Livro Texto - Unidade IV - Logica
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Unidade IV
Estudaremos os quantificadores, que são operadores capazes de identificar valores que tornam
sentenças verdadeiras. Lidaremos, em um primeiro momento, mais com a abordagem de elementos
numéricos de conjuntos.
7 QUANTIFICADORES
Há um tema relativo à teoria de conjuntos que optamos por revisar apenas a essa altura do nosso
livro‑texto, pois é aqui que vamos aplicá‑lo extensamente. Trata‑se dos conjuntos numéricos.
No nosso sistema decimal de numeração, utilizamos apenas 10 algarismos, que vão de 0 a 9, para
representar quantidades. Quando combinamos algarismos entre si, formamos numerais, que representam
qualquer número (quantidade) que desejarmos representar. Esses números podem ser classificados por
tipo e divididos em conjuntos. A matemática chama‑os de conjuntos numéricos. Podemos pensar que
esses conjuntos identificam o nível de complexidade dos números em questão. Veremos os principais
conjuntos numéricos adotados, começando pelos mais simples.
Começaremos com o conjunto dos números mais simples e intuitivos de todos. O conjunto dos
números naturais é constituído por todos os números inteiros não negativos, incluindo o zero.
Desse modo, temos um conjunto começando em zero e se estendendo infinitamente:
ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}
O conjunto dos números naturais apresenta um subconjunto de destaque. Para conjuntos numéricos,
ficou convencionado que a inclusão de um asterisco próximo ao símbolo de representação do conjunto
significa a exclusão do zero. Dessa forma, temos a representação seguinte.
Os números inteiros, que englobam também os naturais, são todos aqueles que podem ser
representados sem casas decimais ou frações. Pense nos números naturais, mas inclua também os
números negativos. Temos, nesse caso, um conjunto que se estende infinitamente nos dois sentidos
da contagem:
O conjunto dos números inteiros apresenta alguns subconjuntos de destaque. Além do asterisco,
que indica supressão do zero, podemos utilizar mais símbolos. A inclusão do sinal “+” próximo ao
símbolo de representação do conjunto significa a exclusão de todos os números negativos. Já o sinal
“–“ (menos) significa a exclusão de todos os números positivos. Dessa forma, podemos ter os conjuntos
mostrados a seguir.
• ℤ* = {...,–3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, ...} (conjunto dos números inteiros não nulos)
• ℤ+* ={1,2,3,4,5,6,…} (conjunto dos números inteiros não nulos e não negativos)
• ℤ_* ={…,-4,-3,-2,-1} (conjunto dos números inteiros não nulos e não positivos)
O conjunto dos números racionais engloba os dois conjuntos tratados anteriormente. Podemos
definir o conjunto dos números racionais como aquele que tem os números que podem ser expressos na
forma de fração entre inteiros. Nesse caso, há a seguinte propriedade:
ℚ = {𝑥 | 𝑥 = 𝑎/𝑏, 𝑎 ∈ ℤ, 𝑏 ∈ ℤ*}
Vemos que 𝑏 fica restrito a números inteiros não nulos, pois não podemos atribuir 0 ao denominador
de uma fração e, ainda assim, mantê‑la dentro do conjunto dos números racionais. Os mesmos símbolos
*, + e – podem ser associados ao símbolo ℚ, formando subconjuntos.
Vejamos alguns exemplos de números racionais, que incluem números decimais e dízimas periódicas:
3
• , que é uma fração entre inteiros
5
3
• −0,3, que pode ser escrito como −
10
5
• 5, que pode ser escrito como
1
• 2,7, que pode ser escrito como 27
10
4
• 0,4444…, que pode ser escrito como
9
12
• 0,121212…, que pode ser escrito como
99
Conjunto dos números irracionais (𝕀)
Outro conjunto importante é aquele que representa os números decimais com dízimas não periódicas,
ou seja, que apresentam infinitas casas decimais e não periódicas. Esse conjunto é chamado de irracional,
representado pela letra 𝕀. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de números irracionais.
• 2 = 1,414221356...
• 5 = 2,23606797...
O conjunto dos números reais engloba todos os números racionais e irracionais, positivos ou
negativos, finitos ou infinitos. Portanto, ℝ representa a união entre os conjuntos dos números
racionais e irracionais. Ele engloba, desse modo, todos os conjuntos numéricos vistos anteriormente.
Podemos defini‑lo dessa forma:
ℝ = { 𝑥 | 𝑥 ∈ ℚ ou 𝑥 ∈ 𝕀}
Desse modo, temos que ℝ = ℚ ⋃ 𝕀. Tal conjunto parece englobar todos os números existentes,
correto? Só que não é bem assim. Há números que estão fora do conjunto dos números reais, que são os
números que apresentam parte imaginária. Eles fazem parte de um conjunto ainda maior, denominado
conjuntos dos números complexos. Este contém o conjunto dos números reais. Porém, não vamos
abordá‑lo, pois não utilizaremos números imaginários no conteúdo deste livro‑texto.
137
Unidade IV
O relacionamento existente entre os conjuntos dos números naturais, inteiros, racionais, irracionais
e reais é mostrado na figura seguinte. Note as relações de inclusão existentes entre esses conjuntos.
Números reais
8 Racionais Irracionais
2391 47,3
Inteiros
13
-27
0,3 π
Naturais
-7
432 7
0 987 55
8 -432 2
11
2
Antes de sermos apresentados aos quantificadores, vamos, primeiro, entender o que são as
sentenças abertas. Uma sentença aberta (ou uma função proposicional) é uma sentença que
contém uma ou mais variáveis, que são termos ou símbolos que podem ser substituídos por diferentes
valores. Se não há atribuição de um valor a cada variável, não somos capazes de identificar o nível
lógico da sentença. Logo, uma sentença aberta não é considerada uma proposição. Acompanhe alguns
exemplos de sentenças abertas, apresentadas a seguir.
Nesse caso, enquanto não soubermos o que a variável 𝑋 representa, não podemos atribuir um
valor lógico à sentença. Se, por exemplo, 𝑋 assumir o valor “Saturno”, temos a proposição “Saturno é
um planeta do Sistema Solar”, cujo valor lógico é verdadeiro. Se, por exemplo, 𝑋 assumir o valor “Lua”,
temos a proposição “Lua é um planeta do Sistema Solar”, cujo valor lógico é falso.
