudo da Gestão Pública assumiu significado, segundo


Woodrow Wilson, como consequência das complexidades crescen-
tes da sociedade, das funções crescentes do Estado e do crescimen-
to dos governos em linhas democráticas. De acordo com Wilson, o
objetivo do estudo da Gestão Pública é descobrir o que o governo
pode fazer corretamente e com sucesso e como o faz ou pode fazer
estas coisas com a máxima eficiência e o menor custo possível, quer
de dinheiro quer de energia.

A importância da Gestão Pública como um assunto especializa-


do pode ser atribuída a quatro razões que considero importantes, mas,
de todo, não exclusivas:

1. Uma das razões importantes é a preocupação prática que o


governo tem hoje de trabalhar para o interesse público. O pri-
meiro e principal objetivo da gestão pública é a prestação efi-
ciente de serviços públicos. Neste contexto, a definição de Wil-

16
son do assunto como promoção da eficiência enquanto campo
pragmático foi a primeira declaração explicitamente articulada
sobre a importância de um estudo separado da Gestão Pública
da Gestão Geral.

2. A administração é vista, na perspectiva das ciências sociais,


como uma atividade cooperativa e social. Assim, a preocupa-
ção da investigação acadêmica seria compreender o impacto
das políticas e operações governamentais na sociedade. Que
tipo de sociedade preveem as políticas? Em que medida é que
a ação administrativa não é discriminatória? Como funciona a
gestão pública e quais são os efeitos imediatos e a longo prazo
SUMÁRIO da ação governamental na estrutura social, na economia e na
política?; etc. são questões que requerem uma análise cuida-
dosa. Da perspectiva das ciências sociais, a gestão pública,
como disciplina, tem de recorrer a uma variedade de discipli-
nas irmãs, tais como História, Sociologia, Economia, Geogra-
fia, Filosofia, Psicologia, etc., com o objetivo de explicar e não
apenas de prescrever.

3. A gestão pública tem um estatuto especial aqui nos países em


desenvolvimento como o Brasil. Muitos destes países, após a
sua independência do domínio colonial, têm sentido o rápido
desenvolvimento socioeconômico. Isso exige que uma gestão
pública seja organizada e operada eficazmente para aumentar
rapidamente a produtividade. Do mesmo modo, as atividades
de bem-estar social têm de ser executadas de forma eficaz. Es-
tes aspectos deram origem à nova subárea da gestão, a gestão
do desenvolvimento. O surgimento da gestão do desenvolvi-
mento é indicativo de uma necessidade sentida de um corpo
de conhecimentos sobre como estudar a gestão em países que
encontram-se no processo de desenvolvimento e, ao mesmo

17
tempo, proporcionar um rápido desenvolvimento socioeconô-
mico com a intervenção do governo.

4. A gestão pública, tal como testemunhado, ocupa um lugar de re-


levo na vida das pessoas. Toca-as a cada passo. Para a maioria
das suas necessidades, os cidadãos dependem dela. Tendo em
conta o seu importante papel na vida das pessoas, os cidadãos
não podem ignorá-la. Por conseguinte, o seu ensino deve tor-
nar-se parte integrante do currículo das instituições. As pessoas
devem conhecer a estrutura do governo, as atividades que este
desenvolve e a forma como estas são efetivamente realizadas.
O estudo da administração (teoria) e da gestão (prática) pública
SUMÁRIO contribui para a realização dos valores da cidadania.

Na era contemporânea, que testemunhou a emergência do ‘Es-


tado Administrativo’, a gestão pública tornou-se uma parte essencial
da sociedade e um fator dominante. As funções que é chamada a
desempenhar, expandiram-se no seu âmbito e natureza, e ainda por
cima, estão continuamente a aumentar. Muitas delas são de natureza
mais positiva porque cuidam dos requisitos essenciais da vida huma-
na, quer se trate de saúde, educação, recreação, saneamento, segu-
rança social ou outros. É, portanto, um fator criativo, sendo o seu lema
o “bem-estar humano coletivo”.

Conforme cita Nicholas Henry a gestão pública é uma ampla e


amorfa combinação de teoria e prática; o seu objetivo é promover uma
compreensão superior do governo e da sua relação com a sociedade,
ela governa, bem como encoraja políticas públicas mais receptivas às
necessidades sociais e institui práticas de gestão sintonizadas com a efi-
cácia, eficiência e os requisitos humanos mais profundos dos cidadãos.

Gerald Caiden assumiu que a gestão pública desempenha fun-


ções cruciais em uma sociedade moderna contemporânea, sendo: a
preservação da política; a manutenção da estabilidade e da ordem; a

18
institucionalização das mudanças socioeconômicas; a gestão de servi-
ços de grande escala; a garantia do crescimento e do desenvolvimento
econômico; a proteção dos setores mais fracos da sociedade; a for-
mação da opinião pública; e a influência das políticas públicas.

Vê-se que a gestão pública possui, em países em desenvolvi-


mento, um papel crucial de garantir o crescimento e o desenvolvimento
sustentável. Ademais, no Brasil, especificamente na Região Amazô-
nica tal papel torna-se ainda mais complexo de ser desempenhado
pelos custos logísticos e pelo famigerado “custo Brasil”.

Ora, mas, qual a importância de uma coletânea que trata da


SUMÁRIO gestão pública no contexto da Região Amazônica?

Os trabalhos desenvolvidos nesta coletânea procuram descor-


tinar ou desobstruir as amarras existentes, dialogando, descrevendo,
comunicando e propondo ações saneadoras frente aos gargalos exis-
tentes na gestão pública da região. Assim, contribuem ao nível teórico
para o desenvolvimento da ciência da administração; ao nível prático
para a maior eficiência, eficácia e efetividade das práticas adminis-
trativas e consequentemente dos serviços públicos e, para além, na
construção de uma gestão pública mais transparente, aberta e flexível,
voltada ao “bem-estar humano coletivo”.

Juliano Milton Kruger

19
Apresentação

É com imensa satisfação que apresentamos a você leitor a


coletânea “Gestão Pública na Região Amazônica”. Este volume, as-
sim como os demais editados, agrupa trabalhos realizados junto aos
cursos de Pós-Graduação em Gestão Pública e Gestão em Saúde
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(IFAM) – turma 2022, bem como, do curso de Pós-Graduação em
Gestão Pública Municipal do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Roraima (IFRR) – turma 2021. Tais artigos versam
SUMÁRIO
sobre problemáticas, desafios e possibilidades no âmbito da Gestão
Pública da Região Amazônica; região esta tão vasta, intrigante, bela
e ao mesmo tempo com tamanhas peculiaridades e particularidades
– inclusive na sua gestão.

O nosso intuito ao reunir tais artigos foi divulgar e difundir o co-


nhecimento científico produzido na região para que se possa pensar
em uma gestão e políticas públicas mais alinhadas ao contexto local e,
principalmente, munir gestores públicos de informações que possam
auxiliá-los a tomar decisões mais assertivas – respeitando as peculia-
ridades e particularidades regionais.

Cada artigo aqui foi escrito com muito carinho e dedicação


pelos seus autores. Esperamos que a leitura da obra o possibilite
conhecer melhor a região e que você, seja gestor público ou não,
possa ser um agente de disseminação de informações sobre a região
e mais, se habitante dela, que possa desempenhar o papel de agente
de mudanças sociais.

20
Afinal...

“Na gestão pública é preciso atuar de forma planejada, controla-


da e organizada para se fazer muito mais com menos recurso e priorizar
o bem-estar social da população. Sem isso não existe desenvolvimento
social e econômico sustentável”

Marcelo Rocha

Boa leitura!

Os organizadores

SUMÁRIO

21
1
Capítulo 1

Processo transferência
de bens móveis nas autarquias públicas federais:
uma proposta para o Instituto Federal de Educação Ciência
e Tecnologia de Roraima - IFRR

David Ricardo de Souza Silva

Murilo Roberto Jesus Maganha

David Ricardo de Souza Silva

Murilo Roberto Jesus Maganha

Processo transferência de bens móveis


nas autarquias públicas federais:
uma proposta para o Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia
de Roraima - IFRR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.1
SUMÁRIO

Resumo:
Devido à dificuldade encontrada pelas instituições públicas nos temas relacio-
nados aos procedimentos administrativos da modalidade de desfazimento de
bens por transferência. E devido também o dispositivo que regulamenta a me-
dida ser novo e trazer informações amplas. Essa pesquisa tem como objetivo
principal, identificar como é o procedimento de transferência de bens imóveis
do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Roraima – IFRR e
dessa forma, propor um fluxo para tal Instituição. O referencial teórico, con-
centrou-se no decreto n° 9.373, de 11 de maio de 2018, no Manual de Conta-
bilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), legislações pertinentes, métodos
comparativos em outras instituições federais e assuntos que abordam o tema.
Esta pesquisa classifica-se como descritiva uma vez que o pesquisador bus-
cou uma maior proximidade com o fenômeno pesquisado, através de um estu-
do de caso, visando descrevê-los em seus pormenores, atendendo a critérios
qualitativos, que tem como propósito principal analisar, bem como atitudes,
comportamentos, hábitos e tendências dos fatos investigados.

Palavras-chave: Procedimentos Administrativos; Transferência de bens;


Desfazimento Ocioso; IFRR.

23
INTRODUÇÃO

A Administração Pública Federal adquire, produz ou constrói


bens com o intuito de prestar serviços e alcançar seus objetivos, os
quais, por sua vez, surgem de necessidades públicas.

Entretanto, em virtude de alguns fatores, como obsolescência,


ociosidade ou a classificação como antieconômico ou irrecuperável,
esses recursos não geram mais expectativa de benefícios econômicos
futuros ou potencial de serviços para determinados órgãos e entidades.

SUMÁRIO Em razão disso, a Administração Pública Federal promove, atra-


vés do decreto n° 9.373, de 11 de maio de 2018, as formas de aliena-
ção, a cessão, a transferência, a destinação e a disposição final am-
bientalmente adequadas de bens móveis no âmbito da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional.

Todavia, o dispositivo não traz informações sobre os procedi-


mentos administrativos das modalidades, permitindo diversas interpre-
tações pelas instituições. E, nesse sentido, devido a realidade viven-
ciada pelas coordenações de patrimônio do INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE RORAIMA – IFRR, o objetivo
desta pesquisa é criar um fluxo administrativo para a modalidade de
desfazimento de bens, mais precisamente, a transferência de bens
ociosos entre entidades públicas federais.

Uma vez que, com o objetivo de melhor atender a comunidade


acadêmica espalhada pelo Estado de Roraima, o IFRR promove quase
que regularmente a movimentação de seus bens entre suas unidades.
Contudo, em alguns casos, e em razão do interesse público, esses
bens movimentados não retornam mais aos seus locais de origem, por
isso, precisam ser transferidos via gestão patrimonial e contábil para
que não exista divergências escriturais.

24
Por conta disso, considerando ainda que não há uma política
institucional no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de
Roraima – IFRR para esse procedimento administrativo, como pode
ser o fluxo para melhor atender o processo de transferência de bens
imóveis do Instituto? Dessa forma, essa pesquisa irá propor uma pa-
dronização de fluxo para o IFRR.

Diante dessas questões, o objetivo do trabalho é a partir da


identificação de como é o procedimento de transferência de bens imó-
veis do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Roraima
– IFRR, propor um fluxo para tal Instituição. Como objetivos secun-
dários, este trabalho busca verificar a legislação vigente quanto aos
SUMÁRIO procedimentos de transferências de bens; analisar os fluxos de outras
instituições públicas, e examinar as práticas utilizadas para o desen-
volvimento do fluxo final.

Portanto, o método adotado para esta pesquisa classifica-se


como descritiva uma vez que o pesquisador buscou uma maior proxi-
midade com o fenômeno pesquisado, através de um estudo de caso,
visando descrevê-los em seus pormenores, atendendo a critérios qua-
litativos, que tem como propósito principal analisar, bem como atitu-
des, comportamentos, hábitos e tendências dos fatos investigados.

O estudo é composto por cinco capítulos. Após esta introdução,


a próxima seção (capítulo 2), desenvolve-se a revisão teórica que trata
dos aspectos mais importantes sobre a temática em estudo. Na ter-
ceira seção são descritos os procedimentos metodológicos adotados,
seguidos pelos resultados e sua discussão (quarto capítulo). Por fim,
na quinta seção são delineadas as considerações finais, bem como
sugestões para pesquisas futuras.

25
REVISÃO TEÓRICA

Para dar andamento a esta pesquisa, é necessário realizar


algumas reflexões e indicar alguns conceitos que irão permear o
desenvolvimento do trabalho. Na sequência são apresentadas defi-
nições de patrimônio público, da legislação relacionada ao desfazi-
mento de bens e, por fim, das práticas contábeis para o processo de
transferência. Entretanto, como o objetivo da pesquisa é criar uma
rotina administrativa para a modalidade de desfazimento de bens por
transferência. Neste capítulo trataremos os aspectos mais importan-
tes sobre a temática em estudo.
SUMÁRIO

Patrimônio público

Patrimônio Público é o conjunto de bens e direitos, tangíveis


e intangíveis, onerados ou não, obtidos, formados ou mantidos com
recursos públicos, integrantes do patrimônio de qualquer instituição
pública ou de uso comum, que seja portador ou represente um fluxo
de benefícios futuros inerentes à prestação de serviços (CHEROBIN et
al., 2015). Em outras palavras, são bens materiais ou imateriais perten-
centes às pessoas públicas e submetidos ao regime de Direito Público
instituído em favor do interesse público (PIERRE, 2009).

Pode-se entender patrimônio público como os bens pertencen-


tes à Administração Pública direta e indireta que deve ser conduzido
de forma eficaz e transparente em consonância aos princípios cons-
titucionais (FIGUEIREDO, 2016). Por isso, deve-se dar uma importân-
cia relevante aos bens patrimoniais presentes em órgãos e entidades
públicas. Assim, os registros patrimoniais são fatores determinantes
para o entendimento da formação, composição e evolução desse
patrimônio (LEÃO, 2013).

26
O processo da rotina do setor de Patrimônio inicia-se com a aqui-
sição do bem pela entidade, está incorporação dependerá da forma
do ingresso do bem, podendo ser: I) compra: quando a incorporação
de um bem ocorre por meio de licitação ou compra direta; II) permuta:
quando ocorre a incorporação no acervo patrimonial de um bem per-
tencente a terceiros que foi objeto de troca por outro bem pertencente
à instituição; III) doação: quando a incorporação é oriunda de um bem
cedido por terceiro, em caráter definitivo, sem envolvimento de transa-
ção financeira; e IV) comodato: quando a incorporação é temporária,
para o fim de inclusão no cadastro da entidade de bens pertencentes
a terceiros, a título gratuito e por tempo determinado (VIECELLI, 2013).
SUMÁRIO Para chegar ao valor correto do patrimônio público existente na
instituição, Pinheiro (2017) sugere a realização de 4 etapas: 1ª) inventá-
rio dos bens da entidade, mediante verificação do registro do bem em
sistema próprio para controle destes; 2 ª) avaliação dos ativos por meio
de ajuste inicial ao que foi registrado pelo patrimônio, 3ª) revisão da vida
útil dos bens, conforme o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor
Público; e 4ª) comparação do ativo da entidade com o valor contábil,
verificando se ocorreu desvalorização dos bens ou se o valor contábil
excede seu valor recuperável. Concluído esta verificação, realiza-se a
conferência física para identificar possíveis falhas de registros contábeis.

Adicionalmente, o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Pú-


blico estabelece Procedimentos Contábeis Patrimoniais (depreciação,
reavaliação e imparidade de ativos) que objetivam, entre outros aspec-
tos, contribuir com a convergência da contabilidade pública ao padrão
internacional por meio do enfoque para o patrimônio público (BRASIL,
2018b). Os referidos procedimentos visam estabelecer padrões e mé-
todos para as variações patrimoniais aumentativas e diminutivas do pa-
trimônio público, além de melhorar a qualidade e a consistência das
informações prestadas à sociedade (RAMINHO; COLARES, 2016).

27
O inventário físico anual está recomendado na Instrução Nor-
mativa n. 205/88, por ser “destinado a comprovar a quantidade e o
valor dos bens patrimoniais do acervo de cada unidade gestora, exis-
tente em 31 de dezembro de cada exercício – constituído do inventário
anterior e das variações patrimoniais ocorridas durante o exercício”.
Verifica-se in loco a existência dos bens cadastrados por localidade,
fazendo ajustes necessários, no caso de transferência da localização
física dos bens ou constatar e averiguar-se procedimentos cabíveis
em caso de extravio dos mesmos (BRASIL, 1988). Ao finalizar esse
processo e encontrar bens que requerem desfazimento, os gestores
patrimoniais devem tomar as medidas cabíveis para a baixa dos bens
SUMÁRIO da instituição. Cada etapa do processo de baixa ou desfazimento dos
bens patrimoniais deve estar em conformidade com a Lei n. 4.320/64,
a Lei n. 8.666/93, o Decreto n. 9.373/2018, Manual de Contabilidade
Aplicada ao Setor Público e Norma Brasileira de Contabilidade – NBC
T 16.10 e suas respectivas alterações.

Desfazimento de bens e a legislação

Para que aconteça o desfazimento de bens públicos, os mes-


mos precisam obedecer a classificação legal vigente. Tais bens pre-
cisam seguir condições mínimas de classificação e a entidade deve
avaliá-los e classificá-los de forma pertinente e oportuna com a legisla-
ção vigente (KESSELER; TEIXEIRA; LORENZI JÚNIOR, 2018). Diante
disso, o decreto nº 9.373, de 11 de maio de 2018 “dispõe sobre a
alienação, a cessão, a transferência, a destinação e a disposição final
ambientalmente adequadas de bens móveis no âmbito da administra-
ção pública federal direta, autárquica e fundacional”.

28
De acordo com o decreto:
Art. 3º Para que seja considerado inservível, o bem será classi-
ficado como:

I - Ocioso - bem móvel que se encontra em perfeitas condições


de uso, mas não é aproveitado;

II - Recuperável - bem móvel que não se encontra em condições


de uso e cujo custo da recuperação seja de até cinquenta por
cento do seu valor de mercado ou cuja análise de custo e bene-
fício demonstre ser justificável a sua recuperação;

III - Antieconômico - bem móvel cuja manutenção seja onerosa


ou cujo rendimento seja precário, em virtude de uso prolonga-
SUMÁRIO do, desgaste prematuro ou obsoletismo; ou

IV - Irrecuperável - bem móvel que não pode ser utilizado para o


fim a que se destina devido à perda de suas características ou
em razão de ser o seu custo de recuperação mais de cinquenta
por cento do seu valor de mercado ou de a análise do seu custo
e benefício demonstrar ser injustificável a sua recuperação.

No art. 5º A transferência, modalidade de movimentação de ca-


ráter permanente, poderá ser:

I - Interna - quando realizada entre unidades organizacionais,


dentro do mesmo órgão ou entidade; ou

II - Externa - quando realizada entre órgãos da União.

Parágrafo único. A transferência externa de bens não conside-


rados inservíveis será admitida, excepcionalmente, mediante
justificativa da autoridade competente.

Art. 6º Os bens móveis inservíveis ociosos e os recuperáveis pode-


rão ser reaproveitados, mediante transferência interna ou externa.

Art. 10. As classificações e avaliações de bens serão efetuadas


por comissão especial, instituída pela autoridade competente e
composta por três servidores do órgão ou da entidade, no mínimo.

29
Manual de contabilidade aplicada
ao setor público (MCASP)

Já nesta seção trataremos sobre os procedimentos contábeis


que devem ser seguidos ao longo do processo de transferência. Uma
vez que essa modalidade de movimentação envolve a gestão patrimo-
nial e contábil. Portanto, o manual de contabilidade pública – MCASP,
veio para disciplinar os procedimentos de contabilização da alienação,
da cessão, da transferência, da destinação e da disposição final am-
bientalmente adequadas, assim como do reaproveitamento de bens,
bem como outras formas de desfazimento de bens móveis.
SUMÁRIO
De acordo com o manual:
3. Da Finalidade:

3.1 - Este procedimento tem por objetivo disciplinar a contabili-


zação da alienação, da cessão, da transferência, da destinação
e da disposição final ambientalmente adequadas, assim como
do reaproveitamento de bens, bem como outras formas de des-
fazimento de bens móveis.

3.2 - Este procedimento aplica-se à administração federal direta,


às autarquias, fundações públicas, fundos especiais e, no que
couber, às empresas estatais dependentes.

4. Das Definições:

[...]

4.1.10 - Transferência é a modalidade de movimentação de


bens de caráter permanente, com troca de responsabilidade.

5. Dos Procedimentos:

[...]

5.1.3 - A depender das destinações dadas aos bens, tendo


como base o disposto no Decreto nº 9.373, de 2018, ou outro
ato normativo, a unidade responsável pela sua gestão deverá

30
evidenciar contabilmente a operação realizada de acordo com
as diretrizes dispostas nos subitens seguintes [...]

5.1.3.2 Quando da realização dos registros contábeis pertinen-


tes, a unidade deverá observar se o recebedor do bem perten-
ce a algum Orçamento Fiscal e da Seguridade Social, seja da
União, de Estados ou de Municípios. Caso pertença, deverá a
unidade utilizar contas contábeis com 5º (quinto) nível que reflita
tal condição do beneficiário do bem [...]

5.5 transferências de bens móveis

5.5.1 Transferência é a modalidade de movimentação de bens


móveis em caráter permanente, podendo ser interna ou externa.

SUMÁRIO 5.5.1.1 Transferência interna é a movimentação de bens móveis


realizada entre unidades organizacionais dentro do mesmo ór-
gão ou entidade, e;

5.5.1.2 Transferência externa é a movimentação de bens móveis


realizada entre órgãos da União.

5.5.1.3. Ressalvado a doação para fins e uso de interesse


social, tratada no subitem 5.4.2, os bens classificados como
ociosos ou recuperáveis poderão ser reaproveitados mediante
transferência interna ou externa, conforme disposto no Art. 6º do
Decreto nº 9.373, de 2018.

5.5.3. As transferências externas deverão ser efetuadas pelo va-


lor líquido contábil, ou seja, pela diferença entre o valor contábil
bruto e a depreciação acumulada do bem transferido.

Modelos de desfazimento
em outras Instituições Federais

Pesquisas foram realizadas acerca da gestão patrimonial de


instituições públicas. De modo geral, o propósito é verificar como
ocorrem os procedimentos administrativos na modalidade desfazi-
mento por transferência de bens ociosos entre unidades.

31
Foi consultado o manual de administração patrimonial da Uni-
versidade Federal de Pelotas, manual bastante detalhado, que auxilia
o servidor a realizar quase todos os procedimentos de desfazimento.
Porém, ao consultar com mais afinco como acontecem os procedi-
mentos administrativo no tocante do desfazimento por transferência,
objetivo da pesquisa, o manual traz apenas os conceitos e direciona
o leitor a acessar o link https://wp.ufpel.edu.br/sei/, “Pop UFPel (Ma-
nuais).” Contudo, ao acessar a página, os fluxos trazidos só trazem
informação de transferência entre unidades sem a mudança de posse.
Não fica claro também a ordem dos procedimentos.

O manual da Universidade Federal do Ceará, também traz in-


SUMÁRIO formações sobre os procedimentos de gestão patrimonial, de formas
de controle, de aquisição, de estocagem, de movimentação, e até de
desfazimento, entretanto, como o manual da UFPEL, não menciona
quais documentos vão compor o processo de desfazimento.

Por estas duas consultas fica claro que as organizações criam


meios para melhor organizar seu patrimônio. Por conseguinte, e devido
às suas necessidades, cada gestão cria sua forma de rotina. E, em
razão disso, esta pesquisa vem para ser mais uma opção de apoio.
Santos (2010) afirma que, o uso de manuais ou normas são cada vez
mais necessários dentro das instituições.

METODOLOGIA

A área de estudo da pesquisa será desenvolvida nas coordena-


ções de patrimônio e no departamento de contabilidade do INSTITUTO
FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE RORAIMA -
IFRR, por serem responsáveis pela gestão patrimonial da instituição.

32
O IFRR criado nos termos da Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro
de 2008, vinculado ao Ministério da Educação, é uma instituição de
educação superior, básica e profissional, pluricurricular e multicampi,
especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas
diferentes modalidades de ensino, tem como sedes as seguintes uni-
dades: Campus Boa Vista Centro, Boa Vista Zona Oeste, Avançado
Bonfim, Amajari e Novo Paraíso.

Para a realização desta pesquisa fez-se necessário um levan-


tamento prévio dos normativos que regem a gestão patrimonial, bi-
bliografias relacionadas ao assunto, análise documental e análise do
sistema de gestão patrimonial do IFRR.
SUMÁRIO
Esta pesquisa classifica-se como descritiva uma vez que o pes-
quisador buscou uma maior proximidade com o fenômeno pesqui-
sado, através de um estudo de caso, visando descrevê-los em seus
pormenores, atendendo a critérios qualitativos, que tem como propó-
sito principal analisar, bem como atitudes, comportamentos, hábitos e
tendências dos fatos investigados.
Para as pesquisas exploratórias têm como objetivo “aumentar
a familiaridade do pesquisador com um ambiente”. Quanto
à pesquisa descritiva Gil (2010), se posiciona afirmando que
esta, tem como importante objetivo descrever as caracterís-
ticas de determinada população ou fenômeno, envolvendo
técnicas padrão de coleta de dados como questionários e
observação sistemática. (MARCONI E LAKATOS, 2007, p.85),

O estudo foi concretizado entre os meses de abril e maio de


2021, utilizando como principais fontes as informações coletadas no
sistema de gestão patrimonial e também conversas in loco com os res-
ponsáveis pelas coordenações de patrimônio e contabilidade do IFRR.

As coletas buscam informações sobre quais os procedimentos


administrativos e contábeis que a instituição adota para realizar as
transferências de bens móveis.

33
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Para verificar a questão do desfazimento de bens no IFRR, foram


realizados dois tipos de consultas. A primeira foi ao site oficial da ins-
tituição, lá buscou-se informações relacionadas a manuais, portarias
e regulamentos, temas conexos com o objeto da pesquisa, porém,
nada semelhante foi encontrado. Já a segunda captação de dados foi
feita no Sistema Unificado de Administração Pública – SUAP, o siste-
ma eletrônico responsável pela gestão administrativa e patrimonial da
SUMÁRIO instituição. Nele foi possível consultar três processos de transferência
entre unidades distintas. O primeiro relaciona-se a uma transferência
do Campus Novo Paraíso para a Reitoria; o segundo uma do Campus
Boa Vista para o Câmpus Avançado Bonfim e o Terceiro uma da Reito-
ria para o Campus Boa Vista.

Após a análise processual verificou-se que a instituição não ado-


ta uma rotina padrão para os procedimentos; não há uma sequência
lógica para a inserção de documentos no sistema e nem quais docu-
mentos inserir. Não há também, uma sequência para a movimentação
dos bens, por exemplo, os bens são movimentados fisicamente pri-
meiro, para depois criar o processo de transferência. Em alguns ca-
sos, ficam faltando documentos dos equipamentos, em outros, não se
justifica os motivos da movimentação.

Entretanto, foi observado uma situação positiva nas consultas, o


sistema SUAP contém todas as ferramentas necessárias para a realiza-
ção do processo de transferência de forma online, desde a criação do
ofício de solicitação do bem, até o arquivamento do processo.

Por fim, vale destacar que todas as consultas foram feitas em


processos disponíveis em modo público.

34
Modelo de fluxo
de desfazimento proposto.

Nesta seção o fluxo proposto foi elaborado (Figura 1), especifi-


camente, para orientar os servidores do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia de Roraima – IFRR, quanto aos procedimentos
administrativos de desfazimento de bens ociosos por transferência. Por-
tanto, todos os procedimentos de criação de documentos, abertura de
processo, movimentações e registros serão realizados de forma eletrôni-
ca através do Sistema Unificado de Administração Pública – SUAP.

SUMÁRIO Como exemplo, será demonstrado a transferência de um equi-


pamento do Campus Boa Vista para a Reitoria. Nesse exemplo, a Rei-
toria e a entidade Interessada.

Figura 1 – Fluxograma do Processo de Transferência

Fonte: desenvolvido pelo autor (2021)

35
Quadro 1 – Fluxo proposto

Fluxo Proposto
Reitoria.
A Reitoria, já sabendo da disponibilidade do bem no campus, emite ofício para oficializar a solici-
tação. Nele são justificados os motivos do pedido.
Sugerimos que toda e qualquer solicitação de bens entre unidades deve partir de comunicação
oficial da autoridade máxima do órgão, por exemplo, Reitor para Diretor Geral ou Diretor Geral para
Diretor Geral.
Observação: O gestor hierarquicamente abaixo do Reitor ou DG de Campus, notificará a sua
intenção para que o mesmo tenha conhecimento e adote providências.
Campus Boa Vista.
O Diretor Geral do campus quando favorável a solicitação, despacha o pedido para o seu coorde-
nador de patrimônio.
Observação: Vale destacar que a autoridade competente deve instituir uma comissão especial
realizar a avaliação dos bens ociosos, conforme orientação do art. 10 do Decreto n. 9.373/2018
(BRASIL, 2018).
SUMÁRIO Coordenação de Patrimônio.
O coordenador de patrimônio de posse do documento, providenciará a abertura do processo admi-
nistrativo. E em seguida, adotará as seguintes providências:
Cria-se em nome do solicitante uma requisição de transferência, contendo a relação e os dados
do bem ou bens.
Após o retorno, assinada, o coordenador inclui a requisição no processo.
Também serão inseridos no processo: o documento do registro da entrada do bem no Suap, as
cópias da nota de empenho e da nota fiscal.
Em seguida, encaminhar processo para o setor de contabilidade para realizar a transferência contábil.
Coordenação de Contabilidade.
A contabilidade adotará as providências relativas à transferência patrimonial via - SIAFI.
Após a movimentação contábil, será incluída no processo a cópia da nota de transferência, e em
seguida, o processo é devolvido para a coordenação de patrimônio.
Coordenação de Patrimônio.
A coordenação de patrimônio comunica o interessado para vir retirar o bem.
Após o recolhimento do bem, o coordenador de patrimônio movimenta o processo para coordena-
ção de patrimônio do interessado, no exemplo, para a coordenação da reitoria.
Reitoria.
Já na coordenação de patrimônio da reitoria, o seu coordenador providenciará as questões relativas
a um novo tombamento, caso ache necessário, e também a nova localização.
Observação: Em algumas situações, no caso da transferência de mais de um item. Todos eles
ficam localizados no SUAP, no setor de lotação do solicitante. Pode acontecer que, depois do
recebimento, o solicitante queira movimentar dentro da sua unidade os bens. Por isso, faz-se
necessário que o processo seja encaminhado para o setor de patrimônio para adequação.
Feitos os ajustes, o coordenador de patrimônio encaminha processo para o setor de contabilidade
para conhecimento e providências em relação aos procedimentos contábeis.
Por fim, depois de adotadas as medidas necessárias, a contabilidade providenciará o arquivamento
do processo.

Fonte: desenvolvido pelo autor (2021)

36
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do trabalho foi de desenvolver um fluxo, para orientar


os gestores das instituições públicas federais, em especial do IFRR, de
como realizarem os procedimentos administrativos de desfazimento
de bens por transferência. Como já mencionado no início da pesquisa,
o decreto nº 9.373 de 11 de maio de 2018, foi criado para regulamentar
esses procedimentos, porém não traz informações de como as institui-
ções devem proceder administrativamente. Diante disso, e sabendo da
realidade da instituição pesquisada, foi proposto um fluxograma para
auxiliar a instituição.
SUMÁRIO
Os desafios foram imensos, uma vez que os dispositivos legais
e pesquisas relacionadas tratam muito sobre a gestão patrimonial de
modo geral. Contudo, o estudo atingiu os objetivos a que se propôs.
Por fim, destacamos que não foi objetivo deste estudo esgotar o tema,
e sim, ser um instrumento de fomento de pesquisas na área de gestão
patrimonial pública em órgãos federais.

Como limitação de pesquisa, embora foram levantados vários


processos e procedimentos que são desenvolvidos no âmbito do
IFRR, e mesmo sendo o desfazimento de bens é seguido de acordo
com normas e leis, pode ser que esse fluxo tenha que ser bem forma-
tado para outras Instituições Federais.

Como sugestões para futuros trabalhos, a partir dessa pesqui-


sa, pode ser melhorado esse fluxograma, verificando em detalhes as
fases para a transferências de bens.

37
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto Nº 9.373, de 11 de maio de 2018 (2018a). Dispõe sobre
a alienação, a cessão, a transferência, a destinação e a disposição final
ambientalmente adequada de bens móveis no âmbito da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015 2018/2018/Decreto/D9373.htm.
Acesso em: 14 abr. 2021.
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Administração Pública. Disponível em: http://www.comprasnet.gov.br/
legislacao/in/in205_88.htm. Acesso em: 10 mai.2021.
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http://www.eumed.net/2/rev/oel/2018/02/administracao-publica-federal.html.
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DIEGO, A. S.; CRISTINE, F. T.; DE SOUZA, P. M. Desfazimento de bens e
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https://dvl.ccn.ufsc.br/10congresso/anais/10CCF/20200630112858_id.pdf.
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Unificado de Administração Pública - SUAP. Roraima, RR: Disponível em:
https://suap.ifrr.edu.br/accounts/login/?next=/ Acesso em: 24 abr.2021.

38
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Disponível em: https://www.aspec.com.br/blog/4-etapas-fundamentais-na-
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na gestão patrimonial dos bens móveis das instituições públicas de
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Públicas: um estudo de caso no Centro de Educação Superior do Norte do
Rio Grande Do Sul (Cesnors). Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai
e das Missões – URI – Câmpus de Frederico Westphalen/RS. Dez. 2013.

39
2
Capítulo 2

Transparência dos Recursos Públicos no


município de Rorainópolis – Roraima

Jonas Darc do Nascimento Araújo

Luciléia Silva Vasconcelos

Luciana Silva de Souza

Jonas Darc do Nascimento Araújo

Luciléia Silva Vasconcelos

Luciana Silva de Souza

Transparência dos Recursos


Públicos no município
de Rorainópolis – Roraima

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.2
SUMÁRIO

Resumo:
Este estudo teve como finalidade analisar a transparência dos recursos públi-
cos destinados às ações administrativas no que se refere aos atos e benefícios
destinados ao atendimento da sociedade local do município de Rorainópolis/
RR, se valendo da análise dos portais eletrônicos disponibilizados à consulta,
e essencialmente no que tange ao cumprimento e exigências das legislações
que trata do assunto em pauta em especial à Lei Federal nº 12.527/2011 – Lei
de Acesso à Informação Pública e Lei Complementar n° 131/2009 – Lei da
Transparência. A pesquisa caracterizou-se como pesquisa bibliográfica, por
meio da qual foi realizado um estudo virtual no site do governo municipal, prio-
rizando as informações no que diz respeito aos recursos públicos destinados
à prestação e manutenção dos serviços no que se refere à assistência coletiva
aos seus munícipes. Com base na investigação observou-se que há alguns
pontos a serem corrigidos, principalmente em relação ao cumprimento das exi-
gências legais de acesso à informação pública. A pesquisa discorre também
sobre necessidade por parte da gestão, em aderir com mais profundidade o
acesso à informação, e obedecer no que for pertinente o princípio da publici-
dade, sempre que o assunto se relaciona às ações da administração pública.
Com isso, a sociedade terá a oportunidade de acompanhar e intervir contra os
preceitos corruptíveis no cenário Estatal.

Palavras-chave: Gestão Pública; Publicidade; Recursos Públicos; Transparência.

41
INTRODUÇÃO

Nos dias atuais observam-se várias denúncias sobre ações que


envolvem a má gestão pública nas três esferas de governo: Federal,
Estadual e Municipal. Nesse sentido, a gestão pública tem que atuar
conforme a lei e lembrar-se sempre do conhecimento na abordagem
das estruturas que devem guiar sua ação. É importante cumprir seus
princípios como fundamentos para a gestão pública, tendo como ins-
trumento, a transparência, no qual possui mecanismos para basear a
prática e garantir eficácia nos resultados adquiridos no que diz respeito
à aplicação dos recursos, visando a melhor forma de aplicação, assim,
SUMÁRIO
concretizar de maneira valorosa o atendimento à população.

O município de Rorainópolis localizado ao Sul do Estado de Ro-


raima tem disponibilizado um site oficial da Prefeitura, que por sua vez
possui um link do Portal da transparência, em alusão às exigências da
Lei Federal nº 12.527/2011, que dispõe sobre o acesso às informa-
ções de interesse público para com a população em geral. No entanto,
quando o portal é acessado, embora existam diversas opções acerca
das questões orçamentárias, financeiras, pessoais, patrimônios, legis-
lações locais, planejamentos dentre outras, observa-se a inexistência
de informações em alguns links, tornando frustrada a pesquisa on-line,
no referido site.

A falta da transparência no detalhamento das contas e despe-


sas públicas no Município de Rorainópolis evidencia um claro impedi-
mento do direito do cidadão que se dispõe em conhecer ou fiscalizar
no que lhe é cabível as contas e atos públicos, impossibilitando que
possíveis denúncias por irregularidades possam ser feitas por aqueles
que acompanham os atos administrativos, tendo em vista os recursos
destinados à sociedade pelo poder público.

42
Logo, ao observar a realidade do município de Rorainópolis no
que se refere à transparência dos recursos públicos municipal, verifi-
cou-se uma situação problema em se tratando da publicidade quanto
ao tratamento e aplicação dos recursos dentro do município, o que
levou a realização de uma pesquisa, a qual sugeriu para investigação,
a seguinte questão norteadora: o município de Rorainópolis possui
portal da transparência ou outros instrumentos dedicados à postagem
de dados e informações de interesse público?

Assim justificou-se à pesquisa devido à necessidade em averi-


guar sobre a existência da transparência na gestão pública municipal.
Por conseguinte, o objetivo geral deste estudo consiste em identificar
SUMÁRIO se há transparência na aplicação dos recursos públicos no município
de Rorainópolis, sejam eles de repasses constitucionais, recursos pró-
prios de arrecadações municipais, convênios, contratos de repasses,
doações voluntárias dentre outras fontes, através do seu portal ele-
trônico, em especial ao cumprimento às exigências da Lei Federal nº
12.527/2011 – Lei de Acesso à Informação Pública.

Para chegar aos esclarecimentos do que foi proposto a partir


da questão norteadora da pesquisa, foi imprescindível conhecer como
está sendo consolidada a transparência dos recursos na gestão pú-
blica no município; Identificar se há obediência às Leis Federais para
demonstrar as contas Públicas e de responsabilidade fiscal pelo ente
Estatal; e por fim discutir os instrumentos de transparência utilizados
pelo município e refletir sobre como a sua utilização tem contribuído
para o fortalecimento da gestão pública.

A partir das análises concretizadas, as contribuições deste tra-


balho serão: auxiliar os cidadãos e interessados, na exigência à ad-
ministração pública local que as informações sejam disponibilizadas
no portal que foi criado com base no que é proposto pela legislação
federal pertinente, fazendo com que o cidadão consiga entender que
determinado recurso foi aplicado de maneira satisfatória, ou seja, não

43
basta que as informações repassadas sejam disponibilizadas aos ci-
dadãos, mas que os dados sejam fornecidos de forma acessível e
compreensível a sociedade em geral.

REVISÃO TEÓRICA

Serão apresentados a fundamentação teórica, e preceitos le-


gais existente no Brasil, a respeito dos instrumentos que exigem o
acesso à informação e a transparência da aplicação dos recursos
públicos no âmbito da administração do município de Rorainópolis,
SUMÁRIO
Estado de Roraima.

Transparência Pública, conceito e definição

O termo transparência na gestão pública propaga a ideia de


que a sociedade precisa estar informada sobre os atos efetivados
pela administração pública, também exige que as informações se-
jam disponibilizadas de forma a garantir uma compreensão facilitada
por parte do cidadão interessado. Nesse sentido, fazer com que os
agentes públicos se conscientizem de que toda informação pública
é propriedade do cidadão e depende do Estado para sua disponi-
bilização, a qual deve ser feita por meios que facilite à sociedade,
o acesso às informações. Silva (2004) numa abordagem acerca da
transparência explana que:
A transparência tem como objetivo garantir a todos os cidadãos,
individualmente, por meio de diversas formas em que costu-
mam se organizar, acesso às informações que explicitam as
ações a serem praticadas pelos governantes, as em andamen-
to e as executadas em períodos anteriores, quando prevê am-
pla divulgação, inclusive por meios eletrônicos e divulgação de

44
audiências públicas, dos planos, diretrizes orçamentárias, or-
çamentos, relatórios periódicos da execução orçamentária e da
gestão fiscal, bem como das prestações de contas e pareceres
prévios emitidos pelos tribunais de contas (SILVA, 2004, p. 10)

Nessa perspectiva a transparência não deve ser informada


apenas aos fatos presentes executados pela administração pública,
mas também deve garantir as informações de fatos ocorridos durante
os exercícios anteriores, isso permite um acompanhamento de cunho
evolutivo, fazendo comparação a respeito da atuação dos governan-
tes. Nesse sentido, a transparência exerce sua função que é aproxi-
mar o Estado e a sociedade mantendo relação de Transparência e o
vínculo democrático.
SUMÁRIO
Para Dias (2017, p. 181), a transparência não é unicamente uma
vontade de mostrar as informações de que se dispõe sem ocultá-las,
mas deve ser vinculada à qualidade da informação, já que se pretende
facilitar a participação e melhorar as atitudes democráticas. Buscar a
transparência na gestão pública é fundamental não apenas para se
adequar à lei da transparência, mas, é importante também para au-
xiliar no combate a corrupção, incentivar a participação social, gerar
conhecimento e ter maior eficiência e efetividade nos serviços públicos
prestados à sociedade.

Contexto histórico
da Imprensa oficial no Brasil

A origem do Diário Oficial brasileiro, remonta à época da trans-


ferência da corte portuguesa para o Brasil. O Príncipe Regente D. João
no ano de 1808, assinou o decreto que criou a Impressão Régia no Rio
de Janeiro, para imprimir, com exclusividade, todos os atos normati-
vos e administrativos oficiais do governo imperial, surge então o pri-
meiro jornal brasileiro, chamado Gazeta do Rio de Janeiro, atualmente

45
conhecido como Diário Oficial da União seguido por todos os poderes
constituídos das três esferas de governo que possuem seus diários
oficiais próprio, com exceção dos municípios pequenos e mais remo-
tos que ainda se utilizam de publicações em murais (SODRÉ, 1998).

O Estado de Roraima possui um departamento de imprensa


oficial, vinculado à Secretaria de Estado de Gestão Estratégica e Ad-
ministração, o qual são publicados os atos oficiais da administração
pública direta e indireta, inclusive de alguns municípios do estado.

Sobre o município de Rorainópolis, o mesmo não possui em sua


estrutura um órgão da imprensa oficial. Alguns atos são publicados no
SUMÁRIO site do portal da transparência do município e outros são publicados
nos murais da prefeitura, câmara e secretarias municipais.

A falta de um órgão de imprensa oficial, unificando todas as


informações e atos do município prejudica a sociedade, dada a sua
importância para o acesso da população de ter conhecimento dos atos
da gestão e fiscalização principalmente pelos órgãos de controle.

A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 5 de outubro


de 1988, inciso XXXIII, artigo 5º, Capítulo I, Título II, estabelece regras
gerais de transparência e acesso à informação dos atos da adminis-
tração pública em geral, estabelecendo como um direito fundamental
garantido em lei a todos os cidadãos brasileiros: (BRASIL, 2008).
Todos têm direito a receber de órgãos públicos informações de
seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado.

No caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, fica es-


tabelecido que a publicidade é tida como um dos princípios funda-
mentais a ser obedecido pela administração pública, em sintonia com
outros princípios. Assim, a administração pública direta e indireta de

46
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (BRASIL, 2008).

Ao se tratar do princípio da publicidade, observamos que ele


está alinhado a outro dispositivo legal que é o acesso à informação
pública como direito fundamental contido no texto constitucional da
Carta Magna de 1988, garantindo ao cidadão que as informações pú-
blicas sejam acessíveis e de fácil entendimento a toda sociedade, seja
ela pessoa física ou jurídica, no âmbito Federal, Estadual ou Municipal.

SUMÁRIO Legislação
Complementar e Ordinária

A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº


101/2000), regulamenta a utilização de recursos públicos de todas as
esferas administrativas de todos os poderes constituídos, objetivando
o controle de seus gastos, respeitando limites de despesas e cumprin-
do metas orçamentárias, para equilibrar as contas públicas.

É fundamental que o Poder Público atue em conformidade com


o equilíbrio fiscal, seja reforçando a diminuição das despesas ou a ma-
nutenção das receitas, de maneira que haja planejamento e diretrizes
para uma gestão administrativa transparente.

A Lei Complementar 131, de 2009, também conhecida como Lei


da Transparência, alterou a redação da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). Foi criado para aumentar a transparência dos gastos públicos a
serem publicadas em tempo real, com informações detalhadas da exe-
cução orçamentária e financeira de todas as esferas de governo, onde
todos os entes deverão divulgar com detalhes as despesas e receitas
com a disponibilização mínima de informações. Para Nunes (2013, p. 29):

47
Um reforço dado para esse tema é a Lei Complementar n.º 131,
de 2009, chamada Lei da Transparência, que trouxe mais exi-
gências à Lei de Responsabilidade Fiscal, mediante acréscimo
de dispositivos, mais precisamente p. 29 quanto à transparên-
cia no setor público, a fim de determinar a disponibilização, em
tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução
orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Fe-
deral e dos Municípios.

A Lei nº 12.527 de 2011, conhecida como Lei de Acesso à Infor-


mação Pública, trata de assuntos de interesse da União, dos Estados,
do Distrito Federal e também dos Municípios. É importante também
ressaltar que esta Lei inclui tanto a Administração Direta quanto a In-
SUMÁRIO direta, considerando aqui também as entidades controladas direta ou
indiretamente pelos Municípios.

A Lei de Acesso à Informação Pública, em síntese, ganha des-


taque no ordenamento jurídico porque tem como objetivo primordial,
garantir o direito fundamental de acesso à informação, indicando como
diretriz básica, a publicidade como princípio geral tendo como exce-
ção, o sigilo, quando necessário à proteção do Estado e/ou proteção
da pessoa natural, assim quando a lei a exigir. Conforme Alexandrino e
Paulo (2016, p. 228), afirmam que:
A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei 12.527/2011) conhe-
cida como Lei de Acesso à Informação (LAI), também chamada,
por vezes, de Lei da Transparência Pública – foi editada com es-
copo expresso de disciplinar “os procedimentos a serem obser-
vados pela União, Estados, Distrito Federal e municípios, com o
fim de garantir o acesso às informações [...]”. portanto trata-se
de uma lei de normas gerais, de caráter nacional.

Vale ressaltar que a divulgação de informações de interes-


se público deve ser prestada independentemente de solicitação,
favorecendo assim, a cultura da transparência e o controle social
da administração pública. Lembrando que a referida lei, segundo
Alexandrino e Paulo (2016), não excluem outras hipóteses legais de

48
sigilo e de segredo de justiça, hipóteses de segredo industrial de-
correntes da exploração direta de atividade econômica pelo Estado
ou por pessoa física ou entidade privada que tenha qualquer vínculo
com o poder público (art. 22).

Publicidade e Transparência
na Administração Pública

A constituição da República trouxe em seu arcabouço, espe-


cificamente em seu artigo 37, princípios que servem de norte para
SUMÁRIO todo ato da Administração Pública, sendo eles: legalidade, impes-
soalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Contudo esse rol não
é taxativo, existem atualmente muitos princípios que norteiam os atos
do poder público.

Os princípios são alicerces que sustentam o ordenamento jurí-


dico pátrio, bem como a outras esferas não jurídicas, pois os princí-
pios são valores, virtudes de uma sociedade. Nesse sentido Miranda
(2008, p. 10), defende que:
Tais princípios estão textualmente previstos no texto constitucio-
nal e são chamados de princípios expressos. A busca da efetivi-
dade pelos gestores públicos deve ser constante, sempre com
o objetivo de um desempenho ético e responsável e para isso
é necessário ter estratégias bem definidas e divulgadas para
atender as necessidades dos cidadãos.

Logo a desobediência a esses dispositivos constitucionais, in-


cidirão ao gestor público, sanções previstas em lei com penalidades
atribuídas conforme pertinência da infração cometida.

Em se tratando do princípio da publicidade, é válido destacar


que ele atribui credibilidade ao gestor público, sendo uma ferramenta
de controle interno e externo. É pela publicação dos atos administrativos

49
que o cidadão terá conhecimento das atividades e ações executadas,
o que proporciona transparência aos atos emanados da administração.

A transparência na administração pública começa pela publi-


cidade ou divulgação das informações, seja ela por qual meio de co-
municação for: escrita, falada, televisionada e nos últimos tempos em
meios digitais. Segundo afirma Rosa (2003, p. 14), define a importância
do Princípio da Publicidade como:
A atuação transparente do Poder Público exige a publicação,
ainda que meramente interna, de toda forma de manifestação
administrativa, constituindo esse princípio requisito de eficácia
dos atos administrativos. A publicidade está intimamente rela-
SUMÁRIO cionada ao controle da Administração, visto que, conhecendo
seus atos, contratos, negócios, pode o particular cogitar impug-
ná-los interna ou externamente.

O desafio apontado acima no parágrafo anterior se dá porque


a maioria absoluta dos gestores públicos não exercem os princípios
constitucionais da publicidade e transparência ao pé da letra, devido à
atitude de se apropriar dos bens públicos, seja ele financeiro ou mate-
rial, que se resume em corrupção.

Ao ponto de vista de Bezerra e Cavalcanti (2011) é possível com-


preender que a transparência na administração pública é essencial,
para que o cidadão possa ter acesso às informações públicas de seu
interesse. Assim poderá fazer o acompanhamento das ações públicas
efetivadas pela gestão de sua cidade ou estado, ou seja, saber a rea-
lidade de como o governo trabalha.

A transparência administrativa está ligada diretamente ao prin-


cípio de Estado Democrático de Direito, em que democracia é mais
efetiva quando o uso do poder tem visibilidade social e popular, em-
bora existam variações de intensidade da transparência administrati-
va, desde a publicidade das decisões governamentais à participação

50
da população na condução dos negócios públicos de um órgão para
outro (MARTINS JR, 2010).

Todos os atos de publicidade e transparência demandam ins-


trumentos de avaliação com métodos que permitem o gestor, avaliar
o andamento da transparência como valor na sua gestão e que pos-
sibilitem a emissão de recomendações gerenciais para a correção de
rumo e direção para que o órgão avance cada vez mais no caminho
da honestidade e zelo aos bens públicos, sejam eles financeiros, ma-
teriais e humanos.

SUMÁRIO
METODOLOGIA

Referente aos procedimentos técnicos deste estudo foi utiliza-


da a pesquisa bibliográfica, sendo focada em informações retiradas
de livros, artigos científicos, revistas, dissertações, sites, portais da
transparência, legislações municipais e materiais já publicados acerca
do tema estudado. Para Gil (2008), a principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de
uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que pode-
ria pesquisar diretamente.

Portanto, analisando a visão de alguns autores sobre conceitos


que reforçam o tema funcionalidade da transparência dos Recursos
Públicos ao mesmo tempo seguindo a linha desse tipo de pesquisa,
foi possível reunir elementos plausíveis ao tratamento da problemática
proposta neste estudo no que compete a transparência dos recursos
públicos no município de Rorainópolis/RR.

Esta pesquisa foi baseada na abordagem qualitativa, uma


vez que priorizou as informações acerca do processo em que o ob-
jeto de estudo está inserido e não apenas os resultados das ações

51
consideradas o foco desta pesquisa. Bortoni-Ricardo (2008) define a
pesquisa qualitativa como o estudo que procura compreender e inter-
pretar os fenômenos sociais que ocorrem em certos contextos e situa-
ções. Ainda de acordo com Bortoni-Ricardo (2008), a “capacidade de
compreensão do observador está enraizada em seus próprios significa-
dos, pois ele (ou ela) não é um relator passivo, mas um agente ativo”.

Adiante outra concepção que sustenta a afirmação acima é de Gil


(2010), ao discorrer a respeito da pesquisa qualitativa, afirma que o am-
biente deve ser utilizado como uma fonte direta de dados e o pesquisa-
dor como instrumento chave, devendo a pesquisa ser desenvolvida de
forma descritiva, isto é, o foco do estudo deve ser o processo em que o
SUMÁRIO objeto de pesquisa está inserido e não apenas o resultado ou o produto.

Quanto aos objetivos, a pesquisa se enquadra como explorató-


ria, visto que foi construída a partir de dados já existentes e publicados
em diversos meios de consultas, o qual proporcionou maior familiari-
dade referente ao problema com vistas a torná-lo explícito.

Em relação ao método abordado neste artigo foi utilizado o mé-


todo dedutivo, tendo em vista o perfil da pesquisa por se tratar de uma
pesquisa bibliográfica que segundo Gil (1999, p. 27),
De acordo com a acepção clássica, é o método que parte do
geral e, a seguir, desce ao particular”. Parte de princípios reco-
nhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar
a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude
unicamente de sua lógica.

Foi procedida uma análise e interpretação sobre o conteúdo


escrito dos artigos, para se averiguar as principais metodologias ado-
tadas nos estudos investigados. Os dados coletados através da pes-
quisa bibliográfica foram utilizados como recurso para construir a base
teórica deste estudo, fornecendo o embasamento necessário para as
discussões aqui realizadas.

52
Não foram realizadas entrevistas presenciais com gestores pú-
blicos municipais em detrimento da pandemia e também por entender
que raramente poderiam ser obtidas as respostas desejadas a respeito
da transparência da gestão pública municipal.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Nesta etapa do trabalho serão expostos alguns pontos que fo-


ram observados nas informações disponíveis no site oficial do municí-
SUMÁRIO
pio de Rorainópolis/RR. Nesse sentido, a análise dos dados objetivou
avaliar e verificar se o referido município disponibiliza elementos infor-
mativos no site da transparência de acordo com o que preza a Lei nº
12.527/2011 – Lei de Acesso à Informação – LAI.

Quanto à escolha do município onde se deu a investigação, de-


ve-se às circunstâncias de que a transparência das informações pú-
blicas seja necessária ao conhecimento da sociedade. Desse modo,
o município de Rorainópolis-RR foi escolhido com intuito de contribuir
com a gestão pública municipal e a comunidade, assim como promo-
ver maior interação na relação entre o Estado e a sociedade e contri-
buir para que a gestão municipal assuma as responsabilidades que lhe
cabível com claras pretensões de um governo transparente.

A investigação deste estudo foi realizada na sede do município


de Rorainópolis-RR, durante o período de fevereiro a abril de 2021. O
município surgiu primeiramente com a nomenclatura de Vila do INCRA,
sendo que neste período ainda não havia sido estabelecido como mu-
nicípio. A municipalização de Rorainópolis ocorreu em 17 de outubro
de 1995, por meio da Lei Estadual n° 100. As terras que atualmente
constituem o município originalmente pertenciam ao território de São
Luiz do Anauá (FREITAS, 1997).

53
O território de Rorainópolis possui os seguintes limites: ao norte
com o município de Caracaraí, ao sul com o estado do Amazonas,
a leste com São João da Baliza e São Luiz do Anauá, e a oeste com
Caracaraí por meio do Rio Branco (FREITAS, 1997). O município “é cor-
tado pela rodovia BR-174 de sul a norte. É a porta de entrada rodoviária
sul do Estado de Roraima” (FREITAS, 1997, p.87). Por ser um município
com criação recente, Rorainópolis encontra-se em pleno processo de
evolução e crescimento.

O município está entre as principais cidades do Estado de Ro-


raima, e é o segundo maior em termos populacional e atualmente tam-
bém é o de maior crescimento demográfico. Possui uma área territorial
SUMÁRIO de 33.593,99 km² e aproximadamente 28.215 habitantes, segundo o
censo do (IBGE/2019). No que concerne à análise dos resultados pode
ser afirmado que todas as informações contextualizadas neste tópico
encontram-se disponíveis no sítio eletrônico oficial do Portal da Trans-
parência do município de Rorainópolis.

A partir do guia de informações das páginas eletrônicas no por-


tal da transparência do município ao qual se deu o estudo, é possível
encontrar links de consultas sobre receita, despesa, pessoal, plane-
jamento orçamentário, licitações e contratos, prestações de contas,
terceiro setor, transparência, convênios e patrimônio e uma aba desti-
nada ao acesso à informação a partir do site: http://rorainopolis.rr.gov.
br/portalTransparencia/, conforme figura abaixo.

Figura 1 – Portal da Transparência do Município de Rorainópolis/RR

Fonte: Portal da transparência (2021, adaptado pelos autores).

54
Após acessar as abas que se apresentam no Portal da Transpa-
rência municipal, ficou constatada a supressão de algumas informa-
ções, e os locais onde é possível encontrar dados informativos, estão
descritos numa linguagem muito técnica, o que dificulta a interpretação
desses dados e dessa forma possibilita apenas um entendimento de-
fasado das informações às quais deveriam estar disponíveis claramen-
te no ambiente eletrônico para que pudessem ser consultadas pela
sociedade. Maiores detalhes verificam-se nas figuras abaixo, que se
referem às abas: Planejamento Orçamentário, figura 2 e figura 3 esta,
referente à Prestação de Contas.

Na figura 2 pode-se verificar a partir da aba: Planejamento Orça-


SUMÁRIO mentário onde se encontra ainda o Plano Plurianual-PPA; Lei de Diretri-
zes Orçamentária-LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA, não consta no
portal da transparência da prefeitura de Rorainópolis/RR, a publicidade
da Lei de Diretrizes Orçamentária para o exercício de 2018, 2019, 2020
e 2021. Lembrando que é votada e publicada no portal da transparên-
cia sempre no ano anterior, para o exercício do ano seguinte.

Figura 2 – Portal da Transparência (Lei de Diretrizes Orçamentária – LDO)

Fonte: Portal da transparência (adaptado pelos autores, 2021).

Quanto a figura 3 que apresenta informações referente a aba


Prestação de Contas, onde exibe os Balanços; Relatórios Execução
Orçamentária; Relatórios Prestação de Contas; Responsabilidade Fis-
cal – RREO; Responsabilidade Fiscal – RGF; Instrução Normativa 28
(TCU). Na figura, apresenta-se uma imagem do documento de presta-

55
ção de contas referente ao balanço de despesas da Secretaria Munici-
pal de Serviços Urbanos e Trânsito do ano de 2019.

Com base nas informações apresentadas é evidente o rigor téc-


nico aos quais os elementos estão descritos, isso dificulta a interpre-
tação dos referidos dados por pessoas que não têm conhecimento na
área, pessoas que têm um grau de instrução limitado ou até mesmo
aqueles sem nenhuma orientação educacional, logo esses cidadãos
certamente não terão sucesso quando acessarem essas informações
pois, irão se deparar com um tipo de informação rebuscada e de difícil
entendimento. A imagem abaixo trata-se de um documento que está
disponível no ambiente correspondente à aba “prestação de contas/
SUMÁRIO balanço”, (este documento pode ser baixado no formato pdf).

Figura 3 – Portal da Transparência (Balanço referente à Prestação de Contas)

Fonte: Portal da transparência (adaptado pelos autores, 2021).

56
Com base nas informações buscadas no site oficial da prefeitura
de Rorainópolis, constatou-se através das análises, que o portal da
transparência apesar de disponibilizar as páginas para as consultas
dos dados relacionados à transparência dos recursos públicos, em
alguns links não oferece viabilidade para o acesso que permita ao inte-
ressado os dados necessários ao conhecimento público.

Logo vê-se que as informações que deveriam ser prestadas ao


público, quando acessadas através do Portal da transparência algu-
mas não estão disponibilizadas ou não são disponibilizadas em tempo
hábil, já as que estão disponíveis, muitas são de difícil compreensão,
e acabam sendo irrelevantes ao cidadão que se dispõe a buscá-las.
SUMÁRIO
Outros itens analisados foram os instrumentos de planejamento
público concernente ao Plano Plurianual (PPA) de 2018-2021 e também
e Lei Orçamentária Anual (LOA), dispositivos estes, que estão descritos
no portal da transparência do município, e as informações que atual-
mente podem ser verificadas, estão disponíveis quando acessadas,
até o ano de 2019. Conforme figura abaixo.

Figura 4 – Portal da Transparência (Planejamento Orçamentário/PPA)

Fonte: Portal da transparência (adaptado pelos autores, 2021)

57
No que se visualiza nas figuras 4 e 5 que trata do PPA e da LOA,
é possível observar a disposição de algumas informações, seguindo
o site: http://rorainopolis.rr.gov.br/portalTransparencia/, essas informa-
ções podem ser obtidas a partir dos links que se apresentam na janela
conforme o ambiente de acesso. Vale lembrar que tais informações
encontram-se disponíveis até o ano de 2019, e já nos períodos poste-
riores como a exemplo da LOA 2020 e 2021 ainda não estão postas no
portal da transparência deste município.

Figura 5 – Portal da Transparência (Planejamento Orçamentário - LOA)

SUMÁRIO

Fonte: Portal da transparência (adaptado pelos autores, 2021)

Após o acesso que se fez no ambiente do portal da transparên-


cia municipal, e partindo de uma análise minuciosa, ficou constatado
que os dados referidos a estes instrumentos de planejamento, PPA e
LOA, apesar de apresentarem um extenso conteúdo de informações,
pode-se dizer que não se caracterizam de forma significativa, ou seja,
por terem uma linguagem complexa e um teor muito técnico de escrita,
impossibilita ao cidadão o acompanhamento da destinação e aplica-
ção dos recursos públicos, e a falta desse acompanhamento e fiscali-
zação, possibilita ações de possível desvios de recursos por parte da
gestão devido à falta de clareza das informações apresentadas.

58
Assim fica constatado que no município de Rorainópolis/RR,
as informações das receitas e despesas são publicadas no portal da
transparência no site oficial da Prefeitura Municipal de Rorainópolis,
onde constam os detalhamentos das receitas e despesas de todas as
unidades orçamentárias, inclusive do poder legislativo municipal.

Já as publicações, aquelas obrigatórias oriundas de convênios


federais são publicadas em jornais de grande circulação ou os diários
oficiais, do Estado e União sempre que cabível. Os demais atos admi-
nistrativos, inclusive de despesas e receitas com recursos próprios ou
objeto de repasses obrigatórios pelo Estado ou União, são publicados
em murais na sede da Prefeitura Municipal de Rorainópolis e/ou unida-
SUMÁRIO des orçamentárias.

Considerando os dados analisados, a respeito da transparência


dos Recursos Públicos do Município de Rorainópolis, foi possível veri-
ficar que o Portal da Transparência do referido Município não disponi-
biliza todas as informações necessárias no detalhamento das contas e
despesas públicas de acordo com o que preza a legislação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A transparência é um princípio constitucional implícito, cujo ob-


jetivo é permitir o acesso da sociedade às informações das contas
públicas dos entes federados. Portanto, devem ser transmitidas em
linguagem clara, simples e objetiva, para facilitar a compreensão do
cidadão, considerando como seus elementos mensuráveis a hones-
tidade, eficiência e eficácia. Atualmente este é o grande desafio a ser
enfrentado pela administração pública municipal frente à transparência
dos recursos públicos locais, tema norteador deste estudo.

59
Neste contexto, este trabalho buscou analisar a Transparência
da gestão pública do município de Rorainópolis – RR, ponderando o
Portal da Transparência Municipal como principal instrumento de aná-
lise. Em vista disso, buscou-se conhecer como está se concretizando
o processo de divulgação das informações pelo executivo e princi-
palmente, identificar se está havendo cumprimento à Lei Federal de
Acesso às Informações Públicas.

A partir da investigação, foi possível constatar que as informa-


ções disponíveis no portal eletrônico, se apresentam de modo defa-
sado, com uma transparência precária, pois nem sempre é possível
encontrar informações ou documentos necessários ao conhecimento
SUMÁRIO da população, tendo em vista a transparência dos recursos públicos
destinados ao município. Fala-se também que alguns dados, quando
disponíveis, demonstram uma argumentação muito técnica em rela-
ção a sua estrutura textual. Consequentemente impede que o cidadão
interessado em acompanhar as ações públicas efetivadas pela admi-
nistração, compreenda de forma clara o conteúdo das informações
dispostas nos documentos que se encontram no portal.

Mesmo existindo as poucas informações disponíveis no portal


da transparência municipal, o cidadão se depara com outro aspecto,
relacionado à interpretação das informações, com uma linguagem téc-
nica e rebuscada, o que impossibilita o entendimento significativo dos
dados consultados.

Destaca-se ainda que a finalidade desse trabalho consista em


demonstrar, que o papel da Transparência não consiste apenas no
aperfeiçoamento democrático do estado, mas, especialmente, em ga-
rantir aos cidadãos os seus direitos e restaurar a confiança no poder
público através de uma administração mais eficiente e com participa-
ção ativa da sociedade nas decisões políticas.

60
Espera-se que o estudo possa servir de base para pesquisas
mais profundas e aperfeiçoamento da legislação no tocante à transpa-
rência das contas públicas, de forma a favorecer a construção de uma
política fiscal responsável com a participação cidadã. Também possa
colaborar para direcionamentos na busca de medidas que fortaleçam
ações em prol de uma transparência mais efetiva e responsável que
leve em consideração os interesses da coletividade quanto ao acom-
panhamento das informações públicas, que se fazem necessárias ao
bom andamento e o desenvolvimento da sociedade.

SUMÁRIO REFERÊNCIAS
ALEXANDRINO, M.; PAULO, V. Direito Administrativo Descomplicado. 24
ed. rev. e atual.- Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.
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62
3
Capítulo 3

Clima Organizacional: uma análise em uma


Prefeitura Municipal do Estado de Roraima

Márcia Vanzo Fileski

Ronilson Moura Cavalcante

Harllesson Galucio de Almeida

Márcia Vanzo Fileski

Ronilson Moura Cavalcante

Harllesson Galucio de Almeida

Clima Organizacional:
uma análise em uma prefeitura
municipal do estado de Roraima

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.3
SUMÁRIO

Resumo:
O clima organizacional, está diretamente ligado ao grau de satisfação e moti-
vação dos funcionários, sejam eles em órgãos privados ou públicos. A pesqui-
sa teve como objetivo geral, analisar o clima organizacional em uma Prefeitura
Municipal do Estado de Roraima. O procedimento metodológico foi composto
por revisão bibliográfica sobre a temática e uma pesquisa de campo, aplicada
aos servidores, a partir de um questionário com perguntas fechadas, adaptado
da proposta de Bispo (2006). A aplicação foi através do questionário criado no
Google Forms, sendo o mesmo dividido em duas partes: a) Caracterização dos
respondentes e b) Percepção do Clima Organizacional, enviado por aplicativo
de mensagens Whatsapp, para os servidores, seguindo todo critério de ano-
nimato, de uma pesquisa científica. Após análises dos dados e a construção
dos gráficos, constatou-se que um dos pontos positivos de maior relevância,
com 31% das respostas, foi o relacionamento com o grupo. Quanto ao ponto
negativo que teve grande destaque, como fator que apresentou mais insatis-
fação no trabalho, a remuneração, obteve 50% das respostas positivas dos
pesquisados. Os resultados apontam aspectos que merecem a atenção da
Prefeitura, sugere-se que estes pontos negativos sejam analisados pela Ges-
tão, para verificar a insatisfação dos servidores.

Palavras-chave: Gestão Pública Municipal; Clima Organizacional.

64
INTRODUÇÃO

No mundo interligado e com as constantes mudanças no cená-


rio político, econômico e administrativo, e com as constantes mudan-
ças no Brasil, faz-se necessário que as organizações públicas, não só
centralizem seus esforços na satisfação da população, mas também
dos servidores públicos, pois o seu bem-estar poderá proporcionar,
como consequência, a satisfação da população, o que possibilitará
que as organizações públicas possam obter resultados significativos
em seu faturamento.

SUMÁRIO Além desses fatores, somam ainda a dificuldade dos municípios


brasileiros em prestar um serviço de qualidade ao cidadão, devido à
ineficiência de setores, gestão e servidores e a utilização dos poucos
recursos existentes de forma racional. Assim, a pesquisa de clima or-
ganizacional surge como uma ferramenta útil para as empresas em
seu processo administrativo.

O estudo do clima organizacional tem como missão principal


a compreensão das necessidades, preocupações e percepções dos
colaboradores de determinada empresa particular ou pública. Obser-
va-se que garantir um bom clima organizacional é uma tarefa funda-
mental dentro do RH de qualquer instituição ou empresa.

A pesquisa foi realizada em uma Prefeitura Municipal do Estado


de Roraima. O problema a ser discutido consiste em identificar se o
clima organizacional na prefeitura em estudo é positivo ou se o clima
organizacional e negativo?

Com isso este trabalho se justifica pela necessidade que o mu-


nicípio tem em motivar seus servidores para o desempenho de suas
tarefas de forma eficiente e eficaz, resultando em serviços de qualidade
disponibilizados aos contribuintes e servidores. Assim, um ambiente de

65
trabalho adequado torna-se indispensável, na medida em que contribui
para a satisfação dos funcionários em relação à Prefeitura pesquisada.

A pesquisa de clima organizacional é um recurso para coleta


de dados, que fornece informações relevantes sobre a percepção dos
funcionários em relação à prefeitura municipal. O clima organizacional
é percebido e influencia todos que fazem parte da organização, de
forma direta ou indireta, tornando o tema de suma importância com um
alto grau de relevância tanto social, jurídica, política.

A aplicação de uma pesquisa de clima organizacional ajuda a


mensurar fatores que afetam o relacionamento que as pessoas têm en-
SUMÁRIO tre si e a relação que possuem com o próprio órgão. Pesquisas desse
tipo são essenciais para a gestão da organização públicas ou privadas.

A pesquisa tem como objetivo geral efetuar a análise do clima


organizacional em uma Prefeitura Municipal do Estado de Roraima.

Já os objetivos específicos constituíram-se em descrever o perfil


do servidor público municipal, a analisar a satisfação dos funcionários
e identificar os aspectos que provocaram a insatisfação no trabalho.

Com isso, a pesquisa está constituída, em um primeiro momento,


de um referencial teórico sobre os principais conceitos de clima organiza-
cional e satisfação no trabalho. Após, apresenta-se a metodologia utiliza-
da. Em seguida são analisados os resultados encontrados e considera-
ções finais, onde sugere-se uma análise do ponto negativo pela Prefeitura.

REVISÃO TEÓRICA

Para Oliveira e Campello (2006, p.1) “a palavra clima origina-se


do grego klima e significa tendência ou inclinação.” O clima de uma
organização é algo facilmente percebido, pois apesar de não se poder

66
ver ou tocar, ele reflete o comportamento de seus colaboradores. Já
Katz e Kahn (1987, p.83) descrevem que “o clima organizacional reflete
a história das porfias, internas e externas, dos tipos de pessoas que a
organização atrai, de seus processos de trabalho e layout físico”. De-
vido a ser possível resumir-se numerosas percepções em um pequeno
número de dimensões, o clima organizacional abrange um amplo cam-
po de estudo (SBRAGIA, 1983, p. 30-39).

O ambiente de trabalho pode ser um fator determinante para


manter um colaborador, pois as pessoas precisam gostar de trabalhar
na empresa que estão, se sentirem valorizados. De acordo com Lima;
Jardim (2013, p. 69-84) existem duas formas essenciais para que os
SUMÁRIO funcionários tenham maior desempenho dentro da organização como
a demanda pela qualidade de vida no trabalho e a aumento no incen-
tivo da motivação das pessoas.

O clima organizacional é considerado um fator relevante para


o sucesso de uma organização, principalmente para a produtividade,
que está diretamente ligada à satisfação, motivação e na criatividade
dos colaboradores. (ROCHA; CERETTA; LIMA, 2014, p. 71-90). Portan-
to os estudos indicam que o clima organizacional afeta vário fatores em
uma organização inclusive o desempenho do seu colaborador no seu
serviço (ARAUJO et al, 2017, p. 97-112).

Verifica-se que muitos estudos e discussões foram realizados


sobre qualidade em serviços, porém é possível perceber que não há
um consenso, pois o critério de julgamento da qualidade dos serviços
é a satisfação dos usuários com o que receberam (LAS CASAS, 2008).

Vejamos que a cultura organizacional influencia indiretamente


o clima organizacional. De acordo com Wagner; Hollenbeck (2012,
p. 442, p. 472) a cultura organizacional desempenha funções bá-
sicas com a finalidade de entender a vida organizacional. O clima
organizacional é visto como a compreensão que as pessoas têm

67
da cultura organizacional, no qual estão inseridos (ARAÚJO et al, 2017,
p. 97-112). É necessário investir nas pessoas, para o bem-estar delas,
porque desta forma ela produzirá mais, e também aumentará clientes
para a organização.

A maioria dos colaboradores que tiveram ou têm algum tipo de


treinamento possuem maior grau de motivação, portanto é direcionado
a gestão aumentar as ações internas que estimulem os sonhos dos
seus colaboradores com melhorias quanto ao fator motivação. (COS-
TA; MOURA, 2018, p. 212- 226). Às vezes o gestor pensa no benefício
que algumas empresas alcançam, porém consideram que incentivar o
trabalhador é um custo e não um investimento para a empresa.
SUMÁRIO
Para Wilbert; Cruz (2014, p. 5), o clima organizacional consti-
tui-se de uma “atmosfera psicológica”, onde todos a percebem, pois
quando se entra num determinado ambiente ela faz com que as pes-
soas se sintam mais ou menos à vontade para interagir, agir, realizar e
permanecer no local, a qualidade da “atmosfera psicológica”, influen-
cia a todos na empresa.

Em virtude de as organizações ainda estarem forjadas, em sua


maioria, no modelo racional-burocrático, o clima organizacional cons-
titui-se em um campo de estudo que possui uma relevância ímpar na
teoria das organizações contemporâneas (LUZ, 2001, p.198). “A cul-
tura organizacional são as crenças, os valores, as tradições e hábitos
de uma organização e isso pode influenciar o clima organizacional dos
servidores (CHIAVENATO, 2010, p.170).

Chaves (2012, p.98) define pesquisa de clima organizacional


como uma ferramenta para mensurar o grau de percepção da satis-
fação dos colaboradores em relação ao seu local de trabalho. Para
Tagliocolo; Araújo (2011, p.29) é importante conhecer esta percepção,
pois o sentimento que os colaboradores possuem sobre a organização
tem um impacto profundo sobre como e o quanto eles produzem.

68
Para Silva; Fernandes (2019, p.67) o clima organizacional in-
fluencia diretamente a motivação do colaborador, com a ausência de
liderança desmotiva e falta de treinamentos, é necessário investir nas
pessoas para a empresa crescer, eles associam o crescimento da or-
ganização às pessoas e ao clima que a empresa.

Conforme Silva (2019, p.11) é de grande importância para as


empresas compreender o clima organizacional e os fatores que in-
fluenciam no desempenho dos colaboradores, pois o clima organiza-
cional é a combinação de muitos fatores, que muitas vezes são incon-
troláveis pela organização.

SUMÁRIO Aduz Silva (2019, p.28) acredita que a empresa deve apresentar
um clima organizacional bom, que haja alegria no local de trabalho, uma
boa convivência, que resulta na amizade, respeito e consideração entre
os membros do grupo, satisfação e comprometimento com o trabalho
que exercem. Ainda afirma Silva (2019, p. 29) que se o Clima Organiza-
cional é bom, isso é um fator positivo para a satisfação dos funcionários
e resultados eficazes para a empresa. Sendo assim, o clima organizacio-
nal da organização interfere nas atitudes e comportamentos.

Diz Rodrigues (2020, p. 91-113) o fator motivacional, implícito


no clima organizacional, quando positivamente aplicado nas organiza-
ções, pode gerar maior sucesso e prosperidade, uma vez que esse,
basicamente, atua no auxílio de atos como (1) aumento da possibilida-
de de perpetuação do negócio, (2) elevação das chances de “sobrevi-
da” do negócio em meio a crises e oscilações de mercado e (3) maior
atuação junto a concorrentes de mercado.

Um fator observado por Sousa (2018, p. 16) é que compõe a


percepção do clima organizacional, é o ambiente físico da organiza-
ção. As empresas que possuem um ambiente físico adequado, bem
iluminado, e que oferecem as ferramentas necessárias para realização
do trabalho, contam com um instrumento poderoso para que o clima
organizacional seja bom.

69
METODOLOGIA

Neste capítulo verifica-se a metodologia aplicada que foi basea-


da nas proposições apresentadas por Vergara (2010, p. 11, 17,44.).
Foi adotada a pesquisa bibliográfica (LAKATOS & MARCONI, 2012). O
método adotado na presente pesquisa foi do tipo survey, que, segundo
Freitas, Oliveira, Saccol e Moscarola (2000), trata-se de um método
quantitativo que busca a obtenção de dados a respeito de caracterís-
ticas, ações ou opiniões de um determinado grupo de pessoas, por
meio de uma amostra, através da aplicação de um instrumento de
pesquisa, normalmente um questionário. O cenário geográfico da pes-
SUMÁRIO
quisa foi uma Prefeitura Municipal do Estado de Roraima.

Foi considerado como universo da pesquisa 76 servidores, sen-


do realizada a amostra com 75 servidores lotados na Superintendência
de Gestão de Pessoas e seus setores, ativos no período de 26 a 28
do mês de abril do ano de 2021. Esse período foi escolhido devido ao
tempo exíguo para a realização da pesquisa. O tipo de amostragem
não foi probabilístico e quanto à técnica de amostragem foi por conve-
niência (GIL, 2007, p. 101).

O que determina o tamanho da amostra é o tratamento estatísti-


co que será aplicado (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). A aplicação do
questionário foi através da ferramenta Google forms, e operacionalizado
via aplicativo de mensagens instantâneas, Whatsapp, para os servido-
res, sem identificação pessoal. Para o tratamento dos dados quantitati-
vos utilizou-se o programa Microsoft Excel. Usou-se a escala de Likert,
conforme Almeida (2016, p. 66.) para avaliar a satisfação dos servidores.

Assim, foi possível elaborar um questionário com 17 questões,


subdividido em duas partes. A primeira parte constou de 5 pergun-
tas fechadas destinadas a identificar o perfil da amostra. A segunda
parte reuniu 12 doze questões afirmativas, tendo como padrão de

70
respostas a escala Likert de 5 pontos (1- Discordo completamente da
afirmativa, 2- Discordo da afirmativa, 3- Nem concordo, nem discordo
da afirmativa, 4- Concordo com a afirmativa, 5- Concordo completa-
mente com a afirmativa).

Para a coleta de dados foi utilizado como instrumento um


questionário digital, elaborado com base nas sugestões apresenta-
das por Luz (2014). Sendo que o questionário empregado para diag-
nóstico do clima organizacional foi adaptado da pesquisa feita por
Bispo (2006, p. 6, 7, 258 - 273).

SUMÁRIO
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Perfil do servidor

A presente seção demonstrará os resultados das perguntas de


1 a 5, com as respostas do perfil dos servidores. Na pergunta “qual
o sexo” observou-se que a maioria foram do sexo feminino, com o
percentual de 62,7%, em relação ao 37,3% do sexo masculino. Aos
servidores que responderam à pergunta sobre a idade, foram obtidos
48% entre 40 a 50 anos. Já na questão “Tempo de trabalho na institui-
ção”, observou-se maioria entre o tempo de 11 a 20 anos, com 50,7%.
Dos servidores que responderam a respeito do nível de escolaridade,
o destaque foi no nível superior completo, com 55% das respostas, não
excluindo a presença de servidores com ensino fundamental incomple-
to ao ensino médio completo.

71
Clima organizacional

Já nas questões de 6 a 17, procurou-se obter dados do clima or-


ganizacional do setor pesquisado. Segue a tabela 1 com os resultados
sobre o clima organizacional, adquiridas da planilha do questionário do
Google Forms, das respostas dos servidores.

Tabela 1 – Clima organizacional

Concordo
Discordo Nem con-
Concordo comple-
completa- Discordo da cordo, nem
Perguntas com a tamente
mente da afirmativa discordo da
afirmativa com a
SUMÁRIO afirmativa afirmativa
afirmativa
Considero a Prefeitura
um lugar agradável 0% 0% 8% 65,3% 26,7%
para trabalhar
De uma maneira ge-
ral, a Prefeitura é bem
organizada em seus 1% 12% 12% 50,7% 20%
processos, normas e
procedimentos.
A Prefeitura possui
uma distribuição ade-
26,7% 8% 21,3% 37,3% 6,7%
quada de pessoal entre
os setores.
Considero o relacio-
namento entre colegas
0% 4% 17,3% 68% 10,7%
um ponto forte da ins-
tituição
A cooperação entre
colegas facilita a rea-
0% 5,3% 9,3% 50,7% 34,7%
lização das tarefas
diárias
A prefeitura se preocu-
pa com a relação entre 0% 16% 36% 40% 8%
os funcionários

72
Considero que as mi-
nhas competências
2,7% 16% 9,3 53,3% 18,7%
estão sendo bem apro-
veitadas pela prefeitura
Geralmente sou reco-
nhecido positivamente
5,3% 14,7% 18,7% 48% 13,3%
pela execução de mi-
nhas tarefas
Sou orientado e avalia-
do adequadamente no 0% 10,7% 33,3% 40% 16%
meu trabalho
De uma maneira geral
estou satisfeito com o 0% 5,3% 16% 60% 18,7%
meu trabalho
SUMÁRIO
Fonte: Elaboração própria a partir do questionário aplicado pela pesquisa.

Nas análises da questão “Considero a Prefeitura um lugar agra-


dável para trabalhar”, verifica-se como ponto forte o item Concordo
com a afirmativa, com 65,3%. Já na questão “De uma maneira geral,
a Prefeitura é bem organizada em seus processos, normas e procedi-
mentos”, os resultados demonstram positivamente que 50,7% concor-
dam com a afirmativa. Além disso, segundo Carvalho e Melo (2008),
ouvir os colaboradores, conhecer suas limitações, permitir que os cola-
boradores possam dialogar com os líderes, são ações que contribuem
para um bom clima organizacional.

No quesito “A Prefeitura possui uma distribuição adequada de


pessoal entre os setores”, observa-se que o resultado positivo, de
37,3%, foi na assertiva “Concorda com a afirmativa”. Assim, na questão
“Considero o relacionamento entre colegas um ponto forte da institui-
ção”, observa-se que 68% “Concorda com a afirmativa”.

Pode-se observar no indicador “A cooperação entre colegas fa-


cilita a realização das tarefas diárias”, que 50,7% concorda com a afir-
mativa. Com esse resultado verifica-se que metade da instituição con-
corda que a cooperação entre colegas no trabalho facilita a realização

73
das tarefas diárias. Em uma instituição é essencial à cooperação, não
só para a busca de objetivos comuns pela organização, mas também
para manter o clima organizacional agradável a todos. Conforme Ca-
sado (2002) somente quando integrada a visão interna e externa ao
homem nas organizações é que poderá se intervir nos fenômenos
organizacionais que permitem a compreensão dos objetivos, muitas
vezes conflitantes, entre homem-empresa e fazer com que algo nesta
relação faça sentido e que seus objetivos se completem.

Identificamos que 40% dos servidores que participaram da


pesquisa concordam com a afirmativa que “A prefeitura se preocupa
com a relação entre os funcionários”. Segundo (Dias, 2013, p.309),
SUMÁRIO as boas relações interpessoais favorecem a organização, pois estas
criam o ambiente organizacional, tornando-o ótimo e por isso eficien-
te. Consequentemente o trabalhador perceberá uma atmosfera de
cooperação, companheirismo; e isto melhora os padrões de produti-
vidade e desempenho.

A opinião dos servidores, a respeito da afirmativa “Considero


que as minhas competências estão sendo bem aproveitadas pela
prefeitura”, obtiveram 53,3% dos servidores que concordam com a
afirmativa. Na categoria que envolve o Reconhecimento Profissional,
os percentuais das respostas do indicador “Geralmente sou reconhe-
cido positivamente pela execução de minhas tarefas” representam
uma questão a ser observada pela instituição. A resposta impetrou um
percentual de 48% concordo com a afirmativa. Bom Sucesso (2002)
afirma que cada funcionário é responsável por levantar questões éticas
de colaboração e estimular que todos levem em conta o interesse do
grupo não só o individual.

Na questão “Avaliação no ambiente de trabalho”, foi avaliado o


fator: Sou orientado e avaliado adequadamente no meu trabalho, em
que se percebe que 40% concorda com a afirmativa. Com um total de
60% dos Servidores que afirmaram que “De uma maneira geral estou

74
satisfeito com o meu trabalho”, mensurando nessa questão o nível de
satisfação com o trabalho desenvolvido.

Os principais fatores que tornam os servidores mais satisfeitos


no seu trabalho, consiste, em 20% estabilidade no emprego. Os in-
dicadores dos fatores principais segundo Ferreira (2013) têm como
objetivo identificar a satisfação dos colaboradores com seus gestores
e se há respeito e retorno sobre o desempenho, partilha de autonomia
e fortalecimento de apoio.

Pode-se ressaltar que de maneira geral, os fatores que se desta-


cam como principais componentes apontados na pesquisa, no que se
refere à insatisfação dos servidores dentro da instituição, foi a remune-
SUMÁRIO
ração com 51% dos respondentes. Luz (2003) menciona os inúmeros
motivos que levam os trabalhadores a estarem insatisfeitos, como por
exemplo, a remuneração, portanto este item se apresenta como ponto
fraco no clima organizacional da Prefeitura em estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se de modo geral que é positivo o clima organizacio-


nal na Prefeitura Municipal do Estado de Roraima, em estudo. Após
análises dos dados e a construção dos gráficos, em um primeiro
momento, foi possível perceber que a maioria dos pesquisados fo-
ram do sexo feminino, que o nível de escolaridade predominante é o
superior completo. No segundo momento da pesquisa foram aborda-
dos pontos sobre o clima organizacional. Sendo com os resultados
possível identificar os pontos positivos como: o relacionamento com
o grupo e a estabilidade no emprego. Quanto ao ponto negativo, teve
grande destaque como fator que traz mais insatisfação no trabalho, a
remuneração com 51% dos respondentes. Sugere-se que esse ponto
negativo (remuneração), deva ser analisado pela gestão futuramente,
para verificar a insatisfação dos servidores.

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78
4
Capítulo 4

Combate à criminalidade: um estudo da atuação


da Guarda Municipal de Boa Vista – RR

Marivone da Silva Magalhães

Paulina da Silva Magalhães

Maria Marclane Bezerra Vieira

Marivone da Silva Magalhães

Paulina da Silva Magalhães

Maria Marclane Bezerra Vieira

Combate à criminalidade:
um estudo da atuação
da guarda municipal
de Boa Vista – RR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.4
SUMÁRIO

Resumo:
Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar as medidas adotadas
pela guarda municipal, em sede de segurança pública, para o combate da
criminalidade no município de Boa Vista/RR. A metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa foi de natureza bibliográfica e documental, ini-
ciada a partir do estudo do instrumento criador da guarda municipal, qual seja
a lei municipal n.º 1012 de 2007 e sua regulamentação por meio do decreto
n.º 176/E de 2009, em que direciona as ações da guarda na proteção dos
bens e serviços de instalações públicas municipais. O resultado da pesquisa
evidenciou como ação mais importante, a criação da patrulha da penha, uma
parceria da prefeitura de Boa Vista com o tribunal de justiça, que possibilita a
atuação da guarda municipal mais próxima da comunidade, munida de um
atendimento humanizado, com caráter mais preventivo que punitivo, buscando
resguardar a população da criminalidade, em especial do feminicídio, que é o
crime que apresenta maior percentual de ocorrência.

Palavras-chave: Guarda Municipal; Segurança; Boa Vista; Criminalidade;


Roraima.

80
INTRODUÇÃO

As guardas municipais surgiram para deslegitimar o passado


controverso de outras instituições dentro do âmbito do estado demo-
crático de direito pós ditadura, sua identificação social cresce dentro
dos municípios como um importante instrumento utilizado como forma
de contribuição para a diminuição da criminalidade (CAMPOS, 2013).

Segundo Grey (2017), as guardas municipais foram criadas com


o intuito de auxiliar as demais polícias de outras esferas e tem um pa-
pel importante no âmbito social, principalmente para agir em situações
SUMÁRIO onde o cumprimento das leis municipais se fazem presentes, como por
exemplo, em casos de ameaça à ordem pública ou à vida em situa-
ções de perigo iminente.

De acordo com Ventris (2010), pode-se definir a guarda munici-


pal como uma instituição pública municipal, uniformizada, hierarquizada,
desmilitarizada, armada ou não, de criação constitucionalmente faculta-
tiva, por iniciativa exclusiva do executivo municipal (apud, GREY, 2017).

Em Boa Vista-RR, a guarda municipal é regida por legislação


própria que é a Lei Municipal nº 1012 de 27 de dezembro de 2007,
além de possuir regulamento disciplinar próprio o decreto nº 176/E, de
30 setembro de 2009 (BOA VISTA, 2007).

Nesse sentido, o cargo de guarda municipal foi instituído para


à proteção dos bens, serviços e instalações públicas municipais, bem
como a prática de patrulhamento comunitário preventivo, garantindo
o exercício do poder de polícia da administração pública municipal
(BOA VISTA, 2007).

Desta forma, o presente estudo buscou responder a seguin-


te pergunta de pesquisa: Quais as medidas adotadas pela guarda

81
municipal, acerca da segurança pública, para o combate da criminali-
dade no município de Boa Vista-RR?

Uma vez que as guardas municipais devem aproveitar a vanta-


gem histórica de terem surgido no contexto do estado democrático de
direito em que se propõe mudanças na estrutura da segurança pública
e procura legitimar-se no seu caráter civil, comunitário, de mediador
de conflito, de instituição respeitadora dos direitos humanos, de uma
instituição cidadã, além da proximidade que estas possuem com o
cidadão que se sentem à vontade em solicitar um determinado tipo de
serviço dos agentes nas ruas (CAMPOS, 2013).

SUMÁRIO Considerando o exposto, este trabalho tem como objetivo geral


identificar as medidas adotadas pela guarda municipal, em sede de
segurança pública, para o combate da criminalidade no município de
Boa Vista-RR. Visando responder à pergunta da pesquisa proposta e
o objetivo geral deste estudo, delinearam-se os seguintes objetivos es-
pecíficos: (a) Apresentar o histórico da formação/construção da guarda
municipal de Boa Vista-RR; (b) Compreender a atuação e a função social
da guarda municipal de Boa Vista-RR, como órgão responsável pela
segurança pública do município; (c) Levantar ações adotadas pela guar-
da municipal como medida de segurança pública. Com isso, busca-se
conhecer a atuação da guarda municipal de Boa Vista, com a perspetiva
de conhecer as ações tomadas pela gestão pública municipal por meio
de políticas públicas para resguardar os direitos da população.

Nesse sentido, ressalta-se que Boa Vista, apresentou nos úl-


timos anos um aumento demográfico acelerado, em razão principal-
mente da migração em decorrência da crise no país vizinho, a Vene-
zuela (OLIVEIRA, 2018).

82
Segundo dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro
Geografia e Estatística -IBGE (2010) a população da cidade era de
284.313 habitantes, chegando a cerca de 419.652 habitantes no ano
de 2020. Esse aumento urbano trouxe inúmeros problemas socioe-
conômicos ao município, como o aumento da criminalidade e da vio-
lência (BRASIL, 2010).

Desse modo, a capital apresentou um aumento significativo na cri-


minalidade, segundo o atlas da violência (2020), o crime que mais se avo-
lumou foi o feminicídio, cerca de 93%, taxa 5 vezes maior que a nacional,
ocorre um percentual de 20,5 casos por 100 mil habitantes, sendo que no
país a taxa é de 4,3 para 100 mil habitantes (FERREIRA, 2020).
SUMÁRIO
A justificativa deste trabalho encontra-se na relevância de se
conhecer como o poder público direciona a atuação das guardas
municipais no combate a criminalidade, uma vez que a guarda muni-
cipal é o único órgão que está diretamente ligada a comunidade na
esfera municipal. Para tanto, após esta introdução, será apresentado
o referencial teórico.

Na primeira parte do Referencial Teórico é apresentado toda a


definição, as características e regulamentação das guardas municipais,
no qual pode-se compreender o processo de criação das mesmas.

Em seguida é abordada a metodologia onde se estabelece as di-


retrizes da pesquisa em si, os instrumentos e os procedimentos de coleta
e análise dos dados. Posteriormente são colocados os resultados da pes-
quisa, com a discussão dos mesmos e a conclusão geral deste trabalho.

83
REVISÃO TEÓRICA

Regulamentações e atribuições
das guardas municipais

O artigo 144 da Constituição Federal-CF/1988 trata da regula-


mentação das atribuições da guarda municipal e dispõe que os muni-
cípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de
suas populações, de seus bens, serviços, instalações e logradouros
públicos municipais, conforme dispuser lei federal, dessa forma, a Car-
ta Magna possibilita aos municípios plenos poderes para criar suas po-
SUMÁRIO
lícias municipais, visando não só a proteção dos bens, serviços e ins-
talações, como também a proteção a sua população (BRASIL, 1988).

Nesse contexto, a guarda municipal deve ser instituída por lei,


para atuar na prestação de serviços na esfera da segurança pública
municipal e no contexto da preservação da ordem pública (GREY, 2017).

A CF/1988 dispõe ainda que, a segurança pública é uma ativida-


de exclusiva do poder público, sendo dever do Estado, direito e respon-
sabilidade de todos, exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio, sendo desenvolvida pela
União, Estados Membros, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 1988).

A atividade da guarda municipal está voltada para a segurança


pública, pois a mesma é destinada ao emprego de cuidar dos bens,
serviços e instalações do município, como observado no art. 144, § 8º
da CF/1988 (BRASIL, 1988).

No entendimento de Santin (2004), pela complexidade dos valo-


res protegidos pela segurança pública, ordem pública e incolumidade
das pessoas e do patrimônio, pode ser notada a presença de carac-
terísticas comuns às várias das classificações jurídicas dos direitos ou

84
interesses, porque pode dizer respeito a direito individual, patrimônio
pessoal e incolumidade própria ou a interesse coletivo, patrimônio de
um grupo de pessoas, como os poupadores ou mutuários do Banco
do Brasil, e incolumidade de uma classe ou grupo de pessoas, como
os policiais ou a interesse difuso, a manutenção da ordem pública, a
proteção da propriedade privada dos proprietários de bens em geral e
a incolumidade do cidadão (apud, LEITE, 2015).

Segundo Câmara (2007), segurança pública é uma atividade


desenvolvida pelo Estado, destinada a empreender ações e oferecer
estímulos positivos para que os cidadãos possam conviver, trabalhar,
produzir e usufruir o lazer. As instituições responsáveis por essa ati-
SUMÁRIO vidade atuam no sentido de inibir, neutralizar ou reprimir a prática de
atos antissociais, assegurando a proteção coletiva e, por extensão,
dos bens e serviços públicos.

Segundo Campos (2013), a segurança pública é pensada


como a fonte de união das instituições para unir as forças de segu-
rança com o principal intuito de coibir práticas ilícitas em todos os
âmbitos nacionais, para os municípios, ficou ora instituída às guardas
municipais, único órgão dentro da segurança pública voltado para as
questões municipais.

Nesse cenário, cumpre salientar que as guardas municipais por


estarem elencados no Título V, do Capítulo III da CF/88, que versa so-
bre a defesa do estado e das instituições democráticas bem como da
segurança pública, torna-se indubitável que, tal órgão além de compor
a administração pública direta, é um participe/ coadjuvante, de fato
deste fenômeno empírico que é a segurança pública (JUNIOR, 2017).

85
Uso de armas
nas guardas municipais

A Carta Magna de 1988 não prevê o uso de armas para os guar-


das municipais, porém, coube a legislação específica tratar sobre o
tema, como a instituição do estatuto do desarmamento com a lei nº
10.826/2003, no mesmo ano a medida provisória nº 157 previu o uso
de armas de fogos pelos agentes públicos municipais na função de
guarda, com a ressalva do número populacional do município de atua-
ção para a liberação do uso (BRASIL, 2003).

SUMÁRIO De acordo com Campos (2013), a regulamentação da referida lei


foi dada de acordo com o § 3º do art. 6º, da lei nº 10.867/2004, onde as-
segura a devida qualificação do agente público para uso do instrumento,
ou seja, a autorização para o porte de arma de fogo das guardas está
condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabeleci-
mentos de ensino de atividade policial e à existência de mecanismos
de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no
regulamento da lei, observada a supervisão do comando do exército.

Portanto, o porte de arma funcional para integrantes das guar-


das municipais, como regulamenta o artigo 3º, incisos I, II e III da por-
taria nº 365, de 15 de agosto de 2006, o qual disciplina a autorização
para o uso, será autorizado em serviço e fora dele, e dentro dos limites
territoriais do respectivo Estado, para os guardas municipais das ca-
pitais estaduais e dos municípios com mais de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes, somente em serviço e dentro dos limites territoriais do
município para os integrantes das guardas municipais dos municípios
com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes; e somente em serviço e dentro dos limites territoriais
do respectivo estado, para os integrantes das guardas municipais dos
municípios localizados em regiões metropolitanas (BRASIL, 2006).

86
Assim, de acordo com o art. 6º da lei nº 10.826/2003, fica restrito
o uso pelo tamanho da população, o qual limitou, como supracitado,
o porte somente em serviço para cidades entre 50.000 a 500.000 mil
habitantes, para cidades acima de 500.000 mil habitantes o uso inte-
gral, ou seja, também fora de serviço, e para cidades com menos de
50.000 mil habitantes, os guardas não têm direito ao uso de armas de
fogo (BRASIL, 2003).

Poder de Polícia

SUMÁRIO De acordo com Di Pietro (2004), o poder de polícia é a atividade


do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em
benefício do interesse público.

Nesse mesmo sentido, Meirelles (2002 apud, COSTA, 2018) re-


força esse entendimento e completa asseverando que, poder de polícia
é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar
e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em
benefício da coletividade ou do próprio Estado.

Cabe ainda ressaltar que, a CF/1988 contempla o poder de po-


lícia à guarda municipal ao lhe conferir competência para proteger os
bens, serviços e instalações do Município e aqueles que estejam fa-
zendo uso das instalações municipais (BRASIL, 1998).

O poder de polícia previsto no art. 78 do Código Tributário Na-


cional, versa acerca da atividade administrativa pública que, limitan-
do ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática
de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concer-
nente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômi-
cas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público,

87
à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos (BRASIL, 1966).

Na perspectiva de Campos (2013), com o constante crescimento


das guardas municipais nos municípios brasileiros nos anos 90 a maior
questão a respeito da atuação dessas corporações refere-se a função
e ao poder de polícia exercido pelas guardas municipais no âmbito da
segurança pública, sendo, de extrema importância e relevância que o
município exerça o poder de polícia no âmbito de suas competências.

Ressalta-se ainda que, de acordo com o artigo 301 do código


penal, os agentes também atuam em qualquer outra situação de fla-
SUMÁRIO grante delito, dessa forma, em casos de flagrante, qualquer civil, seja
agente público ou não, pode deter ou mandar prender quem quer que
seja encontrado na situação de práticas ilícitas. Assim sendo, a guarda
surge como instrumento preventivo de ilicitude no âmbito municipal,
mais pedagógico, menos punitivo (GREY, 2013).

Assim como existem as forças estaduais e federais de seguran-


ça, a cidade recebe auxílio de uma instituição específica no que tange
ao combate da criminalidade no âmbito municipal, as guardas. O au-
xílio torna-se essencial, à medida que a violência tem aumentado, traz
como resultado uma série de transtornos socioeconômicos à popula-
ção. Dessa forma, o patrulhamento da guarda torna-se comum e cor-
riqueiro por estar mais próxima a população. Portanto, atuar em ações
preventivas é uma das funções da guarda, sem a qual o papel da
polícia militar se tornaria difícil pois demandaria um maior efetivo.

88
METODOLOGIA

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, primeiramente, foi


realizado um levantamento bibliográfico em livros, periódicos e artigos
acadêmicos acerca do tema exposto. Além disso, foram examinados
documentos como a lei municipal nº 1012/2007 que dispõe sobre
a atuação da guarda municipal de Boa Vista-RR, a lei municipal nº
1529/2013 que dispõe sobre a regulamentação dos grupos táticos da
guarda municipal e o decreto regulamentador nº 176/E de 2009.

Segundo Marconi; Lakatos (2007) a pesquisa bibliográfica é utili-


SUMÁRIO zada, porque trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publica-
da, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita.

A pesquisa documental baseia-se em materiais que ainda não


receberam um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados
com os objetivos da pesquisa (GIL, 2002).

Quanto aos objetivos, caracteriza-se como exploratória com


enfoque analítico. As pesquisas exploratórias mais comuns são os le-
vantamentos bibliográficos, porém, em algum momento, a maioria das
pesquisas científicas passam por uma etapa exploratória, visto que o
pesquisador busca familiarizar-se com o fenômeno que pretende es-
tudar, uma vez que tendem a ser mais flexíveis em seu planejamento,
pois objetivam observar e compreender os mais variados aspectos re-
lativos ao fenômeno estudado pelo pesquisador (GIL, 2002).

Quanto à forma de abordagem utilizada esta pesquisa carac-


teriza como qualitativa, pois os fatos abordados proporcionaram uma
análise interpretativa. A abordagem qualitativa depende de muitos fato-
res, tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra,
os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortea-
ram a investigação (GIL, 2002).

89
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Para se alcançar os objetivos propostos e responder a questão


problema formulada, faz-se necessário lembrar que a guarda muni-
cipal é regida por legislação própria, sendo em Boa Vista-RR, regu-
lamentada pela lei municipal nº 1012 de 27 de dezembro de 2007, e
ainda possui regulamento disciplinar próprio, o decreto nº 176/E de se-
tembro de 2009, o qual tem como finalidade definir os deveres, tipificar
as infrações disciplinares, regular as sanções administrativas, o com-
SUMÁRIO portamento e as recompensas dos servidores da guarda municipal, e
possui corregedoria e ouvidoria de Segurança (BOA VISTA, 2009).

Nesse sentido, a guarda municipal de Boa Vista é uma instituição


de caráter essencialmente civil, fundada na hierarquia, precedência e
na disciplina, sendo que o exercício de suas atribuições incompatíveis
com qualquer outra atividade, salvo aquelas previstas constitucional-
mente (BOA VISTA, 2007).

As atribuições da guarda municipal de Boa Vista, foram acres-


cidas pela lei municipal nº 1012 de 27 de dezembro de 2007, que indi-
ca como responsabilidade do guarda municipal as ações de executar
tarefas na área de patrulhamento, de inspeção, vigilância e proteção
das instalações, serviços e bens municipais; atua na aplicação de pri-
meiros socorros, no monitoramento de sistema eletrônico de vigilância
e alarmes e auxiliar na fiscalização de trânsito; dirigir e operar viaturas,
veículos especiais e náuticos; colaborar com a observância do Códi-
go de Postura Municipal; atender as reclamações de perturbações de
repouso dos munícipes; prevenir incêndios nos bosques e acionar me-
didas visando sua extinção; manter a vigilância em feiras livres; dirigir
viaturas, quando em serviço de grupo ou quando lhe for determinado
pelos seus superiores; auxiliar na detenção e prisão de infratores da

90
lei, encaminhando-os à delegacia de polícia mais próxima; intervir em
casos de acidente, incêndio e outros sinistros para providenciar ou
tomar as medidas mais urgentes; executar outras atividades correlatas
ao cargo (BOA VISTA, 2007).

A estrutura organizacional da guarda municipal de Boa Vista é


definida em lei e possui a capacidade para 700 (setecentos) guardas
(BOA VISTA, 2007).

Surgiu no ano de 2016, uma parceria institucional entre o Tri-


bunal de Justiça de Roraima e a prefeitura de Boa Vista, com o intui-
to de diminuir os crimes de violência doméstica, como mencionado,
SUMÁRIO crime mais recorrente no Estado. A guarda municipal ente municipal
da segurança pública, munido de poder de polícia, teve como função
promover a proteção à mulher vítima de violência por meio do patrulha
da Penha, programa em vigência há 6 anos, essa parceria foi tratada
como termo de cooperação técnica entre as duas instituições, para
que mais mulheres tivessem a tranquilidade quanto ao cumprimento
das medidas protetivas. A Patrulha Maria da Penha é o único programa
existente o qual garante o acompanhamento às mulheres vítimas de
agressão (SOUSA, 2019).

Dados levantados na cidade de Boa Vista em 2018, apontam


que das 1093 vítimas de violência doméstica, 665 receberam acompa-
nhamento por meio da Guarda Municipal, ou seja, 60,85% das mulhe-
res que procuraram por justiça tiveram o devido monitoramento ofer-
tado pela GCM, denota-se, com isso, a importância desse projeto no
combate à reincidência dos casos de violência na Cidade de Boa Vista,
o agressor fica monitorado pela Guarda Municipal de modo a coibir
novas práticas de violência (SOUSA, 2019).

Sob essa temática o Excelentíssimo Juiz titular do 2º Juizado


de Violência Doméstica do TJRR, Drº Jaime Plá (2020), ressalta que
a proposta do programa visa salvar vidas e que todo trabalho é feito

91
para que a vítima não corra riscos. A Medida Protetiva não é só um
papel. E a Patrulha Maria da Penha é a prova disso, por meio de visitas
periódicas de guarnições especializadas da Guarda Civil Municipal, o
programa visa levar tranquilidade e segurança à mulher agredida, pois
atua para que o agressor mantenha-se cumprindo a medida protetiva,
além de oferecer amparo em caso de descumprimento das determina-
ções judiciais (PLÁ, 2020).

Dessa forma, além dos meios que a vítima pode procurar ajuda
jurídica inicial, a teia de amparo criada por meio do projeto patrulha da
penha não termina com a denúncia, o atendimento continuado é pos-
sível por meio desse projeto, a guarda municipal de Boa Vista surge
SUMÁRIO como um importante instrumento de acompanhamento, sendo possí-
vel, com isso, com políticas públicas eficientes dar respostas concre-
tas à população (SOUSA, 2019).

Além do projeto patrulha da Penha, a guarda municipal atua em


outras ações que visam o combate da criminalidade, tais como cri-
mes ambientais, furtos de celulares e vandalismo. Sobre esse assunto,
Sousa (2019) ressalta que com muito esforço e dedicação, os agentes
trabalham para garantir tranquilidade nas ruas da cidade. Com base no
mapeamento feito pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana e
Trânsito (SMST), os guardas se dividem por áreas de atuação, visando
sempre a preservação do patrimônio público e a tranquilidade nas ruas
e avenidas da cidade.

O Grupo de Proteção Ambiental (GPA), instituído no ano de


2018, tem como objetivo proteger o patrimônio ecológico e ambiental
no município de Boa Vista, além de executar suas funções normativas
conferidas pelo Regulamento da Guarda Civil Municipal, atende em
média 35 demandas diárias. No caso de flagrante delito, são encami-
nhados às delegacias competentes (SOUSA, 2019).

92
Outros projetos são desenvolvidos pela guarda como forma de
auxílio às demais forças policiais, com o intuito de diminuir a criminali-
dade, como o Grupo Tático Municipal-Gtam, a Ronda Ostensiva Muni-
cipal - Romu, o Ciclo Patrulha, a Defesa Civil e o Grupo Municipal de
Trânsito-GMTRAN (SOUSA, 2019).

O Grupo Tático Municipal (GTAM) é treinado para o emprego


de motocicletas e cães adestrados, tem como formação básica a
atividade de Controle de Distúrbio Civil . Em conformidade com lei
municipal nº 1529 de 2013, são as atribuições do GTAM, realizar o
patrulhamento motorizado nas vias urbanas das áreas comerciais,
prédios e logradouros públicos municipais; apresentar o policiamen-
SUMÁRIO to em eventos realizados em praças públicas pela Prefeitura Munici-
pal de Boa Vista; auxiliar as ações da polícia militar e civil; apoiar as
ações dos veículos radiopatrulha; ajudar nas ações de bloqueio de
vias; assistir nas atividades e iniciativas da Secretaria Municipal de
Segurança Urbana e Trânsito; realizar o pronto atendimento as Se-
cretarias da Prefeitura Municipal de Boa Vista;atuar no gerenciamento
de crise; assegurar a segurança e escolta motorizada em apoio às
autoridades; desenvolver outras missões a critério do Comando da
Guarda Municipal (BOA VISTA, 2013).

A Ronda Ostensiva Municipal (ROMU) tem caráter pedagógi-


co, diferente dos demais grupos táticos, sua atuação se baseia no
método de palestras em escolas, com temas sobre noções básicas
de prevenção a violência, segurança no trânsito, e as causas no-
civas do uso de drogas. A ROMU também tem como atribuição a
realização de rondas ostensivas e preventivas nas proximidades das
escolas, dos prédios municipais, dos hospitais, contribuindo com a
segurança municipal (BOA VISTA, 2013).

A Ciclo Patrulha é a realização diária do policiamento através


de bicicletas, com o intuito de aproximar a guarda municipal da po-
pulação, criando maior sensação de segurança com a doutrina de

93
Polícia Comunitária e Direitos Humanos. A Ciclo Patrulha tem como
atribuição manter a segurança de centros comerciais, pontos turísti-
cos, culturais e esportivos, além de auxiliar na detenção e prisão de
infratores da lei (BOA VISTA, 2013).

Nessa perspectiva existe também a Defesa Civil da guarda mu-


nicipal, a qual tem como objetivo atender a população com ações
preventivas de socorro para evitar ou reduzir os impactos de desas-
tres naturais (RIBEIRO, 2019).

Por fim, o Grupo Municipal de Trânsito (GMTRAN), contribui


cooperando com as ações dos agentes de trânsito no fluxo de veícu-
SUMÁRIO los e pedestres, na orientação e repressão em operações nas ruas da
cidade de acordo com os termos da legislação atual (SOUSA, 2018).

Então, de modo geral a guarda municipal está presente nos


bairros da cidade através dos grupos táticos, quais sejam, o Ciclo Pa-
trulha, o Grupo Tático Municipal (GTAM) e a Ronda Ostensiva Munici-
pal (ROMU). Os três grupamentos táticos da instituição cumprem um
importante papel na área da segurança, visando a proteção da popula-
ção, de bens, serviços, ambientes públicos e diversas instalações mu-
nicipais. Desde 2014, a lei nº 13.022/2014 atribuiu o poder de polícia
à guarda, aumentando sua abrangência de atuação (SEMUC, 2015).

Cabe ressaltar, que durante a ronda nos bairros, caso seja re-
gistrado alguma ação criminosa, os grupos táticos têm o atributo de
intervir e direcionar os acusados para a delegacia competente, e se
caso forem menores de idade, serão encaminhados para o Conselho
Tutelar (SEMUC, 2015).

De acordo com Murilo Santos (2020), a atuação da guarda para


auxiliar no combate à criminalidade está sendo relevante, pois os ín-
dices de criminalidade na capital tem reduzido, tendo em vista que
a presença dos guardas inibe futuras ações, desde o centro até os
bairros mais afastados (apud, SOUSA, 2020).

94
Dessa forma, é possível identificar que as ações desenvolvidas
pela guarda municipal de Boa Vista são importantes para o combate
da criminalidade, uma vez que os vários projetos de assistência à
sociedade tem alcançado o objetivo de diminuir os crimes na capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa foi possível verificar que na conjuntura atual,


a guarda municipal de Boa Vista por estar mais próxima a população
para solucionar os seus problemas do dia a dia, tem contribuído para
SUMÁRIO
a redução dos índices de criminalidade.

Um marco importante no que se refere às políticas públicas de


segurança pública voltadas ao enfrentamento da criminalidade e que
ocasionou a redução da reincidência dos casos de violência domésti-
ca, foi a criação do patrulha da Penha, uma parceria do Tribunal de Jus-
tiça do Estado de Roraima e da Prefeitura do município, que desde a
sua implementação dado o seu caráter preventivo e no combate direto
ao crime, possibilitou acompanhar as vítimas de violência oferecendo
toda assistência necessária.

Com os problemas decorrentes do país vizinho, este estudo evi-


denciou que com o aumento da imigração vários problemas socioeconô-
micos surgiram na cidade, como a elevação das taxas de criminalidade
e violência. A Guarda Municipal por sua vez, tem apresentado algumas
dificuldades no combate efetivo nessas ações, devido algumas lacunas
causadas pela falta de políticas públicas de segurança na atuação.

No que se refere ao problema desta pesquisa, com base na


literatura pode-se afirmar que a carência da atuação das demais polí-
cias, fez surgir na instituição da guarda municipal um importante papel
dentro da segurança pública, por meio dos projetos desenvolvidos,

95
tais como a já citada patrulha da penha, o grupo de proteção ambiental,
o grupo tático municipal - Gtam, a ronda ostensiva municipal - Romu, a
ciclopatrulha, a defesa civil e o grupo municipal de trânsito - GMTRAN.

Em paralelo a essa afirmação, infere-se que os objetivos des-


sa pesquisa foram alcançados, uma vez que, esse estudo procurou
realizar um levantamento prévio da importância da atuação da guarda
municipal como ferramenta relevante dentro da engrenagem da se-
gurança pública, que surge principalmente na carência das demais
polícias, apresentando-se como um órgão mais humanizado, criado
dentro do estado democrático de direito, pós ditadura militar com a
Constituição de 1988, atuando junto a comunidade como mediador de
SUMÁRIO conflitos e garantidor da ordem pública.

Nessa perspectiva, sugere-se que novos estudos voltados ao


combate da criminalidade na cidade de Boa Vista – RR sejam de-
senvolvidos, com a identificação de novos contextos ou cenários de
aplicação, fomentando parcerias entre órgãos da justiça e demais
instituições de segurança com o intuito de que os resultados sejam
aplicados como novas ferramentas/projetos na guarda municipal be-
neficiando a população.

Ressalta-se ainda, a importância de uma boa gestão na se-


gurança pública no âmbito municipal, juntamente com a integração
entre os poderes locais e estaduais que busquem implementar pro-
jetos voltados à melhoria das condições mínimas de segurança da
população, que podem contribuir significativamente para diminuir as
taxas de crimes a partir de políticas públicas de segurança por meio do
desenvolvimento de ações preventivas e estruturais.

96
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métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. – Novo
Hamburgo: Feevale, 2013.

98
RIBEIRO, E. Defesa Civil faz treinamento com novos equipamentos adquiridos
pela Prefeitura de Boa Vista. Tanto os treinamentos com a aquisição de novos
equipamentos têm o objetivo bem a população de Boa Vista. Prefeitura de
Boa Vista/RR, 2019. Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/noticias/2019/01/
defesa-civil-faz-treinamento-com-novos-equipamentos-adquiridos-pela-
prefeitura-de-boa-vista (acessado em: 16 mai. 2021).
SEMUC. Segurança na cidade é reforçada pela Guarda Civil Municipal.
Desde 2014, a Lei 13.022/2014 concede poder de polícia à instituição,
aumentando sua abrangência de atuação. Prefeitura de Boa Vista/RR,
2015. Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/noticias/2015/01/seguranca-na-
cidade-e-reforcada-pela-guarda-civil-municipal (acessado em: 15 mai. 2021).
SOUSA, N. Trânsito e Meio Ambiente terão grupos especiais de atuação
criados pela Guarda Municipal. A prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, lançou
na manhã desta quinta-feira, 9 o Grupo de Proteção Ambiental (GPA) e o
SUMÁRIO
Grupo Municipal de Trânsito (GMTRAN). Prefeitura de Boa Vista/RR, 2018.
Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/noticias/2018/08/transito-e-meio-
ambiente-terao-grupos-especiais-de-atuacao-criados-pela-guarda-municipal
(acessado em: 16 mai. 2021).
SOUSA, N. Patrulha Maria da Penha – Guarda Municipal reforça o
cumprimento de medidas protetivas em Boa Vista. As vítimas se sentem
protegidas pelas agentes da Patrulha Maria da Penha. Prefeitura de Boa
Vista/RR, 2019. Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/noticias/2019/02/
patrulha-maria-da-penha-guarda-municipal-reforca-o-cumprimento-de-
medidas-protetivas-em-boa-vista (acessado em: 22 fev. de 2021).
SOUSA, N. Crimes ambientais, furtos de celular e vandalismo estão entre as
maiores demandas da Guarda Municipal. Prefeitura de Boa Vista/RR, 2019.
Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/noticias/2019/02/crimes-ambientais-
furtos-de-celular-e-vandalismo-estao-entre-as-maiores-demandas-da-guarda-
municipal (acessado em: 12 mai. 2021).
SOUSA, N.. Segurança – Guarda Civil Municipal atendeu mais de 55
ocorrências nesta semana. Prefeitura de Boa Vista/RR, 2020. Disponível em:
https://boavista.rr.gov.br/noticias/2020/02/seguranca-guarda-civil-municipal-
atendeu-mais-de-55-ocorrencias-nesta-semana (acessado em: 12 mai. 2021).

99
5
Capítulo 5

A Guarda Civil Municipal e o Policiamento


Ostensivo no Município de Boa Vista – RR

Nélio Reis Biá Nascimento

Elaine Gonçalves Weiss de Souza

Nélio Reis Biá Nascimento

Elaine Gonçalves Weiss de Souza

A Guarda civil municipal


e o policiamento ostensivo
no município de Boa Vista – RR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.5
SUMÁRIO

Resumo:
Este artigo tem por objetivo discutir o papel constitucional de uma Guarda
Civil Municipal, verificando se tal instituição pode ou não ser classificada como
Polícia, bem como se possui competência para a realização do policiamento
ostensivo. Nesse contexto, foi escolhida a Guarda Civil Municipal de Boa Vista
como fonte de pesquisa, utilizando-se, assim, da pesquisa bibliográfica com
caráter descritivo. Através da pesquisa realizada constatou-se que a Constitui-
ção da República Federativa do Brasil não classificou as guardas civis munici-
pais como polícias, tampouco, franqueou a tais órgãos a competência para a
realização do policiamento ostensivo. A legislação infraconstitucional seguiu o
mesmo entendimento, assim como a doutrina especializada e a jurisprudência
dos Tribunais Superiores brasileiros. Durante a pesquisa ficou destacado o
entendimento doutrinário e jurisprudencial de que a realização de policiamento
ostensivo por parte da guarda civil municipal pode ser caracterizado como
crime de usurpação de função, previsto no Código Penal Brasileiro.

Palavras-chave: Constituição Federal; Guarda Civil Municipal; Policiamento


Ostensivo; Usurpação de Função.

101
INTRODUÇÃO

Está assentado no ordenamento jurídico pátrio que, uma das


funções do Estado, em todas as suas esferas, é a proteção da incolu-
midade das pessoas; tal proteção foi inserida pelos constituintes em
nosso ordenamento jurídico e ganha destaque, especialmente, no art.
144 da Carta Magna.

A ânsia social para que o Estado desempenhe essa função com


afinco e eficiência tem tomado proporções imensas, assim como tem
recebido grande destaque nas mídias de massa, bem como nos acalo-
SUMÁRIO rados debates em mídias sociais e em palanques eleitorais, mormente,
neste último caso, em momentos que antecedem os pleitos eleitorais,
tendo em vista que a população em geral tem experimentado o aumen-
to da violência e certa sensação de insegurança.

Em conformidade com a Constituição da República Federativa do


Brasil (CRFB/88) verifica-se que, por força do art. 144, cabe às polícias a
missão de prevenir e reprimir o crime, bem como manter a ordem.

Em que pese à clareza do texto constitucional em reservar a


missão descrita anteriormente às polícias, não é raro verificar-se que
muitas Guardas Civis Municipais (GCM) acabam por exercer ativida-
des voltadas ao exercício do policiamento ostensivo.

Deve-se destacar que, constitucionalmente, tal modalidade de


policiamento é atribuída às Polícias Militares (art. 144, § 5º, CRFB/88),
bem como à Polícia Federal (Emenda Constitucional nº 19/98 – EC nº
19/98) quando esta, exercitar suas funções como polícia aeroportuária,
marítima e de fronteiras.

Considerando que o texto constitucional franqueia aos municí-


pios a possibilidade de instituição das GCM (art. 144, § 8º, CRFB/88),

102
bem como o papel de relevância e os avanços trazidos com tal insti-
tuição, se faz necessário pontuar se tais Instituições podem ou não
realizar policiamento ostensivo, vez que, o próprio texto constitucional,
de forma cristalina, assevera que as GCM são destinadas à proteção
de bens, serviços e instalações das municipalidades.

Ressalte-se, que o Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos autos


do RHC nº 7.916/SP, de relatoria do Ministro Fernando Gonçalves, (DJ
9/11/1998), bem como o Pretor Excelso já decidiram recentemente que as
GCM, por força do art. 301, do Código de Processo Penal (CPP), podem
prender em flagrante, assim como qualquer do povo, senão vejamos:

SUMÁRIO [...] De acordo com entendimento jurisprudencial desta Corte


Superior, a guarda municipal é legitimada, consoante o prin-
cípio da autodefesa da sociedade, a fazer cessar eventual
prática criminosa, prendendo quem se encontra em flagrante
delito, como de resto facultado a qualquer do povo pela nor-
ma do art. 301 do CPP (RE 1264495/SP, Rel. Ministro Ricardo
Lewandowski, DJ 02/04/2020).

Ocorre que realizar prisão em flagrante, nos termos do CPP, não


é exercer policiamento ostensivo, assim, prima facie, o exercício do
policiamento ostensivo por parte das GCM, constitui, em tese, a luz do
ordenamento jurídico brasileiro usurpação, afinal, o próprio STF já se
manifestou asseverando que:
[...] não se está a reconhecer o policiamento ostensivo das
guardas municipais, mas sim a atribuição de funções essenciais
à proteção da população local, bem como de bens, serviços e
instalações. É possível que, durante o patrulhamento preventi-
vo, destinado à salvaguarda dos sobreditos bens jurídicos, o
agente municipal se depare com situação de flagrante delito ou,
ainda, que, diante de notitia criminis, envolvendo qualquer dos
bens jurídicos mencionados, proceda à atividade de vigilância
no local indicado para se certificar de sua veracidade, hipóteses
nas quais, de nenhum modo, estaria desautorizado a agir. (RE
1264495, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, DJ 02/04/2020).

103
[...] Ora, o art. 144, § 8º, da Constituição Federal atribui aos
guardas municipais a proteção dos bens, serviços e instalações
municipais. Atividades de investigação e policiamento ostensi-
vo, conforme expresso nos demais parágrafos do mesmo artigo,
constituem função das polícias civil e militar. No caso, portanto,
ao receber notícias de tráfico, competia aos guardas acionar os
referidos órgãos policiais. [...] (RE 1281774, Rel. Ministro Marco
Aurélio, DJ 14/08/2020).

Nesse contexto, objetiva-se verificar se de acordo com a legisla-


ção citada alhures e a luz do ordenamento jurídico pátrio, especialmen-
te, a CRFB/88, o Estatuto Geral das Guardas Municipais (Lei Federal nº
13.022/2014), às GCM podem exercer o policiamento ostensivo e se
SUMÁRIO podem ser caracterizadas como polícias.

Para tanto, adotou-se a pesquisa bibliográfica, ou de fon-


tes secundárias, nos moldes apresentados por Lakatos e Marconi
(2017, p. 183), pois,
“[...] sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto
com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto” eis que como elucida Manzo apud Lakatos e Mar-
coni (2017, p. 62) tal pesquisa “oferece meios para definir, re-
solver, não somente problemas já conhecidos, como também
explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram
suficientemente”.

Adotou-se o caráter descritivo proposto por Gil (2017, p. 32) ten-


do em vista que “com base em seus objetivos, acabam servindo mais
para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima
das pesquisas exploratórias”.

Em relação ao método adotou-se dedutivo, que para Descartes


(2014) “devemos pegar uma hipótese genérica e, por intermédio da
dedução, chegar a uma conclusão, a uma solução ao problema”.

104
A hipótese em questão, para fins desta pesquisa, é a de que a
Guarda Civil Municipal de Boa Vista (GCMBV) em tese poderia realizar
o policiamento ostensivo, funcionando, portanto, como uma polícia.

Visando facilitar uma melhor compreensão por parte do leitor,


este trabalho foi segmentado da seguinte forma: competência das ins-
tituições para a realização do policiamento ostensivo em conformidade
com a CRFB/88; análise do texto da Lei Federal nº 13.022/2014, verifi-
cando se há autorização infraconstitucional para que a GCMBV realize
policiamento ostensivo; se à luz da legislação, doutrina e jurisprudên-
cia dos Tribunais Superiores a GCMBV pode ser caracterizada como
polícia; discussão dos resultados e considerações finais.
SUMÁRIO
A relevância deste artigo reside no fato de que o estudo em tela
ainda não foi realizado, considerando-se a GCMBV e as atividades que
desempenha, bem como em razão de que o gestor público responsá-
vel pelo Executivo Municipal e/ou pela própria GCMBV necessita deli-
near as exatas atribuições de cada órgão vinculado ao Sistema Único
de Segurança Pública – SUSP, criado pela Lei Federal nº 13.675/2018,
inclusive, para que seus atos administrativos estejam pautados dentro
dos ditames legais em vigor.

REVISÃO TEÓRICA

Para que seja iniciada a discussão deste tópico, se faz neces-


sário que alguns conceitos sejam definidos, razão pela qual, se traz a
lume o conceito de Polícia, que nos dizeres de De Plácido e Silva (2016,
p. 2780), trata-se do:
[...] conjunto de instituições, fundadas pelo Estado, para, se-
gundo as prescrições legais e regulamentares estabelecidas,
exercerem vigilância para que se mantenham a ordem públi-
ca, a moralidade, a saúde pública e se assegure o bem-estar

105
coletivo, garantindo-se a propriedade e outros direitos indivi-
duais. [...] Polícia. Extensivamente, é o vocabulário empregado
para designar os órgãos ou corporações instituídos pelo Estado
para que exerça o poder de polícia, que lhe é atribuído.

Nestas condições, recebe a polícia várias qualificações, segun-


do a espécie de serviços ou encargos que lhe são delegados,
dizendo-se civil, judiciária, marítima, federal e militar. Vide a
CF/1988, art. 144.

Para Sidou (2016, p.784) polícia é um “Conjunto de serviços or-


ganizados pela administração para assegurar a ordem pública e ga-
rantir a integridade física e moral das pessoas, mediante limitações
impostas à atividade do agente que as possa molestar”.
SUMÁRIO
De acordo com o magistério de Silva (2011, p. 189):
Corporação que engloba os órgãos e instituições incumbidos
de garantir, manter, restaurar a ordem a segurança públicas,
zelar pela tranquilidade dos cidadãos, pela proteção dos bens
públicos e particulares; prevenir contravenções e violações das
leis ou regras, e reprimir e perseguir o crime e auxiliar a justiça,
em todos os setores da vida pública, quer seja ela social, polí-
tica, rodoviária, aduaneira, militar, naval, ou outra área qualquer
que fizer necessária a sua atuação dentro de sua competência,
obedecida a legislação específica de cada setor.

Os conceitos descritos anteriormente reforçam o entendimento


de que as GCM não podem ser classificadas como Polícia, e, portanto,
seguindo o entendimento trazido pelos alhures, pelo Eminente Ministro
Marco Aurélio, do STF, não são instituições com competência para rea-
lizar o Policiamento Ostensivo.

Em conformidade com o Decreto-lei nº 667/69, tal modalidade de


policiamento é uma ação policial realizada unicamente pelas Polícias Mi-
litares, em que os militares são identificados de relance, quer pela farda,
equipamentos ou viaturas com o objetivo de manter a ordem pública.

106
Di Pietro (2020, p. 110) define policiamento ostensivo como sen-
do aquele que “objetiva, precipuamente, satisfazer as necessidades
básicas de segurança pública inerentes a qualquer comunidade ou a
qualquer cidadão”.

Por seu turno, Rocha ([s.d.], p. 02) destaca em seu magistério


que o “Policiamento ostensivo é aquele em que o policial, isoladamen-
te ou em grupo, pode ser reconhecido de relance, quer pelo fardamen-
to utilizado, quer pelo armamento ou pela própria viatura”.

Conceituando de forma inequívoca o policiamento ostensivo,


destaca-se o ensinamento de Moreira Neto (1991, p. 146) como sen-
SUMÁRIO do “a ação pública da dissuasão, característica do policial fardado e
armado, reforçada pelo aparato militar utilizado, que evoca o poder de
uma corporação eficientemente unificada pela hierarquia e disciplina”.

Assim, definidos os conceitos, cumpre destacar que tal modali-


dade de policiamento é atribuída expressamente às Polícias Militares,
conforme inteligência do § 5º, do art. 144, da CRFB/88.

Com a evolução do sistema jurídico brasileiro, referida atribuição


foi estendida também à Polícia Federal, através da EC nº 19/98, quan-
do esta estiver no exercício de suas funções como polícia aeroportuá-
ria, marítima e de fronteiras, bem como ao Exército Brasileiro, em razão
da promulgação da Lei Complementar nº 117/2004.

Observa-se que a CRFB/88, em seu § 8º, do art. 144, franqueou


aos municípios a possibilidade de constituir Guardas Municipais, con-
tudo, em momento algum o texto constitucional conferiu àquelas a
atribuição para a realização do policiamento ostensivo ou a preserva-
ção da ordem pública, diversamente, foi taxativo ao asseverar que as
Guardas Municipais são destinadas à proteção dos bens, serviços e
instalações da municipalidade.

107
Gasparini (1992, p.48) ao discutir essa temática, nos elucida que:
[...] mesmo que pela sua natureza se pudesse entender a pres-
tação dos serviços de polícia ostensiva e de preservação da
ordem pública como de interesse local, esses não seriam do
Município por força do que estabelece o § 5º do art. 144 da CF,
que de forma clara atribui essas competências à Polícia Mili-
tar. [...] A melhor doutrina, na vigência desses diplomas legais,
orientou-se no sentido da impossibilidade da criação e da ma-
nutenção de serviços de policiamento ostensivo e de preserva-
ção da ordem pública a cargo de guardas municipais.

Dessa forma, considerando os conceitos descritos alhures, bem


como analisando o que prevê o texto constitucional, não paira dúvida
SUMÁRIO de que, por expressa disposição da Carta Magna, não cabe às GCM
o exercício do policiamento ostensivo, afinal, como será observado
adiante a própria Lei Federal nº 13.022, de 08 de agosto de 2014, que
disciplinou o § 8º, do art. 144, da CFRB/88, dispondo sobre o Estatuto
Geral das Guardas Municipais, não lhes conferiu a possibilidade de
realização do policiamento ostensivo.

Atribuição da Guarda Civil Municipal


de Boa Vista (GCMBV) em conformidade
com a o texto da Lei Federal nº 13.022/2014

A discussão apresentada até o momento, nos indica que os mu-


nicípios adquiriram o direito de constituir as GCM através do texto da
CFRB/88 (art. 144, § 8º), nessa esteira, observa-se que o Município de
Boa Vista, aproveitou o permissivo constitucional e, no ano de 1990,
através da Lei Municipal nº 222, 08 de março de 1990, criou a denomi-
nada Guarda Municipal de Boa Vista – GMBV.

É oportuno destacar que, posteriormente, a Lei Municipal nº


1.503, de 18 de junho de 2013, alterou o texto da lei de criação da

108
Guarda Municipal de Boa Vista, de forma que a denominação da Guar-
da Municipal de Boa Vista foi alterada, passando a denominar-se Guar-
da Civil Municipal de Boa Vista, conforme inteligência do seu art. 1º.

Em conformidade com o art. 2º da Lei Municipal nº 222/1990, a


GCMBV recebeu competência para defender, preservar e guardar os
bens da municipalidade; segurança do Prefeito; colaboração e cele-
bração de convênios com outros órgãos.

Conforme visto, a lei de criação da GCMBV seguiu o previsto na


CRFB/88, ou seja, reforçou que a competência precípua da referida
Instituição é a preservação, proteção e vigilância dos bens, serviços e
SUMÁRIO instalações da municipalidade.

Verifica-se que o Município de Boa Vista não inovou no mundo


jurídico, seguindo a previsão constitucional à risca, afinal, o texto da
precitada Lei Municipal segue as determinações da legislação federal
aplicáveis às guardas civis municipais.

Posteriormente, no âmbito da União, foi promulgada a Lei Fede-


ral nº 13.022/2014, que, ao dispor sobre o Estatuto Geral das Guardas
Municipais, em seu art. 2º delineou a incumbência das GCM, ou seja,
“a função de proteção municipal preventiva, ressalvadas as competên-
cias da União, dos Estados e do Distrito Federal”.

O mesmo diploma legal também impôs às GCM competência


específica, reforçando e regulamentando, de maneira uniformizada em
todo o território nacional, a competência geral das GCM, qual seja: “Art.
4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens,
serviços, logradouros públicos municipais e instalações do Município”.

Ante as prescrições constitucionais e legais já trazidas à lume,


verifica-se de forma inequívoca que não compete às GCM a realização
do policiamento ostensivo, afinal, embora a Lei Federal nº 13.022/2014
promova o delineamento de competências específicas conferidas

109
àquelas Guardas, em momento algum, contraria o disposto no § 8º,
do art. 144, da CRFB/88.

O próprio caput do art. 5º da Lei Federal em comento assevera


que as GCM possuem competências específicas, contudo, alerta que
tais competências necessitam respeitar àquelas conferidas aos órgãos
federais e estaduais.

Considerando a previsão destacada pelo caput do supracitado ar-


tigo, os incisos que o seguem reforçam o entendimento do legislador, no
sentido de que não cabe às GCM a realização do policiamento ostensivo.

Desta feita, quando se efetua uma análise sistemática do art.


SUMÁRIO
144, da CRFB/88 e da Lei Federal nº 13.022/2014, não paira qualquer
dúvida de que o papel de uma GCM, além de garantir a proteção dos
bens públicos, não é outro senão o de colaborar e/ou atuar em parceria
com as polícias.

