Introdução
Introdução
Introdução
Daí que a lei conceda aos credores alguns remédios destinados à salvaguarda de seus
interesses. Eles variam conforme o acto praticado pelo devedor, embora tenham o
objectivo comum de evitar o desaparecimento ou a diminuição, para além de certos
limites, do património debitório. O código civil predispõe sucessivamente os quatros
seguintes meios conservatórios da garantia patrimonial:
Declaração de nulidade
Sub-rogação do credor ao devedor
Impugnação
Arresto.
Meios de Conservação da Garantia Patrimonial
Compreende-se que o devedor não possa, antes do cumprimento da obrigação a que está
adstrito ou no inicio da respectiva execução inicial, promover co m a inteira liberdade
diminuições do seu património. Pois, se assim fosse, abrir-se-ia caminho fácil às
maiores fraudes e as locupletamentos injustos, contra as expectativas dos credores. O
património do credor representava, então, uma bem precária garantia geral das
obrigações.
Por esta razão a lei vai conceder aos credores alguns meios destinados à salvaguarda de
seus interesses.
Declaração de Nulidade
A lei confere aos credores legitimidade para arguir a nulidade dos actos praticados pelo
devedor, seja esses actos anteriores ou posteriores a constituição do crédito. Para tanto
exige-se que os credores tenham interesse na declaração de nulidade, mas não e
necessário que o acto produza ou agrave a situação patrimonial deficitária do devedor
(Art. 605º. Nº 1 Código Civil).
Por varias razoes podem os actos jurídicos serem nulos: Inobservância da forma
prescrita, falta de vontade, impossibilidade ou ilicitude do objecto, etc. O regime
geral da nulidade encontra-se nos artigos (285º. a 294º. Código Civil).
Ora, sempre que o devedor realize um acto considerado nulo, assistira a qualquer dos
credores, que nisso tenha interesse, o direito de pedir a respectiva declaração de
nulidade. E, uma vez declarado nulo o acto impugnado, as coisas são respostas no seu
estado precedente, o que aproveita não só ao credor que invocou a nulidade, mas a todos
os outros (art. 605º. , nº 2 código civil).
Suponhamos que A deve a B 2000 kwanzas e que tem valores patrimoniais suficientes
para garantir essa obrigação. Mas, como está ânimo de não cumprir e deseja esquivar-se
à execução, A combina com um terceiro, C, pessoa que lhe merece inteira confiança,
uma venda fictícia de todo o seu património. Uma vez forjada a escritura de venda e
passando os bens para propriedade de C, eles ficam doravante subtraídos à execução
judicial que B promova. Na realidade, A e C não quiseram celebrar um negocio
verdadeiro. Tudo e simples aparência. E assim o pseudo-adquirente compromete-se a
retransferir mais tarde para o pseudo-alienante as coisas simuladamente alienadas.
Ambas situações nos colocam diante de um negocio simulado que a lei declara nulo
(art. 240º. , nº 2 código civil). Portanto, sera lícito ao credor B promover a declaração da
correspondente nulidade.
Apenas se admite que o credor faça valer contra terceiros os direitos e conteúdo
patrimonial que competirem ao devedor, ressalvados os que, em virtude da sua própria
natureza ou disposição da lei, sejam insusceptíveis de exercício de pessoa diversa do
respectivo titular (art. 606º. , nº 1 codigo civil).
b) Requisitos
Cingindo-nos à estrita letra da lei, teríamos de ficar por aqui. Contudo, talvez se possa ir
mais além. Se a inativadade do devedor é consciente, mas não negligente (ex: o
exercicío do direito é prematuro, ou há um prazo que ainda não se esgotou), parece que
já não será legítima a intervenção dos credores. Por outro lado, afigura-se de equiparar á
pura inacção do devedor uma sua acção negligente: não uma qualquer negligência, mas
a que se mostre clamorosa e pela gravidade acarreta sério risco á defesa eficaz dos
direitos do devedor e, portanto, da garantia patrimonial. Em conclusão, exclui-se o
procedimento sub-rogatório quando o devedor se encontre a exercer diligentemente os
direitos em causa.
c) Efeitos
Quantos aos efeitos, estatuí o art.609º do Cód. Civ. que “ a sub~rogaçãol exercida por
um dos credores aproveita a todos os demais”. Repete-se, pois, a solução consagrada
relativamente à declaração de nulidade dos actos praticados pelo devedor (art.605º.nº2
do CC).
Impugnação Pauliana
a) Noção
b) Âmbito de aplicação
c) Requisitos
d) Efeitos
Cabe examinar, por último os efeitos da impugnação pauliana. Diversos sistemas têm
sido propostos pela doutrina e consagrados nas várias legislações uma vez que não há a
esse respeito unanimidade.
Um deles consiste em submeter os actos sujeitos a impugnação ao regime da nulidade.