Os pronomes pessoais em 3ª pessoa (ele, ela, eles ou elas) são termos que, quando utilizados como
sujeito da sentença e sem contexto, transformam‑na em uma sentença aberta. Na sentença do exemplo,
não sabemos quem é “ela”.
3. 𝑥 + 5 = 6
138
LÓGICA
4. 𝑦 > 7
A sentença aberta 𝑦 > 7 é verdadeira se 𝑦 assumir qualquer valor maior do que 7. Qualquer outro
valor, incluindo o próprio 7, faz com que tenhamos uma proposição falsa.
O conjunto universo de uma variável é o conjunto de possíveis valores que podem substituir
a variável de uma sentença aberta. Chamaremos, simbolicamente, esse conjunto de 𝑈. O conjunto
universo pode ser definido pelo próprio contexto da sentença, ou imposto por algum agente, como o
próprio enunciado de uma questão.
Se você não entendeu como esse conjunto foi obtido, você precisa se recordar que uma inequação
funciona de forma parecida com uma equação, porém, ao invés de um sinal de igualdade, utilizamos
outro símbolo comparativo entre as expressões algébricas.
Partimos de 𝑦 + 3 ≤ 10, e a nossa intenção é isolar a variável, 𝑦. Para isso, precisamos mandar o
termo + 3 para o outro lado da inequação, trocando o seu sinal. Com isso, ficamos com 𝑦 ≤ 10 – 3.
Resolvendo a expressão da direita, chegamos a 𝑦 ≤ 7. Depois, observamos que o universo é restrito ao
conjunto dos números naturais, pela indicação 𝑈 = ℕ. Por isso, 𝑦 precisa pertencer a ℕ. A notação final,
portanto, diz que 𝑉𝑝 = {𝑦 ∈ ℕ | 𝑦 ≤ 7}.
139
Unidade IV
Lembrete
Nos exemplos a seguir, lidaremos com os conceitos de conjunto universo e conjunto verdade,
aplicados a sentenças abertas.
Exemplo de aplicação
Exemplo 1. Considere a seguinte sentença aberta: “O planeta 𝑋 é o maior planeta do Sistema Solar”.
Pelo contexto, determine o conjunto universo e o conjunto verdade da variável 𝑋.
Resolução
O conjunto universo é formado por todos os planetas do Sistema Solar. Ele terá, portanto, 8 elementos,
dispostos a seguir.
𝑉𝑝 = {Júpiter}
Resolução
Se sabemos que 𝑥 ∈ ℤ, o conjunto dos números inteiros é o conjunto universo da variável 𝑥. Portanto,
temos o que segue.
𝑈 = ℤ
140
LÓGICA
𝑥 + 5 ≤ 11
𝑥 ≤ 11 – 5
𝑥 ≤ 6
𝑉𝑝 = {𝑥 ∈ ℤ | 𝑥 ≤ 6}
Lembrete
Uma sentença aberta não é uma proposição, pois não pode ser
classificada como verdadeira ou falsa. Porém, ao atribuirmos valores às
variáveis, transformamos uma sentença aberta em uma proposição.
Uma sentença aberta pode, portanto, ser transformada em uma proposição lógica. Para isso
acontecer, precisamos adotar uma das seguintes estratégias:
Um quantificador é um símbolo (ou um termo) lógico capaz de fazer uma verificação sobre o
conjunto de valores do universo que se tornam sentenças verdadeiras. A função de um quantificador é
tornar uma sentença aberta uma proposição lógica. Trabalharemos com dois quantificadores: o universal
e o existencial.
Observação
Considere que 𝑃(𝑥) é uma sentença aberta em função da variável 𝑥. O quantificador universal
expressa o fato de que, para todo elemento 𝑥 do universo, 𝑃(𝑥) será uma proposição verdadeira. Ou
seja, ao ser utilizado junto a uma sentença aberta, o quantificador universal transforma essa sentença
em uma proposição, afirmando que a sentença é verdadeira para qualquer valor assumido pela variável.
Usaremos o símbolo ∀ para expressar o quantificador universal. Em linguagem corrente, ele é lido como
141
Unidade IV
“todo”, “para todo”, “para qualquer” ou “qualquer que seja”. A quantificação universal da sentença “para
todo 𝑥, 𝑃(𝑥)” é dada como exposto a seguir.
∀𝑥 (𝑃(𝑥))
Essa proposição significa que para todos os valores de 𝑥 do universo, a sentença 𝑃(𝑥) é verdadeira.
Nesse caso, o conjunto verdade de 𝑥 deve coincidir com o próprio conjunto universo para que tenhamos
uma proposição verdadeira. Ou seja, 𝑉𝑝 = 𝑈.
A própria sentença quantificada pode explicitar o universo. Observe a sentença a seguir: “Para todo 𝑥
natural, 𝑥 é maior do que zero”. Ela contém o quantificador universal (para todo, ou ∀), o universo
(conjunto dos números naturais, ou ℕ) e a sentença aberta em função de 𝑥 (𝑥 é maior do que zero, ou
𝑥 > 0). Simbolicamente, ela pode ser expressa como o exposto a seguir.
Lidamos, em alguns exemplos anteriores do nosso livro‑texto, com a sentença “Todo homem é mortal”.
Ela tem a forma “Todo 𝐴 é 𝐵”, e pode ser reescrita na forma “Se 𝐴, então 𝐵”.
Vamos pensar que se é verdade que todo homem é mortal, o conjunto de todos os homens é um
subconjunto do conjunto de todos os mortais. Desse modo, a palavra “todo” representa uma relação de
inclusão entre conjuntos e, por isso, está associada à operação condicional. Simbolicamente, a sentença
“Todo 𝐴 é 𝐵” pode ser expressa como
∀𝑥 (𝑥 ∈ 𝐴 → 𝑥 ∈ 𝐵)
Ou
(∀𝑥 ∈ 𝐴)(𝑥 ∈ 𝐵)
A primeira forma simbólica é lida como “para todo 𝑥, se 𝑥 pertence a 𝐴, então 𝑥 pertence a 𝐵”. Nesse
formato, de certa forma, expressamos o universo no próprio predicado, ou seja, entre os parênteses que
sucedem o quantificador. A segunda forma simbólica pode ser lida como “para todo 𝑥 que pertence a
𝐴, 𝑥 pertence a 𝐵”.