Tal entendimento é apresentado no parágrafo único, do art. 5º,


da Lei Federal 13.022/2014, com efeito:
No exercício de suas competências, a guarda municipal poderá
colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos de segurança
pública da União, dos Estados e do Distrito Federal ou de con-
gêneres de Municípios vizinhos e, nas hipóteses previstas nos
incisos XIII e XIV deste artigo, diante do comparecimento de
órgão descrito nos incisos do caput do art. 144 da Constituição
Federal, deverá a guarda municipal prestar todo o apoio à con-
tinuidade do atendimento.

Ante ao que prevê a legislação aplicável às GCM nota-se que,


indubitavelmente, o policiamento ostensivo não lhes compete, afinal,
conforme se depreende da legislação destacada neste texto, bem
como tendo em os conceitos definidos anteriormente, tais instituições,
a princípio, não podem ser caracterizadas como Polícia.

110
A GCMBV não pode ser caracterizada
como polícia à luz da legislação, doutrina
e jurisprudência dos tribunais superiores

Linhas atrás se destacou o conceito jurídico de Polícia, razão pela


qual, com base neste conhecimento, cabe analisar a legislação em vigor.

Assim, em termos de legislação vigente, a base de análise para


que se possa afirmar que uma GCM não pode ser caracterizada como
Polícia é, indubitavelmente, o art. 144, da CRFB/88.

Referido artigo elenca, em seus incisos, um rol taxativo, quais as


SUMÁRIO
instituições são denominadas Polícias, e, em momento algum, o texto
constitucional incluiu as GCM no rol das polícias, pois, essa não era a
vontade do constituinte.

Como visto anteriormente, tampouco, o legislador infraconstitu-


cional fez qualquer menção na Lei Federal nº 13.022/2014 que pudes-
se contrariar a Magna Carta ou desse a entender que uma GCM seria
considerada como Polícia.

Nesse contexto, restou efetuada análise acerca da jurisprudên-


cia consolidada pelos Tribunais Superiores, e, nesse sentido, observa-
-se que referidos órgãos judiciais mantiveram o espírito da legislação
trazida ao ordenamento jurídico por nossos legisladores.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento


de que os membros das GCM não são policiais:
[...] 2. NÃO SENDO OS INTEGRANTES DA GUARDA METRO-
POLITANA DE SÃO PAULO, CAPITAL, POLICIAIS MILITARES,
NEM BOMBEIROS MILITARES, OS CRIMES QUE LHES SEJAM
IMPUTADOS SERÃO SEMPRE DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM, AINDA QUE PRATICADOS NO HORÁRIO DE SERVI-
ÇO. (CC4276/SP, Rel. Ministro Edson Vidigal, DJ 04/10/1993).

111
Outrossim, o mesmo STJ manifestou-se diversas vezes no sen-
tido de que as Guardas Municipais não são polícias, dentre as quais:
[...] embora a Guarda Municipal não possua a atribuição de polí-
cia ostensiva, mas apenas aquelas previstas no art. 144, § 8º, da
Constituição da República, sendo o delito de natureza perma-
nente pode ela efetuar a prisão em flagrante e a apreensão de
objetos do crime que se encontrem na posse do agente infrator,
nos termos do art. 301 do CPP. [...] (AgRg no AREsp 1565524/
MS, Rel. Leopoldo de Arruda Raposo, DJ 12/12/2019).

Nesse norte é salutar que seja destacado posicionamento do


Eminente Ministro Antônio Saldanha Palheiro, em voto vista proferido
nos autos do HC 561329/SP, oriundo da Comarca de São Paulo, julga-
SUMÁRIO
do em 16/06/2020, asseverando que: “entendo descabida a atuação
da guarda municipal em razão de suas atribuições não abarcam o po-
liciamento ostensivo”.

No entendimento do Ministro, tal atuação é “autorizada constitu-


cionalmente tão somente a restritos órgãos e agentes estatais, como
as polícias administrativas e seus agentes no exercício de suas fun-
ções, ou sob autorização judicial”.

Em relação ao STF, tem-se que a Corte manifestou-se no ano de


2005, através do julgamento da ADI 1182, originária do Distrito Federal,
julgada em 24/11/2005, que os órgãos policiais são exclusivamente
àqueles descritos nos incisos do artigo 144 da CRFB/88.

O ensinamento do Eminente Ministro Ricardo Lewandowski


proferido nos autos RE 1264495, oriundo da Comarca de São Paulo,
julgado em 31/03/2020, aduzindo que: “não se está a reconhecer o
policiamento ostensivo das guardas municipais, mas sim a atribuição
de funções essenciais à proteção da população local, bem como de
bens, serviços e instalações”, vai ao encontro do texto daquela ADI.

112
Em outra decisão, de relatoria do Eminente Ministro Edson Fa-
chin, nos autos do RE 1019134, o Pretor Excelso entendeu que Guar-
das Municipais não são polícia, afinal:
[...] 1. Não guarda relevância a alegação de violação dos prin-
cípios constitucionais da garantia à vida, à segurança e à inte-
gridade física, eis que o Constituinte delimitou expressamente
as atribuições das Guardas Municipais, de modo que a prote-
ção municipal preventiva não atribui a função de policiamento
ostensivo privativo da Polícia Militar, a quem compete a preser-
vação da ordem pública, independentemente da quantidade
de habitantes do Município. (RE 1264495, Rel. Ministro Edson
Fachin, DJ 28/09/2017).

SUMÁRIO Encerrando a análise jurisprudencial, oriunda do Pretório Excel-


so, colaciona-se o entendimento preciso e direto do Eminente Ministro
Marco Aurélio, ao pontuar que:
Ora, o art. 144, § 8º, da Constituição Federal atribui aos guar-
das municipais a proteção dos bens, serviços e instalações mu-
nicipais. Atividades de investigação e policiamento ostensivo,
conforme expresso nos demais parágrafos do mesmo artigo,
constituem função das polícias civil e militar. (RE 1281774, Rel.
Ministro Marco Aurélio, DJ 14/08/2020).

Moraes (2015, p. 677), hoje, Ministro do STF, possui entendi-


mento que vai ao encontro daqueles emanados por seus pares:
[...] a Constituição Federal concedeu aos Municípios a faculda-
de, por meio do exercício de suas competências legislativas, de
constituição de guardas municipais destinadas à proteção de
seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei, sem,
contudo, reconhecer-lhes a possibilidade de exercício de polícia
ostensiva e judiciária.

Em termos doutrinários, observa-se que também não paira


dúvida de que as Guardas Municipais não podem ser entendidas
como polícias.

113
Tal entendimento é sustentado pelo magistério de Meirelles
(2021, p. 429):
A guarda municipal – ou que nome tenha – é apenas um corpo
de vigilantes adestrados e armados para a proteção do patri-
mônio público e maior segurança dos munícipes, sem qualquer
influência e manutenção da ordem pública (atribuição da polícia
militar) ou de polícia judiciária (atribuição da polícia civil).

Silva (2010, p. 782), por seu turno, ao discorrer sobre o papel


das guardas municipais, é categórico ao destacar que tais Instituições
não são Polícia, eis que “Os constituintes recusaram várias propostas
no sentido de instituir alguma forma de polícia municipal. Com isso,
SUMÁRIO os Municípios não ficaram com nenhuma específica responsabilidade
pela segurança pública”.

Para o referido doutrinador, a CRFB/88 não autoriza aos municí-


pios a instituição de órgão policial de segurança, diversamente, “apenas
lhes reconheceu a faculdade de constituir guardas municipais destina-
das à proteção de seus bens, serviços e instalações” (2010, p. 782).

Braz (2010, p. 105) não destoa, pois, em seu entendimento


Guarda Municipal destina-se à “proteção dos bens municipais, ser-
viços e instalações, conforme dispõe a lei, não podendo ser utilizada
para outros fins, por não lhe assistir função policial”.

Para concluir destaca-se que Barros (2006, p. 288) assevera


que Guardas Municipais não são responsáveis pela segurança públi-
ca; são, no entanto, instituições prestadoras de serviços de vigilância
no âmbito da municipalidade, motivo pelo qual, não podem realizar
nenhuma das funções atribuídas às polícias, conforme descritas no
magistério de Minayo, Souza e Constantino (2007, p. 08).

114
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Para fins deste artigo, conforme descrito alhures, foi utilizada a


pesquisa bibliográfica, tendo por base a literatura especializada, as de-
cisões exaradas pelo Poder Judiciário, assim como a legislação apro-
vada no âmbito da União e do município de Boa Vista; que serviram de
fundamento para embasar as discussões realizadas neste manuscrito.

O caráter descritivo deste artigo possibilita uma imersão por par-


te do leitor em relação à temática abordada, ao passo que o método
SUMÁRIO dedutivo tem o condão de propiciar uma visão que traga solução para
a problemática discutida.

Assim, discorreu-se acerca da competência das instituições


para a realização do policiamento ostensivo em conformidade com
a CRFB/88, oportunidade em que restou evidenciado que não cabe
à GCMBV realizar tal modalidade de policiamento, tendo em vista, in-
clusive, a taxatividade do art. 144 da CRFB/88 ao definir as atribuições
de cada instituição voltada para a segurança pública, que por sua vez,
confere a certas instituições policiais a competência para a realização
do policiamento ostensivo.

Em matéria infraconstitucional, analisou-se o texto da Lei Federal


nº 13.022/2014 oportunidade em que foi confirmado que referido diplo-
ma legal não contrariou a Carta Magna, sendo assim, igualmente não
autorizou a realização do policiamento ostensivo por parte das GCM.

Ao discorrer sobre o policiamento ostensivo Nascimento e Nas-


cimento (2018, p.04) nos esclarecem o seguinte:
O policiamento corresponde apenas à atividade de fiscalização;
por esse motivo, a expressão utilizada, polícia ostensiva, expan-
de a atuação das Polícias Militares à integralidade das fases do

115
exercício do poder de polícia. O adjetivo ‘ostensivo’ refere-se à
ação pública da dissuasão, característica do policial fardado e
armado, reforçada pelo aparato militar utilizado, que evoca o
poder de uma corporação eficientemente unificada pela hierar-
quia e disciplina.

Referidos autores, ao citarem o Manual de policiamento osten-


sivo da Polícia Militar do Distrito Federal, destacam que: “o adjetivo
“ostensivo” refere-se à ação pública de dissuasão, característica do
policial fardado e armado, reforçada pelo aparato militar utilizado, que
evoca o poder de uma corporação eficientemente unificada pela hie-
rarquia e disciplina”. (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2018, p. 09).

SUMÁRIO Já na seara infraconstitucional, observa-se que a Lei Municipal


nº 222/1990, lei esta que é o objeto maior do trabalho, que criou a
GCMBV, não destoou da CRFB/88 e da Lei Federal nº 13.022/2014,
ao contrário, foi taxativa ao asseverar que a competência da referida
instituição municipal está limitada a defender e preservar os bens que
constituem o patrimônio público municipal; executar serviço de guar-
da, vigilância e defesa civil no município e de segurança do prefeito,
bem como colaborar com outras forças de segurança pública, além
de lhe franquear a possibilidade de celebrar convênios com entidades
federais e estaduais, visando o aperfeiçoamento de suas atividades.

No que concerne à precitada Lei Municipal, verifica-se que a


mesma criou e estruturou a GCMBV, vinculando-a, inicialmente, à Se-
cretaria Municipal do Interior e Segurança, atualmente denominada Se-
cretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito (SMST).

A lei em questão definiu a competência da GCMBV, bem como


a sua estruturação, formas de ingresso, vencimentos e as atividades
realizadas pela referida instituição municipal.

Nesse diapasão, foi observado que a doutrina e a jurisprudência


dos Tribunais Superiores são uníssonas ao aduzir que as GCM não

116
podem ser caracterizadas como polícia, razão pela qual, deve o gestor
municipal do município de Boa Vista deve zelar para que a GCMBV
cumpra estritamente o que previu a Lei Municipal nº 222/1990 e a Lei
Federal nº 13.022/2014.

Conforme consta do art. 2º, da Lei Municipal nº 222/1990, assim


como do art. 5º, da Lei Federal nº 13.022/2014, a GCMBV está autori-
zada a colaborar com outros órgãos de segurança pública e Forças Ar-
madas e, ainda, celebrar Convênios com entidades do governo federal
e estadual no exercício das atribuições do ente municipal.

Nesse contexto, não é raro que a GCMBV esteja atuando em


SUMÁRIO parceria com a Polícia Militar de Roraima (PMRR), por exemplo, em
ações que visam garantir a segurança pública da sociedade roraimen-
se, nesse sentido de atuação é possível citar ação conjunta na realiza-
ção da Boa Vista Junina, assim como do Carnaval de Boa Vista.

Atualmente, por ocasião da pandemia da COVID-19, observa-se


atuação conjunta entre a GCMBV e a PMRR no que concerne à fiscali-
zação do cumprimento do Decreto Municipal nº 14-E, de 27/01/2021,
e do Decreto Municipal nº 39-E, de 08/04/2021, que impôs medidas
restritivas de combate aos efeitos da pandemia.

Acerca da autorização legislativa mencionada alhures para que


a GCMBV formalize convênios com outras instituições de segurança
pública, verificou-se que há, por parte do órgão municipal, um bom uso
desse permissivo legal, motivo pelo qual, a municipalidade já firmou
convênios com a Polícia Federal (PF), concedendo o porte de armas
de fogo aos integrantes da Guarda Civil Municipal; com a Polícia Ro-
doviária Federal (PRF), para o compartilhamento de informações da
Central de Monitoramento da Cidade (CECOP) da prefeitura com o
canal de informações da PRF, Departamento Nacional de Infraestrutu-
ra de Transportes (DNIT), com o objetivo é acompanhar as ações de
fiscalizações para coibir o transporte de cargas com excesso de peso.

117
A atuação por parte da GCMBV dentro de suas atribuições e
competência é essencial para que não haja ofensa ao princípio da
legalidade, contido no art. 37, caput, da CRFB/88, sob pena de que
seus agentes respondam por usurpação de função pública, conforme
inteligência do art. 328, do Código Penal Brasileiro (CPB).

Referido artigo da lei penal brasileira versa sobre crime praticado


contra a Administração Pública, estando tipificado naquele codex penal
da seguinte maneira: “Art. 328. Usurpar o exercício de função pública”.

Conforme assinala em harmonia a doutrina, é um crime simples


e comum, que visa tutelar o funcionamento regular da atividade admi-
SUMÁRIO nistrativa e cujo sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (MIRABETE,
2019; BITENCOURT, 2018; CUNHA, 2021).

Relativamente ao elemento volitivo necessário para a consuma-


ção deste delito, tem-se que a única hipótese cabível, conforme lecio-
na Nucci (2011, p. 1050), é o dolo consubstanciado na vontade livre e
consciente de realizar uma atividade que não compete ao sujeito ativo.

Nessa esteira Masson (2018, p. 782) aduz que “o dolo (animus


de usurpar função pública), independentemente de qualquer finalidade
específica. Não se admite a modalidade culposa”.

Em relação ao cometimento do ilícito em estudo, Nucci (2014,


p. 1165), destaca que “está o desejo de tomar conta do que não é seu
de direito”. Nesse sentido, a ação livre e consciente de tomar para si,
atribuição que não lhe compete.

No entendimento de Capez (2012, p. 835) “Incrimina-se a ação


de usurpar (tomar, apoderar-se), o exercício de função pública. Há,
portanto, a execução ilegítima de atos de ofício”.

118
Masson (2018, p. 780) assevera que “usurpar o exercício de
função pública é investir-se nela e executá-la indevidamente, arbitraria-
mente, sem possuir motivo legítimo para tanto”.

Nesse diapasão, fica evidente que caso agentes da GCMBV não


atuem no exercício exclusivo da competência legal conferida à Guarda
Municipal, estarão sujeitos a responder criminalmente, na forma do
disposto no art. 328 do CPB.

Desta feita, o gestor público municipal que estiver à frente da


GCMBV deverá adotar conduta no sentido de salvaguardar os inte-
resses da municipalidade, preservando a imagem da referida institui-
SUMÁRIO ção municipal, zelando para que esta cumpra exclusivamente o mister
constitucional que lhe é conferido.

Deve-se sempre considerar que os servidores públicos munici-


pais que atuam nos quadros da GCMBV são servidores civis, portanto,
por expressa previsão legislativa não é possível, frisa-se, a existência
de um “guarda municipal militar”.

Conforme se verifica do art. 1º, da Lei Municipal nº 222/1990,


a GCMBV é uma instituição do Poder Executivo, vinculada direta-
mente à SMST, que, por sua vez, está estruturalmente subordinada
ao Chefe do Executivo.

Nessa esteira, indubitavelmente, os gestores públicos respon-


sáveis pelas ações perpetradas pela GCMBV são o Secretário Munici-
pal de Segurança Urbana e Trânsito, bem como o Prefeito de Boa Vista.

Assim, tendo por base toda a legislação debatida anteriormen-


te, cabe aos referidos gestores públicos o múnus de zelar para que
os guardas municipais que atuam em nome da GCMBV adotem, no
desempenho da função pública, apenas as condutas que a legislação
lhes permite, afinal, do contrário, tais agentes poderão incorrer na figu-
ra típica descrita no art. 328 do CPB.

119
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a legislação analisada, bem como considerando


a doutrina e jurisprudência discutidas anteriormente, verifica-se que o
gestor municipal incumbido de atuar a frente de uma GCM deve buscar
a implementação de ações e/ou programas que estejam voltados para
aumentar a eficiência, bem como sejam hábeis a proporcionar a melho-
ria da qualidade do serviço público prestado pela referida instituição.

Hodiernamente, tendo por base a evolução do gerenciamento


da coisa pública, impulsionada pela busca da melhoria da qualidade
SUMÁRIO dos serviços públicos, trazendo a eles, mais efetividade, sob a ótica dos
usuários/clientes dos serviços prestados pelos órgãos públicos, o gestor
público, em conformidade com pesquisa realizada pela Fundação Ins-
tituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) deverá ter “noção de equidade,
resgate do conceito de esfera pública, ampliação do dever social de
prestação de contas e o foco em resultados finalísticos” (2005, p. 11).

Assim, para melhor gerenciar a coisa pública, o gestor precisa


ter em mente que a GCM, embora seja uma organização que compõe
o SUSP, em conformidade com o inciso VI, do § 2º, do art. 9º, da Lei
Federal nº 13.675/2018, em hipótese alguma poderá ser classificada
como Polícia, motivo pelo qual, em decorrência de previsão constitu-
cional expressa (art. 144, incisos I a VI) não terá competência para a
realização do policiamento ostensivo ou quaisquer outras atribuições
conferidas às polícias.

Nesse diapasão, como visto, a Lei Federal nº 13.022/2014 em


momento algum contrariou o texto constitucional, não bastasse isso,
referida legislação sequer autorizou que as GCM realizem abordagens
e buscas pessoais, salvo em situações de flagrante delito ou então
quando estejam atuando de forma conjunta com as polícias ou ainda
em cumprimento de ordem judicial.

120
Dessa forma, caso determinado Guarda Civil Municipal deixe de
atuar dentro dos ditames da estrita legalidade (art. 37, caput, CRFB/88),
deixando de cumprir a missão constitucional conferida às GCM, extrapo-
lando os limites impostos pela precitada Lei Federal, estará indubitavel-
mente incorrendo na figura típica prevista no art. 328 do CPB.

Tal situação se aplica à GCMBV, afinal, a Lei Municipal nº


222/1990 não lhe conferiu competência para a realização do policia-
mento ostensivo, tampouco, para a realização de abordagens.

A realização de abordagens, inclusive, conforme noticiado na


imprensa local, tem sido uma prática comumente adotada por agentes
SUMÁRIO da GCMBV, e, que, conforme discutido, precisa ser evitada pelos fatos
e fundamentos trazidos à baila.

Note-se que recentemente a 12ª Câmara de Direito Crimi-


nal do Tribunal de Justiça de São Paulo, nos autos do HC 2150004-
20.2020.8.26.0000, da Comarca de Artur Nogueira, formou entendi-
mento majoritário acerca da ocorrência de usurpação de função por
parte de guardas municipais que agiam como policiais, extrapolando
a competência que lhes é conferida pela legislação vigente no Brasil.

Em seu voto o Relator, Desembargador João Morenghi, asse-


verou que:
Por expressa previsão constitucional, às forças policiais foi re-
servada atribuição para a investigação de fatos delituosos, ao
passo que à guarda municipal não foi prevista qualquer atuação
em matéria de segurança pública. E, enquanto agentes admi-
nistrativos, regidos pelo princípio da legalidade, que só podem
atuar sob o manto da lei, essa falta de previsão implica verda-
deira vedação de agir.

Assim, verifica-se, está inequivocamente sedimentado de que


as GCM não são polícias, afinal, o texto constitucional é taxativo em
afirmar quais são as polícias existentes no território nacional, assim
como em atribuir as competências de cada força policial.

121
Desta feita, quaisquer ações isoladas adotadas pelas GCM que
importe no desempenho de atribuições conferidas às forças policiais,
como por exemplo, realizar o policiamento ostensivo, será passível,
conforme previsto no Código Penal, de imputação criminal em razão
do cometimento do delito de usurpação de função (CPB, art. 328).

Nesse contexto, visando evitar o cometimento do ilícito penal


em questão por parte de seus agentes, já se observa movimentação
no sentido de deixar bem claro, no âmbito da legislação municipal,
que as GCM não devem realizar atividades típicas das polícias, nesse
sentido, destaca-se o contido no art. 1º, do Decreto nº 5.384, de 16 de
julho de 2018, do Município de Itapevi, estado de São Paulo: “Art. 1º.
SUMÁRIO Determina-se que os integrantes da Guarda Municipal de Itapevi NÃO
PRATIQUEM ATOS PRIVATIVOS DAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS, [...],
dentre outros atos incompatíveis com as não menos relevantes atribui-
ções específicas do órgão Municipal”.

Ante aos fatos e argumentos discutidos, não paira dúvida de


que cabe ao gestor público municipal que atuar frente a uma GCM,
adotar providências no sentido de evitar que referidos servidores mu-
nicipais possam ser penalizados por condutas em desconformidade
com os ditames constitucionais e com o que prevê a Lei Federal nº
13.022/2014, afinal, enquanto gestor tem o dever de prezar pela legali-
dade e eficiência do serviço público prestado pela GCM.

Nesse contexto, visando propiciar maior clareza à legislação mu-


nicipal que rege a atuação da GCMBV, seria salutar que o Poder Público
Municipal seguisse o exemplo do Município de Itapevi/SP, que, confor-
me demonstrado anteriormente vedou expressamente que a Guarda da-
quela municipalidade pratique atos privativos das forças policiais.

Resta destacar que os objetivos deste artigo foram devida-


mente atingidos, afinal, ficou comprovado que a GCMBV não possui
competência para realização do policiamento ostensivo, eis que, no

122
ordenamento jurídico brasileiro não há previsão para tal atuação por
parte das GCM.

De outra banda constatou-se que à luz da legislação em vigor,


da doutrina especializada e da jurisprudência dos Tribunais Superiores
que a GCMBV não pode ser caracterizada como Polícia, tendo em vis-
ta, que o texto da CRFB/88 é taxativo ao elencar quais são as polícias
existentes em nosso arcabouço jurídico.

Assim, em que pese o fato de as GCM terem sido incluídas como


órgãos do SUSP, o seu papel está bem delimitado pela legislação mu-
nicipal cogente, razão pela qual, o Conselho Nacional de Segurança
SUMÁRIO Pública (CNSP), do Ministério da Justiça, destacou que “os municípios
estão aptos, juntamente com os Estados e o Governo Federal para
atuarem permanentemente na prevenção da violência, por meio de po-
líticas públicas sociais e urbanas”. (BRASIL, 2010, p. 01).

Tendo por base referida atuação, o CNSP ao tratar das GCM


recomendou às municipalidades que levassem adiante a regulamen-
tação daquelas instituições “como órgão complementar da Segurança
Pública, com atribuições que não se conflitam com as polícias esta-
duais e federais é imperativo”. (BRASIL, 2010, p. 05).

Ao tratar especificamente da atuação das GCM, o CNSP (BRA-


SIL, 2010, p. 05) asseverou que:
A atuação das Guardas Municipais, deve ser centrada em
ações preventivas e comunitárias, integradas com as políticas
sociais dos governos locais e com a atuação das polícias esta-
duais e federais. Recomenda-se que os municípios criem cen-
tros ou escolas de formação, na esfera municipal e/ou mediante
consórcio intermunicipal, em articulação com as instituições de
ensino, em especial com a RENAESP, tendo como referência a
Matriz Curricular Nacional para formação de Guardas Munici-
pais elaborada pela SENASP. Admitido por concurso público,
com exigência mínima de ensino médio e obrigatoriedade da
criação de uma corregedoria e ouvidoria.

123
Nesse diapasão, fica cristalinamente demonstrado e compro-
vado que uma GCM não se confunde com uma Polícia, visto que são
instituições que possuem competências e atribuições constitucionais
e infraconstitucionais diferentes, mas que, no entanto, como órgãos do
SUSP, podem e devem atuar de maneira harmoniosa e complementar.

REFERÊNCIAS
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banda magníficos. Portal G1, Boa Vista, 07 de jun. de 2019. Disponível em:
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126
6
Capítulo 6

Análise da Rede Cidadania Melhor Idade


no Município de Boa Vista/RR

Anderson Rômulo Garcia Braz

Luciana Silva de Souza

Anderson Rômulo Garcia Braz

Luciana Silva de Souza

Análise da Rede Cidadania


Melhor Idade no município
de Boa Vista/RR
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.6
SUMÁRIO

Resumo:
Este artigo tem por objetivo analisar a importância de políticas públicas para
a terceira idade, na rede cidadania melhor idade, no município de Boa Vista,
Estado de Roraima, bem como a verificação das implementações e efetiva-
ções ocorridas em função de investimentos realizados, nesta área objeto deste
estudo. O artigo apresenta-se primeiramente abordando as concepções de
políticas públicas, buscando entender os sentidos de sua aplicação e uso es-
pecial ao público idoso. O segundo trata da importância de políticas públicas
para a terceira idade: o que são, como se organizam e o que significam. O
terceiro fala da rede cidadania melhor idade no município de Boa Vista/RR,
o que é e o que representa a missão e visão desta instituição, na perspectiva
das políticas públicas voltadas para a terceira idade. Para a realização deste
trabalho foi realizada a pesquisa exploratória, quantitativa, foi feito um estudo
de caso na Rede Cidadania Melhor Idade, através da entrevista semiestrutu-
rada como ferramenta de coleta de dados, o que possibilitou coletar, analisar
e filtrar as informações, correlacionando os registros com as observações e
informações, bem como com os dados de documentos oficiais e literatura
especializada. Os resultados da pesquisa mostraram que a rede cidadania
atenção especial atende às demandas locais do público idoso, conjuntamen-
te, contribuindo com uma mudança na postura dos atores envolvidos, bem
como no monitoramento das políticas públicas sociais que efetivam os direitos
dos idosos de Boa Vista – Roraima.

Palavras-chave: Políticas públicas; Terceira Idade; Rede Cidadania; Melhor Idade.

128
INTRODUÇÃO

Atualmente com o avanço dos processos de globalização nos


lugares mais remotos e simples do mundo, observa-se uma longevida-
de maior da população mundial. Estes avanços ocorrem gradualmente
incorporando, todas as áreas de conhecimento científico, alcançando
todos os níveis sociais e sendo parte da rotina humana. Com o cresci-
mento de inumeráveis estudos do processo da velhice humana em to-
das as partes do mundo, proporcionam um olhar mais direcionado aos
idosos de forma a lhes dar muito mais anos de vida e vida saudável.

SUMÁRIO Envelhecer com qualidade de vida é um dos grandes desafios


na atualidade. Os hábitos de vida saudável proporcionam um suporte
para o envelhecer com saúde, compensando as mudanças naturais da
idade e favorecendo maior equilíbrio físico, psicológico e social.

Seguindo esse pensamento a Rede Cidadania, projeto de Assis-


tência Social, desenvolvido em Roraima durante as gestões de 2010,
até a presente data pelo governo do Estado de Roraima, prestando
assistência social com respeito e dignidade, contribuindo para a in-
clusão, crescimento pessoal e profissional da população de Roraima,
atualmente divide-se em 5 eixos principais que são a Rede Cidadania
Social, Rede Cidadania Segurança Alimentar, Rede Cidadania Empre-
go e Renda, Rede Cidadania Habitação e a Rede Cidadania Esporte.
Dentro desse grande plano de ação diversos segmentos são atendi-
dos com projetos específicos, como o Minha Casa Minha Vida, Melhor
Idade, Atenção Especial, Balcão de Ferramentas, Crédito do Povo, Es-
cola do Atleta, Crédito Escola, Clube de Mães, entre outros, tem como
missão principal contribuir com a valorização e com o desenvolvimento
da qualidade de vida da população de Roraima.

Considerando o foco do artigo, vale informar que vivemos


em sociedade e que os idosos do município de Boa Vista, carecem

129
de uma maior atenção por parte do poder público, exigindo assim
maiores preocupações, elaboração e efetivação de políticas públicas
voltadas para o público idoso, ante a isso investigamos a seguinte
problemática: qual a importância das políticas públicas voltadas para
o público da terceira idade, no município de Boa Vista/RR, na Rede
Cidadania Melhor Idade?

O Artigo tem como objetivo geral compreender a importância


de políticas públicas para a terceira idade, na rede cidadania melhor
idade, município de Boa Vista/RR. Assim sendo, os objetivos espe-
cíficos são: conhecer as políticas públicas para a terceira idade na
rede cidadania melhor idade, município de Boa Vista/RR, bem como
SUMÁRIO fazer uma análise se as políticas públicas para a terceira idade na
rede cidadania melhor idade, estão de acordo com as necessidades
locais, município de Boa Vista/RR.

O grande desafio de cuidar dos idosos em uma sociedade cada


vez mais desigual, coloca os campos político e social em suas ins-
tâncias pública, privada e do terceiro setor, em uma eminência de um
olhar mais direcionado para criação ou reavaliação das políticas públi-
cas sociais de forma a contribuir para um melhor envelhecimento, sau-
dável e consequentemente dando maior longevidade para o público
assistido pelas soluções dadas através das criações e efetivação de
políticas públicas para os idosos da melhor idade.

Com o aumento da população idosa em Boa Vista é necessário


que o poder público possa proporcionar melhorias na qualidade de
vida desse público específico, onde haja políticas públicas e uma pre-
paração no sentido de acolher o público da terceira idade.

Partindo dessas premissas a pesquisa trouxe uma maior com-


preensão sobre a importância das políticas públicas para a terceira
idade, em especial na rede cidadania melhor idade, e as efetivações
ou não dos atendimentos às demandas da comunidade da terceira
idade, no município de Boa Vista/RR.

130
A aproximação a esta temática, justifica-se pela necessidade
de um olhar mais específico para o público da melhor idade, visto que
a sociedade contemporânea está envelhecendo e é necessário dar
a importância devida a essa temática que a todos abrange de forma
direta ou indiretamente.

Diante desse cenário surgiu o interesse por investigar sobre a


importância das políticas públicas para a terceira idade, na Rede Cida-
dania Melhor Idade, município de Boa Vista/RR e dessa forma também
poder ter uma visão mais próxima da realidade local, ao olhar público
para os idosos da terceira idade de Boa Vista/RR.

SUMÁRIO

REVISÃO TEÓRICA

Considerações sobre
as Políticas Públicas

A expressão “política pública” é utilizada, num sentido amplo,


para indicar a atividade ou o conjunto delas, tendo como referência o
Estado, responsável pela deflagração das referidas ações. O Estado
deve ser entendido como uma organização destinada a manter, pela
aplicação do direito, as condições universais de ordem social. O direito
é o conjunto das condições existenciais da sociedade, que o Estado
cumpre assegurar. Nesse sentido, a política pública é vista como uma
forma de resolução pacífica de conflitos, visto que por meio dela torna-
-se possível obter a satisfação de direitos básicos da sociedade.

As políticas públicas, portanto, se apresentam como um elenco


de disposições, medidas e procedimentos que espelham a orientação
política do Estado e regulam as atividades governamentais no que diz
respeito às tarefas de interesse público. Nesse sentido, compreen-
dem todas as ações de governo, divididas em atividades diretas de

131
produção de serviços pelo próprio Estado e em atividades de regu-
lação de outros agentes econômicos. Elas se concretizam por meio
da ação efetiva de sujeitos sociais e de atividades institucionais que
as realizam em cada contexto e condicionam seus resultados. Assim,
os processos de acompanhamento pelos quais são implementadas,
bem como as avaliações de seus impactos sobre o quadro existente,
devem ser feitas de forma permanente.

A partir dessas considerações, torna-se oportuno debater, ini-


cialmente, alguns conceitos básicos da análise de políticas públicas, a
partir da indagação clássica da ciência política: o que é um bom gover-
no e qual é o melhor Estado para garantir e proteger a felicidade dos
SUMÁRIO cidadãos ou da sociedade. Nesse campo, destacam-se a visão dos
teóricos clássicos, em particular, Platão e Aristóteles. Conceitos como
da policy analysis: policy, politics e polity, policy network, policy arena
e policy cycle também são considerados de fundamental importância
para a compreensão de políticas públicas.

Concepções
de Políticas Públicas

O papel do Estado com o decorrer dos séculos passou por vá-


rias mudanças, com o aprofundamento e expansão da democracia,
as responsabilidades do Estado se expandiram. Sendo nos dias de
hoje comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem-
-estar da sociedade. Entretanto, ele necessita desenvolver uma série
de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde,
educação, meio ambiente. Para atingir resultados em diversas áreas
e promover o chamado bem-estar da sociedade, os governos se uti-
lizam das Políticas Públicas que podem ser definidas da seguinte
forma, conforme: Lima (2018, p. 45), “[...] Políticas Públicas são um
conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução
(ou não) de problemas da sociedade [...].”

132
A expressão política pública é utilizada, num sentido amplo,
para indicar a atividade ou o conjunto delas, tendo como re-
ferência o Estado, o qual é responsável pela deflagração das
referidas ações. Sendo papel do Estado, manter através da
aplicação de um conjunto de condições existenciais a ordem
social na sociedade, assegurando assim, através de políticas
públicas uma forma de resolução pacífica de conflitos (MA-
TIAS-PEREIRA, 2009).

Partindo do termo política que compreende um elenco de ações


e procedimentos que visam à resolução pacífica de conflitos em tor-
no da alocação de bens e recursos públicos, onde os personagens
envolvidos nestes conflitos são denominados “atores políticos”, que
SUMÁRIO podem ser públicos e privados. Segundo a abordagem de Easton
(1970), as políticas públicas resultam do processamento, pelo sistema
político, dos inputs originários do meio ambiente e, frequentemente, de
withinputs (demandas originadas no interior do próprio sistema políti-
co). Para diversos autores, como, por exemplo, Höfling (2001), políticas
públicas são formas de interferência do Estado, visando à manuten-
ção das relações sociais de determinada formação social. Sustentam
Jobert e Muller (1987), por sua vez, que é “o Estado em ação”, em
processo de implementação de um projeto de governo hegemônico,
por meio da criação, formulação e implementação de programas, de
projetos e ações voltadas para as classes sociais.
[...] as políticas públicas são resultado da atividade de uma auto-
ridade investida de poderes públicos e legitimidade governamen-
tal, e seu estudo se reporta às ações das autoridades públicas
no seio da sociedade. Segundo esses autores, existe na litera-
tura um consenso acerca das políticas públicas que possuem
as seguintes características: se identificam sob um determinado
conteúdo; possuem um programa e uma orientação normativa;
possuem um fator de coerção, seja através da legitimidade da
autoridade legal ou pelo monopólio da força; e, ainda, têm uma
competência social que afeta a situação, os interesses e os com-
portamentos dos administrados (MENY e THOENIG, 1992).

133
A partir destas concepções é possível admitir uma clareza teóri-
ca nem sempre corresponde às expectativas das situações concretas,
ou seja, nem sempre ao ser implementada e analisada uma política
pública, com intuito de otimização de seus efeitos ou impactos, as
variáveis condicionais objetivas e pragmáticas podem impor situações
não esperadas, fato que levam a um processo constante de mudan-
ças, ajustes e redefinições na ação política.

A importância de Políticas Públicas


para a Terceira Idade

SUMÁRIO
As Políticas Públicas para o Idoso é direito de todos o desenvol-
vimento de políticas públicas, para assegurar a dignidade da pessoa
humana, dessa forma se faz imprescindível que o Estado desenvolva
políticas públicas.

Consoante a Secchi (2012, p. 2): Uma política pública é uma di-


retriz elaborada para enfrentar um problema público. [...] Uma política
pública é uma orientação à atividade ou à passividade de alguém; as
atividades ou passividades decorrentes dessa orientação também fa-
zem parte da política pública; uma política pública possui dois elemen-
tos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema
público; em outras palavras, a razão para o estabelecimento de uma
política pública é o tratamento ou a resolução de um problema enten-
dido como coletivamente relevante.

Diante deste contexto as políticas públicas sociais para os ido-


sos em nosso País, ganharam um crescente avanço, dentre as quais
podem se ter como destaques: Política Nacional do Idoso (BRASIL,
1994); o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003); A Política Nacional de Saú-
de da Pessoa Idosa, além dos direitos conquistados pela Constituição
Federal em 1988 (BRASIL, 1988).

134
Na atualidade, essas políticas podem ser consideradas neoli-
berais, posto que o Estado e setor privado são corresponsáveis por
garantir a proteção às pessoas que se consideram idosas. As formas
de respostas contemporâneas à ‘problemática social’ do envelhe-
cimento, mediante reforma das políticas de seguridade social, que
mantém o Estado na proteção social, mas que introduz modificações
substanciais na orientação, na cobertura, no nível dos benefícios, na
qualidade de prestação de serviços, ou normatizando uma política
setorial específica e outros instrumentos de direitos e as iniciativas
diversas da sociedade civil na proteção social aos idosos, financia-
das ou não pelo Estado, são expressões de alterações no formato da
SUMÁRIO proteção social e das ‘novas’ simbioses entre público e privado na
política social (TEIXEIRA, 2008, p. 199).

METODOLOGIA

Nesta presente pesquisa serão adotados os métodos e técnicas


que darão corpo a para a estruturação e delineamento deste estudo,
visando compreender a importância de políticas públicas para a tercei-
ra idade, na rede cidadania melhor idade, município de Boa Vista/RR,
bem como a formalização e efetivação das mesmas.

Para a realização deste trabalho optamos pela pesquisa explo-


ratória devido à necessidade de realizar um estudo, através de uma
maior familiarização com o tema a ser pesquisado, por ser uma pes-
quisa bastante específica, podemos afirmar que ela assume a forma
de um estudo de caso, sempre em consonância com outras fontes
que darão base ao assunto abordado, como a pesquisa bibliográfica,
análise de conteúdo e resultados.

135
De acordo com Prodanov, Cleber Cristiano (2013), a pesquisa
quantitativa, considera que tudo pode ser quantificável, o que signifi-
ca traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e
analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (per-
centagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de cor-
relação, análise de regressão. Essa forma de abordagem é empregada
em vários tipos de pesquisas, inclusive nas descritivas, principalmente
quando buscam a relação causa-efeito entre os fenômenos e também
pela facilidade de poder descrever a complexidade de determinada
hipótese ou de um problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por
SUMÁRIO grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança,
criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em
maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos
comportamentos ou das atitudes dos indivíduos.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa


será também um estudo de caso na Rede Cidadania Melhor Idade,
situado no município de Boa Vista, Roraima. Segundo Yin (2001), o
estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo dos
fatos objetos de investigação, permitindo um amplo e pormenorizado
conhecimento da realidade e dos fenômenos pesquisados. “Um estu-
do de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos” (YIN, 2001 p. 33).
“A investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecni-
camente única em que haverá muito mais variáveis de interesse
do que pontos de dados, e, como resultado, baseia-se em vá-
rias fontes de evidências, com os dados precisando convergir
em um formato de triângulo, e, como outro resultado, benefi-
cia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para
conduzir a coleta e a análise de dados” (YIN, 2001 p. 33-34).

136
A teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo
de investigação como um sistema organizado de proposições, que
orientam a obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos
que veiculam seu sentido. (MINAYO, 2000, p. 19).

Para este trabalho utilizaremos a entrevista semiestruturada


como ferramenta de coleta de dados, realizada nesta pesquisa com
os sujeitos envolvidos, este método permite aos entrevistados a liber-
dade de sentir o desejo de se expressar espontaneamente sobre as
questões citadas. Mesmo assim, a entrevista também nos auxilia na
busca de pontos particulares que sejam relevantes para serem apon-
tados no estudo, conhecendo e compreendendo a realidade do outro
SUMÁRIO no contexto social.

Segundo Marconi & Lakatos (2010, p.278) a entrevista é “uma


conversa entre duas pessoas, uma das quais é o entrevistador e a ou-
tra o entrevistado [...] e tem como objetivo principal obter informações
importantes e de compreensão das perspectivas e experiências das
pessoas entrevistadas”. Além disso, a entrevista semiestruturada nos
permitirá explorar os imprevistos que surgem durante o diálogo, dei-
xando os entrevistados livres para expressar espontaneamente suas
opiniões e sentimentos (MARKONI & LAKATOS, 2010, p. 279).

As questões levantadas foram dirigidas aos colaboradores e pú-


blico de idosos atendidos na Rede Cidadania Melhor Idade, município
de Boa Vista/RR, a fim de obter informações importantes para com-
preender a importância de políticas públicas para a terceira idade, na
rede cidadania melhor idade, município de Boa Vista/RR.

Ao coletar, analisar e filtrar as informações, propomos uma cor-


relação dos registros com as observações e informações, bem como
com os dados de documentos oficiais e literatura especializada.

137
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Esse tópico reflete o resultado alcançado pela pesquisa de


campo. As entrevistas foram realizadas na Rede Cidadania Melhor
Idade localizada no Município de Boa Vista - Roraima. Foram feitas
entrevistas de maneira aberta e semi estruturadas seguindo o roteiro
previamente elaborado e também foi feito uso de meio de formulá-
rios eletrônicos, devido ainda estamos convivendo com a pandemia
do Covid-19. Colaboraram com a pesquisa as equipes técnicas, e
SUMÁRIO gestão da Rede Cidadania Melhor Idade e o público-alvo dos progra-
mas da Rede Cidadania Melhor Idade. Desse modo, os subtópicos
seguintes apresentarão as informações obtidas a partir das respos-
tas prestadas pelos colaboradores nas entrevistas. Destaca-se que,
para manter a fidelidade às entrevistas, foram reproduzidos termos
utilizados pelos colaboradores.

A Rede Cidadania Melhor Idade,


município de Boa Vista/RR

O Centro de Referência do Idoso (CRI) – REDE VIVA MELHOR


IDADE (RVMI), iniciou sua construção em junho de 2010, e instituiu o
programa através do DECRETO Nº 18.596-E DE 10 DE ABRIL DE 2015,
como REDE CIDADANIA MELHOR IDADE, visando implementar uma
nova forma de gestão da política pública de atenção à pessoa idosa.
Buscou-se com este Centro, integrar as atividades socioassistenciais
já desenvolvidas nas Unidades denominadas “Clube Criação” e “Eter-
na Juventude” pelo Governo do Estado de Roraima para este público,
em um espaço físico amplo e adequado.

138
A população assistida neste espaço são pessoas a partir de 60
anos de idade que gozam de convivência/vínculo familiar e que pos-
suam condições de deslocamento diário para participação nos serviços
oferecidos, de acordo com o horário de funcionamento da unidade.

O CRI – RCMI conta com uma equipe técnica que trabalha para
favorecer o acolhimento à população da terceira idade. Este serviço
integra especialidades da área da saúde, atividades educacionais, es-
portivas, culturais e de lazer. Possui uma estrutura física compatível
para a oferta dos serviços socioassistenciais de proteção básica e pro-
teção especial de média complexidade, de acordo com a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais.
SUMÁRIO
As atividades desenvolvidas com as pessoas idosas partem do
pressuposto da necessidade uma intervenção interdisciplinar, envolven-
do os profissionais de diversas áreas que poderão conjuntamente con-
tribuir para que o idoso tenha um atendimento integral e articulado nas
áreas de assistência social e promoção da saúde, garantindo lazer, cul-
tura e apoio sociofamiliar, de acordo com as necessidades dos usuários,
visando a melhoria de sua qualidade de vida e integração comunitária.

O CRI – RCMI não engloba serviços de acompanhamento e


tratamento de patologias de seus usuários, restringindo-se apenas
aos aspectos preventivos, considerando tratar-se atendimento de
competência do Sistema Único de Saúde - SUS. Dessa forma, essa
Unidade contempla duas modalidades de atendimento: Centro de
Convivência e Centro Dia.

Na modalidade Centro de Convivência – grupos de convivência,


[...] o atendimento tem por foco o desenvolvimento de ativida-
des que contribuam no processo de envelhecimento saudável,
no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no for-
talecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário,
e na prevenção de situações de risco social. A intervenção
social deve estar pautada nas características, interesses e

139
demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em
grupo, as experimentações artísticas, culturais, esportivas e
de lazer e a valorização das experiências vividas constituem
formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social
(TIPIFICAÇÃO, 2009, p. 11).

O Centro de Convivência promove uma programação com ativida-


des de sociabilidade, desenvolvimento de habilidades, informação, atua-
lização, atividades educacionais, artísticas, esportivas, de lazer e outras.

Nesta modalidade o RCMI atende a todos os idosos que pos-


suírem condições físicas, cognitivas e psíquicas para participar das
atividades oferecidas, independente de sua condição social. Para tal
SUMÁRIO considera-se requisito que o idoso seja classificado no grau de depen-
dência I, de acordo com a RDC 283/ANVISA.

As Diretrizes do CRI – RCMI, possui a missão de ofertar servi-


ços socioassistenciais de excelência, primando por um atendimento
humanizado, que vise a potencialização da pessoa idosa e previna
seu isolamento social através do fortalecimento de vínculos familiares
e comunitários. Tendo a Visão de tornar-se um serviço de Referência
na região Norte, no que se refere à atenção a população idosa no
âmbito da Assistência Social, pautando-se na estimulação do enve-
lhecimento ativo, da autonomia e independência do idoso, reduzin-
do os riscos sociais, com Princípios e valores: Cuidado e respeito à
vida humana; Comprometimento; Cidadania; Compromisso com a
verdade; Desenvolvimento contínuo. Tem o objetivo geral de ofertar
serviços socioassistenciais com vistas à promoção do envelhecimen-
to ativo, saudável e autônomo, garantindo a inclusão social e a me-
lhoria da qualidade de vida de pessoas idosas, fortalecendo vínculos
familiares e comunitários. Objetivos Específicos: Contribuir para a
prevenção do agravamento de situações de negligência, violência
e ruptura de vínculos; Identificar potencialidades e motivações, valo-
rizando as vivências e promovendo o desenvolvimento autônomo e

140
independente do idoso; fortalecer os vínculos familiar e comunitário;
reduzir e prevenir situações de isolamento social; promover o acesso
a benefícios, programas de transferência de renda, e outros serviços
socioassistenciais; Promover a saúde da pessoa idosa através de
atividades de lazer, cultura e esporte; Possibilitar a promoção preven-
tiva da saúde através de acompanhamento técnico especializado;
Contribuir para desenvolvimento do protagonismo e as capacidades
do idoso para a realização de ABVD e AIVD, e de autocuidado; Opor-
tunizar discussões, debates e estudos aos profissionais da unidade,
promovendo a discussão científica acerca do envelhecimento e das
questões socioassistenciais que envolvem este tema.
SUMÁRIO
Do atendimento ao público
na Rede Cidadania Melhor Idade,
município de Boa Vista/RR.

O Centro de Convivência possui uma programação com ativi-


dades de sociabilidade, desenvolvimento de habilidades, informação,
atualização, atividades educacionais, artísticas, esportivas, de lazer e
outras, sendo atendidos nesta modalidade os idosos que possuírem
condições físicas, cognitivas e psíquicas para participar das atividades
oferecidas, independente de sua condição social.

O grau de dependência I é caracterizado por idosos indepen-


dentes em Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD), as quais se ca-
racterizam por cuidados pessoais, tais como, alimentar-se, vestir-se, lo-
comover-se com independência, realizar higiene pessoal, entre outras
e independentes em Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD),
tais como utilizar transporte público, preparar refeições, administrar fi-
nanças, realizar compras, cuidar de outras pessoas.

141
Portanto, o grau de dependência I permite que o idoso realize as
atividades citadas mesmo que possuam limitações físicas que requei-
ram o uso de tecnologia assistiva, como cadeira de rodas, andadores
e muletas para manter sua independência e capacidade funcional.

Idosos com maiores níveis de dependência apenas são incluí-


dos no serviço se houver consenso no parecer da equipe técnica e, se
necessário e possível, com a presença contínua ou eventual de cui-
dador formal ou informal designado pela família, após assinatura de
Termo de Compromisso e orientação da equipe.

Já a modalidade de Centro Dia é destinada a ser um espaço


SUMÁRIO para atender pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social
e ameaça de violação de direitos, exigindo um cuidado especial da
equipe na prestação dos serviços socioassistenciais da Unidade com
atenção contínua no acompanhamento do usuário.

De acordo com a portaria nº 2874 de 30/09/2000 o centro dia


é uma estratégia de atenção em instituições especializadas, onde o
idoso permanece durante oito horas por dia, sendo prestados servi-
ços de atenção à saúde, fisioterapia, apoio psicológico, atividades
ocupacionais, culturais, de lazer e outras, de acordo com a necessi-
dade dos usuários.

O atendimento na modalidade Centro Dia tem capacidade para


10 idosos simultaneamente, sendo 03 quartos, todos com banheiro
privativo, assegurando atendimento de qualidade e personalizado.

O serviço funciona em dias úteis (segunda à sexta), entre 08:00


e 18:00 horas. O tempo de permanência do idoso no serviço ficará
a critério da equipe técnica após a avaliação multiprofissional, sen-
do o tempo de permanência máximo de três meses, salvo em casos
de recomendação técnica para extensão da permanência no serviço.
A frequência do idoso é definida pela equipe técnica, considerando o

142
mínimo de 16 horas, distribuídas entre de 2 e 5 dias por semana, em
um ou dois turnos, conforme a Portaria nº2874 de 30/09/2000.

As pessoas idosas acolhidas em ambas as modalidades de


atendimento neste espaço, devem atender obrigatoriamente a todos
os critérios de admissão descritos no Regulamento da Instituição.

Do fluxograma de atendimento
ao público na Rede Cidadania Melhor
Idade, município de Boa Vista/RR.

SUMÁRIO
Observou-se, segundo os colaboradores na rede cidadania me-
lhor idade, que apesar da hierarquia entre Direção, Coordenações e
demais servidores, não significa que as decisões não são discutidas
de maneira ampla e democrática e mesmo com o Fluxograma se apre-
sentando de forma vertical, abaixo das coordenações, não existe hie-
rarquia entre os servidores, considerando que as funções e os saberes
são complementares.

Com base nessa tipificação, o CRI – RCMI, trabalha garantindo


o atendimento na Proteção Social Básica, através de serviços de pro-
teção e atendimento integral ao idoso e serviços de convivência e for-
talecimento de vínculos familiares e comunitários. Seu Fundamento é
o fortalecimento da cultura do diálogo, no combate de todas as formas
de violência, de preconceito, de discriminação e de estigmatização nas
relações familiares.

143
Figura 1 – CRI - RCMI

SUMÁRIO

Fonte: Próprio autor (2021).

Dos resultados alcançados


ou estimados do atendimento
ao público na Rede Cidadania Melhor
Idade, município de Boa Vista/RR.

Na avaliação da equipe técnica, as metas e objetivos quantitati-


vos do serviço são revisados no Plano Anual de Trabalho da Instituição,
devido a necessidade de constantes adequações. Com relação aos

144
idosos que participam do CRI, estima-se que mais de 2.000 idosos
sejam beneficiados, com: melhora na socialização e formação de vín-
culos sociais, podendo se configurar em suporte comunitário posterior,
uma vez que os vínculos transcendem o espaço institucional; melhora
em componentes e habilidades fundamentais para a manutenção da
funcionalidade e independência dos idosos, entre os quais: equilíbrio,
coordenação motora global e fina, força muscular, amplitude de movi-
mento, atenção, concentração, memória e aprendizagem.

Maior autonomia, independência e segurança devido à alfabeti-


zação que permite acesso à serviços e cuidados de saúde, tais como:
procedimentos bancários, endereços, receitas de medicações, orien-
SUMÁRIO tações escritas.

Promoção da intergeracionalidade, uma vez que são realizadas


diversas parcerias com acadêmicos de universidades locais e as apre-
sentações culturais permitem aos idosos transitarem em outras institui-
ções com público infantil, adulto e idoso.

Prevenção de patologias comuns ao processo de envelhe-


cimento através de atividades físicas, palestras, ações voluntárias e
acompanhamento médico que reduzem quadros de hipertensão, dia-
betes, dores articulares, depressão e afins.

Maior participação social e apropriação do território uma vez


que os usuários passam a conhecer locais e serviços adequados a
eles e suas famílias aos quais podem ter acesso e buscar desenvolvi-
mento social e cultural.

Ampliação da renda familiar, uma vez que muitos usuários


aprendem técnicas para produção de artigos artesanais que podem
ser vendidos gerando renda e reconhecimento social. Conhecimento
acerca das gratuidades e descontos que lhes são de direito e econo-
mia doméstica e sustentabilidade.

145
Valorização do idoso e consequente melhora da autoestima
através da divulgação de suas produções, apresentações culturais de
dança, coral e violão para a comunidade, comprovando a capacidade
de aprendizagem e estímulo a novos planos e projetos de vida.

Prevenção ou reversão de quadro de isolamento e vulnerabilida-


de social através do acompanhamento do contexto de vida do idoso,
sua família e comunidade circunscrita.

Retardo do processo de institucionalização através do suporte


e acompanhamento de idosos que residem sozinhos e não possuem
vínculos familiares.

SUMÁRIO Fortalecimento de vínculos familiares uma vez que a participa-


ção em atividades de lazer reduz quadros de poli queixa e irritabilidade
nos idosos e os familiares também recebem orientações sempre que
necessário sobre condutas e comportamentos adequados à manuten-
ção da saúde e independência do idoso, evitando sobrecarga desne-
cessária ou precoce dos cuidadores formais e informais.

Acesso mais fácil e rápido a outras políticas setoriais através de


encaminhamentos e parcerias nas áreas sociais, de cultura e saúde.
Ampliação do acesso a benefícios, programas de transferência de ren-
da e serviços socioassistenciais, contribuindo para a inserção da pes-
soa idosa e sua família na rede de Proteção Social Básica e Especial.

Do monitoramento e avaliação,
das políticas públicas implantadas
na Rede Cidadania Melhor Idade,
município de Boa Vista/RR.

Segundo a colaboradora e gestora da Instituição a ampliação


do acesso a benefícios, programas de transferência de renda e ser-
viços socioassistenciais, contribui para a inserção da pessoa idosa e

146
sua família na rede de Proteção Social Básica e Especial, tendo em
vista que o Projeto Pedagógico é um processo que demanda avaliação
contínua e espaços de trocas entre todos os segmentos envolvidos.
Desafio, segundo ela, que terá de considerar na continuidade dos tra-
balhos, construindo propostas sistemáticas de avaliação do trabalho
que vem sendo desenvolvido e da articulação entre as atividades e
destas com as diretrizes do projeto pedagógico.

O acompanhamento do Projeto Político Pedagógico do CRI


ocorre de maneira sistemática, atentando para os processos de cons-
trução ético-profissional e para as práticas futuras. Do mesmo modo,
são valorizadas as práticas profissionais, sejam técnicas ou de nível
SUMÁRIO médio. Assim o processo de acompanhamento é realizado a partir de
diagnósticos das situações apresentadas.

O acompanhamento das ações da unidade é necessário para a


inclusão de novas propostas, contemplando as demandas locais, que
de algum modo, norteiam o trabalho.

O monitoramento quantitativo é realizado através da análise dos


relatórios mensais gerados pela equipe técnica e demais responsáveis
pelas atividades, utilizando como parâmetro as metas estabelecidas
anualmente.

A avaliação qualitativa é realizada mensalmente por atividade,


através de protocolo de imagens criado pela equipe técnica do CRI,
instrumento de fácil compreensão e manuseio por parte dos idosos. O
facilitador da avaliação não pode ser o mesmo profissional responsá-
vel pela atividade, nem o idoso é identificado.

Para reclamações, sugestões e elogios cotidianos fica disponí-


vel na recepção uma urna para que usuários, visitantes e servidores
possam se manifestar sem identificação.

147
As reuniões mensais entre todos os servidores também cons-
tituem espaços de discussões e reavaliações contínuas dos serviços
prestados na Unidade.

Portanto, na avaliação e monitoramento é o momento de ela-


borada importância para garantia e continuidade da participação dos
vários segmentos na atualização e qualificação do projeto pedagógi-
co do CRI. Neste sentido, trabalha-se com a ideia de um projeto em
construção, que pode sofrer alterações, sempre que a realidade vivida
assim fizer necessário.

As políticas públicas estaduais voltadas para o público idoso


SUMÁRIO na rede cidadania melhor idade, segundo os colaboradores, o poder
público tem buscado de forma atuante a implementação e efetivação
das políticas públicas, principalmente promovendo ações e prestação
de serviços à comunidade idosa frequentadora da Rede Cidadania
melhor idade, resguardados o período da pandemia, em que as ati-
vidades foram suspensas devido ao alto risco de contaminação dos
idosos, com as atividades presenciais.

As ações que são realizadas no CRI, consideram os aspectos


para o funcionamento do serviço de forma integral, desde a divulga-
ção da Unidade, serviços de atenção à saúde do idoso e capacita-
ção do trabalhador, que consistem em um leque de serviços e ações
como: informação, divulgação e pesquisa; educação, esporte, cultu-
ra e lazer; assistência psicossocial e direitos humanos; assistência à
saúde; capacitação de recursos humanos, atendendo as normativas
da proteção social do idoso e suprindo as necessidades estranhas
à rotina do serviço de atendimento ao idoso. Não tendo, portanto,
necessidades e dificuldades extras prejudiciais ao serviço e atendi-
mento do público da entidade. Pouco foram apontadas dificuldades
atuais para melhoria do atendimento da Entidade, salvo guardado a
grande pandemia da Covid-19, que assola o País, limitando ou cer-
ceando as atividades ao público-alvo.

148
Os pontos preocupantes apontados pelos colaboradores foram
a questão de mudanças na equipe de gestores, quebrando a continui-
dade de algumas ações já implementadas, acarretando o não cumpri-
mento total das políticas públicas já elaboradas e personalizadas para
a rede cidadania melhor idade.

A falta de visibilidade de uma divulgação maior das políticas


públicas voltadas para a terceira idade, pela equipe de comunicação
do governo do Estado de Roraima, que segundo os colaboradores
poderia atingir um público ainda maior se fosse dado mais ênfase em
divulgação das ações do sistema rede cidadania melhor idade.

SUMÁRIO A falta de recursos humanos com profissionais que supram as


demandas sociais do Estado, as diversas dificuldades das estruturas
físicas, a questão da higiene dos acolhidos, da ausência de integra-
ção social dos acolhidos e falta de instrumentos para ofertar um aten-
dimento de excelência, acarreta a desmotivação de um atendimento
mais humanizado, são alguns relatos e cobranças ao gestor público
do Estado de Roraima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância de políticas públicas para a terceira idade, na rede


cidadania melhor idade, município de Boa Vista, Estado de Roraima,
foi observada com o estudo do CRI – RCMI, sendo ainda na atualida-
de, o serviço de maior visibilidade no Governo de Roraima, ao que se
refere à atenção especializada ao idoso, sua família e comunidade,
mesmo diante do curto período de existência concreta e dos desafios
comuns a todo o processo de implantação e estruturação de um ser-
viço de tamanha proporção, o mesmo consegue atingir os objetivos
qualitativos e metas a que se propõem, evidentemente que desafios a

149
serem superados existem e novos surgirão sempre, no entanto, inte-
resse, disponibilidade e dedicação são características principais dos
servidores que compõem a equipe do CRI, que juntamente com os
idosos autônomos e participativos são capazes de planejar e executar
ações diversas a fim de garantir a expansão quantitativa e qualitativa
do serviço, promovendo a qualidade de vida e a proteção social neces-
sária à população idosa deste Estado.

Entre as estratégias e políticas públicas possíveis para aprimo-


ramento do CRI é possível citar a ampliação da capacitação e qualifica-
ção dos profissionais envolvidos na política de assistência social e do
idoso; a contratação de profissionais por concurso público, garantindo
SUMÁRIO os direitos trabalhistas e reduzindo as trocas frequentes de gerência e
servidores e maior articulação com instituições parceiras para estabe-
lecimento de novos serviços.

Outrossim, esperasse que o Governo de Roraima mantenha o


olhar sensível sobre a população idosa e suas necessidades e estabe-
leça um gerenciamento com o objetivo de expandir, ampliar e qualificar
o serviço existente, tudo isso perpassando por um controle das efeti-
vações das políticas públicas implementadas para esse público idoso.

Por fim, a pesquisa realizada, obteve êxito, mesmo com os re-


sultados apresentados, pois servirá para os colaboradores e comuni-
dade acadêmica, como material científico para futuras melhorias na
rede cidadania melhor idade, em novas reavaliações das prestação
de serviços, em análises, se a Instituição atende às demandas locais
do público idoso, conjuntamente, contribuindo com uma mudança na
postura dos atores da rede cidadania melhor idade, quais sejam, o
público idoso, os gestores públicos, os órgãos de controle e de fiscali-
zação, tendo em vista, que há a necessidade de condutas mais apela-
tivas e presentes para o monitoramento das políticas públicas sociais
que efetivam os direitos dos idosos de Boa Vista – Roraima.

150
REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro: ABNT, 2002.
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BRASIL. DECRETO Nº 1.948, DE 03 DE JULHO DE 1996.
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LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica:
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Lima, Luciana Leite. Políticas públicas, gestão urbana e desenvolvimento
local / Luciana Leite Lima e Luciano D’Ascenzi. - Porto Alegre:
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MENY, Yves; THOENIG, Jean-Claude. Politiques Publiques, Paris, Presses
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metodo-e-criatividade. acesso em: 01/03/2021.
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e Jefferson Ney Amaral; coordenação de Ricardo Wahrendorff Caldas – Belo
Horizonte: Sebrae/MG, 2008. 48 p.
POLÍTICAS PÚBLICAS: Conceitos e práticas / supervisão por Brenner
Lopes e Jefferson Ney Amaral; coordenação de Ricardo Wahrendorff Caldas
– Belo Horizonte: Sebrae/MG, 2008. 5 p. Disponível em: http://www.mp.ce.
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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2001.

152
7
Capítulo 7

Gestão Urbana: Uma revisão bibliográfica sobre


a importância do Plano Diretor Municipal

Adriana da Silva Moura

Sellys Nara da Silva Araújo

Murilo Roberto Jesus Maganha

Adriana da Silva Moura

Sellys Nara da Silva Araújo

Murilo Roberto Jesus Maganha

Gestão urbana:
uma revisão bibliográfica
sobre a importância
do Plano Diretor Municipal

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.7
SUMÁRIO

Resumo:
Esse trabalho tem como objetivo revisar bibliografias sobre a importância do
plano diretor para os municípios, e justifica tal pesquisa, pois muitas cidades
enfrentam dificuldades no controle do desenvolvimento espacial por não ter
uma gestão adequada com base em diretrizes e instrumentos específicos de
gestão urbana, diante dessa problemática é fundamental entender a realidade
local para ser possível planejar adequadamente a gestão da expansão muni-
cipal. Para o desenvolvimento metodológico, optou-se por uma pesquisa de
natureza qualitativa/ descritiva por meio de consultas bibliográficas na base
dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico e sites es-
pecializados na temática. Neste trabalho serão apresentadas reflexões sobre
a importância e eficácia do plano diretor, como ferramenta de planejamento
urbano, mencionando suas características e surgimento, bem como seu pro-
cesso de elaboração e ressaltando a importância da participação comunitária
na sugestão de propostas significativas que representem os anseios econômi-
co e sócio ambiental da sociedade.

Palavras-Chave: Gestão urbana; Plano Diretor; Expansão Territorial; Revisão


bibliográfica.

154
INTRODUÇÃO

O plano diretor é uma importante ferramenta no auxílio da orde-


nação territorial e desenvolvimento do município, este visa o bem-es-
tar da população, o desenvolvimento econômico e as funções sociais
das cidades, nos termos que dispõem a Constituição Federal e o
Estatuto da Cidade.

O plano diretor possibilita o desenvolvimento econômico e so-


cioambiental para os municípios, pois suas ferramentas auxiliam na
Política de Desenvolvimento e Planejamento Territorial, juntas ocorrem
SUMÁRIO em desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental, tornando
os municípios um ambiente de inclusão.

A iniciativa do trabalho se deu mediante a necessidade de rea-


lizar um estudo bibliográfico sobre as características do Plano Diretor
na Gestão Pública e as dificuldades pelas quais passam os municípios
em expansão que não o possuem, ressaltando a importância da sua
construção para regulamentar o planejamento territorial.

O referido trabalho pretende elucidar questões que se apresen-


tam como dificuldades enfrentadas na gestão municipal em cidades
que não possuem o plano diretor, e com a ideia de transformação e
da importância de estruturar o crescimento e o desenvolvimento das
cidades em expansão de maneira organizada.

Foi realizada uma revisão literária sobre o plano diretor com


aprofundamento teórico conceitual do objeto de estudo, enfocando
autores que discutem aspectos ligados ao planejamento urbano, mos-
trando os processos de elaboração do plano diretor, discorrendo sobre
a Constituição Federal que estabelece em seu artigo 30 que é compe-
tência do poder público municipal a execução das políticas públicas,
de modo a ordenar o pleno desenvolvimento das funções da cidade e

155
de assegurar o bem estar de seus habitantes garantindo a participa-
ção da população em todas as etapas de elaboração do plano diretor
e nesse contexto corroborar a sua importância no fortalecimento da
política de desenvolvimento da esfera municipal.

Muitas são as dificuldades enfrentadas pelos municípios que


não possuem o plano diretor, e no que implica a falta deste nas ativi-
dades econômicas de pequenos empreendimentos comerciais, indus-
triais e de serviço e para atividades informais, tornando-se um grande
obstáculo para a gestão democrática de um município.

Como questão de pesquisa esse trabalho verificará, a partir da


SUMÁRIO literatura, qual a importância do plano diretor na gestão municipal, e
suas características principais? Este estudo tem como principal ob-
jetivo realizar uma revisão da literatura sobre a importância do plano
diretor na gestão pública, bem como, destacar a eficácia do plano
diretor, como ferramenta de planejamento urbano, mencionando suas
características e surgimento, bem como seu processo de elaboração
e ressaltando a relevância da participação comunitária na sugestão de
propostas significativas para o desenvolvimento municipal.

O próximo tópico da pesquisa apresenta os aspectos do méto-


do de pesquisa utilizado. Posteriormente, são tratados a revisão teóri-
ca, onde compõe e é desenvolvida a literatura específica da temática
proposta, a partir dos objetivos levantados e da questão de pesquisa,
por fim, são delineadas as considerações finais.

METODOLOGIA

O desenvolvimento deste trabalho quanto aos procedimentos


adotados para coleta de dados tem como base uma pesquisa biblio-
gráfica realizada em produções acessadas na base de dados SCIELO

156
(ScientifC Eletronic Library Online) e Google Acadêmico, e como fonte
secundária os livros da área de gestão urbana. Segundo Marconi e
Lakatos (2003, p.183) esse tipo de pesquisa “abrange toda bibliografia
já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, te-
ses, materiais cartográficos, etc.”.

A pesquisa bibliográfica tem como objetivo mostrar aos leito-


res informações relevantes para melhor entendimento sobre o assunto
abordado, para Oliveira (2005) o objetivo dela é colocar o leitor em
contato com o que já foi escrito sobre o tema.

SUMÁRIO Quanto aos objetivos trata-se de uma pesquisa exploratória pois


propicia mais intimidade com o assunto gerando conhecimento, se-
gundo Gil (2019) a pesquisa exploratória tem como propósito propor-
cionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses.

Quanto ao método e forma de abordar o problema é classificada


como uma abordagem qualitativa, pois analisa os dados através da
não utilização de estatística, segundo Oliveira (2005) é um processo
de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e
técnicas para a compreensão detalhada do objeto de estudo em seu
contexto histórico e/ou segundo sua estruturação.

A finalidade da pesquisa bibliográfica é destacar, resumir e com-


parar as ideias já formuladas por outros autores, descrever a evolução
de conhecimentos sobre o tema mostrando as contradições e concor-
dâncias, e assim tecer críticas e elogios fundamentados salientando o
quanto a pesquisa contribui para o avanço do aprendizado.

157
REVISÃO TEÓRICA

Histórico da Política
Urbana no Brasil

As cidades são locais atrativos para uma grande parcela da


população, muitos optam por elas em busca de qualidade de vida,
e diante da alta demanda os centros urbanos necessitam de mais
construções habitacionais, comércios, indústrias e espaços de lazer,
como praças e parques. “O processo de urbanização no Brasil se ini-
ciou na década de 30 com a efetiva ocupação e posse dos coloniza-
SUMÁRIO
dores portugueses, os aglomerados urbanos tiveram uma aceleração
com a industrialização na década de 60, época que marcou a virada
de um país majoritariamente rural para majoritariamente urbano” (PI-
NHEIRO, 2014, p. 14).

Com o aumento da população na área urbana se intensificou


a segregação socioespacial, a maioria das cidades brasileiras sem
infraestrutura para receber as pessoas vindas do campo e com a ex-
pansão desordenada se consolidou o aumento da irregularidade na
ocupação do solo e a desigualdade social, com surgimento de favelas,
construções em áreas de risco e preservação ambiental. Segundo Pi-
nheiro (2014) para reverter o quadro de irregularidade e desigualdade
é fundamental a ação do poder público com políticas de habitação
que acompanhem o crescimento urbano, e ações de ordenamento e
controle do solo que reduzam a especulação imobiliária e promovam
a inclusão territorial.

A política urbana no Brasil é marcada por algumas fases: a pri-


meira entre 1930 e 1964 que teve como marcos políticos a Revolu-
ção de 1930, a Constituição Federal de 1946 e uma atuação liberal do
Poder Judiciário na interpretação das leis. Foi instituída uma série de

158
Decretos-Leis que tratavam sobre o acesso à terra e à moradia como a
desapropriação, o loteamento e a proteção do inquilino. No fim dessa
época, surgiu um movimento que defendia a Reforma Urbana como
meio para a justiça social na cidade exaltando o direito à moradia.

O segundo período teve início com o Golpe Militar de 1964 e foi


marcado pela centralização de decisões e recursos, pelo estreitamen-
to do pacto político e pela tutela do governo central sobre os estaduais
e municipais. Nessa fase foram criados alguns mecanismos para tratar
sobre a gestão urbana entre eles o Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo (SERFHAU), criado pela Lei nº 4.380, o Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Urbano (CNDU), que disseminou nos anos de
SUMÁRIO 1970 o modelo de planejamento urbano tecnocrático como solução
para os problemas das cidades. As atribuições do SERFHAU visavam
promover pesquisas e estudos sobre o déficit habitacional, aspectos
do planejamento físico, técnico e socioeconômico da habitação, até
assessorar os municípios na elaboração ou adequação dos seus pla-
nos diretores (VIZIOLI, 1998; MOTA, 2007).

Segundo Pessoa (1982), as medidas criadas pelo governo fe-


deral, nesse período, para resolver o problema habitacional brasileiro
representaram um grande retrocesso no avanço que se produzia na
sociedade. Como agravante os prefeitos tutelados e ameaçados pela
Lei de Segurança Nacional não tinham como ampliar as fronteiras do
uso social da propriedade.

Uma das marcas deixada pela segunda fase foi a elaboração


de Planos Diretores municipais aos quais foi vinculada a liberação de
recursos federais, época de muito planejamento e recurso para resol-
ver o “caos urbano”. No entanto, havia grande desconsideração das
especificidades dos municípios na elaboração de planos tecnocráticos
alienados da realidade, esse panorama influenciou o crescimento das
favelas e dos loteamentos ilegais. “Todas estas iniciativas causaram

159
o aprofundamento do fosso que separa o mercado imobiliário legal
daqueles que não têm acesso a ele” (MARICATO, 2008, p. 96).

Um terceiro período teve início no final dos anos de 1980, por


meio de intensas mobilizações sociais pela redemocratização do país,
tendo como marcos a Constituição Federal de 1988 que fortaleceu o
poder local delegando aos municípios a autonomia e a responsabilidade
pela formulação e gestão da política urbana “[...] que deverá ter por ob-
jetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da Cidade
e garantir o bem-estar dos seus habitantes” (BRASIL, 1988, art. 182).

A política de urbanização brasileira avançou ao regulamentar a


SUMÁRIO Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, o Estatuto da Cidade, instrumen-
to voltado para o planejamento municipal. De acordo com Carvalho
(2001, p. 131), “regulamentou os principais institutos jurídicos e políti-
cos de intervenção urbana”. Essa Lei:
[...] estabelece normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo,
da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equi-
líbrio ambiental (BRASIL, 2001, art. 1º, parágrafo único).

O Estatuto estabelece as novas regras, oferece os instrumentos


para organizar a cidade e tem como fundamentos o direito à cidade
e à cidadania, o atendimento das funções sociais da propriedade, a
gestão democrática e o reconhecimento da informalidade territorial.
A nova lei tem quatro dimensões fundamentais, quais sejam:
consolida um novo marco conceitual jurídico-político para o
Direito Urbanístico; regulamenta e cria novos instrumentos
urbanísticos para a construção de uma ordem urbana social-
mente justa e includente pelos municípios; aponta processos
político-jurídicos para a gestão democrática das cidades; e
propõe instrumentos jurídicos para a regularização fundiária
dos assentamentos informais em áreas urbanas municipais
(FERNANDES, 2002, p. 8).

160
Dentre as inovações do Estatuto da Cidade está à obrigatorie-
dade da elaboração de um plano diretor participativo para as cidades
com mais de 20 mil habitantes, municípios integrantes de regiões me-
tropolitanas e aglomerações urbanas, ou integrantes de áreas de es-
pecial interesse turístico e localidades inseridas nas áreas de influência
com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.

Mais recentemente, em 2003 o governo federal criou o Ministério


das Cidades, a quem compete o desenvolvimento da política urbana e
das políticas setoriais de habitação, saneamento ambiental, transporte e
mobilidade. Após a criação do Ministério se fortaleceu o movimento dos
planos comprometidos com a implementação do Estatuto, foi proposto e
SUMÁRIO difundido o Plano Diretor Participativo (PDT), Cidades para Todos. O mes-
mo direcionava a inclusão territorial, justiça social e gestão democrática.

O Plano Diretor

A Constituição Federal, em seu artigo 182, determina que a po-


lítica de desenvolvimento urbano seja executada pelo Poder Público
Municipal conforme diretrizes gerais citadas em lei, objetivando utilizar
de sua instrumentalização para obter o pleno desenvolvimento das fun-
ções sociais do município e garantir o bem-estar de seus habitantes.
Devendo, até certo ponto, manter regularidade com modelos de pla-
nos diretores desenvolvidos em outras cidades brasileiras, sem des-
considerar as particularidades locais.

O Estatuto da Cidade surge com a função de instrumentalizar


a nova ordem jurídica urbanística do país, de contornos sociais, bus-
cando conceder o direito a uma moradia de qualidade, assim como,
ao desenvolvimento social, econômico e sustentável das cidades, de
forma a conservar a sociedade presente e futura (CASIMIRO, 2008). Ele
reafirma os princípios básicos estabelecidos pela Constituição Federal,

161
preservando o caráter municipalista, a centralidade do plano diretor
como instrumento básico da política urbana e a ênfase na gestão de-
mocrática (CARVALHO, 2001). A propriedade urbana cumpre sua fun-
ção social quando atende às exigências fundamentais de ordenação
da cidade contidas no plano diretor.

O plano diretor já existia antes mesmo do Estatuto da Cidade,


por exemplo, com o Plano Agache elaborado para o Rio de Janeiro em
1930. Porém, foi através do Estatuto da Cidade que o plano diretor veio
a se tornar instrumento básico e imprescindível da política de desenvol-
vimento e expansão urbana dos municípios, permitindo que estes es-
tabeleçam metas e programas que garantam sua função social (IBGE,
SUMÁRIO 2006). Inicialmente os planos eram vistos como documento de caráter
exclusivamente técnico e que visava primordialmente projetar e desen-
volver a imagem da cidade futura, com construções de vias e avenidas.
Correspondendo a um conjunto de regras básicas do uso e ocupação
do solo, para orientação e regulação da ação dos agentes sociais e
econômicos sobre o território de todo o município, definindo estraté-
gias e objetivos a serem alcançados em períodos predeterminados.

O plano diretor veio a integrar fatores políticos, econômicos, fi-


nanceiros, sociais e territoriais, sendo um espaço de debate sobre as
estratégias de intervenção na cidade, no qual a participação direta dos
cidadãos passou a ser obrigatória, devendo ser estimulada pelo poder
público (ESTATUTO DA CIDADE, 2002).

As diretrizes do Estatuto da Cidade devem ser utilizadas pelo


município de acordo com as características locais. Isto é feito através
do plano diretor, que “é o instrumento básico da política de desenvol-
vimento e expansão urbana” do município (Estatuto da Cidade, artigo
40). O plano diretor é a base do planejamento do município, cabendo
a ele a tarefa de articular as diversas políticas públicas existentes, fa-
zendo-as convergir para uma única direção.

162
Principais características
do Plano Diretor

O plano diretor tem características peculiares, que levantam


questões sobre a distribuição equilibrada dos riscos e benefícios da
urbanização desenfreada e a partir de um estudo conduz um desen-
volvimento personalizado mais inclusivo e sustentável.

Conforme Donali (2020) existem seis características peculiares


do plano diretor:

5. Obrigatoriedade: o plano diretor não é obrigatório em todos os


SUMÁRIO
municípios, mas ele passa a ser quando a cidade possui acima
de 20 mil habitantes. A opção de ter o plano diretor pode ser
levada em consideração, principalmente quando a população
se organiza para apresentar ideias de um planejamento e planos
de ação, ao poder executivo;

6. Criação: são três frentes que levarão à diante sua criação, o po-
der executivo (prefeitura municipal), o poder legislativo (câma-
ra dos vereadores) e a população. É necessária a participação
efetiva da população, para que o plano diretor seja feito com a
realidade do município, de tal forma que, tenham expectativas
de melhorias;

7. Execução: ele é executado em cidades integrantes de regiões


metropolitanas, integrantes de áreas turísticas e também é inse-
rido em áreas com alto impacto ambiental, como por exemplo,
cidades que comportam aeroportos, rodovias e hidroelétricas.

8. Alcance: tendo o plano constituído na cidade, ele deve alcançar


todo o território municipal, sem restrições de bairros e localida-
des, sendo elas zona urbana ou rural;

163
9. Revisão: a partir da sua implementação e planejamento estratégi-
co, o plano deverá ser sempre revisado, por pelo menos, a cada
dez anos, porém deve ser algo que venha a trazer benefícios para
o município, automaticamente para todos os cidadãos;

10. Acesso à informação: está garantida por lei a promoção de au-


diências públicas e debates com a população e associações
representativas das comunidades, assim como o acesso de for-
ma transparente às informações, que deverão ser vinculadas ao
site da prefeitura.

Diante de tais peculiaridades observa-se que algumas de suas


SUMÁRIO características são a imperatividade, já que suas normas são impositi-
vas para o município e para os particulares; a defesa da função social
da propriedade, conforme a Constituição Federal de 1988, e a obriga-
toriedade de sua aplicação. Além disso, o plano diretor é fundamental
para que o município possa regular o mercado imobiliário e para que
possa aplicar alguns instrumentos da política urbana.
O plano diretor municipal estabelece a estratégia de desenvol-
vimento territorial, a política municipal de ordenamento do ter-
ritório e de urbanismo e as demais políticas urbanas, integra
e articula as orientações estabelecidas pelos instrumentos de
gestão territorial de âmbito nacional e regional e estabelece o
modelo de organização espacial do território municipal. (COR-
REIA, 2008, p. 352).

De acordo com Alves Correia (2008), o plano tem função es-


tratégica porque estabelece as opções de desenvolvimento local e é
também regulamentar por que especifica quantitativamente e qualitati-
vamente parâmetros de referência do uso do solo.

Em relação aos princípios constitucionais que norteiam o plano


diretor temos: os princípios da função social da propriedade, das fun-
ções sociais da cidade, do desenvolvimento sustentável, da igualdade
e da justiça social e da participação popular (SAULE JUNIOR, 2002).

164
O princípio da função social do município pressupõe que as
medidas estabelecidas no plano diretor devem equilibrar o desenvol-
vimento econômico e o desenvolvimento humano e social da cidade.
Neste sentido, o plano diretor teria como objetivo reduzir a desigual-
dade e a exclusão no espaço urbano e promover a justiça social e a
qualidade de vida dos habitantes da cidade.

Quanto à função social da propriedade, o plano diretor deve


definir quando a propriedade cumpre ou não sua função social. O Esta-
tuto da Cidade explicita as seguintes diretrizes para que a propriedade
urbana atenda sua função social.

SUMÁRIO Art. 2. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno de-
senvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais. VI – ordenação
e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização ina-
dequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos in-
compatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a
edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à
infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou
atividades que possam funcionar como polos geradores de
tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e)
a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua
subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas ur-
banizadas; g) a poluição e a degradação ambiental. (BRASIL,
2001, art. 2º, inciso VI).

Saúle Júnior (2002) destaca que para a propriedade atenderá


sua função social o plano diretor deve ter mecanismos com a finalidade
de: democratizar o uso, a ocupação e a posse do solo urbano; promo-
ver a justa distribuição dos ônus decorrente de obras de infraestrutura
urbana; recuperar para a coletividade a valorização imobiliária decor-
rente da ação do poder público; gerar recursos para o atendimento
da demanda de infraestrutura e de serviços públicos provocados pelo
adensamento decorrente da verticalização das edificações e para im-
plantação de infraestrutura em áreas não servidas; promover o apro-
veitamento dos vazios urbanos ou terrenos subutilizados ou ociosos.

165
Alguns municípios que elaboraram o plano diretor não o colocaram em
prática. A efetiva materialização do plano diretor depende de políticas
públicas. Estas, por sua vez, dependem da capacidade de mobiliza-
ção dos diversos atores sociais: ONGs, movimentos sociais, sindica-
tos, legislativo e executivo.

O plano diretor não deve ser visto como um plano de governo,


que representa a visão do Prefeito e sim traduzir os anseios de todos
os cidadãos sobre o desenvolvimento municipal.

Processos de elaboração
SUMÁRIO do Plano Diretor e relevância
da participação comunitária
na sugestão de propostas

O Estatuto da Cidade dedica o capítulo IV à gestão democrática


do município e designa que as diretrizes da política urbana devem ser
exercidas mediante participação popular através de associações que
representam os segmentos da comunidade durante as fases de criação,
execução e supervisão de planos, programas e projetos de expansão
urbana. Neste sentido, o texto constitucional garante a participação po-
pular para a instituição do plano diretor e para a fiscalização de sua
implementação. O Estatuto em seu parágrafo 4º do art. 40 garante:
I- A promoção de audiências públicas e debates com a parti-
cipação da população e de associações representativas dos
vários segmentos da comunidade;

II- A publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III- O acesso de qualquer interessado aos documentos e infor-


mações produzidas.

166
Após a legitimidade do Estatuto uma nova concepção de plano
diretor passou a ser aplicada, embasada na gestão participativa evi-
denciando a importância da formulação de políticas urbanas pautadas
na participação social, com avanços na adoção de iniciativas inclusivas
e dialogadas no planejamento territorial, de modo a fortalecer a gestão
democrática, a promoção do direito de uso e apropriação e sua função
social. Proporcionando o “[...] respaldo jurídico para planejamento e
gestão democráticos das cidades [...]” (ANTONELLO, 2013, p. 242).

O Ministério da Cidade sugeriu processos com etapas para a


elaboração do Plano Diretor Participativo, que deveriam ser elaborados
e acompanhados pelas equipes técnicas e pelos munícipes. Dentre
SUMÁRIO elas a etapa preparatória que compreende a constituição do Núcleo Di-
retor, a capacitação dos envolvidos, o lançamento e divulgação do pro-
cesso; A segunda é elaboração do Plano que abrange a leitura técnica
e comunitária da realidade do município, a formulação de estratégias
e instrumentos para ações, a construção do pacto e o projeto de Lei;
A terceira refere- se a aprovação da Lei em discussão na Câmara; A
quarta etapa é a implementação de projetos e ações; A quinta e última
etapa é a gestão do Plano, ou seja, o monitoramento do que está ou
não sendo executado e sua eficácia.

Segundo Pinheiro (2014) as etapas do planejamento estão inter-


ligadas propiciando que o plano expresse o pacto da sociedade sobre
o projeto de desenvolvimento do município a fim de que a cidade e
cada parte do seu território cumpram a sua função social em benefício
de todos. Após apresentar e discutir as propostas em audiências pú-
blicas, o projeto de Lei deve ser tramitado na Câmara Municipal e caso
aprovado será sancionado pelo prefeito. A implementação deve ser
monitorada e avaliada pelos envolvidos do Núcleo Gestor, e se preciso
devem ser propostas mudanças necessárias.

De acordo com a Resolução nº 25 do CONCIDADES, é de suma


importância que a coordenação do processo de elaboração do plano

167
diretor seja compartilhada entre o Poder Público e a sociedade civil.
Todos os setores sociais devem ter representantes no Núcleo Gestor,
pois é nessa etapa que se determina a hierarquia das ações que serão
realizadas, e consequentemente as agendas de desenvolvimento prio-
rizando os aspectos mais relevantes.

Na maioria das cidades do Brasil, a área urbanizada é fragmen-


tada e complexa, dessa forma requer que seus gestores levem em con-
ta esta realidade, tanto no planejamento econômico quanto no social.
O espaço urbano é caracterizado por sua diversidade, atuando na sua
produção, destacando-se diversos atores, segundo Carrera (2005), os
proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os
SUMÁRIO promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos.

A elaboração do planejamento participativo reflete a realidade


de cada cidade, a participação da massa comunitária dá legitimidade
ao processo de elaboração, estimula os indivíduos a tomar consciência
de seus problemas reais, canaliza os conflitos de interesses particula-
res e predomina os interesses da maioria. De acordo com PINHEIRO
(2014) o plano diretor deixa de ser um documento técnico elabora-
do por especialistas e passa a ser um processo político, dinâmico e
participativo, que mobiliza a sociedade para discutir e estabelecer um
pacto sobre o projeto de desenvolvimento do município.

Embora esteja previsto no Estatuto instrumentos que possibili-


tem um planejamento democrático, os mesmos [...] por si sós não são
suficientes, para fazer falar muitos cidadãos que, ao longo dos anos,
introjetar atitudes de submissão, ou foram longa e duramente discrimi-
nados socialmente (ROLNIK et al., 2005).

Produzir processos verdadeiramente participativos é desafiador


e de muitos obstáculos, demanda conhecimento e consciência dos
envolvidos, organização, vontade, transparência e ações políticas con-
cretas que mude a realidade. A ausência de participação comunitária

168
é um dos principais fatores de insucesso de planos, programas e pro-
jetos que, segundo Cornelly (1980, p. 30), “[...] mesmo os tecnicamen-
te mais sofisticados, correm o risco de dormir um sono plácido nas
prateleiras ou atender apenas exigências de governos centralizados”.

De caráter plurianual, segundo o Estatuto, os planos diretores


devem englobar o município como um todo e definir prioridades e
diretrizes orçamentárias, precisam ser revistos no máximo a cada 10
anos. A gestão do mesmo é fundamental para manter as ações liga-
das à realidade local. Podem ser realizadas conferências municipais
que avaliem e atualizem o plano, e é imprescindível a continuidade do
processo de capacitação de atores locais.
SUMÁRIO

Eficácia do Plano Diretor


como instrumento de desenvolvimento
territorial, econômico e socioambiental

As cidades impactadas pela expansão desordenada sofrem


consequências na questão ambiental, social e econômica, geralmen-
te chega a ser uma situação insustentável. Em meios aos inúmeros
impactos negativos destacam- se a degradação ambiental, a falta de
infraestrutura e baixa qualidade de vida, o aumento da informalidade,
e consequentemente o surgimento de favelas. De acordo com Pinheiro
(2014) esse modelo, marcado pela expansão infinita e pela insustenta-
bilidade social, econômica e ambiental torna cada vez mais conflitante
a convivência nas cidades.

Rolnik (1997) afirma que dificultando a explicitação de forças


e setores excluídos da legalidade, a regulação acaba contemplando
aqueles que já estão contemplados, ou seja, a minoria de alta renda.
Assim sendo a legislação desagrega o modelo ideal de zoneamento
e a cidade real, ocasionando negociatas, corrupção e construção de

169
currais eleitorais, e viabiliza a obtenção de equipamentos e infraestru-
tura, para aqueles que estão à margem da lei.

No contexto de expansão urbana desordenada, as ações dos


governos são fundamentais para combater o avanço das desigualda-
des sociais. O plano diretor municipal, instrumento básico da política
urbana, a ser elaborado e executado de forma participativa, possibilita
a articulação com outros instrumentos de planejamento, financiamento
e gestão pública.

De acordo com o artigo 182 da Constituição, a política urbana


é responsabilidade do município e deve garantir as funções sociais
SUMÁRIO da cidade e o desenvolvimento dos cidadãos. O mesmo artigo es-
tabelece que o plano diretor municipal é o instrumento básico do or-
denamento territorial urbano e deve definir o uso e as características
de ocupação de cada porção do território municipal, fazendo com
que todos os imóveis cumpram sua função social. O artigo 183 trata
da aquisição da propriedade pelo ocupante de imóvel urbano que
a utiliza para sua moradia ou de sua família, garantindo o direito de
propriedade àquele que, de fato, dá a ela uma destinação compatível
com sua vocação legal (Brasil, 1988).

O plano diretor se orienta por três eixos, o da inclusão territorial


que busca assegurar aos pobres o acesso à terra urbanizada e bem
localizada, incluindo a segurança da posse da moradia. O da justiça
social que implica em uma distribuição mais justa dos custos e dos
benefícios do desenvolvimento urbano. E o eixo da Gestão democrá-
tica que propõe uma participação cidadã na concepção, execução e
fiscalização da política urbana.

Para Goulart, Terci e Otero (2015), o plano é peça chave para


o enfrentamento do quadro de desigualdade urbana, irregularidades
fundiárias, segregação socioespacial e degradação ambiental, desde
que elaborado e executado de forma eficaz. Embora o plano diretor já

170
existisse antes do Estatuto da Cidade, suas formas de elaboração fo-
ram aprimoradas, evoluindo de um formato mais burocrático e tec-
nocrático para uma prática com ampla participação da população e
atuação da sociedade civil organizada, especialmente dos movimen-
tos sociais envolvidos com a reforma urbana.

Todos os municípios deveriam elaborar seus planos (mesmo


aqueles que não são obrigados) adaptados às suas condições e es-
pecificidades, com a devida legitimidade política, dada pela partici-
pação e envolvimento da sociedade civil local em sua elaboração e
execução, e propiciar debates e negociações de natureza política
entre interesses conflitantes, muitas vezes antagônicos como os do
SUMÁRIO setor imobiliário, ambientalistas e movimentos populares. O plane-
jamento territorial gera uma gestão da valorização imobiliária e do
combate à especulação imobiliária.

O planejamento tecnocrático se torna obsoleto diante das ações


de planejamento dos governos e da sociedade organizada baseadas
nas diretrizes do Estatuto, este último além de controlar os processos
de ocupação, de uso do solo e o desenvolvimento urbano, orienta para
a democratização do acesso à terra urbana e para a redução das de-
sigualdades, da segregação e da degradação do meio ambiente. A
terra urbana ao cumprir sua função social, passa a servir os interesses
coletivos em detrimento dos individuais, estimulando a integração da
população no território.

A eficácia do plano dependerá, especialmente, da atitude e do


compromisso da administração pública, para que sua operacionaliza-
ção se faça no respeito às diretrizes e às ações acordadas. E, é claro,
da vigilância da sociedade local.

171
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo de realizar uma revisão da literatura sobre a im-


portância do plano diretor na Gestão Pública, pode-se notar durante
a abordagem uma evolução no processo de urbanização no Brasil,
passando por uma visão apenas técnica- científica para uma percep-
ção política democrática e participativa. Com a redemocratização do
país, o Movimento Nacional de Reforma Urbana, conseguiu inserir na
Constituição de 1988 um capítulo voltado para a expansão urbana e o
papel social da cidade. Posteriormente o Estatuto da Cidade veio rea-
firmar os princípios da política urbana estabelecidos na Constituição,
SUMÁRIO
preservando o cunho municipalista, a centralidade do plano diretor e o
destaque na gestão democrática.

É fato que a criação de um plano diretor colabora com a gestão


municipal, pois proporciona a todos os munícipes os direitos relaciona-
dos ao bem estar e conforto, assim como o usufruto da infraestrutura,
do lazer, do meio ambiente, da segurança pública, do acesso à edu-
cação, a saúde e aos serviços públicos em igualdade de condições.

A promoção de políticas públicas em relação ao planejamento


e a gestão urbana, pode contribuir para transformar a realidade e mi-
nimizar as cisões da sociedade, a mobilização pela garantia de uma
organização territorial adequada deve ser contínua e coletiva, o poder
público e a sociedade em geral podem juntos construir cidades bem
desenvolvidas em todos os aspectos.

O atendimento às diretrizes gerais da política urbana, pressupõe,


antes de tudo, um profundo conhecimento da cidade, a articulação e
crescimento das forças sociais favoráveis a mudanças importantes.
É preciso avançar na discussão sobre a gestão das cidades, efetivar
a participação social, em especial os segmentos populares historica-
mente excluídos dos processos decisórios nos programas urbanos.

172
Diante de todo estudo fica como sugestões para futuros tra-
balhos, desenvolver pesquisas empíricas, com abordagem qualitativa,
analisando como as prefeituras municipais têm tratado e desenvolvido
os seus planos diretores. Propor a partir de informações científicas e
outras pesquisas, um plano diretor municipal para a cidade de Rorai-
nópolis/RR, que embora tenha população acima de 20 mil habitantes
e ainda não possui um plano definido e aplicado, comprometendo as-
sim o aprimoramento da gestão territorial do município, e deixando
de cumprir as diretrizes da Lei Federal nº 10.257, de julho de 2001,
denominada Estatuto da Cidade.

SUMÁRIO
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SUMÁRIO

175
8
Capítulo 8

Gestão Pública e Meio Ambiente: análise das ações governamentais


realizadas pela Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR no
âmbito da gestão ambiental entre os anos de 2017 e 2020

Juliana Marques Leitão

Thomé Bayma Oestreicher

Geymeesson Brito da Silva

Juliana Marques Leitão

Thomé Bayma Oestreicher

Geymeesson Brito da Silva

Gestão pública e meio ambiente:


análise das ações governamentais
realizadas pela Prefeitura Municipal
de Boa Vista-RR no âmbito da gestão
ambiental entre os anos de 2017 e 2020

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.8
SUMÁRIO

Resumo:
A gestão pública é fundamental para a sustentabilidade ambiental no mundo
e no Brasil, as profundas mudanças na condução de suas políticas públicas,
tanto pela situação econômica presente quanto pela maior atuação da socie-
dade, têm gerado impactos significativos na vida de todos. As ações propos-
tas e realizadas por gestores públicos, independentemente de sua esfera de
governo e da sua natureza, têm impactado na forma como os órgãos públi-
cos atendem ou não os interesses sociais. A atual conjuntura socioeconômica
brasileira e a roraimense, em particular, indica a imprescindibilidade de uma
gestão pública voltada para resultados, cuja análise das necessidades sociais
traduz uma nova e relevante perspectiva voltada para a qualidade da presta-
ção dos serviços públicos. Diante do exposto, o presente estudo buscou anali-
sar as ações e políticas governamentais realizadas pela Prefeitura Municipal de
Boa Vista - RR no âmbito da gestão ambiental, no quadriênio 2017-2020. Por
meio desta pesquisa busca-se contribuir para o aperfeiçoamento da gestão
pública na área ambiental de Boa Vista, oportunizando um aprofundamento na
atuação e nos resultados alcançados para os gestores públicos, levando aos
órgãos de fiscalização, aos estudantes e profissionais da área, e a sociedade,
informações sobre a efetividade das políticas públicas implementadas no âm-
bito da gestão ambiental entre os anos de 2017 e 2020.

Palavras-Chave: Gestão Pública; Sustentabilidade Ambiental; Boa Vista; Roraima.

177
INTRODUÇÃO

O mundo passa por constantes transformações, mas atualmen-


te a dinâmica desse processo vem acontecendo de forma mais inten-
sa. Ao observar as alterações, percebe-se que o meio ambiente vem
sofrendo com os impactos negativos das transformações, embora a
sociedade tenha se tornado ecologicamente mais consciente, a de-
gradação ambiental vem aumentando nos últimos anos. E a cada dia
a questão ambiental ganha mais evidência na pauta da Administração
Pública e, de maneira cada vez mais decisiva, impõem severas conse-
quências sobre o futuro da nação, ainda mais com o cenário atual da
SUMÁRIO
conjuntura política e social do país.

Nesse sentido, a sociedade brasileira anseia por mudanças


efetivas sobre essa questão, sendo que no mesmo ambiente encon-
tram-se inseridos os agentes sociais, as organizações, o poder pú-
blico e a população em geral, cada um desempenhando um papel
no sistema, mantendo relações entre si e com o meio ambiente. As
empresas produzem e fornecem bens e serviços aos consumidores,
buscando adaptarem-se ao novo contexto dos negócios frente às al-
terações ocorridas no mundo pela globalização e pelas mudanças no
perfil da sociedade. Enquanto cabe ao Poder Público regulamentar o
uso e consumo dos recursos naturais utilizados na produção, além de
realizar investimentos com a gestão ambiental, no sentido de restaurar
e conservar a natureza, proporcionando um meio ambiente equilibra-
do, essencial ao bem-estar da comunidade.

No entanto, é preciso que a gestão pública passe a encarar o


ecossistema de forma radicalmente diferente do que tem sido feito.
E com o crescimento da consciência ambiental na sociedade, é ne-
cessário utilizar ferramentas corretivas para prezar a harmonia entre o
homem e o meio ambiente, sendo assim, as normas de preservação

178
ambiental assumem o papel complementar de pressionar e regular os
recursos naturais. Para isso, as ferramentas de mensuração do desem-
penho ambiental da gestão pública são de fundamental importância
(AUGUSTO; BRANCO, 2003).

Embora exista uma legislação própria que oriente e imponha


limites mínimos sobre os gastos realizados pelos entes públicos na
área de educação e saúde, não há uma lei exigindo que os Municí-
pios, Estados, União e Distrito Federal invistam na conservação do
meio ambiente. Logo, fica a cargo dos gestores públicos a criação e
a realização de projetos e ações de caráter ambiental e a destinação
de parte dos recursos orçamentários para as atividades envolvendo o
SUMÁRIO meio ambiente. Portanto, os investimentos em gestão ambiental de-
vem ser analisados, mensurados e avaliados de forma a evidenciar se
tais ações geraram benefícios para a população, com os gastos em
conservação, educação e preservação ambiental.

A temática ambiental ganha mais evidência na pauta da Admi-


nistração Pública e, de maneira cada vez mais decisiva, impõem se-
veras consequências sobre o futuro da nação. A sociedade brasileira
anseia por mudanças efetivas sobre essa questão, ainda mais com
o cenário atual da conjuntura política e social do país, pois o meio
ambiente tem como principal característica a interface com as mais
diversas áreas, contribuindo decisivamente para a própria manutenção
da vida no nosso planeta.

Em face de sua relevância, a questão ambiental recebeu trata-


mento privilegiado na Constituição Federal de 1988, e seu artigo 23,
que estabelece como competência comum da União, dos Estados,
dos Municípios e do Distrito Federal, a tarefa de conservar o patrimônio
público, proteger o meio ambiente, combater a poluição, preservar a
fauna e a flora (BRASIL, 2016). Segundo Grateron (1999, p. 2) “a ativi-
dade do setor público deve ser medida e avaliada mediante a utilização
de parâmetros ou indicadores que decorram da eficiência e eficácia”.

179
No Brasil, a administração pública tem se debatido com pro-
fundas mudanças na condução de suas políticas públicas, tanto pela
situação econômica presente quanto pela cada vez maior atuação da
sociedade, gerando impactos significativos na vida de todos. As ações
propostas e realizadas por gestores públicos, independentemente de
sua esfera de governo e da sua natureza, têm impactado na forma
como os órgãos públicos atendem ou não os interesses sociais.

O modelo de gestão pública capaz de enfrentar os desafios


contemporâneos e de atender os anseios da sociedade moderna,
pressupõe em suas ferramentas gerenciais e em seus mecanismos de
administração e exercício do poder político, que sejam cumpridos pre-
SUMÁRIO liminarmente os ideais democráticos e os princípios constitucionais, de
forma a garantir legitimidade e legalidade em suas decisões políticas,
já que vinculam toda a população que transferiu, seja de forma direta
ou indireta, a sua soberania e/ou representação.

Para Arcoverde (2014), o sucesso das políticas públicas depende


do uso eficiente dos recursos públicos e privados para reduzir a desi-
gualdade da distribuição de investimentos e dos benefícios entre regiões
e suas populações e, também, os impactos adversos no meio ambiente
antrópico, físico e biótico. Portanto, o Estado tem o dever de apresentar
os resultados da aplicação dos recursos públicos, não apenas por ser
obrigação legal, mas também para atender ao princípio da moralidade
no qual deve se pautar a gestão pública, conquistando, dessa forma, a
legitimidade de suas ações para o bem comum da sociedade.

Desenvolvimento, meio ambiente e qualidade de vida estão in-


timamente relacionados (TAYRA; RIBEIRO, 2006). Então, avaliar o de-
sempenho das ações governamentais é importante para a sociedade
que poderá cobrar por resultados e exercer o controle social que lhe
é de direito, como também para os gestores públicos, que poderão
tomar conhecimento de novas variáveis que influenciam a efetividade
das políticas públicas, gerando fortes implicações, inclusive sobre o
desenvolvimento econômico e social.

180
A mensuração periódica de determinantes ambientais das cida-
des pode auxiliar na elaboração de leis, metas e estratégias de ações
públicas, no fortalecimento de organizações comunitárias e ambientalis-
tas e no aprimoramento dos serviços públicos. Assim, a disseminação
de informações sobre indicadores ambientais de cidades pode se cons-
tituir em uma importante ferramenta de incentivo aos governos, cidadãos
e entidades no esforço pela transformação social e busca por soluções
direcionadas ao desenvolvimento sustentável e à saúde pública.

Considerando que os indicadores auxiliam nas tomadas de de-


cisão, permitindo um melhor resultado do ente público e que o critério
de efetividade é pouco abordado em pesquisas acadêmicas, surge o
SUMÁRIO seguinte problema de pesquisa: Quais ações governamentais foram
realizadas pela Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR no âmbito da ges-
tão ambiental entre os anos de 2017 e 2020? E partindo desse pres-
suposto, o presente estudo objetiva analisar a efetividade das ações
da Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR no âmbito da gestão ambien-
tal entre os anos de 2017 e 2020. Para alcançar esse objetivo, foram
propostos os objetivos específicos: 1) Discutir as ações da Prefeitura
Municipal de Boa Vista-RR, quanto à gestão pública do meio ambiente;
2) Avaliar as ações da gestão ambiental do Poder Executivo Municipal
de Boa Vista-RR e 3) Analisar o desempenho da gestão ambiental no
Município de Boa Vista-RR.

REVISÃO TEÓRICA

Políticas, Gestão e Meio Ambiente

Para Lima (1999) as questões ambientais têm despertado interes-


se na sociedade à medida que a consciência e a educação ambiental
vêm crescendo, e com isso os cidadãos passaram a exigir dos gestores

181
públicos uma nova postura em relação ao processo de conservação
ambiental. E nesse contexto, a evolução das cidades rumo ao desen-
volvimento saudável e equilibrado exige da gestão municipal resultados
positivos e constantes na dimensão ambiental. Preservar a amplitude
e a qualidade dos recursos ambientais para as próximas gerações e
conservar a biodiversidade e os sistemas de suporte à vida humana são
preocupações que não podem faltar em nenhum programa de governo.

De acordo com a Lei n.º 6.938/1981, que trata da Política Nacio-


nal de Meio Ambiente (PNMA), o meio ambiente é “o conjunto de condi-
ções, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL,
SUMÁRIO 1981). E a Carta Magna, no caput do seu artigo 225, ao estabelecer
que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”,
também atribui ao “Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 2016).

Os gestores públicos enfrentam grandes desafios como garantir


o melhor resultado e o maior benefício possível dos recursos públicos,
e o de convencer a população de sua transparência e a capacidade
de atender as demandas sociais, assim como o uso de adequadas
práticas administrativas. Para atingir a eficiência da gestão pública,
Ribeiro (2006) defende que a mensuração deste desempenho é fun-
damental ter um referencial, um padrão de uma meta definida ou do
melhor desempenho que se conhece, como o benchmarking, que vem
a ser um processo de avaliação de ferramentas gerenciais, na qual se
incorporam as melhores práticas daqueles que atingiram os melhores
desempenhos, incorporando-os aos seus métodos e aperfeiçoando-
-os sempre que possível.

182
Indicadores de desempenho

A cada dia torna-se mais necessário a utilização de ferramentas


de gestão que avaliem o desempenho das instituições, pois averiguar
a efetividade das políticas públicas consiste em verificar o impacto de
suas ações na vida das pessoas às quais tais políticas são destinadas
(TORRES, 2004; CASTRO, 2006; SECCHI, 2013). Por esse prisma, o
termo avaliação refere-se ao ato ou efeito de se atribuir valor qualitativo
ou quantitativo (SILVA; MIRANDA; SILVA, 2017). Já o desempenho diz
respeito aos esforços empreendidos na direção de resultados a serem
alcançados. Assim, o desempenho é estabelecido pela atuação de
SUMÁRIO
um objeto (uma organização, projeto, processo, tarefa etc.) para se
alcançar um resultado (BRASIL, 2009).

Portanto, a avaliação de desempenho dos programas públicos


enseja a possibilidade de avaliar a própria performance do aparelho
estatal (CAIDEN; CAIDEN, 2001). Logo, avaliar o desempenho do se-
tor público consiste em medir o atingimento das metas estabelecidas,
verificando a qualidade dos serviços fornecidos, os resultados (efeitos
reais) e a eficiência da ação governamental (PACHECO, 2009). Seu
propósito é guiar os tomadores de decisão, de modo a orientá-los
quanto à continuidade, correções ou mesmo suspensão de uma de-
terminada política ou programa (COSTA; CASTANHAR, 2003).

Nesse sentido, Figueiredo e Figueiredo (1986) entendem a ava-


liação como sendo a análise e elucidação dos critérios que fundamen-
tam determinada política. Crumpton et al. (2016) destacam que avaliar
envolve julgar valores da política implementada, objetivando melhorias
no processo decisório da esfera pública. Para Trevisan e Van Bellen
(2008), a fase da avaliação de políticas, corresponde à apreciação dos
programas que já tenham sido implementados, buscando avaliar os
impactos por eles provocados, observando se atingiram seus objeti-
vos, ou mesmo se apresentaram efeitos colaterais indesejados.

183
Corroborando com o pensamento explanado alhures, Martins
(1998) cita que “medir, avaliar o desempenho e tomar decisões com
base nessas informações são atividades importantes de um sistema
de gestão”, ou seja, é fundamental que o sistema de medição de de-
sempenho dê suporte para que ações sejam tomadas. Também é
necessário que o processo de medição seja sistemático, pois “quan-
do essa (a medição de desempenho) é feita de forma circunstancial,
pontual e isolada, pode levar a decisões equivocadas e gerar muita
confusão e entropia ao ser utilizada como mecanismo de punição ou
de reconhecimento” (BORTOLIN et al, 2006).

Conforme o Tribunal de Contas da União (TCU, 2011), “um in-


SUMÁRIO dicador de desempenho é um número, percentagem ou razão que
mede um aspecto do desempenho, com o objetivo de comparar
esta medida com metas preestabelecidas”, e como instrumento de
medição, “fornecem informações sobre o resultado da execução da
estratégia, comunicando o alcance das metas e sinalizando a neces-
sidade de ações corretivas sendo, portanto, um teste permanente da
validade da estratégia” (TCU, 2020). Nessa lógica, a corte de contas
brasileira avalia que:
O uso de indicadores de desempenho pelas organizações é
importante para a gestão pública por resultados e possibilita:

a) avaliar qualitativa e quantitativa o desempenho global da ins-


tituição e dos seus principais programas e/ou departamentos;

b) acompanhar o desempenho ao longo do tempo e ainda a


comparação entre: Desempenho anterior x desempenho cor-
rente; Desempenho corrente x padrão de comparação; Desem-
penho planejado x desempenho real;

c) enfocar as áreas relevantes do desempenho e expressá-las


de forma clara, induzindo um processo de transformações es-
truturais e funcionais que permite eliminar inconsistências entre a
missão da instituição, sua estrutura e seus objetivos prioritários;

184
d) contribuir para o processo de desenvolvimento organizacio-
nal e de formulação de políticas de médio e longo prazos;

e) melhorar o processo de coordenação organizacional, a partir


da discussão fundamentada dos resultados e o estabelecimen-
to de compromissos entre os diversos setores da instituição;

f) incorporar sistemas de reconhecimento pelo bom desempe-


nho, tanto institucionais como individuais (BRASIL, TCU, 2011).

Avaliação de Desempenho Ambiental

SUMÁRIO Dentre os requisitos de desempenho avaliados por uma organi-


zação, encontram-se aqueles voltados para objetivos de natureza am-
biental. No entendimento de Reis (1996), o desempenho ambiental de
uma organização indica o estágio atingido no trato das relações entre
todas as facetas das suas atividades e seus riscos e efeitos ambien-
tais significativos. E nesse sentido, Tibor e Feldman (1996) afirmam
que um processo de avaliação de desempenho ambiental consiste em
obter resultados mensuráveis da gestão de aspectos ambientais das
atividades, produtos e serviços de uma organização. A avaliação de
desempenho ambiental seria, portanto, um processo de gerenciamen-
to interno que se vale de indicadores de desempenho para fornecer
informações precisas, de fácil compreensão e verificáveis, para com-
parar a gestão e os resultados do desempenho ambiental passado de
uma organização, com as metas presentes da sua governança e de
seu desempenho ambiental.

A implantação de ferramentas de análise utilizando indicadores


para avaliação do desempenho ambiental nas organizações é impres-
cindível para quantificar o grau de eficiência e eficácia das atividades
de um negócio. Sobre os indicadores ambientais, Rufino (2002) apud
Merico (1997) adianta que estes são usados para se obter um esbo-
ço valioso da qualidade ambiental e dos recursos naturais, além de

185
mensurar as condições e as tendências ambientais com vistas ao de-
senvolvimento sustentável. Para Fiori e Montaño (2007), os indicado-
res ambientais devem possuir capacidade de síntese, alicerçados em
informações confiáveis de modo a poderem ser comparados. Além
disso, devem apresentar a capacidade de permitir relacionar os pro-
blemas com as políticas ambientais a serem definidas, sendo com-
preensíveis pela maior parte de seus usuários.

No entanto, a dificuldade na obtenção de dados é um problema


recorrente, tanto no que se refere à mera disponibilidade dos mesmos,
quanto à sua qualidade. Fernandes et al. (2012) entendem que, apesar
dos avanços consideráveis na formulação de políticas públicas am-
SUMÁRIO bientais, verificam-se várias falhas nas práticas de monitoramento, que
levam insegurança na avaliação da implementação destas políticas,
produzindo óbices na persecução dos objetivos pretendidos, e nesse
sentido apontam que:
Avaliar a gestão ambiental compreende realizar análise sistê-
mica sobre a evolução do processo no tempo e espaço. Pode
ser prospectiva e antecipar a ação, ou concomitante ao próprio
processo de estabelecimento de políticas, acompanhando a
ação, ou ainda pode ocorrer após, realizada pelos próprios ato-
res (autoavaliação) ou por atores externos ao desenvolvimento
das ações analisadas (FERNANDES et al., 2012, p. 134).

Com os resultados dos índices de desempenho ambiental é


possível comparar a performance relativa das políticas públicas volta-
das à área ambiental entre as entidades públicas. Nesse sentido, os
indicadores de desempenho ambiental são uma forma de garantir a
transparência das políticas públicas voltadas para a sustentabilidade.
Vários programas e ações de gestão ambiental podem não ser facil-
mente quantificadas e tornam-se obstáculos que dificultam a tomada
de decisão por parte dos gestores públicos, o que reforça a imperiosi-
dade de periódicas e constantes avaliações do desempenho ambien-
tal. Fiori e Montaño (2007) destacam que:

186
A partir desta avaliação é possível identificar oportunidades
de melhoria, avaliar os riscos, revisar metas e objetivos, co-
municar às partes interessadas e ainda ser fator de alto peso
na tomada de decisão da alta gerência das empresas (FIORI;
MONTAÑO, 2007).

Com a prerrogativa de fiscalizar e controlar os entes públicos


também na dimensão ambiental, os Tribunais de Contas podem e de-
vem desempenhar sua missão constitucional a partir deste novo para-
digma. Portanto, tais cortes de contas têm competência para avaliar a
gestão ambiental dos órgãos públicos em sua acepção mais ampla,
não só em relação à aplicação dos recursos públicos na área am-
biental, mas também os resultados da gestão do meio ambiente, que
SUMÁRIO
integra o patrimônio público na qualidade de bem de uso comum do
povo. Amorim (2017, P. 2) destaca que:
Esses indicadores que ora se propõem podem estabelecer uma
mudança significativa nas futuras fiscalizações dos Tribunais de
Contas. O Índice de Efetividade da Gestão Municipal-IEGM é
uma iniciativa dos Tribunais de Contas do Brasil que visa aten-
der aos anseios da sociedade por melhor acesso e participação
no planejamento, no acompanhamento e na aferição dos resul-
tados alcançados pelas políticas públicas, de modo a avaliar a
sua efetividade, eficácia e eficiência (Art. 37. CF/88).

Quanto ao desempenho ambiental, o objetivo do IEGM é ava-


liar o desempenho dos municípios com indicadores que estabeleçam
uma métrica das ações sobre o meio ambiente que impactam a quali-
dade dos serviços e a vida das pessoas, como exemplo: resíduos só-
lidos, educação ambiental, estrutura ambiental, conselho ambiental,
qualidade da coleta e tratabilidade de esgoto e dos resíduos sólidos
(SÃO PAULO, 2020).

187
METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por uma abor-


dagem qualitativa de caráter descritivo. Para Araújo (2003) apud Cres-
well (2010, p. 43) “a abordagem qualitativa é um meio para explorar e
para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a
um problema social ou humano”. Segundo Roesch (2005), a pesquisa
de caráter qualitativo é apropriada para avaliação formativa, podendo
ser utilizada para melhorar a efetividade de um programa, elencar as
metas e construir uma intervenção.

SUMÁRIO Marconi e Lakatos (2012, p. 21) classificam a pesquisa descri-


tiva em quatro aspectos: “descrição, registro, análise e interpretação
de fenômenos atuais objetivando o seu funcionamento no presente”,
e de acordo com Selltiz (1965) “descrevem um fenômeno ou situação,
mediante um estudo realizado em determinado espaço-tempo”. Utili-
zou-se, também, a pesquisa documental que, para Kripka, Scheller e
Bonotto (2015, p. 57) “é um procedimento que se utiliza de métodos
e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos
dos mais variados tipos”.

Na realização deste trabalho efetuou-se a coleta de dados atra-


vés do estudo de campo, que para Gil (2017, p. 53), é um procedimen-
to que “procura muito mais o aprofundamento das questões propostas
do que a distribuição das características da população segundo deter-
minadas variáveis”. Moresi (2003, p. 9) explica que pesquisa de campo
“é investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um
fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir en-
trevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante
ou não”. Portanto, utilizou-se o questionário, que “é um instrumento de
coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que

188
devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”
(MARCONI; LAKATOS, 2012, p. 98).

Pela metodologia do IEGM, o resultado da avaliação das ações,


programas, projetos e políticas públicas implementadas pela munici-
palidade, é representado por faixas de alcance e por conceitos decres-
centes, com a melhor nota iniciando em “A” que significa um resultado
altamente efetivo, seguindo com “B+”, “B”, “C+”, e finalizando em
“C”, o pior conceito, que se traduz em um baixo nível de adequação,
como consequência do enquadramento dos municípios após a análise
das questões aferidas. Cada faixa é caracterizada da seguinte forma,
conforme pode ser observado no Quadro 1.
SUMÁRIO
Quadro 1 – Notas e critérios de avaliação do IEGM

Nota Faixa Critério


Nota A: Altamente Efetiva IEGM com pelo menos 90% da nota máxima
Nota B+: Muito Efetiva IEGM entre 75% e 89,99% da nota máxima
Nota B: Efetiva IEGM entre 60% e 74,99% da nota máxima
Nota C+: Em Fase de Adequação IEGM entre 50% e 59,99% da nota máxima
Nota C: Baixo Nível de Adequação IEGM menor ou igual a 49,99%

Fonte: Índice de Efetividade da Gestão Municipal – IEGM (SÃO PAULO, 2020).

Na coleta de dados, aplicou-se o questionário pronto do IEGM


(SÃO PAULO, 2020) do índice meio ambiente (i-Amb), elaborado pelo
Instituto Rui Barbosa – IRB, com auxílio dos Tribunais de Contas. Tal
questionário contém perguntas de múltipla escolha e perguntas aber-
tas que permitem uma série de possíveis respostas, “abrangendo vá-
rias facetas do mesmo assunto” (MARCONI; LAKATOS, 2012, p. 103),
no qual buscou-se respostas a uma série de quesitos específicos da
gestão ambiental da Prefeitura de Boa Vista, do quadriênio 2017-2020.

189
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

O Município de Boa Vista, capital do estado de Roraima, pos-


sui área territorial de 5.687,037 km² e situa-se na bacia hidrográfica
do rio Branco, que é afluente da margem esquerda do rio Negro,
um dos principais formadores do rio Amazonas, estando localizada
nas áreas das calhas dos rios denominadas de Pediplano Rio Bran-
co - Rio Negro, cuja extensa superfície aplainada apresenta altitudes
variando de 70 a 160 m.

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-


SUMÁRIO
tica (IBGE, 2021), o município de Boa Vista tem população estimada
em 419.652 habitantes, em 2020, sendo o município mais populoso e
com a maior taxa de urbanização do estado, com densidade popula-
cional de 73,79 hab./km². A capital do estado concentra mais de 66%
da população de Roraima, e ao longo do quadriênio 2017 a 2020 teve
um aumento populacional médio de quase 6,6% e, conforme o IBGE,
Boa Vista foi a capital com maior taxa de crescimento do país, cujos
dados podem ser observados no gráfico que traça a evolução popu-
lacional do município de Boa vista ao longo dos anos de 2017 a 2020,
como demonstrado a seguir.

Gráfico 1 – Evolução populacional do Município


de Boa Vista nos anos de 2017 a 2020

Fonte: IBGE (2021) - https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rr/boa-vista/panorama

190
Nesta pesquisa, utilizou-se dados e informações contidos nas
respostas do questionário do IEGM, que anualmente é aplicado pelo
Tribunal de Contas de Roraima junto aos gestores da Secretaria Muni-
cipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente – SPMA. À vista disso, a
Lei Ordinária nº 1.756, de 20 de dezembro de 2016 (BOA VISTA, 2016),
que definiu a nova estrutura administrativa do Poder Executivo do mu-
nicípio de Boa Vista, estabeleceu em seu artigo 29, dentre outras, as
seguintes competências para a SPMA:
I - […] - Elaborar, monitorar propostas, projetos, ações e polí-
ticas públicas relativas à questão ambiental no Município, bem
como definir critérios e padrões de uso dos recursos naturais;

- Exercer o controle, a fiscalização e o monitoramento das ati-


SUMÁRIO vidades produtivas e dos prestadores de serviço, quando po-
tencial ou efetivamente poluidores ou degradadores do meio
ambiente de abrangência local;

- Promover medidas administrativas e requerer as judiciais ca-


bíveis para coibir, punir e responsabilizar os agentes poluidores
e degradadores do meio ambiente; XVII - Promover a política
nacional de destinação dos resíduos sólidos e efluentes líquidos
no Município;

- Promover a educação ambiental, junto à comunidade;

- Articular-se com órgãos federais, estaduais e municipais, bem


como com organizações não-governamentais e sociedade civil,
para a execução de ações integradas, voltadas à proteção do
patrimônio ambiental, em conformidade com a legislação am-
biental vigente; XVIII - […].

Quanto ao Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos


no Município de Boa Vista, por meio de Sistema de Gestão Sustentável
de resíduos sólidos urbanos, instituído pela Lei Municipal nº 2.004, de
12 de julho de 2019 (BOA VISTA, 2019), que foi regulamentada apenas
dois anos depois, com o Decreto Municipal nº 35-E, de 16 de março
de 2021 (BOA VISTA, 2021), ainda não foi implementado um sistema
de manejo para os resíduos e nem para o tratamento do lixo, na capital
do Estado. Somente as coletas domiciliares diárias realizadas por uma

191
empresa privada, que seguem um calendário pré-determinado para
recolhimento do lixo urbano, nos bairros da cidade, sendo tais resíduos
destinados ao aterro sanitário, que atende a distância mínima dos nú-
cleos populacionais exigida pela norma, que é de 500 metros. Porém,
não foi implementada a coleta para resíduos recicláveis.

Vale salientar que a prefeitura do município de Boa Vista pos-


sui apenas quatro áreas para a destinação de resíduos da construção
civil licenciadas, uma dessas áreas está localizada em Manaus (AM)
e três em Boa Vista, sendo que dois destes locais ficam em áreas
residenciais, de acordo com a plataforma BVResíduos (https://bvresi-
duos.pmbv.rr.gov.br/rcc). E quanto aos transportadores dos resíduos,
SUMÁRIO constam na citada plataforma dezenove empresas cadastradas para
prestação desse serviço. No entanto, ainda não há uma área especí-
fica para destinação de resíduos da saúde, o que aumenta o risco de
contaminação ambiental.

O instrumento normativo que trata do plano Municipal de Sanea-


mento Básico foi instituído pela Lei Municipal nº 482, de 3 de dezembro
de 1999 (BOA VISTA, 1999), mas o plano não apresenta diagnóstico
da situação da prestação dos serviços públicos de saneamento básico
e de seus impactos nas condições de vida da população local, não
contempla mecanismos e procedimentos para a avaliação e monitora-
mento sistemáticos das ações programadas, e nem define uma tarifa
social para serviços de saneamento básico.

Também não há órgão responsável pela fiscalização da qua-


lidade da água na administração pública municipal e, tampouco, o
Conselho Municipal de Saneamento foi implementado. Ainda assim,
98% da população é abastecida por água tratada e 73,3% é abrangida
pelo serviço de coleta de esgotamento sanitário, porém, o sistema de
tratamento e disposição final de resíduos sólidos e de esgotamento
sanitário é antigo e com capacidade limitada, e como está localizado
no perímetro urbano da cidade, não oferece condições para uma am-
pliação da sua capacidade de tratamento.

192
Para os períodos de estiagem, que em Roraima vai dos meses
de outubro a março, o contingenciamento é feito por meio de ações de
combate às queimadas, e quanto a provisão de água potável e de uso
comum para a rede municipal de ensino e Unidades Básicas de Saúde
– UBS, todas possuem cisterna, caixas d’água ou reservatórios próprios.
Entretanto, no quadriênio em análise, não foi elaborado um plano emer-
gencial com ações para fornecimento de água potável à população em
caso de sua escassez. Importa destacar que o município de Boa Vista
não apresentou nenhuma análise de água, no período de 2017 a 2020.

A avaliação da gestão ambiental de Boa Vista, pelo Poder Exe-


cutivo municipal, pela metodologia do IEGM, ao longo dos quatro anos
SUMÁRIO analisados, é bastante insatisfatória, já que em 2017 foi classificado na
pior posição da escala de pontuação, na faixa “C”, considerado como
“baixo índice de adequação”. Nos três anos seguintes a capital de
Roraima, obteve uma pequena melhora em relação ao ano de 2017,
estagnando na penúltima posição da escala com avaliação “C+”, que
se traduz como “em fase de adequação” das suas políticas públicas
de gestão ambiental, como verifica-se no Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2 – Desempenho da gestão ambiental no município


de Boa Vista-RR nos anos de 2017 a 2020

Gestão Ambiental
Prefeitura Municipal de Boa Vista

C+ C+ C+
Avaliação pelo IEGM

2017 2018 2019 2020

Fonte: Portal da Transparência (2021).

193
O mau desempenho da gestão ambiental alcançado pela prefei-
tura da capital está alicerçado na ausência de ações importantes para
garantir a manutenção do meio ambiente equilibrado, como ainda não
ter implementado a coleta para resíduos recicláveis e que a munici-
palidade ainda não definiu uma área adequadamente preparada para
destinação de resíduos da saúde, o que aumenta o risco de contami-
nação ambiental.

Por situar-se na bacia hidrográfica do rio Branco, é de se estra-


nhar que o sistema de gestão ambiental da Prefeitura não apresentou
nenhum documento que continha a análise de água em 2020, de acor-
do com o SISAGUA/Ministério da Saúde – 2020 (https://infosanbas.
SUMÁRIO org.br/municipio/boa-vista-rr/), que é um sistema de informação que
gerencia as informações de qualidade da água, tais como os resulta-
dos de laudos de análise para potabilidade, além dos dados de cadas-
tros dos Sistemas de Abastecimento de Água e Soluções Alternativas
Coletivas e Individuais.

Quanto às áreas para destinação de resíduos da construção


civil, apenas quatro áreas licenciadas como depósitos destes mate-
riais são insuficientes para a imensa demanda por moradias, geradas
pelo estrondoso aumento populacional em Boa Vista provocado, em
grande parte, pelos migrantes vindos, em sua maioria, da Venezuela. E
além disso, dois destes locais licenciados ficam em áreas residenciais
do município, onde o entulho proveniente da construção civil “podem
apresentar resquícios de óleo de maquinários utilizados na construção,
pinturas e asbestos de telhas de cimento amianto, por exemplo, que
são considerados resíduos perigosos” (SPADOTTO; BATISTA, 2014).

194
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo analisou a efetividade das ações da Prefeitura


Municipal de Boa Vista-RR no âmbito da gestão ambiental no quadriênio
de 2017 a 2020, por intermédio de indicadores e da avaliação do desem-
penho ambiental da municipalidade, com base na metodologia do IRB e
dos Tribunais de Contas na aplicação do IEGM. Ao final da pesquisa, ve-
rificou-se que o desempenho da gestão ambiental do município de Boa
Vista foi insatisfatório, alcançando nos anos de 2018 a 2020 o nível “C+”,
que vem a ser apenas a penúltima faixa de classificação do IEGM, e a
nota “C” em 2017, que é o pior nível desse índice. Assim, considera-se
SUMÁRIO
que as ações da Prefeitura de Boa Vista-RR tiveram pouca efetividade,
ao longo dos quatro anos que se focou a pesquisa.

Por se tratar de uma capital de Estado e do município se encon-


trar totalmente inserido num bioma único – o lavrado – nome regional
da região de savanas de Roraima, que é considerado uma das áreas
prioritárias para a conservação da biodiversidade na Amazônia (BRA-
SIL, 2008) e uma das áreas de endemismo da América do Sul (BARBO-
SA et al. 2007), o desempenho do município de Boa Vista com a gestão
ambiental pode ser considerado muito abaixo do esperado.

O processo de criação e elaboração do Plano Municipal de Ges-


tão Integrada de Resíduos Sólidos teve início em 2016, com a partici-
pação de diversos atores e de representantes dos variados segmentos
da sociedade, que se reuniam em audiências públicas e treinamentos
para esclarecimentos acerca da temática. Entretanto, a Lei Municipal
2.004/2019 (BOA VISTA, 2019) que estabelece as diretrizes para a im-
plementação do citado Plano Municipal de Resíduos Sólidos, só entrou
em vigor em 16 de julho de 2019, com sua publicação, sendo regula-
mentada apenas em março deste ano de 2021.

195
E apesar da pandemia de Covid-19, que foi um fator limitante
para o contato direto com boa parte dos gestores integrantes do sis-
tema de gestão ambiental do município e para o aprofundamento das
pesquisas, já no mês de maio de 2021 a Prefeitura de Boa Vista fez
reuniões, apresentando o seu Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos, com intuito de sensibilizar o empresariado local para ado-
ção de práticas ambientalmente sustentáveis, por meio do sistema de
gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos.

É imperioso que a Administração Pública comece a adotar e a


cobrar das organizações públicas e privadas e também dos cidadãos,
práticas sustentáveis, posto que a gestão de resíduos deve ser uma
SUMÁRIO política pública, que envolva uma rede de organizações, com empre-
sas privadas, ONGs, a Administração Pública e, principalmente, a co-
munidade, considerando que muitos benefícios serão gerados na área
ambiental, com manutenção do meio ambiente equilibrado; no aspec-
to social, com geração de emprego e distribuição de renda para os
trabalhadores; no âmbito econômico, com a criação de micro e peque-
nas empresas para segregação, reciclagem, transporte e destinação
dos rejeitos; e também para a sociedade, que usufrui das melhorias
proporcionadas para toda a cadeia produtiva.

O resultado desta pesquisa pode ser usado para reformulação da


política ambiental da Prefeitura de Boa Vista, alertando os gestores pú-
blicos para a importância da aplicação e implementação de indicadores
de desempenho ambiental, de forma a otimizar as práticas de gestão.
E como continuidade do trabalho, sugere-se que anualmente o sistema
de gestão pública ambiental de Boa Vista tenha seu desempenho am-
biental avaliado por indicadores, tais como à metodologia utilizada pela
mensuração do IEGM, de forma a subsidiar novas pesquisas.

196
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200
9
Capítulo 9

Planejamento Governamental Municipal: Uma análise


do Plano Plurianual 2018-2021 das demandas de
saúde pública no Município de Boa Vista-RR

Elida Kayze Nunes Rodrigues

Luciana Silva de Souza

Elida Kayze Nunes Rodrigues

Luciana Silva de Souza

Planejamento
governamental municipal:
uma análise do Plano Plurianual
2018-2021 das demandas de saúde
pública no município de Boa Vista-RR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.9
SUMÁRIO

Resumo:
O planejamento é uma das funções essenciais de Estado, por meio dele que
se define as ações governamentais e o rumo que se deseja para o país, em um
ambiente escasso de recursos. Ao instituir diretrizes, objetivos e metas para
administração pública formam um plano que em conjunto com os aspectos
políticos e técnicos formulam as políticas públicas. A pesquisa objetiva por
meio de uma análise do PPA 2018 – 2021 do município de Boa Vista, referente
aos exercícios 2018 – 2020, avaliar as ações traçadas, bem como as articu-
lações das metas financeiras realizadas para a concretização dos objetivos
estabelecidos. Para realização desse estudo, utilizou-se a pesquisa descritiva,
combinada com um levantamento bibliográfico, que permitiu a coleta de infor-
mações e dados que ajudaram nas conclusões acerca do problema. O resul-
tado alcançado foi a verificação da efetividade das demandas da saúde, de
forma que impactaram o PPA com duas revisões, das quais foram necessárias
para atender as demandas da sociedade.

Palavras-Chave: Gestão Pública; Planejamento Governamental; Saúde Pública.

202
INTRODUÇÃO

Com o processo de mudança acelerado e contínuo, tem-se a


necessidade de uma gestão pública moderna, capaz de solucionar
os problemas da sociedade. As demandas por bens e serviços, exige
que o Estado, enquanto gestor dos recursos, atue de forma eficiente,
eficaz e efetivo na prestação de serviços públicos. Então a busca
de uma administração pública com qualidade e com resultados sa-
tisfatórios é essencial para a elevação da gestão pública no Brasil
(MATIAS-PEREIRA, 2020).

SUMÁRIO Na administração pública ou até mesmo no mundo empresarial,


as mudanças ocorrem de forma aleatória, são reflexos das revoluções
tecnológicas, de gestão e da crise financeira e econômica que estão
presentes, ocasionando efeitos profundos nos países e nas suas eco-
nomias. Sendo assim, nesse processo de mudanças contínuas, os
administradores vêem que é fundamental esforços para desenhar o
futuro, e que o planejamento se faz necessário nesse momento. Por
meio dele que é capaz de definir o futuro (MATIAS-PEREIRA, 2020).

E como definir o futuro? Para um gestor o principal instrumento


que tem em mãos é o orçamento público, por meio deste que o gestor
dá cumprimento às funções e as demandas da sociedade. Torna-se
um instrumento central de gestão, possibilita que o planejamento se
traduza em programas de trabalho, o acompanhamento das ações,
controle dos atos do governo, através da fiscalização e da avaliação
de desempenho (SANTOS,2015).

E como instrumento de controle político, são aprovadas leis or-


çamentárias para que haja o comprometimento do governo perante
a sociedade, o que torna o orçamento público uma norma legal que
se submete ao ordenamento jurídico próprio das leis (SANTOS,2015).
Na lei orçamentária, especificamente, no PPA que constam todos os

203
programas e ações definidas para aquele período, com relação às de-
mandas da sociedade, sejam elas sobre educação, saúde, segurança,
enfim todas as necessidades por serviços.

A análise do PPA 2018-2021, referente aos exercícios 2018-


2020 das ações realizadas pelo município de Boa Vista, no que tange
os programas e ações na área da saúde, serão objeto de investigação
deste artigo. Sendo assim: quais os impactos ocorridos no PPA para
efetividade das demandas da saúde? O artigo tem como objetivo, por
meio de análise do PPA do município de Boa Vista, avaliar as ações
traçadas, bem como as articulações das metas financeiras realizadas
para a concretização dos objetivos estabelecidos.
SUMÁRIO
Conhecer os programas e ações destinados à área da saúde;
identificar se houve alterações para o melhor desempenho das ações
no período de análise; e analisar a efetividade das ações, de acordo
com o estabelecido no PPA municipal, são os objetivos específicos
da pesquisa.