Predomina, todavia, a orientação que confere à impugnação pauliana uma natureza
pessoal, isto é, através dela faz-se apenas valer um direito de crédito à restituição, na
medida exigida pelo interesse da pessoa que a exerce. Portanto, o acto não inferma de
qualquer vicio interno que determine a sua invalidade e os credores só podem impugná-
lo em consequência da má fé ou locupletamento daqueles contra os quais agem. A
mesma ideia inspira a diretriz que assinala à impugnação pauliana a consequência da
ineficácia, relativamente ao credor que a utiliza, do acto sobre que recair.
A nossa lei consagra a solução considerando o problema num tríplice aspecto:
a) Relações entre credor e o terceiro adquirente;
b) Relações entre os credores;
c) Relações entre o devedor e o terceiro;
b) Às relações entre credores refere-se o nº4 do art. 616º. Dele resulta que a
impugnação pauliana, diversamente do que sucede com outros meios
conservatórios atrás estudados (art. 605º. nº2 e 609º.) – aproveita apenas ao
credor que a tenha requerido e não aos demais credores do devedor. Reafirma-
se, por conseguinte, o caracter pessoal da impugnação pauliana que deriva do
nº1 do mesmo art. 616º.
A doutrina do precedente do Código Civil era diversa: os bens alianados
regressavam ao património do devedor para aí serem executados em beneficio
dos seus credores (art. 1044º.). Mas atendeu-se preferível que o novo Código
Civil restringisse o efeito da impugnação pauliana ao credor que exerça. Não
têm, na verdade que queixar-se desta solução os credores posteriores ao acto
impugnado; visto que lhes era impossível exercer esse direito, nem mesmo os
credores anteriores visto que poderiam exercê-lo e não o fizeram.
O antigo código civil estabelecia que a impugnação pauliana cessava logo que o
devedor cumprisse a obrigação ou adquirisse bens com que pudesse exonerar-se (art.
1040º.) cabendo também ao adquirente demandado pôr-lhe termo mediante a satisfação
da importância da divida (art. 1041º.). O nosso Direito atual não conhece preceitos
paralelos, mas a disciplina mantêm-se. O silêncio da lei é explicado pela evidência
dessas soluções, tanto mais se atribui à impugnação pauliana o caracter pessoal de meio
destinado à reparação do prejuízo sofrido pelo credor que a exerce. Extingui-sea
impugnação pauliana quando se verifica o cumprimento da obrigação ou qualquer outro
modo de satisfação ao credor como a compensação, a remissão, confusão, etc.
Relativamente ao prazo de exercício da impugnação pauliana determina o art 618º.que
esse direito caduca ao fim de 5 anos contados da data do acto impugnável. Trata-se
indiscutivelmente de um prazo de caducidade e não de prescrição, que ocorre a partir da
data do acto impugnável, ao passo que antes, embora fosse apenas de 1 ano se contava
desde a verificação judicial da insolvência do devedor. Daí que pudesse pronlongar-se
demasiado tempo o estado de incerteza sobre o acto sujeito a impugnação, com prejuízo
para desejável segurança jurídica.
Arresto
a) Noção e requisitos
Estabelece a lei que o credor que tiver receio da pera da garantia patrimonial do seu
crédito pode requerer o arreso dos bens do devedor; e esse mesmo direito lhe assiste
contra terceiro que haja adquirido bens do devedor, desde que a respectiva transmição já
tenha sido impugnada judicialmente ou, quando assim não suceda, o requerente aduza
factos que tornem provável a procedência da impugnação (art. 619º. do CC; art. 407º.
nº2 do Cód. de Proc. Civ.).
Dada finalidade própria do arresto - e para que melhor possa ser atingida –
compreende-se o respectivo processo. Uma vez produzida a prova sumária, mas
suficiente, da probabilidade da existência do crédito e dos pressupostos do arresto, será
este decretado sem audiência da parte contrária, que só depois é notificada para deduzir
a sua defesa (arts. 407º. nº1 , 408º. nº1 e 388º. «ex vi» do art. 392º. nº1 do Cód. de Proc.
Civ.).
E ainda: o arresto requerido em mais bens necessários para garantia do crédito será
reduzido aos limites razoáveis (art. 408º. nº2 do Cód. de Proc. Civ.); o arrestado não
pode ser privado dos rendimentos estritamente indispensáveis aos seus alimentos e da
sua familía (art. 408º. nº3 do Cód. de Proc. Civ.); e o arresto pode também ser
substituido, a requerimento do réu, por caução que, ouvir o autor, o tribunal considere
suficiente para prevenir a lesão ou repará-la na integridade (art. 387º. nº3 do Cód. de
Proc. Civ.).
O arresto, conforme o Código Civil declara no art. 622º. Nº1 , torna ineficazes em
relação ao requerente os actos de disposição dos bens arrestados, de acordo com as
regras próprias de penhora. Quer dizer, que o arrestado pode validamente dispor dos
bens apreendidos ou onerá-los, só que tais actos não são eficazes quanto ao arrestante,
embora sem prejuízos dos principios do registo (art. 819º. do Cód. Civ.).