∀𝑥(𝐴𝑥 → 𝐵𝑥)
Esse formato será utilizado com bastante frequência por nós, quando discutirmos argumentos
lógicos quantificado, no próximo tópico deste livro‑texto.
142
LÓGICA
Observação
Considere que 𝑃(𝑥) é uma sentença aberta em função da variável 𝑥. O quantificador existencial
expressa o fato de que existe pelo menos um elemento 𝑥 no universo, capaz de tornar 𝑃(𝑥) uma
proposição verdadeira. Ou seja, ao ser utilizado junto a uma sentença aberta, o quantificador existencial
transforma essa sentença em uma proposição, afirmando que a sentença é verdadeira para pelo menos
um valor assumido pela variável. Usaremos o símbolo ∃ para expressar o quantificador existencial. Em
linguagem corrente, ele é lido como “algum”, “para algum”, “existe pelo menos um” ou “existe algum”.
A quantificação existencial da sentença “para algum 𝑥, 𝑃(𝑥)” é dada como exposto a seguir.
∃𝑥 (𝑃(𝑥))
Essa proposição significa que existe pelo menos um valor de 𝑥 do universo para o qual a sentença
𝑃(𝑥) é verdadeira. Nesse caso, para que tenhamos uma proposição verdadeira, basta que o conjunto
verdade de 𝑥 não seja um conjunto vazio. Ou seja, 𝑉𝑝 ≠ Ø.
A própria sentença quantificada pode explicitar o universo. Observe a sentença a seguir: “Existe um
𝑥 inteiro, tal que 𝑥 é maior do que zero”. Ela contém o quantificador existencial (existe um, ou ∃), o
universo (conjunto dos números inteiros, ou ℤ) e a sentença aberta em função de 𝑥 (𝑥 é maior do que
zero, ou 𝑥 > 0). Simbolicamente, ela pode ser expressa como o exposto a seguir.
Observe a sentença “Algum matemático é filósofo”. Ela tem a forma “Algum 𝐴 é 𝐵”. Nesse caso, há
a indicação de que existe uma interseção entre os conjuntos 𝐴 e 𝐵. Por isso, a palavra “algum” está
associada à operação de conjunção.
∃𝑥 (𝑥 ∈ 𝐴 ∧ 𝑥 ∈ 𝐵)
Ou
(∃𝑥 ∈ 𝐴)(𝑥 ∈ 𝐵)
143
Unidade IV
∃𝑥 (𝐴𝑥 ∧ 𝐵𝑥)
Esse formato será utilizado com bastante frequência por nós quando discutirmos argumentos
lógicos quantificados.
Quando temos uma proposição quantificada universalmente, seu valor lógico será verdadeiro
se o seu conjunto verdade for igual ao seu conjunto universo, ou seja, 𝑉𝑝 = 𝑈. Observe a sentença
quantificada a seguir.
Lemos como: “para qualquer 𝑥 pertencente ao conjunto dos números naturais não nulos, 2𝑥 é
maior do que 𝑥”.
O predicado é encontrado nos segundos parênteses da sentença. Nesse caso, podemos isolar a
variável 𝑥, conforme disposto a seguir.
𝑃(𝑥): 2𝑥 > 𝑥
𝑃(𝑥): 2𝑥 – 𝑥 > 0
𝑃(𝑥): 𝑥 > 0
O seu conjunto universo é expresso nos primeiros parênteses junto ao quantificador universal. Ele é
o conjunto dos números naturais não nulos. Simbolicamente, temos o que segue.
𝑈 = ℕ* = {1, 2, 3, 4, 5, ...}
Já o conjunto verdade é o conjunto de valores do universo que tornam a sentença 𝑃(𝑥) verdadeira.
Para isso, expressamos tanto o universo quanto o predicado.
144
LÓGICA
Note que, nesse caso, o conjunto universo coincide com o conjunto verdade, ou seja, 𝑉𝑝 = 𝑈. Isso
faz com que tenhamos uma proposição verdadeira. Qualquer divergência entre os elementos desses
conjuntos tornaria a proposição falsa.
Exemplo de aplicação
Resolução
𝑃(𝑥): 2𝑥 > 𝑥
𝑃(𝑥): 2𝑥 – 𝑥 > 0
𝑃(𝑥): 𝑥 > 0
Resolução
Lemos como: “para todo 𝑥 que pertence ao conjunto dos números naturais não nulos, 𝑥 + 3 é
maior do que 7”.
𝑃(𝑥): 𝑥 + 3 > 7
𝑃(𝑥): 𝑥 > 7 – 3
𝑃(𝑥): 𝑥 > 4
𝑈 = ℕ* = {1, 2, 3, 4, 5, ...}
145
Unidade IV
Quando temos uma proposição quantificada existencialmente, seu valor lógico será verdadeiro
se o seu conjunto verdade tiver pelo menos um elemento, ou seja, 𝑉𝑝 ≠ Ø. Observe a sentença
quantificada a seguir.
Lemos como: “existe pelo menos um 𝑥 pertencente ao conjunto dos números inteiros, tal que 2𝑥 é
maior do que 𝑥”.
O predicado é encontrado nos segundos parênteses da sentença. Nesse caso, podemos isolar a
variável 𝑥, conforme disposto a seguir.
𝑃(𝑥): 2𝑥 > 𝑥
𝑃(𝑥): 2𝑥 – 𝑥 > 0
𝑃(𝑥): 𝑥 > 0
O seu conjunto universo é expresso nos primeiros parênteses, junto ao quantificador universal. Ele é
o conjunto dos números inteiros. Simbolicamente, temos o que segue.
Já o conjunto verdade é o conjunto de valores do universo que tornam a sentença 𝑃(𝑥) verdadeira.
Para isso, expressamos tanto o universo quanto o predicado.
Note que, nesse caso, o conjunto verdade não é um conjunto vazio, ou seja, 𝑉𝑝 ≠ Ø. Isso faz com
que tenhamos uma proposição verdadeira. Apenas se encontrássemos 𝑉𝑝 = Ø é que teríamos uma
proposição falsa.
Exemplo de aplicação
Resolução
Lemos como: “existe pelo menos um 𝑥 pertencente ao conjunto dos números naturais não nulos,
tal que 𝑥 + 5 é menor do que 3”.