Esse tema tornou-se pertinente para conhecer sobre os pro-


gramas e ações detalhados no escopo do PPA do município de Boa
Vista, e entender como de fato se desenvolve no período de sua vi-
gência, o qual é objeto de revisões por momentos que a sociedade
passa. Ressalta que ajustes são necessários para o aprimoramento
das ações, seja por motivos de mudanças na estrutura econômica ou
até mesmo populacional.

O orçamento público retrata as escolhas e decisões sobre ques-


tões prioritárias que irão receber atenção dos governos naquele perío-
do de tempo, como também os recursos para serem usados, dando
assim respostas às demandas sociais. Portanto, entender como o or-
çamento público se desenvolve se faz necessário, sendo uma peça de
controle e de avaliação da ação governamental.

204
REVISÃO TEÓRICA

Gestão Pública

O mundo tem passado pelo processo de transformações cons-


tantemente, e o Estado por sua vez tem o papel fundamental, passa
a demandar novas capacidades e competências para garantir a maior
efetividade nas suas ações. O papel do Estado é decisivo nessas
ações, pois define rumos sustentáveis, a médio e longo prazo, para o
bem-estar (MATIAS-PEREIRA, 2020).

SUMÁRIO Sabe-se que, a capacidade da administração pública de reali-


zar e obter resultados em benefícios de toda a sociedade, é de como
ela se encontra, com uma estrutura fortalecida e uma boa organi-
zação. É importante ressaltar que para obter resultados, o Estado
precisa de uma reforma do processo democrático, da estabilidade
econômica e do desenvolvimento sustentável com a justiça social
para permitir que o governo possa atender ás demandas da socieda-
de (MATIAS-PEREIRA, 2020).

O termo gestão em substituição a administração tem sido utiliza-


do constantemente nas últimas três décadas. Alguns confundem com a
administração pública, outros acreditam no rompimento da administra-
ção pública tradicional e uma adoção com a interação de ferramentas
da gestão do mundo dos negócios (CARNEIRO; MENICUCCI, 2013).

A gestão Pública e o planejamento governamental estão liga-


dos, porque não se pode fazer um planejamento sem gestão, o que
estaria sujeito ao fracasso e descontinuidades. Como também a ges-
tão, só pode dizer que é portadora de conteúdos se de fato impac-
tem positivamente, se a gestão tiver de acordo as diretrizes gerais e
atividades concretas do planejamento governamental (CARNEIRO;
MENICUCCI, 2013).

205
Santos (2015, p. 15), conceitua gestão sendo, uma arte de pla-
nejar, organizar, coordenar, comandar e controlar assuntos de interes-
se coletivo por meio da mobilização de estruturas e recursos de Esta-
do. Garante o bem-estar da comunidade, mantendo os bens e serviços
públicos dos quais tem demandas.

Planejamento Governamental

Há várias formas de se definir planejamento, porém todas se re-


metem a organização do futuro, é fato. Orienta a atividade presente na
SUMÁRIO expectativa de um determinado futuro, com pressupostos que existem
várias escolhas possíveis (DIAS, 2017). Em termos organizacionais, pla-
nejar é definir objetivos, escolher estratégias, traçar planos de ação para
fortalecer a ação coletiva e assegurar a execução (DIAS, 2017, p. 120)

O planejamento apresenta diversas fases no processo de exe-


cução, que variam conforme o lugar, mas todos tem a essência de
elaborar um diagnóstico atual e na construção de cenários futuros ca-
pazes de atender o público – alvo com relação às suas necessidades.
Então planejar é uma tentativa de definir e seguir uma direção deseja-
da, isso em qualquer sociedade (DIAS, 2017).

Segundo Dias (2017), o planejamento deve ser um processo di-


nâmico e permanente que possa chegar o mais próximo da realidade
que deseja organizar. É essencial, e ao cumprir algumas metas do pla-
nejamento, seja feita a avaliação da proposta, para possíveis correções
em relação aos rumos propostos inicialmente, tornando-se eficaz.

O planejamento no Brasil tardou em se tornar uma prática cons-


tante. Hoje, já é algo fundamental em qualquer ação de governo, prin-
cipalmente na execução das políticas públicas, segundo Dias (2017).
Segundo Santos (2015), a administração pública no Brasil por muitas

206
décadas foi conduzida com experiências e instrumentos de planeja-
mento muito pobres. Isso se deve a diferentes fatores que combina-
ram com cidadãos e a agentes públicos pouco familiarizados com o
processo de planejamento, o que traduziu em dificuldades de entender
os problemas de gestão, baixa eficiência no uso dos recursos, pouca
eficácia das soluções adotadas, falta de efetividades das ações gover-
namentais e desperdício de tempo, esforço humano e recursos.

Para Cardoso (2011), o planejamento, ainda que tardio, precário


e insuficiente, sempre teve a frente à gestão, por todo o século XX,
devido ao contexto histórico que obriga o Estado acelerar o processo
de transformação das estruturas locais buscando o contexto nacional.
SUMÁRIO Na década de 1990 a primazia se inverte, a agenda da gestão pública,
voltada para questões de gerenciamento da burocracia e das funções
de orçamento, implementação, monitoramento, avaliação e controle
das ações de governo, passam a ter destaque no debate, chegando a
eficácia e a efetividade das políticas públicas.

Porém, é certo que o planejamento governamental e a gestão pú-


blica constroem duas dimensões importantes da atuação dos Estados
contemporâneos. Vale notar que, o planejamento sem uma estrutura
intensiva em gestão tende a descontinuidades de diversas formas, ca-
pazes de tornar-se conjunto de estudos e diagnósticos sem efeitos posi-
tivos. Por outro lado, a gestão sem planejamento, dificilmente consegue
reduzir procedimentos básicos do Estado, com mudanças profundas na
eficácia e na efetividade das políticas públicas (CARDOSO, 2011).

Orçamento Público

O orçamento público como instrumento de planejamento, ele


retrata as escolhas e decisões sobre as questões prioritárias que o
governo vai dar mais atenção, às estratégias a serem utilizadas no

207
enfrentamento das questões, bem como o montante de recursos des-
tinados para realização dessas estratégicas (SANTOS, 2015).

De acordo com Santos (2015, p. 22 e 23), o orçamento públi-


co define o campo de atuação do governante perante a sociedade e
condiciona sua capacidade de dar respostas às demandas sociais. O
orçamento público ganha papéis importantes na condução dos assun-
tos de interesse de todos, a qualidade do planejamento, na gestão e
de controle político e legal da atuação governamental (SANTOS, 2015).

Todavia, o orçamento público é um instrumento central de ges-


tão, por meio dele que possibilita que o planejamento estratégico se
SUMÁRIO traduza em programas de trabalho, o acompanhamento gerencial em
execução das ações, e o controle e avaliação de desempenho. É um
contrato firmado com a sociedade, um plano de atuação proposto pelo
governo, que por meio do legislativo recebe a autorização para a exe-
cução do plano (SANTOS, 2015).

De acordo com Santos (2015), orçamento público é o nome


utilizado para referenciar três elementos distintos, mas que se co-
nectam. Fernandes (2019), diz que o processo orçamentário previsto
na constituição de 1988, está organizado por meio de três leis tem-
porárias, ordinárias e de iniciativa exclusiva do Poder executivo: o
Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentaria (LDO) e a Lei
Orçamentária Anual (LOA).

Plano Plurianual (PPA)

O PPA é uma lei orçamentária que contém as ações do gover-


no definidas para um período de quatros anos, nele são definidos os
programas de trabalho e ações a serem implementadas pelos gestores
públicos no período vigente (SANTOS, 2015). Dispõe dos seguintes ele-
mentos, previstos no art. 165: §1º, a lei que instituir o plano plurianual

208
estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da
administração pública federal para as despesas de capital e outras delas
decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

Nesse dispositivo estabelece que o PPA deve especificar, as di-


retrizes e metas da administração pública para os três tipos de despe-
sas: despesas de capital a serem realizadas na vigência do plano, as
despesas decorrentes dessas despesas de capital e as despesas de
duração continuada (SANTOS, 2015, p. 39).

Portanto, o PPA limita a fixação de diretrizes, objetivos e metas.


De acordo com Santos (2015, p. 42), dois são os requisitos para que o
SUMÁRIO PPA cumpra adequadamente esse papel é que:
Se referencie em Orientações Estratégicas de governo, defini-
das a partir de um planejamento de longo prazo e voltado para
a definição de uma visão de futuro para a sociedade e o esta-
belecimento das prioridades a serem realizadas; e que tenha
mecanismos de comunicação com a lei orçamentária anual, de
modo que possa estabelecer expressamente a relação entre as
diretrizes estratégicas e as ações operacionais que lhe darão
materialidade.

Vale destacar que o PPA deve ter compatibilidade com o espa-


ço fiscal atual do país, para que de fato atenda às necessidades da
comunidade, “o chamado Realismo Fiscal”, ou seja, as estimativas de
recursos financeiros previstas no plano, sejam situação fiscal e orça-
mentária do país. É importante ressaltar que o plano deve retratar a
situação atual, sendo assim, é normal que aconteçam desatualizações
devido às alterações nos parâmetros macroeconômicos (como proje-
ções de taxas de inflação, juros, câmbio e PIB).

Então, para garantir a autenticidade do plano são feitas atua-


lizações para garantir a continuidade dos programas. É necessário
que haja a interação entre os instrumentos orçamentários, não só
o PPA sofre essas revisões estimativas, mas que procure ajustar a
programação nele contida com as alterações orçamentárias (como

209
aprovação de créditos adicionais) que costumam ocorrer ao longo do
exercício financeiro (Manual Técnico do Plano Plurianual do Governo
Federal 2020-2023, 2020).

Segundo o Manual Técnico elaborado com técnicas para elabo-


ração do PPA (2020), para uma boa qualidade do planejamento gover-
namental não basta apenas o sucesso na elaboração. Essa qualidade
se dá também com mecanismo de acompanhamento da atuação do
governo ao longo do período de 4 anos. Por outro lado, o monito-
ramento consiste no acompanhamento sistemático da execução das
políticas públicas dos órgãos da administração federal. No monitora-
mento é possível verificar falhas de diagnósticos, desenho ou imple-
SUMÁRIO mentação garantindo o alcance dos resultados almejados.

Cabe ao PPA zelar pela qualidade e rigor técnico do desenho


dos programas de governo, de forma que contribuam para a conse-
cução das diretrizes, dos objetivos e das metas de governo (Manual
Técnico do Plano Plurianual do Governo Federal 2020-2023, 2020, p.
17). Portanto, é necessário que haja o fortalecimento do planejamento
governamental, a capacidade de transformação social e econômica
desse planejamento é fortalecida quando o plano age de forma estra-
tégica e com foco nos resultados (Manual Técnico do Plano Plurianual
do Governo Federal 2020-2023, 2020).

A Constituição Federal e a Saúde Pública

A CF de 1988 no artigo 196 dispõe que:


A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantindo
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação.

210
Em 1990 é dada a criação do Sistema Único de Saúde por meio
da Lei nº 8080 que dispõe o conjunto de ações e serviços de saúde,
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, da Administração direta e indireta e das fundações man-
tidas pelo Poder Público. Segundo a CF/88 a forma de financiamento
do sistema de saúde é com recursos do orçamento da seguridade
social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
além de outras fontes.

De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais


de Saúde - CONASEMS (2009), o planejamento é de total importância
na gestão do SUS, com uma ação contínua, articulada, integrada e
SUMÁRIO solidária entre as esferas de gestão. É por meio do planejamento que
se pode alterar a realidade. Sabe-se que, a cooperação e ação dos
entes federativos no artigo 23 da CF/88 §2º abrange as esferas sem
distinção, observe: É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios: II - cuidar da saúde e assistência
pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência.

A Constituição não diz com exatidão as áreas de atuação dos


serviços prestados pelo Poder Público de cada ente, mas a atuação
comum e integrada, como mostra o art. 198, da CF/88:
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regio-
nalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, orga-
nizado de acordo com as seguintes diretrizes: (Vide ADPF 672)

I- Descentralização, com direção única em cada esfera de


governo;

II- Atendimento integral, com prioridade para as atividades pre-


ventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

E na lei nº 8.080/1990 que regulamenta o funcionamento do


SUS, nos artigos 17 e 18 dar as competências de cada ente. E aos
Estados compete: promover a descentralização; acompanhar as redes

211
hierarquizadas do SUS; prestar apoio técnico e financeiro aos Municí-
pios; como também apoiar em caráter suplementar a política de insu-
mos e equipamentos para a saúde. E ao Município compete: planejar,
organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e como
gerir e executar os serviços de saúde; participar do planejamento, pro-
gramação e organização da rede regionalizada do SUS, em articulação
com a direção estadual; e dentre outras competências.

O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde


(2009), traz reflexos aos novos gestores municipais de saúde, ressal-
ta que é necessário um modelo de atenção para que se organize os
recursos humanos, tecnológicos e materiais no enfrentamento dos ris-
SUMÁRIO cos e atenção às demandas de saúde da comunidade. Por meio de
redes regionalizadas e hierarquizadas que pode se dar respostas a
essas demandas. São destacados dois níveis de atenção, definidos
pelo SUS – Atenção Básica e Atenção Especializada.

A preocupação do Gestor Municipal ao assumir a responsabili-


dade da Saúde é a Atenção Básica, ela é porta de entrada do SUS. Por
meio da Atenção Básica que se cria um vínculo entre usuários e equi-
pes de saúde, com ações voltadas para os grupos mais vulneráveis, o
acolhimento das demandas de saúde, a promoção de hábitos de vida
saudáveis, o reconhecimento e o enfrentamento dos fatores de risco
para os indivíduos, enfim todas as ações de regulação da Atenção Bá-
sica que é estruturada por meio das estratégicas da Saúde da Família
ou Unidades Básicas de Saúde (CONASEMS, 2009).

É importante que todas as áreas de saúde, tenham um pro-


cesso de organização no seu planejamento para que haja êxito nas
ações do plano, garantindo a participação de todos os seus atores,
o que proporciona uma interface de comunicação e integralidade
(CONASEMS, 2009).

212
METODOLOGIA

O presente estudo constituiu-se em uma pesquisa descritiva,


com a combinação de um levantamento bibliográfico através de fontes
secundárias. A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e ordena
dados, sem modificá-los, o pesquisador não interfere. Procura classi-
ficar, explicar e interpretar fatos que ocorrem (PRODANOV, 2013). Já a
pesquisa bibliográfica busca fazer um apanhado geral de trabalhos já
realizados que tratam sobre o tema pesquisado sob um novo enfoque,
com dados atuais e relevantes (LAKATOS, 2003).

SUMÁRIO Por meio da pesquisa descritiva, foi possível observar os impac-


tos das propostas do PPA, com relação ao aumento da demanda da
saúde pública do Município de Boa Vista (RR). O levantamento biblio-
gráfico possibilitou um leque de dados e informações acerca do tema
e suas peculiaridades. Essa pesquisa utilizou a seleção de materiais
já publicados como livros, manuais, documentos oficiais relacionados
ao objeto de estudo em questão, como também, análise de dados
publicados em site oficial como o Observatório da Prefeitura Municipal
de Boa Vista e no Portal da Transparência.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

A administração do município de Boa Vista – RR para o cumpri-


mento de suas obrigações e deveres com a população, define o seu
planejamento através do Plano Plurianual – PPA, mecanismo disposto
na CF/88. O PPA deve apresentar objetivos, programas e metas de go-
verno para quatro anos, como também as metas financeiras por exer-
cícios (em reais). O foco da análise se atentou nas metas financeiras

213
dos programas relacionados à saúde municipal, objetivo da análise,
não sendo possível se estender nos demais itens que compõem um
programa, uma vez que o trabalho ficaria muito extenso.

Para a área da saúde, foi destinado no PPA diversos programas


para atendimento nas mais diversas especificidades. Porém, para essa
análise, serão abordados apenas 05 (cinco) programas. Vale ressaltar
que o PPA foi instituído através da Lei municipal nº 1.840/2018 e das Leis
municipais nº 1.940/2019 e 2.068/2019 que tratam das duas revisões fei-
tas ao PPA. Para análise dos resultados, foi necessária consulta através
do Portal da Transparência, por meio de pedido no e-SIC (Sistema Ele-
trônico do Serviço de Informações ao Cidadão), o qual foram solicitadas
SUMÁRIO as avaliações para subsidiar a análise dos anos de 2018 - 2020.

O quadro 1 abaixo mostra o programa e ações estabelecidos no


PPA, como também as revisões ocorridas.

Quadro 1 – Programa 0032: Modernizar e Equipar


as Unidades de Saúde da SMSA

Objetivo: Ampliar e qualificar o acesso aos serviços de saúde, em tempo adequado, atendendo aos
princípios e diretrizes do SUS, com foco na humanização, equidade e no atendimento das necessi-
dades de saúde, aprimorando a política de atenção básica, especializada, ambulatorial e hospitalar.
EXERCÍCIO - METAS FINANCEIRAS
AÇÃO TOTAL
2018 2019 2020 2021
2091 – Construção, Ampliação, Reforma e Aquisição de Equipamentos e Material.
VALOR
31.289.371,00 42.335.629,00 18.554.000,00 8.278.457,00 100.457.457,00
(R$)
TOTAL DO PROGRAMA 100.457.457,00

Fonte: Adaptado (2018, Lei Municipal nº 1840, que institui o PPA


2018-2021 e revisões Lei nº 1.949/2019 e Lei nº 2.068/2019.

Nesse programa conforme dados disponibilizados pela Contro-


ladoria Geral do município de Boa Vista, em 2018, do total planejado
de R$ 31.289.371,00 (trinta e um milhões, duzentos e oitenta nove mil
trezentos e setenta e um reais), ao comparar com a sua execução,

214
houve uma atualização reduzindo o valor para R$ 23.712.028,26 ( vinte
e três milhões, setecentos e doze mil, vinte e oito reais e vinte e seis
centavos), ao atendimento do programa e foram pagos neste exercício
apenas R$ 2.678.839,13 (dois milhões, seiscentos e setenta e oito mil,
oitocentos e trinta e nove reais e treze centavos) na construção, amplia-
ção, reforma e aquisição de materiais permanentes.

No exercício de 2019, o valor planejado foi de R$ 42.335.629,00


(quarenta e dois milhões, trezentos e trinta e cinco mil, seiscentos e vin-
te nove reais), e durante a sua execução, houve uma suplementação
de recursos, atualizando a dotação para R$ 45.610.664,99 (quarenta
e cinco milhões, seiscentos e dez mil, seiscentos e sessenta e quatro
SUMÁRIO reais e noventa e nove centavos), do qual foram pagos R$ 7.774.714,83
(sete milhões, setecentos e setenta e quatro mil, setecentos e quatorze
reais e oitenta e três centavos).

No ano de 2020, o valor planejado foi R$ 18.554.000,00 (dezoi-


to milhões, quinhentos e cinquenta e quatro mil reais), porém durante
a execução, houve alteração com aporte de R$ 7.866.709,59 (sete mi-
lhões, oitocentos e sessenta e seis mil, setecentos e nove reais e cin-
quenta e nove centavos), e foram pagos R$ 5.323.669,95 (cinco milhões,
e trezentos e vinte três mil, seiscentos e sessenta nove reais e noventa
e cinco centavos) no final do exercício. Nesse programa, os valores pa-
gos foram com investimentos em obras, aquisição de equipamentos e
materiais permanentes, houve também o pagamento de processos de
exercícios anteriores e devolução ou indenização de recursos.

O quadro 2 abaixo trata-se do programa 0033 - Gestão da Aten-


ção Básica, é um conjunto de ações de saúde, que abrange a promo-
ção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da
saúde no âmbito individual e coletivo (BRASIL, 2012). Segue abaixo
as metas financeiras de cada ação, por exercício no Plano Plurianual
2018-2021 devidamente revisados.

215
Quadro 2 – Programa 0033: Gestão da Atenção Básica

Objetivo: Ampliar a cobertura da estratégica de saúde da família em 20%.


EXERCÍCIO - METAS FINANCEIRAS
AÇÕES TOTAL
2018 2019 2020 2021
2092 – Administração de Pessoal e Recursos Humanos da Atenção Básica.
VALOR
42.547.286,00 39.814.489,00 51.394.078,00 38.799,00 133.794.652,00
(R$)
2093 - Manutenção do Parque Tecnológico da Rede de Atenção Primária de Saúde.
VALOR
500.000,00 250.000,00 810.000,00 197.369,00 1.757.369,00
(R$)
2094 - Gestão e Manutenção da Atenção Primária de Saúde.
SUMÁRIO VALOR
10.397.848,00 14.079.500,00 13.103.000,00 12.756.160,00 50.336.508,00
(R$)
2095- Gestão de Saúde Bucal - Expansão do Programa Brasil Sorridente.
VALOR
450.000,00 365.750,00 300.000,00 499.408,00 1.615.158,00
(R$)
TOTAL DO PROGRAMA 187.503.687,00

Fonte: Adaptado (2018, Lei Municipal nº 1840, que institui o PPA


2018-2021 e revisões Lei nº 1.949/2019 e Lei nº 2.068/2019.

Esse programa contempla quatro ações e verifica-se que a maior


parte dos recursos, destina-se à “Administração de Pessoal e Recursos
Humanos da Atenção Básica”, segundo o Relatório de Gestão – SMSA
e dessa forma, vamos analisar apenas esta ação. No ano de 2018 do
total planejado de R$ 42.547.286,00 (quarenta e dois milhões, quinhen-
tos e quarenta e sete mil, duzentos e oitenta e seis reais) houve uma
suplementação de recursos de R$ 2.088.489,92 (dois milhões, oitenta
e oito mil, quatrocentos e oitenta e nove reais e noventa e dois centa-
vos), destinados ao programa, e foram pagos nesse exercício o valor
de R$ 44.068.535,46 (quarenta e quatro milhões, sessenta e oito mil,
quinhentos e trinta e cinco reais e quarenta e seis centavos).

216
No ano de 2019, o valor estimado foi de R$ 39.814.490,00 (trin-
ta e nove milhões, oitocentos e quatorze mil, quatrocentos e noventa
reais), e durante sua execução houve uma suplementação de recursos
de R$ 12.262.641,74 (doze milhões, duzentos e sessenta e dois mil,
seiscentos e quarenta e um reais e setenta e quatro centavos), com
valores pagos de R$ 51.079.012,52 (cinquenta e um milhões, setenta e
nove mil, doze reais e cinquenta e dois centavos).

Já no ano de 2020, observa-se que o valor planejado é bem


maior, R$ 51.367.078,00 (cinquenta e um milhões, trezentos e sessenta
e sete mil, setenta e oito reais), e mesmo assim houve uma suplemen-
tação de R$ 5.652.647,92 (cinco milhões, seiscentos e cinquenta e
SUMÁRIO dois mil, seiscentos e quarenta e sete reais e noventa e dois centavos),
e foram pagos o valor de R$ 55.779.251,82 (cinquenta e cinco milhões,
setecentos e setenta e nove mil, duzentos e cinquenta e um reais e oi-
tenta e dois centavos). Esse gasto representa 99,36% do valor previsto
no planejamento da ação. Os valores pagos são : despesas de pes-
soal, pagamento de auxílio transporte, serviços de terceiros de pessoa
jurídica, pagamento indenizações e auxílio alimentação.

O quadro 3, representa o programa de Gestão da Assistência


de Média e Alta Complexidade que se desenvolve em várias ações
a seguir.

217
Quadro 3 – Programa 0034: Gestão da Assistência de Média
e Alta complexidade Ambulatorial e Hospitalar

Objetivo: Política municipal de saúde centrada no usuário (levando em con-


sideração o atendimento pleno de suas necessidades nesta área).
EXERCÍCIO - METAS FINANCEIRAS
AÇÕES TOTAL
2018 2019 2020 2021
2096 – Assistência a Paciente e Acompanhante Encaminha-
dos para tratamento fora de Domicílios– TFD.
VALOR
4.027.377,00 3.768.700,00 3.831.000,00 3.714.081,00 15.341.158,00
(R$)
2097 – Credenciamento de Entidades Privadas e Filantrópicas.
VALOR 4.083.700,00 4.224.866,00 14.310.226,00
2.200.700,00 3.801.000,00
SUMÁRIO (R$)
2098 – Gestão da Assistência Hospitalar e Ambulatorial.
VALOR 21.892.633,00 19.635.163,00 30.186.758,00 99.350.176,00
27.635.622,00
(R$)
2099 – Administração de Pessoal de Recursos Humanos da aten-
ção da Assistência de Média e Alta Complexidade.
VALOR 59.232.067,00 60.307.166,00 76.320.300,00 65.281.294,00 794.228.827,00
(R$)
2100 – Administração de Pessoal e Recursos Humanos do SAMU.
VALOR 1.607.860,00 1.793.450,00 2.085.200,00 1.834.792,00 7.321.302,00
(R$)
2101 – Manutenção e Revitalização dos Serviços Prestados pelo Aten-
dimento Móvel às Urgências e Emergências - SAMU
VALOR 5.197.218,00 833.268,00 2.263.882,00 10.375.343,00
2.080.975,00
(R$)
2102 – Subsídio Técnico para o SUS nas ações de Prevenção, Promoção, Diag-
nósticos, Tratamento, Reabilitação e Vigilância da saúde do Trabalhador.
VALOR 360.000,00 360.000,00 360.000,00 360.000,00 1.440.000,00
(R$)
VALOR DO PROGRAMA 942.376.032,00

Fonte: Adaptado (2018, Lei Municipal nº 1840, que institui o PPA


2018-2021 e revisões Lei nº 1.949/2019 e Lei nº 2.068/2019.

218
No programa 0034, a maior parte dos recursos está destinado
também a atender a folha de pagamento, seguida da ação 2098 –
Gestão da Assistência Hospitalar e Ambulatorial conforme mostra o
quadro, que somadas representa 94,82% do total do programa. Os
valores pagos com esse programa, divide-se também em passagens
e despesas com locomoção, concessão de auxílio financeiro a pessoa
física, pagamento de vencimentos e vantagens, serviços de terceiros
de pessoa jurídica, materiais de consumo, aquisição de equipamentos
e materiais permanentes e o pagamento de processos de exercícios
anteriores e devolução de recursos.

No quadro a seguir, temos a Gestão de Assistência Farmacêuti-


SUMÁRIO ca, responsável por fornecer medicamentos.

Quadro 4 – Programa 0035: Gestão de Assistência Farmacêutica

Objetivo: Fornecer medicamentos para as áreas fins para realização de ações de prevenção, diag-
nóstico, tratamento e reabilitação dos pacientes do município de Boa Vista.
EXERCÍCIO - METAS FINANCEIRAS
AÇÃO TOTAL
2018 2019 2020 2021
2103 – Manutenção e Melhoria dos Serviços de Assistência Farmacêutica no Âmbito da
Atenção Básica.
VALOR (R$) 5.800.000,00 6.434.985,00 5.634.985,00 7.416.065,00 25.286.035,00
VALOR DO PROGRAMA 25.286.035,00
Fonte: Adaptado (2018, Lei Municipal nº 1840, que institui o PPA
2018-2021 e revisões Lei nº 1.949/2019 e Lei nº 2.068/2019.

A assistência farmacêutica tem, entre os seus objetivos, promo-


ver o acesso aos medicamentos e o uso racional. Pode-se observar
que no ano de 2018, tem um valor planejado de R$ 5.800.000,00 (cinco
milhões e oitocentos mil), e durante a sua execução, houve uma anu-
lação de recursos, atualizando a dotação para R$ 5.334.122,16 (cinco
milhões, trezentos e trinta e quatro mil, cento e vinte dois reais e dezes-
seis centavos), sendo que conforme dados do Portal da Transparência
e o Relatório de Gestão da SMSA, foi pago apenas R$ 4.274.172,72

219
(quatro milhões, duzentos e setenta e quatro mil, cento e setenta e dois
reais e setenta e dois centavos).

Já no ano de 2019 o valor planejado é bem maior, ao comparar


com a sua execução, porém com a atualização o valor se reduz para
R$ 6.014.985,00 (seis milhões, quatorze mil, novecentos e oitenta e
cinco reais), sendo o valor pago de R$ 2.931.171,12 (dois milhões, no-
vecentos e trinta e um mil, cento setenta e um reais e doze centavos).
Nota-se que no ano de 2019, houve uma maior atenção voltado para
estruturação da Assistência Farmacêutica com a melhoria no planeja-
mento e na programação nas compras, que proporcionou gastos me-
nores, sendo utilizado apenas 57,58% do recurso financeiro previsto,
SUMÁRIO conforme o Relatório de Gestão da SMSA, 2019.

Sendo assim, no ano de 2020, foi utilizado apenas 20,42% do


valor planejado para o ano. Segundo Relatório da SMSA de 2020, mes-
mo com as dificuldades impostas diante da pandemia do Covid – 19,
a secretaria conseguiu manter em quase 100% os medicamentos em
estoque, devido aos pregões que ocorreram ainda no exercício de
2019, não sobrecarregando o valor planejado para 2020, tendo assim
estoque suficiente para atender a população. Os valores pagos nos
exercícios apresentados são com material de consumo, aquisição de
equipamentos e materiais permanentes e pagamento de processos
de exercícios anteriores e indenizações e/ou devolução de recursos.

E por fim, temos o Programa 0036 de Gestão da Vigilância em


Saúde, responsável pelas informações que possibilitam a redução
de riscos e a promoção em saúde, com práticas de atenção e meca-
nismos adotados para prevenção de doenças, segundo Relatório de
Gestão da SMSA de 2020. Visando a melhoria da vigilância e o en-
frentamento às epidemias e surtos, houve a intensificação das ações,
buscando reduzir o risco de adoecimento da população.

220
Quadro 5 – Programa 0036: Gestão da Vigilância em Saúde

Objetivo: Fortalecer e implementar o desenvolvimento das ações de vigilância em saúde.


EXERCÍCIO - METAS FINANCEIRAS
AÇÕES TOTAL
2018 2019 2020 2021
2104 – Implementação das Ações de Vigilância das DST/AIDS e Hepatites Virais.
VALOR 192.499,00 193.287,00 171.000,00
194.968,00 751.754,00
(R$)
2105 – Administração de Pessoal e Recursos Humanos da Vigilância em Saúde.
VALOR 13.446.858,00 13.621.399,00 14.927.107,00 56.914.632,00
14.919.268,00
(R$)
2106 - Fortalecimento e Implementação das Ações de Vigilância Sanitária.

SUMÁRIO VALOR 196.851,00 215.533,00 216.533,00 196.851,00


825.768,00
(R$)
2107 - Fortalecimento, Manutenção, Qualificação e Serviços de rotina e Estratégicas de
Vigilância de Saúde.
VALOR 6.617.182,00 1.379.150,00 801.360,00 1.886.538,00
10.684.230,00
(R$)
2108 - Vigilância e Controle das zoonoses e Doenças Trans-
mitidas por vetores de interesse à Saúde Pública.
VALOR 250.000,00 197.045,00 267.045,00 269.398,00 983.488,00
(R$)
VALOR DO PROGRAMA 70.159.872,00

Fonte: Adaptado (2018, Lei Municipal nº 1840, que institui o PPA


2018-2021 e revisões Lei nº 1.949/2019 e Lei nº 2.068/2019.

No programa em análise, em 2019 o gasto maior foi em Adminis-


tração de Pessoal e Recursos Humanos, o que representa 97,80% do
valor previsto. Já em 2020, o valor percentual foi 99,70%, esses foram
os dois anos que houve um percentual bem significativo com relação
ao valor realizado. Os valores pagos nesse programa são com mate-
riais de consumo, aquisição de equipamentos e materiais permanen-
tes, auxílio transporte, passagens e despesas com locomoção, auxílio
fardamento e serviços de terceiros de pessoa jurídica.

221
Vale destacar, que por meio da Lei nº 2083 de 21 de dezembro
de 2020, publicada no Diário Oficial do Município de Boa Vista nº 5284,
foi incluída uma nova ação na Secretaria Municipal de Saúde no PPA
2018 - 2021, essa nova ação tem como objetivo o enfrentamento da
Emergência COVID-19. A ação 2271 foi instituída tendo como valor desti-
nado no ano de 2020 de R$ 36.010.285,35 (trinta e seis milhões, dez mil,
duzentos e oitenta e cinco reais e trinta e cinco centavos), e foram pagos
apenas R$ 27.697.733,26 (vinte e sete milhões, seiscentos e noventa e
sete reais, setecentos e trinta e três reais e vinte seis centavos).

Portanto, a Prefeitura Municipal de Boa Vista buscou atender de


forma efetiva as demandas da saúde no que tange planejamento das
SUMÁRIO ações no PPA, tanto que o mesmo passou por duas revisões, devido
motivos a fatores não previstos, como no caso do aumento da deman-
da de imigrantes/refugiados em 2018 e o enfrentamento a COVID -19
em 2020, o que mudou o rumo do planejamento de algumas ações.
Conforme análise das avaliações do PPA, algumas ações foram su-
plementadas e outras tiveram que ser anuladas parcialmente os seus
recursos para atender a outras demandas.

Verificou-se que de fato houve a execução orçamentária do pla-


nejamento, como os pagamentos de todas as ações e também todo
detalhamento da despesa final das ações por exercícios. Ressalta-se
que todas as ações voltadas para melhoria da Gestão em Saúde Mu-
nicipal, foram abordadas conforme a real evolução da compreensão
das necessidades da população, buscando garantir o cumprimento
dos princípios que regem o SUS.

222
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As demandas por bens e serviços é cada vez mais crescente e


o Estado enquanto administrador dos recursos, deve atuar de forma
eficaz, eficiente e efetiva na prestação dos serviços públicos e que ga-
ranta o bem-estar de toda a coletividade. Planejar é fundamental para
definir o futuro, pois por meio do planejamento é que o gestor pode
dar cumprimento às funções e as necessidades da sociedade. E o or-
çamento como instrumento de planejamento é capaz de definir como
será a atuação do governante, para atender as questões prioritárias, as
estratégias a serem utilizadas e o valor dos recursos destinados para
SUMÁRIO
tais demandas sociais.

As necessidades da sociedade são inseridas no planejamento


governamental e traduzidas em programas de trabalho, e que por meio
de instrumentos, como o PPA, são executadas. Neste plano constam
todos os programas e ações definidas para aquele período, com rela-
ção às demandas tais como educação, saúde, segurança, entre ou-
tros. No PPA do município de Boa Vista no que tange à saúde, contém
programas com diversas especificidades para o bom funcionamento
dos serviços no âmbito municipal.

O foco da análise foi nas metas financeiras, apresentando valo-


res planejados de acordo com o PPA para os exercícios 2018 – 2020. A
efetividade das demandas da saúde, foi verificada por meio da análise,
onde constatou que o PPA municipal passou por duas revisões, as
quais possibilitaram a suplementação como também anulação parcial
dos recursos para atender de forma efetiva as demandas. Constatou-
-se que houve execução orçamentária do planejamento em todas eta-
pas, das quais proporcionou o cumprimento das ações. Ressalta-se
ainda que, a Prefeitura Municipal submeteu uma terceira revisão ao
PPA 2018-2021, por meio do Projeto de Lei nº 022, de 24 de setembro

223
de 2020, porém ao fazer a consulta no site da Câmara Municipal de
Boa Vista, não foi localizado a aprovação deste até a presente data.

Algumas limitações foram encontradas durante a execução da


pesquisa em relação ao acesso e visualização do objeto específico
que foi adquirido e/ou serviço executado por parte do município o que
não informa no Portal da transparência, além das notas de empenho
e liquidação visualizadas não informam esses dados, o que limitou a
análise apenas a nível de naturezas de despesas; as avaliações das
quais foram instrumentos de análise, não estavam de forma acessível
no Portal da Transparência, sendo necessário a solicitação pelo e-SIC,
e que tais informações deveriam estar de forma acessível para con-
SUMÁRIO sulta a qualquer momento, o que demandou prazos de retorno com a
resposta dificultando uma análise mais minuciosa dos dados.

Dessa forma, essa pesquisa poderá ser instrumento de base


para um estudo mais aprofundado sobre o tema, abordando aspectos
mais específicos da atuação das ações na prática, de forma a eviden-
ciar a efetividade dessas e o alcance delas nas áreas de atuação para
o bom desempenho e atendimento das demandas da saúde.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição Federal. Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
Distrito Federal/Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.
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Conasems, 2009. 200p.
BRASIL, Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre
as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm. Acesso em: 16 abr. 2021.

224
BRASIL, Lei nº 1.840, de janeiro de 2018. Dispõe sobre o Plano Plurianual
do Município de Boa Vista, para o quadriênio 2018 – 2021. Disponível em:
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BRASIL, Lei nº 1.949 de 02 de janeiro de 2019. Dispõe sobre a Revisão do
Plano Plurianual do Município de Boa Vista, para o quadriênio 2018 – 2021.
Disponível em: https://sapl.boavista.rr.leg.br/media/sapl/public/normajuri
dica/2019/1064/lei_1.949-2019-exe-revisao_do_ppa-quadrienio_2018-20_
HVYDG1A.pdf. Acesso em: 06 abr. 2021.
BRASIL, Lei nº 2.068, de 18 de dezembro de 2019. Revisa o exercício de
2019 do Plano Plurianual 2018/2021 do Município de Boa Vista e altera os
anexos I e II do §3° do art. 1º da lei nº 1.840, de 05 de janeiro de 2018, PARA
O EXERCÍCIO DE 2020 E 2021. Disponível em: https://publicacoes.boavista.
rr.gov.br/diarios/2019/12/edicao/5034. Acesso em: 06 abr. 2021.
SUMÁRIO
BRASIL, Lei nº 2.083, de 21 de dezembro de 2020. Dispõe sobre a inclusão
de ação na Secretaria Municipal de Saúde no PPA 2018-2021. Disponível em:
https://publicacoes.boavista.rr.gov.br/diarios/2020/12/edicao/5284. Acesso
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BRASIL, Manual Técnico do PPA 2020 – 2023. Secretaria Especial de
Fazenda. Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria, 2020.
Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-
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Acesso em: 16 abr. 2021.
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de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da
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– Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: http://189.28.128.100/
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de 2018. Prefeitura Municipal. Boa Vista, 2019. Disponível em: https://
transparencia.boavista.rr.gov.br/storage/5919/RELAToRIO-DE-GESTaO-
SMSA-2018.pdf. Acesso em: 27 abr.2021.
BOA VISTA, Secretaria Municipal de Saúde. Relatório de Gestão exercício
de 2019. Prefeitura Municipal. Boa Vista, 2019. Disponível em: https://
transparencia.boavista.rr.gov.br/storage/5920/RELAToRIO-DE-GESTaO-
SMSA-2019.pdf. Acesso em: 27 abr. 2021.

225
BOA VISTA, Secretaria Municipal de Saúde. Relatório de Gestão exercício
de 2020. Prefeitura Municipal. Boa Vista, 2020. Disponível em: https://
transparencia.boavista.rr.gov.br/storage/5921/RELAToRIO-DE-GESTaO-
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CARDOSO, José Celso; CUNHA, Alexandre dos Santos. Planejamento e
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e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano
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Cássia Santos. 3. ed. rev. ampl. Florianópolis: Departamento de Ciências da
Administração / UFSC; Brasília: CAPES: UAB, 2015. Acesso em: 17 abr. 2021.

226
10
Capítulo 10

Política de Assistência Social: Dificuldades de acesso e


a importância do auxílio emergencial para brasileiros
e venezuelanos no extremo norte do Brasil.

Eliane Silva de Oliveira

João Victor Rocha Vitoriano

Murilo Roberto Jesus Maganha

Ananias Noronha Filho


Eliane Silva de Oliveira

João Victor Rocha Vitoriano

Murilo Roberto Jesus Maganha

Ananias Noronha Filho

Política de assistência social:


dificuldades de acesso e a importância
do auxílio emergencial para brasileiros
e venezuelanos no extremo norte do Brasil

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.10
SUMÁRIO

Resumo:
Uma nova doença que surgiu na cidade de Wuhan na China, o vírus COVID-19,
atravessou o continente e mudou o convívio social, necessitando que medi-
das drásticas como isolamento social e uso da máscara fosse usado como
métodos para conter a contaminação. Em meio ao isolamento social houve
a necessidade de instaurar medidas de proteção social para amenizar a cri-
se econômica e garantir o mínimo necessário para a subsistência das famí-
lias sem nenhum tipo de renda. Instituído pelo poder legislativo através da lei
13.982/2020 o Auxílio Emergencial, tem como principal característica, suprir
as necessidades básicas das famílias mais pobres. A partir de uma pesquisa
de campo por amostragem, o presente artigo tem como objetivo principal,
analisar as dificuldades de acessos encontradas e a importância do auxílio
emergencial, para os brasileiros e imigrantes venezuelanos que recebem ou
não o bolsa família, que se encontram especificamente na cidade de Boa Vista,
Estado de Roraima. Trata-se de um estudo, onde foi escolhido por critério de
conveniência (facilidades de acesso às informações), com método de coleta
de dados a partir de um questionário estruturado com perguntas fechadas.
De encontro com o objetivo principal do artigo, foi traçado duas questões de
pesquisa: Quais as dificuldades encontradas no acesso ao Auxílio Emergen-
cial? Qual a importância do auxílio emergencial aos brasileiros e imigrantes
venezuelanos que se encontram em Boa Vista/RR? Espera-se que o resultado
da pesquisa demonstre os principais desafios enfrentados por essa população
para acessar o auxílio emergencial.

Palavras-Chave: SUAS; COVID-19; Auxílio Emergencial; Democracia; Roraima.

228
INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 garante ao povo brasileiro e aos que se


encontram em nosso território acesso às políticas públicas, desde que
cumpram as condicionalidades dos programas. Muitas dessas polí-
ticas buscam promover a redução da desigualdade social e garantir
o direito à alimentação adequada, já ratificado no Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC).

O Brasil enfrenta hoje uma crise migratória, o qual se iniciou em


famílias inteiras estão deixando a Venezuela por conta da crise política
SUMÁRIO e econômica que aquele país enfrenta, dentre eles, os embargos inter-
nacionais sem perspectiva de melhora ou de estabilização econômica,
levando muitos a migrarem para o Estado de Roraima principal porta de
entrada terrestre. Atrelado a essa crise migratória vivenciamos também o
enfrentamento da pandemia por COVID-19, complicando ainda mais as
possibilidades de promoção do enfrentamento da desigualdade social.

Localizado acima da linha do Equador, o Estado de Roraima,


faz parte do tríplice fronteira entre Manaus, Guiana Inglesa e Venezuela
e não estava preparado para receber tantos imigrantes e ao mesmo
tempo enfrentar seus próprios problemas. Como forma de minimizar a
crise migratória, foram instalados vários abrigos para que esta popu-
lação tivesse acesso ao mínimo exigido para sua subsistência como:
três refeições diárias, água potável, material de higiene pessoal e am-
biente para dormir. O Estado tem hoje treze abrigos, sendo dois loca-
lizados no município de Pacaraima e onze no município de Boa Vista1.
O número é grande de venezuelanos que atravessavam a fronteira dia-
riamente, o qual foi interrompido quando iniciou a pandemia.

1 https://www.gov.br/acolhida/historico/

229
A necessidade de isolamento e ao mesmo tempo tentar se man-
ter no mercado de trabalho foi muito preocupante para todos, com o
aumento dos preços de itens necessários para prevenção como más-
cara facial e álcool em gel, onde muitos perderam seus empregos,
empresas fecharam e temos um governo sem capacidade de gestão,
onde o Presidente ao ser questionado por uma repórter sobre o re-
corde de mortes notificadas diariamente responde: “E daí? Lamento.
Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”,
disse em referência ao seu nome2.

O Governo Brasileiro na tentativa de melhorar e garantir condi-


ções dignas para as famílias mais pobres, com perspectiva de forta-
SUMÁRIO lecer a economia e reduzir as desigualdades sociais instituiu o Auxílio
Emergencial. Como forma de atender as necessidades básicas neste
período de pandemia.

Defender a distribuição de renda com isonomia é uma das prin-


cipais ferramentas para diminuir os impactos econômicos e sociais
decorrentes da pandemia do coronavírus, o qual é indicada pela pró-
pria ONU e pesquisadores. Que mesmo com baixo valores garantem
dignidade gerando manutenção da vida e o principal garantindo o dis-
tanciamento social.

A dificuldade de acesso remoto ou o próprio manuseio da pla-


taforma do programa levou muitos usuários3 da política pública a pro-
curar ajuda nos CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e o
CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). A
participação efetiva destes profissionais foi essencial para que os mes-
mos fossem contemplados. Uma plataforma criada pelo atual governo
que exclui mais quem necessita mais e inclui mais quem necessita
menos. Os profissionais do SUAS fizeram o impossível para contribuir

2 https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/11/11/pais-de-maricas-9-frases-de-
-bolsonaro-sobre-pandemia-que-matou-162-mil-pessoas-no-brasil.htm
3 Usuário – cidadão que utiliza os serviços ofertados pela Assistência Social.

230
com os usuários acessarem o sistema, mesmo se expondo em tempos
de pandemia. Mas que tinham a grata satisfação de ver seu trabalho
sendo contemplado pelos que mais necessitavam.

O trabalho tem como objetivo principal, analisar as dificuldades


de acessos encontradas e a importância do auxílio emergencial, para
os brasileiros e imigrantes venezuelanos, que se encontram especi-
ficamente em Boa Vista, capital de Roraima-RR. Os participantes da
pesquisa, deveriam estar inscritos no CADÚNICO, sendo beneficiários
ou não do Bolsa Família.

SUMÁRIO
REVISÃO TEÓRICA

Garantia de Direitos

A garantia dos direitos sociais é uma conquista do espaço de-


mocrático que garante acesso aos que mais necessitam. Conforme
o disposto no inciso II do Art. 204 da CF e no Art. 5º, II da LOAS, é
assegurado “a participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis”. A Constituição Federal garantiu os Direitos Sociais
conforme capítulo II. E a maior dificuldade encontrada nos dias atuais
é a efetividade desses direitos, para cidadãos que os desconhecem.

Um grande conquista para atender os usuários da política de as-


sistência social implantado como política de Estado e não de Governo
foi o programa Bolsa Família, onde foi possível identificar e realizar o ca-
dastro único – CADÚNICO, o qual identifica as vulnerabilidades sociais
de cada grupo família, e condiciona o mesmo para participar do progra-
ma como as crianças estarem matriculadas e ter percentual de presen-
ça nas escolas e passarem por atendimento médico para ser verificada

231
se existe alguma alteração na fase do seu desenvolvimento, caso ocorra
alguma alteração imediatamente e comunicado ao setor responsável
pelo bolsa família no município e tomada todas as providências neces-
sárias. O programa tem como objetivo garantir o mínimo para que uma
família tenha acesso básico a uma alimentação adequada.

Com a atual situação da pandemia foi implantada a Renda Bá-


sica com condicionalidades específicas para atender a demanda so-
cial, entre eles os microempreendedores individuais – MEI, que ficaram
sem nenhuma renda neste período de isolamento social. Com isso o
Conselho Nacional de Assistência Social junto com os parlamentares
federais mobilizou para que este recurso fosse maior que R$ 200,00
SUMÁRIO (duzentos reais) que era defendida pelo governo e que após várias ne-
gociações e com apoio fundamental e participação da sociedade civil
conseguiu aprovar o valor de R$ 600,00 (seiscentos reais).

A existência dos Conselhos como garantia de participação da


sociedade civil é um grande marco de avanço na busca do equilíbrio
da democracia. Onde diversos representantes de vários segmentos or-
ganizados têm a oportunidade de participação efetiva na Gestão Públi-
ca, contribuindo para melhor distribuição, fiscalização e aplicabilidade
dos recursos públicos.

Segundo Campos, Maciel e Silva (2015), o controle social no


SUAS se expressa e se efetiva em três dimensões, que carecem de
debate e reconhecimento, bem como de serem potencializadas no
cotidiano de participação social do SUAS. Sendo assim temos três
objetivos os quais se relacionam e buscam atingir o mesmo objetivo
em comum que é defender os direitos já institucionalizados.
Política – é a função principal do controle social, referente às in-
fluências que a sociedade exerce na conformação da agenda
governamental. Sem exercer influências sobre a agenda gover-
namental a participação da sociedade terá mais caráter adjetivo,
ornamental que substantivo” (Campos; Maciel; Silva, 2015, p. 7).

232
Técnica – relaciona-se à avaliação sobre o grau de efetividade
das ações.” Nessa dimensão o exercício do controle social não
se limita nem se confunde com a apreciação de prestações de
contas, sobretudo, em sua dimensão contábil” (Campos; Ma-
ciel; Silva, 2015, p.8).

Ética – “o pressuposto dessa dimensão é a convicção de que o


controle social se identifica com a construção de valores e prá-
ticas contra- hegemônicas, inscrevendo-se na direção de uma
nova sociedade’’ (Campos; Maciel; Silva, 2015, p. 8).

Essas três dimensões possuem uma relação de interdependên-


cia já que a efetividade da dimensão técnica requer considerar as exi-
gências e os impactos políticos e éticos relativos à defesa de pautas
SUMÁRIO divergentes, assim como, seus rebatimentos para o alcance dos obje-
tivos finais do SUAS para o usuário.

A lei 13.982 de 2 de abril de 2020, instituiu o auxílio emergencial


no intuito de diminuir os impactos da pandemia do COVID 19, mas não
é uma política efetiva, isso fragiliza o país com tantas demissões em
massa e aumenta a os bolsões de miséria. O impacto antes da pan-
demia já era visto quando o Brasil retornou ao MAPA DA FOME, o que
antes era motivo de orgulho para todos os brasileiros que tinham pelo
menos um prato de comida ao dia.

Para o debate sobre o controle social é fundamental proble-


matizar a tríade – Participar, Representar, Mobilizar – e seus múltiplos
sentidos na materialização de ações vinculadas aos processos pelos
os quais os usuários do SUAS se tornam presentes e vocalizam suas
demandas, interferindo nas direções a serem adotadas pelos órgãos
gestores na implementação da Política de Assistência.

Uma nota técnica foi feita em conjunto por 162 organizações e mo-
vimentos que compõem a Renda Básica que queremos e encaminhada
a todos os parlamentares. O qual descreve os principais obstáculos para
implantação e o devido acesso à Plataforma do Auxílio Emergencial.

233
Conforme INESC (2020). Os principais obstáculos observados
na implementação da Renda Básica Emergencial:
1. A negativa do auxílio sem justificativa válida, não pediram
outros documentos comprobatórios;

2. A inadequada exigência de telefone, conexão à internet e


e-mail, a população vulnerável não tem e-mail em sua maioria;

3. A limitada decisão de implementar o auxílio somente por


aplicativos;

4. Falta de canal de atendimento à população;

5. A falta de canal de contestação;


SUMÁRIO
6. A existência de um limite ao número de tentativas de
solicitação;

7. A falta de articulação com Estados e Municípios;

8. A existência de barreiras relacionadas ao Cadastro de Pes-


soa Física (CPF);

9. Os casos problemáticos em que é indicado que o CPF já


está em uso por outra composição familiar;

10. Os fatos de novos desempregados não terem acesso;

11. A falta de atualização do Cadastro Único;

12. A existência de famílias inscritas no Programa Bolsa Famí-


lia que não migraram automaticamente para o auxílio, bom
como relatos de inúmeros desligamentos do programa em
período impedido por lei;

13. A negativa do auxílio a pessoas que foram candidatas em


2016 ou 2018, mas não foram eleitas;

14. A negativa de auxílio a familiares de presidiários, sem que


isso conste em lei;

15. A negativa do auxílio a migrantes, independentemente de


sua situação migratória;

234
16. A publicação de uma nova portaria junto à segunda parcela
do auxílio que traz barreiras ao acesso;

17. As dificuldades enfrentadas por pessoas que perderam ou


tiveram roubadas seus documentos, e não conseguem ob-
ter 2ª via na pandemia

18. O recebimento indevido do auxílio por centenas de milhares


de militares, sócios de empresas e cidadãos de alta renda,
segundo dados do próprio governo, totalizando centenas
de milhões de Reais em transferências indevidas;

19. A possibilidade de acesso enfrentada por pessoas que


estão aguardando a liberação de aposentadoria via INSS,
mas não foram liberadas ainda porque o INSS está fecha-
SUMÁRIO do, e têm ficado sem a aposentadoria e sem o auxílio.

Diante destes questionamentos realizados em conjunto pela so-


ciedade civil, realmente fica visível que não houve por parte do governo
atual compromisso em atender os mais necessitados e somente se
preocupou em lançar um programa que ainda deixou de atender pes-
soas vulneráveis, mas que chegou aos que NÃO precisam de auxílio
algum. Um programa com ferramentas extremamente excludentes de
acesso para a população.

Financiamento do SUAS

Anteriormente a implantação do Sistema Único de Assistência


Social -SUAS seu financiamento era centralizado, pois previa uma re-
muneração por atendimento per capita e não tinha uma previsão de
continuidade, tal modelo de financiamento não auxiliava para o avanço
das políticas de assistência social pela escassez de previsibilidade de
recursos e de planejamento de ações mais efetivas de acompanha-
mento familiar.

235
Depois de alguns anos, tal financiamento passou a ser descentra-
lizado, planejado e continuado, estruturado por pisos de financiamen-
to para serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais
visando a garantia da proteção social. Após a implantação do SUAS
veio a obrigatoriedade de criação e funcionamento dos Fundos de
Assistência Social para o recebimento de recursos federais e estaduais,
possibilitando assim a implementação de um sistema informatizado de
repasses regulares e automatizados de recursos sem que houvesse a
necessidade de acordos, convênios, ajustes ou contratos.

Este novo modelo de financiamento revogou a remuneração per


capita e passou a financiar os serviços de assistência social à popula-
SUMÁRIO ção carente, implementando também o conceito de cofinanciamento,
tornando os Estados e Municípios responsáveis em conjunto pelo fi-
nanciamento das ações do SUAS. Devido a isto os entes da federação
devem alocar recursos próprios em seus Fundos de Assistência Social,
para que assim tenham direito a receber repasses do Governo Federal
através do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).

Após o recebimento destes repasses os citados entes federa-


tivos ficam responsáveis pela utilização, controle e acompanhamento
dos serviços e programas através de seus órgãos de controle. De acor-
do com Abranches et al. (1989, p. 10):
A política social é parte, precisamente, do processo estatal de
alocação e distribuição de valores. Está, portanto, no centro do
confronto entre interesses de grupos e classes, cujo objeto é a
reapropriação de recursos, extraídos dos diversos segmentos
sociais [...].

O conjunto de recursos federais transferidos aos Estados e Mu-


nicípios são conhecidos como Blocos de Financiamento, os quais são
destinados à execução das atividades e ações da Assistência Social,
sendo uma política pública de proteção e amparo social que se esca-
lonam através de níveis de complexidade básica e especial.

236
Financiamento
do Auxílio Emergencial

Após o ápice da pandemia do novo coronavírus em todo o país,


os governantes preocuparam-se com os efeitos que a doença poderia
causar no sistema público de saúde. Tal fato gerou a imposição de um
isolamento social com consequências econômicas inimagináveis.

Com o advento do isolamento social os negócios, alguns seto-


res como é o caso do setor de serviços, caíram de maneira drástica. O
governo federal, então, anunciou medidas para transferência de renda
SUMÁRIO para as pessoas mais atingidas pelo isolamento social, pois estas fica-
ram sem poder exercer sua profissão. Inicialmente estimou-se que os
gastos ficarão na faixa das centenas de bilhões de reais.

Devido a tal fato seria necessário a “impressão de dinheiro” pelo


Banco Central para fazer frente a tal financiamento. No entanto, o pro-
cesso não seria simplesmente assim através da emissão de moeda,
mas o que realmente precisaria era promover uma expansão do total de
dinheiro em circulação no país. Todo este trâmite seria feito pelo Banco
Central, que poderia em um dos casos comprar títulos públicos. O pro-
blema principal é que tal ação poderia levar ao aumento da inflação.

O Tesouro Nacional é o órgão que controla o fluxo de caixa do


governo federal por meio da arrecadação de impostos e pagamento dos
gastos públicos, e caso as receitas forem menores do que as despesas,
ele pode emitir títulos da dívida pública para equilibrar o desfalque.

Os acionistas da dívida pública são os fundos de investimento,


de previdência, seguradoras e demais investidores locais e estran-
geiros. Contudo, o Banco Central e os bancos públicos e privados
também podem comprar títulos públicos, sendo daí que surgem os
recursos para financiar o governo em situações de emergência, como
o atual combate aos efeitos econômicos do coronavírus.

237
Usualmente o Tesouro emite títulos para fazer frente ao financia-
mento dos gastos com infraestrutura, tendo em vista que as receitas
geradas ao país pela nova infraestrutura serão suficientes ao longo do
tempo para pagar os juros e amortizar a dívida contraída.

Após efetuar a aquisição dos títulos públicos, o Banco Central


instantaneamente credita reservas na conta do Tesouro, que faz a
destinação específica para os recursos. Em alguma fase, o dinheiro
transferido pelo Tesouro é depositado nos bancos, que, por seguinte,
compram os títulos públicos que estavam com o Banco Central.

Ao final do processo, os bancos realizam o financiamento dos


SUMÁRIO títulos públicos com os recursos que foram transferidos pelo Tesouro
Nacional àqueles cadastrados nos programas sociais de auxílio emer-
gencial. Vale esclarecer que o citado processo vale tanto para a trans-
ferência de recursos para população mais vulnerável quanto para os
gastos com a construção de hospitais.

No entanto existe um risco em todo nesse mecanismo que seria


o aumento da inflação no país, devido ao fato da criação de um supe-
raquecimento da economia, esta situação levará os cidadãos a gastar
mais e pagar mais caro pelos produtos e serviços. Como se observa,
esse não parece ser o caso atual, pois devido a paralisação da ativida-
de econômica, o conjunto de gastos da população reduziu.

Como foi efetuado o pagamento


do Auxílio Emergencial

O Auxílio Emergencial teve o início de seu pagamento em abril


de 2020 no valor de R$600 ou R$1.200 para mães provedoras de famí-
lia, sendo pago em cinco parcelas. Posteriormente foi iniciado o Auxílio
Emergencial Extensão no valor de R$300 pago em quatro parcelas de
R$300 cada e, no caso das mães chefes de família, o valor é de R$600.

238
Os pagamentos foram divididos em três calendários de paga-
mento, sendo um para os beneficiários que recebem o Bolsa Família;
um segundo para os inscritos no Cadastro Único que não recebem o
Bolsa Família e mulheres chefes de família; e um terceiro para quem
se inscreveu para receber o Auxílio Emergencial através do aplicativo
ou do site do programa, dividido em lotes.

Os beneficiários do Bolsa Família recebem o Auxílio Emergen-


cial da seguinte forma (BIELASKI, 2020):
• primeira parcela - foi paga entre os dias 16 e 30 de abril;

• segunda parcela - foi paga entre os dias 18 e 29 de maio;


SUMÁRIO
• terceira parcela - foi paga a partir de 17 de junho;

• quarta parcela - foi paga de 20 a 31 de julho;

• quinta parcela - foi paga entre os dias 18 e 31 de agosto;

• sexta a nona parcela - foram pagas entre os dias 17/09 a


23/12/2020, conforme calendário próprio e observando o
número final do NIS dos beneficiários.

• Os beneficiários Inscritos no Cadastro Único que não rece-


bem o Bolsa Família receberam da seguinte forma:

• primeira parcela - foi paga a partir de 9 de abril para quem


tem conta no BB ou poupança na Caixa, e a partir de 14 de
abril para quem não tem conta nesses bancos;

• segunda parcela - foi depositada em poupança social da


Caixa entre os dias 20 e 26 de maio; saques e transferên-
cias liberados entre 30 de maio e 13 de junho;

• terceira parcela - foi depositada em poupança social da


Caixa entre os dias 27 de junho e 4 de julho; saques e trans-
ferências liberados entre 25 de julho e 27 de setembro;

• quarta parcela - foi depositada em poupança social da


Caixa entre os dias 22 de julho e 26 de agosto; saques e
transferências liberados entre 25 de julho e 27 de setembro;

239
• quinta parcela - foi depositada em poupança social da Cai-
xa, conforme calendário próprio e observando o mês de
nascimento dos beneficiários.

• Os beneficiários Inscritos via aplicativo e site receberam da


seguinte forma:

• primeira parcela - foi paga entre os dias 16 e 30 de abril, em


conta indicada na inscrição ou poupança digital da Caixa;

• segunda parcela - foi depositada em poupança social da


Caixa entre os dias 20 e 26 de maio; saques e transferên-
cias liberados entre 30 de maio e 13 de junho;

• terceira parcela - foi depositada em poupança social da


SUMÁRIO Caixa entre os dias 27 de junho e 4 de julho; saques e trans-
ferências liberados entre 25 de julho e 27 de setembro;

• quarta parcela - foi depositada em poupança social da


Caixa entre os dias 22 de julho e 26 de agosto; saques e
transferências liberados entre 25 de julho e 27 de setembro;

• quinta parcela - foi depositada em poupança social da Cai-


xa, conforme calendário próprio e observando o mês de
nascimento dos beneficiários.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada in loco, por formulário digital (Google


Forms), a partir de uma ferramenta eletrônica, mantendo o distancia-
mento social conforme recomendado pela OMS, garantindo a segu-
rança dos entrevistadores e entrevistados e com universo de amostra
dos usuários do Auxílio Emergencial, com entrevistas realizadas entre
brasileiros atendidos pelo CRAS - Pintolândia e imigrantes venezuela-
nos atendidos pela Cáritas Diocesana de Roraima. Tendo como princi-
pal característica, o diagnóstico dos entraves burocráticos quanto ao
acesso à política pública aos mais vulneráveis.

240
A pesquisa é caracterizada como pesquisa de campo, escolhi-
da por critério de conveniência e facilidade de coleta de dados (GIL,
2007), tendo como objeto de pesquisa entrevistar brasileiros e vene-
zuelanos, que se encontram atualmente na cidade de Boa Vista, Esta-
do de Roraima. A partir do objetivo principal, as questões de pesqui-
sa levantadas são: Quais as dificuldades encontradas no acesso ao
Auxílio Emergencial? Qual a importância do auxílio emergencial aos
brasileiros e imigrantes venezuelanos que se encontram em Boa Vista/
RR? Dessa forma colabora com as descobertas feitas no decorrer dos
estudos, trazendo também questionamentos que ainda não foram le-
vantados. É caracterizado pela empiria e pela sistematização progres-
SUMÁRIO siva do conhecimento até a compreensão lógica interna do grupo ou
do processo estudado (TURATO, 2005).

A coleta de dados in loco, foram feitas a partir de um questio-


nário de perguntas fechadas (em português e espanhol) baseadas em
alguns aspectos importantes: 1) Qual Gênero dos Entrevistados; 2) Se
possuem e-mail próprio; 3) Se possuem equipamento eletrônico; 4) Se
possuem algum tipo de renda; 5) Como souberam do auxílio financei-
ro; 6) Se tiveram acesso ao auxílio financeiro; 7) Como receberam o
auxílio financeiro; 8) Em qual aspecto o auxílio financeiro foi importante;
8) Quais as dificuldades de acesso ao auxílio financeiro.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Os dados da pesquisa foram analisados através da comparação


dos resultados obtidos após a aplicação dos questionários quanto ao
acesso ao Auxílio Emergencial por brasileiros e venezuelanos residen-
tes em Boa Vista capital de Roraima; houve no total de 74 (setenta e
quatro) entrevistas; sendo 29 (vinte e nove) brasileiros e 45 (quarenta

241
e cinco venezuelanos), e se observou a importância de apresentação
dos gráficos para melhor visualização do contexto local e a percepção
quanto à necessidade que aproximam as pessoas, que mesmo com
hábitos, cultura e idiomas diferentes têm muito em comum quanto às
suas necessidades e prioridades básicas, e que mesmo enfrentando as
adversidades conseguem superar obstáculos para acessar o benefício.

O questionário foi realizado nos dois idiomas: português e es-


panhol, onde buscou abordar quanto ao acesso e as prioridades, res-
peitando a privacidade do entrevistado, e não houve questionamentos
de âmbito pessoal procurando assim priorizar quanto ao acesso ao
Programa do Auxílio Emergencial.
SUMÁRIO

Caracterização do acesso
ao Auxílio Emergencial

O Gráfico 1 demonstra quanto ao gênero, respeitada a orienta-


ção sexual informada pelos entrevistados, onde foi possível perceber
que as mulheres tanto brasileiras quanto as venezuelanas são as que
mais tiveram acesso ao Programa Auxílio Emergencial, como demons-
tra o Gráfico 1. As mulheres brasileiras foram 58,6% e as venezuelanas
foram 77,8%; já os homens brasileiros foram 41,4% e os imigrantes
venezuelanos foram 22,2%.

242
Gráfico 1 – Gênero dos entrevistados

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

O Gráfico 2, ilustra quanto acesso ao Programa, mesmo exis-


tindo a condicionalidade de se ter e-mail próprio é possível verificar
conforme o gráfico 2 que 3,4% dos brasileiros utilizaram email de
outra pessoa para ter acesso ao benefício ,e 89,7% tem email, e não
possuem email 6,9%, mas mesmo assim recebeu o auxílio emergen-
cial; já em relação aos imigrantes embora a maioria tenha email 86,7%,
ainda é possível perceber que 13,3% não possui email.

243
Gráfico 2 – Acesso ao Programa

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

De acordo com o Gráfico 3, quanto à condicionalidade de


ter um equipamento eletrônico modelo smartphones Android e iOS
adequado para acessar um programa emergencial foi um dos impe-
dimentos encontrados na pesquisa, onde identificamos conforme o
gráfico 3 que 89,7% dos brasileiros possuem celular, 6,9% não possui
celular e 3,4% acessou o benefício usando o equipamento de outra
pessoa, enquanto que 86,7% dos imigrantes venezuelanos possuem
celular e 13,3% informaram que não tem nenhum tipo de aparelho,
é importante ressaltar que os valores destes aparelhos no mercado

244
ultrapassam o valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) que é o valor re-
ferente pago ao Auxílio Emergencial, sendo possível identificar nesta
pesquisa realizada por amostragem que muitos brasileiros e imigran-
tes venezuelanos que estavam dentro dos critérios de condicionalida-
des do programa deixaram de receber o Auxílio Emergencial por não
possuir um equipamento adequado.

Outra informação importante é que o celular quando é cadas-


trado o usuário só poderá ter acesso por esse equipamento, e se este
for roubado ou sofrer algum dano, a pessoa terá que se deslocar até
uma agência da Caixa Econômica para desbloquear e ter acesso no-
vamente ao benefício. Assim o que era para evitar aglomerações em
período de pandemia, tornou-se uma balbúrdia.
SUMÁRIO
Gráfico 3 – Equipamento eletrônico (celular)

Fonte: Elaboração própria (2021).

245
Já o Gráfico 4 revela que embora recebam o auxílio emergen-
cial, brasileiros e venezuelanos buscaram fazer a complementação da
renda. O gráfico 4 mostra que 37,9% dos brasileiros têm algum tipo
de renda e que 62,1% não tem nenhuma renda, enquanto entre os
imigrantes venezuelanos esse número é muito maior, somente 11,1%
tem alguma renda e 88,9% não possui nenhuma renda.

Gráfico 4 – Outra renda

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

O Gráfico 5 apresenta a forma como souberam da divulgação


do programa Auxílio Emergencial, entre os brasileiros 41,4% informa-
ram que souberam pela televisão, 24,1% pela internet, 17,2% contato
pessoal, 10,3 % jornal e 6,9% por rádio. Enquanto entre os imigrantes

246
venezuelanos 40% souberam por contato pessoal, 40% pela internet,
15,6% televisão e 4,4 % por rádio, não houve por parte dos imigrantes
acesso por jornal. Os dados demonstram que a informação aos imi-
grantes foi pela internet e por contato pessoal, enquanto que para os
brasileiros foi através da televisão e internet.

Gráfico 5 – Divulgação do Auxílio Emergencial

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

O gráfico 6, demonstra que 78,6% dos brasileiros tiveram aces-


so ao auxílio emergencial, enquanto 21,4% não conseguiram receber.
Na pesquisa realizada entre os imigrantes venezuelanos 77,8% con-
seguiram acessar o auxílio emergencial e 22,2% não tiveram acesso,

247
esse comparativo demonstra o percentual próximo entre brasileiros e
venezuelanos quanto ao acesso ao programa.

Gráfico 6 – Acesso ao Auxílio Financeiro

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

O Gráfico 7 apresenta o resultado quanto a forma de acesso


ao auxílio emergencial dos brasileiros entrevistados 59,1% receberam
o Auxílio pela poupança digital, 22,7% receberam integrado ao bolsa
família e 18,2% aguardaram a liberação para saque, enquanto os imi-
grantes venezuelanos 55,2% aguardaram a liberação para o saque,
27,6% receberam integrado ao bolsa família, 10,3 % pela conta digi-
tal e 6,9% recebeu pela conta digital, mas passou para outra conta.

248
Ocorre que mesmo recebendo mediante a uma conta digital que era
o objetivo do programa para não haver aglomeração nas agências,
verifica-se que a maioria dos imigrantes aguardavam a liberação do
saque enfrentando longas filas para retirar diretamente do recurso na
agência credenciada.

Gráfico 7 – Forma de receber o auxílio financeiro

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

Conforme o Gráfico 8, o Auxílio Emergencial teve um aspecto


fundamental tanto para brasileiros, os quais 77,3% informou que aju-
dou na alimentação, 22,7% foi para pagamento de contas, quanto para

249
imigrantes venezuelanos 86,2% foi para ajuda na alimentação e 13,8%
para pagamento de contas.

Gráfico 8 – Importância do auxílio financeiro

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

Esta análise (Gráfico 9) demonstra que brasileiros e venezue-


lanos não tiveram dificuldade de acesso à plataforma do programa,
mas ambos aparecem com percentual significativo quanto ao acesso a
internet como meio para se cadastrar no programa. Entre os brasileiros
55,2% não tiveram dificuldade de acesso, 17,2% falta de acesso a in-
ternet, 17,2% não atendeu aos critérios do programa, 6,9% não soube
acessar as ferramentas da internet, 3,4% teve dificuldade de preenchi-
mento do cadastro; Já entre os imigrantes venezuelanos 44,4% não

250
tiveram dificuldade, 28,9% falta de acesso a internet, 11,1% dificulda-
de para completar o cadastro, 8,9% não cumpriu com os critérios do
programa, 4,4% não soube como acessar as ferramentas da internet e
2,2% por falta de equipamento tecnológico para acessar o programa.

Gráfico 9 – Dificuldades de acesso ao auxílio financeiro

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo principal, analisar as dificulda-


des de acessos encontradas e a importância do auxílio emergencial,

251
para os brasileiros e imigrantes venezuelanos que recebem ou não o
bolsa família, e que se encontram especificamente na cidade de Boa
Vista, Estado de Roraima.

É importante relatar que, o Auxílio Emergencial é um direito de


todos que necessitam, não pode ser visto como assistencialismo, pois é
dever do Estado garantir condições básicas neste período o qual todos
precisam se manter em isolamento social para preservação da vida.

Ocorre que a implementação do Auxílio Emergencial estabele-


ceu condicionantes objetivas de acesso às políticas públicas, mas a
plataforma de acesso deveria ser mais simples e objetiva, com diminui-
SUMÁRIO ção da demora de retorno, capacitação dos Estados e Municípios para
atendimento remoto a população entre outras demandas previamente
identificadas que causaram muitos transtornos e fizeram aglomera-
ções desnecessárias nas portas dos bancos por falta de informações
claras e de fácil acesso.

Foi verificado, dentre vários resultados importantes da pesquisa,


dois aspectos preocupantes: 1) muitas pessoas, sejam elas brasilei-
ras ou venezuelanas, utilizam o auxílio emergencial para comprar itens
básicos para sua alimentação e de seus familiares; 2) a maioria, prin-
cipalmente os Venezuelanos, não possuem outra renda, a não ser, os
recebimentos do governo federal. Pode-se citar outros resultados, que
fizeram parte da pesquisa, como: 1) maior porcentagem dos entrevis-
tados possuem um e-mail, condicionante importante para o recebi-
mento do benefício; 2) grande parte dos entrevistados possui um celu-
lar, para que possam a partir do aplicativo disponibilizado pelo governo
federal, conseguirem resgatar o auxílio; 3) Por parte dos brasileiros, a
maioria não tiverem dificuldades de acesso ao programa, porém, por
parte dos venezuelanos, mais da metade das pessoas entrevistadas,
tiveram dificuldades e problemas no acesso ao programa.

252
É possível atender a todos de forma a buscar a isonomia, com
soluções simples de maneira a amenizar o sofrimento de perdas cau-
sado tanto pela pandemia quanto pela necessidade de um prato de
comida. A longa caminhada de muitos imigrantes e as necessidades
dos brasileiros neste momento de isolamento social se converge prin-
cipalmente na busca, pelo emprego e exercício da profissão, para sub-
sistência e da necessidade básica, que é a alimentação.

Recomenda-se, como sugestão para futuras pesquisas com o


mesmo objetivo, verificar uma amostragem ou fração maior da popu-
lação pesquisada, para que possam usar como base os dados levan-
tados, visando generalizar os resultados finais, indicando assim um
SUMÁRIO caminho a seguir em relação às políticas públicas.

REFERÊNCIAS
ABRANCHES, S. H.; SANTOS, W. G.; COIMBRA, M. A. Política social e
combate à pobreza. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1989.
BIELASKI, E. Oitava parcela do Auxílio Emergencial começa a ser paga
na próxima semana. Disponível em: https://www.cliccamaqua.com.br/
noticia/59810/oitava-parcela-do-auxilio-emergencial-comeca-a-ser-paga-na-
proxima-semana.html> Acesso em: 04 maio 2021.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa
do Brasil de 05 de outubro de 1988.
BRASIL. Lei n. 13.982, de 02 de abril de 2020. Brasília, 2020b. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13982.htm.
Acesso em: 10 abr. 2021.
Caderno SUAS V: financiamento da assistência social no Brasil.- Brasília, DF:
MDS, Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação; Secretaria Nacional
de Assistência Social, 2011.
CADERNO DE TEXTOS: subsídios para debates – participação e controle
social do SUAS/Conselho Nacional de Assistência Social, Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, DF: CNAS/MDS, 2009.

253
CAMPOS, E. B.; MACIEL, C. A. B.; PEREIRA, F. S. O controle social e a
gestão de políticas públicas: a perspectiva dos usuários. 3º Encontro
Internacional de Política Social/ 10º Encontro Nacional de Política Social.
Disponível em: https://periodicos.ufes.br›einps›article›view. Acesso em: 03
maio. 2021.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.
INESC. Disponível em :https://www.inesc.org.br/renda-basica-organizacoes-
identificam-20-erros-na-implementacao-do-auxilio/. Acesso dia 15 fev. 2021.
TURATO, Egberto Ribeiro. Métodos qualitativos e quantitativos na área da
saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev. Saúde
Pública, São Paulo, v. 39, n. 3, Jun, 2005.

SUMÁRIO

254
11
Capítulo 11

Planejamento Participativo na Estratégia Saúde da Família


(ESF): Estudo de caso da aplicabilidade do Método MAPP
na UBS São Vicente no Município de Boa Vista/RR

Maria da Conceição Theodocello Sant’Anna

Juliano Milton Kruger

Maria da Conceição Theodocello Sant’Anna

Juliano Milton Kruger

Planejamento Participativo na
Estratégia Saúde da Família (ESF):
estudo de caso da aplicabilidade
do método MAPP na UBS São Vicente
no município de Boa Vista/RR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.11
SUMÁRIO

Resumo:
O presente estudo teve como objetivo principal analisar a utilização do MAPP
(Método Altadir de Planejamento Popular) através de intervenção aplicada em
Oficinas de Planejamento Participativo, ocorridas junto às Equipes de Estraté-
gia da Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica de Saúde São Vicente no
município de Boa Vista/RR. Promoveu-se uma Oficina para cada Equipe, apre-
sentando o MAPP como facilitador do processo de Planejamento Participativo;
e detalhou-se a Oficina realizada, refletindo sobre a viabilidade da discussão
e formas de solução dos problemas existentes. A metodologia utilizada foi a
qualitativa do tipo exploratório-descritivo. Foi escolhida a pesquisa-ação aliada
ao estudo de caso com a aplicabilidade mista de observação participante e le-
vantamento através de um inquérito por questionário. Os resultados superaram
as expectativas de aceitação do MAPP, pela sua simplicidade, porém, potencia
na identificação dos problemas na gestão da saúde básica, sendo cogitada a
sua utilização nas próximas reuniões de planejamento das equipes.

Palavras-chave: Planejamento Participativo; Método Altadir; Estratégia;


Saúde da Família.

256
INTRODUÇÃO

A Gestão Participativa é uma tendência inovadora, que permite


a participação de todos nos processos administrativos e estratégicos,
inclusive nos relativos às tomadas de decisão. O processo de escolha
no contexto empresarial, segundo Marques (2019, p. 3), não precisa
acontecer de forma isolada, pois, nas decisões compartilhadas podem
ser gerados resultados positivos para todos.

Nesse sentido, nos processos decisórios, quanto maior a partici-


pação de todos os colaboradores de uma organização, maiores serão
SUMÁRIO as chances de se encontrarem soluções práticas e assertivas. No cam-
po da saúde não é diferente. Enquanto estratégia de saúde, a Atenção
Básica é a porta de entrada do indivíduo no Sistema de Saúde Brasileiro.
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS), no que diz respeito à hierar-
quização, preconize que as ações e serviços devam ser organizados
em níveis de atenção, na prática, os profissionais da Atenção Básica,
aqueles que trabalham na ponta, em especial os que compõem a Estra-
tégia Saúde da Família, pouco contribuem na elaboração de práticas ou
protocolos, visto que são convocados, na maior parte das vezes, apenas
para tomarem conhecimento das decisões tomadas pelos gestores em
processos de gestão mais autocráticos e impositivos.

Nas reuniões do corpo gestor, muitas vezes não há clareza so-


bre quais profissionais foram designados para o assessoramento, de
tal forma que, aparentemente, as decisões surgem dos órgãos federal
ou estadual, de forma verticalizada, o que pode gerar a ausência de
análise regional municipalizada, em desacordo com o que preceitua o
Pacto de Gestão do SUS.

Em vista dos crescentes desafios na área da saúde, pode-se


refletir que seria mais produtivo que todos os profissionais de saúde

257
se envolvessem na busca de soluções e não apenas fossem os exe-
cutores dos protocolos. Não raro se dá mais visibilidade às unidades
hospitalares e suas equipes, encabeçadas por médicos e enfermeiros,
e ressalta-se a média e a alta complexidade em detrimento da atenção
básica. No entanto, não menos importantes, estão os profissionais da
Atenção Primária, que auxiliam na identificação e no cuidado das en-
fermidades, além de sua colaboração na prevenção e promoção da
saúde. A relevância da Estratégia Saúde da Família (ESF) consiste na
aproximação entre as famílias de uma base territorial definida e os ser-
viços de saúde. Algumas questões, portanto, inquietam: Por que então
deixá-los de fora do planejamento de saúde? Por que não os incluir na
SUMÁRIO elaboração de estratégias inerentes à saúde básica?

O presente trabalho buscou, portanto, avaliar a introdução do


Método Altadir de Planejamento Popular (MAPP), também conhecido
como Planejamento Estratégico Situacional (PES) conforme Dagnino
(2014, p. 83) como ferramenta de gestão participativa nas Equipes Es-
tratégia Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica de Saúde (UBS)
São Vicente no município de Boa Vista/RR. O MAPP foi apresentado
às Equipes por meio de Oficina, através de uma abordagem direta e
simplificada dos passos que constituem o Método.

Destacado o objetivo central, para atingi-lo estruturaram-se ou-


tros objetivos que envolveram demonstrar e evidenciar a importância
do Planejamento Participativo na área da Saúde; apresentar o MAPP
como um facilitador do processo de Planejamento Participativo, bem
como, refletir sobre a solução conjunta dos problemas existentes na
prestação dos serviços de saúde da unidade.

Cabe ressaltar que a gestão participativa pode mudar o con-


ceito de governança pública e trazer uma série de benefícios para as
instituições. Nesta forma de gestão as responsabilidades são com-
partilhadas, facilitando as tomadas de decisão. As tarefas são des-
centralizadas, permitindo a inclusão e a participação dos stakeholders

258
envolvidos. Com isso, a direção fica mais transparente e o engajamen-
to mais promissor, pois todos saberão o caminho a seguir, aumentan-
do o desempenho organizacional.

No âmbito da Saúde, os princípios e diretrizes do SUS formam


a base de um dos maiores sistemas de saúde do mundo. Com a cres-
cente procura por serviços de saúde, a dinâmica de assistência se
adequa constantemente para proporcionar o melhor atendimento pos-
sível à demanda, seja por novos protocolos nas unidades de saúde,
seja nas orientações aos profissionais da área.

Ainda que a proposta de uma gestão mais participativa na área


SUMÁRIO da Saúde, principalmente do profissional de ponta, atuante numa UBS,
seja relevante do ponto de vista que é este profissional que lida dire-
tamente com a população, em suas necessidades mais básicas de
saúde; o conhecimento do cidadão acerca dos seus direitos, trouxe
mais elementos para se discutir e colocar em prática esse modelo de
gestão participativa.

Não obstante muitas orientações tenham sido disseminadas a


partir de estudos científicos e expertise de profissionais renomados,
sabe-se que cada grupo populacional tem suas especificidades e es-
tas precisam ser consideradas no planejamento da saúde. Dessa for-
ma, decisões regionais devem ser tomadas considerando isso, afinal,
o envolvimento dos profissionais da Atenção Primária, especialmente
aqueles inseridos na ESF, na busca de soluções práticas na luta contra
doenças cada vez mais presentes, traz muitos benefícios para todos,
seja na manutenção e/ou elaboração de protocolos de atendimento,
seja na prevenção e na educação em saúde voltada à população. Além
disso, para um bom planejamento de saúde, há de se refletir quais
modelos de gestão serão adotados.

259
REVISÃO TEÓRICA

Modelos de Gestão

A escolha do melhor modelo de gestão dependerá dos ob-


jetivos que a organização deseja alcançar. Como um modelo não
exclui o outro, não raro encontram-se modelos híbridos de gestão
coexistindo harmonicamente. De acordo com o blog da Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul (2020), “modelo de gestão é
um conjunto de estratégias definidas para conduzir o gerenciamento
de um negócio e trazer resultados positivos”. Dessa forma, uma boa
SUMÁRIO
gestão é um dos fatores determinantes para a melhoria contínua das
ações com foco no alcance dos resultados esperados, da forma mais
eficiente e com menor custo.

O referido blog (2020) destaca três modelos de gestão, a saber:


• A gestão por resultados é um formato no qual líderes e lide-
rados elencam as metas a serem alcançadas;

• O modelo de Gestão por Processos se baseia no desejo de


atingir resultados a partir da diminuição de custos operacio-
nais, ganhos na produtividade e da satisfação dos clientes;

• O modelo de Gestão Participativa honra bem o nome que


recebe. Aqui, a participação realmente acontece, o que exi-
ge envolvimento dos colaboradores.

No primeiro modelo de Gestão, o foco está em resultados imedia-


tos, não levando em conta os planejamentos de longo prazo. No modelo
de Gestão por Processos, o foco está num planejamento bem estrutu-
rado. Na Gestão Participativa, o apoio às decisões e aos caminhos que
a organização trilhará, se concentra no compartilhamento das experiên-
cias dos profissionais que nela atuam e naqueles envolvidos com o seu
processo, sejam clientes, fornecedores, gestores e equipes.

260
A Gestão Participativa
na área da saúde

Conforme Souza (2020, grifo nosso) a gestão participativa é um


modelo administrativo que valoriza a participação de todos nos
processos de administração, nos processos estratégicos e até na to-
mada de decisões de uma empresa. É um modelo mais flexível, no
qual os profissionais dividem responsabilidades, trocam experiências
e informações, desenvolvem soluções práticas e inovadoras, produzin-
do resultados positivos, pois se sentem parte da organização.

Segundo Ramillo (2010) tal ênfase implica que cada pessoa


SUMÁRIO está consciente da sua responsabilidade individual com os resultados
a serem perseguidos pela equipe, pela empresa, por todos. Dessa
forma, as competências individuais são potencializadas e valorizadas,
gerando satisfação sobre o serviço prestado.
Gestão participativa é uma estratégia transversal, presente nos
processos cotidianos da gestão do SUS, que possibilita a for-
mulação e a deliberação pelo conjunto de atores no processo
de controle social. Requer a adoção de práticas e mecanismos
que efetivem a participação dos profissionais de saúde e da
comunidade (BRASIL, 2009, p. 15, grifos nossos).

Um dos princípios do SUS diz respeito à participação social na


descentralização e democratização do modo de gestão, com o objetivo
de produzir saúde e inovar nas práticas de gerenciamento, tão necessá-
rias, principalmente em momentos de crise. Dessa forma, a participação
social no SUS vai ao encontro do propósito do Método Altadir.

261
Método ALTADIR
de Planejamento Popular (MAPP)

Segundo Matus (2007, p. 23), o Método Altadir de Planejamento


Popular (MAPP):
Es un método creativo, diseñado para guiar la discusión de los
problemas en la base popular (juntas de vecinos, comités de
base de partidos políticos, cooperativas, alcaldías menores, co-
mités electorales, sindicatos, etc.). Propone que las organizacio-
nes de base y la comunidad identifiquen y seleccionen los pro-
blemas que consideren más relevantes, los jerarquicen y definan
maneras de enfrentarlos con los medios a su alcance.
SUMÁRIO
De forma a proporcionar o envolvimento social das comunida-
des, auxiliando-as a identificarem seus problemas e buscarem formas
de resolvê-los ou minimizá-los, o Método Altadir de Planejamento
Popular (MAPP) permite a aplicação de planos de intervenção com
a finalidade de promover a gestão participativa. Afinal, planejar é um
processo político.

Indicado para ações locais, o MAPP, “combina simplicidade e


potência, porém para enfrentar poucos problemas de baixa interação
e baixa complexidade, onde domina o processo prático-operacional”.
(MATUS apud TANCREDI, BARRIOS, FERREIRA, (1998, p. 29).

Por se limitar à análise de poucos problemas, o MAPP é uma


importante ferramenta a ser utilizada no ambiente operacional. Nesse
sentido, o MAPP torna-se factível para ser aplicado em uma proposta
de Oficina de Planejamento Participativo junto à Atenção Básica ou
Primária, como a UBS São Vicente.

262
A Atenção Básica

As Normas Operacionais Básicas (NOB) orientam a operaciona-


lidade do SUS. De acordo com Nogueira (2019, p. 6):
A NOB 01/96 foi substituída pelo Pacto de Gestão, que esta-
belece as responsabilidades claras de cada Ente Federado de
forma a diminuir as competências concorrentes, e a tornar mais
claro quem deve fazer o quê, contribuindo assim, para o fortale-
cimento da gestão compartilhada e solidária do SUS.

O Pacto de Gestão reconhece as diferenças regionais que mo-


vem uma diversidade operativa, fundamental para nortear as políticas
SUMÁRIO de saúde necessárias para o atendimento singular à comunidade.

Salles (2014, p. 100) diz que “é no município que exercemos


diariamente nossa cidadania e os gestores municipais desempenham
a função primordial: possibilitar os elos entre os cidadãos e o poder
público”. Gestores municipais devem estar atentos às recomenda-
ções dos Órgãos de Saúde e Vigilância Epidemiológica e Sanitária
das instâncias superiores, buscando as adaptações necessárias de
acordo com o recorte populacional baseado nos fatores de risco e
nas vulnerabilidades.

De acordo com a FIOCRUZ (s.d., online):


A atenção básica ou atenção primária em saúde é conhecida
como a “porta de entrada” dos usuários nos sistemas de saú-
de. Ou seja, é o atendimento inicial. Seu objetivo é orientar so-
bre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos de
agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento
superiores em complexidade. A atenção básica funciona, por-
tanto, como um filtro capaz de organizar o fluxo dos serviços nas
redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos.

É nos municípios que a Atenção Básica acontece. A Estratégia


Saúde da Família (ESF), implantada inicialmente como um programa
em 1994, procura quebrar o modelo assistencialista, colocando como
foco a família.

263
A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa à reorganização da
atenção básica no País, de acordo com os preceitos do Sistema
Único de Saúde, e é tida pelo Ministério da Saúde e gestores es-
taduais e municipais como estratégia de expansão, qualificação
e consolidação da atenção básica por favorecer uma reorienta-
ção do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar
os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, de
ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das
pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante re-
lação custo-efetividade (BRASIL, s.d., p. 1).

Importante elo entre a família e a UBS, a ESF é composta por


uma equipe multiprofissional, integrada por: médico, enfermeiro, téc-
nico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACSs), sendo
SUMÁRIO possível o acréscimo de cirurgião-dentista e técnico em saúde bucal,
todos corresponsáveis pelo êxito da “estratégia”.

UBS São Vicente

A Atenção Básica atua na prevenção, promoção e recuperação


da saúde, voltada à comunidade da qual faz parte, e é considerada
como o primeiro contato do indivíduo com a instituição de saúde. Por-
tanto, ressalta-se que é importante priorizar todos os recursos disponí-
veis para este nível de atenção.

A UBS São Vicente localiza-se no Bairro São Vicente, no muni-


cípio de Boa Vista/RR e possui três Equipes de Estratégia Saúde da
Família: ESF 2.2, ESF 2.3 e ESF 1.14, com a seguinte composição4:

• ESF 2.2: médicx, enfermeirx, técnicx de enfermagem, cinco


agentes comunitários de saúde;

4 Por uma comunicação mais inclusiva e para garantia da confidencialidade, principalmen-


te quanto ao relato das Oficinas realizadas, foi adotada a neutralidade de gênero na
descrição das profissões.

264
• ESF 2.3: médicx, enfermeirx, técnicx de enfermagem, sete agen-
tes comunitários de saúde; e

• ESF 1.14: enfermeirx, três agentes comunitários de saúde.

Pelo descrito acima, pode-se notar a falta de alguns profissio-


nais, bem como a falta de homogeneidade na quantidade de ACSs
por equipe.

Desde o final de 2020, há um esforço conjunto no recadastramen-


to da população adscrita, base para o trabalho da ESF, com a finalidade
de atualizar as informações das famílias e usuários que compõem seus
respectivos territórios. Tal recadastramento servirá também para possível
SUMÁRIO
readequação de territórios e/ou reestruturação das Equipes.

Em 15 de junho de 2020, a UBS São Vicente passou a atender


exclusivamente casos de Covid-19, suspeitos e confirmados, tornan-
do-se uma das oito UBSs de referência no município de Boa Vista/RR.

Pela atenção dedicada no território que lhe compete, os profis-


sionais da ESF adquirem experiência na identificação das reais neces-
sidades de sua comunidade e a melhor conduta no trato dos pacientes.

A contribuição
dos profissionais da ESF

Os atores sociais não são apenas sujeitos de direitos, mas pro-


tagonistas de sua própria história e aptos a colaborarem nas estraté-
gias de saúde.
A definição de estratégias de intervenção é um processo sinuo-
so, envolvendo não apenas a identificação de necessidades e
de demandas em saúde, mas também o esclarecimento das
condições institucionais para a viabilização de iniciativas e en-
caminhamentos pertinentes (COSTA; LIONÇO, 2006, p. 54).

265
No caso dos profissionais das Equipes ESF, em contato mais
próximo com as mazelas da sociedade, a intervenção torna-se cirúrgi-
ca, pois os mesmos conhecem a população da área que lhes foi con-
fiada, e encontrarão a melhor abordagem para prevenção, promoção
e recuperação da saúde de sua comunidade.

Convém questionar também a restrita participação destes no


processo de discussão de propostas de saúde. Ibiapina (2017, p. 5)
destaca que:
O planejamento estratégico, por sua vez visa atingir um objetivo
específico, ou seja, é a construção de um plano de ação voltado
para o que se deseja encontrar no final do processo de âmbito
SUMÁRIO organizacional, muito usual no campo da Administração.

O planejamento estratégico é um dos principais desafios das


instituições e define onde se quer chegar, como e quando. Para tanto,
são necessários planos de ação flexíveis, avaliados frequentemente,
para que sejam realizados ajustes, quando necessário.

De acordo com Flasco apud Costa (s.d., p. 1):


[...] o MAPP confere a possibilidade de governar com objeti-
vos claros que serão acompanhados por meio de um sistema
que permita visualizar o detalhamento do plano em programas,
projetos e ações coordenadas entre si e, coerentemente articu-
lados com os diversos atores.

Como ferramenta da gestão estratégica participativa, o MAPP


possibilita aos profissionais da ESF a percepção dos problemas que os
envolvem e a elaboração de planos de ação moldados à realidade local.

266
METODOLOGIA

Para atingir os objetivos descritos a metodologia aqui utilizada


foi a qualitativa do tipo exploratório-descritivo. “A realidade é multiface-
tada e, como tal, não é superficial afirmar que dados gerados por mé-
todos distintos podem ser agregados, na perspectiva de compreensão
das várias faces da realidade” (SOUZA, KERBAUY, 2017, p. 37). Nesse
sentido, a combinação de metodologias só enriquece o estudo e a
produção do conhecimento social.
As pesquisas exploratórias, comparativamente aos outros dois
SUMÁRIO tipos de pesquisa (descritiva e explicativa), são aquelas que
“apresentam menor rigidez no planejamento”, tendo em vista
que utilizam procedimentos mais flexíveis na coleta e interpre-
tação de dados; justamente pelo fato de o pesquisador busca
formar uma visão preliminar a respeito de seu objeto de estudo.
(BHATTACHERJEE apud BIROCHI, 2015, p. 50).

Em síntese, a pesquisa exploratória é aquela em que descobertas


são realizadas e a pesquisa descritiva é aquela que desenha e interpreta
a realidade. Segundo Dresch, Lacerda e Miguel (2015, p. 1122)
A pesquisa-ação é um trabalho de natureza empírica, cujas con-
cepção e realização devem ocorrer em estreita relação com a
resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores
e participantes representativos da situação pesquisada estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo [...].

A pesquisa-ação permite que haja intervenção diante de um


problema social e o estudo de caso, o aprofundamento sobre um as-
sunto específico. Considera-se estudo de caso, segundo Yin (2001, p.
32-34) uma investigação empírica “[...] de um fenômeno contempo-
râneo dentro de seu contexto na vida real [...]” e “[...] uma segunda
aplicação é descrever uma intervenção e o contexto na vida real em
que ela ocorre [...]”. Desta forma, escolheu-se a pesquisa-ação entre-
laçada a um estudo de caso com a aplicabilidade de uma observação

267
participante no que diz respeito à aplicação de uma oficina de plane-
jamento estratégico participativo mesclada ao levantamento através
de um inquérito por questionário no sentido de auferir a qualidade da
proposta de intervenção.

Quanto ao universo de pesquisa é possível definir 34 (trinta e


quatro) os servidores da UBS São Vicente. Além dx Diretor, os pro-
fissionais das Equipes ESF lotados na UBS São Vicente, foram os
participantes escolhidos. Foram convidados a participar: 2 médicxs, 3
enfermeirxs, 2 técnicxs de enfermagem e 15 agentes comunitários de
saúde, totalizando 22 (vinte e dois) profissionais da ESF.

SUMÁRIO Quando da realização das Oficinas, participaram 12 (doze) pro-


fissionais. A queda entre o número de convidados e participantes deu-
-se pela falta de liberação dos servidores em horário de expediente
para a intervenção, licenças médicas e prestação de serviços na Cam-
panha de Vacinação Municipal contra a Covid 19 em postos drive-thru.

Na coleta dos dados necessários para o alcance dos objetivos


propostos na pesquisa, foram utilizados os seguintes instrumentos:
observação direta/participante; inquérito por questionário avaliativo e
oficina com atividade de brainstorming (chuva de ideias).

Executou-se a aplicação do MAPP durante as Oficinas de Plane-


jamento Participativo, realizadas por Equipe, em dia e/ou horário alter-
nado, tendo em vista a dificuldade de interromper o atendimento dos
profissionais para que as mesmas fossem realizadas, mesmo que por
um curto período do dia.

Pelo motivo acima descrito, não foi possível a presença dxs mé-
dicxs da ESF na Oficina. Demais ausências foram justificadas acima.
Sobre as questões éticas, conforme a Resolução n.º 510 de 07 de abril
de 2016 (BRASIL, 2016), não foram divulgados os dados e as informa-
ções confidenciais ou não autorizadas. Foi aplicado o mesmo modus
operandi nas três oficinas. Iniciou-se com a apresentação dos autores

268
e os motivos da realização da Oficina (pesquisa). Foram entregues os
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, que após as devidas
explicações, foram assinados por todos.

Conceituou-se Planejamento Participativo aplicado à Saúde e a


ferramenta que seria utilizada (MAPP). A duração média de cada Ofici-
na foi de 2 (duas) horas e usou-se a técnica de visualização em quadro
branco, cartelas e canetas (vermelha e azul) para quadro branco.

Paixão (2014) destaca que, no MAPP o momento explicativo é,


como o próprio nome diz, a explicação das causas e consequências
de um problema detectados pela comunidade, por outro lado, a situa-
ção objetivo do momento normativo é aquela que se almeja alcançar,
SUMÁRIO
e no momento estratégico que se buscam os modos de fazer possível
a realidade pretendida.

No momento explicativo utilizou-se a Árvore de Problemas com


as seguintes ramificações: problema (nome), descrição, causas e con-
sequências. Santos (2015, p. 59) menciona a
[...] elaboração de uma Árvore de Problemas, na qual se busca
elencar as principais dificuldades enfrentadas pela organização
no desenvolvimento de suas políticas públicas, bem como os
próprios desafios sociais que estas buscam resolver; [...].

Na fusão dos momentos normativo e estratégico utilizou-se a Árvore


dos Desafios (nome dado pelos autores) com as seguintes ramificações:
nós críticos, planos de ação, prazos e custos, responsáveis, resultados
esperados e fragilidades. No início, alguns participantes se mostraram
mais tímidos do que o habitual, mas conforme eram dadas sugestões e
complementações eram feitas, as inibições se desvaneceram.

Ao finalizar a oficina, agradeceu-se a participação, com mani-


festações de lamento dos participantes pelo pouco tempo disponível.
Foram oferecidos questionários avaliativos para que todos os presen-
tes respondessem acerca de suas percepções sobre a condução e
efetividade da oficina de planejamento participativo.

269
Quanto à técnica de análise dos dados foi utilizada a análise de
conteúdo tanto dos apontamentos feitos na observação participante
acerca do desenvolvimento da oficina quanto no sentido de perceber
qual a opinião dos profissionais a respeito da intervenção feita.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

A Oficina ocorreu em três momentos, por conta do período em


que havia demanda no atendimento, principalmente em relação axs
SUMÁRIO
enfermeirxs e técnicxs de enfermagem, bem como para evitar aglo-
merações em plena pandemia de Covid-19. Todos estavam utilizando
máscara e mantiveram o distanciamento social. Uma das Equipes ESF
participou no dia 10 de maio no período da manhã, outra no dia 11 de
maio no período da manhã e outra no mesmo dia no período da tarde.

Figura 1 – Equipes ESF da UBS São Vicente

Fonte: Acervo dos autores (2021).

270
O ideal seria que todos os profissionais das Equipes ESF es-
tivessem presentes, que é o que geralmente ocorre, no entanto, as
ausências estão justificadas em razão da pandemia de Covid-19. A Ár-
vore de Problemas é um método de análise que é utilizado para facilitar
a identificação e a descrição de um problema, suas causas e efeitos.

Quadro 1 – Árvore de Problemas 1

Problema Descrição Causas Consequências


Cadastro incorreto e
Falta de treinamento
Inconsistências Falhas ao cadastrar tempo dispensado
e apoio técnico
para solução
Necessidade de reu- Informações
Ausência de reunião Falta de gestão
SUMÁRIO nião para alinhamento desencontradas
Quantidade
Falta de com- Falta de investi-
insuficiente e Atraso no trabalho
putadores mento e gestão
compartilhamento
Falta de atendi-
Falta de salas Reforma da UBS Falta de planejamento
mento adequado
Excesso de trabalho
Falta de Nota Falta de planeja-
Definição de Tarefas e atendimento ina-
Técnica para Covid mento e gestão
dequado ao cidadão

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

As inconsistências afetam diretamente os ACSs, pois são pro-


blemas decorrentes do preenchimento incorreto dos cadastros domici-
liares e individuais e/ou de pequenos bugs no Sistema e-SUS. Algumas
são de fácil solução, como por exemplo, o não cadastramento indivi-
dual do responsável familiar. Basta realizar o cadastro para resolver a
inconsistência. No caso dos bugs, a solução depende do gerenciador
do Sistema, como por exemplo, a inconsistência gerada pelo indivíduo
sem domicílio, mas que é morador de rua, ou seja, nesse caso foram
preenchidos outros campos devido à sua condição social, que não
foram assimilados pelo Sistema. A ausência de treinamento e apoio
técnico gera retrabalho e perda de tempo para solucionar o problema.

271
Quadro 2 – Árvore de Problemas 2

Problema Descrição Causas Consequências


Relacionamento Empatia e Im-
Ausência de reunião Conflitos
Interpessoal pessoalidade
Falta de respeito
Comunicação Falar a mesma língua Falta de gestão
e hierarquia
Falta atenção
Atendimento Mau / Recusa Centralização
ao usuário
Descrição do
Fluxo Mal distribuído Centralização
que fazer
Recursos / Ferra-
Apoio ESF Interferência Falta planejamento
mentas de trabalho
SUMÁRIO Rotatividade Constantes mudanças
Problemas sociais Retrabalho
de Usuários de endereço

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

A gerência de conflitos interpessoais começa por colocar em


segundo plano os interesses e objetivos pessoais. A impessoalida-
de, a empatia e a cooperação fortalecem as equipes e são a base
para uma melhor e crescente eficiência organizacional. As reuniões
de equipe, setoriais ou gerais podem ser grandes aliadas para dirimir
esse problema.

Quadro 3 – Árvore de Problemas 3

Problema Descrição Causas Consequências


Acessibilidade aos Déficit na conclusão
Fluxos Gestão
encaminhamentos do tratamento
Sobrecarga /
Acolhimento Mau atendimento Reclamações usuário
Emocional
Falta de autonomia
Planejamento Organização Desordem
e hierarquia
Gestão / Mudan-
Gerência de sistema Retrabalho Perda de informações
ças de sistemas

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

272
A organização do fluxo de atendimento traz benefícios para os
profissionais e para os usuários e não diz respeito apenas à Atenção
Primária. Os serviços de média e alta complexidade, partes integrantes
do SUS, também devem oferecer acessibilidade aos usuários, que são
referenciados pela atenção básica, e no entanto, não recebe a contrar-
referência, desconhecendo a continuidade do atendimento.

Foram identificados nos Quadros 1 a 3, problemas relacionados


às próprias Equipes ESF, à UBS São Vicente, à Coordenação e à Se-
cretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Boa Vista/RR, que se refletirão
no atendimento aos usuários. Os termos (objetivos e subjetivos) recor-
rentes indicaram a falta de gestão, planejamento e reunião.
SUMÁRIO
Através de reuniões periódicas, em que todos (profissionais e
usuários) pudessem participar do planejamento, melhores resultados
seriam alcançados. O que estes autores chamaram de Árvore dos De-
safios, apresentou os nós críticos, seus respectivos planos de ação,
prazos e custos, e os responsáveis pelas ações.

Quadro 4 – Árvore dos Desafios 1

Nós Críticos Planos de Ação Prazos e Custos Responsáveis


Solicitação Centro de
90 (noventa) dias Enfermagem ESF
Ciência, Tecnologia
Gestão Horas profissionais Coordenação SMSA
e Inovação (CCTI)
e Planejamento 1 semana de Responsável CCTI
para treinamento
treinamento Direção UBS
de sistemas
Agendamento / Local 60 (sessenta) dias
Enfermagem ESF
Reuniões Planejamento ESF R$ 200,00 (materiais/
Direção UBS
Mutirão de Cadastros alimentação)

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Na tentativa de solucionar os problemas de inconsistência,


frutos da falta de gestão e planejamento, o Plano de Ação construí-
do foi solicitar ao Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCTI)
da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR, um período (sete dias) de

273
treinamento para sanar dúvidas e executar satisfatoriamente os cadas-
tros no e-SUS. A enfermagem da ESF ficará responsável por envolver
os demais gestores na execução do plano no prazo máximo de 90
(noventa) dias. A título de custo, foi deliberado que, como muitos re-
cursos recebidos na área da saúde se baseiam na produção, o período
em que os profissionais deixarão de atender, refletirá na prestação de
serviço e no atendimento à demanda.

Quadro 5 – Árvore dos Desafios 2

Nós Críticos Planos de Ação Prazos e Custos Responsáveis


Direção,
Interna (ESF) 30 (trinta) dias
Reunião Coordenação,
SUMÁRIO UBS São Vicente Horas profissionais
Enfermagem, ACSs
Reunião Direção,
15 (quinze) dias
Solução de conflitos (Enfermagem, Direção Coordenação,
Horas profissionais
e Coordenação) Enfermagem

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

A ausência de reunião foi um dos nós críticos apontados. O Pla-


no de Ação elaborado foi a solicitação, com urgência, de liberação
interna para consecução de reuniões, primeiramente da Equipe ESF
e posteriormente de toda a UBS São Vicente. A enfermagem da ESF
solicitou o apoio da direção e dos ACSs para realização da reunião de
Equipe, e da direção e da coordenação para efetivação da reunião da
UBS São Vicente.

Quadro 6 – Árvore dos Desafios 3

Nós Críticos Planos de Ação Prazos e Custos Responsáveis


Reuniões UBS
Planejamento periódicas e/ou Médicxs/Enfermagem Direção, Coordenação
reuniões setoriais
Coordenação,
Gerenciamento Protocolos internos 60 (sessenta) dias
Direção, Equipes ESF

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

274
Para melhoria no gerenciamento dos fluxos e das atividades, o
Plano de Ação apresentado, de execução mais complexa, foi a constru-
ção coletiva de protocolos internos, específicos para a UBS São Vicente,
no prazo máximo de 60 (sessenta) dias. As Equipes ESF, em conjunto
com a Direção e a Coordenação, proporcionaram as reuniões necessá-
rias, mesmo que de forma setorial, para a estruturação inicial dos pro-
tocolos. Posteriormente, uma reunião da UBS firmaria o compromisso
para sua execução, com avaliações periódicas, para eventuais ajustes.

Pode-se afirmar, que de certa forma, houve consenso entre as


Equipes ESF em relação aos nós críticos. Falhas na gestão e no pla-
nejamento foram apontadas e a ausência de reuniões se interpondo
SUMÁRIO como solução de diminuição e/ou saneamento dos problemas.

O segundo momento da Árvore dos Desafios trouxe contribui-


ções em relação à eficiência prática e às vulnerabilidades.

Quadro 7 – ESF Eficiência Prática e Vulnerabilidades 1

Resultados Esperados Fragilidades


Cadastros lançados
Ações planejadas
Falta de comprometimento
Equipe em sintonia
Fortalecimento de vínculos

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

A falta de comprometimento gera desgastes de tempo e ener-


gia, bem como o não cumprimento de metas. Por consequência, o
Plano de Ação não vinga. No entanto, estar comprometido, melhora a
comunicação e o relacionamento interpessoal, há maior dedicação e
empenho no cumprimento de objetivos.

275
Quadro 8 – ESF Eficiência Prática e Vulnerabilidades 2

Resultados Esperados Fragilidades


Melhorias:
Não adesão
Relacionamento
Tempo
Trabalho em Equipe
Fechamento da UBS
Atendimento
Críticas são levadas para o lado pessoal
Escuta
Falta de comprometimento
Alinhamento de tarefas

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

No ambiente organizacional, eventuais críticas exigem cuidado


da parte de quem o faz e não devem ser levadas para o lado pessoal.
Para quem as recebe, é uma boa oportunidade para refletir sobre a ve-
SUMÁRIO
racidade das mesmas, e se for o caso, tornar-se mais flexível e resiliente.

Quadro 9 – ESF Eficiência Prática e Vulnerabilidades 3

Resultados Esperados Fragilidades


Organização dos serviços ofertados
Diminuição dos conflitos Interferência vertical e horizontal
Normatização Falta de comprometimento
Respeito à hierarquia

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

A interferência vertical e/ou horizontal, que ocorre no trabalho


das Equipes ESF, denota desrespeito à hierarquia e intromissão ad-
ministrativa na área técnica. No tocante à eficiência prática e às vulne-
rabilidades, os resultados esperados pelas Equipes ESF refletem as
expectativas relacionadas à organização, como o respeito à hierarquia,
a normatização dos serviços ofertados, o alinhamento das tarefas, o
atendimento e a escuta ao usuário. Melhorias relacionadas à comuni-
cação e ao trabalho em equipe foram mencionadas, o fortalecimento
de vínculos e a diminuição de conflitos podem ser entendidos em rela-
ção aos servidores e aos usuários.

276
As fragilidades se contrapõem aos resultados esperados, na
medida de grandezas inversamente proporcionais. Se não houver ade-
são ou comprometimento, os planos de ação não vingarão e isso pode
trazer desmotivação e gerar mais obstáculos para uma nova tentativa.
A indicação dos resultados esperados e das fragilidades encerrou a
oficina, com o comprometimento de todos na mobilização e execução
dos planos de ação, com posterior avaliação.

Passou-se então, à distribuição de questionário de avaliação


aos participantes. As 06 (seis) primeiras perguntas do Questionário
Avaliativo da Oficina de Planejamento Participativo com a utilização da
ferramenta MAPP seguiu uma Escala de Satisfação em 5 (cinco) graus
SUMÁRIO (de forma bastante lúdica, para o início): desde “Muito Insatisfeito” a
“Muito Satisfeito”.

Figura 2 – Customer Satisfaction Score (CSAT)

Fonte: SC Academy (2019).

As questões propostas foram: Sobre a Organização da Oficina /


Linguagem e Abordagem da Oficina / Dúvidas e Conhecimento Prévio
da Oficina / Atendimento às Expectativas / Contribuição para o Desen-
volvimento de suas Atividades Profissionais / Carga Horária da Oficina.
E os resultados estão dispostos no Quadro 10 abaixo.

277
Quadro 10 – Resultado do Questionário Avaliativo (Questões 1 a 6)

Muito Muito
Questão Insatisfeito Indiferente Satisfeito
Insatisfeito Satisfeito
1. Organização 6 6
2. Linguagem e
5 7
Abordagem
3. Dúvidas e
1 7 4
Conhecimento Prévio
4. Atendimento
7 5
Expectativas
5. Contribuição
1 5 6
Profissional
SUMÁRIO 6. Carga Horária 1 9 2

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

O Quadro 10, ao mesmo tempo em que fala por si (de modo


geral a avaliação foi “Satisfeito” e “Muito Satisfeito”), sentiu-se a neces-
sidade de trazer algumas informações, vindas da observação. Apenas
xs enfermeirxs tinham sido esclarecidos sobre o conteúdo da Oficina,
dessa forma, restam dúvidas se os demais participantes haviam sido
informados. Embora a maioria tenha avaliado o tempo como suficiente,
ficou latente que muita coisa não foi dita. Houve algumas intervenções,
para que as explanações não fossem muito extensas, embora seja
difícil e custoso interromper o momento de fala, principalmente para
aqueles que, por diversas razões, não são escutados adequadamente.

As questões 7 a 10 (sete a dez), também foram baseadas numa


Escala de Satisfação, menos lúdica, de 4 (quatro) pontos, que varia-
vam de uma resposta extrema à outra, além de uma opção livre. Foram
propostas as seguintes questões: Forma de Realização da Oficina /
Aprendizado da Oficina / Custo, Trabalho e Viabilidade da Oficina /
Oficina de Planejamento Participativo (geral).

278
Embora as respostas a cada questão sejam diferentes (ver
apêndice), a noção do escalonamento é a mesma. Dessa forma, estão
dispostos os resultados no Quadro 11 abaixo.

Quadro 11 – Resultado do Questionário Avaliativo (Questões 7 a 10)

Muito Muito
Questão Simples Mediano Complicado
Simples Complicado
7. Forma de
10 2
Realização
8. Aprendizado 6 6
9. Viabilidade 7 3 1 1
10. Oficina
8 3 1
como um todo
SUMÁRIO
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Da mesma forma, basta observar o Quadro 11 para notar que a ava-


liação foi muito boa. A questão (aberta) 11 solicitava ao participante tecer
comentários sobre a sua participação na Oficina, destacando os aspectos
mais importantes (positivos e negativos) e apresentando sugestões.

Quadro 12 – Resultado do Questionário Avaliativo (Questão 11)

Questão 11
Gostou muito / Relevante / Amou / Muito proveitoso / Bom material / Apontamen-
tos consensuais entre a Equipe / Oportunidade para opinar / Participante acredita
que poderia ter interagido mais / Grande importância oportunizando expor, avaliar
Comentários
e compreender os aspectos positivos e negativos do ambiente de trabalho / Bem
planejada / Destaque para o planejamento, fluxo e gerenciamento da UBS / Top /
Momentos de debate e reflexão por um ambiente organizado.
Proporcionou interação e trabalho em Equipe / Sugestões / Apresentação simples e
objetiva / Busca constante da participação dos envolvidos / Forma de trabalho de fácil
Pontos
entendimento e de boa aplicabilidade / Contribuição para melhorias no local de tra-
Positivos
balho / Dinâmica do grupo produtiva / Liberdade para expressar sentimentos / Enten-
dimento da importância da contribuição pessoal para melhoria no local de trabalho.
Pontos Pouco tempo / Saída para realizar atendimento / Interferências externas / Perda do
Negativos trabalho por acreditar que não haverá retorno
Sugestões Que todo aprendizado seja colocado em prática

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

279
A análise pede maior critério, principalmente nas informações
subjetivas, evitando a repetição das informações, mas ressaltando
que, embora as Oficinas tenham sido realizadas em separado (por
Equipe ESF), muitos pontos foram congruentes, apontando assim, as
mesmas dificuldades, os mesmos planos de ação, assim como solu-
ções que se complementam.

A importância do Planejamento Participativo na Saúde restou


demonstrada por meio da preocupação das Equipes ESF com o pla-
nejamento, num esforço conjunto e contínuo para a melhoria dos pro-
cessos de trabalho e a consequente eficiência no atendimento aos
usuários. Para tanto, foi promovida uma Oficina, com a apresentação
SUMÁRIO do MAPP como facilitador desse processo.

Ao ser detalhada a Oficina realizada com as Equipes ESF, a dis-


cussão mostrou-se viável e respeitosa com todos, com o apontamento
de problemas e formas de solucioná-los possíveis de serem colocadas
em prática. Através da análise da utilização do MAPP, como ferramenta
para o planejamento participativo, sua avaliação foi extremamente po-
sitiva, permitindo aos profissionais uma participação ativa, agregadora
e comprometida com as diretrizes do SUS, quais sejam, promoção,
prevenção e recuperação da saúde dos usuários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Planejar é uma tarefa árdua, especialmente na área da saúde.


Na virada do ano (de 2019 para 2020) quem imaginaria uma pandemia
e que ela duraria mais de um ano? Num mundo de incertezas, tentar
prever as adversidades e os múltiplos cenários que possam se avizi-
nhar partem de constantes estudos e observações dos rumos que os
atores e as ações tomam durante seu percurso.

280
Várias ferramentas podem auxiliar o ato de planejar. Todas pos-
suem pontos positivos e limitações, de tal forma que por vezes, utiliza-
-se uma gama de instrumentos, para que um complemente o outro. O
MAPP é um desses instrumentos que auxiliam sobremaneira o ato de
planejar estrategicamente e de forma participativa, levando em conta
que todos podem contribuir na resolução de problemas, para que os
objetivos sejam alcançados.

A intenção inicial seria acompanhar todo o processo de plane-


jamento, realizado através de uma Oficina, com a participação de to-
das as Equipes ESF da UBS São Vicente juntas. No entanto, em face
da demanda de uma Unidade de Saúde que está atendendo apenas
SUMÁRIO casos de Covid-19 e na impossibilidade de suspender o atendimento
dessas Equipes por um período previamente escolhido (matutino ou
vespertino), só foi possível realizá-la de forma fragmentada.

Nesse sentido, embora a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA)


de Boa Vista/RR dê importância a reuniões de planejamento, na práti-
ca, quando se faz necessária a suspensão no atendimento das Equi-
pes ESF ou da UBS, as mesmas são dificultadas. A convergência, di-
reta e indireta, de opiniões mostrou o alinhamento de ideias entre os
profissionais, seja no apontamento dos problemas, suas causas e con-
sequências, bem como nas formas de resolvê-los. Vale lembrar que o
pouco tempo para realização da pesquisa foi um grande desafio e, se
não a prejudicou, também não contribuiu para seu aprofundamento.

Como o objetivo era analisar a utilização do MAPP, a pesquisa foi


encerrada quando da aplicação do questionário ao término da Oficina.
Convém ressaltar que pesquisas futuras podem ir além desse ponto,
com o acompanhamento das ações realizadas ou não, com a avalia-
ção contínua dos processos, ajustando-os se e quando necessários e
dos resultados auxiliando no alcance das metas e dos objetivos.

281
Nova pesquisa pode alcançar resultados mais abrangentes,
caso se faça a utilização do MAPP no contexto de outras UBSs e/ou
com a inclusão participativa dos usuários a elas ligados.

REFERÊNCIAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724: Informação
e documentação. Trabalhos Acadêmicos - Apresentação. Rio de Janeiro:
ABNT, 2002.
BIROCHI, Renê. Metodologia de estudo e de pesquisa em administração.
Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC. Brasília:
SUMÁRIO CAPES: UAB, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº
510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas
em Ciências Humanas e Sociais. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/cns/cns/2016/res0510_07_04_2016.html. Acesso em: 17
fev. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Estratégia Saúde da Família (ESF). [s.d.]. Disponível em: https://aps.saude.
gov.br/ape/esf/. Acesso em: 10 mai. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
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284
12
Capítulo 12

O cenário da Educação Infantil diante a Pandemia da Covid-19:


Um estudo sobre as tomadas de decisões no ensino remoto na
Escola Municipal Prof. James Macellaro Thomé em Boa Vista – RR

Vania Maria Moreira Leite

Daniel Soares de Souza

Vania Maria Moreira Leite

Daniel Soares de Souza

O cenário da Educação Infantil


diante a pandemia da COVID-19:
um estudo sobre as tomadas
de decisões no ensino remoto
na Escola Municipal Prof. James
Macellaro Thomé em Boa Vista - RR

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.12
SUMÁRIO

Resumo:
Devido o cenário da pandemia da Covid-19, tornou-se necessário discutirmos
sobre as dificuldades enfrentadas no ensino remoto, visto saber, das fragilida-
des quanto aos canais de comunicação digitais, serviços de internet, conheci-
mentos para o manuseio das ferramentas digitais e as dificuldades das famílias
das crianças para acompanharem a realização das atividades em casa. O
objetivo deste trabalho foi investigar a respeito das ações tomadas pelos os
gestores e docentes da Escola Municipal de Educação Infantil James Macel-
laro Thomé, diante da necessidade do ensino remoto, durante a pandemia da
Covid-19, em Boa Vista - RR. Para tanto, se realizou estudos bibliográficos
sobre assuntos pertinentes ao tema, como: Panorama sobre o Ensino da Edu-
cação Infantil nas escolas municipais de Boa Vista - RR, durante a pandemia
da Covid-19; Lei Nº 14.040, de 18 de agosto de 2020: Direcionamentos ao
trabalho nas escolas diante a pandemia; Parecer nº 17 de 2020 do Conselho
Municipal de Educação de Boa Vista - RR; o Ensino Remoto promovido nas
Escolas Municipais de Educação Infantil em Boa Vista - RR; e realização de
questionários com professores, responsáveis por alunos e gestores sobre o
ensino remoto na referida escola. Pode-se perceber a importância da ação de
análise sobre as tomadas de decisões sobre a presente situação na educação
infantil, com intuito de atender às crianças, favorecendo a interação entre esco-
la-família e proporcionando o desenvolvimento de objetivos de aprendizagens,
destinados a essa etapa de ensino.

Palavras-Chave: Pandemia da Covid 19; Educação Infantil; Ensino Remoto.

286
INTRODUÇÃO

No Brasil, recentemente enfrentamos uma pandemia causada


pelo vírus da COVID-19, que vem gerando sérios problemas à saúde
e comprometendo a prestação de serviços públicos básicos à popula-
ção. Dentre esses serviços, destacamos a oferta da educação pública
municipal, responsável por atender crianças de 2 a 5 anos, da Etapa
da Educação Infantil, com a função de promover o ensino e aprendi-
zagem, tendo como eixos norteadores, a interação e as brincadeiras,
onde percebemos a importância do vínculo escola-família.

SUMÁRIO O ano letivo de 2020, foi atípico, sendo que devido a pandemia,
as aulas escolares tiveram que ser suspensas e necessário mantermos
o isolamento social, gerando muitas inquietações e dúvidas relaciona-
das à diversos assuntos, referentes, ao sentimento das crianças, ao
desenvolvimento infantil durante esse período pandêmico e a tomada
de decisões de gestores públicos municipais sobre a situação. Pensar
sobre esses assuntos, se fazem importantes para identificarmos os dé-
ficits na aprendizagem e pode auxiliar em um trabalho de intervenção
pelos órgãos públicos municipais, gestores e professores, contribuin-
do para o ensino nas escolas.

Com o prolongamento do período de pandemia da Covid-19,


foi necessário planejar o retorno às aulas, e garantir a continuidade do
ensino, sendo importante, identificar as principais dificuldades, enfren-
tadas pela comunidade de cada município e escola, para então decidir
sobre as melhores formas de oferta.

O ensino remoto foi a forma que possibilitou o retorno às aulas e


continuação do ano letivo de 2020 nas Escolas Municipais da rede pú-
blica de Boa Vista - RR , no entanto, sabemos que vários fatores podem
dificultar a realização desse ensino, como a insegurança de alguns
professores, para utilizarem as tecnologias; problemas de acesso à

287
internet, principalmente por parte das famílias; dificuldades apresenta-
das por alguns pais, quanto ao tempo para dedicar-se ao ensino dos
filhos, a falta de conhecimento para acompanhar o desenvolvimento
das atividades, além daqueles que apresentarem resistência para par-
ticipar do ensino remoto; dificuldades para a escolha das melhores
ferramentas de comunicação para atender a comunidade escolar.

Assim, o presente tema de pesquisa, torna-se relevante, pois


ao se fazer um panorama sobre a situação atual, poderemos com-
preender a importância da tomada de decisão de docentes e gestores
nesse processo de anseios, descobertas e incertezas, que permeia as
instituições educacionais de ensino. A pesquisa apresenta como obje-
SUMÁRIO tivo geral, investigar a respeito das ações tomadas pelos os gestores
e docentes da Escola Municipal de Educação Infantil James Macellaro
Thomé, diante da necessidade do ensino remoto, durante a pandemia
da Covid-19, em Boa Vista - RR; com os seguintes objetivos específi-
cos: verificar o que foi implementado pelos gestores e professores no
ensino remoto na Educação Infantil; identificar a percepção de viabili-
dade das ações implementadas por parte dos professores, no que tan-
ge o ensino remoto na Educação Infantil; e diagnosticar o atual cenário
de atos e estratégias, voltadas para uma melhor condução do ensino
remoto no perfil da Educação Infantil e propor encaminhamentos que
poderão apoiar o êxito na condução desse propósito.

A partir da pesquisa será possível fazer uma análise sobre o pre-


sente cenário educacional, na Escola Municipal de Educação Infantil
Prof. James Macellaro Thomé, que poderá contribuir para a tomada
de decisões da equipe gestora e modelagem de comportamento de
professores e de toda a comunidade escolar, que venham amenizar os
prejuízos, causados pela pandemia na educação infantil, escolhendo
as ferramentas de comunicação e estratégias de ensino que melhor
atenda às necessidades das crianças.

288
REVISÃO TEÓRICA

Panorama sobre o ensino


da educação infantil nas escolas
municipais de Boa Vista - RR
durante a Pandemia da COVID-19

Diante a presente situação que afeta o mundo, com o surgimen-


to da pandemia da COVID-19, a educação sofre um impacto, tendo a
necessidade de interromper as suas atividades. Em Boa Vista - RR, as
aulas foram interrompidas no dia 17 de março de 2020, em cumprimento
SUMÁRIO às normas do Decreto nº 33 de 16 de março de 2020, que determina a
suspensão das aulas, pelo período de 17 a 31 de março de 2020.

Devido ao avanço de casos confirmados de pessoas infecta-


das, pelo o coronavírus no Brasil e no estado de Roraima, conforme
entrevista dada ao Jornal Folha de Boa Vista, em 31 de março de 2020,
a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, relata que decidiu antecipar o
período de recesso escolar dos alunos da rede municipal de ensino.
O recesso que estava marcado no calendário escolar para ocorrer em
julho, foi adiantado para o período de 31 de março a 14 de abril. Ainda,
na mesma entrevista a prefeita diz que o objetivo é diminuir a propa-
gação do coronavírus, mantendo as crianças em casa, evitando uma
possível lotação no Hospital da Criança Santo Antônio e a dissemina-
ção para outras pessoas. Abaixo, pode-se conferir a explicação para
a tomada de decisão da prefeita, através de um trecho da entrevista:
“Antecipar as férias é a forma de manter os alunos em casa por
mais tempo sem prejudicar o calendário escolar. O isolamento
social é a medida mais efetiva no combate ao coronavírus, por-
que quanto menos contato as crianças tiverem com aglomera-
ções, menores as chances de serem infectadas e menores as
possibilidades de internação e multiplicação dessa doença.”
(SURITA, Teresa, Prefeitura antecipa recesso escolar dos alu-
nos / Folha Web, 2020).

289
No dia 14 de abril de 2020, o secretário municipal de Educação
Arthur Henrique, se pronunciou ao Jornal Folha de Boa Vista, para comu-
nicar, que as aulas continuariam suspensas, devido ao agravamento da
doença causada pelo coronavírus, no entanto, os professores a partir do
dia 16 de abril de 2020, estariam atendendo os alunos de forma remota,
em home-office. O secretário falou a respeito da elaboração do Projeto
Aprendendo em Casa, criado com o objetivo de estimular o aprendizado
no ambiente domiciliar. Ele disse ainda, que o Projeto utilizaria as redes
sociais, como Instagram, site da prefeitura e grupos de Whatsapp para
disponibilizar as atividades, elaboradas pela a equipe pedagógica da
Secretaria Municipal de Educação, para as famílias.
SUMÁRIO Ao fazer essa trajetória, sobre o cenário educacional de Boa
Vista-RR, diante a pandemia da covid-19, verifica-se o grande desa-
fio, de governantes em agirem com responsabilidade, domínio de co-
nhecimentos e habilidades para lidarem em situações de calamidade
pública, exercendo o papel de gestor público, pois se antes o Brasil, já
enfrentava problemas para atender os menos favorecidos, hoje acen-
tuaram-se essas dificuldades.

Lei nº 14.040, de 18 de agosto


de 2020: Direcionamentos ao trabalho
nas escolas durante a Pandemia

A lei 14.040 estabelece normas educacionais a serem adotadas,


mediante ao estado de calamidade pública, causado pela pandemia
da COVID-19, oficializada a partir do Decreto Legislativo nº 06 de 20
de março de 2020.

Tem-se a partir da lei 14. 040 algumas medidas que direcio-


nam o trabalho de órgãos públicos federais, estaduais e municipais
a respeito do atendimento educacional a ser prestado diante da

290
situação pandêmica. Assim cada estado e município devem planejar
suas ações para garantir que os alunos tenham acesso ao ensino,
mesmo que de formas excepcionais, sendo tratado no referido docu-
mento diretrizes nacionais. Contudo, para esse estudo, faz se impor-
tante, o que trata o Art. 2º, inciso I:
Art. 2º Os estabelecimentos de ensino de educação básica, ob-
servadas as diretrizes nacionais editadas pelo CNE, a Base Na-
cional Comum Curricular (BNCC) e as normas a serem editadas
pelos respectivos sistemas de ensino, ficam dispensados, em
caráter excepcional: I - na educação infantil, da obrigatoriedade
de observância do mínimo de dias de trabalho educacional e do
cumprimento da carga horária mínima anual previstos no  inciso
II do  caput  do art. 31 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
SUMÁRIO
1996 (BRASIL, 2020).

No entanto, mesmo que a lei dispense a obrigatoriedade de dias


e carga horária anual, na etapa da Educação Infantil, no município de
Boa Vista, conforme orientação do Conselho Municipal de Educação,
se fez importante a organização do calendário escolar, afetado pelo o
estado de calamidade pública da COVID-19, em toda a rede de ensino
municipal, para que todos os alunos pudessem desenvolver habilida-
des e adquirir conhecimentos, mantendo o vínculo família-escola, con-
cluir a etapa de ensino a qual se encontra, dando continuidade ao seu
desenvolvimento escolar, no próximo ano letivo.

No Art. 4º da lei 14. 040, indica que sejam desenvolvidas ativida-


des pedagógicas não presenciais. Para a Educação infantil, dispõe que
seja de acordo com os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
dessa etapa da educação básica e com as orientações pediátricas per-
tinentes quanto ao uso de tecnologias da informação e comunicação,
como também, conduz que aqueles estabelecimentos de ensino que
optarem por essa forma de ensino, para cumprir parte da carga horária
anual, deverão garantir a todos os alunos e professores os meios para o
acompanhamento e desenvolvimentos dessas atividades.

291
As consequências causadas pela COVID-19 na Educação no
Brasil, sem dúvidas, é um assunto que merece um tratamento especial,
mediante a elaboração de legislações federais, e gestores públicos
municipais e estaduais comprometidos com o seu papel de atender
a população diante suas necessidades, sendo o acesso a Educação
primordial para a formação de indivíduos atuantes, capazes de viverem
com dignidade e condições sociais, cognitivas, afetivas, financeiras,
compondo uma sociedade mais justa e igualitária.

Diante a presente situação de calamidade pública, percebe-se


a necessidade da elaboração de um planejamento por cada estado e
município, com o propósito de evitar que as crianças, que dependem
SUMÁRIO do atendimento público educacional, paralisem totalmente suas ativi-
dades escolares, afetando assim seu desenvolvimento intelectual, sua
progressão, e em alguns casos, acarrete em evasão escolar.

Parecer nº 17 de 2020
do Conselho Municipal
de Educação de Boa Vista – RR

O Parecer nº 17 de 2020, aprovado em 31 de dezembro de


2020, pelo Conselho Municipal de Educação de Boa Vista-RR, trata
de uma análise e resposta à solicitação de aproveitamento de carga
horária das atividades não presenciais, desenvolvidas através do Pro-
jeto Aprendendo em Casa. A Secretária Municipal de Educação, Maria
Consuêlo Sales Silva, foi quem deu entrada com o processo, visando
o cumprimento da carga horária letiva relativa ao ano de 2020.

Para a formalização do processo, foram apresentados documen-


tos para análise e assim ser emitido o parecer, dentre eles: ofício nº
36174 - SMEC/2020 do Gabinete da Secretária Municipal de Educação e
Cultura - SMEC, Projeto Aprendendo em Casa, Calendário Escolar 2020,

292
Portfólios das Unidades Escolares, contendo as evidências do cumpri-
mento das atividades e carga horária letiva com o Projeto Aprendendo
em Casa, Cadernos de Atividades do Projeto Aprendendo em Casa.

Tendo como resposta formal expressa no presente decreto, que


o Projeto Aprendendo em Casa, foi desenvolvido para atender os alu-
nos no período de pandemia da Covid-19, onde as aulas tiveram que
ser suspensas, assim alguns requisitos levam a aceitação de aprovei-
tamento de cinquenta por cento da carga horária, trabalhada a partir
do referido projeto. Sendo alguns requisitos, ter sido planejado por
professores especialistas e transferidos aos demais por meio de redes
sociais (Whatsapp, Facebook e Instagram) e site da Prefeitura de Boa
SUMÁRIO Vista; ter atendido todas as etapas do ensino (Educação Infantil, Ensi-
no Fundamental) e modalidades Educação de Jovens e Adultos - EJA,
Educação Especial, Educação Indígena e do Campo.

O Parecer nº 17 de 2020 de Boa Vista-RR, considera que o de-


senvolvimento das aulas remotas propiciadas pela rede municipal de
ensino, condizem com o que defende a Lei 14. 040 e estabelece con-
siderações para o encerramento do ano letivo de 2020, organizando a
carga horária, da seguinte maneira, trinta e três dias que foram traba-
lhados de forma presencial, antes da pandemia, totalizando 132 horas;
das 664 horas trabalhadas a partir do Projeto Aprendendo em Casa,
computa-se cinquenta por cento, o que corresponde 332 horas, assim
estabelece que haja uma continuação do currículo para o alcance da
carga horária mínima, para o ano letivo de 2020.

Portanto o Parecer nº 17 de Boa Vista -RR, normatiza o cumpri-


mento da carga horária do ano letivo de 2020, e orienta as diretrizes
para o encerramento do ano letivo de 2020, propiciando o acesso à
escolaridade do aluno e sua progressão acadêmica.

293
O ensino remoto nas escolas
municipais de educação infantil
em Boa Vista – RR

Conforme Behar (2020), o termo “remoto” significa distante no


espaço e se refere a um distanciamento geográfico, assim os profes-
sores e alunos, diante ao distanciamento social, ocasionado pela a
pandemia, foram impedidos de estarem no mesmo ambiente físico
(sala de aula), para evitar a contaminação e propagação do vírus.

A ideia do ensino remoto nas escolas municipais de Boa Vis-


SUMÁRIO ta - RR, é de proporcionar a interação entre os alunos e professor de
forma remota, no mesmo horário, que seria no presencial, assim se
faz necessário um canal de comunicação para a realização das aulas,
bem como, o uso de recursos tecnológicos e digitais.

Ao que tudo indica, o uso da tecnologia digital de informação e


comunicação (TDIC), é o “carro chefe da vez”, contudo os profissionais
devem estar capacitados para o uso dessas ferramentas. Conforme
Brito e Purificação (2008, p. 09):
O profissional competente deve não apenas saber manipular as
ferramentas tecnológicas, mas incluir sempre em suas reflexões
e ações didáticas a consciência de seu papel em uma socieda-
de tecnológica (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p. 09).

Como percebemos, se antes já era importante, o professor sa-


ber lidar com as tecnologias, hoje torna-se fundamental, e o que temos
observado é o avanço desses profissionais quanto o aprendizado do
uso de ferramentas digitais, diante a pandemia da Covid-19.

Em entrevista, cedida à Ceiça Chaves, em 30/03/2021, a profes-


sora Juciléia de Matos, refere-se ao ensino remoto como um período
de aprendizagem, e tem tomado algumas decisões, para ajudar na

294
aprendizagem das crianças, sendo a primeira decisão tomada, a trans-
formação da área de serviço da sua casa, em uma sala de aula à dis-
tância e a improvisação de alguns recursos e materiais para dinamizar
as aulas; outra professora entrevistada, Andressa da Silva, relatou, que
prefere utilizar o espaço e equipamentos da escola para gravar vídeos
e aulas, pois há mais tranquilidade nesse espaço.

Contudo, é notório perceber a mudança de comportamento dos


professores, em que tiveram que se adaptar ao uso das tecnologias, e
o mais importante é perceber a empatia, mediante à situação, sendo
que muitos dedicaram tempo, além de sua carga horária, uso de seus
próprios equipamentos tecnológicos e digitais, espaço de sua casa, etc.
SUMÁRIO
No entanto, essa forma de ensino tem ocasionado muitos em-
bates e desafios, já que depende da participação efetiva, tanto do pro-
fessor apto a lidar com as ferramentas digitais, como, do responsável
pela criança. Contudo, percebe-se que as crianças se apresentam
motivadas para manusear as ferramentas, mas requerem de orienta-
ção para acompanhar as aulas remotas, fazendo o uso de aparelhos
tecnológicos digitais (celular, computador, tablet, etc.). Outro fator que
merece atenção é a dificuldade enfrentada por algumas famílias no
desenvolvimento das atividades, devido trabalharem o dia inteiro, e
não terem acesso ou conhecimentos para manusear as ferramentas
digitais, em alguns casos.

Tem-se um grande desafio, mediante a implementação do en-


sino remoto, pois cada realidade requer uma determinada tomada
de decisão, por parte do gestor escolar e docentes. Primeiramente, é
preciso reconhecer o perfil da comunidade escolar, traçar metas que
atendam a grande maioria, da melhor forma, e de comum acordo, pois
se os pais, não forem conscientizados sobre o seu papel, no ensino
remoto, o mesmo não ocorrerá, por outro lado, deve-se propiciar alter-
nativas para aqueles que apresentarem dificuldades para o acesso às
aulas remotas, a partir dos canais de comunicação digitais.

295
Conforme, podemos constatar, na fala dos autores a seguir, a
problemática que assola, o acesso à informação digital, é um desafio
que pode estar atrelado, a diversos fatores:
Desafio, por que o cenário escolar apresenta dificuldades como:
o acesso e interação a esses artefatos culturais e tecnológicos
por parte dos estudantes e às vezes, até dos professores; in-
fraestrutura das escolas que não fornece o mínimo necessário
para realizar atividades que necessitam das plataformas digi-
tais, inclusive sem conexão com a internet; formação precária
dos professores para pensarem e planejarem suas práticas
com essa mediação, evidenciando muitas vezes uma perspec-
tiva instrumental da relação com a tecnologias (PRETTO, 1996;
ALVES, 2020 apud ALVES, 2016).
SUMÁRIO
Como se observa, é preciso que cada instituição, nesse período
de pandemia, reconheça as fragilidades de e limitações de sua comuni-
dade escolar, e repense sobre as formas de atender às crianças, a partir
de um canal de comunicação acolhedor, onde haja principalmente a
interação entre a comunidade-escola. Todos precisam se sentir acolhidos
e participantes nesse processo de aprendizagens e descobertas.

METODOLOGIA

A pesquisa se classifica como quantitativa descritiva, com a


realização de revisão de literatura e aplicação de questionários. As
pesquisas descritivas têm como finalidade principal, descrever as
características de determinada população ou fenômeno ou o estabe-
lecimento de relações entre variáveis, dentre os temas que estuda,
pode-se destacar, o nível de atendimento dos órgãos públicos de
uma comunidade (GIL, 2008).

A pesquisa desenvolveu-se na Escola Municipal de Educação


Infantil Professor James Macellaro Thomé, situada na cidade de Boa

296
Vista - RR, entre os meses de novembro de 2020 a abril de 2021, com
intuito de se fazer um panorama sobre o cenário da educação infantil,
no período da pandemia, diante da necessidade da realização do en-
sino remoto. Tendo como público alvo, 12 docentes, 150 responsáveis
por crianças, 1 gestor e 2 coordenadores pedagógicos.

A pesquisa bibliográfica, possibilitou conhecer os principais pe-


riódicos, pareceres e decretos que oficializaram as diretrizes para o
ensino remoto. Para a coleta de dados, foram utilizados três questioná-
rios, elaborados e aplicados, utilizando a ferramenta do google forms,
possibilitando assim, a obtenção de informações, sobre o objeto em
estudo, sem a necessidade da presença física, respeitando as regras
SUMÁRIO de isolamento social, devido a pandemia da Covid-19.

O primeiro questionário foi aplicado com 12 professores da edu-


cação infantil, abordou questões sobre estratégias de ensino, a parti-
cipação das crianças, ferramentas digitais e avaliação sobre o ensino
remoto; o segundo questionário com 62 responsáveis por crianças,
tratou de questões acerca, dos benefícios e dificuldades, observados
nas aulas remotas, identificando a viabilidade das ações; e o terceiro
questionário, com 1 gestor escolar e 2 coordenadores pedagógicos,
em que se procurou mapear as decisões tomadas para atender a toda
comunidade escolar, diante o ensino remoto.

Após a aplicação dos questionários, se fez a análise dos da-


dos, organizando as informações obtidas em tabelas demonstrativas,
para facilitar a compreensão do resultado da pesquisa, estabelecen-
do análises descritivas da frequência de respostas e a correlação
entre as variáveis x e y.

297
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

O resultado da pesquisa foi satisfatório, pois constatou-se que


os gestores e docentes da Escola Municipal Professor James Macel-
laro Thomé, vem tomando decisões, em prol de promover a interação
entre família-escola, desenvolvendo as aulas de forma remota, duran-
te a pandemia da Covid- 19, utilizando equipamentos digitais (celular,
computador e tablet), e buscando aprender e/ou aperfeiçoar os conhe-
cimentos referentes ao uso das tecnologias digitais.
SUMÁRIO A Tabela 1 apresenta a lista com os nomes das ferramentas digi-
tais, citadas como mais utilizadas pelos professores nas aulas remotas.
Para essa questão, foi levado em consideração, o questionário respon-
dido por doze professores da escola, contendo onze perguntas, sendo
seis abertas e cinco fechadas, entre os assuntos abordados, a partici-
pação das famílias nos grupos, as ferramentas utilizadas, as principais
dificuldades enfrentadas para a realização das aulas remotas.

Tabela 1 – Lista das ferramentas digitais mais utilizadas nas aulas remotas

Ferramentas digitais Quantidade de vezes que foram citadas


Celular 12
Aplicativo WhatsApp 11
Ferramentas do google 04
Ferramentas do word 03
Tablet 04
Notebook 08
Computador 07
Internet 06

Fonte: Elaboração própria (2021).

298
Percebe-se a partir da tabela acima, que o canal de comunicação
mais utilizado, é o celular, com o uso do aplicativo de Whatsapp, com-
provando que as aulas remotas, são disponibilizadas através dos gru-
pos de Whatsapp, sendo o celular, o aparelho tecnológico mais utilizado.

No questionário realizado com os professores também foi ob-


servado que a falta de acompanhamento dos pais é a principal difi-
culdade enfrentada no ensino remoto, sendo na maioria dos casos,
devido os pais trabalharem o dia todo.

Foi aplicado um questionário composto por oito perguntas fe-


chadas e uma aberta, em que os responsáveis por crianças matricu-
SUMÁRIO ladas na escola, responderam cinco perguntas fechadas, a partir de
uma escala de 0 a 10, em que 0 a 2 significa muito mal, 3 e 4 mal, 5
e 6 neutros, 7 e 8 bom, 9 e 10 muito bom, com 62 responsáveis por
alunos da Educação Infantil. O questionário tratou de verificar se as
ações implementadas foram receptivas e viáveis no ensino remoto. A
pergunta 1 procurou saber se os responsáveis por alunos acreditavam
na eficácia do ensino remoto ofertado pela a escola, o resultado consta
no gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1 – Quanto acredita que o ensino remoto


ofertado pela escola seja eficaz?

Fonte: Elaboração própria (2021).

299
A partir do gráfico 1, observamos que a eficácia do ensino remo-
to, oferecido pela a escola pode ser considerada uma meta, que vem
produzindo resultados positivos, sendo que uma parte considerável,
apontou como muito bom e bom, especificamente 61% dos pais que
responderam ao questionário; contudo 27% se concentrou em uma
escala, determinada como neutro e 12% avaliou como mal e muito
mal; o que nos indica que apesar do ensino remoto, contribuir com a
interação e aprendizagem das crianças, apresenta fragilidades.

A pergunta 2, objetivou saber se os pais consideram adequadas,


as situações didáticas, que estão sendo utilizadas, nas aulas do ensino
remoto, para a Educação Infantil. Observe o resultado no gráfico 2.
SUMÁRIO
Gráfico 2 – Quanto você considera adequadas as propostas de
atividades da educação infantil para o ensino remoto?

Fonte: Elaboração própria (2021).

No gráfico 2, verificou-se que grande parte dos pais, equiva-


lente à 74% concordam que as dinâmicas de atividades, que estão
sendo disponibilizadas pelos os professores nos grupos de Whatsa-
pp estão coerentes com o ensino remoto, indicando uma boa recep-
tividade dos pais em relação às práticas de ensino-aprendizagem
propostas pela a escola.

300
A pergunta 3, os responsáveis por alunos foram instigados, a
avaliarem o trabalho do professor no ensino remoto. Consta o resulta-
do abaixo no gráfico 3.

Gráfico 3 – Quanto você atribui a forma que os professores


transmitem as experiências nas atividades

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2021).

Constatamos, que a prática docente no ensino remoto, foi muito


bem avaliada pelos os pais, pois 89%, caracterizou-se como, muito
bom e bom, o que revela que a interação e orientação propiciadas
nos grupos de Whatsapp é significativa e válida, nesse contexto. Res-
saltamos que as aulas foram propiciadas através de roteiros diários
explicativos, contendo links para o acesso à vídeos aulas.

A pergunta 4 destinou-se aos pais, com o intuito de avaliar a


utilização de recursos digitais utilizados pela a escola no ensino à dis-
tância. Verificamos, o resultado, no gráfico 4.

301
Gráfico 4 – Quanto você considera que os recursos
digitais utilizados pela escola no ensino remoto

SUMÁRIO Fonte: Elaboração própria (2021).

Podemos verificar, através do gráfico 4, que grande parte dos pais,


correspondente à 76%, consideram que os recursos digitais, utilizados
pela a escola, contribuem para o desenvolvimento das aulas remotas.

A pergunta 5 tratou de verificar se os pais das crianças, conside-


ram que a escola esteja preparada para atuar, diante dessa nova forma
de ensino. O resultado pode ser verificado no gráfico 5.

Gráfico 5 – Quanto você considera que a escola está


preparada para ofertar o ensino remoto

Fonte: Elaboração própria (2021).

302
No gráfico 5, observamos que o ensino remoto desenvolvido
na escola, é considerado uma estratégia exitosa, pois 80% dos pais,
indicaram que a escola tem condições de trabalhar dessa forma,
considerando a prática dos profissionais em educação da escola
como satisfatória.

Portanto, ao analisarmos o cenário da educação infantil, median-


te o ensino remoto, desenvolvido na referida escola, a partir dos ques-
tionários, realizados com os professores, pais e o gestor, percebemos,
que ainda não se atingiu 100 % da participação das crianças, sendo o
fator principal a falta de acompanhamento dos pais nas aulas remotas,
e que ainda há dificuldades quanto ao acesso e uso das ferramentas
SUMÁRIO digitais, enfim vivencia-se um processo de desafios e aprendizagens.

Em questionário realizado com o gestor da escola, composto


por 2 perguntas fechadas e 5 abertas, em que ao ser questionado
sobre as decisões tomadas para melhorar o ensino e aprendizagem
no ensino remoto, apontou como principal medida, a busca pelas as
crianças, a inserção no novo contexto, grupos de Whatsapp da turma
e atendimento presencial agendado, para a entrega de roteiros de ativi-
dades impressos, no caso, em que as crianças não tenham a possibi-
lidade do uso das ferramentas digitais. A gestora, quando interrogada,
sobre a existência de um planejamento estratégico, respondeu que a
escola possui, frisando que nele, estão inseridas todas as estratégias
possíveis de serem realizadas no ensino remoto.

Contudo, tanto no questionário aplicado com os professores,


como no do gestor, foi possível perceber o anseio em implantar novas
ferramentas digitais no ensino remoto, que venham intensificar a inte-
ração entre a escola-família e a aprendizagem das crianças.

A tabela 2 indica algumas sugestões de estratégias para a melho-


ria do ensino remoto, apontadas pelos professores e gestor da escola.

303
Tabela 2 – Lista de sugestões de estratégias
para a melhoria do ensino remoto

Ferramentas digitais Quantidade que foram sugeridas


Vídeos aulas em plataformas online 10
Jogos eletrônicos 03
Ferramentas do google 02
Google Classroom 06
Curso de formação sobre o uso das ferramentas digitais 08
Aplicativos de criação de animação e cenários 02

Fonte: Elaboração própria (2021).

SUMÁRIO Percebe-se, a partir da tabela 2, que os profissionais em educa-


ção estão receptivos ao ensino remoto, mais requerem de mais recur-
sos digitais, tornando-se importante a capacitação e investimentos por
parte dos governantes na área das TDIC, para uso nas escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante as novas demandas no âmbito educacional, com a


suspensão das aulas e a realização das aulas remotas, intensificou-se
a busca por novos conhecimentos e aprendizagens dos participantes
desse processo.

Constatamos que a prática dos profissionais em educação, na


Escola Municipal Professor James Macellaro Thomé, vem estimulando
a interação entre a família-escola, propiciando experiências didáticas
com as crianças da Educação Infantil, sistematizadas, conforme o que
preconiza a Proposta Curricular Municipal de Boa Vista – RR, que tem
como eixos estruturantes a interação e as brincadeiras, assim as orien-
tações dos professores ocorrem de forma dialógica e lúdica, ou seja,

304
conversando com as famílias, orientando a cerca de experiências a
serem elaboradas , em que as crianças sejam protagonistas.

Pelos resultados obtidos, percebemos que a escola obteve êxito


nas ações que foram implantadas, para a oferta do ensino remoto, aten-
dendo professores, crianças e famílias, fazendo uso de canais de comu-
nicação digitais, e em alguns casos, atendendo com atividades impres-
sas, favorecendo um clima organizacional com intervenções positivas.

Percebemos que mesmo havendo muitas dificuldades, a partir


da inserção do uso de algumas ferramentas digitais e da dedicação
dos profissionais da educação, está sendo possível conseguir êxito e
SUMÁRIO estimular os desenvolvimentos de habilidades socioemocionais e cog-
nitivas nas crianças, a partir do ensino remoto.

Diante o que foi vivenciado através dessa pesquisa, verificamos


que o uso das tecnologias digitais e virtuais na educação remota, pas-
sará a fazer parte das instituições de ensino, e essa prática deverá
ser evidenciada nas tomadas decisões dos gestores municipais, que
deverão propiciar a formação de atitudes e práticas inovadoras, para
atuar conforme a presente realidade.

Portanto, nesses tempos desafiadores, de dúvidas e mudan-


ças no cenário educacional, o gestor passa a ser o desencadeador,
de ações interventivas, exercendo sua função com empatia, diálogo e
dinamismo, sendo capaz de articular o grupo escolar, estimulando a
participação de todos, buscando soluções que possam contribuir para
a melhoria do ensino e aprendizagem.

No contexto dessa pesquisa, se fez importante delimita-se a fa-


zer um breve levantamento do cenário da educação infantil de uma
Escola Municipal de Boa Vista-RR, procurando reconhecer acerca da
tomada de decisão do gestor e docentes, diante ao ensino remoto,
mas é um tema que merece uma pesquisa mais aprofundada sobre

305
as metodologias, práticas educativas e a eficácia das estratégias uti-
lizadas para o ensino, mas devido, ao período pandêmico e o tempo
destinado para elaboração do artigo, iniciou-se um estudo sobre uma
investigação que poderá ser retomada em pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS
ALVES. Lynn. Educação remota: Entre a ilusão e a realidade. Interfaces
Científicas. Aracaju, v. 8. n. 3. p. 348 - 365. 2020. Fluxo Contínuo. Disponível
em: file:///C:/Users/Home/Documents/ARTIGOS/9251-Texto%20do%20
artigo-25201-1-10-20200704.pdf. Acesso em: 16 abr. 2021.
SUMÁRIO BEHAR, Patrícia Alejandra. O Ensino Remoto Emergencial e a Educação
a Distância. Disponível em https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/artigo-o-
ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia//. Acesso em 15 de
maio de 2020.
BRASIL. Lei Federal Nº 14.040, de 18 de agosto de 2020. Disponível
em:https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.
jsp?data=19/08/2020&jornal=515&pagina=4. Acesso em: 05 fev. 2021.
BRITO, Glaucia; PURIFICAÇÃO, Ivonélia. Educação e Novas Tecnologias:
Um repensar. 2. ed. rev. Atual. e ampl. – Curitiba: Ibpex, 2008. 139 p.
CHAVES, Ceiça. Ensino Remoto em meio a pandemia, os profissionais
têm-se reinventado durante as aulas a distância. Prefeitura Municipal
de Boa Vista-RR, em 30/03/2021. Disponível em: https://boavista.rr.gov.br/
noticias/2021/03/ensino-remoto-em-meio-a-pandemia-os-profissionais-tem-
se-reinventado-durante-as-aulas-a-distancia. Acesso em: 15 maio 2021.
BOA VISTA (Roraima). Prefeitura Municipal. Decreto nº 033 de 16 de março
de 2020- Dispõe sobre a adoção da administração pública direta e indireta,
de medidas temporárias e emergenciais de prevenção de contágio pelo
COVID-19 (novo coronavírus), bem como sobre recomendações no setor
privado municipal. Boa Vista-RR, 2020.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo.
Editora Atlas S.A. 2002.

306
BOA VISTA (Roraima). Conselho Municipal de Educação. Parecer nº
17/2020 cme/bv/rr aprovado em: 31/12/2020 - Aproveitamento da carga
horária das atividades não presenciais desenvolvidas por meio do “Projeto
Aprendendo em Casa BV”, em período de Pandemia (COVID-19), como
forma de cumprimento da carga horária letiva relativa ao ano de 2020. Boa
Vista-RR, 2020.
G1 GLOBO. Prefeita de Boa Vista suspende aulas nas redes municipais.
G1 Globo, 14 de abril de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/
roraima/noticia/2020/03/16/prefeitura-de-boa-vista-suspende-aulas-por-15-
dias-e-autoriza-gravidas-e-idosos-a-trabalhar-de-casa-devido-ao-coronavirus.
ghtml. Acesso em: 05 mar. 2021.
G1 GLOBO. Prefeita de Boa Vista antecipa férias escolares nas escolas
municipais. G1 Globo de 31 de março de 2020. Disponível em: https://
g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2020/03/31/prefeitura-de-boa-vista-antecipa-
SUMÁRIO
ferias-de-julho-e-anuncia-ensino-por-rede-social-em-novo-decreto-contra-
coronavirus.ghtml. Acesso em: 05 mar. 2021.

307
13
Capitulo 13

Avaliação dos processos de gestão e fiscalização


de contratos administrativos de uma Sociedade de
Economia Mista da Administração Indireta

José Aparecido de Sousa

Michele Tancman Cândido da Silva

Marcelo Hideki Togo


José Aparecido de Sousa

Michele Tancman Cândido da Silva

Marcelo Hideki Togo

Avaliação dos processos


de gestão e fiscalização
de contratos administrativos
de uma Sociedade de Economia
Mista da Administração Indireta
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.13
SUMÁRIO

Resumo:
O presente trabalho é o resultado da avaliação dos processos de gestão e
fiscalização de contratos administrativos, para execução de obras industriais,
de uma indústria petroquímica, Sociedade de Economia Mista integrante da
Administração Indireta, detentora do poder-dever de fiscalizar sua execução,
de modo a atingir tanto suas finalidades empresariais quantos seus objetivos
sociais, contribuindo para o saneamento das contas públicas do país, e tem
como objetivo descrever e avaliar esses processos, apontando caminhos para
sua efetividade. O estudo encontra-se dividido em duas partes centrais. A pri-
meira parte consiste na revisão bibliográfica dos conceitos de Administração
Pública, Administração Direta e Indireta, terceirização, contratos administrati-
vos e gestão e fiscalização de contratos e a segunda consiste no resultado
da pesquisa de campo realizada na referida empresa, através de observação
direta e pesquisa documental, com a identificação dos principais desvios na
execução de um contrato administrativo de construção e montagem industrial
e verificação do nível de conformidade desse contrato em relação às normas
aplicáveis e boas práticas de gestão e fiscalização, além da análise dos fatores
que resultaram em não-conformidades.

Palavras-Chave: Contratos administrativos; Gestão; Fiscalização; Obras;


Administração Indireta.

309
INTRODUÇÃO

Para o ano de 2022, a meta de déficit primário do Governo Cen-


tral, excluída as despesas relacionadas com a pandemia, prevista no
Orçamento da União é de até R$ 170,474 bilhões, novo ano consecuti-
vo de resultados negativos. O déficit primário indica quanto o Governo
Central deve gastar acima da arrecadação do ano, sem contar as des-
pesas com a dívida pública. Para honrar esse valor adicional a União
emite mais títulos da dívida.

Um déficit público prolongado resulta em dificuldade de viabili-


SUMÁRIO zar investimentos no país, hiperinflação, taxas de juros elevadas, crises
econômicas, aumento dos impostos, entre outras consequências dele-
térias. Nesse cenário, é de suma importância que os limitados recursos
públicos sejam aplicados de modo diligente, resguardando sempre
o interesse público e observando os princípios da legalidade, impes-
soalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência, com
atenção especial aos dois últimos.

A terceirização, como forma de organização estrutural que per-


mite a uma empresa ou organização transferir a outra suas atividades-
-meio, nasceu no setor privado, com foco na maior disponibilidade
de recursos para as atividade-fim, redução da estrutura operacional,
diminuição dos custos e economia de recursos, e se consolidou como
técnica administrativa eficiente e eficaz quando bem aplicada.

No intuito de promover melhora na prestação dos serviços e


conter o crescimento desmesurado da máquina administrativa essa
ferramenta de gestão de empresas privadas foi apropriada pela Admi-
nistração Pública, tanto nos órgãos da Administração Direta - União,
Estados, Distrito Federal e Municípios - quanto nas entidades da Ad-
ministração Indireta - autarquias, empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações públicas.

310
Nas empresas públicas e sociedades de economia mista, que
exploram atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou prestação de serviços e atuam em regime concorrencial, ganha ain-
da mais importância a adequada aplicação da terceirização, de modo
a atingir suas finalidades empresariais e objetivos sociais específicos.

A partir desse contexto surgem o contrato administrativo, instru-


mento firmado visando sempre o interesse público, através do qual a
Administração pretende satisfazer uma necessidade primária e tem o
poder-dever de fiscalização sua execução, e as figuras dos agentes pú-
blicos com atribuição de gestor e fiscal de contrato, que devem asse-
gurar que o objeto contratado será entregue na quantidade, qualidade e
SUMÁRIO tempo devido, através do acompanhamento desde o planejamento até
a conclusão das atividades, garantindo que os recursos públicos nele
empregados estão sendo executados do modo mais eficiente possível,
chegando então na questão de pesquisa do trabalho: De que maneira
assegurar a efetiva gestão e fiscalização de contratos de engenharia
numa Sociedade de Economia Mista da Administração Indireta?

Para responder essa questão, têm-se como objetivo geral do


trabalho descrever e avaliar os processos de gestão e fiscalização de
contratos administrativos para execução de obras industriais de uma
Sociedade de Economia Mista da Administração Indireta e como ob-
jetivos específicos identificar os principais desvios na execução de um
contrato administrativo de construção e montagem industrial (obras),
verificar o nível de conformidade desse contrato em relação às normas
aplicáveis e boas práticas de gestão e fiscalização de contratos admi-
nistrativos e analisar os fatores que resultaram em não-conformidades.

Este trabalho, além de uma revisão sobre Administração Pública,


terceirização e contratos administrativos, apresenta a avaliação da ges-
tão e fiscalização de contratos administrativos para execução de obras
industriais de uma Sociedade de Economia Mista e visa apontar cami-
nhos para a efetiva gestão e fiscalização de contratos administrativos

311
pela Administração Indireta, detentora do poder-dever de fiscalizar
sua execução, de modo a atingir tanto suas finalidades empresariais
quantos seus objetivos sociais, contribuindo para o saneamento das
contas públicas do país. Encontra-se dividido em duas partes centrais.
A primeira parte consiste no estudo sobre os conceitos de Administra-
ção Pública, Administração Direta e Indireta, terceirização, contratos
administrativos e gestão e fiscalização de contratos e a segunda par-
te consiste no resultado da pesquisa de campo realizada na referida
empresa, através de observação direta e pesquisa documental, com
análise dos principais desvios na execução de um contrato adminis-
trativo de construção e montagem industrial e verificação do nível de
SUMÁRIO conformidade desse contrato em relação às normas aplicáveis e boas
práticas de gestão e fiscalização de contratos administrativos.

REVISÃO TEÓRICA

Administração Pública

De acordo com Burle Filho e Meirelles (2016) a Administração


Pública é todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização
de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas: em sen-
tido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos
objetivos do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções
necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional,
é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços
próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade.

Quanto à sua organização, conforme Alexandrino e Paulo (2017),


Administração direta é o conjunto de órgãos que integram as pessoas
políticas do Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios),
aos quais foi atribuída a competência para o exercício de atividades

312
administrativas e Administração indireta é o conjunto de pessoas jurí-
dicas que, vinculadas à administração direta, têm competência para
o exercício de atividades administrativas (autarquias, empresas públi-
cas, sociedades de economia mista e fundações).

Nos termos do Decreto-Lei nº 200/1967, Burle Filho e Meirelles


(2016), a Administração indireta é constituída dos serviços atribuídos a
pessoas jurídicas públicas (autarquias) ou privadas (empresas públi-
cas e sociedades de economia mista), vinculadas a um Ministério, mas
administrativa e financeiramente autônomas.

Conforme Klering, Porsse e Guadagnin (2010) e Bresser Pereira


SUMÁRIO (1996), a reforma administrativa federal operada em 1967 pelo referido
Decreto-Lei nº 200 foi um marco na tentativa de superação da rigidez
burocrática do Estado, podendo ser considerada como um primeiro
momento da administração gerencial no Brasil, por meio da qual rea-
lizou-se a transferência de atividades de produção de bens e servi-
ços para autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de
economia mista, a fim de obter-se maior dinamismo operacional por
meio da descentralização funcional mediante a autonomia da admi-
nistração indireta, a partir do pressuposto da rigidez da administração
direta e da maior eficiência da administração descentralizada, e uma
maior eficiência nas atividades econômicas do Estado, através da fle-
xibilização de sua administração, com a instituição, como princípios
de racionalidade administrativa, do planejamento, do orçamento, da
descentralização e do controle dos resultados. Em resumo, conforme
Diniz (2000), o objetivo era modernizar a administração pública com a
adoção de um modelo com maior flexibilidade baseado em técnicas
de gestão do setor privado, descentralizando as atividades do setor
público e instituindo as funções de planejamento e coordenação.

Quanto às empresas públicas, sociedades de economia mis-


ta e respectivas subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou prestação de serviços,

313
a redação dada ao § 1 º do artigo 173 da Constituição Federal pela
Emenda Constitucional 19/98 determinou que lei estabeleceria o esta-
tuto jurídico dessas entidades, dispondo sobre a função social e for-
mas da fiscalização delas pelo Estado e pela sociedade (MEIRELLES;
BURLE FILHO, 2016). Tal lei foi promulgada somente em 30/06/2016,
nominada Lei das Estatais, como resposta à Operação Lava-Jato, de-
flagrada pela Polícia Federal em 2014.

A Terceirização e o Contrato Administrativo

SUMÁRIO A terceirização, como forma de organização estrutural que per-


mite a uma empresa ou organização transferir a outra suas atividades-
-meio, nasceu no setor privado, com foco na maior disponibilidade
de recursos para as atividade-fim, redução da estrutura operacional,
diminuição dos custos e economia de recursos (BARRAL, 2018), e se
consolidou como técnica administrativa eficiente e eficaz quando bem
aplicada (QUEIROZ, 1992).

Com o intuito de promover melhora na prestação dos serviços


e conter o crescimento desmesurado da máquina administrativa essa
ferramenta de gestão de empresas privadas foi apropriada pela Admi-
nistração Pública, tanto nos órgãos da Administração Direta - União,
Estados, Distrito Federal e Municípios - quanto nas entidades da Ad-
ministração Indireta - autarquias, empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações públicas (PIMENTA, 2011).

Nas empresas públicas e sociedades de economia mista, que


exploram atividade econômica de produção ou comercialização de
bens ou prestação de serviços e atuam em regime concorrencial, ga-
nha ainda mais importância a adequada aplicação da terceirização,
de modo a atingir suas finalidades empresariais e objetivos sociais
específicos (GOMES, 2016).

314
Nesse contexto surgem o contrato administrativo, instrumento fir-
mado visando sempre o interesse público, através do qual a Administra-
ção pretende satisfazer uma necessidade primária e tem o poder-dever
de fiscalização sua execução, e as figuras dos agentes públicos com
atribuição de gestor e fiscal de contrato (BARRAL, 2018). O gestor e fis-
cal de contrato devem assegurar que o objeto contratado será entregue
na quantidade, qualidade e tempo devido (BARRAL, 2018), através do
acompanhamento desde o planejamento das atividades até sua conclu-
são, garantindo que os recursos públicos nele empregados estão sendo
executados do modo mais eficiente possível (GOMES, 2016).

O acompanhamento e a fiscalização dos contratos objetivam


SUMÁRIO assegurar que o objeto contratado seja recebido ou executado a con-
tento, as obrigações decorrentes sejam realizadas no tempo e modo
devidos e as cláusulas contratuais sejam rigorosamente observadas
(SANTOS, 2013). O fiscal de contrato deve, necessariamente, adotar
todas as medidas para sanear os problemas encontrados na execução
contratual. Nessa situação, ao receber a indicação de alguma irregula-
ridade, deve atuar imediatamente, sob pena de responsabilização por
desídia e por negligência quanto à adoção de providências para sanar
irregularidades apresentadas (SANTOS, 2013).

METODOLOGIA

Esta pesquisa é classificada sob três aspectos: quanto ao mé-


todo e forma de abordar o problema, quanto aos objetivos da pes-
quisa e quanto aos procedimentos adotados para coleta de dados.
Quanto aos objetivos da pesquisa, é considerada exploratória, des-
critiva e aplicada. Exploratória porque, embora já haja estudos sobre
gestão e fiscalização de contratos administrativos na Administração
Pública, não são muitos os estudos que enfocam a sua concretização

315
nos contratos de engenharia de uma sociedade de economia mista
da Administração Indireta. Descritiva, à medida que procura retratar
com precisão as características da gestão e fiscalização de contratos
no setor de engenharia de uma indústria petroquímica. Explicativa, por
buscar encontrar explicações para os desvios e não-conformidades
levantadas. Aplicada, por seu caráter prático e pela realização de uma
análise crítica dos processos, com vistas a identificar em que medida
os resultados almejados foram alcançados e fornece sugestões de al-
ternativas a partir da prática vivenciada na própria empresa (GIL, 2007;
BHATTACHERJEE, 2012; VERGARA, 2016).

Quanto aos procedimentos adotados para coleta de dados,


SUMÁRIO esta pesquisa é bibliográfica, documental e de campo. Bibliográfica
por incorporar uma revisão da literatura (livros e artigos científicos
principalmente) sobre Administração Pública, Administração Direta e
Indireta, terceirização, contratos administrativos e gestão e fiscaliza-
ção de contratos, em que a coleta de informações para desenvolver
esta pesquisa será realizada em livros, artigos científicos, revistas
especializadas e internet. A pesquisa é também documental, uma
vez que serão obtidos dados a partir de documentos, de primeira
mão, da própria empresa, que não receberam qualquer tratamento
analítico, sobretudo relativos aos processos de gestão e fiscalização
de contratos (GIL, 2007; VERGARA, 2016).

Trata-se de uma pesquisa de campo, que não é uma técnica es-


pecífica, mas um meio de organizar dados preservando o caráter uni-
tário do objeto estudado, ou seja, refere-se a uma análise intensiva de
uma situação particular, com a tendência de se utilizar mais técnicas de
observação do que de interrogação. Será realizada uma investigação
empírica na empresa, utilizando a técnica da observação direta, parti-
cipante natural, e análise documental para obtenção dos dados, fontes
primárias, que subsidiam este estudo (BRESSAN, 2000; GIL, 2007).

316
Quanto ao método e forma de abordar o problema, confor-
me classificação preferida por Gil (2007) e tipologias elencadas por
Richardson et al. (2007), será realizada uma pesquisa qualitativa, apli-
cada e descritiva, através do procedimento de estudo de caso - estudo
profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de modo a descre-
ver a situação do contexto em que está sendo feita determinada inves-
tigação e/ou explicar as variáveis causais de determinado fenômeno
- no setor de engenharia de uma indústria petroquímica do Estado do
Amazonas, sociedade de economia mista da Administração Indireta,
de modo a verificar a efetiva gestão e fiscalização de contratos de en-
genharia, analisar os fatores que resultaram em não-conformidades e
SUMÁRIO propor ações de melhoria.

O presente estudo foi aplicado no setor de engenharia de uma


indústria petroquímica, localizada no Estado do Amazonas, município
de Manaus, que iniciou suas operações em meados da década de 50,
fundada por um empresário local, posteriormente incorporada a uma
sociedade de economia mista integrante da Administração Indireta.
Esse setor tem como funções básicas planejar, executar e avaliar as
atividades e serviços técnicos de engenharia, compreendendo o pla-
nejamento, a avaliação de desempenho e a gestão integrada do port-
fólio. Sendo assim, implementa empreendimentos e presta serviços de
engenharia, especificando materiais e equipamentos necessários aos
projetos e cumprindo prazos e custos estabelecidos.

Como construção e montagem não fazem parte das ativida-


des-fim da empresa, a execução desses serviços é executada através
de empresas especializadas contratadas através de concorrência pú-
blica, com acompanhamento pela empresa contratante, exercendo
o poder-dever de fiscalização por meios de agentes públicos com
atribuição de gestor e fiscal de contrato, devendo assegurar que o
objeto contratado seja entregue na quantidade, qualidade e tempo
devido (BARRAL, 2018).

317
O acompanhamento e a fiscalização dos contratos objetivam
assegurar que o objeto contratado seja recebido ou executado a con-
tento, as obrigações decorrentes sejam realizadas no tempo e modo
devidos e as cláusulas contratuais sejam rigorosamente observadas.
O fiscal de contrato deve, necessariamente, adotar todas as medidas
para sanear os problemas encontrados na execução contratual. Nessa
situação, ao receber a indicação de alguma irregularidade, deve atuar
imediatamente, sob pena de responsabilização por desídia e por ne-
gligência quanto à adoção de providências para sanar irregularidades
apresentadas (SANTOS, 2013).

Selecionado como amostra não probabilística, para pesquisa


SUMÁRIO qualitativa, um contrato de serviços de construção e montagem mecâ-
nica, civil, elétrica e instrumentação para obras industriais, com prazo
inicial de 365 dias, prorrogado por igual período, cujo escopo materia-
lizou a implantação das obras industriais do portifólio dessa empresa
no período. Como não é uma forma aleatória de seleção, essa amostra
não pode ser objeto de certos tipos de tratamento estatístico, o que
diminui a possibilidade de inferir para o todo os resultados obtidos para
a amostra (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Realizada uma investigação empírica na empresa, utilizando a


técnica da observação direta (participante natural, onde o observador
pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga), e pesquisa
documental para coleta dos dados, fontes primárias, que subsidiam
este estudo (BRESSAN, 2000; MARCONI; LAKATOS, 2010).

No referido contrato selecionado foram identificados os princi-


pais desvios na sua execução e o nível de conformidade em relação
às normas aplicáveis e boas práticas de gestão e fiscalização de con-
tratos administrativos, para posterior análise e interpretação dos fato-
res que resultaram em não-conformidades e proposição de ações de
correção e/ou melhoria.

318
A empresa estudada possui boas práticas de fiscalização e
gerenciamento de contrato, como a realização de reunião semanal
para acompanhamento do contrato e a avaliação mensal do desem-
penho dos fornecedores na prestação de serviços e fornecimento de
bens em quatro critérios: SMS - Segurança, Meio Ambiente e Saúde,
Qualidade, Prazo e Gestão. Cada critério é composto de subcritérios
conforme a Tabela 1.

Tabela 1 – Critérios e subcritérios de avaliação

Critério Subcritério
Anomalias

SUMÁRIO Incidentes
Anomalias
SMS
Incidentes
Normas Regulamentadoras
Paralisações
Atendimento ao especificado
Tratamento de não conformidades
Qualidade Disponibilidade de recursos técnicos
Manutenção e Integridade
Retrabalho
Entrega antecipada e Atendimento de urgência
Prazo
Atendimento aos prazos contratuais
Adequação dos recursos humanos
Cumprimento das obrigações legais
Gestão Estrutura administrativa disponibilizada
Execução conforme planejado
Produtividade das atividades críticas

Fonte: Elaboração própria (2022).

Foram analisadas todas as avaliações de desempenho emitidas


pela Fiscalização durante a vigência do contrato, lidas todas as atas des-

319
sas reuniões para fins de levantamento dos desvios e pontos de atenção
e avaliadas as cartas de multa emitidas pela gerência do contrato.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Gerenciamento
e Fiscalização do Contrato

SUMÁRIO Logo após a assinatura do contrato, e antes do início dos servi-


ços, o gerente reúne-se com os fiscais de contrato e realiza a leitura e
análise do instrumento contratual e seus anexos, de modo a nivelar o
conhecimento da equipe sobre o escopo, objeto, entregas e critérios
de medição dos serviços.

Em seguida ocorre uma reunião com a empresa contratada


(fornecedor) onde a Gerência de Segurança, Meio ambiente e Saúde
apresenta de maneira detalhada os requisitos e metas de SMS aplicá-
veis ao contrato e de qual maneira o atendimento a esses itens deve
ser registrado, evidenciado e apresentado mensalmente.

Outra reunião é realizada, agora entre fiscais e prepostos da


empresa contratada, em que a equipe de fiscalização é formalmente
apresentada, através de carta de indicação assinada pela autoridade
competente, é estabelecido o cronograma de mobilização e definida a
data para início dos serviços. A empresa contratada é solicitada a apre-
sentar formalmente o preposto da empresa e responsáveis técnicos.

Após o período de mobilização, inicia-se a efetiva execução dos


serviços. A fiscalização do contrato participa do planejamento, informa
as áreas liberadas e acompanha a execução dos serviços em campo.
A empresa contratada emite diariamente um Relatório de Ocorrências,

320
onde descreve serviços realizados, mão-de-obra empregada, mate-
riais aplicados, horários de início e término, interferências encontradas
e fatos relevantes à execução dos serviços. A fiscalização realiza a
leitura dos relatórios, atesta a execução dos serviços, revisa inconsis-
tências, aponta desvios e solicita providências.

Semanalmente é realizada reunião de acompanhamento do


contrato, onde é verificado se os prazos estão sendo cumpridos con-
forme o estabelecido nos cronogramas e na qualidade exigida nos
anexos contratuais. É estabelecido plano de ação para os desvios en-
contrados, indicando ação corretiva, responsável e prazo de implanta-
ção. Lavrada ata ao final da reunião.
SUMÁRIO
Mensalmente é feita a avaliação do desempenho dos fornece-
dores na prestação de serviços e fornecimento de bens em quatro
critérios: SMS - Segurança, Meio Ambiente e Saúde, Qualidade, Prazo
e Gestão. É dada ciência à empresa contratada.

Os desvios apontados nos relatórios de ocorrência, atas de re-


união e avaliação de desempenho são seguidos de planos de ação
e acompanhados pela fiscalização. Em caso de descumprimento ou
cumprimento irregular a empresa contratada é notificada de multa, ten-
do prazo de 05 dias corridos para se manifestar sobre a notificação e
apresentar defesa. A defesa apresentada é analisada pela fiscalização
e gerência do contrato, podendo a multa ser ou não confirmada.

Existe um setor responsável pela fiscalização administrativa


das obrigações legais das empresas contratadas e suas subcon-
tratadas, mediante verificação do cumprimento das obrigações tra-
balhistas, previdenciárias e FGTS, em especial quando a empresa
contratante, como tomadora de serviços, pode ser responsabilizada
pelo descumprimento destas obrigações relativas aos empregados
alocados à execução contratual.

321
Avaliação de Desempenho

O fornecedor obteve na média (4,11 de 6,00 – 68%) um desempe-


nho bom na prestação dos serviços, com destaque para a nota máxima
6,00 no critério SMS, em linha com a priorização que é dada aos aspec-
tos de Segurança pela indústria petroquímica, dado o elevado potencial
de risco nos acidentes com combustíveis e líquidos inflamáveis. Já no
critério Prazo, o desempenho foi apenas regular, abaixo da média.

Gráfico 1 – Notas médias por critério de avaliação

Conceito Nota
SUMÁRIO
Excelente de 5,50 a 6,00
Ótimo de 5,00 a 5,49
Bom de 4,00 a 4,99
Regular de 3,00 a 3,99
Insuficiente de 2,00 a 2,99
Péssimo de 1,00 a 1,99

Fonte: Elaboração própria (2022).

322
No gráfico 2 se apresenta o desempenho mensal no critério Pra-
zo, onde verificamos o desempenho regular praticamente constante
entre o segundo e o décimo mês de execução contratual.

Gráfico 2 – Notas mensais do critério Prazo

SUMÁRIO

Fonte: Elaboração própria (2022).

A elevação da nota no critério Prazo nos dois meses finais pode


ser atribuída a um esforço adicional, tanto do fornecedor quanto da
empresa contratante, no intuito de encerrar o contrato sem pendências

Multas Emitidas

Na tabela 2 estão listadas todas as multas emitidas durante a


execução contratual. Elas foram classificadas conforme os mesmos
critérios (categorias) da avaliação de desempenho: SMS, Qualidade,
Prazo e Gestão.

323
Tabela 2 – Multas emitidas

Número Critério Descrição


1 SMS Incidente no uso de escada portátil
2 SMS Desvios de SMS nas frentes de trabalho
3 SMS Atraso no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
4 SMS Desvios de SMS nas frentes de trabalho
5 Qualidade Dano em tubulação durante montagem de andaime
6 SMS Desvios de Ordem, Organização e Limpeza
7 SMS Falha no Gerenciamento de Resíduos Sólidos

Fonte: Elaboração própria (2022).

SUMÁRIO Percebe-se uma prevalência nas notificações referentes a SMS,


o que causa uma certa estranheza num primeiro momento, em razão
do fornecedor ter obtido nota média máxima no critério SMS da ava-
liação mensal de desempenho durante a execução contratual, porém
reflete a importância que foi dada aos aspectos de segurança duran-
te a execução dos serviços de construção e montagem (obras), com
pouca ou nenhuma tolerância aos desvios de SMS.

Por outro lado, chama a atenção a inexistência de multas em


relação ao critério prazo, menor nota média obtida na avaliação mensal
de desempenho. Esperava-se uma maior atuação nesse critério, talvez
indicando certa tolerância aos desvios de prazo, ao menos em compa-
ração aos desvios de SMS.

Atas de Reunião

Semanalmente é realizada reunião de acompanhamento do


contrato, onde é verificado se os prazos estão sendo cumpridos con-
forme o estabelecido nos cronogramas e na qualidade exigida nos
anexos contratuais. É estabelecido plano de ação para os desvios

324
encontrados, indicando ação corretiva, responsável e prazo de im-
plantação e lavrada ata.

Verificou-se pela leitura de 49 atas semanais a existência de uma


pauta padrão, onde a reunião era aberta com a discussão sobre temas
de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (“Momento de Segurança”),
na sequência eram elencadas pela Fiscalização as ordens de serviço
prioritárias por disciplina (civil, mecânica e elétrica/instrumentação) e,
por fim, a empresa contratada apresentava os cronogramas e planeja-
mento das ordens de serviço com datas de início e término, planejado
x realizado, e a porcentagem de avanço físico dos serviços, além da
programação semanal, onde eram levantados e discutidos pontos de
SUMÁRIO atenção e/ou impedimentos para tratamento e providências, de modo
a não impactar o andamento dos serviços.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A terceirização, como forma de organização estrutural que per-


mite a uma empresa ou organização transferir a outra suas ativida-
des-meio, ganha ainda mais importância nas empresas públicas e
sociedades de economia mista, que exploram atividade econômica
de produção ou comercialização de bens ou prestação de serviços
e atuam em regime concorrencial, de modo a atingir suas finalidades
empresariais e objetivos sociais específicos.

Nesse contexto surgem o contrato administrativo, instrumen-


to firmado visando sempre o interesse público, através do qual a Ad-
ministração pretende satisfazer uma necessidade primária e tem o
poder-dever de fiscalização sua execução, e as figuras dos agentes
públicos com atribuição de gestor e fiscal de contrato, que devem
assegurar que o objeto contratado será entregue na quantidade,
qualidade e tempo devido, através do acompanhamento desde o

325
planejamento das atividades até sua conclusão, garantindo que os
recursos públicos nele empregados estão sendo executados do
modo mais eficiente possível.

Alcançado o objetivo geral de descrever e avaliar os processos


de gestão e fiscalização de contratos administrativos para execução
de obras industriais de uma Sociedade de Economia Mista da Admi-
nistração Indireta, foi verificada na empresa estudada a existência de
boas práticas e procedimentos no que tange ao gerenciamento e fisca-
lização de contratos: reunião, logo após assinatura do contrato, entre
gerente e fiscais, para nivelamento do conhecimento da equipe sobre
o escopo, objeto, entregas e critérios de medição dos serviços; reu-
SUMÁRIO nião com a empresa contratada onde a Gerência de Segurança, Meio
ambiente e Saúde apresenta de maneira detalhada os requisitos e me-
tas de SMS aplicáveis; apresentação formal da equipe de fiscalização;
estabelecimento do cronograma de mobilização; planejamento dos
serviços; emissão diária de Relatórios de Ocorrências; reunião sema-
nal de acompanhamento do contrato, onde é verificado se os prazos
estão sendo cumpridos conforme o estabelecido nos cronogramas e
na qualidade exigida nos anexos contratuais; avaliação mensal do de-
sempenho do fornecedor; fiscalização administrativa das obrigações
legais das empresas contratadas e suas subcontratadas.

Do resultado da avaliação de desempenho do fornecedor de-


preende-se que a gestão e fiscalização do contrato se mostrou efetiva.
O fornecedor obteve na média (4,11 de 6,00 – 68%) um desempenho
bom na prestação dos serviços, com destaque para a nota máxima 6,00
no critério SMS, em linha com a priorização que é dada aos aspectos
de Segurança pela indústria petroquímica, dado o elevado potencial
de risco nos acidentes com combustíveis e líquidos inflamáveis. Já
no critério Prazo, o desempenho foi apenas regular, abaixo da média.

Apesar da inexistência de multas em relação ao critério Pra-


zo, menor nota média obtida na avaliação mensal de desempenho,

326
o item era formalmente monitorado e acompanhando nas reuniões
semanais, com registro em ata, através da apresentação dos cro-
nogramas e planejamento das ordens de serviço e da programação
semanal, onde eram levantados e discutidos pontos de atenção e/
ou impedimentos para tratamento e providências, de modo a não
impactar o andamento dos serviços.

Foram alcançados os objetivos específicos de identificar os prin-


cipais desvios na execução de um contrato administrativo de cons-
trução e montagem industrial e verificar seu nível de conformidade às
normas aplicáveis e boas práticas de gestão e fiscalização de contra-
tos administrativos. Como trabalhos futuros, pretende-se aprofundar
SUMÁRIO na composição e dinâmica do critério Prazo, a fim de trazer à tona os
motivos dos atrasos na conclusão dos serviços e entrega das obras.
Uma possibilidade é a aplicação de ferramentas de qualidade, como
o Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa), para determinar a causa-
-raiz dos atrasos (máquina, materiais, mão-de-obra, meio ambiente,
medida e método) e proposição de ações corretivas de modo a evitar
a reincidência dos desvios na prestação dos serviços, assim como
aplicação de técnicas de gerenciamento de projetos.

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Descomplicado. 25. ed. São Paulo: Método, 2017.
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Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2022/
julho/relatorio-bimestral-projeta-deficit-primario-de-r-59-35-bilhoes-em-2022.
Acesso em: 25 ago. 2022.

327
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VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em
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328
14
Capítulo 14

A atuação dos fiscais de transportes coletivos do


IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana) nos
Terminais de Integração da cidade de Manaus

Ilca Regina Ferreira Maia

Estela Mari Santos Simões da Silva

Ilca Regina Ferreira Maia

Estela Mari Santos Simões da Silva

A atuação dos fiscais de transportes


coletivos do IMMU (Instituto Municipal
de Mobilidade Urbana) nos Terminais
de Integração da cidade de Manaus
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.14
SUMÁRIO

Resumo:
O transporte coletivo de passageiros é um serviço essencial para a população
de qualquer cidade. É um serviço público, de competência das Prefeituras e
consequentemente do Estado, explorado pela iniciativa privada, através de
concessão, permissão ou autorização (CORDEIRO et al, 2006). Este serviço é,
no caso de Manaus, planejado, gerenciado e fiscalizado pela Prefeitura através
do IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana), que gerencia as ope-
rações de trânsito e também de transportes coletivos. A pesquisa aborda a
atuação dos Fiscais de Transportes Coletivos que trabalham dentro dos termi-
nais de Integração da cidade de Manaus. A partir da observação participante,
procurou-se identificar os diversos procedimentos realizados pelos agentes
de fiscalização, como sua atuação é relevante para os usuários do sistema de
transportes coletivos e as necessidades destes profissionais para a melhoria
de suas funções dentro dos terminais de integração, para um trabalho mais
eficiente de fiscalização. Concluiu-se que há a necessidade de um olhar mais
minucioso por parte do órgão gestor em relação a estes profissionais que
possuem necessidades que vão desde uma melhor estrutura para a execução
do trabalho de fiscalização, até a questão salarial e a urgência de um concurso
público específico para a área de fiscalização. Sendo assim, a pesquisa pro-
cura demonstrar, a partir do olhar de um fiscal de transporte, a relevância do
seu papel como agente público e as necessidades que precisam ser supridas
para uma maior eficiência no processo de fiscalização, principalmente dentro
dos terminais de integração da cidade de Manaus.

Palavras-chave: Fiscais; Fiscalização; Transportes; Terminais de Integração.

330
INTRODUÇÃO

O transporte coletivo de passageiros é um serviço essencial


para a população de qualquer cidade. É um serviço público, de com-
petência das Prefeituras e consequentemente do Estado, explorado
pela iniciativa privada, através de concessão, permissão ou autori-
zação (CORDEIRO et al., 2006). Este serviço é, no caso de Manaus,
planejado, gerenciado e fiscalizado pela Prefeitura através do IMMU
(Instituto de Mobilidade Urbana).

Para a prestação de um serviço de qualidade é necessário um


SUMÁRIO conjunto de fatores, entre eles, investimentos em infraestrutura na cida-
de para comportar a frota de veículos, investimento em equipamentos
para monitoramento e controle das operações, pessoal qualificado para
realizar a fiscalização das atividades, estruturas básicas para que o tra-
balho de fiscalização seja realizado e principalmente políticas públicas
voltadas para o atendimento das áreas mais carentes da sociedade que
necessitam se locomover para realizar suas atividades do dia a dia.

O sistema de transportes coletivo de passageiros é um gran-


de dilema para a Administração Pública, principalmente por questões
políticas, pois cada novo gestor que entra não consegue intervir para
a melhoria do sistema. O que podemos perceber é que ao longo dos
anos, o problema do transporte coletivo não consegue ser resolvido,
pois a cada gestor que entra, não há uma mudança significativa plausí-
vel nessa questão. Já a população sofre diariamente com a superlota-
ção dos coletivos, ônibus sucateados, vias mal pavimentadas e longo
tempo de espera nas paradas de ônibus e principalmente dentro dos
terminais de integração.

Neste contexto, a atuação da fiscalização tem um papel cru-


cial para que a qualidade do serviço prestado pelas empresas de
transporte seja eficaz, pois são responsáveis por toda a condução da

331
operação do transporte, principalmente dentro dos terminais de inte-
gração, atuando desde o monitoramento e controle da frota até a au-
tuação de operadores e empresas que não cumprem o estabelecido
em lei do transporte coletivo de passageiros.

Manaus possui atualmente cinco terminais de integração, por


onde circulam diariamente entre 40 e 50 mil pessoas. A fiscalização
presente nestes terminais enfrenta diferentes problemas, recebe dife-
rentes demandas e lida com diferentes situações de pequena, média
e grande complexidade, visto o tamanho dos espaços e os diferentes
sujeitos que por ali circulam diariamente se dirigindo para os mais
diferentes destinos.
SUMÁRIO
Sendo assim, o foco da pesquisa será a atuação dos fiscais que
trabalham exclusivamente nos terminais de integração, visto que são lo-
cais de onde partem a maioria das linhas de ônibus e onde se concen-
tram a maioria dos usuários que utilizam o sistema de transporte coletivo.

Os fiscais de transportes são peças essenciais para que a ope-


ração do sistema dentro dos terminais flua normalmente, pois atuam
diretamente junto às empresas, verificando se a prestação do serviço
está dentro dos padrões propostos pelo órgão gerenciador e se es-
tão cumprindo as normas dispostas na legislação específica para o
transporte coletivo urbano que são a Lei 1779 de 17/10/2013 e mais
recentemente a Lei 2898 de 09/06/2022 que tratam de todas as obriga-
toriedades das empresas prestadoras de serviço de transporte público
na cidade de Manaus.

Partindo deste princípio, a pesquisa abordará a atuação do fis-


cal de transporte dentro dos terminais de integração, a importância do
seu trabalho para os usuários do sistema de transportes coletivos e
as necessidades destes profissionais para que possam executar seu
trabalho com mais eficiência.

332
A questão central desta pesquisa é: como atuam os fiscais de
transporte coletivo urbano nos terminais de integração da cidade de
Manaus? A partir desta indagação, a pesquisa tem como objetivo geral
analisar a atuação dos fiscais de transporte coletivo urbano do IMMU
(Instituto Municipal de Mobilidade Urbana) no âmbito dos terminais de
integração da cidade de Manaus.

Para alcançar o objetivo geral desta pesquisa, é necessário pri-


meiramente chegar aos objetivos específicos os quais são: (1) Identifi-
car o papel dos fiscais de transporte coletivo urbano dentro dos termi-
nais de integração; (2) Evidenciar a importância do trabalho do fiscal
para os usuários do sistema de transportes coletivos; (3) Levantar as
SUMÁRIO necessidades da fiscalização de transporte coletivo urbano para a oti-
mização de suas funções dentro dos terminais de integração.

Como parte integrante do universo pesquisado, pôde-se obser-


var que as literaturas acerca da atuação dos fiscais de transportes são
bastante escassas. Assim sendo, esta pesquisa surgiu da necessida-
de de se analisar qual é o papel dos fiscais de transportes coletivos
urbanos nos terminais de integração da cidade de Manaus, frente à
realidade atual de crise no sistema de transporte e também frente às
muitas necessidades que estes profissionais possuem dentro do seu
universo de trabalho.

Quando se fala em crise no sistema de transporte coletivo, enten-


de-se que, na cidade de Manaus, a prestação de um serviço de qualida-
de no transporte público está caminhando ainda a passos lentos.
Na atualidade, em Manaus o ônibus ainda é a única opção que
os munícipes têm para se deslocar e, como a população vem
crescendo consideravelmente nos últimos anos, a superlotação
é constante, aumentando ainda mais o tempo de espera, e a
demora no deslocamento [...], essa situação é agravada ainda
mais por conta das péssimas condições da malha viária, oca-
sionada pela má qualidade do asfalto nas vias públicas (AN-
DRADE et al., 2016, p. 02).

333
Um dos grandes dilemas da Administração Pública é, entre ou-
tros, o transporte coletivo. Dentro deste tema, muito se fala em mobi-
lidade urbana, mas pouco se sabe sobre o papel dos fiscais de trans-
portes que atuam em toda a cidade e principalmente nos terminais
de integração, atendendo diferentes demandas e diferentes situações.

Especificamente nos terminais de integração passam diariamen-


te entre 40 e 50 mil pessoas que se deslocam para os mais diversos
pontos da cidade e para realizar as mais diversas atividades e, muitas
vezes, necessitam da presença deste profissional para solucionar os
diversos problemas que surgem, desde a falta de um coletivo, o atraso
nos horários de saída, ou uma informação sobre o itinerário correto ou
SUMÁRIO auxílio aos usuários com mobilidade reduzida. Todas essas atividades
perpassam pelas funções dos fiscais de transportes coletivos.

No entanto, pouco se tem investigado e publicado sobre o papel


específico do profissional de fiscalização de transporte coletivo urba-
no. Este trabalho é, portanto, de caráter mais exploratório e descritivo,
visto que há pouca literatura sobre o assunto.

Além de analisar o papel do fiscal, o trabalho visa descobrir


como o profissional vê sua atuação diante de tão diferentes demandas
e públicos atendidos e por fim, descobrir quais as necessidades des-
tes profissionais no ambiente de trabalho para que ele possa melhor
desempenhar suas funções.

Com isso, o trabalho pretende contribuir para que a sociedade


possa conhecer, entender e valorizar o papel dos fiscais de transportes
coletivos que diariamente estão atendendo os mais diversos públicos
que utilizam o sistema de transportes coletivo na cidade de Manaus.

334
REVISÃO TEÓRICA

Desde o início da operação dos primeiros meios de transporte


na cidade de Manaus no final do século XIX com as carroças até os
dias atuais, o sistema de transporte de passageiros sofreu muitas mu-
danças, porém, não deixou de ser um dos grandes dilemas da admi-
nistração Pública Municipal, que o gerencia, planeja e fiscaliza.

O transporte coletivo de passageiros é um serviço essencial


para a população de qualquer cidade. É um serviço público, de com-
petência das Prefeituras e consequentemente do Estado, explorado
SUMÁRIO pela iniciativa privada, através de concessão, permissão ou autori-
zação (CORDEIRO et al., 2006). Este serviço é, no caso de Manaus,
planejado, gerenciado e fiscalizado pela Prefeitura através do IMMU
(Instituto Municipal de Mobilidade Urbana).

De acordo com Leal (2015), uma das causas do aumento sig-


nificativo da utilização de transporte individual nos centros urbanos,
certamente é a falta de qualidade no transporte coletivo. A qualidade
em transporte coletivo é resultante da adequação do serviço à neces-
sidade do usuário.

Magalhães (2014), afirma que:


A expansão urbana e o crescimento demográfico fazem do
transporte coletivo um serviço público essencial. Sua impor-
tância é fundamental na solução de problemas de distância,
no atendimento às necessidades de locomoção de pessoas,
sendo, portanto, elemento indispensável ao progresso e ao
convívio social nas cidades contemporâneas. Porém, esse é
um setor que requer melhorias constantes, visto que a eficiên-
cia desse sistema ocorre quando se consegue atender quali-
tativa e quantitativamente a todas as áreas da cidade e, prin-
cipalmente, as mais carentes, que se ampliam em velocidade
crescente (2014, p. 19).

335
A prestação de um serviço de qualidade no transporte coletivo é
uma tarefa árdua nos dias atuais em Manaus onde, o crescimento da
cidade somado aos vários problemas estruturais nas vias, ônibus suca-
teados e falta de pessoal suficiente para fiscalizar o sistema levam mi-
lhares de usuários a sentirem-se insatisfeitos com a operação dos trans-
portes coletivos procurando assim, outros meios de chegar até o seu
destino. Para que seja ofertado um serviço de qualidade nos transportes
coletivo de passageiros, é necessário um conjunto de ações dentre as
quais estão o desenvolvimento de políticas públicas e principalmente, a
fiscalização do serviço. Costa et al. (2019, p. 273), afirma que:
Os deslocamentos de pessoas nas cidades se dão com a utili-
SUMÁRIO zação dos meios de transportes disponíveis e são motivados por
diversos fins, tais como: trabalho, estudo, compras, saúde, lazer
e outras necessidades individuais. Desta forma, o modo de trans-
porte a ser escolhido é determinado de acordo com a preferên-
cia, qualidade do serviço, questões econômicas e geográficas.

Muitas mudanças ocorreram ao longo do tempo na gestão e no


planejamento dos transportes na cidade de Manaus. Magalhães (2014,
p. 224), afirma que já no ano de 1977 começou a tramitar na Câmara de
Vereadores o Projeto de Lei que autorizava o poder público a ciar uma
empresa para intervir nos segmentos de transportes coletivos de Ma-
naus, com vistas ao “aperfeiçoamento da operação do sistema, como
forma de garantir a elevação do padrão de serviços oferecidos pelas em-
presas particulares”. Inicia-se, então, o processo de criação da EMTU.

Ao longo do tempo, as mudanças e reorganizações foram cada


vez mais se voltando para a qualidade na prestação do serviço através
da eficiência da fiscalização. Como afirma Santos (2020), em 1980, foi
criada em Manaus, a EMTU (Empresa Municipal de Transportes Urba-
nos), que iniciou as ações de gerenciamento e fiscalização dos trans-
portes coletivos. Esta empresa foi extinta em 2006, sendo substituída
pelo IMTU (Instituto Municipal de Transportes Urbanos).

336
Em 2009 foi criado o IMTT (Instituto Municipal de Trânsito e Trans-
portes), que passou a gerenciar os serviços de trânsito e transportes
respectivamente. Em 2010, foi criada a SMTU (Superintendência Mu-
nicipal de Transportes Urbanos) pela lei 1.320/2009 e por fim em 2019,
foi criado o IMMU (Instituto Municipal de Transportes Urbanos) que
gerencia o trânsito e os transportes coletivos com ênfase na segurança
dos usuários e a prestação de serviços com qualidade e eficiência.

Podemos perceber aqui as constantes trocas de nomenclaturas


do órgão responsável pelo gerenciamento do sistema de transportes,
o que deixa explícito que os problemas foram passados de gestão
para gestão sem serem devidamente resolvidos.
SUMÁRIO
Dentro deste contexto, a fiscalização de transportes coletivos
urbanos exerce um papel fundamental na busca pela qualidade dos
serviços. Como podemos perceber no artigo 19 da Lei 1.779 de 17
de outubro de 2013, que dispõe sobre os serviços de transporte pú-
blico de passageiros no município: “Compete à SMTU, por meio de
agentes credenciados, devidamente identificados, assim como por
meio eletrônico, a fiscalização de quaisquer dos serviços previstos
nesta lei” (MANAUS, 2013).

A fiscalização é a atividade que garante que o transporte possa


desempenhar o seu papel social e econômico. É uma ação preventiva,
responsável por garantir que as empresas de transporte ofereçam um
serviço de qualidade aos usuários. Esta atividade busca, primeiramen-
te, fazer cumprir as condições de contrato para a prestação de servi-
ços de transporte, ou seja, verifica se o transporte está satisfazendo as
condições de regularidade, eficiência, segurança, atualidade, genera-
lidade e cortesia (SEST/SENAT, 2016).

Atualmente a cidade de Manaus possui cinco terminais de inte-


gração localizados em diferentes partes da cidade. São espaços que
recebem demandas de todas as áreas da cidade e de onde saem

337
linhas que atendem todos os bairros e principalmente a área central
para onde se dirigem a maioria dos usuários do transporte coletivo.
Os Terminais de Integração de ônibus de Manaus são estruturas
criadas com o objetivo de facilitar o fluxo de veículos, pois com
a integração não há necessidade de que as linhas do transporte
público sejam direcionadas ao centro da capital, ao passo que
possa ser realizada a troca de ônibus nos terminais sem que
isso venha a gerar ônus aos usuários. Os terminais devem ser
compreendidos enquanto importantes instrumentos urbanos
que auxiliam no modal rodoviário da cidade, pois possibilitam
que os usuários realizem a baldeação e troca de linhas de ôni-
bus sem a necessidade de pagamento de uma nova tarifa (BRI-
TO, 2022, p. 38-39).
SUMÁRIO
Nos terminais de integração passam, diariamente, uma estima-
tiva de 40 a 50 mil usuários. Um número grande de pessoas utilizam
estes espaços para os mais diversos fins e se dirigem para os mais
diversos destinos. É importante que estas pessoas tenham um servi-
ço de qualidade que possa atender minimamente suas necessidades.
Cada zona da cidade conta com um terminal de interação, de onde
partem a maioria das linhas que atendem praticamente todos os bair-
ros e também a área central da cidade. Conforme Brito (2022):
O Terminal 1, localizado na Av. Constantino Nery, Centro, foi
um dos primeiros terminais construídos na cidade, inaugurado
em 1984 e totalmente reformado em 2020, possui uma área de
6.400 m² e tem uma estimativa de 45 mil usuários por dia.

O Terminal 2, localizado na Av. Manicoré, bairro de Cachoeiri-


nha, também inaugurado em 1984 e reformado em 2016 onde
passou a ser Estação de Conexão C-2, possui uma área de
3.000 m² e estimativa de 50 mil usuários por dia.

O Terminal 3, localizado na Av. Noel Nutels, bairro da Cidade Nova


I, inaugurado em 1994 e totalmente reconstruído no ano de 2001,
possui uma área total de 12.736,24 m², sendo 3.499,96 m² de
área construída, tem uma estimativa de 43 mil usuários por dia.

338
O Terminal 4, localizado na Av. Camapuã, bairro Jorge Teixeira,
foi inaugurado no ano de 2002, possui uma área de 18.000 m² e
atende aproximadamente 28 mil usuários por dia.

O Terminal 5, localizado na Av. Autaz Mirim, bairro São José Ope-


rário, possui uma área de 18.648,09 m² sendo 5.772,52 m² de
área construída, atendendo em média 30 mil usuários por dia.

O profissional de fiscalização é essencial nestes locais visto o


tamanho dos terminais, o grande número de demandas e os vários
problemas que apresentam. Conforme Leal (2015, p. 17) apud Parra
(2006) “a fiscalização é o conjunto de atividades para garantir o cum-
primento dos padrões de qualidade estabelecidos do sistema, que
SUMÁRIO geralmente é exercida pelo poder público e deve estar sendo constan-
temente avaliada e realimentada”.

Qualidade na prestação de serviços de transporte público é


essencial para que a população exerça seu direito de ir e vir. Quando
o poder público não consegue oferecer à sociedade um transporte
público eficiente, está deixando de cumprir seu papel como adminis-
trador que é de garantir à população meios para que possam cumprir
suas atividades.
Solucionar o problema da má qualidade no transporte público
coletivo é uma das mais urgentes ações que o poder público
deve atentar, uma vez que as pessoas não suportam mais a
ineficácia dos serviços públicos, sobretudo quando a questão é
mobilidade” (ANDRADE, 2016, p. 06).

Assim, para um obter um serviço de qualidade no transporte co-


letivo, além do planejamento e desenvolvimento de políticas públicas,
há também que se examinar o papel da fiscalização, sua estrutura,
como atua e quais as necessidades para que desempenhem suas fun-
ções com vistas à eficiência do serviço.

339
METODOLOGIA

Em relação ao método e a forma de abordagem, foi utilizada


a pesquisa qualitativa pois conforme Richardson (2012, p. 79), “a
abordagem qualitativa [...] justifica-se, sobretudo, por ser uma forma
adequada para entender a natureza de um fenômeno social”. A pes-
quisa qualitativa neste sentido, permite uma reflexão além dos dados
estatísticos. O pesquisador objetiva retratar uma visão da realidade
pesquisada de modo que possa além de interpretá-la, também possa
transformá-la. Neste contexto, a pesquisa qualitativa se aplica a situa-
ções em que se evidencia a necessidade de substituir uma simples
SUMÁRIO
informação estatística por dados qualitativos. Isto se aplica, principal-
mente quando se trata de investigação sobre os fatos do passado ou
estudos referentes a grupos dos quais se dispõe de pouca informação
(RICHARDSON et al., 2021).

Uma característica importante da pesquisa qualitativa é a es-


colha do local a ser pesquisado e a familiaridade com os membros
do grupo investigado. Partindo deste princípio, a escolha deste tipo
de abordagem é justificável já que o universo pesquisado é um local
familiar ao pesquisador visto que o mesmo é funcionário da instituição
e a população investigada, parte de seu cotidiano. Quanto aos obje-
tivos da pesquisa, utilizou-se uma mescla de pesquisa exploratória e
descritiva. Para Gil (2008, p. 27):
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade de-
senvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em
vista a formulação de problemas mais precisos e hipóteses pes-
quisáveis para estudos posteriores. [...] este tipo de pesquisa é
utilizado quando o tema é pouco explorado.

Durante o processo de escolha do tema do trabalho, notou-se


pouca literatura específica sobre o papel dos fiscais de transportes co-
letivos da cidade de Manaus sendo, portanto, necessária uma pesquisa

340
nestas condições. No entanto, para se entender melhor a atuação
destes profissionais, é necessário observar como estes profissionais
atuam, que instrumentos utilizam, que procedimentos realizam no local
de trabalho, bem como as necessidades e dificuldades que enfrentam
para a realização do trabalho, estado de saúde, níveis de satisfação
com sua própria atuação e perspectivas profissionais dentre outras.

Dentro deste contexto, Gil (2008, p. 28), afirma que “as pesquisas
descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características
de determinada população”. Para a coleta de dados, o método utilizado
foi o estudo de campo, já que este tipo de pesquisa estuda “um único
grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressal-
SUMÁRIO tando as interações de seus componentes” (GIL, 2008, p. 57).

Fazer parte do universo pesquisado permite ao pesquisador es-


tar diretamente relacionado com o problema pesquisado. No caso dos
fiscais de transportes coletivos que atuam nos terminais de integração
da cidade de Manaus, fazer parte do grupo permitiu ao pesquisador
um contato direto tanto com os membros, como com o problema a ser
pesquisado. Isto permitiu uma maior interação acerca do universo e
população investigados.

O universo da pesquisa foram os fiscais de transportes coleti-


vos urbanos do IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana) da
cidade de Manaus. Segundo Gil (2008), o universo ou população é o
conjunto definido de elementos que possuem determinadas caracte-
rísticas [...] e a amostra é o subconjunto do universo ou da população
por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características
desse universo ou população.

A amostra a ser investigada foram os fiscais de transportes


coletivos que atuam exclusivamente nos terminais de integração da
cidade. Para atuar nos cinco terminais de integração localizados em
cinco diferentes zonas de Manaus, o IMMU conta com um efetivo de

341
aproximadamente 3 ou 4 fiscais por turno, distribuídos em três turnos
de seis horas, chegando a um total de aproximadamente 20 sujeitos.

Para a coleta de dados, a técnica utilizada foi a observação di-


reta/participante e a pesquisa documental. Levando-se em conta que
o pesquisador faz parte do grupo a ser pesquisado por ser funcionário
da instituição, esta observação deu-se no modo participante natural. Gil
(2008, p.103), define a observação participante como “a técnica pela
qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior
dele mesmo”. Para o registro da observação, as anotações foram feitas
no diário de campo, no período de março a julho de 2022, onde constam
a descrição do local pesquisado, data, dia da semana, horário, número
SUMÁRIO de participantes no ato da observação e eventos atípicos.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Durante o período de observação compreendido entre os meses


de março a julho de 2022, foi constatado que os fiscais de transportes
em serviço no IMMU ocupam um cargo que exige a escolarização de
Ensino Médio completo. No entanto, praticamente 80% deles já pos-
suem Ensino Superior completo e até pós-graduação ou estão cur-
sando nível superior. Do total de 20 profissionais observados, 7 são do
sexo feminino, com idade entre 35 e 60 anos. O restante são homens,
com idade entre 35 e 65 anos.

A maioria deles com mais de 30 anos de serviço nesse órgão.


Trabalham em regime de escala, em turnos de seis horas, distribuídos
nos cinco terminais de integração da cidade de Manaus, o que é um
efetivo muito abaixo do considerado necessário para um melhor pro-
cesso de fiscalização, haja visto o tamanho e a estimativa de usuários

342
que utilizam os terminais de integração diariamente que é de 40 a 50
mil pessoas (SMTU, 2020).

Observa-se que os fiscais de transportes não possuem um uni-


forme padronizado. Muitos deles usam apenas um colete na cor verde
limão e o crachá funcional disponibilizado pelo órgão gestor, no caso,
o IMMU. Isso dificulta a identificação dos mesmos pois os usuários
muitas vezes os confundem com os agentes de trânsito que possuem
a farda da mesma cor. Foi observado também que muitos fiscais im-
provisam seu fardamento, confeccionando camisas e pagando com
seu próprio dinheiro para facilitar a identificação.

SUMÁRIO Os instrumentos utilizados pela maioria dos fiscais são pran-


cheta, caneta, formulário para registrar ocorrências, blocos de auto de
infração e mais recentemente cada terminal recebeu um smartphone
corporativo para comunicação com as chefias imediatas.

Cada terminal possui uma sala para a fiscalização onde ficam


guardados os materiais e onde os fiscais se revezam para troca de
turnos, refeições, e onde fazem suas anotações, relatórios, etc. As sa-
las possuem ar condicionado, mesas, cadeiras, bebedouro e armários
para guardar os materiais utilizados pelos funcionários. A limpeza da
sala é feita pelos próprios fiscais visto que nos terminais não há funcio-
nários do IMMU para realizar a limpeza.

Percebe-se que os fiscais são bastante solicitados pelos usuá-


rios para fornecer informações sobre o itinerário das linhas de ônibus.
No terminal 2 da Cachoeirinha, foi constatado que em apenas 1 hora
de observação aproximadamente 28 pessoas procuraram o fiscal para
pedir informações sobre as linhas de ônibus. Essa procura pelos fis-
cais pôde ser observada também nos outros terminais.

Outro procedimento muito realizado pelos fiscais de transpor-


tes nos terminais de integração são os autos de infração quando as

343
empresas de ônibus não cumprem a frota ou os horários estabelecidos
no Resumo Operacional, que é o documento que estabelece a frota
prevista para operar em cada linha de ônibus. Os autos de infração
também são feitos quando um operador não cumpre com suas atri-
buições dentro do sistema de transporte coletivo ou quando cometem
algum tipo de infração em relação ao usuário, que podem ser desde
não parar num ponto de parada até os casos de não tratar o usuário
com devido respeito. Também nestas situações o fiscal de transporte
intervém, mediando estas questões.

Como integrante do grupo pesquisado é possível observar e


constatar que o efetivo de fiscais é muito pequeno para dar conta de
SUMÁRIO tantas demandas que surgem nos terminais de integração, visto que são
espaços muito grandes e que apresentam inúmeras situações adversas.

Os fiscais em muitos casos, têm se deparado com situações


de extremo perigo como assaltos, devido à falta de segurança nos
terminais, população em situações de rua que se abrigam nos termi-
nais, muitas vezes em casos de emergência quando há um acidente
ou algum usuário passa mal, o fiscal de transportes é o primeiro a ser
acionado para iniciar os procedimentos cabíveis.

Em relação ao nível de satisfação dos profissionais de fiscaliza-


ção de transportes que atuam nos terminais de integração, pôde-se
observar que em virtude da falta de valorização salarial e estrutural por
parte do órgão gestor, muitos sentem-se insatisfeitos, o que expressam
em comentários como “não vai mudar nunca” e “temos que procurar
outro emprego para conseguir manter a família” e ainda “poderíamos
ser mais valorizados pela empresa”.

Outro fator a ser considerado quando falamos em satisfação pro-


fissional é que os fiscais participantes da pesquisa trabalham em regime
de escala e para conseguir um salário que possa suprir suas necessida-
des, muitos deles trabalham aos sábados, domingos e feriados, alguns

344
com apenas uma folga durante o mês. Sendo que o nível salarial destes
profissionais está defasado há aproximadamente dez anos e, somado
à falta de estrutura para executar seu trabalho, o nível de satisfação só
diminui. Os profissionais não possuem sequer uma viatura para se des-
locar até outros pontos fora do terminal e realizar algum tipo de fiscaliza-
ção relacionada ao transporte coletivo, fato este que diminui bastante a
eficiência do trabalho da fiscalização, visto que é uma estrutura básica
para a execução do trabalho que é de verificar in loco os problemas
referentes à má operação do serviço de transportes.

Há necessidade da realização de um concurso público urgente-


mente para contratação de profissionais de fiscalização de transportes
SUMÁRIO coletivos, pois o efetivo é pequeno, com alto índice de profissionais
com mais de 50 anos. O último concurso realizado ocorreu em 2004,
ou seja, há 18 anos sem concurso público, o que demonstra um total
descaso com a categoria por parte do órgão gestor.

Em relação ao estado de saúde destes profissionais, observou-


-se que, durante a pandemia de coronavírus praticamente todos os
profissionais de fiscalização ficaram doentes, alguns com mais gravi-
dade que outros, alguns ainda, vindo a óbito por complicações relacio-
nadas a outras doenças somadas às sequelas do vírus. Atualmente, a
idade média dos profissionais é entre 35 e 65 anos, alguns com mais
de trinta anos de serviço no órgão, e expostos aos mais variados riscos
como barulho, dióxido de carbono proveniente da fumaça dos veículos
que circulam dentro dos terminais, as aglomerações constantes e ain-
da assaltos, acidentes, entre outros.

O nível de estresse é acentuado em algumas situações de risco


a que estes profissionais são expostos, o que contribui para a ocorrên-
cia de dores, tensão muscular, hipertensão e problemas com ansieda-
de, depressão e irritabilidade, entre outros. Importante destacar que,
conforme Tavares (2017), lembra que o estresse é um dos maiores
inimigos dos trabalhadores e das empresas na atualidade. Ele interfere

345
na qualidade de vida dentro e fora do ambiente organizacional. Além
disso, pode gerar outras doenças que podem levar ao afastamento de
funcionários na empresa.

Percebe-se que algumas situações a que são expostos estes


profissionais são de elevado nível de estresse como, por exemplo, as
manifestações de usuários revoltados com a demora dos coletivos, a
superlotação dos coletivos que gera muitas reclamações entre outros,
onde o fiscal de transporte precisa ter o máximo de controle para resol-
ver a situação e lidar com os usuários de forma a não piorar a situação.

Em relação às expectativas destes profissionais em relação a


SUMÁRIO melhorias tanto no salário como na estrutura para execução do tra-
balho, foi observado que muitos não acreditam que possa haver uma
mudança significativa. A maioria das queixas giram em torno da total
desvalorização da categoria por parte do órgão gestor. Em algumas
conversas informais no ambiente de trabalho foi constatado que a
maioria dos profissionais de fiscalização não tem expectativas de que
o órgão gestor possa de alguma forma, melhorar suas condições de
trabalho e/ou salário, o que evidencia certo desesperançar em relação
a perspectivas de benfeitorias que qualifiquem as condições trabalhis-
tas nessa atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazer parte do grupo pesquisado permitiu à pesquisadora pre-


senciar muitas situações aqui expostas. São situações muitas vezes
críticas, onde o profissional de fiscalização de transporte que atua nos
terminais de integração precisa intervir para resolver o problema e mui-
tas vezes não possui nenhuma condição para isso.

346
Durante a produção do trabalho pôde-se perceber que são es-
cassas as literaturas específicas sobre o tema e quase nada foi en-
contrado voltado para a área da fiscalização de transportes do IMMU,
no que se refere ao transporte coletivo de passageiros. No entanto,
muitos trabalhos foram encontrados abordando a questão do trans-
porte público e da qualidade neste tipo de serviço. Porém, quanto ao
profissional de fiscalização é como se ele não existisse nesse universo.

A necessidade de um olhar do órgão gestor para estes profissio-


nais é urgente e pertinente, pois são profissionais que ficaram esqueci-
dos nos seus postos de trabalho, mas que são extremamente necessá-
rios à população que diariamente utiliza os terminais de integração para
SUMÁRIO se locomover e que muitas vezes não sabem o itinerário das linhas, não
conhecem os pontos de parada, necessitam de um auxílio para chegar
ao seu destino e para isso recorrem aos fiscais de transportes.

Os profissionais de fiscalização de transporte do IMMU realizam


seu trabalho nas condições mais adversas possíveis. Muitas vezes sem
a estrutura e instrumentos básicos para o trabalho, como uma viatura
para fiscalizar outros pontos da cidade e o uniforme padrão que não
existe. Apresenta-se como desanimador o quadro destes profissionais,
frente a contexto e condições de trabalhos que vivenciam diariamente.

É importante salientar que o conceito de mobilidade urbana é


muito mais que apenas o acesso ao direito de ir e vir. A população
em sua maioria utiliza o transporte coletivo. Para que esse transporte
possa oferecer um serviço de qualidade é necessário que o órgão
gestor possa investir em fiscalização e estrutura para que este traba-
lho seja realizado.

Estruturar não somente na inovação em fiscalização eletrôni-


ca, mas principalmente em realização de concurso público para o
provimento de vagas de fiscais de transportes, em cursos para ca-
pacitação dos profissionais que já fazem parte do efetivo do IMMU,

347
na valorização salarial destes profissionais que tem capacidade para
realizar operações complexas de planejamento e gestão de fiscaliza-
ção e principalmente de investir em estruturas para que cada terminal
de integração possa ter condições de fiscalizar a sua área de locali-
zação. Essas condições são básicas para que o processo de fisca-
lização de transportes coletivos possa ser efetivado em um cenário
qualificado e eficiente.

Assim, espera-se que por meio deste trabalho tanto a população


quanto o órgão gestor possa ter uma percepção maior da importância
do profissional de fiscalização de transporte que atua nos terminais
de integração. Os fiscais são pessoas que realizam seu trabalho com
SUMÁRIO mínimas condições de estrutura, muitas vezes limitados pela hierarquia
burocrática, possuem um nível salarial defasado, lidam com as mais
diversas situações e demandas. E mesmo nessas condições estão
diariamente em seus postos fazendo o melhor que podem para que o
usuário do transporte coletivo possa chegar ao seu destino, exercendo
seu direito de locomoção.

Estima-se ainda que a breve discussão aqui proposta sirva


de aporte para novos debates, reflexões e escritos sobre temática,
visando cada vez mais a visibilidade deste trabalho essencial na ci-
dade de Manaus.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Elisiane Souza; FARIAS, José Raimundo Souza; JARDIM, Lúcia
de Fátima Santana. Precariedade no sistema de transporte coletivo na
cidade de Manaus/Am/Brasil. Fundação Perseu Abramo – GAPI/Unicamp,
2016. Disponível em: http://bibliotecadigital.fpabramo.org.br. Acessado em:
10 ago. 2022.

348
BRITO, Miguel Sá de Souza. Paisagem e lugar: um estudo sobre os
terminais de integração de Manaus. Disponível em: http://tede.ufam.edu.br/
handle/tede/8732 Acessado em: 12 jul. 2022.
COSTA, Maximilliam Nascimento da; MACIEL, Jussara socorro Curi. A
Qualidade no Transporte Coletivo como meio sustentável de Mobilidade
Urbana em Manaus. In: Impactos das Tecnologias na Engenharia Civil.
Organizadora Marcia Regina Werner Schneider Abdala. Ponta Grossa, PR:
Atena Editora, 2019. Disponível em: www.atenaeditora.com.br/ . Acessado
em: 10 ago. 2022.
CORDEIRO, Célio de Oliveira et al. A qualidade do Sistema de Transporte
Coletivo por Ônibus em Manaus. In: ENEGEP, 26, 2006, Fortaleza. Anais
[...]. Fortaleza: ABEPRO, 2006.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. – São
SUMÁRIO Paulo: Atlas, 2008.
LEAL, José Luiz. A fiscalização no transporte coletivo urbano e a
qualidade do serviço: O Caso de Curitiba. Monografia (Especialização em
Engenharia de Produção) – Universidade Federal Tecnológica do Paraná.
Curitiba, 2015.
MAGALHÃES, Soraia Pereira. O transporte coletivo urbano de Manaus.
Bondes, ônibus de madeira e metálicos. Manaus: Edua, 2014.
MANAUS. Lei nº 1779, de 17 de outubro de 2013. Dispõe sobre os Serviços
de Transporte Público de Passageiros no Município de Manaus. Diário Oficial
do Município. Manaus: edição 3275, Caderno 1, p. 2, 2013.
MANAUS. Lei nº 2898, de 09 de junho de 2022. Dispõe sobre os Serviços de
Transporte Público de Passageiros no Município de Manaus. Diário Oficial do
Município. Manaus: edição 5361, 09/06/2022, Ano XXIII, Edição Extra p. 2-7.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São
Paulo: Atlas, 2012.
SANTOS, Gabriel Augusto dos. Memórias, Transformações e
Modernidades na Metrópole Amazônica: Uma breve história do transporte
coletivo em Manaus e Belém. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico
do Pará (IHGP). Belém, v. 07, n. 02, p. 96-118, jul- dez/2020.
TAVARES, José Cláudio Rangel. Doenças causadas pelo estresse no
trabalho. Disponível em: www.orkup.com.br. Acesso em: 08 ago. 2022.

349
15
Capítulo 15

Um olhar sobre o Município de Horizonte/


CE enquanto Cidade Educadora

Glauber dos Santos Guedes

Nayara de Paula Faleiros

Glauber dos Santos Guedes

Nayara de Paula Faleiros

Um olhar sobre o município


de Horizonte/CE enquanto
Cidade Educadora
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.15
SUMÁRIO

Resumo:
A educação, abordada de forma mais abrangente, aliada aos espaços e
equipamentos da cidade, tende a transformar a atividade humana por meio
da convivência e interação dos habitantes no cotidiano, oferecendo um novo
leque de oportunidades de aprendizagem que, muitas vezes, passam des-
percebidas. A educação não formal apresenta-se com uma abertura mais
ampliada quanto aos ensinamentos e aprendizagens, o que pode favorecer
as demandas individuais, considerando motivações e emoções, inclusive. O
presente estudo de caso, a partir de uma abordagem qualitativa, focou-se
em Horizonte/CE, município nordestino que aderiu ao rol de Cidades Edu-
cadoras, que preconiza que a cidade é um agente educador, em que seus
espaços e ações refletem o potencial educativo, com a intersetorialidade,
seja com a urbanização, cultura, centros educacionais, mobilidade, meio
ambiente, desporto e saúde. Com essa abrangência, o plano de desenvol-
vimento local deve se voltar à formação de cidadãos críticos e conscientes,
favorecendo o exercício da cidadania mais plena, visto que o cidadão tem
mais oportunidade e participação em um contexto de inclusão. Foi possí-
vel identificar melhorias no referido município, com projetos e aberturas de
oportunidades, notando-se fragilidades quanto à publicização dos feitos, de
forma que haja mais transparência e incentivo ao controle social.

Palavras-chave: Educação; Cidadania; Gestão; Horizonte/CE; Transformação.

351
INTRODUÇÃO

A educação é um ciclo para a vida toda, podendo acontecer


em diversos lugares, não apenas nos espaços intramuros tradicio-
nais como escolas, faculdades, universidades, entre outros, onde, por
meio de conteúdos elaborados previamente, direciona-se o educando
a aprender a conhecer de modo organizado, com base em determina-
das normativas, observando-se a idade e o nível de conhecimento. A
partir dos conceitos de educação não-formal e informal, esses espa-
ços de ensino-aprendizagem são ampliados, pois considera-se que as
múltiplas trocas de saberes, compartilhando experiências no cotidiano
SUMÁRIO
das ações coletivas e seus espaços utilizados, ou durante os diversos
processos de interação, seja com a família, no bairro ou com amigos,
alicerçada pelos valores e cultura própria, tornam todos educadores
em potencial (GOHN, 2006).

No relatório da Comissão Internacional sobre Educação para


a UNESCO, em 1996, o tema da Educação ao longo da vida foi evi-
denciado, principalmente diante dos desafios impostos por uma so-
ciedade cada vez mais globalizada. Assim, a proposta da Comissão
foi que “a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendiza-
gens: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos
e aprender a ser”, demonstrando que não basta que as pessoas, no
começo da vida, acumulem uma quantidade de conhecimentos, mas
que é preciso aproveitar todas as

oportunidades para “atualizar, aperfeiçoar e enriquecer estes


primeiros conhecimentos”, almejando compreender o mundo em mu-
dança. (DELORS, 1998, p. 89-90).

A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabeleceu as


diretrizes e bases da educação nacional, preceitua, em seu artigo 1º,
que “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem

352
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições
de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da so-
ciedade civil e nas manifestações culturais”. Já no artigo 2º, “afirma
que a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade
o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). Logo,
ratificou-se o previsto no artigo 205 da Constituição Federal: “que a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promo-
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
SUMÁRIO e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988).

O pleno exercício da cidadania ultrapassa prerrogativas legais


ou a delimitação de direitos e deveres, com o acesso, pelo cidadão,
aos meios e condições oferecidos pelo Estado, bem como pela pró-
pria sociedade. Desta forma, existe uma construção coletiva, com um
processo contínuo que objetiva uma sociedade mais justa e solidária.
Com a ampliação dos direitos, nasce também uma concepção
mais ampla de cidadania. De um lado, existe uma concepção
consumista de cidadania (direito de defesa do consumidor) e,
de outro, uma concepção plena, que se manifesta na mobili-
zação da sociedade para a conquista de novos direitos e na
participação direta da população na gestão da vida pública,
através, por exemplo, da discussão democrática do orçamento
da cidade. Esta tem sido uma prática, sobretudo no nível do
poder local, que tem ajudado na construção de uma democra-
cia participativa, superando os estreitos limites da democracia
puramente representativa. (GADOTTI, 2004, p. 2).

A rotina social está inserida nos processos de transformação de


um meio que subsidia as políticas públicas, fazendo com que as cida-
des encabecem um papel incentivador de cidadania. O projeto de uma
rede de cidades educadoras é a realização dos objetivos do próprio pla-
nejamento atual das cidades que são, segundo GADOTTI (2004, p. 4):

353
[...] promoção e a melhoria das condições de habitat viabi-
lizando uma vida saudável, social, material e espiritualmen-
te (cultura, educação e trabalho) para todos os munícipes...
maior eficácia social e maior eficiência econômica do capital
social, ou seja, do ambiente construído que é a cidade, distri-
buindo-se igualitariamente ou equitativamente os benefícios e
o ônus dos investimentos urbanos, na perspectiva da busca
da sociedade sustentável.

A cidadania vem amparar os indivíduos quanto à participação


ativa na sociedade e o envolvimento em diversos espaços da comu-
nidade, remetendo à transformação social. Para tanto, o segmento da
educação propicia conhecimento e habilidade que torna possível o en-
SUMÁRIO volvimento do cidadão com a sociedade.

Segundo a Carta das Cidades Educadoras (2020, p. 4):


A educação transcende as paredes da escola para impregnar
toda a cidade. Uma educação para a cidadania, na qual todas
as administrações assumem a sua responsabilidade na educa-
ção e na transformação da cidade num espaço de respeito pela
vida e pela diversidade.

Existem municípios brasileiros que são considerados Cidades


Educadoras, entre eles Horizonte, no estado do Ceará. Dada a impor-
tância do conceito de Cidade Educadora e a necessidade de se anali-
sar o andamento dessas ações, essa pesquisa buscou se aprofundar
a respeito, lançando um olhar sobre o município supracitado. Nesse
sentido, a questão de pesquisa que norteou este estudo foi: diante
das ações apresentadas por Horizonte, enquanto Cidade Educadora,
vislumbram-se oportunidades de aprendizagem aos cidadãos?

A partir daí, propôs-se, como objetivo principal, um estudo de


caso em Horizonte/CE, observando o impacto das políticas públicas
que o município adotou com sua adesão aos preceitos das Cidades
Educadoras. Como objetivos específicos, buscou-se identificar os

354
projetos realizados pelo município e verificar os impactos das políti-
cas públicas no cotidiano da cidade de Horizonte analisando, inclusi-
ve, a questão da publicização/prestação de contas.

Justificativa

Horizonte apresentou-se como Cidade Educadora, integrando


a Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE), a partir de
2016, sendo, até 2021, o único município associado na Região Nor-
deste. Esse compromisso foi firmado a partir da promulgação da Lei
SUMÁRIO nº 1.123, de 12 de fevereiro de 2016, inserindo-se numa rede de ci-
dades no Brasil e no mundo que se comprometeram “a reconhecer
e promover seu papel educador na formação integral dos habitantes,
rompendo com a lógica de políticas fragmentadas, com base na in-
tersetorialidade entre áreas como educação, saúde, meio ambiente e
cidadania”. (GARCIA, 2018, n.p).

Prezar pela educação, num sentido mais amplo, possibilita a


uma cidade educadora não apenas proporcionar a formação de seus
cidadãos no ambiente escolar, mas também atender a comunidade
como um todo, reconhecendo, exercitando e desenvolvendo, além
de suas funções convencionais, como econômica e política, a função
educadora, que acolhe a intenção e responsabilidade quanto ao cres-
cimento de todos os seus habitantes, sejam crianças, jovens, adultos
e idosos, com políticas públicas norteadas pelos princípios da Carta
das Cidades Educadoras.
Construir uma cidade educadora significa ir além da atitude ad-
ministrativa, mas sim desenvolver junto à população, a cons-
ciência de que todos os espaços do município devem tornar-
-se educativos. Assim, independentemente de onde esteja um
Horizontino, ele estará fortalecendo seu processo educacional.
Fazer o melhor por nossa cidade deve ser um compromisso de

355
todos. Nesse sentido, a Cidade Educadora é a que promove
melhorias em todas as áreas de interesse da sociedade: saúde,
educação, cultura, meio ambiente, esporte, trabalho, seguran-
ça, cidadania e muito mais (HORIZONTE, 2017, n.p).

O território horizontino é visto pelo cidadão local como seu,


onde, aliado a este sentimento de apreço, existe o interesse na busca
por benefícios que reflitam em mudança social, o que depende da con-
trapartida do poder público municipal, que, desde a adesão do muni-
cípio como Cidade Educadora, apresenta e apoia propostas, manten-
do-se no rol das poucas cidades que defendem a ideia e reconhecem
a relevância das práticas adotadas para a sociedade.
SUMÁRIO

REVISÃO TEÓRICA

As Cidades Educadoras tiveram início, como movimento, em


1990, quando do 1º Congresso Internacional de Cidades Educadoras,
celebrado em Barcelona, onde um grupo de cidades entenderam a
necessidade de trabalharem conjuntamente projetos e atividades para
melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. Nesse encontro, foi
apresentada a Carta das Cidades Educadoras, que instituiu os princí-
pios essenciais, sendo revista no 3º Congresso Internacional ocorrido
em Bolonha – Itália (1994), em seguida no 8º Congresso em Gênova
– Itália (2004) e no 16º Congresso em Katowice – Polônia (2020), adap-
tando-se às novas perspectivas, diante dos desafios contemporâneos.

Em sua parte introdutória, o documento recomenda que os ha-


bitantes terão o direito de usufruir, em condições de liberdade e igual-
dade, dos meios e oportunidades de transformação e entretenimento
e desenvolvimento pessoal que a cidade oferece. Sua elaboração fun-
damenta-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948;
na Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas

356
de Discriminação Racial de 1965; no Pacto Internacional sobre os Direi-
tos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; na Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989; na Declaração Mundial sobre Educação
para Todos de 1990; na 4a Conferência Mundial sobre a Mulher cele-
brada em Pequim de 1995; na Declaração Universal sobre a Diversida-
de Cultural de 2001; na Carta Mundial pela Direito à Cidade de 2005;
na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006;
no Acordo de Paris sobre o Clima de 2015 e na Agenda 2030 sobre o
Desenvolvimento Sustentável de 2015 (AICE, 2020).

De acordo com Villar (2001, p. 20), “a Cidade Educadora é uma


cidade relacional, isto é, o resultado que pretende aproveitar as suas
SUMÁRIO possibilidades estéticas, ambientais e de convivência como âmbito na-
tural de encontro, comunicação e criação, mediante as contribuições
conjuntas dos distintos agentes”.

Conforme o Centro de Referências em Educação Integral


(2014, n.p),
Cidade Educadora remete ao entendimento da cidade como
território educativo. Nele, seus diferentes espaços, tempos e
atores são compreendidos como agentes pedagógicos, que
podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa, ga-
rantir a perenidade do processo de formação dos indivíduos
para além da escola, em diálogo com as diversas oportunida-
des de ensinar e aprender que a comunidade oferece. O mo-
vimento compreende a educação como um elemento nortea-
dor das políticas da cidade e o processo educativo como um
processo permanente e integrador que deve ser garantido a
todos em condições de igualdade e que pode e deve ser po-
tencializado pela valorização da diversidade intrínseca à vida
na cidade e pela intencionalidade educativa dos diferentes
aspectos da sua organização: do planejamento urbano, da
participação, do processo decisório, da ocupação dos espa-
ços e equipamentos públicos, do meio ambiente, das ofertas
culturais, recreativas e tecnológicas.

357
A Carta das Cidades Educadoras (AICE, 2020, p. 9), exprime
princípios relacionados em três aspectos, quais sejam: o direito à ci-
dade educadora, o compromisso da cidade e o serviço integral às
pessoas. O primeiro, se refere à educação inclusiva ao longo da vida,
política educativa ampla, diversidade e não discriminação, acesso à
cultura e diálogo intergeracional. O segundo se refere ao conhecimen-
to do território, acesso à informação, governança e participação dos ci-
dadãos, acompanhamento e melhoria contínua, identidade da cidade,
espaço público habitável, adequação dos equipamentos e serviços
municipais e sustentabilidade. O terceiro e último se refere à promo-
ção da saúde, formação de agentes educativos, orientação e inserção
SUMÁRIO laboral inclusiva, inclusão e coesão social, corresponsabilidade contra
as desigualdades, promoção do associativismo e do voluntariado e
educação para uma cidadania democrática e global.

Entre as vantagens observadas pelos associados, pode-se citar:


Fazer parte de um grupo de cidades com uma filosofia comum
que permite a formulação de projetos conjuntos, com base nos
princípios da Carta das Cidades Educadoras; mostrar a cida-
de, seus programas, experiências e outras contribuições atra-
vés dos documentos do Banco Internacional de Experiências
(BIDCE) e outras mídias; conectar-se diretamente com outras
cidades; fazer parte da Assembleia Geral e de contribuir para
o desenvolvimento e funcionamento da Associação; eleger e
ser eleito para cargos e outras responsabilidades; participar de
Congressos Internacionais. (SOROCABA, 2011, p. 12-13).

Segundo Cabezudo (2004, p. 11), “hoje, mais do que nunca, a


cidade grande ou pequena dispõe de incontáveis possibilidades edu-
cadoras. De uma forma ou de outra, contém em si mesma elementos
importantes para uma formação integral de seus habitantes.”

A Associação Internacional das Cidades Educadoras é de-


finida como uma organização em que seus membros são cidades

358
empenhadas em promover ações que resultem na melhoria de vida
dos cidadãos. Dentre suas atividades e serviços são apresentados:
Seminários, Congressos e Workshops; formação para técnicos
e eleitos locais; Dia Internacional da Cidade Educadora; visitas
de estudo; prêmio Cidades Educadoras de boas práticas; publi-
cações e materiais que dão visibilidade ao poder educativo das
cidades; assessoria e atenção personalizada; espaços para o
trabalho em rede e implementação de ações conjuntas; colabo-
ração com outras entidades com objetivos partilhados; interlo-
cução com instâncias nacionais e internacionais; web interativa
e banco de boas práticas. (EDCITIES, 2022, n.p).

A missão da Associação tem sua pauta na promoção dos gover-


SUMÁRIO nos locais enquanto agentes educativos e que incentive sua atuação
frente aos desafios; propiciar que os governos locais tenham maior
espaço junto às organizações nacionais e internacionais, quanto às
temáticas que interessem às cidades associadas; promover o vínculo
entre a representação política e técnica das cidades, a fim de obter a
interação com a troca de experiências e aprendizagens e disseminar a
educação em todo o território local, com o fortalecimento institucional
e consequente governança.

O Comitê Executivo da AICE, publicou em 2019, o Manual da Ci-


dade Educadora, que serve como um guia metodológico, alicerçado nos
princípios que regem a Carta, dispondo de algumas orientações, em que
as práticas apresentadas sejam relevantes para o alcance no contexto
da Cidade Educadora. Observando a vivência e prática, das diferentes
cidades componentes da AICE, com suas visões e análises, perante os
contrastes culturais e territoriais, por exemplo, que a constituem. O guia
se estrutura em três eixos: O trabalho inicial e interno da gestão munici-
pal, a sociedade civil em rede e um convite às cidades para usufruírem
do trabalho conjunto e sua capacidade em um nível internacional.

Acompanhando as diretrizes da Associação Internacional


(AICE), o Brasil possui uma rede de cidades educadoras em seu

359
território, representado pela REBRACE (Rede Brasileira de Cidades
Educadoras), que vem definir a organização e funcionamento das
vinte e cinco cidades participantes e que elege a cidade coordena-
dora, atualmente Curitiba/PR, integrante da rede desde 2019 e eleita
para o período de 2021 a 2023, sucedendo a cidade de Vitória/ES,
que, juntamente com Guarulhos/SP, compõe a comissão coordena-
dora. A região nordeste está representada na REBRACE por duas
cidades, sendo uma delas, Horizonte/CE, que, como já mencionado,
em 2016 tornou-se membro da AICE, fazendo parte do movimento
de cidades que trabalham unidas em prol do incentivo às práticas
educativas no município, valorizando seus espaços.
SUMÁRIO A população horizontina possui uma tendência em utilizar os
equipamentos e espaços do território local, participando das boas prá-
ticas educadoras e pedagógicas. Assim, a Cidade Educadora reflete a
ideia da escola para a cidade, de modo a garantir oportunidade diante
de uma perspectiva mais humana, inclusiva e eficaz, afirmando o cres-
cimento de todos.

METODOLOGIA

A partir da abordagem qualitativa que, segundo Sampieri (2006,


p. 624), permite, dentre outros aspectos, “a contextualização do am-
biente, os detalhes e as experiências únicas”, o caminho escolhido
foi o da pesquisa exploratória, buscando-se ampliar a compreensão
acerca do tema das Cidades Educadoras por meio do desenvolvimen-
to de um estudo de caso de base documental. Para tanto, focou-se no
município de Horizonte, situado na Região Metropolitana de Fortaleza/
CE, a 40 km da capital. De acordo com o IBGE (2021), a população
municipal está estimada em 69.688 pessoas, distribuídas em uma área
geográfica de 160 Km2, dividida em quatro distritos: Aningas, Dourado,
Queimadas e a Sede do município.

360
Horizonte cresceu significativamente em termos econômicos e
sociais desde sua emancipação, em 1989, e possui destaque como um
dos principais polos industriais da região, atraindo muitos migrantes e
ocupando a posição atual de quinto município em arrecadação de Im-
posto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Ceará.

O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)


apresenta o ensino fundamental com o índice 6,9 (anos iniciais) e 5,7
(anos finais), para o ano de 2019 na rede pública, conforme última
atualização, superando as metas estabelecidas de 5,2 e 4,8, respec-
tivamente, sendo realizadas 10.764 matrículas no ensino fundamental
e 2.794 no ensino médio.
SUMÁRIO
Compuseram o corpus (Bardin, 1977) do presente estudo, os
documentos públicos sobre cidade educadora disponíveis no sítio ele-
trônico da prefeitura municipal de Horizonte/CE. A partir de “leituras
flutuantes” (Bardin, 1977), estabeleceu-se um contato mais aprofun-
dado com os documentos coletados - legislações, apresentações, re-
latórios, etc - com vistas à construção de um plano de análise. Após,
foi realizada uma organização desses dados, de forma que ficassem
evidenciadas categorias temáticas, que foram discutidas à luz dos
aportes teóricos.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Por ocasião da Lei nº 1.123 de 12 de fevereiro de 2016:


Art. 1º Fica o Município de Horizonte autorizado a integrar a As-
sociação Internacional de Cidades Educadoras - AICE, que tem
como objetivo trabalhar de forma conjunta em projetos e ativi-
dades que buscam a melhoria da qualidade de vida dos habi-
tantes. Parágrafo Único. A Secretaria de Educação será o órgão

361
responsável pela integração e efetiva participação do Município
como membro da AICE. Art. 2º Para integrar a AICE, o Muni-
cípio contribuirá com uma cota anual determinada pelo valor
do PIB do país e número de habitantes do Município, conforme
designado pela Associação. Art. 3º As razões e os objetivos que
justificam a integração do Município junto à AICE, estão consig-
nados na Carta das Cidades Educadoras, que segue no Anexo
Único desta lei. Art. 4º As despesas decorrentes da execução
da presente lei correrão por conta de dotação orçamentária pró-
pria. (HORIZONTE, 2016).

Atendendo ao dispositivo legal, que menciona a busca por mais


qualidade de vida dos habitantes, por meio de atividades dissemina-
das e apoiadas pelo poder público, foi elaborada uma linha do tempo
SUMÁRIO com as ações realizadas em Horizonte/CE, que compõe a política de
Cidade Educadora, a partir de consultas nos sítios institucionais e re-
positórios alinhados com o tema, conforme a seguir:

Quadro 1 – Ações Realizadas

ANO AÇÃO DESCRIÇÃO


2015 Conhecimento e apresentação à rede - Conhecer sobre a temática e sobre a AICE;
comunitária, administrativa e escolar - Apresentar o conceito e princípios da temática
e discussão com a gestão sobre o para gestão e para a rede;
conceito e os princípios da Cidade - Discutir sobre a possibilidade de aderir à AICE;
Educadora. - Introduzir a temática nos projetos, programas e
serviços da rede.
Desfile Cívico de 7 de setembro de - Cada escola, creche e respectivas comunidades
2015 e assinatura da carta de com- territoriais desenvolveram a temática.
promisso pelo Prefeito.
Visita à Santo André - Cidade Sede - Conhecer o formato da Metodologia;
da AICE. - Conhecer os espaços de educação coletiva;
- Trocar experiências com coordenação da AICE
de Santo André.
Salas de Memórias - Casas antigas e desabitadas convertidas em
na localidade de Queimadas. museus onde moradores contam histórias e pre-
servam patrimonial e memorialmente seu bairro.

362
ANO AÇÃO DESCRIÇÃO
2016 Seminário Municipal sobre Cidade - Seminário sobre a temática da Cidade Educado-
Educadora para rede comunitária, ra para fortalecimento do conceito no município
escolar e gestão. (participação da palestrante e socióloga Lourdes
Atié).
Formalização e a adesão de Horizon- - Tramitação interna e externa do processo de for-
te à AICE. malização da adesão de Horizonte à AICE;
- Aprovação da lei na Câmara Municipal.
Congresso Internacional de Cidades - Participação da delegação de Horizonte no even-
Educadoras em Rosário (Argentina); to, tendo sido selecionados para apresentação das
Apresentação do Projeto Comuni- experiências: Projeto Beija-flor e NUPIRH (Núcleo
dade de Aprendizagem em Buenos de Políticas de Igualdade Racial de Horizonte).
Aires (Argentina).
Comunidade de Aprendizagem – Li- - Trata-se da vivência e atuações educativas vol-
SUMÁRIO vros disponíveis na praça do bairro. tadas para a transformação educacional e social,
que começam na escola, mas integra tudo o que
está ao seu redor, unindo ao mesmo tempo, efi-
ciência, equidade e coesão social. Este projeto
está presente em 12 instituições educacionais.
Realização do desfile cívico com - Cada escola, creche e respectivas comunidades
a temática da Cidade Educadora: territoriais desses equipamentos sociais (crian-
O que faz de Horizonte uma cidade ças, adolescentes, pais e comunidades) realiza-
educadora. ram oficina para construir a apresentação cívica
com a temática.
Formação em Agentes da Cidadania; - Introdução e fortalecimento da temática na rede,
Formação em Desenvolvimento na com a identificação das ações que traduzem os
Primeira Infância. princípios de Horizonte como cidade educadora.
Premiação no 10º Encontro Nacio- - O encontro aconteceu após uma seleção crite-
nal de Secretários Municipais de riosa de práticas exitosas de gestão da política da
Assistência Social, promovido pela assistência envolvendo o Tema: “Sustentabilidade
Premium Brasil Group em Belo Ho- Social”.
rizonte (MG).
Introdução das ações do projeto In - Introduzir nas ações do projeto estratégias de
Conto Marcado para fortalecer o disseminação da cidade educadora, a começar
conceito de Cidade Educadora no pela identificação da população do próprio pro-
município. jeto como instrumento de fortalecimento da ci-
dadania e da leitura como meio de agregação, de
conhecimento e expressão cidadã.

363
ANO AÇÃO DESCRIÇÃO
2016 A valorização da profissão na busca - A Secretaria de Segurança do município doou
pela condição de trabalho para os capacetes e coletes para 300 motoristas cadastra-
profissionais. dos na associação e no sindicato da categoria de
Mototaxista (serviço de táxi em uma motocicleta).
A entrega desses equipamentos visa resguardar a
segurança do motoqueiro e do passageiro, com
ações voltadas ao trânsito e cidadania.
Participação de alunos, comunidades - Os agentes de endemias e agentes de saúde
e servidores, que estiveram juntos realizaram visitações nas residências, foram dis-
para propagar boas práticas de eli- tribuídos peixes betas, cobertas para potes caixas
minação do mosquito que transmite a d’água e material informativo para a população.
Dengue, a Zika e a Chikungunya.
5º Congresso Brasileiro de Gestores - Conquistando o Primeiro Lugar no Eixo Proteção
e Trabalhadores da Política de Assis- Básica: Serviço de Convivência e Fortalecimento
SUMÁRIO tência em Florianópolis (SC). de Vínculos da Política de Assistência Social.
2017 Prefeito Mirim. - Uma criança se candidata para ser prefeita pelo
período de dois anos, envolvendo-se efetiva-
mente nas políticas públicas da cidade. Ela tem
disponível a verba do Orçamento Participativo da
Criança e do Adolescente para aplicar em projetos
escolhidos pela comunidade infantil.
15º Congresso Internacional - O projeto “Grêmios em Ação – Decidindo o
de Cidades Educadoras Futuro”, uma das 30 ações selecionadas, entre
em Cascais (Portugal). as mais de 600 inscritas. O projeto tem como
objetivo fomentar o protagonismo juvenil, através
de atividades de sua instituição de ensino, organi-
zando campeonatos, palestras, projetos e discus-
sões, oportunizando que eles tenham voz ativa;
- Apresentação em formato de publicação da expe-
riência do Projeto de Igualdade Racial (NUPIRH).
Casa Lar. - Acolhimento de crianças em situação de vul-
nerabilidade.
Programas e Capacitação. - Realização dos cursos “Cozinheiras Escolares”,
“Inclusão Digital da Educação de Jovens Adultos
(EJA)”, “Informática para Melhor Idade” e “Infor-
mática Básica nas Escolas”.
- Conclusão dos Programas realizados nas es-
colas municipais que atenderam cerca de 1.230
crianças e jovens em 2017: o Projeto de Media-
ção Comunitária e Escolar (PROMECE), o Projeto
Jovem Bombeiro (JBV) e o Programa Educacional
de Resistência às Drogas (Proerd).

364
ANO AÇÃO DESCRIÇÃO
2017 Coleta Seletiva de Resíduos. Este processo irá acontecer em etapas e em
breve, atenderá todo o município. Para isso, foi
disponibilizado um caminhão diferenciado para
realizar este serviço. Além disso, as escolas de
Horizonte terão Mini EcoPontos para que os alu-
nos possam entregar o seu lixo seco, tais como
papéis, plástico, vidro e metal. Após a coleta, este
lixo será levado para o aterro sanitário de Horizon-
te onde os catadores da COOPERHO (Cooperativa
de Triagem e Reciclagem de Resíduos Sólidos de
Horizonte) farão a separação e a venda. Todo o
dinheiro arrecadado será das famílias cooperadas.
Participação na Olimpíada Brasileira - Conquistas das Medalhas de Bronze recebidas
de Matemática (OBM). pela EMEF Maria José de Sousa e a EMEF Fran-
SUMÁRIO cisca Gadelha Pires na Olimpíada Brasileira
de Matemática das Escolas Públicas e Privadas.
2018 Participação na Olimpíada Brasileira - Conquista da Medalha de Bronze pela EMEF Ma-
de Matemática (OBM). ria Luiza Barbosa Chaves e a EMEF Francisca Ga-
delha Pires com a Medalha de Prata e o município
contemplado, ainda, com 7 menções honrosas no
nível 1 e 9 no nível 2.
“Mamaço Coletivo” fecha as ações - No Centro Integrado de Saúde (Policlínica), a
da Semana Municipal de Aleitamen- Semana Municipal de Aleitamento Materno con-
to Materno. tou com várias atividades como concurso de
redação dos estudantes do ensino infantil ao 9º
ano, implantação de doulas, rodas de conversas,
plantão de dúvidas e seminário.
7º Encontro Brasileiro de Cidades - Organizado pela Rede Brasileira de Cidades
Educadoras, realizado em Vitória (ES). Educadoras (REBRACE), conta com o apoio do
Ministério da Saúde e Organização Pan-Ameri-
cana de Saúde – OPAS. Horizonte apresentou os
seus projetos de incentivo ao aleitamento mater-
no, o parto humanizado, o laboratório fitoterápico
e os grêmios estudantis.
2º Encontro Regional em Comunida- - Ao se destacar nas ações desenvolvidas com o
de de Aprendizagem – CdA, realiza- Projeto CdA, o município foi convidado a apre-
do em Recife (PE). sentar sua experiência.

365
ANO AÇÃO DESCRIÇÃO
2018 Programas e Capacitação. - Cerca de 2.694 certificações para estudantes,
professores e servidores públicos com apoio de
outras instituições. Entre os cursos realizados
estão: PROERD em parceria com a Polícia Mili-
tar; JBV em parceria com o Corpo de Bombeiros;
PROMECE em parceria com o Ministério Públi-
co; Gestão Educacional e Formação de Gestores
Escolares; Qualidade e Profissionalismo no Aten-
dimento de Serviços Básicos em Ambiente de
Educação e Formação de Professores Formadores
em parceria com o IFCE; Programa Rádio Escola;
Informática Básica e ALFASOL em parceria com a
Ford Motors que alfabetiza idosos e adultos.
2019 Espaço de Referência do Brincar – - Projetada para atender as crianças da primeira
Brinquedoteca. infância, o equipamento dispõe de brinquedos
SUMÁRIO pedagógicos e lúdicos, criados pelo renomado
artista cearense Antônio Jader Pereira dos San-
tos, o “Dim Brinquedim”, que, unidos aos ensi-
namentos da equipe de professores, valorizam o
despertar, a criatividade, imaginação e sentidos
de amizade, respeito e humanidade.
Visitação aos Espaços Públicos. - Alunos do 3º ano da EMEF Lauriza Vieira de
Lima visitaram o estádio Domingão, saindo do
ambiente escolar e conhecendo outros espaços
do ambiente municipal.
2021 Entrega da Brinquedo Praça e Acade- - Reinauguração da Praça Ana Diamantina de
mia da Saúde. Sousa (Zumbi), que foi totalmente revitalizada
trazendo melhorias no espaço de lazer e convi-
vência, proporcionando mais qualidade de vida
para toda a população. Também será inaugurado
o Brinquedo Praça, um novo espaço de diversão
para a criançada.
2022 Inclusão Digital de Jovens e Adultos. - Tablet na escola, alunos do ensino fundamental
e professores recebem tablets, com acompanha-
mento por aplicativo educacional.
Bordadeiras de Alto Alegre - Bordan- - Comunidade de mulheres Quilombolas: As ações
do Resistências. são pensadas e escolhidas com a aquiescência dos
membros do coletivo, com a promoção de ativida-
des que tragam o fortalecimento do grupo, a prática
educativa, a participação de mulheres e outros ato-
res sociais interessados na temática;
- Ação reconhecida e premiada em 2022 (Coréia
do Sul).

Fonte: Horizonte, 2022

366
Observando o quadro acima, com a trajetória das atividades em
Horizonte, é visível que estas alcançam a população horizontina, bem
como o espaço territorial, seja com o fortalecimento de um grupo so-
cial, como visto na comunidade de mulheres quilombolas, com a inclu-
são digital de jovens e adultos, além da oferta da academia da saúde
e brinquedo praça, que são alguns exemplos da interação socioedu-
cativa proposta pela cidade educadora. Diante dessas oportunidades,
dentre outras mencionadas, infere-se que as experiências adquiridas
pelos cidadãos traduzem a ideia de um espaço pedagógico, promo-
vendo a cidadania mais participativa e inclusiva.

Seguindo com a abordagem acerca das atividades desempe-


SUMÁRIO nhadas, notou-se uma considerável redução na oferta a partir de 2019,
sendo levantadas como possíveis causas fatores políticos, questões
orçamentárias e a pandemia de Covid-19.

Com a pesquisa e análise das informações coletadas foi possível,


em um primeiro momento, verificar que as ações realizadas estão vincu-
ladas com a realidade da população horizontina, com direcionamentos
da gestão pública municipal atuando em segmentos variados da socie-
dade, de modo interligado entre as secretarias de governo. Contudo, as
consultas e investigações mais apuradas junto aos documentos relati-
vos à Cidade Educadora são afetadas devido às ações serem divulga-
das como notícias e de modo genérico, com a ausência de relatórios e
maior detalhamento inerentes às atividades, com indicadores e orça-
mento, por exemplo. Dentro da rubrica da Educação, existe, por lei, a do-
tação orçamentária destinada às ações, não sendo possível elencá-las,
já que não estão detalhadas ou discriminadas dentro de uma carteira do
Programa, mas incluídas como ações gerais da pasta.

De forma a exemplificar, a cidade de Vitória/ES, possui informa-


ções em seu portal institucional, com relatório detalhado das ações e
orçamento disponível. São Bernardo do Campo/SP também apresenta
a Cidade Educadora por meio da Secretaria de Educação, em seu

367
portal eletrônico. São iniciativas que favorecem um melhor controle or-
ganizacional, contribuindo com a gestão e divulgação das atividades
locais, além de servir de experiência e modelo às demais cidades as-
sociadas, que alinham-se com os princípios da Administração Pública
e à Lei do Governo Digital, almejando a eficiência pública, oportunizan-
do ainda mais transparência, diante de um planejamento, execução e
prestação de contas, sendo sugestivo que as práticas aqui relatadas
possam ser adotadas, adaptadas ou melhoradas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO

A educação, ultrapassando sua abrangência escolar, auxilia os


cidadãos a se fazerem presentes e partícipes na rotina da cidade, des-
pertando o sentimento de importância, valorização e pertencimento ao
seu território. A essência de Cidade Educadora despertou o interesse
em examinar e propagar iniciativas que sejam facilitadoras quanto à
integração e qualificação dos espaços de aprendizagem, com a de-
monstração de fortalecer o espaço-território. Com este pensamento, o
processo educativo segue dinâmico e flexível, considerando o cenário
local, com uma comunidade envolta em peculiaridades e variáveis ain-
da a serem melhor exploradas.

A pesquisa trouxe indicativos de êxito no programa “Horizonte,


Cidade Educadora”, tornando as políticas públicas viáveis, com mais
oportunidade ao cidadão. Com as alternativas que unem as ativida-
des sociais, Horizonte possui condições para impulsionar o processo
de formação, promoção e desenvolvimento dos cidadãos, desde o
mais jovem, contemplando o ciclo da vida, com maior capacidade de
exercício da cidadania e qualidade de vida. Entretanto, a prosperidade
necessita de engajamento político contínuo, independente da perma-
nência ou mudança de gestor, visando oferecer à sociedade equipa-
mentos, auxílio e prestação de serviços públicos com mais qualidade.

368
A ideia de Cidade Educadora tem um papel formidável que
agrega valores dentro da localidade. Com o levantamento das ações
efetivadas e seus intervalos, foi possível compor uma leitura crítica ini-
cial, sendo oportuno e sugestivo que indagações, a partir de então,
possam ser propostas almejando melhorias, como, por exemplo, uma
publicidade mais formalizada e específica do programa Cidade Educa-
dora e suas políticas públicas, com o planejamento, execução e pres-
tação de contas, podendo manifestar de forma simplificada e objetiva,
sendo assim mais abrangente e acessível, servindo como exemplo ou
modelo para outras Cidades associadas e despertando o interesse em
outras ainda não associadas.
SUMÁRIO No decorrer desse estudo, objetivou-se colaborar com Horizon-
te enquanto Cidade Educadora, suscitando a necessidade de conti-
nuidade de pesquisas, sugerindo novas investigações que discorram
sobre os índices populacionais, mensurando os cidadãos atendidos
ou participantes de determinada iniciativa, seja cultural, educacional
ou social, que evidencie, de forma aprofundada, um alcance efetivo
da ação. Além disso, o acompanhamento dos trâmites e das rotinas
dos projetos e ações, desde o planejamento, execução e prestação
de contas, retratando o empenho, transparência e eficiência da gestão
pública é uma outra possibilidade para os estudiosos, educadores,
gestores e cidadãos no sentido de proporem melhorias, externando-se
o interesse em fortalecer um segmento indispensável à vida: a educa-
ção como um todo.

REFERÊNCIAS
AICE - Associação Internacional de Cidades Educadoras. Carta das Cidades
Educadoras. Disponível em: https://www.edcities.org/wp-content/uploads/
2020/11/PT_Carta.pdf. Acesso em: 04 jul. 2022. Acesso em: 25 jun. 2022.

369
AICE - Associação Internacional de Cidades Educadoras. Quem somos.
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SUMÁRIO

372
16
Capítulo 16

Aquisições da Agricultura Familiar Indígena e


Quilombola no Fornecimento da Merenda Escolar

Flaviane dos Santos Pedreno

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Flaviane dos Santos Pedreno

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Aquisições da Agricultura
Familiar Indígena e Quilombola
no fornecimento da merenda escolar

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.16
SUMÁRIO

Resumo:
Este artigo teve como objetivo analisar as aquisições da Agricultura Familiar In-
dígena e Quilombola para alimentação escolar por meio de compras públicas.
Neste artigo, dispõe uma visão da Agricultura Familiar no Brasil, bem como a
legislação que a ampara e da multifuncionalidade que lhe proporcionou be-
nefícios como o fornecimento de seus produtos a alimentação escolar, prio-
rizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais
indígenas e comunidades quilombolas (Lei nº 11.947/2009). Em seguida, para
cumprimento legal, é retratado o cenário da aquisição da agricultura familiar
indígena e quilombola no fornecimento da alimentação escolar no estado do
Amazonas. O método utilizado foi de natureza quantitativa por meio de pesqui-
sa documental em editais de chamadas públicas de aquisições de alimentos
da agricultura familiar. Os resultados demonstraram que a Prefeitura Municipal
de Barreirinha está realizando compras públicas da agricultura familiar para
alimentação escolar, dentro da legislação, também realizou de forma separa-
da aquisições da agricultura familiar indígena e quilombola, comprovados em
publicações de extrato de contratos dos vencedores homologados com seus
respectivos valores, porém no fornecimento de gêneros alimentícios específico
dos produtores quilombolas e indígenas, o estudo mostrou produtores partici-
pantes insuficientes, que nos leva a propor pesquisas futuras com essas inda-
gações, do porquê desse baixo número de agricultores familiar concorrendo
nas compras públicas do município de Barreirinha.

Palavras-chave: Agricultura familiar; Indígena; Quilombola; Alimentação escolar.

374
INTRODUÇÃO

“A agricultura familiar é a principal fonte de ocupação de força


de trabalho no meio rural brasileiro e grande parte da produção de
alimentos no Brasil advém da agricultura familiar” (PASQUALOTTO;
KAUFMANN; WIZNIEWSKY, 2019, p. 34), ou seja, são pequenas pro-
priedades rurais que a família trabalha para retirar sua alimentação,
bem como gerar sua própria renda, porém essas propriedades rurais
não podem ultrapassar a quatro módulos fiscais para ser considerada
Agricultura Familiar, conforme conceitua a Lei nº 11.326 (2006):

SUMÁRIO [...] considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar


rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,
simultaneamente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a
qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II
- utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas
atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendi-
mento; III - tenha renda familiar predominantemente originada
de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabeleci-
mento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou
empreendimento com sua família.

Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-


cuária), a agricultura familiar devido a sua flexibilidade está mais res-
peitada internacionalmente tanto pelos alimentos que produz, quanto
pela geração de “emprego e renda a partir de seus sistemas agrícolas
diversificados”, protegendo a variedade biológica e o meio ambiente
(EMBRAPA, 2002, p.1).

No Brasil essa multifuncionalidade da Agricultura Familiar lhe


proporcionou benefícios como o fornecimento de seus produtos para
alimentação escolar, baseando-se na Lei nº 11.947 (2009), a qual esta-
belece que 30% do valor de compra da merenda escolar, deverão ser
da Agricultura Familiar, priorizando os indígenas e quilombolas, com
isso, estimulando a economia e o desenvolvimento local.

375
Art. 14. Do total dos recursos financeiros repassados pelo
FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento)
deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios
diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar
rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamen-
tos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas
e comunidades quilombolas (Lei nº 11.947, 2009).

Porém sabe-se que no setor público há regulamentações para


se fazer uma compra, estabelecida pela Lei nº 14.133 (2021), a mais
recente Lei de Licitações e Contratos Administrativos, a qual descreve
compra como “aquisição remunerada de bens para fornecimento de
uma só vez ou parceladamente, considerada imediata aquela com pra-
SUMÁRIO zo de entrega de até 30 (trinta) dias da ordem de fornecimento”.

A Agricultura Familiar poderá fornecer seus produtos por meio


da Chamada Pública, por dispensa do procedimento licitatório, nos
termos do art. 14 da Lei nº 11.947/2009. Que segundo a Resolução
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE nº 26
(2013) em seu artigo 20, §2º, “considera-se chamada pública o proce-
dimento administrativo voltado à seleção de proposta específica para
aquisição de gêneros alimentícios provenientes da Agricultura Familiar
e/ou Empreendedores Familiares Rurais ou suas organizações”.

Para análise das aquisições públicas, foi selecionado o muni-


cípio de Barreirinha, considerando este possuir características que
possibilitam atender à problemática apresentada: conter comunidade
quilombola e indígena que fornecem alimentos ao município. Barreiri-
nha é situada no estado do Amazonas, área territorial 5.751,765km²,
população estimada de acordo com IBGE (2021), em 32.919 (trinta e
dois mil, novecentos e dezenove) pessoas, contendo quatorze distri-
tos compostos com mais de 80 famílias, cinco agrovilas com mais de
50 famílias. De acordo com a Lei Orgânica do município (Barreirinha,
1990), ainda contém inúmeras comunidades com número inferior a 50
famílias, são territórios em que se subdivide o município na área rural.

376
E dentre a sua área rural, contém uma área quilombola e uma indígena
da etnia Sateré Mawé.

Do Território quilombola oficialmente delimitado no Rio Andirá


(IBGE, 2019), composto por dois distritos e 4 comunidades, com 5
escolas com turmas de educação infantil 1º e 2º período, anos iniciais
do 1º ao 5º ano, ano finais do 6º ao 9º e Educação de Jovens e Adul-
tos – EJA do fundamental, que de acordo com o PNAE – Programa
Nacional de Alimentação Escolar, exercício 2022, atende um total de
528 alunos. Já a área indígena Sateré Mawé, oficialmente delimitada
no Andirá/Marau (IBGE, 2019), abrange no estado do Amazonas, além
do município de Barreirinha, o de Maués e Parintins, se estendendo até
SUMÁRIO o estado do Pará, contempla um Distrito e 66 aldeias, sendo que Se-
cretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer – SEMED-Barreirinha
atende 36 escolas, no total de 2.377 alunos, também com educação
infantil, anos inicial e final, e EJA, com o diferencial da sua língua nativa.

Segundo o artigo 211, parágrafo 2º da Constituição Federal


(1988), “os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental
e na educação infantil”, com isso a Secretaria Municipal de Educação,
Esporte e Lazer-SEMED, atende toda essa demanda, sendo ela situa-
da na sede do município, composta pela Coordenadoria de Esporte,
Setores de Merenda Regionalizada, Quilombola e Indígena.

Diante disso, a presente pesquisa pretende responder a ques-


tão: quantos e quais alimentos da agricultura familiar indígena e qui-
lombola no fornecimento de alimentos para a merenda escolar? Tem
como objetivo geral: analisar as aquisições da agricultura familiar indí-
gena e quilombola no fornecimento da merenda escolar no município
de Barreirinha-AM. E específicos: identificar as comunidades fornece-
doras de alimentos da agricultura familiar indígena e quilombola do
município de Barreirinha-AM; e distinguir o quantitativo da produção
agricultura familiar indígena e quilombola fornecida a merenda escolar
do município de Barreirinha-AM.

377
A Secretaria Municipal de Educação de Desporto e Lazer do
município de Barreirinha é responsável pela aquisição da merenda
escolar para 94 escolas em funcionamento, sendo quatro na sede
com 1.781 alunos e 90 na área rural com 7.303 alunos, totalizando
9.084 alunos (PNAE, 2022), dos quais estão incluídos quilombolas e
indígenas, assim sendo, seguindo os fundamentos legais expostos
nos parágrafos anteriores, o presente projeto de pesquisa tem o ob-
jetivo de analisar aquisições públicas da agricultura familiar indígena
e quilombolas no fornecimento da merenda escolar no município de
Barreirinha no estado do Amazonas.

Considerando que Lei nº 11.947 (2009) prioriza as comunidades


SUMÁRIO tradicionais indígenas e comunidades quilombolas no que tange a 30%
da compra da alimentação escolar, torna-se relevante verificar o quan-
to desta produção é comercializada via contratos públicos.

Uma vez que se desconhece o real cumprimento da lei no es-


tado do Amazonas, principalmente no que tange a agricultura familiar
fornecida pelos quilombolas e indígenas, e pouco se encontram estu-
dos acadêmicos a respeito desse tema, a pesquisa buscará aprofun-
dar esses conhecimentos da localidade.

REVISÃO TEÓRICA

Esta seção tem como objetivo apresentar a fundamentação teó-


rica e normativa sobre a aquisição da agricultura familiar indígena e qui-
lombola, no fornecimento da merenda escolar, separado em dois temas:
o primeiro tratando de conceitos sobre agricultura familiar e o segundo
descrevendo aspectos das compras públicas da agricultura familiar.

378
Agricultura Familiar

De acordo com Pasqualotto, Kaufmann e Wizniewsky (2019, p. 34):


A Agricultura familiar não é propriamente um termo novo, mas
seu uso é recente, apresentando inclusive diferentes interpreta-
ções e definições sobre o seu significado e amplitude, com am-
pla penetração nos meios acadêmicos, nas políticas de governo
e nos movimentos sociais, e assim adquire novas significações.

Uma modalidade antiga, mais com nomenclatura nova que vem


ganhando espaço nos estudos acadêmicos e economicamente por
meio das políticas de governo, como fornecer alimentação escolar
SUMÁRIO
equilibrada e saudável para os estudantes, “contribuindo para o cres-
cimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendi-
mento escolar [...], priorizando as comunidades tradicionais indígenas
e de remanescentes de quilombos” (BRASIL, 2020).

Neste contexto Saraiva et al. (2013, p. 928), fala que:


O estímulo e o apoio à agricultura familiar têm se mostrado re-
levantes para a formulação e a implementação de ações muni-
cipais de SAN e de desenvolvimento local, que visem promover
o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA)3-5. Assim,
a produção de alimentos, especialmente a da agricultura fami-
liar, tem se fortalecido com iniciativas de articulação de políticas
públicas, a exemplo do PNAE com o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF).

Portanto a Agricultura vem sendo incentivada e utilizada pelo


poder público, por meio de programas com incentivos financeiros para
melhorar sua produção ou favorecimento quanto ao fornecimento para
a merenda escolar. Inclusive Guimarães et al. (2011, p. 10) afirma que
“a agricultura familiar é um elemento necessário, embora não exclusivo,
para o desenvolvimento econômico mais sustentável de um município”.

379
No estado do Amazonas, conforme o Guia Prático de Alimenta-
ção Escolar Indígena e de Comunidades Tradicionais (BRASIL, 2020,
p. 13) como os quilombolas, relata que o não cumprimento dos 30%
na aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar “deram
subsídios para a discussão e criação de mecanismos para a busca
de soluções destes problemas”, tudo isso em conformidade com o
FNDE pela prestação de contas lhe enviada, “entre 2016 e 2018, dos
62 municípios do Amazonas, a maior parte dos municípios do estado
não cumpriu a obrigatoriedade mínima de contratação”.

Deste modo, ainda consoante com o Guia Prático (BRASIL,


2020, p. 14), em 2016, devido a uma visita na terra Yanomami pelo
SUMÁRIO Ministério Público Federal do Amazonas, se “constatou que a logística
dificultava o escoamento da produção e o fornecimento da alimenta-
ção às escolas indígenas no estado do Amazonas”, então a CATRA-
POA – Comissão de Alimentos Tradicionais dos Povos no Amazonas
organizada pelo 5º Ofício do Ministério Público Federal no Amazonas,
que atua com povos indígenas e comunidades tradicionais, nasceu:
[...no intuito inicial de viabilizar o acesso à venda da produção
tradicional de povos indígenas e comunidades tradicionais por
meio dos programas de compras públicas (Programa Nacio-
nal de Alimentação Escolar – PNAE, Programa de Aquisição de
Alimentos – PAA, Programa de Regionalização da Merenda Es-
colar – Preme).