146
LÓGICA
𝑃(𝑥): 𝑥 + 5 < 3
𝑃(𝑥): 𝑥 < 3 – 5
𝑃(𝑥): 𝑥 <–2
𝑈 = ℕ* = {1, 2, 3, 4, 5, ...}
𝑉𝑝 = {𝑥 ∈ ℕ* | 𝑥 < – 2} = Ø
Resolução
Lemos como: “existe um 𝑥 que pertence ao conjunto dos números naturais não nulos, tal que 𝑥 – 5
é maior do que 10”.
𝑃(𝑥): 𝑥 – 5 > 10
𝑃(𝑥): 𝑥 > 10 + 5
𝑃(𝑥): 𝑥 > 15
𝑈 = ℕ* = {1, 2, 3, 4, 5, ...}
Lidaremos com argumentos lógicos quantificados, com foco em sentenças em linguagem corrente
e em contextos que não envolvem conjuntos cujos elementos são numéricos. Adotaremos um formato
padronizado para simbolizar nossas sentenças, e seguiremos com ele até o fim da nossa unidade. Desse
modo, é mais fácil lidarmos com estruturas argumentativas.
147
Unidade IV
∀𝑥 (𝐴𝑥 → 𝐵𝑥)
∃𝑥 (𝐴𝑥 ∧ 𝐵𝑥)
Não precisamos nos preocupar com o valor lógico das premissas. Lembre‑se de que, na lógica,
estamos interessados na validade da estrutura argumentativa, e não na validação das premissas do nosso
argumento. Portanto, consideraremos que todas as premissas com a qual lidaremos serão verdadeiras.
Vamos trazer, novamente, o argumento mais clássico da lógica formal, que é um argumento quantificado.
P2: 𝐻𝑠
Q: ∴𝑀𝑠
Na última sentença, 𝑃 é o conjunto de todas as pessoas e 𝐶 é o conjunto das pessoas que gostam
de chocolate. O operador de negação indica que há elementos que pertencem ao conjunto 𝑃 e que não
pertencem ao conjunto 𝐶.
Vamos analisar cada equivalência individualmente. Quando dizemos que ~∀𝑥(𝑃(𝑥)), falamos que
nem todos os elementos 𝑥 estão associados ao predicado 𝑃(𝑥). Isso é equivalente a afirmar ∃𝑥~(𝑃(𝑥)), ou
seja, que existe pelo menos um 𝑥 que não está associado ao predicado 𝑃(𝑥). Observe o exemplo a seguir.
Não é verdade que todos os homens falam alemão. ⇔ Existe pelo menos um homem que não
fala alemão.
Quando dizemos que ~∃𝑥 (𝑃(𝑥)), falamos que não existe um elemento 𝑥 associado ao predicado
𝑃(𝑥). Isso é equivalente a afirmar ∀𝑥 ~(𝑃(𝑥)), ou seja, que todo elemento 𝑥 não está associado ao
predicado 𝑃(𝑥). Observe o exemplo a seguir.
Não é verdade que existem alunos que são estudiosos. ⇔ Todos os alunos não são estudiosos (ou
seja, nenhum aluno é estudioso).
Observação
Exemplo de aplicação
Exemplo 1. Demonstre que a sentença “não existe baleia que seja réptil” é equivalente à sentença
“todas as baleias não são répteis”.
Resolução
A sentença “não existe baleia que seja réptil” pode ser expressa simbolicamente por ~∃𝑥 (𝐵𝑥 ∧ 𝑅𝑥).
Note que a sentença quantificada está negada.
De acordo com as equivalências que acabamos de estudar, para negar uma sentença quantificada,
devemos trocar o seu quantificador e negar seu predicado. Desse modo, temos que
Em linguagem corrente, essa última sentença pode ser lida como “todas as baleias não são répteis”.
Exemplo 2. Demonstre que a sentença “nem todo pássaro voa” é equivalente à sentença “existem
pássaros que não voam”.
Resolução
A sentença “nem todo pássaro voa” pode ser expressa simbolicamente por ~∀𝑥 (𝑃𝑥 → 𝑉𝑥). Note
que a sentença quantificada está negada.
De acordo com as equivalências que acabamos de estudar, para negar uma sentença quantificada,
devemos trocar o seu quantificador e negar seu predicado. Desse modo, temos que
150
LÓGICA
Em linguagem corrente, podemos ler essa última expressão como “Existem pássaros que não voam”.
Exemplo 3. Demonstre que a sentença “nem todos os animais não são domésticos” é equivalente à
sentença “Alguns animais são domésticos”.
Resolução
A sentença “nem todos os animais não são domésticos” pode ser expressa simbolicamente por
~∀𝑥 (𝐴𝑥 → ~𝐷𝑥). Note que a sentença quantificada está negada.
De acordo com as equivalências que acabamos de estudar, para negar uma sentença quantificada,
devemos trocar o seu quantificador e negar seu predicado. Desse modo, temos que
Em linguagem corrente, podemos ler essa última expressão como “alguns animais são domésticos”.
151
Unidade IV
Das equivalências apresentadas neste tópico, podemos concluir que a negação da sentença
“Todo A é B” pode ser expressa como “Algum A não é B”. Se a sentença “Todo A é B” for verdadeira,
certamente “Algum A não é B” será uma proposição falsa, e vice‑versa.
Do mesmo modo, a negação da sentença “Algum A é B” pode ser expressa como “Nenhum A é B”.
Se “Algum A é B” é verdade, “Nenhum A é B” tem que ser falso, e vice‑versa.
Esses dados são resumidos na tabela seguinte, que traz as proposições quantificadas em linguagem
corrente e em formato simbólico.
Afirmação Negação
Linguagem Forma Linguagem corrente Forma simbólica Forma simbólica
corrente simbólica equivalente
Todo A é B ∀𝑥 (𝐴𝑥 → 𝐵𝑥) Não é verdade que todo A é B ~∀𝑥 (𝐴𝑥 → 𝐵𝑥) ∃𝑥 ~(𝐴𝑥 → 𝐵𝑥)
(Algum A não é B)
Algum A é B ∃𝑥 (𝐴𝑥 ∧ 𝐵𝑥) Não é verdade que algum A é B ~∃𝑥 (𝐴𝑥 ∧ 𝐵𝑥) ∀𝑥 ~(𝐴𝑥 ∧ 𝐵𝑥)
(Nenhum A é B)
Lembrete
Vamos aprender métodos para provar a validade de argumentos que envolvem sentenças
quantificadas. Para isso, vamos utilizar métodos da exemplificação e da generalização.