Dessa forma, segundo Guia Prático (BRASIL, 2020 p. 17), a CA-


TRAPOA, após constatar as dificuldades para a compra direta de produ-
tos alimentícios indígenas para as suas aldeias, foi instaurado em 2017,
um procedimento administrativo pelo Ministério Público Federal – MPF
no Amazonas para acompanhar este tema, do qual obteve resultado No-
tas Técnicas (NT) da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), da Agência
de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (ADAF), da
Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Amazonas (SFA/Mapa/AM) e do MPF/AM), as quais consideram:

380
A existência de mecanismos tradicionais de controle alimentar den-
tro da cultura destes povos e apresenta entendimento de modo a
adequar entraves burocráticos desconectados dos hábitos e tradi-
ções alimentares quanto aos padrões de vigilância sanitária.

Seguindo a Recomendação Legal 06/2021 PR/AM, PRM Tefé,


PRM Tabatinga, todos os Prefeitos e Secretários Municipais de Educa-
ção do estado do Amazonas que “cumpram a obrigatoriedade mínima
de compra de 30% de alimentos da alimentação escolar proveniente
da agricultura familiar” e:
II – efetuem o lançamento de chamada pública diferenciada
contemplando os povos tradicionais (indígenas, quilombo-
las, ribeirinhos e extrativistas), de modo a garantir o respeito
SUMÁRIO
à alimentação culturalmente adequada nas escolas indígenas
e tradicionais em geral, nos termos das Notas Técnicas nº
01/2017/ADAF/SFA-AM/MPF-AM, NT nº 3/2020/6ªCCR/MPF e
NT n°09/2021/SAF/MAPA.

Compras públicas
da Agricultura Familiar

Compra é a terminologia usada para a troca de determinados


bens ou de prestação de um serviço por dinheiro, sendo que na ad-
ministração pública também se pratica compra públicas, que na visão
de Oliveira (2015, p. 193), são “apenas como instrumento que supre a
administração dos bens necessários à execução das políticas públicas
e ao seu funcionamento regular”, com critérios a se cumprir conforme a
lei de licitações contratos, dentre eles do menor preço com qualidade.

Essas compras públicas precisam passar por processos cada


vez mais exigentes, tanto da parte dos gestores públicos, quanto da
clientela, diferenciando do setor privado por ter lei própria, podendo
fazer somente o que ela autoriza.

381
E seguindo a Lei nº 11.947/2009 que dispõe sobre a alimenta-
ção escolar e seu artigo 14º, determina no mínimo 30% dos recursos
financeiros para agricultura familiar favorecendo assentamentos da re-
forma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades
quilombolas, e mais, essa aquisição da merenda escolar deverá ser
através do processo denominado compra pública.

Contudo a Resolução nº 6, de 8 de maio de 2020 em seu arti-


go 24 cita que a aquisição dos gêneros alimentícios com recursos do
PNAE deverá ocorrer por:
I – Dispensa de licitação, por meio de Chamada Pública, quan-
do das compras da agricultura familiar nos termos do Art. 14
SUMÁRIO da Lei 11.947/2009 e dos arts. 29 a 49 desta Resolução, sem
prejuízo das demais possibilidades de dispensa de licitação
previstas sem prejuízo das demais possibilidades de dispensa
de licitação previstas...]

E com base a Recomendação Legal 06/2021 PR/AM, PRM Tefé,


PRM Tabatinga, as chamadas públicas específicas para aquisição de
produtos de povos indígenas para alimentação escolar no Amazonas,
de 2019 a 2020, envolveu uma diversidade de mais de 50 produtos,
três milhões de reais e 20 municípios.

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi classificada em termos de abordagem:


quantitativa e quanto aos objetivos: descritiva. Em relação à pesqui-
sa descritiva, Gil (2008, p. 161) explica que “o primeiro cuidado do
pesquisador é o de descrever os dados obtidos, ou mais precisa-
mente, caracterizar isoladamente o comportamento de cada uma das
variáveis no conjunto das observações”. Prodanov (2013, p. 52) com-
plementa dizendo que esta permite o registro e descrição de “fatos
observados sem interferir neles”.

382
Na abordagem quantitativa, Prodanov (2013, p. 69) “considera
que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números
opiniões e informações para classificá-las e analisá-las”.

Em relação à técnica, foi utilizada a pesquisa documental. De


acordo com Prodanov (2013, p. 55), “baseia-se em materiais que não re-
ceberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados
de acordo com os objetivos da pesquisa”. Enquanto Gil (2008, p. 147),
mostra que são considerados documentos “não apenas os escritos
utilizados para esclarecer determinada coisa, mas qualquer objeto que
possa contribuir para a investigação de determinado fato ou fenômeno”.

SUMÁRIO Consistiram em documentos que contém informações sobre as


escolas, comunidades, repasses financeiros, processos licitatórios e o
volume de compras da agricultura familiar.

Foi realizada coleta de documentos em sites oficiais do go-


verno federal como FNDE, PNAE, também na Secretaria Municipal
de Educação, Esporte e Lazer e Secretaria Municipal de Produção e
Abastecimento.

Os dados foram tratados e analisados por estatística descritiva


de frequências, pois Santos (2018, p. 15) fala que: “Do conjunto de
procedimentos e técnicas que compõem a Estatística distinguem-se
os que servem para recolher, organizar, sintetizar e descrever os da-
dos, que formam a Estatística Descritiva...]”.

Ou seja, esse tratamento tem a finalidade, mostrar informações


a respeito dos dados coletados para o melhor entendimento sobre o
assunto apresentado, descrevendo-os e por meio de frequências.

383
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

A princípio para descrever sobre as aquisições da agricultura


familiar indígena e quilombola, no fornecimento de alimentos para a
merenda escolar do município de Barreirinha, verificou-se os repasses
do Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE no Sistema In-
tegrado de Gestão Financeira – SIGEF na página do FNDE, dos anos
2020, 2021 e 2022, sendo que o ano atual consta os valores repassa-
dos até o mês de Junho, dessa forma buscou-se junto a SEMED de
SUMÁRIO Barreirinha o valor estimado para o ano em curso.

Destaca-se que em 2020 não houve aquisição da Agricultura


Familiar, já em 2021, conforme Balanço Geral da SEMED foi liquidado
na aquisição da referida a importância de R $429.044,00.

Tabela 1 – Recursos do PNAE e os 30% correspondente à


obrigatoriedade legal que deverá ser adquirido da agricultura familiar

Ano Valor 30% Data Consulta


2020 R$ 1.009.254,40 R$ 302.776,32 30/06/2022
2021 R$ 899.462,00 R$ 269.838,60 30/06/2022
2022 R$ 922.870,00 R$ 276.861,00 13/07/2022

Fonte: PNAE (2022).

Seguindo a Resolução nº 06/2020/FNDE, a Secretaria Municipal


de Educação, Esporte e Lazer de Barreirinha-AM, conforme os Editais
001, 002 e 003/2022, realizaram por meio de dispensa de licitação e
Chamada Pública, a aquisição de gêneros alimentícios diretamente da
agricultura familiar com 30 tipos, da regionalizada, 40 da indígena e 39
do quilombola. Ressaltando que, o referido município, possui 1.317
produtores cadastrados na Secretaria Municipal de Produção e Abas-
tecimento, sendo 120 quilombolas, 72 indígenas e 1.124 ribeirinhos.

384
Na Tabela abaixo, observa-se dos valores homologados de
acordo com os Extratos de Contratos Publicados pela Prefeitura de
Barreirinha (2022), muito inferiores aos valores estimados pelos Edi-
tais de Chamadas Públicas, deixando de ser fornecido para alimen-
tação escolar indígena o valor de R$ 568.897,69 e dos quilombolas
em R$ 141.601,85.

Tabela 2 – Resultado das chamadas públicas de 2022

Produtores Valor Valor


Tipo
Homologados Estimado Homologado
Alimentação Escolar Regionalizada 41 R$ 727.922,50 R$ 712.722,26
Alimentação Escolar Indígena 31 R$ 659.197,00 R$ 90.299,31
SUMÁRIO
Alimentação Escolar Quilombola 2 R$ 155.050,50 R$ 13.448,65

Fonte: Barreirinha (2022).

A pesquisa constatou que no corrente ano, realizou-se a primei-


ra chamada pública para aquisição específica de agricultura familiar
indígena e quilombola, sendo que, de acordo com os editais, no item
3 – Habilitação do Fornecedor, cita que os Agricultores Familiares po-
derão fornecer sua produção como Fornecedores Individuais, Grupos
Informais e Grupos Formais, ressaltando que os referidos editais são
conformes modelos sugeridos pela Resolução nº 06/2020, FNDE, em
seu anexo VI, p. 40.

Dentre os documentos exigidos para a habilitação, há diferen-


ças entre eles, sendo que o fornecedor individual deverá apresentar
Cadastro de Pessoa Física – CPF, Declaração de Aptidão ao Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – DAP do participan-
do e Projeto de Venda dos Gêneros Alimentícios com sua assinatura,
este último também segundo modelo em anexo da citada Resolução
acima, que é a proposta com seus dados pessoais, contendo os tipos
de produtos, quantidade, valor e cronograma de entrega.

385
Já o Grupo Informal segue com o CPF, DAP e Projeto de Ven-
da, porém com a assinatura de todos os agricultores participantes do
grupo, enquanto que o Grupo Formal deverá apresentar o Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ, DAP Jurídico para Associações e
Cooperativas, prova de regularidade com a Fazenda Federal, Estatuto
e Ata de posse da diretoria do grupo.

E ainda conforme os Editais, dentre os critérios de seleção dos


beneficiários, os projetos de venda habilitados foram divididos em gru-
pos de projetos de fornecedores: (1) locais, (2) do território rural, (3) do
estado, e (4) do país, dos quais o de fornecedores locais tem priorida-
de sobre os demais grupos. O gráfico 1 demonstra a distribuição dos
SUMÁRIO recursos para aquisição da agricultura familiar.

Gráfico 1 – Distribuição do Valor de R $276.861,00


referente aos 30% aplicados à agricultura familiar

Fonte: dados da pesquisa (2022).

De acordo com dados apresentados no Gráfico 1, afirma-se


que: dos 30% obrigatórios por lei, para a aquisição da agricultura fami-
liar, equivalente a R$276.861,00, desse valor 32,61% foram direciona-
dos aos indígenas e 4,86% para os quilombolas.

Além disso, considerando que o valor estimado de R$922.870,00


deste ano para alimentação escolar e o total das Chamadas Públicas

386
para aquisição da Agricultura Familiar totalizaram R$816.470,22, atin-
giu-se a porcentagem de 88,47%. Averiguou-se também via Secretaria
Municipal de Educação, que foram liquidados da agricultura familiar
para alimentação escolar o valor de R$5.181,61 da obtenção indígena
e R$695,75 do quilombola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema Agricultura Familiar vem sendo mais conhecido devido


aos incentivos legais e sua importância para a economia local e ali-
SUMÁRIO
mentação saudável nas escolas públicas. Diante disto, esta pesquisa
teve como objetivo investigar as aquisições da Agricultura Familiar in-
dígena e quilombola no fornecimento da merenda escolar do município
de Barreirinha, identificando as comunidades fornecedoras, bem como
quais alimentos e suas respectivas quantidades.

Por se tratar do setor público, buscou-se a legislação e docu-


mentação pertinente em sites do governo federal, página do FNDE,
Leis e Resoluções que regularizam o fornecimento de alimentos da
Agricultura Familiar para alimentação escolar, estipulado no mínimo de
30% dos recursos destinado para este fim. Também foi constatado que
a Secretaria Municipal de Educação de Barreirinha possui cinco esco-
las quilombolas com um total de 528 alunos, enquanto que na área
indígena responde por 36 escolas com total de 2.377 alunos.

A investigação das aquisições da alimentação escolar da


agricultura familiar, mediante as chamadas públicas, foi levantada
as compras públicas específicas para indígenas e quilombolas por
entre publicações da Prefeitura de Barreirinha no Diário Oficial dos
municípios do Estado do Amazonas, nas quais contém a relação
dos vencedores da chamada e os valores. Não foi possível verificar

387
quais e quantas comunidades forneceram e identificar os tipos de
alimentos que têm sido fornecidos, sendo esta uma sugestão para
novos estudos nesta linha de pesquisa. Porém, apesar dos dados do
município de Barreirinha apresentarem o cumprimento da legislação
no que tange ao fornecimento da Agricultura Familiar para merenda
escolar, não se pode dizer que os demais municípios do Estado do
Amazonas tenham a mesma realidade.

Apesar disso, a pesquisa mostrou que o município de Barrei-


rinha está de acordo com a lei que torna obrigatório a aquisição de
merenda escolar, provenientes da agricultura familiar, além disso, vale
ressaltar estar acima do que é estimado na lei, uma vez que o percen-
SUMÁRIO tual investido é superior ao valor obrigatório, entretanto, a muito que ser
melhorado, haja vista que produtores homologados ainda são baixos,
levando em consideração ao número de produtores cadastrados no
banco de dados da Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento
(SEMPA), deixando de ser fornecido para alimentação escolar indígena
o valor de R$ 568.897,69 e dos quilombolas em R$ 141.601,85.

Assim sendo, sugere-se para futuros estudos pesquisas para


confrontar diferenças e semelhanças entre outros municípios do Esta-
do do Amazonas, obtendo a realidade quanto ao cumprimento legal da
Agricultura Familiar no fornecimento da merenda escolar. Ainda, pode
ser realizada uma pesquisa dentro do próprio município de Barreirinha
sobre os desafios e oportunidades da Agricultura Familiar Indígena e
Quilombola nas compras públicas, no intuito de investigar pela pers-
pectiva governamental, quanto do Agricultor Familiar, uma vez que se
desconhecem suas dificuldades e limitações, por outro lado, os bene-
fícios que essa prática oferece.

388
REFERÊNCIAS
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Familiar. Espaço temático. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-
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Barreirinha: Prefeitura Municipal de Barreirinha, 2022.
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Aquisição de gêneros alimentícios da Agricultura Familiar Indígena.
Barreirinha: Prefeitura Municipal de Barreirinha, 2022.
BARREIRINHA (AM). Edital de Chamada Pública nº 003/2022-PMB.
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Barreirinha: Prefeitura Municipal de Barreirinha, 2022.
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BARREIRINHA. Prefeitura. Extrato dos Termos de Contrato da Chamada
Pública nº 002/2022-CPL/PMB – Específica Indígena. Diário oficial dos
municípios do Estado do Amazonas, nº 3095, 14/04/2022. Disponível em:
https://diariomunicipalaam.org.br/visualizar-publicacao/20220414. Acesso
em: 30 jun. 2022.
BARREIRINHA. Prefeitura. Extrato dos Termos de Contrato da Chamada
Pública nº 003/2022-CPL/PMB – Específica Quilombolas. Diário oficial dos
municípios do Estado do Amazonas, nº 3095, 14/04/2022. Disponível em:
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389
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básica. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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390
PASQUALOTTO, N.; KAUFMANN, M. P.; WIZNIEWSKY, J. G. Agricultura
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pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
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sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação
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Brasília: Ministério da Educação, 2020. Disponível em: https://www.fnde.
gov.br/index.php/acesso-a-informacao/institucional/legislacao/item/13511-
resolu%C3%A7%C3%A3o-n%C2%BA-6,-de-08-de-maio-de-2020. Acesso
em: 04 jun. 2022.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Resolução/CD/FNDE nº 26, de 17 de junho
de 2013. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da
educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar
– PNAE. Brasília: Ministério da Educação, 2020. Disponível em: https://
www.fnde.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/legislacao/item/4620-
resolu%C3%A7%C3%A3o-cd-fnde-n%C2%BA-26,-de-17-de-junho-de-2013.
Acesso em: 06 jul. 2022.
SANTOS, C. M. L. S. A. Estatística Descritiva: manual de auto-aprendizagem.
3. ed. Edições Sílabo, Lisboa, 2018. Disponível em: https://static.fnac-static.
com/multimedia/PT/pdf/9789726189688.pdf. Acesso em: 21 jul. 2022.
SARAIVA, E. B. Panorama da compra de alimentos da agricultura familiar
para o Programa Nacional de Alimentação Escolar. 2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/vhD3rprLbpKQyFmsHBfpDsJ/?lang=pt. Acesso
em: 04/06/2022.
SIGEF. Liberações/resultado-entidade/ano/2020/município. Disponível em:
https://www.fnde.gov.br/sigefweb/index.php/liberacoes. Acesso em: 30 jun. 2022.

391
SIGEF. Liberações/resultado-entidade/ano/2021/município. Disponível em:
https://www.fnde.gov.br/sigefweb/index.php/liberacoes. Acesso em: 30 jun. 2022.
SIGEF. Liberações/resultado-entidade/ano/2022/município. Disponível em:
https://www.fnde.gov.br/sigefweb/index.php/liberacoes. Acesso em: 30 jun. 2022.

SUMÁRIO

392
17
Capítulo 17

Análise da estrutura do controle interno da Câmara


Municipal de Presidente Figueiredo-AM

Maria Andreia Bezerra dos Santos

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Maria Andreia Bezerra dos Santos

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Análise da estrutura
do controle interno da Câmara
Municipal de Presidente Figueiredo-AM
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.17
SUMÁRIO

Resumo:
O controle interno é de fundamental importância dentro das organizações, pois
o gestor tem a possibilidade de acompanhar todos os procedimentos ocorri-
dos, manter o desenvolvimento das informações com alto nível de segurança,
promovendo processos de padronização que os tornem mais ágeis de serem
executados. O presente artigo tem o intuito de analisar a estrutura do controle
interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo-Am, considerando as
exigências do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas – TCE. O método
empregado foi de natureza qualitativa e descritiva, cujos dados foram obtidos
por meio da pesquisa documental. Temos como resultados da pesquisa a efe-
tivação dos benefícios da atuação do controle interno dentro do Poder Legisla-
tivo. Compreendeu-se que a utilização do controle interno bem utilizado só traz
benefícios, mostrando-se extremamente eficaz tanto para a população quanto
para a gestão pública municipal. Temos visto o salto da transparência junto aos
órgãos competentes, o que torna as ações mais confiáveis, valoriza a ética,
configurando-se em um precioso instrumento de governabilidade com mais
qualidade nos serviços prestados aos cidadãos e de promover o bem comum.

Palavras-chave: Gestão Pública; Controle Interno; Eficiência.

394
INTRODUÇÃO

A administração pública é o poder de gestão do Estado, no


qual inclui o poder de legislar, tributar, fiscalizar e regulamentar, por
meio de seus órgãos e outras instituições, visando sempre um ser-
viço público efetivo e transparente na forma da Lei. Com o avanço
das tecnologias a população passou a ter acesso aos processos e
aplicação dos recursos públicos, com isso o controle passou a ser
imprescindível para a gestão.

O artigo versa sobre a análise da estrutura do controle interno


SUMÁRIO da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo-AM, assunto de grande
relevância por tratar justamente do controle dos gastos dos órgãos
públicos, visando sua aplicabilidade e equilíbrio. Assim, optou-se a
discorrer sobre a problemática: A estrutura atual do controle interno
da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo é adequada às normas
internas e nacionais?

A Constituição Brasileira de 1988 estabeleceu que o controle da


Administração Pública, será exercido pelo Congresso Nacional, me-
diante Controle Externo, e pelo sistema de Controle Interno de cada
Poder: Executivo, Legislativo e Judiciário (BRASIL, 1988).

A Lei Complementar nº 101/00, conhecida como Lei de Respon-


sabilidade Fiscal, estabeleceu que a fiscalização do cumprimento dos
seus dispositivos será exercida pelo: Poder Legislativo, Tribunal de Con-
tas, Ministério Público e Sistema de Controle Interno de cada Poder.

Na Administração Pública a função controle é exercida por exi-


gências legais, fundamentais para a vistoria dos processos de aquisi-
ção de bens e serviços.

395
A importância do controle na Administração Pública brasileira é
tida em destaque por estar caminhando juntamente com o planejamento,
proporcionando melhores serviços públicos, atendendo aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

No geral, o objetivo do artigo é analisar a estrutura do controle


interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo. Deste modo, a
fim de alcançar os objetivos propostos e elaborar o presente trabalho,
utilizou-se como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa,
descritiva e documental.

No transcorrer do artigo serão expostos a questão da pesquisa,


SUMÁRIO os objetivos, a estrutura, as atribuições, e os dispositivos que contri-
buíram para a criação do Controle Interno na Câmara Municipal de
Presidente Figueiredo-Am.

Portanto, a questão norteadora da pesquisa foi: a estrutura atual


do controle interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo é
adequada às normas internas e nacionais? Tendo como objetivo geral
analisar a estrutura do controle interno da Câmara Municipal de Pre-
sidente Figueiredo. E específicos: identificar as estruturas existentes
de Controle Interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo;
analisar se a estruturação do órgão de controle interno está adequada
às normas e leis vigentes no país.

O artigo em questão é de grande relevância, pois as ações e


atuações do Controle Interno dentro do Poder Legislativo solidifica a
integridade, transparência e eficiência nos registros dos gastos públi-
cos, demonstrando a importância nas tomadas de decisão dentro da
Instituição. É um instrumento de mudança que auxilia os gestores em
suas prestações de contas nos trabalhos realizados, em detrimento a
responsabilidade a eles conferida.

396
Atualmente nos deparamos com uma realidade na qual os
canais de comunicação dispõem de uma variedade substancial de
denúncias, como: corrupção, ações fraudulentas, uso indevido de di-
nheiro público, desvio de verbas, envolvendo os agentes públicos nos
diversos níveis governamentais.

O controle interno instituído no Poder Legislativo ao qual tem a


incumbência de controlar e assegurar a legalidade dos atos da gestão
nos leva a analisar se a estrutura existente está adequada às normas
e leis vigentes no país, a fim de garantir que os objetivos e metas esta-
belecidos nos atos de planejamento sejam atingidos.

SUMÁRIO Conhecer a estrutura do Controle Interno e analisar se às nor-


mas internas e nacionais está sendo seguida é de extrema importância
para que haja eficácia na utilização das verbas públicas por parte dos
governantes a fim de cumprir o que a lei determina. Neste contexto o
Controle Interno atua na Câmara Municipal de Presidente Figueiredo
desenvolvendo funções de planejamento, execução das atividades
planejadas, avaliação periódica dos resultados obtidos e acompanha-
mento da gestão fiscal e financeira.

REVISÃO TEÓRICA

A qualidade nos serviços públicos disponíveis à população deve


ser uma constante em todos os setores dos órgãos públicos. Sen-
do assim, os Municípios brasileiros enfrentam uma série de desafios
a serem tratados. Temos que a transferência de responsabilidades e
atribuições dos poderes da União e dos Estados para os Municípios,
juntamente com às demandas sociais por serviços de competência
dos Municípios, vêm preocupando grandemente a utilização dos re-
cursos públicos. Com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal –

397
LRF, associado a aplicação eficaz da aplicação dos recursos públicos
tem despertado os gestores à profissionalização de suas atividades. A
manutenção de sistemas de controle interno nas instituições públicas
municipais é uma das formas para tal profissionalização. Apresentare-
mos conceitos do controle Interno bem como sua estrutura dentro da
Casa Legislativa de Presidente Figueiredo.

Segundo Crepaldi (2004), o controle interno constitui-se em um


conjunto de instrumentos que possibilita às organizações seguir na
direção certa e atentar para os diversos setores, a fim de ter o conheci-
mento da situação vigente, ter condições de análises atuais e planejar
as propostas futuras, se necessário corrigir falhas existentes para a
SUMÁRIO melhoria do processo, dando novos rumos a gestão.

Nota-se que o controle interno vem da necessidade de aper-


feiçoamento dos procedimentos utilizados pelas organizações, pas-
sando a ocupar lugar de destaque no planejamento e execução das
atividades administrativas. Assim, segundo Franco e Marra (2001) esse
controle pode ser entendido como o conjunto de instrumentos destina-
do à vigilância, fiscalização e verificação de informações e dados que
permite prever, observar, dirigir ou governar os acontecimentos dentro
da instituição, refletindo em seu patrimônio.

O controle interno trabalha para que as ações tomadas pela en-


tidade aumentem a probabilidade de que seus objetivos e metas sejam
atingidos, conferindo a precisão e a confiabilidade das informações.

Damascena e Souza (2011, p.02) ressaltam que:


O controle interno na administração pública municipal surgiu da
necessidade de assegurar aos gestores o cumprimento das leis,
normas e políticas vigentes, através do estabelecimento de me-
canismos de controle que possibilitem informações à socieda-
de, impedindo a ocorrência de fraudes e desperdícios, servindo
de instrumento que visa garantir a efetividade, a produtividade,
a economicidade e a rapidez na prestação do serviço público.

398
A prática do controle ganhou evidência nos últimos anos no
Brasil com as denúncias e punições de conluios existentes entre em-
presas privadas e representantes do poder público. Nesse âmbito, o
Decreto Lei nº 8.420 (Brasil, 2015), conhecido como “Lei Anticorrup-
ção”, destaca a necessidade de um programa de integridade para criar
mecanismos capazes de detectar e sanar desvios e fraudes contra a
administração pública.

A Constituição Federal, base legal da implantação do controle


interno na administração pública como Lei maior prevê no Artigo 70 que:
A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial da União e das entidades da administração direta,
SUMÁRIO indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, apli-
cação de subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema
de controle interno de cada poder.

O controle interno, como o próprio nome já diz, é uma espécie


de controle feito internamente na administração pública. Vale frisar o
conceito de Rocha (2001) que diz: [...] todo controle realizado pela
entidade ou órgão responsável pela atividade controlada, no âmbi-
to da própria administração. Assim, qualquer controle efetivado pelo
Executivo sobre seus serviços ou agentes é considerado interno,
como interno será também o controle do legislativo ou do Judiciário,
por seus órgãos de administração, sobre seu pessoal e os atos ad-
ministrativos que pratiquem.

Para o alcance de melhores resultados é necessário que haja


um bom planejamento, pois é preciso preservar os recursos e aplicá-
-los eficientemente na realização dos objetivos traçados pelo gestor
público, tendo em vista que em todo processo são tomadas decisões
e essas precisam ser avaliadas.

Cruz e Glock (2013, p. 20) caracterizam o controle interno como:

399
[...] qualquer atividade de verificação sistemática de um regis-
tro, exercida de forma permanente ou periódica, consubstan-
ciado em documento ou outro meio, que expresse uma ação,
uma situação, um resultado etc., com o objetivo de verificar
se existe conformidade com o padrão estabelecido, ou com o
resultado esperado, ou, ainda, com o que determinam a legis-
lação e as normas.

O gestor público deve conhecer bem a legislação pertinente em


vigor, buscando saber quais são as suas obrigações e os seus direitos,
deve também ter uma definição clara do seu sistema de controle, os
procedimentos, as etapas que os documentos devem seguir até serem
publicados, enfim, o funcionamento deve estar voltado a eficiência dos
SUMÁRIO resultados e o melhor investimento dos recursos públicos.

METODOLOGIA

Marconi e Lakatos (2008), aludem que a metodologia é uma


forma a partir da qual o estudioso pode identificar os aparatos que irão
garantir que a pesquisa opere da melhor forma possível atingindo os
objetivos delimitados.

Como metodologia de pesquisa foi utilizada a abordagem qua-


litativa, descritiva e documental. Para coletas de dados realizou-se a
pesquisa documental.

Para Marconi e Lakatos (2011) a abordagem de cunho qualita-


tivo trabalha os dados buscando seu significado, tendo como base a
percepção do fenômeno dentro do seu contexto. Corroborando com
estes autores temos Silva e Menezes (2001) que assim exemplifica a
abordagem qualitativa:
A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmi-
ca entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indis-
sociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito

400
que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicos no pro-
cesso qualitativo. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de
dados e o pesquisador é o instrumento-chave. O processo e
seu significado são os focos principais de abordagem. (SILVA;
MENEZES, 2001, p. 20).

A abordagem descritiva descreve características de fatos e fe-


nômenos, sem manipulação dos dados, ou seja, analisa os dados co-
letados sem que haja a interferência do pesquisador.

Segundo Vergara (2000), a pesquisa descritiva expõe as carac-


terísticas de determinada população ou fenômeno, estabelece corre-
SUMÁRIO
lações entre variáveis e define sua natureza. A autora coloca também
que a pesquisa não tem o compromisso de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação.

De acordo com Gil (2002, p. 42), “a pesquisa descritiva tem


como objetivo primordial a descrição das características de determi-
nada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis”. Uma de suas características está na utilização de técni-
cas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário
e a observação sistemática.

A pesquisa documental, devido a suas características, pode ser


confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2008), destaca como
principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes
de ambas as pesquisas. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza
fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determi-
nado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelabora-
dos de acordo com os objetivos da pesquisa.

401
Assim como a maioria das tipologias, a pesquisa documental pode
integrar o rol de pesquisas utilizadas em um mesmo estudo ou se caracte-
rizar como o único delineamento utilizado para tal (BEUREN, 2006).

A pesquisa realizar-se-á na Câmara Municipal de Presidente Fi-


gueiredo, localizada no Bairro Galo da Serra, sede do município. A Câ-
mara conta um prédio próprio construído no decorrer da Gestão da Pre-
sidente Patrícia Lopes Miranda, atual Prefeita do município, ano de 2019.

O município de Presidente Figueiredo está localizado na Região


Metropolitana de Manaus, no Estado do Amazonas.

Ocupa uma área de 25.459,099 km² e sua população, estima-


SUMÁRIO
da pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020
era de 38.095 habitantes, sendo assim o vigésimo município mais po-
puloso do estado. Juntamente com outros doze municípios, integra a
Região Metropolitana de Manaus, a maior e mais populosa da Região
Norte do Brasil (IBGE, 2020).

A BR-174 é a principal rodovia existente na localidade, sendo res-


ponsável por interligar o município a Manaus, Boa Vista, capital de Ro-
raima, e ao município fronteiriço de Santa Elena de Uairén, na Venezuela.

A Câmara Municipal dispõe de uma sala “arquivo morto” refri-


gerada, higienizada e com documentação arquivada por tipo e ano.
Documentos contábeis, processos licitatórios, processos administra-
tivos, contratos, requerimentos, Leis (sendo atualmente digitalizada),
aposentados, fichas funcionais, fichas financeiras, prestação de con-
tas do Poder Executivo entre outros.

A Câmara Municipal possui 13 vereadores eleitos, 13 servidores


efetivos (estatutários) e 138 servidores comissionados.

Justifica-se a escolha do Controle Interno da Câmara Municipal


de Presidente Figueiredo como sujeito desta pesquisa considerando

402
a evolução de seus indicadores perante a avaliação do Ranking da
Transparência das Câmaras Municipais realizado pelo Ministério Pú-
blico de Contas do Amazonas. No ano de 2021 obteve 402 pontos, o
equivalente a 46,97%, sendo um avanço significativo no Ranking de
Controle Interno comparado aos anos anteriores 2019 e 2020 que re-
gistraram 4,34 pontos, correspondendo a (0% a 25%), “estado crítico”.
No ano de 2022 subiu para 54,1%, na avaliação referente ao período
de 21 janeiro de 2022 a 11 julho de 2022 e se coloca em 4º lugar, con-
forme apresentado na Figura 3 (MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS
DO AMAZONAS, 2022).

Figura 3 – Dados da Câmara Municipal de Presidente


SUMÁRIO Figueiredo no Ranking da Transparência

Fonte: Ministério Público de Contas do Amazonas (2022).

A amostra documental faz-se diante de relatório de auditoria e


demais recomendações, Lei que instituiu o Controle Interno (Criação,
competências do cargo e requisitos de investidura) e Lei Municipal nº
796 de 09 de julho de 2018, que Reestruturou os Quadro de Cargos

403
Comissionados, quadro de servidores do Controle Interno. Área de
atuação no exercício (tesouraria/financeiro, recursos humanos, conta-
bilidade, almoxarifado, licitações e contratos e etc.)

A coleta de dados se deu por meio de análise documental que,


segundo Gil (2002, p. 45), “baseia-se em materiais que ainda não re-
ceberam um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de
acordo com os objetivos da pesquisa”. Os documentos analisados
foram relatórios, Leis, encontrados na coleta de dados nos anais da
Casa Legislativa.

Os dados foram analisados com base na Análise de Conteúdo,


SUMÁRIO conforme destaca Bardin (1977):
[...] a análise qualitativa não rejeita toda e qualquer forma de
quantificação. Somente os índices são retidos de maneira não
frequencial, podendo o analista recorrer a testes quantitativos:
por exemplo, a aparição de índices similares em discursos se-
melhantes. Em conclusão, pode-se dizer que o que caracteri-
za a análise qualitativa é o fato de a inferência - sempre que é
realizada - ser fundada na presença do índice (tema, palavra,
personagem, etc.), e não sobre a frequência da sua aparição,
em cada comunicação individual.

Por esta técnica, os dados foram tratados em 3 etapas: a primei-


ra a análise superficial dos documentos selecionados para a pesquisa,
a segunda com a análise pontual de cada documento, separando os
conteúdos por temas e subtemas e a terceira a sistematização dos
temas para os grupos de análise (BARDIN, 1977).

404
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Os documentos analisados apresentaram dois temas pertinen-


tes aos objetivos propostos: (1) A análise da estrutura legal e institu-
cional da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo e (2) conteúdos
relacionados à estrutura e atribuições dos cargos e de pessoal.

Estrutura da Câmara
Municipal de Vereadores
SUMÁRIO

A Câmara Municipal de Presidente Figueiredo, fundada no mes-


mo ano de emancipação do município, 1981. Em 9 de janeiro de 2012,
por meio da Lei Promulgada nº 6, institui no âmbito da Câmara Munici-
pal de Presidente Figueiredo, o controle interno, para exercer o controle
e a fiscalização das contas públicas, relativas ao Legislativo nos termos
preconizados pelos artigos 31, 70 e 74 da Constituição Federal e pará-
grafo único do artigo 54 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de
2000 o artigo 32, da Lei Orgânica do Município.

Art. 32D. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma


integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:(Inserido
pela Emenda nº 01/2013)

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-


nual, a execução dos programas de governo;(Inserido pela Emenda
nº 01/2013)

II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à


eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial
nos órgãos e entidades da administração municipal, bem como da

405
aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;(In-
serido pela Emenda nº 01/2013)

III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan-


tias, bem como dos direitos e haveres do município; (Inserido pela
Emenda nº 01/2013)

IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institu-


cional. (Inserido pela Emenda nº 01/2013)

§1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conheci-


mento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao
Tribunal de Contas do Estado, sob pena de responsabilidade solidária.
SUMÁRIO
(Inserido pela Emenda nº 01/2013)

§2º Lei de iniciativa do executivo disporá sobre a criação do


Sistema de Controle Interno, devendo criar os cargos necessários no
Quadro Permanente de Pessoal, com respectivos perfis, indicando o
respectivo nível salarial, para posterior provimento por meio de concur-
so público (Inserido pela Emenda nº 01/2013).

§3º O Sistema de Controle Interno do Município será administra-


do por um Coordenador do Controle Interno, nível superior, vasto co-
nhecimento sobre a legislação vigente e sobre matéria orçamentária,
financeira e contábil, além de dominar os conceitos de controle interno
e de auditoria. (Inserido pela Emenda nº 01/2013)

Atribuições e estrutura
do controle interno

O Controle Interno da Câmara Municipal desenvolve atribuições


que lhe são impostas nos termos legais, previstos na Lei Promulgada
nº 06/2012 de 9 de janeiro de 2012 e na Lei Municipal nº 796, de 09 de

406
julho de 2018 que dispõe sobre a reestruturação do quadro de cargos
comissionados. O Controle Interno da Câmara Municipal de Presidente
Figueiredo possui três servidores que respondem pela coordenadoria
do Controle Interno.

Conforme parágrafo único do Art. 1º, da referida Lei, o controle


interno abrange a fiscalização de todos os setores do Poder Legislativo.

Na estrutura do controle interno foi criado o Cargo de Coor-


denador de Controle Interno com requisitos específicos para sua no-
meação: Ter nível superior completo, com conhecimento nas áreas de
Contabilidade, Administrativa, Econômica ou Jurídica, tendo algumas
SUMÁRIO vedações em sua Art. 3º combinado com o Art. 5º para o exercício de
função ou cargo relacionado com o Sistema de Controle Interno, de
pessoas que tenham sido, nos últimos cinco anos, tais como:

• Responsabilizadas por atos julgados irregulares, de forma defi-


nitiva, pelos Tribunais de Contas;

• Punidas, por decisão da qual não caiba recurso na esfera admi-


nistrativa, em processo disciplinar, por ato lesivo ao patrimônio
público, em qualquer esfera de governo;

• Condenadas em processo por prática de crime contra a Admi-


nistração Pública, capitulado nos Títulos II e XI da Parte Especial
do Código Penal Brasileiro, na Lei nº 7.492, de 16 de junho de
1986, ou por ato de improbidade administrativa previsto na Lei
nº 8.429, de 02 de junho de 1992;

Além disso, não podem exercer atividade político-partidária e


patrocinar causa contra a Câmara Municipal de Presidente Figueiredo.

A Figura 3 apresenta o organograma oficial da Câmara Munici-


pal de Presidente Figueiredo com o recorte nas ligações da Controla-
doria do órgão.

407
Figura 3 – Organograma

SUMÁRIO Fonte: Coleta de dados (2022)

A estrutura do controle interno abrange o setor de Auditoria Inter-


na da instituição, a quem compete controlar as principais áreas institu-
cionais, a fim de evitar fraudes, desfalques e subornos. Esse controle é
realizado por meio da verificação dos controles existentes. A materiali-
dade desse estudo não é só o sistema de controle interno de um Poder
sobre ele mesmo, todavia é indubitavelmente relevante apreciar o que
está previsto no artigo 74 da CF/88. No citado artigo 74, a Constituição
Federal obrigou os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) a
manterem, de forma integrada.

O servidor público ficará sujeito à responsabilização administra-


tiva, civil e penal por ação ou omissão de informações, causar emba-
raço constrangimento ou obstáculo à atuação do sistema de controle
interno no desempenho de suas funções institucionais

De acordo com a Lei que instituiu o Controle Interno, o servidor


que exercer funções relacionadas com o Controle Interno deverá guardar
sigilo sobre dados e informações obtidas em decorrência do exercício
de suas atribuições e pertinentes aos assuntos sob a sua fiscalização,
utilizando-os para elaboração de relatórios e pareceres destinados ao
Chefe do Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas do Estado.

408
Figura 4 – Fluxo de comunicação de Auditoria do Controle Externo ao
Controle Interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo

SUMÁRIO
Fonte: Coleta de dados (2022)

Percebe-se que o fluxo de comunicação segue o processo de


auditoria do Controle Externo ao Controle Interno da Câmara. Esse flu-
xo é necessário para que haja agilidade no andamento nas demandas
solicitadas, evitando assim interrupções ou atrasos nos setores.

O sistema de controle interno do Poder Legislativo tem como


finalidade:

• Fiscalização das atividades administrativas, contábeis, orça-


mentárias e financeiras;

• Trabalhar, predominantemente, em serviços internos no horário


estabelecido pela Mesa Diretora da Câmara Municipal, em regi-
me de dedicação exclusiva;

• Avaliar o cumprimento das metas previstas no Plano Plurianual


– PPA – e a regularidade e eficácia na execução das atividades
públicas, no mínimo uma vez ao ano;

• Avaliar a adequação da Lei Orçamentária Anual – LOA ao Plano


Plurianual – PPA e a Lei de Diretrizes Orçamentária – LDO;

409
• Acompanhar a gestão fiscal, avaliando semestralmente o compor-
tamento dos gastos públicos do Poder Legislativo, estando apto a
sugerir medidas para aprimorar o uso de recursos públicos;

• Acompanhar as modificações orçamentárias a fim de atestar a


sua legalidade e adequação ao PPA e à LDO;

• Examinar as fases de execução da despesa, inclusive verifican-


do a regularidade das licitações e contratos, sob os aspectos da
legalidade, legitimidade e economicidade.

• Avaliar a legalidade dos atos contratuais celebrados;

SUMÁRIO • Acompanhar as movimentações contábeis do órgão;

• Apoiar o Controle Externo no exercício de sua missão institucional;

• Acompanhar a inscrição e a baixa da conta “restos a pagar” e


“despesas de exercícios anteriores”;

• Acompanhar os limites para despesa com pessoal, tomando


ciência dos alertas emitidos e supervisionando as medidas ado-
tadas pelo Poder Legislativo, para o retorno da despesa aos
respectivos limites, nos termos dos Artigos 22 e 23, da Lei Com-
plementar nº 101/2000;

• Acompanhar, para fins de posterior registro no Tribunal de Con-


tas do Estado, os atos de admissão de pessoal, a qualquer tí-
tulo, no Poder Legislativo Municipal, executando as nomeações
para cargos de provimento em comissão e designações para a
função gratificada;

• Acompanhar os atos de aposentadoria para posterior registro


no Tribunal de Contas;

410
• Realizar outras atividades de manutenção e aperfeiçoamento do
Sistema de Controle Interno, inclusive quando da edição de leis,
regulamentos e orientações;

• Executar tarefas afins.

O artigo 74, § 1º da CF/88, estabelece que, ao tomarem co-


nhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, os responsáveis
pelo controle interno darão ciência ao respectivo Tribunal de Contas,
sob pena de responsabilidade solidária. Já o § 2º estabelece que qual-
quer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima
para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante
SUMÁRIO o Tribunal de Contas da União.

Nenhuma informação sobre processos, ou documentos poderá


ser negado aos Coordenadores de Controle Interno no exercício das
atribuições inerentes às atividades de auditoria, fiscalização e avalia-
ção de gestão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo, foi possível concluir que o controle inter-


no na Câmara Municipal de Presidente Figueiredo é uma necessidade
constante para que o Presidente da Câmara possa garantir a eficiência
e a aplicação dos recursos públicos de forma transparente e obede-
cendo os preceitos da Lei.

O controle interno deve ser realizado em conformidade com os


padrões fixados pelo ordenamento jurídico brasileiro. Tendo por base
que o objetivo do presente estudo era analisar a estrutura do controle
interno da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo, pode-se dizer
que o que se concluiu com o estudo é que o controle interno do órgão

411
público pesquisado é necessário, fundamental, bem como obrigatório
por lei. Acredita-se que o objetivo proposto foi alcançado.

A estrutura do Controle Interno está adequada às normas in-


ternas e nacionais exigidas por Lei, tendo que a principal função é
resguardar a administração para que esta caminhe em acordo com
princípios constitucionais: legalidade, impessoalidade, moralidade, efi-
ciência e publicidade. Sendo assim, o controle interno, como visto em
vários momentos do estudo, assume um importante papel na adminis-
tração pública, tendo em vista que, além de verificar a legalidade dos
atos administrativos, ainda, realiza um controle de resultados, conver-
tendo-se em um mecanismo de gerenciamento para a administração
SUMÁRIO e de garantia para a população.

As limitações da pesquisa foram pertinentes à técnica de pes-


quisa documental, se atendo apenas aos dados registrados pela
organização e legislações pertinentes, cabendo aqui uma sugestão
para estudos futuros a utilização de outras técnicas de pesquisa
como as qualitativas, permitindo analisar o fenômeno observado com
maior profundidade.

Verificou-se também a constante necessidade de aperfeiçoa-


mento das práticas de Transparência e Controle, como no órgão anali-
sado, visando atender ao que se encontra disposto na Lei de Respon-
sabilidade Fiscal nº 101/2000 e a Lei Federal de Acesso à Informação
nº 12.527/2011 que representa um grande avanço na participação do
cidadão ao acesso às informações dos órgãos públicos. Para tanto,
esta pesquisa apresenta análise que permite inferir, embora sem ge-
neralizações, sobre o processo de fortalecimento dos instrumentos de
controle da gestão pública e de controladoria.

412
REFERÊNCIAS
PRESIDENTE FIGUEIREDO. Lei Municipal nº 796, de 09 de julho de 2018,
dispõe sobre a reestruturação do quadro de cargos comissionados da
Câmara Municipal de Presidente Figueiredo-Am.
PRESIDENTE FIGUEIREDO. A Lei Promulgada nº 06, de 09 de janeiro
de 2012, institui o Controle Interno na Câmara Municipal de Presidente
Figueiredo-Am.
PRESIDENTE FIGUEIREDO. Lei Orgânica do Município de 1º de outubro
de 2013, que constitui a Lei Fundamental do Município de Presidente
Figueiredo-Am.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução Luís Antero Reto; Augusto
SUMÁRIO Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977. Disponível em: https://www.aedb.br/
seget/arquivos/artigos16/34224414.pdf. Acesso em: 11 jul. 2022.
BEUREN, I. M (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em
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https://escolasuperioread.ifam.edu.br/pluginfile.php/88888/mod_resource/
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Acesso em: 18 jun. 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm.
Acesso em: 15 jun. 2022.
BRASIL. Decreto Lei nº 8.420, de 18 de março de 2015. Dispõe sobre
a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela prática de
atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras
providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/decreto/d8420.htm. Acesso em: 07 jul. 2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
LCP/ Lcp101.htm. Acesso em: 06 jul. 2022.
BRASIL. Lei de Acesso a Informações Públicas. Lei n° 12.527, de 18 de
novembro de 2011. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para
Assuntos Jurídicos. Brasília, 2011. Disponível em: Acesso em: 22 de jul. 2022.

413
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Acesso em: 22 jun. 2022.
CRUZ, F.; GLOCK, J. O. Controle interno nos municípios – orientação para
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VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3.ed.
Rio de Janeiro: Atlas, 2000.

414
18
Capítulo 18

O regime de teletrabalho pós-pandemia: desafios e perspectivas


na implementação do Programa de Gestão e Desempenho (PGD).

Karina Onety de Barros

Nayara de Paula Faleiros

Karina Onety de Barros

Nayara de Paula Faleiros

O regime de teletrabalho
pós-pandemia:
desafios e perspectivas
na implementação do Programa
de Gestão e Desempenho (PGD).

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.18
SUMÁRIO

Resumo:
O presente artigo tem por finalidade abordar o Regime de Teletrabalho nas Or-
ganizações Públicas pós-pandemia, bem como discorrer sobre os principais
desafios enfrentados pelos órgãos que aderiram ao Programa de Gestão de
Desempenho (PGD) e perspectivas que podem ser vislumbradas com a am-
pliação da implementação desse programa. Além disso, buscou-se analisar
os impactos causados pelas inovações tecnológicas e como os índices de
produtividade impulsionaram a regulamentação dessa nova forma de trabalho.
Para tanto, utilizou-se a abordagem qualitativa, com um cunho descritivo-ex-
ploratório. A partir de um levantamento documental, com o intuito de contribuir
e estimular discussões e reflexões a respeito dessa temática, tendo em vista
que o programa possibilita melhor qualidade de vida aos envolvidos, redução
de custos, comunicações instantâneas mesmo sem a presença física, entre
outros, verificou-se que um dos obstáculos mais apontados foi a resistência
às ferramentas tecnológicas, que se constituem como base dessa modalidade
de trabalho, além do fato da maioria dos servidores ativos estar na faixa etária
de 47 anos, denotando que não são “nativos digitais”. Embora haja um quan-
titativo expressivo de obras a respeito, notou-se que alguns dados ainda são
superficiais, sendo necessário o desenvolvimento de novos estudos, principal-
mente de cunho estatístico, para se ampliar a compreensão sobre os impactos
trazidos pelo Regime de Teletrabalho na administração pública.

Palavras-chave: Pandemia; Trabalho remoto; Teletrabalho; Programa de


Gestão de Desempenho; Gestão Pública.

416
INTRODUÇÃO

As inovações tecnológicas têm fomentado importantes mudan-


ças nos processos de trabalho e, consequentemente, nas relações que
lhe são pertinentes. Olhando para a Administração Pública Federal, per-
cebe-se que, cada vez mais, os órgãos estão sendo estimulados a faze-
rem constantes reanálises acerca de seus métodos de gerenciamento,
inclusive com a introdução de novas tecnologias, aprimorando-se, ao
mesmo tempo que buscam responder às demandas trazidas pelo mer-
cado. Com o constante desenvolvimento tecnológico e a necessidade
da continuidade do trabalho, mesmo em períodos de isolamento devido
SUMÁRIO
à pandemia, o teletrabalho tem ganhado cada vez mais espaço, trans-
formando as tradicionais relações laborais, inclusive após a Regulamen-
tação da Instrução Normativa nº 65/2020 (BRASIL, 2020c).

As instabilidades vistas nos cenários político e econômico nos


últimos anos, além do advento da pandemia do Coronavírus, que
colocou o Estado em calamidade pública, reconhecido pelo Decreto
Legislativo nº 6, de 2020 (BRASIL, 2020a), impulsionaram a adoção
de medidas drásticas e imediatas, a exemplo da implementação de
modalidades de trabalho mais flexíveis, no intuito de minimizar da-
nos e crises iminentes, sendo o Programa de Gestão e Desempenho
(PGD), uma dessas modalidades. Criado em 1995, por meio da pro-
mulgação do Decreto nº 1590, de 10 de agosto, que, em seu pará-
grafo 6º, previa que “em situações especiais em que os resultados
possam ser efetivamente mensuráveis, o Ministro de Estado poderá
autorizar a unidade administrativa a realizar programa de gestão,
cujo teor e acompanhamento trimestral deverão ser publicados no
Diário Oficial da União, ficando os servidores envolvidos dispensa-
dos do controle de assiduidade” (BRASIL, 1995, grifo nosso), pos-
teriormente foi disciplinado pela Instrução normativa nº 01 de 31 de

417
agosto de 2018 (BRASIL, 2018), tendo por principal finalidade aferir
as atividades desempenhadas pelos envolvidos, visando a qualidade
e eficácia no serviço desempenhado.

Em 2020, a Instrução Normativa nº 65, de 30 de julho de 2020


(BRASIL, 2020c), que substituiu a IN 01/2018, trouxe novas redações a
respeito das orientações, critérios e procedimentos gerais do Progra-
ma de Gestão. No dia 17 de maio de 2022, instituiu-se o Decreto nº
11.072 (BRASIL, 2022), que dispôs sobre o Programa de Gestão e De-
sempenho - PGD da administração pública federal direta, autárquica e
fundacional, revogando o § 6º do artigo 6º do Decreto nº 1590/1995 já
mencionado. Aqui, cabe ressaltar o papel do TransformaGov, um pro-
SUMÁRIO grama instituído por meio do Decreto nº 10.382, de 28 de maio de 2020
(BRASIL, 2020b), que tem foco a avaliação e modernização da Gestão
Estratégica e Transformacional nos órgãos da Administração Pública
Federal, e que tem auxiliado na disseminação do PGD.

Nesse sentido, analisar o fluxo de adesão dos órgãos e entida-


des no Programa de Gestão e Desempenho (PGD) e os impactos dele
decorrentes, visto a escassez de dados e estudos que demonstrem
seus resultados concretos, por meio de evidências e estatísticas, tor-
na-se fundamental. Com o objetivo de atrair atenção para o tema, o
presente trabalho buscou analisar quais as vantagens e desvantagens
desse novo regime, bem como algumas estatísticas, mapeando os
principais desafios enfrentados pelos órgãos e entidades ao aderirem
ao PGD e as perspectivas que essa modalidade de trabalho está tra-
zendo para a gestão pública, que permitiram visualizar tanto os impe-
ditivos quanto os progressos desse novo regime laboral.

418
REVISÃO TEÓRICA

A Pandemia e o regime
de Teletrabalho

Em dezembro de 2019, numa pequena cidade da China, Wuhan,


constatou-se o primeiro caso de SARS-COV-2, que, posteriormente,
em 2020, assolou todo o mundo, com uma propagação incontrolável e
danos irreversíveis. Mesmo passados alguns anos, ainda não se sabe
como se deu o surgimento do vírus, nem mesmo como exterminá-lo,
fazendo-se uso apenas de medidas paliativas, como isolamento so-
SUMÁRIO
cial, higiene adequada, vacinação, dentre outros. Acerca disso, Mas-
caro (2020, p.7), discorre que:
Não se pode limitar a pandemia do coronavírus às chaves de
explicação biológicas ou da natureza. Trata-se de uma crise
eminentemente social e histórica. A reiterada fragilidade da
relação humana com a natureza corresponde a uma parcela
pequena dos problemas presentes. [...] Os custos humanos da
pandemia vislumbram-se extremos. Também isto não se deve a
uma pretensa má-sorte da economia contra a natureza, porque
aquela não é o ponto fixo e estável em favor do qual se deve
moldar o natural e o social.

Com a quarentena compulsória decorrente da pandemia, mu-


danças tiveram de ser implementadas para que o trabalhador prosse-
guisse com seu ofício e houvesse a continuidade no processo produti-
vo da empresa. Por isso, estabeleceu-se a necessidade de uma nova
forma de trabalho, que não infringisse as regras impostas por conta do
Estado de calamidade pública, e que amenizasse os danos em âm-
bitos econômicos, sociais e até mesmo jurídicos. Logo, uma das saí-
das encontradas foi o regime de teletrabalho, modalidade que atingiu
7,9 milhões de pessoas, sendo a maioria graduada ou pós-graduada,
conforme demonstram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2020):

419
Figura 1 – Perfil dos Teletrabalhadores em
Regime de Trabalho Remoto no Brasil

SUMÁRIO

Fonte: Reprodução - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020).

O teletrabalho foi introduzido no Brasil na década de 90 (NO-


GUEIRA FILHO; OLIVEIRA; SÄMY; NUNES, 2020), mas discussões
acerca de seus reflexos na administração pública só começaram a
surgir a partir de 2005, quinze anos depois, (PANTOJA; ANDRADE;
OLIVEIRA, 2020). No que concerne a esse regime, também conhecido
como trabalho remoto, entende-se que pode ser definido como traba-
lho realizado total ou parcialmente à distância, em que o trabalhador
realiza suas atividades fora das dependências físicas da empresa, ou,
em alguns casos, de forma híbrida, com alternância de dias trabalha-
dos remotamente e presencialmente.

Para a Organização Internacional do Trabalho, essa nova forma


laboral nada mais é que uma espécie do gênero trabalho à distância,
visto que há outras formas que não se enquadram nas características
do teletrabalho, mas que também não necessitam do comparecimento
à empresa por parte do colaborador. Nesse sentido, é “uma espécie de
trabalho à distância, que inclui o trabalho em domicílio, mas diferente

420
deste se realiza com o auxílio dos meios de telecomunicação e/ou do
computador” (OIT, 2011, p. 11).

Matias-Pereira (2013, p.2) conceitua o teletrabalho na adminis-


tração pública como “aquele em que o servidor público pode desen-
volver parte ou todo o seu trabalho em casa ou em qualquer outro
local, apoiado na utilização das novas ferramentas tecnológicas”, sa-
lientando que essa nova modalidade permite flexibilização e mensura-
ção quanto à produtividade e qualidade na prestação do serviço. Para
Bastos (2005), o regime de teletrabalho fornece independência física,
maleabilidade na jornada de trabalho e melhoria no tempo despendi-
do, já que não exige deslocamento, contribuindo para que o teletra-
SUMÁRIO balhador se sinta mais disposto, pois não precisará enfrentar tráfego
caótico, além de permitir que este se faça mais presente ao lado dos
seus, o que influencia positivamente de maneira drástica em motivação
e qualidade de vida.

O Programa de Gestão
de Desempenho e suas normativas

A Instrução Normativa nº 65/2020 (BRASIL, 2020c), estabele-


ceu que o programa de gestão abrangerá as atividades que permitam
a mensuração da produtividade e dos resultados das respectivas uni-
dades e do desempenho do participante em suas entregas. Ademais,
dispõe também sobre a predileção pela modalidade de teletraba-
lho parcial ou integral. Comparando-a com a Instrução Normativa nº
01/2018 (BRASIL, 2018), elaborou-se o quadro comparativo abaixo,
com o intuito de observar as mudanças propostas, percebendo-se
que a IN nº 65/2020, dado o contexto de pandemia em que foi insti-
tuída, em que havia a urgência de se implementar essa modalidade
de trabalho, trouxe a ampliação da abrangência e a minimização da
complexidade burocrática:

421
Quadro 1 – Comparação entre normativos PGD

QUADRO COMPARATIVO
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 01/2018 X INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 65/2020
INSTRUÇÃO INSTRUÇÃO
OBSERVAÇÕES
NORMATIVA Nº 01/2018 NORMATIVA Nº 65/2020
Estabelece orientações, critérios e pro- Estabelece orientações, critérios e pro- Mesma
cedimentos gerais a serem observados cedimentos gerais a serem observados fundamentação
pelos órgãos e entidades integrantes do pelos órgãos e entidades integrantes do nas duas.
Sistema de Pessoal Civil da Adminis- Sistema de Pessoal Civil da Administra-
Matéria
tração Federal - Sipec relativos à im- ção Federal - SIPEC relativos à imple-
plementação de Programa de Gestão, mentação do Programa de Gestão.
de que trata o § 6º do art. 6º do Decreto
nº 1.590, de 10 de agosto de 1995.
Art. 1º Orientar e estabelecer crité- Art. 1º Esta Instrução Normativa esta- Na IN nº
rios e procedimentos gerais a serem belece orientações, critérios e proce- 01/2018 havia
observados pelos órgãos e entidades dimentos gerais a serem observados a dispensa do
SUMÁRIO integrantes do Sistema de Pessoal Ci- pelos órgãos e entidades integrantes controle de
Disposições
vil da Administração Federal - Sipec do Sistema de Pessoal Civil da Admi- frequência.
Gerais
relativos à implementação de progra- nistração Federal - SIPEC relativos à
ma de gestão, no qual os servidores implementação de programa de gestão.
públicos participantes ficam dispen-
sados do controle de frequência.
Art.5º Os servidores públicos parti- Art. 2º Podem participar do programa de Maior limitação
cipantes do programa de gestão são gestão:I - servidores públicos ocupantes quanto aos
regidos pela Lei nº 8.112, de 11 de de cargo efetivo; II - servidores públicos participantes na
dezembro de 1990, observadas as ocupantes de cargo em comissão, decla- IN nº 01/2018.
Participantes adaptações necessárias ao exercício rado em lei de livre nomeação e exone-
do PGD de suas atribuições funcionais com ração; III - empregados públicos regidos
dispensa de controle de frequência. pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio
de 1943, em exercício na unidade; e IV
- contratados temporários regidos pela
Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993.
Art. 2º, VII - modalidade teletrabalho: Art. 3º, VII - teletrabalho: modalidade A IN nº 65/2020
categoria de implementação do pro- de trabalho em que o cumprimento da aborda dois
grama de gestão em que o servidor jornada regular pelo participante pode regimes, parcial
público executa suas atribuições ser realizado fora das dependências fí- ou integral, além
funcionais integralmente fora das sicas do órgão, em regime de execução de ressalvar a
dependências da unidade, mediante parcial ou integral, de forma remota e possibilidade
Modalidade o uso de equipamentos e tecnologias com a utilização de recursos tecnológi- de controle,
Teletrabalho que permitam a plena execução das cos, para a execução de atividades que metas, prazos e
atribuições remotamente, dispen- sejam passíveis de controle e que pos- entregas defini-
sado do controle de frequência, nos suam metas, prazos e entregas previa- das, pontos não
termos desta Instrução Normativa; mente definidos e, ainda, que não con- abordados na
figurem trabalho externo, dispensado IN nº 01/2018.
do controle de frequência, nos termos
desta Instrução Normativa;

422
Art. 3º O programa de gestão abran- Art. 4º O programa de gestão abrangerá Percebe-se
gerá as atividades cujas caracte- as atividades cujas características permi- maior abran-
rísticas permitam a mensuração da tam a mensuração da produtividade e dos gência na IN
Abrangência produtividade e dos resultados das resultados das respectivas unidades e do nº 65/2020,
respectivas unidades e do desem- desempenho do participante em suas pois muda o
penho do servidor público partici- entregas. termo para
pante. “participante”.
Art. 3º - Parágrafo único. O programa Art. 5º - § 2º O teletrabalho não pode- Na IN nº
de gestão não poderá: I - abranger as rá: I - abranger atividades cuja natureza 65/2020 houve
atividades para as quais a presença exija a presença física do participante a supressão do
física na unidade seja estritamente na unidade ou que sejam desenvolvidas inciso III que
necessária; II - implicar redução da por meio de trabalho externo; e II - re- consta na IN
Proibição
capacidade plena de funcionamento duzir a capacidade de atendimento de nº 01/2018.
no Programa
dos setores em que haja atendimento setores que atendam ao público interno
de Gestão
ao público; e III - obstruir o conví- e externo.
vio social e laboral, a cooperação, a
SUMÁRIO integração e a participação do servi-
dor, nem dificultar o direito ao tempo
livre.
Art. 4º A implementação de progra- Art. 7º A implementação de programa Novamente ob-
ma de gestão é facultativa à Admi- de gestão é facultativa à Administração serva-se maior
Quanto à nistração Pública e ocorrerá em fun- Pública e ocorrerá em função da conve- abrangência na
implementação ção da conveniência e do interesse niência e do interesse do serviço, não IN nº 65/2020,
do PGD do serviço como ferramenta de se constituindo direito do participante. em que não
gestão, não se constituindo direito se limita aos
do servidor. servidores.
Art. 6º A integral implementação do Art. 8º A implementação do programa Percebe-se uma
programa de gestão observará as de gestão observará as seguintes fases: redução nas fa-
seguintes fases: I - elaboração de I - autorização pelo Ministro de Estado; ses, tornando-as
processo de acompanhamento de II - elaboração e aprovação dos procedi- mais simples.
metas e resultados e de plano de tra- mentos gerais; III - execução do progra-
balho; II - autorização pelo Ministro ma de gestão; e IV - acompanhamento
Fases de de Estado; III - implementação do do programa de gestão.
Implementação programa de gestão em experiência
do PGD piloto; IV - avaliação dos resultados
da experiência-piloto e reformulação
do plano de trabalho, se necessária;
V - regulamentação do programa
de gestão; e VI - implementação e
acompanhamento do programa de
gestão.

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

423
METODOLOGIA

O presente artigo utilizou a abordagem qualitativa, tendo um


cunho descritivo-exploratório. De acordo com Gil (2002), pesquisas ex-
ploratórias têm como finalidade proporcionar maior familiaridade com o
problema, com o propósito de torná-lo mais explícito ou a construir hi-
póteses. O mesmo autor, salienta que o estudo descritivo tem como ob-
jetivo fundamental detalhar particularidades de determinada população
ou fenômeno. No que tange ao procedimento adotado para coleta de
dados, fez-se uso do levantamento documental, que visa tratar analitica-
mente o objeto da pesquisa. Conforme dispõe Gil (2007), a elaboração
SUMÁRIO
parte dos documentos ainda sem tratamento pormenorizado, como re-
latórios de pesquisa, tabelas estatísticas, relatórios de empresas, dentre
outros. “Primeiramente, há que se considerar que os documentos cons-
tituem fonte rica e estável de dados. Como os documentos subsistem
ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dados em
qualquer pesquisa de natureza histórica” (GIL, 2002, p. 46).

Foram analisados os normativos relacionados ao PGD, bem


como dados contidos no sítio eletrônico do Governo Federal e no Pai-
nel da Transparência. Buscou-se ainda o aporte teórico-reflexivo em
artigos relacionados à temática. Além dos dados obtidos na página
do Governo Federal, foram selecionadas cinco obras, a saber: Bridi,
Bohler e Zanoni (2020), que retratam as condições dos trabalhadores,
bem como a adaptação ao teletrabalho; Barros e Silva (2010), que
discorrem sobre as percepções das consequências vistas pelo teletra-
balhador; Costa (2013), que aborda sobre o controle à distância desse
novo regime; Freitas (2008), que faz uma análise referente à implemen-
tação do mesmo e Soares (1995), que traz as semelhanças e diferen-
ças do teletrabalho em países desenvolvidos e não desenvolvidos e os
reflexos na comunicação informal.

424
Para o tratamento de dados, utilizou-se a análise de conteúdo
proposta por Bardin (1977), que prevê três etapas: a pré-análise, a
exploração do material, e o tratamento e interpretação dos resultados
obtidos. No primeiro estágio, realizou-se a organização, por meio de
uma leitura flutuante e seleção de documentos; na exploração, codifi-
cou-se e categorizou-se o material, procedendo posteriormente com o
recorte das unidades de registro e contexto; por fim, na interpretação
dos resultados, operou-se por meio da inferência, que, segundo Bardin
(1977, p. 133), é: “apoiar-se nos elementos constitutivos do mecanis-
mo clássico da comunicação: por um lado, a mensagem (significação
e código) e o seu suporte ou canal; por outro, o emissor e o receptor”.

SUMÁRIO

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Uma das primeiras observações a serem feitas, a partir do sítio


eletrônico do PGD, é a ampliação do quantitativo de órgãos que aderiu
a esse regime, estando entre eles Ministérios, Secretarias, Instituições
Federais de Ensino Superior, e outros. No entanto, cabe destacar que
esses dados disponibilizados são apenas uma parcela do quantitativo
real, visto que muitos órgãos da Administração Pública que implemen-
taram o PGD ainda não constam na referida lista, a exemplo da Univer-
sidade Federal de São Paulo.

Evidenciaram-se também os planos de trabalho, que são docu-


mentos idealizados entre chefia e subordinado, onde constam objeti-
vos a serem cumpridos, amparados pela Instrução Normativa nº 65,
de 30 de julho de 2020 (BRASIL, 2020c). O quadro a seguir apresenta
os percentuais de entregas efetivas, em que as aceitas tiveram notas
iguais ou superiores à meta estabelecida na avaliação realizada pelo
órgão, enquanto as não aceitas são aquelas em que foram atribuídas
notas insatisfatórias.

425
Quadro 2 – Planos de Trabalho

Entregas aceitas Entregas não aceitas


99,9% 0,01%

Fonte: Governo Federal (2022)

A produtividade e a satisfação por parte da Administração Pú-


blica são refletidas no cumprimento máximo das demandas exigidas,
conforme já exposto, além das altas notas atribuídas pelas atividades
realizadas. Portanto, percebeu-se que com a constatação da produtivi-
dade por parte dos servidores, essa modalidade tem tido um aumento
considerável em suas adesões. Um exemplo da média das notas das
SUMÁRIO atividades avaliadas pode ser visto no quadro abaixo:

Quadro 3 – Planos de Trabalho por Órgão ou Entidade

Órgão Qtd. de Planos Qtd. de Atividades Média das notas das


de Trabalho Atividades Avaliadas
TOTAIS 7654 65900 9,87
CADE 4011 21959 9,83
ME 3643 43941 9,91

Fonte: Governo Federal (2022)

Greco e Martins (2001, p.40) apontaram que “para o teletraba-


lhador haverá [...] vantagens e desvantagens: não tem o teletrabalha-
dor de enfrentar a poluição das cidades, eventualmente da própria em-
presa, evita o congestionamento do tráfego, o tempo nele perdido e os
gastos de transporte”. Já De Masi (2000, p.206) elencou as seguintes
vantagens: “autonomia dos tempos e dos métodos, coincidência entre
o lar e o local de trabalho, redução de custos e do cansaço provoca-
do pelos deslocamentos, melhoria da gestão da vida social e familiar,
relações de trabalho mais personalizadas, além da possibilidade de
redução das horas de trabalho”. Em relação às desvantagens, o autor
apontou o “isolamento, marginalização do contexto e da dinâmica da

426
empresa, o problema da reestruturação dos espaços dentro de casa,
dos hábitos pessoais e das relações familiares”.

Para Jardim (2003, p.41) “o teletrabalho pode significar diminui-


ção do tempo livre, isolamento social, redução da distinção vida profis-
sional/vida particular, menor ajuda na execução do trabalho, e menores
possibilidades de ascensão na carreira profissional”.

Além dessas obras, foram analisadas outras, que permitiram


traçar um quadro comparativo sobre as vantagens e desvantagens
observadas no Regime de Teletrabalho:

Quadro 4 – Vantagens e Desvantagens do Teletrabalho


SUMÁRIO
AUTOR VANTAGENS DESVANTAGENS
Flexibilidade de horários; Falta de contato com os colegas;
Não enfrentar o trânsito da cidade; Dificuldade em separar vida
Bridi, Bohler, Mais tempo com a família; familiar da vida profissional;
Zanoni Mais espaço e conforto; Menos disciplina;
(2020) Menor controle dos superiores. Mais interrupções;
Dificuldade em atuar com o
computador e aplicativos.
Autonomia para organizar tarefas; Conflito trabalho e vida familiar;
Flexibilidade de horários; Dificuldade em desenvolver-se;
Equilíbrio entre traba- Falta supervisão;
Costa (2013)
lho e vida pessoal; Isolamento social;
Melhor qualidade de vida; Maior cobrança.
Redução no tempo de deslocamento.
Concentração; Dificuldade de controle;
Flexibilidade de horários; Distração com ativida-
Maior interação com a família; des domiciliares;
Freitas
Menos interrupções; Falta de infraestrutura;
(2008)
Redução de custos para a em- Isolamento profissional e social;
presa e para o empregado; Receio de má avaliação.
Redução no tempo de deslocamento.

427
Qualidade de vida; Conflito vida familiar e trabalho;
Autonomia; Isolamento social e profissional;
Barros; Silva
Flexibilidade para Organização; Falta de estrutura/tecnologia;
(2010)
Conciliar Trabalho-Família; Dificuldade de controle/ ava-
Melhoria da Produtividade. liação de desempenho.
Autonomia; Conflito vida familiar e trabalho;
Soares Flexibilidade para organização; Isolamento social e profissional;
(1995) Melhoria da produtividade; Não adequação/falta de treinamento;
Melhoria na qualidade de Trabalho. Falta de estrutura/tecnologia.

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

Ao analisá-lo, verificou-se que, dentre as vantagens, evidencia-


ram-se a flexibilidade dos horários e na organização, a autonomia e
SUMÁRIO a melhoria da produtividade. Já no que concerne às desvantagens,
destacaram-se o conflito entre a vida familiar e trabalho, o isolamento
social e profissional, a falta de estrutura tecnológica e a falta de contro-
le quanto ao desempenho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme acima exposto, durante o período pandêmico houve


um aumento considerável na adesão ao regime de teletrabalho, mo-
dalidade já existente desde a década de 90, mas que anteriormente
possuía um histórico escasso de implementações. Com isso, notou-se
também que houve alterações no Programa de Gestão e Desempe-
nho, trazendo-lhe nova visibilidade.

Embora existam muitas vantagens e os resultados dessa nova


modalidade se mostram satisfatórios, percebeu-se que um dos obs-
táculos mais apontados foi a resistência às ferramentas tecnológicas
que se constituem como base dessa modalidade de trabalho. Nesse
sentido, é interessante notar que, de acordo com o Painel Estatís-
tico de Pessoal do Governo Federal (BRASIL, 2022), a maioria dos

428
servidores ativos está na faixa etária de 47 anos, o que denota que
não são “nativos digitais5”, visto o pouco ou nulo contato destes com
os aparatos tecnológicos.

Outro ponto relevante foi quanto aos estudos acerca da temá-


tica. Embora haja um quantitativo expressivo de obras, dados quanto
à produtividade, efetividade e reflexos ainda são superficiais, o que
impacta diretamente na análise de quem busca informações concretas
para proceder, posteriormente, com a implementação do teletrabalho,
bem como nos possíveis desdobramentos reflexivos a respeito.

A partir disso, o presente estudo cumpriu seu objetivo proposto.


SUMÁRIO Entretanto, dada a limitação de tempo, fazem-se necessários novos
estudos, ampliando as pesquisas, principalmente de cunho estatístico,
para que se tenha maior compreensão dos impactos do Regime de
Teletrabalho na administração pública.

REFERÊNCIAS
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BARROS, Alexandre Moço; SILVA, José Roberto Gomes da. Percepções dos
indivíduos sobre as consequências do teletrabalho na configuração home-
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pB6bjbKsBNBdKk6VwGCbSRM/abstract/?lang=pt. Acesso em: 10 jul. 2022.
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telecommuting): uma nova forma de ver o tempo e o espaço nas relações
de trabalho. Revista Magister de direito do trabalho, Porto Alegre, v. 10, n. 58,
p. 25-52, jan./fev. 2014.

5 Presnsky (2001, p. 1, apud TEZANI, 2017, p. 297) conceitua nativos digitais como: “esses
alunos caracterizam-se por nascerem a partir de 1990 e por estarem rodeados pelas
TDIC. O universo digital é delas parte integrante de suas vidas, sendo assim, “[...] o
grande volume de interação com a tecnologia, os alunos de hoje pensam e processam
as informações bem diferentes das gerações anteriores.”

429
BRASIL. Instrução Normativa nº 1, de 31 de agosto de 2018. Diário Oficial
da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 set. de 2018. Seção 1, p. 92-94.
BRASIL. Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Reconhece, para os
fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência
do estado de calamidade pública, nos termos da solicitação do Presidente
da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março
de 2020. Brasília, DF: Palácio do Planalto, 2020a. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/DLG6-2020.htm. Acesso em: 16 jul. de 2022.
BRASIL. Decreto nº 10.382, de 28 de maio de 2020. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 2020b. Seção 1, p. 3.
BRASIL. Instrução Normativa nº 65, de 30 de julho de 2020c. Diário Oficial
da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 jul. de 2020c. Seção 1, p. 21.

SUMÁRIO BRASIL. Decreto nº 1.590, de 10 de agosto de 1995. Dispõe sobre a jornada


de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta, das
autarquias e das fundações públicas federais, e dá outras providências.
Brasília, DF: Palácio do Planalto, 1995. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto/d1590.htm. Acesso em: 02 jul. de 2022.
BRASIL. Decreto nº 11.072, de 17 de maio de 2022. Dispõe sobre o
Programa de Gestão e Desempenho - PGD da administração pública federal
direta, autárquica e fundacional. Brasília, DF: Palácio do Planalto, 2022.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2022/
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distância. Disponível em: http://www.sobratt.org.br/site2015/wp- content/
uploads/2017/01/1101 17_AF_CARTILHA_TELETRABALHO_APOS_
SUMÁRIO OLIMPIADA.pdf. Acesso em: 10 jul. 2022.
TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. Nativos Digitais: Considerações sobre os
alunos contemporâneos e a possibilidade de se (re)pensar a prática pedagógica.
Rev. Bras. Psicol. Educ., Araraquara, v.19, n.2, p. 295-307, jul./dez. 2017.

432
19
Capítulo 19

Análise da implementação de acesso à internet nas escolas


públicas da zona rural do município de Barreirinha, Amazonas

Márcio Rogério Tavares Reis

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Márcio Rogério Tavares Reis

Fernando Thiago

Marcelo Hideki Togo

Análise da implementação de acesso


à internet nas escolas públicas
da zona rural do município
de Barreirinha, Amazonas
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.19
SUMÁRIO

Resumo:
Essa pesquisa vem refletir sobre o papel da gestão pública no processo de
implementação de ponto de acesso à internet nas escolas da zona rural do
município de Barreirinha, Amazonas. Aqui trataremos uma realidade amazô-
nica entendendo a importância de pesquisas acadêmicas sobre essa região.
No entanto, para além disso, trataremos da questão do campo da Educação
e da conectividade de Internet no país e no Amazonas por meio de políticas
públicas que tem beneficiado a vida de pessoas nessa região. Para isso, essa
investigação se formulou por uma perspectiva qualitativa, com pesquisas des-
critivas e tratamento de dados documentais. Além de uma discussão sobre os
campos acima mencionados, apresentamos o processo de implementação
de Internet nas escolas da zona rural de Barreirinha. Os resultados mostram
36 escolas contempladas com recursos dos programas, das quais 33 estão
na zona rural do município. Por meio de uma estratégia de apoio da gestão da
pasta da educação, juntamente com apoio técnico e pedagógico, o processo
ocorreu de forma acelerada para que as escolas recebessem o benefício, uma
vez a urgência que a Pandemia de Covid-19 trouxe.

Palavras-chave: Barreirinha; Gestão Pública; Educação; Zona Rural; Internet.

434
INTRODUÇÃO

Aqui trataremos da cidade de Barreirinha, um município do esta-


do do Amazonas, distante 331 quilômetros da capital Manaus. O mu-
nicípio está situado na região do Médio e Baixo Amazonas, próxima
aos municípios de Parintins, Nhamundá, Maués e Boa Vista do Ramos;
estes locais fazem divisa com o estado do Pará. Segundo dados do
IBGE (2010), a estimativa da população local para 2021 é de 32.919
pessoas, das quais aproximadamente 15.000 estão na área urbana e
16.000 na zona rural (IBGE, 2010). Quanto ao território são 5.751,765,
que contam com 176 comunidades rurais, divididas em 14 distritos
SUMÁRIO
(comunidades rurais de maior porte); 62 aldeias indígenas do povo Sa-
teré-Mawé; 6 comunidades Quilombolas e outras comunidades rurais
de menor porte (ALVES, 2022), todas localizadas ao longo dos rios An-
dirá, Ariaú, Paraná do Ramos, Urucurituba e Massauari (IDAM, 2011).

Por meio desta descrição temos a noção das dimensões do


município. Alves (2022), ao apresentar a cidade como locus de sua
pesquisa no campo da Educação, faz uma breve discussão contra-
pondo dados estatísticos com sua vivência local e afirma que mesmo
com números expressivos, quanto a geografia e demografia, Barreiri-
nha é uma cidade pequena (ALVES, 2022, p. 33). Do ponto de vista da
autora, é possível afirmar que seus argumentos, em alguma medida,
são corretos, porém, como aqui tratamos do campo da administração,
mais especificamente dentro da gestão pública.

Entendemos que políticas públicas eficazes nascem de ações


de qualidade e são sobre ações que consiste essa pesquisa que tra-
tará da análise do processo de implementação de pontos de acesso à
internet em escolas da zona rural do município de Barreirinha, contem-
pladas, desde 2020, com o Programa Inovação Educação Conectada.

435
Importante observar o ano em que o município foi contempla-
do, 2020, momento em que o planeta vivia o caos da Pandemia de
Covid-19. É um fato incontestável as mudanças provocadas pelo Co-
vid-19 nos vários campos da vida em sociedade. Como aqui tratamos
da Educação, essa sem dúvida foi uma das áreas mais atingidas nesse
momento. Relatórios como o Conselho Nacional de Educação, CNE
n. 06/2021, mostram que a educação, em escala mundial, mesmo em
países do primeiro mundo, tive perdas significativas no processo en-
sino-aprendizagem e que, pensado a longo prazo, demora um tempo
para que esses prejuízos sejam recuperados, segundo o relatório as
maiores dificuldades estão nas disciplinas de Português e Matemática,
SUMÁRIO no caso do Brasil (BRASIL, 2021).

Esse mesmo relatório, mostra outro dado importante, que está


relacionado com as aulas à distância mediadas pela internet. Segundo
os dados levantados pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no
Brasil, pensando o campo da Educação, a problemática da falta de
acesso à Internet em regiões remotas do país dificultou em grande
medida o processo de ensino-aprendizagem.

Esse dado é de extrema importância para nosso debate porque


não é possível tratar deste tema em nosso cenário sem esbarrar na
problemática da falta de acesso à internet na região Norte do Brasil. De
antemão, falando das questões do acesso à Internet, seguimos os ar-
gumentos de Simas e Lima (2013) que pensam que a conexão e aces-
so às redes como ferramentas importantes de desigualdade social.

O segundo ponto a ser discutido será o programa inovação


Educação Conectada do governo federal. É essencial que tenhamos
um panorama do processo dessas ações públicas, pensando des-
de sua formulação até detalhes para a adesão e consequentemente
implementação que envolve ações do gestor público no processo.
Os dados foram colhidos em uma análise documental de quatro
publicações do Ministério da Educação para o programa Educação

436
Conectada e também a Legislação que ampara o programa nacional.
Por meio destes documentos é possível esclarecer de que se tratam
esses programas, quais seus propósitos e perceber dados sobre o
acesso à internet no Brasil.

Seguindo, chegamos de fato à análise central dessa pesquisa


que apresentou os dados dessa ação na zona rural do município. Aqui
também estaremos trabalhando por meio de documentos aos quais
tivemos acesso por estarmos nas ações desse trabalho. Nesta seção,
nosso intuito é relatar o processo, como assim preconiza Prodanov e
Freitas (2013), e em mostrar dados concretos que tratem das escolas
contempladas. Como mencionado, por estarmos à frente das ações
SUMÁRIO nos é possível, por meio dos relatórios dos profissionais envolvidos
trazer para a discussão os dados concretos do processo.

Como se deu o processo de implementação de conexão à inter-


net nas escolas municipais da zona rural de Barreirinha/AM?

Objetivo Geral

Analisar o processo de implementação de conexão à internet


nas escolas municipais da zona rural do município de Barreirinha/AM,
entre 2020 e 2021, por meio da iniciativa de programas sociais do go-
verno federal.

Objetivos Específicos

• Debater as políticas públicas nacionais para a questão do aces-


so à internet no Brasil e no Amazonas;

437
• Apresentar uma discussão sobre o programa Educação Conec-
tada evidenciando os aspectos que contemplam a realidade
estudada;

• Relatar e apresentar dados sobre o processo de implementação


dos pontos de acesso nas escolas da zona rural do município
de Barreirinha/AM.

Justificativa

Ainda são escassas pesquisas dentro da administração e/ou


SUMÁRIO
gestão pública quando falamos do município de Barreirinha. Ao realizar
o levantamento bibliográfico, notamos que os aspectos culturais lo-
cais estão em voga no campo acadêmico, principalmente ao tratar das
questões indígenas em seus múltiplos aspectos (SOUZA, BIANCHEZ-
ZI, 2019) e quilombolas (RANCIARO, 2016), das festas locais (ROCHA,
2019) e da vida e obra do poeta Thiago de Melo (SILVEIRA; FERREIRA
2017). Há trabalhos dentro da área da Educação (BELTRÃO, 2020),
Pedagogia (ALVES, 2022) e Ciências Naturais (GARCIA, 2014). No en-
tanto, apesar do destaque, ainda são poucas as pesquisas que con-
templem a localidade em seus aspectos gerais.

Nesse sentido, temos por finalidade contribuir para ampliação


do debate acadêmico trazendo um olhar da administração e da gestão
pública para as questões locais, com enfoque na educação e o uso de
tecnologias que estão no âmbito das atividades públicas. No entanto,
para além dessa questão é importante frisar que as pesquisas dentro
da área da gestão pública ajudam a traçar políticas públicas que pen-
sam o coletivo e melhorem assim a vida das pessoas. Se debruçar em
realidades e pensá-las ajuda a termos uma visão ampliada da realida-
de brasileira, haja vista que, como dissemos, poucas são as pesquisas
públicas sobre esse campo, nesse tema, nessa realidade.

438
Por isso, torna-se importante publicizar essa realidade mostran-
do uma parte do Brasil que tem outras vivências e realidades muitas
vezes desconhecidas dos grandes centros brasileiros.

REVISÃO TEÓRICA

Políticas Públicas e acesso


à internet para a Educação
SUMÁRIO
Antes de adentrarmos a discussão mais aprofundada acerca do
acesso à internet no Brasil para fins de educação, posteriormente, no
estado do Amazonas, trataremos de entender o conceito de políticas
públicas e observar como isso se regula na vida prática. No caso de
nossa pesquisa é importante evidenciar essa questão para que haja
a compreensão de como políticas públicas, em seu aspecto teórico e
prático, foram essenciais para a implementação dos pontos de acesso
à Internet nas escolas da zona rural de Barreirinha.

Dentro do campo do direito público, Bucci (2006), aponta que o


conceito de política pública é oriundo das ciências políticas e da admi-
nistração pública e o que o Direito se apropria disso, por meio de uma
abertura interdisciplinar, trabalhando as relações entre política e as
ações do poder público (BUCCI, 2006, p. 1). A mesma autora aponta
que políticas públicas podem ser entendidas como “um programa ou
um quadro de ações governamentais [...] cujo escopo é dar impulso,
isto é, movimentar a máquina do governo, no sentido de realizar algum
objetivo de ordem pública” (BUCCI, 2006, p. 14).

Essa discussão acerca do conceito de política pública como


ações governamentais está presente na argumentação de Lenhardt

439
e Fontana (2016), ao apresentar algumas ações dessa natureza que
possibilitaram a conexão à Internet no Brasil. São recentes os esforços
do poder público na expansão da conexão à internet no Brasil; importa
afirmar que a Internet se popularizou no país no início do século XXI e
por muito tempo só esteve disponível nos grandes centros urbanos. No
entanto, como aponta Luciano (2019), o PNBL foi revogado em 2018,
o que consequentemente trouxe um novo panorama ao processo de
expansão da Internet no Brasil: primeiro com uma drástica paralisação
de novos acessos via banda larga tradicional e aumento de outras
formas com as bandas largas móveis.

O PNBL era um programa abrangente e que tinha como propó-


SUMÁRIO sito implementar Internet para vários locais do Brasil, porém o poder
público também trouxe iniciativas de internet direcionadas ao campo
da educação. Desde 2008, por meio do Decreto n. 6.424, foi lançado
o Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE), que segundo o levan-
tamento de Cordeiro e Bonilla (2018), entre 2008 e 2010, atendeu 76%
das propostas no programa, ainda que não tenha sido concluído os
números são significativos. Além dessa iniciativa, Cordeiro e Bonilla
(2018), apontam alguns dos projetos voltados para educação como
Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), Banda Larga
nas Escolas, Um Computador por aluno, Programa de Implantação de
Salas de Recurso Multifuncionais (CORDEIRO; BONILLA, 2018, p.3).

O fato é que atualmente, ainda que haja iniciativas governamen-


tais, o número de pessoas conectadas no país ainda está longe do
ideal. Os dados do PCW e Instituto Locomotiva mostram um Abismo
Digital no Brasil (2022), título da pesquisa que faz uma clara referência
a desigualdade de acesso à Internet por aqui. Os dados afirmam que
os “plenamente conectados” são aqueles das classes A e B, brancos,
com acesso a diferentes tecnologias digitais e serviços móveis pós-
-pago de banda larga, estando em média conectados por 29 dias por
mês, ao total são 49,4 milhões de brasileiros.

440
Por esses dados, ainda que mostrem desigualdade no cená-
rio nas regiões Sul/Sudeste, notamos que a diferença entre tempo de
acesso às redes é relativamente pequena. Quando a pesquisa se di-
reciona para as regiões Norte e Nordeste, as informações revelam um
quadro problemático. Isso porque, na região Norte, a pesquisa identifi-
cou dois grupos que chamou de “subconectados” e “desconectados”
em que os “subconectados” são os que em média estão 19 dias on-li-
ne, em maioria em aparelhos celulares com serviço pré-pago, pois são
das classes D e E, de pouco escolarização e recursos financeiros, em
maioria negros (PCW; LOCOMOTIVA, 2022).

O dado mais alarmante dessa pesquisa é com relação ao grupo


SUMÁRIO dos “desconectados” que somam 33,9 milhões de pessoas. A pes-
quisa identificou que o grupo está zero dias conectado à rede, são
pessoas das classes C, D e E. Nos dados o quantitativo de pessoas
não conectadas se resume a mostrar que em maioria esses estão nas
regiões Norte e Nordeste, ainda que não há uma abrangência nas in-
formações, trazendo números mais concentrados no Norte, podemos
afirmar que em nossa região há ainda um número significativo de lo-
cais que ainda não há acesso à Internet.

Como bem reforçam Simas e Lima (2013), o acesso à Internet é


uma importante ferramenta de diminuição das desigualdades sociais.
A educação é sem dúvida a principal via de fim das desigualdades so-
ciais. Nesse sentido, dentro do campo da gestão pública nos é priori-
dade atentar a essas questões e pensá-las na construção de modelos
de organização para a melhoria da coletividade. No entanto, gestão
pública e ações governamentais se constroem a partir das demandas
da sociedade, passamos a mostrar alguns pontos da questão acesso
à internet no Amazonas e em Barreirinha.

441
A problemática do acesso
à internet no interior do Amazonas

No cenário local a problemática da falta e do acesso à internet é


uma realidade. Geograficamente, falando do município de Barreirinha,
o acesso à internet, mesmo na zona urbana da cidade, esbarra na
precariedade. Essa não é uma realidade específica do local, isso se
estende para a maioria das cidades do estado do Amazonas.

No caso do estado do Amazonas, com exceção da capital Ma-


naus, a via mais comum de acesso à internet nas cidades do interior
SUMÁRIO são as redes móveis, aquelas operadoras pela telefonia celular. Há
conexões via Banda Larga, mas como mencionamos trata-se de uma
conexão ainda precária e de custo oneroso, o mais comum ainda são
via celular, o que demanda também o acesso a tecnologias que supor-
tem esse tipo de conexão – celulares, tablets e computadores.

No entanto, apesar de um cenário desafiador é possível afirmar


que há avanços importantes no Amazonas quanto à conectividade e
inclusão digital. Desde 2014, o Projeto Amazônia Conectada (PAC), uma
parceria entre os Ministérios da Defesa, das Comunicação e da Ciência,
Tecnologia e Inovação, tem empreendido ações para o cabeamento do
Amazonas. A iniciativa visa conectar as unidades do exército brasileiro
nessa região via cabos de fibra óptica, o que consequentemente traz
mais qualidade e velocidade à internet. Nas informações do Projeto no
site do Ministério da Defesa um dos objetivos do projeto é que após
esse cabeamento a administração pública federal, estadual e municipal
possam criar políticas públicas para a inclusão digital nessa localidade.
Atualmente o projeto está em seu Estágio V e já cabeou de Manaus até
São Gabriel da Cachoeira, sendo 620 km de cabos instalados.

442
METODOLOGIA

Pensando na natureza desta pesquisa, trabalhamos por meio


da abordagem qualitativa. Muitos autores se debruçam sobre essa
perspectiva, trazendo alguns pontos essenciais para a construção de
um trabalho com esses moldes. Prodanov e Freitas (2013), apontam
algumas características acerca da pesquisa qualitativa, evidenciando
pontos como o foco da investigação que preza pela qualidade, com
metas que visam o “entendimento, descrição, descoberta, generaliza-
ção, hipótese” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 71). Os autores expli-
cam também que:
SUMÁRIO
Na abordagem qualitativa, a pesquisa tem o ambiente como
fonte direta dos dados. O pesquisador mantém contato direto
com o ambiente e o objeto de estudo em questão, necessitan-
do de um trabalho mais intensivo de campo. Nesse caso, as
questões são estudadas no ambiente em que elas se apresen-
tam sem qualquer manipulação intencional do pesquisador [...]
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p.70).

Quanto aos objetivos de nossa investigação, esta é classifica-


da como pesquisa descritiva. Aqui trataremos de desenvolver (com
uma descrição) o processo de implementação dos pontos de acesso
à internet nas escolas da zona rural do município de Barreirinha/AM,
entendendo ser esse processo de extrema relevância para o campo
acadêmico pois apresenta uma das muitas realidades presentes no
Norte do Brasil. Para Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa descritiva
é aquela em que se “observa, registra, analisa e ordena dados, sem
manipulá-los, isto é, sem interferência do pesquisador” e assim “pro-
cura descobrir a frequência com que um fato ocorre, sua natureza,
suas características, causas, relações com outros fatos” (PRODANOV;
FREITAS, 2013 p.52).

443
É importante frisar, dentro das premissas da pesquisa descritiva,
que partimos exatamente de um ponto de observação: nossa reali-
dade da zona rural do município, atentando para as questões educa-
cionais, geográficas e estruturais. Antes, porém, de tratarmos da des-
crição desse processo, como nos mostra Prodanov e Freitas (2013),
precisamos analisar os fatos vendo sua relação com outros fatos e,
nesse sentido, estar e observar nossa realidade se conjuga com as
ações dentro do nosso campo de atuação que é a gestão pública. Por
isso, é na análise das ações do poder público que vamos notar como
uma realidade como a nossa pode se beneficiar por meio de ações
em nível brasileiro.
SUMÁRIO Para elaboração dessa pesquisa, usaremos diferentes aportes
documentais como fonte de análise. Primeiramente, para a necessária
discussão sobre o que é Programa Educação Conectada, estaremos
analisando toda documentação oficial de implementação e orientação
das ações governamentais. Tratam-se de Leis, Decretos, Portarias,
Resoluções e Diretrizes, disponíveis nos portais oficiais do governo
federal. Além disso, o Ministério da Educação (MEC), produziu quatro
Manuais que apresentam todos os pormenores do Programa Educa-
ção Conectada. Nele encontram-se um vasto conteúdo que vai desde
o contexto histórico, com a formação e os incentivos para a criação do
programa, passando pela legislação, em que são apresentadas todas
as competências do Poder Público, até chegar nas questões técnicas.

Como abordaremos à frente, entre as competências das Se-


cretarias de Educação está o apoio técnico às escolas contempladas
para implementação. Essa dinâmica gera relatórios e documentos aos
quais temos acesso e passamos a analisar também. Por esses docu-
mentos é possível verificar datas, matérias, tipo de conexão instaladas
nas escolas, pessoal especializado, além das informações de cada es-
cola. Devidamente, estaremos tratando desses pontos ao apresentar
o processo de implementação dos pontos de acesso nas escolas da
zona rural do município de Barreirinha.

444
Por fim, como complemento, temos disponíveis os dados de
domínio público. Atualmente, dada a amplitude das tecnologias, tais
informações estão facilmente disponíveis nos sites de informação do
governo federal. O Programa Educação Conectada conta em seu site
com um dispositivo de busca que mostra todas as escolas contempla-
das por estado e município, com o ano, os valores investidos e infor-
mações básicas das escolas. É sabido que ao tratar de recursos finan-
ceiros, a publicização das informações tem como propósito promover
a transparência da gestão pública e do uso dos recursos financeiros
para o conhecimento da sociedade.

Apesar de disponíveis, dados como esse ainda estão muito cir-


SUMÁRIO cunscritos ao campo da administração/gestão pública e da educação,
em que são acessados principalmente para pensar ou continuar po-
líticas públicas. Atualmente, se nota cada vez mais o acesso dessas
informações como fonte de pesquisa de diferentes áreas do saber.

Como mencionado acima, nosso trabalho está alicerçado em do-


cumentos, portanto, do ponto de vista dos procedimentos técnicos foi
necessária uma pesquisa documental, um levantamento das fontes a se-
rem utilizadas nesse processo. Em nossa pesquisa, para entendermos
o Programa Educação Conectada foram necessários nos debruçarmos
sobre os documentos oficiais, por se tratar de uma ação governamental
existe uma legislação que embasa sua criação, ação e sustentabilidade
e outros. Além disso, dá posse de documentos produzidos pelas instân-
cias públicas, no caso da Secretaria Municipal de Educação, que estão
no apoio técnico e pedagógico das escolas, sendo possível extrair mais
informações para o desenvolvimento da pesquisa.

Quanto ao tratamento dos dados, ou seja, a análise de conteúdo,


seguiremos a organização proposta por Bardin (1977), que pensa o pro-
cesso em três etapas, a saber: pré-análise; exploração do material e trata-
mento dos resultados, interferência e interpretação (BARDIN, 1977, p. 95).

445
Dentro do que preconiza o autor na fase de pré-análise, temos
o momento em que há a organização do material que irá ser utiliza-
do, esse processo deve estar consoante aos objetivos da investigação
(BARDIN, 1977, p. 96). Em nosso trabalho, essa organização começa
no processo de compreender e apresentar o programa federal Educa-
ção Conectada. Para isso, como se trata de uma ação governamen-
tal de escala macro, que se aplica a todo território, partimos para a
observação dos documentos oficiais, ou seja, a Legislação, que vai
pormenorizar todas as atividades que permeiam o programa. Nesse
processo, durante as primeiras leituras, notamos que esses documen-
tos têm a função, majoritariamente, de regra, tratam de leis, decretos e
SUMÁRIO portarias, ou, apresentam questões técnicas o que contempla apenas
um dos objetivos de nossa investigação

Um fator relevante de mencionar é que por meio da compreen-


são das regras descritas nos documentos oficiais, nessa primeira fase
pré-análise, sabemos onde recorrer a documentos mais específicos
que também serviram de aporte nessa pesquisa. Seguindo ainda o
que preconiza Bardin (1977), após esse primeiro contato com os do-
cumentos passamos ao que a autora define como “exploração do ma-
terial” (BARDIN, 1977, p. 101). Para esse momento, são extraídas das
fontes o que de fato interessa para a especificidade dessa discussão.
Como mencionamos, no conjunto de documentos, no caso dos ofi-
ciais, levantados para a pesquisa, temos um número significativo de
informações, por isso, precisamos ter a amplitude dos dados e sele-
cionarmos para que contemplem os propósitos.

Por fim, o terceiro momento proposto em Bardin (1977), o de tra-


tamento dos resultados obtidos e interpretação, é a etapa em que o au-
tor afirma que “os resultados brutos são tratados de maneira a serem
significativos (falantes) e válidos” (BARDIN, 1977, p. 101). Aqui foram,
de fato, sistematizados os principais dados que falam do processo em
si, da implementação dos pontos de acesso à Internet, evidenciando
os pontos que descrevem a realidade.

446
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Educação Conectada

Até aqui temos apresentado algumas questões acerca das polí-


ticas públicas de incentivo ao acesso à Internet para fins educacionais
no Brasil. Nesta seção apresentaremos o programa federal Educação
Conectada que o município de Barreirinha recebeu entre 2020/2021 e
que atendeu as escolas municipais da zona rural. Os dados aqui apre-
SUMÁRIO sentados foram colhidos nos manuais produzidos pelo Ministério da
Educação (BRASIL, 2017), para apresentar os programas.

O programa Educação Conectada conta com quatro publica-


ções – Manual de Conectividade, em dois volumes; Orientações sobre
o Plano de Aplicação Financeira PAF no sistema PDDE Interativo e
Programa de Inovação Educação Conectada, um manual de passo
a passo para adesão pelas escolas – além de outros documentos de
aparato legal – Leis, Decretos, Portarias, Resoluções e Diretrizes - que
aqui serão devidamente analisados e apresentados.

O programa Educação Conectada foi instituído em 2017, pela


Portaria n. 1602 de 28 de dezembro. Trata-se de uma política que tem
por objetivo “apoiar a universalização do acesso à internet em alta velo-
cidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na educa-
ção básica” (BRASIL, 2017). A iniciativa está apoiada no que preconiza
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que entende
o dever de o Estado ofertar educação de qualidade a todos (BRASIL,
1996) e também a meta 7.15 do Plano Nacional de Educação (PNE
2014 – 2024) que prevê a universalização do acesso à Internet em alta
velocidade nas escolas públicas brasileiras.

447
Inicialmente, ao que chamaram de Indução, entre 2017 e 2018,
que visava a construção e implantação do programa, a meta era atingir
44,6% dos alunos da Educação Básica; seguido da expansão, entre
2019 e 2021, que se trata da ampliação para 85% dos alunos brasilei-
ros e a sustentabilidade que é a meta de atendimento de 100% dos
alunos até 2024, transformando o programa em política pública efetiva
no campo da educação.

Ao Ministério da Educação (MEC), cabe dar apoio técnico e fi-


nanceiro aos estados e municípios, que têm a livre garantia de adesão
ao programa. Os recursos financeiros não são repassados de modo
direto a gestão do município e das secretarias de educação, eles são
SUMÁRIO disponibilizados para as escolas, via Programa Dinheiro Direto na Es-
cola (PDDE), que junto a Associação de Pais e Mestres e Comunitá-
rios (APMC), que é a unidade executora dos recursos financeiros das
escolas públicas vão gestar os recursos para a implementação dos
pontos de acesso à Internet na escola. A escola também tem a função
de prestação de contas dos valores recebidos.

A Legislação também contempla o papel das Secretarias de


Educação, dispostas no Capítulo II, da Portaria n, 1.602 de 2017. Ape-
sar de não gerir os recursos financeiros, as secretarias têm um papel
fundamental que é o de apoio total às escolas no processo de imple-
mentação, que vale ressaltar, só são possíveis pela adesão do gestor
da pasta. Além disso, esse gestor deve elaborar um diagnóstico com o
maior número possível de informações sobre a realidade, disponível no
Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Minis-
tério da Educação (SIMEC), que gera um Plano Local de Inovação que
é um conjunto de ações priorizadas que orientam a implementação da
tecnologia na escola (BRASIL, 2017).

Desde 2020, a Secretaria Municipal de Educação de Barreirinha


conta com apoio personalizado às escolas contempladas pela Educa-
ção Conectada. Isso porque, além do apoio técnico, que é necessário

448
para escolas da Zona Rural, dadas as dificuldades de comunicação,
distâncias e outros fatores, a Legislação afirma que é também com-
petência das Secretarias e do seu Gestor o apoio pedagógico das
escolas quanto à educação e a internet.

Implementação dos pontos de acesso


à internet nas escolas da zonas
rural do município de Barreirinha

Neste tópico trataremos da descrição da implementação dos


SUMÁRIO pontos de acesso à Internet nas escolas da zona rural no município de
Barreirinha. Como mencionado no tópico sobre a metodologia, nossa
pesquisa tem um caráter descritivo, mas para além disso, apresen-
taremos dados concretos colhidos junto aos relatórios da Secretaria
Municipal de Educação, que nesse processo tem servido de apoio às
escolas no processo. Na discussão sobre os pormenores da Educa-
ção Conectada mostramos que entre as competências das Secretarias
de Educação está a formalização da adesão ao programa federal e,
como a maioria dos municípios brasileiros, aconteceu em 2019, nosso
município esteve entre esses inscritos deste ano.

Importante salientar que aqui trataremos especificamente do


programa Educação Conectada, por isso os dados apresentados
são com relação aos recursos oriundos dessa especificidade. Hoje
no município contamos com outros recursos que tem atendido mais
escolas da zona rural, mas por estarem em processo de implementa-
ção, optamos por apresentar os dados já estabelecidos. De acordo
com o relatório anual da Secretaria Municipal de Educação (2020,
2021c) com Educação Conectada, entre 2020 e 2021, 36 escolas
recebem recursos diretos para a implementação, das quais 33 es-
tão na zona rural. Os dados mais atuais da Secretaria Municipal de
Educação, por meio de relatório interno de escolas com acesso à

449
Internet, dão conta de mostrar que das 93 escolas da rede municipal,
76 contam com acesso à internet. Essas conexões são oriundas de
outras iniciativas, também governamentais, que fornecem às escolas
todo o equipamento e instalação.

Os primeiros recursos chegaram ao município de Barreirinha em


2020. Na ocasião as primeiras escolas contempladas foram da zona
urbana, no total de três escolas, que juntas atendem aproximadamente
1200 alunos, segundo dados do relatório interno da Secretaria Munici-
pal de Educação (2020b). Mas, na realidade da zona urbana do muni-
cípio, ainda que tenhamos problemas de conectividade, temos acesso
a conexões via banda larga em que é possível oferecer qualidade aos
SUMÁRIO alunos, de modo que os recursos recebidos foram empregados nesse
tipo de conectividade.

Importante trazer essa primeira referência quanto ao ano de


2020, quanto ao início da implementação dos primeiros pontos de
acesso à internet, pois falamos do momento inicial da pandemia de
Covid-19. Em nossa realidade, fomos também muito atingidos pela
pandemia, principalmente no campo educacional. Assim como a maio-
ria das realidades mundiais foram necessárias medidas rápidas para
que o processo ensino-aprendizagem acontecesse. É imprescindível
o papel da Internet nessa dinâmica, ainda que ele não seja o de total
eficácia, como apontam os relatórios educacionais (SEMED, 2020a,
2020b) a conexão via Internet fez com que o processo ensino-aprendi-
zagem acontece e que novas formas de educação fossem criadas e/
ou aprimorados como no caso de ensino híbrido.

Primeiro foram acionadas as equipes pedagógicas e de su-


porte técnico para que em conjunto com a gestão pensassem como
seriam direcionados os trabalhos. Na ocasião aulas por Internet eram
uma realidade no estado do Amazonas, mas, como esbarramos nas
dificuldades do acesso, principalmente na zona rural, onde temos o
maior quantitativo de escolas e alunos, foram necessárias medidas

450
rápidas como a criação do programa Aprendendo em Casa, (SEMED,
2020a) uma atividade que ofertou aulas via rádio para os alunos da
zona rural do município.

Por meio do levantamento dos relatórios internos da SEMED


(2021c), constatou-se que o programa Aprendendo em Casa foi de
grande aproveitamento entre 2020 e 2021, anos de vigência das ativida-
des, o programa atingiu um número significativo de alunos da zona rural.
O programa Aprendendo em Casa conseguiu atingir a meta de levar
educação às mais longínquas comunidades rurais (SEMED, 2021a). As
ações consistiam em aulas diárias via rádio, em que eram apresentados
conteúdos programáticos e posteriormente os alunos passariam a dis-
SUMÁRIO cutir com seus professores, como se tratam de escolas relativamente
pequenas, em muitos casos, os professores criaram escalas de aten-
dimento individual com os alunos, isso para a realidade da zona rural.

No entanto, essa realidade não se aplicava a todos e em mo-


mentos drásticos da pandemia o contato só poderia ser via internet
e/ou celular e, no caso das escolas da zona rural, isso nem sempre
foi possível, por conta da ainda falta de acesso. Coube a Secretaria
Municipal de Educação dar apoio técnico às escolas contempladas
e nesse caso diante da situação de emergência foi imprescindível o
papel da gestão.

De acordo com o relatório interno da SEMED (2020a). Devido a


urgência do momento, era necessário acelerar o processo de implemen-
tação dos pontos de acesso à Internet nas escolas já contempladas nas
zonas rurais. Como já apresentando os recursos são entregues às esco-
las e elas têm a responsabilidade do uso dos valores para a instalação,
nesse processo há um período de levantamento de valores, contratação
e outros, o que pode levar algum tempo. Assim, a gestão disponibilizou
pessoal técnico para trabalhar na rapidez do processo.

451
Consta no relatório interno da SEMED (2020b) que no ano de
2020, 27 escolas receberam recursos do programa Educação Conec-
tada, das quais 24 são da zona rural. Dentre as primeiras a serem
atendidas podemos destacar as escolas municipais dos distritos, qui-
lombolas e indígenas, essas últimas em regiões mais distantes. Em
nossa realidade, os Distritos são comunidades rurais de maior porte,
com escolas maiores e número considerável de alunos; nas especifi-
cidades quilombola e indígena, porém, temos escolas de menor porte
e com alunos em menor número, alguns sequer têm acesso a rede de
celular, mas na escola há acesso à internet.

Tratando especificamente do aspecto pedagógico podemos


SUMÁRIO afirmar que a implementação de acesso à Internet nas escolas trouxe
benefícios ao processo de ensino-aprendizagem. Ainda que a dispo-
nibilidade da Internet esteja circunscrita ao espaço da escola, foi por
meio desse acesso que educadores e equipe escolar puderam estar
em contato com os setores pedagógicos da SEMED.

O relatório do Monitoramento Técnico-Pedagógico elaborado


pela equipe técnica da Secretaria Municipal de Educação (2021b),
relata que foi realizado pelo setor pedagógico da SEMED visitas em
todas as escolas da rede, entre 2020 e 2021, identificou uma certa
carência dos professores quanto a uso de tecnologias. Esses dados
incentivaram a gestão a buscar formas de ofertar capacitação aos pro-
fessores quanto ao uso de tecnologias, o que de fato aconteceu no
período. Com a possibilidade de acesso à Internet temos relatos de
professores que criaram conteúdos, com edição de vídeos em celular,
que eram enviados aos alunos. Além disso, por meio de aplicativos de
mensagens, professores, alunos e pais, acompanhavam aulas, com-
partilhavam materiais e atividades.

Consta no relatório interno da SEMED (2021d) que no referido


ano de 2021, novas escolas foram contempladas no programa Edu-
cação Conectada. No total, nove novas escolas receberam o recurso

452
e outras 25 receberam para a manutenção e continuidade. Das nove,
todas estão na zona rural e assim como em 2020, muitas não tinham
acesso à rede de celular. O destaque fica para sete escolas indígenas
presentes no território Sateré-mawé, que como mencionamos estão a
longas distâncias da sede do município.

Temos enfatizado que na zona rural do município de Barreirinha,


algumas comunidades ainda não contam com o acesso a rede de tele-
fone móvel, mencionamos que nesta realidade a maioria das conexões
são feitas via banda móvel. Isso pode gerar o questionamento de como
então acontecesse a conexão já que em muitos desses locais não há
rede de celular. Atualmente, contamos com conexões via satélite, em
SUMÁRIO redes móveis rurais e quando possível é instalada rede móvel. Até o
momento não há nessa região conexões via banda larga.

O fato é que a conectividade trouxe melhorias à vida dos


alunos. Um exemplo mais recente descrito nos relatórios internos
(2021b-2021e) aconteceu na comunidade Brasílio do Estácio, na Es-
cola Municipal Nossa Senhora do Livramento. Essa escola foi uma das
contempladas pelo programa Educação Conectada, que no ano de
2020 possibilitou o acesso à Internet à escola. Em 2021, a escola foi se-
lecionada para as finais da Olimpíadas de Língua Portuguesa, com um
aparato tecnológico, recursos humanos e conectividade toda escola
pode acompanhar o resultado por meio de um evento ao vivo. A escola
foi consagrada campeã nacional do evento e a escola participou online
de toda cerimônia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa investigação se ateve a discutir e relatar o processo de im-


plementação de pontos de acesso à internet nas escolas da zona rural
do município de Barreirinha, Amazonas. Todo esse processo, nos trouxe

453
aos relatos de uma realidade ainda pouco presente nas pesquisas aca-
dêmicas. Aqui apresentamos como a gestão pública acontece na práti-
ca por meio da discussão da implementação de Internet nas escolas da
zona rural de Barreirinha. Relatamos que entre 2020 e 2021, 33 escolas
receberam os recursos direto para a instalação, com destaque para as
escolas do território indígena Sateré-mawé, escolas da região quilom-
bola do rio Andirá. Tratamos de apresentar algumas melhorias nesses
locais, que em muitos casos não há acesso a rede móveis de celular,
dada às grandes distâncias, mas que com o acesso à Internet poderiam
se comunicar. Além disso, dentro do campo da Educação, relatamos as
dinâmicas escolares para o processo de ensino-aprendizagem construí-
SUMÁRIO das no momento da pandemia de Covid-19.

Nesse sentido, este artigo contribui com o debate sobre cone-


xão e o acesso à informação em regiões distantes dos grandes cen-
tros. Isso porque, dentro do campo da gestão pública, é relevante que
apresentemos pesquisas que tragam atuações e que mostram rea-
lidades outras. Entre a função da gestão pública, está a de buscar
formas de melhorar a vida do coletivo e é apenas se debruçar sobre
as realidades, pensando-as é que são possíveis ações, ou usando um
termo mais apropriado, políticas públicas eficientes. Nossa pesquisa
mostrou que a gestão pública apoiada a outros campos pode trazer
benefícios ao coletivo.

Como mencionamos, esse é um debate que está apenas co-


meçando. Entendemos a limitação das fontes documentais que, via
de regra, apresentam dados de um ponto de vista macro, que não
contemplam a realidade experimentada de determinados fenômenos.
Nossa pesquisa, entre seus propósitos, tem a intenção de uma re-
flexão sobre essa realidade amazônica, a cidade de Barreirinha, no
Amazonas, pensando aspectos da educação e da gestão pública
como aporte para melhorias e benefício das pessoas. É sabido que a

454
educação é a principal via para o fim das desigualdades, para uma
vida plena em sociedade, para ascensão social e um sem fim de be-
nefícios que tocam o coletivo.

No entanto, a Educação precisa estar conjugada a outras áreas


do saber para que juntos tragam os benefícios que aqui temos. Neste
sentido, a contribuição da administração/gestão pública é fundamen-
tal e, portanto, sugerimos que este fenômeno seja investigado com
maior profundidade mediado por técnicas de pesquisa que ouçam as
pessoas que participaram deste projeto, como pesquisas de campo,
etnográficas e levantamentos.

SUMÁRIO Hoje cada vez mais gestores públicos precisam estar em amplo
contato com os grupos do campo educação. Em nossa experiência
esse contato tem rendido bons frutos. Aqui compartilhamos apenas
uma parte de um processo que está em amplo movimento. Fazer uma
reflexão, ainda que em um pequeno recorte, nos faz pensar sobre o
que mais podemos fazer pela melhoria da vida coletiva.

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458
20
Capítulo 20

Gestão Participativa: Um estudo dos Planos Diretores nos


Municípios de Itacoatiara, Iranduba e Presidente Figueiredo

Deizielhe Oliveira Félix

Alex Santiago Nina

Marcelo Hideki Togo

Deizielhe Oliveira Félix

Alex Santiago Nina

Marcelo Hideki Togo

Gestão Participativa:
um estudo dos Planos Diretores
nos municípios de Itacoatiara,
Iranduba e Presidente Figueiredo

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.20
SUMÁRIO

Resumo:
Diante de várias estratégias para o desenvolvimento e planejamento urbano,
destaca-se o Plano Diretor Municipal, que vem ganhando espaço desde a sua
criação através da Lei federal nª 10.257 de 2001 (Estatuto da Cidade). O pre-
sente estudo se dirige pelo seguinte problema de pesquisa: Como está a im-
plementação do Plano Diretor e os caminhos de sua revisão nos municípios de
Itacoatiara, Iranduba e Presidente Figueiredo (Amazonas)? O objetivo geral é
analisar os conteúdos dos Planos Diretores vigentes desses municípios e o seu
formalismo a partir da gestão participativa. A metodologia consiste na análise
de documentos e experiências em literatura sobre a temática, que subsidiam
a elaboração, fundamentação, diretrizes e instrumentação e segue até a etapa
da revisão. Os resultados indicam dificuldades encontradas nos indicadores
de participação popular, baixa capacidade administrativa, técnica e econômi-
ca, falta de incentivos, ausências de definições nas diretrizes e necessidade
de renovação desses planos condicionados à realidade atual dos municípios.

Palavras-chave: Democracia; Plano Diretor Municipal; Gestão Participativa.

460
INTRODUÇÃO

Regulamentado pela Lei federal 10.257 de 2001 (Estatuto da


Cidade) e firmado nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal, o
Plano Diretor visa administrar a política de desenvolvimento e expan-
são das cidades. Trata-se de um instrumento de participação popular.
A gestão participativa teve muitos avanços no decorrer dos anos, e
essa constante busca foi resultado de sua inserção na constituição
brasileira, garantindo os direitos individuais e coletivos, contribuindo
como tema acadêmico para as relações de interação com setor pú-
blico (BURGEL; CALGARO, 2016).
SUMÁRIO
Conforme o art. 41 do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor é obri-
gatório para municípios com mais de 20 mil habitantes, pertencentes a
regiões metropolitanas, com áreas de interesse turístico ou que este-
jam sob influência de empreendimentos de relevante impacto ambien-
tal. Além disso, o Estatuto fixou o prazo de cinco anos para aprovação
do Plano Diretor nos municípios que atenderem esses requisitos (o que
foi prorrogado até 30 de junho de 2008). O Estatuto também estabele-
ce que o Plano diretor municipal seja revisado a cada dez anos, mas
pode ser feito a qualquer momento desde que justifique a revisão e
seja aprovado pela sociedade (ASSUMPÇÃO, 2021).

Os indicadores do Instituto Brasileiro de Pesquisas Estatísticas


– IBGE (2021) apontam que a população urbana cresceu bastante, as-
sim como também cresce as preocupações na gestão de planejamen-
to municipal. A Amazônia vem enfrentando grandes problemas em seu
espaço urbano, embora ainda existam poucos estudos que analisam o
plano diretor municipal na região.

Nesse sentido, o presente artigo justifica-se pela importância de se


analisar a transparência e qualidade dos Planos Diretores Municipais nos
municípios de Itacoatiara, Iranduba e Presidente Figueiredo, legitimando-
-os como parte integrante das melhorias voltadas ao interesse local.

461
Este trabalho pretende analisar os conteúdos dos Planos Dire-
tores vigentes dos municípios de Itacoatiara, Iranduba e Presidente
Figueiredo, no Amazonas, no que tange aos preceitos da gestão par-
ticipativa. Assim, questiona-se: Como está a implementação do Plano
Diretor e os caminhos de sua revisão ness es Municípios?

Os objetivos específicos são: a) Identificar o uso de concei-


tos-chave de gestão participativa nos planos; b) Avaliar os cumpri-
mentos legais de elaboração e renovação dos planos; c) Analisar
as instâncias de participação democrática previstas no plano. Para
isso, será realizada uma matriz de análise, baseada em Bueno e Lima
(2020), com indagações pertinentes a respeito da gestão participati-
SUMÁRIO va nos referidos planos.

REVISÃO TEÓRICA

Estatuto da Cidade e Plano Diretor

O Estatuto da Cidade é a denominação oficial da Lei 10.257/2001,


contempla um marco inaugurado pelo direito urbanístico no Brasil e
normatiza instrumentos no art. 182 e 183 da Constituição Federal de
1988. Também é um dos principais instrumentos jurídicos que rege a
gestão democrática, o modelo de gestão contemporâneo na adminis-
tração pública que pode regulamentar a política de desenvolvimento
urbano. Apesar de haver mais de vinte anos de promulgação da refe-
rida lei, a cultura de política urbanística ainda se encontra em fase de
implementação no Brasil (MARICATTO, 2011).

O Estatuto da Cidade visa a garantia da gestão democrática


municipal, um processo que viabiliza a gestão participativa a partir
dos instrumentos: plebiscito, referendo e iniciativa popular elencados
no artigo 14 da carta magna, adotando uma política descentralizada,

462
valorizando a figura municipal (REZENDE; ULTRAMARI, 2008). O es-
tatuto criou instrumentos de planejamento municipal, destacando-se
o plano diretor como o mais importante, é o principal instrumento de
desenvolvimento urbano, responsável pela aplicação do estatuto da ci-
dade (AGUILAR, 2021). Trata-se de um instrumento capaz de gerenciar
a eficiência da cidade, valorizando a forma participativa no presente e
no futuro (REZENDE; ULTRAMARI, 2008).

O plano diretor é obrigatório para municípios que possuem mais


de 20 mil habitantes, regiões metropolitanas, regiões que dispõem de
áreas de interesse turístico e que tenham obras colocando em risco o
meio ambiente na região ou país. Esse plano conta com apoio dos con-
SUMÁRIO selhos municipais, orçamento participativo, audiências públicas, entre
outros, que permitem a gestão compartilhada na elaboração do Plano
Plurianual (PPA), Lei Orçamentária Anual (LOA) e a Lei das Diretrizes Or-
çamentárias (LDO) (SANTORO; CYMBALISTA; CARDOSO, 2005).

Os princípios constitucionais do plano diretor implícitos no art.


2ª do Estatuto da Cidade, propiciando a implementação de política
urbana, os princípios listam-se em:

• Princípio da Função Social da Cidade: promove o desenvolvi-


mento sustentável das cidades, diminuindo as desigualdades
sociais (ANDRADE, 2017).

• Princípio da Função Social da Propriedade Urbana: integra ao


direito da propriedade expressamente definida no plano diretor
de cada município (GOMES; MORAES 2019).

• Princípio da Gestão Democrática: assegura a participação efe-


tiva da sociedade na elaboração de políticas públicas e no pro-
cesso de tomada de decisões (OLIVEIRA, 2014).

• Princípio da Sustentabilidade Ambiental: formado pelos aspec-


tos sociais, ambiental e econômicos, e relaciona-se ao equilíbrio
dos recursos e a preservação dos seres vivos (FUJIMORI, 2021).

463
O Estatuto da Cidade, no § 3º do seu artigo 30, determina que
o plano diretor seja revisado a cada dez anos, as revisões ou alte-
rações devem ser participativas, obedecendo às mesmas regras da
elaboração. Essa validação de democracia participativa consiste em
audiências públicas, debates com participação popular e associações
representantes, e publicidade através do acesso às informações, este
processo democrático vem sendo conduzido pela resolução n.º 25 do
Conselho das Cidades, Ministério das Cidades.

Elaboração do Plano Diretor

SUMÁRIO
A primeira elaboração de plano diretor no Brasil, foi chamado
de Plano Agache, surgiu entre 1926-1930, elaborado pelo urbanista
francês Albert Donat Agache, em seu escopo, era priorizado um plano
físico-territorial cujo objetivo era a remodelação e embelezamento da
cidade (ALMEIDA, 2005).

O plano diretor deve dispor de uma metodologia adequada, pro-


piciando a eficiência, eficácia e transparência na participação social.
Se eventualmente o plano diretor não for adequado ao município, este
fica sujeito a improbidade administrativa (BRASIL, 2001). Além disso,
o plano deve contemplar elementos que proporcione desenvolvimento
econômico, educação, saúde, saneamento básico, sustentabilidade
do meio ambiente, reduzir os problemas urbanos de uso e ocupação
do solo, mobilidade urbana, infraestrutura e habitação social.

O Plano Diretor é elaborado pela prefeitura (Poder Executivo),


aprovado pela câmara de vereadores (Poder Legislativo), que estabe-
lece as regras de natureza estratégica e natureza normativa. Na natu-
reza estratégica, são determinadas as ações e prazos, garantindo o
tempo preestabelecido. Já na natureza normativa, são formadas as
normas de enfoque social e organizacional, integrando-se a uma es-
trutura vertical e hierárquica (LACERDA et al., 2005).

464
Atualmente Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR),
junto a Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regio-
nal e Urbano (SMDRU), criou uma versão teste do guia para elabora-
ção e revisão de plano diretores dos municípios, que servirá de teste
para gestão e planejamento municipal. O objetivo dessa publicação é
apoiar a gestão municipal em todos os níveis de governo nas fases de
implementação (ARAÚJO, 2021).

A elaboração do PDM deve contar com as prefeituras, secreta-


rias e órgãos de poder municipal, poder público estadual, poder pú-
blico federal, parte popular, conselhos municipais, sindicatos, comer-
ciantes, universidades, conselhos regionais e entre outros (TERHOST;
SUMÁRIO MADRUGA, 2011).

O Quadro 1 apresenta as etapas para elaboração e implemen-


tação do plano diretor, com base nas diretrizes do Estatuto da Cidade.

Quadro 1 – Etapas para elaboração e implementação


do Plano Diretor Municipal (PDM)

Nesta primeira etapa será realizada a leitura técnica da cidade, levantando as


Elaboração problemáticas e suas potencialidades e definindo os objetivos, prioridades e
instrumentos.
Na segunda etapa será apresentada o projeto de lei dos planos diretores, é o
Apresentação momento em que os gestores junto a população decidem o que entra ou não
neste projeto a partir da gestão participativa.
Após legitimado de forma participativa, o projeto de lei do Plano Diretor segue
Aprovação para na câmara municipal, onde será novamente discutido por meio de audiên-
cias públicas e aprovado pelos vereadores.
Para esta etapa, é imprescindível a previsão orçamentária para a implementação
Implementação
do plano diretor.
Por fim, a revisão dos planos diretores é necessária para que o governo e popu-
lação a partir de uma leitura real, ancorados na comunidade no prazo definido
Revisão
pelo estatuto, podendo para acrescentar ou modificar o plano e posterior a
aprovação pela câmara municipal.

Fonte: Elaborada pela autora com base no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001).

465
As instâncias para participação social no plano diretor podem
ser realizadas por assembleias, audiências públicas, conselhos, pro-
jetos de iniciativa popular, orçamento participativo, e projetos de leis,
com caráter de naturezas consultivas, propositivos, avaliativos, ou até
mesmo não ter definição específica. (REZENDE; ULTRAMARI, 2008).

Plano Diretor nos municípios


da Região Metropolitana de Manaus

Segundo dados do IBGE (2021) dos treze municípios que com-


SUMÁRIO põem a região metropolitana de Manaus analisados, apenas onze pos-
suem Plano Diretor (Quadro 2). O município de Manaus, capital do es-
tado do Amazonas, elaborou seu plano diretor anterior à publicação do
Estatuto da Cidade, revisado por meio da Lei complementar 2 de 2014.

Quadro 2 – Municípios da região metropolitana do


Amazonas, população, Plano Diretor

Nª Municípios População estimativa 2021 Plano Diretor


1 Autazes 41.005 Sim
2 Careiro 38.820 Sim
3 Careiro da Várzea 31.459 Sim
4 Iranduba 49.718 Sim
5 Itacoatiara 104.046 Sim
6 Itapiranga 9.312 Sim
7 Manacapuru 99.613 Sim
8 Manaquiri 33.981 Não
9 Manaus 2.255.903 Sim
10 Novo Airão 20.395 Sim
11 Presidente Figueiredo 38.095 Sim
12 Rio Preto da Eva 34.856 Sim
13 Silves 9.289 Não

Fonte: IBGE (2021).

466
Os demais municípios como Careiro, Iranduba, Itacoatiara, Mana-
quiri, e Presidente Figueiredo o fizeram até o prazo determinado 30 de
junho de 2006, outros municípios elaboraram posterior ao prazo, como
no caso de Careiro da Várzea, Itapiranga, Novo Airão e Rio Preto da Eva.
Os municípios de Manaquiri e Silves não possuem Plano Diretor.

METODOLOGIA

O trabalho consiste numa pesquisa documental, desenvolvido


a partir das seguintes etapas metodológicas: a) definição da área
SUMÁRIO
de estudo; b) levantamento dos instrumentos de planejamento; c)
análise documental.

A pesquisa documental corresponde a fontes e materiais que


ainda não receberam tratamento analítico, analisado em “primeira
mão”, ou que já receberam algum tipo de contribuição, permitindo o
acesso a documentos publicados, gerando assim novos conhecimen-
tos (SALGE, et al. 2020). Segundo Gil (2009, p. 45): “[...] a pesquisa
documental utiliza-se de fontes primárias possibilitando obter qualida-
de nos resultados alcançados”. Analisou-se, na revisão teórico, ques-
tões relacionadas ao Estatuto da Cidade, Plano Diretor e suas fases
de elaboração, revisão, fundamentação, diretrizes e instrumentação,
definido como instrumento principal para o planejamento, crescimento
e funcionamento da cidade (SABOYA, 2008).

Definiu-se, como recorte geográfico, três municípios do Estado


do Amazonas: Iranduba, Itacoatiara e Presidente Figueiredo, perten-
centes a região metropolitana de Manaus.

467
Figura 1 – Região Metropolitana de Manaus

SUMÁRIO

Fonte: Cavalcante, Franchi e Lopes (2013)

O Município de Iranduba foi criado em 10 de fevereiro de 1981,


pela Lei nª 12, localizada na região metropolitana de Manaus. Possui ex-
tensão territorial de 2 215 km², considerado o menor município do Ama-
zonas. A população do município é de 49. 718 habitantes (IBGE, 2021).

O Município de Itacoatiara, fundado em 1683 por padres jesuí-


tas, fica localizado na região metropolitana de Manaus, é a terceira
cidade mais populosa do estado. Possui extensão territorial de 8.892
km². A população do Município é de 104.046 habitantes (Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2021).

O Município de Presidente Figueiredo, criado em 10 de dezembro


de 1981, pela Emenda Constitucional nª12, fica localizado na região me-
tropolitana de Manaus, no estado do Amazonas. Possui uma extensão
territorial de 25 442,235 km². A população do município é de 38.095
habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2021).

Foram levantados os seguintes documentos oficiais: - Plano Di-


retor Municipal de Itacoatiara (2006), Plano Diretor Municipal de Irandu-
ba (2006) e Plano Diretor Municipal de Presidente Figueiredo (2006).

468
Esses foram os planos diretores mais recentes encontrados nos
sites oficiais das prefeituras/secretarias. Trata-se de documentos do
ano de 2006, que, conforme o Estatuto da Cidade, já deveriam ter sido
revisados. Dessa forma, foi enviado e-mails aos órgãos competentes
de cada municípios questionando a existência de uma versão mais
atual dos referidos planos (Apêndice A). Os e-mails respondidos ale-
garam que, até o momento, os planos não foram revisados ou atuali-
zados e que voga a legislação pertinente de 2006.

A pesquisa tem como universo o conjunto de elementos relacio-


nados ao planejamento urbano participativo nos municípios de Iran-
duba, Itacoatiara e Presidente Figueiredo, a exemplo das secretarias
SUMÁRIO de planejamento, dos planos diretores antigos e atuais e de outros
documentos jurídicos (leis orgânicas, orçamentárias, etc.).

Optou-se por uma amostra do tipo intencional, sendo escolhido


os Planos Diretores Municipais mais atuais dos municípios estudados,
por serem esses os principais instrumentos de planejamento e desen-
volvimento urbano municipal.

A análise dos documentos levantados na etapa anterior se ba-


seará em uma matriz de questões norteadoras, elaboradas com base
nos estudos (BUENO; LIMA, 2020) (Quadro 3).

Quadro 3 – Indagações acerca do PDM dos municípios pesquisados

O PDM estabelece o número de habitantes?


Quanto tempo demorou para que os municípios elaborassem o plano?
Cumpriu o prazo do estatuto das cidades?
Como os PDM definem conceitos chaves para a gestão participativa?
Como os PDM abordam os instrumentos de gestão participativa?
Quais são as instâncias de participação democrática e qual a natureza delas?

Fonte: Baseado em Bueno e Lima (2020).

469
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

O levantamento feito mostrou que os PDMs estabelecem as po-


pulações dos municípios: Iranduba como 49.718 habitantes; de Presi-
dente Figueiredo com 38.095 habitantes; e de Itacoatiara com 104.046
habitantes. Dessa forma, todos os municípios analisados possuem
uma população maior do que a quantidade mínima exigida no Esta-
tuto da Cidade.

Para os três municípios analisados, a elaboração dos Planos


SUMÁRIO Diretores Municipais demorou cinco anos: o Município de Iranduba ins-
tituiu pela Lei nº 129, de 10 de novembro de 2006; Itacoatiara instituiu
pela Lei nº 076, de 19 de setembro de 2006; e Presidente Figueiredo
instituiu pela Lei Municipal nº 562, de 9 de outubro de 2006. Desta
forma, os municípios cumpriram o prazo estabelecido (e prorrogado)
pelo Estatuto da Cidade.

Ressalta-se, porém, que, passados 10 anos, nenhum dos mu-


nicípios elaborou novos planos, o que contradiz o Estatuto da Cida-
de. Isso evidencia uma baixa capacidade institucional, podendo estar
associado a diversas dimensões: administrativa, técnica, econômica,
“etc”, bem como falta programas e incentivos de política urbana ade-
quados entre estados e municípios.

Os municípios analisados fizeram o Plano Diretor dentro do pra-


zo inicial estabelecido pelo Estatuto da cidade, embora não tenha es-
tabelecido nova versão após 10 anos do primeiro PDM.

Os municípios analisados não definem especificamente os con-


ceitos para gestão participativa em suas diretrizes.

470
Os planos analisados limitaram-se a expor as diretrizes dos ins-
trumentos de gestão participativa, além dos instrumentos referencia-
dos pelo Estatuto da Cidade, apenas os municípios de Iranduba em
seu Art. 139, X-XI e Itacoatiara, Art. 109, § 1 e §2, consideram como
instrumentos de gestão democrática: o referendo popular e o plebisci-
to. O município de Presidente Figueiredo não aborda os instrumentos
de gestão participativa em seu plano.

No que se refere às instâncias de participação democrática


(Quadro 4), os PDMs dos municípios de Iranduba e Presidente Figuei-
redo adotam a composição da participação popular por meio das di-
versas instâncias, assim como definem a participação, podendo ser
SUMÁRIO deliberativo, propositivo, consultivo.

Quadro 4 – Instâncias democráticas e natureza

Município Instâncias democráticas Natureza


Iranduba Conselhos Municipais; Deliberativo,
Fundos Municipais; Propositivo e
Gestão Orçamentárias participativas; Avaliativo
Audiências e consultas públicas; Não define
Conferências Municipais; Propositivo
Iniciativa popular de projeto de lei; Propositivo
Referendo popular e plebiscito; Propositivo
Deliberativo
Consultivo
Itacoatiara Conselhos Municipais; Deliberativa e
Audiências e Consultas Públicas; consultiva
Conferências Municipais Propositivo
Plebiscito e Referendo popular; Propositivo
Iniciativa popular de projeto de lei; Consultivo
Consultivo
Presidente Conselhos municipais; Não define
Figueiredo Sistema Municipal de Informações; Não define
Ações e políticas de desenvolvi- Não define
mento de projetos especiais.

Fonte: IRANDUBA (2006), ITACOATIARA (2006),


PRESIDENTE FIGUEIREDO (2006).

471
O Plano Diretor de Iranduba é intitulado como Plano Diretor Par-
ticipativo, um dos seus princípios se rege através da participação da
população nos processos de decisão, planejamento e gestão pública
municipal, visando alcançar a gestão democrática com a participação
da representatividade dos vários segmentos da sociedade na formu-
lação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos
do desenvolvimento municipal. No município, predominam instâncias
propositivas, deliberativas e avaliativas, com o “Referendo popular e
plebiscito” que é consultivo. Destaca-se que o PDM não define, expli-
citamente, a natureza dos Conselhos Municipais.

O Plano Diretor Participativo de Itacoatiara explicita, em suas


SUMÁRIO diretrizes, a gestão democrática por meio da participação popular na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano. A gestão do município é integra-
da junto aos instrumentos como plebiscito e referendo que também
possuem natureza consultiva, conselhos municipais, audiências e con-
ferências municipais com natureza deliberativa, consultivo e propositi-
vo. Apenas o município de Presidente Figueiredo não define especifi-
camente a natureza de suas instâncias em seu plano diretor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa constatou que, embora os três municípios estuda-


dos (Iranduba, Itacoatiara e Presidente Figueiredo) estabeleceram Pla-
no diretor através de lei complementar, houve dificuldade na obtenção
das informações destas leis e no fornecimento do Plano diretor através
dos sites das prefeituras. Em contrapartida, a aprovação dos PDMs
nos municípios foi realizada cinco anos após a instauração pelo Esta-
tuto da Cidade, um tempo considerável relevante para realizar todas
as etapas conforme a estrutura de cada município. Certificou-se que

472
os planos diretores analisados estão desatualizados e defasados, uma
vez que, desde a sua elaboração em 2006, não houve nenhuma revi-
são. Em regra, os PDMs não podem ser esquecidos e o não cumpri-
mento da lei pode ser configurado como improbidade administrativa.