152
LÓGICA
8.3.1 Exemplificação
∀𝑥(𝑃(𝑥))
‑‑‑‑----------‑‑‑
∴ 𝑃𝑐
Se existe um termo associado ao predicado 𝑃, estipulamos que tal termo seja 𝑐. Isso é indicado pela
exemplificação existencial, demonstrada simbolicamente em sequência.
∃𝑥(𝑃(𝑥))
‑‑‑‑‑‑---------‑
∴ 𝑃𝑐
8.3.2 Generalização
Se o termo 𝑐, tomado na exemplificação, pode ser qualquer um (ou seja, pode ser tomado aleatoriamente),
então qualquer termo está associado ao predicado 𝑃. Isso é o que traduz a generalização universal,
demonstrada a seguir.
𝑃𝑐
‑-------------‑‑‑‑‑‑
∴ ∀𝑥 (𝑃(𝑥))
153
Unidade IV
Se concluímos que um termo 𝑐 constante está associado ao predicado 𝑃, então existe um termo
associado a 𝑃. Esse é o conceito da generalização existencial, demonstrada a seguir.
𝑃𝑐
‑‑‑‑------------‑‑‑
∴ ∃𝑥(𝑃(𝑥))
Vamos, primeiramente, representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝐽 é o conjunto dos
jogadores, 𝐴 é o conjunto dos atletas e 𝐶 é o conjunto dos que sofrem contusões.
Seguindo as regras da demonstração da prova direta, nas primeiras duas linhas de nossa
demonstração, vamos posicionar as duas premissas em formato simbólico.
Demonstração:
Demonstração:
154
LÓGICA
3. 𝐽𝑐 → 𝐴𝑐 (EU, 1)
4. 𝐴𝑐 → 𝐶𝑐 (EU, 2)
Agora, já podemos usar as regras de inferência ou equivalências lógicas convencionais, pois nos
“livramos” das estruturas quantificadas. Continuamos a demonstração com um silogismo hipotético,
entre as linhas 3 e 4.
Demonstração:
3. 𝐽𝑐 → 𝐴𝑐 (EU, 1)
4. 𝐴𝑐 → 𝐶𝑐 (EU, 2)
5. 𝐽𝑐 → 𝐶𝑐 (SH, 3 e 4)
Note que já atingimos um formato simbólico que corresponde ao predicado da conclusão do nosso
argumento. Nesse momento, podemos aplicar a generalização universal: se vale para 𝑐, escolhido
arbitrariamente, vale para um elemento 𝑥 qualquer.
Demonstração:
3. 𝐽𝑐 → 𝐴𝑐 (EU, 1)
4. 𝐴𝑐 → 𝐶𝑐 (EU, 2)
5. 𝐽𝑐 → 𝐶𝑐 (SH, 3 e 4)
155
Unidade IV
Saiba mais
Com isso, provamos que a conclusão é verdadeira. Tente resolver os próximos exemplos,
propostos a seguir.
Exemplo de aplicação
Todos que estavam doentes foram medicados. Alguns não foram medicados. Logo, nem todos
estavam doentes.
Resolução
Primeiro, vamos representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝐷 é o conjunto dos que
estavam doentes e 𝑀 é o conjunto dos que foram medicados.
P2: ∃𝑥 (~𝑀𝑥)
Q: ∴~∀𝑥 (𝐷𝑥)
Repare que a conclusão tem um quantificador negado em sua estrutura. Vamos aplicar a equivalência
que permite negar quantificadores, trocando o tipo do quantificador e negando seu predicado.
156
LÓGICA
P2: ∃𝑥 (~𝑀𝑥)
Q: ∴∃𝑥 (~𝐷𝑥)
Demonstração:
2. ∃𝑥 (~𝑀𝑥) (P2)
3. ~𝑀𝑐 (EE, 2)
4. 𝐷𝑐 → 𝑀𝑐 (EU, 1)
5. ~𝐷𝑐 (MT, 3 e 4)
6. ∃𝑥 (~𝐷𝑥) (GE, 5)
Note que aplicamos a exemplificação existencial (EE) antes da exemplificação universal (EU).
Essa ordem deve ser respeitada, pois o quantificador universal se refere a todos os elementos do
conjunto. Caso EU fosse feita antes de EE, o elemento 𝑐 escolhido poderia não coincidir com aquele
associado em questão.
Todos que gostam de química gostam de ciência. Alguns gostam de química e não gostam de sorvete.
Logo, alguns dos que gostam de ciência não gostam de sorvete.
Resolução
Primeiro, vamos representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝑄 é o conjunto dos que
gostam de química, 𝐶 é o conjunto dos que gostam de ciência e 𝑆 é o conjunto dos que gostam de sorvete.
157
Unidade IV
Demonstração:
3. 𝑄𝑐 ∧ ~𝑆𝑐 (EE, 2)
4. 𝑄𝑐 → 𝐶𝑐 (EU, 1)
5. 𝑄𝑐 (S, 3)
6. 𝐶𝑐 (MP, 4 e 5)
7. ~𝑆𝑐 (S, 3)
8. 𝐶𝑐 ∧ ~𝑆𝑐 (U, 6 e 7)
158
LÓGICA
Ácidos ou bases são produtos químicos. O vinagre é um ácido. Portanto, o vinagre é um produto químico.
Resolução
Primeiro, vamos representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝐴 é o conjunto dos
ácidos, 𝐵 é o conjunto das bases, 𝑄 é o conjunto dos produtos químicos e 𝑣 é o elemento vinagre.
Podemos ler a primeira premissa como “Todos os ácidos ou bases são produtos químicos”. Temos,
portanto, a representação simbólica a seguir.
Na segunda premissa, foi afirmado que um elemento, o vinagre, faz parte do conjunto dos ácidos.
P2: 𝐴𝑣
Na conclusão, diz‑se que o elemento vinagre faz parte do conjunto dos produtos químicos.
Q: ∴ 𝑄𝑣
Demonstração:
2. 𝐴𝑣 (P2)
3. 𝐴𝑣 ∨ 𝐵𝑣 → 𝑄𝑣 (EU, 1)
4. 𝐴𝑣 ∨ 𝐵𝑣 (A, 2)
5. 𝑄𝑣 (MP, 3 e 4)
Dessa vez, ao invés de nosso elemento específico ser chamado de 𝑐, optamos por chamá‑lo de 𝑣,
devido ao contexto. Na prática, não faz diferença qual símbolo você usa na demonstração.
159
Unidade IV
Resolução
Vamos representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝐻 é o conjunto dos homens, 𝑀 é
o conjunto dos mortais e 𝑠 é o elemento Sócrates. Temos a representação simbólica a seguir.
P2: 𝐻𝑠
Q: ∴ 𝑀𝑠
Demonstração:
2. 𝐻𝑠 (P2)
3. 𝐻𝑠 → 𝑀𝑠 (EU, 1)
4. 𝑀𝑠 (MP, 2 e 3)
Novamente, ao invés de nosso elemento específico ser chamado de 𝑐, optamos por chamá‑lo de 𝑠,
devido ao contexto. Na prática, não faz diferença qual símbolo você usa na demonstração.
Qualquer material apropriado resiste àquela pressão. Não existe um metal que resista àquela pressão.
Consequentemente, nenhum material apropriado é metal.
Resolução
Vamos representar o argumento em seu formato simbólico, onde 𝐴 é o conjunto dos materiais
apropriados, 𝑅 é o conjunto dos materiais resistentes à pressão e 𝑀 é o conjunto dos metais. Temos a
representação simbólica a seguir.
160
LÓGICA
Antes de partirmos para as regras de inferência, vamos encontrar as equivalências das sentenças
P2 e Q, que têm quantificadores negados. A partir da regra
Sabemos que
E que
Q: ∴ ∀𝑥 ~(𝐴𝑥 ∧ 𝑀𝑥)
Demonstração:
5. 𝑀𝑐 → ~𝑅𝑐 (EU, 4)
8. 𝐴𝑐 → 𝑅𝑐 (EU, 1)
9. 𝐴𝑐 → ~𝑀𝑐 (SH, 7 e 8)
Linha 3: aplicamos a equivalência de De Morgan ~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∨ ~𝑏 à linha 2. Com isso, temos que
Linha 5: aplicamos a exemplificação universal à expressão da linha 4, ∀𝑥 (𝑀𝑥 → ~𝑅𝑥). Se vale para
qualquer 𝑥, vale para um 𝑐 específico. Com isso, chegamos à expressão 𝑀𝑐 → ~𝑅𝑐.
Linha 7: aplicamos a dupla negação ao antecedente da expressão da linha 6. Desse modo, escrevemos
~(~𝑅𝑐) em seu formato não negado, ou seja, 𝑅𝑐. A expressão completa ficou como 𝑅𝑐 → ~𝑀𝑐.
Linha 8: aplicamos a exemplificação universal à premissa da linha 1, ∀𝑥 (𝐴𝑥 → 𝑅𝑥). Se vale para
qualquer 𝑥, vale para um 𝑐 específico. Com isso, chegamos à expressão 𝐴𝑐 → 𝑅𝑐.
Linha 9: aplicamos a regra de inferência Silogismo Hipotético às expressões das linhas 7 e 8. Como
o termo 𝑅𝑐 participa como antecedente de uma e como consequente de outra, ele foi excluído da
expressão final, que é descrita como 𝐴𝑐 → ~𝑀𝑐.
Linha 11: foi aplicada a equivalência de De Morgan ~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∨ ~𝑏 à expressão da linha 10.
Assim, temos o exposto a seguir.
Linha 12: aplicamos a generalização universal à expressão da linha 11, ~(𝐴𝑐 ∧ 𝑀𝑐). Se vale para um 𝑐,
escolhido arbitrariamente, vale para um elemento 𝑥 qualquer. Temos, portanto, que ∀𝑥 ~(𝐴𝑥 ∧ 𝑀𝑥).
Observação
Saiba mais
Algumas demonstrações que utilizam o formato simbólico dos argumentos quantificados são
relativamente complicadas, como foi o caso do último exemplo que vimos no tópico passado deste livro‑texto.
Existe um modo menos formal e, talvez, mais intuitivo, de lidarmos com argumentos quantificados. Ele
envolve a construção de diagramas de Venn‑Euler capazes de ilustrar a situação proposta. Por meio deles,
podemos fazer o teste de argumentos quantificados. Quando explicamos o conceito de falácias, na unidade III,
de certa forma, aplicamos esse método visual, mas para proposições não quantificadas.
163
Unidade IV
1) Todo 𝐴 é 𝐵.
Utilizando diagramas de Venn‑Euler, essa relação mostra que o conjunto 𝐴 está contido no conjunto 𝐵.
Desse modo, 𝐴 é subconjunto de 𝐵, conforme demonstrado na figura a seguir.
B
2) Algum 𝐴 é 𝐵.
Nesse caso, pensamos que o termo “algum” representa um elemento comum entre os conjuntos
citados, ou seja, pertence à interseção entre os conjuntos 𝐴 e 𝐵. Temos, portanto, uma interseção não
vazia entre os conjuntos 𝐴 e 𝐵, disposta graficamente a seguir.
Elemento
A B
A sentença “Algum 𝐴 não é 𝐵” é equivalente à sentença “Não é verdade que todo 𝐴 é 𝐵”. Elas
representam formas de negação da sentença “Todo 𝐴 é 𝐵”.
164
LÓGICA
Nesse caso, queremos dizer que há pelo menos um elemento que pertence exclusivamente ao
conjunto 𝐴. Nesse caso, nos referimos à região exclusiva do conjunto 𝐴, resultado da operação de
diferença 𝐴 – 𝐵.
Elemento
A B
Nesse caso, pensamos que os conjuntos 𝐴 e 𝐵 são disjuntos entre si. Fazemos a representação de
ambos separadamente.
A B
165
Unidade IV
Vamos chamar de 𝐸 o conjunto dos engenheiros, de 𝑀 o conjunto dos que sabem matemática e de
𝐶 o conjunto dos colaboradores da empresa. Começaremos montando o diagrama da primeira premissa:
Todo engenheiro sabe matemática. Nesse caso, sabemos que o conjunto 𝐸 dos engenheiros está contido
no conjunto 𝑀 dos que sabem matemática. Graficamente, temos o que segue.