Constatou que o sucesso da aplicabilidade para a implementa-


ção do plano diretor se apoia na gestão democrática, deve ser cons-
truído de forma participativa, facilitando o engajamento e interferindo
nas decisões de aspectos sociais, econômicos e políticos do municí-
pio. O levantamento do estudo, apurou que, para estes municípios,
existe a necessidade de um planejamento atualizado e condizentes
com as novas tendências socioeconômicas da região.
SUMÁRIO
Atualmente existem poucas pesquisas e indicadores de eficiên-
cia acerca dos resultados advindos através da regulamentação e im-
plementação dos planos diretores. Ressalta-se ainda que nem todos
os instrumentos que constam no Estatuto da Cidade devem constar
nos planos diretores municipais, pois os instrumentos devem adequar-
-se às necessidades específicas de cada realidade local.

Como sugestão para estudos futuros, recomenda ampliar a área


de estudo para mais municípios do estado, quantificar as participações
sociais, e comparar o primeiro plano e a sua revisão com os planos
diretores de outras regiões com a mesma estrutura municipal. Desse
modo será possível unir os esforços garantindo o acompanhamento e
a fiscalização, exercendo primeiramente o direito social.

REFERÊNCIAS
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dos problemas da cidade pelos seus diversos atores. Editora Cajuína:
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476
21
Capítulo 21

Transtorno do Espectro Autista: Direito de


Acesso ao Trabalho no Serviço Público.

Juliana Rafaela de Souza da Silva

Fernanda Brusa Molino

Juliana Rafaela de Souza da Silva

Fernanda Brusa Molino

Transtorno do Espectro Autista:


direito de acesso ao trabalho
no serviço público

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.21
SUMÁRIO

Resumo:
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio que causa aos indiví-
duos acometidos alterações em seu desenvolvimento neurológico com com-
prometimento da interação social, comunicação verbal e não verbal e com-
portamento restrito e repetitivo. Essas condições trazem diversos obstáculos
a essas pessoas tantos nas questões de saúde, educação e bem-estar até
a convivência em sociedade e inserção no mercado de trabalho. Dessa for-
ma, cabe ao poder público proteger e assegurar à essas pessoas, que estão
na condição de vulnerabilidade, o acesso aos direitos básicos, inclusive o de
labor, atendendo ao princípio da dignidade da pessoa humana. Assim, esta
pesquisa buscou verificar diversos aspectos do transtorno através dos estudos
bibliográficos das mais diversas áreas, que propiciassem o entendimento das
necessidades dos indivíduos com TEA, principalmente observando o direito
constitucional ao trabalho digno, com ênfase na atuação do gestor público e
as políticas públicas de inclusão do autista ao serviço público e mercado de
trabalho. Desse modo, evidenciou-se que apesar dos avanços e crescimen-
to dos estudos na área, ainda há muitos desafios a serem enfrentados pela
Administração Pública e pela sociedade em geral para uma efetiva inclusão
das pessoas com TEA no mercado de trabalho, em especial devido ao desco-
nhecimento do transtorno, preconceito e falta de mecanismos inclusivos que
descubram as potencialidades de contribuição do autista em sociedade.

Palavras-chave: Autismo; Transtorno do Espectro Autista; Mercado de


Trabalho; Serviço Público.

478
INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é ainda objeto de grande


controvérsia, tanto pelo desconhecimento de suas causas quanto pela
pouca quantidade de estudos científicos na área. Fato é que o número
de casos vem aumentando de maneira significativa, possivelmente pe-
las mudanças na forma de seu diagnóstico, já que este tornou-se mais
amplo, englobando vários distúrbios no desenvolvimento humano.

É importante destacar que o autismo não distingue classes so-


ciais e etnias, afetando em sua maioria meninos, causando sintomas
SUMÁRIO que afetam diversos aspectos dos indivíduos. Dessa forma, cabe a
Gestão Pública assegurar a esses indivíduos, que estão na condição
de vulneráveis, o acesso aos direitos básicos, inclusive o de labor,
atendendo ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Assim, esta pesquisa buscará verificar além dos aspectos bioló-


gicos do transtorno através dos estudos médicos nas áreas (como sua
origem, diagnóstico, sintomas dentre outros que propiciem o entendi-
mento das necessidades dos indivíduos com TEA), também como a
Administração Pública está assegurando que os deficientes e os indi-
víduos com transtorno do espectro do autismo estão sendo inseridos
no mercado de trabalho do setor público.

Serão sobretudo tratadas as inovações legais trazidas pela Lei


nº 12.764/2012 que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direi-
tos da Pessoas com Transtorno de Espectro Autista, bem como outras
normas, doutrinas, jurisprudências e demais trabalhos na área que se-
jam relevantes.

Buscou-se, também, verificar além do viés jurídico do direito


ao “trabalho digno” a essas pessoas, a questão da gestão pública,
com ênfase nas Políticas Públicas para a materialização dos direitos

479
contidos no ordenamento jurídico a fim de promover melhorias nas
condições de vida aos autistas.

O transtorno do Espectro Autista é um distúrbio do desenvolvi-


mento humano que tem por características impacto múltiplo e variável
em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de co-
municação, interação social, aprendizado e capacidade de adapta-
ção. Assim, devido às restrições impostas pelo TEA é notório que os
indivíduos que se encontram no espectro precisam superar variados
obstáculos para que possam ser inseridos e permanecerem no mer-
cado de trabalho.

SUMÁRIO Desse modo, o conhecimento sobre o TEA é essencial para que


as políticas inclusivas do Estado possam ter eficácia. Sendo também
elemento importante para quando a pessoa autista se candidate para
concursos públicos, ingresso em instituições de ensino superior e
mesmo em empregos em organizações privadas, principalmente para
prevenção de enquadramento equivocado e definição da equipe mul-
tidisciplinar de acompanhamento.

Desse modo é de grande importância contribuições acadêmicas


quanto ao tema, com vistas a esclarecer sobre o TEA, conhecer a reali-
dade atual e sugerir melhorias para que ocorra uma verdadeira inserção
do autista no mercado de trabalho, principalmente no serviço público.

O objetivo geral da pesquisa foi verificar como o Administração


Pública está contribuindo para a efetivação do direito de acesso ao
mercado de trabalho das pessoas portadoras do Transtorno de Espec-
tro Autista no setor público.

Quanto aos objetivos específicos, consistem em: conhecer o


Transtorno do Espectro Autista (TEA) e como suas especificidades
impactam a vida de seus portadores; examinar a situação de vulne-
rabilidade social dos indivíduos com TEA; entender quais as políticas

480
públicas vêm sido adotadas para inserção das pessoas com TEA no
mercado de trabalho e com algum tipo de deficiência, especialmente
no setor público; identificar quais as dificuldades de inserção das
pessoas com TEA e como estas podem ser minimizadas pela Admi-
nistração Pública.

O assunto é de grande significância, considerando que pesqui-


sas recentes do apontam que o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
acomete de 1% a 2% da população mundial (cerca de 70 milhões de
pessoas) e que no Brasil há estimativas de existam 2 milhões de pes-
soas com TEA. (PAIIVA JR, 2019)

SUMÁRIO O transtorno é caracterizado por uma série de condições que


comprometem o comportamento social, a comunicação e a linguagem
de ser portador, sendo que o funcionamento intelectual dos autistas é
bastante variável, desse modo o TEA pode causar limitações signifi-
cativas na capacidade da pessoa para realizar atividades rotineiras,
afetando inclusive a vida em sociedade.

Essas condições influenciam negativamente quando se fala em


questões educacionais e sociais dos autistas, incluindo as oportuni-
dades de trabalho, provocando situação de vulnerabilidade, podendo
expor essas pessoas a situações vexatórias de preconceito e discrimi-
nação, com diversas barreiras de acesso a direitos previstos na Cons-
tituição Federal como educação, saúde, lazer, dignidade e labor.

Apesar deste número significativo de autistas, pouco se tem


pesquisado a respeito, sendo necessário estudar o tema, uma vez que
os autistas, estão presentes de maneira crescente na sociedade e o
Estado não lhes pode fechar os olhos, devendo assegurar-lhes a dig-
nidade. E a pessoa só terá dignidade se tiver direitos fundamentais,
dentre eles, o acesso ao trabalho.

481
Da escassa bibliografia sobre a temática, a maioria das pesqui-
sas se atem a aspectos da infância do indivíduo com TEA, como aces-
so à educação e saúde. Apesar da importância dessa perspectiva do
TEA, os estudos precisam avançar com finalidade de alcançar a me-
lhoria da vida dos autistas em todas as fases de seu desenvolvimento.

Dessa forma, é de grande relevância o estudo de como a Admi-


nistração Pública tem atuado para efetivação dos direitos das pessoas
que são portadoras do Espectro Autista, principalmente para o recru-
tamento e manutenção dessas pessoas como recursos humanos no
setor público.

SUMÁRIO

REVISÃO TEÓRICA

De acordo com a Associação Amigos do Autista (apud MEL-


LO, 2007, p.6), o TEA, para questões de intervenção, trata-se de um
distúrbio comportamental que traz consigo três tipos de dificuldades,
sendo elas:
1. Dificuldade de comunicação - caracterizada pela dificuldade
em utilizar com sentido todos os aspectos da comunicação ver-
bal e não verbal. Isto inclui gestos, expressões faciais, lingua-
gem corporal, ritmo e modulação na linguagem verbal.

2. Dificuldade de sociabilização - este é o ponto crucial no au-


tismo, e o mais fácil de gerar falsas interpretações. Significa a
dificuldade em relacionar-se com os outros, a incapacidade de
compartilhar sentimentos, gostos e emoções e a dificuldade na
discriminação entre diferentes pessoas.

3. Dificuldade no uso da imaginação - se caracteriza por rigidez


e inflexibilidade e se estende às várias áreas do pensamento,
linguagem e comportamento da criança. Isto pode ser exem-
plificado por comportamentos obsessivos e ritualísticos, com-
preensão literal da linguagem, falta de aceitação das mudanças
e dificuldades em processos criativos.

482
Conforme Leopoldino e Coelho (2017), o TEA pode apresentar
diversos níveis de comprometimentos aos indivíduos acometidos, po-
dendo haver pouca ou elevada alteração comportamental. Os autores
apontam que é primordial o diagnóstico precoce, o tratamento espe-
cializado e a educação adequada, visto que são fatores que contri-
buem para que a pessoa com TEA conquiste mais independência e
melhore sua qualidade de vida, sendo relevante a integração destes
indivíduos em sociedade.

Quanto as características e sintomas do autismo, Nascimento


(2017, p.12) afirma de forma interessante que o TEA não pode ser con-
siderado essencialmente uma doença, pois “ele se manifesta através
SUMÁRIO de diversos tipos de sinais e sintomas que poderão estar relacionados
a condições distintas e variadas”. As pessoas com TEA possuem pou-
ca tolerância à estimulação social, pois geralmente não tem interesse
ou necessidade de estabelecer vínculos afetivos com outras pessoas.
Com poucas exceções, em virtude de peculiaridades individuais, a in-
teração social, o comportamento e a comunicação da pessoa terão
prejuízos de menor ou maior grau.

Além dos déficits no âmbito da socialização, é comum em to-


dos os graus de TEA, alterações no sistema sensorial, que acarretam
hipersensibilidade nos sentidos, principalmente na audição, visão e
no tato, fator que interfere na capacidade do autista em entender e
interagir em sociedade. A verdade é que essas características fazem
com a visão de mundo do autista seja completamente diferente das
percepções das pessoas sem TEA. Isso ocorre porque o cérebro au-
tista “compreende as informações externas de maneira mais ampla e
detalhada, impossibilitando a concentração em apenas um estímulo”.
Neste sentido, Nascimento (2017, p. 13) destaca que:
Os autistas apresentam a chamada hipersensibilidade ou hi-
possensibilidade sensorial. A hipersensibilidade ocorre quan-
do o indivíduo é profundamente sensível a sons (hiperacusia),

483
iluminação forte ou ao toque (defensividade tátil). Já a hipossen-
sibilidade ocorre quando esse sujeito tem uma perceptibilidade
tátil menor, podendo não sentir um ferimento grave, por exem-
plo, sendo que essas duas ocorrem com frequência entre as
pessoas com TEA. (NASCIMENTO, 2017, p.13)

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, o tra-


tamento psicológico mais eficaz para o TEA seria a terapia de inter-
venção comportamental, devendo ser personalizada e interdisciplinar,
com intervenções da psicologia, neurologia, fonoaudiologia e uso da
terapia ocupacional. Nesse sentido, Paiva Jr (2019, p.8) esclarece:
Alguns sintomas como irritabilidade, agitação, autoagressivida-
de, hiperatividade, impulsividade, desatenção, insônia e outros
SUMÁRIO
podem ser tratados com medicamentos, que devem ser pres-
critos por um médico. Dentre os medicamentos indicados, a ris-
peridona, que é da classe dos antipsicóticos atípicos, é o mais
comum. (PAIVA JR, 2019, p.8)

Devido às restrições impostas pelo TEA é notório que os indiví-


duos que se encontram no espectro precisam superar variados obs-
táculos para que possam ser inseridos e permanecerem no mercado
de trabalho.

De acordo com o texto da Lei nº 12.764/2012, em seu artigo 1º,


§1º, caracterizadas como pessoas com TEA aquelas que apresentem:
I - deficiência persistente e clinicamente significativa da comuni-
cação e da interação sociais, manifestada por deficiência mar-
cada de comunicação verbal e não verbal usada para interação
social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver
e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;

II - padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interes-


ses e atividades, manifestados por comportamentos motores
ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais
incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de compor-
tamento ritualizados; interesses restritos e fixos. (BRASIL, 2012)

484
O TEA é um transtorno global do desenvolvimento, portanto não
trata-se de uma deficiência e nem doença, no sentido científico, po-
rém, com objetivo de atender melhor os interesses e enfrentamento às
dificuldades vivenciadas pelos brasileiros portadores de TEA, desde a
sanção da Lei nº 12.764/2012, as pessoas com TEA são consideradas,
por analogia, pessoas com deficiência.

Destarte, considerando a equiparação do autismo como uma


espécie de deficiência verifica-se que a intenção do legislador era
minorar a situação de vulnerabilidade do autista como forma de ga-
rantir oportunidades para que princípios constitucionais como da dig-
nidade da pessoa, de proteção, isonomia pudessem abarcar estes
SUMÁRIO cidadãos tão peculiares.

Junqueira (2014, p. 122-123) esclarece que a caracterização da


deficiência e conhecimento sobre a temática é essencial para que as
políticas inclusivas do Estado possam ter eficácia. Sendo também ele-
mento importante para que as pessoas com necessidades especiais
possam ingressar no mercado de trabalho, sejam devidamente enqua-
dradas conforme suas peculiaridades e receba apoio de equipe multi-
disciplinar de acompanhamento para seu desenvolvimento profissional.

Apesar das garantias constitucionalmente asseguradas, somen-


te com legislação mais específica é que houveram efetivas conquistas
para as pessoas com deficiência, especificamente com a vigência do
Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015. Conforme o
artigo 34 do retromencionado diploma, as pessoas com deficiência tem
direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, com obrigatoriedade
dos empregadores de proporcionar ambiente acessível e inclusivo, com
objetivo de incluir socialmente o PCD e consequentemente promover
sua cidadania, além de estabelecer isonomia de oportunidades com os
demais trabalhadores, propiciando condições favoráveis e justas de tra-
balho, sem diferenciação de remuneração. (BRASIL, 2015)

485
Nesse sentido, como o autismo está enquadrado legalmente
como deficiência o autista pode concorrer às vagas para pessoas com
deficiência em concurso público. Assim é cabível o disposto no artigo
37, VIII da CF, que dispõe que “a lei reservará percentual dos cargos e
empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e defi-
nirá os critérios de sua admissão”.

Assim, no âmbito federal, a Lei 8.112/1990, em seu artigo 5º,


§ 2º versa que é assegurado às pessoas portadoras de deficiência
o direito de inscrição em concurso público para provimento de cargo
cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são por-
tadoras, sendo que esta reserva será de até 20% (vinte por cento) das
SUMÁRIO vagas oferecidas no concurso público. (BRASIL, 1990)

Há legislação mais específica no âmbito federal, conforme veri-


fica-se no Decreto nº 9.508/2018 que trata sobre diversas disposições
entre elas a reserva às pessoas com deficiência percentual de cargos
e de empregos públicos ofertados em concursos públicos e em pro-
cessos seletivos no âmbito da administração pública federal direta e
indireta. (BRASIL, 2018)

Destarte, Bastos (2021) destaca, baseado na legislação supra-


mencionada, que entre os direitos dos autistas para a prestação de
concurso público, estão:
Direito de realizar a prova em sala individual e auxílio para preen-
cher o gabarito: As pessoas portadoras de autismo, têm total
direito de optarem por realizar a prova em uma sala destinada
a essas pessoas, evitando assim qualquer tipo de constrangi-
mento que possam vir a ter. Além disso, podem solicitar o auxílio
de profissionais que estejam auxiliando na aplicação da prova
para poderem preencher o gabarito da forma correta.

Direito de tempo adicional para realizar redações, prova escrita


e objetiva: Podem ocorrer casos em que as pessoas com defi-
ciência tenham dificuldade em realizar a prova dentro do tempo
estabelecido pelo órgão responsável. Sendo assim, é o direito

486
dessas pessoas conseguirem um tempo adicional para realizar
toda a prova de forma prática e justa.

Direito à mobilidade e acesso às salas e demais locais do es-


tabelecimento: As pessoas que estão dentro do grupo do PCD
devem ter um acesso facilitado às salas em que as provas serão
aplicadas e auxílio para poderem chegar nesses locais. Assim
como em banheiros ou locais que podem ser acessados duran-
te a realização da prova. (BASTOS, 2021)

No mais, o artigo o Art. 9º do Decreto nº 9.508/2018, dispõe


que os órgãos da administração pública federal direta e indireta, as
empresas públicas e as sociedades de economia mista têm o dever de
garantir a acessibilidade não somente no concurso ou processo seleti-
SUMÁRIO
vo, mas também no local de trabalho e a adaptação razoável, quando
requerida, para o efetivo exercício laboral da pessoa com deficiência
ou autista. Cabe salientar que esta norma somente é aplicável aos
concursos da administração pública federal, portanto cada Estado e
Município tem poder de criar as suas regras. (BRASIL, 2018)

Conforme o disposto no artigo 43, § 2.º do Decreto n. º 3.298


/1999 é realizada uma análise do cargo e da deficiência do candida-
to através de uma avaliação de uma equipe de diversos profissionais
no Estágio Probatório. Nesta fase, é feita uma análise médica e al-
guns concursos podem exigir que a comprovação da deficiência seja
feita no ato da inscrição. A pessoa com TEA poderá comprovar sua
condição com um laudo ou parecer médico emitido com as seguintes
regras: O laudo deve ser emitido por uma equipe composta por 3 pro-
fissionais entre eles um médico; O documento deve conter o seu tipo e
grau de deficiência, além do CID; Assinatura e carimbo com o registro
no conselho de cada um dos profissionais. (BRASIL, 1999)

Resta verificar se essas políticas inclusivas estão sendo efetivas


para a inclusão do autistas no âmbito do serviço público, pois apesar
da legislação, a Administração Pública tem de desenvolver tecnologias

487
assistivas e adaptações além da etapa de realização de provas e con-
cursos e processos seletivos públicos, devendo se estender para todo
o processo de admissão e adaptação no trabalho.

Cabe destacar que houve grande dificuldade em encontrar pes-


quisa bibliográfica quanto a inserção do autista no serviço público, sen-
do ainda assunto recente, mas de grande relevância, porém buscou-se
aplicar as mesmas perspectivas organizacionais do contexto privado.

Observou-se que é ponto comum, tanto na administração públi-


ca e privada, a questão levantada por Aydos (2019, p.104) que afirma
que o problema da inserção dos autistas no mercado de trabalho está
SUMÁRIO intrinsecamente ligado a não preparação das organizações para lidar
com estas pessoas, pois não entendem que estes não vão mudar e
nem desenvolverão comportamentos exigidos pelo mercado de traba-
lho, ou seja, a sociedade necessita adaptar-se para incluir as pessoas
com algum tipo deficiência. Como visto, o autismo é uma condição
cerebral, inserido no âmbito biológico e não tem “cura”, pois de acordo
com os estudos da neurodiversidade, o autismo é uma forma de visão,
vivência e presença no mundo, não sendo uma doença, nem deficiên-
cia, sendo apenas um exemplo de neurodiversidade em essência, uma
nova visão do mundo, de forma que a sociedade é que não possui as
capacidades de entendimento e comunicação com os autistas.

A maioria das obras destaca que a inclusão dos autista no merca-


do de trabalho é uma maneira de permitir que estes tenham dignidade,
conquistando qualidade de vida e seu próprio sustento, adquirindo inde-
pendência e autonomia, desenvolvendo suas potencialidades, conforme
preconizam as legislações protetivas. Cabe ainda, às organizações em
geral entenderem a grande potencialidade dos autistas em desenvolver
determinadas competências conforme suas especificidades.

Esta inclusão não deve estar embasada em fins filantrópi-


cos, mas sim na consciência de que as pessoas no espectro autista

488
possuem uma visão de mundo diferenciada, e que apresentam ca-
pacidades muito peculiares e específicas e que com a oportunidade
e meios adequados podem desenvolver atividades além da média e
cabe também a Administração Pública fazer o seu papel para incluir em
seus quadros de pessoal pessoas neurodiversas, como os autistas.

Fato é que é muito desafiador também para o gestor que pos-


sui uma pessoa com alguma necessidade especial em sua equipe
de trabalho, como o autista, necessitando desenvolver competências
que lhes permitam administrar com eficiência a inclusão, uma vez que
a simples norma prescrita em manuais organizacionais é insuficiente
para o desenvolvimento das capacidades necessárias para proceder
SUMÁRIO uma real inclusão desses indivíduos. (SERRANO; BRUNSTEIN, 2008)

METODOLOGIA

Classificação da Pesquisa

Quanto a metodologia, utilizaremos as tipologias conforme seguem:


— Quanto ao método e forma de abordar o problema: consi-
dera-se esta pesquisa como qualitativa, visto que atribui cien-
tificidade a conhecimentos teórico-empíricos através da não
utilização, em princípio, de instrumental estatístico na análise
de dados; também pode ser considerado quanto ao método,
como o indutivo, pois a pesquisa analisará casos particulares
de diversas pesquisas sobre o tema e cuja conclusão pode ser
aplicada nos demais casos similares (GIL, 2002);

— Quanto aos objetivos: esta pesquisa pode ser conside-


rada como do tipo explicativa, pois busca identificar fatores
determinantes ou contributivos ao desencadeamento dos fatos;

489
— Quanto aos procedimentos adotados para coleta de dados:
pode-se verificar a utilização de 2 tipos, sendo: pesquisa biblio-
gráfica com coleta dados em material impresso ou digital publi-
cado e documental devido a coleta dados em documentos sem
tratamento analítico.

Instrumentos de Coleta de Dados

Quanto aos meios de investigação e coleta de dados, a pesqui-


sa será além de bibliográfica, também documental. Documental, pois
segundo Marconi e Lakatos (2002, p. 33) a fonte de coleta de dados
SUMÁRIO está restrita a documentos, escritos ou não, sendo fontes primárias
que podem ser recolhidas no momento do fenômeno ou depois.

Também é bibliográfica, ou fonte secundária, visto que abrange


a bibliografia publicada referente ao tema do estudo, de forma que
faça com que o pesquisador conheça tudo ou grande parte do que foi
escrito sobre o assunto.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Na pesquisa bibliográfica, constatou-se que existem vários obs-


táculos para a inserção do autista no mercado de trabalho, entre elas:
preconceito dos empregadores, discriminação dos colegas de trabalho,
falta de suporte e meios de adaptação no trabalho, ausência de vagas
bem qualificadas, falta de mecanismos vocacionais específicos, pouco
investimento na formação técnica e profissional, faltas de incentivos fi-
nanceiros a contratação e falta de efetividade da legislação de cotas.

490
Em consulta a diversas fontes, evidenciou-se a inexistência
de informações oficiais quanto a empregabilidade das pessoas com
TEA, o que existem são dados de 2017 do Ministério do Trabalho que
apontam que entre os 46,3 milhões de pessoas empregadas no Brasil,
menos de 1% tem alguma deficiência, e desse percentual, somente
0,075% tem deficiência intelectual, estando incluídos nestes números,
os autistas (PAIVA JR, 2019, p. 20).

Há pesquisas que apontam que estimasse que poucos são os


profissionais com TEA que trabalham de forma independente com em-
pregos remunerados. Somente de 20 a 25% das pessoas diagnosti-
cadas com TEA tem potencialidade para manter empregos competiti-
SUMÁRIO vos (HOWLIN, ALCOCK E BURKIN, 2005 apud BRAVIM E DANGELO,
2017), majoritariamente aqueles que o fazem tendem a ter capacida-
des superiores e conseguem encontrar uma profissão que combina
seus interesses com as suas habilidades.

Ou seja, analisando a situação atual, infere-se que as políticas


públicas e legislações nacionais não estão efetivando o direito de
acesso ao mercado de trabalho às pessoas com TEA, sendo um
ponto crítico a inexistência de dados oficiais sobre o autismo no Bra-
sil, instrumento essencial para a melhor implementação de políticas
públicas e entendimento das necessidades desta população. Com
vistas a preencher esta lacuna estatística, o governo federal sancio-
nou a Lei 13.861/2019, que obriga o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) a inserir no Censo de 2020 questionário direciona-
do ao autismo. Desse modo, o Censo 2020 que está sendo realizado
tardiamente desde 1º de agosto de 2022, devido à pandemia do Co-
ronavírus, possui uma pergunta sobre autismo, em seu questionário
de amostra: “Já foi diagnosticado(a) com autismo por algum profis-
sional de saúde?”. Desse modo, com esta medida, pela primeira vez
no Brasil poderá ser possível um mapeamento oficial das pessoas
que receberam o diagnóstico de TEA, construindo um panorama

491
sobre o autismo na população do país e auxiliando na elaboração
das políticas públicas. (BRASIL, 2019a)

De forma contraditória, há também iniciativas para o enfraque-


cimento das políticas públicas de incentivo ao acesso ao mercado de
trabalho para deficientes e autistas, um exemplo é a proposição do
Projeto de Lei 6.159/2019, de iniciativa do Governo Federal, que pra-
ticamente esvazia a lei de cotas, visto que permite que as empresas
substituam a contratação de pessoas com deficiências pelo pagamen-
to do valor correspondente a dois salários mínimos mensais ao Progra-
ma de Habilitação e Reabilitação Física e Profissional, Prevenção e Re-
dução de Acidentes de Trabalho, do Ministério da Economia, medida
SUMÁRIO que vai contra as premissas da política de cotas, que são justamente
o incentivo à empregabilidade de deficientes e acesso ao trabalho dig-
no. Atualmente, este projeto se encontra em tramitação no Congresso
Nacional.(BRASIL, 2019b)

Outra questão é levantada por Aydos (2019, p.104) em sua pes-


quisa, que afirma que o problema da inserção dos autistas no mercado
de trabalho está intrinsecamente ligado a não preparação das empresas
para lidar com estas pessoas, pois não entendem que estes não vão
mudar e nem desenvolverão comportamentos exigidos pelo mercado de
trabalho, ou seja, a sociedade necessita adaptar-se para incluir as pes-
soas com deficiência. Como visto, o autismo é uma condição cerebral,
inserido no âmbito biológico e não tem “cura”, pois de acordo com os
estudos da neurodiversidade, o autismo é uma forma de visão, vivência
e presença no mundo, não sendo uma doença, nem deficiência, sendo
apenas um exemplo de neurodiversidade em essência, uma nova visão
do mundo, de forma que a sociedade é que não possui as capacidades
de entendimento e comunicação com os autistas.

No mais, se a questão autista no mercado de trabalho privado,


que apresenta iniciativas promissoras, já é precária, no serviço público
iniciativas de incentivo ao labor são insipientes.

492
Nos mais, de acordo com o Decreto nº 3.298/1999, em seu
artigo 4º, são protegidos pela Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, os categorizados como deficientes,
dentre outros, as pessoas que apresentam:
IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativa-
mente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito
anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilida-
des adaptativas, tais como:

a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d)


utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f)
habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; (BRASIL, 1999)

SUMÁRIO Conforme pesquisa jurisprudencial, apesar da legislação clara-


mente equiparar analogamente a pessoa com TEA à pessoa com de-
ficiência mental, ainda há barreiras a serem enfrentadas já no ingresso
do autista ao serviço público.

Em que pese, conforme Apelação Cível n. 3465237-


96.2013.8.13.0024, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em recente
caso, um candidato com Síndrome de Asperger, condição compatível
com TEA prestou concurso público no Estado de Minas Gerais e teve
negado pela banca examinadora seu direito a concorrer às vagas des-
tinadas às pessoas portadoras de deficiência, tendo de recorrer às vias
judiciais para ter seu direito garantido. Em importante decisão, aquele
tribunal, reafirmou que o portador de TEA tem os mesmos direitos ga-
rantidos aos portadores de outras deficiências, devendo ser assegu-
rado seu direito ao percentual de vagas reservadas aos PCD quando
sua participação em concursos públicos, visto que o diagnóstico de
TEA por si só não é suficiente para determinar a inaptidão do candidato
aprovado em certame público. (MINAS GERAIS, 2020)

Apesar dessas dificuldades a inserção é possível, segundo


a Paiva Jr (2019, p.36) a diversidade nas contratações é uma ten-
dência no mercado de trabalho, nesse rol está incluída a chamada

493
neurodiversidade, conceituada como o tipo de diversidade que con-
sidera o desenvolvimento neurológico humano atípico, sendo uma di-
ferença humana que deve ser respeitada e não discriminada. Assim
algumas corporações, visando a neurodiversidade, estão realizando
contratações de profissionais com TEA, porém ainda são minoria.

A política de cotas parece ser um caminho, pois de acordo


com Fonseca (2012, p. 38) há uma tendência a esta diversidade na
contratação ao destacar os avanços verificados ao longo dos últimos
anos, como constam nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego,
quanto a lei de cotas que promoveu a contratação de mais de 300 mil
pessoas com deficiência. Apesar de ser uma quantidade relativamente
SUMÁRIO baixa, é um dado animador, tendo em vista a recente vigência Decreto
n. 3.298/1999, que regulamentou as cotas para deficientes.

Na visão do autor, a resistência dos gestores para utilização das


cotas pauta-se em duas motivações falaciosas, sendo: “a) a falta de
escolaridade das pessoas com deficiência e o consequente despre-
paro para as exigências do mercado de trabalho; b) a baixa produtivi-
dade desses trabalhadores”. Tratam-se de falácias, pois constatou-se
que as medidas de treinamento em instituições especializadas na for-
mação profissional de trabalhadores portadores de deficiência, trouxe
resultados satisfatórios. Os profissionais beneficiados por este tipo de
capacitação demonstraram alta produtividade e elevado grau de mo-
tivação pessoal e em equipe, pois após a ultrapassagem da barreira
inicial, os colegas de trabalho passaram a agir com admiração frente
ao deficiente, tratando-o como exemplo de superação e referência no
ambiente organizacional. Além do que, essas empresas tiveram me-
lhoria em sua imagem perante o público em geral, por terem uma visão
organizacional inclusiva e solidária. (FONSECA, 2012, p.38)

De acordo com levantamento de Bravim e Dangelo (2017), os


empregadores valorizam algumas características dos profissionais
com TEA, entre eles: honestidade, confiabilidade, baixo absenteísmo,

494
atenção as tarefas, serem detalhistas, tendência a tarefas repetitivas,
alto grau de concentração e boa memória. E apesar da temática trabalho
associada ao autismo ser recente, já existem empresas que recrutam
esses peculiares profissionais como a por exemplo: Passwerk na Bélgi-
ca, Specialisterne na Dinamarca, que possui filial no Brasil, e a Auticon na
Alemanha que já desenvolvem trabalhos pioneiros com autistas.

O DIEESE, em pesquisa realizada em 2020, destaca que se an-


tes o cenário do mercado de trabalho para os deficientes já era desa-
fiador, tornou-se alarmante com a pandemia da Covid-19, provocado
pelo novo coronavírus, colocando em perigo diversas conquistas para
a inserção profissional e social, frutos de muitas lutas sociais. Fato é,
SUMÁRIO que a situação se tornou muito complexa para esses trabalhadores,
somando-se o risco sanitário com a possibilidade de desemprego, em
função da forte depressão econômica atual.

Ao fazer análise do Censo de 2010, o DIEESE (2020) consta-


tou que cerca 3,1 milhões de pessoas com deficiência se declararam
ocupadas, ou seja, estavam trabalhando naquele ano, porém no RAIS
(Relação Anual de Informações Sociais) de 2010, haviam somente 306
mil deficientes em situação de emprego formal, o que sugere que a
maioria dos trabalhadores com deficiência encontram-se no mercado
trabalho informal, em situação de vulnerabilidade social, carecendo de
proteção trabalhista e previdenciária. Ou seja, apesar do avanço das
políticas de incentivo de acesso ao mercado de trabalho, a população-
-alvo em sua maioria não está sendo atendida, incluindo os autistas.

Já com relação aos RAIS de 2019, o DIEESE (2020) constatou


que a participação de trabalhadores com deficiências em ocupações
formais era de 1,1%, onde há predominância dos vínculos com pes-
soas com deficiência física, auditiva e visual, sendo as deficiências
mentais e múltiplas com os piores resultados de empregabilidade. Em
2019, desse pequeno percentual, a região Norte representava somen-
te 9% de trabalhadores deficientes formais, com o pior rendimento

495
entre todas as regiões brasileiras. Com a pandemia do COVID-19,
uma análise inicial aponta que quanto a empregabilidade, os traba-
lhadores mais vulneráveis foram os mais afetados, com piora da si-
tuação de saúde, emprego e renda. Antes do período pandêmico, a
situação da econômica brasileira já apresentava sinais de crise, com
a pandemia e a inércia do governo, ocorreu aumento nas taxas de
desemprego, principalmente entre os deficientes de forma avassala-
dora. De janeiro a setembro de 2020, por exemplo, os desligamentos
sem justa causa de deficientes representaram 35,8% das demissões
neste período, enquanto o percentual geral de mercado foi de 30,2%.
Nesse sentido, houveram mais desligamentos e baixa intensidade
SUMÁRIO nas admissões de pessoas deficientes.

Há necessidade de maiores incentivos à política de cotas, visto


que estas não são totalmente preenchidas quando oferecidas. Mesmo
com todo o avanço na questão, segundo o DIEESE (2020) em análise
de dados do Ministério do Trabalho, afirma que em 2018, pouco mais
de 50% das vagas foram preenchidas, havendo sinalização de que em
2019 não ocorreu melhora nesse sentido. A gestão pública na questão
do mercado de trabalho aos deficientes é tão ineficiente que, a situa-
ção de empregabilidade no setor público ainda é pior que o do setor
privado, visto que houveram somente 10% das vagas preenchidas nos
certames públicos, para os PCD’s, em 2018. Apesar dos números nem
tão significativos, houve avanço, principalmente em virtudes das fis-
calizações. Porém em 2019, com o contingenciamento de custos na
pasta trabalhista, houve declínio significativo no número de fiscaliza-
ções, sendo tendência que os números de 2020 sejam ainda piores
em virtude da pandemia. (DIEESE, 2020)

A nota técnica nº 246 do DIEESE (2020) aponta ainda que no


primeiro semestre de 2020, houve uma piora do mercado de trabalho
formal com aumento de vagas não ocupadas, reduzindo-se cerca de
21,7 mil o número de trabalhadores deficientes, totalizando mais de

496
450 mil vagas de PCD’s não preenchidas. Fato é que, diante deste ce-
nário desfavorável agravado pela pandemia, é essencial que existam
políticas públicas para a inclusão das pessoas deficientes no mercado
de trabalho, sob pena de que os avanços e conquistas dos autistas e
deficientes sejam perdidos, causando prejuízos ao direito ao trabalho,
fator primordial para que esta população vulnerável tenha autonomia e
dignidade. Há que se buscar a melhoria da economia e compromisso
de toda a sociedade para que ocorra o cumprimento de todas as legis-
lações voltadas para a proteção dos autistas e deficientes.

O trabalho de Talarico, Pereira e Goyos (2019, p.16) reforça o


que praticamente se verificou na maioria das obras pesquisadas, que
SUMÁRIO apesar dos avanços, atualmente a realidade da inclusão no mercado
de trabalho dos autistas ainda está distante de uma verdadeira garan-
tia ao direito de trabalho digno. Os pontos críticos são: ausência de
sensibilização por parte dos empregadores e da também da socie-
dade, o desconhecimento sobre o TEA e os direitos dessas pessoas,
incluindo o direito ao trabalho digno, ausência de políticas organizacio-
nais realmente inclusivas, dentre outros fatores, fazem com que ocorra
pouca inserção dessas pessoas no ambiente do trabalho.

Um ponto de melhoria, no processo de inclusão dos autistas,


sugerido por Silva (2013, p. 96) é justamente o mecanismo de inclusão
assistiva, onde uma equipe multiprofissional juntamente com o setor
de recursos humanos das empresas, pudessem realizar trabalho con-
junto para transpor os obstáculos quanto a acessibilidade na execução
das atividades e atribuições do cargo, visando uma melhoria no desen-
volvimento profissional de acordo com o perfil do autista.

Nesse mesmo sentido, a organizações em geral não interesse


em investir no profissional autista considerando os gastos, pois para
que as pessoas com TEA consigam se desenvolver no ambiente or-
ganizacional, podem ser necessárias algumas alterações e ajustes na
organização, como:

497
[...] compreender a cultura da empresa bem como suas expec-
tativas com o empregado, modificação na estrutura física da
empresa, ajustes na jornada de trabalho e na gestão, treinamen-
to de habilidades eficazes de comunicação com os superviso-
res e equipe, possível tutor treinado para quem o autista possa
se reportar e demais modificações necessárias para a inclusão
deste profissional no corpo docente da empresa (HENDRICKS,
2010; SCOTT et al.., 2015 apud BRAVIM E DANGELO, 2017).

Conforme conclusões de Almeida (2014) que o desenvolvimen-


to dos recursos tecnológicos e assistenciais possibilitou o diagnóstico
precoce e o tratamento mais adequado ao autista, fatores que permi-
tem sua inserção no ambiente laboral, com maior chance de sucesso.
SUMÁRIO Assim o conhecimento sobre a patologia, como sintomas, diagnóstico
e tratamento são essenciais para o desenvolvimento de programas
que permitam a introdução dessas pessoas. Nesse sentido, Almeida
(2014) acredita que:
A partir dos estudos apresentados, comparado ao estudo de
caso, evidenciou-se que a patologia pode afetar a vida profis-
sional de um autista, pois ele provavelmente apresentará pro-
blemas de relacionamento social e comportamental, no entanto
quando realizado de forma adequada um exame admissional e
um tratamento precoce é possível a inserção do paciente com
Transtorno Autista no ambiente de trabalho. (ALMEIDA, 2014)

Importante contribuição de Leopoldino e Coelho (2017), ao pro-


porem quatro eixos de políticas públicas quanto a inclusão dos autistas
no ambiente de trabalho, quais sejam: 1. Preparação para a atuação
profissional: voltado para ensino técnico profissionalizante inclusivo,
preparo vocacional individualizado, incentivo ao estágio e primeiro
emprego e acompanhamento de equipe multiprofissional; 2. Incenti-
vo à contratação: que abrange o incentivo financeiro a estágios e à
contratação em organizações privadas e públicas, programas de for-
mação e conscientização de mentores, líderes gestores e empregado-
res e incentivo ao empreendedorismo, voluntariado e cooperativismo;
3. Fomento à produção científica: promoção a criação de grupos de

498
pesquisas e realização de eventos, estímulos a pesquisa, publicação
e extensão universitária; 4. Aquisição de informações precisas: criação
de cadastro nacional de autistas, censo socioeconômico e de merca-
do de trabalho dos autistas, ampla divulgação dos dados obtidos, com
incentivo a sua pesquisa.

No mais, Piai (2022) reforça alguns pontos a serem observado


pelas organizações tanto privadas quanto públicas acerca da inclusão
das pessoas com TEA e deficiências, quais sejam: - Reconhecer, res-
peitar e valorizar as diferenças entre as pessoas – pois incluir pessoas
com alguma deficiência ajuda na eliminação da discriminação, visto
que ajudam a entender as barreiras arquitetônicas, comunicacionais,
SUMÁRIO tecnológicas, metodológicas e atitudinais a serem enfrentadas nos es-
paços organizacionais; - Acolher a diversidade de forma permanente –
não é apenas incentivar o ingresso na organização, mas também pro-
porcionar um ambiente propício para o desenvolvimento profissional,
com programas de cooperação para desenvolver habilidades e reco-
nhecimento dessas pessoas; - Garantir que todos tenham as mesmas
oportunidades e condições de desenvolvimento – há necessidade de
setores específicos para a inclusão que conheçam e efetivem práticas
inclusivas, olhando as pessoas de forma integral, conhecendo suas
habilidades, de modo que proporcionem adaptações quando neces-
sário, tanto em atividades quanto em processos, devendo detectar as
barreiras existentes e removê-las, para alcançar maior produtividade e
crescimento profissional; - Ter líderes treinados que promovam o res-
peito ao próximo, sendo este o principal desafio para a inclusão e a
diversidade – os líderes devem estar preparados para a gestão de con-
flitos organizacionais, tendo habilidade de observar as necessidades
de seus liderados, valorizando-os e reconhecendo suas habilidades,
extraindo melhor de cada um. (PIAI, 2022)

499
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, conforme as obras pesquisadas observa-se as


diversas barreiras a serem enfrentadas pelos autistas, quais sejam: as
atitudinais, baseando-se na falta de preparo da sociedade e das orga-
nizações para entender e lidar com a deficiência e diversidade, pois é
notório que por suas características, os autistas tem dificuldades de
integração no ambiente de trabalho, não possuindo requisitos deseja-
dos pelas empresa, como: bom relacionamento interpessoal, trabalho
em equipe, boa comunicação; as comunicacionais, devido à ausência
de informações sobre o TEA e a sua potencialidade produtiva; arqui-
SUMÁRIO
tetônica, de método de trabalho, de instrumentos de trabalho, ou seja,
a falta de compromisso das empresas em realizar as adaptações ne-
cessárias para que o autista possa desenvolver suas atividades no am-
biente de trabalho de forma satisfatória e autônoma; programática, que
são as leis, normas e políticas públicas que perpetuam a exclusão e
não estimulam a contratação de autistas; a educacional, relacionada a
falta de qualificação profissional, pela ausência de educação adequa-
da ao autista desde o ensino infantil; de saúde, referente a dificuldade
de acesso as terapias e tratamento, para melhoria de suas condições.

A maioria das obras destaca que a inclusão dos autista no mer-


cado de trabalho é uma maneira de permitir que estes tenham dignida-
de, conquistando qualidade de vida e seu próprio sustento, adquirindo
independência e autonomia, desenvolvendo suas potencialidades,
conforme preconizam as legislações protetivas elencadas neste traba-
lho. Cabe ainda, às organizações entenderem a grande potencialida-
de dos autistas em desenvolver determinadas competências conforme
suas especificidades. Esta inclusão não deve estar embasada em fins
filantrópicos, mas sim na consciência de as pessoas no espectro au-
tista possuem uma visão de mundo diferenciada, e que apresentam
capacidades muito peculiares e específicas e que com a oportunidade
e meios adequados podem desenvolver atividades além da média.

500
Consoante o exposto, verificasse que existe legislação que as-
segura o direito ao labor do autista, porém a criação de leis por si só
não é suficiente para a efetivação dos direitos, visto que é dever do
Estado promover políticas públicas que realmente promovam a inser-
ção e manutenção das pessoas com TEA no mercado de trabalho,
inclusive no próprio serviço público. O que se verifica, porém, são
poucas iniciativas para a profissionalização e baixo incentivo à con-
tratação de indivíduos com alguma deficiência, ou seja, os governos
em todos os níveis, ainda pecam na promoção de políticas públicas
que protejam e incentivem o mercado de trabalho à inclusão social
dos trabalhadores portadores de TEA.
SUMÁRIO Nesse diapasão, não foram encontrados levantamentos oficiais
que indiquem o quantitativo de pessoas autistas que ingressaram no
serviço público sejam pelo sistema de cotas ou de ampla concorrên-
cia, nem como estas são recebidas e integradas nas organizações
públicas. A inexistência de pesquisas sobre mercado de trabalho para
inclusão de autistas no serviço público demonstra a inércia e ineficiên-
cia da administração pública em implementar políticas públicas para
inserção de autistas e deficientes em seu próprio quadro de pessoal,
sendo um grande contrassenso visto sua função social perante a so-
ciedade e o dever de proteção de grupos mais vulneráveis. Desse
modo, são necessárias mudanças de mentalidade e estudos que al-
terem a legislação para maior incentivo dessas pessoas a buscarem
ingressar no serviço público de forma a que possam contribuir com
suas potencialidades para o coletivo.

501
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502
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503
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504
22
Capítulo 22

Utilização do quesito raça/cor na caracterização


do público atendido pelo INSS

Thiala Cristine Mendes Barros

Michele Tancman Cândido da Silva

Thiala Cristine Mendes Barros

Michele Tancman Cândido da Silva

Utilização do quesito raça/cor


na caracterização do público
atendido pelo INSS

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.22
SUMÁRIO

Resumo:
Esta pesquisa teve como objetivo o estudo sobre a abordagem da questão ra-
cial no Instituto Nacional do Seguro Social considerando a utilização do quesito
raça/cor no âmbito da caracterização dos cidadãos que requerem/utilizam os
serviços e benefícios. A análise teve centralidade, compreendendo os impac-
tos do racismo estrutural na constituição da classe trabalhadora nacional, es-
truturando uma “divisão racial do trabalho” com desvantagens multidimensio-
nais, sobretudo para as trabalhadoras negras, oprimidas interseccionalmente
por raça e gênero. A pesquisa seguiu uma abordagem documental de cunho
descritivo com análise de dados provenientes de instituições e pesquisas nos
arquivos institucionais quanto à realização de capacitações e distribuição de
material informativo/educativo acerca da temática de investigação. Ressal-
ta-se que a análise dos dados supracitados foi ancorada no levantamento
bibliográfico acerca do tema, o qual se fez presente em todas as etapas da
pesquisa. A pesquisa possibilitou perceber pelas referências e fontes analisa-
das que a Política de Previdência Social segue aquém das demais políticas
que compõem o tripé da Seguridade Social: Assistência Social e Política de
Saúde no que diz respeito à consideração das iniquidades raciais perante o
público assistido.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Racismo; Indicadores; Previdência Social.

506
INTRODUÇÃO

Esta pesquisa debruçou-se num estudo sobre a abordagem


da questão racial no Instituto Nacional do Seguro Social consideran-
do a utilização do quesito raça/cor no âmbito da caracterização dos
cidadãos que requerem/utilizam os serviços e benefícios. A inclusão
do referido quesito se deu em 2017 atendendo a orientação cons-
tante no Aviso Circular Conjunto nº 01/Gab-C.Civil/PR/MP/SEPPIR,
de 28 de dezembro de 2012 que orienta a adoção de ações de
promoção da igualdade racial.

SUMÁRIO A análise teve centralidade no trabalho, compreendendo os im-


pactos do racismo estrutural na constituição da classe trabalhadora
nacional, estruturando uma “divisão racial do trabalho” com desvan-
tagens multidimensionais, sobretudo para as trabalhadoras negras,
oprimidas interseccionalmente6 por raça e gênero.

Inúmeras pesquisas, que foram elencadas ao longo do texto, de-


monstram que a desigualdade racial se faz presente em todas as cate-
gorias analisadas, se refletindo também no acesso aos direitos traba-
lhistas e previdenciários. No âmbito particular do objeto de pesquisa, a
proponente é mulher negra, servidora pública da referida repartição e ao
longo de sua trajetória nesta (desde 2016) vem se inquietando quanto ao
“silêncio” institucional a respeito desta pauta. Durante os atendimentos
diários que a servidora vem prestando ao público, a mesma observou,
de forma empírica, evidências que denotam a transversalidade da ques-
tão racial sobre a vida dos trabalhadores atendidos.

6 Akotirene (2018) entende a interseccionalidade como “sistema de opressão interligado”


que circunda vida de mulheres negras no encontro de avenidas identitárias, assim como,
a feminista negra estadunidense, Patricia Hill Collins. AKOTIRENE, CARLA. O que é inter-
seccionalidade? São Paulo. ed pólen, 2018.

507
No Brasil a população descendente dos povos africanos escra-
vizados ainda sofre os impactos do modo de produção escravocrata,
constituidor das bases da economia deste país. Expressa por meio da
desigualdade no acesso à educação e ao mercado de trabalho, na re-
presentação política e no acesso às políticas públicas de uma forma
geral. Assim, essa pesquisa buscou compreender de que forma a ques-
tão racial é abordada no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social,
considerando especialmente a caracterização dos usuários de seus ser-
viços. Referente aos objetivos específicos buscou identificar a existência
de ações que potencializam a execução da política pública consideran-
do as iniquidades de raça que permeiam a configuração da sociedade
SUMÁRIO brasileira; além de caracterizar a relevância da pauta racial sobre os indi-
cadores de saúde do trabalhador produzidos pela instituição.

A metodologia utilizada neste trabalho se caracterizou uma


abordagem qualitativa teórico/documental, cujo procedimento meto-
dológico possibilitou uma ampliação do entendimento de objetos nos
quais se faz necessária a contextualização histórica e sociocultural,
para uma melhor compreensão.

O levantamento foi realizado em base de dados, nos arquivos


institucionais quanto à realização de capacitações e distribuição de
material informativo/educativo acerca da temática de investigação.
Ressalta-se que a análise dos dados supracitados foi ancorada no
levantamento bibliográfico acerca do tema, o qual se fez presente em
todas as etapas da pesquisa.

A análise documental seguiu da seguinte forma: ser exploratória


em sua primeira etapa para uma análise mais acurada do cenário de
investigação e melhor delimitação da metodologia. Se propõe a ser
descritiva visto que foi realizada uma exposição minuciosa do cenário
atual a fim de contribuir na proposição e execução de políticas públi-
cas, considerando as limitações deste trabalho acadêmico. Utilizan-
do fontes como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);

508
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Secretaria de Políti-
cas de Promoção da Igualdade Racial.

A justificativa se deu em relação ao levantamento de discussões


que norteiam essa temática. É consenso nos estudos da administra-
ção pública a relevância dos indicadores para melhor otimização dos
parcos recursos públicos.
Na gestão pública, os indicadores são instrumentos que con-
tribuem para identificar e medir aspectos relacionados a um
determinado fenômeno decorrente da ação ou da omissão do
Estado. Sua principal finalidade é traduzir, de forma mensurável,
um aspecto da realidade dada ou construída, de maneira a tor-
nar operacional a sua observação e avaliação. (BAHIA, 2021).
SUMÁRIO
Segundo Souza et al., (2020) utilização do campo raça/cor con-
tribui na compreensão das vulnerabilidades e diferenças étnico-raciais
que, consequentemente, resulta na melhoria da operacionalização das
políticas públicas de modo a captar as especificidades dos usuários,
em particular da população negra.

No entanto, apesar destes avanços ainda existem bancos de


dados que apresentam resistência na adoção deste item em seus ser-
viços. Há também outras variáveis que afetam a utilização do quesito
raça/cor, devido à inexistência de um padrão para estabelecer o recor-
te étnico-racial e a falta de orientação por parte dos órgãos gestores
da saúde em relação à maneira mais apropriada de preencher esse
indicador social. (SOUZA,2020, p.3)

Não se tratando somente de mais um campo a ser preenchido,


estudo realizado por Silveira et al., (2021) indica a necessidade de en-
volvimento dos atores inseridos no processo, seja na compreensão da
finalidade, seja na devolutiva quanto à utilização desses dados.

509
INSS, Patrimônio
do Trabalhador Brasileiro:
Caracterização do ente público,
território de pesquisa.

Instituído pelo Decreto n° 99.350, de 27 de junho de 1990, o INSS


é uma autarquia federal de abrangência nacional responsável pela ad-
ministração da Política Pública de Previdência Social, prestando também
serviços no âmbito da Política de Assistência Social. Com alta capilari-
dade em sua abrangência geográfica oferece um vasto panorama de
informações no que diz respeito ao cenário de adoecimento X trabalho.
SUMÁRIO
São 1.037 Agências da Previdência Social distribuídas em todo
o território brasileiro, contribuindo para a redistribuição de renda e
fomento da economia da maioria dos municípios brasileiros de pe-
queno porte. É fundamental para a sobrevivência e manutenção da
economia rural de subsistência e assegura a sobrevivência de traba-
lhadores e trabalhadoras acometidos por situações de doença, inva-
lidez, velhice, morte, gravidez e etc.

Pela sua magnitude e capilaridade, o organograma institucional


atualmente é configurado de forma a replicar a estrutura departamen-
tal responsável pela direção nacional nas menores abrangências terri-
toriais, as Gerências Executivas, unidades voltadas exclusivamente a
gestão, mais próximas hierarquicamente das unidades prestadoras de
serviços: As Agências da Previdência Social. Assim, numa tentativa de
padronização da estrutura e rotinas de trabalho, é possível espelhar
estruturas de gestão e execução, seja na Administração Central, em
Brasília, numa cidade interiorana do nordeste, ou mesmo no centro da
capital paulista, resguardadas as devidas proporções.

510
A inclusão do quesito raça/cor
no cadastro dos trabalhadores

A inclusão dos campos raça/cor e nome social no CNIS ocorreu


em 10/03/2017. No que diz respeito ao Nome Social, o ajuste atende
ao Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016, que dispõe sobre o uso do
nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas
travestis e transexuais, no âmbito da administração pública federal di-
reta, autárquica e fundacional.

Quanto ao preenchimento do campo, o Memorando Circular


SUMÁRIO Conjunto nº 9 DIRBEN/DIRAT/INSS 2017 orienta que:
Ressaltamos que, conforme inciso I, Parágrafo único do Art. 1º
do referido Decreto nº 8.727, o nome social é a “designação
pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é so-
cialmente reconhecida”, não se confundindo com o apelido..
(INSS,2017, p1).

Já o campo “Cor/Raça” foi incluído em virtude de solicitação


da Casa Civil da Presidência da República, por meio do Aviso Circu-
lar Conjunto nº 01/Gab-C.Civil/PR/MP/SEPPIR, de 28 de dezembro
de 2012. Este normativo orienta a adoção de ações de promoção da
igualdade racial, atendendo as diretrizes estabelecidas no Estatuto da
Igualdade Racial, de 2010. Quanto ao preenchimento do campo cor/
raça, o Memorando Circular Conjunto supracitado orienta no artigo 6
que “O preenchimento do campo “Cor/Raça” é obrigatório, havendo,
ainda, a opção “NÃO DECLARADA”, para os casos em que o filiado
optar por não declarar tal informação.”

511
Dados produzidos pelo INSS

O principal instrumento utilizado pelo INSS para Caracterização


do Trabalhador Brasileiro é o CNIS – Cadastro Nacional de Informa-
ções Sociais, base de dados alimentada e utilizada não somente pelo
INSS, mas por diversos órgãos governamentais. Estima-se que em
2022 o referido cadastro contemple mais de 35 milhões de brasileiros.

O Decreto 10.047 de 09/10/2019 instituiu o Observatório de Pre-


vidência e Informações Sociais, com vistas ao estabelecimento de es-
tratégias de governança do CNIS, objeto de avaliação pela auditoria
SUMÁRIO da CGU em 2020.

Além da caracterização expressa pelo CNIS, a referida repar-


tição também utiliza de instrumentos específicos da área de saúde
do trabalhador, constituindo-se num rico acervo de informações, de
abrangência nacional, elementar na avaliação e formulação de políti-
cas públicas.

• Nexo Técnico Epidemiológico - NTEP cuja caracterização é


realizada durante a perícia médica no INSS e através de onde
são construídos os parâmetros;

• Formulários de avaliação multiprofissional dos trabalhadores em


Programa de Reabilitação Profissional do INSS, de por meio
do qual se correlaciona o adoecimento com a profissão/ativida-
de desempenhada e histórico ocupacional;

• Parâmetros adotados na caracterização da Pessoa com Defi-


ciência para fins de acesso ao Benefício de Prestação Conti-
nuada, o qual tem historicamente amparado os trabalhadores
sem cobertura previdenciária.

• O Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS e o Anuá-


rio Estatístico de Acidentes de Trabalho - AEAT.

512
Racismo Estrutural: Desdobramentos
no Mercado de Trabalho Assalariado
e de Cobertura Previdenciária

“A presença do racismo no mercado de trabalho vem sedimen-


tando uma divisão racial do trabalho.” (ALVES, 2022, p.2013.)

Situar a pauta racial no âmbito da Política de previdência so-


cial no Brasil implica em remontar ao processo de formação da clas-
se trabalhadora brasileira, profundamente marcado pela escravização
compulsória dos povos africanos, forçosamente trazidos ao território
brasileiro, e a construção de uma sociedade altamente desigual em
SUMÁRIO
favorecimento de uma minoria branca.

Compreender a centralidade da questão racial na constituição


da classe trabalhadora brasileira implica em resgatar o percurso his-
tórico do país, enquanto nação, em constituição e já consolidada. Ao
longo dos 522 anos desde a ocupação portuguesa foram 388 anos de
economia assentada no processo de escravização, em contrapartida
a constituição de trabalhadores livres, data de 134 anos.

O fim da escravidão significou a manutenção da situação de


apartação do negro socialmente, abandonando-o à sua própria sorte,
sem qualquer garantia econômica, de segurança e de assistência.
O Estado entendeu que a concessão da liberdade tornava os escra-
vos responsáveis por si mesmos, estando ele e os ex-senhores de
escravos desobrigados com os libertos. O sucesso ou fracasso de
cada um deveria ser o resultado de sua ação, uma vez que os negros
tinham adquirido a pessoalidade humana, portanto responsável por
si mesmo. Assim, teriam os ex-escravos que produzir o seu êxito e
realizar as suas necessidades.

Segundo Theodoro (2008) o trabalho escravo, núcleo do siste-


ma produtivo do Brasil Colônia, vai sendo gradativamente substituído

513
pelo trabalho livre no decorrer dos anos 1800. A força de trabalho que
era majoritariamente composta por escravos e uma menor parcela de
negros e mulatos livres e/ou libertos, inclusive nos centros urbanos
vai sendo substituída de uma forma particularmente excludente. Me-
canismos legais, como a Lei de Terras, de 1850, a Lei da Abolição,
de 1888, e mesmo o processo de estímulo à imigração, forjaram um
cenário no qual a mão-de obra negra passa a uma condição de força
de trabalho excedente, sobrevivendo, em sua maioria, dos pequenos
serviços ou da agricultura de subsistência.

Autores como Souza (2017) remontam que a abolição legal da


escravatura ocorreu de forma gradual, atendendo as necessidades
SUMÁRIO de incorporação dos ideários capitalistas, em alinhamento à dinâmica
internacional. Entretanto não se foi pensando no estabelecimento de
políticas de integração da mão de obra outrora escravizada, enquanto
trabalhadores remunerados. Do contrário foram incentivadas e massi-
ficadas teorias eugenistas, sob a proposta de embranquecimento da
população para a constituição do então emergente Estado Nação. Ten-
do como estratégias principais a difusão da miscigenação positiva e
o estímulo a imigração europeia. Aos povos africanos exilados e seus
descendentes foi relegado o subemprego e a desproteção.

Como bem dispõe Bastide e Fernandes “em conexão com a


desorganização do trabalho e com a desintegração da sociedade es-
cravocrata, o negro foi parcialmente eliminado do mercado de traba-
lho” (BASTIDE; FERNANDES, 1971, p. 63-67), ocupando assim, dentro
da sociedade de classe, os extratos sociais mais vulneráveis. Desta-
ca-se enquanto nascente desse cenário a desvalorização do trabalho
manual, com repercussões até a contemporaneidade, sobretudo no
que diz respeito ao trabalho doméstico, como assinala Kowarick apud
Estanislau nesse processo de rejeição causado pela ordem escravo-
crata qualquer trabalho manual passa a ser considerado como coisa
de escravo e, portanto, aviltante e repugnante.”

514
As mesmas ideias racistas que atribuíam superioridade e infe-
rioridade a diferentes indivíduos por origem e fenótipos nos sé-
culos de escravidão também pautaram e determinaram a cons-
tituição do trabalho livre e do capitalismo no território brasileiro.
(ORTEGAL,2018,p.419-420)

Da mesma forma atrela-se a ideia de incapacidade da popula-


ção afrodescendente de desempenhar trabalho intelectual, ou mesmo
ocupar cargos de chefia e liderança. E, no espectro do colorismo, “[...]
quanto mais escura a cor da pele, mais as ofertas de trabalho serão
precarizadas e desprotegidas. [...]” (EURICO, 2018, p.522)

Como fruto do processo de resistência dos povos africanos es-


cravizados e seus descendentes, politicamente estruturado através do
SUMÁRIO
Movimento Negro organizado, observa-se uma singela estruturação
legislativa, com reflexos ainda mais tímidos nas condições de vida des-
sa população.

No ano de 1951, fora aprovada a primeira lei que passava a


tornar discriminação racial como contravenção penal a discriminação
racial, a Lei 1.390/50 ou chamada Lei Afonso Arinos, uma homenagem
ao autor da proposta legislativa. Pela primeira vez no ordenamento pá-
trio criminalizava a discriminação racial.

No ano de 1966 surge a Convenção internacional de Pela Elimi-


nação de Todas as Formas de Discriminação Racial, passando o Brasil
a ser signatário no ano de 1968. O Brasil participou do referido acordo
entre países soberanos, tendo se comprometido com a criação de leis
que evitem qualquer tipo de discriminação.

Em 1967 a Constituição Brasileira trouxe um dispositivo que as-


segurava punição contra o preconceito de étnico, no Art. 150.

Apesar dos avanços legislativos e jurídicos, materializados espe-


cialmente na efetivação de políticas reparativas, desde o início dos anos
2000, ainda há muito a se caminhar. Nos termos de Silvio Almeida, a
própria forma de funcionamento do Estado brasileiro está configurada

515
para a reprodução e manutenção do racismo, ou seja, constitui as re-
lações no seu padrão de normalidade, aqui diz-se sobre o conceito do
Racismo Estrutural. Essa reflexão é muito importante para retirar o racis-
mo do campo do ato individual e moral para entendê-lo como um pro-
cesso “em que as condições de organização da sociedade reproduzem
a subalternidade de determinados grupos identificados racialmente”
(ALMEIDA,2020, p.105). Ainda segundo o mesmo autor o Racismo Es-
trutural é formado através do tripé: Economia, Política e Subjetividade.

Como produto desse histórico, ao longo de gerações, a po-


pulação negra vem sendo majoritariamente inserida em postos de
trabalho informais desenvolvendo atividades braçais e com menores
SUMÁRIO remunerações.

A exposição dos dados abaixo objetiva delinear um comparativo


no que diz respeito à inserção no mercado de trabalho, evidenciando
as assimetrias de raça/cor, tendo como marcador temporal a efetivação
das políticas reparativas nas duas primeiras décadas dos anos 2000.

Tabela 1 – Inserção no mercado de trabalho segundo cor ou raça, 2001

Todos Brancos Negros


Taxa de participação 69% 68% 70%
Taxa de desemprego 6% 6% 7%
Tipo de vínculo
Funcionário Público 8% 9% 7%
Com carteira 30% 32% 26%
Sem carteira 14% 12% 17%
Conta própria 27% 26% 28%
Empregador 5% 7% 3%
Empregador doméstico 8% 6% 9%
Outros 8% 8% 9%

Fonte: IBGE. PNAD, 2001. Elaboração Disoc/Ipea a partir dos microdados

516
Embora os dados expressam desvantagens para as pessoas
negras em todos os cenários, destaca-se as discrepâncias no que diz
respeito ao trabalho formal/informal.

No infográfico abaixo (IBGE,2012-2018) há maior detalhamento


das informações, a desigualdade racial no rendimento médio aparece
tanto no emprego formal quanto no informal. Ela apresenta um fosso ain-
da maior quando a comparação é entre as duas categorias de emprego.
Um trabalhador formal branco ganha, em média, 3,1 vezes o rendimento
médio de um trabalhador informal negro. Em média, o rendimento de
uma pessoa negra empregada formalmente está muito mais próximo do
rendimento de uma pessoa branca empregada informalmente do que
SUMÁRIO de uma pessoa branca que também trabalha com registro.

Ou seja, “O racismo articulou raça/cor com classe social de tal


forma que a pobreza continua concentrada nas pessoas de cor, sejam
negras, sejam indígenas.” (SILVEIRA et al.,2018, p.6)

No quesito gênero as mulheres brancas ganham mais do que


negras, e homens brancos, mais do que homens negros, mostram
os dados do IBGE. De 2012 até 2018, a diferença entre as mulheres
cresceu levemente, de 66% para 71%. Já entre os homens, houve leve
queda, de 83% para 78%.

As desvantagens primordiais criadas pela escravidão, pela na-


tureza da abolição, pela subsequente ausência de políticas públicas
de inserção na educação e na força de trabalho, pela miséria material,
pelo isolamento social e pela restrição à participação política dos ne-
gros no Brasil contribuíram e contribuem para a formação e manuten-
ção desse cenário. (ARAÚJO apud SILVA et al., 2017, p.101)

Assim, pouco mais de um século após a abolição da escrava-


tura a negação do racismo convive com os racismos estrutural, insti-
tucional e recreativo, com as desigualdades no acesso à educação e

517
ao mercado trabalho formal, com o genocídio da juventude negra e os
discrepantes índices de morbimortalidade, por vezes mascarados en-
quanto oriundos da desigualdade social. No âmbito da análise sobre
a influência do racismo na estruturação de Políticas Públicas Almeida
(2018) e Bento (2001) vem demonstrando que este se manifesta ora
sob o silenciamento quanto a questão racial ora enquanto política de
letalidade. Procópio (2020) afirma que a descobertura previdenciária
das pessoas pretas se configura enquanto fator estruturante desta po-
lítica pública e não como mera negligência.

Para Eurico (2018, p. 522)

SUMÁRIO “[...] há entre o racismo e o capitalismo uma articulação for-


talecida pela ideologia racial, essencial para a dinâmica das
relações sociais na contemporaneidade e que justifica, ainda
que não explique, o pauperismo de parcela majoritária da po-
pulação negra brasileira. A permanência histórica desse grupo
em patamares vexatórios e a forma como as políticas públicas
vêm se desenvolvendo sob o mito da democracia racial leva a
uma pretensa inclusão dos diferentes no acesso aos bens e
serviços, cunhada pelo discurso da igualdade jurídica.” (EURI-
CO,2018, p.522)

Mapeamento racial
do servidor público brasileiro

A Lei 12.990 de 2014 que determinou a reserva de 20% das


vagas para negros, nos processos seletivos para os quadros da ad-
ministração pública federal é parte do conjunto de políticas que visam
reparar7 os danos causados pelo processo de escravização. O intuito
legislativo é de aproximar o perfil racial do quadro da administração

7 Segundo Piovesan apud Santos e Diana (2018) as ações afirmativas são “políticas compen-
satórias, tratando-se de poderoso instrumento de inclusão social, construído por medidas
especiais e temporárias, que procuram aliviar e remediar um passado de discriminação”.

518
pública com a realidade brasileira. Estudo realizado junto aos servido-
res públicos federais em 2014 levantou a presença de 22,4% de pardos
e 4% de pretos vinculados ao Poder Executivo Federal.
“Até a edição da Lei 12.11/2012 que instituiu a reserva de vagas
no sistema de educação superior e do ensino médio federal
para pretos, pardos e indígenas, esta ação afirmativa tinha um
caráter fragmentado, tendo sido disseminada pelo Brasil ao lon-
go de mais de 10 anos, de modo heterogêneo, por meio de ini-
ciativas locais, como a deliberação de conselhos universitários
e leis estaduais [...]. (DANFLON et al.,2013, p.320)

A avaliação desta política pública foi objeto de estudos como o


de Santos e Diana (2018) que realizou um comparativo no quadro de
SUMÁRIO
pessoal da Polícia Federal constatando uma “alteração significativa do
perfil racial dos aprovados nos processos seletivos, aproximando-os do
perfil racial da população brasileira” (PIOVESAN apud SANTOS, DIA-
NA,2018, p.951). Considerou ainda que, embora haja um beneficia-
mento racial, os pretos pobres foram pouco alcançados.

Estudiosos apontam a necessidade de um conjunto articulado


de políticas públicas que contemplem as 3 dimensões: ações valorati-
vas, ações repressivas e ações afirmativas. Sendo as ações valorativas
voltadas ao combate de estereótipos negativos e as políticas repressi-
vas buscam a coibição do ato discriminatório, com sanções vigentes
na esfera penal. (ESTANISLAU,2015)

“Eu sou preta! Trago a luz que vem da


noite”8: problemáticas associadas à
afirmação/negação da negritude.

A ideia de raça e o próprio racismo não acabam com o fim do


trabalho escravo. Com a introdução do modo de produção capitalista
8 “Preta”, música de Mariene de Castro e J. Veloso.

519
e a constituição de trabalhadores livre foi preciso o estabelecimento de
uma Política de Estado para perpetuação do status quo no período pós
escravidão. Assim a produção da racialização vigora como estratégia
após a escravidão para lidar com a discrepância de poderes: uma
massa de trabalhadores em sua maioria negros X uma pequena elite
branca detentora de poder. Ocorrendo uma reconfiguração da atuação
do Estado para dar conta de reproduzir as subjetividades racializadas
no período pós escravidão.

Sendo estabelecidas as estratégias para a “Reprodução da


pobreza geracional e de mecanismos de permanência da população
negra nas áreas de maior vulnerabilidade econômica, política, social,
SUMÁRIO bem como a desqualificação de suas culturas e práticas religiosas.”
(EURICO, 2018, p. 519)

A ciência contribuiu por meio da teoria eugenista, tendo desta-


que para nomes como Nina Rodrigues e Gilberto Freire, este que em
sua conhecida obra “Casa Grande Senzala” apresenta o Brasil como
um palco romântico da democracia racial. Sua teoria da mestiçagem
positiva romantiza o processo de branqueamento populacional por
meio do estupro de mulheres negras e indígenas.

Ortegal (2018) apresenta três principais características do racis-


mo no Brasil:
“a) O fato de estar mais associado à cor da pele e do fenótipo do
que à origem racial de um indivíduo [...] preconceito racial de
marca em oposição ao preconceito racial de origem (Idem?
Como fica);

b) a capacidade de operar no cotidiano e produzir apartação


sem realizá-lo explicitamente, o que ficou conhecido como ra-
cismo cordial. (Turra e Venturi, 1995);

c) a capacidade de operar sem explicitar aquele que o opera,


apelidado de racismo sem racistas [...]. (ORTEGAL,2018, p.421)

520
O racismo se trata, portanto, de uma prerrogativa que justifica as
desigualdades materiais e simbólicas baseada na ideia de raça, tendo
como mecanismo a permanência dos privilégios de um grupo sobre
outro. (SCHUCMAN apud RODRIGUES, MIRANDA e ALMEIDA, 2022).

Enquanto elemento constituidor das assimetrias raciais autoras


como Cida Bento elucidam a importância evidenciar o Pacto Ideológico
da Branquitude, o qual, sinaliza a autora, não é um acordo combinado,
mas estruturado a partir de bases objetivas e subjetivas, utilizando-se do
discurso da meritocracia e, porém, defendendo rigorosamente a cen-
tralização do poder, nas diferentes estruturas, dentro do mesmo grupo,
contribuindo para a perpetuação das iniquidades. Sendo, nesse ínterim,
SUMÁRIO fundamental desmistificar a ideia do branco enquanto ser universal e
como parâmetro para a construção identitária de outros grupos.

Como consequência do estigma da exclusão e segregação so-


cial, da restrição no acesso a bens e serviços, atrelado ao processo
de desumanização e desvalorização da identidade negra, o racismo
provoca também impactos subjetivos:
“[...] O racismo estruturante molda nossas relações cotidianas e
nossas subjetividades, constituindo sujeitos negros que, diante
da opressão, dor, estigma, humilhação e processo de subal-
ternização encontram dificuldades de se reconhecer em sua
negritude.” (RODRIGUES; MIRANDA; ALMEIDA, p. 2022, p.7)

Estudo realizado por Silveira et al. (2018, p.7) a respeito da coleta


do quesito raça/cor na Atenção Básica de Saúde no Sul do Brasil iden-
tificou a existência de três aspectos principais referentes ao preenchi-
mento deste quesito: “(1) existe a dificuldade em perguntar/responder
a autodeclaração racial; (2) o racismo se expressa na coleta do quesito
raça/cor; (3) os(as) profissionais de saúde têm dificuldade em reconhe-
cer a utilidade do quesito raça/cor.”

521
Assim, o que deveria ser um questionamento como qualquer
outro, no âmbito da caracterização dos sujeitos entrevistados se tor-
na tema complexo, de forma a ser omitido, silenciado ou mesmo ten-
sionado. O que expressa o quanto a sociedade brasileira ainda não
amadureceu sobre as consequências do processo de escravização e
diáspora dos povos africanos para constituição de seu território.

Cuti apud Silveira et al. (2018, p. 8) “analisa o mesmo que a


sociedade branca tem de utilizar a palavra negro, pois, ao pronunciá-
-la, emerge toda a perversidade do nosso passado escravocrata e do
abandono da população negra.”

O racismo vivenciado pela população afrodescendente brasi-


SUMÁRIO leira tem ambiguidades muito singulares, visto que o Racismo Cordial
que evita a possibilidade de criação da identidade racial como ação
política. A atuação do movimento negro vem sendo fundamental por
meio da utilização de estratégias de valorização e preservação da iden-
tidade e cultura negra. Processos que são primordiais para frente às
cicatrizes provocadas por séculos de desumanização e depreciação.

A autoafirmação da negritude é quem permite elucidar a ma-


terialização do racismo. É fundamental operar com a noção de raça
enquanto categoria social e política.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo contribuiu para reafirmar a importância da utilização


do quesito raça/cor na caracterização de trabalhadores atendidos
pelo INSS. A desagregação racial é também estratégia política que
permite coletivizar questões que são estruturais e independem da
força de vontade individual, tal qual é difundido pelo discurso da
meritocracia. A questão racial é estruturante da sociedade brasileira,
portanto, se não houver mudanças nesse campo não haverá efetivas
mudanças na sociedade.

522
A pesquisa possibilitou ainda perceber pelas referências e fon-
tes analisadas que a Política de Previdência Social segue aquém das
demais políticas que compõem o tripé da Seguridade Social: Assis-
tência Social e Política Saúde no que diz respeito a consideração das
iniquidades raciais perante o público assistido. A inserção do quesito
raça/cor foi feita recentemente, sem a promoção de capacitações ou
diálogos com o corpo de servidores. De outra forma, reflete também
uma tendência visualizada também nas demais políticas quanto a fra-
gilidade na apropriação e utilização do quesito raça/cor, quando é in-
serido atendendo a orientações normativas, havendo uma carência no
que diz respeito a capacitação para o preenchimento.
SUMÁRIO

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524
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VIOTTI DA COSTA, Emília. Da monarquia à República. São Paulo: UNESP, 1999.

525
23
Capítulo 23

O serviço público e o atendimento ao cliente: uma


perspectiva a respeito da qualidade e satisfação
da sociedade diante dos serviços públicos

Suziane Nascimento Bandeira

Michéle Tancman Cândido da Silva

Marcelo Hideki Togo

Suziane Nascimento Bandeira

Michéle Tancman Cândido da Silva

Marcelo Hideki Togo

O serviço público
e o atendimento ao cliente:
uma perspectiva a respeito da qualidade
e satisfação da sociedade diante
dos serviços públicos

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.23
SUMÁRIO
Resumo:
O presente estudo tem como objetivo analisar a importância da qualidade e
satisfação no atendimento ao cliente considerando a prestação de serviços
públicos. E especificamente, destacar o atendimento prestado pelos serviços
públicos aos usuários; descrever a percepção dos usuários dos serviços quan-
to à qualidade no atendimento prestado pelos serviços públicos; e pontuar
os fatores de satisfação e insatisfação dos clientes acerca da qualidade do
atendimento prestado pelos serviços públicos. A metodologia trata-se de pes-
quisa bibliográfica e descritiva, que visa a disposição de discussão a partir da
análise de artigos compreendidos no período de 2017 a 2022. Como resultado,
obtiveram-se 09 trabalhos acadêmicos acerca da qualidade e satisfação no
atendimento ao serviço público. O serviço público é a entrega que é esperada
pelo cidadão (pagador de impostos) com respeito ao desempenho do serviço
governamental. A sua aceitação e aprovação depende da qualidade que satis-
faz ao usuário desses bens e serviços ofertados pelo Estado. Contudo, grande
parte dos problemas que influenciam o desempenho do serviço público são os
servidores públicos e a falta de gestão da qualidade, que é diretamente men-
surada pela insatisfação da sociedade. Todavia, é possível recuperar essa di-
vergência através da disposição de critérios de qualidade para planejamento
e organização do serviço público; padronização dos atendimentos ao público;
foco no cidadão-usuário (requer em conhecê-lo em suas necessidades e ex-
pectativas); mais agilidade no acesso aos serviços públicos; disseminação
de obrigações de natureza burocrática; adoção de medidas de desempenho
de servidores; e mensuração contínua dos serviços ofertados.

Palavras-chave: Atendimento ao cliente; Serviço Público; Qualidade.

527
INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a gestão pública passou a demandar novas


práticas e novas habilidades para suportar sua atuação no serviço pú-
blico. Isto é, com as constantes modificações econômicas, sociais e
tecnológicas que o país tem passado, os usuários do serviço público
estão mais exigentes e conscientes de seus direitos buscando uma
maior qualidade e satisfação na utilização deles.

Nesse sentido, têm-se a seguinte indagação: “Como é possível


promover a qualidade e satisfação no atendimento ao cliente/cidadão
SUMÁRIO na prestação dos serviços públicos? ”

Compreende-se que, atender ao público é fundamental tanto


nas organizações públicas quanto nas privadas. Logo, essa qualidade
no atendimento alicerçada a satisfação da população, representa o es-
pelho da entidade perante o público. Logo, se o atendimento for bom,
a imagem que o cliente/cidadão construirá sobre o órgão será boa.
Caso contrário, o cliente não terá uma boa imagem do órgão.

Deste modo, o objetivo desta pesquisa é analisar a importância


da qualidade e satisfação no atendimento ao cliente considerando a
prestação de serviços públicos. E são objetivos específicos: destacar o
atendimento prestado pelos serviços públicos aos usuários; descrever
a percepção dos usuários dos serviços quanto à qualidade no atendi-
mento prestado pelos serviços públicos; e pontuar os fatores de satis-
fação e insatisfação dos clientes acerca da qualidade do atendimento
prestado pelos serviços públicos.

Em suma, este trabalho se justifica pela relevância acadêmica,


social e política. Uma vez que, analisar a percepção da sociedade
diante do atendimento ao público dentro dos serviços básicos do Es-
tado é fundamental para que, enquanto discentes da gestão pública

528
sejamos modificadores de atitudes e então, passemos a compreender
que o Estado deve ser responsável do bem-estar dos cidadãos, logo,
prestar um atendimento de qualidade a esses indivíduos colabora não
somente com a perpetuação da entidade pública mas promove uma
melhor visibilidade sociopolítica para a entidade pública.

Além disso, vale compreender que, uma das dificuldades no se-


tor público está relacionado ao atendimento ao cidadão, embora possa
haver outros implicadores. Com isso, a qualidade no atendimento deve
ser desenvolvida através de políticas públicas para que haja um bom
funcionamento destes órgãos e entidades para que assim eles possam
ter sua finalidade cumprida mediante a sociedade. Afinal, é um desafio
SUMÁRIO para Administração Pública satisfazer seus usuários em qualquer esfera.

Mediante tal explanação é imprescindível que seja um tema ex-


plorado e desenvolvido através de pesquisas que possam assistir esta
área de conhecimento. Portanto, o tema do artigo tem relevantes aspec-
tos para a análise da percepção dos usuários em relação à qualidade e
satisfação do atendimento prestado pelos serviços públicos brasileiros.

REVISÃO TEÓRICA

Serviços no setor público

Serviço trata-se do oferecimento de alguma forma de trabalho.


Veja, na concepção de Wirtz, Hemzo e Lovelock (2020), os serviços
são como uma forma de aluguel por meio da qual os clientes podem
obter benefícios.

Ainda de acordo com os autores supracitados, um serviço


é uma atividade econômica realizada de uma parte para outra. Es-
sas execuções geralmente são baseadas em tempo e produzem o

529
resultado desejado para um beneficiário, objeto ou outro ativo. Em tro-
ca de dinheiro, tempo e esforço, os clientes de serviços esperam valor
do acesso a trabalho, habilidades, conhecimentos, commodities, ins-
talações, redes e sistemas (WIRTZ; HEMZO; LOVELOCK, 2020).

Em outros termos, trata-se da prestação de mão de obra basea-


da no conhecimento, aptidões, instalações, entre outros. Cuja finalida-
de é o exercício de uma atividade econômica remunerada. Contudo,
no que tange os serviços no setor público, Carvalho Filho (2016) elu-
cida que, são caracterizados como serviços de saneamento, de trans-
porte, de saúde, de segurança, de limpeza entre outros. Sendo assim,
o poder público deve gerir tais serviços de forma direta ou indireta,
SUMÁRIO muitas são as dificuldades encontradas no gerenciamento e na pres-
tação destes serviços (CARVALHO FILHO, 2016).

Logo, a Constituição Federal do Brasil (1988, p. 56) atribui ao


poder público a titularidade dos serviços públicos em geral, descrito
no artigo 175, caput “Incumbe ao poder público, na forma da lei, direta-
mente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de
licitação, a prestação de serviços públicos”. Ainda, elucida que tal lei,
no parágrafo IV, possui a obrigação sobre a manutenção dos serviços
públicos adequadamente (BRASIL, 1988).

Contudo, o serviço público sofre retaliações quanto às insatisfa-


ções geradas ao longo dos anos em boa parte da sociedade brasileira
principalmente no atendimento direto ao público por inúmeras causas,
tais como: morosidade, burocracia e insuficiência (RIBEIRO, 2019). De
acordo com Cobra (2020), em um bom atendimento, um funcionário deve
identificar o que o cliente ou usuário de um serviço deseja em termos de
atendimento e manter sempre a liderança durante esse processo, ado-
tando, inclusive, medidas preventivas que inibam um mau atendimento.

É importante que existam formas de minimizar esse problema,


afinal o usuário merece ter um bom atendimento. Dessa maneira,

530
Cobra (2020, p.204) constata que “é importante exercer controle do de-
sempenho do serviço e de seus funcionários – visando medir o índice
de satisfação do consumidor” e procurar identificar as demandas da
sociedade como um todo.

Nesse sentido, o atendimento ao cliente/cidadão diz respeito


a satisfazer as demandas de informação, produtos ou serviços apre-
sentados pelo cidadão. Cobra (2020) complementa que a prestação
de um serviço público de qualidade engendra confiança na instituição.
Logo, é necessário proporcionar ao usuário um serviço de qualidade,
pois um atendimento eficaz evita contestações e então, a satisfação do
cliente/cidadão (MARTINS; NUNES, 2013).
SUMÁRIO
Considerando uma sociedade cada dia mais evoluída e alimen-
tada de informações imediatas, a administração pública teve que se
adequar a um novo cenário de atendimento ao público, em que cida-
dãos se tornaram mais exigentes (COSTA, 2021). Assim, a qualidade
no atendimento ao público tornou-se um dos principais alicerces do re-
lacionamento entre as empresas/entidades e seus clientes/cidadãos.
Logo, conforme Cézar (2019), as organizações públicas têm buscado
ter esta percepção de seus usuários buscando modelos de gestão que
possam direcioná-los a esta vertente.

Portanto, o serviço público é caracterizado pela tentativa do


Estado em ofertar determinados serviços com o objetivo de atender
necessidades básicas da população, sendo então, delimitado e men-
surado pelo atendimento dado ao cidadão cuja finalidade está em sa-
tisfazer as necessidades da população.

531
Satisfação do cliente/cidadão

A satisfação está relacionada à disponibilização de produtos e


serviços com qualidade que atenda às demandas ligadas à expectativa
dos clientes. Logo, colaborando com essa ideia, Zacharias; Figueiredo;
Almeida (2016) e Kotler (2018) afirmam que, manter a satisfação exige
trabalho e estudos que apontem a disposição do usuário em relação ao
que está sendo entregue pela empresa, tendo isto, possibilitará aprimo-
rar seu desempenho para melhor atender o que lhe é solicitado.

Para Willer (2016), a definição de satisfação como sendo uma


SUMÁRIO atitude orientada para o efeito emanado de clientes que compraram o
produto com suas determinadas expectativas a respeito dele. Caso o
produto não atenda tais expectativas, os consumidores ficarão insatis-
feitos; porém, estando acima, estarão satisfeitos (WILLER, 2016).

Nesse sentido, a qualidade de um serviço prestado é um ponto


de grande influência na fidelização de clientes, pois essa qualidade
vai gerar a satisfação do mesmo que por sua vez irá manter uma boa
relação cliente – empresa. De modo que, a satisfação dos clientes é
uma estratégia que as empresas utilizam para alcançar suas metas.

De acordo com Kotler (2018), a satisfação é observada quando


são fornecidos produtos e serviços de qualidade que atendem às ex-
pectativas do consumidor. Logo, o cliente analisa a empresa a partir
de diversos aspectos que se tornaram extremamente importantes na
criação de novas formas de atender a empresa e melhorar sua estrutura,
fazendo com que o cliente se sinta parte da empresa, criando um rela-
cionamento direto entre a organização e o consumidor (KOTLER, 2018).

Dessa maneira, compreende-se que a satisfação requer o en-


tendimento da demanda e expectativa dos clientes, fazendo com que
os objetivos internos da empresa se voltem exatamente para essa

532
questão. Para tanto, é importante avaliar constantemente o nível de
satisfação, procurando agir tanto de forma preventiva quanto corretiva.
Conforme Ribeiro (2019), o atendimento envolve a racionalização dos
serviços em relação ao pessoal de trabalho, ao material/equipamento
utilizado, às instalações/edifícios e aos métodos de trabalho.

Considerando os serviços públicos, a satisfação está não somen-


te ligada a fatores institucionais, mas ao contexto do atendimento dado
pelo servidor público, que muitas vezes, não possui preparo específico
para tal função (SANTOS, 2019). Além disso, deve-se entender que, a
prestação de serviço de atendimento de alta qualidade no setor público
é mais complexa e depende de uma gama de repartições públicas que
SUMÁRIO trabalham em conjunto para atender a população (SANTOS, 2019).

Nota-se por Erdmann (2011), que então, considerando a nova


gestão pública e sua orientação ao público, participação e controle so-
cial, o zelo pelo atendimento é fundamental para garantir boa relação e
a satisfação das expectativas do cidadão. Ainda para o autor, determina-
dos fatores são intrínsecos à qualidade de um serviço: a cordialidade, a
confiança, a credibilidade, a competência, a capacidade de entender e
de satisfazer as necessidades do cidadão (ERDMANN, 2011).

Portanto, considera-se as dimensões dadas a qualidade do


atendimento como um serviço público de qualidade, na qual é criado
um vínculo Estado e cidadão.

As dimensões da qualidade no serviço


para o atendimento ao cliente

A qualidade do serviço consiste na geração de lealdade criada


entre cliente e empresa, sendo um dos fatores principais de fideliza-
ção, ou seja, trata-se da realização do atendimento preciso condizente

533
com o que o cliente tem buscado para suprir as suas necessidades.
É também, a entrega de um produto/serviço não sendo apenas com a
qualidade, como também busca-se gerar a confiança necessária para
que os mesmos possam retornar para futuras aquisições dentro das
empresas (SILVA; MACHADO, 2019). Kirchner, Kaufmann e Schmid
(2010, p.11) asseveram que requisitos de qualidade são elencados
pelo consumidor ou pela coletividade mediante suas expectativas e
desejos confirmando que a qualidade no atendimento está direciona-
da para a satisfação destes.

Sendo assim, a qualidade busca a precisão, o uso adequado


de recursos seja humano ou produtivo e não está restrita a uma úni-
SUMÁRIO ca definição, mas a um conjunto de atributos e definições que foram
evoluindo ao longo dos anos conforme as transformações que foram e
estão ocorrendo no mundo.

Nesse sentido, as empresas buscam alcançar os resultados


referentes à qualidade do produto/serviço para atender a demanda
conforme as necessidades. Em relação aos serviços de atendimento
não é diferente, pois o cliente tem buscado o diferencial em termos de
qualidade nesta prestação de serviço, onde as impressões deixadas
em seu atendimento inicial acabam influenciando de forma positiva ou
negativamente em seu processo de decisão.

De acordo com Silva e Machado (2019), a qualidade voltada


para a prestação de serviços é de suma importância para as empresas
em termos de estratégia e gestão, possibilitando que o produto/serviço
esteja em conformidade não apenas em relação ao atendimento das
necessidades, como também a confiabilidade gerada aos mesmos
para assim garantir a satisfação, sobretudo, na prestação de serviços
relacionados ao atendimento, que por sua vez, torna-se como meio
para avaliar as impressões referentes à imagem para o mercado.

534
Com isso, as empresas visam a realização de uma avaliação
quanto à qualidade dos serviços dentro das 5 (cinco) dimensões, cujo
objetivo está em analisar as expectativas geradas por parte dos clien-
tes, por meio da ferramenta chamada SERVQUAL, sendo um dos mé-
todos eficientes para mensurar a satisfação dos mesmos diante dos
serviços prestados pelas organizações. Esta avaliação é fundamental
para que possa fazer as devidas correções e/ou o aprimoramento tan-
to para a venda quanto para o atendimento ao público para garantir a
sua satisfação (OLIVEIRA et al., 2018).

A tangibilidade é o uso adequado de insumos e ferramentas


dos quais atendam a demanda de clientes. Além disso, a conservação
SUMÁRIO dos mesmos é primordial dentro desta dimensão, pois é o que dá as
condições para que os colaboradores possam cumprir com as suas
metas da organização (CARVALHO; PALADINI, 2012).

Já a confiabilidade é considerada como uma das dimensões


mais importantes, em virtude da confiança gerada aos clientes em re-
lação ao produto e/ou a prestação de serviço, demonstrando não ape-
nas a qualidade, mas também a capacidade de atender à necessidade
com clareza, precisão e cordialidade (MÁZARO et al., 2014).

Em seguida, a receptividade representa a motivação em aten-


der os clientes, bem como a agilidade e o interesse na solução de
quaisquer problemas que possam surgir, dando a devida prioridade
para que os mesmos tenham a satisfação acerca do atendimento (MÁ-
ZARO et al., 2014).

A segurança está ligada tanto o conhecimento sobre o produ-


to/serviço quanto a capacidade em atender a demanda de clientes
conforme as suas necessidades, desde que o atendimento ocorra
com qualidade para que se sintam seguros ao adquiri-los. A empatia
é a dimensão na qual os responsáveis pelo atendimento devem ter a
atenção, a dedicação, a cordialidade e a flexibilidade para lidar com

535
quaisquer públicos que buscam suprir as suas necessidades (SILINS-
KE; FONTOURA, 2019). A seguir, os pontos positivos e negativos de
cada dimensão (quadro 1):

Quadro 1 – Pontos Positivos e Negativos das


Dimensões da Qualidade de Serviços

CLASSIFICAÇÃO
DIMENSÃO
POSITIVA NEGATIVA
Serviço satisfatório em relação a reali-
zação assertiva, no tempo combinado
Avaliação negativa do serviço devido
e de forma precisa, conforme pedido.
a erros e lentidão em alguma etapa
Confiabilidade Também significa fazer o processo da
do processo, além de a empresa não
maneira correta desde a primeira vez
inspirar confiança em seus usuários.
SUMÁRIO e a organização inspirar confiança e
compreensão por seus colaboradores.
Serviço satisfazendo o usuário devi- Serviço satisfazendo o usuário devi-
do à atenção personalizada para cada do à atenção personalizada para cada
Empatia cliente e a partir do conhecimento das cliente e a partir do conhecimento das
necessidades e vontade de auxiliar os necessidades e vontade de auxiliar os
consumidores em atingir suas metas. consumidores em atingir suas metas.
Serviço bem avaliado por causa da Avaliação negativa dos usuários por
rapidez na prestação dele e informa- causa da não entrega do serviço pedi-
ção assertiva sobre o acontecimento do, demora em realizar alguma etapa
Receptividade
do processo, além de contemplar dis- do processo e falta de afinco no que
ponibilidade imediata do prestador do tange a sanar as necessidades dos
serviço na resolução de problemas. clientes.
Avaliação positiva devido a sensação
Má avaliação da dimensão por causa
de segurança passada por colabora-
da insegurança, seja em âmbito de
Segurança dores da organização na realização
negociações ou no que se refere ao
dos mais variados processos que a
tratamento interpessoal.
empresa oferta.
Instalações físicas e posse de equi-
Espaço físico ou materiais utilizados
pamentos modernos e visualmente
durante o processo de entrega do
atrativos, colaboradores adequados e
Tangibilidade serviço depreciados, publicidades
limpos e publicidades agradáveis aos
inconvenientes e colaboradores mal-
usuários impactando positivamente
vestidos e malcheirosos.
na análise da qualidade.

Fonte: Adaptado Silva e Machado (2019).

536
Portanto, a satisfação é correlacionada às percepções dos
usuários suas próprias expectativas em relação ao serviço e a qualida-
de de atendimento está associada ao que este usuário deveria esperar
deste serviço e o que lhe foi entregue.

METODOLOGIA

A metodologia adotada nesta pesquisa classifica-se como pes-


quisa descritiva, uma vez que são correlacionadas as variáveis das
quais são apresentadas dentro do contexto do tema. Conforme Gil
SUMÁRIO
(2019) trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujo material utilizado
como base para o seu desenvolvimento encontra-se através de Teses,
revistas, livros e afins.

Quanto ao método e forma de abordar o problema será apli-


cado o método qualitativo, sendo incluso a realização das análises
textuais dentro da proposta de abordagem do tema (RICHARDSON,
2017). Conforme Lakatos (2017), o objetivo da pesquisa qualitativa é a
obtenção da compreensão qualitativa do problema. A mostra é tomada
por um número pequeno de casos.

Em outros parâmetros, Vergara (2016) elucida que a forma quali-


tativa trata os dados por meio de codificação, apresentando-os de for-
ma estruturada e analisando-os. Logo, diante dos resultados obtidos,
será realizado um cruzamento de informações em relação a percepção
dos cidadãos-usuários, dos servidores atendentes que irá gerar a inter-
pretação se os utilizadores dos serviços estão ou não satisfeitos com a
qualidade dos serviços prestados.

Este estudo foi desenvolvido por meio de revisão bibliográfica


e sistemática e coleta de dados on-line, onde as bases de dados fo-
ram artigos, monografias e dissertações. Quanto a análise o estudo é

537
transversal, do tipo não experimental e utiliza uma abordagem qualita-
tiva para análise dos dados, tendo como suporte teórico-metodológico
hipotético-dedutivo. Ou seja, o conjunto de regras básicas ou procedi-
mentos que produzem o conhecimento científico.

Para a seleção dos trabalhos acadêmicos foram levados em


consideração a aplicação de critérios de inclusão: publicações entre
2017-2022, trabalhos acadêmicos em texto completo, publicações em
português, gratuitos e que atendessem os objetivos da revisão. Inte-
grativa. Como referencial de critérios de exclusão: publicações anterio-
res ao ano de 2017 foram descartadas desta pesquisa. Cujo descrito-
res foram: Atendimento; Serviço Público; Qualidade no atendimento.
SUMÁRIO
Artigos entre 2017 a 2022 da base de dados da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e periódicos
de universidades e revistas da área de gestão pública.

A coleta dos dados não é estruturada e sua análise não é es-


tatística. Assim sendo, na análise quantitativa do levantamento biblio-
gráfico, considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram sele-
cionados artigos bibliográficos, relatos de casos, teses e monografias.

Para a análise dos dados, segue-se a orientação metodológica


de Marconi e Lakatos (2022), que preconiza:

a) transcrição e leitura das informações;

b) ordenamento dos dados, classificando-os em categorias;

c) análise final.

Tendo como escopo, os artigos publicados em língua portugue-


sa e/ou inglesa entre os anos de 2017 e 2022. Excluindo-se da amostra
os artigos publicados que não apresentarem o texto na íntegra, artigos
repetidos e os que não atenderem os objetivos deste artigo.

538
A busca na base de dados é orientada pelas palavras-chave:
“Atendimento, “serviço Público”, “Qualidade no atendimento”, em to-
dos os índices das plataformas supracitadas, buscando captar o maior
número de artigos publicados no período proposto que abordem a
temática escolhida. E os dados serão compilados em uma tabela no
Excel 2019 para o processo de escolha dos artigos e trabalhos sele-
cionados pós leitura.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
SUMÁRIO

Como resultado, obtiveram-se 09 trabalhos acadêmicos acerca


da qualidade e satisfação no atendimento ao serviço público, sendo
delimitados abaixo.

539
Tabela 1 – Artigos selecionados para discussão.

N AUTOR/ANO TÍTULO METODOLOGIA RESULTADOS


1 SILVA, D. S.; Percepção da burocracia existen- Pesquisa de Observa-se que a maioria dos pesquisados con-
OLIVEIRA, J. te em um serviço público com Campo sidera o tempo de atendimento, a agilidade e
de. (2018) foco na melhoria de processos praticidade no atendimento adequado. As infor-
mações constantes no edital e a complexidade
envolvida no procedimento de matrícula são as
características com maior campo de melhorias.
2 BENTO, Francilucia A importância da gestão da Pesquisa de Segundo a avaliação dos participantes a pontua-
R.F.; LIMA, Márcia qualidade: um estudo de opinião Campo lidade e atenção no atendimento médico, o con-
M.L. (2018) pública sobre a qualidade no forto oferecido ao paciente, educação, cortesia,
atendimento do serviço de agilidade e rapidez na recepção, pontualidade na
saúde cidade de Caririaçu - CE entrega dos exames, como sendo os fatores que
caracterizam um atendimento de qualidade
SUMÁRIO 3 CASTRO, Eduardo A Importância da Qualidade do Pesquisa O envolvimento dos servidores na busca de so-
Alves (2018) Atendimento na Prestação de Bibliográfica luções de qualidade constitui um aspecto fun-
Serviços no Setor Público. e de campo damental nos processos de melhoria. Para que a
mesma seja contínua, é preciso que as pessoas
procurem sempre o aperfeiçoamento e nunca a
acomodação, que é uma das reclamações por
parte dos clientes. Uma boa forma de combinar
o envolvimento das pessoas com a melhoria
contínua é utilizar-se do conceito de círculos de
qualidade.
4 SALDANHA, A qualidade do atendimento Pesquisa A qualidade no atendimento aliado às tecnologias
Evanginaldo Silva; com a utilização da tecnologia exploratória da informação foram satisfatórias, na melhoria
PEREIRA, Amanda da informação na escola profis- com abordagem dos serviços prestados aos usuários aumentan-
Conrado (2021) sional Doutor José Alves da Sil- qualitativa do o nível de satisfação e agilidade, na forma de
veira em Quixeramobim – Ceará. perceber os processos de inovação tecnológica
para tornar a organização um espaço interativo
com mais diálogo, interação e agilidade no fluxo
dos processos.
5 CARRAZZONI, Qualidade no serviço público: Pesquisa Com base nos resultados alcançados, verificou-
Rebeca Sá do proposta de aplicação do Aplicada -se a necessidade da modernização da gestão
Nascimento; Método MASP no Tribunal pública neste setor, por meio de novas tecnolo-
et al. (2021) de Justiça da Paraíba gias e metodologias para otimização de proces-
sos e atividades, de modo que tal abordagem
pode se estender também para outros setores
similares. Com efeito, a razão para a perspectiva
gerencial no serviço público deve ser o atendi-
mento das necessidades dos cidadãos-clientes.

540
6 COSTA, Gilson Qualidade no atendimento ao Estudo explora- Os resultados revelam que a percepção dos
Feijão da. (2021) usuário do serviço público: tório e descritivo usuários em relação ao serviço de orientação
uma avaliação da qualidade profissional, indica um alto nível de satisfação.
do atendimento em uma Foi possível notar que a orientação profissional
prefeitura municipal é uma ação da Intermediação de Mão de Obra
- IMO, que está ligada ao Sistema Nacional de
Emprego - SINE do governo federal, que presta
atendimento humanizado voltado aos trabalha-
dores em situação de desemprego e contribui
para o retorno destes ao mundo do trabalho.
7 PEREIRA, R.R. Indicadores de desempenho Pesquisa biblio- O estudo aponta que o processo de imple-
et al. (2021) como ferramenta na gestão da gráfica e Análise mentação de indicadores é considerado
qualidade no serviço público de Bardin didático para uma melhor compreensão e
ação dos agentes internos a fim de trabalhar
a melhoria dos resultados na gestão pública
SUMÁRIO 8 VANZINI, PR.; Análise dos fatores que Pesquisa de ca- Capacitação de pessoas, para que sintam
AGUILERA, RC.; determinam a percepção ráter qualitativo prazer em servir e que se sintam motivadas
BISPO, TODOS .; de uma boa qualidade no e comparativo pelo constante desafio de solucionar os
SANTOS, RL dos .; atendimento ao público. problemas e/ou dúvidas dos clientes/usuá-
PEREIRA, AG.; SIL- rios. Em que se verificou a arrecadação de
VA, RL da .(2021) diversos benefícios que a uma boa percepção
no atendimento ao público, dentre os quais se
destacam: pagamento e/ou uso de tecnologias
e aplicativos com a administração pública;
9 FRATEZI, Flávia Construção e Validação de Pesquisa de A pesquisa permitiu validar um conjunto de
Renata (2020) Indicadores para Monitoramento Campo indicadores passíveis de monitorar a qualidade
da Qualidade Assistencial em assistencial em centros dias, subsidiando
Centros Dia para Idosos. gestores e profissionais na proposição de
estratégias e na tomada de decisão efetiva para
qualificar o cuidado e a avaliação em saúde.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).

541
Partindo dos artigos expostos, a qualidade no atendimento dian-
te da nova perspectiva da Administração Pública trata o cidadão como
cidadãos-clientes e possui como foco novas atividades, dinamizan-
do suas funções e resultando na prestação de serviço com qualidade
para o seu público-alvo (CARRAZZONI et al., 2021).

Ainda de acordo com Carrazzoni et al. (2021), considerando que


o conceito de qualidade se tornou sinônimo de satisfação total dos
clientes, na prestação dos serviços públicos o atendimento ao interes-
se do cidadão e a disposição de informações menos burocráticas são
o principal objetivo da qualidade do atendimento do serviço público.

SUMÁRIO Segundo Saldanha e Pereira (2021), as instituições públicas


têm buscado novas formas de aprimorar a qualidade de atendimento,
compilando o seu principal objeto de serviço, a informação - capaz de
influenciar o negócio da organização, tornando-se base para a compe-
tição. Logo, a transparência e objetividade na resolução de problemas,
com práticas de gestão consolidadas em resultados das instituições
públicas são o início de um bom gerenciamento e atendimento ao pú-
blico (SALDANHA; PEREIRA, 2021).

Conforme Vanzini et al. (2021), o atendimento é a vitrine da


entidade pública, onde os servidores são um importante elo entre
o cidadão e a administração pública, e sua atuação é a base da
representação institucional. Portanto, a administração pública exige
práticas modernas de gestão e melhoria contínua dos processos e
serviços públicos, sendo os cidadãos em geral os maiores beneficiá-
rios (VANZINI et al., 2021).

Todavia, Castro (2018) afirma que não existe uma fórmula mági-
ca que solucione a situação do atendimento no setor público, exceto
através da adoção de estratégias aplicadas ao cliente. Visto que, o en-
volvimento dos servidores na busca de soluções de qualidade constitui
um aspecto fundamental nos processos de melhoria.

542
Segundo Castro (2018), a globalização, a integração e a velo-
cidade da comunicação influenciaram as atitudes dos consumidores
que hoje exigem o melhor desempenho dos produtos e serviços, sem
tolerância para tempo, falha ou qualidade dos produtos ou serviços
prestados. Tais preceitos são também evidenciados no âmbito do ser-
viço público (CASTRO, 2018).

A partir da percepção e do estudo de Vanzini et al. (2021), as


entidades públicas estão sofrendo influência do setor privado, no sen-
tido de desenvolver e aprimorar suas atividades, com foco no resul-
tado do serviço prestado. Portanto, não se trata apenas de introduzir
modelos idealizados no mundo empresarial, mas sim de reconhecer
SUMÁRIO que as novas funções do Estado em um mundo integrado exigem no-
vas competências e novas estratégias administrativas (VANZINI et al.,
2021; COSTA, 2021).

Nos estudos de Bento e Lima (2018) os principais parâmetros


enfatizados pelos cidadãos dentre a disposição e o atendimento pú-
blico são pontualidade, educação, cortesia, agilidade e rapidez na
recepção, que por muitas vezes são falhos em repartições públicas,
principalmente em serviços básicos como saúde. Além desses fato-
res, menciona-se a humanização, que se refere ao ato de olhar para o
cidadão não somente como um indivíduo presente na sociedade, mas
como um ser humano que possui necessidades assim como aquele
que o está atendendo (BENTO; LIMA, 2018).

Conforme Silva e Oliveira (2018), a burocracia inserida nos servi-


ços públicos é parte integrante dos mesmos. No entanto, o formalismo
excessivo que às vezes surge na esfera pública deve ser combatido,
sob pena de impor à sociedade as consequências de um serviço de-
ficiente e que demanda morosidade (SILVA; OLIVEIRA, 2018). Portan-
to, reduzir ou mesmo eliminar as barreiras burocráticas atenderá com
mais eficácia as inúmeras necessidades da população que busca a
administração pública (SILVA; OLIVEIRA, 2018).

543
Em outros termos, as barreiras burocráticas existentes nos servi-
ços públicos precisam ser reduzidas ou mesmo eliminadas. O objetivo
de desburocratizar e facilitar a vida dos usuários dos serviços públicos,
agilizar a prestação de serviços e eliminar custos e procedimentos des-
necessários (SILVA; OLIVEIRA, 2018). Então, melhorar a satisfação do
cliente nos serviços públicos.

Outros fatores citados por Vanzini et al (2021) são que, os servi-


ços prestados pelo poder público, em grande parte, não atendem às
necessidades dos clientes. As reclamações continuam a surgir devi-
do a atrasos no atendimento, longas filas, má qualidade do serviço,
instalações instáveis, falta de talento humano e profissional, falta de
SUMÁRIO materiais e recursos materiais, etc (VANZINI et al, 2021). Nas atuais
circunstâncias, a prestação de serviços de qualidade aos clientes do
setor público é uma preocupação constante do setor público, e o setor
público deve mudar sua estrutura e práticas de gestão para esse fim
CARRAZZONI e tal., 2021).

De acordo com Pereira, Pacheco e Pedro Filho (2021), o serviço


público é a entrega que é esperada pelo cidadão (pagador de impos-
tos) com respeito ao desempenho do serviço governamental. A sua
aceitação e aprovação depende da qualidade que satisfaz ao usuário
desses bens e serviços ofertados pelo Estado.

Ainda de acordo com os autores, grande parte dos problemas


que influenciam o desempenho do serviço público são os servidores
públicos e a falta de gestão da qualidade, que é diretamente mensurada
pela insatisfação da sociedade (PEREIRA; PACHECO; PEDRO FILHO,
2021). Fratezi (2020) afirma que, só é possível a eficácia, eficiência e
confiabilidade na realização dos serviços públicos diante de um moni-
toramento feito por gestores comprometidos com a entidade pública.

Na percepção de Vanzini et al (2021), um dos gargalos da admi-


nistração pública se presencia nos serviços de atendimento ao público.

544
Todavia, é possível recuperar essa divergência através da disposição
de critérios de qualidade para planejamento e organização do serviço
público; padronização dos atendimentos ao público; foco no cidadão-
-usuário (requer em conhecê-lo em suas necessidades e expectativas);
mais agilidade no acesso aos serviços públicos; disseminação de obri-
gações de natureza burocrática; adoção de medidas de desempenho
de servidores; e mensuração contínua dos serviços ofertados.

Portanto, finalizando com Bento e Lima (2018) qualidade dos


serviços públicos envolve a comparação das expectativas e percep-
ções dos cidadãos sobre os serviços prestados. O serviço prestado
deve atender às reais necessidades do usuário, e o serviço deve aten-
SUMÁRIO der integralmente às expectativas do usuário. Manter a qualidade des-
se serviço ao longo do tempo traz confiabilidade à entidade pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se, portanto, que a problemática disposta na pesquisa foi


devidamente respondida. Uma vez que, a qualidade de serviço é algo
que existe no dia a dia de qualquer organização, seja ela pública ou
privada, e para que tenha bom andamento é necessário que os clientes
estejam satisfeitos com os serviços prestados. Por isso, o servidor preci-
sa estar bem preparado e voltado para esse serviço. Assim sendo, é ne-
cessário desenvolver um modelo que, além de beneficiar os cidadãos,
também possa cooperar no desenvolvimento das instituições públicas.

Quanto aos objetivos propostos na pesquisa, destacar o atendi-


mento prestado pelos serviços públicos aos usuários, evidenciou que,
o serviço público sofre retaliações quanto as insatisfações geradas ao
longo dos anos, pela sociedade brasileira, devido a morosidade, bu-
rocracia e insuficiência

545
No que tange o objetivo de descrever a percepção dos usuários
dos serviços quanto à qualidade no atendimento prestado pelos ser-
viços públicos, na prestação dos serviços públicos o atendimento ao
interesse do cidadão e a disposição de informações menos burocráticas
são o principal objetivo da qualidade do atendimento do serviço público.

E por fim, os fatores de satisfação e insatisfação dos clientes


acerca da qualidade do atendimento prestado pelos serviços públicos.
São insatisfação, a burocracia acerca do atendimento ao cidadão e a
morosidade – considerando que uma repartição pública depende da
outra. E então, para a satisfação do cliente menciona-se a humaniza-
ção, que se refere ao ato de olhar para o cidadão como um ser humano
SUMÁRIO que possui necessidades humanas e de empatia.

Portanto, nota-se que a promoção da qualidade no atendimen-


to público apesar de ser uma tarefa difícil considerando a magnitude
da estrutura organizacional do Estado, pode ser possível através da
disseminação de burocracia e promoção de elementos de relações
entre os servidores e os cidadãos. Dessa forma, o grande desafio da
administração pública será elevar o padrão dos serviços prestados aos
cidadãos e torná-los mais conscientes de seus direitos.

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24
Capítulo 24

A Importância da Cogestão em Unidades de Conservação:


O Caso do Parque Estadual Sumaúma em Manaus – AM

Erick Alves de Brito Coelho

Alex Santiago Nina

Marcelo Hideki Togo

Erick Alves de Brito Coelho

Alex Santiago Nina

Marcelo Hideki Togo

A importância da cogestão
em unidades de conservação:
o caso do parque Estadual
Sumaúma em Manaus – AM

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.24
SUMÁRIO

Resumo:
O Parque Estadual Sumaúma é uma Unidade de Conservação, com 51 hec-
tares, criado em 5 de setembro de 2003 por mobilizações sociais, localizado
no bairro Cidade Nova, na cidade de Manaus/AM, sendo o primeiro parque
urbano do Estado do Amazonas. A cogestão busca o desenvolvimento de
estratégias gerenciais sob uma base democrática e colaborativa entre os re-
presentantes do órgão oficial gestor e a população local e (ou) tradicional. Este
estudo tem como objetivo geral analisar o Plano de Gestão do Parque Estadual
Sumaúma, destacando a importância da cogestão como ferramenta de mode-
lo para a sustentabilidade socioambiental em Unidades de Conservação em
ambiente urbano. A metodologia consiste no levantamento documental para
recapitulação histórica das Unidades de Conservação, compreendendo o pe-
ríodo de (1934 – 2022). Os resultados ressaltaram a importância da cogestão
para a representatividade dos interlocutores dos arredores, nas questões da
Unidade de Conservação, para a promoção da sustentabilidade socioambien-
tal. Portanto, é compreensível que a cogestão só será difundida com uma real
interlocução dos agentes socioeconômicos e políticos, ressaltando a impor-
tância das áreas verdes para a zona urbana de Manaus, em especial o Parque
Estadual Sumaúma, como um espaço não só visitação, mas como um local
de uso sustentável dos seus recursos naturais e para o aumento do conforto
térmico da região mais populosa de Manaus.

Palavras-chave: Cogestão; Plano de Gestão; Sustentabilidade Socioambiental;


Unidades de Conservação.

551
INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação (UCs) são espaços territoriais e


seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com carac-
terísticas naturais importantes, legalmente instituídos pelo Estado Bra-
sileiro, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção da legislação ambiental, dentro dessa categorização os Par-
ques Estaduais estão na mesma categoria dos Parques Nacionais, no
caso em análise a da categoria II e categorizados de acordo com a o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000).
SUMÁRIO
A gestão ambiental é um modelo disciplinar que trata a admi-
nistração do exercício de atividades econômicas e sociais de modo
que objetiva a utilização sustentável e racional dos recursos naturais.
Diante disso, o papel do gestor é auxiliar diretamente a gestão das
Unidades de Conservação com a responsabilidade de apoiar a pre-
servação dos recursos naturais, o desenvolvimento socioambiental e
cultural das comunidades tradicionais locais (SAHDO et al., 2021).

O Parque Estadual Sumaúma (PAEST) é uma Unidade de Con-


servação, cuja criação deu-se através do decreto n° 23.721 de 5 de
setembro de 2003, possui 51 hectares, cerca de 509.983,16 m². Criado
por mobilizações sociais, o parque localiza-se no bairro Cidade Nova,
na cidade de Manaus/AM, e se tornou o primeiro parque urbano do
Estado do Amazonas (AMAZONAS, 2011).

Este trabalho se justifica pela importância da cogestão para o


Parque Estadual Sumaúma (PAEST), uma vez que tal modelo de ges-
tão leva em conta o pensar e o fazer coletivo, sendo, portanto, uma
diretriz ética e política que visa democratizar as relações interlocutórias
e interpessoais entre diferentes sujeitos e agentes socioeconômicos e
políticos (SILVA et al., 2021).

552
Inúmeros estudos como os de Andrade e Iadanza (2016); Bueno e
Lima (2020); Costa e Cavalcante (2020); Sahdo e colaboradores (2021);
Silva e Coelho (2022); Silva e colaboradores (2021) e Souza (2014); des-
tacam como a cogestão pode contribuir ainda para sustentabilidade em
Unidades de Conservação, trazendo voz aos interlocutores da socio-
biodiversidade como os indígenas, quilombolas e dentre outros povos
tradicionais remanescentes na gerência conjunta, reforçando ainda mais
os benefícios de preservação e conservação dos recursos naturais.

Diante disso, o presente trabalho busca responder ao seguinte


problema de pesquisa: como a cogestão contribui para a promoção da
sustentabilidade socioambiental no Parque Estadual Sumaúma? O ob-
jetivo geral é analisar o Plano de Gestão do Parque Estadual Sumaúma,
SUMÁRIO
destacando a importância da cogestão como ferramenta de modelo
para a sustentabilidade socioambiental em Unidades de Conservação
em ambiente urbano. Os objetivos específicos visam: a) Apresentar o
Plano de Gestão e as características gerais do Estadual Sumaúma; b)
Identificar os cumprimentos dos objetivos socioambientais no Parque
Estadual Sumaúma; c) Destacar a importância da Cogestão Democrá-
tica em uma Unidade de Conservação.

REVISÃO TEÓRICA

Histórico das Unidades


de Conservação (Uc) no Brasil

No Brasil, o embrião de alguma proposição de criar áreas de


preservação ocorreu no fim do período imperial. Apenas seis anos
depois da criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados
Unidos, o engenheiro e inventor André Rebouças propôs, em 1878, a
criação de um parque na região do maciço do Itatiaia, no Rio de Janei-
ro, após visitar a região. No entanto, a iniciativa falhou, sendo criada no
mesmo ano a Estação Biológica de Itatiaia, um polo de pesquisas sob

553
a responsabilidade da época do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
(ANDRADE; IADANZA, 2016).

Após o fim do Império e com a criação da República em 1889,


passaram-se algumas décadas até que no início da década de 1930
com o Decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930 no início do
governo de Getúlio Vargas, que já planejava a criação de áreas de pro-
teção (ARAÚJO, 2012a). O Quadro 1 mostra os eventos que ocorreram
na Era Vargas (1930 – 1945) para a temática do meio ambiente:

Quadro 1 – Fatos Históricos da Era Vargas


(1930 – 1945) no contexto socioambiental

SUMÁRIO Acontecimento Data Contribuição


Decreto 23.793 1934 Aprovação do código Florestal Brasileiro
Ficou incumbido ao ministério da Agricultura classificar,
as várias regiões e as florestas protetoras e remanescen-
Promulgação da
1934 tes, localizar os parques nacionais, e organizar florestas
Constituição
modelo, procedendo para tais fins, ao reconhecimento
de toda a área florestal do país.
Onde foi alertado para a devastação das florestas em
Acontecimento da Primei- todas as regiões do país, enfatizando a necessidade de
ra Conferência Brasileira 1934 sua conservação. Apresentou duas argumentações: uma,
de Proteção à Natureza se referindo a natureza como um recurso econômico e a
outra, como objeto de culto
O botânico Alberto Sampaio escreve sobre o seu concei-
Publicação da Obra:
1934 to de proteção à natureza, sob a influência das ideias do
Phytogeografia do Brasil
político e intelectual Alberto Torres.
Publicação da Obra: Foi apresentado pelo botânico Alberto Sampaio um pro-
1935
Biogeografia Dinâmica grama efetivo para a proteção da natureza.
Criação do primeiro A partir da criação do parque, uma área de mais de 11
parque nacional no Brasil: 1937 mil hectares foi instituída nas terras da Estação Biológica
Parque Nacional do Itatiaia do Itatiaia, no Rio de Janeiro.
Firmamentos dos Atender às demandas de borracha dos aliados na Segun-
1942
Acordos de Washington da Guerra Mundial.
Regulou o preço da madeira exportada pelo país e pro-
Criação do Instituto
1942 porcionou a ampliação dos conhecimentos técnicos e
Nacional do Pinho – INP
científicos acerca da exploração dos recursos naturais.

Fonte: Baseado em BRASIL (1934) e Araújo (2012a).

554
A expectativa era de que os parques nacionais fizessem suces-
so com o desenvolvimento do turismo, nos moldes do que ocorre com
os parques norte-americanos. No entanto, ao contrário do modelo es-
tadunidense, o Brasil não contava com uma infraestrutura favorável ao
turismo e com uma preocupação do governo, no tocante da integração
do território nacional (ARAÚJO, 2012a). E isso segue com as ações da
Quarta República Brasileira, como consta no Quadro 2.

Quadro 2 – Fatos Históricos da Quarta República


(1945 – 1964) no contexto socioambiental

Acontecimento Data Contribuição


Criação do primeiro espaço da vida 1945 Proteção ambiental no Estado do Espí-
SUMÁRIO silvestre: no município de Sooretama rito Santo.
– ES.
Criação da primeira Floresta Nacional 1946 Proteção ambiental nos estados do
da Região Nordeste a floresta Araripe- Ceará, Pernambuco, Piauí e Rio Grande
-Apodi do Norte
Criação do Parque Nacional de Paulo 1948 Proteção ambiental nos Estados da
Afonso Bahia, Alagoas e Pernambuco. No en-
tanto, foi extinta devido à construção da
Hidrelétrica de Paulo Afonso no Estado
da Bahia
Criação do Instituto de Pesquisas da 1952 Geração de conhecimentos científicos
Amazônia – INPA sobre a Região Amazônica
Regulamentação do artigo 199 da 1953 Delimitou a Amazônia Legal e instituiu
Constituição Federal o Plano de Valorização Econômica da
Amazônia (PVEA)
Criação dos seguintes Parques Nacio- 1959 – 1961 Criação de áreas de proteção ambiental
nais: Aparados da Serra (RS e SC), em diversos Estados: Ceará, Goiás, Rio
Araguaia (TO), Ubajara (CE), das Emas Grande do Sul e Tocantins.
(GO) e Chapada dos Veadeiros (GO)
Criação dos seguintes Parques Na- 1961 Criação de áreas de proteção ambiental
cionais: do Caparaó (MG e ES), Sete em diversos Estados: Bahia, Distrito
Cidades (PI), São Joaquim (SC), Tiju- Federal, Espírito Santo, Minas Gerais,
ca (RJ), Sete Quedas (PR), de Brasília Piauí, Pará, Paraná, Rio de Janeiro e
(DF), de Monte Pascoal (BA) e a Flo- Santa Catarina
resta Nacional de Caxiuana (PA)

Fonte: Baseado em BRASIL (1934) e Araújo (2012a).

555
Segundo Araújo (2012), embora tenha ocorrido pouca evolução
nas áreas de preservação no período da Quarta República, o cenário
evoluiu a partir de 1961, com a criação de alguns instrumentos favorá-
veis ao desenvolvimento econômico da Amazônia e do Instituto Nacio-
nal de Pesquisas da Amazônia (INPA) para a ciência e tecnologia local.

Com o advento histórico do golpe militar de 31 de março de


1964, segundo Andrade e Iadanza (2016), o novo regime trabalhou o
desenvolvimento econômico do país e expansão agrícola, o governo
necessitou realizar ajustes e expansão das Unidades de Conservação
como consta o Quadro 3.

Quadro 3 – Fatos Históricos no Governo Militar


SUMÁRIO (1964 – 1985) no contexto socioambiental

Acontecimento Data Contribuição


Foi aprovado o Novo Código Flo- 1965 Apresentou uma nova proposta de normas que
restal visava a adequação e a proteção do patrimônio
florestal brasileiro. Previu a criação de parques na-
cionais, florestas nacionais e reservas biológicas
Criação do Instituto Brasileiro de 1967 Deu suporte aos projetos de reflorestamento con-
Desenvolvimento Florestal duzidos pela iniciativa privada, bem como formu-
lou e executou políticas referentes às unidades de
conservação e aos recursos florestais
Criação do Programa de Integração 1970 Visou incluir a economia as Regiões Norte e Nor-
Nacional – PIN deste à Economia Nacional
Criação dos parques nacionais: da 1970 - Criação de áreas de proteção ambiental em diver-
Serra da Bocaina (RJ), da Serra da 1979 sos Estados: Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de
Canastra (MG) e as Reservas Bioló- Janeiro
gicas: de Cará-Cará (MT), de Poço
das Antas (RJ).
Criação da (FLONA) Floresta Na- 1974 As duas primeiras unidades de conservação fede-
cional do Tapajós e do Parque Na- rais criadas na Região Amazônica
cional da Amazônia
Foi proposto o Plano do Sistema de 1972 e Objetivou identificar as lacunas e as áreas protegi-
Unidades de Conservação do Brasil 1982 das de maior importância do sistema de parques
– etapas I e II.
Criação a Floresta Nacional (FLO- 1984 Essa Floresta Nacional (FLONA), surgiu como me-
NA) do Jamari, em Rondônia dida de redução dos impactos ambientais decor-
rentes da obra da rodovia BR-364

Fonte: Baseado em BRASIL (1934), Araújo (2012b) e Andrade e Iadanza (2016).

556
Após regime militar brasileiro, com Carta Magna de 1988, que deu
destaque ao meio ambiente através do artigo 225, que considera que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibra-
do, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-
ções. (BRASIL, 1988).

A partir da década de 1990, houve um fortalecimento da temá-


tica das unidades de conservação ambiental no Brasil. Em 1991, no
governo Collor (1990 – 1992) começou a execução do Programa Na-
cional do Meio Ambiente – PNMA I, contemplando investimentos no
SUMÁRIO fortalecimento institucional, unidades de conservação e proteção dos
ecossistemas. Nesse contexto, tem-se por meta principal a atuação
nas áreas de licenciamento, monitoramento e instrumentos econômi-
cos para a gestão do meio ambiente, em conjunto com os Estados
(ARAÚJO, 2012a).

Na mesma perspectiva de garantir o direito ao meio ambiente


sadio, foi criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –
SNUC através da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 e regulamentada
pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agosto do ano de 2002 (BRASIL, 2002).

A Importância da cogestão
Socioambiental das Unidades
de Conservação

As novas tendências de parques nacionais sustentáveis, que


surgiram no mundo no século XIX e estabelecidas no Brasil a partir da
década de 1930, podem ser embrionariamente identificadas no a par-
tir das conquistas socioambientais incorporadas na Lei 9.984/2000,
que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC) (ARAÚJO, 2012b).

557
Dentre os inúmeros benefícios da criação e expansão de Uni-
dades de Conservação (UC) no Brasil, pode-se destacar a exigência
de conselhos consultivos/deliberativos e de consulta pública para a
criação de alguns tipos de unidades e a valorização das unidades de
uso sustentável. A discussão aprofundada do significado e da apli-
cação do novo paradigma para as unidades de conservação poderá
vir a ajudar no aprimoramento da gestão participativa, das consultas
públicas para a criação dessas unidades e na solução dos conflitos
gerados pela sobreposição de unidades de conservação com terras
indígenas e com territórios ocupados por populações tradicionais e
povos remanescentes (ARAÚJO, 2012b).
SUMÁRIO Desde a criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 1937, no go-
verno Vargas, uma nova geração de conservacionistas trabalhou, ardua-
mente, pela consolidação e ampliação das unidades de conservação no
Brasil. Muito se progrediu, mas é preciso ter a sensibilidade de que muito
ainda precisa ser feito, sobretudo no que tange à expansão das unidades
de conservação, à representatividade dos ecossistemas e à busca da
excelência na gestão das unidades de conservação (ARAÚJO, 2012b).

A partir disso, muitas medidas necessárias para a superação


desses problemas extrapolam a autonomia e as atribuições dos ór-
gãos ambientais, exigindo a elevação do tema ao centro do debate e
decisão sobre o projeto de desenvolvimento do país. Afinal, sem con-
solidar o patrimônio contido nas Unidades de Conservação, o Brasil
dificilmente manterá no futuro o ideário do desenvolvimento susten-
tável. O caminho mais rápido para alcançá-lo passa por radicalizar a
participação dos atores associados a essas unidades na definição dos
destinos de preservação (ANDRADE; IADANZA, 2016).

A gestão ambiental do território está associada a um território


recebedor de políticas públicas e privadas de ordem socioeconômicas
e ambientais, realizando através da intermediação entre os vários tipos
de usos convergentes ou divergentes do território, que se manifestam

558
sobre este modelo de gestão, requerendo assim, a garantia de perma-
necer destes, bem como a possibilidade de conservação e proteção
dos recursos naturais (COSTA; CAVALCANTE, 2020).

Com o objetivo de promoção da gestão participativa, as ONGs


incorporam-se ao cenário das áreas protegidas, especialmente das
UCs de uso sustentável, onde o Estado permite que elas, pela facili-
dade de captar recursos financeiros, assumam seu papel como tuto-
ras, auxiliando as áreas protegidas, de maneira que se afirmam como
cogestoras das UCs estaduais, que, com o passar dos anos, cada
vez mais se territorializam nelas. Assim, o cenário de criação de UCs
no Amazonas apresenta um processo de terceirização da gestão das
SUMÁRIO Unidades, por meio de seus projetos e metodologias participativas
(COSTA; CAVALCANTE, 2020).

A proposta de viabilidade de mosaico ambiental (este modelo


ocorre quando se pretende caracterizar um conjunto de unidades de
conservação em áreas próximas, numa mesma região, as áreas podem
ser justapostas ou sobrepostas, e pertencerem a diferentes esferas go-
vernamentais ou não. No caso do município de Maracanã/PA, mostrou
a necessidade de repensar o modelo atualmente aplicado para adaptar
a gestão das UC na realidade local, considerando a ação dos atores
internos e externos no processo, inferindo que são grandes os desafios
para que se efetive a gestão do território (SILVA et al., 2021).

Onde a legislação do Sistema Nacional de Unidades de Conser-


vação (SNUC) que exige a gestão integrada e participativa na forma
de mosaico que se aplica às UC no município de Maracanã e mesmo
que de forma preliminar, pode se inferir que a gestão em mosaico seria
bastante produtiva e benéfica para o desenvolvimento de ações, sejam
elas, de cunho, econômico, socioambiental. Pois se teria a oportunida-
de de se estabelecer uma importante ferramenta político-administrativa
para reagir aos próprios referenciais da política e de interesse da popu-
lação local (ibid., 2021 p.19).

559
METODOLOGIA

A pesquisa é classificada como qualitativa, uma vez que com-


preende atividades ou investigação podendo ser específicas, traba-
lhando os dados buscando o seu significado, tendo como base a per-
cepção do fenômeno dentro do seu contexto com o uso da descrição
qualitativa (OLIVEIRA, 2011).

Segundo Bardin (2016), a análise de conteúdo possui duas fun-


ções básicas: i) função heurística, que aumenta a prospecção à des-
coberta, enriquecendo a tentativa exploratória; ii) função de administra-
ção da prova em através da análise, busca-se provas para afirmação
SUMÁRIO de uma hipótese.

Este trabalho se utilizará de fontes secundárias bibliográficas e


documentais para uma recapitulação histórica das Unidades de Con-
servação e da importância da Cogestão Ambiental participativa, além
de fontes documentais como a da análise do Plano de Gestão do Par-
que Estadual Sumaúma.

Será utilizado como técnica a análise de conteúdo, que são um


conjunto de técnicas de análise das comunicações focando em obter,
por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
de mensagens, indicadores quantitativos ou qualitativos que permitam
a inferência de conhecimentos relativos às condições de recepção das
variáveis inferidas dessas mensagens (BARDIN, 2016). O Quadro 4
mostra a matriz de análise.

Quadro 4 – Análise Documental acerca do Plano


de Gestão do Parque Sumaúma

O Plano de Gestão estabelece quais são os atores envolvidos nas questões da Unidade de Conservação?
Cumpriu os objetivos socioambientais de uma Unidade de Conservação (UC)?
Como o Plano de Gestão definiu os conceitos chaves para a importância da cogestão no Parque?
Quais são as instâncias de participação democrática e qual a natureza delas?

Fonte: Baseado em Bueno e Lima (2020).

560
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Plano de Gestão do Parque Sumaúma:


Características Gerais

O Parque Estadual Sumaúma, primeira Unidade de Conserva-


ção Estadual da cidade de Manaus, Amazonas, foi criado pelo Go-
verno do Estado do Amazonas, através do Decreto n. 23.721 de 5 de
setembro de 2003 possuindo uma área de 52,62 hectares. Está locali-
zado no bairro Cidade Nova (Figura 1), o bairro mais populoso da cida-
SUMÁRIO de de Manaus com mais de 140 mil moradores, segundo estimativas
do IBGE (2021), sendo estes moradores como os atores de interlocu-
ção com o Parque Sumaúma. No que se refere aos fatores abióticos,
segundo Souza (2014), pode-se afirmar que os relevos que são um
pouco ondulados, apesar disso, a região norte do Parque é bastante
íngreme, possuindo altitudes de até 80 m do nível do mar.

Figura 1 – Localização do Parque Sumaúma na cidade de Manaus

Fonte: OpenStreetMap (2022).

561
O plano de gestão do parque destaca a importância dessa Uni-
dade de Conservação, possuindo finalidades como: i) o ordenamento
do parque considerando os aspectos físicos, biológicos e sociais; ii) a
promoção da gestão por meios específicos, a partir da sua categoria
de manejo; iii) enfatizar a utilização da unidade para fins turísticos, de
recreação e de pesquisas em zonas específicas e por fim, gerar sub-
sídios para a implantação de uma estrutura física, assim como a sua
estrutura organizacional (AMAZONAS, 2011).

A localização do parque, como consta na Figura 1, é na Zona


Norte da Cidade de Manaus, no bairro Cidade Nova, cujas coorde-
nadas de latitude e de longitude são: 3° 02› 06» S 59° 58› 50.67» O. O
SUMÁRIO bairro foi criado no início da década de 1980, data em que as primeiras
residências foram entregues, mas a prefeitura municipal só reconhe-
ceu o local como bairro, através da Lei Municipal nº 287, sancionada
no ano de 1995 (AMAZONAS, 2011).

O bairro inicialmente seria um novo município, devido extensa


área territorial, 1.419,38 hectares, e também por ser distante do centro
de Manaus, no entanto, a centralização política impediu avanços neste
sentido (SOUZA, 2014).

Objetivos Socioambientais

A questão fundiária é bastante debatida, com a reivindicação e


incorporação de terrenos da área do parque como os da rua 47 e da
área sul. Essa última é uma importante área de conexão do parque
com o corredor ecológico do Mindú. Áreas são debatidas no contexto
pós criação do parque, onde lotes foram vendidos anteriormente à sua
criação (AMAZONAS, 2011).

562
A área urbana da cidade de Manaus ocupa em torno de 4% do
seu território total, no entanto concentra mais de 99% da população do
município. Os processos de criação de áreas de preservação na zona
urbana são demandados pela população, que demonstra consciência
ambiental dos moradores do entorno dessas áreas verdes em área
urbana (SOUZA, 2014).

O plano de gestão de ocupação urbana de Manaus está focado


na zona norte, onde as áreas verdes foram e vêm sendo desmatadas
para atender o setor da construção civil. Em consequência foram ve-
rificadas o surgimento de intensas ilhas de calor, em especial na zona
norte, que na década de 1990 não sofria com este desequilíbrio no
SUMÁRIO microclima, ocasionado principalmente pelo desmatamento das áreas
verdes. Neste contexto, concluiu-se que, à medida em que a cidade de
Manaus cresce sem planejamento, em pouco tempo, áreas protegidas
como o Parque Estadual Sumaúma e outras áreas verdes irão desapa-
recer em detrimento do processo de desenvolvimento e expansão da
cidade de Manaus (AMAZONAS, 2011).

Segundo o artigo primeiro da Lei nº 9.985, de 18 de julho de


2000, as Unidades de Conservação são espaços territoriais e seus re-
cursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com característi-
cas naturais importantes, legalmente instituídos pelo Estado Brasileiro,
com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de prote-
ção da legislação ambiental (BRASIL, 2000).

Diante disso, é necessário pensar a gestão ambiental do territó-


rio em unidades de conservação, uma vez que, nesses territórios, exis-
tem dinâmicas de usos, sejam eles convergentes com a conservação
e proteção ambiental ou não. Sendo variados os usos constatados,
de modo divergente a conservação, a exemplo dos desmatamentos,
ocupações irregulares, extração predatória de madeira, entre outros
(COSTA; CAVALCANTE, 2020).

563
A partir das delimitações e estabelecimento do Parque Sumaú-
ma, foram realizadas medidas colaborativas para o enfrentamentos
das questões fundiárias e de possíveis danos ambientais nos arredo-
res da Unidade de Conservação, como a Oficina de Mapeamento Par-
ticipativo, que realizou a percepção ambiental dos moradores da rua
47, sobre os meios de melhorias na estruturais como segurança do
local, medidas socioeducacionais para a sensibilização, reduzindo os
impactos pelas atividades dos moradores no tocante à preservação e
conservação ambiental (AMAZONAS, 2011)

Importância da cogestão democrática


SUMÁRIO

Um dos mecanismos de gestão que facilitam a evolução ‘da ges-


tão ambiental em Unidades de Conservação é a cogestão, que busca
o desenvolvimento dos objetivos e das estratégias de gestão sob uma
base democrática e colaborativa entre os representantes do órgão oficial
gestor e a população local e (ou) tradicional, e que requer responsabili-
dades compartilhadas e participação equitativa (SILVA et al., 2021).

Existem diversos modelos de Unidades de Conservação esta-


duais, como Desenvolvimento Sustentável Campo das Mangabas, Refú-
gio de Vida Silvestre Padre Sérgio Tonetto e Área de Proteção Ambiental
Algodoal-Maiandeua, todas estas localizadas no estado do Pará. A partir
destes modelos, Silva e Coelho (2022) apontam para a relevância da
cogestão entre o Órgão Governamental (OG), representante do Estado,
e seus parceiros (ONGs). Tem-se, de um lado, o poder público com seus
programas de gestão que induzem à participação social e, de outro, os
cogestores com suas atividades voltadas à melhoria da qualidade de
vida e à geração de renda para as populações tradicionais.

A partir da obtenção dos dados sobre a Gestão de Áreas Prote-


gidas, para as UCs da Amazônia legal, os estudos demonstram que as

564
implementações e gestão nas UCs apresentam baixos e médios, en-
quanto os efeitos de processos de usos, ocupações irregulares e des-
matamentos tornam esses territórios, na atualidade, fragilizados quan-
to a sua função de conservação para os quais foram criados. Esse
resultado é um precedente de forma a ceder aos processos de usos e
ocupações ilegais, nestes territórios, e o processo de alterações, que
reflete na implementação e gestão, ou seja, na garantia ou não de pre-
servação e conservação destes (COSTA; CAVALCANTE, 2020).

As informações obtidas apontaram que, em alguns casos, os


sujeitos atuam na gestão por meio de uma gestão participativa, mas
não participante, como por exemplo na construção dos planos de ges-
SUMÁRIO tão, em que as populações locais são envolvidas, por meio de partici-
pação passiva, como fonte de informação ou mesmo para aprovação
das propostas, porém sem a participação ativa no processo de criação
e gestão da Unidade (SILVA; COELHO, 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância da cogestão ambiental inclui o pensar e o fazer


coletivo, sendo, portanto, uma diretriz ética que visa democratizar as
relações entre os interlocutores que utilizam e trabalham com os recur-
sos naturais. A cogestão só será efetivada com uma real interlocução
dos agentes socioeconômicos e políticos.

Diante das conclusões, ressalta-se a importância das áreas ver-


des para a zona urbana de Manaus, em especial o Parque Estadual Su-
maúma, como um espaço não só visitação, mas como um local de uso
sustentável dos seus recursos naturais e aumento do conforto térmico
da região. Recomenda-se aos órgãos ambientais, responsáveis pela
gestão do parque, a sua revisão de categoria de Parque para Reserva

565
de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e repassar a gestão do espaço
para comunidade de seu entorno com a tutoria de Organizações Não
Governamentais, onde o estado terá o papel apenas de fiscalizador,
monitorando os impactos provocados por futuros empreendimentos
que utilizem recursos da sociobiodiversidade.

Frente às limitações desta pesquisa recomenda-se que traba-


lhos futuros, ampliem as discussões para outros segmentos ou até
mesmo para outras espécies de plantas medicinais.
I – Atualizar as fontes primárias realizando visitas na Unidade
de Conservação e arredores, buscando a percepção ambiental
atualizada sobre o Parque Estadual Sumaúma;
SUMÁRIO
II – Pesquisar as atividades socioeconômicas realizadas no
Parque;

III – Desenvolver um núcleo de estudos de caráter multidisci-


plinar nas instituições de ensino públicos e privados a fim de
dar mais amparo científico sobre a importância da cogestão em
Unidades de Conservação.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. P; IADANZA, E. do E. S. Unidades de Conservação no Brasil:
algumas considerações e desafios. Revista de Extensão e Estudos Rurais,
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AMAZONAS. SEMA - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
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568
25
Capítulo 25

Análise dos critérios de seleção de pessoal


de uma Fundação Pública Federal

Caroline Araújo Nascimento

Fernando Thiago

Caroline Araújo Nascimento

Fernando Thiago

Análise dos critérios


de seleção de pessoal
de uma Fundação Pública Federal
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.25
SUMÁRIO

Resumo:
Este estudo teve como objetivo geral analisar os critérios de recrutamento e se-
leção de uma Fundação Pública Federal. Foi realizada uma pesquisa bibliográ-
fica e documental. Os documentos analisados foram o Plano Plurianual (PPA)
e editais de concursos entre os anos de 2019 a 2022. Em relação à pesquisa
bibliográfica a coleta de dados foi realizada no mês de julho e de agosto de
2022, em artigos publicados entre os meses de janeiro 2015 a julho de 2022.
Foram encontradas duas formas de seleção pública, uma realizada por meio
de provas e a outra somente por análise de títulos. Foram analisados vinte
editais referentes entre 2019 e 2022. Os processos seletivos possuem apenas
uma fase de estágio, os resultados são baseados numa única técnica de se-
leção, sendo provas objetivas ou análise de títulos. Por meio desse estudo foi
possível observar que a seleção no setor público é organizada pensando ape-
nas no cargo e não em competências. Para isso é fundamental que haja uma
reformulação dos processos de recrutamento e seleção das Fundações Pú-
blicas de forma a promover a gestão estratégica de pessoas no setor público.

Palavras-Chave: Gestão de pessoas; Recrutamento e Seleção; Gestão Pública.

570
INTRODUÇÃO

A seleção de pessoas funciona equivalente a uma peneira que


permite que somente alguns candidatos possam ingressar na orga-
nização: os que possuem as características mais desejadas. Busca,
dentre as várias pessoas recrutadas, aquelas que são mais adequadas
aos cargos existentes na organização, objetivando aumentar a eficiên-
cia e desempenho do pessoal, ou seja, aquele que irá enriquecer o
capital intelectual da empresa (CARVALHO; NASCIMENTO, 2004).

No processo de seleção, avaliam-se as competências e qualifi-


cações dos candidatos e sua adequação às exigências do cargo. Na
SUMÁRIO
prática, a seleção é um exercício de previsão do desempenho futuro
dos candidatos no cargo, sendo escolhido aquele que aparentar ter
melhor desempenho (SOBRAL; PECI, 2013).

De acordo com o art. 37, inciso II, da CF/88, o ingresso em car-


go ou emprego público será somente com aprovação em concurso
público de provas ou de provas e títulos, dependendo da natureza e
da complexidade do cargo e deverá ocorrer na forma prevista em lei.
Neste caso, deve haver lei no âmbito do órgão público que define quais
as técnicas ou provas serão utilizadas na seleção.

Assim como explicitado para o recrutamento, no concurso pú-


blico todas as fases, os testes e seus respectivos critérios, prazos,
datas, locais e horários devem estar bem esclarecidos no edital de
forma que qualquer interessado compreenda claramente todas estas
informações (SILVA, 2013).

No edital do concurso público ou processo seletivo deverá conter


todas as regras, exigências e condutas do concurso público/processo
seletivo, pois é através do edital que a instituição pública poderá de-
monstrar sua preocupação em obedecer aos princípios constitucionais
que constam no artigo 37 da CF/88, entre eles o princípio da publicida-
de, da impessoalidade, da legalidade, da moralidade e da eficiência.

571
Assim como é realizado concurso para admissão em cargos
públicos, deve ser realizado concurso para as contratações por prazo
determinado de excepcional interesse público. Entretanto, como estas
contratações possuem certo caráter de urgência e são contratações
temporárias, então, este concurso é realizado com técnicas de seleção
mais simples e rápidas, tornando-se, portanto, o que chamamos de
processo seletivo simplificado. Para o processo seletivo simplificado
também é obrigatório o edital, que contenha as mesmas informações
que o edital de concurso público. As diferenças são as formas de di-
vulgação, os prazos mais curtos e as etapas das quais será composto
tal processo (SILVA, 2013).

SUMÁRIO Devido ao princípio da impessoalidade, a instituição pública não


pode permitir qualquer tipo de privilégio a alguém em um processo de
recrutamento e seleção.

De acordo com Silva (2013, p. 92), os requisitos, imposições,


testes e provas de uma seleção devem ser iguais e com os mesmos
critérios de correção para todos os participantes, buscando extinguir
ou reduzir a subjetividade.

Seguindo estes conteúdos abordados, este estudo busca ana-


lisar os critérios de seleção de servidores de uma instituição pública
brasileira. Com isso, o problema de pesquisa levanto foi: quais os cri-
térios de seleção de pessoal de uma Fundação Pública Federal? Como
objetivo geral: analisar os critérios de recrutamento e seleção de uma
Fundação Pública Federal. Tendo como objetivos específicos: (1) Des-
crever os critérios de seleção de pessoal para ingresso na instituição
pública analisada; e (2) Analisar a complexidade dos critérios de sele-
ção de pessoal da instituição pública pesquisada.

Diversos são os problemas estruturais que restringem a sele-


ção de profissionais para cargos públicos no país. Segundo Pacheco
(2010) e Coelho (2015) às deficiências do concurso público está re-
lacionada principalmente à excessiva preocupação com as questões

572
formais em detrimento da atenção aos requisitos profissionais, o que
gera a aprovação de muitos candidatos fora do perfil almejado.

Há uma lacuna de conhecimento em relação a estudos que


analisam os métodos de seleção em instituições públicas brasilei-
ras, dessa forma é necessária uma maior compreensão a respeito do
processo de seleção de profissionais para instituições públicas no
país de forma a identificar as principais falhas e acerto nesse proces-
so. Para melhor compreensão desse processo será possível realizar
procedimentos adequados que permitam a seleção de candidatos
mais qualificados para os cargos, contribuindo assim para uma maior
qualidade do serviço público.
SUMÁRIO

REVISÃO TEÓRICA

A Seleção de Pessoal é uma importante ferramenta utilizada tan-


to em organizações públicas, como em organizações privadas. Para
Lacombe (2005, p. 79), “a seleção abrange o conjunto de práticas e
processos usados para escolher, dentre os candidatos disponíveis,
aquele que parece ser o mais adequado para a vaga existente”.

Como no setor público o planejamento das necessidades de


pessoal é algo raro, normalmente as contratações ocorrem quando
existe um quadro de carência extrema do órgão ou quando o gestor
público que comanda o setor tem poder político e quer reforçar o qua-
dro de “seu” órgão (RENNÓ, 2013).

Esses processos seletivos da instituição objeto de estudo são


regidos pela Lei nº 8.745/1993, que regulamenta a contratação de co-
laboradores temporários na Administração Pública.

573
Conforme o artigo 3° da Lei nº 8.745/1993, o recrutamento do
pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito mediante
processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive
através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público.

Como as pessoas constituem o mais importante ativo de que


dispõem as organizações, devem ser recrutadas e selecionadas com
a maior competência possível, já que falhas nesse processo podem
comprometer outras ações de gestão a serem desenvolvidas poste-
riormente (GIL, 2001, p. 91).

De acordo com Longo (2007) o sistema integrado de GRH no


SUMÁRIO setor público possui diferentes componentes, os quais se ligam e
se inter-relacionam, sendo caracterizados como subsistemas. Esses
subsistemas são denominados: planejamento da força de trabalho;
organização do trabalho; gestão do emprego; gestão de desempe-
nho; gestão da compensação; gestão do desenvolvimento; e gestão
de relações humanas. É necessário que os subsistemas funcionem de
forma adequada, cumprindo seus papéis e mantendo uma inter-rela-
ção que os tornam interdependentes uns dos outros.

No estudo de Omuro, Pereira e Pinto (2015) foi proposto um


processo administrativo de recrutamento e seleção no setor público
integrado ao sistema de GRH da organização pública. Neste estudo
foi elaborado um modelo consistente com as diretrizes da organização
pública, relacionando a seleção de pessoal ao planejamento estratégi-
co organizacional. Também detalhado o processo administrativo de re-
crutamento e seleção de pessoal, as e as três fases que compõem esse
processo. A primeira fase está associada ao dimensionamento da força
de trabalho; a segunda inclui a análise das competências desejadas; e
a terceira aborda a elaboração do edital apoiado “[...] nas competên-
cias requeridas dos potenciais funcionários e nas necessidades atuais
e futuras do órgão público” (OMURO; PEREIRA; PINTO, 2015, p. 42).

574
Desse modo baseado no sistema de GRH no setor público e
na teoria da fragmentação, Martins (2003) e Coelho (2015) propuse-
ram um modelo de desintegração dos subsistemas de GRH referente
ao ingresso no serviço público no Brasil, observado pela “falta de
pontos de contato entre as práticas de gerenciamento alusivas aos
concursos públicos, configurando uma cadeia composta de elos per-
didos” (p. 83) (Figura 1).

Figura 1 – Subsistemas de GRH desintegrados no ingresso no serviço público

SUMÁRIO

Fonte: Adaptado de Coelho (2015).

Na área pública, os governos vêm primando pela profissiona-


lização do serviço público, através da publicação de várias normas
de desenvolvimento dos servidores. No entanto, muitas dificuldades
e desafios permeiam a atuação da área, como a cultura dos papéis e
dos cargos em detrimento dos resultados; a dificuldade de captação
de talentos e da realização de concursos públicos em consonância
com as competências requeridas pela organização e a necessidade
do aprimoramento da cultura de desempenho e de recompensa ba-
seada nos resultados (MOREIRA, 2019).

575
METODOLOGIA

Classificação da pesquisa

Foi realizada uma revisão bibliográfica. A pesquisa bibliográfica,


ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública
em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins,
jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material carto-
gráfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar
o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou
SUMÁRIO
filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas
de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publi-
cadas, quer gravadas (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Quanto à abordagem, a pesquisa pode ser considerada qualitativa


A análise qualitativa é menos formal do que a análise quantitativa,
pois nesta última seus passos podem ser definidos de maneira
relativamente simples. A análise qualitativa depende de muitos
fatores, tais como a natureza dos dados coletados, a extensão
da amostra, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teó-
ricos que nortearam a investigação. Pode-se, no entanto, definir
esse processo como uma sequência de atividades, que envolve
a redução dos dados, a categorização desses dados, sua inter-
pretação e a redação do relatório. (GIL, 2021, p. 133).

Quanto aos objetivos, a pesquisa pode ser considerada descri-


tiva, segundo Prodanov (2013, p. 52)
Nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registra-
dos, analisados, classificados e interpretados, sem que o pes-
quisador interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mun-
do físico e humano são estudados, mas não são manipulados
pelo pesquisador. Incluem-se, entre as pesquisas descritivas,
a maioria daquelas desenvolvidas nas ciências humanas e so-
ciais, como as pesquisas de opinião, mercadológicas, os levan-
tamentos socioeconômicos e psicossociais.

576
Quanto aos procedimentos adotados para a coleta de dados,
a pesquisa foi bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica foi
utilizada para a obtenção do referencial teórico, e durante essa fase,
foram utilizadas as obras e artigos que descrevem sobre o assunto
pesquisado. A característica da pesquisa documental é que a fonte de
coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituin-
do o que se denomina de fontes primárias, de acordo com Marconi e
Lakatos (2021).

Os documentos analisados foram os editais de concursos públi-


cos e/ou processos seletivos entre os anos de 2019 a 2022. Foram se-
lecionados editais publicados nos últimos quatro anos pela instituição
SUMÁRIO objeto de estudo, nos quais constam diferentes formas de inscrição;
possibilidade e não possibilidade de isenção de taxas e critérios de
desempate e recursos.

Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento, denominado


Ficha de coleta, constituído por dados de caracterização dos artigos,
como título do estudo, nome do(s) autor (es), formação acadêmica
do(s) autor(es), área de atuação do(s) autor(es), ano de publicação,
fonte de publicação, local de publicação e objetivo(s) do estudo.

Ao realizar a leitura na íntegra das publicações selecionadas,


foram preenchidas as fichas com os dados de cada material bibliográ-
fico. Após elaborar as fichas para análise dos artigos, as informações
foram categorizadas e analisadas de modo a compreender e discutir
os dados presentes na literatura.

Os critérios de seleção de pessoal foram extraídos dos editais


de concurso público e/ou processos seletivos. Ambos dados foram
tabulados em planilha em Excel para posterior análise.

577
Tratamento dos dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de julho de 2022, em


artigos publicados entre os meses de janeiro 2019 a julho de 2022.
A seleção dos artigos foi por meio dos cruzamentos dos descritores
citados, procedendo então com a leitura do título, resumo dos artigos
e por fim, leitura do texto integral das publicações. Aquelas que res-
ponderam aos objetivos da pesquisa e aos critérios de seleção foram
incluídas para comporem este estudo (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Os dados sobre os critérios de seleção foram tratados por cate-


SUMÁRIO gorias. Sobre a coleta de dados, Marconi e Lakatos (2003) dizem que
é a etapa da pesquisa em que se inicia a aplicação dos instrumentos
elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a coleta
dos dados previstos. Desse modo é possível dizer que esse tipo de
análise de conteúdo busca uma “compreensão espontânea” dos da-
dos obtidos no estudo.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Os dados foram extraídos dos editais publicados nos sites das


instituições públicas. Foram encontradas duas formas de seleção pú-
blica, uma é por meio de provas e a outra é por análise de títulos.
Foram analisados vinte editais referentes aos anos de 2019 a 2022,
apresentados no Quadro 1. Os editais analisados são de cargos tem-
porários da instituição e são regidos pela Lei nº 8.745/1993.

578
Quadro 1 – Dados dos editais de seleção de pessoal

Quant. Avaliação de Avaliação de habi-


Edital Ano Órgão Cargo Escolaridade Avaliação de habilitações
fases conhecimentos lidades técnicas
Agente Censitário Municipal e
01/2019 2019 IBGE Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Agente Censitário Supervisor
Ensino Fundamen- Treinamento auto
01/2019 2019 IBGE Recenseador 2 Prova objetiva
tal Completo instrutivo e presencial.
02/2019 2019 IBGE Analista Censitário Ensino Superior Completo 1 Prova objetiva
03/2019 2019 IBGE Coordenador Censitário Subárea Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
03/2019 2019 IBGE Agente Censitário Operacional Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Agente Censitário Municipal (ACM),
01/2020 2020 IBGE Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Agente Censitário Supervisor (ACS)
Ensino Fundamen- Treinamento auto
SUMÁRIO 01/2020 2020 IBGE Recenseador
tal Completo
2 Prova objetiva
instrutivo e presencial.
03/2021 2021 IBGE Agente de Pesquisas e Mapeamento Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Experiência em teleaten-
04/2021 2021 IBGE Agente de Pesquisas por Telefone Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
dimento/ telemarketing
05/2021 2021 IBGE Supervisor de Coleta e Qualidade Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
06/2021 2021 IBGE Supervisor de Pesquisas Ensino Superior Completo 1 Prova objetiva
07/2021 2021 IBGE Coordenador Censitário de Área Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Agente Censitário de Admi-
08/2021 2021 IBGE Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
nistração e Informática
Agente Censitário Municipal (ACM),
09/2021 2021 IBGE Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
Agente Censitário Supervisor (ACS)
Ensino Fundamen- Treinamento auto
10/2021 2021 IBGE Recenseador 2 Prova objetiva
tal Completo instrutivo e presencial.
Agente Censitário de Pes- Experiência em teleaten-
01/2022 2022 IBGE Ensino Médio Completo 1 Prova objetiva
quisas por Telefone dimento/telemarketing
Supervisor Censitário de Pes-
01/2022 2022 IBGE Ensino Superior Completo 1 Prova objetiva
quisas e Codificação
02/2022 2022 IBGE Agente de Pesquisas e Mapeamento Ensino Médio Completo 1 Análise de títulos acadêmicos
03/2022 2022 IBGE Coordenador Censitário Subárea Ensino Médio Completo 1 Análise de títulos acadêmicos
04/2022 2022 IBGE Coordenador Censitário Subárea Ensino Médio Completo 1 Análise de títulos acadêmicos

Fonte: dados da pesquisa (2022).

579
Os processos seletivos simplificados são realizados por provas
objetivas, e após as convocações terem sido finalizadas e mesmo as-
sim existirem vagas em aberto, são abertos os processos seletivos
complementares que possuem avaliação apenas por títulos acadêmi-
cos, e tem o objetivo de selecionar os candidatos para ocuparem as
vacâncias dos seletivos simplificados.

“De modo geral o processo de recrutamento possibilita à orga-


nização dispor de um número de candidatos superior à quantidade de
cargos a serem preenchidos” (GIL, 2001, p. 98). Diante da análise, a
instituição está selecionando servidores temporários apenas por meio
de conhecimentos técnicos, existem outras competências que preci-
SUMÁRIO sam de outros tipos de avaliação para a seleção das pessoas.

Esses testes avaliam, obviamente, os conhecimentos dos candi-


datos, mas não captam muitas das habilidades necessárias ou as ati-
tudes (como o equilíbrio emocional, a iniciativa, a ambição etc.). Com
isso, muitos órgãos estão buscando inserir outras etapas no processo
seletivo que consigam identificar as habilidades e atitudes, como: cur-
sos de formação e testes psicológicos ou psicotécnicos (RENNÓ, 2013).

A seleção busca avaliar as competências técnicas, mas não


compara com as características do cargo, isso nem sempre mostra
que os selecionados possuem o perfil para se adaptarem ao cargo
vago, favorecendo a rotatividade de cargo em curto espaço de tempo.
É importante comparar o perfil das características dos candidatos e os
requisitos do cargo.

As pessoas são diferentes umas das outras, possuem caracte-


rísticas e comportamentos distintos, agem e reagem de formas diver-
sas à mesma situação, por isso as organizações necessitam selecionar
aquela que melhor realiza as atividades do cargo e melhor se adapta a
cultura organizacional. Neste sentido, as pessoas possuem diferentes
capacidades de aprendizagem e forma de execução das tarefas, que

580
são duas variáveis relevantes de se identificar no candidato, inclusive
de se fazer a projeção desses aspectos a longo prazo (SILVA, 2013).

De acordo com Rennó (2013) não só as características técnicas


das pessoas, mas também os aspectos comportamentais e psicoló-
gicos dos candidatos devem ser analisados. Essa seleção é apenas
para o público externo, os colaboradores internos são impedidos de
assumir outro cargo temporário, em virtude do art.4, inciso III da Lei
8.745/93 que estabelece o prazo de doze meses de contrato tempo-
rário para os selecionados, podendo ser prorrogado, até o máximo de
três anos completos de contrato.

SUMÁRIO Conforme o artigo 6º da Lei 8.745/1993, é proibida a contratação,


nos termos desta Lei, de servidores da Administração direta ou indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como
de empregados ou servidores de suas subsidiárias e controladas.

De acordo com Rennó (2013, p. 345), a prática de se efetuar con-


cursos públicos com um prazo de duração máximo e classificar um gran-
de número de candidatos excedentes (o prazo máximo é de dois anos,
renováveis por mais dois anos), apesar de “dar menos trabalho” e flexi-
bilidade (pois a administração tem sempre um “estoque” de candidatos
para “cobrir” necessidades não previstas), tem ramificações negativas.

Seguindo esta observação, a prática de processos de seleção


em curto espaço de tempo resulta em ingressantes menos capacita-
dos, alta rotatividade e impede a constância de uma cultura organi-
zacional que valorize a gestão do conhecimento e também que exige
frequentemente o processo de treinamento formal e capacitação de
novos integrantes

A Administração Pública deve sempre seguir o princípio da isono-


mia, por isso o acesso aos processos seletivos é livre para qualquer pú-
blico, obedecendo aos limites estabelecidos em legislações específicas.

581
A exigência de ética e transparência e o aumento da escassez
de recursos reforçam a necessidade de eficácia, descentralização e
transformações nas práticas de gestão de pessoas no setor público.
É importante que haja mais flexibilidade de estruturas organizacionais
muito rígidas e da capacidade de adaptação dessas organizações,
implicando o uso de novas tecnologias e da modernização da estrutura
normativa juntamente com formas alternativas de gestão aliadas ao
planejamento organizacional e de pessoal.

Neste ponto, Moreira (2019, p. 571) mostra que, na visão es-


tratégica de RH, as pessoas deixam de ser simples recursos (huma-
nos) organizacionais para serem vistas como patrimônio vivo, seres
SUMÁRIO dotados de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades,
destrezas, aspirações e percepções singulares.

Portanto, no setor público o papel da área de gestão de pes-


soas, no contexto da gestão de competências, deve orientar-se por
práticas de planejamento, gerenciamento, avaliação e recompensas,
direcionada para resultados no nível individual e organizacional, no
sentido de facilitar o desenvolvimento das competências individuais
e consequentes entregas, para a implementação da estratégia esco-
lhida, sempre de acordo com o bem maior, que é o interesse público
(MOREIRA, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo analisou os critérios de recrutamento e seleção de


uma Fundação Pública Federal. Foram analisados os editais de sele-
ção pública da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) publicados entre os anos de 2019 e 2022. Foi observado que a
maior parte dos processos seletivos de nível médio e superior analisa-
dos possuíam apenas uma única fase, baseada em uma prova teórica,

582
objetiva de caráter eliminatório e classificatório. Foi visto que apenas
para o cargo de recenseador do IBGE, cargo de nível fundamental,
nos anos de 2019 e 2020, além da prova objetiva também houve uma
etapa de treinamento que foi considerada uma etapa eliminatória no
processo de seleção.

Em relação a seleção por análise de título foi constatado que


os processos seletivos de nível médio como agente de pesquisa por
telefone, agente de pesquisa e coordenador censitário e subárea pos-
suem como forma de seleção apenas 1 fase sendo composta por
análise de título no qual os principais critérios avaliados foram tempo
de experiência comprovada e nível de escolaridade, sendo atribuídos
SUMÁRIO pontos de acordo com o nível de escolaridade.

Por meio desse estudo foi possível observar que a seleção de


pessoal no setor público é organizada pensando apenas no cargo e
não em competências. A forma ampla em que os cargos são descritos
faz com que as competências não sejam aproveitadas. Essa descrição
dos cargos para processos seletivos limita a atuação dos colaborado-
res de acordo com suas competências. Deste modo o setor público,
mesmo possuindo colaboradores com muito conhecimento, ainda não
há uma cultura e um ambiente voltados para a aprendizagem orga-
nizacional e para a inovação e, na maioria dos casos, também não
incentiva a educação continuada de seus colaboradores.

A administração pode “direcionar” os testes de conhecimentos


para que o concurso acabe resultando em candidatos que tenham
os conhecimentos desejados. Assim, os temas inseridos nas provas
devem ter aderência aos conhecimentos efetivamente utilizados pelo
servidor no contexto do seu trabalho.

Devido à metodologia utilizada, os resultados apresentados não


representam as demais organizações públicas brasileiras, consideran-
do que foram analisados dados de apenas uma instituição pública e,
por isso, limitada aos seus resultados.

583
Novos estudos podem expandir a coleta de dados para mais
organizações brasileiras e verificar o impacto de processos de seleção
que abordem outras ferramentas, como as de análise comportamen-
tal. Outra possibilidade é a investigação diretamente com gestores de
pessoas nas organizações, verificando o quanto cada tipo de seleção
de pessoal impacta nos resultados organizacionais.

Portanto, há necessidade de ter maior ênfase na gestão estraté-


gica de pessoas como forma eficaz e eficiente de trabalho, direcionado
para o alcance de objetivos e metas da organização pública, atingindo
os resultados desejados no prazo previsto. Essa estratégia inclui a defi-
nição dos perfis profissionais necessários para atuar na organização, os
SUMÁRIO indivíduos são vistos como ativos valiosos para a organização e conside-
ra um enfoque amplo e integrador, considerando conhecimentos técni-
cos e outras características pessoais como as habilidades interpessoais,
as capacidades cognitivas e de conduta do indivíduo. Também inclui a
definição e critérios para o recrutamento e seleção de pessoal, baseado
nas competências necessárias à organização e o estabelecimento de
estratégias que estimulem o desenvolvimento e o desempenho.

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Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
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de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do Art. 37 da
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Deputados, 1993. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
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SUMÁRIO

586
26
Capítulo 26

Política Pública Educacional de Transporte Escolar


no Polo II do Município de Itacoatiara – AM

Clauder Felipe Souza Silva

Michele Tancman Candido da Silva

Marcelo Hideki Togo

Clauder Felipe Souza Silva

Michele Tancman Candido da Silva

Marcelo Hideki Togo

Política pública educacional


de transporte escolar no Polo II
do município de Itacoatiara – AM

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.26
SUMÁRIO
Resumo:
As Políticas Públicas Educacionais têm se apresentado com protagonismo
para a existência, acesso, melhoria e democratização da educação no Bra-
sil. Em muitos lugares, sobretudo os mais longínquos, sem essas políticas os
serviços educacionais se tornam mínimos. O programa “Caminho da Escola”
é uma importante política educacional, que se acessado por gestores munici-
pais e ou escolas, tem como finalidade oportunizar através do transporte es-
colar de qualidade e seguro, a aproximação de pessoas que vivem em locais
distantes ao direito constitucional de frequentar e permanecer na escola. Essa
realidade fica mais evidente nas áreas rurais dos municípios Amazonenses
que tem como características: extensos rios, lagos, igarapés e ramais. Desta
maneira, o presente trabalho tem como objetivo conhecer se a política públi-
ca educacional Programa “Caminho da Escola” é acessado no município de
Itacoatiara-Am, se atende os estudantes de escolas na região rural Costa da
Conceição e Costa do Amatari- Polo II do município, e evidenciar os possíveis
motivos da não utilização do programa na referida região. Para isso, realizou-
-se um estudo de caso obtendo informações de quatro escolas para contribuir
com o desenvolvimento do presente trabalho, bem como informações adquiri-
das na Secretaria Municipal de Educação e sites oficiais. Portanto, identificou-
-se que o município de Itacoatiara acessa o Programa “Caminho da Escola”
atendendo dez escolas do Polo V, e que a não destinação ao Polo II se dá pela
insuficiência da frota do município e pelo alto custo para a manutenção do
Programa, optando-se pela terceirização do serviço na região.

Palavras-Chave: Políticas públicas; Educação; Transporte escolar;


Caminho da Escola.

588
INTRODUÇÃO

As políticas públicas têm relevante participação para a constru-


ção estruturada de uma sociedade, pois através delas se pode propor
ou realizar ações que possam ajudar resolver ou amenizar determinados
problemas públicos por parte de governos, podendo ter efetiva partici-
pação da sociedade civil nesse processo de realização de melhorias.

No que diz respeito a educação, se tem no Brasil muitas políti-


cas públicas visando sua implantação e continuidade procurando faci-
litar o acesso da população a esse direito fundamental garantido pela
SUMÁRIO Constituição (1988), mas visto a extensa dimensão do país, vontade
política ou falta dela, construção de propostas por quem vive e conhe-
ce a realidade e as características próprias de cada região, como a
Amazônica, dificultam ou impedem a existência e efetividade dessas
Políticas Públicas Educacionais de forma completa em todas as esco-
las, principalmente do campo onde mais se refletem os impactos.

A Política Pública Educacional de Transporte Escolar se tornou


uma das mais importantes na região Amazônica visto as característi-
cas da mesma, com distancias consideráveis das residências para o
local que sediam escola, facilitando para que as pessoas frequentem e
permaneçam no ambiente escolar e concluam seus estudos, pois sem
esse meio de transporte muitas famílias ficam impossibilitadas de se
deslocar visto o alto custo e pouca renda das mesmas.

O município de Itacoatiara- Amazonas, pertencente à região


metropolitana de está distante a aproximadamente duzentos e ses-
senta e oito quilômetros (268 km) da capital Manaus, possui mais ou
menos duzentos e vinte (220) comunidades rurais bem como mais
de cem (100) escolas que atende a população da zona rural. Essas
comunidades e escolas localizam-se em ramais, margens de rios,
ilhas, lagos e igarapés.

589
A área rural do município está geograficamente dividida em seis
(06) Polos para facilitar a identificação, coordenação e atendimento por
parte do poder público municipal e a todos que manifestarem interes-
se. Esses Polos são assim distribuídos (polo I, polo II, polo III, polo IV,
polo V e polo VI), nos quais as comunidades com maior área demo-
gráfica, melhor localização e representatividade sediam escolas para
atender a demanda local e da adjacência se necessário, com o direito
à educação escolar. Essas comunidades são habitadas predominan-
temente por pequenos agricultores familiares, pescadores artesanais,
extrativistas e ribeirinhos que em muitas dessas localidades precisam
de transporte escolar diariamente.
SUMÁRIO Desse modo, este trabalho se justifica pela necessidade de se
obter informações atualizadas na área da educação no município de
Itacoatiara-Am especificamente no acesso às políticas públicas edu-
cacionais de transporte escolar, visto a pouca acessibilidade de infor-
mações específicas, divulgação e trabalhos acadêmicos publicados
referente ao tema no referido município.

Sendo assim, pela necessidade da utilização do Transporte


Escolar no município devido sua extensa área rural e características
geográficas que exigem esse serviço, surge a seguinte inquietação: A
política pública educacional Programa “Caminho da Escola” está sen-
do acessado pelo município de Itacoatiara-Am para atender as escolas
viabilizando o direito dos estudantes em acessar a educação? Com
isso, identificar se as escolas do (Polo II) do município de Itacoatiara
são contempladas com a referida Política Pública de transporte; co-
nhecer como é realizado o acesso a essa política pública e o processo
de escolha das possíveis escolas contempladas; descobrir os possí-
veis motivos do não acesso a Política Pública “Caminho da escola”
pelas escolas do (Polo II) do município.

O município de Itacoatiara é considerado um município polo do


médio Amazonas, e tem algumas importantes aptidões econômicas

590
que se destacam como a portuária, comercio e agropecuária, o que
coloca o mesmo em grande vantagem para o desenvolvimento. A
cidade de Itacoatiara pode ser considerada atualmente uma cidade
universitária, pois nela estão instaladas importantes universidades que
são elas: pública federal (Universidade Federal do Amazonas- UFAM)
e (Instituto Federal do Amazonas- IFAM), estadual (Universidade Esta-
dual do Amazonas- UEA) e várias particulares que se inclui uma facul-
dade de medicina concluída recentemente, tornando-se um lugar fa-
vorável para se adentrar ao nível superior seja a seus munícipes como
a quem chega de outros lugares com tal objetivo.

Para isso, os incentivos proporcionados através do acesso às


SUMÁRIO Políticas Públicas Educacionais, aplicadas para melhoria da educação
básica não somente na cidade, mas também no campo de forma a
atender as reais necessidades da região, como o transporte escolar,
a educação torna-se o caminho principal de acesso às oportunidades
oferecidas a todos que estão dispostos a aproveitá-las, com possibili-
dade de promover desenvolvimento social, econômico e pessoal com
responsabilidade sem as pessoas precisarem se ausentar do referido
município como acontecia há algum tempo atrás.

Sendo assim, o município de Itacoatiara possui as características


necessárias para acessar as Políticas Públicas Educacionais que foram
criadas e disponibilizadas no Brasil visando oportunizar, potencializar o
acesso e a permanência à educação de qualidade a todos os brasilei-
ros. Um dos exemplos é a política de transporte escolar, que para muitas
famílias das regiões da Costa da Conceição e Costa do Amatari (Polo
II) é a única forma de acesso a esse direito fundamental constitucional
visto as características geográficas da região onde as pessoas habitam
nas margens do Rio Amazonas e nos lugares mais centrais (ramal, lago
e igarapés) ambas com distâncias significativas da escola.

Portanto, o presente trabalho propôs conhecer se a política


pública educacional Programa “Caminho da Escola” é acessado no

591
município de Itacoatiara- Am para garantir o acesso dos estudantes a
escola com qualidade e segurança, e esclarecer os motivos que invia-
bilizam a contemplação das escolas do (Polo II, margem esquerda do
Rio Amazonas) com o referido Programa de Transporte Escolar.

REVISÃO TEÓRICA

Nos últimos anos, tem-se abordado com maior frequência nos


diferentes espaços de discussão coletiva, o debate sobre políticas pú-
blicas com o interesse de pautar os diferenciados problemas públicos
SUMÁRIO
que afetam direta e indiretamente a população, a fim de chamar atenção
dos governos das três esferas, pois estão associadas às ações governa-
mentais selecionadas de forma estratégica para implementar decisões
tomadas buscando atuar na superação de dificuldades que contemplem
os interesses coletivos e individuais de uma sociedade (RUA, 2014).

No segmento da educação houve muitos avanços quanto a


construção de propostas e implementação de políticas públicas para
potencializar a oferta da educação e o acesso por parte da população
que vivem em locais mais distantes, como exemplo em áreas rurais, de
forma particular da Amazônia, dentre as quais estão a Lei de Diretrizes
e Bases (LDB) e o Plano Nacional da Educação (PNE). A promulga-
ção da Constituição Federal de 1988 trouxe a possibilidade da gestão
participativa, oportunizando ao cidadão o direito de participar da cons-
trução de propostas e tornando-se um importante eixo de acompanha-
mento das ações de governos, uma atitude necessária no atual cenário
educacional (CAMARGO, 2016).

Diante disso, a educação do campo vem sendo discutida há


muitos anos visando a melhoria de sua oferta a essa parcela da po-
pulação que por muito tempo não foi enxergada de forma igualitária,

592
deixando de acessar o ensino escolar regularmente e de acordo com
a realidade de cada local. A realização de políticas públicas e norma-
tizações que as assegura foram aos poucos sendo conquistadas nas
últimas décadas como a LDB 9394/96, mas muitas decisões foram
tomadas com a ausência de representação de quem vive a realidade
do campo dificultando a efetividade dessas políticas públicas para de-
mocratização da educação (FERNANDES; MOLINA, s. d.).

O programa “Caminho da Escola” foi criado com a finalidade


de garantir que os estudantes que moram nas áreas rurais onde as
dificuldades de deslocamento são adversas, tenham acesso e perma-
neçam na escola, para assim ajudar na redução da evasão escolar.
SUMÁRIO Busca também renovar a frota de veículos e lanchas para assim ofere-
cer transporte escolar seguro e com qualidade. O Programa pode ser
acessado de três maneiras, através de assistência financeira do FNDE
(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, por recursos pró-
prios e por linha de crédito do BNDES (CALDAS; MOUETTE, 2015).

Assim, as especificidades da educação no campo, principal-


mente na região Amazônica, no estado do Amazonas onde muitos
alunos precisam percorrer certa distância para chegar onde a esco-
la se encontra, enfrentam as variações do clima e a dinâmica dos
rios (banzeiros, correntezas, chuvas frequentes, enchente e seca),
dos ramais (poeira se no verão e lama no inverno, na maioria dos
mesmo) o programa Caminho da Escola pode ser uma política pú-
blica importante para garantia do acesso à escola nas áreas rurais
do município de Itacoatiara.

593
METODOLOGIA

Classificação da pesquisa

De acordo com o tema proposto e o problema pontuado, rea-


lizou-se o método de abordagem qualitativa para o desenvolvimento
do projeto de pesquisa, visto a necessidade de adquirir informações
necessárias no decorrer do trabalho e possivelmente encontrar expli-
cações para a inquietação apresentada.

A pesquisa foi de objetivo exploratório uma vez que, embora


SUMÁRIO seja uma temática conhecida, há pouca ou nenhuma publicação, in-
formação e acesso facilitado a respeito no tocante ao município de
Itacoatiara, especificamente sobre o Programa “Caminho da Escola”,
com direcionamento a atender as escolas do Polo II das regiões da
Costa do Amatari e Costa da Conceição, onde foi realizado o trabalho
de pesquisa de acordo com a delimitação e o tema proposto.

Por se caracterizar como um trabalho exploratório, o procedi-


mento adotado para obtenção de informações e dados necessários
para o bom desenvolvimento da obra, no sentido de gerar benefício
científico e social, foi o estudo de caso, com o intuito de aprofundar o
conhecimento a respeito do tema e possivelmente abrir caminhos para
pesquisas futuras.

As principais informações que serviram como amostra para a


realização da pesquisa foram adquiridas no âmbito da Secretaria Mu-
nicipal de Educação de Itacoatiara- Setor de Transporte Escolar, na
sede do município, e nas quatro (4) seguintes escolas municipais: An-
tônia Vieira, Paula Francineth, Monsenhor Joaquim Pereira e Benjamin
Constant localizadas nas regiões/áreas rural denominada Costa da
Conceição e Costa do Amatari, respectivamente, Polo II do município
de Itacoatiara- AM, localizadas a margem esquerda do rio Amazonas.

594
As regiões Costa da Conceição e Costa do Amatari localiza-se
a oeste da sede do município de Itacoatiara na mesma margem do rio
Amazonas a duas horas e três horas (2h00m e 3h00m) respectivamen-
te de distância em transporte fluvial convencional de passageiros (bar-
co), onde são compostas por mais ou menos onze (11) comunidades
rurais onde estão situadas entre as mesmas cinco (5) escolas atual-
mente, em áreas de Terra Firme e área de Várzea que continuamente
tem sido inundada pela enchente do Rio Amazonas.

Instrumentos de coleta de dados

SUMÁRIO
Os instrumentos de coleta que foram trabalhados para registrar
os fatos contribuindo com os objetivos propostos para a pesquisa, fo-
ram através de observação assistemática, entrevistas presenciais com
as gestões de duas (2) escolas, sendo: Monsenhor Joaquim Pereira
(Comunidade São José do Amatari) e Paula Francineth (Comunidade
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro); entrevista por meio de formulá-
rio eletrônico (Google Forms) com as demais escolas que foram: An-
tônia Vieira (Comunidade São Pedro do Iracema) e Benjamin Constant
(Comunidade Benjamin Constant), assim como entrevista presencial
no Setor de Transporte Escolar da Secretaria Municipal de Educação
de Itacoatiara (SEMED).

As entrevistas foram conduzidas com auxílio de um breve questio-


nário semi estruturado com sete (7) perguntas (P) principais: (P1) Qual a
quantidade de alunos atendidos pela escola?; (P2) Quantos alunos utili-
zam o transporte escolar?; (P3) O transporte utilizado é fluvial, terrestre?;
(P4) A escola é contemplada com o Programa “Caminho da Escola”?;
(P5) Qual a forma de aquisição do transporte escolar?; (P6) A gestão
escolar e sua equipe conhecem o Programa “Caminho da Escola”?; (P7)
Quais motivos avaliam serem preponderantes para a não contemplação
pelo referido Programa educacional?; além de pesquisa eletrônica em

595
busca de informações relevantes para conhecer e entender a realidade
sobre a temática pesquisada no referido município.

A entrevista no Setor de Transporte Escolar foi auxiliada com


um questionário composto por sete (7) perguntas que foram: (P1) O
município de Itacoatiara acessa o Programa “Caminho da Escola”?
(P2) Quantas escolas são contempladas com o Programa? (P3) Quais
escolas são atendidas com o Programa e a que Polo pertencem? (P4)
As escolas do Polo II são atendidas com o Programa? (P5) Quais as
dificuldades para a adesão ao Programa? Se houver. (P6) Qual a visão
do setor/secretaria de educação em relação ao Programa? (P7) Quais
considerações o setor julga relevantes em relação ao Programa de
SUMÁRIO transporte escolar.

Para o tratamento das informações extraídas realizou-se a aná-


lise de conteúdos e interpretações dos dados obtidos por meio dos
instrumentos de coleta, através de seleção e codificação.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Foram realizadas duas entrevistas de forma presencial para que


se conhecesse a realidade atual, com as gestoras das escolas Mon-
senhor Joaquim Pereira situada na Comunidade São José do Amatari-
Costa do Amatari e Paula Francineth situada na Comunidade de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro/Boca do Padre- Costa da Conceição.

Em duas escolas que foram Antônia Vieira situada na Comuni-


dade São Pedro do Iracema - Costa da Conceição e Benjamin Cons-
tant na Comunidade Benjamin Constant - Costa do Amatari, as infor-
mações foram coletadas por meio de formulário eletrônico enviado as
gestões de ambas, se obtendo dados importantes para o desenvolvi-
mento do presente trabalho.

596
As escolas que foram parceiras através de suas gestões contri-
buindo com as informações, embora estejam na mesma região com ca-
racterísticas geográficas (com exceção da escola 3 situada em área de
várzea), demográfica, educacional e social parecidas, possuem estrutu-
ra física diferente entre si, alguma com boa estrutura outras com estrutu-
ras mínimas para atender o público-alvo bem como os profissionais da
educação, o que é recorrente nas áreas rurais do interior do Amazonas.

Na escola Monsenhor Joaquim Pereira (escola 1, figura 1) estu-


dam cento e vinte e nove alunos (129) alunos dos quais cerca de vinte
e cinco (25) precisam utilizar o transporte escolar fluvial e terrestre para
terem acesso diário a escola correspondendo a vinte por cento (20%)
SUMÁRIO do total de estudantes, pois além de haver alunos que residem às mar-
gens do Rio Amazonas, há os que moram em um lago na região mais
central e se locomovem por ramal. Segundo a gestão, a referida escola
não é atendida pelo Programa “Caminho da Escola”. A gestão e sua
equipe têm conhecimento do Programa e há alguns anos atrás rea-
lizou-se levantamento de informações a fim de possivelmente serem
atendidos com essa política pública, mas que até o presente estudo
não foi contemplada e nem recebeu qualquer informação a respeito.
Perguntada sobre as possíveis causas que impossibilitaram a chegada
do programa, a mesma não soube informar.

Figura 1 – Escola Monsenhor Joaquim Pereira

Fonte: próprios autores (2022).

597
Na escola Antônia Vieira (escola 2, figura 2) estudam duzen-
tos e dezoito (218) alunos dos quais sessenta e seis (66) precisam
utilizar transporte escolar fluvial para chegarem à escola diariamen-
te o que corresponde a trinta por cento (30%) do total. De acordo
com as informações obtidas, a escola não é atendida pelo Progra-
ma “Caminho da Escola”.

Figura 2 – Escola Antônia Vieira

SUMÁRIO

Fonte: próprios autores (2022).

A gestão da mesma escola informou não ter conhecimento do


Programa e nem como acessá-lo. Em relação às possíveis causas da
não contemplação, informou que é pela falta da busca de informações
bem como pouca atenção do poder público municipal para com a rea-
lidade das escolas da região no sentido de assessorar com informa-
ções para tais políticas públicas educacionais e as possíveis causas
que podem inviabilizar a contemplação.

598
Já a escola Paula Francineth (escola 3, figura 3) que está situa-
da em área de várzea fazendo parte do calendário escolar especial
do município para essas áreas, atende oitenta (80) alunos dos quais
setenta e dois (72) precisam utilizar o transporte escolar fluvial o que re-
presenta noventa por cento (90%). Segundo as informações adquiridas
com a gestão, a escola não é atendida pelo Programa “Caminho da
Escola”, e a gestão tem conhecimento parcial dessa Política Pública,
mas que atualmente a secretaria municipal de educação tem sinaliza-
do trabalhar a inclusão da referida escola para possível contemplação
com o programa futuramente. Com relação aos possíveis motivos de
a escola não ser contemplada com o Programa até então, a gestão da
SUMÁRIO escola informou desconhecer os motivos.

Figura 3 – Escola Paula Francineth

Fonte: próprios autores (2022).

Quanto a escola Benjamin Constant (escola 4, figura 4), estu-


dam na mesma cerca de cinquenta (50) estudantes onde dezoito (18)
necessitam de transporte escolar terrestre e fluvial para frequentar a
escola pois eles habitam as margens do Rio Amazonas e em locais
centrais com acesso por ramal, correspondendo a cerca trinta e seis
por cento (36%) do total. De acordo com as informações coletadas a

599
referida escola não é atendida pelo Programa para suprir a demanda
por transporte escolar, e a gestão e sua equipe não conhecem a re-
ferida Política Pública. Quanto aos possíveis motivos da não contem-
plação da escola pelo Programa, a gestora informou desconhecê-los.

Figura 4 – Escola Benjamin Constant

SUMÁRIO

Fonte: próprios autores (2022).

No Gráfico 1 pode-se observar a relação de cada escola e seu to-


tal de alunos de forma específica (escolas 1, 2, 3 e 4), a quantidade que
precisam utilizar o transporte escolar diário atualmente e a porcentagem
que o número de usuários do transporte representa em cada uma delas.

A gestão de ambas as escolas relataram que o transporte esco-


lar acontece por meio de contrato realizado pelo poder público muni-
cipal, terceirizando o serviço, o que foi confirmado pelo setor de Trans-
porte Escolar, e que em alguns casos não é oferecido um transporte
seguro e de qualidade aos estudantes por ser utilizado embarcações
pequenas muitas vezes com ausência de coletes salva-vidas e pes-
soas habilitadas, características essas que o programa “Caminho da
Escola” busca oferecer aos usuários.

600
De acordo com o relato de duas gestoras, as escolas da região
não estavam sendo atendidas pelo transporte escolar oferecido pelo
poder público municipal, até o momento da realização do presente es-
tudo, que ele estava acontecendo de forma voluntária por alguns pais
para garantir o acesso de seus filhos à escola, e assim prejudicando
aqueles que não estavam conseguindo chegar até o ambiente escolar,
estando na contramão do que orienta a legislação educacional vigente.

Gráfico 1 – Relação de escolas e número de alunos

SUMÁRIO

Fonte: próprios autores (2022).

O Setor de Transporte Escolar da Secretaria Municipal de Edu-


cação (SEMED) informou que o município de Itacoatiara acessa a Polí-
tica Pública de transporte escolar Programa “Caminho da Escola”, que
não há dificuldade em aderir ao Programa, mas sim em atender todas
as escolas ou a maioria pelo fato de haver uma quantidade elevada e
com distâncias consideráveis para a capacidade de veículos e embar-
cações que o município adquire.

Atualmente dez (10) escolas (Desembargador Francisco das


Chagas A. Moreira, Dom Pedro I, Dep. Ulisses Guimarães, Maria Cla-
ra G. de Vasconcelos, Antônio de A. Costa, Antônio Francisco Lis-
boa, Coronel Gonzaga Pinheiro, Paulo Tomihiko Imay, Osmarina Melo
e Moises Menezes, todas localizadas no (Polo V) do município são

601
contempladas com veículos para a realização do transporte escolar
dos estudantes atendidos pelas referidas escolas de forma positiva.

Com relação ao (Polo II) região de abrangência do presente tra-


balho, o setor de transporte informou que não há a contemplação das
escolas que utilizam o transporte escolar visto a insuficiência de em-
barcações e veículos para a demanda do município e a distância que
em muitos casos se precisa percorrer para um número considerado
insuficiente de alunos, sendo mais viável para a administração pública
municipal optar pela terceirização do serviço.

Gráfico 2 – Número de alunos total versus que usam transporte


SUMÁRIO

Fonte: próprios autores (2022).

Em relação ao Programa “Caminho da Escola”, o setor de trans-


porte escolar avalia ser uma política positiva para a qualidade e segu-
rança do transporte escolar municipal bem como para a educação,
pois os veículos e lanchas são de boa qualidade, adequados à reali-
dade regional e com acessibilidade, mas embora tenha os pontos po-
sitivos o setor pontua algumas dificuldades que chegam a inviabilizar o
transporte escolar através do Programa como: falta de empresas espe-
cializadas no município para manutenção preventiva e corretivas nos

602
veículos e lanchas, falta de recursos financeiros próprios do município
para manter uma frota maior pois o programa só fornece os veículos
e embarcações ficando o município responsável por toda manuten-
ção do Programa, e quando não há arrecadação suficiente inviabiliza
a permanência e ou expansão da Política Pública, o alto custo com
combustível visto a potência das máquinas e as longas distancias a ser
percorridas em muitas localidades em que as escolas estão inseridas.
Tais dificuldades, segundo o Setor de Transporte, levam o poder públi-
co municipal priorizar a terceirização do serviço de transporte escolar,
por se tornar mais viável financeiramente se comparado à manutenção
de uma frota que atende toda a demanda do município.
SUMÁRIO As quatro (4) escolas do Polo II que foram consultadas para a
realização do presente trabalho atendem juntas quatrocentos e seten-
ta e sete (477) alunos, dos quais cento e oitenta e um (181) precisam
utilizar transporte escolar para frequentar a escola diariamente, corres-
pondendo cerca de 38% do total de estudantes das referidas escolas
(Gráfico 2). Esse número de alunos abaixo dos quarenta por cento
(40%) pode ser um dos motivos da inviabilidade na adesão do Progra-
ma na referida região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do estudo realizado referente às Políticas Públicas edu-


cacionais que no Brasil são diversificadas e melhoradas continuamente
a fim de atuar para minimizar os diferentes gargalos de acordo com os
segmentos e dificuldades existentes no processo de construção e fun-
cionamento de uma educação de qualidade em área rural, pretendeu-se
evidenciar as possíveis causas da ausência do programa “Caminho da
Escola” como meio de transporte escolar para atender o público de qua-
tro (4) escolas do campo no Polo II do município de Itacoatiara.

603
Sendo assim, por se tratar de uma região que precisa utilizar
transporte fluvial e terrestre com distância significativa para que os es-
tudantes cheguem até a escola, vulneráveis a perigos naturais prin-
cipalmente no Rio Amazonas, mas que o número de estudantes que
precisam utilizar o transporte escolar está abaixo de quarenta por cento
(40%) do total atendidos pelas escolas, podemos concluir que a au-
sência do Programa “Caminho da Escola” nas escolas do Polo II loca-
lizadas às margens do Rio Amazonas, se dá pelo fato de ser inviável na
região se comparado ao que se utiliza até então (terceirizado), devido
ao custo para o poder público municipal além de a frota ser insuficiente
para atender todas as escolas.
SUMÁRIO Assim, pôde se observar também que ainda há carência na
obtenção de informações importantes referente às Políticas Públicas
Educacionais por partes das escolas, precisando haver melhor e mais
frequente interação e apoio técnico por parte do poder público munici-
pal através da Secretaria Municipal de Educação, para que se trabalhe
as melhorias e compartilhe essas informações necessárias a fim de
oferecer um serviço educacional visando a potencialização das esco-
las bem como melhor atendimento aos seus públicos.

As limitações existentes para realização do presente trabalho


por se tratar de uma região rural amazônica foram variadas como: ex-
tensa área geográfica, acesso apenas por via fluvial, dificuldade em
completar algumas informações básicas para o trabalho, custo com
deslocamento e tempo reduzido.

Embora o local de estudo seja uma região avançada com re-


lação à comunicação/tecnologia no tocante a outras, por se localizar
próximo à sede do município de Itacoatiara e ao distrito de Novo Re-
manso, os acontecimentos climáticos (ventanias, fortes chuvas, queda
de árvores) e técnicos (manutenção e outros) impossibilitam o contato
diário devido a frequentes interrupções da eletricidade que é ofere-
cida na região através do programa “Luz para Todos” prejudicando

604
o acesso à internet e telefonia tendo como consequência a não aquisi-
ção de dados e informações com mais intensidade e em curto prazo.

Então, a partir do presente trabalho espera-se que as informa-


ções adquiridas possam ser relevantes para a melhoria da educação
e da oferta do transporte escolar na região que foi diretamente eviden-
ciada, para a sociedade em geral e a comunidade acadêmica.

Portanto, o trabalho deixa como sugestão que seja inserido no


Programa “Caminho da Escola” aporte financeiro para ajudar na manu-
tenção das frotas, sobretudo para os municípios que não possuem ar-
recadação suficiente para mantê-las funcionando continuamente, para
SUMÁRIO que possam atender escolas que embora tenham quantidade reduzi-
da de discentes que utilizam transporte mas que precisam do serviço
de qualidade e seguro; que a administração pública municipal possa
oferecer um serviço de melhor qualidade e mais seguro e que haja
fiscalização do serviço contratado. Assim como, possa gerar possibi-
lidade de novas pesquisas sobre a temática trabalhada com contexto
diferente ou com novas propostas explorando as muitas problemáticas
educacionais existentes nas áreas rurais dos municípios amazonenses
que pouco são conhecidas, para que haja ações direcionadas a solu-
cioná-las ou minimizá-las.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 15 de agosto de 2022.
CALDAS, E. L.; MOUETTE, D. Transporte Público Escolar: de uma
iniciativa local a uma política nacional. RG e PP vol.5 (1): 1-16,2015.
CAMARGO, D. A. Descentralização, poder local e participação social:
perspectivas para a construção de uma nova cultura política. 2016.

605
FERNANDES, B. M.; MOLINA, M. C. O campo da educação do campo.
BRASIL. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. BRASIL.
RUA, M. das G. Políticas públicas. – 3. ed. rev. atua. – Florianópolis:
Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB,
2014. 130p.: il.
SEMED. Secretaria municipal de educação de Itacoatiara. 2022.
SEMINT. Secretaria municipal do interior de Itacoatiara. 2022.
SILVEIRA, E. L.; SANTANA, W. K. F. Educação: ressonâncias teóricas e
práticas. Volume 1. São Carlos: Pedro e João Editores, 2019. 369p.
UNESCO. Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social
SUMÁRIO para a educação. – Brasília: Comissão Internacional sobre os Futuros da
Educação; Boadilla del Monte: Fundación SM, 2022.

606
27
Capítulo 27

Os processos de aplicar e recompensar na gestão de


pessoas: um estudo de caso acerca das promoções
e progressões em um campus do IFAM

Elaine Lima de Sousa

Estela Mari Santos Simões da Silva

Elaine Lima de Sousa

Estela Mari Santos Simões da Silva

Os processos de aplicar
e recompensar na gestão de pessoas:
um estudo de caso acerca das promoções
e progressões em um campus do IFAM

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.27
SUMÁRIO Resumo:
Esta pesquisa teve como objetivo geral descrever os processos de aplicar e
recompensar pessoas, nos itens avaliação de desempenho e remuneração na
situação atual das progressões e/ou promoções funcionais de 24 em 24 meses
de servidores docentes. A pesquisa foi um estudo qualitativo por meio de um
estudo de caso. O contexto foi um dos campi do Instituto Federal do Amazonas
- IFAM e como instrumentos foram consultados os boletins de serviço e os pro-
cessos disponibilizados no Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e
Contratos - SIPAC, além da observação direta. Os resultados apontaram que a
Nota Técnica n.° 2556/2018 têm trazido prejuízos às progressões/promoções
docentes e, consequentemente, aos processos de aplicar e remunerar pes-
soas no IFAM. Foi concluído, também, que a impossibilidade de progressão
per saltum já está acarretando prejuízos para os docentes em ascensão na
carreira e em idade de aposentadoria e que, futuramente, proporcionalmente,
mais servidores podem ser incluídos neste rol, logo, deve ser trabalhado uma
cultura organizacional que mobilize os servidores a não atrasarem nas ins-
truções de seus processos ao solicitar promoções/progressões. Além disso,
sugere-se que seja desenvolvido um planejamento estratégico situacional que
todos os processos de Gestão de Pessoas sejam reavaliados e rediscutidos,
inclusive, com os docentes e que propostas e encaminhamentos emergidos
venham ser levados em esferas institucionais, sindicais e junto aos demais
órgãos competentes, pois a falta de políticas públicas para uma remuneração
adequada pode gerar, a longo prazo, a migração de capital intelectual para
outras instituições e/o órgãos ou mesmo para a iniciativa privada.

Palavras-chave: Aplicar pessoas; Gestão de Pessoas; Promoção/progressão;


Recompensar pessoas; IFAM.

608
INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa, está situado na área de Gestão de


Pessoas (doravante GP) na esfera pública federal. Segundo Chiavena-
to (2016 [2014], p. 8), a GP pode ser conceituada como “[...] uma área
sensível à cultura corporativa que predomina nas organizações. Ela é
extremamente contingencial e situacional, pois depende de vários as-
pectos [...]”. O autor prossegue destacando variáveis que influenciam
diretamente a GP como: a organização, a cultura corporativa, as carac-
terísticas de atuação, as tecnologias utilizadas, os processos internos,
o estilo de gestão e as características das pessoas que ali trabalham e
SUMÁRIO
ressalta que todas essas variáveis tornam a instituição única.

Nessa direção, o referido autor discorre que há seis proces-


sos na GP que se integram e contribuem para obter efeitos multipli-
cadores para as pessoas e para a organização, são eles: agregar,
aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas. To-
dos esses processos estão inter-relacionados e ligados entre si e
é fundamental promover um equilíbrio entre eles para um boa GP
(CHIAVENATO, 2016 [2014]).

Dois processos de GP chamam atenção nesta pesquisa: o pri-


meiro, é aplicar pessoas, que é adotado como forma de orientação,
organização e acompanhamento do profissional em suas atividades
laborais ao passo que o segundo, recompensar pessoas, visa o incen-
tivo e a motivação profissional e alcançar os propósitos da instituição
(CHIAVENATO, (2016 [2014]).

Dentro deste cenário, o problema que impulsionou esta inves-


tigação foi a carreira do Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tec-
nológico (EBTT) que envolve diretamente esses dois processos de GP
dentro dos Institutos Federais. Segundo Brito e Caldas (2016), a carrei-
ra docente do magistério federal passou por várias alterações durante

609
a história e, na atualidade, temos duas leis principais que regulamen-
tam a carreira EBTT e o cargo de professor Titular-Livre do EBTT, a Lei
n.º 12.772, de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012), posteriormente,
alterado pela Lei n.º 13.325, de 29 de julho de 2016 (BRASIL, 2016).

Em 2018, como forma de unificar os entendimentos referentes


à concessão de progressão funcional aos docentes das instituições
federais de ensino com base nas leis supracitadas, foi emitida a Nota
Técnica n.° 2.556 de 27 de fevereiro de 2018 e o Ofício Circular n.° 53,
da mesma data, publicados pelo Ministério do Planejamento, Desen-
volvimento e Gestão, seguido de orientações das Procuradorias Fede-
rais junto aos Institutos Federais.
SUMÁRIO
Tais documentos impactam diretamente as progressões e as
promoções funcionais que deixam de ser cumulativas e sem direi-
tos a retroativos financeiros. Nesse contexto, este artigo descreve os
processos de aplicar e recompensar pessoas, nos itens avaliação de
desempenho e remuneração na situação atual das progressões e/ou
promoções funcionais de 24 em 24 meses dos docentes. E, como ob-
jetivos específicos, descrevem-se os impactos das progressões/pro-
moções nas carreiras do magistério EBTT que não são cumulativas;
levantando-se os aspectos-problemas e sugerindo-se o planejamento
e os encaminhamentos para um futuro em que se reduzam e/ou erra-
diquem as perdas de progressões/promoções funcionais.

A relevância acadêmica e social desta investigação se dá pe-


los princípios de aplicar e recompensar profissionais da educação da
esfera pública federal e seus impactos na carreira docente a curto,
médio e longo prazos. Em linhas gerais este artigo foi organizado em
cinco seções, a saber: a introdução, o referencial teórico, metodologia,
a discussão e análise dos dados e, por fim, as considerações finais.

610
REVISÃO TEÓRICA

Os processos organizacionais
da Gestão de Pessoas

Para Chiavenato (2016 [2014]) a Gestão de Pessoas (GP) é uma


sinergia que integra as atividades de maneira que potencializa tanto a
organização quanto as pessoas que a compõem e pode ser desem-
penhada com uma administração que desenvolve “[...] quatro funções
administrativas que constituem o processo administrativo: planejar, or-
ganizar, dirigir e controlar” (CHIAVENATO, 2016 [2014]), p. 13). Dessa
SUMÁRIO
forma a GP está voltada a auxiliar o gestor a desempenhar seus papéis
administrativos e que visem, por meio de pessoas, alcançar “metas,
objetivos e resultados”.

Os processos básicos da gestão de pessoas são agregar, aplicar,


recompensar, desenvolver, manter e monitorar as pessoas. O primeiro,
agregar pessoas, trata-se da forma como a empresa ou instituição in-
clui pessoas na empresa, no entanto, não são apenas os indivíduos que
são escolhidos, as pessoas também escolhem as organizações que
pretendem trabalhar, uma vez que as mesmas podem se submeter ou
não aos processos de seleção (CHIAVENATO, 2016 [2014]).

Prosseguindo, o segundo processo da GP, aplicar pessoas, está


direcionado para orientar as pessoas, para o desenho organizacional
e de cargos e para a avaliação de desempenho dos colaboradores,
todos esses aspectos podem configurar uma abordagem tradicional
ou moderna. Assim, tradicionalmente a aplicação de pessoas envolve
um modelo mecânico, foco na eficiência, estabilidade, conservador e
definitivo. Em oposição, a aplicação de pessoas moderna, trabalha em
moldes orgânicos com adaptação e flexibilização.

611
O terceiro processo é recompensar pessoas, que pode ser
constituído como forma de incentivar e motivar os profissionais. Nesse
processo deve ser levado em consideração os propósitos organizacio-
nais e individuais; a instituição alcança seus objetivos e, por outro lado,
o servidor têm seus objetivos satisfeitos. Dessa forma, a recompensa
funciona como um reforço positivo para a permanência e o engajamen-
to das pessoas na organização. (CHIAVENATO, 2016 [2014], p. 237).

O quarto processo é desenvolver pessoas. Essa ação está in-


trinsecamente relacionada com a educação de profissionais nas orga-
nizações perpassando não apenas o formar e apoiar para se aprender
“novos conhecimentos, habilidades e competências”, mas que os indi-
SUMÁRIO víduos obtenham formação para desenvolver “novas atitudes, soluções,
ideias, conceitos que mudem seus hábitos e comportamentos e se tor-
nem mais eficazes no que fazem.” (CHIAVENATO, 2016 [2014], p. 307).

O próximo processo é manter pessoas. Após as organizações


captarem e aplicarem adequadamente às pessoas, o passo seguinte
é manter a satisfação e o engajamento ao longo prazo. Nessa senda,
as empresas que desejam manter e reter os seus talentos desenvol-
vem ambientes em que haja condições físicas, psicológicas e sociais
para que o indivíduo participe do negócio, obtenha compromisso e se
engaje na instituição.

Por fim, o sexto processo é monitorar pessoas. Chiavenato (2016


[2014]) opta pelo termo monitorar e não controlar, pois a proposta é evi-
tar controles por autonomias e autocontroles em busca de atingir metas
e resultados da instituição. No processo de monitoração as instituições
acompanham as ações dos seus servidores no que se refere às variadas
operações e atividades garantindo que o que foi previamente planejado
seja executado e que os seus objetivos sejam alcançados.

Um plano de carreira bem estruturado pode permitir que haja


um melhor desenvolvimento profissional, uma menor rotatividade,

612
o desenvolvimento de liderança e espírito intraempreendedor e um
sentido de pertencimento. Na próxima seção, apresenta-se o Plano
de Carreira do Magistério EBTT e seus documentos norteadores no
âmbito nacional e local.

O plano de carreira de cargos


e salários do professor EBTT

A carreira de magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológi-


co (EBTT) foi criada pela Lei n.° 11.784, de 22 de setembro de 2008
SUMÁRIO (BRASIL, 2008), que dispõe acerca da reestruturação do Plano Geral
de Cargos do Poder Executivo (PGPE), dentre eles, cargos de Ma-
gistério EBTT regulamentados e reestruturados pela Lei n.° 12.772, 28
de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012).

Para uma visão holística dessa carreira, apresenta-se a seguir a


tabela de remuneração dos docentes9 dos Institutos Federais no regi-
me de dedicação exclusiva que é o regime de entrada no magistério
EBTT da atualidade.

9 A carreira também prevê a remuneração para regimes de trabalho de 20 horas e 40 horas.

613
Tabela 1 – Remuneração da carreira de Magistério do EBTT no regime de dedicação exclusiva

ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO


GRADUAÇÃO APERFEIÇOAMENTO
ou RSC-I + GRADUAÇÃO ou RSC-II + ESPECIALIZAÇÃO ou RSC-III + MESTRADO
CLASSE NÍVEL VENC. RT TOTAL VENC. RT TOTAL VENC. RT TOTAL VENC. RT TOTAL VENC. RT TOTAL
TITULAR 1 9.548,84 0 9.548,84 9.548,84 954,88 10.503,72 9.548,84 1.909,77 11.458,61 9.548,84 4.774,42 14.323,26 9.548,84 10.981,17 20.530,01

SUMÁRIO 4 8.680,76 0 8.680,76 8.680,76 868,08 9.548,84 8.680,76 1.736,15 10.416,91 8.680,76 4.340,38 13.021,14 8.680,76 9.982,88 18.663,64
3 8.346,89 0 8.346,89 8.346,89 834,69 9.181,58 8.346,89 1.669,38 10.016,27 8.346,89 4.173,44 12.520,33 8.346,89 9.598,92 17.945,81
D - IV
2 8.025,86 0 8.025,86 8.025,86 802,59 8.828,45 8.025,86 1.605,17 9.631,03 8.025,86 4.012,93 12.038,79 8.025,86 9.229,73 17.255,59
1 7.717,17 0 7.717,17 7.717,17 771,72 8.488,89 7.717,17 1.543,43 9.260,60 7.717,17 3.858,58 11.575,75 7.717,17 8.874,74 16.591,91
4 6.173,73 0 6.173,73 6.173,73 617,37 6.791,10 6.173,73 1.234,75 7.408,48 6.173,73 3.086,87 9.260,60 6.173,73 7.099,79 13.273,52
3 5.936,28 0 5.936,28 5.936,28 593,63 6.529,91 5.936,28 1.187,26 7.123,54 5.936,28 2.968,14 8.904,42 5.936,28 6.826,73 12.763,01
D - III
2 5.707,96 0 5.707,96 5.707,96 570,8 6.278,76 5.707,96 1.141,59 6.849,55 5.707,96 2.853,98 8.561,94 5.707,96 6.564,16 12.272,12
1 5.488,43 0 5.488,43 5.488,43 548,84 6.037,27 5.488,43 1.097,69 6.586,12 5.488,43 2.744,21 8.232,64 5.488,43 6.311,69 11.800,12
2 5.202,30 0 5.202,30 5.202,30 520,23 5.722,53 5.202,30 1.040,46 6.242,76 5.202,30 2.601,15 7.803,45 5.202,30 5.982,65 11.184,95
D - II
1 4.954,57 0 4.954,57 4.954,57 495,46 5.450,03 4.954,57 990,91 5.945,48 4.954,57 2.477,29 7.431,86 4.954,57 5.697,76 10.652,33
2 4.696,28 0 4.696,28 4.696,28 469,63 5.165,91 4.696,28 939,26 5.635,54 4.696,28 2.348,14 7.044,42 4.696,28 5.400,72 10.097,00
D-I
1 4.472,64 0 4.472,64 4.472,64 447,26 4.919,90 4.472,64 894,53 5.367,17 4.472,64 2.236,32 6.708,96 4.472,64 5.143,54 9.616,18

Fonte: Site da UTFPR (2019).

614
A tabela acima apresenta os níveis e classes, titulação, venci-
mentos e retribuição de titulação dos docentes. Todos os professores
iniciam a carreira na Classe D – I, Nível 1 e podem chegar até à Classe
D – IV, Nível 4, já os possuidores do título de doutorado, a Classe Titular,
Nível Único.

Para a progressão por desempenho e promoção da Carreira do


Magistério EBTT, deve ser seguido os procedimentos determinados na
Lei n.º 12.772/2012 (BRASIL, 2012), Capítulo III - Do desenvolvimento
nas carreiras do plano de carreiras e cargos de magistério federal - Se-
ção II - Da Carreira do Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecno-
lógico, conforme excerto a seguir:
SUMÁRIO
Art. 14. [...]

§ 2º A progressão na Carreira de Magistério do Ensino Básico,


Técnico e Tecnológico ocorrerá com base nos critérios gerais
estabelecidos nesta Lei e observará, cumulativamente:

I - o cumprimento do interstício de 24 (vinte e quatro) meses de


efetivo exercício em cada nível; e

II - aprovação em avaliação de desempenho individual.

§ 3º A promoção ocorrerá observados o interstício mínimo de


24 (vinte e quatro) meses no último nível de cada Classe an-
tecedente àquela para a qual se dará a promoção e, ainda, as
seguintes condições:

I - para a Classe D II: ser aprovado em processo de avaliação


de desempenho;

II - para a Classe D III: ser aprovado em processo de avaliação


de desempenho;

III - para a Classe D IV: ser aprovado em processo de avaliação


de desempenho; [...]. (BRASIL, 2012).

Conforme se pode observar, os critérios para a concessão da


progressão imediata era o cumprimento de 24 meses na classe/nível e

615
a aprovação individual de desempenho, visto que todos os processos
de progressões ou promoções docentes eram aprovados de dois em
dois anos, caso o servidor cumprisse todos os requisitos informados
na Lei n.° 12.772/2012 (BRASIL, 2012) e isso incluía o direito de solicitar
as progressões e/ou promoções per saltum10 e retroativos à data de
cumprimento do interstício.

Posteriormente, essa Lei foi alterada pela Lei n.º 12.863, de 24


de setembro de 2013 (BRASIL, 2013), que dispõe sobre a estruturação
do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal e, por fim, modi-
ficado novamente pela Lei n.º 13.325, de 29 de julho de 2016 (BRASIL,
2016) que alterou a remuneração, as regras de promoção e as regras
SUMÁRIO de incorporação de gratificação de desempenho a aposentadorias e
outras providências, uma vez que no:
Art. 1º A Lei nº 12.772, de 28 de dezembro de 2012 , passa a
vigorar com as seguintes alterações:

“ Art. 13-A. O efeito financeiro da progressão e da promoção a


que se refere o caput do art. 12 ocorrerá a partir da data em que
o docente cumprir o interstício e os requisitos estabelecidos em
lei para o desenvolvimento na carreira.”

“ Art. 15-A. O efeito financeiro da progressão e da promoção a


que se refere o caput do art. 14 ocorrerá a partir da data em que
o docente cumprir o interstício e os requisitos estabelecidos em
lei para o desenvolvimento na carreira.” (BRASIL, 2016).

A Lei n.° 13.325/2016 (BRASIL, 2016) trouxe à baila várias dis-


cussões como a retroatividade e a concessão de progressões no efe-
tivo exercício, por fim, em 2018, o Ministério de Planejamento, Desen-
volvimento e Gestão (MP), por meio da Nota Técnica n.º 2556/2018-MP,
uniformizou o entendimento referente à concessão de progressões
funcionais docentes das instituições federais de ensino.

10 A partir de duas ou mais promoções/progressões acumuladas.

616
a) a partir de 1º de agosto de 2016, a natureza das portarias de
concessão de progressão ou promoção funcional que forem ex-
pedidas e/ou publicadas têm natureza meramente declaratória,
vez que os efeitos financeiros das concessões deverão retroagir
à data em que o docente cumprir o interstício e os requisitos
estabelecidos em lei para o desenvolvimento na carreira; (MI-
NISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, 2018a).

Esse documento visou dirimir divergências acerca dos entendi-


mentos quanto à concessão de progressão funcional aos docentes das
IFEs e deixou evidente que a partir de então as concessões de pro-
gressões/promoções, por meio de portarias, são declaratórias e que os
efeitos financeiros retroagem a data de avaliação do processo instruído.
SUMÁRIO
Na mesma direção, o Ofício Circular n.° 53/2018-MP, de 27 de
fevereiro de 2018, que trata sobre a “Uniformização de entendimentos
referentes à concessão de progressão funcional aos docentes das ins-
tituições federais de ensino.” destaca os itens transcritos abaixo:
h) a avaliação de desempenho é item indissociável para fins de
comprovação das exigências legais para a progressão funcional;

i) não há possibilidade de acúmulo de interstícios para fins de


concessão de progressão funcional em mais de um nível por
vez, tendo em vista a determinação normativa que exige o cum-
primento cumulativo dos seguintes critérios:

I - interstício de 24 (vinte e quatro) meses de efetivo exercício


em cada nível; e

II - aprovação em avaliação de desempenho. (MINISTÉRIO DO


PLANEJAMENTO, 2018b).

Portanto, pelas recomendações mencionadas e pelos docu-


mentos supracitados, a próxima progressão só poderá ocorrer após o
cumprimento do interstício de 24 (vinte e quatro) meses de efetivo exer-
cício em cada nível. Assim, as progressões/promoções acumuladas
que deixaram de ser solicitadas no interstício de 24 meses, não mais
poderão ser avaliadas antes de completar esse período entre uma

617
progressão e a(s) subsequente(s), em outras palavras, as progressões
per saltum não são admitidas.

Deste modo, as progressões de “natureza meramente declara-


tórias” podem ter interstícios que diferem de sua data de aprovação e
expedição da portaria. Exemplificando, os processos de progressões
ou promoções que tiverem interstícios retroativos, podem ser avaliados
e aprovados, apenas um, a cada dois anos. Mesmo que o servidor
tenha mais interstícios possíveis de progressão, o mesmo só poderá
ascender um nível a cada 24 meses.

SUMÁRIO
METODOLOGIA

Esta investigação é de natureza qualitativa, uma vez que propõe


uma explicação para “[...] comportamentos e atitudes e pode ser com-
pletada com variáveis, construções e hipótese.” (CRESWELL, 2007,
p. 141). Nessa perspectiva, adotamos o Estudo de Caso com viés de
observação da vida real. Nas palavras de Yin (2005, p. 20), o estudo de
caso pode ser definido como “Uma investigação empírica que investi-
ga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não
estão claramente definidos”.

Já a observação da vida real ou observação direta, é uma técnica


de pesquisa que registra os dados a medida que os mesmos ocorrem
no local onde o evento acontece. Assim “reduz as tendências seletivas
e a deturpação na reevocação” (MARCONI, LAKATOS, 2013, p. 195).

Desta forma, esta investigação se caracterizou por um estudo de


caso cujos procedimentos de coleta de dados foram baseados na pes-
quisa bibliográfica, documental e estudo de caso com observação direta.

618
Os instrumentos de coleta de dados foram os boletins de serviço
e os processos de progressão por desempenho acadêmico disponibi-
lizados no Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos
- SIPAC. Essa plataforma está em conformidade com os princípios bá-
sicos da administração pública segundo a Lei n.° 12.527, de 18 de no-
vembro de 2011 (BRASIL, 2011), que regula o acesso a informações.

O fluxo do processo para obter as progressões ou promoções


na carreira EBTT apresenta-se da seguinte forma: primeiramente, o do-
cente deve instruir o processo que inclui preencher a ficha de avaliação
de desempenho docente11 com pontuação mínima de 60 (sessenta)
pontos e anexar os documentos comprobatórios e, posteriormente,
SUMÁRIO submeter o processo no SIPAC.

Após recebido pelo setor de protocolo, os processos são enca-


minhados à Comissão Permanente de Pessoal Docente12 (CPPD) dos
campi, e na ausência desta, o processo vai para a CPPD Reitoria para
a devida análise.

Os dados, do campus em questão, foram analisados por meio


dos dispositivos da análise de conteúdo de Bardin (2001 [1977]) que
compreende o termo como um conjunto de técnicas das comunica-
ções em sociedade que permite obter por meios sistemáticos e obje-
tivos o conteúdo das mensagens. Assim, o pesquisador pode realizar
inferências baseadas no conhecimento relacionado aos meios de pro-
dução e recepção dessas mensagens.

11 Esta ficha prevê os fatores de avaliação como (i) assiduidade e responsabilidade, (ii) pro-
dução intelectual, (iii) atividades de qualificação, (iv) atividades administrativas no IFAM e
(v) outras atividades docentes.
12 A CPPD, é um Órgão de natureza consultiva, tem o propósito de prestar assessoramento
ao colegiado competente ou Dirigente Máximo dos IFEs na formulação e acompanha-
mento da execução de política de pessoal docente. No IFAM, a Resolução n° 51, de 14
de setembro de 2017, aprovada pelo Conselho Superior aprovou o regimento interno das
funções das CPPDs.

619
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS DADOS

Esta seção foi subdividida em três subseções para conduzir de


maneira que alcancem os objetivos específicos e geral desta pesquisa.

Descrição dos impactos


das progressões não cumulativas
nas carreiras do magistério EBTT

Apresenta-se a seguir o quadro situacional da política de pessoal


SUMÁRIO
docente sob a aplicação da Lei n.º 12.772/2012 (BRASIL, 2012) do plano
de carreiras e cargos de magistério federal, especificamente o Magisté-
rio do EBTT e das demais leis e documentos que alteraram a mesma.

Quadro 1 – Resumo das progressões e promoções


dos docentes de um campus do IFAM

Síntese dos resultados Quantidade


1) Quantidade de processos consultados 119
2) Docentes titulares 06
3) Docentes na classe/nível D IV - 04 18
4) Docentes D IV - 04 que podem dar entrada na promoção para titular 03
5) Docentes que ainda não são D IV - 04 ou Titulares 95
6) Docentes que estão com progressões/promoções no tempo desejável 13
62
7) Docentes que não progridem há mais de um ano 16
8) Progressões/promoções meramente declaratórias que foram prejudicadas devi-
17
do ao cumprimento da Nota Técnica n.° 2556/2018 (a partir de um ano)
9) Promoções indeferidas por meio da Nota Técnica n.° 2556/2018 04
10) Docentes que estão em idade de aposentar e estão com progressões/promo-
03
ções atrasadas em decorrência da Nota Técnica n.° 2556/2018 (a partir de um ano)

Fonte: elaborado pelas autoras (2022).

13 Tempo desejável pode ser entendido aqui como os processos que são instruídos e dado
entrada logo após o cumprimento dos requisitos para a progressão/promoção da classe/nível
subsequente, ou seja, docentes que, fazem suas progressões/promoções regularmente.

620
Foram consultados 119 processos docentes. Apurou-se que
seis professores já conseguiram atingir à Classe Titular (cujo pré-re-
quisito é o título de doutorado, memorial descritivo e o cumprimento
de dois anos na Classe/Nível D IV - 04); 18 que já conseguiram chegar
na classe/nível D IV - 04, sendo que três deles já estão aptos a instruir
o processo para a Classe Titular Único e ainda não o fizeram; 62 estão
com progressões e promoções tramitando em tempo desejável, ou
seja, regularmente de dois em dois anos.

Por outro ângulo, fica evidente que após o início do cumprimen-


to da Nota Técnica n.° 2.556/2018, em função da unificação de enten-
dimentos da Lei n.° 13.325/2016 (BRASIL, 2016) que fez alterações na
SUMÁRIO Lei n.° 12.772/2012 (BRASIL, 2012), já se começa a ver os impactos
negativos nas progressões/promoções docentes. Pelo quadro 1, no-
ta-se que 16 professores, por motivos que devem ser investigados,
não progrediram na carreira há, pelo menos, um ano. Seguido de 17
progressões/promoções que já foram publicadas segundo a uniformi-
zação da Nota Técnica n.° 2.556/2018, meramente declaratórias, pois
ultrapassaram pelo menos um ano da data do interstício regular.

Some-se a isso, o fato de haver quatro processos docentes que


deram entrada em progressão per saltum e foram indeferidos pela
mesma nota técnica. Os processos tinham pontuação suficiente para
conseguir a aprovação nos âmbitos do ensino, pesquisa, extensão e/
ou gestão, porém não cumpriram o requisito de permanência de 24
meses após a última progressão declaratória no nível, que foi conce-
dida com atrasos por questões desconhecidas do próprio servidor ter
dado entrada em data posterior.

Neste caso, a avaliação de desempenho vai de encontro à


Chiavenato (2016 [2014], p. 210) que defende que esse processo “[...]
mede o desempenho de funcionário e configura o grau em que ele
alcança os requisitos para o seu trabalho.” e ainda afirma que é a ava-
liação de desempenho que “[...] serve para julgar ou estimar o valor,

621
a excelência e as competências de uma pessoa ou equipe e, sobretu-
do, qual é a sua contribuição para o negócio da organização”.

Prosseguindo, junto à consulta, foram encontrados dois proces-


sos de professores que poderiam estar aposentados como D IV - 04 ou
Titular e que por motivos de progressões/promoções acumuladas os
mesmos ainda precisarão passar mais alguns anos na instituição para
poder ascender a carreira, caso não deseje assumir perdas salariais
futuras devido a falta de progressões/promoções.

Diante do exposto, vale ressaltar que o efetivo exercício interpre-


tado pela Nota Técnica n.º 2.556/2018-MP, Ofício Circular n.º 53/2018-
SUMÁRIO MP e DESPACHO n.° 00131/2019/GAB/PF/IFAM/PGF/AGU são anali-
sados de forma unilateral, apenas pelo lado de cumprimento de datas
em calendários e a partir de documentos oficiais como portarias e ter-
mos de efetivo exercício.

Por conseguinte, buscando-se uma segunda interpretação do


termo “efetivo”, no dicionário, foi encontrada a explicação de “que
produz ou é capaz de produzir o efeito pretendido; eficaz, eficiente:”.
Nessa direção, quando se analisou os processos de progressões/pro-
moções atrasadas (com portarias declaratórias) e os que foram inde-
feridos, notou-se que em ambos os casos houve nota suficiente para
os requerentes serem aprovados nos itens ensino, pesquisa, extensão
e/ou gestão e o cumprimento dos 24 meses conforme orienta a Lei n.°
12.772/2012 (BRASIL, 2012).

Assim, é possível compreender que o efetivo exercício foi legítimo


na educação, seja no ensino, na pesquisa, na extensão ou gestão foi
cumprido. Contudo, o efetivo exercício da Nota Técnica n.° 2.556/2018
e o despacho n. 00131/2019/GAB/PF/IFAM/PGF/AGU somados à Lei
n.° 13.325/2016 (BRASIL, 2016) focalizam o aspecto do cumprimento
do tempo cronológico datado por calendário, o interstício de 24 me-
ses, levando o docente a ter seus efeitos financeiros a partir da data

622
de avaliação e aprovação do processo, salvo a administração passar a
se encontrar em mora “[...] decorridos mais de 30 (trinta) dias a contar
da data do requerimento sem a respectiva decisão, [...] situação em
que os efeitos financeiros deverão retroagir à data do início da mora”
(Orientações da PF junto ao IFAM).

Conforme essa citação, há o acúmulo de dois tipos de perdas


ao servidor, uma relacionada às progressões não cumulativas e outra
relacionada à retroativos financeiros. Os processos de progressões/
promoções atrasadas realizam perdas na carreira e os processos
indeferidos não lograram êxito por motivo de terem progredido há
menos de dois anos. O fato do servidor docente não dar entrada em
SUMÁRIO tempo hábil recai como uma punição ao mesmo que tendo cumprido
as atividades de ensino, pesquisa, extensão e/ou gestão não será
promovido para o nível/classe subsequente. Cabe reflexão que tal
adoção leva a uma economia junto aos cofres públicos em detrimen-
to da progressão salarial do servidor.

Levantamento de aspectos-problemas
e sugestões para o planejamento
e os encaminhamentos para um futuro
que se reduzam e/ou erradiquem as perdas
de progressões/promoções funcionais

Por meio da metodologia baseada na observação direta, con-


sulta dos processos e datas de portarias, constata-se que após o
retorno presencial das atividades docentes sucedidas aos trabalhos
remotos desenvolvidos durante a pandemia de COVID-19, que alguns
servidores docentes, aos poucos estão instruindo seus processos e
solicitando seus direitos. Some-se a isso, a SubComissão Permanente
de Pessoal Docente - SubCPPD local do campus da pesquisa, passou
a atender os professores presencialmente. Logo, perpassa-se a ideia

623
que, para alguns, ainda há dificuldades em compreender e preencher
a Ficha de Avaliação de Desempenho Acadêmico e que o retorno pre-
sencial maximizou a retomada das solicitações.

Outra possibilidade de problemas foram os próprios impactos


da pandemia. Os documentos que vigoram desde 2018, têm metade
do tempo em meio a crise sanitária, e percebe-se que há pessoas que
não tem condições psicológicas para gerenciar problemas de saúde
pública, lutos, enfermidades, recuperação pós-covid-19 e ainda con-
seguir instruir processos em tempo desejável.

De fato, a pandemia trouxe muitas perdas, inclusive o atraso na


carreira dos docentes EBTTs e, em remuneração, recorre-se aos dados
SUMÁRIO do Banco Central do Brasil, que a inflação dos últimos doze meses está
em 10,07% e a taxa Selic 13,75%14, a penúltima corrói o salário do ser-
vidor bem como a última aumenta as taxas de juros para empréstimos.
Some-se a isso, as perdas na carreira, a falta de reajuste salarial desde
primeiro de agosto de 201915, Lei n.º 13.325 de 2016 (BRASIL, 2016) e
o aumento de alíquotas progressivas estabelecidas pela Reforma da
Previdência, Instituto Nacional do Seguro Social (INSS16).

Em virtude desses fatores, há a possibilidade de o profissional


da educação buscar remunerações extras, por meio dos editais de
bolsas de ensino, pesquisa e extensão (que são claras ao solicitar jor-
nada de trabalho fora da carga horária docente). Essa remuneração
é chamada de salário por resultado que “refere à quantidade ou ao
número de peças ou obras produzidas pela pessoa” (CHIAVENATO,
2016, [2014], p. 243). No caso dos professores, as peças ou obras
podem ser classificadas, como elaboração de apostilas, elaboração e/
ou ministração de cursos presenciais, on-line, híbridos; planejamento

14 Dados extraídos da reunião do Copom de 03.08.2022 e disponibilizados pelo Banco Cen-


tral do Brasil.
15 Esse repasse foi dado entre agosto de 2018 a agosto de 2019 por meio de três parcelas.
16 Segundo a Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019 e entrou em vigor
no dia 1° de março de 2020.

624
e implementação de projetos, em geral; investigações em contextos
variados, entre outros.

Assim, o que outrora poderia ser uma complementação na ren-


da, parece-nos ser uma tentativa de equilibrar a finanças para manter
o orçamento doméstico, visto a remuneração defasada. Já em 1943,
Maslow advertia que o ser humano se dedica a satisfazer, primeiramen-
te, suas necessidades pessoais, por conseguinte, as profissionais.
Nessa senda, faz-se necessário buscar meios de atingir uma remune-
ração mensal mínima que atenda às necessidades pessoais e familia-
res e parte dos desejos individuais. Logo, a longo prazo a instituição
que não se atenta à essas demandas, pode ficar sem o profissional
SUMÁRIO com alta instrução e especialização, pois, o mesmo, pode precisar ir
em busca de novos concursos e novas oportunidades que satisfaçam
suas necessidades, desejos e realizações; inclusive opções que ofe-
reçam remuneração melhor.

Assim, como desdobramento dessa discussão, acredita-se, vee-


mentemente, que é necessário que seja discutido e revisto em instâncias
superiores questões vinculadas a perdas salariais por progressões/pro-
moções não acumuláveis e por impossibilidade de efeitos retroativos,
assim como reajuste salarial aos servidores que compense, pelo menos,
a inflação dos últimos três anos, data da última correção salarial.

Aos docentes, recomenda-se, que enquanto não se alterar a


legislação atual, que os mesmos fiquem atentos aos prazos regulares
de suas progressões/promoções, pois, o esquecimento, a desistência
e/ou a procrastinação na instrução do processo em tempo desejável
podem trazer perdas salariais, por ora, incalculáveis.

625
Descrição dos processos
de aplicar e recompensar pessoas,
nos itens avaliação de desempenho
e remuneração na situação atual
das progressões e/ou promoções funcionais

Ao defender o processo de aplicar pessoas, Chiavenato (2016


[2014], p. 151) afirma que deve haver a “Orientação de pessoas, De-
senho organizacional e desenho de cargos e Avaliação de desempe-
nho humano”. O mesmo autor prossegue exemplificando tendências
extremas no processo de aplicar pessoas que podem ser classificadas
SUMÁRIO
de forma tradicional ou moderna. A primeira, tradicional, modelo “me-
canístico, ênfase na eficiência, fatores higiênicos, estabilidade, conser-
vantismo, permanente e definitivo”. Já o segundo, moderno, “modelo
orgânico, ênfase na eficácia, fatores motivacionais, instabilidade e mu-
dança, inovação e criatividade, provisório e mutável”

Dessa forma, as progressões/promoções atreladas a Nota Téc-


nica n.° 2.556/2018 levam o servidor a um processo obsoleto e estag-
nado da abordagem tradicional de “gerenciar pessoas”, uma vez que
a esfera pública está atrelada à “visão lógica e determinística” de lidar
com as pessoas, processos “burocráticos”, métodos preestabelecidos
que “sigam rotinas e os procedimentos impostos pela organização”,
manutenção de instituição tradicional, fatores estes que não satisfa-
zem as necessidades da moderna gestão do capital intelectual e cujo
alerta é para “um desastre futuro da organização e, também das pes-
soas”, caso não seja revisto. (CHIAVENATO, 2016 [2014], p. 151).

No âmbito do processo moderno de aplicar pessoas, há espaço


para a tendência sofisticada e refinada da abordagem de uma “visão sis-
têmica e abrangente”, na qual possa se desenvolver o modelo orgânico
com “adaptabilidade e flexibilidade”, prevendo “liberdade de escolha”

626
com vista a atingir metas e objetivos, além de privilegiar fatores motiva-
cionais e satisfacientes, levando em consideração que tudo passa por
mudanças e o tempo todo e essa melhora constante pode “ [...] asse-
gurar competitividade organizacional em um mundo caracterizado por
intensas transformações”. (CHIAVENATO, 2016 [2014], p. 151).

Aprofundando essa discussão de aplicação de pessoas, mais


especificamente, na avaliação do desempenho humano, encontra-se
que “é o processo que mede o desempenho do funcionário e configura
o grau que ele alcança os requisitos para o trabalho” (CHIAVENATO,
2016 [2014], p. 151). Logo, as percepções das variáveis do que se
espera da pessoa e o papel a ser desempenhado permite que os indi-
SUMÁRIO víduos compreendam com clareza o que se deseja dele e como forma
de “output” desse processo há a recompensa, quer seja “in natura” ou
aumento de salário, promoções, méritos ou até demissão.

Por outro lado, o mesmo processo também está voltado para


o desenvolvimento que “permite que o trabalhador saiba seus pontos
fortes [...] e pontos frágeis” e que no caso da docência EBTT permite
que o profissional ao preencher a ficha de avaliação de desempenho
acadêmico se autorregule para desenvolver as atividades no ensino,
pesquisa, extensão e gestão (CHIAVENATO, 2016 [2014], p. 211). De-
talhando o contexto, os professores que só se dedicam ao ensino, ao
chegar na época de sua progressão não terão pontos mínimos (60
pontos) para serem aprovados nas diretrizes que são voltadas para
pesquisa, extensão e/ou gestão, como consequência serão reprova-
dos e deverão corrigir essa falha no interstício subsequente.

No âmbito das IFEs, destaca-se que a remuneração básica do


servidor é atribuída através do salário mensal, conforme a classe e
nível do servidor, o aumento de salário baseado na “Remuneração va-
riável” tendo cumprido todos os requisitos das leis e documentos dis-
cutidos anteriormente. Assim, como base o nível/classe também pode

627
ser considerado um incentivo salarial que ao longo dos anos pode
atingir o topo da carreira, a titularidade única.

Entende-se, portanto, que toda a estagnação nessa remunera-


ção pode não propiciar a satisfação almejada pelo profissional e até
trazer impactos motivacionais negativos, haja vista que Chiavenato
(2016 [2014], p. 238) adverte que a remuneração de pessoas na abor-
dagem moderna deve oferecer “satisfação no trabalho e na organi-
zação, necessidade de autorrealização” sob pena trazer implicações
diretas na “capacidade de atrair, reter e motivar funcionários” e declara
que as recompensas são importantes por “incentivar as contribuições
das pessoas” aos objetivos e propósitos da instituição.
SUMÁRIO
De acordo com trabalhos semelhantes, Brito e Caldas (2016)
declaram que as promoções e progressões são para melhorar o
desempenho do docente, servir de incentivo para aperfeiçoar a qua-
lidade do serviço prestado, além de elevar o nível de escolaridade
do magistério EBTT.

Nessa senda Costa e Kruger (2021, p. 100), ressaltam que re-


compensar pessoas é muito importante, uma vez que “[...] retribuir e
incentivar o funcionário com um reforço positivo, premiar o bom de-
sempenho e o manter motivado, sendo um dos aspectos mais influen-
tes no âmbito da Gestão de Pessoas” e que a falta de incentivos pode
causar um aspecto-problema que, a exemplo dos autores, pode ser
estudado em um planejamento estratégico que se encadeie os pro-
cessos, os itens e a situação atual indicando o aspecto-problema e
encaminhamentos. Neste último, o intuito é que venham proporcionar
“patamares de eficiência, eficácia e efetividade na consecução do bem
público, seja ao nível de prestação de serviços, seja na valorização do
capital do intelectual interno”. (COSTA; KRUGER, 2021, p. 105).

Este contexto encontra suporte no Plano de desenvolvimento


Institucional – PDI (2019 a 2023) que estabeleceu objetivos estraté-
gicos, indicadores e metas institucionais está na Gestão Acadêmica

628
e Administrativa que visa um Instituto Federal de excelência e exige
o desenvolvimento de ações inovadoras no tripé ensino, pesquisa e
extensão e é previsto, entre outras demandas, “[...] aprimorar a gestão
de pessoas de forma a valorizar o servidor, proporcionando qualidade
de vida e desenvolvimento de sua carreira na instituição”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises aqui discutidas, tiveram como propósito respon-


der às perguntas de pesquisa desta investigação, semelhantemente,
SUMÁRIO
como atingir seus objetivos. Portanto, na primeira categoria de análise,
foi apresentado o quadro atual com todas as progressões/promoções
docentes bem-sucedidas, com portarias meramente declaratórias e
progressões em aberto, além da discussão do termo “efetivo” que leva
em consideração, majoritariamente, o cumprimento dos 24 meses na-
quele nível pelo servidor docente.

A análise de dados revelou que após o cumprimento da Nota


Técnica n.° 2.556/2018 no IFAM, que os docentes que não conseguem
instruir seus processos e dar entrada em tempo regulares, de 24 e 24
meses, já estão sendo prejudicados com progressões ou promoções
declaratórias e sem o direito de conseguir progressões ou promoções
per saltum e retroativos. Os dados apontam que, caso não sejam revistas
tais diretrizes de concessão, as perdas remuneratórias serão significati-
vas, trazendo perdas inimagináveis para a aposentadoria dos servidores.

Em relação aos possíveis aspectos-problemas, levantou-se


com base na observação da direta que há uma necessidade urgente
em reajustes salariais que, pelo menos, compensem a inflação dos
últimos três anos, data do último reajuste salarial docente. Pois a falta
desse, associado a produtividade baseada em resultados produtivis-
tas, no caso de editais de fomento de ensino, pesquisa e extensão,

629
leva o servidor docente a trabalhar mais para compensar a inflação e
isso pode acarretar, em médio e longo prazos, a estafa e prejuízos para
a saúde física e mental.

Diante das discussões dos resultados, corroboramos Brito e


Caldas (2016, p. 95) que a implementação célere de progressões, pro-
moções e demais benefícios são um incentivo para a melhoria dos
serviços públicos já que “[...] os planos de carreira devem ser con-
siderados como um incentivo para a melhoria e qualificação do ser-
vidor”. Nessa direção, Costa e Kruger (2021, p. 105), defendem ser
necessário a elaboração de um planejamento estratégico situacional
de Gestão de Pessoas e que todos os processos sejam reavaliados e
SUMÁRIO rediscutidos com os servidores públicos.

Por conseguinte, sugere-se que as propostas e os encami-


nhamentos emergidos, devem, de fato, ser direcionadas à função de
avaliação de desempenho que é um “meio de melhorar a qualidade
do trabalho e a qualidade de vida nas organizações”. (CHIAVENATO,
2016 [2014]). Finalmente, que os resultados sejam levados em esferas
institucionais, sindicais e junto aos demais órgãos competentes, pois
o reconhecimento do capital intelectual e seu respectivo desempenho
gera mais engajamento organizacional.

Como sugestão de futuros trabalhos, propõe-se a realização


de novas investigações que engendrem as representações docentes
acerca de suas percepções, necessidades, anseios e desejos sobre
o tema, quais as razões que os levam a esquecer, desistir e/ou pro-
crastinar na instrução de seus próprios processos e como se dá suas
atuações no ensino, pesquisa e extensão de forma remota, presencial,
a distância e/ou semipresencial. Como resultado, poder-se-á ter pro-
cessos mais assertivos em ações e será possível compreender melhor
como se dá a cultura corporativa para melhorar as características de
atuação, tecnologias e processos internos, pois será possível com-
preender melhor as pessoas que estão trabalhando neste contexto.

630
Ainda, uma investigação complementar que englobe todos os campi
do IFAM e que possa confirmar, corroborar ou mesmo rejeitar com os
achados pode contribuir para o avanço da discussão.

Diante do exposto, sugere-se que no âmbito dos órgãos compe-


tentes, sejam revistas essas questões de impedimentos em progres-
sões/promoções, pois conforme relatou-se anteriormente, o professor
vem cumprindo a pontuação mínima em, pelo menos, três aspectos
da ficha de avaliação docente e os 24 meses previstos pela Lei n.°
12.772/2012 (BRASIL, 2012). Haja vista que não há retroativos finan-
ceiros, que pelo menos, seja possível realizar a progressão per saltum,
porque caso contrário a literatura aponta que futuramente poderá ha-
SUMÁRIO ver desmotivação e migração dos profissionais para outras organiza-
ções mais competitivas.

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Federal junto ao Instituto Federal do Amazonas. Despacho n.° 00131/2019/
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633
28
Capitulo 28

Aplicação do Planejamento Estratégico Situacional na


Central de Abastecimento Farmacêutico em um Hospital
Público de Médio Porte no interior do Amazonas

Samara Motter Detoni da Silva

Juliano Milton Kruger

Samara Motter Detoni da Silva

Juliano Milton Kruge

Aplicação do Planejamento
Estratégico Situacional na Central
de Abastecimento Farmacêutico
em um hospital público de médio porte
no interior do Amazonas
DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.28
SUMÁRIO Resumo:
Este trabalho abordou o Planejamento Estratégico Situacional como ferra-
menta de gestão em uma Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF), de
um hospital público de médio porte em um município do interior do Amazo-
nas. Teve como objetivo geral analisar a aplicação do Planejamento Estraté-
gico Situacional (PES) como ferramenta de gestão na saúde, em uma CAF,
sendo objetivos específicos os de identificar as causas e consequências dos
principais problemas que se evidenciaram no cenário da CAF; identificar os
nós críticos mais relevantes de ação dentro da CAF; formular um plano de
ação utilizando a metodologia PES para a CAF, no intuito de resolver os nós
críticos identificados e implementar e analisar os resultados da utilização
desta metodologia na resolução de problemas da unidade. Trata-se de um
estudo descritivo-explicativo com característica exploratória, de caráter qua-
litativo, realizado por meio de uma pesquisa ação com coleta de dados por
intermédio de oficinas e observação participante, realizado entre os meses
de julho e setembro de 2022. Utilizou como metodologia a aplicação dos
quatro momentos do PES, através de técnicas de brainstorming, técnica de
priorização, diagrama de Ishikawa e Matriz de Síntese para a elaboração
do Plano de Ação. Conclui-se que a metodologia PES mostrou-se útil para
auxiliar o gestor da CAF e os gestores do hospital a organizar e priorizar os
problemas enfrentados pelo setor, para assim compreender suas causas e
consequências e elaborar o plano de ação. Por ser uma ferramenta de fácil
aplicação é um interessante instrumento de apoio aos gestores. Principal-
mente no caso de uma CAF, onde na maioria das vezes o profissional é um
farmacêutico e não tem conhecimento nesta área da administração.

Palavras-Chave: PES; CAF; Hospital Público; Amazonas.

635
INTRODUÇÃO

A Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) é o setor res-


ponsável por receber e conferir os produtos comprados para suprir a
necessidade hospitalar com notas fiscais e seguir as normas técnicas
preestabelecidas, preservando a qualidade e assegurando a movimen-
tação dos medicamentos. Além disso, é função da CAF receber as re-
quisições das unidades assistenciais e de dispensação de forma que
ocorram a separação, distribuição e registro de saídas. Dessa forma é
essencial que ocorra a gestão de estoques através de levantamentos
periódicos e da elaboração de relatórios gerenciais (ROSA et al, 2006).
SUMÁRIO
A CAF desenvolve o serviço de Assistência Farmacêutica, o qual
é um grupo de atividades relacionadas com o medicamento destina-
das a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade.
Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma
de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a
segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanha-
mento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informa-
ção sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais
de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional
de medicamentos (ROSA et al, 2006).

Entre as organizações mais importantes e complexas da área de


saúde estão os hospitais. Estes, em geral, possuem uma intensidade de
trabalho e demandam insumos especializados, como os medicamentos.
Cabe à Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) de um hospital o
gerenciamento dos medicamentos que serão utilizados. A importância
deste insumo para os hospitais e o volume financeiro movimentado nos
estoques das CAF, normalmente na casa dos milhões para hospitais de
porte médio, justificam a importância deste setor (TUMAS, 2009).

636
O Planejamento Estratégico Situacional (PES) (MATUS, 1993)
apresenta a vantagem de potencialização do alcance dos objetivos a
serem cumpridos, elucidando os pontos a serem trabalhados, além
de propor um planejamento participativo, sendo um modelo adminis-
trativo que vem sendo disseminado pelo território brasileiro e utilizado
como modelo gestão de projetos na assistência farmacêutica.

Na área de saúde, que possui uma demanda crescente e recur-


sos escassos, o planejamento é fundamental (BRASIL, 2006). Na au-
sência de um planejamento, os serviços de saúde funcionam de forma
desarticulada, prejudicando o serviço e a população (VIEIRA, 2009).
Melhorar a organização do sistema de saúde implica em mudança de
SUMÁRIO paradigmas e no melhor planejamento.

Neste sentido, problematiza-se “Como o uso do Planejamen-


to Estratégico Situacional pode melhorar a atuação da Central de
Abastecimento Farmacêutico (CAF) em um hospital público de
Itacoatiara – Amazonas?”, visto que, o PES em saúde possibilita o
desenvolvimento de ações gerenciais em saúde que contribuem para
que gestores, profissionais e usuários se envolvam em processos de
gestão e de cuidado que abarque as necessidades populacionais, vi-
sando resultados eficazes e resolutos na expectativa qualitativa dos
processos de trabalho

Para tanto, este trabalho teve como objetivo, analisar a aplica-


ção do Planejamento Estratégico Situacional (PES) como ferramenta
de gestão na saúde, em uma da Central de Abastecimento Farmacêu-
tico (CAF) de um hospital público de médio porte do interior do Ama-
zonas e com isso identificar as causas e consequências dos principais
problemas que se evidenciaram no cenário da CAF; identificar os nós
críticos mais relevantes de ação dentro da CAF; formular um plano de
ação utilizando a metodologia PES para a CAF, no intuito de resolver
os nós críticos identificados e implementar e analisar os resultados da
utilização desta metodologia na resolução de problemas da CAF.

637
REVISÃO TEÓRICA

Planejamento Estratégico
Situacional (PES)

O Planejamento Estratégico Situacional (PES), foi concebido na


década de 80 por Carlos Matus (1993) e segundo Riviera e Hartmann
(2000), trata-se de um instrumento de planejamento pautado em pro-
blemas abordando, sobretudo, os problemas mal estruturados e com-
plexos, para os quais não existe resolução regulamentada ou previa-
mente estabelecida, como no caso daqueles bem estruturados.
SUMÁRIO
Para Matus (1996) o planejamento estratégico situacional con-
siste de uma metodologia prática com fundamentação teórica, de-
vendo ser utilizado sistematicamente e com rigor na supervisão das
estratégias pré-definidas, atentando-se para os agentes que agem em
cooperação ou em conflito.

O PES possui características que contemplam a análise aprofun-


dada do problema, buscando os dissecar para que os pontos decisi-
vos sejam reconhecidos. Portanto, antes de se vislumbrar um objetivo,
é necessário compreender que o primordial é identificar os proble-
mas, a fim de que se desenvolvam estratégias para saná-los. Dada
sua natureza subjetiva, é necessário que sejam levantados os pontos
de vista dos indivíduos que interagem com a situação problema; mas
não tão somente, pois, busca-se a percepção subjetiva dos mesmos
e suas interpretações da realidade. No entanto, entende-se que tais
análises podem vir a não se confirmar; visto que, por mais que novas
tecnologias tenham capacidade de processamento que possibilitam
quase que predizer os movimentos do mercado, ainda assim, o futuro
é incerto. Logo, este é um dos atributos contemplados que pode vir a
contribuir para novas tomadas de decisão, respeitando novos cenários

638
que se desenham no decorrer do processo. Ressalta-se a importância
das análises e tomadas de decisão, afinal, novas ações geram novos
resultados; consequentemente, há a necessidade de sempre estar
preparado para se adaptar às mudanças (CAZAGRANDE; PONTES,
2018; FERREIRA; SOLER, 2021).

O planejamento auxilia a condução da governança de institui-


ções de saúde, além de colaborar, por consequência, para um melhor
aproveitamento de oportunidades e na superação de desafios na imple-
mentação de políticas de saúde. Além disso, o planejamento facilita a
definição de objetivos, a organização das ações, o acompanhamento, a
fiscalização, o controle dos gastos e a avaliação dos resultados obtidos,
SUMÁRIO portanto, entende-se que o processo de planejamento e gerenciamento
da gestão no contexto da aquisição de insumos que venham a potencia-
lizar os atendimentos é relevante para a saúde coletiva como um todo,
sem mencionar o fato da qualificação das práticas no campo da assis-
tência farmacêutica, afinal, boas práticas de gestão estão relacionadas
ao melhor desempenho dos serviços de saúde (NAAMATI-SCHNEIDER,
2013; RIEG et al., 2014; FERREIRA; SOLER, 2021).

A aplicação da metodologia do PES é descrita por Matus (1993)


onde quatro grandes temas formam os quatro momentos da dinâmi-
ca do processo de planificação que diferencia o enfoque situacional,
que são: Primeiro momento: explicativo (foi, é, tende a ser) – refere-se
à construção de explicações para embasar a própria ação e intervir e
entender a ação dos componentes. A avaliação da situação conduz aos
objetivos, e os objetivos à seleção de problemas e ao aprofundamento
da explicação situacional. Segundo momento: normativo ou prescritivo
(deve ser) – refere-se à escolha das operações e ações necessárias
para alcançar os objetivos. Neste momento, o plano adquire a forma de
propostas de decisão que devem ser tomadas a partir do ponto inicial.
A situação-objetivo de um plano sempre está dependente da ocorrên-
cia de um cenário. Terceiro momento: estratégico (pode ser do deve

639
ser) – refere-se a pesquisar diversos modos de jogar, considerando os
oponentes e os aliados, para incorporar viabilidade ao plano formado
no segundo momento. Quarto momento: tático-operacional (fazer) – é o
momento da ação: a ação, contudo, nunca é a mera execução do plano,
mas uma adaptação deste às circunstâncias do momento. Aqui é indis-
pensável dispor de um sistema de direção estratégica, de uma agenda
do dirigente que chame atenção sobre as importâncias e processos, de
modo técnico-político, as propostas centrais de decisão. Nesse momen-
to decide-se tudo e, na prática, isto se efetua com o domínio do plano
sobre a improvisação ou da improvisação sobre o plano.

Esses quatro momentos buscam fundamentar a construção do


SUMÁRIO plano de Ação para o setor.

Planejamento Estratégico
Situacional em Saúde

As organizações de saúde, particularmente os hospitais, são


identificados em sua tipologia como organizações profissionais, ca-
racterizando-se por sua grande dependência dos profissionais res-
ponsáveis pela execução das atividades finalísticas da organização.
Estas atividades, devido a sua complexidade, são executadas e con-
troladas diretamente por esses profissionais, especialistas com alto
nível de qualificação, que requerem autonomia para o desenvolvi-
mento de seu trabalho.

O Planejamento Estratégico Situacional em Saúde surge, em


meados da década de 70, como a tentativa de reconhecimento da
complexidade ao introduzir as ideias da superioridade do político sobre
o econômico e da diversidade de atores-sujeitos do mesmo ato de pla-
nejar. A questão da viabilidade política passa a ocupar um papel cen-
tral e a definição de propostas/compromissos de ação a depender de
uma articulação que se abre a uma perspectiva policêntrica de análise.

640
O pressuposto da participação de diferentes atores sociais é
o que possibilita ao PES definir estratégias e ações correspondentes
às distintas situações, demandas, necessidades, na perspectiva da
solução dos problemas descritos e priorizados e da complementari-
dade das intervenções. Como o planejamento não é do planejador (o
técnico que orienta metodologicamente), mas sim do sujeito que pla-
neja (atores sociais), o processo de planejamento permite estabelecer,
no território, a prática de compromisso e a de responsabilização que
envolve equipes de saúde e população.

Assistência Farmacêutica
SUMÁRIO

A Portaria GM n° 3.916/98 que trata da Política Nacional de


Medicamentos define a assistência farmacêutica como um grupo de
atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as
ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abas-
tecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas eta-
pas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a segurança
e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e a
avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre
medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde,
do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medi-
camentos (BRASIL, 1998).

A organização dessa assistência, está relacionada com a fun-


cionalidade dos serviços, e tem por objetivo o gerenciamento eficiente
e eficaz de modo a não trazer prejuízos à instituição e ao paciente. É
importante assinalar que a Assistência Farmacêutica é multidisciplinar,
porém o farmacêutico, por ser legalmente o profissional responsável
pelo medicamento, é imprescindível para o desenvolvimento das ativi-
dades relacionadas à área, tais como seleção, programação, armaze-
namento, distribuição e dispensação de medicamentos.

641
A implantação de sistemas de informações gerenciais na Assis-
tência Farmacêutica auxilia na formulação de políticas de medicamentos
e subsidia a tomada de decisões dos gestores. Para um gerenciamento
eficiente é necessário um sistema de informações que reflita a realidade
dos serviços, disponibilizando indicadores seletivos e específicos, defi-
nidos pelo gestor, que auxiliem na qualificação do processo de decisão
e na racionalização da aplicação dos recursos (BRASIL, 2007).

Aplicação do PES na CAF

SUMÁRIO O Planejamento Estratégico Situacional com o foco na ges-


tão da Assistência Farmacêutica é uma importante ferramenta para
a construção de um Plano de Ação capaz de modificar o panorama
em uma localidade. O Planejamento Estratégico Situacional de Carlos
Matus contribui na identificação de possíveis entraves (e a incidência
de outros mais) que ocorram nos serviços prestados pela CAF, pois se
enfatiza na análise da ambiência que circunda o local onde se almeja
a implantação de um plano de trabalho.

Em estudos já realizados com a aplicação esta ferramenta em


CAFs, verificou-se ser uma metodologia de grande importância para o
planejamento desses setores, para conseguirem alcançar seus obje-
tivos organizacionais, sugerindo a disseminação deste uso em hospi-
tais, em virtude da sua facilidade de aplicação, do seu caráter estra-
tégico e situacional e da possibilidade de envolvimento de diversos
atores ao longo do processo, o que contribui para facilitar a aplicação
do plano de ação e a resolução dos problemas, auxiliando na melhoria
do serviço prestado à população (CAZAGRANDE, 2018).

642
METODOLOGIA

Esse estudo utilizou como base o PES (MATUS, 1993) e consis-


tiu-se em uma pesquisa que conforme Gil (2007), pode ser enquadra-
da como descritivo-explicativa com característica exploratória, de ca-
ráter qualitativo, realizada por meio de uma pesquisa ação com coleta
de dados por intermédio oficinas e observação participante (BARDIN,
1997). Na observação participante, o observador coloca-se na posição
dos observados, devendo inserir-se no grupo a ser estudado como
se fosse um deles, pois assim tem mais condições de compreender
os hábitos, atitudes, interesses, relações pessoais e características do
SUMÁRIO
funcionamento daquele grupo (BARDIN, 1997).

O Estudo foi desenvolvido em uma unidade hospitalar de cará-


ter público de média complexidade, que está situada no município de
Itacoatiara - Amazonas. Possui atualmente uma capacidade de 110
leitos de internação. O hospital realiza em média 3.019 atendimentos
ambulatoriais/mês e 413 internações/mês. Entre os setores do hospital
está a Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) que compõe o
Serviço de Farmácia Hospitalar, onde o profissional farmacêutico é o
responsável pela organização da assistência farmacêutica dos medi-
camentos, neste setor que será aplicado o PES. Fica localizada fora do
hospital em uma estrutura anexa. Seu quadro de funcionário é com-
posto por 2 auxiliares administrativos; 3 almoxarifes e 1 farmacêutico
que é responsável pela gestão e que juntos formam a amostra deste
trabalho. Estes desempenham suas atividades em regime de seis e
oito horas de segunda a sexta-feira.

Todos os quatros momentos previstos na metodologia do PES


foram aplicados na CAF e os aspectos metodológicos relacionados a
cada momento são relatados a seguir.

643
Primeira Etapa – Momento Explicativo

No momento Explicativo foi realizada a primeira oficina com os


funcionários da CAF em que, por meio da Técnica de Brainstorming
(tempestades de ideias), foram levantados os principais problemas re-
lacionados às atividades do setor. De modo, a auxiliar a visualização
pelos participantes, utilizou-se de postits para anotação dos problemas
elencados, que foram colados em uma parede em ordem sequencial,
conforme as figuras Figura 1a e 1b.

Figura 1 – Mural e Primeira Oficina do PES

SUMÁRIO
Figura 1a – Mural com Postit - Figura 1b – Primeira Oficina
Identificação dos Problemas da CAF - Funcionários do Setor

Fonte: acervo próprio dos autores (2022).

Em seguida, para orientar quais os problemas são prioritários,


foi aplicada a Técnica de Priorização GUT – Gravidade/ Urgência/Ten-
dência, adaptada pelo SEBRAE (2005), que utiliza três critérios: Gravi-
dade, Urgência e Tendência. Gravidade – impacto do problema para
pessoas, organizações, tarefas, processos e resultados, caso não haja
intervenção; Urgência – prazo para resolver determinado problema,

644
considerando o tempo para surgimento de possíveis resultados inde-
sejáveis (quanto maior a urgência, menor o tempo necessário para
resolver o problema); Tendência – avaliação (estimativa) das possibili-
dades de crescimento, redução ou desaparecimento do problema na
ausência de ação.

Quadro 1 – Critérios e Valores para a Classificação de Problemas

Critérios
Valor
Gravidade Urgência Tendência
1 Sem gravidade Pode esperar Não mudar
2 Grave Mais rápido possível Piorar
3 Extremamente grave Ação imediata Piorar rapidamente
SUMÁRIO
Fonte: adaptado de SEBRAE (2005).

Cada problema, recebeu uma pontuação, que em conjunto com


os atores chegavam a um denominador comum, segundo cada um des-
ses critérios, mediante escala de valores (Quadro 1). Para guiar de forma
prática os níveis de pontuação, foi utilizado Indicadores adesivos com
variação de cores, sendo a cor azul para Gravidade, laranja para Urgên-
cia e Amarelo para Tendência, e números para guiar a contagem poste-
rior com base no valor apresentados no quadro abaixo (Figura 2a e 2b).

Figura 2 – Priorização dos problemas e exemplo

Figura 2a – Priorização dos Figura 2b – Exemplo de um Problema


Problemas - Técnica de GUT com os valores por Critérios

Fonte: acervo próprio dos autores (2022).

645
Em uma segunda oficina, após já terem sido lançadas as pon-
tuações em planilha do Excel, obtendo-se o somatório das pontua-
ções. Apresentou-se os problemas priorizados aos participantes que
novamente através da aplicação da técnica de Brainstorming, deba-
teram em grupo os problemas priorizados, a população atingida, a
localização e a temporalidade do problema.

Após essa fase, foi estabelecido um fluxograma como proposto


por Carlos Matus (1993), com a utilização de quadros e setas e cha-
mada de “Rede Explicativa do Problema”, no formato do Diagrama de
Ishikawa modificado (Espinha de Peixe) (LEITE, 2012). Como produto
do momento explicativo, obteve-se a matriz de priorização dos proble-
SUMÁRIO mas, a relação de descritores e a rede explicativa do problema.

Segunda Etapa – Momento Normativo

O Momento Normativo permitiu estabelecer as operações e ações


a fim de promover a mudança situacional em prol da situação objeto e
foi realizada em uma terceira oficina. Esse momento visou determinar
o objetivo geral, os objetivos específicos e determinadas operações e
ações para o alcance da imagem objetivo do problema priorizado. Nes-
te momento, o plano adquiriu a forma de propostas de decisões que
deveriam ser tomadas. Para a construção dos objetivos, foram feitos os
seguintes questionamentos: “o que está causando o problema?”, “quais
as consequências do problema?”, e “o que pode ser feito para mudar
essa situação?”. A partir das conclusões, foram propostas operações e
ações a serem desenvolvidas para enfrentar o problema.

646
Terceira Etapa – Momento Estratégico

Nesta etapa, após estabelecer as operações e ações do plano,


o pesquisador analisou a viabilidade e a factibilidade das ações por
meio da criação da matriz do momento estratégico, com base na prá-
tica reflexiva, pessoal e profissional, a partir das decisões sugeridas
nas oficinas.

Analisou-se as ações que poderiam ser realizadas para solu-


cionar o problema priorizado e a capacidade da equipe da CAF do
hospital, em relação ao poder de decidir, executar e manter as ações
SUMÁRIO propostas. Como também, os recursos existentes e os recursos neces-
sários para a execução das ações.

Quarta Etapa – Momento Tático-Operacional

Neste momento foram sugeridos indicadores de monitoramen-


to e avaliação e prazo de execução para o acompanhamento das
operações, através do preenchimento da Matriz Síntese (Matriz Final).
O monitoramento e a avaliação do planejamento são procedimentos
de atuação conjunta e serviriam como base para acompanhar a exe-
cução das ações, bem como julgar se os resultados estariam ou não
dentro do esperado.

647
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Momento Explicativo: Identificação


e Priorização de Problemas

Através da técnica de Brainstorming no momento da primeira


oficina, utilizou-se duas perguntas para a sensibilização: “Quais as ati-
vidades desenvolvidas pela CAF do hospital?” e “ Quais os problemas
relacionados a estas atividades?”
SUMÁRIO Para a primeira pergunta, foi proposta para orientar o debate,
e obteve várias respostas, entre elas: “Solicitação de Medicamentos
e Produtos para Saúde”; “Recebimento de Medicamentos e Produtos
para Saúde”; “Reposição de Estoque Interno”; “Planejamento Farma-
cêutico de Abastecimento”. As respostas obtidas no segundo questio-
namento estão apresentadas na Tabela 1, totalizando um levantamento
de 34 problemas.

Tabela 1 – Listagem e Priorização de Problemas

Gravidade Urgência Tendência Resultado


Problemas
(G) (U) (T) (GxUxT)
Oscilação no abastecimento de
1 2 2 2 8
materiais
Falta de Internet para fazer os
2 2 2 3 12
pedidos
Atendimento inferior a quantia so-
3 3 3 3 27
licitada
4 Falta de Localização Adequada 2 1 2 4
Discrepância de informações entre
5 2 3 3 18
nota(cautela) e produto
6 Imprevisibilidade de recebimento 2 1 2 4

648
Gravidade Urgência Tendência Resultado
Problemas
(G) (U) (T) (GxUxT)
Falta de Recursos Humanos para
7 2 3 3 18
auxiliar no processo
Falta de estrutura física ( há pouco
8 espaço para armazenamento dos 1 1 2 2
materiais)
Deficiência de Material (falta estan-
9 2 1 2 4
tes/prateleiras e paletes)
10 Deficiência Tático-Operacional 3 3 3 27
Divergência entre Estoque Físico e
11 2 3 3 18
Sistema
Sistema de controle de estoque
SUMÁRIO 12 2 2 2 8
deficiente
Falta de local adequado para sepa-
13 1 2 2 4
ração
Anexo (Bloqueio do acesso prejudi-
14 2 2 2 8
cando a retirada de material)
Falta de cobertura no acesso da CAF
15 3 2 2 12
até o hospital
16 Deficiência do Acesso à Farmácia 2 1 2 4
Não há recipientes para transportar
17 os medicamentos dentro do carro 2 2 2 8
de transporte
Falta de Equipamento para armaze-
18 namento e transporte de medica- 2 2 2 8
mentos e PPS
Falta de local adequado para rece-
19 bimento de medicamentos e PPS 2 3 3 18
na farmácia
20 Deficiência do Sistema 2 2 2 8
Falta de atenção dos funcionários
21 3 2 2 12
no processo
22 Notas com erros e discrepâncias 2 1 1 2
Falta de conhecimento dos docu-
23 1 2 2 4
mentos que estão sendo arquivados

649
Gravidade Urgência Tendência Resultado
Problemas
(G) (U) (T) (GxUxT)
24 Falta de limpeza semanal 2 2 2 8
Falta de método e qualidade no
25 2 2 2 8
processo
26 Pragas no forro 2 2 2 8
Falta de um fluxograma para os fun-
27 2 2 2 8
cionários
Falta de comprometimento da equi-
28 1 1 2 2
pe
Falta de uma metodologia/protocolo
29 2 3 3 18
para o inventario

SUMÁRIO Falta de Recursos Humanos para


30 2 2 3 12
auxiliar no processo
Não atendimento ao fluxograma es-
31 2 1 2 4
tabelecido no setor
Falta de inclusão do profissional
32 farmacêutico nos planejamentos do 2 3 3 18
hospital
Falta de adesão dos médicos a
33 padronização de medicamentos do 2 2 3 12
hospital
Falta de reconhecimento do profis-
34 3 3 3 27
sional farmacêutico

Fonte: os próprios autores (2022).

Conforme apresentado na Tabela 1, chegou-se a três problemas


principais, que atingiram a maior pontuação: Falta de reconhecimento
do profissional farmacêutico; Deficiência Tático-Operacional e Atendi-
mento inferior à quantia solicitada. Em virtude do terceiro problema
priorizado ser uma problemática em consequência aos dois primeiros
que por falta de reconhecimento do farmacêutico e das atividades rea-
lizadas no setor geram um atendimento inferior aos planejamentos da
CAF, optou-se por priorizar: Falta de reconhecimento do profissional
farmacêutico (34); Deficiência Tático-Operacional (10).

650
O profissional farmacêutico dentro de uma Central de Abasteci-
mento Farmacêutico, é essencial para o planejamento das ações em
especial do abastecimento de medicamentos e produtos para saúde
(PPS), este é o responsável por todo o ciclo de assistência farmacêu-
tica, processo que garante a disponibilidade do item para o atendi-
mento aos pacientes da unidade hospitalar. Junto com a alta gestão
do hospital direciona os processos necessários para que a atividades
assistenciais mantenham-se em perfeito funcionamento, garantindo ao
paciente o acesso aos medicamentos.

O segundo problema reflete nas atividades diárias desenvolvidas


na CAF por seus funcionários, em especial os almoxarifes e auxiliares
SUMÁRIO administrativos. Atividades que requerem atenção e comprometimento
por parte da equipe, pois são eles os responsáveis pelos processos
que ocorrem no setor, como por exemplo: inventários, recebimento e
armazenamento dos medicamentos e produtos para saúde, atendi-
mento das solicitações dos setores, registros no sistema informatizado
de tudo que entra e tudo que sai (controle do estoque), organização
e limpeza interna do setor, arquivamento dos documentos, e emissão
dos relatórios para o farmacêutico planejar o abastecimento sequente.
Todas essas e outras mais atividades, são importantes no contexto da
gestão de medicamentos no âmbito hospitalar. Como por exemplo,
a realização de um inventário possibilita ao gestor a identificação de
todos os produtos que estão em seu estoque, verifica se há irregulari-
dades, e garante a confiabilidade das informações com lote e validade
dos medicamentos, que ficam à disposição. Se esse processo for rea-
lizado de forma ineficaz, seja por descomprometimento, seja por falta
de conhecimento, ou habilidade, pode-se gerar um falso estoque que
pode prejudicar o planejamento do abastecimento pelo farmacêutico.
Ainda, um auxiliar administrativo, por exemplo, que não domina a arte
da informática sendo o controle de estoque todo gerenciado por um
sistema, evidencia uma alta probabilidade de erros e lentidão no pro-
cesso, culminando também na entrega final de abastecimento.

651
Outros problemas, como “Atendimento inferior a quantia solici-
tada de medicamentos e produtos para saúde” (3) e “Falta de inclu-
são do profissional farmacêutico nos planejamentos do hospital” (32),
também obtiveram pontuação importante. O primeiro remete a uma
maior importância dada ao planejamento mensal do farmacêutico, que
ao solicitar um quantitativo para o abastecimento do hospital, não é
atendido. Além disso, esse problema tem relação com o problema 32,
pois quando não se envolve o profissional farmacêutico nos processos
decisórios e nas atividades que são planejadas pelo hospital, tem-se
um viés de abastecimento que por vezes é deficitário e se agrava mais
ainda quando se iniciam processos nos quais não esse profissional
SUMÁRIO tinha conhecimento. É o caso de cirurgias eletivas, por exemplo, onde
há uma grande demanda de medicamentos e materiais que precisam
estar disponíveis para não haver prejuízo no atendimento ao paciente.

Momento Explicativo: Explicação do Problema

No momento de explicação dos problemas priorizados, as se-


guintes perguntas guiaram o debate e a troca de ideias: “Por que isso
ocorre?” e “O que isso gera?”. As respostas a estas perguntas per-
mitiram identificar os descritores como indicadores qualitativos que
ajudam a entender as causas e as consequências. Essas evidências
revelam que aquela situação priorizada era um problema como os lis-
tados na Tabela 2.

652
Tabela 2 – Problemas Priorizados e a relação dos descritores

Problemas
Descritores Indicadores
Priorizados
D1- Falta de comunica- Despadronização das pres-
ção com os médicos crições médicas
D2- Falta do farmacêuti-
Falta do produto para saúde
Falta de co nos processos decisórios
no momento da cirurgia
reconhecimento (cirurgias eletivas, etc.)
do profissional Pedidos não aprovados mes-
farmacêutico (34) D3- Descaso com o Serviço da CAF mo sendo indispensáveis
para o serviço da CAF
D4- Necessidade de Serviço de Assistência Far-
mais farmacêuticos macêutica Incompletos
SUMÁRIO D5- Falta de profissionais com Desenvolvimento de ativi-
conhecimento técnico na área dades inadequadamente
D6- Falta de Recursos tecnológi- Atividades com maior pro-
Deficiência cos para a realização das tarefas babilidade de erros
Tático-Opera- Maior dificuldade para enten-
cional (10) D7- Não há treinamentos alinhados
der como se deve trabalhar e
aos interesses dos funcionários
como atingir os objetivos
D8- Falta de comunicação Atividades incompreendidas
nas tomadas de decisões e realizadas erroneamente

Fonte: os próprios autores (2022).

Ainda em debate foi definido a Imagem-Objeto, a qual foi: Ter


profissionais almoxarifes e auxiliares administrativos com habilidades
tático-operacionais compatíveis com as atividades desenvolvidas no
setor da CAF. Nessa segunda fase do momento explicativo, e já com
os dados levantados, foi possível criar a rede explicativa do problema,
de posse dos descritores, do problema priorizado e da imagem-objeto.
Foi impresso a imagem final da Espinha de Peixe e apresentado aos
atores para que pudessem emitir suas opiniões e sugestões. Não hou-
ve a necessidade de reescrever o problema nem os descritores, pois
houve um consenso desde o início da primeira fase.

653
Figura 3 – Rede Explicativa do Problema

SUMÁRIO

Fonte: os próprios autores (2022).

A leitura da Figura 3 que trata da rede explicativa do problema


fornece informações que permitem visualizar as causas e consequên-
cias dos problemas priorizados que impedem que a meta seja posta
como a solução dos problemas e expressa no termo: “Habilidades
Tático-operacionais dos funcionários da CAF”.

Momento Normativo: Elaboração dos


objetivos, operações e ações

O Momento Normativo contou com a participação de uma nova


funcionária, remanejada para cumprir a função de auxiliar administrati-
vo no setor; esta foi orientada quanto ao processo do PES, e os objeti-
vos do projeto, de modo a alinhá-la aos demais participantes.

Após a definição dos descritores (Tabela 2), e com a constru-


ção da “Espinha de Peixe”, que explicou e permitiu visualizar a cau-
sa convergente como: “Falta de Reconhecimento do profissional

654
farmacêutico”, e a consequência convergente: “Falha no abastecimen-
to de medicamentos e produtos para saúde” (Figura 3).

Definiu-se como objetivo geral do plano de ação: implantar ati-


tudes que mostrem a importância do profissional farmacêutico e de
suas ações, e demonstrar a necessidade de profissionais capacita-
dos para realizarem as atividades de almoxarifes e auxiliares adminis-
trativos na CAF, para melhorar os planejamentos de abastecimento
realizados no setor.