M
Partiremos, agora, para a segunda premissa: Todo colaborador da empresa é engenheiro. Nesse caso,
sabemos que o conjunto 𝐶 dos colaboradores da empresa está contido no conjunto 𝐸 dos engenheiros.
Completando a figura anterior com os dados dessa segunda premissa, graficamente, temos o que segue.
M
Com isso, montamos o cenário descrito pelas premissas do nosso argumento. Vamos, agora, analisar se a
conclusão do nosso argumento corresponde com o cenário proposto ou não. Repare que o conjunto 𝐶 está
contido no conjunto 𝑀. Isso nos permite afirmar que todo 𝐶 é 𝑀. Com isso, a conclusão “Logo, todo colaborador
da empresa sabe matemática” é uma conclusão necessariamente verdadeira, quando consideramos verdadeiras
as premissas. Isso significa que temos um argumento válido.
166
LÓGICA
Vamos chamar de 𝐼 o conjunto dos ingleses, de 𝐵 o conjunto dos britânicos e de 𝐿 o conjunto dos
londrinos. Começaremos montando o diagrama da primeira premissa: Todos os ingleses são britânicos.
Nesse caso, sabemos que o conjunto 𝐼 dos ingleses está contido no conjunto 𝐵 dos britânicos. Graficamente,
temos o que segue.
B
Vamos para a segunda premissa: Todos os londrinos são ingleses. Nesse caso, sabemos que o
conjunto 𝐿 dos londrinos está contido no conjunto 𝐼 dos ingleses. Completando a figura anterior com
os dados dessa segunda premissa, graficamente, temos o que segue.
B
Com isso, montamos o cenário descrito pelas premissas do nosso argumento. Vamos, agora, analisar se a
conclusão do nosso argumento corresponde com o cenário proposto ou não. Repare que o conjunto 𝐿 está
contido no conjunto 𝐵. Isso nos permite afirmar que todo 𝐿 é 𝐵. No entanto, a conclusão “Portanto, todos
os britânicos são londrinos” sugere que todo 𝐵 é 𝐿, ou seja, que o conjunto 𝐵 está contido no conjunto 𝐿.
167
Unidade IV
Verificamos, pela disposição do diagrama, que isso não corresponde ao cenário proposto pelas premissas.
Como as premissas não implicaram a conclusão, isso significa que temos um argumento inválido.
Exemplo de aplicação
Todos os estudantes de filosofia são estudiosos. Alguns estudantes de filosofia são loiros. Portanto,
alguns loiros são estudiosos.
Resolução
Figura 48 – Diagrama que representa a sentença “Todos os estudantes de filosofia são estudiosos”
Vamos para a segunda premissa: alguns estudantes de filosofia são loiros. Nesse caso, sabemos que
há uma interseção não vazia entre o conjunto 𝐹 dos estudantes de filosofia e o conjunto 𝐿 dos loiros.
Completando a figura anterior com os dados dessa segunda premissa, graficamente, temos o que segue:
168
LÓGICA
A região destacada demonstra a interseção entre os conjuntos 𝐿 e 𝐹. Note que todos os elementos
dessa região destacada, necessariamente, pertencem também a 𝐸. No momento em que o conjunto 𝐿
entra em interseção com 𝐹, ele também entra em interseção com 𝐸. Desse modo, a conclusão “Portanto,
alguns loiros são estudiosos” é necessariamente verdadeira, já que alguns 𝐿 são 𝐸. Temos, então, um
argumento válido.
Toda cobra é um réptil. Existem répteis venenosos. Logo, algum réptil venenoso é uma cobra.
Resolução
Segunda premissa: existem répteis venenosos. Há uma interseção não vazia entre o conjunto 𝑅
dos répteis e o conjunto 𝑉 dos seres venenosos. Essa interseção pode acontecer em cenários diferentes.
Vamos considerar dois deles, expostos a seguir.
169
Unidade IV
C V
Nesse cenário, há apenas répteis venenosos que não são cobras, considerando apenas as informações
das premissas.
Nesse cenário, há pelo menos um elemento na região dos répteis venenosos que são cobras,
destacada na figura.
Como as premissas nos levam a possíveis cenários distintos, em que nem em todos eles a
conclusão é verdadeira, não podemos afirmar que, necessariamente, a conclusão “Logo, algum
réptil venenoso é uma cobra” é verdadeira. Como não garantimos que as premissas implicam a
conclusão, temos um argumento inválido.
Todo filme é uma obra artística. Nenhuma obra artística é descartável. Logo, nenhum filme é descartável.
170
LÓGICA
Resolução
Primeira premissa: todo filme é uma obra artística. Se chamarmos de 𝐹 o conjunto dos filmes e de
𝐴 o conjunto das obras artísticas, temos o que segue.
A
Figura 53 – Diagrama que representa a sentença “Todo filme é uma obra artística”
Segunda premissa: nenhuma obra artística é descartável. O conjunto 𝐴 das obras artísticas e o
conjunto 𝐷 dos elementos descartáveis não fazem interseção entre si (são disjuntos). Temos, então,
o cenário seguinte:
A
D
F
Vemos que o conjunto 𝐹 não tem qualquer elemento em comum com o conjunto 𝐷. Com isso,
sabemos que a conclusão “Logo, nenhum filme é descartável” é verdadeira. Desse modo, temos um
argumento válido.
Alguns artistas são brasileiros. Nenhum espanhol é brasileiro. Logo, nenhum artista é espanhol.
171
Unidade IV
Resolução
Primeira premissa: alguns artistas são brasileiros. Há uma interseção não vazia entre o conjunto 𝐴
dos artistas e o conjunto 𝐵 dos brasileiros.
A B
Segunda premissa: nenhum espanhol é brasileiro. Não há interseção entre o conjunto dos 𝐸
dos espanhóis e o conjunto 𝐵 dos brasileiros. Essa disjunção pode ocorrer em dois cenários distintos,
dispostos a seguir.
Nesse cenário, nenhum elemento do conjunto 𝐴 é também um elemento do conjunto 𝐸. Esse cenário
indica que nenhum artista é espanhol.
172
LÓGICA
Nesse cenário, pelo menos um elemento do conjunto 𝐴 é também um elemento do conjunto 𝐸. Ele
indica a existência de pelo menos um artista espanhol.
Como as premissas nos levam a possíveis cenários distintos, em que nem em todos eles a conclusão
é verdadeira, não podemos afirmar que, necessariamente, a conclusão “Logo, nenhum artista é espanhol” é
verdadeira. Como não garantimos que as premissas implicam a conclusão, temos um argumento inválido.
Qualquer material apropriado resiste àquela pressão. Não existe um metal que resista àquela pressão.
Consequentemente, nenhum material apropriado é metal.
Resolução
Primeira premissa: qualquer material apropriado resiste àquela pressão. O conjunto 𝐴 é dos
materiais apropriados está contido no conjunto 𝑅 dos materiais resistentes à pressão.
R
173
Unidade IV
Segunda premissa: não existe um metal que resista àquela pressão. O conjunto 𝑀 dos metais não
intersecta o conjunto 𝑅 dos materiais resistentes à pressão.
R
M
A
Todos que gostam de química gostam de ciência. Alguns gostam de química e não gostam de sorvete.
Logo, alguns dos que gostam de ciência não gostam de sorvete.
Resolução
Primeira premissa: todos que gostam de química gostam de ciência. O conjunto 𝑄 dos que gostam
de química está contido no conjunto 𝐶 dos que gostam de ciência.
C
Figura 60 – Diagrama que representa a sentença “Todos que gostam de química gostam de ciência”
174
LÓGICA
S Q
Vemos que alguns dos elementos de 𝐶 não são elementos de 𝑆. Logo, alguns dos que gostam de
ciência não gostam de sorvete. Temos, portanto, um argumento válido.
Saiba mais
175
Unidade IV
Resumo
176
LÓGICA
177
Unidade IV
Exercícios
I – Y é um número racional.
II – Z ≥ 0.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e II, apenas.
E) I, II e III.
Análise da questão
Vimos que uma sentença aberta é uma sentença para a qual não há atribuição de valor à variável e,
por isso, não somos capazes de identificar seu valor lógico.
porque
Análise da questão
Em I, temos uma proposição verdadeira que é lida como “para todo 𝑥 que pertence ao conjunto dos
números naturais não nulos, ‑2𝑥+6 é menor do que 6”. Vejamos.
𝑃(𝑥): ‑𝑥 < 0
𝑃(𝑥): 𝑥 > 0
𝑈 = ℕ* = {1, 2, 3, 4, 5, ...}
O que vimos faz com que a asserção I seja verdadeira e a asserção II seja falsa.
179
REFERÊNCIAS
Textuais
DANTE, L. R.; VIANA, F. Matemática: contexto & aplicações. São Paulo: Ática, 2019. (volume único).
FREITAS, M. L. C. Lógica jurídica, argumentação e racionalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 17,
n. 3307, 21 jul. 2012. Disponível em: https://cutt.ly/7MBwcUZ. Acesso em: 21 nov. 2022.
GENIOL. Desafios de lógica. 2022. Disponível em: https://cutt.ly/DMBuIfD. Acesso em: 21 nov. 2022.
GERSTING, J. L. Fundamentos matemáticos para a ciência da computação. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
GODOY, W. Argumento indutivo. Filosofia na escola, 13 ago. 2019. Disponível em: https://cutt.ly/4MBqsK6.
Acesso em: 21 nov. 2022.
LEITE, A. E.; CASTANHEIRA, N. P. Raciocínio lógico e lógica quantitativa. Curitiba: InterSaberes, 2017.
180
VILLAR, B. Raciocínio lógico‑matemático facilitado. São Paulo: Método, 2019.
181
APÊNDICE A – EQUIVALÊNCIAS NOTÁVEIS
1. Dupla negação
𝑎 ⇔ ~(~𝑎)
2. Leis idempotentes
𝑎 ∧ 𝑎 ⇔ 𝑎
𝑎 ∨ 𝑎 ⇔ 𝑎
3. Leis comutativas
𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ 𝑏 ∧ 𝑎
𝑎 ∨ 𝑏 ⇔ 𝑏 ∨ 𝑎
4. Leis associativas
(𝑎 ∧ 𝑏) ∧ 𝑐 ⇔ 𝑎 ∧ (𝑏 ∧ 𝑐)
(𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐 ⇔ 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐)
5. Leis de De Morgan
~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∨ ~𝑏
~(𝑎 ∨ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏
6. Leis distributivas
𝑎 ∧ (𝑏 ∨ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∧ 𝑏) ∨ (𝑎 ∧ 𝑐)
𝑎 ∨ (𝑏 ∧ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∧ (𝑎 ∨ 𝑐)
7. Condicionais
𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑏 → ~𝑎
𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑎 ∨ 𝑏
8. Bicondicionais
𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ (𝑎 → 𝑏) ∧ (𝑏 → 𝑎)
𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ ~(𝑎 ⊻ 𝑏)
182
APÊNDICE B – REGRAS DE INFERÊNCIA
1. União (U)
𝑎
𝑏
‑---------‑‑‑
∴ 𝑎 ∧ 𝑏
𝑎→𝑏
𝑎
‑---------‑‑‑
∴ 𝑏
𝑎→𝑏
~𝑏
‑---------‑‑‑
∴ ~𝑎
4. Adição (A)
𝑎
‑---------‑‑‑
∴ 𝑎 ∨ 𝑏
5. Simplificação (S)
𝑎∧𝑏 𝑎∧𝑏
‑------‑‑ ‑------‑‑
∴𝑎 ∴𝑏
6. Silogismo Hipotético (SH)
𝑎→𝑏
𝑏→𝑐
-------------‑
∴𝑎→𝑐
183
7. Silogismo Disjuntivo (SD)
𝑎 ∨ 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏
~𝑎 ~𝑏
‑-----‑‑ ‑-----‑‑
∴𝑏 ∴𝑎
8. Dilema Construtivo (DC)
𝑎→𝑏
𝑐→𝑑
𝑎 ∨ 𝑐
‑-----------‑‑
∴ 𝑏 ∨ 𝑑
9. Dilema Destrutivo (DD)
𝑎→𝑏
𝑐→𝑑
~𝑏 ∨ ~𝑑
‑---------------‑‑
∴ ~𝑎 ∨ ~𝑐
𝑎 → 𝑏
‑-----------‑---------‑
∴ 𝑎 → (𝑎 ∧ 𝑏)
184
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000