Em seguida foram apresentados os objetivos específicos pro-


postos em cima das causas e consequências durante a explicação
SUMÁRIO do problema, sendo eles: Objetivo Específico 1 (OE 1) -Incentivar a
participação do Coordenação da CAF no processo de contratação de
profissionais para atuar no setor; Objetivo Específico 2 (OE 2) - Implan-
tação da Comissão de Farmácia e Terapêutica -CFT, como também a
apresentação de 8 (oito) operações e 8 (oito) ações para alcançar o
objetivo geral, chegando ao resultado apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 – Momento Normativo

Objetivos
Operações Ações
Específicos (OE)
OE.1.1.1- Participar do processo
OE.1.1-Listar Critérios de Seleção dos
de Seleção dos profissionais que
profissionais que irão atuar na CAF
irão atuar na CAF
OE.1.2.1- Elaborar lista para aqui-
OE.1 Incentivar a OE.1.2- Aquisição de equipamentos sição de equipamentos tecnológi-
participação do tecnológicos cos necessários para o desenvolvi-
Coordenação da mento das atividades do setor.
CAF no processo
de contratação de OE.1.3-Implantar cronograma de
OE.1.3.1- Divulgar oportunidades
profissionais para Educação Permanente no setor junto
de treinamentos técnicos ofereci-
atuar no setor a Comissão de Educação Permanente
dos pelo hospital
do Hospital
OE.1.4-Implantar cronograma de Reu- OE.1.4.1- Realizar reuniões de
niões quinzenalmente com a equipe e feedback quinzenalmente com a
colaboradores equipe e colaboradores

655
Objetivos
Operações Ações
Específicos (OE)
OE.2.1.1- Publicar e divulgar a
OE.2.1-Elaborar a Padronização dos
Padronização dos Medicamentos
Medicamentos disponíveis no hospital
no hospital
OE.2.2- Descrever a importância do
OE.2.2.1- Realizar reuniões men-
OE.2. Implantação profissional farmacêutico no processo
sais para repasse de Relatórios de
da Comissão de decisão do planejamento de Cirur-
Controle de Estoque
de Farmácia e gias eletivas
Terapêutica -CFT. OE.2.3- Sensibilizar os gestores para a OE.2.3.1- Efetivar a presença do
importância das atividades realizadas profissional e aumentar sua inser-
na CAF ção no âmbito multiprofissional
OE.2.4-Incentivar a abertura de contra- OE.2.4.1- Dimensionar o número
tação de profissionais farmacêuticos de profissional farmacêutico
SUMÁRIO
Fonte: os próprios autores (2022).

Momento Estratégico

Neste momento, os dados da tabela 3 (objetivos específicos,


operações e ações) foram analisados pelo farmacêutico, responsável
pela gestão da CAF, para identificar a viabilidade e a factibilidade de
cada ação. Todos os dados analisados foram inseridos na planilha do
momento estratégico (Tabela 4 e 5). A análise da viabilidade consistiu
em identificar se a gestão da CAF possui poder de decisão, execução
e manutenção da ação, enquanto a factibilidade procurou realizar uma
análise crítica em relação aos recursos necessários para executar cada
ação, através do levantamento dos recursos necessários e dos exis-
tentes e os possíveis déficits. Para tanto, foram definidas atividades
estratégicas que devem ser realizadas para o alcance das ações e
operações propostas (Tabela 4 e 5).

656
Tabela 4 – Detalhamento das ações para o objetivo específico 1

Objetivo Específico (OE) 1 - Incentivar a participação do Coordenação da CAF no pro-


cesso de contratação de profissionais para atuar no setor
Análise de Viabilidade Análise de Factibilidade
Atividade
Recursos Recursos Estratégica
Operações Ações Decidir Executar Manter Déficit
Existentes Necessários
Sensibilizar
quanto a
estratégia de
RH/ Trei- incorporação
OE.1.1 OE.1.1.1 Não Sim Não RH Treinamento
SUMÁRIO namento do profissional
farmacêutico
no processo
de seleção.
Implantar
Leitor de Leitor de
novo processo
Código Código de
de Controle
OE.1.2 OE.1.2.1 Sim Sim Sim Computador de Barras/ Barras /
de Estoque
computador/ computador/
por Código
Treinamento Treinamento
de Barras
Sala
Apropriada/ Promover
Sala Entrosamento formações junto
OE.1.3 OE.1.3.1 Sim Sim Sim Nenhum
Apropriada entre a Educação
membros Permanente
de equipe
Promover
reuniões entre
Próprio a equipe
OE.1.4 OE.1.4.1 Sim Sim Sim Nenhum Nenhum
setor para saber o
andamento das
atividades
Fonte: os próprios autores (2022).

657
A elaboração do quadro do momento estratégico, demonstran-
do o detalhamento das ações para cada objetivo específico, permitiu a
visualização das ações e operações, da análise da factibilidade e das
atividades estratégicas sugeridas, para aquelas ações em que havia
déficit para sua execução. No caso do objetivo específico 1, foram
encontradas dificuldades gerencial-operacional (necessidade de que
todos da CAF sigam os procedimentos corretos para o desenvolvimen-
to das atividades diárias; profissionais sem qualificação para o trabalho
que desempenham na CAF, reflexo do processo de contração sem cri-
térios), dificuldade no processo de Educação Permanente (o hospital
está com a comissão de Educação Permanente desativada), material
SUMÁRIO ( necessidade de equipamentos tecnológicos que auxiliem e facilitem
o processo de controle de estoque de medicamentos e produtos para
saúde, assim como para a otimização do layout interno da CAF).

658
Tabela 5 – Detalhamento das ações para o objetivo específico 2

Objetivo Específico (OE) 2 - Implantação da Comissão de Farmácia e Terapêutica - CFT


Análise de Viabilidade Análise de Factibilidade
Atividade
Recursos Recursos Estratégica
Operações Ações Decidir Executar Manter Déficit
Existentes Necessários
Sensibilizar a
SUMÁRIO equipe médica
Farmacêutico/ para adesão
OE.2.1 OE.2.1.1 Sim Sim Não Nenhum Nenhum
Estagiário ao padrão de
medicamentos
do hospital
Sinalizar a
Computador/ Maior Maior importância
OE.2.2 OE.2.2.1 Não Sim Sim Sala da interação com interação com do profissional
Direção os gestores os gestores farmacêutico
para a gestão
Implantação Demonstrar
Sala
da Comissão aos gestores
Apropriada/
OE.2.3 OE.2.3.1 Não Sim Não Nenhum de Farmácia a importância
Entrosamento
e Terapêutica da CFT no
entre equipe
(CFT) hospital
Aumentar o
RH/ RH/ quadro de
OE.2.4 OE.2.4.1 Não Não Não Nenhum
Farmacêutico Farmacêutico farmacêutico
na CAF

Fonte: os próprios autores (2022).

659
Para o segundo objetivo específico, as dificuldades constatadas
foram relacionadas à falta de recursos humanos (a necessidade de
mais um farmacêutico que apoie o serviço diário das atividades da
CAF, enquanto o outro trata dos processos administrativos de solicita-
ções de abastecimento), adesão a listagem padrão de medicamentos
disponíveis no hospital pelos médicos (necessidade de elaborar e pu-
blicar a padronização para que se prescreva apenas medicamentos
que tem no hospital), Reconhecimento do profissional farmacêutico
(necessidade de envolvimento deste nos planejamentos de atividades
do hospital, como exemplo de cirurgias eletivas, reuniões).

SUMÁRIO Momento Tático-operacional

Com as informações levantadas nos momentos anteriores, o far-


macêutico gestor da CAF, elaborou um Plano de Ação.

Tabela 6 – Plano de Ação relacionado ao objetivo específico 1

Objetivo Específico 1 - Incentivar a participação do Coordenação da CAF


no processo de contratação de profissionais para atuar no setor
Responsabilidades
Recurso e Centralidade Prazo Indicadores
Operações Ações Finan-
Ator Outros (Meses) de Avaliação
ceiro*
Principal Parceiros
%de novos
funcionários
Setor RH do
Coordenação que passaram
OE.1.1 OE.1.1.1 / Hospital/ 6
da CAF pela seleção
SEMSA
do coordena-
dor da CAF
% de erros
Gerência
Coordenação encontrado
OE.1.2 OE.1.2.1 / Administrativa 1
da CAF no processo
e Financeira
de Inventário

660
Avaliação
Qualitativa do
Comissão
Coordenação serviço por
OE.1.3 OE.1.3.1 / de Educação 3
da CAF intermédio
Permanente
dos registros
de erros
Avaliar Qua-
Coordenação
OE.1.4 OE.1.4.1 / - 3 litativamente
da CAF
as reuniões
* Não foi possível estimar os recursos financeiros necessários.

Fonte: os próprios autores (2022).

As Tabelas 6 e 7, apresentam os recursos necessários ou esti-


SUMÁRIO mados, a responsabilidade e centralidade, ou seja, a definição do ator
principal e outros parceiros, a determinação dos prazos para a reali-
zação das ações e indicadores de avaliação do desenvolvimento das
operações. Em virtude do tempo, não foi possível estimar os recursos
financeiros relacionados a cada uma das ações.

Tabela 7 – Plano de Ação relacionado ao objetivo específico 2

Objetivo Específico 2 - Implantação da Comissão de Farmácia e Terapêutica - CFT

Responsabilidades
Recurso e Centralidade Prazo Indicadores
Operações Ações Finan-
Ator Outros (Meses) de Avaliação
ceiro*
Principal Parceiros
% de pres-
Coordenação Estagiário crições com
OE.2.1 OE.2.1.1 / 3
da CAF / SEMSA medicamentos
fora do Padrão
% de reuniões
Coordenação Direção
OE.2.2 OE.2.2.1 / 3 realizadas
da CAF Clínica
por mês

661
Inserção do
Direção
Coordenação farmacêutico
OE.2.3 OE.2.3.1 / Clínica 3
da CAF em reuniões
e Geral
de equipes
Coordenação Contratação
OE.2.4 OE.2.4.1 / RH 2
da CAF Aberta
* Não foi possível estimar os recursos financeiros necessários.

Fonte: os próprios autores (2022).

Implementação do Plano de Ação na CAF

SUMÁRIO
Para a execução do primeiro objetivo específico: “Incentivar a
participação do Coordenação da CAF no processo de contratação
de profissionais para atuar no setor” entre as operações elencadas
foi apresentação à direção geral do hospital, bem como ao setor de
Recursos Humanos do hospital de uma listagem com critérios para a
seleção de profissionais que se enquadrariam no perfil da CAF. Sendo
estas para Auxiliar Administrativo, ter formação em: Técnico em Admi-
nistração ou Farmácia, ter curso de informática. Para almoxarife: Curso
de almoxarife, curso de logística, experiência na área afim de mais de
1 ano. A importância de ter um profissional com uma qualificação no
setor, garante a minimização dos problemas tático-operacionais, como
também a compreensão da importância de se ter um bom desempe-
nho nas atividades realizadas. A direção do hospital recebeu a lista-
gem e se mostrou bastante motivada com a sugestão e nos informou
que repassará a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) para análise
e posterior aprovação, esta aprovação se faz necessário em virtude de
ser o órgão principal de contratação de funcionários para o hospital.

Outra operação envolve a melhoria do serviço através da aqui-


sição de equipamentos tecnológicos para o setor e procedeu-se da
mesma maneira da anterior, onde foi apresentado a direção do hos-

662
pital um levantamento de equipamentos que o setor necessita: Com-
putador, impressora, leitor de código de barras, nobreak, software de
controle de estoque. Esta listagem também foi encaminhada à SEMSA,
para processo de análise.

Para a qualificação dos profissionais, foi elaborado um crono-


grama de formação com temas voltados para a área tema do serviço
da CAF, de modo a manter os profissionais sempre atualizados, como
também como estratégia de sanar dúvidas que pudessem se apresen-
tar no decorrer das atividades. Como o hospital atualmente não tem a
Comissão de Educação Permanente, este cronograma foi apresentado
ao coordenador da CAF.
SUMÁRIO
Para a sugestão de reuniões com a equipe colaboradora foi de-
finido junto a gestão e apresentado aos demais funcionários um crono-
grama de reuniões que deveriam ser realizadas quinzenalmente. Estas
reuniões devem ocorrer dentro do próprio setor em forma de reuniões
de feedback. Não foi possível ocorrer a implantação do segundo ob-
jetivo específico relacionado à Comissão de Farmácia e Terapêutica
- CFT em virtude de mudanças de coordenadores e gestores no hos-
pital. Mas como o plano não se restringe somente a esta operação, foi
possível executar algumas ações atreladas a este objetivo que, até a
presente data, continua em proposta.

Uma das principais ações realizadas neste trabalho foi a elabo-


ração da Padronização dos Medicamentos que são disponibilizados
neste hospital, trabalho extenso, que contou com a participação de
estudantes da faculdade de farmácia da cidade. A listagem está em
processo de formatação e deverá ser repassada a direção geral para
publicação e futura divulgação aos médicos.

O grande benefício desta ação é garantir que o paciente tenha


acesso ao medicamento, visto que, quando os médicos prescrevem
algum medicamento que não é padrão do hospital este não consegue

663
ser atendido. É um instrumento fundamental no processo de imple-
mentação do uso racional de medicamentos visando também promo-
ver a redução dos custos operacionais da assistência farmacêutica,
viabilizando a promoção da qualidade do atendimento aos pacientes,
garantindo o uso seguro e racional dos remédios indicado ao trata-
mento pelo profissional médico, concomitante a redução dos custos
operacional do setor hospitalar (PAULA, 2016).

A sensibilização da importância do profissional farmacêutico


como integrante da equipe multiprofissional, fazendo parte integrante
dos planejamentos do hospital, se deu inicialmente através de uma re-
união com o gestor clínico e a gestora geral do hospital. A expectativa
SUMÁRIO é que ocorra uma reunião mais ampla com todos os coordenadores
do hospital de modo a sensibilizar a todos sobre a importância do
profissional farmacêutico não só no abastecimento de medicamentos,
mas também na garantia de um uso racional destes, a partir de um
planejamento inicial, na elaboração de medidas para custo e benefício
em compras de medicamentos e materiais, na execução da rastreabi-
lidade dos fármacos no hospital, assim como na informação sobre os
erros de medicação e preveni-los, realizando a assistência farmacêuti-
ca e colaborando na segurança dos pacientes, além de, participar de
uma equipe multiprofissional com a necessidade de mais profissionais
farmacêuticos para garantir processos mais eficientes de gestão.

O controle e monitoramento do PES, não foi possível ser rea-


lizado de forma plena em virtude das ações que foram executadas
não terem sido finalizadas. Levantamos a ressalva da importância do
acompanhamento dos indicadores relacionados aos nós críticos, de
modo, a verificar a evolução ou não dos processos.

664
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os desafios para que a Assistência Farmacêutica seja valoriza-


da e estruturada de forma efetiva, inicia-se pela conscientização, por
parte dos gestores, da importância de cada ação desenvolvida e as
que estão por desenvolver, da capacitação dos funcionários, da orga-
nização dos processos, da disponibilização de uma estrutura tecno-
lógica adequada, para tornar o acesso do paciente ao medicamento,
mas racional e sem prejuízos.

A metodologia PES mostrou-se útil para auxiliar o gestor da


SUMÁRIO CAF e os gestores do hospital a organizar e priorizar os problemas
enfrentados pelo setor, para assim, compreender suas causas e con-
sequências e elaborar o plano de ação. Por ser uma ferramenta de fácil
aplicação, torna-se um interessante instrumento de apoio aos gesto-
res. Principalmente no caso de uma CAF, onde na maioria das vezes
o profissional é um farmacêutico e não tem conhecimento nesta área
da administração.

Outro ponto fundamental do PES é o destaque na participação


dos atores envolvidos no processo, afinal são eles que desenvolvem as
atividades e lidam com as dificuldades, tornam-se responsáveis pela
construção e execução do planejamento, e assim almejam a transfor-
mação do cenário no qual estão inseridos.

Nas organizações de saúde, há um grau elevado de interdepen-


dência, gerando um maior prazo para execução das ações em virtu-
de da espera da resposta dos superiores. Dessa forma o profissional
farmacêutico que possui papel central na execução das atividades,
necessita de apoio da alta gerência para executar boa parte delas.

Com base nos problemas listados e priorizados, observa-se a


necessidade de mudanças no setor da CAF, pois estão diretamente

665
interligados com a segurança do paciente. E espera-se que o presente
estudo possa contribuir para a assistência farmacêutica desenvolvida
nas Centrais de Abastecimento Farmacêutico e consequente promo-
ção do uso racional de medicamentos. Além disso, muitos dos resulta-
dos já obtidos neste trabalho demonstram a viabilidade e a facilidade
de aplicação desta ferramenta em CAFs, contribuindo para a melhoria
do serviço executado no setor e em consequência aos pacientes aten-
didos em hospitais.

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668
29
Capitulo 29

Financiamento da Atenção Primária à Saúde: uma análise


dos repasses financeiros realizados pelo SUS no período
de 2012 a 2022 ao município de Itacoatiara-AM

Rodrigo Luiz Pereira da Silva

Nely Cristina Medeiros Caires

Rodrigo Luiz Pereira da Silva

Nely Cristina Medeiros Caires

Financiamento
da Atenção Primária à Saúde:
uma análise dos repasses
financeiros realizados pelo SUS
no período de 2012 a 2022
ao município de Itacoatiara-AM

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.29
SUMÁRIO

Resumo:
Um dos principais desafios do Sistema Único de Saúde desde a sua criação
nos últimos anos é o financiamento da Atenção Primária à Saúde. Para que
possa cumprir com o seu objetivo de promoção, proteção e recuperação da
saúde, o financiamento das políticas públicas deve ser permanente, constante
e suficientemente equilibrado. O objetivo deste trabalho foi analisar a dinâmi-
ca dos repasses de verbas federais do SUS, referentes ao financiamento da
Atenção Primária à Saúde (APS), destinados ao município de Itacoatiara-Am
no período de 2012 a 2022. Os resultados apontam que nos últimos dez anos
foram progressivos os valores dos repasses para a Atenção Primária para o
município. Entre os anos de 2012 a 2017 existia somente o financiamento para
o Custeio das ações de saúde, e a partir de 2020, passaram a ser organizados
e transferidos no formato dos Bloco de Manutenção das Ações e Serviços
Públicos de Saúde e Bloco de Estruturação da Rede de Serviços Públicos de
Saúde. Para o ano de 2022, os recursos sofreram uma drástica queda chegan-
do a 15% em comparação com o ano anterior. Tal diminuição é resultado do
aumento considerável no orçamento da Saúde nos primeiros anos da pande-
mia do Covid19, que a partir de 2022 não serão mais repassados, o que pode
ameaçar a qualidade dos serviços da Atenção Primária. Conclui-se que com o
repasse financeiro do governo federal destinado à saúde, houve consideráveis
melhorias na implementação das políticas públicas para a saúde nos últimos
10 anos no município de Itacoatiara-AM.

Palavras-Chave: Sistema Único de Saúde; Atenção Primária à Saúde; Previne Brasil.

670
INTRODUÇÃO

A partir da Constituição brasileira de 1988, que estabeleceu as


bases para o atual modelo de assistência pública à saúde com a cria-
ção do Sistema Único de Saúde – SUS, veio instituindo o princípio da
universalidade, a descentralização a municípios e um novo formato
de organização dos serviços de saúde, sendo algumas responsabi-
lidades compartilhadas entre gestores públicos das esferas federais,
estaduais e municipais (COELHO, 2020).

O SUS é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde


SUMÁRIO do mundo, que abrange desde simples atendimento para aferição da
pressão arterial até transplante de órgãos, proporcionando acesso inte-
gral, universal e gratuito para toda a população do país (BRASIL, 2018).

Considerada a porta de entrada para o sistema de saúde, a Aten-


ção Primária à Saúde (APS), engloba o conjunto de ações de saúde
individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção,
proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cui-
dados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de prá-
ticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe
multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as
quais as equipes assumem responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017).

Para desempenhar seu papel de centro de comunicação da


rede horizontal de uma rede de atenção à saúde, a Atenção Primária
a Saúde deve cumprir três papéis essenciais: o papel resolutivo, o de
resolver a grande maioria dos problemas de saúde da população; o
papel organizador, relacionado com sua natureza de centro de comu-
nicação, o de coordenar os fluxos e contrafluxos das pessoas pelos
diversos pontos de atenção à saúde; e o de responsabilização, o de
corresponsabilização pela saúde dos cidadãos em quaisquer pontos
de atenção à saúde em que estejam (MENDES, 2011).

671
Tal projeto humanista e solidário exige um financiamento perma-
nente, constante e suficientemente equilibrado para que possa cumprir
com o seu importante objetivo de promoção, proteção e recuperação
da saúde. Por essa razão, a Constituição Federal tratou com bastante
detalhamento o financiamento das ações e serviços públicos de saúde
no país (MASSUDA, 2022).

O financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) é tripartite,


isto é, de responsabilidade da União, estados, Distrito Federal e mu-
nicípios. A união repassa os recursos financeiros para custeio da APS
aos municípios em conta aberta especificamente para este fim. Tais
transferências destinam-se a custear ações e serviços de saúde, visto
SUMÁRIO que cabe aos municípios a gestão e execução das ações e serviços da
Atenção Básica. (COELHO, 2020)

Por meio da Portaria nº2.979, de 12 de novembro de 2019, o Go-


verno Federal lançou um novo modelo de financiamento de custeio da
Atenção Primária à Saúde no âmbito do SUS, instituindo o Programa
Previne Brasil que tem como princípio a estruturação de um modelo fo-
cado em aumentar o acesso das pessoas aos serviços da Atenção Pri-
mária, o vínculo entre a população e equipe e a transferência de recursos
financeiros pela União aos municípios a partir de 2020 (BRASIL, 2019).

Neste contexto, faz-se necessária a boa gestão e avaliação de


programas e políticas públicas, buscando aumentar a racionalidade
no processo de decisão do gestor frente a relevância da Atenção Pri-
mária à Saúde, em resposta às diversas necessidades de saúde das
populações.

Desta forma, o presente trabalho de pesquisa tem como ob-


jetivo analisar as informações de transferências de recursos federais
para o município de Itacoatiara-Am, referentes ao Financiamento da
Atenção Primária à Saúde através do SUS, realizadas para no período
de 2012 a 2022, bem como o desenvolvimento do processo e gestão

672
destes recurso por parte do município, tendo como parâmetro a for-
mulação do Programa Previne Brasil que altera um dos pontos mais
sensíveis da Política Nacional da Atenção Básica, o seu financiamento.

Com base no exposto, busca-se analisar o processo de analisar


o procedimento e comportamento progressivo dos repasses de ver-
bas federais, referentes ao financiamento da Atenção Primária à Saúde
(APS) destinados ao município de Itacoatiara-Am no período de 2012 a
2022, vendo que o aumento deste financiamento fortalecerá as ações
e programas de saúde voltados à população.

SUMÁRIO
REVISÃO TEÓRICA

Financiamento do Sistema
Único de Saúde (SUS)

O financiamento do SUS é oriundo de recursos financeiros do


Orçamento da Seguridade Social, além de recursos da União, dos Es-
tados, dos Municípios e de outras fontes. Esses recursos são adminis-
trados em contas bancárias específicas que constituem os Fundos de
Saúde e estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos de Saúde e dos
Órgãos de Controle (BRASIL, 2020).

As regras para o financiamento do sistema de saúde no Brasil


vêm passando por diversas alterações desde a Constituição Federal
de 1988, tanto em relação à previsão de aplicação de valores mínimos
por cada esfera de governo, quanto em relação ao estabelecimento
das fontes de recursos. Os estados devem aplicar, no mínimo, 12%
da sua receita corrente líquida, e municípios; 15%, de acordo com a
Lei Complementar 141/2012, que define para fins de cumprimento do
mínimo constitucional quais são os gastos com saúde e as despesas

673
que não podem ser declaradas como Ações e Serviços Públicos de
Saúde, estabelecendo ainda a obrigatoriedade, para União, Estados,
Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2020).

Segundo o Ministério da Saúde, as transferências de recursos


federais para a saúde são feitas através de blocos de financiamento.
Com a publicação da Portaria 3.992, de 27 de dezembro de 2017, a
transferência de recursos do Fundo Nacional de Saúde para os Esta-
dos, Municípios e o Distrito Federal, são organizados em dois blocos: o
Bloco de Custeio das Ações e Serviços Públicos de Saúde e o Bloco de
Investimento na Rede de Serviços Públicos de Saúde (BRASIL, 2019).

SUMÁRIO Coelho (2020) destaca outra grande mudança no financiamento


do Sistema de Saúde realizada em 2019, que foi a instituição do progra-
ma “Previne Brasil”, através da portaria 2.979 que substitui os critérios
até então utilizados no Piso da Atenção Primária, PAB fixo e variável para
financiamento de custeio da APS no SUS. No lugar, foram introduzidos
o número de pessoas registradas em equipes de Saúde da Família e
Atenção Primária cadastradas no Ministério da Saúde – ponderada por
critérios de vulnerabilidade socioeconômica, perfil demográfico e locali-
zação geográfica; o pagamento por desempenho a partir de resultados
alcançados pelas equipes sobre indicadores e metas definidos pelo
Ministério da Saúde; e incentivos financeiros para ações e programas
prioritários do Ministério da Saúde (COELHO, 2020).

As mudanças buscam promover o fortalecimento dos instru-


mentos de planejamento e de orçamento, permitindo ao gestor maior
flexibilidade no gerenciamento e na aplicação adequada dos recursos
nas ações pactuadas e programadas no Plano Saúde e na Programa-
ção Anual de Saúde (BRASIL, 2019).

674
Atenção primária à saúde

A Atenção Primária à Saúde (APS) é definida pelo Ministério da


Saúde, como o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por
um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que
abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos,
o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a
manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção
integral que impacte positivamente na situação de saúde das coletivi-
dades (BRASIL, 2019).

SUMÁRIO De acordo com Massuda (2022), a Atenção Primária à Saúde foi


desenvolvida para ser a base do Sistema Único de Saúde-SUS, sendo
o centro articulador do acesso dos usuários às Redes de Atenção à
Saúde (RAS), alicerçada nos princípios da universalidade, integralida-
de, descentralização e participação da comunidade.

A APS ocorre através de


[...] práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participati-
vas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações
de territórios bem delimitado” com a utilização de “tecnologias
de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resol-
ver os problemas de saúde de maior frequência e relevância das
populações (BRASIL, 2004).

Tendo como atributos essenciais à atenção no primeiro contato,


a longitudinalidade, a integralidade e a coordenação, e como atributos
derivados a orientação familiar e comunitária e a competência cultural,
discute-se a importância de tais atributos na Estratégia Saúde da Fa-
mília, proposta político-governamental para a mudança do modelo de
atenção à saúde no contexto do Sistema Único de Saúde no Brasil.

675
Financiamento da Atenção Primária

Segundo Paim et al. (2011), o desenvolvimento da Atenção Pri-


mária (conhecida no brasil como atenção básica), tem recebido muito
destaque no Sistema Único de Saúde (SUS), impulsionada pelo pro-
cesso de descentralização da execução de programas federais e aces-
so universal aos serviços de promoção de saúde.

Para promover a efetiva descentralização dos serviços e ações de


saúde, foi editada a Norma Operacional Básica - NOB 01/96 – Portaria
2203, de 6 de novembro de 1996, que preconizava a reordenação do
SUMÁRIO modelo de atenção à saúde, pois redefiniu: os papéis de cada esfera de
governo; os instrumentos gerenciais para que municípios e estados as-
sumissem seus respectivos papéis de gestores do SUS; os mecanismos
e fluxos de financiamento (ampliando as transferências fundo a fundo);
a prática de acompanhamento, controle e avaliação do SUS; e as condi-
ções para a efetivação do controle social (BRASIL, 1996).

Ficaram estabelecidos, a partir dessa Norma Operacional Bási-


ca (NOB), dois tipos de gestão municipal. Os municípios com gestão
plena da Atenção Básica (AB), os quais ficam responsáveis pela ofer-
ta das especialidades básicas, pela gestão das unidades básicas de
saúde e pelas ações de vigilância sanitária e epidemiológica. O muni-
cípio passa a receber integralmente os recursos destinados à Atenção
Primária à Saúde (APS) e tem autonomia para aplicá-los. E os municí-
pios com gestão plena do sistema de saúde, os quais, além das ações
de Atenção Primária, têm autonomia de gestão dos serviços de média
e alta complexidade (VAZQUEZ, 2011; MELAMED; COSTA, 2003).

O financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) é triparti-


te, isto é, de responsabilidade da União, estados, municípios e Distri-
to Federal. A união repassa os recursos financeiros para custeio da
APS aos municípios em conta aberta especificamente para este fim.

676
Tais transferências destinam-se a custear ações e serviços de saúde,
visto que cabe aos municípios a gestão e execução das ações e servi-
ços da Atenção Básica (BRASIL, 2020).

Piso da Atenção Básica (PAB)

Conforme a Portaria GM 1882, de 18 de dezembro de 1997, o


Piso da Atenção Básica consiste em recursos destinados exclusiva-
mente à Atenção Básica, transferidos aos municípios de forma regular
e automática do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de
SUMÁRIO Saúde (BRASIL, 1997).

O Piso da Atenção Básica foi a primeira fonte de financiamento


federal a contemplar todos os municípios com recursos específicos
para a Atenção Primária. Composto por dois componentes – um fixo,
de base populacional, canalizado mensalmente para as prefeituras
com a finalidade exclusiva de subsidiar as ações da Atenção Primária
à Saúde e um variável, que depende da implementação de estratégias
e programas de promoção à saúde da APS (MASSUDA, 2022).

A composição do custeio de financiamento da Atenção Pri-


mária, até 31 de dezembro de 2019, era organizada pelos PAB Fixo
e PAB Variável. O Piso da Atenção Primária à Saúde (PAB Fixo) era
obtido multiplicando a população residente do município pelo valor
per capita que variava entre R$23 e R$28. A base deste cálculo era a
estimativa populacional de 2016 do IBGE e a distribuição dos municí-
pios em quatro faixas, de acordo com os seguintes indicadores: PIB
per capita, percentual da população com plano de saúde, percentual
da população com Bolsa Família, percentual da população em extre-
ma pobreza e densidade demográfica. O valor do Piso da Atenção
Primária à Saúde (PAB Variável) dependia de credenciamento e im-
plantação de estratégias e programas, tais como Equipes de Saúde

677
da Família (eSF), Equipes de Saúde Bucal (eSB) e Agentes Comunitá-
rios de Saúde (ACS), entre outros. Resumidamente, o financiamento
do PAB era baseado na lógica per capita populacional e por adesão
de estratégias (BRASIL, 2019).

A Portaria MS/GM 2979, de 12 de novembro de 2019 estabe-


lece o novo modelo de financiamento de custeio da APS pela União,
considerando os componentes de captação ponderada, desempe-
nho e incentivo a ações estratégicas. O cálculo dos incentivos finan-
ceiros da captação ponderada considera o quantitativo da população
cadastrada por Equipes Saúde da Família e Equipes de Atenção Pri-
mária, com atribuição de peso por pessoa, considerando os critérios
SUMÁRIO de vulnerabilidade socioeconômica, perfil demográfico e classifica-
ção geográfica (BRASIL, 2019).

Tabela 1 – Capitalização – Valor per capita/ano

Valor por pessoa cadastrada

Ajuste de distância (Tipologia IBGE) COM critério so-


SEM critério socioeco-
cioeconômica ou
nômico e demográfico
demográfico (x 1,3)
1 - Urbano 50,50 R$ 65,65
2 - Intermediário Adjacente 73,23 R$ 95,19
3 - Rural Adjacente 73,23 R$ 95,19
4 - Intermediário Remoto 101,00 R$ 131,00
5 - Rural Remoto 101,00 R$ 131,00

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2018).

O cálculo do pagamento por desempenho é efetuado conside-


rando os resultados de indicadores alcançados pelas equipes creden-
ciadas e cadastradas no Sistema de Cadastro Nacional de Estabele-
cimentos de Saúde (SCNES). O valor do pagamento por desempenho
é calculado a partir do cumprimento de meta para cada indicador por
equipe (BRASIL, 2019).

678
Ao contemplar cidades menores e regiões mais pobres, que an-
tes não tinham infraestrutura de saúde para prestar serviços e receber
financiamento federal, o PAB fixo contribuiu para redução das iniquida-
des em saúde no país. O componente variável, por sua vez, teve papel
decisivo para induzir a adoção da ESF com financiamento atrelado ao
número de equipes implantadas (MASSUDA, 2022).

Programa “Previne Brasil”

O programa Previne Brasil foi instituído pela Portaria nº 2.979,


SUMÁRIO de 12 de novembro de 2019. O novo modelo de financiamento alte-
ra algumas formas de repasse das transferências para os municípios,
que passam a ser distribuídas com base em quatro critérios: capta-
ção ponderada, pagamento por desempenho, incentivo para ações
estratégicas e Incentivo financeiro com base em critério populacional
(BRASIL, 2019).

Segundo o Ministério da Saúde, a proposta tem como princípio


a estruturação de um modelo de financiamento focado em aumentar
o acesso das pessoas aos serviços da Atenção Primária e o vínculo
entre população e equipe, com base em mecanismos que induzem à
responsabilização dos gestores e dos profissionais pelas pessoas que
assistem (BRASIL, 2019).

O Previne Brasil distribui os valores financeiros per capita refe-


rentes à população efetivamente cadastrada nas Equipes de Saúde da
Família (eSF) e de Atenção Primária (eAP), com o grau de desempenho
assistencial das equipes somado a incentivos específicos, como am-
pliação do horário de atendimento (Programa Saúde na Hora), equipes
de saúde bucal, informatização (Informatiza APS), equipes de Consul-
tório na Rua, equipes que estão como campo de prática para formação
de residentes na APS, entre outros tantos programas (BRASIL, 2019).

679
METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa com abordagem descritiva (GIL, 2002;


VERGARA, 2007) voltada a análise de dados secundários extraídos da
base do Sistema Único de Saúde (SUS) e Fundo Nacional de Saúde
(FNS), sobre o financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS), es-
pecificamente para o município de Itacoatiara-AM, tendo como parâ-
metro o período de 2012 a 2022, buscou-se organizar as informações
de forma a facilitar posterior análise e compreensão.

Também foi realizada revisão bibliográfica (GIL, 2002; VERGA-


SUMÁRIO RA, 2007) dos conceitos relevantes sobre Atenção Primária à Saúde,
financiamento da saúde no Brasil e o novo modelo de financiamento
“Previne Brasil”, que foram citados ao longo do trabalho.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

Itacoatiara é um município brasileiro localizado na Região Me-


tropolitana de Manaus, no estado do Amazonas. Segundo estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, é o
terceiro município mais populoso do estado, com 104,046 habitantes
inseridos em uma área territorial de 8.892,038 km².

680
Figura 1 – Região Metropolitana de Manaus – AM

Fonte: IBGE com elaboração de Emplasa/CDT (2018).


SUMÁRIO
Na área da saúde, o município de Itacoatiara possui habilitação
em Gestão Plena do Sistema Municipal desde o ano de 2005, caracte-
rizando a descentralização da gestão em saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), onde o município assume a responsabilidade em
organizar e estruturar os serviços de saúde local, além de conceder ao
gestor municipal uma maior autonomia para gerir os recursos federais
que são destinados e estruturar a área administrativa (BRASIL, 2003).

A capacidade instalada na Atenção Primária à Saúde é composta


por: 11 Unidades Básicas de Saúde (UBS) em atividade, sendo 4 na
Zona Rural e 07 na Zona Urbana, onde todas oferecem os principais
atendimentos de saúde disponibilizados pela Atenção Primária a Saúde
(APS) como: Acolhimento e identificação da necessidade médica; con-
sultas individuais e coletivas feitas por médicos, enfermeiros e dentistas;
visita e atendimento domiciliar; vacinação; desenvolvimento das ações
de controle da dengue e outros riscos ambientais em saúde; pré-natal
e puerpério; rastreamento de câncer de colo uterino (preventivo) e cân-
cer de mama; curativos; testes de saúde variados, acompanhamento
de doenças crônicas, entre outros. Além disso, o município possui um
hospital classificado como regional onde também presta atendimentos
de saúde aos municípios vizinhos como: Urucurituba, Silves, Itapiranga,
Urucará e São Sebastião do Uatumã (AMAZONAS, 2022).

681
Com uma ampla capacidade instalada para atender a Atenção
Primária e Secundária de Saúde, o município vem conseguindo desen-
volver uma política de saúde satisfatória nos últimos dez anos, alcan-
çando bons resultados em sua cobertura.

A tabela 2 mostra que durante os últimos dez anos, os repas-


ses de verbas para o Financiamento do bloco da Atenção Primária
à Saúde (APS) no município de Itacoatiara- Am, sofreram alterações
progressivas e significativas, onde no período de 2012 a 2017 o bloco
de financiamento para Investimentos e Estruturação não estava ainda
inserido, sendo implantado somente a partir de 2018 com o novo mo-
delo de Financiamento da Atenção Básica por meio do Previne Brasil.
SUMÁRIO
Tabela 2 – Valores dos repasses transferências de recursos federais
do SUS para o financiamento da Atenção Primária à Saúde no
município de Itacoatiara-Am, no período de 2012 a 2022 (Em R$)

NOVOS BLOCOS DE FINANCIAMENTO (APS)


Ano / TOTAL DE Manutenção das Ações e Investimentos e Estrutu-
Exercício REPASSE / ANO Serviços de Saúde (CUSTEIO) ração (INVESTIMENTO)
2012 R$ 9.348,318,86 R$ 9.348,318,86 -
2013 R$ 8.772.005,70 R$ 8.772.005,70 -
2014 R$ 9.781.414,96 R$ 9.781.414,96 -
2015 R$ 11.843.492,87 R$ 11.843.492,87 -
2016 R$ 12.162.787,47 R$ 12.162.787,47 -
2017 R$ 12.170.701,93 R$ 12.170.701,93 -
2018 R$ 16.204.199,97 R$ 13.870.304,97 R$ 2.333.895,00
2019 R$ 16.771.681,79 R$ 15.761.470,79 R$ 1.010.211,00
2020 R$ 18.671.936,83 R$ 17.559.736,83 R$ 1.112.200,00
2021 R$ 20.903.100,95 R$ 20.471.475,95 R$ 431.625,00
2022 R$ 17.739.292,29 R$ 17.582.550,29 R$ 156.742,00

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

682
No Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de
Saúde, conforme a Portaria de Consolidação nº 6, de 28 de setem-
bro de 2017, os recursos financeiros se configuram como recurso de
despesa corrente (custeio). No âmbito da Atenção Primária, este bloco
inclui, entre outros, os incentivos financeiros de Captação Ponderada,
Pagamento por Desempenho, Incentivo de Ações Estratégicas e Infor-
matiza APS (COELHO, 2020).

Já no Bloco de Estruturação da Rede de Serviços de Saúde,


os recursos financeiros se configuram como recurso de despesa de
capital (investimento). Atualmente são transferidos por meio deste blo-
co recursos para estruturação da Atenção Primária, como construção,
SUMÁRIO ampliação e reforma de Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades
Básicas de Saúde Fluvial e polos do Programa Academia da Saúde,
bem como recursos para aquisição de equipamentos (COELHO, 2020).

Segundo o Ministério da Saúde, o objetivo dos novos blocos


de financiamento é dar aos gestores de saúde mais autonomia para
aplicar os recursos, considerando o Plano de Saúde aprovado pelo
conselho municipal ou estadual (BRASIL, 2020).

O gráfico 1, a seguir, apresenta a evolução dos repasses de


recursos do SUS para o financiamento da Atenção Primária à Saúde
(APS) no município de Itacoatiara-Am, entre os anos de 2012 a 2022.
Pode-se observar que nos últimos dez anos foram crescentes os valo-
res dos repasses para a Atenção Primária à Saúde (APS) do município
de Itacoatiara-Am. Foi a partir de 2014, com a estabilização do valor
dos recursos, que efetivamente houve uma crescente nos repasses.

Nota-se ainda, que de 2012 a 2017 somente existia o financia-


mento para o Custeio das ações de saúde, que eram subdivididas em
outros blocos como: Agentes Comunitários de Saúde – ACS; Incentivo
Adicional ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde; Núcleos
de apoio à saúde da família – NASF; Incentivo Adicional do Microsco-

683
pista na Atenção Básica; Equipes de saúde da família para populações
ribeirinhas; Saúde bucal – SB, entre outros. (BRASIL, 2022)

Os valores transferidos no período de 2020 consideraram, além


da classificação geográfica, o peso dos critérios de vulnerabilidade
socioeconômica e perfil demográfico, utilizando parâmetros proporcio-
nais à população cadastrada no município.

A partir de 2020, com a Portaria nº828, de 17 de abril de 2020,


os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS), destinados a des-
pesas com ações e serviços públicos de saúde, a serem repassados
na modalidade fundo a fundo aos entes federativos, passaram a ser
SUMÁRIO organizados e transferidos no formato dos seguintes blocos de finan-
ciamento: Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de
Saúde e Bloco de Estruturação da Rede de Serviços Públicos de Saú-
de. (BRASIL, 2020).

Gráfico 1 – Evolução dos repasses de recursos do SUS para o


financiamento da APS no município de Itacoatiara-Am (2012-2022)

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

684
Para o ano de 2022, os recursos de financiamento da Atenção
Primária sofreram uma das maiores quedas desde 2013, chegando
a 15%. Esta diminuição no repasse dos recursos de manutenção da
saúde é resultado ainda dos dois primeiros anos pandêmicos da Covid
19, onde houve um aumento considerável no orçamento da Saúde, por
meio dos decretos extraordinários e a aprovação do decreto de cala-
midade pública, que flexibilizaram o teto de gastos. Todavia, as verbas
de urgência não se repetem em 2022, e o cenário ameaça a qualidade
dos serviços da Atenção Primária, considerada a principal porta de
entrada para o SUS (HARTMANN, 2022).

Segundo a Nota técnica publicada pelo Instituto de Estudos


SUMÁRIO para Políticas de Saúde (IEPS), que analisa a proposta de orçamento
para a saúde em 2022, destaca que se mantida a tendência de redu-
ção dos investimentos, o financiamento da Atenção Primária à Saúde
(APS) ficará estagnada e os recursos adicionais destinados ao comba-
te à pandemia podem ser insuficientes (IEPS, 2022).

No Gráfico 2, é possível acompanhar de forma efetiva a evolu-


ção dos repasses de recursos para o financiamento da Atenção Pri-
mária à Saúde (APS) para o município de Itacoatiara-Am nos últimos
dez anos. Nessa perspectiva, a evolução nos repasses leva-se em
conta as melhorias com investimentos realizados pelo município na
gestão da Atenção Primária à Saúde (APS), bem como o crescimento
dos componentes de captação ponderada, desempenho e incentivos
a ações estratégicas.

685
Gráfico 2 – Valor total de repasses por exercício - (2012-2022)
- financiamento da APS no município de Itacoatiara-AM

SUMÁRIO

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

No Gráfico 3, pode-se analisar a proporção da variação dos


montantes repassados ano a ano, bem como o percentual de cresci-
mento. Observa-se uma grande variação no percentual comparativo
entre os anos de 2012 a 2017, chegando ao baixo crescimento de
0,1%. O maior percentual de crescimento está entre os anos de 2017
e 2018. Nesse período foi publicada a Portaria do Ministério da Saúde,
de n. 3.992, que trata da alteração das normas sobre o financiamento
e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços
públicos de saúde do SUS. Como principal mudança, a nova norma-
tiva estabeleceu que, a partir de 2018, o repasse dos recursos finan-
ceiros federais destinados ao financiamento das ações e dos serviços
de saúde, transferidos aos demais Entes federados na modalidade
fundo a fundo, passam a ser organizados e transferidos na forma dos
seguintes blocos de financiamento: Bloco de Custeio das Ações e dos
Serviços Públicos de Saúde e Bloco de Investimento na Rede de Ser-
viços Públicos de Saúde. (BRASIL, 2018).

686
Gráfico 3 – Percentual comparativo de crescimento por ano - (2012-
2022) - financiamento da APS no município de Itacoatiara-AM

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

SUMÁRIO O Gráfico 4 mostra que durante o período analisado o Bloco da


Manutenção das Ações e Serviços de Saúde (Custeio) da Atenção Pri-
mária à Saúde não sofreu grandes alterações, sendo baseado em cri-
térios de porte populacional municipal, apresentando estrutura e oferta
de serviços com pouco direcionamento para o alcance de resultados
em saúde ou equidade, e sem garantia do acompanhamento real das
pessoas usuárias da Atenção Primária à Saúde (APS) (BRASIL, 2021).

Gráfico 4 – Bloco da Manutenção das Ações e Serviços de Saúde (CUSTEIO)


– 2012 a 2022 - financiamento da APS no município de Itacoatiara-AM

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

687
No gráfico 5, observa-se que a evolução do orçamento federal
para APS relativo às ações orçamentárias do novo financiamento tive-
ram uma crescente no período entre 2018 e 2021, a partir da implanta-
ção do novo modelo de financiamento, Previne Brasil, com o bloco de
Investimentos e Estruturação.

Gráfico 5 – Bloco de Investimentos e Estruturação (INVESTIMENTO) –


2012 a 2022 - financiamento da APS no município de Itacoatiara-AM

SUMÁRIO

Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Brasil (2022).

A partir do ano de 2018, os recursos financeiros referentes ao


Bloco de Estruturação são transferidos em conta corrente única, des-
tinados exclusivamente a: I - à aquisição de equipamentos voltados
para a realização de ações e serviços públicos de saúde; II - obras de
construções novas ou ampliação de imóveis existentes utilizados para
a realização de ações e serviços públicos de saúde; e, III - obras de
reforma de imóveis já existentes utilizados para a realização de ações
e serviços públicos de saúde (BRASIL, 2022).

O progresso na política de descentralização do SUS e também


decorrente da habilitação do município de Itacoatiara para a Gestão
Plena dos Serviços do Sistema Municipal, possibilitou o recebimento

688
de maior aporte financeiro no decorrer dos anos, uma vez que o muni-
cípio passou a gerir as ações de saúde do SUS em seu território.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio de dados estatísticos analisados neste trabalho, eviden-


ciou-se que durante o período de 2012 a 2022, os repasses de verbas
para o Financiamento do bloco da Atenção Primária à Saúde (APS) no
município de Itacoatiara- Am, sofreram alterações progressivas e signifi-
cativas, que possibilitaram avanços no aspecto estrutural, administrativo
SUMÁRIO
e principalmente na oferta de serviços de qualidade à população.

Na sua essência, a atenção primária à saúde (APS) cuida das


pessoas, em vez de apenas tratar doenças ou condições específicas.
É o setor da saúde pública que oferta atendimento abrangente, aces-
sível e baseado na comunidade, que pode atender de 80% a 90% das
necessidades de saúde de um indivíduo ao longo de sua vida.

O desenho do novo modelo de financiamento, Previne Brasil,


apresenta aspectos positivos principalmente relacionados ao desen-
volvimento de modelo lógico que prevê a geração de resultados e im-
pactos na promoção da universalidade e equidade de acesso Atenção
Primária à Saúde, por meio dos critérios de ponderação relacionados
a condição de vulnerabilidade socioeconômica, faixa etária de maior
risco, característica geográfica.

O município de Itacoatiara-Am possui a Gestão Plena do Sis-


tema Municipal na Saúde, pela qual tem a possibilidade de receber o
total de recursos federais programados para o custeio da assistência
em seu território. A partir desta titulação, que gerou um expressivo au-
mento das transferências diretas de recursos do Fundo Nacional de
Saúde, houve consideráveis melhorias na implementação das políticas
públicas para a saúde nos últimos 10 anos.

689
Os repasses financeiros para o custeio da Atenção Primária pos-
sibilitam que o município faça investimentos na melhoria da estrutura
das Unidade Básica de Saúde; ampliação das Equipes Saúde da Fa-
mília e Atenção Básica; contratação de médicos e equipes de saúde;
saúde das famílias ribeirinhas; ampliação da vacinação; investimentos
e ampliação de programas como o dos Diabéticos e Hipertensos, entre
outros inclusos conforme normativa que regulamenta.

Um sistema de saúde baseado na atenção primária à saúde


orienta suas estruturas e funções para os valores de equidade e solida-
riedade social, e ao direito de todo ser humano de gozar do mais alto
nível de saúde que pode ser alcançado sem distinção de raça, religião,
SUMÁRIO ideologia política ou condição econômica ou social.

REFERÊNCIAS
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Consolidados. Disponível em: https://portalfns.saude.gov.br/consultas/.
Acesso em: 08 de julho de 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM/MS nº 2.979, de 12 de
novembro de 2019. Institui o Programa Previne Brasil, que estabelece
novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde no
âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da alteração da Portaria de
Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017. Diário Oficial da
União 2019; 13 nov.
BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM/MS nº 3.222 de 10 de dezembro
de 2019. Dispõe sobre os indicadores do pagamento por desempenho, no âmbito
do Programa Previne Brasil. Diário Oficial da União 2019; 11 dez.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 1882/GM, de 18 de dezembro de
1997. Estabelece o Piso da Atenção Básica - PAB e sua composição.
Brasília/ DF, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2.203, de 6 de novembro de 1996.
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/NOB-SUS 96 -
Brasília/ DF, 1996.

690
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O Novo Modelo de Financiamento da Atenção Primária à Saúde. Ano
2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Avaliação de
Políticas Públicas) - Escola Superior do Tribunal de Contas da União, Instituto
Serzedello Corrêa, Brasília DF. 65 fl.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed., São Paulo: Atlas, 2002.
MASSUDA, Adriano. Atenção Primária em Saúde: financiamento é
prioridade global e urgência nacional. Disponível em: https://www.jota.
info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-adriano-massuda/atencao-primaria-
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- Acesso: 14 de julho de 2022.
MELAMED, C.; COSTA, N. R. Inovações no financiamento federal à
Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva, 2003, v.8, n.2, p.393-401.
SUMÁRIO
MENDES E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: OPAS; 2011.
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MINAYO, M. C. O desafio da pesquisa social. In: Minayo, M. C. (Org.).
Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro, RJ: Vozes, 2009.
PAIM, J.; TRAVASSOS, C.; ALMEIDA, C.; BAHIA, L. MACINKO, J. O sistema
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VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

691
30
Capítulo 30

Internet das Coisas no Ambiente Hospitalar:


aspectos tecnológicos e administrativos

Joseilson Gonçalves da Cunha

Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa

Joseilson Gonçalves da Cunha

Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa

Internet das Coisas


no ambiente hospitalar:
aspectos tecnológicos
e administrativos

DOI: 10.31560/pimentacultural/2023.96122.30
SUMÁRIO

Resumo:
Distribuídos principalmente na última década, os avanços tecnológicos em
redes de sensores sem fio, comunicações móveis e computação ubíqua am-
pliaram o escopo de oportunidades de aplicativos com base no paradigma
da Internet das Coisas (IoT). Sob este paradigma, os hospitais inteligentes
tornaram-se uma solução inovadora para hospitais, integrando funções de
diagnóstico, tratamento, gestão e tomada de decisão. Tendo em vista que
os principais problemas enfrentados pelos hospitais em todo o mundo são
a escassez de profissionais e o aumento da população. A demanda por um
ambiente inteligente no contexto dos hospitais é iminente e os benefícios da
Internet das Coisas para essa área são múltiplos. A tecnologia de equipamen-
tos de transmissão digital de informações e a tecnologia de medição para fins
diagnósticos se destacam no universo da computação. A tecnologia da infor-
mação e comunicação para fins específicos foi a tecnologia que mais cresceu
durante o período. Além disso, pode-se observar que a China é o principal
produtor de tecnologia hospitalar de IoT, enquanto a Índia é valorizada nas
pesquisas científicas sobre o tema. Compreendendo a importância do tema,
este trabalho foi estruturado através da realização de pesquisas sobre explo-
ração de tecnologia com base em patentes e artigos científicos para estudar
a aplicação de tecnologias baseadas no paradigma da Internet das Coisas no
ambiente hospitalar.

Palavras-Chave: Internet das coisas; Tecnologias da informação em saúde; Inovação.

693
INTRODUÇÃO

A internet das coisas (Internet of Things - IoT) no ambiente hos-


pitalar funciona através da conectividade e da busca de informações
para se realizar uma determinada ação promovendo eficiência no am-
biente e no atendimento, bem como maior controle administrativo so-
bre as rotinas.

Para Zanella et al. (2014) a Internet das Coisas é um paradigma


de comunicação recente, que pressupõe que os objetos do cotidiano
serão equipados com microcontroladores, transceptores e pilhas de
SUMÁRIO protocolo para comunicação digital, para se comunicarem entre si e
com os usuários, tornando-se inacessíveis à Internet.

Santos et al. (2016) resumiu o conceito de Internet das Coisas,


apontando que se trata apenas de uma extensão da Internet atual, na
qual objetos do cotidiano com recursos de computação e comunica-
ção podem ser conectados à Internet. Em computadores, esses ob-
jetos podem ser controlados remotamente ou acessados ​​por meio de
provedores de serviços, criando grandes oportunidades em ambientes
acadêmicos e industriais.

Já existem prestadores de serviço que integram novas tecnolo-


gias (como inteligência artificial, robótica, realidade virtual/aumentada,
impressão 3D) em serviços médicos, com objetivos diretos (como con-
trole de custos e otimização de eficiência) e quadro de tempo de longo
prazo - como maior precisão, menos erros e melhores resultados. Por
outro lado, essas novas tecnologias fazem com que cada vez mais
pacientes tenham esperança de obter serviços médicos mais eficien-
tes em um ambiente conveniente e confortável. Portanto, o sistema
tradicional de prestação de serviços de saúde buscou ou tentou se
redefinir. Essas mudanças podem se acelerar nos próximos anos, le-
vando a uma mudança no paradigma geral da prestação de cuidados
de saúde (CHEN et al., 2019).

694
Em conexão com a expansão e avanço da Internet das Coisas
no cenário global, um dos temas que aparece na atualidade é Hospi-
tais Inteligentes. Yu, Lu e Zhu (2012) acreditam que hospitais inteligen-
tes são baseados na tecnologia da Internet das Coisas e concebidos
com um sistema de serviço aplicativo como portador. É um novo tipo
de conceito de hospital que integra diagnóstico, tratamento, gestão
e tomada de decisão de funções. Para o autor, a Internet das Coi-
sas reúne os recursos necessários, como percepções abrangentes,
transmissão confiável e processamento inteligente, para fornecer uma
plataforma de serviço técnico para a construção e implementação de
hospitais inteligentes.
SUMÁRIO Entre as várias aplicações de IoT em hospitais, um exemplo
importante é o monitoramento remoto de pacientes. Eles podem se
conectar a diferentes tipos de sensores em casa ou em outro lugar ao
mesmo tempo - dispositivos vestíveis, controle de sinais vitais, pressão
arterial, açúcar no sangue, oxigênio no sangue saturação, etc. Isso
permite que os dados sejam gerados, coletados e transmitidos em
tempo real para que os médicos possam interagir facilmente quando
necessário (GONÇALVES, 2017). Em hospitais inteligentes, essas tec-
nologias são usadas não apenas para melhorar os serviços de saúde,
mas também para conectar o hospital com o ecossistema mais amplo
de prestação de serviços de saúde, no qual o hospital desempenha
um papel importante, mas menos importante (CHEN et al., 2019).

Além disso, o ambiente inteligente pode promover a experiência


pessoal em hospitais e outros locais, porque, de fato, o fluxo efetivo de
pacientes pode melhorar a qualidade dos serviços e a utilização dos
recursos. Por outro lado, no ambiente médico inteligente, o uso de es-
tratégias de agendamento eficientes e o uso de recursos médicos por
meio de planos de capacidade otimizados também podem promover
o fluxo de pacientes hospitalares (LAKHOUA, 2019).

695
Com base no conceito de internet das coisas que iniciou na dé-
cada de 90 e foi motivada pelo desenvolvimento de tecnologias da
comunicação e a diminuição dos custos de equipamentos, que desde
então vem se consolidando os atendimentos em medicina, através da
comunicação eletrônica para a saúde do paciente, bem como na edu-
cação dos profissionais de saúde. O surgimento dessa modalidade de
medicina traz novos desafios para os gestores em saúde, principal-
mente no tocante ao domínio de novas tecnologias e administração
de recursos humanos à distância. Atualmente os serviços de saúde
têm trabalhado para que esteja disponível o maior número de serviços
profissionais fornecidos via Telemedicina para os usuários e torná-la
SUMÁRIO sustentável e de longo prazo (ALAA et al., 2015).

A telemedicina é uma modalidade da prática médica e é de natu-


reza interdisciplinar, para o desenvolvimento pleno requer que diversas
áreas do conhecimento se façam necessárias, tais como: microele-
trônica, gestão, telecomunicações, profissionais da equipe saúde da
família, informática, Tecnologias da informação e comunicação, entre
outras (COLAKOVIC; HADZIALIC, 2018). Para nortear a pesquisa foi
utilizado o seguinte questionamento: Como a internet das coisas evolui
no Brasil e quais os principais desdobramentos nas áreas tecnológica
e administrativa no âmbito hospitalar?

Diante disso, o objetivo geral deste estudo é identificar a im-


plantação dos processos de internet das coisas em ambientes hospi-
talares, com enfoque na verificação de como a internet das coisas é
aplicada em ambientes hospitalares, e na análise dos atuais moldes de
administração em saúde e relacioná-los em um contexto de aplicação
em telemedicina com uso do conceito de internet das coisas.

696
REVISÃO TEÓRICA

A assistência hospitalar é um dos serviços mais antigos da hu-


manidade, sempre foi um local responsável pelo desenvolvimento de
pesquisas de inovações tecnológicas, para otimização do amplo le-
que de atendimentos prestados às pessoas. O trabalho de pesquisa
nesta área é de grande relevância. Para Barbosa e Gadelha (2012),
em termos de inovação de serviços, os hospitais têm certa posição
de destaque por se envolverem em atividades complexas, agregando
recursos profissionais e intensiva tecnologia moderna. Portanto, em-
bora ainda engatinhando, a pesquisa sobre a dinâmica da inovação
SUMÁRIO
hospitalar sempre foi desafiadora em uma ampla gama de áreas do
conhecimento que ainda precisam ser alcançadas.

O uso de recursos de tecnologia da informação e comunicação


(TIC) em organizações de saúde proporciona flexibilidade e agilidade
na execução de procedimentos e cuidados médicos e clínicos. A re-
levância da utilização desses recursos de TIC no setor saúde decorre
dos benefícios que eles podem trazer, como a operação integrada do
setor, o que facilita o trabalho de todos que utilizam ferramentas técni-
cas (NOVOA; NETTO, 2019).

Atualmente considerada por muitos países uma das áreas prio-


ritárias para o desenvolvimento, o campo da assistência médica tem
sido muito afetado nos últimos anos, buscando um modelo de assis-
tência médica completamente diferente. O crescimento potencial e ex-
ponencial das novas tecnologias médicas, bem como o aprimoramen-
to de suas capacidades, o rápido desenvolvimento da TI e a evolução e
implementação das ideias da Quarta Revolução Industrial, são alguns
dos marcos que promovem esse progresso. Departamento (ILIN; ILI-
YANSCHENKO; KONRADI, 2018). De acordo com a OMS (2016), a
partir de 1990, a adoção da cobertura universal de saúde (UHC), saúde
eletrônica (saúde eletrônica), Sistema de Informação em Saúde (HIS)

697
e telemedicina começou a crescer substancialmente. De acordo com
Bohlin et al. (2017), a previsão apontou que entre 2013 e 2020, a taxa
de crescimento anual do investimento digital no setor de saúde ultra-
passou 20%, indicando que na última década, muitos hospitais têm
se concentrado nas operações existentes de Automação e melhorar a
eficiência. Os investimentos neste mercado digital de saúde vão desde
a implementação de registros médicos eletrônicos e gerenciamento
de dados de pacientes até sistemas mais complexos, incluindo bios-
sensores, dispositivos vestíveis e dispositivos móveis, que integram
sistemas chamados telemedicina.

Muitos sistemas de saúde foram propostos nos últimos anos. De


SUMÁRIO modo geral, o sistema de saúde tem muitas características exclusivas,
muitas das quais interoperáveis ​​com ativos hospitalares, segurança e
privacidade de informações confidenciais e disponibilidade de usuá-
rios finais. Quando os componentes da IoT começaram a dar suporte
às principais funções do hospital, o conceito de hospitais inteligentes
ou hospitais inteligentes começou a surgir (FISCHER et al., 2020). Yu,
Lu e Zhu (2012) acreditam que um hospital inteligente é um novo tipo
de hospital baseado na tecnologia da Internet das Coisas, com vários
sistemas de serviços de aplicativos como portador, integrando funções
de diagnóstico, tratamento, gestão e tomada de decisão.

A construção e implementação de hospitais inteligentes são


apoiadas pelos recursos da Internet das Coisas, como visão abran-
gente, transmissão confiável e processamento inteligente, fornecendo
uma verdadeira plataforma de suporte técnico. De acordo com Pires
et al. (2017) um hospital inteligente é um processo médico que torna o
trabalho do hospital inteligente, não apenas digital. Este processo alta-
mente otimizado projetado para gerenciar a infraestrutura hospitalar é
realizado pela interconexão e infraestrutura digital na parte inferior dos
ativos de rede e visa manter serviços valiosos e percepções para obter
melhor atendimento ao paciente, experiência e recursos operacionais.

698
Na aplicação da Internet das Coisas na área médica, temos o
conceito de tecnologia em saúde. Segundo o Ministério da Saúde, o
Brasil inicialmente integrou essas tecnologias aplicadas à saúde pela
Comissão Nacional de Desenvolvimento da Política de Gestão de Tec-
nologia em Saúde (PNGTS) - Regulamento MS/GM nº 2.510/2005.
Desde então, muitas foram implantadas. Discutiu-se a agregação de
valor proporcionada pelos recursos técnicos na gestão da saúde pú-
blica e sua utilização foi incorporada às diretrizes e planos do SUS
(GUIMARÃES, 2019). A tecnologia da saúde refere-se à aplicação de
conhecimentos para promover a saúde, prevenir e tratar doenças e
permitir que as pessoas se recuperem. Exemplos de tecnologias em
SUMÁRIO saúde são: medicamentos, produtos de saúde, procedimentos, orga-
nizações, educação, sistemas de informação e apoio e programas e
convênios de assistência que prestam atenção à saúde e às pessoas.
Da prevenção de doenças ao tratamento e recuperação da saúde das
pessoas, a tecnologia da saúde está em toda parte.

A Lei nº 12.401/2011 regulamenta a participação do cidadão e


do paciente na integração tecnológica do sistema público brasileiro,
e criou a Comissão Nacional de Integração Tecnológica (CONITEC).
Esse panorama regulatório e institucional mostra que os órgãos gover-
namentais do país têm uma clara relevância para o tema. É estimulado
pela participação da sociedade civil na formulação da política de saú-
de do Brasil. Nos últimos 10 anos, o marco regulatório foi fortalecido
(GUIMARÃES, 2019).

As ONGs que surgiram no contexto do Movimento Brasileiro de


Participação Cidadã apoiaram as importantes características demo-
cráticas do formato do SUS, especialmente o foco no empoderamento
da informação do paciente. O envolvimento das organizações da so-
ciedade civil na formulação de políticas sociais, especialmente aquelas
voltadas para o uso das tecnologias de informação e comunicação,
é uma característica fundamental para a mudança das instituições

699
responsáveis ​​e da infraestrutura tecnológica. Houve um progresso expo-
nencial na avaliação da tecnologia usada para construir e inferir dados
de saúde de maneira sustentável, democrática e transparente (GUIMA-
RÃES, 2019). Atualmente, existem muitas controvérsias sobre a aplica-
ção da telemedicina e da tecnologia da informação na área da saúde.
A telemedicina tornou-se realidade no SUS porque é imprescindível em
locais desassistidos. De acordo com o Ministério da Saúde, conjuntos
de dados gerados por meio de cuidados e serviços prestados pela tele-
medicina, aliados à interação de sistemas e dispositivos baseados em
IoT, podem ser usados ​​como base para análise e compreensão da vaci-
nação e do tratamento de doenças (GUIMARÃES, 2019).
SUMÁRIO O progresso não aconteceu gradualmente até o início de 2020.
Durante a pandemia de COVID-19, ocorreram emergências de saúde
pública relacionadas ao uso de equipamentos técnicos e consultas
virtuais, e prontuários médicos e equipamentos eletrônicos foram ra-
pidamente incorporados à prática clínica. No campo da saúde públi-
ca, essas aplicações podem levar a uma profunda reformulação do
SUS, pois a dinâmica das informações e das previsões baseadas em
dados interferirá diretamente na tomada de decisões e no acompa-
nhamento dos pacientes. A coleta de dados em tempo real e a análi-
se direcionada são os principais recursos da Internet das Coisas. Na
era da integração gradual da população e do ambiente digital, dis-
positivos como relógios inteligentes, sensores de presença e suporte
doméstico são usados (CAETANO, 2020). Com a implantação do pro-
jeto, surgiram alguns aplicativos para monitorar remotamente os pa-
cientes por meio de recursos técnicos vestíveis (tecnologia vestível),
como roupas e relógios com sensores, e aplicativos para celulares. O
sistema pode identificar mudanças rapidamente, reduzindo assim o
percentual de doenças graves e complicações causadas por atrasos
na tomada de decisões. Esses dados podem ser usados para ​​ forne-
cer registros médicos eletrônicos para hospitais e serviços públicos
de saúde (CAETANO, 2020).

700
Para os prestadores de serviços, já é possível integrar novas
tecnologias (como inteligência artificial, robótica, realidade virtual/au-
mentada e impressão 3D) em serviços médicos, com objetivos dire-
tos (como controle de custos e otimização de eficiência) e quadro de
tempo de longo prazo - como maior precisão, menos erros e melhores
resultados. Por outro lado, essas novas tecnologias fazem com que
cada vez mais pacientes tenham esperança de obter serviços médicos
mais eficientes em um ambiente conveniente e confortável. Portanto,
o sistema tradicional de prestação de serviços de saúde buscou ou
tentou se redefinir. Essas mudanças podem se acelerar nos próximos
anos, levando a uma mudança no paradigma geral da prestação de
SUMÁRIO cuidados de saúde (CHEN et al., 2019).

Nos próximos anos, os hospitais tradicionais provavelmente


passarão por uma verdadeira revolução, mas em um ritmo mais rápi-
do. Este é um dos setores onde a adoção de novas tecnologias tem
sido significativamente mais lenta, principalmente devido aos riscos
inerentes aos dispositivos da Internet, à sensibilidade dos dados rela-
cionados à saúde e às discussões éticas causadas pelo impacto na
saúde (MAGRANI, 2018).

Por outro lado, no ambiente médico inteligente, o uso de estra-


tégias de agendamento eficientes e o uso de recursos médicos por
meio de planos de capacidade otimizados, também podem promover
o fluxo de pacientes hospitalares (LAKHOUA, 2019). Tendo em vista a
possibilidade de a Internet das Coisas promover serviços médico-hos-
pitalares, podendo trazer inúmeros benefícios para a sociedade.

A harmonização das regulamentações do setor de saúde e das


abordagens de IoT é essencial. Além disso, no momento da atual pan-
demia, considerando os antecedentes da estrutura hospitalar, uma das
questões mais críticas que afetam os serviços médicos e, portanto, a
população é a capacidade limitada dos leitos hospitalares.

701
METODOLOGIA

Trata-se de estudo qualitativo com uma abordagem explora-


tória, do tipo revisão da literatura, pois envolverá o procedimento de
levantamento bibliográfico e coleta de dados referente à temática do
problema em questão. Além disso, a pesquisa exploratória pode ser
definida como: bibliográfica e documental. Nesse caso, a metodologia
envolveu o procedimento de levantamento da bibliografia e os docu-
mentos referentes ao problema em questão, como artigos publicados
nos últimos dez anos.

SUMÁRIO Na primeira etapa deste trabalho foram analisados os dados


obtidos através da pesquisa bibliográfica e documental referentes ao
tema proposto. Estes dados possibilitaram conhecer e descrever al-
guns dos conceitos e realidades dos processos de tecnologia em am-
biente hospitalar e internet das coisas.

Segundo Vergara (2016) a população amostral possui caracte-


rísticas em comum selecionadas para um estudo. Para este estudo foi
utilizado o universo de artigos com temas relacionados a Internet das
coisas, inovação em saúde, telemedicina.

Os critérios de inclusão foram artigos nacionais e internacionais


nas línguas português e inglês, Para tanto, foi elaborado primeiramen-
te um levantamento bibliográfico, nas bases de referência Biblioteca
virtual de Saúde (BVS), Portal de Periódicos da Capes, Scientific Elec-
tronic Library Online (SciELO) Scopus e Web Of Science, com os se-
guintes descritores nos títulos e nos resumos.

Os artigos foram selecionados através da utilização das bases


de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Portal de Periódicos da
Capes, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Scopus e Web Of
Science. Para a realização da busca foram utilizados os descritores:
“Telemedicina, Internet das coisas e inovação em saúde”.

702
Os artigos selecionados para compor a revisão passaram por
uma análise que inicialmente avaliou o título quanto à aderência ou não
a temática, em seguida, foi procedida a leitura dos resumos, logo em
seguida a leitura completa dos artigos aderentes.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS

A telemedicina não é tão nova quanto a Internet das Coisas. É


um tema clássico no monitoramento remoto de pacientes. Desde que
SUMÁRIO
foi apresentada, a pesquisa em serviços de telemedicina sempre atraiu
muita atenção. Para Kumar; Tiwari e Zymbler (2019), esse estímulo é
intensificado com a forte popularidade dos telefones celulares, e os
smartphones atuais fornecem uma maneira de se conectar a dispositi-
vos externos, como sensores sem fio. Uma nova tendência é combinar
telefones celulares com sensores, o objetivo é permitir que médicos re-
motos continuem a entender a condição física do paciente. Na área de
serviços de saúde, a RFID também ajuda a melhorar o rastreamento de
pacientes, medicamentos e ativos médicos em hospitais, que com a di-
gitalização dessas operações passam a ter maior eficiência e segurança
(MOHANTY; CHOPPALI; KOUGIANOS, 2016). A aplicação de RFID em
hospitais inteligentes é muito rica. Aqui você ainda pode consultar a pla-
taforma de jantar marcada para garantir que os pacientes recebam uma
dieta adequada; considerando que as etiquetas RFID têm forte resistên-
cia a condições extremas, como química e temperatura, roupas hospita-
lares também podem ser otimizadas (FUHRER; GUINARD, 2006).

A literatura cobriu muitas pesquisas sobre soluções médicas


baseadas na Internet das Coisas em diferentes estágios. Devido aos
benefícios e possibilidades proporcionados por essas tecnologias,
pesquisas sobre soluções de monitoramento remoto de pacientes

703
usando sensores e dispositivos vestíveis para coletar dados fisiológi-
cos em ambientes hospitalares e residenciais frequentemente apare-
cem na literatura. Para Chen et al. (2015) um ambiente inteligente pode
ser projetado para melhorar a experiência das pessoas, modificando o
comportamento coletivo. Esse tipo de cena inteligente possui algumas
características novas, incluindo interações individuais, que sempre se
manifestam como atividades implícitas no ambiente inteligente, e com-
portamentos individuais, que são sempre afetados pelo ambiente ou
por outros indivíduos. Para Mukhopadhyay e Suryadevara (2014) um
dos modelos emergentes no campo da saúde é o cuidado centrado
no paciente (PCC), que foi desenvolvido pelo Instituto Picker em 1988
SUMÁRIO e é um modelo que dá foco ao paciente e suas necessidades pessoais
de saúde. Entre eles, os pacientes são seus próprios parceiros de tra-
tamento e os hospitais e clínicas usam o poderoso ecossistema de IoT
para integrar o atendimento ao paciente.

Na perspectiva ampla desse ecossistema, pode-se perceber a


integração de três áreas na área da saúde: (1) grandes organizações
de saúde, como hospitais, (2) clínicas e farmácias, e (3) ambientes não
clínicos, como lares e ambientes não clínicos. Qualquer paciente em
comunidades com assistência médica, lares de idosos e áreas rurais.
Em cada uma dessas áreas, a Internet das Coisas pode desempenhar
um papel importante em tornar os processos e procedimentos médi-
cos mais econômicos, oportunos, confiáveis ​​e simples. O surgimen-
to de tecnologias de saúde inteligentes introduzidas para aumentar
a concentração do paciente pode aprimorar sua experiência antes,
durante e depois da hospitalização. Dessa forma, todo o ciclo da ex-
periência do paciente passa a ser processado de forma mais inteligen-
te, o que traz comodidade e eficiência. Nesse ciclo, o aparelho pode
gerar um alarme disparador quando ocorrer uma situação anormal, e
o sistema de inteligência artificial pode aconselhar o paciente a agen-
dar uma consulta. Durante o tratamento, os pacientes poderão utilizar
equipamentos eletrônicos de diagnóstico, permitindo simples exames

704
de imagem ou coleta de amostras, e os laudos podem ser enviados
ao médico imediatamente. Por fim, os pacientes podem monitorar on-
line durante o período pós-tratamento, ajudar no gerenciamento de
medicamentos por meio de aplicativos móveis e marcar consultas de
acompanhamento por meio da plataforma de medicamentos.

Para Bohlin et al. (2017) construir um hospital inteligente não é


apenas montar dispositivos conectados em uma infraestrutura de rede
de alta velocidade, mas também repensar os processos de enferma-
gem, sistemas de gerenciamento e até mesmo instalações físicas para
promover o fornecimento de novos métodos de enfermagem. Para o
autor, o atendimento de excelência é definido em quatro níveis princi-
SUMÁRIO pais, especificamente para o paciente e a gestão institucional.

Outras visões acreditam que a inovação é um processo inte-


rativo envolvendo diversos agentes econômicos e sociais, com dife-
rentes informações e conhecimentos, codificação ou consentimento
tácito. Nessa perspectiva, a criação de inovação depende não ape-
nas das capacidades independentes da organização, mas também
das capacidades existentes de outras empresas e instituições que
constituem o sistema econômico. A instituição conta com seu me-
canismo específico de aprendizagem e forma interativa para permitir
que as localidades participem ativamente do processo de criação e
disseminação da inovação. Isso torna a área um espaço cognitivo
onde o compartilhamento de valor, confiança e outras formas de ati-
vos intangíveis contribuem para o desenvolvimento de processos de
aprendizagem interativos (FEITOSA, 2011).

Os formuladores de políticas acreditam que a compreensão do


sistema nacional de inovação ajudará a determinar as alavancas para
melhorar o desempenho da inovação e a competitividade geral, além
de ajudar a identificar incompatibilidades relacionadas às políticas go-
vernamentais que podem impedir o desenvolvimento da inovação tec-
nológica dentro da organização. A inovação tecnológica ocorre em um

705
contexto específico, seja uma indústria ou um país, e a compreensão
desse contexto pode levar a melhores políticas governamentais de tec-
nologia e inovação (OCDE, 2013). Em pouco mais de uma década de
desenvolvimento tecnológico, a Internet das Coisas para o ambiente
hospitalar avançou consideravelmente. Isso pode ser observado pelo
aumento do número de patentes depositadas e publicadas entre 2009
e 2020. No geral, o número de tecnologias IoT direcionadas ao setor
de saúde pode ser muito maior do que o número encontrado neste
estudo. De acordo com a empresa de consultoria de transformação
digital i-Scoop (2020), a vastidão do ecossistema médico torna a lista
de aplicações de IoT neste campo quase infinita. Possui tecnologias
SUMÁRIO que vão desde saúde pessoal, biossensores e camas inteligentes até
monitoramento remoto e diversas atividades profissionais e de saúde
e até tratamento de doenças.

Durante este período (2009 a 2020), devido ao crescimento do


investimento financeiro nesta área ou à construção de novos projetos
nesta área, várias empresas profissionais têm apontado que 2020 é um
ponto brilhante na área da saúde IoT. Na última pesquisa realizada pela
IoT Analytics (2020), foram analisadas 1414 publicações sobre projetos
de IoT. O setor saúde já ocupava a sexta colocação, duas posições aci-
ma da pesquisa anterior realizada em 2018. Além disso, outras áreas
muito importantes para a sociedade, como agricultura, cadeia produtiva
e construção civil, têm apresentado tendência de crescimento. Para a
empresa, a atual pandemia de 2020 aumentou a demanda por soluções
de IoT em saúde e fortaleceu projetos em aplicações de telemedicina,
diagnóstico digital, monitoramento remoto e assistência robótica. Nos
próximos anos, os hospitais tradicionais provavelmente passarão por
uma verdadeira revolução, mas em um ritmo mais rápido. Este é um
dos setores onde a adoção de novas tecnologias tem sido significati-
vamente mais lenta, principalmente devido aos riscos inerentes aos dis-
positivos da Internet, à sensibilidade dos dados relacionados à saúde
e às discussões éticas (MITTELSTADT, 2017) causadas pelo impacto

706
na saúde A harmonização das regulamentações do setor de saúde e
das abordagens de IoT é essencial. Além disso, no momento da atual
pandemia, considerando os antecedentes da estrutura hospitalar, uma
das questões mais críticas que afetam os serviços médicos e, portanto,
a população é a capacidade limitada dos leitos hospitalares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, é possível determinar as principais empresas que


buscam patentes para Internet das Coisas em hospitais, sendo a China
SUMÁRIO
o país com maior número de empresas entre as dez primeiras. A po-
lítica de abertura de mercado do governo chinês pode ter promovido
ainda mais o desenvolvimento de empresas locais. De acordo com a
classificação dos artigos publicados pelas instituições, existem 5 insti-
tuições na Índia, classificando as 10 primeiras. Além de Índia e China, o
ranking inclui instituições de outros países interessados ​​no tema, como
Coréia do Sul, Arábia Saudita e Paquistão.

Com o impacto da pandemia COVID-19, pesquisas científicas


e alguns pedidos de patentes relacionados à doença no contexto da
Internet das Coisas de hospitais também foram determinados, 6 fa-
mílias de patentes foram requeridas e 21 artigos foram publicados.
Obviamente, à medida que a indústria e a academia competem em
2020, esses números podem aumentar significativamente nos próxi-
mos anos. À medida que cada vez mais dispositivos conectados tro-
cam informações médicas, o tema segurança da informação também
deve ser levado a sério nos próximos anos, o que ainda é um obstáculo
para a plena exploração dessas tecnologias no ambiente médico. Por-
tanto, considerando a complexidade envolvida neste tópico, o sistema
IoT para garantir a segurança e privacidade das informações médicas
é um tópico que pode ser mais estudado.

707
Embora o setor hospitalar tenha demorado mais para absorver
a tecnologia de IoT do que outros setores, esta pesquisa mostra que
a indústria e a academia já realizaram muitas pesquisas sobre esse
tópico. Com benefícios reais e soluções para problemas em grande
escala, a tecnologia da Internet das Coisas aplicada ao ambiente hos-
pitalar pode mudar completamente todas as formas de atendimento
médico tradicional nos próximos anos. Espera-se que esta pesquisa
possa promover novas explorações científicas e descobrir tecnologias
e oportunidades de mercado dentro deste tópico. Esta pesquisa des-
creve a Internet das Coisas para o ambiente hospitalar, mas no enorme
ecossistema da saúde, vários tópicos podem ser explorados em pes-
SUMÁRIO quisas futuras. O próprio ambiente hospitalar está sujeito à aplicação
de diversos tipos de tecnologias, desde a gestão administrativa hospi-
talar até aplicações médicas.

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das coisas para cidades inteligentes. IEEE Internet of Things Journal. v 1.,
p.22-32, 2014.

710
Sobre os organizadores e a organizadora
Juliano Milton Kruger
Doutor em Ciências da Administração pela Univer-
sidade do Minho (Portugal). Mestre em Gestão pela
Universidade de Coimbra (Portugal). Especialista em
várias áreas da Gestão, do Direito e da Educação.
Bacharel em Administração (UFOP), Contabilidade
(UFPR), Economia (UFSC) e Licenciado em Matemá-
tica (FIAR). Possui experiência com Educação a Dis-
tância, Gestão e Contabilidade Gerencial. É docente
do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) na área de
SUMÁRIO Administração e da Universidade do Estado do Ama-
zonas (UEA) na área de Contabilidade.
Contato: [email protected] e jmkruger@
uea.edu.br

Anderson Lincoln Vital da Silva


Doutorando em Educação pela Universidade Luterana
do Brasil (ULBRA). Mestre em Ciências do Ambiente
e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade
Federal do Amazonas (UFAM). Especialista em Direito
Tributário (FAMETRO) e em Direito Médico e da Saú-
de (ULBRA). Advogado. Bacharel em Ciências Sociais
(UFAM). É professor da Universidade Federal do Ama-
zonas. Atua e desenvolve suas pesquisas com direito
e processo do trabalho nas relações empresariais e
no campo da educação com infâncias e juventudes.
Contato: [email protected]

711
Geymeesson Brito da Silva
Doutorando e Mestre em Administração pela Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pós-Gra-
duando em Administração Pública Municipal pela
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Especialista em Docência para Educação Profissional
e Tecnológica pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB).
Graduado em Administração pela Universidade Esta-
dual da Paraíba (UEPB). É docente do Curso Superior
de Tecnologia em Gestão Comercial EaD do Instituto
Federal de Rondônia (IFRO).
Contato: [email protected]

Mariana Faria Filard


SUMÁRIO
Doutora e Mestra em Ciência Jurídica pela UNIVA-
LI/SC. Especialista em Direito Processual Civil pela
UFAM e Especialista em Direito das Relações Sociais
pelo CIESA/AM. Assistente Jurídica de Gabinete no Tri-
bunal de Justiça do Amazonas, advogada, professora
e coordenadora do NPJ do Curso de Direito e do Nú-
cleo de Estudos Jurídico-Penais da Faculdade La Salle
Manaus. É professora dos Cursos de Pós-Graduação
em Direito da UNINILTONLINS/AM e Faculdade Mar-
tha Falcão e do Curso ON Preparatório para OAB. Pa-
recerista da Revista de Direito Sanitário da Comissão
de Saúde do CNMP e Membro do Corpo Avaliativo da
Revista Ponto de Vista Jurídico da UNIARP/SC.
Contato: [email protected]

712
Sobre os autores e autoras
Adriana da Silva Moura
Especialista em Gestão Pública Municipal (IFRR). Licen-
ciada em Ciências da Natureza com Ênfase em Biologia
e Química (UERR). Possui experiência com PIBID.
Contato: [email protected]

SUMÁRIO
Alex Santiago Nina
Graduado em Administração pela Universidade Pau-
lista - UNIP (2018) e em Geologia pela Universidade
Federal do Pará - UFPA (2013). Especialista em Ges-
tão de Contabilidade e Finanças Empresariais pela
Faculdade da Lapa - FAEL (2020) e em Formação
Docente para a Educação a Distância (2022). Mestre
em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimen-
to Local na Amazônia, pela UFPA (2016). Doutor em
Ciências: Área de Concentração Desenvolvimento So-
cioambiental, pela UFPA (2021). Atualmente, é profes-
sor contratado do Instituto Federal do Amapá (IFAP).
Contato: [email protected]

713
Ananias Noronha Filho
Doutor e Mestre em Políticas Públicas no Programa de
Pós-Graduação em Políticas da Universidade do Ma-
ranhão. Especialização em Gerenciamento de Enfer-
magem pela Sociedade Brasileira de Gerenciamento
de Enfermagem. Graduado em Enfermagem e Obste-
trícia pela Escola de Enfermagem de Manaus. Profes-
sor efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Roraima (IFRR), lotado no Campus
Boa Vista. Tem experiência na área de Enfermagem,
com ênfase em Enfermagem em Saúde Mental, Ges-
tão de Serviços de Saúde, Bioética, Saúde Coletiva,
Planejamento em Saúde, Gestão de Cursos da Área
de Saúde. Gestão de Instituições de Saúde e de Edu-
SUMÁRIO cação. Avaliação de Programas e Políticas das áreas
de Saúde e Educação.
Contato: [email protected]

Anderson Rômulo Garcia Braz


Especialista em Gestão Pública Municipal (IFRR). Ba-
charel em Administração de Empresas (FARES). Cur-
sou licenciatura em Letras (IFRR), possui experiência
em Administração e Gestão Pública nas áreas de Lici-
tações, Educação e Saúde pública e processo ensino
aprendizagem da educação básica e superior. É esta-
tutário, técnico, hoje atuando diretamente com a ges-
tão de ILPIs do Governo do Estado de Roraima, com
domínio das plataformas (SUAS, CNES, SEI e SICONV).
São suas áreas de interesse em pesquisa: Educação e
Humanidades e História e Ciências Sociais.
Contato: [email protected]

714
Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa
Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Me-
dicina do ABC. Possui Mestrado (2010) e Licenciatu-
ra (2009) em Enfermagem Pela Universidade Federal
da Paraíba. Especialização em Auditoria em Serviços
de Saúde. Especialização em Saúde da Família pela
UFPB. Especialista em Processos Educacionais na
Saúde pelo Sírio libanês. Graduação em Enfermagem
pela Faculdade Santa Emília de Rodat (2005). Atual-
mente é docente da Faculdade Santa Maria-PB, dos
cursos de Medicina e Enfermagem. Tem experiência
na área de Enfermagem, com ênfase em Fundamen-
tos do cuidar em Enfermagem, Saúde do Idoso e Saú-
de Coletiva.
SUMÁRIO Contato: [email protected]

Caroline Araújo Nascimento


Especialista em Educação Profissional e Tecnológica
(Instituto Federal do Espírito Santo), Especialista em
Gestão Pública (Instituto Federal do Amazonas). Ba-
charel em Administração (Estácio da Amazônia). Ana-
lista na área de Recursos Humanos.
Contato: [email protected]

Clauder Felipe Souza Silva


Graduado em Tecnologia em Gestão Ambiental pela
Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Licenciado
em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Ama-
zonas (IFAM). Técnico em Agropecuária pelo Instituto
Federal do Amazonas (IFAM). Docente na Secretaria
Municipal de Educação de Itacoatiara- Am, na área de
Ciências Biológicas. Áreas de interesse em pesquisa:
Educação e Agrárias.
Contato: [email protected]

715
Daniel Soares de Souza
Mestre em Gestão Pública (UnB). Bacharel em Ciên-
cias Contábeis (Unopar). Bacharel em Administração
(IESCFAC). Tecnólogo em Gestão Empresarial e Con-
troladoria (UNIPLAN). Professor do Instituto Federal
de Brasília - IFB. Experiência e atuação nos seguin-
tes temas: Implementação e Avaliação de Políticas
Públicas; Custos Logísticos; Gestão de Aquisições
e Contratações Públicas e Privadas; Contabilidade
Gerencial; Administração Financeira e Orçamentária
Pública e Empresarial; Controladoria; Pesquisa Ope-
racional; Ciência de Dados com utilização dos soft-
wares R e Python.
Contato: [email protected].
SUMÁRIO
David Ricardo de Souza Silva
Servidor técnico administrativo do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Roraima – IFRR.
Possui experiência em diversas áreas da administração
pública, como por exemplo, planejamento, orçamento,
financeiro, gestão patrimonial e transporte. Atualmente,
desempenhas suas funções na reitoria como Diretor de
Orçamento. Graduado em Gestão Pública pela Facul-
dade Educacional da Lapa – FAEL e Pós-Graduado em
Gestão Pública Municipal pelo IFRR.
Contato: [email protected]

Deizielhe Oliveira Félix


Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade
Paulista (UNIP). Atualmente é analista e consultora
técnica nas áreas de Departamento Pessoal, Contá-
bil, Fiscal, e Administrativo-Financeiro desenvolvendo
um trabalho focado na otimização de desempenho
operacional. Linhas de pesquisa: Gestão estratégica,
Gestão e Sociedade.
Contato: [email protected]

716
Elaine Gonçalves Weiss de Souza
Doutora em Ciências Jurídicas Públicas pela Universi-
dade do Minho, em Portugal e também pela UNIVALI.
Investigadora do JusGov - Centro de Investigação em
Justiça e Governação da Uminho. Mestre em Ciência
Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí, Especia-
lista em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Va-
gas, Especialista em Direito Eleitoral pela Universida-
de do Sul de Santa Catarina, e Especialista em Ensino
Superior. Licenciada em História. Professora e Tutora
EAD. Procuradora Efetiva do Município de Balneário
Camboriú - SC, desde 2004. Professora do ensino su-
perior desde 2003.
Contato: [email protected]
SUMÁRIO
Elaine Lima de Sousa
Mestre em Letras (UFAM-2019). Especialista em Me-
todologia do Ensino da Língua Inglesa (ESBAM-2010).
Licenciatura em Letras Língua e Literatura Inglesa
(UNINORTE-2008). Possui experiência de estudos
com representações, Inglês Geral e para fins especí-
ficos e educação profissional no Amazonas. É docen-
te do ensino básico, técnico e tecnológico no IFAM
Campus Manaus Zona Leste, área de Língua Inglesa,
desde 2011. São suas áreas de interesse em pesqui-
sa: representações, Inglês para fins específicos, edu-
cação e Gestão de Pessoas.
Contato: [email protected]

Eliane Silva de Oliveira


Especialista em Gestão Pública IFRR/RR. Bacharel em
Direito - Faculdade Estácio Atual da Amazônia. Pes-
quisa na área de Direitos Sociais, Humanos e Segu-
rança Alimentar.
Contato: [email protected]

717
Elida Kayze Nunes Rodrigues
Pós-Graduada em Gestão Pública Municipal (IFRR).
Bacharel em Ciências Econômicas (UFRR). Técnica
Municipal do Munícipio de Boa Vista na área da Edu-
cação.
Contato: [email protected]

Erick Alves de Brito Coelho


SUMÁRIO
Possui graduação em Ciências Econômicas pela Uni-
versidade Federal do Amazonas (UFAM) e Licenciatu-
ra em História pelo Centro Universitário Leonardo da
Vinci (UNIASSELVI). É Especialista em Docência no
Ensino Superior, Metodologia de Ensino de História
e Gestão Escolar pelo Centro Universitário Leonardo
da Vinci (UNIASSELVI). Economista. Atualmente é
Mestrando em Ciências Ambientais na Universidade
Federal do Amazonas (UFAM) e desenvolve trabalhos
com as temáticas de Bioeconomia, Desenvolvimento
Regional, Tópicos em Educação, Meio Ambiente e
Sustentabilidade.
Contato: [email protected]

Estela Mari Santos Simões da Silva


Doutoranda em Educação pela Universidade de Pas-
so Fundo (UPF). Mestre em Educação pela Universi-
dade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Mis-
sões (URI-FW). Especialista em Psicopedagogia pela
Universidade de São Paulo (UNICID). Licenciada em
Pedagogia pela Universidade Castelo Branco. Atual-
mente pedagoga na Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM).
Contato: [email protected]

718
Fernanda Brusa Molino
Advogada e Professora. Doutora e Mestra em Direito
internacional pela PUCSP, ex-bolsista Capes, Mestra
em Direito Empresarial pela Universidad de Alcalá-
-Espanha. Bacharel em Direito pela UEL. Curso em
Direito Internacional na Academia de Direito Interna-
cional de Haia (Corte Internacional de Justiça - Holan-
da). Graduada em Direito pela Universidade Estadual
de Londrina - PR. Experiência como coordenadora na
área educacional e advogada nas áreas contratual,
cível, ambiental, tributária e societária. Pesquisadora
na área de mudanças climáticas e direitos humanos.
Contato: [email protected]

SUMÁRIO Fernando Thiago


Doutor em Administração pela Universidade Municipal
de São Caetano do Sul (USCS). Mestre em Ciências
Ambientais pela Universidade do Estado de Mato
Grosso (UNEMAT). Especialista em Gestão Pública
pela UNEMAT e Especialista em Magistério Superior
pelo Instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão
(IBPEX). Bacharel em Administração pelo Centro Uni-
versitário de Mineiros (UNIFIMES). Possui experiência
profissional e de pesquisa em gestão pública e de
pesquisa em gestão do agronegócio, gestão de pes-
soas e gestão socioambiental. Professor da Universi-
dade Federal de Mato Grosso do Sul atuando na área
de Administração e Administração Pública.
Contato: [email protected]

Flaviane dos Santos Pedreno


Tecnóloga em Gestão Pública pela Universidade Esta-
dual do Amazonas (UEA) Parintins. Possui experiência
no setor público em Controladoria Interna. É aluna do-
cente na especialização em Auditoria pela Uniasselvi.
Técnica em Serviços Públicos pelo CETAM. São suas
áreas de interesse em pesquisa: Administração no se-
tor público, Controladoria e Gestão Pública.
Contato: [email protected]

719
Glauber dos Santos Guedes
Bacharel em Ciências Contábeis pela UniFanor
Wyden. Possui experiência como profissional no âmbi-
to da segurança pública, além de assistente adminis-
trativo e financeiro. É operador de segurança pública.
São suas áreas de interesse em pesquisa: Educação,
Economia e Administração Pública.
Contato: [email protected]

Harllesson Galucio de Almeida


Mestre em Engenharia de Produção-UFAM (2016),
Especialista em docência na educação profissional
SUMÁRIO
e tecnológica-FAM (2018), Especialista em Logística
- UCAM (2017), MBA Executivo em Gestão de Orga-
nizações-UFAM (2013), Especialista em Administra-
ção Pública-UFAM (2012), graduado em Administra-
ção pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA
(2009). Graduando em Pedagogia-IFRR (2022). Tem
experiência na área de Administração: Controle e
Gestão da Qualidade, Sistemas de informação. Pla-
nejamento Estratégico. Logística. Mapeamento e mo-
delagem de processos. Docência no EBTT. Educação
a Distância-EAD.
Contato: [email protected]

Ilca Regina Ferreira Maia


Pós-Graduação em Docência do Ensino Religioso
pela Faculdade Cidade Verde - FCV/PR. Graduação
em Teologia pela Faculdade de Teologia Integrada –
FATIN/AL. Servidora Pública Municipal do IMMU Ma-
naus na função de Fiscal de Transportes desde 2002.
Contato: [email protected]

720
João Victor Rocha Vitoriano
Pós-graduado em Gestão Pública Municipal pelo Ins-
tituto Federal de Roraima. Bacharel em Direito pela
Universidade Estadual de Roraima.
Contato: [email protected]

Jonas Darc do Nascimento Araújo


Especialista em Gestão Pública Municipal pelo Institu-
to Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Ro-
SUMÁRIO
raima (IFRR). Licenciado em Letras pela Universidade
Estadual de Roraima (UERR). Possui experiência com
funções administrativas (secretaria escolar). É Técni-
co em Assuntos Educacionais no Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR).
Contato: [email protected]

José Aparecido de Sousa


Especialista em Engenharia Clínica (Faculdade Unyle-
ya) e Engenharia de Produção (UFAM). Bacharel em
Engenharia Mecânica (IFAM). Tecnólogo em Mecânica
(FATEC-SP/UNESP). Possui experiência no gerencia-
mento de projetos e portfólios, operação e manuten-
ção no setor de petróleo e gás e na implantação de
novos produtos, balanceamento de linhas de produ-
ção, aquisição de equipamentos e manutenção dos
níveis de confiabilidade no setor automotivo/duas ro-
das. É Engenheiro Mecânico da Petrobras na área de
equipamentos. São suas áreas de interesse em pes-
quisa: Gestão de Ativos; Instalações Industriais.
Contato: [email protected]

721
Joseilson Gonçalves da Cunha
Especialista em Ciências da Natureza, Suas Tecno-
logias e o Mundo do Trabalho (UFPI-PI), Informática
na Saúde (UFRN-RN) e Engenharia de Segurança do
Trabalho (Universidade Cruzeiro do Sul-PB). Bacharel
em Engenharia Civil (Uninassau-PB). Licenciado em
Física (UFPB-PB). Tecnólogo em Radiologia (Faculda-
de Santa Emília de Rodat-PB). Possui experiência com
saúde ocupacional, docência e radiologia médica.
Áreas de interesse em pesquisa: saúde ocupacional,
docência e radiologia médica.
Contato: [email protected]

Juliana Marques Leitão


SUMÁRIO
Especialista em Direito Público com Ênfase em Con-
tratos e Licitações pela Universidade Faculdade Edu-
cacional da Lapa, Especialista em Gestão Pública Mu-
nicipal pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Roraima, Especialista em Gestão Traba-
lhista e Direito Previdenciário pelo Instituto de Pós-gra-
duação e Graduação - IPOG. Técnica em Segurança
do Trabalho pelo SENAI, Técnica em Saneamento Am-
biental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Roraima. Possui experiência como As-
sistente Administrativo e Assessora Local.
Contato: [email protected]

Juliana Rafaela de Souza da Silva


Especialista em MBA Gestão Administrativa e Gover-
nança Pública pela FAEL. Especialista em Gestão de
Talentos pela UEA. Bacharela em Direito e Adminis-
tração pela UFAM. É economiária. São suas áreas de
interesse: Gestão, Direito e Autismo.
Contato: [email protected]

722
Karina Onety de Barros
Especialista em Direito do Trabalho pela Universidade
Cruzeiro do Sul. Bacharel em Direito pelo Centro Uni-
versitário de Ensino Superior do Amazonas. Advogada.
Contato: [email protected]

Luciléia Silva Vasconcelos


SUMÁRIO
Especialista em Gestão Pública Municipal pelo Institu-
to Federal de Roraima (IFRR). Bacharel em Ciências
Contábeis pela Universidade Estadual de Roraima
(UERR). Funcionária Pública da Secretária Municipal
de Educação do Município de Rorainópolis/RR.
Contato: [email protected]

Luciana Silva de Souza


Mestre em Economia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Desen-
volvimento Regional Sustentável e Políticas Públicas
pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ba-
charel em Ciências Econômicas (UFRR). Assessora
Especial na Fundação Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos de Roraima (FEMARH).
Contato: [email protected]

723
Marcelo Hideki Togo
Pós-graduado em Gerenciamento de Projetos pela
Fundação Getúlio Vergas (FGV). Especialista em Ges-
tão Estratégica Contemporânea pela Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Bacharel
em Administração de Empresas pela Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES). Especialista na área
de Gestão Estratégica, Lean Manufacturing e Projetos.
Professor de cursos de pós-graduação, graduação e
técnico. Experiência como tutor à distância nos cursos
de pós-graduação, graduação e técnico. É avaliador
de projetos de programas do Instituto Federal do Es-
pírito Santo (IFES).
Contato: [email protected]
SUMÁRIO
Márcia Vanzo Fileski
Especialista em Gestão Pública Municipal no Instituto
Federal de Roraima – IFRR. Bacharel em Administra-
ção - Faculdade Cathedral de Ensino Superior - RR.
Atualmente exerce o cargo de Assessora/Diretora de
Mercados Municipais e Terminais Urbanos da Prefeitura
Municipal de Boa Vista - RR. Tem experiência na área de
Administração, com ênfase em Administração Pública.
Contato: [email protected]

Márcio Rogério Tavares Reis


Tecnólogo em Gestão Pública pela Universidade Esta-
dual do Amazonas (UEA) Parintins. Possui experiência
no setor público em Auxiliar Administrativo. Técnico
em Gestão Pública pelo CETAM. São suas áreas de
interesse em pesquisa: Administração e Finanças no
setor público.
Contato: [email protected]

724
Maria Andreia Bezerra dos Santos
Bacharel em Administração pela Fundação Universi-
dade de Tocantins. Bacharel em Turismo pela Universi-
dade do Estado do Amazonas - UEA. Especialista em
Gerenciamento de Projetos pela Faculdade Literatus
- UniCEL. Especialista em Docência em Nível Superior
pelo Instituto de Ensino Superior de Minas Gerais –
IESMIG. Possui experiência em Administração Pública
no setor de Recursos Humanos, Folha de Pagamento
e suas rotinas. É servidora pública municipal no Cargo
Comissionado de Diretora Geral da Câmara Municipal
de Presidente Figueiredo-AM. Microempresária (Co-
mércio de variedades).
Contato: [email protected]
SUMÁRIO
Maria da Conceição Theodocello Sant’Anna
Especialista em Gestão Pública Municipal pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima.
Tecnóloga em Gestão Hospitalar pelo Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima. Bacha-
rela em Administração com Habilitação em Sistemas de
Informação pela Faculdade Cathedral de Ensino Supe-
rior. Assistente Administrativo no Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Contato: [email protected]

Maria Marclane Bezerra Vieira


Mestra em Direitos Sociais e Processos Reivindica-
tórios (IESB, Brasília-DF). Especialista em Auditoria
(UFPI, Teresina-PI). Especialista em Metodologia do
Ensino na Educação Superior (IBPEX, Teresina-PI).
Graduada em Ciências Contábeis (CESVALE, Teresi-
na-PI). Graduada em Direito (IESB, Brasília-DF). É do-
cente na área de contabilidade no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília.
Contato: [email protected]

725
Marivone da Silva Magalhães
Especialista em Gestão Pública Municipal (IFRR). Ba-
charel em Direito (Faculdade Estácio da Amazônia). É
servidora pública efetiva do Estado de Roraima.
Contato: [email protected]

Michele Tancman Cândido da Silva


Pós-doutorado em Ciências Humanas pela UFF,
Doutora em Ciências Humanas pela USP, Mestre em
SUMÁRIO
Geografia - Ordenamento Territorial e Ambiental pela
UFF. Especialista em: Planejamento, Implementação
e Gestão em EAD pela UFF; Organização Espacial do
RJ pela UFF; Tutoria ONLINE e Fundamentos Metodo-
lógicos – Universitá Foscarri di Venezia, UCFV, Itália,
Bacharel e Licenciada em Geografia pela UFF. Con-
selheira de Ciência e Tecnologia – Niterói/RJ. É ava-
liadora Institucional do INEP, docente da UNIVERSO.
Realiza pesquisas em Cidades Digitais, Governança
Global de Internet, Políticas Públicas e Meio Ambiente.
Contato: [email protected]

Murilo Roberto Jesus Maganha


Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de São Carlos - UFSCar (2019). Mestrado em
Engenharia de Produção pela Faculdade de Engenha-
ria de Bauru, Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho - UNESP/Bauru (2014). Especialista em
Docência para Educação Profissional e Tecnológica
pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecno-
logia de Mato Grosso - IFMT (2022). Bacharel em Ad-
ministração de Empresas pela Faculdade de Ciências
Econômicos de Bauru, Instituição Toledo de Ensino -
ITE (2009). Desenvolve pesquisas nas áreas de Ges-
tão do Conhecimento e Improvisação Organizacional.
Contato: [email protected]

726
Nayara de Paula Faleiros
Doutora em Psicologia Social pela Universidade de São
Paulo (USP), Bacharela e Licenciada em Psicologia pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP), atualmente é
Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP). Sua principal área de
interesse tem sido a gestão estratégica de pessoas, so-
bre a qual tem realizado pesquisas a partir do enfoque
da Orientação Profissional e de Carreira.
Contato: [email protected]

Nélio Reis Biá Nascimento


Mestre em Segurança Pública, Direitos Humanos e
Cidadania pela Universidade Estadual de Roraima –
SUMÁRIO
UERR. Especialista em Gestão Pública pelo Instituto
Federal de Roraima – IFRR. Bacharel em Direito pela
Universidade do Vale do Itajaí. Bacharel em Adminis-
tração Pública pela Universidade do Estado de Santa
Catarina. Atualmente é Oficial Superior da Polícia Mi-
litar de Roraima, ocupando o posto de Major, sendo
que, anteriormente, já atuou como Advogado e tam-
bém como Policial Civil junto à Polícia Civil do Paraná.
São suas áreas de interesse em pesquisa: Segurança
Pública, Direito Militar e Direitos Humanos, Criminolo-
gia e Educação Profissional.
Contato: [email protected]

Nely Cristina Medeiros Caires


Especialista, Mestre e Doutora em Odontologia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/MG). Es-
pecialista em Saúde Pública e Gestão em Saúde pela
Universidade Paulista (UNIP/SP). Possui experiência em
saúde pública, Saúde Coletiva, Odontologia hospitalar,
Epidemiologia. É docente da UFAM, UNIP e orientadora
do curso de gestão em saúde do IFAM.
Contato: [email protected]

727
Paulina da Silva Magalhães
Especialista em Gestão Pública Municipal (IFRR). Bacha-
rel em Enfermagem (Universidade Estadual de Roraima).
É servidora pública efetiva do Estado de Roraima.
Contato: [email protected]

Rodrigo Luiz Pereira da Silva


Tecnólogo em Logística pela Universidade do Estado
do Amazonas – UEA. Especialista em Gestão Pública
SUMÁRIO pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Es-
pecialista em Gestão Pública Municipal pela Universida-
de Federal do Amazonas – UFAM. É Técnico em Recur-
sos Humanos pelo Centro de Educação Tecnológica do
Amazonas – CETAM. Possui experiência na área pública
administrativa, com atuação na Secretaria de Estado da
Fazenda do Amazonas – SEFAZ, Prefeitura Municipal
de Itacoatiara – Am, com atuações na Secretaria Muni-
cipal de Finanças e Planejamento – SEMFIP e Secretaria
Municipal de Administração - SEMAD. Atualmente é gra-
duando do curso de Administração no Centro Universi-
tário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN.
Contato: [email protected]

Ronilson Moura Cavalcante


Mestre em Agroecologia - UERR. Especialista em Ges-
tão Pública Municipal - IFRR. Especialização de Direito
Processual Civil – UNINTER. Graduado em Direito Fa-
culdade Catedral/RR. Especialização em Assessoria
Gerencial Executivo - UFRR. Graduado em Adminis-
tração - UFRR. Possui experiência na Administração
Pública, como Chefe da Divisão de convênios; Mem-
bro do Conselho Gestor da Fundação, Educação,
Turismo, Esporte e Cultura; Assessoria Jurídica; Foi
docente nos cursos de graduação em Administração,
Marketing, Gestão Financeira e atualmente e docente
no curso de Direito na Faculdade Cathedral/RR.
Contato: [email protected]

728
Samara Motter Detoni da Silva
Pós-graduada em Gestão Pública pelo Instituto Fede-
ral de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(IFAM) e em Segurança do Paciente, pela Fundação
Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (Fiocruz). Farmacêu-
tica pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Possui experiência na área hospitalar. São suas áreas
de interesse em pesquisa: Saúde e gestão pública, e
segurança do paciente.
Contato: [email protected]

Sellys Nara da Silva Araújo


Bacharel em Administração pela Universidade Federal
do Amazonas - UFAM. Especialista em Gestão Pública
SUMÁRIO
Municipal pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Roraima - IFRR. Possui experiência na
área administrativa educacional. É servidora pública
da Seduc-Am.
Contato: [email protected]

Suziane Nascimento Bandeira


Bacharel em Administração, Faculdade Fucapi. Possui
experiência na área administrativa de empresas. Sua
área de interesse em pesquisa: ciências sociais, com-
portamento das pessoas e da sociedade.
Contato: [email protected]

729
Thiala Cristine Mendes Barros
Especialista em Gestão Pública pelo IFAM. Especialis-
ta em Práticas do Serviço Social aplicadas às Políticas
Públicas pela UNIFACS. Bacharel em Serviço Social
pela UFBA. Possui experiência como assistente social
na execução das políticas públicas de Habitação, As-
sistência Social e Previdência Social. É Analista do Se-
guro Social no INSS, onde trabalha com o reconheci-
mento do direito ao BPC junto às PCD. Suas áreas de
interesse em pesquisa são: Políticas Públicas; Trans-
versalidade de Gênero e Raça; Diversidade; Inclusão
das Pessoas com Deficiência.
Contato: [email protected]

Thomé Bayma Oestreicher


SUMÁRIO
Especialista em Ecoturismo pela Universidade Federal
de Lavras (MG); Especialista em Recursos Humanos
pela Universidade Cândido Mendes (RJ); Especialista
em Gestão e Auditoria Pública pela Universidade Federal
de Roraima (RR); e Especialista em Gestão Pública Muni-
cipal pelo Instituto Federal de Roraima (RR). Bacharel em
Administração pela Universidade Federal de Roraima.
Atuou como Administrador do Ministério Público de Ro-
raima de 1997 a 2002, e atualmente é Auditor de Controle
Externo do Tribunal de Contas de Roraima, Presidente da
Associação dos Auditores do Tribunal de Contas de Ro-
raima e professor da Universidade Federal de Roraima.
Contato: [email protected]

Vania Maria Moreira Leite


Especialista em Gestão Pública Municipal pelo Institu-
to Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Ro-
raima (IFRR). Especialista em Educação na Cultura Di-
gital pela a Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências
e Tecnologia do Norte do Brasil (FACETEN). Licencia-
da em Letras Espanhol e Literatura Hispânica pelo o
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Roraima (IFRR). Possui experiência em coordenação
pedagógica. É professora nas etapas de ensino da
Educação Infantil e Ensino Fundamental I.
Contato: [email protected]

730
Índice Remissivo

A Amazonas 20, 54, 76, 190, 282, 317, 374,


ações 19, 41, 42, 44, 50, 51, 58, 60, 61, 376, 377, 378, 380, 381, 382, 387, 388,
68, 70, 73, 80, 82, 85, 88, 90, 92, 93, 94, 389, 394, 402, 403, 414, 433, 434, 435,
95, 96, 117, 119, 120, 122, 123, 131, 132, 437, 439, 441, 442, 450, 453, 454, 456,
133, 145, 147, 148, 149, 150, 158, 167, 457, 458, 460, 462, 466, 467, 468, 551,
168, 169, 170, 171, 176, 177, 179, 180, 552, 559, 561, 568, 589, 590, 591, 592,
181, 183, 184, 186, 187, 189, 191, 192, 593, 594, 595, 597, 599, 604, 608, 631,
193, 194, 195, 202, 203, 204, 205, 207, 634, 635, 637, 643, 667, 680, 711, 712,
208, 209, 210, 211, 212, 214, 215, 216, 715, 717, 718, 719, 720, 723, 724, 725,
217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 224, 728, 729
SUMÁRIO 231, 233, 235, 236, 257, 260, 262, 266, Atenção Primária à Saúde 282, 669, 670,
273, 280, 281, 286, 288, 291, 294, 297, 671, 672, 673, 675, 676, 677, 680, 681,
299, 305, 317, 318, 327, 336, 339, 351, 682, 683, 685, 687, 689, 690, 691
352, 354, 359, 362, 363, 364, 365, 366, atendimento ao cliente 526, 527, 528, 531, 533
367, 369, 379, 394, 396, 397, 398, 435, autismo 479, 482, 483, 485, 486, 488, 491,
436, 437, 439, 440, 441, 442, 444, 448, 492, 495, 502
451, 454, 464, 503, 507, 508, 511, 518, Auxílio Emergencial 228, 230, 233, 237,
519, 555, 559, 574, 589, 592, 605, 612, 238, 239, 240, 241, 242, 245, 246, 247,
628, 630, 636, 637, 639, 641, 646, 647, 249, 252, 253
651, 654, 655, 656, 657, 658, 659, 661, B
663, 664, 665, 670, 671, 672, 673, 674,
bem-estar 17, 18, 19, 21, 65, 68, 105, 132,
675, 676, 677, 678, 679, 681, 683, 684,
155, 160, 161, 178, 205, 206, 223, 478,
685, 686, 688, 689
529
administração pública 24, 28, 38, 41, 43,
bens públicos 28, 50, 51, 106, 110
44, 45, 46, 48, 50, 59, 81, 85, 171, 180,
Boa Vista 33, 34, 35, 36, 79, 80, 81, 82,
192, 200, 202, 203, 205, 206, 209, 306,
89, 90, 91, 92, 93, 95, 96, 98, 99, 100, 101,
313, 328, 381, 395, 398, 399, 412, 413,
105, 108, 109, 115, 117, 119, 124, 125,
416, 418, 420, 421, 429, 430, 431, 439,
126, 127, 128, 129, 130, 131, 135, 136,
442, 462, 486, 487, 488, 501, 502, 509,
137, 138, 141, 143, 144, 146, 149, 150,
511, 518, 525, 531, 541, 542, 543, 544,
152, 176, 177, 181, 189, 190, 191, 192,
546, 602, 605, 619, 716
193, 194, 195, 196, 201, 202, 204, 213,
Administração Pública Federal 24, 39, 417,
214, 219, 222, 223, 224, 225, 226, 228,
418, 430
229, 231, 241, 252, 255, 256, 258, 264,
administrativo 24, 25, 32, 36, 62, 65, 125,
265, 273, 281, 285, 286, 287, 288, 289,
261, 309, 311, 312, 315, 325, 327, 328,
290, 291, 292, 293, 294, 296, 304, 305,
376, 380, 574, 611, 637, 651, 654, 689,
306, 307, 402, 435, 714, 718, 724
694, 716, 720

731
C contábil 24, 27, 30, 31, 36, 39, 233, 399,
CAF 635, 636, 637, 642, 643, 644, 647, 406, 414
648, 649, 650, 651, 653, 654, 655, 656, COVID-19 117, 222, 228, 229, 287, 289,
657, 658, 659, 660, 661, 662, 663, 665 290, 291, 292, 306, 307, 430, 496, 623,
capital 83, 94, 95, 152, 190, 191, 193, 194, 700, 707, 708
195, 209, 231, 241, 338, 354, 360, 402, crescimento 16, 19, 54, 69, 88, 129, 155,
435, 442, 466, 510, 571, 589, 608, 626, 158, 159, 172, 178, 190, 310, 314, 335,
628, 630, 632, 683 336, 355, 360, 379, 467, 478, 499, 645,
cidadão 42, 43, 44, 47, 50, 57, 58, 59, 60, 685, 686, 687, 697, 698, 706
65, 82, 85, 97, 107, 230, 259, 271, 351, criminalidade 79, 80, 81, 82, 83, 88, 92,
353, 354, 356, 368, 411, 412, 527, 528, 93, 94, 95, 96
529, 531, 532, 533, 542, 543, 544, 545, crise 82, 93, 174, 203, 228, 229, 261, 333,
546, 592, 699 419, 496, 624
cidade 50, 77, 83, 88, 91, 92, 94, 95, 96, cultura 48, 67, 68, 139, 141, 143, 146,
148, 242, 351, 352, 354, 356, 358, 381,
SUMÁRIO 99, 155, 159, 160, 162, 163, 164, 165, 167,
168, 169, 170, 172, 173, 174, 175, 192, 228, 462, 498, 522, 575, 580, 581, 583, 605,
241, 252, 296, 329, 330, 331, 332, 333, 334, 608, 609, 630
335, 336, 337, 338, 340, 341, 342, 347, 348, D
351, 353, 354, 355, 356, 357, 358, 360, 361,
democracia 50, 132, 200, 232, 353, 464,
363, 364, 367, 368, 370, 371, 419, 427, 435,
518, 520
442, 454, 463, 464, 465, 467, 468, 470, 473,
desenvolvimento 17, 18, 19, 21, 25, 26, 61,
474, 475, 510, 540, 546, 551, 552, 561, 563,
76, 80, 89, 96, 129, 134, 136, 139, 140,
591, 663
141, 145, 151, 154, 155, 156, 160, 161,
clima organizacional 64, 65, 66, 67, 68, 69,
162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169,
71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 305
170, 171, 175, 180, 181, 182, 185, 186,
cogestão 551, 552, 553, 557, 560, 564,
188, 205, 221, 232, 269, 270, 286, 287,
565, 566
288, 291, 292, 293, 295, 302, 336, 339,
comunidade 24, 53, 80, 83, 96, 107, 130,
351, 353, 356, 358, 360, 368, 375, 379,
146, 148, 149, 150, 166, 178, 191, 196,
390, 391, 394, 416, 417, 445, 460, 461,
206, 209, 212, 261, 263, 264, 265, 266,
462, 463, 464, 469, 471, 472, 475, 478,
269, 287, 288, 295, 296, 297, 318, 341,
479, 480, 482, 484, 485, 489, 494, 497,
354, 355, 357, 364, 367, 368, 376, 453,
498, 499, 537, 545, 551, 552, 555, 556,
465, 493, 566, 605, 636, 641, 675, 689
558, 559, 563, 564, 567, 574, 575, 582,
conhecimento 20, 36, 42, 45, 46, 50, 53,
584, 588, 591, 594, 596, 612, 613, 615,
56, 57, 60, 111, 129, 136, 137, 157, 168,
616, 617, 627, 628, 629, 637, 640, 641,
172, 180, 199, 241, 257, 259, 267, 288,
655, 658, 661, 672, 676, 681, 689, 696,
320, 326, 342, 352, 354, 358, 363, 398,
697, 705, 706, 707
406, 407, 411, 445, 480, 485, 498, 529,
Diário Oficial 45, 46, 151, 222, 349, 387,
530, 535, 536, 538, 573, 581, 583, 594,
417, 430, 567, 574, 666, 690
597, 598, 599, 619, 635, 649, 651, 652,
Direito Público 26, 414, 631, 722
653, 665, 696, 697

732
dispositivo 23, 24, 47, 209, 362, 445, 515 260, 261, 262, 263, 266, 271, 272, 273, 275,
Distrito Federal 47, 48, 84, 109, 110, 112, 283, 284, 308, 309, 310, 311, 312, 313, 314,
116, 179, 200, 211, 224, 310, 312, 314, 315, 316, 317, 318, 326, 327, 328, 336, 337,
555, 581, 672, 674, 676, 728 348, 353, 359, 362, 363, 367, 368, 369, 394,
395, 397, 398, 405, 410, 411, 412, 413, 417,
E
418, 421, 422, 423, 426, 434, 435, 438, 441,
econômico 19, 21, 65, 154, 155, 161, 165, 444, 445, 448, 450, 451, 452, 454, 455, 460,
168, 169, 180, 196, 337, 379, 417, 464, 461, 462, 463, 465, 469, 470, 471, 472, 473,
554, 556, 559, 591, 640, 705 479, 496, 498, 499, 509, 510, 527, 528, 529,
educação 18, 33, 132, 148, 172, 179, 181, 531, 533, 534, 538, 540, 541, 542, 544, 546,
187, 191, 199, 204, 223, 259, 284, 286, 548, 552, 557, 558, 559, 562, 563, 564, 565,
287, 288, 289, 291, 294, 297, 300, 303, 566, 567, 568, 570, 574, 581, 582, 584, 585,
304, 305, 351, 352, 353, 354, 355, 356, 592, 595, 597, 598, 599, 600, 607, 609, 611,
357, 358, 359, 362, 368, 369, 370, 377, 621, 622, 623, 626, 627, 629, 635, 636, 637,
390, 391, 434, 436, 438, 439, 440, 441, 639, 642, 643, 651, 656, 659, 663, 664, 666,
SUMÁRIO 445, 447, 448, 449, 450, 451, 454, 455, 671, 672, 673, 676, 677, 681, 685, 693, 695,
464, 478, 481, 482, 483, 500, 508, 517, 696, 698, 699, 705, 708, 710, 714, 716, 719,
519, 540, 543, 583, 588, 589, 590, 591, 727, 729
592, 593, 596, 597, 599, 602, 603, 605, Gestão de Pessoas 70, 585, 608, 609, 611,
606, 610, 612, 622, 624, 632, 636, 641, 628, 630, 633, 717
696, 699, 711, 714, 717, 720 Gestão Pública 16, 17, 20, 38, 41, 61, 64,
estado 46, 50, 54, 60, 81, 82, 85, 86, 96, 155, 172, 174, 176, 177, 198, 199, 202,
122, 190, 289, 290, 291, 292, 341, 345, 205, 232, 394, 414, 416, 434, 479, 570,
354, 374, 376, 377, 378, 380, 381, 386, 585, 713, 714, 715, 716, 717, 718, 719,
402, 403, 430, 435, 439, 442, 445, 450, 721, 722, 723, 724, 725, 726, 727, 728,
466, 468, 473, 474, 564, 566, 586, 593, 729, 730
667, 680 Guarda Civil Municipal 92, 99, 100, 101,
executivo 60, 81, 163, 166, 208, 406 105, 108, 109, 117, 121
expansão 132, 150, 154, 155, 158, 162, guarda municipal 80, 81, 82, 83, 84, 87,
166, 169, 170, 172, 237, 264, 335, 440, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 103, 110,
448, 461, 556, 558, 563, 603, 695 112, 114, 119, 121, 124, 126
G I
gestão 16, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 30, 31, IBGE 54, 83, 97, 162, 174, 190, 199, 360,
32, 33, 34, 37, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 371, 376, 377, 390, 402, 414, 419, 420,
47, 50, 51, 53, 58, 60, 65, 66, 68, 75, 76, 82, 431, 435, 457, 461, 466, 468, 475, 491,
96, 125, 138, 151, 154, 155, 156, 157, 159, 508, 516, 517, 524, 561, 567, 579, 582,
160, 161, 162, 164, 166, 167, 169, 170, 171, 583, 585, 667, 677, 678, 680, 681
172, 173, 174, 176, 177, 178, 179, 180, 181, IFRR 20, 22, 23, 24, 25, 32, 33, 34, 35, 37,
182, 183, 184, 185, 186, 187, 189, 193, 194, 38, 713, 714, 716, 717, 718, 720, 721, 723,
195, 196, 198, 199, 200, 203, 205, 206, 207, 724, 726, 727, 728, 729, 730
208, 211, 226, 230, 254, 256, 257, 258, 259,

733
indicadores 75, 179, 181, 184, 185, 186, 175, 179, 203, 208, 209, 211, 225, 228,
187, 195, 196, 198, 199, 200, 367, 403, 233, 234, 253, 290, 291, 314, 332, 337,
460, 461, 473, 508, 509, 523, 541, 560, 362, 363, 367, 378, 381, 386, 388, 390,
628, 642, 647, 652, 661, 664, 674, 677, 397, 411, 412, 422, 462, 465, 471, 472,
678, 690 473, 476, 486, 492, 494, 515, 530, 571,
informação 32, 39, 41, 44, 45, 46, 47, 48, 584, 616, 617, 631, 632
54, 56, 125, 140, 141, 148, 164, 194, 197,
M
199, 245, 247, 291, 294, 296, 334, 340,
358, 411, 445, 454, 511, 523, 531, 536, mercado de trabalho 230, 478, 479, 480,
540, 542, 548, 565, 594, 597, 631, 636, 481, 484, 485, 488, 490, 491, 492, 493,
641, 664, 693, 696, 697, 699, 700, 707, 494, 495, 496, 497, 499, 500, 501, 502,
720 504, 508, 513, 514, 516, 525
internet 234, 246, 247, 250, 251, 286, 288, mídias sociais 102
296, 316, 433, 434, 435, 436, 437, 439, movimentos sociais 166, 171, 353, 379
440, 441, 442, 443, 447, 449, 450, 451,
SUMÁRIO O
452, 453, 605, 694, 696, 702
organizações públicas 65, 76, 196, 501,
Internet das Coisas 692, 693, 694, 695,
528, 531, 573, 583
698, 699, 700, 701, 703, 704, 706, 707,
708, 709, 710 P
J patrimonial 24, 27, 30, 31, 32, 33, 34, 36,
37, 39, 362, 399, 405, 716
jurídica 39, 47, 66, 92, 161, 217, 219, 221,
PES 258, 635, 637, 638, 639, 641, 642,
518
643, 644, 654, 664, 665, 668
jurídico 39, 48, 49, 102, 103, 104, 107,
planejamento territorial 155, 167, 171
109, 111, 123, 126, 160, 167, 203, 314,
planejamento urbano 154, 155, 156, 159,
411, 456, 479, 480, 502
357, 460, 469
justiça 49, 80, 91, 96, 106, 159, 161, 164,
Plano Diretor 153, 154, 155, 161, 163, 166,
165, 170, 205
167, 169, 173, 174, 460, 461, 462, 464,
L 465, 466, 467, 468, 470, 472, 474
LAI 48, 53 Poder Público 47, 50, 87, 122, 161, 168,
legislação 25, 26, 28, 43, 59, 61, 81, 86, 178, 182, 211, 444, 557
90, 94, 101, 104, 105, 106, 109, 110, 111, política 17, 18, 25, 61, 66, 106, 131, 132,
115, 119, 120, 121, 122, 123, 169, 175, 133, 134, 135, 138, 150, 156, 158, 160,
179, 191, 332, 374, 387, 388, 400, 406, 161, 162, 164, 165, 166, 170, 171, 172,
444, 445, 469, 485, 486, 487, 490, 493, 173, 174, 175, 178, 179, 183, 191, 196,
501, 552, 559, 563, 601, 625 199, 200, 212, 214, 229, 230, 231, 233,
legislativo 59, 163, 166, 208, 228, 399, 236, 240, 355, 358, 359, 362, 363, 390,
518 439, 447, 448, 456, 461, 462, 463, 470,
lei 42, 45, 46, 48, 49, 62, 80, 84, 86, 87, 474, 492, 494, 496, 508, 517, 518, 519,
89, 90, 91, 93, 94, 98, 106, 108, 109, 113, 520, 522, 528, 552, 559, 562, 586, 588,
114, 116, 118, 121, 160, 161, 164, 170,

734
589, 590, 591, 593, 597, 602, 605, 619, procedimentos administrativos 23, 24, 31,
620, 640, 682, 688, 690, 699, 707 33, 35, 37
políticas públicas 18, 19, 20, 82, 92, 95, projetos 93, 95, 96, 98, 125, 129, 133, 146,
96, 123, 128, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 166, 167, 169, 174, 179, 189, 191, 199,
137, 146, 148, 149, 150, 155, 162, 166, 236, 266, 317, 327, 351, 355, 356, 358,
172, 177, 180, 183, 186, 187, 189, 191, 361, 362, 364, 365, 369, 370, 371, 386,
193, 197, 198, 200, 202, 206, 207, 210, 414, 431, 440, 466, 471, 472, 475, 503,
226, 229, 252, 253, 254, 269, 331, 336, 556, 559, 624, 637, 691, 706, 721, 724
339, 353, 354, 355, 364, 368, 369, 379, público 16, 20, 24, 26, 27, 30, 34, 39, 42,
381, 434, 435, 437, 438, 439, 442, 445, 43, 48, 49, 57, 60, 66, 83, 84, 86, 87, 88,
447, 454, 456, 457, 463, 478, 480, 491, 92, 105, 114, 116, 119, 120, 122, 123, 128,
492, 497, 498, 500, 501, 508, 509, 512, 130, 131, 134, 135, 137, 138, 141, 143,
517, 518, 519, 525, 529, 558, 589, 590, 144, 145, 148, 149, 150, 155, 158, 162,
592, 593, 598, 608, 670, 672, 689, 730 165, 172, 178, 179, 181, 183, 187, 198,
população 21, 33, 42, 46, 51, 60, 65, 80, 199, 203, 204, 206, 207, 208, 226, 237,
SUMÁRIO
82, 83, 84, 87, 88, 92, 93, 94, 95, 96, 99, 263, 284, 290, 292, 297, 310, 311, 313,
102, 103, 112, 129, 130, 139, 140, 150, 315, 325, 330, 331, 332, 333, 335, 336,
155, 156, 158, 163, 164, 166, 171, 173, 337, 338, 339, 345, 347, 356, 358, 362,
178, 179, 180, 182, 188, 190, 192, 193, 376, 379, 387, 395, 397, 398, 399, 400,
213, 220, 222, 228, 229, 231, 234, 235, 406, 407, 408, 412, 421, 422, 423, 436,
236, 238, 252, 253, 259, 265, 266, 287, 439, 440, 444, 445, 461, 465, 478, 479,
292, 296, 330, 331, 333, 335, 339, 340, 480, 481, 482, 486, 487, 488, 492, 493,
341, 344, 347, 348, 353, 355, 360, 363, 494, 496, 501, 505, 506, 507, 510, 518,
364, 366, 367, 376, 394, 395, 397, 401, 523, 524, 526, 527, 528, 529, 530, 531,
402, 412, 424, 435, 461, 465, 466, 468, 533, 535, 539, 540, 541, 542, 543, 544,
470, 472, 481, 491, 492, 495, 497, 508, 545, 546, 547, 548, 549, 564, 570, 571,
509, 514, 515, 516, 518, 519, 520, 522, 572, 573, 574, 575, 577, 581, 582, 583,
528, 531, 533, 543, 551, 559, 563, 564, 584, 585, 590, 597, 598, 600, 601, 603,
589, 592, 637, 641, 642, 646, 671, 672, 604, 628, 635, 637, 643, 699, 719, 724
673, 677, 678, 679, 684, 689, 693, 700,
R
701, 702, 707
PPA 55, 57, 58, 202, 203, 204, 208, 209, racismo 506, 507, 513, 516, 517, 518, 519,
210, 213, 214, 216, 218, 219, 221, 222, 520, 521, 522, 523
223, 225, 409, 410, 463, 570 recrutamento 482, 570, 571, 572, 574, 580,
prefeitura 46, 55, 57, 65, 66, 72, 73, 74, 80, 582, 584
91, 99, 117, 163, 164, 192, 194, 290, 307, recursos públicos 26, 41, 43, 44, 47, 51,
361, 371, 414, 464, 541, 547, 562 57, 58, 59, 60, 133, 180, 182, 187, 232,
Previdência Social 506, 510, 512, 523, 310, 311, 315, 326, 395, 397, 398, 400,
524, 730 406, 410, 411, 509

735
Rede Cidadania 127, 128, 129, 130, 131, 496, 529, 530, 533, 542, 544, 547, 570,
136, 137, 138, 141, 143, 144, 146, 148 573, 574, 575, 582, 583, 585, 719, 724
sindicatos 166, 262, 465
S
Sistema Único de Saúde 139, 211, 257,
saúde 18, 105, 129, 132, 139, 141, 142, 264, 523, 668, 670, 671, 675, 676, 680,
145, 146, 148, 172, 179, 181, 192, 194, 681, 690, 709
197, 201, 202, 204, 210, 211, 212, 213, social 16, 17, 18, 21, 31, 39, 45, 48, 50,
214, 215, 216, 218, 220, 221, 222, 223, 62, 66, 77, 81, 82, 98, 102, 106, 120, 129,
224, 237, 254, 256, 257, 258, 259, 261, 130, 131, 133, 135, 137, 139, 140, 141,
263, 264, 265, 266, 268, 274, 280, 282, 142, 145, 146, 148, 149, 150, 152, 155,
283, 287, 328, 336, 341, 345, 351, 355, 158, 159, 160, 161, 162, 164, 165, 167,
356, 358, 364, 367, 456, 464, 478, 481, 168, 169, 170, 171, 172, 178, 179, 180,
482, 491, 493, 496, 500, 508, 509, 512, 181, 188, 192, 196, 205, 210, 211, 228,
521, 523, 530, 540, 541, 543, 546, 624, 229, 230, 231, 232, 233, 235, 236, 237,
630, 635, 636, 637, 639, 640, 641, 651, 239, 240, 252, 253, 254, 261, 262, 267,
SUMÁRIO 652, 653, 655, 658, 665, 670, 671, 672, 270, 271, 287, 289, 294, 297, 307, 314,
673, 674, 675, 676, 677, 679, 680, 681, 328, 335, 337, 340, 341, 351, 353, 354,
682, 683, 684, 685, 686, 687, 688, 689, 356, 358, 363, 367, 369, 390, 414, 419,
690, 691, 693, 694, 695, 696, 697, 698, 423, 426, 427, 428, 436, 455, 457, 464,
699, 700, 701, 702, 703, 704, 706, 707, 466, 473, 474, 475, 478, 480, 481, 483,
708, 709, 710, 722, 727 484, 495, 498, 501, 502, 503, 509, 511,
sede de segurança pública 80, 82 513, 517, 518, 520, 521, 522, 524, 528,
segurança 18, 46, 80, 82, 84, 85, 87, 88, 533, 548, 564, 568, 591, 594, 597, 605,
91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 106, 107, 606, 610, 667, 676, 690, 691, 730
109, 110, 113, 114, 115, 116, 117, 121, sociedade 16, 17, 18, 19, 27, 41, 42, 44,
125, 126, 145, 160, 170, 172, 204, 223, 45, 46, 47, 49, 53, 55, 59, 60, 61, 95, 103,
240, 324, 328, 337, 344, 356, 364, 394, 117, 124, 129, 130, 131, 132, 133, 135,
493, 513, 525, 530, 535, 536, 564, 592, 154, 159, 161, 167, 168, 171, 172, 177,
602, 636, 641, 664, 666, 698, 703, 707, 178, 179, 180, 181, 187, 191, 195, 196,
720, 729 202, 203, 204, 205, 206, 208, 209, 223,
serviços públicos 16, 19, 45, 85, 120, 165, 232, 233, 235, 266, 292, 294, 314, 316,
172, 177, 181, 192, 203, 206, 211, 223, 317, 331, 334, 339, 352, 353, 354, 356,
287, 312, 339, 368, 396, 397, 526, 527, 359, 367, 368, 371, 398, 431, 436, 441,
528, 529, 530, 533, 542, 543, 544, 545, 445, 455, 461, 463, 472, 478, 481, 483,
546, 630, 684, 686, 688, 700 488, 492, 497, 500, 501, 508, 513, 514,
servidores públicos 65, 119, 366, 422, 502, 516, 522, 526, 527, 528, 529, 530, 531,
519, 527, 544, 630, 632 543, 544, 545, 589, 592, 605, 619, 699,
setor público 30, 39, 48, 179, 183, 199, 701, 706, 729
313, 376, 387, 461, 479, 480, 481, 482, SUS 139, 211, 212, 214, 218, 222, 257,
259, 261, 263, 271, 273, 274, 280, 282,

736
525, 666, 669, 670, 671, 672, 673, 674, 61, 168, 182, 186, 224, 351, 368, 369, 394,
675, 676, 680, 681, 682, 683, 684, 685, 396, 445, 461, 464, 542, 582
686, 688, 689, 690, 699, 700 transporte escolar 588, 590, 591, 593, 595,
sustentabilidade ambiental 177, 475 596, 597, 598, 599, 600, 601, 602, 603,
sustentabilidade socioambiental 551, 553 604, 605
T V
TEA 478, 479, 480, 481, 482, 483, 484, violência 83, 88, 91, 93, 95, 98, 102, 123,
485, 487, 491, 493, 494, 497, 499, 500, 140, 143
501, 503, 504
transparência 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47,
48, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60,

SUMÁRIO

737

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